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Análise de Riscos Ambientais Urbanos

PARTE I
Pro f . Ph D . Éri c o G a s p a r L i s b oa
Pro f . D Sc . L e o n ardo A . L . B e l l o
Pro f . D Sc . Ig o r C h arles C . A lves
Desenvolvimento
❑O que é risco?
❑O conceito e concepções de risco;
❑Incertezas e tomada de decisões
❑Tipos de risco;
❑Sistema de risco;
❑Bacia de risco;
❑Análise do risco;
▪Gerenciamento;
▪Avaliação (detalhado na PARTE II);
▪Comunicação
O que é risco?
▪ Risco é um substantivo masculino que dependendo do contexto
pode ter diferentes acepções, embora o significado predominante
seja a possibilidade ou probabilidade de que algo pode acontecer;

▪Risco é uma ameaça ou perigo de determinada ocorrência. Correr


o risco é se sujeitar a episódio temerário com consequência;

▪O risco é a possibilidade ou probabilidade de perigo, ameaça física


para o homem e/ou para o meio ambiente
O que é risco?
▪“Caso não se saiba ao certo o que vai acontecer, mas as chances
existem, isso é risco. Caso não se saiba quais são as chances,
então é incerteza”
(trecho do livro: “Risk, Uncertainty and Profit”, de Frank Knight, citado por Almeida et
al., 2014);

▪É impossível eliminar o risco. O melhor a fazer é tentar estabelecer


uma comparação entre risco e os benefícios;
O que é risco?
▪ A análise de risco é, na verdade, um balanço entre os riscos e
benefícios de um atributo, lembrando também o custo envolvido na
ação de controle;

▪A palavra risco é empregada em diversos contextos:


orisco ambiental;
orisco de epidemia;
orisco de morte, biológico, de acidente, financeiro etc.
Conceitos e concepções de risco
▪ De difícil conceituação, ao mesmo tempo, o risco pode ser
interpretado por diferentes conceitos. Entretanto, é senso comum que o
conceito de risco deve ser capaz de, entre outros aspectos, permitir:

ocaracterizar a ocorrência de incertezas que estejam associadas aos desvios de


uma situação de referência;
oproteger bens e pessoas;
ojustificar opções e ações no âmbito da gestão e da tomada de decisão;
orepresentar, mesmo que simbolicamente, uma relação entre razão e sensibilidade;
Conceitos e concepções de risco

Ação – A1 Tempo de resposta – t1

Ação – A2 Tempo de resposta – t2

(Re)Ação – A3 Tempo de resposta – t3


Conceitos e concepções de risco
▪conceituações de risco podem ser administradas sob ideias distintas
que, no entanto, denotam a mesma significação de ameaça (ou perigo);
▪semântica da língua portuguesa, risco e perigo são sinônimos;
▪franceses: ideia de “aleatório” (aléa);
▪anglo-saxónicos: ideia do “acaso” ou “casualidade” (hazard);
▪espanhóis para se expressarem sobre uma ameaça, utilizam os termo
“peligrosidad”;
▪Italianos, se expressam sobre ameaça como “pericolositá”.
Conceitos e concepções de risco
▪ o risco pode ser expresso por formas aritméticas, simples, que
objetivam a busca de metodologias que possam ser utilizadas em
inúmeros casos, conforme a temática a ser abordada;

▪A lógica cartesiana: dois tipos de formulações de risco (R):


𝑅 =𝑃+𝑉 𝑅 = 𝑃𝑥𝑉
▪P e V são representadas por 1 (que significa a existência), e por 0
(inexistência dos termos).
Conceitos e concepções de risco
▪ Pela lógica difusa, o risco (R) é função de P e V, de modo que a
existência dos termos deve estar num intervalo entre 0 e 1.;

𝑅 = 𝑓(𝑃; 𝑉)
▪por estas abordagens, a V e R estão sempre presentes, de modo que,
V é intrínseca à noção de risco;

▪assim, não há a necessidade de arguir sobre o aleatório, acaso,


casualidade ou periculosidade
Conceitos e concepções de risco
▪ as expressões cartesianas e difusas podem ser aceites apenas por
uma questão de metodologia (Rabelo, 2003);

▪P e V são elementos que influenciam as condições de R e segurança;

▪o conceito de vulnerabilidade é complementar ao de risco;

▪Blaikie et al., (1994) definiram vulnerabilidade como a capacidade


intrínseca de resistência e recuperação de impactos.
Conceitos e concepções de risco
▪ Pelling e Uitto (2002) definiram vulnerabilidade como sendo o produto
da exposição física de um perigo natural e da capacidade de
recuperação de impactes negativos;

▪risco associado a fenômenos físicos e ao meio natural, comumente


utilizados em estudos sobre potencialidades, fragilidades,
susceptibilidades, vulnerabilidades, sensibilidades ou danos;

