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Introdução à Engenharia

de Segurança do Trabalho
1. Segurança e Saúde do Trabalhador 4
Acidentes 4
Perigos e Riscos 5
Causas para a Ocorrência de Acidentes 7
Curva de Acidentes 9
Principais Agentes de Agravo à Saúde 9
Prevenção de Acidentes 10
Ergonomia 11
Caracterização 15
Utilidade 16
Praticidade 16
Custos da Prevenção 17
A Questão da Biossegurança 18

2. Programas de Prevenção 21
Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais PPRA 22
Programa de Controle Médico de Saúde
Ocupacional PCMSO 24
Programa de Condições e Meio Ambiente
de Trabalho na Indústria da Construção PCMAT 24
Programa de Conservação Auditiva - PCA 25
Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP 25

3. Referências Bibliográficas 28

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

1. Segurança e Saúde do Trabalhador

Fonte: JusBrasil1

Acidentes não ocorrem por casualidade, mas,


sim, são causados. As causas desses

A cidente é uma palavra de ori-


gem latina - accidens (acaso),
definida como qualquer fato que
fatos geradores de acidentes devem
ser analisadas em um contexto
multicausal, e não especificamente e
interrompa o andamento normal de apenas atribuir-se a falhas huma-
uma ação ou acontecimento, causa- nas, ou seja, os chamados atos inse-
do por fatores que podem ser de guros, definidos como violações de
origem humana, social, ambiental, procedimentos seguros.
instrumental etc., e que provoca Um ato inseguro seria a ma-
danos pessoais, materiais ou ambos. neira como as pessoas se expõem a
Quando não provoca danos recebe o riscos de acidentes como, por exem-
nome de Incidente. plo, subir sobre a mesa, usar luvas
Segundo Costa e Costa (2004) cortadas ou outro equipamento de
esta definição tem embutidos dois proteção individual fora das normas
pensamentos-chave que merecem ou com defeito.
consideração. Primeiro, os acidentes

1 Retirado em https://saberalei.jusbrasil.com.br/

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

Uma condição insegura seria a residência para o local de trabalho


condição ou circunstância física pe- ou deste para aquele.
rigosa existente no ambiente como Do ponto de vista prevencio-
uma máquina ou equipamento que nista, considera-se acidente do tra-
também pode provocar acidente. balho qualquer ocorrência não pro-
Como exemplo fios espalhados pelo gramada, como lesão ou qualquer
piso, máquinas sem proteção, etc. outro dano ao trabalhador, assim
Em termos legais, de acordo como também qualquer dano que
com a Lei 8.213 de 1991 e com o interfira no processo produtivo
Decreto 3.048 de 1999, ambos do (equipamentos, instalações etc.).
Mi-nistério da Previdência e Assis- A ciência que estuda os aci-
tência Social (MPAS): dentes chama-se acidentologia. É
um campo interdisciplinar, e onde
“Acidente do trabalho é todo muitos pesquisadores têm origem
aquele que ocorre pelo exercício
nas ciências sociais e psicologia,
do trabalho, a serviço da em-
presa ou pelo exercício do tra- além da engenharia e outras (MAN-
balho dos segurados especiais, GOSIO, 2002 apud COSTA E COS-
provocando lesão corporal ou
perturbação funcional que cau-
TA, 2004).
se a morte ou a perda ou redu-
ção, permanente ou tempo- Perigos e Riscos
rária, da capacidade para o
trabalho.”
Quando falamos de segurança
Para fins previdenciários, tam- e saúde no trabalho, torna-se neces-
bém são consideradas acidentes do sário esclarecer dois conceitos im-
trabalho a doença profissional, en- portantes: o de perigo e o de risco.
tendida como aquela produzida ou Risco é uma palavra antiga, de
desencadeada pelo exercício do tra- origem incerta (Castro, 2000 apud
balho, peculiar a determinada ativi- Costa e Costa, 2004).
dade, e constante da relação do Pensa-se que provavelmente
MPAS, e a doença do trabalho, em- provém do latim resecare (cortar,
tendida como aquela adquirida ou divisão, discórdia). Na Idade Média
desencadeada em função de condi- este termo era usado no sentido de
ções especiais em que o trabalho é luta. O risco denota incerteza em
executado. relação a um evento futuro, poden-
Acidente do trabalho também do, portanto, ser definido como a
é aquele ocorrido no percurso da probabilidade de ocorrer um aci-
dente causando danos, ou, como su-

