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Capítulo 2.

Danos derivados do trabalho


OBJETIVO

- Conhecer os danos derivados do trabalho e avaliar a necessidade de criar políticas


eficazes em matéria de segurança e saúde, preocupando-se não somente com a
prevenção contra acidentes de trabalho e enfermidades profissionais, mas também com
a implantação de modelos que se antecipem aos problemas.

2.1 Introdução

O trabalho pode afetar positiva ou negativamente a saúde das pessoas. Quando os


trabalhadores estão expostos a perigos (exposição a contaminantes químicos, quedas,
tarefas repetitivas...) podem ter sua saúde física e mental afetada. Em ausência de
perigos, quando os trabalhadores estão interessados ou envolvidos em seu trabalho, a
satisfação aumenta, podendo redundar numa melhoria em sua saúde e em seu bem-estar.

De acordo com as estatísticas da Organização Internacional do Trabalho, ocorrem a


cada ano 120 milhões de acidentes nos locais de trabalho em todo o mundo. Apesar de o
preço tão elevado pago por pessoas, países e empresas, a difusão pública dos acidentes é
muito limitada.

As organizações com políticas eficazes em segurança e saúde se preocupam não só com


a prevenção contra acidentes de trabalho e enfermidades laborais, mas também com a
promoção da saúde, que é a expressão prática da ideia de que os trabalhadores são
recursos essenciais. Apesar de a empresa dotar os postos de trabalho com uma maior
remuneração e com tarefas mais satisfatórias, os trabalhadores não se convencem de que
a direção esteja preocupada com seu bem-estar e, como consequência de sua atividade,
continuam sofrendo acidentes e enfermidades laborais.

2.2 Acidente e incidente de trabalho

Algumas legislações definem acidente como: "todo evento imprevisto e não desejado
que interrompe o desenvolvimento normal de uma atividade, e que origina uma ou mais
das seguintes consequências:

- lesões corporais;
- danos materiais ou perdas econômicas.

Em outras palavras, não se pode falar de acidente se não ocorreram lesões ou danos
materiais1.

Desse modo, define-se como incidente todo "evento imprevisto e não desejado que
interrompe ou interfere no desenvolvimento normal de uma atividade sem
consequências adicionais". Ocorre pelas mesmas causas que se apresentam nos
acidentes, todavia, apenas por questões de acaso não desencadeiam lesões ou danos2.

Na figura 2.1 ilustra-se a diferença entre acidente e incidente.


Figura 2.1: Diferença entre acidente e incidente

Como se verá, diferentemente das enfermidades profissionais ou do mal-estar causado


pelo trabalho, que resultam de uma agressão continuada que se pode detectar e corrigir
com o tempo, o acidente é repentino e em muitos casos inesperado: investir dinheiro em
algo que pode ou não ocorrer é causa de, em muitas ocasiões, tentar a sorte, por se
considerar que nada ocorrerá. Em outros casos, há o desconhecimento da existência de
um perigo por parte daqueles que a ele estejam expostos.

Os incidentes se originam por algumas causas determinadas que podem ser previsíveis
caso se analise a gênese e a sequência de como eles ocorrem. Uma vez tenham ocorrido
e sendo suas consequências irremediáveis, é preciso aproveitar a lição para evitar sua
repetição tomando as medidas necessárias.

A compilação detalhada dos incidentes é uma valiosa fonte de informação a ser


convenientemente aproveitada ao máximo, para isso sendo importante que uma série de
dados referentes a eles e a seu âmbito fique registrada para posterior análise estatística,
que servirá para saber a incidentalidade e suas circunstâncias, comparando-se seções,
empresas ou setores produtivos. Nesse sentido, a medição do nível de incidentalidade se
realiza utilizando-se alguns índices calculados segundo os mesmos critérios para que se
mostrem comparáveis.

Na figura 2.2 se ilustra o diagrama de fluxo de um incidente.

Figura 2.2 Diagrama de fluxo de um incidente.


