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MINISTÉRIO COM JOVENS

© de Marcos Madaleno

1ª Edição: Julho de 2017


2ª Edição: Agosto de 2021

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por escrito da Editora Inspire.
Todas as citações bíblicas foram extraídas da Nova Versão Internacional (NVI),
salvo indicação do contrário.
Editora: Viviane L. Rabello e Mariana C. Madaleno
Coordenação editorial: Raquel Sabbag
Revisão: Márcia Niemeyer, Nicolau Braga, Pedro Pinto
Capa e Projeto Gráfico: Agência 3.16
Diagramação: Felipe Cavalcanti
Impressão: Copiart
d e d i c at ó r i a
Dedico este livro aos jovens e ado-
lescentes que escolheram o extraordiná-
rio. Em tempos de distrações, distorções
e desistência, vocês disseram “sim” para
o chamado maior, para a vida e para toda
a sua potência em Jesus.

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agradecimentos
Aos meus pastores, mentores e pais espirituais, Carlito e
Leila Paes. Obrigado pelo investimento de tantos anos e em
tantos sentidos e por nunca terem desistido de mim. Obriga-
do por mostrarem com clareza a cura em Deus Pai para uma
geração de órfãos espirituais. Vocês são uma referência para
aqueles que buscam em Jesus o extraordinário.
À Mariana, que me acrescenta um novo mundo, o qual
eu seria incapaz de tocar sozinho. Mais que amizade, com-
panhia, casamento e família, compartilhar com você a vida e
sonhar com o Reino me eleva de forma fantástica. Aos meus
amados filhos, Levi, Samuel e Pedro, que me alegram e ensi-
nam todos os dias e revigoram a juventude em mim.
Aos meus pais, que apaixonadamente serviram por 18
anos no ministério de adolescentes, quebrando paradigmas,
inspirando e abrindo caminhos. Vocês deixaram um legado
e marcas profundas em mim. Ensinaram-me que o privilé-
gio do Reino é incomparavelmente maior que seu sacrifício.
Aos que contribuíram diretamente com o seu melhor
neste livro, Carol Paes, sobre comunicação, Marcelo Santos,
sobre gestão de projetos e Luiz e Michelle Araújo na parte
da gestão dos voluntários. Agradeço a todos líderes e volun-
tários da juventude Eleve e Igreja da Cidade, uma família
espiritual que acredita e investe na nova geração.
Acima de tudo, obrigado Espírito Santo, por ter me
resgatado e me chamado para esta jornada ao Seu lado.
Obrigado por nos conduzir como igreja e juventude a um
novo e elevado caminho, todos os dias.
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sumário
Prefácio ....................................................................................................... 11
Antes de Começar..................................................................................... 15
Introdução.................................................................................................. 19

Parte 1 - Além do estereótipo............................................................... 27


Capítulo 1 - Vença os mitos do ministério com a juventude........... 29
Capítulo 2 - Chamam de Geração Mimimi, você vai chamar de quê?... 41
Capítulo 3 - Os jovens e a igreja:
reflexões para um novo momento...................................................... 55

Parte 2 - Do agito ao organismo: por onde começar?................... 59


Capítulo 4 - O tema juventude na Bíblia.............................................. 61
Capítulo 5 - Por que ministério de juventude mesmo?..................... 73
Capítulo 6 - Liderar juventude x liderar juventudes.......................... 85

Parte 3 - Propósito a Propósito..........................................................105


Capítulo 7 - Eleve a atmosfera de
celebração da juventude (Adoração)...............................................107
Capítulo 8 - Eleve o cuidado da juventude (Comunhão)...............121
Capítulo 9 - Eleve o crescimento da juventude (Discipulado)......137
Capítulo 10 - Eleve a força voluntária da
juventude (Ministérios).........................................................................159
Capítulo 11 - Eleve o alcance dos sem
Jesus (Evangelismo/Missões)................................................................175

Parte 4 - Capítulos à parte...................................................................211


Capítulo 12 - Pregação criativa e contextualização..........................213
Capítulo 13 - Aumente o alcance: estratégias de comunicação.....231
Capítulo 14 - Pastor sênior, esse é para você!....................................247
Capítulo 15 - Uma conversa no hall do ministério..........................255
Referências Bibliográficas......................................................................263
PREfáCIO

O Cristianismo é um movimento global que apresenta mui-


tas nuances diferentes ao redor do mundo, notadamente no que
diz respeito ao ministério e atividades da juventude.
Via de regra, a grande tensão encontra-se no diapasão entre a
preservação e a progressão. Quanto mais antigas são as igrejas locais
e as denominações ou associações de igrejas, mais o foco é a preser-
vação da identidade e tradição. Isso tudo é muito importante, mas
atrai muito pouco a lealdade e engajamento da juventude.
Quanto mais novas são as igrejas, ou quão profundo é o ní-
vel de revitalização e despertamento que estejam experimentando,
mais o foco é a progressão do ministério. Esta ênfase entusiasma os
mais jovens, por representar grandes desafios. Jovens respondem
muito mais aos grandes desafios do que aos alertas preservacio-
nistas, com suas mensagens normalmente tenebrosas e sombrias.
Uma outra maneira de apresentar o problema pode ser expres-
sada pelos termos “ação e reação.” Na verdade, a missão da igreja
sempre tem caminhado fundamentada neste diapasão. “Ação” tem a
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11
MINISTÉRIO COM JOVENS

