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NOTICIA INSTITUCIONAL

Sobre Cadernos de Antropologia


e Imagem
Clarice ElIlers Peixoto e Patrícia MOI/te-MóI'

Cadernos de Amropologia e Imagem. já lem hislória para contar ou já faz


história na antropologia brasileira: brevemente completará dez anos. Criamos
essa revista em 1995, para preencher a ausência de bibliografia, em língua por­
tuguesa, sobre o uso do audiovisual no ensino e na pesquisa. Naquele momento,
inrroduzíamos a disciplina antropologia visual na VER] e nos deparávamos com
esse vazio bibliográfico. Nossa referência principal era, até então, a publicação
organizada por Paul Hockings, Prillciples of visual amhropology, I que acabara de
ser reeditada, tal a popularidade alcançada, "excedendo em muito os Outros nove
livros da série World Anthropology em que foi publicada", como justificou o
autor. Essa obra, ainda hoje, é uma referência importante da literatura inter-

Nota: Cla tic e Ehlcrs Peixoto é professora ad jun ta do DepartamentO de Ciências Sociais e do Progra ma de
Pós-Graduação em Ciências, Sociais - linha de pesquisa "Imagens, Narralivas c Prálicas Culturais" - da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Patrícia l\\nnle-Mór é professora assislente do Departamento de
Ci�ncias Sociai s c coordenadora do Núcleo de Antropologia e Imagem da Univt!'rsidadc do Estado do Rio de
Janeiro.

Eytudns l1i.u6ricOJ, Rio de }'.IIIeiro. n'" 34, julho-dezembro de 2004, p. 187-190.

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estudos históricos e 2004 - 34

nacional. No plano nacional, o Caderno de Textos, do Museu do Indio do Rio de


Janeiro, organizou, em 1988, um número dedicado à antropologia visual, reu­
nindo os texros apresentados no I Seminário de Antropologia Visual, realizado
durante o II Festival Latino-Americano de Cinema dos Povos Indígenas. Esse
número aparecia como uma tentativa inovadora de aglutinar autores em lOrno
da novidade da questão. A Mostra Internacional do Filme Emográfico, iniciada
em 1993, no Rio de Janeiro, e o seminário Filme Emográfico e Antropologia Vi­
sual, realizado em seu contexro, são também referências obrigatórias.2
Desde então, várias indagações sobre o fazer audiovisual nas pesquisas
sociais e sobre as relações entre a antropologia e os diversos suportes imagéticos
nos estimularam a criar um periódico que tratasse da produção de imagens emo­
gráficas no Brasil e nos diversos centros de pesquisa internacionais. Quem são os
principais aUlOres da antropologia visual? Como dar conta do interesse crescente
das novas gerações pelo uso do vídeo na prática de pesquisa? De que maneira
pode-se introduzir o vídeo como instrumento importante do empreendimento
ernográfico? O que se conhece dos Nuer, dos balineses, dos [nuit e dos Ara\Vcté
no universo da fotografia, do cinema e do vídeo) Essas foram algumas das ques­
tões que formulamos na apresentação do primeiro número de CademosdeA1l1rD­
pologia e Imagem, às quais outras foram sendo agregadas: de que modo se cons­
troem filmes, vídeos e forografias como etnografias? Podemos considerar esses
produtos audiovisuais como dados de pesquisa? Todas essas questões se firma­
ram como fio condutor na criação de cada novo número da revista.
Tratava-se de estabelecer uma publicação que se filiasse ao esforço de
diálogo das ciências sociais com a imagem. Estávamos em plena década de 90, e
nossa proposta editorial se inseria num amplo movimento de criação de núcleos
e laboratórios, voltados para o uso da imagem, nos departamentos de ciências so­
ciai (e de antropologia) das universidades brasileiras. Cadernos de A IlIropologia e
Imagem nasceu, assim, juntO com O Núcleo de Antropologia e Imagem (NAI),
cujo objetivo primeiro era fundar, na UERJ, um espaço de formação teórica e
pratIca nesse campo.
- .

Revista temática e semestral, Cadernos procurou, ao longo dessa década,


focalizar os múltiplos temas debatidos pelas ciências humanas que são aborda­
dos a panir do ponro de vista do registro imagético. Os primeiros números tra­
taram das origens dessa disciplina - dos primeiros contatos da antropologia com
o cinema e a forografia - e do uso desse instrumental na pesquisa - na construçâo
e na análise de imagens. Os três primeiros números foram dedicados a autores
clássicos desse campo, isto é, a textos considerados fundamentais e ainda sem
tradução no Brasil. Eles concretizaram, assim, uma das principais propostas da
revista: traduzir e republicar texros clássicos, possibilitando acesso a essa
literatura internacional que é pouco conhecida e, certamente, de interesse
crescente. Esse foi o nosso objetivo principal, definido em artigo de 1995: "Essa