Fonte• httQ //wwwacmatorg/camQanY.af08investiga.htm
[Lido 6 de março de 2009, GMT +1].
Para diferenciar os acidentes de trabalho das outras agressões à saúde e ao bem-estar
dos trabalhadores como consequência de seu trabalho, fixaremo-nos na "dureza" do
agressivo e na velocidade da produção do dano. Assim, têm-se agressões que causam
mal-estar, insatisfação ou outros danos inespecíficos e que, ainda se prolongando no
tempo, não geram lesões físicas ou psíquicas claramente demonstráveis. Outras formas
de agressão, quando se repetem ao longo de um determinado período, acabam
provocando enfermidades perfeitamente diagnosticáveis (enfermidades profissionais:
silicose, saturnismo, surdez profissional...).

Por último, há agressões que, atuando só uma vez, provocam lesões perfeitamente
diagnosticáveis de caráter leve, grave ou mortal.

Os acidentes de trabalho são os indicadores imediatos e mais evidentes de certas


inadequadas condições de trabalho e, dada sua gravidade, a luta contra eles é o primeiro
passo em toda atividade preventiva.

Algumas razões fundamentais para a ocorrência de acidentes de trabalho:

- desconhecimento de riscos e de prevenção;


- confiança de que os riscos não causarão precisamente o acidente;
- desconhecimento da verdadeira magnitude das consequências;
- carga cultural negativa com relação ao trabalho, que aceita como normal a
existência de acidentes (falta de cultura preventiva);
- ausência de um sistema de gestão da prevenção que permita um cumprimento
estruturado e sistemático da legislação.

Os acidentes de trabalho não têm uma só causa, sendo uma sequência de uma série
finita de fenômenos, conhecidos como fenômenos causais, e que se podem agrupar em
fontes de acidentes (alheios ao homem que trabalha), e condutas de acidentes (próprias
do homem que trabalha).

Quando essa série de fenômenos coincide num dado momento de tempo (t), em dado
lugar (1) e se apresentando conforme uma ordem (o) definida, aparece o fenômeno do
acidente de trabalho, como esquematicamente apresentado na figura 2.3.

Figura 2.3 Relação de fatores que intervêm para a ocorrência de um acidente de


trabalho.

Um exemplo de acidente seria o seguinte: estando um operário utilizando uma


furadeira elétrica, a broca se quebra e, ao ser projetada, atinge-o.

A ordem e a sequência dos fatos seria a seguinte:


- causa 1: broca em movimento.
- causa 2: quebra da broca.
- causa 3: proximidade do trabalhador.

Esquematicamente, representa-se do seguinte modo, ilustrado na figura 2.4.

Figura 2.4 Representação esquemática do exemplo proposto


1
OSHAS 18001 :2007 considera que os "danos materiais" não están diretamente relacionados com a gestión da saúde e segurança
no trabalho e, por tanto, sólo pode hablarse de lesões ou enfermidade profissional. En lugar de esto, o risco de que dichos "danos"
tengan um efecto sobre a saúde e segurança no trabalho deberia identificarse por medio do proceso de evaluação de risco da
organização e controlarse mediante a aplicação de controles de risco apropriados
2
No estándar OSHAS 18001 :2007, o término "incidente de trabalho" pasó a incluir o concepto de acidente, com lo que se eliminó a
definição de este último término.

2.2.1 Tipos de acidentes

O acidente de trabalho sem baixa é aquele que não se reveste de grande importância,
mas que é preciso evitar. Ocorre por espetadas, cortes, golpes, entre outros.

Com relação a esse ponto, é aconselhável fazer os curativos no serviço médico (se
existir) ou na enfermaria da empresa, registrando-o de algum modo. Assim, evoluindo a
lesão, há constância dos fatos.

Por outro lado, os acidentes de trabalho com baixa levam à ausência do acidentado do
local de trabalho em pelo menos um dia - data do dia em que ocorreu o acidente sob
dispensa médica. Classificam-se como leves, graves ou mortais, dependendo da lesão.

Ainda que a empresa disponha de um bom sistema de prevenção, não se pode garantir
segurança absoluta. Portanto, há a possibilidade de os incidentes e acidentes
aparecerem, e por isso, deve-se investigar e analisar o ocorrido utilizando uma
metodologia1, visando adotar as medidas corretivas de modo a se evitar sua repetição ou
o aparecimento de consequências mais graves.

