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ANÁLISE NA RETA
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.7 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.8 Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
iii
iv SUMÁRIO
2.9 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
2.10 Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
11 Apêndice 469
Meta
Objetivos
Ao final desta aula, o aluno deverá ser capaz de aplicar corretamente as operações
básicas envolvendo números reais, trabalhar com as propriedades elementares do módulo
de um número real, e encontrar o ı́nfimo e o supremo de alguns conjuntos contituı́dos de
números reais.
1
2 CAPÍTULO 1. PRIMEIRA AULA: NÚMEROS REAIS
Pré-requisitos
1.1 Introdução
Aproveitamos este momento para esclarecer que as notações dispostas neste material po-
dem ser encontradas em qualquer referência sobre Lógica Matemática (ver [16]), com exceção
de algumas. Por exemplo, em algumas demonstrações aparecerão os seguintes sı́mbolos: ⇒)
e ⇐).
⇐) nos dirá que estamos demonstrando a implicação recı́proca exposta no mesmo resul-
tado.
Em outros casos, utilizaremos a simbologia i) ⇒ ii). Esta indicará que, logo em seguida,
faremos a prova de como chegar na informação contida em ii) usando a presente em i).
É importante que o leitor procure responder os exercı́cios contidos neste material. Em to-
das as aulas, as atividades estarão dispostas no conteúdo, chamadas exercı́cios de fixação, no
final da aula, como exercı́cios propostos, e por fim daremos uma lista, denominada exercı́cios
resolvidos, para que o aluno tenha uma ideia de como as atividades desta disciplina devem
1.2. CORPO DOS NÚMEROS REAIS 3
ser respondidas.
Para finalizar esta nossa primeira conversa, afirmo que a maioria das figuras expostas
neste material foi acrescentada para um melhor acompanhamento das demonstrações sub-
sequentes. Aproveito para agradecer ao aluno Natã Firmino Santana Rocha e a professora
Débora Lopes da Silva por suas cooperações na contrução destes desenhos.
Nesta seção, consideraremos que os números reais já são conhecidos pelo leitor e que
existem duas operações binárias envolvendo tais elementos (para mais detalhes ver Apêndice).
A seguir, mostraremos quais são as propriedades elementares satisfeitas por essas e, além
disso, discutiremos a existência e unicidade de alguns elementos especiais (para mais detalhes
ver Apêndice). Por fim, verificaremos que as regras de sinal tão utilizadas são, de fato,
válidas.
2. (Comutatividade) x + y = y + x e xy = yx, ∀ x, y ∈ R;
0 + x = x + 0 = x e 1x = x1 = x, ∀ x ∈ R.
4. (Elemento Inverso) Dado um número real x existe um número denotado por (−x) tal
que
x + (−x) = (−x) + x = 0.
Além disso, para cada número real x ̸= 0 existe um número real denotado por x−1 ,
obedecendo as seguintes igualdades
xx−1 = x−1 x = 1.
Estes números são chamados elementos inversos a x, para a adição e para a multi-
plicação, respectivamente;
para quaisquer a, b, x, y ∈ R.
A pergunta que pode ser feita neste momento é a seguinte: os elementos neutros e
inversos para as operações de adição e multiplicação são únicos? A resposta está na seguinte
afirmação.
Com isso, o elemento neutro da multiplicação é único. Analogamente, é possı́vel provar que
o elemento neutro da adição é único. Por outro lado, dado x ∈ R, suponha que existe y ∈ R
tal que x + y = y + x = 0. Assim sendo,
É sabido que existem outras duas operações elementares para o conjunto dos números
reais: a subtração e a divisão. Então, por que não as apresentamos até agora? Veremos
na definição a seguir que, estas aplicações têm definições imediatas a partir da adição e
multiplicação (para mais detalhes ver Apêndice).
−(x, y) = x − y := x + (−y), ∀ x, y ∈ R,
÷(x, y) = x ÷ y := xy −1 , ∀ x ∈ R, y ∈ R∗ ,
aqui R∗ = R\{0}.
Algumas técnicas básicas envolvendo números reais são utilizadas diariamente sem a
devida explicação. Para que este abuso seja solucionado, vejamos o seguinte resultado.
i) (Lei do Corte) x + y = x + z ⇒ y = z;
ii) x0 = 0x = 0;
⇒ y = z.
Logo, a Lei do Corte é válida.
x0 + 0 = x0 = x(0 + 0) = x0 + x0 ⇒ 0 = x0.
Por comutatividade 0x = 0.
iii) Para provar iii) suponha que x ̸= 0. Assim, existe x−1 ∈ R tal que xx−1 = x−1 x = 1.
Dessa forma, se xy = 0, temos que
Com isso, x(−y) é o elemento inverso de xy. Mas, o elemento inverso é único (ver afirmação
1.1). Por fim, x(−y) = −(xy). As outras regras de sinais possuem provas análogas.
Obs 1.2 (Regra de Sinais). Podemos concluir, a partir da regra de sinais, que
A partir deste momento, vamos supor que existe um conjunto, entitulado conjunto dos
números reais positivos, que satisfaz algumas propriedades já conhecidas serem verdadeiras.
Tal conjunto nos permitirá estebelcer uma ordem parcial relacionando dois números reais.
1.3. CORPO ORDENADO DOS NÚMEROS REAIS 7
Por conseguinte, estaremos aptos a definir ı́nfimo e supremo de conjuntos limitados (para
mais detalhes ver Apêndice).
Definição 1.2 (Corpo Ordenado). Dizemos que R é um corpo ordenado, pois existe um
subconjunto R+ ⊆ R, denominado conjunto dos números reais positivos, tal que:
Obs 1.3 (Corpo Ordenado). Em geral, um corpo C qualquer é dito ordenado se existe
um subconjunto P ⊆ C satisfazendo as mesmas condições que R+ acima. Por este fato,
estabelecemos a Definição 1.2.
R− = {x ∈ R : (−x) ∈ R+ }
Obs 1.4. Unindo a Definição 1.3 à Lei da Tricotomia (ver Definição 1.2) concluı́mos que um
número real ou é nulo, ou é positivo, ou é negativo, isto é, R = {0} ∪ R+ ∪ R− , onde esta
união é disjunta.
Demonstração. Seja x ∈ R∗ . Pela Lei da Tricotomia (ver Definição 1.2), concluı́mos que ou
x ∈ R+ , ou (−x) ∈ R+ . Se x ∈ R+ , então x2 = xx ∈ R+ , pela Definição 1.2. Ou seja, x2
é positivo. Por outro lado, se (−x) ∈ R+ , então x2 = (−x)(−x) ∈ R+ , pela Definição 1.2 e
regra de sinais. Portanto, x2 é positivo.
Obs 1.5 (Corpo Não-Ordenado). A partir deste exemplo podemos concluir que o conjunto
dos números complexos C é um exemplo de corpo que não é ordenado, pois i2 = −1 é
negativo.
Com a existência dos números reais positivos é possı́vel estabelecer uma relação de ordem
parcial em R (para mais detalhes ver Apêndice). Para determiná-la, precisaremos da seguinte
definição.
Definição 1.4 (Menor ou Maior). Sejam x, y ∈ R. Dizemos que x é menor que y, ou que y
é maior que x, se y − x ∈ R+ .
A proposição a seguir garante que é possı́vel definir uma relação de ordem parcial em R
(para mais detalhes ver Apêndice).
1.4. RELAÇÃO DE ORDEM NO CONJUNTO DOS NÚMEROS REAIS 9
iii) (Monotonicidade) x < y ⇒ x + z < y + z, xz < yz, se z > 0 e xz > yz, se z < 0.
Demonstração. i) Considere que x < y e y < z. Assim sendo, usando a Definição 1.4, temos
que z − y > 0 e y − x > 0. Então,
z − x = z − y + y − x > 0,
ii) Use a Lei da Tricotomia sobre y − x ∈ R para provar o segundo item. De fato,
y + z − (x + z) = y − x > 0.
yz − xz = (y − x)z > 0,
através da Definição 1.2, isto é, xz < yz. Por outro lado, se z < 0, então
Notação: x ≤ y ou y ≥ x.
Vamos agora mostrar, através de um exemplo, que a média aritmética de dois números
reais está localizada exatamente entre os mesmos.
x+y
Exemplo 1.3. Sejam x, y ∈ R, com x ≤ y. Então x ≤ ≤ y. De fato,
2
x+y x+y
x≤ ⇔ 2x ≤ 2 ⇔ 2x ≤ x + y ⇔ 2x − x ≤ x + y − x ⇔ x ≤ y.
2 2
x+y
Analogamente, prova-se que ≤ y.
2
Obs 1.7. “≤” é uma relação de ordem parcial em R, pois as seguintes propriedades são
verdadeiras (para mais detalhes ver Apêndice):
a) (Reflexividade) x ≤ x, ∀ x ∈ R;
b) (Anti-simetria) x ≤ y e y ≤ x ⇔ x = y, x, y ∈ R;
c) (Transitividade) x ≤ y e y ≤ z ⇒ x ≤ z, ∀ x, y, z ∈ R.
Considere, agora, que o conjunto dos números naturais é denotado por N. Defina uma
função f : N → R, indutivamente, por
f (1N ) = 1R e f (n + 1N ) = f (n) + 1R ,
Por conseguinte, f (n) < f (m), se n < m, ou seja f é uma função injetora. Portanto,
f : N → f (N) ⊆ R é uma bijeção. Com isso, podemos identificar f (N) com N. Com esta
identificação garantimos que N ⊆ R. Agora, seja n ∈ N. Logo, n ∈ R. Dessa forma, −n ∈ R.
Consequentemente, Z ⊆ R, onde Z é o conjunto dos inteiros, já que 0 ∈ R. Por fim, sejam
p, q números inteiros com q ̸= 0. Assim sendo, p, q ∈ R e p ÷ q = pq −1 ∈ R. Isto é, Q ⊆ R,
1.4. RELAÇÃO DE ORDEM NO CONJUNTO DOS NÚMEROS REAIS 11
N ⊆ Z ⊆ Q ⊆ R.
(Para mais detalhes ver Apêndice). A última inclusão é própria, isto é, existe um número
real que não é racional. Veremos a prova desta afirmação no decorrer do material.
Exercı́cios de Fixação
1. Prove que se x, y ∈ R então
ii) x2 = x;
iii) (x − 1)(x + 2) = 0.
1 1 1
4. Se x, y ∈ R são não-nulos, mostre que = · .
xy x y
5. Se x, y ∈ Q, mostre que x + y, x · y ∈ Q.
√
6. Se 0 < x < y, mostre que x < xy < y.
12 CAPÍTULO 1. PRIMEIRA AULA: NÚMEROS REAIS
Obs 1.8. A Definição 1.6 é equivalnente a |x| = max{x, −x}, onde x ∈ R. Por conseguinte,
|x| ≥ x, −x, x ∈ R. Por monotonicidade,
−|x| ≤ x ≤ |x|, ∀ x ∈ R.
Além disso,
|x| ≥ 0 e |x| = | − x|, ∀ x ∈ R.
i) |y| ≤ δ;
ii) −δ ≤ y ≤ δ.
1.5. MÓDULO DE UM NÚMERO REAL 13
i) |x − a| ≤ δ;
ii) a − δ ≤ x ≤ a + δ.
|x − a| ≤ δ ⇔ −δ ≤ x − a ≤ δ ⇔ a − δ ≤ x ≤ a + δ.
Obs 1.10. Os resultados obtidos na Proposição 1.4 e no Corolário 1.1 continuam verdadeiros
se substituirmos ≤ por <.
ii) (Módulo do Produto) |xy| = |x||y|, ou, em palavras, o módulo do produto é o produto dos
módulos;
14 CAPÍTULO 1. PRIMEIRA AULA: NÚMEROS REAIS
x |x|
iii) (Módulo da Divisão) Seja y ̸= 0. Logo, = , ou, em palavras, o módulo da divisão
y |y|
x
é a divisão dos módulos. Aqui estamos usando a seguinte notação xy −1 = ;
y
Demonstração. i) Sejam x, y ∈ R. Vimos que −|x| ≤ x ≤ |x| e −|y| ≤ y ≤ |y|. Assim sendo,
somando membro a membro as desigualdades acima encontramos
Usando a Proposição 1.4, obtemos a desigualdade triangular, isto é, |x + y| ≤ |x| + |y|.
|x|2 = x2 , ∀ x ∈ R.
Dessa forma,
|xy|2 = (xy)2 = x2 y 2 = |x|2 |y|2 = (|x||y|)2 ,
ou seja,
(|xy| − |x||y|)(|xy| + |x||y|) = |xy|2 − (|x||y|)2 = 0.
Como R não tem divisores de zero, então, |xy| = ±|x||y|. Por fim, |xy| = |x||y|, pois o
módulo é sempre ≥ 0. Isto prova ii).
1 1
iii) Primeiramente, vamos provar que = . De fato, usando o item ii), encontramos
y |y|
iv) Veja que a primeira desigualdade em iv) já foi estabelecida. Para finalizar, utilize a
desigualdade triangular para concluir que
|x| = |x − y + y| ≤ |x − y| + |y|.
Com isso, |x| − |y| ≤ |x − y|. Analogamente, |y| ≤ |y − x| + |x|. Logo, −(|x| − |y|) ≤ |x − y|,
ou seja,
||x| − |y|| ≤ |x − y|.
Definição 1.7 (Intervalos Limitados). Sejam a, b ∈ R tais que a < b. Abaixo estão descritos
os intervalos limitados em R:
• (−∞, ∞) = R;
|x − a| ≤ δ ⇔ a − δ ≤ x ≤ a + δ ⇔ x ∈ [a − δ, a + δ].
Analogamente,
|x − a| ≤ δ ⇔ a − δ ≤ x ≤ a + δ ⇔ x ∈ [a − δ, a + δ].
Analogamente,
Exercı́cios de Fixação
√
1. Se x ∈ R, mostre que |x| = x2 .
i) |4x − 5| ≤ 13;
ii) |x2 − 1| ≤ 3.
i) |x − 1| > |x + 1|;
1
i) max{x, y} = (x + y + |x − y|);
2
1
ii) min{x, y} = (x + y − |x − y|).
2
Nesta seção, incluiremos a ideia de ı́nfimo e supremo de um conjunto (para mais detalhes
ver Apêndice). Estes conceitos são essenciais para a definição, que estabeleceremos a seguir,
de Integral a Riemann. Para este fim, apresentaremos inicialmente o seguinte conceito.
[ { { { { [
x y z
-M M
X
Figura 1.1: Conjunto Limitado
Obs 1.14. Segue da Observação 1.13 que qualquer subconjunto de um conjunto limitado é
também um conjunto limitado.
Obs 1.15. O item ii) pode ser substituı́do por uma das seguintes afirmações equivalentes:
ii’) se y < sup X então y não é cota supeior de X;
( [
supX-e x X supX
Obs 1.16 (Corpo Completo). Em geral, um corpo ordenado qualquer C é dito completo
se existe supremo para qualquer subconjunto não-vazio e limitado superiormente de C. O
conjunto Q munido da adição e multiplicação herdadas de R é um corpo. O subconjunto
X = {x ∈ Q : x ≥ 0 e x2 < 2} ⊆ Q
Exemplo 1.6 (Supremo de Intervalos). Veja que sup(0, 1) = 1. De fato, é fácil ver que 1 é
ε
cota superior de (0, 1). Além disso, dado ε > 0, existe 1 − ∈ (0, 1) tal que
2
ε
1−ε<1− < 1.
2
Portanto, 1 − ε não é cota superior de (0, 1). Logo, sup(0, 1) = 1. Observe que, sup(0, 1) =
1 ̸∈ (0, 1). Analogamente, sup(0, 1] = sup[0, 1) = sup[0, 1] = 1. Em geral, para a ≤ b, temos
que
sup(a, b) = sup(a, b] = sup[a, b) = sup[a, b] = sup(−∞, b) = sup(−∞, b] = b.
Portanto,
x + y ≤ c + d, ∀ x + y ∈ X + Y,
x + y ≤ sup X + sup Y, ∀ x + y ∈ X + Y.
20 CAPÍTULO 1. PRIMEIRA AULA: NÚMEROS REAIS
ε ε
sup X − < x e sup Y − < y.
2 2
Somando estes dois resultados encontramos sup X + sup Y − ε < x + y ∈ X + Y . Isto nos
diz que sup(X + Y ) = sup X + sup Y .
Obs 1.17. O item ii) da Definição 1.12 pode ser substituı́do por um dos seguintes itens
equivalentes:
[ (
inf X x X inf X+e
Exemplo 1.8 (Ínfimo de Intervalos). Analogamente ao que foi feito no Exemplo 1.6, po-
demos concluir, para a ≤ b, que
Exemplo 1.10. Seja X ⊆ R não-vazio e limitado inferiormente. Seja a < 0. Vamos provar
que aX é limitado superiormente e sup(aX) = a inf X. De fato, existe c ∈ R tal que c ≤ x,
∀ x ∈ X. Portanto, por monotonicidade (ver Teorema 1.3),
ax ≤ ac, ∀ ax ∈ aX,
ax ≤ a inf X, ∀ ax ∈ aX,
pois inf X é cota inferior de X. Dado ε > 0, existe x ∈ X tal que x < inf X − ε
a
(veja que
− aε > 0). Portanto,
a inf X − ε < ax, com ax ∈ aX.
O Teorema abaixo nos mostra uma maneira de provar que um conjunto formado somente
por números naturais é ilimitado.
Teorema 1.2. As seguintes afirmações são verdadeiras:
i) N é ilimitado superiormente em R;
Dessa forma, sup N < n + 1 ∈ N, absurdo, já que, sup N é cota superior de N.
1
∃n∈N: < n.
y
22 CAPÍTULO 1. PRIMEIRA AULA: NÚMEROS REAIS
Ou seja, y > 1
n
e 1
n
∈ X. Portanto, inf X = 0.
Vejamos agora que condições precisamos para que uma certa quatidade de intervalos
tenha interseção não-vazia.
Então, ∃ x ∈ ∩n∈N In .
xn ≤ x ≤ yn , ∀ n ∈ N,
Exemplo 1.11. É importante que os intervalos do Teorema 1.3 sejam fechados. Por exem-
plo, considere os intervalos In = (0, n1 ) são encaixados, mas ∩n∈N In = ∅ (verifique!).
Exemplo 1.12. Considere os intervalos In = [0, n1 ], os quais são encaixados. O Teorema 1.3
nos garante que ∃ x ∈ ∩n∈N In . Na verdade, x = 0 (verifique!).
1.6. CORPO COMPLETO DOS NÚMEROS REAIS 23
Exemplo 1.13. max[0, 1] = 1 e min[0, 1] = 0. Observe que (0, 1) não possui máximo nem
mı́nimo, porém possui supremo 1 e ı́nfimo 0.
Abaixo colocaremos algumas definições básicas sobre conjuntos formado por números.
Exemplo 1.15. O conjunto dos números pares 2N = {2, 4, 6, ...} é enumerável. Basta definir
f : N → 2N por
f (n) = 2n, ∀ n ∈ N.
Demonstração. Vamos provar que uma função f : N → R não pode ser sobrejetiva. Como
R é ilimitado superiormente ∃ a1 ∈ R tal que f (1) < a1 . Seja I1 = [a1 , b1 ] um intervalo
não-degenerado. Assim sendo, f (1) ̸∈ I1 . Se f (2) ∈ I1 , então ou f (2) ̸= a1 ou f (2) ̸= b1 .
Considere,
[ sem ]perda de generalidade, que f (2) ̸= b1 . Ou seja, que f (2) < b1 . Construa
I2 = b1 +f (2)
2
, b1 . Logo, I2 ⊆ I1 e f (2) ̸∈ I2 . Se f (2) ̸∈ I1 , então, defina I2 = I1 . De qualquer
maneira,
f (j) ̸∈ Ij , ∀ j = 1, 2, e I2 ⊆ I1 .
Pelo Teorema dos Intervalos Encaixados, ∃ x ∈ ∩n∈N In . Suponha, por absurdo, que x =
f (m), para algum m ∈ N. Logo, x ̸∈ Im . Isto é um absurdo. Com isso, x ̸∈ f (N). Ou seja
f não é sobrejetiva. Por fim, R é não-enumerável.
Agora estamos prontos para mostrar por que existem números reais que não são racionais.
y
f −1 (y) = , ∀ y ∈ (−1, 1),
1 − |y|
(y − x)z + x + y
g(z) = , ∀ z ∈ (−1, 1),
2
É fácil ver que, g é uma função bijetora. Logo, (x, y) é não-enumerável. Seja I um intervalo
não-degenerado. Então, ∃ x, y ∈ R : (x, y) ⊆ I. Como (x, y) é não-enumerável, então, I é
não-enumerável.
A seguir mostraremos que todo intervalo não-degenerado de números reais é formado por
números racionais e irracionais.
x z/n+1/n y
z/n
Como x ∈ R, então
z z+1
∃z∈Z: ≤x≤ .
n n
26 CAPÍTULO 1. PRIMEIRA AULA: NÚMEROS REAIS
z+1
x< < y,
n
pois [ nz , z+1
n
] tem comprimento n1 . Com isso, z+1
n
∈ [x, y] ⊆ I. Por fim, z+1
n
∈Ie z+1
n
∈ Q.
Exercı́cios de Fixação
5. Mostre que o corpo dos números reais é arquimediano, isto é, dados x, y ∈ R, com
0 < x < y, existe N ∈ N tal que N x > y.
1.7 Conclusão
Caro aluno, ao final desta aula, é importante ressaltar a relevância do resultado que
garante a existência de números irracionais e racionais em qualquer intervalo não-degenerado,
já que podemos diminuir o quanto desejarmos o comprimento do intervalo que ainda assim
encontramos tais números. Isto nos possibilita perguntar se é possı́vel fazer um estudo no
conjunto dos números reais de forma minuciosa, ou seja, podemos estudar o que ocorre
próximo a um número real qualquer? A resposta é afirmativa e está exposta na aula 4.
1.8. RESUMO 27
1.8 Resumo
Exercı́cios:
√ x+y
7. Sejam x, y > 0. Prove que xy ≤ . Ou seja, a média geométrica nunca supera a
2
média aritmética.
√ √ √ √
8. Sejam x, y > 0, racionais. Prove que x+ y ∈ Q ⇔ x, y ∈ Q.
28 CAPÍTULO 1. PRIMEIRA AULA: NÚMEROS REAIS
9. Sejam x ∈ Q∗ e y ∈ R\Q. Prove que xy, x + y ∈ R\Q. Dê exmplo de dois números x, y
irracionais tais que x + y, xy ∈ Q.
10. (Exemplo de Irracional) Prove que não existe racional cujo quadrado é 2.
2 − a2 b2 − 2
x < 1, x < ey< .
2a + 1 2b
Prove que (a + x)2 < 2 < (b − y)2 e b − y > 0. Em seguida, considere o conjunto limitado
√
X = {a > 0 : a2 < 2} e conclua que o número real c = sup X cumpre c2 = 2, isto é, c = 2.
13. Prove que ı́nfimo, supremo, mı́nimo, máximo de um conjunto, quando existem, são
únicos.
14. Sejam X ⊆ Y ⊆ R conjuntos não-vazios limitados. Prove que inf Y ≤ inf X ≤ sup X ≤
sup Y .
17. Seja X ⊆ R não-vazio e limitado. Seja a < 0. Prove que inf(aX) = a sup X.
Questões Resolvidas:
Ex1. Sejam 0 < x < y números reais. Prove que 0 < y −1 < x−1 .
Ex3. Sejam X não-vazio, limitado inferiormente e a > 0. Seja aX = {ax : x ∈ X}. Então
inf(aX) = a inf X.
Demonstração. De fato,
∃ c ∈ R : c ≤ x, ∀ x ∈ X.
a ≤ f (x) ≤ b e c ≤ g(x) ≤ d, ∀ x ∈ X.
Portanto,
a + c ≤ f (x) + g(x) ≤ b + d, ∀ x ∈ X.
Isto nos diz que f (X)+g(X) é limitado. Por definição, f +g é uma função limitada.
ii. Mostre que (f + g)(X) ⊆ f (X) + g(X). Conclua que sup(f + g) ≤ sup f + sup g e que
inf(f + g) ≥ inf f + inf g;
ε ε
y − x < inf Y + − sup X + = ε.
2 2
⇐) Suponha, por contraposição, que sup X < inf Y . Seja ε = inf Y − sup X > 0. Lembre
que, x ≤ sup X e inf Y ≤ y, ∀ x ∈ X, y ∈ Y . Daı́,
y − x ≥ inf Y − sup X = ε, ∀ x ∈ X, y ∈ Y.
Auto-Avaliação
Próxima Aula
Caro aluno, utilizaremos os conceitos e resultados obtidos sobre módulo e ordem parcial
em R para na aula seguinte definirmos sequências de números reais convergentes.
32 CAPÍTULO 1. PRIMEIRA AULA: NÚMEROS REAIS
Referências Bibliográficas
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33
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[16] Nolt, J.; Rohatys, D.; Varzi, A., Theory and problems or logic. Second edition, New
York, McGraw-Hill, 2009. 279p.
[17] Rudin, W., Principles of Mathematical Analysis. Third Edition, New York, McGraw-
Hill, Inc., 1976. 351p.
[18] Smoller, J., Shock Waves and Reaction-Diffusion Equations. 2nd ed., Springer-Verlag,
1994.
[19] Tveito, A.; Winther, R., Introduction to Partial Differential Equations. A Computa-
tional Approach. New York, 1961.
Professor Revisor
Meta
Objetivos
Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de provar se uma sequência, formada por
números reais, converge ou não. No primeiro caso, quando possı́vel, encontrar o limite dessa
sequência. Além disso, o aluno precisará saber aplicar corretamente alguns resultados de
extrema relevância, como, por exemplo, os Teoremas do Sanduı́che e da Monotonicidade nas
atividades propostas deste material.
Pré-requisitos
35
36 CAPÍTULO 2. SEGUNDA AULA: SEQUÊNCIA DE NÚMEROS REAIS
2.1 Introdução
Nesta aula, convidamos o leitor a mergulhar no estudo das sequências de números reais.
A partir deste momento, estamos interessados em saber se elementos reais, em uma quan-
tidade enumerável, estão tão próximos de um determinado valor quanto almejarmos. Estes
elementos denotarão o que denominamos sequência e a esta proximidade daremos o nome
de convergência da sequência. Vamos provar que tal convergência ocorre em alguns casos,
mostrando algumas condições necessárias e outras suficientes para que este fato seja consu-
mado. Em Matemática, a convergência de uma sequência, descrita em palavras acima, serve
também para que possamos obter informações sobre o valor ao qual essa sequência converge,
a partir das caracterı́sticas dos termos desta mesma. Ao aluno interessado em aplicações,
esta aula traz conteúdos que têm aplicações diretas em Equações Diferenciais Ordinárias e
Parcias (ver [3]). Estabeleceremos, também nesta aula a ideia de quando uma sequência
de números reais possue uma quantidade infinita de termos tão distantes da origem quanto
quisermos.
Nesta seção, estudaremos sequências de números reais. O nosso maior interesse, neste
conteúdo, é saber quando existe convergência de uma determinada sequência ou não. Per-
correremos um caminho natural de definições, exemplos e resultados para alcançarmos nossa
meta.
Definição 2.1 (Sequência). Uma função x : N → R dada por x(n) = xn , para todo n ∈ N, é
denominada uma sequência de números reias. Neste caso, a imagem xn de um dado número
n ∈ N é chamada n-ésimo termo da sequência x : N → R.
Notação: x = (xn )n∈N , (x1 , x2 , ..., xn , ...) ou (xn ), esta última quando não houver possibili-
dade de confusão.
Obs 2.1. Observe a diferença entre a imagem da sequência e a própria sequência. Vejamos
um exemplo. Considere a sequência (xn ) = (0, 0, ..., 0, ...). Esta difere de sua imagem, a qual
é dada através do conjunto x(N) = {x1 , x2 , ..., xn , ...} = {0}.
Obs 2.2. Observe que, através da definição de igualdade entre funções, duas sequências
(xn ), (yn ) são iguais se xn = yn , para todo n ∈ N. Duas sequências podem ter a mesma
2.2. SEQUÊNCIAS LIMITADAS E CONVERGENTES 37
imagem, mas serem distintas. De fato, considere as sequências (xn ) = (1, 2, 1, 2, ...) e (yn ) =
(2, 1, 2, 1, ...). Estas sequências são distintas, pois x1 = 1 e y1 = 2 são diferentes. Por outro
lado, x(N) = y(N) = {1, 2}.
Definiremos a seguir quando uma sequência pode ser chamada limitada inferiormente ou
superiormente.
Definição 2.2. Uma sequência (xn ) é dita limitada inferiormente (respectivamente limi-
tada superiormente) se o conjunto imagem x(N) ⊆ R é um conjunto limitado inferiormente
(respectivamente limitado superiormente).
Obs 2.3. Usando a Definição 1.9, podemos concluir que uma sequência (xn ) é limitada
inferiormente (respectivamente limitada superiormente) se existe c ∈ R tal que c ≤ xn , para
todo n ∈ N (respectivamente ∃ d ∈ R : xn ≤ d, para qualquer n ∈ N). Aqui c e d são
chamadas cotas inferior e superior, respectivamente.
Exemplo 2.1. Pelo Exemplo 1.5, a sequência (1/n)n∈N é limitada inferior e superiormente.
Exemplo 2.2. A sequência x = (2n ) é uma sequência limitada inferiormente, mas não supe-
riormente. Com efeito, por indução, 2 ≤ 2n , ∀ n ∈ N. Portanto, x é limitada inferiormente
por 2. Usando a Desigualdade de Bernoulli (ver lista de exercı́cios resolvidos de números
reais), obtemos
2n = (1 + 1)n ≥ 1 + n · 1 = 1 + n, ∀ n ∈ N.
Quando uma sequência possui cota inferior e superior dizemos simplesmente que esta é
limitada. Mais simplesmente, temos a seguinte definição.
Definição 2.3 (Sequência Limitada). Dizemos que uma sequência é limitada se esta é limi-
tada inferior e superiormente.
