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Material Teórico
Objetivo da Unidade:
Risco
Ao sermos questionados sobre o que vem a ser um “risco” é quase imediato termos um
conceito genérico sobre ele, de modo a ligarmos este, por exemplo, a uma situação que possa
expor algo ou alguém a um perigo ou a perda indesejada de determinado bem.
O ser humano desde seu estado mais primitivo sempre esteve sob determinadas situações
daquilo que genericamente compreendemos ser um risco.
Imagine quando o ancestral do ser humano moderno, o homo erectus, no período neolítico,
por volta de 7 mil anos a.C., descobriu o fogo. De certo, logo veio a perceber que o calor gerado
pela chama poderia provocar queimaduras, ou seja, pôde observar que quanto mais próximo
do lume maior seria o risco de se lesionar pela irradiação do calor ou pela exposição direta à
chama.
Figura 1 – Homo Erectus
Fonte: Reprodução
Diante deste fato, podemos dizer que os seres humanos desde muito estão submetidos a uma
quantidade imensurável de riscos.
Por exemplo, algo muito comum atualmente, abrir a geladeira e pegar um litro de leite que
esteja vencido e contrair uma infecção alimentar, ou, envolver-se em um acidente de
automóvel, dentre diversos outros.
Na maior parte das vezes as situações de risco que estamos submetidos decorre de um caso
fortuito ou motivo de força maior para o qual não há previsibilidade, mas também existe à
exposição ao risco mediante o “livre arbítrio”, na qual o ser humano se expõe a esta situação
por vontade própria, como por exemplo em um salto de paraquedas.
Existe uma diversidade de conceitos do que vem a ser o “risco” os quais, geralmente, levam
em consideração o objeto exposto ou o interesse predominante contrário ao dano que possa
ser materializado.
Por exemplo, levando em consideração o objeto exposto, imaginemos, qual será o risco que
estará submetida uma residência localizada junto ao “pé” de um morro onde uma grande
rocha está no ápice deste acidente geográ co.
É certo que o risco a ser avaliado deva levar em consideração os danos que a casa e seus
habitantes estarão sujeitos, na hipótese de serem atingidos pelo deslocamento da rocha.
Exempli cando o risco ante ao interesse predominante, imaginemos qual seria este quanto a
possibilidade de perda de um negócio motivado por um péssimo investimento ou de uma
gestão ine caz.
Assim, mais uma vez a rmamos que, o risco é algo que acompanha a trajetória do ser
humano durante sua existência independentemente do período histórico.
Figura 3
Fonte: Freepik
Genericamente podemos estabelecer que o risco está ligado a uma incerteza daquilo que
eventualmente poderá ocorrer, diante de uma situação de fato que determinado cenário possa
vir a apresentar.
Sob essa concepção, poderíamos a rmar que risco e incerteza são expressões sinônimas?
Por exemplo, um investidor no mercado de ações tem grande parte do seu capital neste
depositada. Diante desta situação, qual seria a possibilidade da depreciação de seu
investimento ante uma crise econômica gerada por uma pandemia de caráter mundial?
Sem dúvida, paira uma incerteza, ou seja, existe uma possibilidade de perda de capital em um
ambiente intangível que é o mercado de investimento em ações.
O que tem que car claro é que existe uma distinção entre incerteza e risco, já que a primeira
diferentemente da segunda não permite aferição.
Os conceitos do que vem a ser risco poderão variar em conformidade ao que se busca sob a
ótica de quem o mensura. A existência do “risco” é um fato que desperta estudo em diversas
áreas do conhecimento, como ocorre na economia, com relação ao risco de um determinado
investimento; o risco ambiental, referente ao impacto que determinada atividade ou obra
tenha possibilidade de causar danos ao meio ambiente; o risco envolto a um acidente do
trabalho, pertinente ao tipo de atividade laboral que esteja sendo submetido certo trabalhador;
na engenharia civil, a aferição do risco de que determinada estrutura possa vir a colapsar; na
segurança, temos a possibilidade da ocorrência de determinada infração penal; ou seja, existe
uma lista “gigantesca” daquilo que podemos denominar de “os olhos para o risco”.
Sob este escopo, Antônio Luiz Coimbra de Castro, no volume I de sua obra Manual de
medicina de desastres, de niu o risco como sendo:
- CASTRO, 2007, p. 10
A presente de nição nos sugere conceber que o “risco” trata-se de uma análise sobre a
incidência de um desastre considerando tal evento como previsível, pois, trata-se de um
levantamento estatístico de sua incidência e qual seu potencial de vir a dar causa a danos e
prejuízos. Tal apuração se dá mediante o emprego de um método de mensuração que leva em
conta o ambiente receptor que venha a ser atingido.
- BRASIL, 2018, p. 8
Sob esta lente, o risco tem por objetivo apreciar a vulnerabilidade que determinado objeto,
quando da ocorrência de um certo evento, possa vir a sofrer qualquer forma de dano ou
prejuízo. Para tanto, será por intermédio de um planejamento que deverão ser indicadas as
ações de controle e correção que devam ser adotadas.