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

gere a mesma autora, é a probabi-  Antrópicos ou sociais: origem


lidade de concretização de um pe- em ações humanas. Alguns au-
rigo. Esta probabilidade, que dá o tores chamam de tecnológicos,
caráter dinâmico ao risco, pode ser: porém este conceito não é
suficientemente amplo, já que
 Alta: o dano ocorrerá sem-pre existem outros perigos provo-
ou quase sempre; cados por ações humanas que
 Média: o dano ocorrerá em não têm origem tecnológica,
algumas ocasiões; como, por exemplo, a pobreza,
 Baixa: o dano ocorrerá raras a delinquência, etc.;
vezes.  Ambientais: causas combina-
das, ou seja, da natureza e
Este conceito de risco inclui a humanas.
probabilidade de ocorrência de um
acontecimento natural ou antrópico Em geral, as ações de seguran-
(de origem humana) e sua valoriza- ça e saúde no trabalho usam indis-
ção pelo homem dos efeitos nocivos tintamente os termos risco e perigo
(vulnerabilidade). Quando não se para significar o mesmo fenômeno,
pode calcular probabilidades, esta- criando dessa forma uma grande
mos diante de uma incerteza. confusão conceitual.
A língua inglesa diferencia os O importante para a compre-
termos risco (risk) e situação perigo- ensão desses conceitos é fixar que o
sa (hazard). A palavra hazard tem perigo é a fonte (causa) e o risco é a
origem árabe (az-zahr) e significa “o consequência.
dado”, fazendo referência ao jogo de Outro ponto a ser considerado
azar jogado com dados. Na reali- é que, para se avaliar riscos, é neces-
dade, os dois termos implicam con- sário, antes, identificar os perigos.
dições que incluem eventos adver- Integrando os conceitos de ris-
sos. co e perigo, podemos dizer:
Perigo é uma palavra de ori-  Risco (R) = Perigo (P) x Expo-
gem latina - periculum (contingên- sição (E)
cia iminente ou não de perder al-  Outros conceitos importantes
guma coisa ou de que suceda um são o de desastre (danger) e
ameaça.
mal). Os perigos, segundo (Castro,
2000 apud Costa e Costa, 2004), Desastre, segundo as Nações
dividem-se em: Unidas (Castro, 2000 apud Costa e
 Naturais: causas da natureza, Costa, 2004), “é todo evento con-
como inundações, terremotos, centrado em tempo e espaço, no
vulcões etc.;

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

qual uma comunidade sofre danos  Risco [...] é uma função da na-
severos, afetando sua estrutura tureza do perigo, acessibilida-
social”. de ou acesso de contato (po-
Um termo equiparado a desas- tencial de exposição), caracte-
rísticas da população exposta
tre é catástrofe, cuja origem grega é
(receptores), a probabilidade
proveniente de duas raízes kata de ocorrência e a magnitude
(para baixo) e strepho (dar volta), da exposição e das consequên-
significando transtorno, resultado cias [...] (Kolluru, 1996 apud
dramático; isto é, que altera a ordem Fischer e Guimarães, 2002).
regular das coisas.  Um perigo é um agente quí-
Danger é outra palavra que mico, biológico ou físico (in-
cluindo-se a radiação eletro-
merece consideração. É uma conse-
magnética) ou um conjunto de
quência potencial de dano, implícita condições que apresentam
em um perigo (hazard). Em termos uma fonte de risco, mas não o
gerais, porém, danger é sinônimo de risco em si (Kolluru, 1996
perigo. apud Fischer e Guimarães,
Ameaça é qualquer fator exter- 2002).
no a uma comunidade exposta, re-  “[…] risco é um resultado me-
dido do efeito potencial do
presentado pela potencial ocorrên-
perigo” (Shinar, Gurion e Fla-
cia de um fenômeno (acidente) de- scher, 1991, p. 1095 apud
sencadeante, o qual pode produzir Fischer e Guimarães, 2002).
um desastre. Geralmente, este ter- Perigo é a situação que contém
mo é usado para fenômenos naturais uma fonte de energia ou de
(inundação, deslizamentos de terra fatores fisiológicos e de com-
etc.). portamento/conduta que,
quando não controlados, con-
Outras definições seriam:
duzem a eventos/ocorrências
 Risco é a probabilidade ou prejudiciais/nocivas” (Shinar,
chance de lesão ou morte Gurion e Flascher, 1991, p.
(SANDERS E MCCORMICK, 1095, apud Fischer e Guima-
1993, p. 675 apud FISCHER E rães, 2002).
GUIMARÃES, 2002).
 Perigo é uma condição ou um Causas para a Ocorrência de
conjunto de circunstâncias Acidentes
que têm o potencial de causar
ou contribuir para uma lesão
O contexto para ocorrência de
ou morte (Sanders e Mc-
Cormick, 1993, p. 675 apud acidentes é multicausal e dentre as
Fischer e Guimarães, 2002). causas possíveis, podemos destacar:

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

 Fatores sociais; 3. Equívoco: as ações plane-


 Instrução não adequada; jadas eram inadequadas (relaciona -
 Mau planejamento das ativi- se a conhecimento e regras);
dades; 4. Violação: desvios do plano ori-
 Supervisão incorreta e/ou ginal.
inapta;
 Não observância de normas;
As situações que podem pro-
 Práticas de trabalho inade-
quadas; vocar erros, estão citadas em ordem
 Manutenção incorreta; decrescente de importância (Man-
 Mau uso de equipamentos de gosio, 2002 apud Costa e Costa,
proteção; 2004):
 Uso de materiais de origem 9º Desconhecimento: situação
desconhecida; potencialmente perigosa ou impor-
 Layout inadequado; tante, que é nova ou não frequente.
 Higiene pessoal; 8º Falta de tempo: tempo
 Jornada excessiva de trabalho; escasso para a realização de alguma
 Falta de organização e lim- tarefa, que por pressão deve ser
peza;
concluída.
 Excesso de confiança, negli-
gência; 7º Comunicação inadequada:
 Desconhecimento dos fatores sistema inadequado de comunica-
de risco inerentes ao processo ção interna, que pode gerar confli-
de trabalho. tos; sobrecarga de informações; pro-
cedimentos técnicos escritos de
Estudos de Reason (citado por forma inadequada.
Costa e Costa, 2004) estimam que o 6º Desconhecimento dos ris-
erro humano está associado a pelo cos: percepção inadequada dos ris-
menos 80% dos acidentes. Segundo cos, falta de treinamento, etc.
este autor, a ideia fundamental é que 5º Inexperiência: treinamento
as ações planejadas podem falhar ou experiência insuficiente.
em seus objetivos por quatro razões: 4º Falta de condições físicas:
1. Deslize: as ações não se rea- certos aspectos do trabalho estão
lizam como foram planejadas por além das condições físicas do traba-
falta de atenção; lhador.
2. Lapso: as ações não se reali- 3º Desânimo: baixa autoes-
zam como foram planejadas por fal- tima; perda de confiança da ge-
ta de memória; rência.

