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Material Teórico
Antijuridicidade
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Antijuridicidade
• Introdução;
• Iter Criminis;
• Fato Antijurídico;
• Conclusão.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer os conceitos de consumação e tentativa, que estão relacio-
nados ao chamado iter criminis.
· Tratar do segundo elemento do conceito analítico de crime, a “anti-
juridicidade” – também chamada de “ilicitude”. Aquele que pratica
um fato típico, em regra, também realiza uma conduta ilícita; contu-
do, há situações em que isso não ocorre, pois a Lei exclui a carac-
terização do crime. Essas situações são chamadas de causas de ex-
clusão da antijuridicidade. São situações, muitas vezes extremas,
que fazem com que alguém realize medidas que, aparentemente se
caracterizariam como crimes, mas, a Lei afasta a possibilidade desse
enquadramento, em razão de não ser exigível que o agente atue de
outra maneira.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Antijuridicidade
Introdução
Vimos que o primeiro elemento do conceito analítico de crime é o fato típico,
sendo que um de seus componentes é o resultado.
Ocorre que, em muitos casos, o agente, com sua conduta, tenta chegar a esse
resultado; contudo, não chega a atingi-lo completamente, podendo caracterizar a
prática de uma tentativa.
Vamos iniciar o nosso estudo nesta aula com o chamado iter criminis, que
detalha a forma como os crimes são realizados, desde a cogitação até a sua consu-
mação, passando pela tentativa nas suas mais variadas formas.
Iter Criminis
O iter criminis é o caminho do crime, ou seja, as fases que normalmente ocor-
rem para que ele se realize plenamente, sendo composto de 4 etapas distintas:
Figura 1
Cogitação
A cogitação é uma fase interna do
iter criminis, pois ela se desenvolve na
mente do autor da infração penal. Nela,
ele elabora mentalmente seu desejo de
realizar o crime e os preparativos que
precisa realizar para que isso ocorra.
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Atos Preparatórios
Após elaborar mentalmente o que irá fazer, o agente passa a realizar os atos
preparatórios. Como o próprio nome já indica, passa a realizar atos materiais ob-
jetivando realizar, no futuro, o crime.
· É o caso de alguém que compra um veneno, pois pretende matar alguém com ele;
· Daquele que providencia um maçarico para arrombar um caixa eletrônico.
Em geral, se o agente for surpreendido realizando esses atos, nada de ilícito es-
tará praticando; contudo, em certas situações, o legislador, em razão da gravidade
dessa conduta, já a transforma num crime autônomo.
É o caso, por exemplo, de uma pessoa que, desejando matar alguém, adqui-
re sem qualquer tipo de autorização legal uma arma para praticar esse crime.
O fato de essa pessoa estar na posse de uma arma sem autorização, por si só, já se
caracteriza crime; ainda que um crime distinto daquele que desejava praticar.
Atos de Execução
Nos atos de execução, o agente começa a realizar a conduta descrita no tipo
penal, ou seja, começa a matar, começa a subtrair a coisa etc.
José deseja matar Antônio e para tanto adquire um revólver. José se aproxima da vítima,
efetua um disparo que acerta o braço dele e, quando ia realizar outros disparos, ele ouve a
chegada da polícia, razão pela qual sai correndo do local, sem dar mais tiros em Antônio.
(...)
Tentativa
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UNIDADE Antijuridicidade
Punição da Tentativa
A punição da tentativa é prevista no parágrafo único do Artigo 14 do Código Penal.
Código Penal
Art. 14 (...)
Pena de tentativa
Art. 309. Votar ou tentar votar mais de uma vez, ou em lugar de outrem:
Observe que nesse crime votar ou tentar votar caracterizam o crime da mesma
forma, razão pela qual não é reduzida a pena no caso de tentativa.
Consumação
A última etapa do iter criminis é a consumação, isto é, quando o agente, após
realizar os atos de execução, consegue atingir seu objetivo.
Código Penal
Crime consumado
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I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua
definição legal;
Tentativa Abandonada
Outras duas situações que precisamos conhecer formam a chamada tentativa
abandonada, sendo elas:
· A desistência voluntária;
· O arrependimento eficaz.
Nesses dois casos, o agente não responde pelo crime que pretendia cometer
(nem pela tentativa dele), mas somente pelo resultado que produziu. Nos exemplos,
o agente responderá pelas lesões corporais e não por tentativa de homicídio.
Arrependimento Posterior
Após consumar a infração penal, nos crimes sem violência ou grave ameaça à
pessoa (somente nesses crimes; nos demais, não é aplicado esse dispositivo), o agente
voluntariamente repara o dano ou restitui a coisa, antes do recebimento da denúncia.1
1. A Denúncia é um ato do processo, no qual o Ministério Público apresenta a acusação contra o autor de um crime.
É o primeiro ato do Processo Judicial.