Obs 2.4. A Observação 2.3 nos diz que uma sequência é limitada se existem c, d ∈ R tais
que
c ≤ xn ≤ d, ∀ n ∈ N,
[
xn
x1
1 2 n
x2
-M
[
Figura 2.1: Sequência limitada
Exemplo 2.3. A sequência (1/n)n∈N é limitada. Por outro lado, a sequência (2n ) é ilimitada.
Definição 2.4 (Limite de Sequência). Seja (xn ) uma sequência. Dizemos que o limite de
xn é x ∈ R se dado ε > 0, existe N ∈ N tal que
xn
x2
x +e
(
xN
x
x -e
(
x1
0 n
1 2 N
Vejamos nas três observações abaixo maneiras equivalentes de definir limite de sequências.
2.2. SEQUÊNCIAS LIMITADAS E CONVERGENTES 39
Obs 2.8. Observe que lim xn = x ⇔ dado ε > 0, existe N ∈ N tal que todos x′n s ∈
(x − ε, x + ε), exceto, possivelmente, x1 , x2 , ..., xN −1 .
Definição 2.5 (Sequência Convergente). Se lim xn = x ∈ R, então dizemos que (xn ) é uma
sequência convergente e converge para x. Caso contrário, (xn ) é dita divergente.
Exemplo 2.4 (Limite da Constante). Considre a sequência constante (xn ). Isto é, xn = c =
constante, ∀ n ∈ N. Logo, dado ε > 0, temos que
|xn − c| = |c − c| = 0 < ε, ∀ n ≥ 1.
xn
c +e
(
x1 = x2 = =c
c -e
(
0 n
1 2 N
Exemplo 2.5. Considere a sequência (1/n). Afirmamos que lim 1/n = 0. Com efeito, dado
40 CAPÍTULO 2. SEGUNDA AULA: SEQUÊNCIA DE NÚMEROS REAIS
1/n
1/2
e
(
1/N
0 1 2 N n
-e
(
x -e x x + e yN y y +e
2
( )( )
xN +1
1
xN y - e
1
yN +1
2
Demonstração. Seja (xn ) uma sequência convergente. Suponha, por absurdo, que
y−x
Sem perda de generalidade, considere que x < y. Seja ε = > 0. Assim, existem
2
N1 , N2 ∈ N tais que
xn ∈ (x − ε, x + ε) ∩ (y − ε, y + ε).
2.2. SEQUÊNCIAS LIMITADAS E CONVERGENTES 41
Definição 2.6 (Subsequência). Seja x = (xn )n∈N uma sequência de números reais. Uma
restrição y = x|N′ : N′ → R de x, onde N′ = {n1 < n2 < ... < nk < ...} ⊆ N é um conjunto
infinito, é denominada subsequência de x.
Notação: y = (xnk )k∈N , (xn )n∈N′ , (xn1 , xn2 , ..., xnk , ...) ou (xnk ), esta última, caso não haja
possibilidide de confusão.
Exemplo 2.6. (2n)n∈N = (2, 4, 6, ..., 2n, ...) é uma subsequência da sequência (n)n∈N =
(1, 2, 3, ..., n, ...). Por outro lado (3, 1, 2, ...) não é uma subsequência desta mesma sequência.
Obs 2.9. Denotaremos o limite de uma subsequência por lim xnk , lim′ xn ou lim xnk , esta
k→∞ n∈N
última quando não houver possibilidade de confusão. Este tem a seguinte definição:
Teorema 2.2. Seja (xn ) uma sequência convergente, com lim xn = x. Então, toda sub-
sequência de (xn ) é convergente e converge para x.
Demonstração. Seja (xn )n∈N′ uma subsequência de (xn )n∈N . Vamos provar que lim′ xn = x.
n∈N
Dado ε > 0, ∃ N ∈ N tal que
∀ n ≥ N, tem-se xn ∈ (x − ε, x + ε),
ou seja, lim′ xn = x.
n∈N
Obs 2.10. O Teorema 2.2 nos dá condições para provar que uma determinada sequência
diverge. Veja o exemplo a seguir.
A proposição a seguir nos informa que uma quantidade finita de termos não interfere no
resultado do limite de uma sequência convergente.
Demonstração. Seja (xn ) uma sequência convergente, com lim xn = x. Seja ε = 1 > 0.
Assim, ∃ N ∈ N tal que
∀ n ≥ N, tem-se xn ∈ (x − 1, x + 1).
2.3. SEQUÊNCIAS MONÓTONAS 43
Seja d ∈ R tal que −d < x − 1 e x + 1 < d. Assim sendo, xn ∈ (−d, d), ∀ n ≥ N . Ou seja,
|xn | < d, ∀ n ≥ N . Seja
M = max{|x1 |, |x2 |, ..., |xN −1 |, d}.
Obs 2.11. A recı́proca do Teorema 2.3 é falsa. De fato, considere a sequência (1, 3, 1, 3, ...)
limitada, a qual é divergente, basta rever o Exemplo 2.7.
Exemplo 2.8. Considere a sequência (xn )n∈N = (n)n∈N . Veja que esta sequência é ilimitada,
pois x(N) = N é ilimitado pelo Teorema 1.2. Logo, usando o Teorema 2.3, (xn )n∈N = (n)n∈N
diverge.
Vejamos que condições devemos acrescentar a uma sequência para que a recı́proca do
Teorema 2.3 seja válida. Para este fim, colocaremos as seguintes definições.
Definição 2.7 (Sequência Não-decrescente). Dizemos que uma sequência (xn ) é não-decres-
cente (respectivamente crescente) se xn ≤ xn+1 , ∀ n ∈ N (respectivamente xn < xn+1 , ∀ n ∈
N).
Definição 2.8 (Sequência Não-crescente). Uma sequência (xn ) é dita não-crescente (respec-
tivamente decrescente) se xn+1 ≤ xn , ∀ n ∈ N (respectivamente xn+1 < xn , ∀ n ∈ N).
Definição 2.9 (Sequência Monótona). Uma sequência é dita monótona se satisfaz a desi-
gualdade estabelecida na Definição 2.7 ou na 2.8.
ou seja,
xn ∈ (y − ε, y + ε), ∀ n ≥ N.
Obs 2.12. Na prova do Teorema 2.4, pode considerar que a sequência é monótona não-
decrescente, e com isso, prova-se, analogamente, que y = sup x(N).
Exemplo 2.10. A sequência (1/n) monótona decrescente, então, usando o Teorema 2.4,
temos que lim n1 = inf {1/n : n ∈ N} = 0 (ver Exemplo 1.5). Veja que, esta é outra maneira
de verificar a convergência desta sequência (ver Exemplo 2.5).
Exercı́cios de Fixação
1. A sequência (xn ) é definida pelas seguintes fórmulas para o n-ésimo termo. Escreva os
primeiros 5 termos nestes casos
i) xn = 1 + (−1)n ;
1
ii) xn = ;
n(n + 1)
1
iii) xn = .
n2 + 2
2. Os primeiros termos de uma sequência (xn ) são dados abaixo. Assumindo que os outros
termos estabelecem a mesma lei estabelecida por estes termos, encontre a fórmula para o
2.3. SEQUÊNCIAS MONÓTONAS 45
n-ésimo termo xn .
i) 5, 7, 9, ...;
i) x1 = 1, xn+1 = 3xn + 1;
x
4. Seja x ∈ R. Mostre que lim = 0.
n
n
i) lim = 0;
n2 +1
3n + 1 3
ii) lim = ;
2n + 5 2
2n
iii) lim = 2.
n+1
7. Seja x1 > 1, xn+1 = 2 − 1/xn , ∀ n ∈ N. Mostre que (xn ) é monótona e limitada. Encontre
seu limite.
46 CAPÍTULO 2. SEGUNDA AULA: SEQUÊNCIA DE NÚMEROS REAIS
√
8. Seja x1 = 1, xn+1 = 2 + xn , ∀ n ∈ N. Mostre que (xn ) é monótona e limitada. Encontre
seu limite.
√ √
9. Seja x1 = p, xn+1 = p + xn , ∀ n ∈ N. Mostre que (xn ) é monótona e limitada.
√
Encontre seu limite. Sugestão: Um limite superior é 1 + 2 p.
10. Seja (xn ) uma sequência limitada. Para cada n ∈ N defina an = sup{xk : k ≥ n} e
bn = inf{xk : k ≥ n}. Prove que (an ) e (bn ) são sequências monótonas e limitadas. Prove
que, se lim an = lim bn então (xn ) é convergente. lim an e lim bn são chamados limites supe-
rior e inferior de (xn ), respectivamente.
i) (1 − (−1)n + 1/n);
ii) (sen(nπ/4)).
12. Suponha que xn ≥ 0, ∀ n ∈ N e que lim(−1)n xn existe. Mostre que (xn ) converge.
Teorema 2.5. Seja (xn ) uma sequência convergente. Se lim xn < x, então ∃ N ∈ N tal que
∀ n ≥ N , tem-se xn < x.
a-e xN+2 a a +e x
( )
xN+1 xN
Obs 2.13. Em alguns textos, diz-se “ para n suficientemente grande” quando se escreve
“ ∃ N ∈ N tal que ∀ n ≥ N ”. Assim, o Teorema 2.5 pode ser reescrito da seguinte maneira:
Seja (xn ) uma sequência convergente. Se lim xn < x, então para n suficientemente grande,
tem-se xn < x.
Obs 2.14. O seguinte resultado pode ser provado de maneira equivalente ao Teorema 2.5:
Seja (xn ) uma sequência convergente. Se lim xn > x, então ∃ N ∈ N tal que ∀ n ≥ N , tem-se
xn > x.
Veremos, a seguir, que para n suficientemente grande os termos de uma sequência con-
vergente têm o mesmo sinal que o seu limite.
Corolário 2.6 (Permanência de Sinal). Seja (xn ) uma sequência convergente. Se lim xn < 0
(respectivamente lim xn > 0), então ∃ N ∈ N tal que ∀ n ≥ N , tem-se xn < 0 (respectiva-
mente xn > 0).
Corolário 2.7. Sejam (xn ), (yn ) sequências convergentes. Suponha que, ∃ N ∈ N tal que
∀ n ≥ N , tenha-se xn ≤ yn . Então, lim xn ≤ lim yn .
yN +1
2
yN 2
x xN xN +1
1 1
( ) ( )
lim yn lim xn
Demonstração. Suponha, por absurdo, que lim xn > lim yn . Usando o Teorema 1.6, existe
x ∈ Q tal que lim xn > x > lim yn . O Teorema 2.5 e a Observação 2.14, nos garante que
existe N1 , N2 ∈ N tais que:
Exemplo 2.11. Sejam (xn ) = (0) e (yn ) = (1/n). Vimos que lim xn = lim yn = 0. Mesmo
sendo,
1
xn = 0 < = yn , ∀ n ∈ N.
n
Ou seja, no corolário 2.7, não podemos afirmar que xn < yn ⇒ lim xn < lim yn .
Obs 2.15. Se xn ≤ x ((xn ) convergente) para todo n suficientemente grande, então lim xn ≤
x. Basta, no corolário 2.7, assumir yn = x, ∀ n ∈ N.
Teorema 2.8 (Teorema do Sanduı́che). Sejam (xn ), (yn ) sequências convergentes, com lim xn =
lim yn = z. Se ∃ N ∈ N tal que ∀ n ≥ N , tenha-se xn ≤ zn ≤ yn . Então, (zn ) é uma
sequência convergente e lim zn = z.
Demonstração. Dado ε > 0, vamos provar que existe N0 ∈ N tal que ∀ n ≥ N0 , tem-se
zn ∈ (z − ε, z + ε). Mas, como lim xn = lim yn = z, então existem N1 , N2 ∈ N tais que
Ou seja,
Dessa forma,
∀ n ≥ N0 , chega-se a, z − ε < xn ≤ zn ≤ yn < z + ε,
zn ∈ (z − ε, z + ε), ∀ n ≥ N0 .
1 (−1)n 1
− ≤ ≤ , ∀ n ∈ N,
n n n
( )
(−1)n 1 1
então, utilizando o Teorema 2.8, temos que lim = 0, pois lim = lim − = 0.
n n n
O resultado a seguir nos diz que o produto de uma sequência que converge para zero por
outra que é limitada também converge para zero.
Teorema 2.9. Sejam (xn ) e (yn ) uma sequência convergente e uma sequência limitada,
respectivamente, onde lim xn = 0. Então (xn yn ) é convergente e lim xn yn = 0.
Demonstração. Como (yn ) é uma sequência limitada, então existe M ∈ R, tal que |yn | ≤ M ,
∀ n ∈ N. Se M = 0, então |yn | ≤ 0, ∀ n ∈ N. Ou seja, yn = 0, ∀ n ∈ N. Assim (xn yn ) = (0),
a qual converge para 0. Considere, então, que M > 0. Como lim xn = 0, então dado ε > 0,
existe N ∈ N tal que
ε
∀ n ≥ N, tem-se |xn − 0| < .
M
50 CAPÍTULO 2. SEGUNDA AULA: SEQUÊNCIA DE NÚMEROS REAIS
ε
|xn yn − 0| = |xn yn | = |xn ||yn | < M = ε.
M
Obs 2.17. A hipótese de (yn ) ser limitada não pode ser retirada do Teorema 2.9. Vejamos
um exemplo que comprovam esta afirmação. Sejam (xn ) = (1/n) e (yn ) = (n). Vimos que
lim xn = 0 (ver Exemplo 2.5) e que (yn ) não é limitada. Observe que (xn yn ) = (1). Logo,
lim xn yn = 1 ̸= 0.
Exemplo 2.14. Sejam (xn ) = (1/n) e (yn ) = (cos(nπ/2)). Note que (yn ) é limitada, pois
| cos(nπ/2)| ≤ 1, ∀ n ∈ N. Sabemos que lim n1 = 0. Logo, usando o Teorema 2.9, concluı́mos
que
cos(nπ/2)
lim = 0.
n
É importante ressaltar que (yn ) não é convergente, pois possui duas subsequências constantes
que convergem para valores distintos (ver Exemplo 2.7).
Definição 2.10. Seja (xn ) uma sequência de números reais. Dizemos que xn é destacado
da sequência (xn ) se xp ≤ xn , ∀ p > n.
Exemplo 2.15. Considere a sequência (xn ) = (1, 2, 7, 4, 7, 2, 2, ..., 2, ...). Veja que x1 = 1
não é destacado, pois x2 = 2 > 1 = x1 . Mas, x3 = 7 é destacado porque todo termo da
sequência a partir deste termo é menor ou igual a 7.
D(x) = {n ∈ N : xn é destacado} ⊆ N.
Como N é enumerável, então D(x) também é. Suponha que D(x) é infinito. Considere a
subsequência x′ = (xn )n∈D(x) de x. Como x é uma sequência limitada, então x′ também é.
Observe que para todo n ∈ D(x), ou seja, xn é destacado, pode-se concluir que xn+1 ≤ xn
2.4. RESULTADOS IMPORTANTES ENVOLVENDO CONVERGÊNCIA 51
(basta utilizar a Definição 2.10). Assim x′ é uma sequência monótona não-crescente. Pelo
Teorema 2.4, concluı́mos que x′ é convergente. Agora, se D(x) é finito, então, podemos
escrever
D(x) = {N1 , N2 , ..., Nk }.
Seja n1 > max{N1 , N2 , ..., Nk } natural. Logo, n1 ̸∈ D(x). Ou seja, xn1 não é destacado.
Dessa forma, ∃ n2 > n1 tal que xn1 < xn2 (ver Definição 2.10). Por outro lado,
Analogamente, existe n3 > n2 tal que xn2 < xn3 . Portanto, indutivamente, x′′ = (xn )n∈N′ é
uma subsequência de x tal que
xn1 < xn2 < ... < xnj < ..., onde N′ = {n1 < n2 < ... < nj < ...} ⊆ N é infinito.
Ou seja, x′′ é uma sequência monótona crescente. Pelo mesmo motivo que x′ , x′′ é limitada.
Por fim, x′′ é uma subsequência de x convergente, pelo Teorema 2.4.
Exercı́cios de Fixação
cos(2n)
1. Mostre que lim = 0.
1+n
cos2 (n) 1
2. Mostre que lim n
= 0. Use que lim n = 0.
2 2
ecos(n)
3. Mostre que lim = 0 (ver Definição 10.2). Use que ex é crescente (ver Definição 10.2).
n
4. Dê um exemplo de uma sequência ilimitada que tem uma subsequência convergente.
5. Suponha que cada subsequência de uma sequência (xn ) tem uma subsequência que con-
verge para 0. Mostre que lim xn = 0.
52 CAPÍTULO 2. SEGUNDA AULA: SEQUÊNCIA DE NÚMEROS REAIS
Teorema 2.11 (Operações com Limites). Sejam (xn ) e (yn ) sequências convergentes. Então,
as seguintes afirmações são válidas:
iii) (xn /yn ) converge e lim (xn /yn ) = [lim xn ]/[lim yn ], se lim yn ̸= 0, ou em palavras, o
limite da divisão é a divisão dos limites.
ε ε ε ε
x− < xn < x + e y − < yn < y + .
2 2 2 2
ou seja,
∀ n ≥ N, tem-se, xn + yn ∈ (x + y − ε, x + y + ε).
Como lim yn = y, então (yn ) é uma sequência limitada (ver Teorema 2.3). Por outro lado,
Logo, pelo Teorema 2.9 e por i), temos que lim(xn yn − xy) = 0. Ou seja,
iii) Primeiramente, vamos provar que (1/yn ) é convergente e lim 1/yn = 1/y, onde y ̸= 0.
Considere y > 0. Seja ε = y/2 > 0. Como lim yn = y, existe N1 ∈ N tal que
( y y)
∀ n ≥ N1 , tem-se yn ∈ y − , y + .
2 2
1 2
< , ∀ n ≥ N1 .
yn y
y2ε
∀ n ≥ N2 , conclui-se, |yn − y| < .
2
yn y yyn yyn 2y 2
Isto nos permite concluir que (1/yn ) é convergente e lim 1/yn = 1/y. Analogamente, o
resultado é válido para y < 0. Usando o item ii), obtemos ( xynn ) converge e
( )
1 1
lim (xn /yn ) = lim xn = lim xn · lim 1/yn = x = x/y = [lim xn ]/[lim yn ],
yn y
se y = lim yn ̸= 0.
Obs 2.18. Note que o item i) do Teorema 2.11 pode ser generalizado para uma quantidade
54 CAPÍTULO 2. SEGUNDA AULA: SEQUÊNCIA DE NÚMEROS REAIS
finita qualquer de parcelas, basta utilizar indução. O mesmo podemos afirmar sobre a
multiplicação.
Obs 2.19. Observe que o item ii) do Teorema 2.11, nos garante que se (xn ) é convergente
então, (cxn ) é convergente e lim cxn = lim c · lim xn = c lim xn (ver Exemplo 2.4).
Obs 2.20. Veja que usando o Teorema 2.11 podemos garantir que, se (xn ) e (yn ) são
convergentes, então (xn − yn ) é convergente e
Obs 2.21. Observe que a hipótese de (xn ) ser convergente no Teorema 2.11 não pode ser
retirada. Por exemplo, seja (xn ) = (n) e (yn ) = (1). Como (xn ) = (n) é ilimitada, então
esta sequência é divergente (ver Teorem 2.3). Pelo mesmo motivo que (n), a sequência
(xn + yn ) = (n + 1) é divergente. Então não é verdade que existe lim(xn + yn ).
n+5 1 + n5
lim = lim 1 = −1,
1−n n
−1
( )
n+5
ver Exemplo 2.5. Ou seja, a sequência é uma sequência convergente que converge
1−n
para −1.
No fim desta seção, estamos interessados em mostrar alguns testes que nos permitem
calcular alguns limites de sequências especı́ficas.
xn+1
Proposição 2.2 (Teste da Razão). Seja (xn ) ⊆ R+ . Se lim = x < 1, então lim xn = 0.
xn
2.5. OPERAÇÕES ELEMENTARES COM SEQUÊNCIAS 55
Demonstração. Pelo Teorema 1.6, existe a ∈ Q tal que x < a < 1. Usando o Teorema 2.5,
concluı́mos que existe N ∈ N tal que
xn+1
∀ n ≥ N, tem-se, 0 < < a < 1.
xn
Dessa forma, 0 < xn+1 < xn < xN , ∀ n ≥ N, ou seja, (xn ) é monótona e limitada, ∀ n ≥ N .
Isto nos diz que (xn ) converge (ver Proposição 2.1), digamos que lim xn = y. Com isso,
xn+1
Obs 2.22. Se lim = 1, nada pode ser afirmado sobre a convergência da sequência
xn
(xn ). Por exemplo, se xn = 1, ∀ n ∈ N, então
xn+1 1
lim = lim = 1.
xn 1
Sabemos que esta sequência é convergente (ver Exemplo 2.4). Por outro lado, seja xn = n,
∀ n ∈ N. Assim, ( )
xn+1 n+1 1
lim = lim = lim 1 + = 1,
xn n n
ver Exemplo 2.5. Mas, (n) é uma sequência divergente (ver Teorema 2.3).
nm cn n!
Exemplo 2.18. Veja que lim n = lim = lim n = 0, onde m ∈ N e c > 1. Vamos
c n! n
utilizar o Teste da razão para verificar estes limites. Seja xn = nm /cn , ∀ n ∈ N, então
( )m
1
1+
xn+1 (n + 1)m cn n 1m 1
lim = lim · m = lim = = < 1.
xn cn+1 n c c c
m cn
Portanto, lim xn = 0. Ou seja, lim ncn = 0. Seja yn = n!
, ∀ n ∈ N. Assim sendo,
yn+1 cn+1 n! c 1
lim = lim · n = lim = c lim = c · 0 = 0 < 1,
yn (n + 1)! c (n + 1) (n + 1)
56 CAPÍTULO 2. SEGUNDA AULA: SEQUÊNCIA DE NÚMEROS REAIS
n
ver Teorema 2.2. Com isso, lim yn = 0. Isto é, lim cn! = 0. Por fim, seja zn = n!/nn , ∀ n ∈ N.
Logo,
zn+1 (n + 1)! nn 1 1
lim = lim n+1
· = lim ( )n = < 1,
zn (n + 1) n! 1 e
1+
n
onde e é o número de Euller e e ≈ 2, 71.
xn+1
lim = lim x = x < 1.
xn
xn+1
Proposição 2.3 (Teste da Razão). Seja (xn ) ⊆ R+ uma sequência. Se lim = x > 1,
xn
então (xn ) é ilimitada.
yn+1 1/xn+1 1
lim = lim = = 1/x < 1.
yn 1/xn lim xxn+1
n
1
Pela Proposição 2.2, lim = lim yn = 0. Logo, dado A > 0, existe N ∈ N tal que
xn
1 1
∀ n ∈ N, tem-se, < .
xn A
Obs 2.23. Observe que podemos concluir na Proposição 2.3 que (xn ) é divergente, basta
utilizar a contrapositiva do Teorema 2.3.
xn+1
lim = lim x = x > 1.
xn
Exercı́cios de Fixação
1. Dê um exemplo de duas sequências divergentes (xn ) e (yn ) tais que (xn + yn ) e (xn yn )
sejam convergentes.
2. Mostre que se (xn ) e (xn + yn ) são sequências convergentes, então (yn ) é convergente.
i) ((2 + 1/n)2 );
(√ )
n−1
ii) √ ;
n+1
( )
n+1
iii) √ .
n n
√ √ √
4. Seja xn = n + 1 − n, ∀ n ∈ N. Mostre que (xn ) e ( nxn ) convergem e encontre seus
limites.
i) (n2 xn );
( )
yn
ii) ;
n!
( n)
y
iii) .
n2
√
6. (Teste da Raiz) Seja (xn ) uma sequência de números reais positivos tal que lim n xn =
x < 1. Mostre que existe y ∈ R tal que 0 < y < 1 e 0 < xn < y n , ∀ n ≥ N para algum
N ∈ N. Mostre que lim xn = 0.
√
i) Dê exemplo de uma sequência de números reais positivos (xn ) convergente tal que lim n x =
n
1;
√
ii) Dê exemplo de uma sequência de números reais positivos (xn ) divergente tal que lim n x =
n
1.
Não diferente do que fizemos na seções anteriores, depois de definirmos limites infinitos
estabeleceremos algumas propriedades e exemplos que são gerados por esta teoria.
Definição 2.11 (Limites Infinitos). Dizemos que uma sequência (xn ) “tende a” +∞ ou ∞
(respectivamente “tende a”−∞), e escrevemos lim xn = +∞ ou lim xn = ∞ (respectiva-
mente lim xn = −∞), quando dado A > 0 ∃ N ∈ N tal que ∀ n ≥ N , tem-se xn > A
(respectivamente xn < −A).
x1 x3 xN -1 A x2 x N xN+2
xN+1
}
finitos termos
Obs 2.24. As notações +∞, ∞, −∞ não são números reais. Na verdade estas servem para
expressar a idéia estabelecida na definição acima.
Obs 2.25. O número natural N encontrado na Definição 2.11 depende somente do número
real A > 0 dado, isto é, N = N (A).
Obs 2.26. Observe que a Definição 2.11 nos garante que lim xn = ∞ ⇔ lim(−xn ) = −∞.
Exemplo 2.21. lim n = lim 2n = ∞. De fato, dado A > 0, existe N ∈ N tal que N > A
(ver Teorema 1.2). Logo,
∀ n ≥ N, tem-se, n ≥ N > A.
∀ n ≥ N, tem-se, 2n ≥ n + 1 ≥ N + 1 > B,
2.6. LIMITES INFINITOS DE SEQUÊNCIAS 59
ou seja, lim 2n = ∞.
Exemplo 2.22. lim[n + (−1)n n] ̸= ∞. Suponha, por absurdo, que lim[n + (−1)n n] = ∞.
Assim sendo, dado A > 0, existe N ∈ N tal que ∀ n ≥ N , tem-se n + (−1)n n > A. Faça,
n = 2N + 1. Daı́,
2N + 1 + (−1)2N +1 (2N + 1) > A.
Vejamos que condições devemos acrescentar para que a recı́proca, relatada na observação
acima, seja verdadeira.
ii) Se (xn ) é uma sequência ilimitada (inferiormente) e não-crescente, então lim xn = −∞.
Proposição 2.5. Sejam (xn ) e (yn ) duas sequências tais que xn ≤ yn , ∀ n ∈ N. Então:
i) lim xn = ∞ ⇒ lim yn = ∞;
A xN yN yN+1
xN+1 xN+2
∀ n ≥ N, tem-se yn ≥ xn > A.
Portanto, lim yn = ∞.
ii) lim yn = −∞, então lim(−yn ) = ∞. Como −yn ≤ −xn , ∀ n ∈ N, então, pelo item
i), temos que lim(−xn ) = ∞. Ou seja lim xn = −∞.
n − 1 ≤ n + (−1)n e n ≤ 2n, ∀ n ∈ N.
Logo, usando a Proposição 2.5 e o fato que lim(n − 1) = lim n = ∞, temos o resultado.
Nesta oportunidade, mostraremos quais hipóteses devemos impor para que as operações
elementares com limites infinitos sejam claramente satifeitas.
Teorema 2.12 (Operações com Limites Infinitos). As seguintes afirmações são verdadeiras:
∀ n ≥ N, tem-se, xn + yn > A − b + b = A.
Ou seja, lim(xn + yn ) = ∞.
A
∀ n ≥ N, tem-se, xn yn > y = A > 0.
y
iii) Seja A > 0. Como lim yn = 0, com yn > 0, então ∃ N ∈ N tal que
x
∀ n ≥ N, conclui-se que, yn = |yn | = |yn − 0| < .
A
Dessa forma,
xn A
∀ n ≥ N, chega-se a, > x = A.
yn x
xn
Consequentemente, lim = ∞.
yn
a
∀ n ≥ N, infere-se, yn > > 0.
ε
xn
Isto nos diz que lim = 0.
yn
Exemplo 2.24. Vimos que lim 2n = ∞ e que a sequência (1/n) é limitada inferiormente
62 CAPÍTULO 2. SEGUNDA AULA: SEQUÊNCIA DE NÚMEROS REAIS
O resultado a seguir aparece com muito mais frequência, principalmente nos exercı́cios
de Cálculo, que a sua generalização, obtida no Teorema 2.12.
1
Corolário 2.13. Seja (yn ) uma sequência. Então, lim yn = 0 ⇔ lim = ∞.
yn
Obs 2.28. No Teorema 2.12 item i) vamos retirar a hipótese de (yn ) ser uma sequência
limitada inferiormente. Vejamos o que é possı́vel acontecer. Escolha, primeramente, as
sequências
(xn ) = ([n + (−1)n ]) e (yn ) = (−n).
Vimos, no Exemplo 2.23, que lim xn = ∞. Mas, (yn ) é ilimitada inferiormente. Além disso,
lim(xn + yn ) = lim(−1)n ,
o qual não existe, pois a sequência (−1)n = (−1, 1, −1, 1, ...) possui duas subsequências
constantes iguais a 1 e −1 (ver Teorema 2.2). Com isso, lim(xn + yn ) não existe. Agora,
considere as sequências
(xn ) = (2n) e (yn ) = (−n).
Por fim, seja x ∈ R. Considere as sequências (xn ) = (n+x) e (yn ) = (−n). Logo, lim xn = ∞.
Por outro lado,
lim(xn + yn ) = lim(n + x − n) = lim x = x.
2.7. OPERAÇÕES ELEMENTARES COM LIMITES INFINITOS 63
Resumindo, lim(xn +yn ) pode não existir, ser ∞, ou qualquer número real desejado. Por isto
a expressão, ∞ − ∞ é chamada indeterminação. Outras indeterminações são: ∞0 , 1∞ , 00 ,
0 ∞
, . As hipóteses colocadas em cada item do Teorema 2.12 são essenciais para não haver
0 ∞
estes tipos de indeterminações.