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Sobre Cade/"llos de Alltro/IO/ogia e I",age",

revista é especializada na produção nacional e internacional sobre a relação entre


as ciências sociais, particularmente a antropologia, e os estudos de imagem, pu­
blicando tanto literatura considerada já clássica quanto contribuições con­
temporâneas".
Os primeiros passos para a reflexão sobre esse campo esravam dados, e
iniciamos então a produção de números sobre assuntos específicos: cidade, mí­
dia, religião, acervos de imagens, o campo da imagem, cinema brasileiro, o índio
brasileiro, a esperacularização da vida social, política, família, trabalho etc.
Recentemente, retomamos o debate inicial, publicando um número sobre cine­
ma e outro sobre fotografia, os quais abordam questões contemporâneas sobre o
uso das imagens na análise dos fenômenos sociais.
Publicar Cadel'llos deAllIropologia e Imagem passou a ser uma tarefa árdua
e uma grande luta para a obtenção de recursos, os quais são sempre muiLO escas­
sos, mas necessários para a produção de uma revista com boa qualidade gráfica­
dado que contém muitas imagens -, para a melhoria das condições de distri­
buição - ainda precária - e para a maior profissionalização do trabalho ediLOrial
no contexLO de uma universidade pública. Assim, ao longo dessa década, fomos
estabelecendo inúmeras parcerias, na VER], que permitiram a viabilização da
revista, tanto no plano do seu financiamento quanto no de sua produção ediLO­
rial.3 Os esforços têm valido a pena, visto que nossa revista passou a ser um canal
importante de articulação com autores brasileiros e estrangeiros, não só das
Ciências Sociais, mas, igualmente, das Belas Artes, da Comunicação, da His­
tória, da Educação, do Cinema e da FOLOgrafia.
Ao longo dos anos, os interesses dessas diferentes áreas, bem como as
propOStaS enviadas para publicação se diversificaram, o que nos levou a trabalhar
intensa e constantemente com a Comissão Editorial na estruturação da revista.
Fomos incentivadas a criar novas seções: ensaios, entrevistas, resenhas de livros
e, mais recentemente, a seção intitulada Um pesquisador, uma imflgem, cujo exer­
cício da linguagem visual nos mostra como a análise de uma única imagem traz
informações preciosas para a compreensão de uma determinada realidade social,
num contexto histórico específico. Essa percepção já nos era clara quando inau­
guramos, no primeiro número da revista, a rubrica Resenhas defilmes e vídeos, que
se mantém até hoje.
Leimra obrigatória nos cursos de diversas disciplinas e na bibliografia
daqueles que querem se iniciar no universo da imagem, Cadel'llos de Amropologia
e Imagem continua a ser, no cenário nacional, o único periódico científico exclu­
sivamente dedicado ao encontro das ciências humanas com a imagem4
Agradecemos aos editores de ESIUdos Históricos o gentil convite para par­
ticipar desse número dedicado à imagem apresentando nossa revista.

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estudos históricos. 2004 - 34

Números publicados

1- Antropologia e Cinema: Primeiros Comatos ( 1995)


2 - Antropologia e Fotografia ( 1996)
3 - Construção e Análise de Imagens (1996)
4 A Cidade em Imagens (I997)
-

5 - Antropologia e Mídia (1997)


6 - Imagens Diversas (1998)
7 - Imagem e Religião (1998)
8 - Acervo de Imagens ( 1999)
9 Todas as Imagens ( 1999)
-

10 - Campo da Imagem (2000)


Ii Cinema Brasileiro: Documentário e Ficção (2000)
-

12 - A Imagem do Indio no Brasil (2001)


13 - A Esperacularização da Vida Social (2001)
14 - Miscelânea Fotográfica (2002)
15 - Miscelãnea Cinematográfica (2002)
16 - Imagem e Política (2003)
17 A Família em Imagens (2003)
-

18 - Fotografia, Cinema e Internet (2004)


19- Imagens do Trabalho (2004)

Notas

I. A primei ra edição data de 1974 e do CNPq e que obtivemos uma


contém artigos apresentados na rclaLiva a u tonom i a de lraba lho.

I Conferência Internacional de Em 2004, estabelecemos parceria


Antropologia Visual, realizada em com a editora ContTacapa, inaugurando,
Chicago corno pane da União aSSim, uma nov(\ etapa na

Internacional de Ciências Antropológicas profissionalização da produção


e Etnológicas (ICAES). editorial c gráfica da revista.
2. Ver o catálogo (Rio de Janeiro, 4. Sugerimos aos leitores de
CCBBflnterior Produções, 1993). Esmdos HislÔ,iC()s uma visita ao
nosso sue:

3. Foi somente em 1999 que Cade,.,ws


passou a receber o apoio editorial
h tlp://www2. ucrj. br/ -ppcis/rcvislas

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