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UNIDADE Antijuridicidade
Código Penal
Crime Impossível
Outro assunto relacionado com os anteriores é o crime impossível, assim previsto
no Artigo 17 do Código Penal.
Código Penal
Observe que, nesse caso, o agente não responderá penalmente por sua conduta,
não chegando a caracterizar sequer a tentativa do crime que pretendia realizar.
Uma terceira situação caracterizadora do crime impossível foi criada pela ju-
risprudência do Supremo Tribunal Federal, que se consolidou com a edição da
Súmula2 n.º 145.
Supremo Tribunal Federal
2 Súmulas são enunciados produzidos por Tribunais em que é destacado um determinado entendimento de seus
membros sobre determinado assunto. Uma Súmula somente é confeccionada quando há diversos processos julgados
de acordo com esse entendimento.
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Nesse caso, a polícia (ou outra pessoa) induz alguém a praticar um crime, com
a intenção de realizar a sua prisão, logo em seguida. Segundo esse entendimento,
na verdade, há uma prisão em flagrante preparada, ou seja, é impossível que a
pessoa realize o crime, pois tudo foi montado para que ela, após ter sido induzida
a praticar um crime, seja presa.
Fato Antijurídico
A análise da antijuridicidade (ou ilicitude) da conduta do agente somente ocorre
quando já superada a constatação de que o fato típico está caracterizado.
Importante! Importante!
Todo fato típico é antijurídico, é contrário ao Direito. Isso somente não ocorrerá se estiver
presente uma causa de exclusão da antijuridicidade.
Exclusão de ilicitude
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
Estado de Necessidade
O estado de necessidade se caracteriza como sendo uma situação extrema em
que dois ou mais bens jurídicos legítimos estão correndo sério risco, em razão de
uma situação que não foi provocada por qualquer dos envolvidos, contudo, um ou
alguns deles irá perecer para salvar os demais.
Estado de necessidade
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UNIDADE Antijuridicidade
Tendo como foco esse exemplo, vamos analisar algumas importantes questões
que envolvem essa causa de exclusão da ilicitude:
·· Em primeiro lugar, a conduta daquele que mata o outro para ficar com
o colete salva-vidas deve ser, indiscutivelmente, classificada como um
fato típico:
FATO TÍPICO
Figura 4
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· Obviamente, não é qualquer situação de perigo que admite a utilização do
estado de necessidade. Para que ele seja aplicado, o perigo deve ser grave
o suficiente para exigir que um dos bens jurídicos seja sacrificado;
· O perigo deve ser atual, ou seja, a situação de perigo deve ser contempo-
rânea à conduta do agente que está em estado de necessidade;
· O perigo não pode ter sido causado voluntariamente pelo agente. Quem
voluntariamente dá causa a uma situação de perigo não pode invocar o
estado de necessidade. Porém, se a situação de perigo foi provocada por
culpa, não há esse obstáculo. No exemplo acima, imagine que a situação
de perigo foi causada por um incêndio que ocorreu no barco, provocado
enquanto uma dessas pessoas preparava uma refeição na cozinha;
· O perigo deve ameaçar direito próprio ou alheio. Dessa forma, pode ocorrer:
» O estado de necessidade próprio: quando quem o invoca está defendendo
direito próprio;
» O estado de necessidade de terceiro: quando a conduta do agente se
destina a proteger outra pessoa.
· Quem possui o dever legal de enfrentar o perigo não pode invocar o
estado de necessidade, pois deve afastar a situação de perigo sem lesar
qualquer outro bem jurídico. É o caso de um salva-vidas da piscina de um
clube, que não pode alegar estado de necessidade para deixar de socorrer
uma pessoa que está se afogando. Ele foi contratado, justamente, para
enfrentar essa situação de perigo. Deve ser observado, contudo, que a
aplicação dessa regra deve ser feita de forma razoável, visto que a Lei não
pode exigir do agente sacrifícios exagerados;
· Inevitabilidade do comportamento lesivo, ou seja, somente deverá ser sa-
crificado um bem se não houver outra maneira de afastar a situação de
perigo. No exemplo, se for possível que as duas pessoas sobrevivam utili-
zando partes da embarcação para flutuar, não será possível alegar o estado
de necessidade;
· É necessário existir proporcionalidade entre a gravidade do perigo que
ameaça o bem jurídico do agente ou alheio e a gravidade da lesão causada.
