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Direito Penal

Material Teórico
Antijuridicidade

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Antijuridicidade

• Introdução;
• Iter Criminis;
• Fato Antijurídico;
• Conclusão.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer os conceitos de consumação e tentativa, que estão relacio-
nados ao chamado iter criminis.
· Tratar do segundo elemento do conceito analítico de crime, a “anti-
juridicidade” – também chamada de “ilicitude”. Aquele que pratica
um fato típico, em regra, também realiza uma conduta ilícita; contu-
do, há situações em que isso não ocorre, pois a Lei exclui a carac-
terização do crime. Essas situações são chamadas de causas de ex-
clusão da antijuridicidade. São situações, muitas vezes extremas,
que fazem com que alguém realize medidas que, aparentemente se
caracterizariam como crimes, mas, a Lei afasta a possibilidade desse
enquadramento, em razão de não ser exigível que o agente atue de
outra maneira.
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No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

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são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Antijuridicidade

Introdução
Vimos que o primeiro elemento do conceito analítico de crime é o fato típico,
sendo que um de seus componentes é o resultado.

Ocorre que, em muitos casos, o agente, com sua conduta, tenta chegar a esse
resultado; contudo, não chega a atingi-lo completamente, podendo caracterizar a
prática de uma tentativa.

Vamos iniciar o nosso estudo nesta aula com o chamado iter criminis, que
detalha a forma como os crimes são realizados, desde a cogitação até a sua consu-
mação, passando pela tentativa nas suas mais variadas formas.

Em seguida, vamos conhecer o segundo elemento do conceito analítico de cri-


me, a antijuridicidade.

Iter Criminis
O iter criminis é o caminho do crime, ou seja, as fases que normalmente ocor-
rem para que ele se realize plenamente, sendo composto de 4 etapas distintas:

COGITAÇÃO ATOS ATOS DE CONSUMAÇÃO


PREPARATÓRIOS EXECUÇÃO

Figura 1

Vamos conhecer cada uma delas.

Cogitação
A cogitação é uma fase interna do
iter criminis, pois ela se desenvolve na
mente do autor da infração penal. Nela,
ele elabora mentalmente seu desejo de
realizar o crime e os preparativos que
precisa realizar para que isso ocorra.

Aquele que cogita praticar um crime,


obviamente, não está realizando qualquer
conduta penalmente relevante e, mesmo
que fosse diferente, não seria possível
realizar qualquer tipo de apuração, pois
Figura 2
tudo está “dentro da cabeça” do cogitador. Fonte: pixabay.com

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Atos Preparatórios
Após elaborar mentalmente o que irá fazer, o agente passa a realizar os atos
preparatórios. Como o próprio nome já indica, passa a realizar atos materiais ob-
jetivando realizar, no futuro, o crime.
· É o caso de alguém que compra um veneno, pois pretende matar alguém com ele;
· Daquele que providencia um maçarico para arrombar um caixa eletrônico.

Em geral, se o agente for surpreendido realizando esses atos, nada de ilícito es-
tará praticando; contudo, em certas situações, o legislador, em razão da gravidade
dessa conduta, já a transforma num crime autônomo.

É o caso, por exemplo, de uma pessoa que, desejando matar alguém, adqui-
re sem qualquer tipo de autorização legal uma arma para praticar esse crime.
O fato de essa pessoa estar na posse de uma arma sem autorização, por si só, já se
caracteriza crime; ainda que um crime distinto daquele que desejava praticar.

Atos de Execução
Nos atos de execução, o agente começa a realizar a conduta descrita no tipo
penal, ou seja, começa a matar, começa a subtrair a coisa etc.

Se ocorrer a interrupção de sua conduta nesse momento, por circunstâncias


alheias à sua vontade, estará caracterizada a tentativa.

José deseja matar Antônio e para tanto adquire um revólver. José se aproxima da vítima,
efetua um disparo que acerta o braço dele e, quando ia realizar outros disparos, ele ouve a
chegada da polícia, razão pela qual sai correndo do local, sem dar mais tiros em Antônio.

O conceito de tentativa é apresentado no inciso II do Artigo 14 do Código Penal.


Código Penal

Art. 14 - Diz-se o crime:

(...)

Tentativa

II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstân-


cias alheias à vontade do agente.

Como pode ser observado na descrição apresentada na Lei:


· A execução é iniciada;
· O crime não chega a se consumar;
· Isso ocorre por circunstâncias alheias à vontade do agente.

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UNIDADE Antijuridicidade

Essas circunstâncias alheias à vontade do agente demonstram que a intenção


do agente era chegar à consumação do crime, mas algo aconteceu e impediu de
que isso ocorresse.