▪ressalta ainda que o risco também está associado a probabilidades;


Conceitos e concepções de risco
▪ “O risco implica o conhecimento com probabilidades, caso contrário é
desconhecimento ou incertezas em sentido restrito”;
(trecho do livro: “Risk, Uncertainty and Profit”, de Frank Knight, citado por Almeida et al., 2014);

▪Smith (1992) definiu o risco como um fator probabilístico, independente


de ser quantificável ou não, ressaltando ainda que o risco também está
associado a probabilidades;

▪E o termo perigo (hazard), está associado a um evento que tem


potencial de provocar danos.
Conceitos e concepções de risco
▪ a avaliação do risco pode ser entendida pelo estudo da probabilidade
de um evento ocorrer em locais vulneráveis à manifestação de
processos perigosos (Souza e Lourenço, 2015)
𝑅 = 𝑃1 𝑥(𝐸𝑥𝑉)
▪P1 é a probabilidade de materialização do perigo com determinadas
características, tais como intensidade, percurso e impacto;
▪E, se refere-se ao valor exposto ao perigo;
▪V, pode funcionar como um operador de danos (fragilidades).
Conceitos e concepções de risco
▪ a avaliação do risco pode ser entendida pelo estudo da probabilidade
de um evento ocorrer em locais vulneráveis à manifestação de
processos perigosos (Souza e Lourenço, 2015)
𝑅 = 𝑃2 𝑥(𝐸𝑥𝑉)
▪P2 refere-se à probabilidade de ocorrência de determinadas
consequências resultantes de impactes (probabilidade condicionada);
▪O termo ExV representa a consequência de um evento que tem
potencial de provocar dano
Conceitos e concepções de risco
▪ Embora a literatura disponibilize variados conceitos e concepções
sobre risco, dificuldades para estimar probabilidades e consequências
podem gerar incertezas;

▪Deste modo, pode-se colocar em causa a gestão do risco,


independentemente dos tipos de risco:
oRisco natural, tecnológico;
oRisco social,
oRisco ambiental.
Incertezas e tomada de decisões
▪ A análise de risco está conceitualmente associada à incerteza;

▪As incertezas devem ser melhor administradas para que as decisões


tomadas reflitam num menor risco, custo e impacto possível;

▪Incertezas é todo tipo de erros envolvidos na relação entre o homem e


a natureza, notadamente na determinação de informação em variáveis
aleatórias, no uso de métodos de resolução de problemas e, ainda, na
tomada de decisão (Yevjevich, 1976)
Incertezas e tomada de decisões
▪ Klir & Folger (1988) referiram que as incertezas podem ser discutidas
considerando dois conceitos;
odificuldade de distinguir precisamente as coisas ou seus limites;

ofruto de relacionamentos múltiplos, com alternativas não especificadas.

▪Paté-Cornell & Fischbeck (1991) afirmaram que a incerteza está


inserida em dois grupos: aleatórias e epistémicas
Incertezas e tomada de decisões
o Incertezas aleatórias podem ser relacionadas ao carácter heterogéneo
dos fenómenos naturais;

oIncertezas epistémicas advêm da falta de conhecimento da realidade.

▪Klir (1995) observou a insuficiência da informação como fator


determinante no grau de incerteza, assim como a introdução de
informação de natureza irrelevante ao problema
Incertezas e tomada de decisões
▪ Morgam & Henrion (1993) classificaram as incertezas de acordo com
suas fontes e origens, em:
oVariação estatística: erro aleatório em medidas de quantidade;
oJulgamento subjetivo
oImprecisão linguística:
oVariabilidade
oAleatoriedade inerente
oDiscordância ou aproximação
Incertezas e tomada de decisões
▪ Quando as incertezas estão associadas a informações processado por
m-critérios considerando n-alternativas para alcançar um ou mais
objetivos, a fim de que seja tomada uma decisão que cause o menor
impacto em várias dimensões, deve-se considerar o conceito de
multidimensionalidade;

▪Principal característica da multidimensionalidade é a de resolver


problemas para tomar decisões no mundo real, tendo critérios
económicos, ambientais, sociais e técnicos,
Incertezas e tomada de decisões
▪ No âmbito do risco ambiental, pode-se elencar as principais
considerações na tomada de decisão como:
oRedução de riscos;
oRelevância e uso de abordagens preventivas e segurança ambiental;
oConsiderações econômicas;
oAnálise de decisão por modelos multicritérios; e,
oEnvolvimento dos principais atores diretamente afetados pelo risco
(stakeholders) e o grande público.
Tipos de riscos
▪ Dentre os variados tipos de risco, se dará ênfase nesta disciplina ao:

oRisco natural: exemplificado como a probabilidade de um vulcão entrar


em erupção ou ocorrer um deslizamento de terra

▪desencadeados por eventos tectónicos e magmáticos, climáticos,


geomorfológicos (e.g., ravinamento, movimentações de massa,
desabamento ou deslizamento, erosão, descongelamento de neves) e
hidrológicos
Tipos de riscos
▪ Dentre os variados tipos de risco, se dará ênfase nesta disciplina ao:

oRisco tecnológico: avaliado pela integração de três fatores


indissociáveis:
✓condição humana (existência individual e coletiva, ambiental);
✓processo de produção (recursos, técnicas, equipamentos, maquinário);
✓trabalho (relações entre direções empresariais e estatais e
assalariados).
Tipos de riscos
▪ Dentre os variados tipos de risco, se dará ênfase nesta disciplina ao:

oRisco social: contempla a maioria dos riscos, posto que podem ser
riscos causados pela sociedade ou riscos com consequências para as
sociedades humanas;

▪Estes riscos podem ser classificados como endógeno e exógeno


(Vieillard-Baron, 2007).
Tipos de riscos
▪ Dentre os variados tipos de risco, se dará ênfase nesta disciplina ao:

oRisco social endógeno: relacionado aos elementos naturais e às


ameaças externas, como terremotos, epidemias, secas e inundações;

oRisco social exógeno: relacionados diretamente ao produto das


sociedades e às formas de política e administração adotadas, e.g., o
crescimento urbano e a industrialização, a formação de povoamentos e
a densidade excessiva de alguns bairros.
Tipos de riscos
▪ Dentre os variados tipos de risco, se dará ênfase nesta disciplina ao:

oRisco ambiental: resulta da associação entre riscos naturais (sem


interveniência da ação humana) e riscos decorrentes de processos
naturais, agravados pela atividade humana e pela ocupação do território;

oEsta concepção é fundamentada no risco antropogênico (anthropos,


homem; e gênico, origem), originados pela condição humana de ser
social (cultura) e ser econômico (produção/reprodução da natureza).
Tipos de riscos
▪ Dentre os variados tipos de risco, se dará ênfase nesta disciplina ao:

oNo âmbito das ações antrópicas - duas subtipologias de risco:

oRiscos construídos: transformações espaciais construídas sobre o


espaço natural, vinculadas à ocupação socioeconómica produtiva, e
especializadas por: edificações prediais, infraestruturas viárias,
infraestruturas sanitárias, etc
Tipos de riscos
▪ Dentre os variados tipos de risco, se dará ênfase nesta disciplina ao:

oNo âmbito das ações antrópicas - duas subtipologias de risco:

oRiscos produtivos: relacionados com as atividades econômicas e não-


econômicas, avaliados a partir de informações a respeito das atividades
produtivas e quais as formas de produção;
Tipos de riscos
▪ Riscos ambientais urbanos são os riscos decorrentes do uso e
ocupação do solo, com destaque para a ocupação desordenada, riscos
industriais, e contaminação química e orgânica (Cortez, 2004).
▪Como analisar os riscos?
▪Como gerenciar os riscos? (Mitigação ou eliminação?)
▪Como avaliar os riscos?
▪Como comunicar os riscos?
Sistema de risco
▪ Sistema de risco: quando um risco é fortemente interligado a outros,
no espaço e/ou no tempo (explicar ligação causa-efeito);
▪Sistema de risco em macro-escala (e.g., bairros, cidades, zonas
urbanas, bacias hidrográficas, microbaciais);
▪Sistema de risco em micro-escala (e.g., indústriais);
▪Na mesma zona pode haver vários tipos e ocorrências de riscos (e.g.,
risco de poluição do ar, contaminação da água subterrânea,
deslizamento de terra, explosão em postos de combustíveis)
Bacia de risco
▪ A convergência num local ou mesmo numa região de dois ou mais
riscos, que até podem vir a manifestar-se ao mesmo tempo, originando
crises complexas, leva a que a esse local ou região se dê o nome de
bacia de riscos (REBELO, 2003);
▪vários riscos de origem diferentes e que juntos contribuem para formar
uma bacia de riscos;
▪forte precipitação (natural)+ocupação de várzeas (social)+construção de
avenidas+regularização do curso d’água (tecnológica)= área alagada no
local onde antes havia brejos e matas ciliares;
Análise do risco
▪Como gerir riscos?
✓Tem-se mais risco ou benefícios?
✓Controlar e monitorar;
✓Ações e Planos;

▪Como avaliar riscos?


✓Perigo, Vulnerabilidade, Probabilidade de ocorrência,
etc;
✓Qual a abordagem da avaliação?

▪Como comunicar riscos?