Exercı́cios de Fixação
1. Mostre que se lim xn = ±∞, então existe uma subsequência que tende a ±∞.
2. Dê exemplos de sequências (xn ), (yn ) tais que lim xn = ±∞ e lim yn = ±∞, com yn ̸= 0,
∀ n ∈ N satisfazendo:
√
i) ( n2 + 2);
( √ )
n
ii) 2
;
n +2
√
iii) (cos n).
5. Mostre que se (xn ) é uma sequência ilimitada, então existe uma subsequência de (xn ) que
tende para ∞.
64 CAPÍTULO 2. SEGUNDA AULA: SEQUÊNCIA DE NÚMEROS REAIS
Definição 2.12 (Sequência de Cauchy). Dizemos que uma sequência de números reais (xn )
é de Cauchy em R se dado ε > 0, ∃ N ∈ N tal que ∀ m, n ≥ N , tem-se |xm − xn | < ε.
}
x1 xN+3 xN xN+2 x2
( )
xN+1
Obs 2.30. A Definição 2.12 nos garante que os termos da sequência (xn ) estão próximos
para n suficientemente grande. Enquanto que, na Definição 2.5 os termos da sequência ficam
próximos de seu limite nesta mesma situação.
comprimento 1>1/2=e
}
N N+1
Exemplo 2.27. A sequência (1/n) é uma sequência de Cauchy em R. De fato, dado ε > 0,
∃ N ∈ N tal que N > 2ε (ver Teorema 1.2). Logo, ∀ n, m ≥ N , tem-se que
1
− ≤ 1 + 1 = 1 + 1 < 1 + 1 = 2 < ε.
1
n m n m n m N N N
Demonstração. Seja (xn ) uma sequência de números reais convergente, com lim xn = x.
Vamos provar que (xn ) é de Cauchy. Dado ε > 0, ∃ N ∈ N tal que
ε
∀ n ≥ N, tem-se, |xn − x| < .
2
ε ε
|xn − xm | = |xn − x + x − xm | ≤ |xn − x| + |xm − x| < + = ε.
2 2
Obs 2.31. A recı́proca do Lema 2.1 é falsa. A sequência ((−1)n ) é limitada, porque
−1 ≤ (−1)n ≤ 1, ∀ n ∈ N.
Por outro lado, ((−1)n ) não é uma sequência de Cauchy. Com efeito, existe ε = 2 > 0 tal
que ∀ N ∈ N, encontram-se 2N, 2N + 1 ≥ N de forma que
|(−1)2N − (−1)2N +1 | = |1 + 1| = 2 = ε.
Lema 2.2. Seja (xn ) uma sequência de Cauchy em R. Se (xn ) possui uma subsequência que
converge para x. Então (xn ) é convergente e lim xn = x.
66 CAPÍTULO 2. SEGUNDA AULA: SEQUÊNCIA DE NÚMEROS REAIS
ε
∀ n, m ≥ N, tem-se, |xn − xm | < .
2
Seja (xn )n∈N′ uma subsequência de (xn ) tal que lim′ xn = x. Assim sendo, existe N ′ ∈ N′ tal
n∈N
que
ε
∀ n ≥ N ′ , com n ∈ N′ , tem-se que |xn − x| < .
2
′′ ′ ′ ′′
Seja N > max{N, N } em N . Dessa forma, ∀ n ≥ N , com n ∈ N, tem-se que
ε ε
|xn − x| = |xn − xN ′′ | + |xN ′′ − x| < + = ε.
2 2
Ou seja, lim xn = x.
Exercı́cios de Fixação
1. Mostre, através da definição, que as seguintes sequências são sequências de Cauchy:
( )
n+1
i) ;
n
( )
1 1 1
ii) 1 + + + ... + .
2! 3! n!
2. Mostre, através da definição, que as seguintes sequências não são sequências de Cauchy:
( )
(−1)n
i) n + ;
n
2.9. CONCLUSÃO 67
3. Mostre diretamente da definição que se (xn ) e (yn ) são sequências de Cauchy então
(xn + yn ) são sequências de Cauchy.
√ √ √ √
4. Mostre ( n) satisfaz lim | n + 1 − n| = 0, mas ( n) não é uma sequência de Cauchy.
5. Seja p ∈ N fixo. Dê exemplo de uma sequência (xn ) que não é de Cauchy, mas satisfaz
lim |xn+p − xn | = 0.
2.9 Conclusão
Caro aluno, ao final desta aula, é importante ressaltar que uma quantidade infinita
de termos de uma sequência convergente estão o quão próximos do valor de convergência
quanto desejarmos. Este fato destaca um importante papel da definição de convergência
em Análise na Reta, pois esse conceito nos dá informações importantes se trabalharmos em
uma região próxima ao limite da sequência. Nesta localidade, podemos utilizar as principais
caracterı́sticas dos termos existentes dessa para resolver algum problema que envolva o valor
do limite.
2.10 Resumo
Exercı́cios:
xn
3. Seja x ̸= 0. Se lim = 1 prove que lim xn = x.
x
xn x
4. Seja y ̸= 0. Se lim xn = x e lim = y, prove que lim yn = .
yn y
y
5. Se lim xn = x ̸= 0 e lim xn yn = y, prove que lim yn = .
x
xn+1
6. Seja xn > 0, ∀ n ∈ N. Se lim = x > 1, prove que lim xn = ∞. Mostre que
xn
nn
lim = ∞.
n!
7. Seja (xn ) uma sequência monótona. Suponha que (xn ) possua uma subsequência conver-
gente. Prove que (xn ) é convergente.
8. Sejam lim xn = x e lim yn = y. Se x < y, prove que existe N ∈ N tal que xn < yn .
10. Seja (xn ) uma sequência limitada. Suponha que lim xn ̸= x. Prove que existe uma
subsequência de (xn ) que converge para um número distinto de x.
2.12. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 69
11. Dados x, y números positivos, defina indutivamente as sequências (xn ) e (yn ) pondo
√ √
x1 = xy e y1 = x+y2
e xn+1 = xn yn , yn+1 = xn +y
2
n
. Prove que (xn ) e (yn ) convergem para
o mesmo limite.
√
12. Prove que, ∀ m ∈ N, tem-se lim n+m
n = 1.
13. Dado x > 0, defina indutivamente a sequência (xn ) pondo x1 = x1 e xn+1 = x+x 1
n
.
Considere o número a, raiz positiva da equação y + xy − 1 = 0, único número positivo tal
2
1
que a = x+a . Prove que
x2 < x4 < ... < x2n < ... < a < ... < x2n−1 < ... < x3 < x1 .
e que lim xn = x. O número a pode ser considerado como a soma da fração contı́nua
1
1 .
x+ x+ 1
1
x+ x+...
[√ √ ]
16. Se lim xn = ∞ e x ∈ R, prove que lim log(xn + x) − log xn = 0.
Questões Resolvidas:
Demonstração. Suponha que lim x2n = lim x2n−1 = x. Assim sendo, dado ε > 0 existe
70 CAPÍTULO 2. SEGUNDA AULA: SEQUÊNCIA DE NÚMEROS REAIS
N ∈ N tal que
para todo n ≥ N, tem-se x2n ∈ (x − ε, x + ε).
xn = x2k ∈ (x − ε, x + ε).
xn = x2l−1 ∈ (x − ε, x + ε).
Por fim,
para todo n ≥ K, tem-se xn ∈ (x − ε, x + ε).
Ex2. Uma sequência (xn ) diz-se periódica quando existe p ∈ N tal que xn+p = xn , ∀ n ∈ N.
Prove que toda sequência periódica convergente é constante.
Demonstração. Seja (xn ) uma sequência periódica. Suponha que (xn ) não é constante. Ou
seja, existem n, m ∈ N tais que xm ̸= xn . Como (xn ) é periódica, prova-se, por indução sobre
k ∈ N, que as subsequências
Ex3. Para cada n ∈ N, seja tn ∈ [0, 1]. Se lim xn = lim yn = x, prove que
lim[tn xn + (1 − tn )yn ] = x.
tn xn + (1 − tn )yn = tn xn + yn − tn yn = yn + tn (xn − yn ).
Como tn ∈ [0, 1], ∀ n ∈ N, obtemos que (tn ) é uma sequência limitada. Utilizando o Teorema
2.9, concluı́mos que (tn (xn − yn )) é convergente e lim[tn (xn − yn )] = 0. Dessa forma,
Ex4. Se lim xn = x, prove que lim |xn | = |x|. Prove ou contra-exemplifique a recı́proca desta
afirmação.
Demonstração. Pela Proposição 1.5, temos que ||xn | − |x|| ≤ |xn − x|. Assim sendo, dado
ε > 0 existe N ∈ N tal que
Ou seja, lim |xn | = |x|. A recı́proca não é verdadeira para x ̸= 0. Por exemplo, considere a
sequência ((−1)n ). É claro que, lim |(−1)n | = lim 1 = 1 = |1|. Por outro lado, lim(−1)n não
existe, pois (1, 1, 1, ...) e (−1, −1, −1, ...) são subsequências de ((−1)n ) que convergem para
os valores distintos 1 e −1, respectivamente, (ver Teorema 2.2).
Ex5. Seja (xn ) uma sequência monótona. Suponha que (xn ) possua uma subsequência
convergente. Prove que (xn ) é convergente.
72 CAPÍTULO 2. SEGUNDA AULA: SEQUÊNCIA DE NÚMEROS REAIS
Demonstração. Primeiramente, vamos provar que se (xn ) é uma sequência monótona e possui
uma subsequência limitada, então (xn ) é limitada. Com efeito, considere que (xn ) é monótona
não-decrescente. Observe que, neste caso, x1 é cota inferior de (xn ). Seja (xn )n∈N′ tal
subsequência. Assim, existe M ∈ R tal que xn ≤ M , ∀ n ∈ N′ . Por outro lado, dado
n ∈ N, existe n′ ∈ N′ tal que n ≤ n′ . Portanto, xn ≤ xn′ ≤ M. Ou seja (xn ) é limitada.
Em particular, se (xn ) possui uma subsequência convergente, esta é limitada (ver Teorema
2.3). Pelo que foi feito acima, (xn ) é monótona e limitada. Pelo Teorema 2.4, (xn ) é
convergente.
Ex6. Seja (xn ) uma sequência limitada. Suponha que lim xn ̸= x. Prove que existe uma
subsequência de (xn ) que converge para um número distinto de x.
Demonstração. Como lim xn ̸= x, então ∃ ε > 0 tal que ∀ k ∈ N, encontra-se (xnk ) tal
que |xnk − x| ≥ ε, com n1 < n2 < ... < nk < ... Como (xn ) é limitada, então (xnk )
também é limitada. Pelo Teorema de Bolzano-Weierstrass (xnk ) possui uma subsequência
convergente. Portanto, passando a uma subsequência, se necessário, (xnk ) é convergente.
Digamos lim xnk = y. Dessa forma,
k→∞
lim [xnk − x] = y − x,
k→∞
Com isso, y ̸= x.
√ √
Ex7. Dado x > 0, defina indutivamente a sequência (xn ) pondo x1 = x e xn+1 = x + xn .
Prove que (xn ) é convergente e calcule seu limite
√ √ √
√
x+ x+ x+ x + ....
Como x > 0, então a última desigualdade faz sentido e é verdadeira. Suponha que xn < xn+1 .
2.12. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 73
Portanto,
√ √
xn+1 = x + xn < x + xn+1 = xn+2 .
Assim sendo, xn < xn+1 , ∀ n ∈ N. Agora, seja a a única raiz positiva da equação y 2 −y −x =
0. Consequentemente,
√
a2 − a − x = 0, ou seja , a2 = x + a, isto é , a = x + a.
Além disso, a > 0. Vamos provar, por indução sobre n, que xn < a, ∀ n ∈ N. De fato,
√ √
quando n = 1, temos x1 = x < x + a = a. Considere que xn < a. Assim,
√ √
xn+1 = x + xn < x + a = a.
Portanto, xn < a, ∀ n ∈ N. Com isso, (xn ) é monótona crescente e limitada (por x1 e a).
Dessa forma, utilizando o Teorema 2.4, concluı́mos que (xn ) é convergente. Digamos que
√
lim xn = y. Como x2n+1 = x + xn , então y 2 = x + y, isto é, y = x + y. Finalmente,
√ √
√
y= x + x + x + ....
log(n + 1)
Ex8. Mostre que lim = 1 (ver Definição 10.1).
log n
Verifique que, lim log(1 + n1 ) = 0 e lim log n = ∞ (ver Teorema 10.1). O resultado segue.
Auto-Avaliação
Proxima Aula
[1] Alonso, M.; Finn, E. J., Fı́sica: Um Curso Universitário. Segunda Edição, São Paulo,
Edgard Blücher Ltda, 2009. 481p.
[2] Bartle, R. G.; Sherbert, D. R., Introdution to Real Analysis, Third Edition, New York,
JohnWiley and Sons,Inc., 2000. 399p.
[3] Boyce, W. E.; DiPrima, R. C., Elementary Differential Equations and Boundary Value
Problems. Seventh Edition, New York, JohnWiley and Sons,Inc, 2001. 745p.
[5] Brauer, F.; Nohel, J. A., The Qualitative Theory of Ordinary Differential Equations.
University of Wisconsin, 1989.
[6] Dragomir, S. S., Some Gronwall Type Inequalities and Applications. Monograph. Vic-
toria University of Technology, 2002.
[7] Ferreira, J., A Construção dos Números. Primeira Edição, Rio de Janeiro, SBM, 2010.
133p.
[8] Figueiredo, D., Análise I. Segunda Edição, Rio de Janeiro, LTC, 2008. 266p.
[9] Guillemin, V.; Pollack, A., Differential Topology. First Edition, New Jersey, Prentice-
Hall, Inc., Englewood Cliffs, 1974. 227p.
[10] King, A.C.; Billingham, J.; OTTO, S.R., Differential Equations. Linear, Nonlinear,
Ordinary, Partial. Cambridge University Press. New York, 2003.
[11] Lima, E. L., Análise Real. Funções de uma variável, vol.1. 8o . ed. Coleção Matemática
Universitária, Rio de Janeiro: IMPA, 2006.
75
76 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[13] Lima, E. L., Curso de Análise, vol. 1, Décima Segunda Edição, Rio de Janeiro, IMPA,
2008. 431p.
[14] Melo, W., Existência de soluções clássicas para as Equações de Burgers e Navier-
Stokes. Dissertação de Mestrado. UFPE, 2007.
[15] Munkres, J. R., Topology. Second Edition, New Jersey, Prentice Hall, Inc., 2000. 552p.
[16] Nolt, J.; Rohatys, D.; Varzi, A., Theory and problems or logic. Second edition, New
York, McGraw-Hill, 2009. 279p.
[17] Rudin, W., Principles of Mathematical Analysis. Third Edition, New York, McGraw-
Hill, Inc., 1976. 351p.
[18] Smoller, J., Shock Waves and Reaction-Diffusion Equations. 2nd ed., Springer-Verlag,
1994.
[19] Tveito, A.; Winther, R., Introduction to Partial Differential Equations. A Computa-
tional Approach. New York, 1961.
Professor Revisor
Meta
Objetivos
Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de identificar se uma série converge, converge
absolutamente, converge condicionalmente ou diverge.
Pré-requisitos
77
78 CAPÍTULO 3. TERCEIRA AULA: SÉRIE DE NÚMEROS REAIS
3.1 Introdução
Nesta aula, apresentaremos a você, caro leitor, a possibilidade de somarmos uma quanti-
dade enumerável e infinita de números reais. A esta soma daremos o nome série. A primeira
pergunta que surge, neste momento, é a seguinte: O resultado desta soma é um número
real? A resposta é negativa. Mas, algumas séries podem estar tão próximas a um número
real quanto desejarmos. Nosso estudo inicial é definir e exemplificar tais somas. Em se-
guida, exibiremos testes que identificam a convergência destas séries. Porém, como todo
teste, existe possibilidade de que esses, em casos especı́ficos, não funcionem. Então, a única
maneira de você conhecer qual teste será conclusivo é a experiência obtida no estudo de
atividades propostas. Por isso, recomendo a resolução dos exercı́cios listados nesta aula. Por
fim, questionaremos se é possı́vel comutar as parcelas de uma série sem alterar o resultado
de sua soma. Veremos que isto ocorre somente sob algumas condições.
Definição 3.1 (Série). Seja (xn ) uma sequência de números reais. A soma infinita dos
termos de (xn ), denotada por
∑
∞
xn = x1 + x2 + ... + xn + ...,
n=1
é denominada uma série de números reais. Neste caso, xn é chamado n-ésimo termo ou
∑
∞
termo geral da série xn .
n=1
∑
∞
Obs 3.1. Quando não houver possibilidade de confusão denotaremos a série xn simples-
∑ n=1
mente por xn .
3.2. CONVERGÊNCIA DE SÉRIES 79
e
∑ 1 1 1 1 1
= + + + ... + + ...
n(n + 1) 2 6 12 n(n + 1)
são exemplos de séries de números reais. No decorrer da teoria daremos mais exemplos de
séries.
Os ingredientes que nos auxiliarão na definição de convergência para uma série estão
definidos abaixo.
∑
∞
Definição 3.2 (Somas Parciais). Seja xn uma série. Defina a sequência (sn ) pondo
n=1
∑
n
s1 = x1 e sn = xk = x1 + x2 + ... + xn , ∀ n > 1.
k=1
∑
∞
Chamamos sn de n-ésima soma parcial da série xn e a sequência (sn ) é chamada sequência
n=1
∑
∞
das somas parciais, ou simplesmente somas parciais, da série xn .
n=1
∑ 1 ∑ (−1)n ∑ 1
Exemplo 3.2. As n-ésimas somas parciais das séries n
, n
, n(n+1)
são respecti-
vamente,
1 1 1
sn = 1 + + + ... + , tn = −1 + 1 − 1 + ... + (−1)n
2 3 n
e
1 1 1 1
un = + + + ... + .
2 6 12 n(n + 1)
Agora estamos prontos para definir quando uma série converge ou não.
∑
Definição 3.3 (Convergência de Séries). Dizemos que uma série xn é convergente se a
∑
sequência de somas parciais (sn ) é convergente. Neste caso, xn = x, onde x = lim sn é
∑
chamado a soma desta série. Caso contrário, dizemos que xn é divergente.
80 CAPÍTULO 3. TERCEIRA AULA: SÉRIE DE NÚMEROS REAIS
∑
∞
Assim sendo, se xn é convergente, obtemos
n=1
∑
∞ ∑
n
xn = lim xk .
n→∞
n=1 k=1
∑ 1
Exemplo 3.3. Vimos que a n-ésima soma parcial da série n(n+1)
é dada por
1 1 1 1
sn = + + + ... + .
1·2 2·3 3·4 n(n + 1)
1 1 1 1
sn = + + + ... +
1·2 2·3 3·4 n(n + 1)
( ) ( ) ( ) ( )
1 1 1 1 1 1 1 1
= − + − + − + ... + −
1 2 2 3 3 4 n n+1
1
= 1− .
n+1
Consequentemente, ( )
1
lim sn = lim 1 − = 1,
n+1
∑ 1
ou seja, n(n+1)
= 1 é uma série convergente.
∑
Exemplo 3.4. tn = −1 + 1 − 1 + ... + (−1)n é a n-ésima soma parcial da série (−1)n .
Assim,
(t2n ) = (0, 0, ..., 0, ...) e (t2n−1 ) = (−1, −1, ..., −1, ...).
∑
Logo, (tn ) é divergente (ver Teorema 2.2). Portanto, (−1)n é divergente.
O resultado a seguir nos dá uma condição necessária para que uma série seja convergente.
∑
Teorema 3.1. Se a série xn converge, então lim xn = 0.
3.2. CONVERGÊNCIA DE SÉRIES 81
∑
Demonstração. Suponha que xn = x. Seja (sn ) a sequência de somas parciais desta série.
Assim, lim sn = x (ver Definição 3.3). Usando o Teorema 2.2, concluı́mos que lim sn+1 = x.
Portanto,
lim(sn+1 − sn ) = lim sn+1 − lim sn = x − x = 0.
Mas,
sn+1 − sn = x1 + x2 + ... + xn + xn+1 − (x1 + x2 + ... + xn ) = xn+1 .
∑ 1
Obs 3.3. Veremos no Exemplo 10.11 que a série n
é divergente, mas lim n1 = 0. Portanto,
a recı́proca do Teorema 3.1 não é verdadeira.
∑
Obs 3.4. A contrapositiva do Teorema 3.1 nos diz que lim xn ̸= 0 ⇒ xn diverge. Esta
observação tem aplicação direta em exemplos. Veja os dois exemplos a seguir.
∑ n+1
Exemplo 3.5. A série n
é uma série divergente, pois
( )
n+1 1
lim = lim 1 + = 1 ̸= 0,
n n
n2 1 1
lim 2
= lim 2 = ̸= 0,
3n + 2 3 + n2 3
∑ ∑ ∑ ∑
1. se |r| = 1, então r = ±1. Logo, arn−1 = a ou arn−1 = a(−1)n−1 , as quais
divergem pelo Teorema 3.1.
∑
n
sn = ark−1 = a + ar + ar2 + ... + arn−1
k=1
∑
a n-ésima soma parcial de série arn−1 . Com isso,
a(1 − rn )
sn = ,
1−r
pois |r| ̸= 1. Se |r| < 1, então lim |r|n = 0 (ver Proposição 2.2). Ou equivalentemente,
lim rn = 0. Assim sendo,
a(1 − rn ) a
lim sn = lim = .
1−r 1−r
Se |r| > 1, então lim rn não existe (ver Proposição 2.3). Daı́, (sn ) é divergente. Ou
seja,
∑ a ∑
arn−1 = converge se |r| < 1 e arn−1 diverge se |r| ≥ 1.
1−r
Séries geométricas podem ser utilizadas para transformar alguns números decimais em
frações irredutı́veis. Veja o exemplo a seguir.
∑ 23
Exemplo 3.8. A série 100
(1/100)n−1 é uma série geométrica de raio 1/100 < 1. Logo a
série
∑ 23 23
(1/100)n−1 = = 23/99
100 1 − 1/100
3.2. CONVERGÊNCIA DE SÉRIES 83
converge. Assim,
5, 2323... = 5 + 0, 2323...
= 5 + 0, 23 + 0, 0023 + 0, 000023 + ...
23 23 23 23
= 5+ + 2
+ 3
+ ... + + ...
100 100 100 100n−1
∑ 23
= 5+ (1/100)n−1
100
= 5 + 23/99
518
= .
99
Exercı́cios de Fixação
1. Mostre que a convergência da série não é afetada se mudarmos um número finito de ter-
mos. Neste caso, a soma não necessariamente é a mesma.
∑ 1
i) (n+1)(n+2)
= 1;
∑ 1
ii) n(n+1)(n+2)
= 14 .
∑
i) 6(0, 9)n−1 ;
∑ (−π)n
ii) 3n+1
.
84 CAPÍTULO 3. TERCEIRA AULA: SÉRIE DE NÚMEROS REAIS
Nesta seção, mostraremos as mais elementares operações com séries convergentes. Exi-
biremos, também, vários exemplos para esclarecer por que outras operações, tão simples
quanto as apresentadas no próximo resultado, não são verdadeiras para algumas séries de
números reais.
∑ ∑
Teorema 3.2 (Operações com Séries). Sejam xn e yn séries convergentes e k ∈ R,
então:
∑ ∑ ∑
i) (xn + yn ) = xn + yn ;
∑ ∑
ii) kxn = k xn .
∑ ∑
Demonstração. Considere que xn = x e yn = y. Sejam (sn ) e (tn ) as sequências das
∑ ∑
somas parciais para as séries xn e yn , respectivamente, então lim sn = x e lim tn = y.
i) Assim sendo, com o Teorema 2.11, concluı́mos que
mas,
sn + tn = x1 + x2 + ... + xn + y1 + y2 + ... + yn
= (x1 + y1 ) + (x2 + y2 ) + ... + (xn + yn )
∑ ∑
é a n-ésima soma parcial da série (xn + yn ). Logo, (xn + yn ) converge para x + y. Ou
seja,
∑ ∑ ∑
(xn + yn ) = x + y = xn + yn .
ii) Analogamente,
lim ksn = k lim sn = kx,
No item i) do Teorema 3.2, podemos substituir a operação soma pela subtração, que
ainda assim o resultado é verdadeiro. Veja a observação abaixo.
∑ ∑
Obs 3.5. Considere que xn e yn são séries convergentes. Daı́,
∑ ∑ ∑ ∑ ∑ ∑
(xn − yn ) = [xn + (−yn )] = xn + (−yn ) = xn − yn .
∑ 3n−1 − 1 ∑ [ 3n−1 1
]
∑[ 1 1
]
= − n−1 = −
6n−1 6n−1 6 2n−1 6n−1
∑ 1 [ ∑ 1 ] 1 1
= − = 1 −
2n−1 6 n−1 1− 2 1 − 16
4
= .
5
Se multiplicarmos cada termo de uma série divergente por uma constante real não-nula,
não modificaremos a divergência de tal série. Veja a observação abaixo.
∑ ∑
Obs 3.6. Observe que se xn é divergente, então kxn é divergente, onde k ̸= 0. Suponha,
∑ ∑
por absurdo, que kxn é convergente, então, pelo Teorema 3.2, 1/k kxn é convergente e
∑ ∑ ∑
1/k kxn = (1/k)kxn = xn .
∑ ∑ ∑
Portanto, xn é convergente. Absurdo, pois, xn é divergente! Logo, kxn é divergente.
Exemplo 3.10. As séries
∑4 ∑ 1 ∑ 1 ∑ 1 1 ∑ −1 ∑ 1
= 4 , = e = (−1)
n n 5n 5n n n
∑ 3n + n ∑[1 1
]
= + ,
n3n n 3n
∑ 1
∑ 1
∑ 1 ( 1 )n−1
onde n
é divergente (ver Exemplo 10.11) e 3n
= 3 3
é convergente (ver Exemplo
3.7).
∑ ∑
Agora, se retirarmos a hipótese de convergência das séries xn e yn no item i) do
∑
Teorema 3.2, nada pode ser inferido sobre a convergência de [xn + yn ]. O exemplo a seguir
discute este fato.
∑ ∑ ∑
Exemplo 3.12. Olhe que se xn e yn são divergentes, não podemos concluir que [xn +
yn ] é divergente. Por exemplo,
∑[1 −1
] ∑
+ = 0=0
n n
∑ 1 ∑ −1
é convergente, porém as séries e são divergentes (ver Exemplo 10.11).
n n
Os dois exemplos abaixo discutem o que ocorre com a multiplicação e divisão termo a
termo de duas séries convergentes.
Logo,
∑ 1 ∑ 1 6 ∑ 1 1
n−1 n−1
= 3 ̸
= = n−1 n−1
,
2 3 5 2 3
ou seja,
∑ 1 ∑ 1 ∑ 1 1
n−1 n−1
̸
= n−1 n−1
.
2 3 2 3
∑ ∑
Dessa forma, mesmo que xn e yn sejam convergentes, não é verdade que
∑ ∑ ∑
x n yn = xn yn .
∑ 1
∑ 1
Exemplo 3.14. Veja que 2n−1
=2e 3n−1
= 32 . Por outro lado,
∑ ( 1 ) / ( 1 ) ∑ 3n−1 ∑ ( 3 )n−1
= =
2n−1 3n−1 2n−1 2
∑ ∑
é divergente (ver Exemplo 3.7). Portanto, mesmo que xn e yn sejam convergentes, não
∑
é verdade que (xn /yn ) seja convergente.
Exercı́cios de Fixação
∑ 3 1
1. Calcule a soma da série n(n+1)
+ 2n
.
∑ 1+3n ∑ 1+3n ∑ 1
2. Determine se as séries 2n
, 2n
e 10n
convergem ou divergem. Se for convergente
calcule sua soma.
Neste momento, estamos interessados em elaborar alguns testes que verifiquem a con-
vergência ou divergência de algumas séries contituı́das de números reais.
∑ ∑
Teorema 3.3 (Teste da Comparação). Sejam xn e yn séries tais que xn , yn ≥ 0,
∀ n ∈ N. Seja N ∈ N. Então,
88 CAPÍTULO 3. TERCEIRA AULA: SÉRIE DE NÚMEROS REAIS
∑ ∑
i) yn é convergente e xn ≤ yn , ∀ n ≥ N ⇒ xn é convergente;
∑ ∑
ii) yn é divergente e xn ≥ yn , ∀ n ≥ N ⇒ xn é divergente.
Demonstração. Consideraremos nos dois itens que N = 1. Sejam (sn ) e (tn ) as sequências
∑ ∑
das somas parciais das séries xn e yn , respectivamente
∑
i) Suponha que yn = y e xn ≤ yn , ∀ n ∈ N. Logo, lim tn = y. Dessa forma,
0 ≤ sn = x1 + x2 + ... + xn ≤ y1 + y2 + ... + yn = tn , ∀ n ∈ N,
pois 0 ≤ xn ≤ yn . Mas (tn ) é convergente, logo (tn ) é limitada (ver Teorema 2.3). Ou seja,
existe d ∈ R tal que tn ≤ d, ∀ n ∈ N. Com isso, 0 ≤ sn ≤ tn ≤ d, ∀ n ∈ N. Com isso, (sn ) é
limitada. Agora, vejamos por que (sn ) é monótona. De fato,
pois xn ≥ 0. Ou seja, (sn ) é não-decrescente. Dessa forma (sn ) é monótona e limitada. Pelo
∑
Teorema 2.4, (sn ) é convergente. Logo, xn é convergente.
∑
ii) Façamos a prova por contraposição. Suponha que xn é convergente e xn ≥ yn , ∀ n ≥ N .
∑
Assim, pelo item i), yn é convergente.
∑
∞ ∑
N ∑
∞
xn = xn + xn .
n=1 n=1 n=N
Como
∑ 1 ∑1 1
=
4n 4 4n−1
3.4. TESTES DE CONVERGÊNCIA PARA SÉRIES 89
∑n−1
é uma série geométrica convergente (razão 1/4 < 1). Pelo Teorema 3.3, é conver-
n4n
gente.