ver com o lançar de iniciativas novas, que respondam a oportunida-


des que a sociedade, o contexto da igreja local e o mundo, em geral,
lançam para a igreja. “Reação” tem a ver com a resposta interna da
igreja aos seus desafios de manter vivo o movimento e entusiasmo
dos membros, enquanto mantendo a sua identidade. Estas duas per-
nas ministeriais precisam caminhar em boa sincronização. A igreja,
em particular com o ministério da juventude, precisa manter estes
dois aspectos vivos e vibrantes. Se não fizer isto, por mais que se es-
force, no que diz respeito as ações ministeriais, perderá o entusiasmo
da manutenção dos que já estão em seu redil.
Como termos uma igreja viva, dinâmica, cheia de ações mi-
nisteriais positivas, um crescimento saudável e entusiasmante, e um
engajamento de pertencimento e integração dos que já são da igreja?
Como ser forte na progressão (crescimento), sem perder a preserva-
ção do que já temos?
Eu creio que o pastor Marcos Madaleno nos dá uma boa
resposta em seu livro. A resposta está numa “elevação” do mi-
nistério com a juventude. Igrejas que só se preocupam com a
preservação do status quo, tendem a se transformar em verda-
deiros monumentos com o passar dos anos, perdendo a vitali-
dade e os seus jovens.
Jovens respondem com fervor a desafios que requerem sa-
crifícios, esforço, determinação e objetivos aparentemente inal-
cançáveis. Eles e elas respondem com uma dedicação total a alvos
e propósitos que, quando cumpridos, revelam-se tão grandes que,
obviamente, Deus estava presente neles.
Pastor Marcos tem visto isto acontecer no ministério de
juventude na Igreja da Cidade e na Rede de Igrejas da Cidade,
liderada pelo pastor Carlito Paes. De alguns poucos jovens para
milhares de indivíduos, Marcos tem liderado uma juventude co-
rajosa, engajada e vitoriosa, que crê que pode mudar não somente
sua região, mas o país e o mundo nesta geração.

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12
PREFÁCIO

Com ele vamos refletir sobre como “elevar” o ministério da


juventude a este novo patamar.
Nos capítulos do livro, existem três coisas que chamam a
atenção: a. o embasamento bíblico dos seus pensamentos; b. o
conhecimento teórico do assunto que ele claramente demonstra;
c. a prática dos propósitos, detalhadas na Parte 3, que muito aju-
dará os leitores.
De quebra, na parte final o autor aborda alguns dos mais
relevantes temas atuais. Ele assim faz, direcionando o assunto aos
pastores seniores das igrejas, pois, de uma maneira coerente e bí-
blica, reconhece que o modus operandi central da atividade divina
no mundo passa, obrigatoriamente, pela igreja local, e, no âmbito
da igreja local, a atuação, benção e participação do pastor sênior
é fundamental para trazer a juventude de uma igreja a um novo
nível de “elevação” ministerial.
Deus abençoe o pastor Marcos Madaleno e seu grupo de
colabores diretos. Deus abençoe a todos nós, que faremos bem
em aprender da sabedoria e prática deste livro.

Dr. Elias Dantas


Fundador e coordenador internacional do
Global Kingdom Partnership Network

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13
Antes de Começar

Vamos tirar um tempo juntos ao longo desse livro para cres-


cer na prática do ministério com juventude. Posso imaginar Deus
sorrindo enquanto você está fazendo isso. Espero que este seja
um tempo que trará muito mais que informações. Também espe-
ro que Deus fale profundamente com você e reestabeleça as suas
bases e os seus conceitos para a construção de um novo momen-
to. Posso imaginar o lançamento da sua vida e ministérios para
alturas desconhecidas, alcançando gerações, resgatando vidas,
transformando culturas, deixando marcas profundas no nosso
mundo, dando glórias para Deus e formando verdadeiros discí-
pulos de Jesus.
Uma coisa que me inquieta e que me motiva no ministério
de juventude é ver tanto potencial desperdiçado, tantas vidas per-
didas na nova geração. Eu não tenho dúvidas de que a igreja é que
pode fazer o resgate e trazer para Cristo e Seu Reino as vidas que
viverão completamente para Deus e que serão instrumentos de
transformação da sociedade.
Este livro é fruto de um chamado que Deus despertou em
minha vida, desde 2001, quando entendi o meu chamado para
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MINISTÉRIO COM JOVENS

o ministério. Meus pais deixaram um legado para mim ao ser-


virem por 18 anos no ministério de adolescentes em uma igreja
local. Cresci nesse ambiente e eles nunca demonstraram que era
um peso, mas um privilégio e que valia a pena investir naquelas
pessoas, entender seus dilemas e comunicar a Palavra de Deus
na linguagem que eles entendiam. Aos 19 anos, preguei pela
primeira vez em um acampamento de adolescentes. Na época,
meus pais não eram mais líderes e fui apenas compartilhar meu
testemunho após ser resgatado de um tempo longe de Deus. Por
volta de dois anos, havia vivido dependente de relacionamen-
tos destrutivos, sem saber ao certo meu valor, experimentando
coisas desnecessárias longe de Deus para preencher um vazio.
Algo aconteceu naquele dia, naquele acampamento. Eu, que es-
tava extremamente deslocado, tímido, que sempre havia fugi-
do de apresentar trabalhos de escola para não ter de falar em
público, tinha um grupo de cem adolescentes à minha frente
(adolescentes, você sabe, não costumam ser muito suaves quan-
do escolhem alguém para criticar). Mas Deus trouxe uma un-
ção e uma graça inexplicáveis naquela noite, um ambiente de
contrição, arrependimento e manifestação do Seu Espírito. En-
tendi, naquele dia, que eu só precisava estar entregue nas mãos
de Deus, que eu tinha nascido para aquilo e que Cristo tinha
um propósito para este chamado com a juventude. Não era um
começo para depois ir para outra área. Deus tinha algo naquele
ambiente dentro da igreja, com aquela faixa etária. Sabia pouca
coisa além disso, mas era isso que eu sabia.
Buscando crescer no ministério, em 2004, então como líder
regional de juventude da minha denominação, fui com um grupo
de pastores para conhecer o movimento de Igrejas com Propósitos
e o pastor Carlito Paes que estava influenciando uma geração de
pastores e líderes no Brasil. Deus estabeleceu uma conexão des-
de aquele momento. Na verdade, eu mal sabia que aquele pastor,
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16
ANTES DE COMEÇAR