▪Qual a cultura de risco?
Análise do risco
▪Gerenciamento do risco

✓Embora, o risco zero seja inalcançável, riscos considerados como não aceitáveis
demandam um processo de gestão, a fim de reduzi-los para um nível tolerável de
risco “residual”;

✓Importância de identificar as opções de gerenciamento de riscos como etapa


preliminar da tomada de decisão que, ao considerar estratégias de gestão
incompatíveis com os riscos a serem estudados, pode-se desperdiçar recursos
(custos) e esforços;
Análise do risco
Análise do risco
▪Gerenciamento do risco

oEncerramento do risco

✓Se uma fonte de risco precisar ser encerrada, então deve-se cessar o seu
funcionamento, parcial ou totalmente.

✓Por esta ação, pode-se incluir a decisão de não continuar com novas propostas de
projeto para a reativação da atividade existente
Análise do risco
▪Gerenciamento do risco

oMitigação do risco

✓quando o risco precisar ser mitigado para condições de risco aceitável, alguma
forma de tratamento, controle e monitoramento pode ser incorporada.

✓Por esta ação, pode-se elaborar a confecção de um ou aperfeiçoar um plano de


mitigação, controle e monitoramento
Análise do risco
▪Gerenciamento do risco

oTransferência do risco
✓Caso a decisão a ser tomada seja de transferir o risco, a acção e gestão devem
considerar:
✓o acionamento de seguros;
✓a transferência de riscos para um grau de risco aceitável (hibrid risk transfer), ou
para outro risco já gerido; e,
✓a terceirização do risco;
Análise do risco
▪Gerenciamento do risco

oExploração do risco
✓Possibilidade de explorar benefícios potenciais do risco pelo comprometimento de
novas oportunidades;
✓Se a oportunidade que um risco apresenta é para ser explorada, a gestão deve ser
conduzida para medir, informar, calcular e, também, monitorar os riscos;
✓Da mesma forma que pode ser possível diminuir a probabilidade e, portanto,
maximizar os benefícios.
Análise do risco
▪Gerenciamento do risco

oAceitação do risco
✓Aceitar um risco geralmente significa implementar um tipo de abordagem reativa
sem tomar medidas explícitas;
✓ Ao implementar esta estratégia é importante reconhecer claramente a aceitação
de riscos e monitorar a sua eficiência;
Assim, se a estratégia de gerenciamento for encerrar, mitigar, transferir, explorar ou
aceitar o risco, os riscos residuais podem permanecer.
Análise do risco
▪Gerenciamento do risco

oO risco residual deve ser compartilhada pela sociedade (e.g., risco social), ou;

oO risco residual pode permanecer com os indivíduos envolvidos no


desenvolvimento ou implementação do risco (e.g., risco tecnológico), ou;

oPode-se cogitar a possibilidade de novamente transferir o risco (e.g., para


seguradoras).
Análise do risco
Análise do risco
Análise do risco
▪Comunicação do risco

oA percepção de riscos do grande público está associado:


✓ao estabelecimento de padrões ou nível cultural,
✓a profissão exercida,
✓o tipo de ambiente (se urbano ou rural),
✓a experiência de vida,
✓a sensibilidade de cada indivíduo ou grupo de indivíduos
Análise do risco
▪Comunicação do risco

oA vida moderna e a complexidade do tecido social, tendem não só a aumentar


os riscos a que a sociedade está exposta como também aguçar a percepção
desta sociedade sobre os diversos tipos de riscos;
oSOCIEDADE DE CULTO AO RISCO;
oSOCIEDADE QUE TEM A CULTURA DO RISCO;
oSOCIEDADE ACULTURADA AO RISCO.
Análise do risco
▪Comunicação do risco

oO processo de comunicação do risco ainda se constitui como uma barreira;


oÉ preciso estabelecer, de forma racional e consistente, um permanente canal
de comunicação entre os especialistas em análise de risco e a sociedade;
o Propiciar a gradual e desejável absorção, pelo grande público;
oO processo de aceitabilidade e comunicação dos tomadores de decisão junto
ao público geral precisa ser melhor desenvolvido;
Análise do risco
▪Comunicação do risco

oBier (2001) apresentou temáticas com diferentes estratégias de comunicação


de risco, bem como métodos para aprimorar o conhecimento sobre riscos aos
tomadores de decisão e integrar informação técnica sobre riscos com
informação sobre outros valores sociais;
oInstrumentos de gestão de riscos podem ser associados como ferramenta
para comunicar o risco ao grande público;
Análise do risco
▪Comunicação do risco

oPlataforma aos tomadores de decisão, desde que a diminuição das incertezas


possam ser administradas por determinados tipos de abordagens para avaliar
riscos;
oMapas temáticos, diagrama;
oEscala de risco;
oMatriz de risco, etc.
oPainéis, plataformas, gráficos
Análise do risco
▪Comunicação do risco
Análise do risco
▪Comunicação do risco
Análise do risco
▪Comunicação do risco
Análise do risco
▪Comunicação do risco

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