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PROPÓSITO
Compreender o processo de elaboração do planejamento financeiro de empresas, construção
de orçamentos e instrumentos para análise do desempenho e gestão de riscos corporativos é
essencial para a gestão de negócios nas mais
diversas áreas.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
Neste texto vamos discutir o conceito de gestão estratégica e o processo de planejamento,
orçamentação e controle financeiro. Adicionalmente, abordaremos tópicos fundamentais
relativos à gestão estratégica e orçamentária: o
uso do Balanced Scorecard (BCS) como
ferramenta de avaliação e controle da condução estratégica, bem como a gestão de risco
corporativo.
MÓDULO 1
Identificar os princípios básicos do planejamento estratégico de corporações
PARA COMEÇAR
Neste módulo vamos abordar e discutir conceitos fundamentais da gestão e do planejamento
estratégico, incluindo ferramentas utilizadas na análise e elaboração de estratégias no
ambiente corporativo.
O QUE É ESTRATÉGIA
Vivemos num mundo em constante processo de mudança, em que a informação circula de
forma cada vez mais acelerada, gerando, por um lado, conhecimento e riqueza e, por outro,
incerteza. Esse contexto impõe o aumento da competição
no meio corporativo, demandando
que as empresas e seus gestores sejam proativos e utilizem ferramentas que possam auxiliar
no uso otimizado dos escassos recursos que dispõem.
Mas o que é estratégia num contexto corporativo? Para nos auxiliar nessa definição, vamos
verificar algumas proposições de estudiosos dessa disciplina.
A PALAVRA ESTRATÉGIA DENOTA IMPORTÂNCIA OU
RELEVÂNCIA. EM SUA VISÃO, AS DECISÕES
ESTRATÉGICAS PREOCUPAM-SE
FUNDAMENTALMENTE COM A FORMA COM QUE A
EMPRESA DEVERÁ ATUAR NO MERCADO,
DETERMINANDO QUE PRODUTOS E SERVIÇOS ELA
IRÁ COMERCIALIZAR E EM QUE SEGMENTOS IRÁ
COMPETIR.
ANSOFF, 1957.
Por sua vez, a estratégia impõe exigências operacionais, que em termos práticos definirão
como a empresa se organizará internamente para suprir as demandas do mercado. Essas
decisões são interdependentes e complementares.
Em linha com Ansoff (1957), Porter (1999) postula que uma empresa só é capaz de superar em
desempenho seus concorrentes se conseguir estabelecer uma posição sustentável, agregando
mais valor para seus clientes em função de
uma qualidade superior, de um custo inferior ou
ambos.
Para esse autor, ter uma estratégia é criar uma posição exclusiva e valiosa, envolvendo um
diferente conjunto de atividades. Se houvesse apenas uma única posição ideal, não haveria
necessidade de estratégia. As empresas enfrentariam
um imperativo simples — ganhar a
corrida para descobrir e se apropriar da posição única. A essência do posicionamento
estratégico consiste em escolher atividades diferentes das dos rivais.
Estratégias podem ser consideradas tanto como planos para o futuro como padrões de
comportamento histórico de empresas. Após realizar diversas pesquisas, Mintzberg (1978)
identificou que na visão popular as principais
características da estratégia são: o fato de ser
explícita, de ser desenvolvida de forma consciente e com propósitos definidos e elaborada
anteriormente às decisões específicas às quais se aplica.
Essa constatação fez Mintzberg concluir que, na terminologia comum, a palavra estratégia
seria um sinônimo para plano. Por outro lado, completa o autor, se questionarmos alguém a
respeito da estratégia praticada
por um concorrente ou por um governo, muito provavelmente a
resposta será uma descrição de uma consistência no comportamento no passado, um padrão
em ação ao longo do tempo.
Mintzberg considera, ainda, que, da mesma forma que um plano não necessariamente produz
um padrão de decisões, um padrão não precisa resultar de um plano. Uma organização pode
ter uma estratégia realizada sem saber ou mesmo
sem explicitá-la.
Com base nas três visões apresentadas — Ansoff, Porter e Mintzberg —, estratégia pode ser
definida como padrões adotados por empresas, podendo ser conscientes ou explícitos, e que
norteiam sua atuação e seu posicionamento,
a forma como atuam no mercado, que produtos e
serviços vendem e como pretendem agregar valor a seus clientes.