∑ 1
Exemplo 3.16. Veremos no Exemplo 10.11 que é convergente se p > 1 e é divergente
np
∑ 1
para p ≤ 1. Usaremos este fato para ilustrar o Teorema 3.3. A série 2n+3
é convergente?
Veja que
1 1
≥ ⇔ 5n ≥ 2n + 3 ⇔ 3n ≥ 3 ⇔ n ≥ 1.
2n + 3 5n
∑ 1 ∑ 1
Como 5n
é divergente, então 2n+3
é divergente.
∑ ∑
Teorema 3.4 (Teste da Comparação por Limites). Sejam xn e yn séries tais que
xn , yn > 0, ∀ n ∈ N.
xn ∑ ∑
lim =x>0⇒ xn converge ⇔ yn converge .
yn
xn
x/2 < < 2x, ∀ n ≥ N.
yn
1 n 1
lim 3 = lim = 1 > 0,
3n − 1 1 − 31n
90 CAPÍTULO 3. TERCEIRA AULA: SÉRIE DE NÚMEROS REAIS
∑ 1
ver Proposição 2.2. Dessa forma, usando o Teorema 3.4, temos que 3n −1
é uma série
convergente.
∑
Exemplo 3.18. Considere a série n. Esta série é divergente, pois lim n = ∞ ̸= 0 (ver
∑ 2n2 +3n
Teorema 3.1). Vamos verificar que a série √ é divergente usando o Teorema 3.4. Com
5+n2
efeito,
3
n2 (2+ n )
2n2 √
√ +3n 5
n2 ( 2 +1) n2 (2 + n3 ) 2 + n3
5+n2
lim = lim n
= lim √ = lim √ = 2 > 0.
n n n2 n52 + 1 5
+ 1
n 2
∑ 2n2 +3n
Consequentemente, com o Teorema 3.4, obtemos que a série √ é divergente.
5+n2
Veremos a seguir uma condição suficiente para que uma série seja convergente. Para este
fim, precisaremos da seguinte definição.
∑
Definição 3.4 (Convergência Absoluta). Uma série xn é dita absolutamente convergente
∑
se a série |xn | é convergente.
∑ (−1)n−1 ∑ (−1)n−1
Exemplo 3.19. A série é uma série absolutamente convergente, pois nπ =
∑ 1 nπ
nπ
converge (ver Exemplo 10.11).
∑ (−1)n+1
Exemplo 3.20. A série 2n−1
é absolutamente convergente, pois
∑ (−1)n+1 ∑ 1
2n−1 = 2n−1
O teste que será apresentado, logo em seguida, serve para verificar convergência de séries
que tem sinais opostos termo a termo. A definição abaixo caracteriza precisamente tais
somas.
Definição 3.5 (Série Alternada). Uma série é dita alternada se esta pode ser escrita na
forma
∑∞
(−1)n xn = −x1 + x2 − ... + (−1)n xn + ...
n=1
3.4. TESTES DE CONVERGÊNCIA PARA SÉRIES 91
ou
∑
∞
(−1)n+1 yn = y1 − y2 + ... + (−1)n yn + ...
n=1
com xn , yn ≥ 0, ∀ n ∈ N.
Antes de enunciar o Teste de Leibniz, é importante ressaltar que tal ferramenta não serve
para determinar se uma série alternada é divergente.
Teorema 3.5 (Teste de Leibniz). Seja (xn ) uma sequência decrescente tal que lim xn = 0.
∑
Então, a série alternada (−1)n xn é convergente.
∑
Demonstração. Seja (sn ) a sequência formada pelas somas parciais de (−1)n xn . Vamos
provar que (sn ) é convergente. Iremos analisar as subsequências (s2n ) e (s2n−1 ) de (sn ).
Como (xn ) é decrescente, então
s2n+2 = −x1 + x2 + ... + x2n − x2n+1 + x2n+2 = s2n − x2n+1 + x2n+2 < s2n , ∀ n ∈ N,
pois x2n+1 > x2n+2 . Ou seja, (s2n ) é decrescente. Portanto, ... < s2n < ... < s4 < s2 . Agora,
vamos estudar a subsequência (s2n−1 ) de (sn ). Veja que
s2n+1 = −x1 + x2 + ... − x2n−1 + x2n − x2n+1 = s2n + x2n − x2n+1 > s2n , ∀ n ∈ N,
pois x2n > x2n+1 . Isto é, (s2n−1 ) é crescente. Com isso, s1 < s3 < ... < s2n−1 < .... Além
disso,
s2n = −x1 + x2 + ... − x2n−1 + x2n = s2n−1 + x2n ≥ s2n−1 , ∀ n ∈ N,
92 CAPÍTULO 3. TERCEIRA AULA: SÉRIE DE NÚMEROS REAIS
s1 < s3 < ... < s2n−1 < ... < s2n < ... < s4 < s2 .
Ou seja, (s2n ) e (s2n−1 ) são sequências monótonas e limitadas. Assim, usando o Teorema
2.4, concluı́mos que lim s2n = x e lim s2n−1 = y. Mas, s2n = s2n−1 + x2n e lim xn = 0. Daı́,
lim s2n = lim s2n−1 +lim x2n ⇒ x = y+0 = y (ver Teorema 2.2). Dessa forma, lim sn = x (ver
∑
exercı́cios de sequências). Isto nos diz que a série alternada (−1)n xn é convergente.
∑ (−1)n
Exemplo 3.24. Considere a série alternada n
. Seja xn = 1/n, ∀ n ∈ N. Observe que
1
lim xn = lim = 0.
n
1 1
≥ ⇔ n + 1 ≥ n ⇔ 1 ≥ 0, ∀ n ∈ N.
n n+1
∑ (−1)n
Pelo Teorema 3.5, n
é convergente.
∑ (−1)n (n+1) n+1
Exemplo 3.25. Considere a série alternada n
. Defina xn = , ∀ n ∈ N. Com
n
isso, ( )
n+1 1
lim xn = lim = lim 1 + = 1 ̸= 0.
n n
Dessa forma, não podemos aplicar o Teorema 3.5. A seguir veremos uma outra maneira de
verificar a convergência desta série.
Demonstração. Sejam
Sejam m, n ∈ N tais que m < n. Dessa forma, a desigualdade triangular nos permite concluir
que
Logo, dado ε > 0 existe N ∈ N tal que ∀ n, m ≥ N , tem-se que |tn − tm | < ε. Portanto,
Consequentemente, (sn ) é de Cauchy. Com o Teorema 2.15, obtemos que (sn ) é convergente.
∑
Por fim, xn é uma série convergente. Além disso,
e, portanto, ∑
∑
xn = | lim sn | = lim |sn | ≤ lim tn = |xn |,
∑ ∑
ver exercı́cios resolvidos de sequências. Isto é, | xn | ≤ |xn |
∑ (−1)n
Obs 3.9. A recı́proca do Teorema 3.6 é falsa. Por exemplo, a série é convergente
∑ (−1)n ∑ 1 n
(ver Exemplo 3.24), mas n = n
é divergente (ver Exemplo 10.11).
( nπ )
∑ cos
2
Exemplo 3.26. Considere a série . Lembre que
n4
cos ( nπ ) cos ( nπ )
2 1
≤ 2
≤ 4 , ∀ n ∈ N.
n 4 n 4 n
∑ cos( nπ2 )
∑ 1
Portanto, usando o Teorema 3.3,
n é convergente, já que
4 n4
é convergente (ver
∑ cos( nπ
2 )
Exemplo 10.11). Com isso, n4
é uma série absolutamente convergente. Dessa forma,
∑ cos( nπ 2 )
pelo Teorema 3.6, concluı́mos que n4
é uma série convergente.
94 CAPÍTULO 3. TERCEIRA AULA: SÉRIE DE NÚMEROS REAIS
∑ (−1)n+1 ∑ (−1)n+1 ∑ 1
Exemplo 3.27. Considere a série alternada n3 . Observe que n 3 = n3
∑ (−1)n+1
é uma série convergente (ver Exemplo 10.11). Logo, é uma série absolutamente
∑ (−1)n+1n
3
Enunciaremos a seguir os dois testes de convergência para séries de números reais mais
famosos do Cálculo.
xn+1 ∑
i) lim =x<1⇒ xn é absolutamente convergente;
xn
xn+1 xn+1 ∑
ii) lim = x > 1 ou lim =∞⇒ xn é divergente;
xn xn
xn+1
Demonstração. i) Suponha que lim = x < 1. Seja x < k < 1 (ver Teorema 1.6).
x
n
xn+1
Logo, lim = x < k < 1, então, utilizando o Teorema 2.5, existe N ∈ N tal que
xn
xn+1 n+1
<k= k , ∀ n ≥ N.
xn kn
|xn+1 | |xn | ( )
Logo, n+1 < n , ∀ n ≥ N . Dessa forma, a sequência |xknn | é uma sequência
k k n≥N
não-crescente e
|xn+1 | |xn | |xN |
0 < ... < n+1 < n < ... < N ,
k k k
( )
ou seja, |xknn | é uma sequência monótona e limitada (por 0 e |xN |/k N ). Seja M =
n≥N
|xN |/k N . Com isso, |xknn | ≤ M , ∀ n ≥ N. Ou seja, |xn | ≤ M k n , ∀ n ≥ N. Como
∑ ∑ ∑
M k n = (M k)k n−1 é uma série geométrica de razão k < 1, temos que M k n é con-
∑ ∑
vergente. Por fim, pelo Teorema 3.3, concluı́mos que |xn | é convergente, isto é, xn é
absolutamente convergente.
xn+1
xn > 1, ∀ n ≥ N.
∑
Portanto, xn é divergente, exatamente pelo mesmo motivo exibido no caso lim | xxn+1
n
|=
x > 1.
Obs 3.10. Se lim | xxn+1 | = 1, então não podemos concluir nada sobre a convergência da
∑ n
série xn a partir deste fato. Vejamos exemplos que garantem esta afirmação. Considere a
∑ 1
série n2
convergente (ver Exemplo 10.11). Veja que
( )2 ( )2
xn+1 1 n 1
lim
= lim 2
n = lim = lim = 12 = 1.
xn (n + 1)2 n+1 1 + n1
∑ 1
Por outro lado, a série n
divergente (ver Exemplo 10.11) satisfaz:
xn+1 1
lim = lim n = lim n = lim 1 = 1.
xn (n + 1) n+1 1+ 1
n
∑ (−1)n+1 n
Exemplo 3.28. Considere a série 2n
. Vamos utilizar o Teorema 3.7 para verificar
(−1)n+1 n
se esta série converge ou diverge. Seja xn = 2n
, ∀ n ∈ N. Note que
xn+1 (−1)n+2 (n + 1) 2n
lim = lim = lim n + 1 1
xn 2n+1 (−1) n
n+1 2 n
( )
1n+1 1 1 1
= lim = lim 1+ = < 1.
2 n 2 n 2
∑ (−1)n+1 n
Utilizando o Teorema 3.7, concluı́mos que 2n
é uma série absolutamente convergente.
∑ n!
Exemplo 3.29. A série n
é divergente. Para isto, seja xn = n! n
, ∀ n ∈ N. Assim sendo,
xn+1 (n + 1)! n
lim = lim = lim (n + 1)n! n = lim n = ∞.
xn n + 1 n! n + 1 n!
96 CAPÍTULO 3. TERCEIRA AULA: SÉRIE DE NÚMEROS REAIS
∑ n!
Portanto, usando o Teorema 3.7, n
é uma série divergente.
∑
Teorema 3.8 (Teste da Raiz). Seja xn uma série. Então:
√ ∑
i) lim |xn | = x < 1 ⇒
n
xn é absolutamente convergente;
√ ∑
ii) lim n |xn | = x > 1 ⇒ xn é divergente.
√
Demonstração. i) Suponha que lim n
|xn | = x < 1. Pelo Teorema 1.6 existe q ∈ R tal que
√
lim n
|xn | = x < q < 1.
Portanto,
|xn | < q n , ∀ n ≥ N.
é convergente, pois tem razão q < 1 (ver Exemplo 3.7). Com o Teorema 3.3, obtemos que
∑ ∑
|xn | é convergente, isto é, xn é absolutamente convergente.
Com isso, pelo Teorema 2.5, concluı́mos que existe N ∈ N tal que
√
n
|xn | > 1, ∀ n ≥ N.
Portanto,
|xn | > 1, ∀ n ≥ N.
Se (xn ) é convergente, temos que lim |xn | ≥ 1 > 0 (ver Proposição 2.1). Logo, lim |xn | > 0.
Ou seja, lim |xn | ̸= 0. Ou equivalentemente, lim xn ̸= 0 (ver exercı́cios de sequências). Assim,
∑
xn é divergente (ver Teorema 3.1). Se (xn ) é divergente, então utilizando o Teorema 3.1,
∑ ∑
concluı́mos que xn é divergente. De qualquer forma, xn é divergente.
3.4. TESTES DE CONVERGÊNCIA PARA SÉRIES 97
√
Obs 3.11. Se lim n |xn | = 1 nada pode ser concluı́do sobre a convergência da série a partir
deste fato. Vamos verificar esta afirmação dando dois exemplos. Primeiramente considere a
∑
série 1. Veja que
√
lim n |1| = lim 1 = 1.
∑
Por outro lado, 1 é divergente pelo fato que lim 1 = 1 ̸= 0 (ver Teorema 3.1). Agora,
∑ (−1)n
considere a série n
. Com isso,
√ √
n
n (−1) n 1 1
lim = lim = √ = 1,
n n lim n n
∑ (−1)n
ver exercı́cios de sequências. Mas, é convergente (ver Exemplo 3.24). Por isso, nada
n √
podemos concluir sobre a convergência de uma série se lim n |xn | = 1. A série pode ser
convergente, como também pode ser divergente.
∑ ( n+4 )n
Exemplo 3.30. Dada a série 4n+1
, temos que
√( )n 4
n n+4 n+4 1+ n 1
lim = lim = lim 1 = < 1.
4n + 1 4n + 1 4+ n
4
∑ ( n+4 )n
Portanto, usando o Teorema 3.8, concluı́mos que 4n+1
é convergente.
∑ n √n
Exemplo 3.31. Considere a série 3 . Observe que lim 3n = lim 3 = 3 > 1. Deste
∑ n
modo, usando o Teorema 3.8, concluı́mos que 3 é divergente.
Para terminar esta seção exibiremos um exemplo de uma série que converge, mas não
absolutamente. A definição abaixo denomina as séries que satisfazem esta propriedade.
∑
Definição 3.6 (Convergência Condicional). Dizemos que uma série xn é condicionalmente
∑ ∑
convergente se xn é convergente e |xn | é divergente
∑ (−1)n
Exemplo 3.32. Vimos que a série n
é condicionalmente convergente (ver Exemplos
3.21 e 3.24).
Exercı́cios de Fixação
1. Estabeleça a convergência ou a divergência das séries
∑ ∑ n ∑ n
2− n ,
1
e .
(n + 1)(n + 2) 2n
98 CAPÍTULO 3. TERCEIRA AULA: SÉRIE DE NÚMEROS REAIS
Nesta seção, veremos a hipótese que é necessária para que a permuta de alguns termos
de uma série convergente seja realizada sem alteração de sua soma.
∑ ∑
Definição 3.7 (Rearranjo). Dizemos que uma série yn é o rearranjo de uma série xn
se existe bijeção f : N → N tal que yn = xf (n) , ∀ n ∈ N.
temos que
∑ 1 1 1 1
yn = y1 + y2 + y3 + y4 + ... = + + + + ...
4 2 16 8
é o rearranjo gerado pela bijeção f .
O resultado a seguir garante que a convergência absoluta é o ingrediente que faltava para
podermos alterar a ordem dos termos de uma série sem que haja uma mudança no valor de
sua convergência.
∑
Teorema 3.9 (Teorema do Rearranjo). Seja xn uma série absolutamente convergente.
∑ ∑ ∑ ∑ ∑
Considere que yn é um rearranjo de xn . Então, yn converge e yn = xn .
∑ ∑
Demonstração. Como xn é absolutamente convergente, então, pelo Teorema 3.6, xn é
∑
convergente, digamos que xn = x. Sejam (sn ), (tn ) e (pn ) as sequências de somas parciais
∑ ∑ ∑ ∑
das séries xn , |xn | e yn , respectivamente. Assim sendo, lim sn = x. Como xn
∑
é absolutamente convergente, então |xn | é convergente. Portanto, (tn ) é uma sequência
convergente, digamos lim tn = t. Logo, dado ε > 0, existe N ∈ N tal que
∑
∞ ∑ ∑
N
|xm | = |xn | − |xm |
m=N +1 m=1
= t − tN < ε/2,
∑
∞
∑ ∑
isto é, |xm | < ε/2. Como yn é o rearranjo de xn , então existe uma bijeção f :
m=N +1
N → N tal que yn = xf (n) , ∀ n ∈ N. Deste modo, existem únicos e distintos a1 , a2 , ..., aN ∈ N
tais que f (ai ) = i, ∀ i = 1, 2, ..., N. Seja M = max{a1 , a2 , ..., aN }. Logo, 1 ≤ ai ≤ M ,
∀ i = 1, 2, ..., N . Ou seja, {a1 , a2 , ..., aN } ⊆ {1, 2, ..., M } (⇒ N ≤ M ). Assim, a soma
xf (1) + xf (2) + ... + xf (M ) contém os termos x1 , x2 , ..., xN , pois
Obs 3.12. O Teorema 3.9 nos garante que quando a série é absolutamente convergente a
convergência desta série independe da ordem em que as parcelas aparecem. Ou seja, podemos
comutar os termos desta série que o resultado obtido será uma série que converge para a
mesma soma da original.
Exemplo 3.34. No Exemplo 3.33, vimos que a função f : N → N, dada por f (2n − 1) = 2n
e f (2n) = 2n − 1, ∀ n ∈ N, gera o rearranjo
∑ 1 1 1 1
yn = + + + + ...
4 2 16 8
∑ 1
para a série 2n
. Como
∑ 1 ∑ 1 ( 1 )n−1 1/2
= = =1
2n 2 2 1 − 1/2
Exercı́cios de Fixação
∑
1. Se a série xn é condicionalmente convergente, mostre que existe um rearranjo desta
série cuja sequência das somas parciais tende a ∞.
3.6. LEITURA COMPLEMENTAR: TEOREMA DE RIEMANN 101
∑
2. Se xn é absolutamente convergente, é verdade que cada rearranjo desta série é absolu-
tamente convergente?
Definição 3.8 (Partes Positiva e Negativa de uma Sequência). Seja (xn ) uma sequência.
− −
Defina, para cada n ∈ N, x+ +
n = max{xn , 0} e xn = max{−xn , 0}. Chamamos xn e xn ,
respectivamente, as partes positiva e negativa de xn .
−
n , xn ≥ 0, ∀ n ∈ N. Além disso,
Obs 3.13. Segue diretamente da Definição 3.8 x+
− −
|xn | = x+
n + xn , e xn = xn − xn , ∀ n ∈ N,
+
Exemplo 3.35. Considere a sequência (xn ), onde xn = (−1)n . As partes positiva e negativa
de xn são, respectivamente,
−
x+
n = max{1, 0} = 1 e xn = max{−1, 0} = 0, se n é par,
e
−
x+
n = max{−1, 0} = 0 e xn = max{−(−1), 0} = 1, se n é ı́mpar.
∑
Usaremos a Definição 3.8 para provar que se retirarmos a hipótese que |xn | converge do
∑
Teorema 3.9 e continuar supondo que xn converge, então podemos encontrar um rearranjo
∑
de xn convergindo para qualquer número real que desejarmos. Isto está formalmente
enunciado no Teorema abaixo.
102 CAPÍTULO 3. TERCEIRA AULA: SÉRIE DE NÚMEROS REAIS
∑
Teorema 3.10 (Teorema de Riemann). Seja xn uma série condicionalmente convergente.
∑ ∑ ∑
Seja y ∈ R um número qualquer. Então, existe um rearranjo yn , de xn , tal que yn =
y.
∑
Demonstração. Seja y ∈ R. Suponha que xn é condicionalmente convergente. Ou seja,
∑ ∑ ∑ + ∑ −
xn converge, mas |xn | diverge. Assim sendo, xn e xn divergem. Com efeito,
−
lembre que xn = xn − xn , ∀ n ∈ N. Logo, utilizando as observações do Teorema 3.2,
+
∑ + ∑ − ∑ ∑
concluı́mos que se ou xn ou xn converge, então xn diverge. Absurdo, pois xn
∑ + ∑ −
converge. Suponha, por absurdo, que xn e xn convergem. Como |xn | = xn + x−
+
n,
∀ n ∈ N, então
∑ ∑ ∑ ∑
−
|xn | = [x+
n + xn ] = x+n + x−n
∑ ∑ + ∑ −
converge. Absurdo, pois |xn | diverge. Consequentemente, xn e xn divergem. Sejam
+ −
∑ + ∑ −
(sn ) e (sn ) as sequências das somas parciais para as séries xn e xn , respectivamente.
−
Como x+ n , xn ≥ 0, então
− − − −
n+1 = sn + xn+1 ≥ sn e sn+1 = sn + xn+1 ≥ sn .
s+ + + +
−
∑ + ∑ −
Logo, (s+n ) e (sn ) são sequências monótonas (não decrescentes). Como xn e xn di-
− −
vergem, então (s+ +
n ) e (sn ) divergem (ver Definição 3.3). Pelo Teorema 2.4, (sn ) e (sn )
−
são sequências ilimitadas. As sequências (s+ n ) e (sn ) são não decrescentes, logo limitadas
− −
inferiormente por s+ +
1 e s1 , respectivamente. Dessa forma, (sn ) e (sn ) são ilimitadas superi-
∑
ormente. Vamos agora criar um algorı́tmo para encontrar o rearranjo de xn que converge
∑
para y. Comece a somar os primeiros termos positivos da série xn na ordem em que eles
aparecem. Em algum momento esta soma ultrapassará y, isto ocorre já que (s+ n ) é ilimitada
superiormente, ou seja, existe um menor m1 ∈ N tal que
y < s+ + + +
m1 = x1 + x2 + ... + xm1 ,
− − − −
m1 > −sm2 = −x1 − x2 − ... − xm2 .
y − s+
3.6. LEITURA COMPLEMENTAR: TEOREMA DE RIEMANN 103
− − −
1 + x2 + ... + xm1 − x1 − x2 − ... − xm2 < y). Acrescente estes termos negativos aos termos
(x+ + +
− − −
1 + x2 + ... + xm1 − x1 − x2 − ... − xm2
x+ + +
Por outro lado, pela minimalidade dos valores m1 , m2 , ..., temos que
−
0 < tn2k−1 − y ≤ x+
m2k−1 e 0 < y − tn2k ≤ xm2k , ∀ k ∈ N.
Como
− −
|xn | = x+
n + xn ≥ xn , xn ≥ 0 e lim xn = 0,
+
−
ver Teorema 3.1, então lim x+
n = lim xn = 0 (ver Teorema 2.8). Pelo Teorema 2.2, obtemos
que
−
lim x+m2k−1 = lim xm2k = 0.
k→∞ k→∞
ou seja,
lim tn2k−1 = lim tn2k = y.
k→∞ k→∞
e também
n2k ≤ n ≤ n2k+1 ⇒ tn2k ≤ tn ≤ tn2k+1 , ∀ k ∈ N.
∑
Consequentemente, lim tn = y. Isto é, yn = y.
∑ (−1)n+1
Exemplo 3.36. Vamos encontrar um rearranjo para a série n
que converge para
104 CAPÍTULO 3. TERCEIRA AULA: SÉRIE DE NÚMEROS REAIS
0. Vamos utilizar o algoritmo explicado na demonstração do Teorema 3.10. Veja que 1 > 0.
Assim, o rearranjo tem como primeiro termo 1. Agora some a 1 todos os termos negativos
da série até encontrar um resultado < 0, ou seja,
Estes são os 5 primeiros termos do rearranjo. Acrescente a esta soma a soma dos númeors
positivos, após o 1, de forma que o resultado seja > 0. Isto é,
Exercı́cios de Fixação
∑ (−1)n+1
1. Encontre um rearranjo da série n
que converge para 1.
∑ (−1)n
2. Encontre um rearranjo da série √ que converge para 2.
n
3.7 Conclusão
Caro leitor, ao final desta aula, é importante ressaltar que é possı́vel indentificar qual
teste de convergência para uma série deve ser utilizado para obtermos um resultado con-
clusivo. Por exemplo, quando o termo geral de uma série envolve fatoriais, produtos ou
constantes elevadas a um número natural é provável que o Teste da Razão afirme se a série
converge ou diverge. Ou se o n-ésimo termo da série for da forma xnn , o Teste da Raiz é o
melhor candidato entre os testes de convergência. Portanto, convidamos o leitor a resolver
a maior quantidade de exercı́cios possı́vel para que este identifique rapidamente qual teste
deve ser utilizado com uma alta possibilidade de acerto. Ou que pelo menos você conheça
quais testes que com certeza não serão úteis.
3.8. RESUMO 105
3.8 Resumo
Nesta aula, apresentamos alguns testes para verificar se uma série é convergente ou
divergente. Os principais testes são: Teste da Comparação, Teste da Razão e Teste da Raiz.
Além destes testes, discutimos algumas operações elementares envolvendo séries.
Exercı́cios:
∑ ∑ √ √
1. Dadas as séries xn , yn , com xn = n + 1 − n e yn = ln(1 + 1/n), mostre que
lim xn = lim yn = 0. Calcule explicitamente as n-ésimas somas parciais sn e tn destas séries
e mostre que lim sn = lim tn = ∞, logo as séries dadas são divergentes.
∑
2. Prove que a série ln n/n2 é convergente.
∑ ∑
3. Se xn é convergente e xn ≥ 0, ∀ n ∈ N então a série xn y n , é absolutamente con-
∑ ∑
vergente, ∀ y ∈ [−1, 1] e xn sen(ny), xn cos(ny) são absolutamente convergentes ∀ y ∈ R.
∑
4. Se xn é absolutamente convergente e lim yn = 0, ponha zn = x0 yn +x1 yn−1 +...+xn y0 =
∑n
xk yn−k e prove que lim zn = 0.
k=0
∑ ∑ ∑
5. Se x2n e yn2 convergem, prove que xn yn converge absolutamente.
∑
6. Prove: uma série xn é absolutamente convergente ⇔ a sequência das somas parciais
(sn ) é limitada.
∑
7. Determine se a série (ln n/n)n é convergente usando os Testes da Razão e Raiz.
∑
8. Prove: se x1 ≥ x2 ≥ ... ≥ xn ≥ ... ≥ 0 e xn converge então lim nxn = 0.
106 CAPÍTULO 3. TERCEIRA AULA: SÉRIE DE NÚMEROS REAIS
√
lim n
x1 x2 · · · xn = x.
∑ ∑
10. Determine para quais valores de x cada uma das séries é convergente: nn x n , xn /nn ,
∑ ∑ n 2
n!xn , x /n .
11. Se uma série é condicionalmente convergente, prove que existem alterações da ordem
dos seus termos de modo a tornar sua soma igual a ∞ e −∞.
Questões Resolvidas:
∑
Ex1. Use o Teste da Comparação para provar que a série 1/n2 é convergente, a partir da
∑
convergência de 2/n(n + 1).
∑ ∑
Demonstração. Como 1/n2 é convergente, então, pelo Teorema 3.2, 2/n2 é convergente.
Além disso,
2 2 1 1
≤ 2 ⇔ ≤ 2 ⇔ n(n + 1) ≥ n2 ⇔ n2 + n ≥ n2 ⇔ n ≥ 1, ∀ n ∈ N.
n(n + 1) n n(n + 1) n
∑
Pelo Teorema 3.3 2/n(n + 1) é convergente.
∑ ∑ 2
Ex2. Se xn é absolutamente convergente, prove que xn converge.
∑ ∑
Demonstração. Como xn é absolutamente convergente, então |xn | é convergente. Usan-
do o Teorema 3.1, concluı́mos que lim |xn | = 0. Portanto, existe N ∈ N tal que ∀ n ≥ N ,
3.10. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 107
Mas, esta última desigualdade é satisfeita, já que |xn | < 1, ∀ n ≥ N . Logo, utilizando o
∑ 2
Teorema 3.3, xn é convergente.
∑ k n
Ex3. Determine para quais valores de x a série n x é convergente.
Auto-Avaliação
Proxima Aula
Caro leitor, na próxima aula, estudaremos o conjunto dos números reais de uma forma
mais minuciosa. Apresentaremos um trabalho sobre a topologia usual em R.
108 CAPÍTULO 3. TERCEIRA AULA: SÉRIE DE NÚMEROS REAIS
Referências Bibliográficas
[1] Alonso, M.; Finn, E. J., Fı́sica: Um Curso Universitário. Segunda Edição, São Paulo,
Edgard Blücher Ltda, 2009. 481p.
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JohnWiley and Sons,Inc., 2000. 399p.
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Problems. Seventh Edition, New York, JohnWiley and Sons,Inc, 2001. 745p.
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University of Wisconsin, 1989.
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toria University of Technology, 2002.
[7] Ferreira, J., A Construção dos Números. Primeira Edição, Rio de Janeiro, SBM, 2010.
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[8] Figueiredo, D., Análise I. Segunda Edição, Rio de Janeiro, LTC, 2008. 266p.
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Hall, Inc., Englewood Cliffs, 1974. 227p.
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Ordinary, Partial. Cambridge University Press. New York, 2003.
[11] Lima, E. L., Análise Real. Funções de uma variável, vol.1. 8o . ed. Coleção Matemática
Universitária, Rio de Janeiro: IMPA, 2006.
109
110 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[13] Lima, E. L., Curso de Análise, vol. 1, Décima Segunda Edição, Rio de Janeiro, IMPA,
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[14] Melo, W., Existência de soluções clássicas para as Equações de Burgers e Navier-
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[17] Rudin, W., Principles of Mathematical Analysis. Third Edition, New York, McGraw-
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[18] Smoller, J., Shock Waves and Reaction-Diffusion Equations. 2nd ed., Springer-Verlag,
1994.