que eu tanto admirava, viria a tornar-se meu pai espiritual, men-


tor e líder. Louvo muito a Deus por, naquela época, ter a atenção
de um líder extraordinário dispensada a alguém como eu. Tudo
o que recebia ali fazia todo o sentido para mim: o equilíbrio de
um ministério bíblico que não fosse centrado em personalidades,
programações, finanças, eventos, mas que tivesse os propósitos
bíblicos como base e que fosse relevante e contextualizado para o
seu tempo. Um período depois, por meio de uma empresa de de-
sign gráfico que tinha acabado de abrir após me formar, comecei
a prestar serviços para o Ministério Propósitos e, em seguida, fui
trabalhar no escritório do ministério em São José dos Campos,
no estado de São Paulo.
Percebi que havia uma escola na qual Deus queria que eu
me formasse. Seria necessário desaprender muita coisa e ter o
caráter forjado, para então reaprender e crescer. A minha chama
pelo ministério de jovens continuava crescente. Cheguei como
um voluntário na juventude, vindo de outra cidade e de outra
denominação, disposto a fazer o que fosse necessário. Na época,
a igreja vinha de sete anos com sete diferentes pastores de jovens,
e aquele ambiente tinha se tornado um dos grandes desafios para
os líderes e para a igreja como um todo. Na época, um novo líder
tinha acabado de chegar ao ministério e muitos estavam dispos-
tos a fazer algo novo debaixo da liderança de nossos pastores lí-
deres. Depois de dois anos sob mentoria e aprendizado e em um
novo ambiente que estava sendo formado, tive a oportunidade de
assumir, a convite de meus pais espirituais, algo que considero
hoje o mais relevante que Deus me deu a oportunidade de fazer,
que foi o ministério de juventude da Igreja da Cidade em São José
dos Campos. Em julho de 2021, completei 14 anos como líder
deste apaixonante ministério, nesta igreja incrível, que sempre
me leva a sonhar mais, a fazer mais e a experimentar ainda mais
da graça de Deus.
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17
MINISTÉRIO COM JOVENS

Este livro pretende ser um guia prático que nasceu dessa ex-
periência, do despertamento e da concretização desse chamado e
dos aprendizados da vivência ministerial, nesta jornada que tenho
a alegria de trilhar com muitas pessoas especiais que Deus tem en-
viado para esta missão.

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18
introdução

Nos últimos anos vimos na igreja brasileira um despertar


mais intenso de ministérios de juventude na igreja local. No mí-
nimo, a atenção para esta frente aumentou. Há 40 anos, a chama-
da mocidade tinha sua sala de escola bíblica aos domingos pela
manhã nas mais diversas denominações, e quase não se falava
em ministérios específicos com adolescentes. Hoje é praticamen-
te uma regra existir o ministério de jovens e dos adolescentes.
Próximo à década de 90, a esfera das artes passou por uma trans-
formação, principalmente no âmbito musical com a chegada do
chamado Rock Cristão e da categoria conhecida como Gospel, no
Brasil. Nessa época, também surgiram os “encontrões”, que acon-
teciam com o propósito de reunir jovens para evangelizar. Com o
tempo, movimentos como “Mocidade para Cristo”, e outros, mais
denominacionais, ganharam espaço na sociedade e, consequen-
temente, ampliaram esse olhar específico para a juventude.

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19
MINISTÉRIO COM JOVENS

Ainda na década de 90, os eventos cristãos com o Gospel


começaram a multiplicar. Esses eventos tinham um modo de pre-
gação mais contextualizado e uma abordagem evangelística que
visava ganhar os jovens para Jesus. Um dos principais movimen-
tos foi o “SOS da Vida”, que consistia na junção de grandes ban-
das cristãs nacionais e internacionais, realizava ações sociais, e
recebia caravanas de todo o país. Os eventos, as bandas, as feiras e
também os cultos jovens, se popularizaram e tornou-se o reflexo
do crescimento dos evangélicos no Brasil.
Nesse período, testemunhamos pastores e ministérios de
jovens entrarem em cena, obterem destaque, realizarem confe-
rências e festivais, e marcar um novo momento dos ministérios
de juventude nas igrejas locais. Em 2010, e um pouco depois, os
movimentos e as “churches” começaram a eclodir. Com mais vi-
sibilidade na igreja, na sociedade e em outras frentes, os ministé-
rios com jovens passaram a avançar em direção a duas vertentes:
1) provocar uma renovação e a transformar a energia da igreja;
2) gerar uma tensão que levava a mudanças ou divisões na igreja.
Diante dessa realidade, as igrejas que nasciam diretamente
das divisões, ou mesmo as novas que eram plantadas, integradas
por uma membresia exclusivamente jovem, os ministérios com
a juventude começaram a ser questionados se eram realmente
necessários, pois poderiam ser uma concorrência que alcançaria
com mais afinco a nova geração, porém, após um tempo estaria
vulnerável a uma liderança que poderia ser egoísta e nociva.
Ao longo dos anos, outras faixas etárias também se fizeram
presentes nos ministérios com jovens. Desde a última edição des-
te livro, em 2017, já consigo perceber, nas igrejas, um significati-
vo crescimento dos movimentos com jovens adultos e, também,
jovens casais, em que são ministrados em ambientes diferentes
dos adultos. A necessidade da distinção do trabalho entre jovens
adultos e jovens casais se desenvolveu porque as pessoas estão se
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20
INTRODUÇÃO