Desenvolvida na década 1980 pelo professor Michael Porter, as forças de Porter consistem
numa das ferramentas mais utilizadas na análise estratégica. Calcada em conceitos
microeconômicos, ela auxilia empresas
a entender o ambiente setorial em que atuam, podendo
ser usada para prever se a competição deve ou não se acirrar no futuro (PORTER, 1980).
os produtos substitutos;
as barreiras à entrada.
A lógica dessa ferramenta consiste na avaliação de como essas forças vêm evoluindo no
tempo (passado e presente) e para onde devem progredir no futuro. No quadro a seguir, são
apresentados os drivers que influenciam a dinâmica
das forças de Porter.
O poder de barganha dos fornecedores aumenta caso eles sejam mais concentrados e não
possuam substitutos, enquanto o poder de barganha dos compradores é maior se compram
grandes volumes e os produtos adquiridos são padronizados,
entre outros drivers apontados.
Outra força analisada é a do grau de ameaça dos produtos substitutos, que aumenta em
função do seu preço relativo e do seu desempenho funcional. Por fim, a quinta força analisada
foi a das barreiras à entrada,
que se elevam na medida em que o mercado apresenta fortes
economias de escala e a necessidade de capital para montagem do negócio, entre outros
pontos abordados.
Iniciando pela rivalidade interna, é importante observar que, até a primeira metade da década
de 1970, três montadoras dominavam o mercado brasileiro de carros leves — a Volkswagen, a
Ford e a GM — quando em 1976 é montada a fábrica da Fiat no Brasil.
A partir da década de 1990, em função do estímulo governamental para atrair novas empresas
para o país, diversas montadoras passaram a operar — produzindo ou importando — no
mercado de veículos leves brasileiro,
como: as japonesas Honda e Toyota; as francesas
Renault, Peugeot e Citroën; as coreanas Kia e Hyundai; a norte-americana Chrysler; entre
outras.
No que tange às barreiras de entrada, a despeito dos grandes investimentos necessários para
montagem de operações de produção, o número de empresas que vêm trazendo suas fábricas
para o Brasil permite supor
que não há fortes empecilhos para a entrada no mercado brasileiro.
A partir de 2019 tivemos algumas montadoras deixando o Brasil, principalmente pelo fraco
crescimento de indicadores de atividade. Entretanto,
isso não invalida o fato de que há poucas
barreiras de entrada para este setor no país.
No que se refere aos produtos substitutos, o mercado de veículos se depara com uma grande
mudança tecnológica, com a gradativa difusão dos veículos elétricos (VEs). Espera-se que nas
próximas duas décadas
os VEs assumam o papel hoje ocupado pelos carros movidos a
combustão interna.
Dessa forma, considerando que muitas montadoras somente agora parecem ter acordado para
essa ameaça, temos um efeito equivalente a um forte produto substituto entrando no mercado.
RESUMINDO
Outra ferramenta bastante utilizada na análise estratégica é a Matriz SWOT, que consiste na
análise das forças (strengths ), fraquezas (weaknesses ), oportunidades (opportunities ) e
ameaças
(threats ). As forças e fraquezas se referem diretamente às características da
empresa analisada (ambiente interno), enquanto oportunidades e ameaças se referem ao
mercado de atuação da companhia (ambiente
externo).
A ideia do instrumento é forçar o analista a ter uma visão mais ampla e menos parcial da
situação da empresa, de suas vantagens e desvantagens competitivas, dentro do contexto
setorial em que atua.
Uma ameaça à qual a empresa deve se atentar seriam os esforços de crescimento da indústria
automobilística chinesa no Brasil e no mundo. Mas a empresa tem uma vantagem competitiva
clara para aproveitar a oportunidade com o
crescimento esperado para o mercado de veículos
elétricos, considerando que já possui tecnologia na Alemanha para isso.
Por fim, podemos verificar que o real desvalorizado e a concentração de mercado com
aumento da participação das locadoras foram alocados simultaneamente como oportunidades
e ameaças.
No caso das locadoras, tudo depende de como a Volkswagen irá atuar junto a essas empresas,
intensificando parcerias ou simplesmente brigando por preço. No caso do dólar caro, se por um
lado isso reduz a rentabilidade em moeda
estrangeira, por outro, barateia os investimentos a
curto prazo para a empresa.
A análise SWOT gera uma visão sumarizada de diversos pontos de atenção para as empresas,
fazendo a ponte do mercado para a estratégia corporativa.
