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2.1 Introdução
Algumas legislações definem acidente como: "todo evento imprevisto e não desejado
que interrompe o desenvolvimento normal de uma atividade, e que origina uma ou mais
das seguintes consequências:
- lesões corporais;
- danos materiais ou perdas econômicas.
Em outras palavras, não se pode falar de acidente se não ocorreram lesões ou danos
materiais1.
Desse modo, define-se como incidente todo "evento imprevisto e não desejado que
interrompe ou interfere no desenvolvimento normal de uma atividade sem
consequências adicionais". Ocorre pelas mesmas causas que se apresentam nos
acidentes, todavia, apenas por questões de acaso não desencadeiam lesões ou danos2.
Os incidentes se originam por algumas causas determinadas que podem ser previsíveis
caso se analise a gênese e a sequência de como eles ocorrem. Uma vez tenham ocorrido
e sendo suas consequências irremediáveis, é preciso aproveitar a lição para evitar sua
repetição tomando as medidas necessárias.
Por último, há agressões que, atuando só uma vez, provocam lesões perfeitamente
diagnosticáveis de caráter leve, grave ou mortal.
Os acidentes de trabalho não têm uma só causa, sendo uma sequência de uma série
finita de fenômenos, conhecidos como fenômenos causais, e que se podem agrupar em
fontes de acidentes (alheios ao homem que trabalha), e condutas de acidentes (próprias
do homem que trabalha).
Quando essa série de fenômenos coincide num dado momento de tempo (t), em dado
lugar (1) e se apresentando conforme uma ordem (o) definida, aparece o fenômeno do
acidente de trabalho, como esquematicamente apresentado na figura 2.3.
O acidente de trabalho sem baixa é aquele que não se reveste de grande importância,
mas que é preciso evitar. Ocorre por espetadas, cortes, golpes, entre outros.
Com relação a esse ponto, é aconselhável fazer os curativos no serviço médico (se
existir) ou na enfermaria da empresa, registrando-o de algum modo. Assim, evoluindo a
lesão, há constância dos fatos.
Por outro lado, os acidentes de trabalho com baixa levam à ausência do acidentado do
local de trabalho em pelo menos um dia - data do dia em que ocorreu o acidente sob
dispensa médica. Classificam-se como leves, graves ou mortais, dependendo da lesão.
Ainda que a empresa disponha de um bom sistema de prevenção, não se pode garantir
segurança absoluta. Portanto, há a possibilidade de os incidentes e acidentes
aparecerem, e por isso, deve-se investigar e analisar o ocorrido utilizando uma
metodologia1, visando adotar as medidas corretivas de modo a se evitar sua repetição ou
o aparecimento de consequências mais graves.
O propósito de uma investigação não é buscar culpados, mas descobrir as causas reais
que provocaram o acidente visando corrigi-las, já que de outro modo o resultado será os
acidentes e, certamente, muitos dos incidentes, serem ocultados em vez de serem
investigados.
1
Ver capítulo referente à investigação de acidentes.
Muitos estudos têm evidenciado a relação existente entre acidente e incidente, ou seja, a
proporção com que tendem a se manifestar.
Heinrich, em 1950, considerando os dados que possuía com relação à frequência dos
acidentes com potencialidade de dano, estimou, para um grupo de acidentes da mesma
classe e envolvendo a mesma pessoa, a ocorrência, para cada acidente grave ou perda de
tempo por lesão, de um total de 29 lesões leves e 300 acidentes sem lesões.
Para se ter uma ideia da importância dos sinistros laborais há que conhecer
seu número e sua gravidade: por isso, é preciso recorrer às estatísticas.
Um dos mais conhecidos estudos estatísticos foi realizado no final dos anos setenta por
Frank E. Bird e sua equipe, ao analisarem 1.753.498 acidentes notificados por 297
organizações nos EUA, totalizando mais de três milhões de horas/homem trabalhadas
durante o período de exposição analisado.
- para cada lesão grave informada (que deu como resultado morte, incapacidade,
perda de tempo ou tratamento médico), ocorreram 9,8 lesões menores (que só
exigiram primeiros socorros);
- a análise final indicou terem sido informados 30,2 acidentes com dano à
propriedade para cada lesão grave;
- foram notificados 600 eventos sem dano nem perda visível (incidentes).
Há outros estudos (Tye e Pearson, 197 4/1975) também estabelecendo a relação entre
acidentes graves, leves e outros eventos perigosos. Dessa maneira, com base num
estudo de quase um milhão de acidentes na indústria britânica, obteve-se a seguinte
relação:
- ficar ileso;
- danificar roupas ou equipamentos;
- quebrar um membro;
- fraturar o crânio e morrer.
O controle eficaz deve centrar a atenção na causa do acidente e não nos resultados. As
consequências dos acidentes se devem, frequentemente, ao acaso, sobre elas se podendo
ter pouco controle. Assim sendo, há que dar uma especial ênfase ao alcance de um
controle eficaz na investigação tanto de acidentes como de incidentes. Isso implica
aprender com a própria empresa (incluindo todas as dependências) e também com
outras organizações.
Para que se produza uma enfermidade profissional deve haver um contato entre a
pessoa e o agente contaminante causador. Essa é a semelhança absoluta e total entre
acidente e enfermidade profissional: o contato, o nexo causal.
Como se mencionava a respeito dos acidentes, e aqui com maior razão, não se pode
esperar para que os sintomas da enfermidade apareçam para começar a agir, pois
geralmente, os efeitos dessas enfermidades são irreversíveis.