[19] Tveito, A.; Winther, R., Introduction to Partial Differential Equations. A Computa-
tional Approach. New York, 1961.
Professor Revisor
Meta
Definir o que são pontos interior, aderente, de acumulação e de fronteira. Além disso,
determinar quais conjuntos são compactos em R.
Objetivos
Ao final desta aula, o aluno deverá ser capaz de caracterizar conjuntos abertos, fechados
e compactos em R.
Pré-requisitos
111
112 CAPÍTULO 4. QUARTA AULA: TOPOLOGIA DOS NÚMEROS REAIS
4.1 Introdução
Nesta aula, discutiremos a topologia usual do conjunto dos números reais. Dentro desse
contexto, trabalharemos com alguns conjuntos que possuem caracterı́sticas especiais. Entre
esses destacamos: os conjuntos denominados abertos, fechados e compactos. Os conteúdos
encontrados aqui serão demonstrados e exemplificados, na maioria dos casos, com os resul-
tados estabelecidos na aula 2.
x -e x x +e
{ ( ) } { }
X
Figura 4.1: x ∈ intX
Obs 4.1. O número real positivo ε depende somente de x, isto é, ε = ε(x).
A seguir veremos que o interior de qualquer conjunto formado por números reais está
contido no próprio conjunto.
Portanto, x ∈ X. Ou seja, intX ⊆ X. Agora, seja X = ∅. Suponha, por absurdo, que existe
x ∈ int∅. Dessa forma, ∃ ε > 0 tal que
x ∈ (x − ε, x + ε) ⊆ ∅.
Obs 4.3. Se X ⊆ Y ⊆ R, então intX ⊆ intY . Com efeito, dado x ∈ intX, temos que existe
ε > 0 tal que
(x − ε, x + ε) ⊆ X.
(x − ε, x + ε) ⊆ Y.
Exemplo 4.1. Seja x ∈ (a, b). Note que x ∈ int(a, b). De fato, seja
{ }
x−a b−x
ε = min , > 0.
2 2
(x-a)/2 e
a b
{
{
( ( ) ) )
x -e x x +e
}
(b-x)/2
Analogamente, prova-se que qualquer ponto de (a, ∞), (−∞, b), (−∞, ∞) = R é ponto
interior.
Exemplo 4.2. O ponto a não é interior a [a, b], pois ∀ ε > 0 temos que (a − ε, a + ε) * [a, b].
De fato, pelo Teorema 1.6, existe
x ∈ (a − ε, a) ⊆ (a − ε, a + ε)
racional.
x b
( [ ) ]
a-e a a +e
Com isso, x < a. Isto é x ̸∈ [a, b]. Isto nos diz que a ̸∈ int [a, b]. Analogamente, prova-se que
b ̸∈ int [a, b]. Como (a, b) ⊆ [a, b], então
Exemplo 4.3 (Interior de Q). Afirmamos que intQ = ∅. Suponha, por absurdo, que existe
x ∈ intQ. Logo, existe ε > 0 tal que
(x − ε, x + ε) ⊆ Q.
Obs 4.4. Como intX ⊆ X, ∀ X ⊆ R, então para provar que um conjunto X é aberto, basta
provar que X ⊆ intX. Ou seja, que todo ponto do conjunto é interior a este.
Exemplo 4.4. Vimos no Exemplo 4.1 que (a, b), (a, ∞), (−∞, b) e (−∞, ∞) = R são
exemplos de conjuntos abertos em R. O conjunto ∅ é aberto, pois int∅ = ∅.
Exemplo 4.5. O Exemplo 4.2 nos garante que os conjuntos [a, b], [a, ∞), (−∞, b] não são
abertos.
int(intX) = intX.
(x − ε, x + ε) ⊆ X.
Com isso,
(x − ε, x + ε) = int(x − ε, x + ε) ⊆ intX,
ver observação 4.3. Ou seja, x ∈ int(intX). Dessa forma, intX ⊆ int(intX). Isto é, intX é
aberto.
(x − ε, x + ε) ⊆ (x − ε1 , x + ε1 ), (x − ε2 , x + ε2 ).
Consequentemente,
(x − ε, x + ε) ⊆ X1 , X2 .
Assim,
(x − ε, x + ε) ⊆ X1 ∩ X2 .
Isto nos diz que x ∈ int(X1 ∩ X2 ). Ou seja, X1 ∩ X2 é aberto. A prova do caso geral segue
por indução sobre a quantidade de abertos.
ii) Seja (Xλ )λ∈Λ uma famı́lia qualquer de abertos. Vamos provar que X = ∪λ∈Λ Xλ é aberto.
Seja x ∈ X. Portanto, existe λ0 ∈ Λ tal que x ∈ Xλ0 . Como Xλ0 é aberto, então existe ε > 0
tal que
(x − ε, x + ε) ⊆ Xλ0 ⊆ X.
Obs 4.5. Não podemos afirmar que a interseção qualquer de conjuntos abertos é um conjunto
aberto. Por exemplo, seja ( )
1 1
Xn = − , , ∀ n ∈ N.
n n
Sabemos que Xn é aberto, para cada n ∈ N. É fácil ver que
∩n∈N Xn = {0}.
Porém, {0} não é aberto. Suponha, por absurdo, que int{0} = {0}. Assim, existe ε > 0 tal
que
(−ε, ε) = (0 − ε, 0 + ε) ⊆ {0}.
Mas, usando o Teorema 1.6, existe um irracional em (−ε, ε). Daı́, (−ε, ε) ̸⊆ {0}. Logo, {0}
não é aberto.
4.3. CONJUNTOS FECHADOS 117
Exercı́cios de Fixação
1. Mostre que Z não é aberto.
3. Seja X ⊆ R. Seja Y = ∪A, onde A ⊆ X é aberto. Mostre que Y é aberto. Mostre que,
x ∈ Y ⇔ x ∈ intX.
Exemplo 4.9. O ponto a é aderente a (a, b). Com efeito, a sequência (a + 1/n) para n
( )
suficientemente grande está contida em (a, b) e lim a + n1 = a.
Analogamente, b é aderente a (a, b). Analogamente, prova-se que a e b são aderentes a (a, b],
[a, b), [a, b], (a, ∞), [a, ∞), (−∞, b), (−∞, b]. Observe que, se (xn ) ⊆ (a, b) é uma sequência
convergente, então
a < xn < b, ∀ n ∈ N ⇒ a ≤ lim xn ≤ b.
118 CAPÍTULO 4. QUARTA AULA: TOPOLOGIA DOS NÚMEROS REAIS
a a+1/(n+1) b
( )
a+1/(n+2) a+1/n
Ou seja, se x é aderente a (a, b), então x ∈ [a, b]. Dessa forma, b + 1 não é aderente a
(a, b). Analogamente, se x é aderente a (a, ∞), [a, ∞) então x ∈ [a, ∞). E se x é aderente a
(−∞, b), (−∞, b] então x ∈ (−∞, b].
1
inf X ≤ xn < inf X + ,
n
ver Definição 1.12. Usando o Teorema do Sanduı́che, temos que lim xn = inf X (ver Exemplo
2.5). Ou seja, inf X é aderente a X. Analogamente, sup X é aderente a X, caso X seja não-
vazio e limitado superiormente.
X = {x ∈ R : x é ponto aderente a X}
de fecho do conjunto X.
Portanto, x ∈ Y .
Qualquer conjunto está contido no próprio fecho. Veja a explicação para este fato a
seguir.
O exemplo abaixo nos diz que para encontrar o fecho de um intervalo basta acrescentar
os extremos a este, caso existam e não estejam em tais conjuntos.
Além disso,
(a, ∞) = [a, ∞) = [a, ∞) e (−∞, b) = (−∞, b] = (−∞, b].
Obs 4.7. Vimos que X ⊆ X, ∀ X ⊆ R. Assim para provar que X é fechado basta mostrar
que X ⊆ X.
Exemplo 4.16. (a, b), (a, b], [a, b), (a, ∞), (−∞, b) são exemplos de conjuntos não-fechados
(ver Exemplo 4.13).
Uma outra maneira de caracterizar ponto aderente está enunciada no seguinte resultado.
Demonstração. ⇒) Suponha que x ∈ X. Então existe (xn ) ⊆ X tal que lim xn = x. Com
isso, dado ε > 0,
∃ N ∈ N tal que xN ∈ (x − ε, x + ε).
xN ∈ X ∩ (x − ε, x + ε),
120 CAPÍTULO 4. QUARTA AULA: TOPOLOGIA DOS NÚMEROS REAIS
ou seja, X ∩ (x − ε, x + ε) ̸= ∅.
Exemplo 4.17 (Fecho de Q). É verdade que Q = R\Q = R. De fato, dados x ∈ R e ε > 0
sabemos, pelo Teorema 1.6, que
(x − ε, x + ε) ∩ Q ̸= ∅ e (x − ε, x + ε) ∩ (R\Q) ̸= ∅.
ou seja,
(x − ε, x + ε) ⊆ CX.
Dessa forma, x ∈ int(CX). Por fim, CX ⊆ int(CX). Isto nos diz que, CX é aberto.
4.3. CONJUNTOS FECHADOS 121
⇐) Agora, considere que CX é aberto, isto é, int(CX) = CX. Seja x ∈ X. Vamos pro-
var que x ∈ X. Utilizando o Teorema 4.2, temos que, dado ε > 0 tem-se
X ∩ (x − ε, x + ε) ̸= ∅.
Portanto,
(x − ε, x + ε) * CX.
No exemplo abaixo, exibiremos dois conjuntos que são abertos e fechados simultanea-
mente.
Exemplo 4.18. Vimos que R e ∅ são abertos. Logo, ∅ = CR e R = C∅ são fechados. Isto
nos mostra que aberto e fechado não são caracterizações excludentes.
CX = int(CX), ∀ X ⊆ R.
Em particular, X é fechado.
x ∈ CX ⇔ x ̸∈ X ⇔ ∃ ε > 0 : X ∩ (x − ε, x + ε) = ∅ ⇔ (x − ε, x + ε) ⊆ CX ⇔ x ∈ int(CX).
Assim sendo, pelo exemplo 4.6, CX = int(CX) é aberto. Utilizando o Teorema 4.3, X é
fechado, isto é, X = X.
pelo Teorema 4.3. Vimos no Teorema 4.1 que CX1 ∩ CX2 é aberto. Portanto, CX é aberto.
Novamente usando o Teorema 4.3, concluı́mos que X é fechado. O caso geral segue por
indução sobre o número de fechados.
ii) Seja (Xγ )γ∈Γ uma famı́lia qualquer de conjuntos fechados. Seja X = ∩γ∈Γ Xγ . Portanto,
Como cada Xγ é fechado, então, pelo Teorema 4.3, CXγ é aberto. Usando o Teorema 4.1,
concluı́mos que ∪γ∈Γ (CXγ ) é aberto. Ou seja, CX é aberto. Ou equivalentemente, X é
fechado, pelo Teorema 4.1.
Obs 4.8. Observe que a união qualquer de fechados não, necessariamente, é fechado. De
fato,
(0, 1) = ∪x∈(0,1) {x}.
Veja que
C{x} = (−∞, x) ∪ (x, ∞).
Logo, C{x} é aberto (ver Teorema 4.1). Então, {x} é fechado. Porém (0, 1) não é fechado.
Ou seja, temos uma união de fechados que não é fechado.
Exercı́cios de Fixação
Vamos inserir pré-requisitos para podermos provar que os únicos conjuntos que são aber-
tos e fechados em R são ∅ e R. Primeiramente, estabeleceremos a seguinte definição.
Definição 4.6 (Cisão). Dizemos que (X|Y ) é uma cisão do conjunto A ⊆ R se
A = X ∪ Y e X ∩ Y = X ∩ Y = ∅.
X = (−∞, 0) ∪ (0, ∞)
e também
(−∞, 0) ∩ (0, ∞) = (−∞, 0] ∩ (0, ∞) = ∅.
Além disso,
(−∞, 0) ∩ (0, ∞) = (−∞, 0) ∩ [0, ∞) = ∅.
Exemplo 4.20. Seja X = [1, 3]. ([1, 2]|(2, 3]) não é uma cisão de X. Com efeito,
ou seja
[1, 2] ∩ (2, 3] ̸= ∅.
[ [ [ [
x1 = x X x2 X y2 = y1 = a Y y Y
Figura 4.5: Ideia da demonstração até o passo n = 2
I = X ∪ Y, X ∩ Y = X ∩ Y = ∅
124 CAPÍTULO 4. QUARTA AULA: TOPOLOGIA DOS NÚMEROS REAIS
x+y
a= ∈ I = X ∪ Y.
2
y−x
y1 − x1 = , x1 ∈ X e y1 ∈ Y.
2
onde
y−x
yi − xi = , xi ∈ X e yi ∈ Y, ∀ i = 1, 2, ..., n.
2i
Seja
xn + yn
an+1 = ∈ I = X ∪ Y.
2
Se an+1 ∈ X, então faça xn+1 = an+1 ∈ X e yn+1 = yn ∈ Y. Logo,
yn − xn y−x
yn+1 − xn+1 = = n+1 , xn+1 ∈ X e yn+1 ∈ Y.
2 2
Consequentemente,
I ⊇ [x, y] ⊇ [x1 , y1 ] ⊇ ... ⊇ [xn , yn ] ⊇ ...,
onde
y−x
yn − xn = , xn ∈ X e yn ∈ Y, ∀ n ∈ N.
2n
4.4. CONJUNTOS CONEXOS 125
∩n∈N [xn , yn ] ̸= ∅,
xn ≤ b ≤ yn , ∀ n ∈ N (b ∈ I).
Mas, (xn ), (yn ) ⊆ [x, y]. Logo, (xn ) e (yn ) são limitadas. Pelo Teorema de Bolzano-
Weierstrass, passando a uma subsequência, se necessário, lim xn e lim yn existem. Por outro
lado,
y−x 1
lim yn − lim xn = lim(yn − xn ) = lim n = (y − x) lim n = 0,
2 2
pois lim 2 = ∞. Portanto, lim xn = lim yn . Com isso, pelo Teorema do Sanduı́che,
n
Vejamos agora como provar que não existe outro subconjunto de R aberto e fechado
simultaneamente, a menos do vazio e de R.
X ∩ CX = X ∩ CX = X ∩ CX = ∅,
pois X e CX são fechados (ver Teorema 4.3). Logo, (X|CX) é uma cisão de R. Porém
R = (−∞, ∞) é um intervalo não-degenerado. Assim, pelo Teorema 4.5, (X|CX) é uma
cisão trivial. Ou seja, X = R ou X = ∅.
Exemplo 4.22. Vimos no Teorema 4.5 que todo intervalo não-degenerado é um conjunto
conexo.
A = (−∞, y) ∩ X e B = (y, ∞) ∩ X.
Logo,
A ∩ B = ∅, A ∪ B = X, A ∩ B ⊆ (−∞, y] ∩ (y, ∞) = ∅.
Além disso,
A ∩ B ⊆ (−∞, y) ∩ [y, ∞) = ∅.
Note que a ∈ A e b ∈ B. Assim sendo, (A|B) é uma cisão não-trivial de X. Isto é uma
contradição, pois X é conexo. Deste modo, X é um intervalo.
Exercı́cios de Fixação
1. Mostre que a união de conjuntos conexos que contém um ponto em comum é um conjunto
conexo.
2. Prove que: A fim de que X ⊆ R seja conexo, é necessário e suficiente que, para quaisquer
a, b ∈ X, exista um conjunto conexo Cab com a, b ∈ Cab ⊆ X.
(x − ε, x + ε) ∩ X ̸= ∅ e (x − ε, x + ε) ∩ CX ̸= ∅.
O conjunto
FrX = {x ∈ R : x é ponto de fronteira de X}
Fr X
x y z
( ) ( [ ) ( ) )
x -e x +e y -e y +e z-e z +e
{
X
(x − ε, x + ε) ∩ Q ̸= ∅ e (x − ε, x + ε) ∩ (R\Q) ̸= ∅,
FrQ = Fr(R\Q) = R.
Exemplo 4.24. Usando novamente o Teorema 1.6, temos que a, b ∈ R são pontos de fron-
teira de (a, b), [a, b), [a, b], a ∈ R é ponto de fronteira de (a, ∞), [a, ∞) e b ∈ R é ponto de
128 CAPÍTULO 4. QUARTA AULA: TOPOLOGIA DOS NÚMEROS REAIS
então existem
tais que
Portanto,
Fr(a, b) = Fr[a, b) = Fr(a, b] = {a, b}.
Analogamente,
Demonstração. ⇒) Suponha que X é fechado, isto é, X = X. Seja x ∈ FrX, daı́ ∀ ε > 0,
tem-se que
(x − ε, x + ε) ∩ X ̸= ∅.
(x − ε, x + ε) ∩ X ̸= ∅.
x ∈ (x − ε, x + ε) ∩ CX ̸= ∅.
4.6. PONTOS DE ACUMULAÇÃO E CONJUNTOS DISCRETOS 129
Exemplo 4.25. Usando o Exemplo 4.24 e a Proposição 4.2, vemos de uma outra maneira
que (0, 1) não é fechado, já que Fr(0, 1) = {0, 1} * (0, 1).
Exemplo 4.26. Seja A = (0, 1]. Então FrA = {0, 1}. Portanto,
Exercı́cios de Fixação
1. Encontre os seguintes conjuntos FrN, FrZ, Fr{1/n : n ∈ N}, FrR e Fr∅.
Obs 4.11. O conjunto dos pontos de acumulação de X será denotado por X ′ , isto é,
A seguir expomos um resultado que informa uma outra maneira de definirmos ponto de
acumulação.
Demonstração. ⇒) Suponha que x ∈ X ′ . Então existe (xn ) ⊆ X\{x} tal que lim xn = x.
Dessa forma, dado ε > 0,
ou seja, ( )
1 1
∃ xn ∈ (X\{x}) ∩ x − , x + ,
n n
isto é,
1 1
(xn ) ⊆ X\{x} e x − < xn < x + .
n n
Pelo Teorema do Sanduı́che, lim xn = x (ver Exemplo 2.5). Portanto, x ∈ X ′ .
Exemplo 4.28. Seja Z o conjunto dos números interiros. Dado z ∈ Z, temos que z ̸∈ Z′ .
4.6. PONTOS DE ACUMULAÇÃO E CONJUNTOS DISCRETOS 131
Com efeito,
(Z\{z}) ∩ (z − 1, z + 1) = ∅.
Exemplo 4.29. Usando a Observação 4.13, temos que 0 ∈ [0, 1)′ , pois, 0 ∈ [0, 1] = (0, 1).
Precisaremos da definição abaixo para podermos classificar quais conjuntos são denomi-
nados discretos.
Obs 4.14. Note que para que x seja ponto isolado de X é necessário que x ∈ X.
Obs 4.15. Veja que x é ponto isolado de X ⇔ existe ε > 0 tal que X ∩ (x − ε, x + ε) = {x}.
( (
x -e x x +e
X
Figura 4.7: Ponto isolado
O resultado a seguir, nos diz que todo conjunto limitado e infinito possui, no mı́nimo,
um ponto de acumulação.
132 CAPÍTULO 4. QUARTA AULA: TOPOLOGIA DOS NÚMEROS REAIS
Demonstração. Como X é infinito, então existe uma injeção f : N → X (ver livro [13]). Logo,
f : N → f (N) ⊆ X é uma bijeção. Como N é enumerável, então f (N) também é. Ou seja,
X possui o subconjunto f (N), o qual é enumerável. Digamos que f (N) = {x1 , x2 , ..., xn , ...}.
Considere que estes elementos são dois a dois distintos. Com isso, (xn ) ⊆ X. Como X é
limitado, então (xn ) é uma sequência limitada. Passando a uma subseqência, se necessário,
(xn ) é uma sequência convergente (ver Teorema de Bolzano-Weierstrass), digamos lim xn = x.
Se um, e somente um, dos termos da sequência (xn ) é igual a x, então exclua este termo da
sequência para obter (xn ) ⊆ (X\{x}), com lim xn = x. Logo x ∈ X ′ . Por fim, X ′ ̸= ∅.
Para definirmos limites laterais (ver aula 5, seção 5.4) precisaremos dos conceitos de
ponto de acumulação à direita e à esquerda de um determinado subconjunto de R. Por isso,
definiremos tais números.
y
xn xn+1 x2 x3 x1
Logo, 0 ∈ X+′ . Seja Y = (a, b), assim a ∈ (a, b)′+ e b ∈ (a, b)′− , pois
( ) ( )
1 1
lim a + = a e lim b − = b,
n n
4.7. PONTOS DE ACUMULAÇÃO LATERAIS 133
com
1 1
a+ > a, b − < b
n n
e
1 1
, b − ∈ (a, b),
a+
n n
para n suficientemente grande. Analogamente,
a ∈ [a, b]′+ , [a, b)′+ , (a, b]′+ , [a, ∞)′+ , (a, ∞)′+
e
b ∈ [a, b]′− , [a, b)′− , (a, b]′− , (−∞, b)′− , (−∞, b]′− .
Exemplo 4.34. 1 ̸∈ (0, 1)′+ , pois à direita de 1 não existe elemento de (0, 1).
xn ∈ (y − ε, y + ε), ∀ n ≥ N.
xn ∈ (y, y + ε), ∀ n ≥ N.
134 CAPÍTULO 4. QUARTA AULA: TOPOLOGIA DOS NÚMEROS REAIS
⇐) Suponha que dado ε > 0, tem-se que X ∩ (y, y + ε) ̸= ∅. Tome os seguintes valores
para ε :
1 1 1
1, , , ..., , ...
2 3 n
Assim, encontramos ( )
1
xn ∈ X ∩ y, y + ,
n
ou seja,
1
y < xn < y +
.
n
Pelo Teorema do Sanduı́che, lim xn = y (ver Exemplo 2.5). Isto nos diz que y ∈ X+′ .
Obs 4.16. Analogamente ao que foi feito na Proposição 4.4, prova-se que y ∈ X−′ ⇔
dado ε > 0, tem-se que X ∩ (y − ε, y) ̸= ∅.
Exemplo 4.37. Seja X = {1/n : n ∈ N}. Observe que 0 ̸∈ X−′ . De fato, (−1, 0) ∩ X = ∅,
com ε = 1 > 0.
Exercı́cios de Fixação
daremos o nome compactos em R. Relembraremos alguns conjuntos, já citados neste mate-
rial, que satisfazem tais definições. Por fim, enunciaremos e demonstaremos o Teorema de
Cantor, o qual generaliza o Teorema dos Intervalos Encaixados.
Exemplo 4.38. Vimos que [a, b] é fechado e limitado. Logo, [a, b] é compacto em R.
Exemplo 4.39. Os intervalos (a, b), [a, b), (a, b] são limitaodos, mas não são fechados. Assim,
(a, b), [a, b), (a, b] não são compactos.
Exemplo 4.40. Veja que CZ = ∪z∈Z (z − 1, z + 1). Logo CZ é aberto, pelo Teorema 4.1.
Assim, usando o Teorema 4.3, Z é fechado. Mas, Z não é limitado, pois N ⊆ Z e N é ilimitado
(ver Teorema 1.2). Dessa forma, Z não é compacto.
O próximo Teorema nos mostra uma maneira equivalente de definir conjuntos compactos
em R.
Portanto, toda subsequência de (xn ) é ilimitada. Usando o Teorema 2.3, toda subsequência
de (xn ) é divergente. Agora, se X não é fechado então existe x ∈ X tal que x ̸∈ X. Ou seja,
Dessa forma, toda subsequência de (xn ) converge para x ̸∈ X (ver Teorema 2.2).
136 CAPÍTULO 4. QUARTA AULA: TOPOLOGIA DOS NÚMEROS REAIS
zn = xn + yn , ∀ n ∈ N.
Como Y é compacto, então, usando o Teorema 4.10, temos que existem (xnk ), (ynk ) ⊆ Y
subsequências de (xn ), (yn ), respectivamente, tais que
Seja
znk = xnk + ynk , ∀ k ∈ N.
Então ∩n∈N Xn ̸= ∅.
Xn ⊆ X1 , ∀ n ∈ N.
Dessa forma, temos uma sequência (xn ) contida no compacto X1 . Com o Teorema 4.10,
concluı́mos que existe (xn′ )n′ ∈N′ subsequência de (xn ) tal que
lim xn′ = x ∈ X1 .
n′ ∈N′
n′ + n0 > n0 > n, ∀ n′ ∈ N′ ,
4.8. CONJUNTOS COMPACTOS 137
por conseguinte,
Xn′ +n0 ⊆ Xn0 ⊆ Xn , ∀ n′ ∈ N′ .
Mas,
lim xn′ +n0 = x,
n′ ∈N′
Obs 4.17. Se a famı́la não for formada por compactos o Teorema 4.11 é falso. Por exemplo,
vimos que a famı́lia ((0, 1/n))n∈N é formada por conjuntos limitados, mas não-fechados.
Além disso, ∩n∈N (0, 1/n) = ∅. Outro exemplo é a famı́la ([n, ∞))n∈N , a qual é formada por
conjuntos fechados ilimitados que satisfaz ∩n∈N [n, ∞) = ∅. (note que C([n, ∞)) = (−∞, n) é
aberto).
Exercı́cios de Fixação
1. O conjunto {1/n : n ∈ N} ∪ {0} é compacto?
A Definição 4.14 não é a mais geral para caracterização de compactos, pois existe uma
teoria matemática sobre certos conjuntos denominados Espaços Topológicos, na qual R é
um exemplo, onde conjunto compacto não é definido como sendo um conjunto fechado e
limitado. Este conceito está formalmente colocado no próximo teorema. Então por que
definimos compacto em R como conjunto fechado e limitado? A resposta para esta pergunta
é a seguinte: a Definição 4.14 é equivalente ao conceito mais geral relatado acima e mais
simples de ser aplicada em R.
X
{{
X3
( { ( ( ( { ( (
{{
X1 X2
X
{{
X3
( { ( ( { (
{
X1
Figura 4.10: (Xλ )λ=1,3 é uma subcobertura da cobertura exposta na Figura anterior
4.9. LEITURA COMPLEMENTAR: CARACTERIZAÇÃO DE CONJUNTOS COMPACTOS139
Exemplo 4.42. A famı́lia ((1/n, 2))n∈N é uma cobertura aberta de (0, 1], pois (1/n, 2) é
aberto ∀ n ∈ N, e (0, 1] ⊆ ∪n∈N (1/n, 2) .
Exemplo 4.43. Sejam
Então (Xn )n∈{1,2,3} é uma cobertura aberta de X = [1/5, 3/4], pois X1 ∪ X2 ∪ X3 = (0, 1).
(Xn )n∈{1,2} é uma subcobertura de (Xn )n∈{1,2,3} , já que X1 ∪ X2 = (0, 9/10).
( [ ( ( ( [ ( (
0 1/5 1/4 1/3 2/3 3/4 9/10 1
Com isso, em um destes dois intervalos, descritos na união, (Xλ ) não possui subcobertura
finita. Denote este intervalo por [x1 , y1 ]. Note que, de qualquer forma
b−a
y1 − x1 = .
2
b−a
... ⊆ [xn , yn ] ⊆ ... ⊆ [x1 , y1 ] ⊆ [a, b] e yn − xn = , ∀ n ∈ N.
2n
x ∈ [a, b] ⊆ ∪Xλ .
140 CAPÍTULO 4. QUARTA AULA: TOPOLOGIA DOS NÚMEROS REAIS
Assim sendo, ∃ λ′ tal que x ∈ Xλ′ . Como Xλ′ é aberto, então existe ε > 0 tal que
(x − ε, x + ε) ⊆ Xλ′ .
ε
Seja δ = > 0. Com isso,
2
[x − δ, x + δ] ⊆ (x − ε, x + ε) ⊆ Xλ′ .
b−a
yn′ − xn′ = < δ.
2n′
Dessa forma,
x ∈ [xn′ , yn′ ] ⊆ [x − δ, x + δ] ⊆ Xλ′ .
Assim, (Xλ′ ) é uma subcobertura de (Xλ ) formada por somente um elemento, pois
Isto contradiz a suposição. Portanto, (Xλ ) admite subcobertura finita. Para o caso geral,
seja X um conjunto compacto, o qual possui uma cobertura (Xλ ). Como X é limitado, então
existem a, b ∈ R tais que X ⊆ [a, b]. Consequentemente,
pois X ⊆ ∪Xλ . Como X é fechado, então pelo Teorema 4.3, CX é aberto. Por conseguinte,
(Xλ , CX) é uma cobertura aberta de [a, b]. Pelo que foi feito acima,
Por outro lado X ∩ CX = ∅. Assim, X ⊆ Xλ1 ∪ ... ∪ Xλm . Ou seja (Xλi )i∈{1,2,...,m} é uma
subcobertura finita de (Xλ ).
Ou seja,
(x − ε, x + ε) ∩ Y = ∅, se x ̸∈ Y e (x − ε, x + ε) ∩ Y = {x}, se x ∈ Y.
Note que,
X ⊆ ∪x∈X (x − ε, x + ε).
Y = Y ∩ X ⊆ ∪ni=1 [(xi − ε, xi + ε) ∩ Y ] ⊆ ∪m
i=1 {xi },
onde m ≤ n é natural. Isto nos garante que Y é finito. Portanto, acabamos de provar que
se Y ⊆ X é infinito então Y contém ponto de acumulação em X. Agora, vamos provar
que X é compacto. Pelo Teorema 4.10, basta provar que toda sequência em X possui uma
subsequência que converge para um ponto de X. Assim sendo, seja (xn ) uma sequência em
X. Seja Y = {xn : n ∈ N} ⊆ X. Se Y é finito, então infinitos termos desta sequência
são iguais. Estes termos formam uma subsequência constante, logo, X é compacto. Então,
considere que Y é infinito. Portanto, existe x ∈ Y ′ tal que x ∈ X (ver Teroema 4.9). Dessa
forma, existe
xn1 ∈ (x − 1, x + 1) ∩ (Y \{x}) ̸= ∅.