ELABORAÇÃO DA ESTRATÉGIA
Conforme verificamos na seção anterior, as forças de Porter e a Matriz SWOT podem nos
auxiliar na importante tarefa de analisar o ambiente de negócios. Além do mais, é sempre
interessante que o analista possua uma visão do
cenário macroeconômico, conectando os
resultados obtidos com as perspectivas setoriais.
Além disso, uma ferramenta muito eficaz e útil para o entendimento do portfólio de produtos da
empresa é a Matriz BCG, a qual propõe o cruzamento do crescimento das vendas com a
participação do mercado de cada
unidade de negócio.
Podemos entender missão como o propósito da empresa ou como ela pretende agregar à
sociedade, enquanto a visão se incumbe de definir aonde a empresa pretende chegar. Os
valores,
por sua vez, são princípios que a empresa entende como fundamentais para sua
condução.
Visão: Ser líder total de bebidas, gerando valor econômico, social e ambiental sustentável,
gerenciando modelos de negócio inovadores e ganhadores, com os
melhores colaboradores do
mundo.
LIDERANÇA DE CUSTO
DIFERENCIAÇÃO
ENFOQUE
Na liderança de custo total, a empresa buscará confeccionar seus produtos e serviços por
um custo inferior ao dos seus concorrentes, buscando obter a maior escala de vendas possível.
Um bom exemplo de liderança em custo seriam os carros populares, como o projeto do Fiat
Uno Mille lançado em 1990, que em função de seu baixo custo liderou as vendas de veículos à
época.
Como exemplo de estratégia de enfoque na indústria automobilística, temos o caso dos carros
da marca Volvo, que, não sendo os mais baratos, mas nem potentes ou bonitos, ficaram
reconhecidos no mercado como carros
seguros e, por conta disso, bons para as famílias.
Adicionalmente aos três passos descritos em relação à elaboração da estratégia, outras duas
etapas constam do roteiro: a implementação e a avaliação. Essas etapas, referem-se à
própria execução
do plano, nas quais serão preparadas as lideranças que conduziram o
processo e definidos e acompanhados os indicadores para a avaliação do desempenho obtido,
permitindo o feedback e o realinhamento dos objetivos da empresa.
GABARITO
As 5 forças do modelo de Porter são: a rivalidade interna, o poder dos compradores, o poder
dos fornecedores, as barreiras à entrada e os produtos substitutos.
2. Entre os diversos tipos propostos de estratégias pelos autores do tema, uma que se
destaca é a visão de posicionamento de Porter. Nessa abordagem, as empresas
poderiam optar por três formas de atuação:
Os três possíveis posicionamentos estratégicos sugeridos por Porter são: a liderança de custo,
a diferenciação e o enfoque.
MÓDULO 2
Definir o processo de estruturação do planejamento financeiro e as etapas do
processo de orçamentação e controle
PARA COMEÇAR
Neste módulo abordaremos o processo de orçamentação nas empresas, descrevendo as
etapas de planejamento, execução e controle, apontando a sua relevância para a
implementação do plano estratégico, os requisitos para sua implantação
e os prós e contras de
sua utilização. Além disso, discutiremos o uso do Balanced Scorecard (BSC) como ferramenta
para avaliação e controle estratégico.
O plano de operações.
O plano de pessoas.
A segunda etapa desse processo seria a execução, na qual os recursos deverão circular
fazendo com que a empresa execute a estratégia definida. É fundamental que sejam
previamente
definidas as alçadas e os limites para utilizar os recursos.
Em termos práticos, essa tarefa consiste na determinação dos colaboradores que terão a
incumbência de autorizar despesas, investimentos ou qualquer ação que possa impactar no
uso de recursos da empresa.
De maneira geral, entende-se que esses gastos terão aderência aos números contingenciados
no plano financeiro para cada unidade de negócio da companhia, mas, caso isso não ocorra,
deve se ter claro as alçadas de
cada gestor e a cadeia de responsabilidades para eventuais
necessidades de autorizações.
Essa análise deve ser feita periodicamente, permitindo que os gestores tomem ciência da
situação da empresa e possam atuar decidindo manter ou modificar ações determinadas
previamente.
Cabe destacar que o pré-requisito para que uma empresa efetue um bom controle
orçamentário é a elaboração de um orçamento realista e exequível. Isso não significa que o
realizado deverá sempre igualar ou superar o orçado, mas,
em bons planos, a diferença entre
eles geralmente ocorrem por mudanças nas condições de mercado, não por erros de projeção.
REQUISITOS E ALAVANCADORES DA
IMPLANTAÇÃO DO ORÇAMENTO
Para que um orçamento empresarial seja implantado de forma adequada, certos requisitos são
fundamentais.