casando mais tarde, dentro e fora da igreja. Por isso, se faz ne-
cessário o cuidado específico conforme a realidade de vida do
jovem. Por outro lado, sabemos que o divórcio passou a acontecer
cada vez mais cedo, assim sendo, tanto o trabalho da igreja para
a formação de uma nova família, quanto o cuidado com aqueles
que passam pelo processo de separação, se tornou cada vez mais
indispensável. Não é incomum, nos ambientes de trabalho, facul-
dade ou familiar, interagir com pessoas que antes dos trinta anos
estão divorciadas. O fato é que a sociedade mudou e os costumes
também. Portanto, o chamado da Igreja não é com um fim em
si mesma, mas para fora dela, assim como é definido o termo
eklesia (chamados para fora). A Igreja tem o desafio de alcançar
os de fora e pastorear a juventude de hoje.
O ministério de juventude é um dos ministérios de entra-
da para aprimoramento e teste da vocação ministerial, por isso,
significativa parte de líderes nas igrejas começa nele. Se forem
bem, provavelmente, serão “promovidos” para outras funções ou
para o pastoreio de uma igreja local. Muitas vezes, este processo
é fruto de um movimento natural e é raríssimo alguém que fique
nessa função até a velhice. A maior parte dos líderes de jovens nas
igrejas brasileiras não fica tempo suficiente no ministério para
deixar recursos e ferramentas disponíveis para serem utilizados
por outros líderes e pastores locais. A falta de uma dedicação
apaixonada e de longos anos nos ministérios de juventude talvez
seja um dos motivos de não termos um universo mais rico de
materiais sobre o assunto.
Quando visito igrejas no Brasil, não são poucas as vezes em
que encontro um pastor líder lidando com um verdadeiro estrago
causado por uma liderança no ministério de jovens. Não é raro
também encontrar pastores ou líderes de jovens com muitas di-
ficuldades para prosseguir, sem um norte, buscando referências
e, muitas vezes, observando partes de outros ministérios como
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21
MINISTÉRIO COM JOVENS

culto e pregação, evangelismo ou artes ou eventos. Esta realida-


de frequentemente revela ministérios focados em personalidades
que, quando são abaladas, provocam danos profundos em uma
igreja. Conheci também muitos trabalhos passageiros, que tive-
ram fases boas, mas não tiveram consistência para atravessar es-
tações e ficarem firmes.
Quais são os princípios para um ministério forte, saudável,
que valorize a igreja local e que trabalhe junto com o plano maior
de Cristo para a igreja? Este livro se propõe a contribuir sem a pre-
tensão de ter todas as respostas para perguntas que, em outras oca-
siões, eu mesmo já fiz.
Ao avaliar em que contexto chega este material, destaca-se o
fato de que há novos recursos disponíveis para ministérios com jo-
vens de origem norte-americana, pouquíssimos traduzidos em por-
tuguês. Os livros norte-americanos trabalham principalmente com
a abordagem para fase do ensino médio, a adolescência, com prin-
cípios valiosos e com uma prática muito atrelada à cultura dos Es-
tados Unidos. A maior parte das igrejas americanas não possui um
ministério forte com os jovens da fase universitária em diante, até
mesmo por uma questão cultural. Após os 18, o jovem sai de casa
para a faculdade, e esse período é considerado um tempo exclusi-
vo para a formação acadêmica, acontecendo um distanciamento da
vida da igreja. Neste sentido, creio que uma reflexão sobre o mi-
nistério de juventude se faz relevante para o contexto específico
do Brasil, unindo princípios e prática na igreja local.
É fato que existem materiais brasileiros disponíveis sobre
o ministério de juventude, mas normalmente são endereçados
a algumas áreas mais específicas, como sexualidade e namoro,
formação de líderes ou artes e adoração, os quais também são
mais abrangentes na faixa etária abordada nesta obra. Há tam-
bém livros sobre evangelismo, principalmente evangelismo ur-
bano que considere a juventude. Há poucos recursos focados no
ministério de juventude, em uma abordagem mais ampla.
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22
INTRODUÇÃO

O que você encontra neste livro é fruto da paixão pela nova


geração, um grupo muitas vezes mal compreendido e colocado em
um lugar para entretenimento, para não darem trabalho. Certa
vez observei o que uma grande e bem-sucedida multinacional faz
para atrair os jovens talentos e contratá-los em um programa de
trainee. Eles jogam duro e investem pesado para fazer brilhar os
olhos daqueles estudantes cheios de potencial. A eficácia em ca-
çar novos talentos é parte do sucesso de uma grande companhia.
Existem livros, recursos e ciência por trás disso. E o Reino de Deus,
como tem tratado a nova geração? Sempre imagino o que se pode
alcançar com o potencial do Reino aliado ao potencial dos jo-
vens. Vivemos um tempo em que a vida escapa e se desperdiça
com experiências ruins da juventude. E se o resgate chegar a tempo
e até mesmo o que foi perdido for recuperado? Onde todo este po-
tencial, vida e intensidade podem chegar se essas vidas de altíssimo
valor estiverem completamente entregues a Cristo?
O que você encontrará aqui é uma tentativa de ir além dos
mitos de sucesso do ministério e de buscar o essencial, por meio
de alguns ensaios sobre a base bíblica, a saúde e o equilíbrio no
ministério. Se o alvo é fazer de jovens e adolescentes discípulos
extraordinários de Jesus, é preciso conhecê-los mais. Por isso,
apresentarei alguns dados que resumem o perfil da juventude do
nosso tempo. Também será exposta a experiência prática no Ele-
ve, o ministério de juventude da Igreja da Cidade em São José dos
Campos (SP). O que se propõe é esclarecer os princípios que nor-
teiam nossa prática ministerial, expondo algumas iniciativas em
cada frente. É importante lembrar que as realidades e o contexto
de cada lugar são diferentes. O convite lançado é para buscar prin-
cípios. Você não encontrará as melhores e infalíveis estratégias de
todos os tempos, mas exemplos de como cada princípio gerou uma
ideia e uma prática. Com esta amostra, meu desejo é que você pos-
sa avaliar, discutir, adicionar outras ideias e enriquecer algo dentro
de sua própria realidade. O que é sagrado não está em discussão,
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23
MINISTÉRIO COM JOVENS