Trata-se da razoabilidade do sacrifício, isto é, se o sacrifício for razoável,
haverá estado de necessidade, excluindo-se a ilicitude. Dessa forma, no
exemplo acima, não pode alegar estado de necessidade aquele que mata
outra pessoa para colocar o colete salva-vidas em seu cachorro de estima-
ção, que também estava na embarcação que está afundando;
· Se houver desproporcionalidade, o fato será ilícito, afastando-se o estado
de necessidade, e o réu terá direito à redução da pena de 1/3 a 2/3 (Arti-
go 24, § 2.º, do Código Penal).
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UNIDADE Antijuridicidade
Legítima Defesa
Trata-se de causa de exclusão da ilicitude consistente em repelir injusta agres-
são, atual ou iminente, a direito próprio ou alheio, usando moderadamente dos
meios necessários.
Código Penal
Legítima defesa
Podemos indicar a legítima defesa como um choque entre uma injusta agressão
e a justa reação de quem se vê agredido.
INJUSTA REAÇÃO EM
AGRESSÃO LEGÍTIMA DEFESA
Figura 5
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Um juiz determina que um Oficial de Justiça compareça a uma casa para realizar a apreensão
de um computador que é objeto de um processo.
O servidor comparece ao local e, após se identificar e exibir a ordem judicial, solicita que a porta
seja aberta e o computador apresentado para ser apreendido.
Diante da recusa do morador, e seguindo o que determina a Lei, o Oficial de Justiça arromba a
porta e entra na casa.
Numa situação como esta, o morador pode, alegando legítima defesa, colocar o Oficial de
Justiça para fora da casa com o uso de força?
Em geral, quando alguém ingressa em uma casa sem ter sido autorizado pelo
morador está praticando injusta agressão (ao direito da inviolabilidade da casa);
contudo, nesse caso, o Oficial de Justiça está realizando todos os procedimentos
determinados pela Lei. Assim, sua conduta não é injusta, pois segue o que o Direito
determina para situações como essas;
· A agressão deve ser atual ou iminente: atual é a agressão que está
acontecendo e iminente é a que está prestes a acontecer. Não cabe
legítima defesa contra agressão passada ou futura e nem quando há
promessa de agressão;
· A direito próprio ou de terceiro: há legítima defesa própria quando o
sujeito está se defendendo e legítima defesa de terceiro quando defende
outra pessoa. É o caso de alguém que agride um ladrão que está roubando
outra pessoa;
· Deve haver o emprego do meio necessário e com moderação na reação:
esse é o meio suficiente para conter a agressão, sempre de forma modera-
da e sem excessos. Dessa forma, por exemplo, não justificaria dar um tiro
em alguém que está, de forma injusta, dando um tapa em outra pessoa;
· Uma vez cessada a agressão, não se justifica que haja continuidade
na reação.
Quando uma delas exerce esse dever, obviamente, não está praticando qual-
quer crime.
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UNIDADE Antijuridicidade
Figura 7
Fonte: pixabay.com
Dessa forma, não há norma estipulando que alguém tem o “dever” de executar
outras pessoas.
[...]
Ele menciona que quem tem a posse de um imóvel não pode sofrer ameaças de
quem, com emprego de força ou outro meio, deseja tomar-lhe a posse para ficar
com esse bem.
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O proprietário de um sítio observa que algumas pessoas estão invadindo a sua propriedade
e montando barracas para lá permanecer. Nesse caso, o proprietário pode para lá se deslocar
e pedir para que elas saiam. Se não for atendido, ele poderá usar de força para colocar essas
pessoas para fora de sua propriedade – sempre sem excesso.
Em uma situação como essa, o proprietário que tem posse do imóvel, mesmo
usando a força (necessária e com moderação), não está praticando crime, pois está
utilizando um direito estipulado na Lei.
É o caso, por exemplo, de alguém que está reagindo a uma injusta agressão
em legítima defesa. Se houver a cessação da agressão, deve a reação também se
encerrar; se ela continuar, ficará caracterizado o excesso.
Código Penal
Excesso punível
Art. 23
Conclusão
Como vimos, verificar se houve ou não crime apenas aferindo a presença do
fato típico é algo que não deve ocorrer, pois ele é somente um dos elementos do
conceito de crime.
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UNIDADE Antijuridicidade
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Constituição Federal
https://goo.gl/8g6Cz5
Código Penal
https://goo.gl/wx1zUx
Código de Processo Penal
https://goo.gl/kAbnkx
Lei das Contravenções Penais
https://goo.gl/KWVqkW
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Referências
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 24.ed. São
Paulo: Saraiva, 2018. v. 1.
ISHIDA, V. K. Curso de direito penal. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2015. (e-book)
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