Por exemplo, imaginemos que certo governo queira construir uma rodovia.
Uma obra como esta tende a demorar alguns meses para ser concluída pela empresa
contratada para sua edi cação. De modo geral, um contrato com este objeto irá prever a data
de início e término da empreita.
Entretanto, a realização da obra no prazo planejado está suscetível a eventos adversos, como
por exemplo, dias chuvosos que impeçam os trabalhos, greve dos trabalhadores, falta de
matéria-prima, não pagamento das obrigações contratuais por parte da administração,
falência da empresa responsável, dentre outros.
Figura 5 – Riscos na Obra
Fonte: Wikimedia Commons
Neste tipo de obra a incerteza e o risco pairam sobre uma série de fatores.
Por exemplo, estatisticamente é possível avaliar a quantidade de chuva que comumente atinge
o local onde a obra será executada, neste caso, a paralização da obra em virtude de chuvas será
um risco.
Importante frisar que tanto o risco quanto a incerteza podem sujeitar um determinado
receptor de um evento adverso que dá origem a intercorrências que causem danos e prejuízos.
No tocante à segurança pública o risco deve ser apreciado sob a visão de um ambiente coletivo
e indeterminado, denominado de sociedade.
Como podemos notar no conceito em questão a ação da segurança pública tem uma visão
utópica de eliminar totalmente o risco.
A segurança pública é um dos chamados direitos sociais, assegurados a todo povo brasileiro,
conforme enunciado no artigo 144 de nossa Constituição Federal.
Frente a isto, não podemos esquecer que nunca atingiremos o ápice de uma segurança pública
que torne a sociedade totalmente livre dos riscos ao patrimônio e a incolumidade das pessoas.
O autor anteriormente mencionado, nos traz uma visão da segurança pública, levando em
consideração a presença do risco.
A concepção de segurança pública frente ao risco não pode deixar de lado que vivemos em um
Estado Democrático de Direito, o qual possui como grande característica o reconhecimento
dos direitos humanos como mecanismo de proteção:
“[...] Nas normas de direito internacional dos direitos humanos, a segurança pública foi
prevista como limitação objetiva aos demais direitos, a m de protegê-los, evitando que
qualquer direito sirva de escudo para o seu exercício abusivo, para expor a risco e lesionar os
direitos das outras pessoas.”
- GLINA, 2020, p. 51
Por exemplo, qual o risco de sacar dinheiro em espécie em um banco em dia de “pagamento
de salários” e ser vítima de um crime de furto ou de roubo?
É claro e notório que neste dia e nestas condições o risco é grande, carecendo a adoção de
posturas dos órgãos de segurança pública, que promovam planejamento e gestão de seus
recursos humanos e materiais para minimização dos riscos destas modalidades de delito.
Quanto à segurança patrimonial, o risco está voltado a uma relação entre “probabilidade” de
exposição de determinado patrimônio diante de sua vulnerabilidade e condições de ameaça
que venham a provocar sua perda ou deterioração.
Um exemplo para este risco seria o ingresso de pessoas não autorizadas a uma edi cação,
cujo acesso não tem qualquer tipo de controle por intermédio de barreiras físicas ou
tecnológicas.
Para este exemplo podemos entender que a sujeição ao risco de situações indesejadas é alta.
Após termos uma compreensão sobre as várias formas que o risco pode ser apreciado iremos
conhecer outras variáveis a serem consideradas em um diagnóstico de análise de risco:
ameaça, vulnerabilidade e emergência.
Ameaça
Assim como o risco, a ameaça também é um elemento imprescindível para o emprego de
qualquer avaliação ou diagnóstico de segurança.
Por exemplo, imaginemos um agente de segurança descontente com a empresa que venha a,
intencionalmente, descumprir ação determinada em plano de segurança deixando de fazer a
veri cação de pertences de visitante que esteja portando arma de fogo e tenha a intenção da
prática de um ilícito penal naquele patrimônio.
Por exemplo, a entrada de uma arma de fogo em patrimônio particular, onde existe um
sistema de segurança implantado, cujo ingresso somente fora possível em decorrência do não
cumprimento do exato procedimento (protocolo) pelo vigilante responsável em vistoriar os
pertences pessoais daquele visitante.
As ameaças ambientais levam em consideração o que se chama de meio ambiente natural, não
tem origem em razão do comportamento humano de forma direta, mas nada impede que ele
venha de certa forma “colaborar” na ampliação dos riscos que possam vir a resultar em danos
e prejuízos.
Uma outra forma de ameaça, que pode ocorrer no chamado meio ambiente do trabalho, é
decorrente da vulnerabilidade que estão sujeitos os trabalhadores em certa atividade laboral
durante sua execução.