mas sim a prática; que ela mude, adapte-se, cresça e evolua. Se, de
alguma forma, este livro provocar novas iniciativas, gerar novas
buscas, convidar para a reflexão e incentivar a profundidade e a
excelência, o objetivo será alcançado.
Uma coisa que me recarrega e renova é andar por aí e ver
o que está acontecendo no Brasil, como cada igreja e líder está
atuando na sua realidade e provocando algo novo. Já me inspirei
com muitos bons exemplos que conheci e renovei a minha prá-
tica ministerial. Já vi muita coisa que só não reproduzi porque
não cabia, pois era como um sapato muito bonito no número de
outro pé. Nesses casos, pude repensar o que fazia na minha rea-
lidade. Já vi incríveis expressões nos ministérios com juventude
que não me permitiam aplicar de imediato aquela realidade, mas
elas me fizeram sonhar mais alto. Já pude também, de alguma
forma, contribuir com alguns amigos onde eles estavam atuando.
Acredito que devemos interagir, ter relacionamentos com outros
que trabalham no mesmo sentido, mas com outras ferramentas e
em outro ambiente.
Como afirmou Dawson Trotman: “os pensamentos se desem-
baraçam quando passam pelos dedos”. Mesmo tendo a sensação
de não ter chegado ainda em lugar algum, com muitos desafios e
uma estrada pela frente, acredito que nestes 16 anos envolvido no
ministério de juventude da Igreja da Cidade e 18 anos após as pri-
meiras iniciativas no ministério com juventude, tendo experimen-
tado tentativas que deram certo e outras que deram errado, penso
que, de alguma forma, a iniciativa desse livro é válida. Nem que
seja para provocar diálogos, reflexões e chamar a atenção para um
espaço que tem ainda muito a ser conquistado.
O que está sendo apresentado em Ministério com Jovens tam-
bém é fruto de um chamado e não apenas um relatório de práti-
cas. Conforme foi escrito por Os Guinness, “Em vez de ‘você é o
que você faz’, o chamado diz ‘faça o que você é’”. Que um chamado
despertado e correspondido seja mais uma chama que incendeia e
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24
INTRODUÇÃO

provoca incêndios em outros lugares! Que seja um bom tempo em


que Deus fale com você, que o Reino avance, e que tudo seja para
a glória do Pai!

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25
NOME DO CAPÍTULO

parte 1
além do
estereótipo
Estereótipo é uma palavra ori-
ginada das artes gráficas. Trata-se da
chapa obtida pela fusão de chumbo
em uma matriz ou numa impressão, o
chamado clichê. Estereótipo é também
a ideia, conceito ou modelo que se es-
tabelece como um padrão formado
antecipadamente e sem fundamento
sério ou imparcial. É algo que tão so-
mente segue modelos conhecidos. É
o preconceito. É o lugar-comum. É a
repetição automática de um modelo
anterior, sem originalidade e sem con-
siderar as necessidades do presente.
Fomos chamados para viver muito
além de lugares-comuns. Somos criação
de Deus, criados de forma individual e
artesanal para praticarmos as boas obras
que Ele mesmo preparou para nós.

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27
capítulo 1
vença os mitos
do ministério com
a juventude

É mais fácil buscar o estereótipo. Sair dele é fazer


perguntas mais profundas. No entanto, se você quer relevância,
algo que exceda meras repetições, é preciso repensar o que cha-
ma de sucesso no ministério. Pense bem: por que você busca um
ministério de alto nível, de grande impacto? Existem estereótipos
sobre o ministério de juventude e alguns deles se tornam verda-
deiras fixações para seus líderes, suas buscas principais.
Alguns destes “modelos” para ministérios de juventude
até possuem atrativos e, em certo ponto, resultados. Podem
até, em alguns momentos, trazer a aparência de serem bem-
-sucedidos. No entanto, o que temos visto é que não geram
resultados duradouros.
Vamos listar 10 exemplos de estereótipos de ministérios
com jovens presentes na realidade brasileira:

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29
MINISTÉRIO COM JOVENS

O foco está na linguagem, não na profundi-


1. Cool dade. É um ambiente agradável, mas não de-
safia às mudanças profundas e necessárias.
Alguns eventos lotados e está perfeito! Limita-se
a eventos com convidados famosos, atrai o pú-
2. Promoter
blico periodicamente, mas não está priorizando
construir algo de valor, intencional e profundo.
Pensa que é jovem, mas não é. É “tiozificado”.
3. Tiozão Às vezes tem gírias e um pouco de estilo, mas
não há uma real conexão com a nova geração.
Centrado em uma personalidade. O líder
faz com que tudo gire em torno de si,
4. Super Star
se gaba do fato que se ele não está nada
acontece, como se fosse uma vantagem.
Só funciona com verba mensal da igreja.
Tudo é culpa do orçamento e do que se tem
5. Mercenário
disponível para ser usado. É vitimista, encos-
tado e cheio de insatisfação.
Tudo que acontece está no palco, e todos
estão olhando para lá, mas não promove co-
6. Palco
nectividade entre os jovens. Os participantes
são vistos apenas como plateia.
O ministério que critica tudo e a todos, sem
propor nada em troca. Expressa-se sobre o
7. Militante que é contra, mas não faz nada sobre o que é a
favor. Quer ser revolucionário, mas consegue
ser apenas revoltado.
Vive em guerra com o pastor sênior (e às
8. Órfão
vezes o pastor sênior com o ministério).