Ainda que os custos dos acidentes comportem dois aspectos muito diferentes entre si, os
humanos2 e os econômicos, pode-se dizer, sob um ponto de vista ético e moral, que o
custo humano, com os consequentes sofrimentos para os próprios acidentados e para
suas famílias, seria razão mais do que suficiente para pôr todos os meios econômicos e
humanos necessários a evitar que ocorram.
Assim, as perdas provocadas pelos acidentes de trabalho podem ser classificadas como:
- perdas por danos humanos, entre as quais, por sua vez, tendo-se que
considerar as relacionadas:
- Perdas de equipamentos:
O cálculo dos acidentes de trabalho no âmbito da empresa é tarefa complexa, ainda que
não impossível, razão pela qual, em muitas ocasiões, não se efetue essa avaliação como
consequência do grande número de fatores e parâmetros a serem considerados, assim
como por sua falta de sistematização. Em outras palavras, não se consideram esses
custos como um aspecto a mais da gestão empresarial.
Para poder simplificar a relação indicada de perdas ou custos dos acidentes, em muitas
ocasiões se classificam como:
- custos fixos; e
- custos variáveis.
São considerados custos fixos aqueles que a empresa sempre terá constantemente, com
o mesmo valor, independentemente de ocorrerem ou não acidentes de trabalho:
pagamentos à seguridade social, seguro, serviços de prevenção, auditorias de prevenção,
etc.
A partir dessa classificação, os custos totais dos acidentes são calculados como a soma
aritmética dos custos fixos e dos custos variáveis.
Na figura 2.8 indica-se a relação entre custo dos acidentes e número de acidentes.
Figura 2.8 Relação entre custo dos acidentes e número de acidentes.
Outro modo de agrupar os custos dos acidentes de acordo com sua forma
administrativamente contábil é classificá-los como:
- custos diretos; e
- custos indiretos.
Assim, nos custos diretos são englobados todos aqueles custos ou gastos que por
questões de asseguramento ou por outras circunstâncias sejam atribuídos total ou
parcialmente à segurança e à saúde no trabalho. Assim, tendo-se:
Como norma de caráter geral, devem ser considerados como custos diretos todos
aqueles gastos refletidos clara, direta ou facilmente atribuíveis sob esse conceito na
contabilidade da empresa.
Custos indiretos são aqueles que não se refletem na contabilidade empresarial como
imputáveis aos acidentes, porém nela incidindo negativamente.
Esses tipos de custos são, na maioria das ocasiões, muito difíceis de calcular, ainda que
tenham uma enorme importância no cálculo do custo total dos acidentes, visto
costumarem ser bastante superiores aos custos diretos, deve-se envidar um grande
esforço, se não para sua avaliação, para sua estimativa3.
- perdas produtivas;
- perdas de tempo;
- perdas de mercado;
- perdas de equipamento;
- perdas de materiais;
- outros custos.
Os custos totais dos acidentes logicamente perfazem a soma dos custos diretos
e indiretos.
1
TAKALA, Jukka. Agencia Europea para la Seguridade ta Satud en el Trabajo. más de una década promoviendo la prevención.
Med. segur. trab. [online]. 2007, vol. 53, não. 209 [citado 2009-01-22], pp 05-08. ISSN 0465-546X. Endereço web•
httR1/scielo.isciii.es/scielo.QhR?scriRt=sci arttext&Rid=S0465-546X2007000400003&1ng=es&nrm=isso [Lido em 1º de abril de
2009, GMT +1].
2
Mesmo que sempre se devendo considerá-los, não detalharemos os custos humanos, mas apenas os econômicos.
3
Há métodos de cálculo para a avaliação dos custos de acidentes. A esse respeito, no Campus Virtual pode-se encontrar um texto
intitulado "Valoración de costes de accidentes de trabajo" que analisa as metodologias de Heinrich e de Simonds.
Até agora abordamos os custos dos acidentes e as partidas contábeis a que devam ser
atribuídos, restando por estudar os custos e benefícios econômicos da prevenção.
Assim como antes, convém ter presente que não só há razões econômicas para se
investir na prevenção, como também há razões éticas e legais para isso. Contudo, aqui
só nos centraremos nos aspectos econômicos:
Dessa maneira, na figura 2.9 indica-se a relação existente entre custos de prevenção e
número de acidentes.
Ao mesmo tempo, pode-se também observar no mesmo gráfico que os custos com
prevenção para reduzir um número muito pequeno de acidentes é, em princípio, muito
alto.
A resposta pode ser encontrada analisando-se o gráfico da figura 2.10, que indica a
relação entre o número de acidentes e os custos com prevenção e sinistralidade.
Portanto, na hora de decidir quanto à rentabilidade das medidas preventivas, não podem
ser vistas a partir de um mero ponto de vista econômico, mas necessariamente se
devendo considerar outros aspectos como os humanos e os legais.
A figura 2.11 ilustra a relação entre os fatores que influem sobre o comportamento no
interior das organizações:
2.6.2 Tarefa
Um ajuste físico envolve a maneira com que devam ser concebidos o local e o ambiente
de trabalho. Um ajuste mental implica considerar as exigências da tarefa quanto a
informação a tratar, decisões a tomar, assim como a percepção das tarefas pelo
indivíduo.
Os fatores pessoais (os atributos que os trabalhadores trazem a seus trabalhos) podem
ser reforçados ou debilitados com relação às demandas de uma tarefa em particular.
Envolvem tanto os atributos físicos (tais como a força e as limitações que se derivam de
incapacidades ou enfermidades) quanto os atributos mentais (tais como hábitos,
atitudes, habilidades e personalidade, que influem no comportamento de modo
complexo).