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

2º Monotonia e tédio: ciclos de Principais Agentes de Agravo


trabalho repetitivos, com pouca exi- à Saúde
gência mental.
1º Imposições externas e in- De acordo com a Norma Regu-
ternas: transtornos de ciclos de lamentadora NR5 - Anexo IV, pode-
sono; pressão de supervisares. mos classificar os agentes de risco
conforme o diagrama abaixo. Os
agentes psicossociais, embora ainda
Curva de Acidentes
não estejam contemplados nessa
A estatística dos acidentes de NR, atualmente são considerados de
trabalho, em geral, fornece dados grande importância para as ações de
que podem ser representados pela segurança e saúde no trabalho.
seguinte curva: Grupo 1 (Verde) - Agentes Físicos:
Ruídos, vibrações, radiações
ionizantes, radiações não ionizantes,
frio, calor, pressões anormais, umi-
dade.
Grupo 2 (Vermelho) - Agentes
Químicos:
Poeiras, fumos, névoas, nebli-
nas, gases, vapores, substâncias
Onde: químicas em geral.
Grupo 3 (Marrom) - Agentes
a. = falta de experiência; Biológicos:
b. = equilíbrio profissional; Vírus, bactérias, protozoários,
c. = excesso de confiança, fungos, parasitas, bacilos.
negligência. Grupo 4 (Amarelo) - Agentes
Ergonômicos:
A curva demonstra a impor- Esforço físico intenso, levanta-
tância de se dar ao funcionário que mento e transporte manual de peso,
está iniciando suas atividades um postura inadequada, controle rígido
treinamento consistente e que deve de produtividade, ritmos excessivos,
ser mantido ao longo da sua perma- trabalho em turno e noturno, jorna-
nência na empresa, através de pro- das de trabalho longas, monotonia e
cessos educacionais eficientes e bem repetitividade, outras situações cau-
- estruturados (COSTA, 2000; sadoras de stress físico e/ou psí-
COSTA; COSTA, 2003): quico.

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

Grupo 5 (Azul) - Agentes Causa- riscos deve levar em conta essa com-
dores de Acidentes: plexidade.
Arranjo físico inadequado,
máquinas e equipamentos sem pro- Prevenção de Acidentes
teção, ferramentas inadequadas, ilu-
minação inadequada, eletricidade, O conceito de saúde no traba-
probabilidade de incêndio ou lho inclui três aspectos básicos:
explosão, armazenagem inadequa-
da, animais peçonhentos, outras
situações de risco que poderão con-
tribuir para a ocorrência de aci-
dentes.
Grupo 6 - Agentes Psicossociais:
Qualidade de vida inadequada
(salário, alimentação, relações pes-
soais etc.), ausência de creche na
empresa, tempo demandado no  A saúde orgânica seria o fun-
transporte de ida e volta, outros. cionamento correto do con-
junto de células, tecidos, ór-
gãos e sistemas biológicos.
 A saúde psíquica pressupõe
um equilíbrio intelectual e
emocional.
 A saúde social relaciona-se
com o bem-estar do indivíduo
em suas relações sociais.

Fonte: Costa e Costa (2004, p. 17) Os procedimentos de preven-


ção de acidentes buscam exatamen-
É importante ressaltar que te propiciar ao trabalhador esses
esses agentes de risco não interagem três aspectos. Existem duas formas
com o trabalhador de forma isolada, de se fazer prevenção:
ou seja, todos eles podem, instan- Prevenção passiva: é aquela que
taneamente, atuar sobre o indiví- se resume a estudar os acidentes e
duo. A isto chamamos de “complexi- danos que ocorrem nas empresas,
dade ocupacional dos agentes de ris- buscando as causas e implementan-
co”, portanto, qualquer análise de do medidas de segurança. Para que

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

ela se produza é necessário que fisiológicas dos indivíduos, avalian-


algum acidente ocorra. do e projetando os postos de traba-
Prevenção ativa: é aquela levada a lho, seus processos e equipamentos,
efeito antes que algo ocorra, através de acordo com as características e as
de estudos do ambiente de trabalho, necessidades do trabalhador (anali-
equipamentos, processos etc., visan- saremos em seus pormenores logo
do detectar possíveis riscos poten- adiante).
ciais e implementando medidas para • Psicossociologia
que o acidente não ocorra. Logica- Estuda os danos psicológicos
mente, mesmo que a empresa adote que pode sofrer um trabalhador no
este tipo de prevenção, e o acidente seu ambiente de trabalho, assim
ocorra, os procedimentos descritos como os fatores que geram insa-
na prevenção passiva devem ser tisfações.
realizados (COSTA; COSTA, 2004). Em termos gerais, a prevenção
Segundo os mesmo autores é constituída do seguinte sistema:
acima, os processos de prevenção
contam com:
• Segurança
Técnica aplicada à prevenção
dos acidentes do trabalho, atuando
Fonte: Costa e Costa (2004)
sobre equipamentos, instalações, lo-
cais de trabalho e processos. Esta
Ergonomia
técnica localiza os agentes de risco,
analisa e implementa ações de pro-
Ergonomia, antes de mais
teção e correção.
nada, é uma atitude profissional que
• Higiene
se agrega à prática de uma profissão
Técnica aplicada contra os
definida. Neste sentido é possível
possíveis agentes geradores de agra-
falar de um médico ergonomista, de
vos (enfermidades) profissionais,
um psicólogo ergonomista, de um
avaliando a presença de agentes
designer ergonomista e assim por
químicos, físicos, biológicos e pos-
diante. Esta atitude profissional ad-
síveis tensões psicológicas e sociais
vém da própria definição estabele-
presentes no meio ambiente do
cida pela Associação Brasileira de
trabalhador.
Ergonomia (ABERGO) com base
• Ergonomia
num debate mundial:
Estuda a adaptação do tra-
A Ergonomia objetiva modifi-
balho às condições psicológicas e
car os sistemas de trabalho para

