SEÇÃO I FALANDO DE PROJETOS

Hélio Rodrigues Costa é doutor em Engenhariade Sistemas e Computação com ên-

fase em gerenciamento de riscos em projetos, programas e portfólios. É sócio-diretor
da SolarisTreinamentoe ConsultoriaEmpresariale possui cerca de 15 anos de experi-
ência em diversasfunções gerenciais. É especialista,consultor e professor em cursos
de Gerenciamentode Projetos.Email:falandodeprojetos@mundopm.com.br

A polêmica deflnição de
A definição de risco sempre foi assunto
polêmico nos diversos campos de estudo,
mas todos esperavam que com a publica-
ção da ISO 3IOOO isso fosse ser resolvido
de uma vez por todas, mas o que aconteceu
foi o contrário, mais polêmica foi gerada. O
trabalho de publicação deste padrão interna-
cional demorou anos e teve a contribuição de
especialistas espalhados por todo o mundo.
A ideia da criação do documento sem-
pre foi bem aceita, mas a definição de riscos
é que não agradou muito e, a partir daí, tudo
passou a ser questionado. Vamos ao caso.
Se formos ao dicionário Aurelio e procu-
rarmos a palavra "risco" vamos encontrar
que risco é um perigo. O nobre catedrático
pode saber tudo de português, mas de risco
não entende nada, pois é a pior definição de
risco que já encontrei em anos de estudo
sobre o assunto.
Ao procurar pelo significado no
Webster's Dictionary a definição é: "a possibi-
lidade de perda ou prejuízo ou alguém ou
algo que cria um perigo". Primeiro de tudo.
Pensar em risco só como um prejuízo ou
perigo é pensar no risco só como algo ne-
gativo e se existe algum consenso hoje em
dia em relação à definição ou ao conceito de
risco é que ele possui uma natureza dupla,
ou seja, ele pode ser positivo e também ne-
gativo. Portanto, a definição do tão renoma-
do dicionário também não é lá essas coisas.
A definição dada pela ISO 3IOOO é que
risco é: "O efeito da incerteza nos objetivos".
A definição contém três elementos funda-
mentais, no meu ponto de vista, que são
incerteza, efeito e objetivos, mas, se anali-
sarmos bem a definição proposta, observa-
remos que risco é "o efeito". É aí que surge
o problema. Na minha opinião e na de todos
com quem conversei sobre o assunto, o ris-
co não é só o efeito de uma incerteza, e sim
a associação da incerteza e do efeito.
Por exemplo, o PMBOK define risco
como: "Urna incerteza que, se ocorrer, provoca-
rá efeitos positivos ou negativos aos objetivosdo
projeto". Pode-se observar que esta definição
contém os mesmos elementos da ISO 3IOOO,
ou seja, incerteza, efeito e objetivos, mas a in-
terpretação é completamente diferente.
A APM (Association for Project Ma-
nagement) define risco como: "Evento ou
uma série de circunstâncias incertas que,
se ocorrerem, terão efeito na consecução de
um ou mais objetivos de um projeto". Gos-
to desta definição, pois, diferentemente do
PMBOK, afirma que um risco pode afetar
mais de um objetivo.
O British Standard BS 6079-3/2000
define risco como: "Incerteza inerente a
planos e à possibilidade de algo ocorrer que
possa afetar as expectativas de conclusão de
um negócio ou das metas de um projeto".
Gosto desta também, pois estende as possí-
veis consequências para o negócio e não se
limita aos projetos.
O Institute for Risk Management defi-
ne risco como: "A combinação da probabili-
dade de um evento e suas consequências".
Também é interessante, pois diz claramen-
te que um risco precisa combinar uma pro-
babilidade a um impacto.
Eu, particularmente, tenho outra defi-
nição um pouco fora do padrão, mas que
serve como conceito mais amplo: "Risco é
tudo aquilo que pode afastar você de suas
baselines". Quando digo "tudo aquilo" me
refiro a incertezas, eventos ou ci:t=:&oi:::
cias. Quando digo "pode" me refim a
que essas coisas podem ou não a~
que transmite a ideia de incerteza.
digo "afastar de suas baselines" me~~
impacto que pode ocorrer naquilo. _
planejou ou gostaria que acontecesse,
Como se pode observar, uma
finição de risco sempre terá que _
referências aos elementos incerteza,
e objetivos.
Voltemos à definição da ISO y:
possui estes elementos, mas se
só o efeito, como ela afirma, o gerEi",. r
to de riscos deveria tratar só de
absolutamente não é verdade.
responde a um risco podemos tratar
a sua chance de ocorrer como seu efciL.
Por exemplo, se tivermos a possibilidade
de termos nosso carro roubado, levando
um prejuízo, podemos colocar uma t:ranc2
ou um alarme (atuação na incerteza) e,
fazer um seguro (atuação no di-
Fica claro, dessa forma, que ~
não é o efeito de uma incerteza.. _'-o
os autores da ISO 3IOOO tentaram o
uma definição simples e elegante, -=
foram muito felizes. Acho tamDe::.
pouco provável que a comunidarle.:e.:----
ciamento de riscos e profissi
dos com esta atividade troque SlE '::e:::J:&:i[
clássica pela nova definição ~
ISO 3IOOO.
Mas de uma coisa eu tenho
é que é possível ter certeza de alg..:..:..::.o::
os autores da ISO 31000 de,~-:::-·--
seus conceitos e fazer com que
mum prevaleça.

82 Mtmdo Project Management Outubro/Novembm 2012 mtmdoprn.com.br