Suponha, por indução, que estão definidos n1 < n2 < ... < nk tais que
( )
1 1
xni ∈ x − ,x + ∩ (Y \{x}) ̸= ∅, ∀ i = 1, 2, ..., k.
i i
Logo,
( )
1 1
n1 < n2 < ... < nk < ... e xnk ∈ x − ,x + ∩ (Y \{x}) ̸= ∅, ∀ k ∈ N.
k k
142 CAPÍTULO 4. QUARTA AULA: TOPOLOGIA DOS NÚMEROS REAIS
Pelo Teorema do Sanduı́che, lim xnk = x ∈ X (ver Exemplo 2.5). Ou seja, X é compacto.
k→∞
Exemplo 4.44. Vimos no Exemplo 4.42 que ((1/n, 2))n∈N é uma cobertura aberta de (0, 1].
Esta cobertura não possui subcobertura finita. De fato, suponha, por absurdo, que
Mas isto é um absurdo, pois nk1+1 ∈ (0, 1] e nk1+1 ̸∈ (1/nk , 2). Consequentemente, usando o
Teorema de Borel-Lebesgue, temos que (0, 1] não é compacto em R.
Exercı́cios de Fixação
1. Exiba uma cobertura aberta do intervalo (1, 2] que não possui subcobertura finita. Con-
clua que (1, 2] não é compacto.
2. Exiba uma cobertura aberta de N que não possua subcobertura finita. Conclua que N
não é compacto.
3. Exiba uma cobertura aberta de {1/n : n ∈ N} que não possua subcobertura finita. Con-
clua que {1/n : n ∈ N} não é compacto.
4.10 Conclusão
Caro leitor, ao final desta aula, é relevante ter em mente o quanto Topologia é essencial
em Matemática. Uma demonstração deste fato está ilustrada na dependência dos conteúdos,
4.11. RESUMO 143
explicitados nas aulas seguintes, do que apredemos agora. É importante também estudar
em outras referências como os conceitos apresentados neste momento podem ser estendidos
para outros espaços denominados Espaços Topológicos (ver [15]).
4.11 Resumo
Exercı́cios:
1. Prove que int(X ∪ Y ) ⊇ intX∪ intY , ∀ X, Y ⊆ R. Sejam X = (0, 1] e Y = [1, 2). Mostre
que int(X ∪ Y ) ̸= intX∪ intY .
10. Um conjunto compacto cujos pontos são todos isolados é finito. Dê exemplo de um
conjunto X fechado e ilimitado e Y não-fechado e limitado, cujos pontos são todos isolados.
11. Seja X um conjunto compacto. Prove que os seguintes conjuntos também são compactos:
i) {x − y : x, y ∈ X};
17. Sejam X compacto e Y aberto tais que X ⊆ Y . Mostre que existe ε > 0 tal que x ∈ X,
|y − x| < ε ⇒ y ∈ Y .
18. (Teorema de Lindelöf) Seja X ⊆ R. Toda cobertura aberta de X possui uma subcober-
tura enumerável.
Questões Resolvidas:
(z − ε, z + ε) ⊆ X ∩ Y.
Como X ∩ Y ⊆ X, Y , então
(z − ε, z + ε) ⊆ X e (z − ε, z + ε) ⊆ Y.
(a − εx , a + εx ) ⊆ X e (a − εy , a + εy ) ⊆ Y.
(a − ε, a + ε) ⊆ (a − εx , a + εx ) ⊆ X e (a − ε, a + ε) ⊆ (a − εy , a + εy ) ⊆ Y.
146 CAPÍTULO 4. QUARTA AULA: TOPOLOGIA DOS NÚMEROS REAIS
X ∩ FrX = X ∩ ∅ = ∅.
Logo, pela Proposição 4.3, X é aberto. Por outro lado, FrX = ∅ ⊆ X. Portanto, com a
Proposição 4.2, X é fechado. Consequentemente, X é aberto e fechado. Usando o Corolário
4.6, concluı́mos que X = ∅ ou X = R.
Ou equivalentemente, X ∪ Y = X ∪ Y .
A = X ∪ Y, X ∩ Y = X ∩ Y = ∅.
Vamos provar que X é fechado. Seja x ∈ X, então existe (xn ) ⊆ X ⊆ A tal que lim xn = x.
Mas A é fechado, assim
x ∈ A = A = X ∪ Y,
y + X = {y + x : x ∈ X}
4.13. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 147
é aberto.
y + x − ε < z < y + x + ε.
z − y ∈ (x − ε, x + ε) ⊆ X,
z = y + c ∈ y + X.
Dessa forma,
(a − ε, a + ε) ⊆ y + X.
Por fim, a ∈ int(y + X). Portanto, y + X ⊆ int(y + X). Isto é, y + X é aberto.
Demonstração. Defina
d(K, F ) = inf{|x − y| : x ∈ K, y ∈ F }.
inf{|x − y| : x ∈ K, y ∈ F } ∈ {|x − y| : x ∈ K, y ∈ F }.
Como K é compacto, então, pelo Teorema 4.10, ∃ (xnk ) subsequência de (xn ) tal que
lim xnk = k ∈ K.
k→∞
Observe que
|ynk | = |ynk − xnk + xnk | ≤ |ynk − xnk | + |xnk |,
ou seja, (ynk ) é limitada, pois, (ynk − xnk ) e (xnk ) são limitadas (ver Teorema 2.3). Pelo
Teorema de Bolzano-Weierstrass, existe (ynk′ ) subsequência de (ynk ) tal que
lim ynk′ = f ∈ F = F,
k′ →∞
k − f = lim
′
xnk′ − lim
′
ynk′ = lim
′
[xnk′ − ynk′ ].
k →∞ k →∞ k →∞
Portanto,
|k − f | = lim
′
|xnk′ − ynk′ | = d(K, F ) = inf{|x − y| : x ∈ K, y ∈ F } ≤ |x − y|, ∀ x ∈ K, y ∈ F.
k →∞
Auto-Avaliação
Proxima Aula
por números reais, o qual não necessariamente é o conjunto dos números naturais.
150 CAPÍTULO 4. QUARTA AULA: TOPOLOGIA DOS NÚMEROS REAIS
Referências Bibliográficas
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JohnWiley and Sons,Inc., 2000. 399p.
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Problems. Seventh Edition, New York, JohnWiley and Sons,Inc, 2001. 745p.
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Ordinary, Partial. Cambridge University Press. New York, 2003.
[11] Lima, E. L., Análise Real. Funções de uma variável, vol.1. 8o . ed. Coleção Matemática
Universitária, Rio de Janeiro: IMPA, 2006.
151
152 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[13] Lima, E. L., Curso de Análise, vol. 1, Décima Segunda Edição, Rio de Janeiro, IMPA,
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1994.
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tional Approach. New York, 1961.
Professor Revisor
Meta
Apresentar como verificar se o limite de uma função real existe ou não. Além disso,
definir e exemplificar limites infinitos e no infinito.
Objetivos
Ao final desta aula, o aluno deverá ser capaz de identificar a existência de um limite e
calculá-lo, quando for possı́vel.
Pré-requisitos
153
154 CAPÍTULO 5. QUINTA AULA: LIMITES DE FUNÇÕES REAIS
5.1 Introdução
Nesta aula, aprenderemos como é possı́vel estender o conceito de limite de uma sequência
para funções reais sobre qualquer subconjunto formado também por números reais. Lembre
que, uma sequência, nada mais é, que uma função real definida no conjunto dos números
naturais, e que, além disso, o limite de uma sequência sempre é estudado quando n → ∞. A
pergunta que devemos fazer é: como generalizar tal condição? A resposta para esta pergunta
está na aula 4. Faremos a substituição de ∞ por um ponto de acumulação do domı́nio
da função a qual queremos estudar o limite, já que tender a infinito é uma propriedade
semelhante a se aproximar de um ponto de acumulação. Com a nova definição de limite,
procuraremos estabelecer resultados análogos aos encontrados na aula 2, como, por exemplo,
o Teorema do Sanduı́che. Definimos também limites laterais que estão diretamente relacio-
nados a pontos de acumulação laterais, os quais estão definidos e exemplificados na aula
anterior. Para finalizar, estudaremos também os conceitos de limites no infinito e infinito.
Definição 5.1 (Limite de Funções). Seja f : X → R uma função real, onde X ⊆ R. Seja
y ∈ X ′ . Dizemos que l ∈ R é o limite de f (x) quando x tende a y, se dado ε > 0 existe δ > 0
tal que para todo x ∈ X que satisfaz 0 < |x − y| < δ, tem-se |f (x) − l| < ε.
l +e
(
f(z)
l
f(x)
l -e
(
( (
0 y-d x y z y +d
O próximo exemplo nos garante que o limite de uma constante é a própria constante.
l +e
(
c=l
l -e
(
( (
0 y-e x y z y +e
f (x) = c, ∀ x ∈ R.
Vamos verificar que lim f (x) = c. De fato, dado ε > 0 considere δ = ε > 0. Assim, para
x→y
todo x ∈ R com 0 < |x − y| < ε, temos que
|f (x) − c| = |c − c| = 0 < ε.
Logo, lim f (x) = c. Observe que o δ acima poderia ser qualquer número positivo.
x→y
156 CAPÍTULO 5. QUINTA AULA: LIMITES DE FUNÇÕES REAIS
Exemplo 5.2. Vejamos como mostrar, através da Definição 5.1, que lim (x2 + 4x) = 12.
x→2
Para este fim, considere que ε é um número real positivo. Note, primeiramente, que
sempre que |x − 2| < δ (aqui δ é um número positivo ao qual devemos encontrar). Assim
sendo, o termo que dificulta a determinação de δ é |x+6|. Caso esta expressão não estivesse na
desigualdade (5.1), poderı́amos escolher δ = ε. Dessa forma, para δ suficientemente pequeno,
verificaremos que é possı́vel determinar uma constante C > 0 tal que |x + 6| < C, sempre
que |x − 2| < δ. Com efeito, seja δ ∈ (0, 1). Com isso,
Deste modo, basta tomar C = 9. É importante ressaltar que a existência deste C deve-
se ao fato de estarmos tendendo a 2. Portanto, se |x − 2| < δ, tem-se que
|x2 + 4x − 12| = |(x − 2)(x + 6)| = |x − 2||x + 6| < 9|x − 2| < 9δ.
ε
|x2 + 4x − 12| < 9δ < 9 = ε.
9
ver Definição 10.1. Dado ε > 0, existe δ = e− ε > 0 tal que para todo x ∈ (0, ∞) com
1
5.2. LIMITES DE FUNÇÕES REAIS E EXEMPLOS 157
Portanto, ln x < ln 1 = 0 e
1
ln x < ln(e− ε ) = − .
1
ε
Com isso, | ln x| = − ln x > 1ε . Consequentemente,
1 1
− 0= = 1 < ε,
ln x ln x | ln x|
ou seja,
1
lim = 0.
x→0 ln x
Demonstração. De fato, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que para todo x ∈ X com 0 < |x−y| < δ,
tem-se
||f (x)| − |l|| ≤ |f (x) − l| < ε,
f (x) = sgn(x), ∀ x ∈ R,
isto é,
f (x) = 1, se x ≥ 0 e f (x) = −1, se x < 0.
mas lim f (x) ̸= 1, pois próximo a 0 é sempre possı́vel encontrar números onde f assume o
x→0
valor −1.
158 CAPÍTULO 5. QUINTA AULA: LIMITES DE FUNÇÕES REAIS
Vejamos que é possı́vel fazermos uma substituição de variável para calcularmos um limite.
Y = {h ∈ R : y + h ∈ X}.
hn = xn − y ∈ Y \{0}, ∀ n ∈ N.
Assim,
lim hn = lim(xn − y) = 0,
⇒) Se lim f (x) = l, então dado ε > 0, existe δ > 0 tal que para todo x ∈ X com
x→y
0 < |x − y| < δ, conclui-se que
|f (x) − l| < ε.
Assim, para 0 < |h| < δ, temos que 0 < |y + h − y| < δ. Consequentemente,
|f (y + h) − l| < ε,
ou seja, lim f (y + h) = l.
h→0
⇐) Reciprocamente, se
lim f (y + h) = l,
h→0
então dado ε > 0, existe δ > 0 tal que para todo h ∈ Y com 0 < |h| < δ, obtém-se
|f (y + h) − l| < ε.
|f (x) − l| = |f (y + x − y) − l| < ε,
5.2. LIMITES DE FUNÇÕES REAIS E EXEMPLOS 159
Exemplo 5.4. Seja f : X → R definida por f (x) = x, para todo x ∈ X. Vamos mostrar
que
lim f (x + h) = f (x),
h→0
ou seja, lim (x + h) = x. De fato, dado ε > 0, existe δ = ε > 0 tal que para todo x + h ∈ X
h→0
com 0 < |h| < δ, tem-se
|x + h − x| = |h| < δ = ε,
isto é,
lim (x + h) = x.
h→0
Portanto, pela Proposição 5.2, lim x = y. Por fim, lim f (x) = f (y).
x→y x→y
Se l < m, então ∃ δ > 0 tal que para todo x ∈ X com 0 < |x − y| < δ, obtém-se f (x) < g(x).
l -e l l +e m m+e
( )( )
f(x) m-e g(x)
m−l
Demonstração. Se l < m, então ε = > 0. Portanto, ε + l = m − ε. Como
2
então existem δ1 , δ2 > 0 tais que para todo x ∈ X com 0 < |x − y| < δ1 , encontra-se
|f (x) − l| < ε
|g(x) − m| < ε.
160 CAPÍTULO 5. QUINTA AULA: LIMITES DE FUNÇÕES REAIS
Considere δ = min{δ1 , δ2 } > 0. Com isso, usando a Observação 1.12, para todo x ∈ X com
0 < |x − y| < δ ≤ δ1 , δ2 , temos que
Obs 5.4. No Teorema 5.1, nada pode ser afirmado se l ≤ m. Por exemplo, sejam f, g : R →
R dadas por
f (x) = x e g(x) = 0, ∀ x ∈ R.
Corolário 5.2. Sejam f : X → R e y ∈ X ′ . Se lim f (x) < m, então ∃ δ > 0 tal que para
x→y
todo x ∈ X com 0 < |x − y| < δ, conclui-se que f (x) < m.
g(x) = m, ∀ x ∈ X.
Então,
lim f (x) < lim g(x) = m.
x→y x→y
Usando o Teorema 5.1, concluı́mos que ∃ δ > 0 tal que para todo x ∈ X com 0 < |x − y| < δ,
infere-se que f (x) < g(x) = m.
Obs 5.5. É fácil ver que no Corolário 5.2 o sinal < na primeira e última desigualdades pode
ser substituı́do por > .
O resultado abaixo nos diz que próximo a um ponto de acumulação, onde estamos ques-
tionando algum limite, a função permanece com mesmo sinal de seu limite.
Obs 5.6. Veja que no Corolário 5.3 o sinal < na primeira e última desigualdades pode ser
substituı́do por > .
Abaixo estabelecemos em que situação podemos passar o limite sobre uma desigualdade
entre funções.
f (x) ≤ g(x), ∀ x ∈ X,
( ) ( )
g(x) f(x)
lim g(x) lim f(x)
x y x y
Usando o Teorema 5.1, concluı́mos que ∃ δ > 0 tal que para todo x ∈ X com 0 < |x − y| < δ,
temos que g(x) < f (x). Seja δ1 = min{δ, δ0 }. Assim sendo, para todo x ∈ X com
0 < |x − y| < δ1 ≤ δ, δ0 ,
tem-se
g(x) < f (x) e f (x) ≤ g(x).
Contradição!
Agora estamos prontos para demonstrar o Teorema do Sanduı́che para funções reais
quaisquer.
162 CAPÍTULO 5. QUINTA AULA: LIMITES DE FUNÇÕES REAIS
Então,
lim h(x) = lim f (x) = lim g(x).
x→y x→y x→y
Assim, dado ε > 0 existem δ1 , δ2 > 0 tais que para todo x ∈ X, com 0 < |x − y| < δ1 ,
conclui-se que
|f (x) − m| < ε.
|g(x) − m| < ε.
Seja δ = min{δ1 , δ2 , λ} > 0. Usando a Observação 1.12 e a hipótese, temos que para todo
x ∈ X, com 0 < |x − y| < δ ≤ δ1 , δ2 , λ, chega-se a seguinte conclusão
Logo,
lim h(x) = m = lim f (x) = lim g(x).
x→y x→y x→y
Abaixo exporemos como aplicar o Teorema 5.5 para calcular limites envolvendo as funções
seno e cosseno (para mais detalhes ver Seção 9.7).
5.2. LIMITES DE FUNÇÕES REAIS E EXEMPLOS 163
A2
sen(x)
1
x
{ A1
{
0
1
Com efeito, sejam T1 e T2 as áreas do triângulo ∆A1 OA2 e do setor circular A1 OA2 . Assim
sendo, para x ∈ (0, π/2), encontramos
pois a circunferência trigonométrica, exposta na figura acima, tem raio 1. Além disso, através
da mesma figura, inferimos
T1 ≤ T2 , isto é, senx ≤ x,
Logo,
ou seja,
lim sen(x + h) = senx.
h→0
|senx| ≤ x, ∀ x ≥ 0,
ver Exemplo 7.32. Da mesma maneira que foi feito acima, chegamos a seguinte desigualdade:
|senx| ≤ |x|, ∀ x ∈ R.
lim f (x) = l ⇔ ∀ (xn ) ⊆ X\{y}, com lim xn = y, tem-se que lim f (xn ) = l.
x→y
Demonstração. ⇒) Seja (xn ) ⊆ X\{y} tal que lim xn = y. Assim, dado ε > 0 temos que
existe δ > 0 tal que para todo x ∈ X com 0 < |x − y| < δ, chegamos a seguinte desigualdade:
|f (x) − l| < ε,
pois lim f (x) = l. Como lim xn = y, então ∃ N ∈ N tal que para todo n ≥ N , tem-se
x→y
lim f (xn ) = l.
⇐) Suponha, por contraposição, que lim f (x) ̸= l. Assim, existe ε > 0 tal que ∀ δ > 0,
x→y
encontra-se xδ ∈ X tal que
1 1 1
1, , , ..., , ...,
2 3 n
1
0 < |xn − y| < e |f (xn ) − l| ≥ ε.
n
|f (xn ) − l| ≥ ε,
166 CAPÍTULO 5. QUINTA AULA: LIMITES DE FUNÇÕES REAIS
0 = lim |f (xn ) − l| ≥ ε,
O Teorema 5.6 nos ajuda a mostrar, de uma maneira mais simples, a inexistência de
alguns limites. Veja o exemplo abaixo.
1 1 1
lim xn = lim = lim = 0.
nπ π n
Porém,
lim cos (1/xn ) = lim cos (nπ) não existe,
pois (cos (nπ)) = (−1, 1, −1, 1, ...) (ver Teorema 2.2). Dessa forma, utilizando o Teorema 5.6
temos que
lim cos (1/x) não existe.
x→0
Corolário 5.7 (Unicidade). Se o limite de uma função real existe este é único.
Vamos provar que l = m. Como y ∈ X ′ , então existe (xn ) ⊆ X\{y} tal que lim xn = y. Daı́,
pelo Teorema 5.6,
lim f (xn ) = l e lim f (xn ) = m.
Exercı́cios de Fixação
1. Mostre que:
1
i) lim = −1;
x→2 1 − x
x2
ii) lim =0;
x→0 |x|
x2 − x + 1 1
iii) lim = .
x→1 x+1 2
x+5
2. Utilize a Definição 5.1 para mostrar que lim = 4.
x→−1 2x + 3
1
i) lim (x > 0);
x→0 x2
1
ii) lim √ .
x→0 x
Reservamos esta seção para trabalharmos com as operações mais elementares envolvendo
limites. E deixamos para o fim definir e exemplificar funções localmente limitadas, com o
intuito de obtermos um resultado para funções reais análogo ao Teorema 2.3.
iii) o limite de uma divisão é a divisão dos limites (caso o denominador seja não-nulo),
Demonstração. Seja (xn ) ⊆ X\{y} com lim xn = y. Como lim f (x) e lim g(x) existem,
x→y x→y
então, pelo Teorema 5.6, obtemos
i) lim[f (xn ) + g(xn )] = lim f (xn ) + lim g(xn ) = lim f (x) + lim g(x);
x→y x→y
ii) lim[f (xn ) · g(xn )] = lim f (xn ) · lim g(xn ) = lim f (x) · lim g(x);
x→y x→y
iii) lim [f (xn )/g(xn )] = [lim f (xn )]/[lim g(xn )] = [lim f (x)]/[lim g(x)],
x→y x→y
Obs 5.9. Observe que quando lim f (x) e lim g(x) existem, então os itens i) e ii) do Teorema
x→y x→y
5.8, nos garantem que
lim [f (x) − g(x)] = lim {f (x) + [−g(x)]} = lim f (x) + lim [−g(x)] = lim f (x) − lim g(x).
x→y x→y x→y x→y x→y x→y
lim [f1 (x) + f2 (x) + ... + fn (x)] = lim f1 (x) + lim f2 (x) + ... + lim fn (x)
x→y x→y x→y x→y
e também que,
lim [f1 (x) · f2 (x) · ... · fn (x)] = lim f1 (x) · lim f2 (x) · ... · lim fn (x),
x→y x→y x→y x→y
Exemplo 5.8 (Limite de Polinômio). Vimos que lim x = y. Assim, da observação anterior,
x→y
chegamos a
lim xn = lim x · ... · x = lim x · ... · lim x = y · ... · y = y n .
x→y x→y x→y x→y
170 CAPÍTULO 5. QUINTA AULA: LIMITES DE FUNÇÕES REAIS
lim [an xn + an−1 xn−1 + ... + a1 x + a0 ] = lim an xn + lim an−1 xn−1 + ... + lim a1 x + lim a0
x→y x→y x→y x→y x→y
|f (x)| ≤ m, ∀ x ∈ (y − δ, y + δ) ∩ X.
m
[
f(x)
( )
y -d x y z y+d
f(z)
-m
[
Sabemos que
−1 ≤ cos (1/x) ≤ 1, ∀ x ∈ R∗ .
f (x) = 1/x, ∀ x ∈ R+ .
f não é limitada em uma vizinhança de 0. Suponha, por absurdo, que existem δ > 0 e m ∈ R
tais que
|f (x)| ≤ m, ∀ x ∈ (−δ, δ) ∩ R+ = (0, δ).
Sabemos que existem N1 , N2 ∈ N tais que N1 > m e N2 > 1/δ (ver Teorema 1.2). Seja
N = max{N1 , N2 } ∈ N. Assim,
m < N = |N | = |f (1/N )| ≤ m.
Contradição!
Mostraremos, logo a seguir, que o limite do produto de uma função que tende a zero por
outra localmente limitada é também zero.
Por outro lado, lim f (x) = 0. Assim, pelo Teorema 5.6, ∀ (xn ) ⊆ X\{y} com lim xn = y,
x→y
obtemos lim f (xn ) = 0. Portanto, existe N ∈ N tal que para todo n ≥ N , tem-se xn ∈
(y − δ, y + δ). Logo,
|g(xn )| ≤ m, ∀ n ≥ N,
pois
xn ∈ (y − δ, y + δ) ∩ X, ∀ n ≥ N.
Usando o Teorema 2.9, lim f (xn )g(xn ) = 0. Consequentemente, lim f (x)g(x) = 0 (ver
x→y
172 CAPÍTULO 5. QUINTA AULA: LIMITES DE FUNÇÕES REAIS
Teorema 5.6).
Exemplo 5.11. Como a função definida por cos (1/x), ∀ x ∈ R∗ , é limitada em uma vizi-
nhança de 0 e lim x = 0, então, usando o Teorema 5.9, chegamos a
x→0
Observe que lim cos (1/x) não existe (ver Exemplo 5.7).
x→0
O próximo resultado estabelece uma forma análoga para o Teorema 2.3 enunciado na
aula 2.
Demonstração. Seja lim f (x) = l. Dado ε = 1 > 0, existe δ > 0 tal que, para todo x ∈ X,
x→y
|f (x)| ≤ m, ∀ x ∈ (y − δ, y + δ) ∩ X.
f (x) = 1/x, ∀ x ∈ R+ ,
5.4. LIMITES LATERAIS DE FUNÇÕES REAIS 173
não existe.
Exercı́cios de Fixação
1. Determine os seguintes limites:
i) lim (x + 1)(2x + 3) ;
x→1
x2 + 2
ii) lim .
x→1 x2 − 2
x2 − 4
ii) lim , x > 0.
x→2 x − 2
√ √
1 + 2x − 1 + 3x
4. Encontre o limite lim , onde x > 0.
x→0 x + 2x2
5. Dê exemplos de funções f, g tais que lim f (x) e lim g(x) não existem, mas lim [f (x)+g(x)]
x→y x→y x→y
e lim f (x)g(x) existem.
x→y
Caro leitor, para o estudo de limites laterais, faz-se necessário lembrarmos as definições
e resultados obtidos na seção 4.7. Nesta, trabalhamos com pontos de acumulação laterais,
174 CAPÍTULO 5. QUINTA AULA: LIMITES DE FUNÇÕES REAIS
l +e
(
f(z)
l
f(x)
l -e
(
( (
0 y z x y +d
Logo,
lim f (x) = l ⇔ lim g(x) = l.
x→y + x→y
Demonstração. Observe que, usando a Definição 5.3, os seguinte itens são equivalentes:
5.4. LIMITES LATERAIS DE FUNÇÕES REAIS 175
i) lim+ f (x) = l;
x→y
ii) ∀ ε > 0, ∃ δ > 0 tal que ∀ x ∈ X ∩ (y, y + δ), tem-se |f (x) − l| < ε;
pode ser provada de maneira análoga, com g = f |Y : Y → R, dada por g(y) = f (y), ∀ y ∈ Y,
e Y = X ∩ (−∞, y).
Obs 5.12. Com esta proposição é fácil provar que os resultados estabelecidos neste capı́tulo
envolvendo limites, com as devidas modificações, são verdadeiros para limites laterais. Por
exemplo, considere que lim+ f (x) e lim+ g(x) existem, então
x→y x→y
De fato,
x
f (x) = , ∀ x ∈ R∗ .
|x|
Assim,
x x
lim+ f (x) = lim+ = lim+ = lim+ 1 = 1.
x→0 x→0 |x| x→0 x x→0
176 CAPÍTULO 5. QUINTA AULA: LIMITES DE FUNÇÕES REAIS
Vejamos, agora, como relacionar o limite ordinário (ver Definição 5.1) com os limites
laterais de uma função real.
Teorema 5.11. Sejam f : X → R uma função e y ∈ X±′ . Então,
Demonstração. ⇒) Suponha que lim f (x) = l. Assim, pela Definição 5.1, dado ε > 0, ∃ δ > 0
x→y
tal que
para todo x ∈ X com 0 < |x − y| < δ, tem-se |f (x) − l| < ε.
Daı́, x ∈ X e 0 < |x − y| < δ. Logo, |f (x) − l| < ε. Isto nos diz que lim− f (x) = l.
x→y
Analogamente, prova-se que lim+ f (x) = l.
x→y
⇐) Suponha que
lim f (x) = lim− f (x) = l.
x→y + x→y
Da mesma maneira,
Seja δ = min{δ1 , δ2 } > 0. Com isso, para todo x ∈ X com 0 < |x − y| < δ, tem-se
x ∈ X ∩ (y, y + δ) ou x ∈ X ∩ (y − δ, y).
Consequentemente,
x ∈ X ∩ (y, y + δ1 ) ou x ∈ X ∩ (y − δ2 , y),
5.4. LIMITES LATERAIS DE FUNÇÕES REAIS 177
lim f (x) = l.
x→y
x x
lim+ = 1 e lim− = −1.
x→0 |x| x→0 |x|
x
Logo, lim não existe, pelo Teorema 5.11.
x→0 |x|
A3
{{
A4
tg(x)
1
sen(x)
x
0 A1 A2
Exemplo 5.15. Sejam B1 e B2 as áreas dos triângulos ∆A1 OA4 e ∆A2 OA3 . Considere
também que B3 seja a área do setor circular A2 OA4 . A figura acima, nos diz que
B1 ≤ B3 ≤ B2 .
Analogamente, encontramos
(Ver Seção 9.7). Por fim, sabemos que B3 = x/2. Por conseguinte,
Dessa forma,
senx cos x ≤ x ≤ tan x.
Considere que x ∈ (0, π/2). Assim sendo, senx, cos x > 0. Por conseguinte, dividindo as
desigualdades acima por senx, obtemos
x 1
cos x ≤ ≤ .
senx cos x
1 senx
≤ ≤ cos x.
cos x x
senx
Portanto, pelo Teorema 5.5, concluı́mos lim+ = 1, pois
x→0 x
senx
ver Exemplo 5.6. Usando o fato que o seno é uma função ı́mpar, prova-se que lim− = 1.
x→0 x
Desta maneira, utilizando o Teorema 5.11, inferimos
senx
lim = 1.
x→0 x
Vimos na aula 2 que uma sequência monótona e limitada é convergente, além disso
mostramos como obter tal convergência. Abaixo daremos definições que nos possibilitarão
obter resultados semelhantes sobre a existência de alguns limites.
(respectivamente, não-crescente) se
Se
x < y ⇒ f (x) < f (y) (respectivamente, f (x) > f (y)),
Exemplo 5.17. A função f : R → R, dada por f (x) = cos x, não é uma função monótona,
pois
cos π = −1 < 1 = cos(2π) e cos(π/2) = 0 > −1 = cos π.
O Teorema 2.4 tem sua versão para funções reais enunciada no seguinte resultado.
Teorema 5.12. Seja f : X → R uma função monótona limitada. Então lim+ f (x) e
x→y
lim− f (x) existem, ∀ y ∈ X+′ , z ∈ X−′ .
x→z
Como f (x) ∈ Y , então x < z. Daı́ existe δ > 0 tal que z = x + δ. Assim,
x ∈ X e z − δ < x < z.
ou seja,
f (x) ∈ (sup Y − ε, sup Y + ε).
Equivalentemente, |f (x) − sup Y | < ε. Isto nos diz que lim− f (x) = sup Y.
x→z
se f é não-decrescente.