Por exemplo, a ameaça decorrente da falta de medidas de segurança do trabalho na qual põe
em risco a saúde do trabalhador em virtude do não emprego de Equipamento de Proteção
Individual – EPI de qualidade certi cada.
Figura 10 – Equipamentos de Segurança do Trabalho EPIs
Fonte: Getty Images
Sob a ótica dos conceitos de proteção e defesa civil, uma ameaça encontra-se relacionada a
incidência de um desastre, ante a vulnerabilidade que determinado ambiente receptor se
encontra, ou seja, como este pode superar ou enfrentar a “agressividade” daquele evento
adverso.
Desta de nição pode-se deduzir que a ameaça decorre da aferição das consequências que
certo evento adverso venha a provocar sendo esta mensurada em danos e prejuízos.
Ainda na esteia deste exemplo, a vulnerabilidade encontra-se em aferir como este ambiente
recebe o acumulado de chuva e quais suas condições para minimizar ou não as consequências
oriundas das cheias.
Para concluirmos a visão de ameaça sob a ótica da proteção e defesa civil, mencionamos o
conceito de Antônio Coimbra de Castro:
- CASTRO, 2007, p. 10
Figura 11 – Visão de ameaça sob a ótica da proteção e
defesa civil
Fonte: Getty Images
No âmbito da segurança pública, o estudo da “ameaça” tem por escopo uma avaliação
estatística da incidência de eventos que afetem ou tendam a afetar a “ordem pública” de
determinado local.
Neste sentido, devemos levar em consideração que o principal objetivo do direito social a
segurança pública, ou seja, a garantia da ordem pública, encontra previsão no texto
constitucional em seu artigo 144.
“Art. 144 – A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é
exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,
através dos seguintes órgãos: (g/n)”.
Diversos são os conceitos de “ordem pública”, aqui, iremos abarcar o de José Afonso da Silva,
que assim entende:
“Ordem Pública será uma situação de pací ca convivência social, isenta de ameaça de
violência ou de sublevação que tenha produzido ou que supostamente possa produzir, a curto
prazo, a prática de crimes.”
Frente a tal conceito, podemos deduzir que o estudo da ameaça na visão da segurança pública
envolve a apreciação de acontecimentos cuja existência tenha previsibilidade ou não, mas
sempre tendo por perspectiva o propósito de evitar que as infrações penais tenham incidência.
Quanto a segurança privada a concepção de uma ameaça não foge muito das óticas anteriores.
O que irá lhe dar peculiaridade é o objeto legal para qual se presta este tipo de segurança.
Sob as lentes da doutrina de proteção de defesa civil, a vulnerabilidade pode ser conceituada,
conforme as palavras de Antônio Coimbra de Castro, como:
- CASTRO, 2007, p. 10
Podemos aferir, ante ao presente conceito, que a vulnerabilidade está relacionada a capacidade
que determinado ambiente terá ou não de absorver as consequências de uma ameaça
decorrente de um determinado evento adverso.
Por exemplo, diante de uma tempestade, onde os índices pluviométricos atingem uma aferição
superior à que normalmente se apresentam, qual será a capacidade do ambiente atingido
(receptor do desastre) em fazer frente a ele, evitando ou minimizando danos humanos,
materiais, ambientais e consequente prejuízos econômicos e sociais.
No que tange as ações de segurança pública ou privada a visão a ser dada, quanto a questão da
vulnerabilidade, leva em consideração a probabilidade de que alguma ameaça aferida venha a
impactar o objeto daquela espécie de segurança, seja ela a ordem pública sob o prisma da
segurança pública ou o patrimônio, a pessoa ou o bem sob a custódia ou vigilância no caso da
segurança privada.
Emergência
Uma emergência é uma situação que desperta uma atenção especial para as pessoas que de
alguma forma se encontram envolvidas em um evento indesejado.
O grande trunfo para fazer o enfrentamento a uma emergência é ter o conhecimento do risco,
saber avaliar a ameaça e sobretudo reconhecer a vulnerabilidade do ambiente receptor do
evento adverso que se pretende inibir, contendo e evitando suas consequências.
Figura 11
Fonte: Pixabay
Embora instintivamente cada pessoa consiga avaliar uma determinada situação como uma
emergência cabe aqui deixarmos um conceito do que pode ser considerado como tal.
Iremos recorrer a um conceito rmado por Antônio Coimbra de Castro, que assim a de ne:
Emergência
No que tange as medidas de segurança, seja pública ou privada, para o enfrentamento de uma
emergência estas devem ser organizadas.
De tal forma que os atores responsáveis pelo enfrentamento da ameaça sejam capazes de
evitar ou minimizar as consequências do evento adverso.
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Material Complementar
Sites
ACESSE
ACESSE
ACESSE
Leitura
Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social
Federal, Política. Ministério da Justiça e Segurança Pública, 2015.
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Referências
MORAES, A. de. Direito Constitucional. 35. ed. São Paulo: Atlas, 2019. (e-
book)