O propósito de uma investigação não é buscar culpados, mas descobrir as causas reais
que provocaram o acidente visando corrigi-las, já que de outro modo o resultado será os
acidentes e, certamente, muitos dos incidentes, serem ocultados em vez de serem
investigados.
1
Ver capítulo referente à investigação de acidentes.

2.2.2 Estudos estatísticos

Muitos estudos têm evidenciado a relação existente entre acidente e incidente, ou seja, a
proporção com que tendem a se manifestar.
Heinrich, em 1950, considerando os dados que possuía com relação à frequência dos
acidentes com potencialidade de dano, estimou, para um grupo de acidentes da mesma
classe e envolvendo a mesma pessoa, a ocorrência, para cada acidente grave ou perda de
tempo por lesão, de um total de 29 lesões leves e 300 acidentes sem lesões.

Para se ter uma ideia da importância dos sinistros laborais há que conhecer
seu número e sua gravidade: por isso, é preciso recorrer às estatísticas.

Um dos mais conhecidos estudos estatísticos foi realizado no final dos anos setenta por
Frank E. Bird e sua equipe, ao analisarem 1.753.498 acidentes notificados por 297
organizações nos EUA, totalizando mais de três milhões de horas/homem trabalhadas
durante o período de exposição analisado.

Uma parte do estudo englobou 4.000 horas de entrevistas confidenciais com os


trabalhadores sobre incidentes ocorridos.

O estudo revelou as seguintes proporções (figura 2.5):

- para cada lesão grave informada (que deu como resultado morte, incapacidade,
perda de tempo ou tratamento médico), ocorreram 9,8 lesões menores (que só
exigiram primeiros socorros);
- a análise final indicou terem sido informados 30,2 acidentes com dano à
propriedade para cada lesão grave;
- foram notificados 600 eventos sem dano nem perda visível (incidentes).

Figura 2.5: Regra de Bird.

Há outros estudos (Tye e Pearson, 197 4/1975) também estabelecendo a relação entre
acidentes graves, leves e outros eventos perigosos. Dessa maneira, com base num
estudo de quase um milhão de acidentes na indústria britânica, obteve-se a seguinte
relação:

- 1 acidente fatal e com lesão grave;


- 3 acidentes leves, com ausência no trabalho de pelo menos 3 dias;
- 50 lesões que exigiram primeiros socorros;
- 80 acidentes com danos à propriedade;
- 400 incidentes sem danos nem lesões.

Na figura 2.6 ilustra-se a relação.


Figura 2.6 Relação baseada no estudo de Tye e Pearson entre a proporção do tipo de
acidentes.

Com esses estudos, indica-se a ocorrência de muitos mais "incidentes" do que de


acidentes causando danos ou perdas à propriedade; ou seja, evidenciam que antes de
ocorrer um acidente ocorrem numerosos incidentes, que devem ser analisados, e com
isso, apresentando-se conhecimentos valiosos a respeito de deficiências no controle de
riscos e das ações a serem aplicadas visando-se prevenir contra futuros danos ou perdas.

Comete-se um erro ao orientar todo o esforço ao pequeno número de eventos


que provocam danos graves, deixando-se de lado todas as oportunidades de
poder aplicar um controle sobre qualquer evento não-desejado.

Por exemplo, se um trabalhador escorrega numa mancha de óleo, pode:

- ficar ileso;
- danificar roupas ou equipamentos;
- quebrar um membro;
- fraturar o crânio e morrer.

O controle eficaz deve centrar a atenção na causa do acidente e não nos resultados. As
consequências dos acidentes se devem, frequentemente, ao acaso, sobre elas se podendo
ter pouco controle. Assim sendo, há que dar uma especial ênfase ao alcance de um
controle eficaz na investigação tanto de acidentes como de incidentes. Isso implica
aprender com a própria empresa (incluindo todas as dependências) e também com
outras organizações.

2.3 Enfermidade profissional

Da mesma maneira que a definição de acidente é muito conhecida em geral, o conceito


de enfermidade profissional não o é tanto para aqueles que não sejam médicos.