Alguns deles já foram abordados neste conteúdo, em particular a existência e o acesso aos
planos estratégicos e táticos, o acesso ao histórico de informações financeiras e a definição de
alçadas e limites para execução do orçamento.
DICA
Um quarto requisito, primordial para que o plano financeiro seja elaborado e executado e que
o controle orçamentário possa ser realizado, é a existência de um sistema de informações
contábil gerencial, aderente
à estrutura de negócios da empresa e às demandas de
informações que os gestores corporativos desejam monitorar.
Em particular, devem permitir que se visualizem informações especificas das diversas unidades
de negócio da empresa, permitindo que os gestores possam entender o desempenho e atuar
no intuito de atingir as metas definidas no
planejamento.
A despeito dessa distinção é fundamental que haja consistência entre os resultados dos
sistemas gerencial e societário.
Sistemas integrados de gestão são sistemas informatizados que interligam todos os dados e
processos corporativos – financeiros, contábeis, recursos humanos, produção, vendas e
marketing etc. –, permitindo seu armazenamento
e processamento em um único dispositivo.
O uso dos sistemas integrados de gestão tem como vantagens o aumento da confiabilidade e a
velocidade no processamento das informações, elementos indispensáveis para que se obtenha
eficácia e eficiência na gestão corporativa.
Podemos definir governança corporativa como um conjunto de boas práticas de gestão, que
objetivam aprimorar o desempenho dos negócios. Entre os diversos princípios que norteiam a
governança, os principais seriam:
EQUIDADE
TRANSPARÊNCIA
ACCOUNTABILITY (TRANSPARÊNCIA)
RESPONSABILIDADE CORPORATIVA)
Estabelecimento de relações justas e isonômicas entre a empresa e seus stakeholders
(envolvidos).
Dever, por parte dos gestores e acionistas, de prestar contas de sua atuação na empresa de
forma diligente, clara, objetiva e oportuna, assumindo as consequências de suas ações e
demonstrando responsabilidade no âmbito
dos seus papéis.
Da mesma forma, para que a accountability seja exercida de forma efetiva, é necessário que as
informações dos atos administrativos dos gestores sejam registradas, em particular os que
possuam impacto financeiro, o que seria
papel do controle orçamentário.
Foto: Shutterstock.com
SAIBA MAIS
Como forma de atingir esse objetivo, a área de compliance promove treinamentos para
introduzir seus conceitos na cultura da empresa, monitorar diversas atividades corporativas e
trabalhar no aprimoramento de controles internos.
Outro ponto importante é que o orçamento define metas de desempenho para a empresa e
estabelece uma sistemática de acompanhamento de resultados, visando permitir ajustes de
percurso por parte dos gestores. Esses aspectos fazem
com que o processo de orçamentação
seja a base para a implementação de importantes ferramentas de gestão, como a governança
corporativa, o compliance, a gestão de risco e a remuneração variável.
BALANCED SCORECARD
Como já vimos, o último passo do processo de planejamento financeiro é o controle, etapa
fundamental para o êxito econômico da empresa, em que, entre outros aspectos, se avaliam os
resultados corporativos.
Para tanto, uma ferramenta útil e bastante difundida no meio
corporativo é o Balanced Scorecard (BSC).
VOCÊ SABIA
Criado na década de 1990 pelos professores Robert Kaplan e David Norton (1996) da Harvard
Business School, o BSC consiste numa metodologia de medição e gestão de desempenho,
utilizada com o intuito de auxiliar as empresas
a atingir os resultados planejados e efetuar o
acompanhamento do desempenho financeiro e estratégico.
a financeira;
os clientes;
os processos internos;
o aprendizado.
A ideia da metodologia é que o sucesso da organização passa justamente pelo equilíbrio entre
essas dimensões.
CRESCIMENTO
No qual geralmente são requeridos investimentos mais fortes e os negócios ainda não são
rentáveis.
ESTABILIZAÇÃO
Em que o equilíbrio econômico-financeiro é atingido.
COLHEITA
Quando o negócio atinge a maturidade e passa a prover ganhos correntes para empresa e
seus investidores.
Desse modo, o BSC, ao reconhecer as distinções entre os momentos da vida das unidades de
negócio, avalia seus desempenhos em conformidade com seu grau de maturação, no lugar de
um benchmark único para toda
a corporação.