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30
VENÇA OS MITOS DO MINISTÉRIO COM A JUVENTUDE

Tudo que é diferente é considerado algo para


“entreter bodes”. O jovem crente é aquele que
9. Crentão
volta ao século 19. Amam citar Spurgeon,
mas não têm uma proposta relevante.
Quer agradar a todos, mas nunca chega a
10. Político
algum lugar.
É um bom lugar para se ver pelas redes so-
ciais ou para fazer uma foto, mas não passa
11. Instagramável disso, o dia a dia não tem muita coisa acon-
tecendo além de estética, som, iluminação,
foto e vídeo.
Tabela 1: Exemplos de esteriótipos de Ministérios com Jovens.

A Igreja não é minha, não é sua, não é de um grupo de pessoas.


A Igreja é de Jesus! Ela não deve ser refém dos interesses e vontades
pessoais de ninguém, pois não foi fundada por Jesus para isto. Todo
ministério com uma faixa etária que acontece dentro de um contexto
de igreja local deve buscar seus fundamentos na Palavra de Deus,
no que Jesus espera da Igreja. A Bíblia não nos dá muitos detalhes
ou fala abertamente sobre formas, mas certamente provê princípios
atemporais para a igreja. Por isso, cremos que a ação da igreja com
a juventude encontra todas as suas respostas sobre a sua essência na
Palavra de Deus. Quais são alguns dos pontos primordiais do minis-
tério com jovens? O que é essencial, insubstituível e imutável?

O essencial, insubstitUÍVel, imutÁvel.


1. Líderes que são homens e mulheres de Deus, antes de
fazerem algum trabalho para Deus.
Em Atos 6, temos um momento na igreja primitiva em que
é criado um ministério, ou seja, um departamento específico para
apoiar o cumprimento da missão da igreja. A igreja tinha cresci-
do e quem fazia a distribuição dos donativos, até então, eram os
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MINISTÉRIO COM JOVENS

próprios apóstolos. O problema é que eles não conseguiam mais


dedicar-se à oração e ao ministério da palavra de Deus e cuidar
de todas as outras necessidades da igreja. Algumas viúvas come-
çaram a reclamar por não estarem recebendo as doações. A solu-
ção de Pedro foi criar um ministério para cuidar daquela frente.
Quando a igreja cresce, os ministérios (ou as frentes de trabalho,
independentemente da nomenclatura) começam a surgir. Houve
então uma orientação dos apóstolos sobre o tipo de pessoas que
deveriam servir na igreja: “Irmãos, escolham entre vocês sete ho-
mens de bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria. Passa-
remos a eles essa tarefa” (Atos 6:3).
Antes de fazermos algo para Deus, temos que ser pessoas de
Deus. Precisamos andar com Ele e temos a prova disso, sendo pes-
soas “de bom testemunho”. Pessoas aptas a servir não são aquelas que
vivem para si, que têm um projeto de poder, que desejam aparecer,
que amam o palco, que vivem em busca de views, likes e shares. Ser
popular não deve ser o requisito da sua liderança e do seu ministério.
Construa suas principais marcas de liderança na pureza, em
um caráter aprovado e em uma vida separada para Deus.

2. Autenticidade: ser você mesmo é sempre a melhor op-


ção. “Livrai-nos do fake, amém!”.
Em Atos, podemos entender como era o ambiente de uma
igreja saudável, suas reuniões e seu convívio. É interessante per-
ceber que esta descrição falava da vida das pessoas, não apenas de
suas pregações e ações. Por isso lemos que: “todos os dias, continua-
vam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em casa e juntos
participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração”
(Atos 2:46). Eles tinham um amor sincero, a ligação era verdadeira,
não era um fake (algo falso). Um dos males do nosso tempo é que
as pessoas querem tanto a aprovação das outras que acabam por
fingir ser algo que não são. Alguns falam algumas gírias forçadas
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VENÇA OS MITOS DO MINISTÉRIO COM A JUVENTUDE

ou imitam descaradamente outras pessoas de forma desnecessária.


Aprendi no ministério de juventude que, mais do que ser
engraçado ou popular, adolescentes e jovens valorizam mui-
to o que é real. Eles percebem a diferença e dão valor ao que é
sincero. A geração Y (os nascidos já na época da internet) tem
uma característica interessante neste sentido: seus heróis estão
menos para líderes que representam uma revolução utópica, tais
como Che Guevara ou John Lennon, e são pessoas mais próxi-
mas à realidade deles. São pessoas que fazem coisas simples que
admiram e que provocam mudanças, ainda que pequenas, na so-
ciedade. Penso que a nova geração é fruto de um desapontamento
com os heróis que morreram de overdose, de pessoas que eram
idolatradas como super-heróis, mas que se mostraram falhas e
perdidas dentro de si mesmas. Por isso mesmo a Bíblia não es-
conde os erros de seus heróis. Este também é o motivo para você
não ser um “faz de conta”, uma invenção da Marvel, mas alguém
comum, buscando o extraordinário em Deus. Não é preciso ser
uma representação forçada e esconder seus erros. Seja um líder
autêntico, capaz de abrir seu coração e de ser quem você é,
crescendo todos os dias.
Tenha segurança de que Deus fez você do jeito que você é.
Empreenda uma busca por autoconhecimento e será mais fácil
não recorrer às imitações. Deus quer fazer algo especial e único
por meio de sua vida. Esteja pronto para isso. Esse pode ser um
caminho mais longo, que vai exigir mais de você, mas, valerá a
pena! Então, oremos: “livrai-nos do fake, amém!”

3. Intimidade e intensidade com Deus.


Em todas as fases da igreja primitiva, seja em seu início ou
em seu grande crescimento com a perseguição, sempre a oração e
o jejum foram marcas muito fortes daquela igreja que prevaleceu
e transformou culturas: “Todos eles se reuniam sempre em oração”
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MINISTÉRIO COM JOVENS

(Atos 1:14); “Por volta da meia-noite, Paulo e Silas estavam orando


e cantando hinos a Deus” (Atos 16:25). Não tente fazer algo rele-
vante, principalmente na igreja, sem ter uma intensa intimidade
com Deus. Você já percebeu quantos líderes caem, perdem-se ou
simplesmente desaparecem do cenário? Não podemos envergo-
nhar o evangelho! Não seja mais um número negativo, porque
você não precisa ser. Busque seu caminho de sucesso em Deus e
não em suas próprias forças. Priorize sua intimidade e sua inten-
sidade com Deus, viva como prática de vida o jejum e a oração.