A enfermidade profissional é definida como "a ocasionada pela exposição repetitiva a


determinados agentes ambientais que se apresentam nos pontos de trabalho, como
consequência do desenvolvimento de processos e tarefas no transcurso do trabalho por
conta alheia".

Para que se produza uma enfermidade profissional deve haver um contato entre a
pessoa e o agente contaminante causador. Essa é a semelhança absoluta e total entre
acidente e enfermidade profissional: o contato, o nexo causal.

A diferença entre ambos (acidente e enfermidade) é a duração do contato. Em um


acidente, a duração é curta (instantânea, quase), ao passo que na enfermidade
profissional a duração deve ser prolongada (ora em curtos períodos repetitivos, ora em
exposições prolongadas).
Assim, o organismo humano vê minadas as suas defesas dia após dia, até chegar a ser
ultrapassado o limite de tolerância quando começam a se desenvolver os sintomas da
enfermidade.

Como se mencionava a respeito dos acidentes, e aqui com maior razão, não se pode
esperar para que os sintomas da enfermidade apareçam para começar a agir, pois
geralmente, os efeitos dessas enfermidades são irreversíveis.

Não se deve confundir enfermidade profissional com intoxicação aguda por


superexposição a um agente ambiental: isso é um acidente.

Observa-se, pois, como ante a complexidade e a flexibilidade da noção de acidente de


trabalho, a noção de enfermidade profissional implica um maior grau de fixidez, já que
a relação de causalidade é mais estrita (suprime-se a referência à ocasionalidade); por
outra parte, a relação causal se formaliza no sentido de que só é enfermidade
profissional aquela que se produz como consequência do desenvolvimento da atividade
ou das atividades expressamente delimitadas como provocadoras do tipo ou dos tipos de
enfermidades (figura 2.7).

Figura 2.7 Diferenças entre acidente e enfermidade profissional.

As normas regulamentares estabelecem o procedimento a ser observado para a


inclusão de algumas enfermidades profissionais.

Contudo, a concepção legal de enfermidade profissional não corresponde à realidade


pelo fato de haver enfermidades profissionais que afetam a saúde física do trabalhador e
que não são contempladas como tais1.
1
A modo de exemplo, com relação a esse tema, o Real Decreto 1299/2006, regulado pela ordem TAS 1/2007, contempla uma nova
listagem de enfermidades profissionais que até então não eram declaradas como tais. Sobre esse tema, pode-se consultar o texto
"Otros danos a la salud", disponível no campus virtual.

2.3.1 Fatores que determinam uma enfermidade profissional


Frequentemente, a origem dessas enfermidades é de difícil comprovação em virtude de
seus efeitos se darem ao fim de anos. Por isso, antes de catalogar uma possível
patologia, há que realizar um estudo que leve em consideração os seguintes fatores:

- A concentração do agente contaminante no ambiente de trabalho. há


"valores máximos tolerados" estabelecidos para muitos dos riscos físicos e
químicos que costumam estar presentes no ambiente de trabalho, abaixo dos
quais é previsível que em condições normais não provoquem dano ao
trabalhador exposto.

- O tempo de exposição. Esses limites de exposição geralmente se referem a


determinados tempos de exposição, relacionados a uma jornada de trabalho
normal e com um período médio de vida profissional ativa.

- As características pessoais de cada indivíduo. A concentração e o tempo de


exposição se estabelecem para uma "população normal", razão pela qual se
tenham que considerar, em cada caso, as condições de vida e as constantes
pessoais de cada indivíduo.

- A relatividade da saúde. O trabalho é um fenômeno em constante evolução.


Os métodos de trabalho e os produtos utilizados são, a cada dia, mais diversos e
cambiantes, assim como os conceitos de saúde e enfermidade, daí limitarem-se
ao estabelecido oficialmente; ainda que sejam muito recentes, não são garantia
de enfoque do problema das enfermidades profissionais em sua dimensão real.