No que tange à perspectiva dos clientes, o BSC busca avaliar a percepção dos consumidores
dos produtos e serviços da companhia, a partir de indicadores que se referem a questões
como:
Em relação aos processos internos e à inovação, o BSC avalia o desempenho de todos os elos
da cadeia de valor dos negócios da empresa. Os gestores devem atuar na identificação das
atividades e dos processos-chave, a fim de
obter vantagem competitiva, diferenciando-se de
seus concorrentes.
De posse das dimensões do BSC, sugere-se que sua implantação seja efetuada respeitando
quatro passos sequenciais:
ANÁLISE DO RELACIONAMENTO
PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E
CONTROLE
Assista ao resumo dos principais tópicos deste módulo feito pelo especialista Luiz de
Magalhães Ozorio.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
GABARITO
MÓDULO 3
Identificar as ferramentas e as etapas para a gestão do risco empresarial
PARA COMEÇAR
Neste módulo vamos discutir uma importante ferramenta da administração moderna, a gestão
do risco corporativo. Além de definirmos o que é risco e apontarmos a relevância de seu
estudo, trataremos das etapas de sua gestão: o
planejamento e a identificação, a análise, o
planejamento da resposta e o controle.
RELEVÂNCIA DE GERENCIAMENTO DO
RISCO
Uma das áreas da administração que mais evoluíram nas últimas décadas é a gestão do risco
corporativo. Num passado não muito distante, era incomum encontrar áreas voltadas ao
gerenciamento do risco fora do ambiente do mercado
financeiro, em que a mensuração é mais
clara e os impactos são muito relevantes. No entanto, em virtude da evolução de técnicas de
gestão e da informatização das empresas, o gerenciamento do risco vem sendo implantado
nos
mais diversos tipos de companhias.
Riscos são inerentes a qualquer atividade humana. Basicamente, todas as empreitadas que
temos na vida apresentam, em maior ou menor grau, algum tipo de risco, de forma espontânea
ou planejada. Assumimos diversos riscos nas
decisões fundamentais em nossas vidas.
EXEMPLO
Enfrentamos o risco no momento que escolhemos uma profissão ou o curso que faremos na
graduação, porque não sabemos se seremos bem-sucedidos no futuro. Da mesma forma, nos
deparamos com o risco ao definirmos um investimento
ou tomamos uma decisão corporativa.
Para que tenhamos uma noção do impacto dessa evolução em termos informacionais, estima-
se que em 1900 o conhecimento humano dobrava a cada 100 anos; que em 1945 isso ocorria
a cada 25 anos; em 2014, a cada 13 meses; e que,
atualmente, a cada 12 horas. Isso tudo
aumenta a velocidade da mudança e a dificuldade de se prever o futuro.
ATENÇÃO
É fundamental saber analisar, quantificar e definir com quais riscos devemos lidar e como
devem ser tratados. A ideia principal aqui é ter a capacidade de antever os possíveis cenários
futuros, de forma a nos preparamos
da melhor maneira para as situações que possam ocorrer.
Segundo o Oxford English Dictionary, a palavra inglêsa hazard , traduzida para o português
como risco ou acaso, surgiu de um jogo de azar criado no castelo de Hasart, na Palestina. Na
definição de Bernstein (1997), risco
vem da palavra italiana riscare , que significaria ousar.
O ideograma chinês referente à palavra crise possui duas figuras, uma que significaria wéi ,
traduzida como risco, e a outra, ji , traduzida como oportunidade.
Podemos verificar que o risco, além da chance de obtenção de resultados ruins, também está
associado à possibilidade de cenários melhores do que o esperado.
Numa visão mais completa e abrangente, poderíamos definir risco como a possibilidade de
obtermos resultados de um evento distintos ao esperado. Quanto maior a chance de obtermos
resultados distintos do que se supunha
previamente — seja esse resultado melhor ou pior do
que o esperado —, maior o risco.
Numa abordagem complementar, o risco poderia ser interpretado como uma função direta de
dois temos, mais especificamente, probabilidade versus impacto. A probabilidade seria a
chance de ocorrência de um evento, enquanto o impacto
é o efeito da ocorrência do evento.
Como exemplo, poderíamos citar que a probabilidade de um avião cair numa usina nuclear ou
que ela seja destruída por um terremoto no Brasil seja baixa, mas o impacto seria muito grande
caso isso ocorresse.
Por fim, uma discussão frequente na academia é a relação entre os conceitos de risco e
incerteza, tratados diversas vezes como sinônimos.