É o que acontece nas seguintes situações:


·· Alguém retira a arma das mãos do agente antes que ele continue a realizar
os disparos contra a vítima;
·· Ele se assusta com a aproximação de alguma pessoa e foge do local;
·· Ele efetua diversos disparos contra a vítima, mas não acerta seu corpo ou
somente atinge áreas não vitais.

Punição da Tentativa
A punição da tentativa é prevista no parágrafo único do Artigo 14 do Código Penal.
Código Penal

Art. 14 (...)

Pena de tentativa

Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa


com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a
dois terços.

Observe que há duas possibilidades:


·· A regra geral é que a pena da tentativa corresponde àquela cabível para o
crime consumado, com uma redução entre um terço e dois terços;
·· Há, contudo, crimes em que a pena do crime consumado e do tentado é
exatamente a mesma – esses crimes são chamados de crimes de atentado.
Código Eleitoral – Lei n.º 4.737/65

Art. 309. Votar ou tentar votar mais de uma vez, ou em lugar de outrem:

Pena - reclusão até três anos.

Observe que nesse crime votar ou tentar votar caracterizam o crime da mesma
forma, razão pela qual não é reduzida a pena no caso de tentativa.

Consumação
A última etapa do iter criminis é a consumação, isto é, quando o agente, após
realizar os atos de execução, consegue atingir seu objetivo.
Código Penal

Art. 14 - Diz-se o crime:

Crime consumado

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I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua
definição legal; 

É o que ocorre, por exemplo, com a morte da vítima no crime de homicídio ou


com a subtração da coisa alheia móvel no crime de furto.

Tentativa Abandonada
Outras duas situações que precisamos conhecer formam a chamada tentativa
abandonada, sendo elas:
· A desistência voluntária;
· O arrependimento eficaz.

Essas duas formas estão previstas no Artigo 15 do Código Penal.


Código Penal

Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução


ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.

Na desistência voluntária, o agente inicia os atos executórios e voluntariamen-


te desiste de prosseguir, interrompendo-os. Por exemplo: agente, desejando matar
a vítima, inicia a execução de disparos de arma de fogo; o primeiro tiro acerta o
braço da vítima; ocorre, contudo, que após esse disparo, o agente (verificando o
que fez) interrompe a sua conduta, não mais efetua disparos (poderia continuar,
mas não mais deseja prosseguir e matar a vítima) e sai do local.

No arrependimento eficaz, o agente realiza todos os atos de execução; porém,


arrepende-se do que fez e realiza alguma conduta que impede que o resultado ocorra.
Por exemplo: após efetuar vários disparos contra a vítima (descarregando sua arma),
o agente se arrepende, leva a vítima para um hospital e esta acaba sobrevivendo.

Se não houve eficácia plena, o agente responderá normalmente pelo crime.


Por exemplo, se mesmo após o socorro, a vítima morrer, ele responderá pelo homicídio.

Nesses dois casos, o agente não responde pelo crime que pretendia cometer
(nem pela tentativa dele), mas somente pelo resultado que produziu. Nos exemplos,
o agente responderá pelas lesões corporais e não por tentativa de homicídio.

Arrependimento Posterior
Após consumar a infração penal, nos crimes sem violência ou grave ameaça à
pessoa (somente nesses crimes; nos demais, não é aplicado esse dispositivo), o agente
voluntariamente repara o dano ou restitui a coisa, antes do recebimento da denúncia.1

No caso, ele terá sua pena reduzida de 1/3 a 2/3.

1. A Denúncia é um ato do processo, no qual o Ministério Público apresenta a acusação contra o autor de um crime.
É o primeiro ato do Processo Judicial.

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UNIDADE Antijuridicidade

Código Penal

Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,


reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou
da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a
dois terços.

Por exemplo: no furto, se o agente devolver o bem subtraído antes do recebimento


da denúncia.

Crime Impossível
Outro assunto relacionado com os anteriores é o crime impossível, assim previsto
no Artigo 17 do Código Penal.
Código Penal

Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do


meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-
se o crime.

Observe que, nesse caso, o agente não responderá penalmente por sua conduta,
não chegando a caracterizar sequer a tentativa do crime que pretendia realizar.