4. Amar os jovens e os adolescentes.


Jesus, que teve um ministério de grande impacto e sucesso
nos três anos entre Seu batismo e a morte na cruz, declarou que,
após amar e honrar a Deus, o segundo maior mandamento é este:
“Ame o seu próximo como a si mesmo” (Mateus 22:39). Nem co-
mece no ministério se você apenas gosta de pregar, de fazer even-
tos ou de estar “no movimento”. Jesus fala que depois de amar a
Deus, o mais importante é amar as pessoas.
O que significa amar jovens e adolescentes, senão compreen-
dê-los, entendê-los melhor, saber mais sobre suas necessidades,
estar próximo a eles e não ser mais um que se escandaliza com
eles ou que não pode ouvi-los? A juventude é o período da vida
de uma pessoa em que ela está conquistando sua independência
financeira, social e emocional para seguir seu caminho para a fase
adulta. É o momento de definição de carreira e da formação de
uma nova família. É mais do que esperado que este tempo seja
marcado por indecisões, indefinições e muita pressão emocional.
Amar jovens e adolescentes é amá-los com suas inseguran-
ças, ansiedades, medos, incertezas, arrogâncias, rebeldias e orfan-
dades. É preciso abraçar esta tensão em vez de ignorá-la. Foi isso
que Jesus fez ao se aproximar da mulher adúltera e de tantos que
estavam às margens da sociedade. Amar é construir conexões,

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VENÇA OS MITOS DO MINISTÉRIO COM A JUVENTUDE

superar a barreira relacional e geracional e oferecer um caminho


de cura emocional e de conexões reais com Jesus.

5. Ser aberto para entender a nova geração, sem se escan-


dalizar ou “jogar a toalha” para o liberalismo.
Você já ficou estarrecido com as notícias sobre jovens e ado-
lescentes nos jornais? Certo dia li uma notícia sobre jovens que
faziam tatuagem no olho. Hoje, além de adolescentes e jovens
acessarem o submundo da pornografia pelo celular, coisas estra-
nhas acontecem nos banheiros das escolas. Nudes são trocados
por aplicativos e redes sociais em que fotos e vídeos são apaga-
dos logo em seguida. Quantas insanidades são necessárias para
chamar a atenção ou para preencher grandes buracos existenciais
e emocionais? O que será preciso para dizer: “Ei, eu estou aqui!
Eu existo!”? Eu não sei o que nos aguarda no futuro, mas a nova
geração está disposta a fazer quantas bizarrices forem necessárias
para ganhar atenção ou preencher lacunas emocionais e relacio-
nais. E está mais que comprovado que julgamentos e religiosidade
não são respostas ou soluções suficientes para este anseio.
No evangelho de João, capítulo 8, vemos como religiosos tra-
tavam um escândalo e como Jesus agiu. Eles tinham pedras nas
mãos para matar quem precisava de compaixão, quem buscou no
adultério água para sua sede. Jesus ofereceu misericórdia e con-
frontou a hipocrisia: “Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o
primeiro a atirar a pedra nela” (João 8:7). Depois de oferecer aten-
ção, amor e graça, ofereceu também a oportunidade de recome-
ço: “Eu também não a condeno. Agora vá e abandone sua vida de
pecado” (João 8:11). Creio que Deus quer levantar uma nova ge-
ração de líderes que promova cura por meio da honra. O mundo
não precisa de mais um ministério que trata o pecado em parceria
com o maligno, matando o pecador com julgamento e frieza.
É preciso não ser mais um que se escandaliza, julga ou diz
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MINISTÉRIO COM JOVENS

apenas que tudo isso é um absurdo. Líderes de jovens usados por


Deus são aqueles que são como um dos valentes de Davi, que des-
cem à cova em um dia de neve e matam um leão. São aqueles que
empreendem uma busca espiritual para encontrar as raízes dos
problemas que têm causado estas loucuras entre a nova geração,
trazendo a cura disponível que há em Jesus.

6. Ser sempre um aprendiz, mesmo com sucesso.


Uma das qualidades difíceis de serem encontradas nesta ge-
ração que tem disponíveis nas mãos milhões de informações e
conteúdo é a humildade. Ter o mesmo sentimento que houve em
Cristo Jesus, o de ser obediente até a morte e também os senti-
mentos de humilhar-se a si mesmo, despir-se de uma condição
elevada e ser um aprendiz são essenciais para termos os resulta-
dos que Jesus obteve em Seu ministério.
Seja sempre um aprendiz. Renove seu conhecimento, ouça
de coração aberto os seus pastores e líderes, conheça o que outros
estão fazendo, relacione-se com outros líderes, repense. Seja mais
sereno para ouvir uma reconsideração sobre o que você está fa-
zendo, sem perder suas convicções ou a chama do seu chamado.
Ouça aquele jovem que critica o seu ministério, pois ele pode ter
algo para contribuir.