IDENTIFICAÇÃO E MENSURAÇÃO DO
RISCO
Apenas 35% das empresas tratam riscos formalmente com metodologias estruturadas, 54%
das empresas afirmam realizar informalmente a gestão de riscos e 11% revelam não tratar
riscos em seus empreendimentos (PMI, 2013). Esses
números demonstram que há ainda
muito a se evoluir na implantação da cultura de gestão de risco nas empresas.
Com esse intuito, visando estruturar o processo de gerenciamento do risco nas empresas,
diversos autores propõem rotinas, a exemplo de Prince (2021), que sugere as seguintes
etapas:
identificação;
avaliação;
identificação de respostas;
seleção de respostas;
monitoramento;
comunicação.
Por sua vez, Smith e Merritt (2002) sugerem uma abordagem semelhante, com o seguinte
roteiro:
Identificação.
Análise.
Mapeamento e priorização.
Resolução e monitoramento.
Planejamento do gerenciamento.
Identificação.
Monitoramento.
Controle.
Tomando como referência essas proposições, sugerimos uma estrutura mais simples e
objetiva, contendo quatro etapas, conforme demonstrado na imagem a seguir.
Para que sejam dadas respostas a essas perguntas, sugere-se a realização de reuniões
estruturadas de planejamento, conduzidas pelos gestores responsáveis das áreas de risco e
profissionais selecionados das áreas envolvidas.
O foco deve ser a definição do plano de gestão de riscos, apontando: custos a ser incluídos no
orçamento, cronograma de atividades, atribuições de responsabilidades, criação de categorias
de risco, entre outros aspectos.
Já no caso da indústria siderúrgica, entre os diversos riscos do negócio, podemos destacar: a
oscilação de preços e demanda do aço, variações nos preços dos principais insumos (carvão e
minério), o risco de problemas
operacionais (acidentes), variações cambiais etc.
Assim, será fundamental utilizar ferramentas que permitam mapear os riscos das empresas
analisadas.
1ª FONTE:
O conhecimento que já está armazenado dentro da própria empresa; sobre risco de seus
projetos, operações e investimentos efetuados. Idealmente, a empresa deveria ter um banco
de dados com essa informação organizada,
porém, em boa parte dos casos, isso não ocorre.
2ª FONTE:
Adicionalmente, a empresa pode contar com suporte de especialistas externos sobre risco, que
podem trabalhar em conjunto com os colaboradores internos no processo de identificação.
3ª FONTE:
Está no próprio orçamento da empresa, mais especificamente nas premissas adotas em suas
projeções, que devem ser analisadas, sensibilizadas e periodicamente revisadas.
Além das fontes citadas, algumas ferramentas podem ser úteis no processo de identificação
dos riscos, entre as quais podemos destacar: o uso de entrevistas, o brainstorming e o
método Delphi.
O ponto central da metodologia é que cada participante “pegue carona” na ideia do outro, tendo
como princípios básicos que as ideias não sejam descartadas antes que o processo seja
finalizado. Além disso, quanto mais sugestões
forem geradas, maior a chance de que boas
ideias sejam apresentadas.
2
3
Envio prévio das informações (resumo) do projeto, operação ou processo e quais riscos
pretende-se identificar.
Providenciar estrutura de sala adequada para reunião – mesa de reunião ou sala em “U” com
quadro ou tela na qual será exposto o enunciado do problema e (em alguns casos, quando
conveniente) as contribuições.
Registrar as contribuições.
10
11
Retornar com o resultado para o grupo completo, para que os demais participantes o reavaliem
e efetuem novas contribuições.
12
A terceira ferramenta sugerida para identificação de riscos seria o Delphi, metodologia que
pode ser utilizada sem a necessidade da presença física dos participantes, o que acelera o
processo e reduz os custos com a coleta
de informações, quando comparado às duas técnicas
anteriores.
Análise das respostas das listas dos participantes e criação de uma lista consolidada dos riscos
identificados (atentar para riscos similares descritos de forma distinta).
Segundo round: Distribuição da lista consolidada aos participantes para reavaliação, revisão e
complementação (estimular e dar liberdade para novas contribuições).
Recolhimento e nova consolidação.
De posse das informações coletadas, temos o material necessário para elaboração da lista de
riscos, que deve ser a mais completa, clara e concisa possível. Recomenda-se ainda o
agrupamento de riscos identificados em categorias
definidas por tipo (riscos associados a
fornecedores ou colaboradores, por exemplo) ou afinidade (que possuam a mesma fonte
geradora). Cabe observar que não existe uma única forma de determinar as categorias e elas
devem
ser escolhidas priorizando o entendimento dos riscos e a resposta.