- A presença de vários agentes contaminantes ao mesmo tempo. Não é difícil


supor que as agressões causadas por um elemento adverso diminuam a
capacidade de defesa de um indivíduo, razão pela qual os valores-limite
aceitáveis devam ser postos em questão quando existindo várias condições
agressivas em um posto de trabalho.

2.4 Custos dos acidentes de trabalho e das enfermidades profissionais

O balanço humano e econômico dos acidentes de trabalho e das enfermidades


profissionais é considerável. Por exemplo, dos mais de 200 milhões de pessoas que
constituem a população ativa dos 27 Estados-membros, estima-se que a cada ano
morram 150.000 pessoas em consequência de acidentes (8.900) e de enfermidades
relacionadas ao trabalho (142.000).1
Na Europa são perdidas a cada ano cerca de 550 milhões de jornadas de
trabalho por problemas de saúde e acidentes.1
1
Fonte: Takala (2007)

Ainda que os custos dos acidentes comportem dois aspectos muito diferentes entre si, os
humanos2 e os econômicos, pode-se dizer, sob um ponto de vista ético e moral, que o
custo humano, com os consequentes sofrimentos para os próprios acidentados e para
suas famílias, seria razão mais do que suficiente para pôr todos os meios econômicos e
humanos necessários a evitar que ocorram.

É muito importante conhecer os custos reais dos acidentes. Tradicionalmente só eram


identificados os custos dos acidentes com os custos de tratamento médico e de
compensação ao trabalhador, normalmente cobertos com as cotas pagas à previdência
social, esquecendo-se as perdas ocasionadas por deteriorações ou paradas no processo
produtivo, por falta de qualidade, por danos nas instalações ou por perdas de recursos
humanos.

A fim de poder pôr à disposição das empresas e profissionais com responsabilidades


nessa matéria ferramentas que permitam conhecer os custos-benefícios da prevenção,
serão expostos alguns critérios que podem ajudar a realizar tais atividades. Para isso,
considerando-se as diferentes perdas ligadas aos acidentes de trabalho, ainda que
convenha fazer a matização de que nem sempre necessariamente essas perdas devam
ocorrer em todos e em cada um deles.

Assim, as perdas provocadas pelos acidentes de trabalho podem ser classificadas como:

- perdas por danos humanos, entre as quais, por sua vez, tendo-se que
considerar as relacionadas:

- a gastos ocasionados por pagamento de indenizações aos trabalhadores


lesionados;
- a gastos ocasionados pelo pagamento de indenizações a terceiros como
consequência dos danos a eles ocasionados;
- a gastos ocasionados pelos diferentes custos sociais e legais como:

- pagamento de cotas à seguridade social;


- pagamento de cotas a outras entidades seguradoras ou de
previsão social contratadas pela empresa;
- complementos salariais ou realizados de maneira voluntária;
- pagamento de impostos ou perdas de benefícios por parte do
trabalhador acidentado;
- pagamento do valor da parte proporcional de pagamentos
extraordinários e férias;
- outras contribuições ou valores a mais não indicados
anteriormente e que foram estabelecidos pela empresa;
- sobrecarga de contribuições por falta de medidas ou condições
de segurança e saúde;
- pagamento de multas por infrações cometidas em matéria de
prevenção de riscos laborais;
- pagamento do valor das ações de solidariedade, sendo o caso,
(paralisações, greves, etc.);
- pagamento de ações específicas de advogados, assessores,
gestores, etc.

- Perdas de equipamentos:

- custos dos danos ocasionados a máquinas, equipamentos, ferramentas a


exigirem reparos ou reposições;
- custos dos danos e avarias ocasionados em instalações elétricas,
sanitárias, hidráulicas, de ar-condicionado, etc.

- Gastos com perdas materiais, principalmente:


- custos de conserto ou de reposição de matérias-primas, produtos
elaborados ou semielaborados, como consequência de danos;
- perdas energéticas originadas;
- perdas de diferentes fluidos ou de outros produtos empregados;
- perdas como consequência dos danos em edifícios ou locais.