7. Ter unidade com a igreja:


igrejinha dentro da igreja, não!
A unidade é importante, essencial e poderosa. É claro que ter
uma identidade dentro do ministério é importante e ter programa-
ções específicas e com a cara da juventude é saudável. Do contrário,
o trabalho específico com a juventude não seria necessário. Porém,
algo que destrói a igreja e impede o agir de Deus são as divisões, as
vaidades, o foco na visibilidade e o ímpeto de transformar o minis-
tério de juventude em uma igreja dentro da igreja. Em Efésios 4:3,
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VENÇA OS MITOS DO MINISTÉRIO COM A JUVENTUDE

Paulo disse: “Façam todo o esforço para conservar a unidade do Es-


pírito pelo vínculo da paz”. Paulo fala neste texto que a vocação que
recebemos é tão soberana, que é preciso ter uma vida digna dela. É
preciso viver a verdade de que há um só Deus, um só batismo e uma
só fé. Jesus disse que, sem unidade, nenhum reino subsiste. Temos
que levar a unidade a sério. Cuide bem disso! A igreja reflete um
modelo familiar no qual filhos vivem em harmonia com seus pais
e pais com os filhos, um promovendo o outro pelo bem do todo.
Assim deve ser a relação dos pastores da igreja com a juventude.
Lembre-se também que o trabalho de juventude deve ser di-
ferente na forma e não na essência. Na prática, ele acontece con-
textualizando o evangelho e a visão da igreja local para os jovens.
Ter espaço para trabalhar o ambiente da juventude é algo
importante, mas tenha em mente que confiança e liberdade são
conquistados. Estes espaços serão amadurecidos por meio da
lealdade e de boas resoluções de conflitos. É coisa de família.

8. Persistência e fé.
A promessa vem de Deus, mas o cumprimento da promessa
tem muito a ver com a nossa postura. É preciso orientar a nossa
vida e as nossas ações na direção das promessas de Deus. Deus
prometeu a reconstrução dos muros de Jerusalém a Neemias en-
quanto ele orava, mas ele conquistou a dignidade do seu povo e a
reconstrução dos muros trabalhando, e trabalhando duro.
Vejo pessoas dizendo muito precocemente que uma iniciativa
ou outra não deram certo, mas uma ideia precisa passar pelo teste
da perseverança. Bons resultados vêm com bom trabalho feito por
muito tempo. Muitos ministérios não crescem por mera preguiça.
É duro, mas é verdade.
Se você quer conquistar algo grande, não pense que porque
Deus faz milagres e nos surpreende com Seus feitos poderosos, que
isso signifique pouco trabalho. Deus faz milagres e não mágica. Foi
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MINISTÉRIO COM JOVENS

sobre essa prerrogativa que Davi estabeleceu o Reino de Israel, que


Jesus agiu em Seu ministério e que a igreja primitiva avançou e
transformou cidades, culturas e reinos. Foi com muito trabalho.

9. Ter a marca sobrenatural do Espírito Santo.


Existe um fenômeno interessante em nossos dias: “Um dos
principais itens que diferenciam a cultura emergente é a sua forte
atração sobrenatural (...) Apesar dos perigos como a bruxaria e o
ocultismo, esse interesse pelo sobrenatural é maravilhoso, porque o
Reino de Deus é sobrenatural.”1 O que precisamos proporcionar
não é algo forçado ou com alguma aparência específica. Não pre-
cisamos sair imitando tudo que parece ser a “unção mais forte do
momento”. Mas devemos buscar a manifestação que Deus tem
para cada um de nós, para cada igreja e cada ministério.
Não lideramos um negócio e, por isso, dedicação e boas
ideias não serão suficientes. Em João 15:5 Jesus nos deixa muito
claro que, sem Ele, não podemos fazer absolutamente nada. Se isso
é verdadeiro para a vida, imagine para o ministério. Deus usa boas
ideias, planejamento e estudo, mas Ele deseja fazer o que só Ele
pode fazer. A juventude saudável de uma igreja será sempre usada
por Deus para o avivamento que Ele deseja trazer para a Terra. As
ações precisam ter mais que a excelência nos programas, precisam
manifestar a ação única do Espírito Santo.

10. Uma boa gestão e estrutura organizacional


que privilegie o fluir de Deus.
Muitos que são desorganizados usam a desculpa de que
não se pode formatar muito para não perder a unção do Espíri-
to Santo. Já os neuróticos com planilhas, que não suportam per-
der o controle de cada detalhe, defendem que é preciso planejar
minuciosamente. Os dois tipos usam a Bíblia para se defender.

1 BRODEUR, M. & LIEBSCHER, B., 2015.


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VENÇA OS MITOS DO MINISTÉRIO COM A JUVENTUDE

Vejo que o caminho que Deus tem para um ministério relevante é


como o de Moisés conduzindo o povo para a nova terra que Deus
tinha dado. Na verdade, estamos sempre conduzindo o povo para
uma nova terra. Quando pensamos que alguns chegaram lá, mui-
tos outros ainda estão por chegar.
Com Moisés, aconteceu assim: para algumas coisas, Deus
deu uma estrutura com detalhes, como as roupas sacerdotais, as
cores dos tecidos do templo e suas medidas exatas. Mas o que
marcou a caminhada do povo de Deus no deserto foi que toda a
estrutura se movia quando a nuvem se movia. Que toda a estru-
tura organizacional se mova com a nuvem de Deus. Não vale a
pena ter tudo sob controle sem a Presença de Deus a nos guiar.
Tenha a flexibilidade necessária para desmontar, remontar e re-
começar quando for necessário.
Um dos axiomas de meu pastor líder e pai espiritual, Carlito
Paes, é de que a excelência honra a Deus e inspira as pessoas. Que-
remos sempre fazer o nosso melhor com planejamento e trabalho,
pois isso é espiritual e poderoso. Não podemos usar o mover do
Espírito para justificar a desorganização e a falta de planejamento.
No mesmo passo, fazemos eventos e programas, mas não somos
mais comprometidos com eles do que somos com os propósitos de
Deus. É essencial que tudo que é feito no ministério não se torne
algo que idolatremos, mas que sirvamos a Deus e à Sua vontade.
Muito do que fazemos é transitório: nomes, programas, técnicas,
roteiros e projetos. O foco imutável é Jesus, a Palavra, vidas e a igre-
ja. O ministério de juventude não é um fim, mas um meio para
alcançar a nova geração para Cristo e fortalecer a igreja local.

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