Efetuada a identificação, a próxima etapa do roteiro sugerido seria a análise dos riscos, em que
o analista deverá mensurá-los, tentando avaliar o impacto na empresa estudada. É sempre
interessante — quando possível — utilizarmos
constatações estatísticas do relacionamento das
variáveis de risco.
EXEMPLO
Alternativamente ao método da simulação, uma opção seria a técnica dos cenários, que
consiste na verificação do que poderia ocorrer com os resultados de uma empresa em
situações adversas ou mais favoráveis do que o esperado.
A vantagem dessa metodologia é
que ela não requer um conhecimento aprofundado em métodos computacionais.
Independentemente da metodologia utilizada para análise, o output dessa modelagem será útil
para avaliar o impacto do risco, permitindo que o analista tenha insumos para definir quais
providências deverão ser tomadas nas próximas
etapas do roteiro proposto, que seriam o
tratamento e o planejamento da resposta ao risco. O quadro a seguir apresenta os passos para
a identificação, análise e mensuração do risco.
Visando dar corpo à metodologia sugerida, vamos apresentar um caso hipotético referente à
empresa exportadora de roupas Brazilian Clothes for Export (BCE). O caso se passa em
outubro de 2018.
Nessa época, a BCE estava analisando seu plano de expansão e decidindo sobre a construção
de uma nova fábrica que seria voltada exclusivamente para a produção de camisas para
exportação para os Estados Unidos.
Em função das possíveis oscilações na demanda e demais riscos, a BCE estava em dúvida
sobre as estruturas de custos e o tipo de financiamento que deveria adotar: o quanto ela
deveria incorporar de custos fixos (ou terceirizar
a produção) e o quanto deveria utilizar de
capital próprio e dívida na empresa.
Também considerando que os custos da BCE eram em dólar, a empresa estava receosa
quanto ao impacto de possíveis variações do câmbio no resultado.
A primeira análise efetuada foi um estudo da variação mensal do dólar, utilizando uma série do
IPEADATA de setembro de 2008 a setembro de 2018, que revelou uma variação mensal média
(retorno médio) de 0,77% e um desvio-padrão
de 3,95%. O gráfico abaixo apresenta o
comportamento do dólar frente ao real no período.
Com base nessas informações, e supondo que o dólar varia conforme uma distribuição
aproximadamente normal, foram traçados três cenários para o câmbio: o esperado (com o
dólar custando R$ 4,152), o conservador (com o dólar custando
R$ 3,835) e o otimista (com o
dólar custando R$ 4,468).
Com base na teoria da distribuição normal, o intervalo entre os cenários conservador e otimista
compreenderiam 95% de probabilidade de ocorrência. Como premissas adicionais, a BCE
trabalhava com expectativa de venda de 10 mil
unidades por mês a um preço de US$ 50,00.
A primeira análise efetuada supõe que 100% dos custos e despesas operacionais da BCE
seriam variáveis (desalavancada operacionalmente) e que a empresa seria financiada
integralmente por capital próprio (desalavancada financeiramente).
A próxima tabela apresenta
a análise da BCE, supondo o efeito da variação cambial.
O lucro líquido esperado para BCE seria de 548 mil reais, com uma variação estimada de mais
ou menos de 19% em função dos possíveis cenários projetados para o dólar.
Foi definida como razoável a espera por variações de 30% a mais e a menos do cenário
esperado, que seria de 10 mil unidades mensais. A tabela abaixo apresenta a análise
correspondente aos cenários relativos à variação das quantidades
vendidas pela BCE.
O lucro líquido esperado para BCE se manteve em 548 mil reais. No entanto, em virtude da
variação das quantidades vendidas, a oscilação nos lucros foi de mais ou menos 30%. Caso
quiséssemos avaliar o impacto
conjunto da variação das vendas e do dólar, precisaríamos
conhecer a distribuição conjunta das duas variáveis e consequentemente o desvio-padrão
proveniente dessa combinação.
O caso fácil para determinação do intervalo de confiança é quando a correlação for 1, bastando
simular o efeito conjunto colocando os valores dos extremos dos intervalos na planilha.
Nesse caso, supondo que a correlação real entre as variáveis fosse menor que 1, estaríamos
superestimando o valor do cenário otimista e subestimando o valor do pessimista. A tabela
apresenta a análise relacionada aos cenários
correspondentes à variação das quantidades
vendidas, combinada com a variação do dólar, supondo correlação 1.