O crime impossível pode ocorrer de duas formas distintas:


·· Por ineficácia absoluta do meio: o meio é absolutamente ineficaz para
produzir o resultado, tal como no caso de alguém que quer matar um de-
safeto envenenado, contudo, coloca em sua bebida um adoçante. Observe
que o meio deve ser totalmente ineficaz. No mesmo exemplo, se ao inserir
o veneno na bebida da vítima, o agente errar na dosagem e colocar uma
quantidade que faz com que ela chegue próxima à morte, estará caracte-
rizada a tentativa;
·· Por absoluta impropriedade do objeto: o objeto sobre o qual recai a
conduta do agente não é adequado ao crime que se quer praticar. É o que
ocorre, por exemplo, com uma mulher que, pensando estar grávida, toma
uma medicação para praticar um aborto, mas, na verdade, ela não está
nessa situação.

Uma terceira situação caracterizadora do crime impossível foi criada pela ju-
risprudência do Supremo Tribunal Federal, que se consolidou com a edição da
Súmula2 n.º 145.
Supremo Tribunal Federal

Súmula n.º 145: Não há crime quando a preparação do flagrante pela


polícia torna impossível a sua consumação.

2 Súmulas são enunciados produzidos por Tribunais em que é destacado um determinado entendimento de seus
membros sobre determinado assunto. Uma Súmula somente é confeccionada quando há diversos processos julgados
de acordo com esse entendimento.

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Nesse caso, a polícia (ou outra pessoa) induz alguém a praticar um crime, com
a intenção de realizar a sua prisão, logo em seguida. Segundo esse entendimento,
na verdade, há uma prisão em flagrante preparada, ou seja, é impossível que a
pessoa realize o crime, pois tudo foi montado para que ela, após ter sido induzida
a praticar um crime, seja presa.

Fato Antijurídico
A análise da antijuridicidade (ou ilicitude) da conduta do agente somente ocorre
quando já superada a constatação de que o fato típico está caracterizado.

A caracterização do fato típico faz nascer uma presunção:

Importante! Importante!

Todo fato típico é antijurídico, é contrário ao Direito. Isso somente não ocorrerá se estiver
presente uma causa de exclusão da antijuridicidade.

Essas causas de exclusão da antijuridicidade (também chamadas exclusão da


ilicitude, causas justificantes ou descriminantes) são as seguintes:
Código Penal

Exclusão de ilicitude

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:

I - em estado de necessidade;

II - em legítima defesa;

III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular


de direito.

Vamos conhecer cada uma delas

Estado de Necessidade
O estado de necessidade se caracteriza como sendo uma situação extrema em
que dois ou mais bens jurídicos legítimos estão correndo sério risco, em razão de
uma situação que não foi provocada por qualquer dos envolvidos, contudo, um ou
alguns deles irá perecer para salvar os demais.

Vamos verificar como é a sua previsão na Lei.


Código Penal

Estado de necessidade

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UNIDADE Antijuridicidade

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para


salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de
outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circuns-
tâncias, não era razoável exigir-se.

§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de


enfrentar o perigo.

§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a


pena poderá ser reduzida de um a dois terços.

Um exemplo clássico que mostra como funciona o estado de necessidade é o


exposto a seguir.

Duas pessoas estão num pequeno barco atravessando


um trecho de mar distante da Costa, sendo que uma
onda atinge a embarcação, provocando danos que
provocam o seu afundamento.
Nenhuma dessas duas pessoas têm condições de nadar
até a praia e há somente um colete salva-vidas, que não
tem condições de manter duas pessoas fl utuando.
Em uma situação extrema como esta, estará em estado
de necessidade a pessoa que, para ficar com o colete Figura 3
salva-vidas e não morrer afogada, matar a outra com Fonte: pixabay.com
uma pauladana cabeça.

Tendo como foco esse exemplo, vamos analisar algumas importantes questões
que envolvem essa causa de exclusão da ilicitude:
·· Em primeiro lugar, a conduta daquele que mata o outro para ficar com
o colete salva-vidas deve ser, indiscutivelmente, classificada como um
fato típico:

CONDUTA GOLPE NA CABEÇA DA OUTRA PESSOA

RESULTADO MORTE DA VÍTIMA

FATO TÍPICO

NEXO CAUSAL A MORTE DECORREU DO GOLPE DADO PELO AGENTE

TIPICIDADE ESSA CONDUTA ESTÁ PREVISTA NA LEI COMO CRIME - HOMICÍDIO

Figura 4

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· Obviamente, não é qualquer situação de perigo que admite a utilização do
estado de necessidade. Para que ele seja aplicado, o perigo deve ser grave
o suficiente para exigir que um dos bens jurídicos seja sacrificado;
· O perigo deve ser atual, ou seja, a situação de perigo deve ser contempo-
rânea à conduta do agente que está em estado de necessidade;
· O perigo não pode ter sido causado voluntariamente pelo agente. Quem
voluntariamente dá causa a uma situação de perigo não pode invocar o
estado de necessidade. Porém, se a situação de perigo foi provocada por
culpa, não há esse obstáculo. No exemplo acima, imagine que a situação
de perigo foi causada por um incêndio que ocorreu no barco, provocado
enquanto uma dessas pessoas preparava uma refeição na cozinha;
· O perigo deve ameaçar direito próprio ou alheio. Dessa forma, pode ocorrer:
» O estado de necessidade próprio: quando quem o invoca está defendendo
direito próprio;
» O estado de necessidade de terceiro: quando a conduta do agente se
destina a proteger outra pessoa.
· Quem possui o dever legal de enfrentar o perigo não pode invocar o
estado de necessidade, pois deve afastar a situação de perigo sem lesar
qualquer outro bem jurídico. É o caso de um salva-vidas da piscina de um
clube, que não pode alegar estado de necessidade para deixar de socorrer
uma pessoa que está se afogando. Ele foi contratado, justamente, para
enfrentar essa situação de perigo. Deve ser observado, contudo, que a
aplicação dessa regra deve ser feita de forma razoável, visto que a Lei não
pode exigir do agente sacrifícios exagerados;
· Inevitabilidade do comportamento lesivo, ou seja, somente deverá ser sa-
crificado um bem se não houver outra maneira de afastar a situação de
perigo. No exemplo, se for possível que as duas pessoas sobrevivam utili-
zando partes da embarcação para flutuar, não será possível alegar o estado
de necessidade;
· É necessário existir proporcionalidade entre a gravidade do perigo que
ameaça o bem jurídico do agente ou alheio e a gravidade da lesão causada.
Trata-se da razoabilidade do sacrifício, isto é, se o sacrifício for razoável,
haverá estado de necessidade, excluindo-se a ilicitude. Dessa forma, no
exemplo acima, não pode alegar estado de necessidade aquele que mata
outra pessoa para colocar o colete salva-vidas em seu cachorro de estima-
ção, que também estava na embarcação que está afundando;
· Se houver desproporcionalidade, o fato será ilícito, afastando-se o estado
de necessidade, e o réu terá direito à redução da pena de 1/3 a 2/3 (Arti-
go 24, § 2.º, do Código Penal).

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UNIDADE Antijuridicidade

Legítima Defesa
Trata-se de causa de exclusão da ilicitude consistente em repelir injusta agres-
são, atual ou iminente, a direito próprio ou alheio, usando moderadamente dos
meios necessários.
Código Penal

Legítima defesa

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente


dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito
seu ou de outrem.

Podemos indicar a legítima defesa como um choque entre uma injusta agressão
e a justa reação de quem se vê agredido.

INJUSTA REAÇÃO EM
AGRESSÃO LEGÍTIMA DEFESA

Figura 5

Uma pessoa está na fila de uma padaria para


comprar pão quando outra pessoa, sem qualquer
motivo aparente, começa a agredi-la.
Aquele que está, injustamente, sendo alvo de socos e
chutes pode, por meio de agressões moderadas,
repelir a conduta de seu agressor.
Figura 6
Fonte: pixabay.com

Vamos ver os requisitos da legítima defesa:


·· A agressão deve consistir em um ataque humano. No caso de ataque de
animal irracional, não há legítima defesa e sim estado de necessidade;
·· A agressão deve ser injusta: no sentido de ilícita, contrária ao ordena-
mento jurídico.

Vamos ver o seguinte exemplo:

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Um juiz determina que um Oficial de Justiça compareça a uma casa para realizar a apreensão
de um computador que é objeto de um processo.
O servidor comparece ao local e, após se identificar e exibir a ordem judicial, solicita que a porta
seja aberta e o computador apresentado para ser apreendido.
Diante da recusa do morador, e seguindo o que determina a Lei, o Oficial de Justiça arromba a
porta e entra na casa.
Numa situação como esta, o morador pode, alegando legítima defesa, colocar o Oficial de
Justiça para fora da casa com o uso de força?

Em geral, quando alguém ingressa em uma casa sem ter sido autorizado pelo
morador está praticando injusta agressão (ao direito da inviolabilidade da casa);
contudo, nesse caso, o Oficial de Justiça está realizando todos os procedimentos
determinados pela Lei. Assim, sua conduta não é injusta, pois segue o que o Direito
determina para situações como essas;
· A agressão deve ser atual ou iminente: atual é a agressão que está
acontecendo e iminente é a que está prestes a acontecer. Não cabe
legítima defesa contra agressão passada ou futura e nem quando há
promessa de agressão;
· A direito próprio ou de terceiro: há legítima defesa própria quando o
sujeito está se defendendo e legítima defesa de terceiro quando defende
outra pessoa. É o caso de alguém que agride um ladrão que está roubando
outra pessoa;
· Deve haver o emprego do meio necessário e com moderação na reação:
esse é o meio suficiente para conter a agressão, sempre de forma modera-
da e sem excessos. Dessa forma, por exemplo, não justificaria dar um tiro
em alguém que está, de forma injusta, dando um tapa em outra pessoa;
· Uma vez cessada a agressão, não se justifica que haja continuidade
na reação.