- Perdas produtivas, originadas pelo baixo rendimento imediatamente após


terem ocorrido os acidentes, podendo ser classificadas como:

a) perdas relacionadas ao aspecto técnico: por exemplo, como


consequência das avarias nos meios técnicos de produção;

b) perdas relacionadas ao aspecto humano:

- com substituição do acidentado; e


- em razão da baixa condição moral, física e psíquica dos
acidentados, após sua incorporação ao trabalho, ou dos próprios
companheiros.

- Perdas relacionadas ao tempo de horário de trabalho.

a) por parte do acidentado ou dos acidentados.


- como o pagamento ao acidentado da jornada completa do dia em que
ocorreu o acidente;

b) por parte dos companheiros do acidentado, entre outras muitas causas:

- tempo empregado na ajuda ao acidentado ou aos acidentados;


- tempo decorrido em atenção ao ocorrido e à prestação de
informação sobre o acidente;
- tempo empregado na prestação de assistência.

c) Por parte dos comandos ou dos diretores.

- tempo empregado na ajuda e no socorro aos afetados;


- tempo empregado para o restabelecimento da normalidade ou da
ordem;
- tempo empregado com seleção e treinamento de substituto ou
substitutos;
- tempo empregado na investigação das causas do acidente;
- tempo empregado na elaboração dos relatórios relacionados a
diferentes aspectos dos acidentes;
- tempo empregado para cumprir as exigências oficiais ou
judiciais;
- Tempo empregado no atendimento do acidentado e de seus
familiares.

- Perdas de mercado, que, ainda sendo difíceis de avaliar no curto prazo, ou no


médio e longo prazos, podem ter importantes repercussões. Assim, os acidentes
podem repercutir, mesmo que às vezes só esporadicamente, na qualidade dos
produtos e serviços, assim como no atraso do fornecimento aos clientes, o que
por sua vez pode implicar:

- rejeição e devoluções de produtos;


- indenizações ou penalizações por descumprimento de compromissos;
- perdas de clientes.

- Perdas por gastos com saúde, entre os quais cabendo assinalar:

- gastos com material empregado em cu rativos e pagamentos pela


empresa;
- gastos com o transporte dos lesionados ou do pessoal de saúde;
- gastos com pessoal médico que atende os afetados.

O cálculo dos acidentes de trabalho no âmbito da empresa é tarefa complexa, ainda que
não impossível, razão pela qual, em muitas ocasiões, não se efetue essa avaliação como
consequência do grande número de fatores e parâmetros a serem considerados, assim
como por sua falta de sistematização. Em outras palavras, não se consideram esses
custos como um aspecto a mais da gestão empresarial.

Para poder simplificar a relação indicada de perdas ou custos dos acidentes, em muitas
ocasiões se classificam como:

- custos fixos; e
- custos variáveis.

São considerados custos fixos aqueles que a empresa sempre terá constantemente, com
o mesmo valor, independentemente de ocorrerem ou não acidentes de trabalho:
pagamentos à seguridade social, seguro, serviços de prevenção, auditorias de prevenção,
etc.

Os custos variáveis são aqueles específicos e particulares decorrentes da ocorrência de


acidentes e que normalmente se elevam sendo maior o número e a importância dos
acidentes: pagamento de multas, investigação de acidentes, assistência médica, perdas
de produção, etc.

A partir dessa classificação, os custos totais dos acidentes são calculados como a soma
aritmética dos custos fixos e dos custos variáveis.

Na figura 2.8 indica-se a relação entre custo dos acidentes e número de acidentes.
Figura 2.8 Relação entre custo dos acidentes e número de acidentes.

No gráfico se pode verificar facilmente que os custos variáveis e, portanto, também os


custos totais dos acidentes, aumentam exponencialmente com o aumento do número de
acidentes.

Outro modo de agrupar os custos dos acidentes de acordo com sua forma
administrativamente contábil é classificá-los como:

- custos diretos; e
- custos indiretos.

Assim, nos custos diretos são englobados todos aqueles custos ou gastos que por
questões de asseguramento ou por outras circunstâncias sejam atribuídos total ou
parcialmente à segurança e à saúde no trabalho. Assim, tendo-se:

- cobertura de apólices de seguro contra acidentes de trabalho e enfermidades


profissionais;
- indenizações por conceito de acidentes de trabalho ou enfermidade
profissional;
- gastos de índole médica: corpo médico, material, hospitalizações, transporte;
- valor de multas ou sobretaxas por falta de medidas de segurança e saúde;
- cobertura de serviços de advogados, assessoria jurídica ou similares.