A função f é monótona não-decrescente. Note que f é limitada, pois f ([0, 2]) = {0, 1}. Pelo
Teorema 5.12, temos que
e também
lim f (x) = inf{f (x) : x ∈ (0, 2]} = inf{0, 1} = 0.
x→0+
Exercı́cios de Fixação
1. Dê um exemplo de uma função que tem limite lateral à direita, mas não possui limite
lateral à esquerda em algum ponto.
5.5. LIMITES INFINITOS E NO INFINITO DE FUNÇÕES REAIS 181
√
2. Seja f (x) = |x|, onde x ̸= 0. Mostre que lim+ f (x) = lim− f (x) = 0.
x→0 x→0
x
3. Calcule o limite lim , ou mostre que ele não existe.
x→1 x − 1
x+2
4. Calcule o limite lim+ √ , onde x > 0, ou mostre que este limite não existe.
x→0 x
l +e
(
l
f(x)
l -e
(
(
0 A x
1
Analogamente, prova-se que lim = 0.
x→−∞ x
A = − ln ε = ln ε−1 > 0,
pois ε−1 > 1, ver Definição 10.1. Com isso, para todo x < −A = ln ε, encontramos
De qualquer maneira, dado ε > 0, existe A > 0 tal que para todo x < −A, tem-se que
ex < ε, ou seja
lim ex = 0.
x→−∞
Exemplo 5.21. Note que lim ex não existe, ver Definição 10.2. Suponha, por absurdo, que
x→∞
lim ex = l.
x→∞
5.5. LIMITES INFINITOS E NO INFINITO DE FUNÇÕES REAIS 183
Dado ε > 0 existe B > 0 tal que ∀ x > B, tem-se |ex − l| < ε. Portanto,
isto é,
ex < ε + |l|.
Considere A > max{ε + |l|, 1}. Seja C = max{B, ln A} > 0 (ver Definição 10.1). Assim, se
x > C, então x > B e x > ln A. Com isso,
ou seja,
ex < ε + |l| e ex > ε + |l|.
f(z)
f(x)
A
(
( (
0 y-d y z x y +d
1
lim = ∞.
x→0 x2
√
Dado A > 0, seja δ = 1/ A > 0. Assim, para todo x ∈ R∗ com 0 < |x| < δ, tem-se
1 1
2
> 2 = A,
x δ
1
lim − = −∞.
x→0 x2
O primeiro resultado que surge envolve limite no infinito. Leia a afirmação abaixo.
f (x) ≤ g(x), ∀ x ∈ X,
Obs 5.16. Analogamente, se f (x) ≤ g(x), ∀ x ∈ X e lim g(x) = −∞, então lim f (x) = −∞.
x→y x→y
5.5. LIMITES INFINITOS E NO INFINITO DE FUNÇÕES REAIS 185
f(z)
f(x)
A
(
(
0 B z x
ver Definição 10.2. Com efeito, dado A > 1, ∃ B = ln A > 0 (ver Definição 10.1) tal que
Por outro lado, se 0 < A < 1, então existe B = 1 > 0, tal que
Obs 5.18. Podemos definir outros limites unindo as definições estabelecidas acima. Por
exemplo
lim f (x) = ∞, lim+ f (x) = ∞, lim− f (x) = −∞, ...
x→−∞ x→y x→y
Vejamos como definir este último limite, ou seja, lim− f (x) = −∞. Dado A > 0, ∃ δ > 0 tal
x→y
que
para todo x ∈ X ∩ (y − δ, y), tem-se f (x) < −A.
Obs 5.19. Os resultados encontrados nos Teoremas 2.12 e 5.6, com as devidas modificações,
continuam sendo válidos para limites de funções reais infinitos e no infinito. Por exemplo, se
então
lim f (x)g(x) = ∞.
x→∞
lim f (x) = l ⇔ ∀ (xn ) ⊆ X ∩ (y, ∞) tal que lim xn = ∞, tem-se lim f (xn ) = l.
x→∞
1
para todo x ∈ (−1/A = −δ, 0) , tem-se − < x < 0.
A
Logo, 1/A > −x > 0. Por conseguinte, A < −1/x. Equivalentemente, 1/x < −A. Ou seja,
1
lim− = −∞.
x→0 x
de funções.
Obs 5.20. Quando se calcula um determinado limite é possı́vel encontrar resultados do tipo
∞ − ∞, ∞0 , 1∞ , 00 , 00 , ∞
∞
. Estes são denominados indeterminações. Vejamos por que eles
ocorrem. Consideraremos a indeterminação 00 . Sejam y > 0 e f, g : (0, ∞) → R, dadas por
ln y
f (x) = x e g(x) = .
ln x
Portanto,
ln y 1
lim f (x) = lim x = 0 e lim g(x) = lim = ln y lim = 0,
x→0 x→0 x→0 x→0 ln x x→0 ln x
ver Exemplo 5.3. Assim,
ln y ln y ln y
f (x)g(x) = x ln x = y ⇔ ln(x ln x ) = ln y ⇔ ln x = ln y.
ln x
Dessa forma,
lim f (x)g(x) = lim y = y,
x→0 x→0
ver Exemplo 5.1. Neste caso, a indeterminação 00 pode estar tão próximo (no limite) de
qualquer número positivo desejado quanto quisermos. Por outro lado, seja h : (0, ∞) → R,
dada por
ln (2 + | cos (1/x) |)
h(x) = .
ln x
Consequentemente,
ln (2 + | cos (1/x) |)
lim h(x) = lim = 0,
x→0 x→0 ln x
pois
1
ln (2 + | cos (1/x) |) ≤ ln(2 + 1) = ln 3 e lim = 0,
x→0 ln x
ver Exemplo 5.3 e Teorema 5.9. Por outro lado, pelo que foi feito acima, temos que
ln(2+| cos(1/x)|)
lim f (x)h(x) = lim x ln x = lim ln (2 + |cos (1/x)|) ,
x→0 x→0 x→0
limite o qual não existe (ver Exemplo 5.7). Ou seja, a indeterminação 00 pode não estar
próximo (no limite) de qualquer que seja o número real. Por isso, o nome dado para este
problema é indeterminação.
188 CAPÍTULO 5. QUINTA AULA: LIMITES DE FUNÇÕES REAIS
Exercı́cios de Fixação
√
x+2 x−5
1. Calcule os limites lim √ e lim √ , ou mostre que estes limites não existem.
x→∞ x x→∞ x+3
√
2. Seja f (x) = 1/ |x|, para x ̸= 0. Mostre que lim+ f (x) = lim− f (x) = ∞.
x→0 x→0
3. Suponha que lim f (x) e lim g(x) existem e que f (x) ≤ g(x), ∀ x ∈ (y, ∞). Mostre que
x→∞ x→∞
lim f (x) ≤ lim g(x).
x→∞ x→∞
4. Mostre que se f : (y, ∞) → R é tal que lim xf (x) = l, então lim f (x) = 0.
x→∞ x→∞
5. Suponha que lim f (x) = l > 0 e que lim g(x) = ∞. Mostre que lim f (x)g(x) = ∞. Se
x→y x→y x→y
l = 0, mostre com um exemplo que esta afirmação é falsa.
5.6 Conclusão
Caro leitor, ao final desta aula, é importante ressaltar que, neste material, o mais rele-
vante não é saber encontrar o limite, como é feito no cálculo ordinário, e sim avaliar se é
possı́vel calculá-lo. Assim sendo, a parte computacional não é a parte mais interessante deste
texto. Além disso, como veremos no decorrer do material, as definições de continuidade, em
alguns casos, e derivada, são estabelecidas por limite. Com isso, limite de funções é uma
ferramenta importante nestas notas e em muitas aplicações em diversas áreas das ciências
exatas. Para alguns exemplos de limite de funções em Fı́sica ver [1].
5.7 Resumo
Nesta aula, apresentamos os conceitos de limite de funções reais sobre subconjuntos cons-
tituı́dos de números reais. Neste contexto, estudamos limites ordinários, laterais, infinitos
e no infinito. Mostramos alguns exemplos destes limites para ilustração de como devemos
resolver exercı́cios deste conteúdo. Porém, em muitos casos, o cálculo de um limite é um
trabalho difı́cil. Por isso, mostramos também alguns resultados que estabelecem somente a
existência de tais limites.
5.8. EXERCÍCIOS PROPOSTOS 189
Exercı́cios:
1. Sejam f : X → R e y ∈ X ′ . Prove que lim f (x) existe ⇔ ∀ (xn ) ⊆ X\{y} com
x→y
lim xn = y, tem-se que lim f (xn ) existe.
1 1
4. Seja a > 1. Prove que lim+ 1 = 0 e lim− 1 = 1.
x→0 1+a x x→0 1 + ax
7. Seja f : R → R definida por f (x) = x + yxsenx. Mostre que |y| < 1 ⇒ lim f (x) = −∞.
x→−∞
10. (Permanência de Sinal) Se lim f (x) > 0 prove que existe δ > 0 tal que ∀ x ∈ X com
x→y
0 < |x − y| < δ, tem-se f (x) > 0.
190 CAPÍTULO 5. QUINTA AULA: LIMITES DE FUNÇÕES REAIS
Questões Resolvidas:
Demonstração. Considere que lim f (x) = l, onde y ∈ X ′ . Assim, ∃ (xn ) ⊆ (X\{y}) tal que
x→y
lim xn = y (ver Definição 4.9), e consequentemente, usando o Teorema 5.6, concluı́mos que
lim f (xn ) = l. Observe que (f (xn )) ⊆ f (X\{y}). Portanto, pela Definição 4.3, temos que
l ∈ f (X\{y}).
1
Ex2. Seja f : X → R definida por f (x) = 1 . Prove que lim+ f (x) = 0 (ver Definição
1 + ex x→0
10.2).
1
para todo x ∈ (0, δ), tem-se 0 < x < δ = (1 ).
ln ε − 1
Consequentemente,
1 1
− 0 = < ε.
1 1
1+e x 1 + ex
Agora, se ε ≥ 1/2, então seja δ = 1 > 0. Note que,
1 1 1
1 < 1/2 ⇔ 1 + e x > 2 ⇔ e x > 1,
1+e x
1
1 < 1/2 ≤ ε.
1 + ex
5.9. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 191
Assim,
1
lim+ 1 = 0.
x→0 1 + ex
p(x) = y0 + y1 x + ... + yn xn ,
e
lim p(x) = lim p(x) = −∞, se yn < 0.
x→−∞ x→∞
Como ( y )
1 yn−1
lim xn = ∞ e lim + ... + + y n = yn .
x→±∞ x→±∞ xn−1 x
Assim, lim p(x) = ∞, se yn > 0 e lim p(x) = −∞, se yn < 0.
x→±∞ x→±∞
f (x) = x + yxsenx, ∀ x ∈ R.
Demonstração. Veja que 1 − |y| > 0. Com isso, pelo Teorema 1.5,
prove que
lim g(f (x)) = g(b),
x→a
ou seja, ( )
lim g(f (x)) = g lim f (x) .
x→a x→a
Assim sendo,
Dessa forma,
para todo x ∈ X, com 0 < |x − a| < δ, infere-se |g(f (x)) − g(b)| < ε,
5.9. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 193
Auto-Avaliação
Proxima Aula
[1] Alonso, M.; Finn, E. J., Fı́sica: Um Curso Universitário. Segunda Edição, São Paulo,
Edgard Blücher Ltda, 2009. 481p.
[2] Bartle, R. G.; Sherbert, D. R., Introdution to Real Analysis, Third Edition, New York,
JohnWiley and Sons,Inc., 2000. 399p.
[3] Boyce, W. E.; DiPrima, R. C., Elementary Differential Equations and Boundary Value
Problems. Seventh Edition, New York, JohnWiley and Sons,Inc, 2001. 745p.
[5] Brauer, F.; Nohel, J. A., The Qualitative Theory of Ordinary Differential Equations.
University of Wisconsin, 1989.
[6] Dragomir, S. S., Some Gronwall Type Inequalities and Applications. Monograph. Vic-
toria University of Technology, 2002.
[7] Ferreira, J., A Construção dos Números. Primeira Edição, Rio de Janeiro, SBM, 2010.
133p.
[8] Figueiredo, D., Análise I. Segunda Edição, Rio de Janeiro, LTC, 2008. 266p.
[9] Guillemin, V.; Pollack, A., Differential Topology. First Edition, New Jersey, Prentice-
Hall, Inc., Englewood Cliffs, 1974. 227p.
[10] King, A.C.; Billingham, J.; OTTO, S.R., Differential Equations. Linear, Nonlinear,
Ordinary, Partial. Cambridge University Press. New York, 2003.
[11] Lima, E. L., Análise Real. Funções de uma variável, vol.1. 8o . ed. Coleção Matemática
Universitária, Rio de Janeiro: IMPA, 2006.
195
196 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[13] Lima, E. L., Curso de Análise, vol. 1, Décima Segunda Edição, Rio de Janeiro, IMPA,
2008. 431p.
[14] Melo, W., Existência de soluções clássicas para as Equações de Burgers e Navier-
Stokes. Dissertação de Mestrado. UFPE, 2007.
[15] Munkres, J. R., Topology. Second Edition, New Jersey, Prentice Hall, Inc., 2000. 552p.
[16] Nolt, J.; Rohatys, D.; Varzi, A., Theory and problems or logic. Second edition, New
York, McGraw-Hill, 2009. 279p.
[17] Rudin, W., Principles of Mathematical Analysis. Third Edition, New York, McGraw-
Hill, Inc., 1976. 351p.
[18] Smoller, J., Shock Waves and Reaction-Diffusion Equations. 2nd ed., Springer-Verlag,
1994.
[19] Tveito, A.; Winther, R., Introduction to Partial Differential Equations. A Computa-
tional Approach. New York, 1961.
Professor Revisor
Meta
Objetivos
Ao final desta aula, o aluno deverá ser capaz de verificar se uma função é contı́nua ou
uniformemente contı́nua e saber aplicar corretamente os Teoremas do Valor Intermediário e
de Weierstarass.
Pré-requisitos
197
198 CAPÍTULO 6. SEXTA AULA: CONTINUIDADE E CONTINUIDADE UNIFORME
6.1 Introdução
Caro leitor, nesta seção, procuraremos identificar quando uma função é contı́nua ou
não. Também, veremos quando uma restrição ou extensão não altera a continuidade de uma
aplicação. Por fim, exporemos uma outra possibilidade de definir essas funções através de
limites.
Obs 6.2. Veja que y está no domı́nio de f . Não é necessário que y seja ponto de acumulação
deste.
6.2. CONTINUIDADE E EXEMPLOS 199
f(y)+e
(
f(z)
f(y)
f(x)
f(y) - e
(
( (
0 y-d x y z y +d
Obs 6.3. Veja que na Definição 6.1, só importa o que ocorre em X ∩ (y − δ, y + δ). Por este
fato, dizemos que a continuidade em um determinado ponto é um conceito local.
Afirmamos que f é descontı́nua em 0. Devemos provar que ∃ ε > 0 tal que dado δ > 0,
pode-se encontrar xδ ∈ [0, 1], com
Isto é fato. Seja ε = 1 > 0. Assim, dado δ > 0 existe xδ ∈ (0, δ) (ver Teorema 1.6) tal que
|f (xδ ) − f (0)| = |0 − 1| = 1 = ε.
2
(
( (
(
f( x d) 0 xd
-d d 1
Com isso,
1
∀ m ∈ N com |m − n| < , tem-se m ∈ (n − 1/2, n + 1/2) ∩ N.
2
Logo, m = n. Consequentemente,
Obs 6.4. Segue diretamente das Definições 5.1 e 6.1 que se y ∈ X ∩ X ′ , temos que f é
contı́nua em y ⇔ lim f (x) = f (y) (estas duas definições coincidem nesta situação) .
x→y
Exemplo 6.4. Toda função constante é contı́nua. De fato, seja f : X → R definida por
f (x) = c = constante, então dado ε > 0, existe δ = 1 > 0 tal que
Exemplo 6.5. A função f : [0, 1] → R definida no Exemplo 6.1, é descontı́nua em [0, 1].
Exemplo 6.6. Toda sequência de números reais é uma função contı́nua (ver Exemplo 6.2).
Exemplo 6.7. Vimos no Exemplo 5.7 que lim cos(1/x) não existe. Assim, a função f : R →
x→0
R definida por
f (x) = cos(1/x), se x ̸= 0 e f (0) = 0
Exemplo 6.9. Vimos no Exemplo 5.8 que lim p(x) = p(y), onde p é uma função polinomial
x→y
real e y ∈ R. Por conseguinte, qualquer função polinomial é contı́nua.
Exemplo 6.10. Vimos que a função f : R → R dada por f (x) = |x| é contı́nua em 0. Por
outro lado,
f (x) = |x| = x se x > 0 e f (x) = |x| = −x se x < 0.
Portanto,
∀ x ∈ Y ⊆ X com |x − y| < δ, tem-se |f |Y (x) − f |Y (y)| < ε.
Exemplo 6.11. No Exemplo 6.8, vimos que a função seno é contı́nua em R. Assim sendo,
pela proposição 6.1, seno é uma função contı́nua em [−π/2, π/2].
O dois Teoremas abaixo estabelecem condições para que a extensão de uma função
contı́nua seja também contı́nua.
y ∈ Y1 e y ̸∈ Y2 ,
Por outro lado, como y ̸∈ Y2 = Y2 , então, pelo Teorema 4.8, existe δ2 > 0 tal que
(y − δ2 , y + δ2 ) ∩ Y2 = ∅,
Consequentemente,
x ∈ X ∩ Y1 e |x − y| < δ1 .
Assim sendo,
|f (x) − f (y)| = |f |X∩Y1 (x) − f |X∩Y1 (y)| < ε.
e
∀ x ∈ X ∩ Y2 com |x − y| < λ2 , tem-se |f |X∩Y2 (x) − f |X∩Y2 (y)| < ε,
6.2. CONTINUIDADE E EXEMPLOS 203
já que f |X∩Y1 e f |X∩Y2 são contı́nuas. Neste caso, seja δ = min{λ1 , λ2 } > 0. Dessa forma,
logo
|f (x) − f (y)| = |f |X∩Y1 (x) − f |X∩Y1 (y)| < ε,
ou
x ∈ X ∩ Y2 e |x − y| < λ2 ,
consequentemente
|f (x) − f (y)| = |f |X∩Y2 (x) − f |X∩Y2 (y)| < ε.
f (x) = x, se x ≥ 1 e f (x) = 3x − 2, se x ≤ 1.
Assim, f |(−∞,1] e f |[1,∞) são contı́nuas (ver Teorema 6.1), onde (−∞, 1] e [1, ∞) são conjuntos
fechados (ver Teorema 4.3) e R = (−∞, 1] ∪ [1, ∞). Logo, f é contı́nua.
ou seja,
∀ x ∈ X com |x − y| < δ1 , tem-se x ∈ Yµ0 .
Mas, f |X∩Yµ0 é contı́nua em y. Portanto, dado ε > 0 existe δ2 > 0 tal que
Por fim,
|f (x) − f (y)| = |f |X∩Yµ0 (x) − f |X∩Yµ0 (y)| < ε.
Exemplo 6.13. Defina f : R∗ → R por f (x) = |x|. Como f |(−∞,0) e f |(0,∞) são contı́nuas
nos abertos (−∞, 0) e (0, ∞), e R∗ = (−∞, 0) ∪ (0, ∞), então f é contı́nua em R∗ .
Exemplo 6.14. Seja X = R = (−∞, 1) ∪ [1, ∞). Observe que (−∞, 1) é aberto e [1, ∞)
é fechado (ver Teorema 4.3). É possı́vel construir uma função descontı́nua tal que suas
restrições f |(−∞,1) e f |[1,∞) são contı́nuas nos seus respectivos domı́nios. Por exemplo, seja
f : X → R dada por
Uma outra maneira de definir função contı́nua em um ponto está exposta no resultado a
seguir.
⇐) Suponha que f é descontı́nua em y ∈ X. Assim ∃ ε > 0, tal que dado δ > 0, encontra-se
Faça δ = 1, 1/2, ..., 1/n, ... com n ∈ N. Portanto, existe (xn ) ⊆ X tal que
1
0 ≤ |xn − y| < e |f (xn ) − f (y)| ≥ ε.
n
Pelo Teorema do Sanduı́che, temos que lim xn = y (ver Exemplo 2.5) e |f (xn ) − f (y)| ≥ ε.
Se lim f (xn ) = f (y) terı́amos então que
aqui f é chamada função caracterı́stica de Q. Seja x ∈ Q. Assim, Pelo Exemplo 4.17, temos
que x ∈ R\Q, ou seja,
∃ (xn ) ⊆ (R\Q) tal que lim xn = x.
pois x ∈ Q e (xn ) ⊆ (R\Q). Pelo Teorema 6.3, temos que f é descontı́nua em x ∈ Q. Como
x ∈ Q é arbitrário, então f é descontı́nua em Q. Analogamente, f é descontı́nua em R\Q.
Portanto, f é uma função descontı́nua em todos os pontos de R.
O resultado a seguir, nos diz, em palavras, que se uma função contı́nua assume um valor
superior a outra em algum ponto, então próximo a este determinado número esta relação de
superioridade é mantida.
Teorema 6.4. Sejam f, g : X → R contı́nuas em y ∈ X tais que f (y) > g(y), então ∃ δ > 0
tal que
∀ x ∈ X com |x − y| < δ, tem-se f (x) > g(x).
206 CAPÍTULO 6. SEXTA AULA: CONTINUIDADE E CONTINUIDADE UNIFORME
Demonstração. Seja
f (y) − g(y)
ε= > 0.
2
Assim, 2ε = f (y) − g(y). Daı́,
g(y) + ε = f (y) − ε.
e
x ∈ X e |x − y| < δ2 ⇒ |g(x) − g(y)| < ε.
Assim sendo,
f (y) − ε < f (x) < f (y) + ε e g(y) − ε < g(x) < g(y) + ε.
Consequentemente,
Vejamos como provar que se uma função contı́nua atinge um valor positivo ou negativo
em algum ponto, então esta permence com o mesmo sinal em uma região próxima a este
valor.
Corolário 6.5 (Permanência de Sinal). Seja f : X → R contı́nua em y ∈ X tal que f (y) > 0,
6.2. CONTINUIDADE E EXEMPLOS 207
(f /g)(x) = f (x)/g(x), ∀ x ∈ D.
Observe que o domı́nio D desta função contém somente pontos em que g não se anula. Dessa
forma, qualquer x ∈ X que satisfaz |x − y| < δ está em D. Ou seja, existe δ > 0 tal que
X ∩ (y − δ, y + δ) ⊆ D.
Exercı́cios de Fixação
1. Estabeleça, através da Definição 6.2, quando uma função é descontı́nua em um ponto do
seu domı́nio.
2. Seja b ∈ (a, c). Suponha que f e g sejam contı́nuas em [a, b] e [b, c], respectivamente. Con-
sidere que f (b) = g(b). Defina h : [a, c] → R por h(x) = f (x), para x ∈ [a, b] e h(x) = g(x),
para x ∈ (b, c]. Prove que h é contı́nua em [a, c].
208 CAPÍTULO 6. SEXTA AULA: CONTINUIDADE E CONTINUIDADE UNIFORME
x2 + x − 6
3. Seja f definida por f (x) = , para x ̸= 2. f pode ser definida em x = 2 de
x−2
forma que f seja contı́nua em 2?
4. Sejam k > 0 e f : R → R tais que |f (x) − f (y)| ≤ k|x − y|, ∀ x, y ∈ R. Prove que f é
contı́nua.
iii) Pelo Exemplo 6.16, temos que ∃ δ > 0 tal que X ∩ (y − δ, y + δ) ⊆ D. Assim sendo,
basta analisar a continuidade de f /g em X ∩ (y − δ, y + δ), pois a continuidade num ponto
é uma propriedade local. Portanto,
ou seja, f /g é contı́nua em y.
Obs 6.5. Os itens i) e ii) do Teorema 6.6 podem ser generalizados para uma quantidade
finita de funções, ou seja, se f1 , f2 , ..., fn são contı́nuas em um ponto, então f1 + f2 + ... + fn
e f1 · f2 · ... · fn são contı́nuas no mesmo valor.
Obs 6.6. Observe que segue do Teorema 6.6 ii) que se f : X → R é contı́nua em y ∈ X,
então cf : X → R também é, onde c ∈ R é constante. Já que toda função constante é
contı́nua. Note também que, se f, g : X → R são contı́nuas em y ∈ X, então f − g : X → R
também o é, pois f − g = f + (−g) (ver Teorema 6.6).
Obs 6.7. Segue diretamente do Teorema 6.6 e Observação 6.6 que se f, g : X → R são
contı́nuas e c ∈ R então f ± g, f · g, f /g, cf são contı́nuas nos seus respectivos domı́nios (ver
Exemplo 6.16).
210 CAPÍTULO 6. SEXTA AULA: CONTINUIDADE E CONTINUIDADE UNIFORME
senx
tan x = , ∀ x ∈ X,
cos x
onde X = R\{(2z + 1)π/2 : z ∈ Z}. Como tan é a divisão de funções contı́nuas e o cosseno
não se anula em X, então tan é contı́nua em X.
Agora vejamos por que a composição de funções contı́nuas em um ponto resulta em uma
aplicação também contı́nua neste mesmo valor.
Demonstração. Seja (xn ) ⊆ X uma sequência tal que lim xn = y. Como f é contı́nua em
y, então, usando o Teorema 6.3, obtemos lim f (xn ) = f (y). Assim, novamente utilizando o
Teorema 6.3, encontramos
Obs 6.8. Seja f : X → R uma função contı́nua em X, tal que f (X) ⊆ Y . Seja g : Y → R
uma função contı́nua em Y . Então, pelo Teorema 6.7, g ◦ f : X → R é contı́nua em X.
Vamos mostrar que f é contı́nua. Com efeito, f é produto das funções contı́nuas x (po-
linômio) e cos(1/x), a qual é a composta de cosseno e 1/x (divisão de contı́nuas), quando
x ̸= 0. Portanto, pelos Teoremas 6.6 e 6.7, f é contı́nua em x ̸= 0. Vamos agora verificar
que f é contı́nua em 0. De fato,
pois
lim x = 0 e | cos(1/x)| ≤ 1,
x→0
6.4. RESULTADOS IMPORTANTES ENVOLVENDO CONTINUIDADE 211
Exercı́cios de Fixação
1. Mostre que se f : X → R é contı́nua, então f n : X → R, dada por f n (x) = [f (x)]n
(n ∈ N), é contı́nua.
3. Dê um exemplo de uma função f : [0, 1] → R descontı́nua em todos os pontos de [0, 1],
de modo que |f | seja contı́nua em [0, 1].
Com as definições e resultados expostos nas seções anteriores, estamos prontos para
enunciar, provar e aplicar o Teorema do Valor Intermediário. Com este intuito em mente,
iniciaremos com um resultado que contém a seguinte informação: a imagem de uma intervalo
por uma função contı́nua é novamente um intervalo.
f (I) = A ∪ B, A ∩ B = A ∩ B = ∅ e A, B ̸= ∅.
Consequentemente,
Vamos provar que f −1 (A) ∩ f −1 (B) = ∅. Suponha, por absurdo, que existe x ∈ f −1 (A) ∩
f −1 (B). Logo,
x ∈ f −1 (A) e x ∈ f −1 (B).
Com isso, existe (xn ) ⊆ f −1 (A) tal que lim xn = x e f (x) ∈ B. Como f é contı́nua, então,
usando o Teorema 6.3, obtemos
Portanto, f (x) ∈ A (ver Definição 4.3). Assim sendo, f (x) ∈ A ∩ B. Isto é um ab-
surdo, pois A ∩ B = ∅. Analogamente, prova-se que f −1 (A) ∩ f −1 (B) = ∅. Isto nos diz
que (f −1 (A)|f −1 (B)) é uma cisão não-trivial do intervalo I. Mas isto é uma contradição, ver
Teorema 4.5. Por fim, f (I) só admite cisão trivial, isto é, f (I) é conexo. Por conseguinte,
f (I) é um intervalo (ver Teorema 4.7).
Obs 6.9. Não é possı́vel dizer exatamente que tipo de intervalo é o conjunto f (I) no Teorema
6.8. Por exemplo, considere a função f : R → R dada por
f (x) = cos x, ∀ x ∈ R.
Assim,
f ((0, π/2)) = (0, 1), f ((−π/2, π/2)) = (0, 1] e f ((−4, 4)) = [−1, 1].
Exemplo 6.19 (Existência e Unicidade da Raiz n-ésima). Defina f : [0, ∞) → [0, ∞) por
Sabemos que f é contı́nua (ver Exemplo 5.8). Veja que f (0) = 0. Daı́, pelo Teorema 6.8,
temos que f ([0, ∞)) é um intervalo contendo 0 contido em [0, ∞). Como
Dessa forma, f (2B) > A > 0 = f (0). Como f ([0, ∞)) é um intervalo e f (0) = 0, então existe
x ∈ [0, ∞) tal que f (x) = A, ou seja, A ∈ f ([0, ∞)). Portanto, f ([0, ∞)) = [0, ∞). Isto é,
f é sobrejetiva. Agora, sejam x, y ∈ [0, ∞) com x < y, então xn < y n . Por conseguinte,
f (x) < f (y). Dessa maneira, f é injetiva. Assim, f é uma bijeção. Isto nos diz que dado
y ≥ 0,
∃! x ≥ 0 tal que f (x) = y,
√
ou seja, xn = y. Neste caso, dizemos que x é a única raiz n-ésima de y e escrevemos x = n y.
Teorema 6.9 (Teorema do Valor Intermediário). Sejam f : [a, b] → R uma função contı́nua
e c ∈ R. Se f (a) < c < f (b), então existe x ∈ (a, b) tal que f (x) = c.
f(b)
f(x)=c
f(a)
0 a x b
p(x) = x3 − 6x2 + 9x − 1.
Pelo Teorema 6.9, existe y ∈ (−1, 1) tal que p(y) = 0, ou seja, existe raiz de p em (−1, 1).