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

adequar a atividade nele existentes boa interface. As boas interfaces


às características, habilidades e (adequadas) atenderão de forma
limitações das pessoas com vistas ao conjunta, integrada e coerente os
seu desempenho eficiente, confor- critérios de conforto, eficiência e
tável e seguro (ABERGO, 2000). segurança.
Esta definição coloca:
1. Finalidades - modificar os Ergonomia Como uma Tecnologia
sistemas de trabalho; de Interfaces
2. Propósitos - adequar a ativi-
dade às características, habi-
lidades e limitações das pes-
soas – e,
3. Critérios - eficiência, confor-
to e segurança,

E necessita ser complemen-


tada por uma outra, que estabeleça
qual a tecnologia a que a Ergonomia
está referida ou que possua um
referente de suas finalidades, pro- Em sua atividade de trabalho o
pósitos e critérios. ser humano interage com os diver-
Segundo a Abergo (2000) esta sos componentes do sistema de tra-
tecnologia é a tecnologia de reali- balho: com os equipamentos, instru-
zação de interfaces entre as pessoas mentos e mobiliários, formando
e os sistemas, melhor dizendo, esta- interfaces sensoriais, energéticas e
belecendo uma relação de adequa- posturais, com a organização e o
ção entre os aspectos humanos pre- ambiente formando interfaces am-
sentes na atividade de trabalho e os bientais, cognitivas e organizacio-
demais componentes dos sistemas nais. O ser humano, com seu orga-
de produção: tecnologia física, meio- nismo, sua mente e sua psique
ambiente, softwares, conteúdo do realiza essas interações de forma sis-
trabalho e organização. Qualquer têmica, cabendo à Ergonomia mode-
forma de interação entre o comp- lar essas interações e buscar formas
onente humano e os demais compo- de adequação para o desempenho
nentes do sistema de trabalho cons- confortável, eficiente e seguro face
tituir-se-á em uma interface, sem às capacidades, limitações e demais
que tenhamos necessariamente uma

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

características da pessoa em ati- de trabalho, como as linhas de


vidade. montagem, as salas de controle, os
Os primeiros estudos sobre as postos de direção de máquinas
relações entre homem e o trabalho (cockpits) e assim por diante.
se perdem na origem dos tempos: No seu sentido mais contem-
em termos arqueológicos, é possível porâneo se busca entender os deter-
demonstrar que os utensílios de minantes de uma atividade de tra-
pedra lascada se miniaturizaram, balho através de contribuições num
num processo de melhoria de manu- sentido ainda mais amplo, que
seabilidade e que teve por resultado incluem a organização do trabalho e
produtivo, o ganho de eficiência na os softwares, procedimentos e
caça e coleta. O ganho de eficiência estratégias operatórias
no processo de caça permitiu uma A primeira definição de Ergo-
nova forma de divisão do trabalho nomia foi feita em 1857 na égide do
podendo as mulheres se ocuparem movimento industrialista europeu.
melhor dos bebês e com isso redu- Esta definição foi feita por um
zindo a mortalidade infantil (Meirel- cientista polonês, Wojciech Jars-
les, 1998 apud Vidal, 1999). Existem tembowsky numa perspectiva típica
também no Museu do Louvre papi- da época, de se entender a Ergo-
ros egípcios que denotam recomen- nomia como uma ciência natural em
dações de natureza ergonômica para um artigo intitulado “Ensaios de
a construção de utensílios de cons- ergonomia, ou ciência do trabalho,
trução civil, assim como desenhos baseada nas leis objetivas da ciência
de arranjos organizacionais para o sobre a natureza”. Esta primeira
canteiro de obras de pirâmides. definição estabelecia que:
Em seu sentido clássico, a Er- A ergonomia como uma ciên-
gonomia buscou primeiramente en- cia do trabalho requer que enten-
tender os fatores humanos pertinen- damos a atividade humana em ter-
tes ao projeto de instrumentos de mos de esforço, pensamento, rela-
trabalho, ferramentas e outros ape- cionamento e dedicação (JASTRZE-
trechos típicos da atividade humana BOWSKI, 1857 apud VIDAL, 1999).
em ambiente profissional. Mais Importante menções cabem
adiante buscou-se entender, tabelar, ser feitas ao período que circundou a
organizar dados sobre os fatores hu- chamada Revolução Industrial, que
manos que deveriam ser considera- não pode ser limitada a avanços nos
dos não apenas para os instrumen- processos técnicos mas a toda uma
tos, mas para os projetos de sistemas evolução das formas de divisão do