Considerando os efeitos combinados da variação cambial e nas vendas da BCE, o lucro líquido
da empresa oscilou de 310,5 mil para 848,2 mil reais, o que corresponderia, respectivamente, a
uma variação de -43,3% e 55% em relação
ao lucro esperado.
Com base nesses resultados, a administração da BCE teria condições de avaliar os riscos de
suas atividades e definir sobre a melhor estratégia operacional e financeira para a empresa,
verificando ainda quais riscos poderiam
ser evitados.
De posse dos riscos identificados e quantificados nas etapas anteriores, é chegada a hora de
planejar as respostas que serão dadas. Esse processo visa definir um conjunto de ações para
redução das ameaças e aproveitamento das
oportunidades. É importante mais uma vez
lembrar a relevância de uma boa documentação de todos os passos dados, para devidos
ajustes em projetos futuros.
O planejamento de respostas tem uma série de objetivos, como a definição de estratégias para
lidar com os riscos positivos e negativos, o estabelecimento de reservas contingenciais, o
estabelecimento dos responsáveis pelo gerenciamento
de riscos específicos, entre outros
aspectos.
De forma geral, podemos classificar as respostas aos riscos em três tipos de estratégia
distintas: a prevenção, a transferência e a mitigação.
A prevenção consiste no ajuste dos processos operacionais visando evitar que algo adverso
ocorra. Um exemplo seria, na eminência da falta de um insumo de produção vital, a definição
de estoques de segurança.
A instituição de manutenções preventivas em equipamentos e
máquinas também se enquadraria como prevenção.
Outro exemplo seria a confecção de protótipos na criação de novos produtos, visando testá-los
antes da entrada em produção. Outro artifício que se enquadra como estratégia de mitigação
seria a diversificação, tipicamente utilizada
para redução de risco em investimentos financeiros.
Por fim, o controle dos riscos é uma etapa fundamental na gestão do risco. Para tanto, é
necessário que a empresa consiga agir conforme planejado na hora que o risco se materializa,
pois de nada adiantará todos
os esforços anteriores caso isso não ocorra.
Entre os aspectos essenciais para o controle é necessário que responsabilidades sejam bem
definidas, colaboradores sejam continuamente treinados em como agir, processos sejam
testados, entre outros aspectos.
GESTÃO DE RISCO CORPORATIVO
Assista ao resumo dos principais tópicos deste módulo feito pelo especialista Luiz de
Magalhães Ozorio.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Abaixo do esperado
B) Negativos
C) Diferentes do esperado
E) Abaixo da inflação
2. UMA DAS ETAPAS DO PROCESSO DO GERENCIAMENTO DE RISCO É
O PLANEJAMENTO DAS RESPOSTAS, QUE TEM COMO OBJETIVO A
ELABORAÇÃO DE ESTRATÉGIAS QUE PERMITAM AMENIZAR SEUS
EFEITOS. NESSE SENTIDO, OS TRÊS TIPOS DE ESTRATÉGIAS MAIS
CONHECIDAS DE RESPOSTA AO RISCO SÃO:
GABARITO
As três estratégias mais populares para resposta ao risco são a prevenção, a transferência e a
mitigação.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer do texto buscamos discutir os pontos mais relevantes do planejamento e controle
financeiro, incluindo o processo de gestão de risco nas empresas.
Por fim, no módulo 3, foi abordada a gestão de riscos corporativos e tratadas as etapas do
roteiro para gerenciamento: planejamento e identificação, análise, tratamento e planejamento
das respostas, além de monitoramento e
controle.
Dessa forma, entendemos ter contribuído com o entendimento dessas técnicas e aproximado
os leitores de sua aplicação prática, ressaltando que este conteúdo é de grande relevância no
meio corporativo, merecendo aprofundamento
para os leitores que desejarem atuar nessa área
da gestão de negócios.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ANSOFF, H. I. Strategies for diversification. Harvard Business Review, v. 35, n. 5, p. 113-
124, 1957.
PRINCE, W. G. Maturity model (P2MM) OGC procurement: programmes & projects version.
[s.n.]. Consultado na internet em: 5 abr. 2021.
SIMPSON, J. A.; WEINER, E. S. C. Oxford English Dictionary. New York: Oxford University
Press, 1989.
Saiba mais sobre controladoria acessando o site da Fundação Instituto de Administração (FIA),
Controladoria: o que é, tipos e qual a função? .
CONTEUDISTA
Luiz Ozorio
CURRÍCULO LATTES