Estrito Cumprimento do Dever Legal


Nesse caso, temos uma Norma (Lei, Decreto, Regulamento etc.) que estipula um
dever para determinadas pessoas.

Quando uma delas exerce esse dever, obviamente, não está praticando qual-
quer crime.

Um clássico exemplo, mas que não é empregável em nosso país, é o citado


a seguir.

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UNIDADE Antijuridicidade

Um carrasco que executa uma pessoa na guilhotina está no


estrito cumprimento de seu dever legal, razão pela qual não está
praticando um homicídio.

Figura 7
Fonte: pixabay.com

Como mencionei, esse exemplo não é aplicável em nosso país em razão da


vedação à pena de morte.

Dessa forma, não há norma estipulando que alguém tem o “dever” de executar
outras pessoas.

Também é o caso de um médico que, diante de um grave ferimento de um


paciente que chega inconsciente ao Pronto Socorro, “abre” o seu peito para
conter uma séria hemorragia. É claro que o médico, nesse caso, está agindo no
estrito cumprimento do dever legal, não se podendo falar que ele, ao realizar o
procedimento, provocou uma lesão corporal no paciente.

Exercício Regular do Direito


O exercício de um direito jamais pode configurar um fato ilícito. Observe o
seguinte dispositivo do Código Civil:
Código Civil

Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de


turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se
tiver justo receio de ser molestado.

§ 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-


se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa,
ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou
restituição da posse.

[...]

Ele menciona que quem tem a posse de um imóvel não pode sofrer ameaças de
quem, com emprego de força ou outro meio, deseja tomar-lhe a posse para ficar
com esse bem.

Se algum tipo de ameaça a essa posse ocorrer, o possuidor tem o direito de


manter-se na posse ou tê-la restituída, com o emprego da força necessária para
que isso ocorra.

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O proprietário de um sítio observa que algumas pessoas estão invadindo a sua propriedade
e montando barracas para lá permanecer. Nesse caso, o proprietário pode para lá se deslocar
e pedir para que elas saiam. Se não for atendido, ele poderá usar de força para colocar essas
pessoas para fora de sua propriedade – sempre sem excesso.

Em uma situação como essa, o proprietário que tem posse do imóvel, mesmo
usando a força (necessária e com moderação), não está praticando crime, pois está
utilizando um direito estipulado na Lei.

Excesso nas Causas de Exclusão da Antijuridicidade


Excesso é a intensificação desnecessária de uma ação inicialmente justificada, ou
seja, ocorre quando se utiliza um meio que não é necessário ou quando se utiliza
meio necessário sem moderação.

É o caso, por exemplo, de alguém que está reagindo a uma injusta agressão
em legítima defesa. Se houver a cessação da agressão, deve a reação também se
encerrar; se ela continuar, ficará caracterizado o excesso.
Código Penal

Excesso punível

Art. 23

Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo,


responderá pelo excesso doloso ou culposo.

Conclusão
Como vimos, verificar se houve ou não crime apenas aferindo a presença do
fato típico é algo que não deve ocorrer, pois ele é somente um dos elementos do
conceito de crime.

As causas de exclusão da antijuridicidade afastam a ilicitude de uma conduta


que, inicialmente, mostrava-se contrária à Lei, sendo que representam situações
extremas em que não pode ser exigível do envolvido que aja de outra forma.

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UNIDADE Antijuridicidade

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Sites
Constituição Federal
https://goo.gl/8g6Cz5
Código Penal
https://goo.gl/wx1zUx
Código de Processo Penal
https://goo.gl/kAbnkx
Lei das Contravenções Penais
https://goo.gl/KWVqkW

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Referências
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 24.ed. São
Paulo: Saraiva, 2018. v. 1.

GONÇALVES, V. E, R. Curso de direito penal: parte geral. São Paulo: Saraiva,


2015. (e-book)

ISHIDA, V. K. Curso de direito penal. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2015. (e-book)

MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. 34.ed. São Paulo: Atlas, 2018.

SARLET, Ingo Wolfgang; MARIONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso


de direito constitucional. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

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