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

trabalho e das formas de interação mente, mensurar efetivamente o


entre pessoas e equipamentos téc- desempenho físico do ser humano: o
nicos. esfigmógrafo, o cardiógrafo, o pneu-
A passagem do putting-out mógrafo, ao mesmo tempo que se
system para as manufaturas engen- aprofundava o estudo teórico acerca
drou a criação de postos de trabalho do desgaste fisiológico e da ener-
que rapidamente se diferenciaram gética muscular. Em relativa con-
das instalações da produção domés- temporaneidade a Taylor, J. Amar
tica. Em seguida a instrumentação verificava, de forma experimental os
de energia possibilitada pelo sucesso princípios apontados por Taylor,
da Spinning Jenny de James Watt então acusados de falta de emba-
cria novas possibilidades. Mais samento (VIDAL, 1999).
adiante as propostas de Adam Smith O trabalho de J. Amar é, nesse
significaram postos e métodos de sentido, um verdadeiro clássico so-
trabalho distintos de seus anteces- bre a fisiologia experimental do tra-
sores. E é nesse bojo que aparece a balho. Suas formulações consti-
proposição de Wojciech Jastrzebo- tuem-se no primeiro dos paradig-
wski, autor da primeira definição de mas da ergonomia: o homem como
ergonomia. transformador de energia, o motor
Já no início do século XX a humano, como o próprio autor
proposta de F. W. Taylor não se denomina.
limitava a um novo projeto organi- A década de 1970 marca a pas-
zacional. Seu estudo sobre as pás - sagem definitiva da análise situada
de capacidade maior para o manu- para o campo da ação com uma cres-
seio do carvão, material mais leve, e cente integração da ergonomia na
de menor capacidade para o miné- prática industrial, para o que, foi
rio, material mais pesado é, sem decisivo o mesmo ambiente que en-
sombra de dúvida um dos primeiros gendra o movimento pela gestão da
trabalhos empíricos de Ergonomia qualidade. Surge em especial na Eu-
publicados que temos notícia. Isto ropa um conceito novo, a interven-
não se deu por acaso, pois já haviam ção ergonômica, hoje expressão cor-
alguns estudos que permitiam esse rente nos EUA, Japão, França, Ale-
tipo de concepção. manha, Canadá, Suécia e Brasil,
Os fisiologistas do final do apenas para citar os países onde
século XIX já haviam desenvolvido existe um maior avanço da ergo-
uma série de métodos, técnicas e nomia.
equipamentos que permitiam, final-

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

O conceito de intervenção er- sária, e que possa inserir os resulta-


gonômica inicialmente desenvolvi- dos da ergonomia nas crenças e
do pela escola francesa de Ergo- valores das organizações que as
nomia (Wisner, 1974, Duraffourg et demandam e recebem os seus resul-
al. 1977; Guérin et al. 1991 apud tados. Esta construção divide a
Vidal, 1999) é hoje uma forma inter- intervenção e se realiza em distintas
nacional de atuação do profissional etapas: a instrução da demanda, a
que trabalha com a ergonomia. A análise da atividade e dos riscos
efetividade da ergonomia consiste ergonômicos, a concepção de solu-
no fato de resultar em transforma- ções ergonômicas e a implemen-
ções positivas no ambiente de traba- tação ergonômica (figura abaixo).
lho (ambiente aqui tomado em seu
sentido amplo, o que inclui a tecno-
logia e a organização como seus
componentes).
Segundo um consultor norte-
americano contemporâneo (Burke,
1998 apud Vidal, 1999), o trabalho
de preparar um diagnóstico é irrele-
vante se este não criar mudanças
positivas. Isto significa que a inter-
A instrução da demanda com-
venção ergonômica é uma tecnolo-
preende todo o encaminhamento
gia da prática que objetiva modificar
contratual da intervenção, o que
a situação de trabalho para torná-la
passa pelo ajuste e foco do pro-
mais adequada às pessoas que nela
blema, identificação do processo de
operam. Diferencia-se desta forma
tomada de decisão na organização,
de estudos e análises de caráter
levantamento dos recursos huma-
apenas descritivo ou sem compro-
nos para formar a consultoria inter-
metimento de fato com as mudanças
na, e determinação das formas de
no trabalho, como a produção de
apresentação de resultados.
laudos ou diagnósticos puramente
A análise da atividade e dos
acadêmicos.
riscos ergonômicos consiste no con-
junto de coletas de dados e informa-
Caracterização
ções que permitem ao ergonomista
O que caracteriza uma inter- realizar as modelagens necessárias
venção ergonômica é a construção para prover mudanças no ambiente
que vai viabilizar a mudança neces-

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

de trabalho. Por risco ergonômico resultado da intervenção foi efetiva-


entenderemos a condição ou a prá- mente um rearranjo, porém o estudo
tica que traga obstáculos à produti- no qual se baseou permitiu uma
vidade, que desafie a boa qualidade discussão conceitual em arquitetura
ou que traga prejuízos ao conforto, (Dejean, 1981 apud Vidal, 1999),
segurança e bem estar do traba- teórica em psicolinguística (PAVA-
lhador. RD, 1982 apud VIDAL, 1999) e
A etapa de concepção de solu- mesmo metodológica em ergonomia
ções ergonômicas varia de acordo (GUÉRIN et al.,1981 apud VIDAL,
com a natureza do problema e da 1999).
forma como a demanda foi instruída
e ainda dos resultados da fase Praticidade
anterior.
A implementação ergonômica A ergonomia é uma disciplina
se constitui na fase final de uma para a ação sobre o real, e, como tal,
intervenção. se expressa de forma especialmente
pertinente para os projetos de mu-
Utilidade danças na tecnologia física e de ges-
tão. Os desdobramentos de uma in-
Os trabalhos em ergonomia tervenção ergonômica, no âmbito
têm uma dupla vertente: cientifica e científico e tecnológico podem ser
prática. Os resultados práticos se muitos, mas o que confere a uma
traduzem nas mudanças implanta- ação no ambiente de trabalho, o
das nas organizações onde as inter- caráter de intervenção ergonômica é
venções são realizadas. o resultado materializado num pro-
Do ponto de vista científico os jeto implantado de mudanças para
resultados das intervenções ergonô- melhor.
micas vão interagir nos diversos Assim, uma intervenção cujo
campos e áreas do conhecimento. resultado aparentemente pífio seja a
Numa intervenção em uma agência redefinição de especificações da
de notícias (Pavard et al.,1980 apud compra de mobiliário (Santos e Pal-
Vidal, 1999), a finalidade era realizar mer, 1992 apud Vidal, 1999) é ergo-
um rearranjo das instalações para nômica na medida em que atinge um
torná-la compatível com os procedi- resultado em termos de boas modi-
mentos de editoração eletrônica em ficações da situação de trabalho; in-
redes e da estrutura dinâmica de versamente, uma profunda reflexão
uma grande redação de jornal. O detalhada e interessante sobre as