Além desses, também podem ser considerados como custos diretos:

- perdas materiais durante a aprendizagem daqueles que substituem os


acidentados;
- perdas no valor proporcional dos gastos gerais da empresa (luz, aluguel,
amortizações, impostos, etc.);
- dificuldade de contratação e substituição dos acidentados;
- más relações entre comandos e trabalhadores (com sua incidência produtiva e
comercial);
- danos à imagem da empresa.

Como norma de caráter geral, devem ser considerados como custos diretos todos
aqueles gastos refletidos clara, direta ou facilmente atribuíveis sob esse conceito na
contabilidade da empresa.
Custos indiretos são aqueles que não se refletem na contabilidade empresarial como
imputáveis aos acidentes, porém nela incidindo negativamente.

Esses tipos de custos são, na maioria das ocasiões, muito difíceis de calcular, ainda que
tenham uma enorme importância no cálculo do custo total dos acidentes, visto
costumarem ser bastante superiores aos custos diretos, deve-se envidar um grande
esforço, se não para sua avaliação, para sua estimativa3.

Entre esses custos, podemos indicar:

- perdas produtivas;
- perdas de tempo;
- perdas de mercado;
- perdas de equipamento;
- perdas de materiais;
- outros custos.

Os custos totais dos acidentes logicamente perfazem a soma dos custos diretos
e indiretos.
1
TAKALA, Jukka. Agencia Europea para la Seguridade ta Satud en el Trabajo. más de una década promoviendo la prevención.
Med. segur. trab. [online]. 2007, vol. 53, não. 209 [citado 2009-01-22], pp 05-08. ISSN 0465-546X. Endereço web•
httR1/scielo.isciii.es/scielo.QhR?scriRt=sci arttext&Rid=S0465-546X2007000400003&1ng=es&nrm=isso [Lido em 1º de abril de
2009, GMT +1].
2
Mesmo que sempre se devendo considerá-los, não detalharemos os custos humanos, mas apenas os econômicos.
3
Há métodos de cálculo para a avaliação dos custos de acidentes. A esse respeito, no Campus Virtual pode-se encontrar um texto
intitulado "Valoración de costes de accidentes de trabajo" que analisa as metodologias de Heinrich e de Simonds.

2.5 Custos da prevenção

Até agora abordamos os custos dos acidentes e as partidas contábeis a que devam ser
atribuídos, restando por estudar os custos e benefícios econômicos da prevenção.

Assim como antes, convém ter presente que não só há razões econômicas para se
investir na prevenção, como também há razões éticas e legais para isso. Contudo, aqui
só nos centraremos nos aspectos econômicos:

Dessa maneira, na figura 2.9 indica-se a relação existente entre custos de prevenção e
número de acidentes.

Figura 2.9 Relação custos prevenção-número de acidentes.


Pode-se verificar muito claramente que, à medida que o número de acidentes de
trabalho se eleva, menores serão os custos com prevenção visando-se eliminá-los ou
reduzi-los.

Ao mesmo tempo, pode-se também observar no mesmo gráfico que os custos com
prevenção para reduzir um número muito pequeno de acidentes é, em princípio, muito
alto.

A questão que se estabelece é saber a partir de quando os investimentos em segurança,


ou melhor dito, os custos de prevenção, são rentáveis para a empresa.

A resposta pode ser encontrada analisando-se o gráfico da figura 2.10, que indica a
relação entre o número de acidentes e os custos com prevenção e sinistralidade.

Figura 2.1 O Relação entre o número de acidentes e custos com prevenção e


sinistralidade.

O ponto ideal de rentabilidade sob a perspectiva econômica se estabelece no ponto de


corte entre as curvas de custos dos acidentes e dos custos com prevenção, de tal maneira
que à direita do ponto ideal qualquer investimento que se faça com prevenção é rentável
sob a ótica econômica, visto que os custos das medidas preventivas são menores que os
custos ocasionados pelos acidentes ocorridos.