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

dimensões psíquicas dos maqui-  Avaliação: Relativos aos pro-


nistas ferroviários sem repercussões cessos de análise e controle de
concretas (MOSCOVICI, 2001) não riscos existentes na empresa.
caracteriza uma intervenção ergo-  Aplicação: Relativos à disponi-
bilização dos aspectos mate-
nômica.
riais das medidas a serem to-
madas, de gestão, treinamento
Custos da Prevenção e manutenção do sistema de
segurança e saúde implan-
A razão para se buscar a pre- tado.
venção de acidentes está fundamen-
tada nos custos humanos e econô- Por outro lado, o investimento
micos gerados: nesses custos pode acarretar, de for-
Para o Trabalhador ma significativa, a eliminação e/ou a
Custos Humanos: diminuição dos custos relativos aos
 Dor e sofrimento; possíveis danos gerados.
 Perda da capacidade de tra- Outro fator a ser considerado é
balho; que os efeitos dos danos gerados por
 Marginalização social do aci- acidentes podem ser de diferentes
dentado. magnitudes, variando de leve a
 Custos Econômicos grave, podendo chegar à morte do
 Diminuição de salário; trabalhador.
 Gastos extras com remédios
Estudos realizados por Heinri-
etc.
ch (Saldanha et al., 2003 citado por
Para a Empresa Costa e Costa, 2004), na década de
Custos Humanos: 1930, demonstravam os graus de
variação de danos em acidentes.
 Perda de profissionais;
 Pressões sociais, sindicais etc; Para cada 1 acidente com lesão
 Custos Econômicos; grave são produzidos 29 com lesões
 Pagamento de seguros; leves e 300 incidentes (sem lesões).
 Indenizações; Estes estudos foram publicados no
 Conflitos de trabalho; livro Industrial Accident Preuention
 Perda de competitividade; e têm importância na segurança do
 Outros. trabalho, pois foi, a partir daí, que
nasceu o conceito de acidente sem
É evidente que as ações de dano, ou seja, o incidente.
prevenção também possuem custos, Estes dados podem ser repre-
como: sentados pela pirâmide:

17
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

Bird (Geller, 1998 apud Costa Parece ficar claro que estas
e Costa, 2004), na década de 1950, pesquisas mostram a importância
em 7 anos de pesquisas, modifica a que deve ser dada à análise e ao con-
pirâmide anterior. Para cada aci- trole dos incidentes como medida de
dente grave ou morte se produzem prevenção dos memsos. Os inciden-
100 acidentes com danos e 500 com tes devem ser entendidos como
danos à propriedade, de acordo com “avisos” daquilo que pode ocorrer ou
a figura a seguir: certamente ocorrerá.

A Questão da Biossegurança

A biossegurança, que podemos


considerar um instrumento de pre-
venção, legalmente, no Brasil, tem
seu foco de atenção nas técnicas de
manipulação de organismos geneti-
camente modificados (OGMs)
O mesmo Bird, no final da
(ABIA, 2002; Costa e Costa, 2003a;
década de 1960 (Geller, 1998 apud
Guerrante, 2003; Valle & Telles,
Costa e Costa, 2004), faz uma revi-
2003). Está em fase final de discus-
são dos seus dados, através de estu-
são no Congresso Nacional uma
dos mais aprofundados. Para cada
nova legislação para a biosseguran-
acidente com lesão séria ou morte se
ça, em substituição à Lei 8.974 de 5
produzem 10 acidentes com lesões
de janeiro de 1995.
leves e 30 acidentes com danos à
A palavra biossegurança tam-
propriedade (instalações, equipa-
bém aparece em ambientes onde a
mentos etc.) e 600 incidentes. Esta
moderna biotecnologia não está pre-
nova configuração é representada
sente, como indústrias, hospitais,
pela seguinte figura:
laboratórios de saúde pública, Labo-

18
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

ratórios de análises clínicas, hemo- cessitam de registro nos Conselhos


centros, universidades, etc., no sen- Regionais de Engenharia e Arquite-
tido da prevenção dos riscos gerados tura e Conselhos Regionais de Medi-
pelos agentes químicos, físicos e er- cina, respectivamente) e código de
gonômicos, envolvidos em proces- ética. A biossegurança pode ser
sos onde o risco biológico se faz pre- entendida hoje, como uma ocupação
sente ou não. agregada a qualquer atividade onde
Esta é a vertente da biossegu- o risco à saúde humana esteja pre-
rança, que, na realidade, se confun- sente. Qualquer profissional pode
de com a engenharia de segurança, a desenvolver atividades nessa área,
medicina do trabalho, a saúde do respeitando-se, logicamente, os es-
trabalhador, a higiene industrial, a paços legais envolvidos (COSTA E
engenharia clínica e a infecção hos- COSTA, 2004).
pitalar (COSTA & COSTA, 2003b).
De forma geral, podemos defi-
nir a biossegurança como ações ope-
racionais, técnicas, educacionais,
psicológicas, sociais, éticas, políti-
cas, entre outras, que se destinam à
segurança da vida, e onde estão
presentes as seguintes relações:
 Tecnologia – risco – homem
agente biológico –risco –
homem tecnologia – risco –
sociedade biodiversidade –
risco – economia

Diferentemente dos profissio-


nais que atuam na segurança ocupa-
cional, poderíamos apontar para o
fato de que a biossegurança ainda
não atingiu um status profissional,
como a engenharia de segurança do
trabalho e da medicina do trabalho,
que possuem campos muito bem
delimitados de ação, cursos regula-
res, associações, regulamentação
profissional (esses profissionais ne-

19
2
0
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

2. Programas de Prevenção

Fonte: Revista Cipa2

N o contexto da segurança do
trabalho e saúde ocupacional,
de maneira básica e preliminar, toda
necessidades detectadas, outros
programas específicos.
É importante ressaltar que a
empresa deve adotar programas de elaboração de tais Programas é ape-
prevenção à saúde e segurança do nas uma dessas etapas preliminares.
trabalhador. Isso se traduz pela ela- Depois de elaborados e apresenta-
boração, implantação e acompanha- dos, a empresa deverá implementar
mento dos programas básicos esta- as ações corretivas previstas com o
belecidos pela legislação. objetivo de se dar continuidade a
Veremos adiante os vários gestão da segurança e saúde no
programas, mas Programa de Pre- ambiente de trabalho. Deverão ser
venção de Riscos Ambientais – renovados e atualizados segundo as
PPRA e Programa de Controle Médi- exigências legais, uma vez que várias
co de Saúde Ocupacional – PCMSO consequências poderão advir quan-
estão intimamente ligados e deles do a existência de um risco não esti-
poderão resultar, a depender das

2 Retirado em http://revistacipa.com.br/

21
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

ver devidamente controlado no am- Juízo os seus direitos. Se a


biente de trabalho. empresa perder a Ação terá
Um bom exemplo seria o ruí- que responder pelas custas ju-
do, que devido a intensidade e o diciais, honorários dos advo-
tempo de exposição está acima dos gados, honorários de Perito e
limites de tolerância estabelecidos Assistente Técnico, dentre
pela legislação, sem que exista pro- outros;
teção auditiva eficaz para o traba- g. Possibilidade de afastamento
lhador ou qualquer outra medida de do trabalhador, tendo a em-
proteção coletiva. Veja os desdo- presa que arcar com o salário
bramentos e consequências: dos 15 primeiros dias e depois
a. Prejuízos à saúde do traba- desse período, com o FGTS do
lhador - perdas auditivas, por trabalhador;
exemplo; h. Custos decorrentes da substi-
b. Necessidade de abrir-se a Co- tuição, treinamento e adapta-
municação de Acidente de ção do trabalhador que irá
Trabalho - CAT; substituir aquele que foi afas-
c. Necessidade de se pagar ao tado;
trabalhador, o Adicional de In- i. Custos junto ao INSS decor-
salubridade que, nesse caso rentes do tratamento do em-
corresponde a 20% do Salário pregado afastado;
Mínimo Vigente; j. Custos e prejuízos à imagem
d. Necessidade de se custear, da empresa perante os empre-
junto ao INSS, a Aposentado- gados, os Órgãos da Fiscali-
ria Especial a que ele estará zação e à sociedade como um
sujeito, recolhendo-se mensal- todo.
mente a Alíquota Adicional do
SAT, que nesse caso corres- Programa de Prevenção de
ponde a 6% do salário recebi- Riscos Ambientais PPRA
do pelo trabalhador;
e. Possibilidade de a empresa ter A Norma Regulamentadora 9
majorada em até 100% o valor (NR 9) estabelece a obrigatoriedade
da Alíquota do SAT (a partir de da elaboração e implementação do
janeiro de 2009); Programa de Prevenção de Riscos
f. Possibilidade de o empregado Ambientais - PPRA, por parte de to-
ingressar com Reclamação dos os empregadores e instituições
Trabalhista para pleitear em

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

que admitam trabalhadores como iniciativas de prevenção da saúde e


empregados (independentemente da integridade dos trabalhadores.
do número) regidos pela Consoli- Isto decorre da antecipação,
dação das Leis Trabalhistas (CLT) reconhecimento, avaliação e contro-
(registrados em Carteira de Tra- le dos riscos ambientais existentes
balho). ou que venham a ocorrer no am-
Este programa é parte inte- biente de trabalho.
grante do conjunto mais amplo das Os Agentes de Risco são:

Riscos Físicos Riscos Químicos Riscos Biológicos


Ruídos Poeiras Vírus
Vibrações Fumos Bactérias

Radiações ionizantes Névoas Protozoários

Radiações não Gases Fungos


ionizantes

Frio Vapores Parasitas


Pressões anormais Substâncias, compostos Bacilos
ou produtos químicos
em geral

Quando identificados estes  Estratégia e metodologia de


riscos no ambiente de trabalho de- ação;
vem-se tomar as medidas neces-  Forma do registro, manuten-
sárias para o seu controle. ção e divulgação dos dados;
No Brasil a legislação do traba-  Periodicidade e forma de ava-
liação do desenvolvimento do
lho obriga todas as empresas a ela-
PPRA.
borarem e implementarem o PPRA,
além de manter um documento-base O PPRA deve estar articulado
de registro dessas ações, que in- com o PCMSO – Programa de Com-
cluem: trole Médico de Saúde Ocupacional.
 Levantamento dos riscos; Por exemplo, se há ruído em
 Planejamento anual com esta- uma empresa, é obrigatório que os
belecimento de metas e prio-
funcionários expostos realizem au-
ridades;
diometria no exame médico.
 Cronogramas;

23
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

Programa de Controle Médico período em que trabalharam nesta


de Saúde Ocupacional PCMSO empresa.