Da mesma maneira, e sob a perspectiva econômica, à esquerda do ponto ideal qualquer


investimento que se faça em prevenção não é rentável, pois os custos das medidas
preventivas são muito superiores aos custos dos acidentes.

Portanto, na hora de decidir quanto à rentabilidade das medidas preventivas, não podem
ser vistas a partir de um mero ponto de vista econômico, mas necessariamente se
devendo considerar outros aspectos como os humanos e os legais.

2.6 Falhas no controle de acidentes, enfermidades e incidentes

Em sua maioria, os acidentes e incidentes não são causados por "trabalhadores


descuidados”, mas por falhas no controle (seja por parte da organização ou do trabalho
em particular), responsabilidade da direção.
Acidentes, enfermidades profissionais e incidentes raras vezes são eventos aleatórios e
imprevisíveis. Geralmente, decorrem de falhas no controle e amiúde tendo várias
causas. Apesar de a causa imediata de um evento ser uma falha técnica ou humana, tais
eventos normalmente procedem de falhas organizacionais que são também de
responsabilidade da direção.

As políticas com êxito em segurança e saúde enfatizam o alcance de um controle


efetivo, tanto sobre os trabalhadores quanto sobre a tecnologia. Seu objetivo é
aproveitar as capacidades dos trabalhadores, ao mesmo tempo se minimizando as
influências da confiabilidade e das limitações humanas, mediante o modo com que
organização a se estrutura, com que são concebidas as tarefas e com que se estabelecem
os sistemas de trabalho.

A figura 2.11 ilustra a relação entre os fatores que influem sobre o comportamento no
interior das organizações:

Figura 2.11. Relação de fatores que influem no comportamento dos indivíduos.

2.6.1 Fatores organizacionais

Os fatores organizacionais são os que mais influência exercem no comportamento dos


indivíduos e de grupos, todavia, é comum ficarem esquecidos quando da investigação
de acidentes e incidentes. As organizações devem criar uma própria cultura de
segurança e estabelecer um clima que promova a implicação do trabalhador e o
comprometimento em todos os níveis, enfatizando ser inaceitável qualquer desvio com
relação às normas de segurança estabelecidas.

2.6.2 Tarefa

Os fatores associados à tarefa influem diretamente na atuação individual e no controle


dos riscos. As tarefas devem ser projetadas de acordo com princípios ergonômicos a
considerarem as limitações humanas.

Os desajustes entre as exigências da tarefa e as capacidades do indivíduo aumentam o


potencial de erro humano. Adaptando a tarefa ao indivíduo, garante-se que os
trabalhadores não ficarão sobrecarregados, o que contribui para uma atividade
adequada.

Um ajuste físico envolve a maneira com que devam ser concebidos o local e o ambiente
de trabalho. Um ajuste mental implica considerar as exigências da tarefa quanto a
informação a tratar, decisões a tomar, assim como a percepção das tarefas pelo
indivíduo.

Os desajustes entre as exigências do trabalho e as capacidades dos indivíduos


elevam o potencial de erro humano.

2.6.3 Fatores pessoais

Os fatores pessoais (os atributos que os trabalhadores trazem a seus trabalhos) podem
ser reforçados ou debilitados com relação às demandas de uma tarefa em particular.
Envolvem tanto os atributos físicos (tais como a força e as limitações que se derivam de
incapacidades ou enfermidades) quanto os atributos mentais (tais como hábitos,
atitudes, habilidades e personalidade, que influem no comportamento de modo
complexo).

Os efeitos negativos no desenvolvimento de uma tarefa nem sempre podem ser


corrigidos com soluções de projeção de trabalho. Algumas características, como as
habilidades e as atitudes tratam-se mediante a modificação ou melhoria por meio de
formação ou experiência; outras, como a personalidade, são relativamente permanentes
e dificilmente modificáveis no contexto laboral.

Os trabalhadores devem ser destinados a seus postos de trabalho utilizando-se


técnicas de seleção adequadas.

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