Este programa é regulamen- Programa de Condições e Me-


tado pela NR 07 e tem como obje- io Ambiente de Trabalho na In-
tivo, por meio de Exames Ocupacio- dústria da Construção PCMAT
nais, a promoção e preservação da
saúde dos trabalhadores através de O Programa de Condições e
medidas prevencionistas, diagnos- Meio Ambiente de Trabalho na In-
ticando precocemente os agravos à dústria da Construção - PCMAT é
saúde relacionados ou não ao tra- um Programa obrigatório para todos
balho. os estabelecimentos com 20 (vinte)
Os Exames Ocupacionais são: trabalhadores (empregados e tercei-
 Admissional; rizados) ou mais, tendo como obje-
 Periódico; tivo reduzir os acidentes e a incidên-
 Retorno ao trabalho; cia de doenças ocupacionais na ativi-
 Mudança de função; dade da construção civil.
 Demissional. O PCMAT é regulamentado
pela NR18 que estabelece diretrizes
Poderá haver a necessidade de de ordem administrativa, de plane-
solicitação de exames complementa- jamento e de organização, que obje-
res, dependendo dos riscos especí- tivam a implementação de medidas
ficos decorrentes de cada atividade, de controle e sistemas preventivos
como Hemograma completo ou RX de segurança nos processos, nas
de Tórax. condições e no meio ambiente de
A não realização do PCMSO e trabalho na Indústria da Cons-
a não realização dos Exames Ocupa- trução.
cionais (admissional, periódico, Este Programa é elaborado se-
etc.) acarretam multas às empresas. gundo as exigências contidas no
Além das multas outro risco a PPRA – Programa de Prevenção de
que a empresa está sujeita quando Riscos Ambientais e objetiva o reco-
não implementa os Programas de nhecimento, avaliação e controle
Segurança e Medicina do Trabalho é dos riscos encontrados nesta ativi-
de Ações na Justiça no futuro movi- dade laboral, sendo que sua não rea-
das por funcionários que podem ale- lização também acarreta em multa.
gar que os danos à saúde que eles Os documentos que integram
apresentam foram adquiridos no o PCMAT são:

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

 Memorial sobre condições e 3. Identificar empregados com


meio ambiente de trabalho; patologias de ouvidos e audi-
 Projeto de execução das pro- ção não relacionadas ao traba-
teções coletivas; lho, encaminhando-os para
 Especificação técnica das pro- adequado diagnóstico, trata-
teções coletiva;
mento e documentação do
 Cronograma de implantação
das medidas preventivas; caso;
 Layout inicial do canteiro de 4. Redução do custo com recla-
obra; matórias trabalhistas;
 Programa educativo sobre aci- 5. Adequar a empresa às exi-
dentes e doenças do trabalho. gências legais.

Programa de Conservação O controle é realizado por Exa-


Auditiva - PCA mes Audiométricos periódicos em
cabines especiais por profissional
É um conjunto de medidas a
especializado (Fonoadiólogo) e re-
serem desenvolvidas com o objetivo
gulamentado pela NR 9.
de prevenir a instalação ou evolução
de perdas de audição. Perfil Profissiográfico Previ-
O PCA é um processo dinâmi- Denciário - PPP
co, planejado, contínuo e executado
de forma coordenada entre os diver- O PPP é um documento histó-
sos departamentos (Multidiscipli- rico-laboral, apresentado em formu-
nar) de uma empresa. lário instituído pelo Instituto Nacio-
Dentre os seus objetivos nal de Seguridade Social (INSS),
temos: contendo informações detalhadas
1. Melhorar a qualidade de vida sobre as atividades do colaborador,
do trabalhador evitando a sur- exposição à agentes nocivos à saúde
dez e reduzindo os efeitos ex- e outras informações de caráter
tra auditivos causados pela ex- administrativo.
posição à Níveis de Pressão
Sonora elevados;
2. Diagnosticar precocemente os
casos de Perdas Auditivas
Ocupacionais, estabelecendo
medidas eficazes, preservando
a saúde dos trabalhadores;
Fonte: ocupacionalcenter.com.br

25
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

É obrigatório na saída de um e instituições que admitam traba-


funcionário da empresa e passível de lhadores como empregados do Pro-
multa se não preenchido correta- grama de Prevenção de Riscos Am-
mente. bientais e do Programa de Controle
O Perfil Profissiográfico Previ- Médico de Saúde Ocupacional, de
denciário é um documento que acordo com Norma Regulamenta-
depende de informações históricas, dora nº 9 da Portaria nº 3.214/78 do
portanto para o devido preenchi- Ministério do Trabalho (TEM), tam-
mento, além das informações neces- bém devem preencher o PPP.
sárias do RH da empresa, também
há a obrigatoriedade dos exames
periódicos.

Fonte:
http://www.stich.com.br/servicos/pp
p-perfil-profissiografico-
previdenciario

O formulário deve ser preen-


chido pelas empresas que exercem
atividades que exponham seus em-
pregados a agentes nocivos quími-
cos, físicos, biológicos ou associação
de agentes prejudiciais à saúde ou à
integridade física (origem da conce-
ssão de aposentadoria especial após
15, 20 ou 25 anos de contribuição).
Além disso, todos os empregadores

26
27
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

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