Exemplo 6.21. Seja f : [0, 1] → R uma função contı́nua. Considere que f (0) = f (1).
Vamos mostrar que existe y ∈ [0, 1/2] tal que f (y) = f (y + 1/2). Defina g : [0, 1/2] → R por
Assim, pelos Teoremas 6.6 e 6.7, g é contı́nua em [0, 1/2]. Observe que,
f (0) − f (0 + 1/2) = 0,
ou seja, f (0) = f (0 + 1/2), onde y = 0 ∈ [0, 1/2]. O problema está solucionado. Se g(0) ̸= 0,
então pelo fato que g(0) = −g(1/2), tem-se que g(0) e g(1/2) tem sinais opostos. Sem perda
6.4. RESULTADOS IMPORTANTES ENVOLVENDO CONTINUIDADE 215
de generalidade, suponha
g(0) < 0 < g(1/2).
Com isso, pelo Teorema 6.9, existe y ∈ (0, 1/2) tal que g(y) = 0, isto é,
f (x) = x + 1, ∀ x ∈ R.
f −1 (y) = y − 1, ∀ x ∈ R
Defina f : X → Y por
Claramente f é contı́nua (ver Exemplo 5.8). Verifique que a inversa de f é dada por
-1
f f
3 3
2 2
1 1
0 1 2 3 0 1 2 3
Exercı́cios de Fixação
1. Mostre que a equação x = cos x tem solução no intervalo [0, π/2]. Sugestão: defina
f (x) = x − cos x e use o Teorema 6.9.
Demonstração. Vamos utilizar os Teoremas 4.10 e 6.3. Seja (yn ) ⊆ f (X). Vamos provar que
(yn ) possui uma subsequência que converge para um ponto de f (X). Assim, existe
Assim, (ynk ) é uma subsequência de (yn ) que converge para f (x) ∈ f (X). Novamente usando
o Teorema 4.10, temos que f (X) é compacto.
Obs 6.10. Veja que o Teorema 6.10 nos diz que se f : X → R é contı́nua, onde X é
compacto, então f é limitada. Ou seja, f (X) é limitado (ver Definição 4.14).
Vejamos abaixo dois exemplos que garantem que a hipótese de compacidade do Teorema
acima não pode ser retirada.
1
f (x) = , ∀ x ∈ (0, 1).
x
Note que
1
lim f (x) = lim = ∞.
x→0 x→0 x
Assim sendo, f ((0, 1)) é ilimitado. Isto ocorre, pois (0, 1) não é compacto (limitado, mas
não-fechado).
f(x)
0 1
Sabemos que f é contı́nua, ver Exemplo 6.9, e que f ([0, ∞) = [0, ∞). Consequentemente, a
imagem de f não é um conjunto compacto. Isto ocorre, pois [0, ∞) não é compacto (fechado,
mas não limitado).
Abaixo mostraremos que toda função definida em um compacto atinge um valor máximo
e outro mı́nimo (ver Definição 7.5).
Demonstração. Pelo Teorema 6.10, f (X) ⊆ R é compacto. Assim sendo, f (X) é fechado e
limitado. Vimos no Exemplo 4.14 que
é contı́nua e f ((−1, 1)) = (−1, 1). Ou seja, f é limitada. Por outro lado, não existe
Faça, δ = 1, 1/2, ..., 1/n, ..., para obter (yn ) ⊆ Y tal que
1
0 ≤ |yn − y| < e |f −1 (yn ) − f −1 (y)| ≥ ε.
n
Observe que (yn ) ⊆ Y = f (X). Assim, existe (xn ) ⊆ X tal que f (xn ) = yn . Portanto,
1
0 ≤ lim |yn − y| ≤ lim = 0 e |xn − x| = |f −1 (f (xn )) − f −1 (f (x))| ≥ ε,
n
isto é,
lim f (xn ) = lim yn = y = f (x) e |xn − x| ≥ ε.
Como X é compacto, usando o Teorema 4.10, temos que existe uma subsequência (xnk ) de
(xn ) tal que lim xnk = a ∈ X. Como f é contı́nua, então
k→∞
|xnk − x| ≥ ε, ∀ k ∈ N.
220 CAPÍTULO 6. SEXTA AULA: CONTINUIDADE E CONTINUIDADE UNIFORME
Por conseguinte,
0 = |a − x| = lim |xnk − x| ≥ ε.
Exemplo 6.27. A função seno é contı́nua em [− π2 , π2 ] e bijetora. Pelo Teorema 6.12, a função
inversa do seno, a qual é denotada por arcsen, é contı́nua em [−1, 1].
Exercı́cios de Fixação
1. Seja f : [a, b] → R contı́nua tal que f (x) > 0, ∀ x ∈ [a, b]. Mostre que existe y > 0 tal
que f (x) ≥ y, ∀ x ∈ [a, b].
2. Seja f : [a, b] → R contı́nua tal que para cada x ∈ [a, b] existe yx ∈ [a, b] que satisfaz
|2f (yx )| ≤ |f (x)|. Prove que existe c ∈ [a, b] tal que f (c) = 0.
3. Seja f : [0, π/2] → R dada por f (x) = sup{x2 , cos x}. Mostre que existe y ∈ [0, π/2] tal
que f (y) ≤ f (x), ∀ x ∈ [0, π/2]. Mostre que y é solução da equação x2 = cos x.
0 x y z w
distancia de x a y distancia de z a w
menor que d menor que d
Obs 6.11. Na Definição 6.4 o número positivo δ depende somente de ε, i.e, δ = δ(ε). A
diferença entre continuidade uniforme e continuidade em um ponto está exatamente nesta
dependência.
Obs 6.12. Segue diretamente das definições 6.2 e 6.4 que toda função uniformemente
contı́nua é contı́nua.
1
f (x) = , ∀ x ∈ (0, ∞).
x
Vimos que f é contı́nua (ver Teorema 6.6 e Exemplo 5.8). Por outro lado, f não é unifor-
memente contı́nua. Com efeito, seja ε = 1/2 > 0, então para todo δ > 0 existe
1
nδ ∈ N tal que nδ > ,
2δ
Além disso,
( ) ( )
1
f 1 − f = |nδ − 2nδ | = nδ ≥ 1 > 1/2 = ε,
nδ 2nδ
222 CAPÍTULO 6. SEXTA AULA: CONTINUIDADE E CONTINUIDADE UNIFORME
2nd
comprimento
n d >1>½
{ nd
Obs 6.13. O exemplo anterior nos diz que a continuidade uniforme é um conceito global.
Não é suficiente saber qual o comportamento da função próximo a um determinado ponto.
f (x) = ax + b, ∀ x ∈ R,
Assim, dado ε > 0, existe δ = ε/|a| > 0 tal que sempre que
ε ε
|x − y| < δ = , tem-se |f (x) − f (y)| = |a||x − y| < |a| = ε,
|a| |a|
Vamos agora estabelecer a definição de uma classe especı́fica de funções formada por
funções uniformemente contı́nuas.
Exemplo 6.30. No Exemplo 6.29 vimos que a função dada por f (x) = ax + b, com a ̸= 0,
é uma função Lipschitziana com constante de Lipschitz k = |a| > 0.
Afirmamos que f não é uma função Lipschitziana. De fato, considere x, y ∈ [0, 1], com x ̸= y.
Assim sendo,
√ √ √ √
|f (x) − f (y)| | x − y| x− y
1 1
= = √ √ √ √ = √ √ = √ √ .
|x − y| |x − y| ( x − y)( x + y) x+ y x+ y
1 1
xn = 2
e yn = 2 ∈ [0, 1].
n 4n
Logo,
|f (xn ) − f (yn )| 1 1 1 2n
=√ √ =√ √ = 1 = → ∞,
|xn − yn | xn + yn 1
+ 1
1
n
+ 2n 3
n2 4n2
|f (xn ) − f (yn )|
> k, ∀ n ≥ N,
|xn − yn |
isto é,
|f (xN ) − f (yN )| > k|xN − yN |.
Estamos prontos para provar que qualquer função que satisfaz a Definição 6.5 também
obedece as condições dadas na Definição 6.4.
ε
∀ x, y ∈ X com |x − y| < δ = ε/k, tem-se |f (x) − f (y)| ≤ k|x − y| < k < ε,
k
Exemplo 6.32. Defina f : (0, ∞) → R por f (x) = 1/x. Vimos que f não é uniformemente
contı́nua. Logo, usando a Proposição 6.2, temos que f não é uma função Lipschitziana.
Sejam (xn ), (yn ) ⊆ X, com lim(xn − yn ) = 0. Dessa forma, para δ > 0, existe N ∈ N tal que
Portanto,
|f (xn ) − f (yn )| < ε, ∀ n ≥ N,
⇐) Suponha que f não é uniformemente contı́nua. Assim sendo, existe ε > 0 tal que
para todo δ > 0, encontram-se xδ , yδ ∈ X com
Faça δ = 1, 1/2, ..., 1/n, .... Logo, existem (xn ), (yn ) ⊆ X tais que
1
0 ≤ |xn − yn | < e |f (xn ) − f (yn )| ≥ ε.
n
6.6. CONTINUIDADE UNIFORME COM FUNÇÕES REAIS 225
Portanto,
1
0 ≤ lim |xn − yn | ≤ lim = 0,
n
isto é, lim(xn − yn ) = 0. Se lim[f (xn ) − f (yn )] = 0, então
Isto é uma contradição, pois ε > 0. Por fim, lim[f (xn )−f (yn )] ̸= 0 (se este limite existe).
Exemplo 6.33. Vamos usar o Teorema 6.13, para mostrar que a função contı́nua f : R → R,
dada por
f (x) = cos(x2 ), ∀ x ∈ R
Assim sendo,
−π
= lim √ √ = 0.
2nπ + (2n + 1)π
O teorema a seguir acrescenta uma hipótese sobre o domı́nio de uma função contı́nua de
forma que esta seja uniformemente contı́nua.
Teorema 6.14. Toda função real contı́nua definida em um conjunto compacto é uniforme-
mente contı́nua.
xδ , yδ ∈ X com
|xδ − yδ | < δ e |f (xδ ) − f (yδ )| ≥ ε.
Faça, δ = 1, 1/2, ..., 1/n, .... Com isso, existem (xn ), (yn ) ∈ X tais que
1
|xn − yn | < e |f (xn ) − f (yn )| ≥ ε.
n
Como X é compacto, então, usando o Teorema 4.10, existe (ynk ) subsequência de (yn ) tal
que
lim ynk = y ∈ X.
k→∞
1
0 ≤ lim |xn − yn | ≤ lim = 0.
n
Dessa forma, lim[xn − yn ] = 0. Pelo Teorema 2.2, temos que lim[xnk − ynk ] = 0. Mas,
xnk = (xnk − ynk ) + ynk . Logo,
Vejamos, no exemplo abaixo, por que a recı́proca da Proposição 6.2 não é verdadeira.
Exemplo 6.34. Seja f : [0, 1] → [0, 1] dada por f (x) = x2 . Vimos que f é uma bijeção
contı́nua (ver Exemplo 5.8). Como [0, 1] é compacto, então pelo Teorema 6.12 f é um
homeomorfismo. Ou seja, f −1 , a qual é dada por
√
f −1 (x) = x, ∀ x ∈ [0, 1],
6.6. CONTINUIDADE UNIFORME COM FUNÇÕES REAIS 227
é contı́nua. Mais que isso, pelo Teorema 6.14, f −1 é uniformemente contı́nua. Vimos que
f −1 não é Lipschitziana.
1 1
ou seja, √ √ ≤ . Com isso,
x+ y 2
√ √ x−y |x − y| 1
|f (x) − f (y)| = | x − y| = √ √ = √ √ ≤ |x − y|.
x+ y x+ y 2
Por fim,
1
|f (x) − f (y)| ≤ |x − y|.
2
Assim sendo, f é Lipschitziana com constante de Lipschitz 1/2. Dessa forma, pela Proposição
6.2, f é uniformemente contı́nua em [1, ∞).
Exemplo 6.36 (Continuidade da Raiz Quadrada). Vimos acima que a função raiz quadrada
é contı́nua em [0, 1] e [1, ∞) (conjuntos fechados). Utilizando o Teorema 6.1, obtemos que a
função raiz quadrada é uma função contı́nua em [0, ∞).
O teorema a seguir mostra que uma função uniformemente contı́nua transforma sequências
de Cauchy em sequências desta mesma categoria.
já que f é uniformemente contı́nua. Como (xn ) ⊆ X é uma sequência de Cauchy, então
228 CAPÍTULO 6. SEXTA AULA: CONTINUIDADE E CONTINUIDADE UNIFORME
Consequentemente,
|f (xn ) − f (xm )| < ε, ∀ n, m ≥ N.
Lema 6.1. Sejam f : X → R e y ∈ X ′ . Então, lim f (x) existe ⇔ ∀ (xn ) ⊆ X\{y} com
x→y
lim xn = y, tem-se que lim f (xn ) existe.
Demonstração. ⇒) Suponha que lim f (x) existe, digamos lim f (x) = l. Usando o Teorema
x→y x→y
5.6, para toda sequência (xn ) ⊆ X\{y} com lim xn = y, tem-se lim f (xn ) = l. Consequente-
mente, lim f (xn ) existe.
⇐) Sejam (xn ), (yn ) ⊆ X\{y} com lim xn = lim yn = y. Vamos provar que
z2n−1 = xn e z2n = yn , ∀ n ∈ N.
Por conseguinte,
lim z2n−1 = lim xn = y e lim z2n = lim yn = y.
Com isso, lim zn = y (ver primeira questão dos exercı́cios resolvidos do Capı́tulo sequência de
números reais). Por hipótese, lim f (zn ) existe. Portanto, usando o Teorema 2.2, encontramos
Isto nos diz que, ∀ (xn ) ⊆ X\{y} com lim xn = y, tem-se que lim f (xn ) = l, para algum
l ∈ R. Novamente pelo Teorema 5.6, lim f (x) = l, isto é, o primeiro limite neste Lema
x→y
existe.
6.7. OPERAÇÕES ELEMENTARES COM CONTINUIDADE UNIFORME 229
Demonstração. Utilizaremos o resultado exposto no Lema 6.1. Assim sendo, seja (xn ) ⊆
X\{y} tal que lim xn = y. Vamos provar que lim f (xn ) existe. Usando o Teorema 2.14,
temos que (xn ) é uma sequência de Cauchy. Como f é uniformemente contı́nua, então,
utilizando o Teorema 6.15, (f (xn )) é de Cauchy. Por conseguinte, o Teorema 2.15 nos
garante que (f (xn )) é convergente. O Lema 6.1 nos diz que lim f (x) existe.
x→y
∗
Exemplo 6.37. Defina f : R → R por
f (x) = cos(1/x), ∀ x ∈ R∗ .
Vimos que lim cos (1/x) não existe. Assim sendo, f não é uniformemente contı́nua pelo
x→0
Corolário 6.16.
Demonstração. Sejam (xn ), (yn ) ⊆ X tais que lim(xn −yn ) = 0. Como f, g são uniformemente
contı́nuas, então, usando o Teorema 6.13, concluı́mos que
i) Veja que
ii) Suponha que f, g são limitadas. Então, (f (xn )) e (g(xn )) são limitadas. Portanto,
Portanto,
1/|f (xn )|, 1/|f (yn )| ≤ 1/k, ∀ n ∈ N.
Logo,
1/|f (xn )f (yn )| ≤ 1/k 2 , ∀ n ∈ N.
pois
lim[f (yn ) − f (xn )] = − lim[f (xn ) − f (yn )] = 0
6.7. OPERAÇÕES ELEMENTARES COM CONTINUIDADE UNIFORME 231
Demonstração. Sejam (xn ), (yn ) ⊆ X sequências tais que lim(xn − yn ) = 0. Então, usando
o Teorema 6.13, concluı́mos que lim[f (xn ) − f (yn )] = 0. Consequentemente, pelo mesmo
resultado, obtemos
pois (f (xn )), (f (yn )) ⊆ f (X) ⊆ Y. Novamente, o Teorema 6.13 nos ajuda a concluir que g ◦ f
é uniformemente contı́nua.
Exercı́cios de Fixação
1. Mostre que f (x) = 1/x é uniformemente contı́nua sobre Y = [y, ∞), onde y > 0.
1
3. Mostre que a função f (x) = é uniformemente contı́nua em R.
1 + x2
6.8 Conclusão
Caro leitor, ao final desta aula, é importante ressaltar que a continuidade e a conti-
nuidade uniforme são conceitos de grande importância para Análise Matemática, como se
pode constatar facilmente nos tópicos que estão por vir. Recomendo assim, uma releitura
cuidadosa das definições e resultados informados neste capı́tulo.
6.9 Resumo
Exercı́cios:
7. Seja f : R → R contı́nua tal que lim f (x) = lim f (x) = ∞. Prove que existe y ∈ R tal
x→∞ x→−∞
que f (y) ≤ f (x), ∀ x ∈ R.
8. Prove que não existe uma função contı́nua f : [a, b] → R que assuma cada um dos seus
valores f (x), x ∈ [a, b], exatamente duas vezes.
9. Seja f : X → R contı́nua no conjunto compacto X. Prove que, para todo ε > 0 dado,
existe kε > 0 tal que x, y ∈ X, |y − x| ≥ ε ⇒ |f (y) − f (x)| ≤ kε |y − x|.
10. Mostre que a função contı́nua f : R → R dada por f (x) = x2 , não é uniformemente
contı́nua.
Questões Resolvidas:
Z = {x ∈ X : f (x) = g(x)}
é fechado.
Por outro lado, f e g são contı́nuas. Assim sendo, pelo Teorema 6.3,
Dessa forma,
f (x) = lim f (xn ) = lim g(xn ) = g(x),
ou seja, f (x) = g(x). Isto nos diz que x ∈ Z. Portanto, Z ⊆ Z. Por fim, Z é fechado.
Ex2. (Teorema do Ponto Fixo de Brouwer) Seja f : [a, b] → R uma função contı́nua tal que
f (a) ≤ a e b ≤ f (b). Prove que existe y ∈ [a, b] tal que f (y) = y (y é denominado ponto fixo
de f ).
f (a) − a ≤ 0 ≤ f (b) − b.
6.11. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 235
Como f é contı́nua, então pelo Exemplo 5.8 e Teorema 6.6, tem-se que g é contı́nua. Assim,
ou seja, g(a) < 0 < g(b). Usando o Teorema 6.9, existe y ∈ (a, b) tal que g(y) = 0. Isto é,
f (y) − y = 0. Portanto, f (y) = y.
f (x + p) = f (x), ∀ x ∈ R.
Prove que toda função contı́nua periódica f : R → R é limitada e existem y, z ∈ R tais que
f (x + np) = f (x), ∀ n ∈ N.
f (x − np) = f (x), ∀ n ∈ N.
f (x + zp) = f (x), ∀ z ∈ Z.
Pela Proposição 6.1, f |[0,p] : [0, p] → R é contı́nua em [0, p]. Como [0, p] é compacto, então
236 CAPÍTULO 6. SEXTA AULA: CONTINUIDADE E CONTINUIDADE UNIFORME
f |[0,p] : [0, p] → R é uniformemente contı́nua (ver Teorema 6.14). Pelo Teorema 6.11, existem
y, z ∈ [0, p] tais que
f (y) ≤ f (x) ≤ f (z), ∀ x ∈ [0, p].
Observe que
R = ∪z∈Z [zp, (z + 1)p].
Dessa forma, dado x ∈ R existe z0 ∈ Z tal que x ∈ [z0 p, (z0 + 1)p]. Com isso,
z0 p ≤ x ≤ (z0 + 1)p.
f (x) = inf{|x − y| : y ∈ Y }, ∀ x ∈ R
Prove que
|f (x) − f (z)| ≤ |x − z|, ∀ x, z ∈ R.
ou seja,
f (x) − |x − z| ≤ |z − y|, ∀ y ∈ Y.
ou equivalentemente,
f (x) − f (z) ≤ |x − z|, ∀ x, z ∈ R.
6.11. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 237
Isto nos diz que f é Lipschitziana com constante de Lipschitz k = 1. Por fim, pela Proposição
6.2, f é uniformemente contı́nua.
f (x) = g(x), ∀ x ∈ R.
Seja x ∈ R = Q. Assim, existe (xn ) ⊆ Q tal que lim xn = x. Como f e g são contı́nuas em
R, então
lim f (xn ) = f (x) e lim g(xn ) = g(x).
f (xn ) = g(xn ), ∀ n ∈ N.
Com isso,
f (x) = lim f (xn ) = lim g(xn ) = g(x),
pois g é contı́nua em f (y) ∈ Y . Por outro lado, como f é contı́nua em y ∈ X, temos que
existe δ > 0 tal que
ou seja, g ◦ f é contı́nua em y ∈ X.
Ex7. Sejam f : [a, b] → R uma função contı́nua e c ∈ R. Se f (a) < c < f (b), prove, usando
a Definição 4.6, que existe y ∈ (a, b) tal que f (y) = c.
Vamos mostrar que A e B são fechados. De fato, seja y ∈ A (respectivamente, y ∈ B), assim
existe (xn ) ⊆ A (respectivamente, (xn ) ⊆ B) tal que lim xn = y. Como f é contı́nua, então
lim f (xn ) = f (y). Mas
f (xn ) ≤ c, ∀ n ∈ N
A ∩ B = A ∩ B = A ∩ B.
Como a ∈ A e b ∈ B, então
A ̸= ∅, B ̸= ∅ e [a, b] = A ∪ B.
f (y) ≤ c e f (y) ≥ c,
6.11. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 239
Ex8. Seja f : I → R uma função contı́nua, onde I ⊆ R é um intervalo. Prove que f (I) =
{f (x) : x ∈ I} ⊆ R é também um intervalo, usando as definições 1.12 e 1.11.
Demonstração. Suponha, primeiramente, que f é uma função constante (contı́nua), isto é,
f (x) = γ = constante, ∀ x ∈ I. Assim
isto é, f (I) é um intervalo degenerado. Considere, então, que f é não-constante. Se f (I) ⊆ R
é um conjunto ilimitado inferiormente (respectivamente, superiormente) denote inf f (I) =
−∞ (respectivamente, sup f (I) = ∞). Como f é não-constante, então existem α, β ∈ I tais
que f (α) < f (β). Logo,
inf f (I) ≤ f (α) < f (β) ≤ sup f (I),
ou seja, inf f (I) < sup f (I). Seja c ∈ (inf f (I), sup f (I)). Com isso,
Como f é contı́nua, então, utilizando o Teorema 6.9, existe y ∈ (a, b) ⊆ I tal que f (y) = c.
Dessa forma, c ∈ f (I). Por fim,
Isto nos leva a concluir que, f (I) é um intervalo com extremos inf f (I) e sup f (I).
Demonstração. Suponha que f é ilimitada inferiormente. Isto é, f (X) é ilimitado inferi-
ormente. Seja x1 ∈ X. Dado f (x1 ) − 1 ∈ R, existe x2 ∈ X tal que f (x2 ) < f (x1 ) − 1.
Indutivamente, existe (xn ) ⊆ X tal que
Assim sendo,
Como X é limitado, então (xn ) ⊆ X é limitada. Pelo Teorema 4.9, existe (xnk ) subsequência
de (xn ) tal que lim xnk = x. Assim,
k→∞
Demonstração. Vamos utilizar o Teorema 5.6. Como y ∈ X ′ , então existe (xn ) ⊆ (X\{y})
com lim xn = y. Pelo Teorema 2.3 temos que (xn ) é limitada. Como f é uniformemente
contı́nua, então, usando a questão anterior, temos que (f (xn )) é limitada. Pelo Teorema 4.9,
existe (f (xnk )) subsequência de (f (xn )) tal que lim f (xnk ) = l. Seja (yn ) ⊆ (X\{y}) tal
k→∞
6.11. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 241
Dessa forma,
lim[f (xnk ) − f (ynk )] = 0,
Logo,
lim f (ynk ) = lim [f (ynk ) − f (xnk )] + lim f (xnk ) = 0 + l = l.
k→∞ k→∞ k→∞
Portanto, lim f (ynk ) = l. Consequentemente, lim f (yn ) = l, pois (f (yn )) é de Cauchy (ver
k→∞
Lema 2.2 e Teorema 6.15). Por fim, lim f (x) = l, usando o Teorema 5.6.
x→y
Ex11. Sejam f : [a, b] → R uma função contı́nua e c ∈ R. Se f (a) < c < f (b), prove, usando
a Definição 1.11, que existe y ∈ (a, b) tal que f (y) = c.
Com isso, g é contı́nua, ver Teorema 6.6 e Exemplo 6.9. Além disso,
Vamos provar que g(sup X) = 0. Primeiramente observe que X ⊆ [a, b], consequentemente,
X é limitado. Além disso, a ∈ X, pois g(a) < 0. Portanto, a existência do sup X está
justificada. Como sup X ∈ X, então existe (xn ) ⊆ X tal que lim xn = sup X. Como g é
242 CAPÍTULO 6. SEXTA AULA: CONTINUIDADE E CONTINUIDADE UNIFORME
Suponha, por absurdo, que g(sup X) < 0. Assim, utilizando o Teorema 6.5, temos que
existe δ > 0 tal que
para todo x ∈ [a, b] com x ∈ (sup X − δ, sup X + δ), tem-se g(x) < 0.
mas g(b) > 0. Logo, sup X < b. Dessa forma, tomando γ = min{δ, (b − sup X)/2} > 0,
obtemos
para todo x ∈ (sup X, sup X + γ), que x ∈ X.
Isto é um absurdo, pois sup X + γ/2 ∈ / X. Por fim, g(sup X) = 0, isto é f (y) = c, onde
y = sup X. É fácil ver que y ∈ (a, b).
Auto-Avaliação
Próxima Aula
[1] Alonso, M.; Finn, E. J., Fı́sica: Um Curso Universitário. Segunda Edição, São Paulo,
Edgard Blücher Ltda, 2009. 481p.
[2] Bartle, R. G.; Sherbert, D. R., Introdution to Real Analysis, Third Edition, New York,
JohnWiley and Sons,Inc., 2000. 399p.
[3] Boyce, W. E.; DiPrima, R. C., Elementary Differential Equations and Boundary Value
Problems. Seventh Edition, New York, JohnWiley and Sons,Inc, 2001. 745p.
[5] Brauer, F.; Nohel, J. A., The Qualitative Theory of Ordinary Differential Equations.
University of Wisconsin, 1989.
[6] Dragomir, S. S., Some Gronwall Type Inequalities and Applications. Monograph. Vic-
toria University of Technology, 2002.
[7] Ferreira, J., A Construção dos Números. Primeira Edição, Rio de Janeiro, SBM, 2010.
133p.
[8] Figueiredo, D., Análise I. Segunda Edição, Rio de Janeiro, LTC, 2008. 266p.
[9] Guillemin, V.; Pollack, A., Differential Topology. First Edition, New Jersey, Prentice-
Hall, Inc., Englewood Cliffs, 1974. 227p.
[10] King, A.C.; Billingham, J.; OTTO, S.R., Differential Equations. Linear, Nonlinear,
Ordinary, Partial. Cambridge University Press. New York, 2003.
[11] Lima, E. L., Análise Real. Funções de uma variável, vol.1. 8o . ed. Coleção Matemática
Universitária, Rio de Janeiro: IMPA, 2006.
243
244 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[13] Lima, E. L., Curso de Análise, vol. 1, Décima Segunda Edição, Rio de Janeiro, IMPA,
2008. 431p.
[14] Melo, W., Existência de soluções clássicas para as Equações de Burgers e Navier-
Stokes. Dissertação de Mestrado. UFPE, 2007.
[15] Munkres, J. R., Topology. Second Edition, New Jersey, Prentice Hall, Inc., 2000. 552p.
[16] Nolt, J.; Rohatys, D.; Varzi, A., Theory and problems or logic. Second edition, New
York, McGraw-Hill, 2009. 279p.
[17] Rudin, W., Principles of Mathematical Analysis. Third Edition, New York, McGraw-
Hill, Inc., 1976. 351p.
[18] Smoller, J., Shock Waves and Reaction-Diffusion Equations. 2nd ed., Springer-Verlag,
1994.
[19] Tveito, A.; Winther, R., Introduction to Partial Differential Equations. A Computa-
tional Approach. New York, 1961.
Professor Revisor
Meta
Objetivos
Ao final desta aula, o leitor deverá ser capaz de identificar quais funções são deriváveis
e saber aplicar corretamente a Regra da Cadeia e o Teorema do Valor Médio.
Pré-requisitos
245
246 CAPÍTULO 7. SÉTIMA AULA: DERIVADAS DE FUNÇÕES REAIS
7.1 Introdução
Nesta seção, discurssaremos sobre funções deriváveis. Como exemplos destas funções,
temos: as funções seno, cosseno e as aplicações polinomiais. Além disso, mostraremos que
qualquer função derivável é também contı́nua. E para concluir este tópico, definiremos e
exemplificaremos derivadas laterais.
existe.
f(z)
f(x)
f(y)
0 y z x
Obs 7.1. Quando x tende a y, a inclinação da reta secante ao gráfico de f nos pontos
(x, f (x)) e (y, f (y)) se aproxima da inclinação da tangente, a este mesmo gráfico, no ponto
(y, f (y)).
df
Obs 7.2. Algumas outras notações, encontradas na literatura, para f ′ (y) são Df (y), (y).
dx
f (x) = c, ∀ x ∈ X,
Ou seja, f é derivável em y ∈ X ∩ X ′ e f ′ (y) = 0. Isto nos diz que a derivada de uma função
constante em qualquer ponto é zero.
Exemplo 7.2. Seja f : R → R dada por
f (x) = ax + b, ∀ x ∈ R.
Assim,
ah
= lim = lim a = a,
h→0 h h→0
f (y + h) − f (y) (y + h)n − y n
lim = lim
h→0 h h→0
(h )
∑ n
n
y n−i hi − y n
i
= lim i=0
h→0
( )h
∑n
n
y n−i hi + ny n−1 h + y n − y n
i
= lim i=2
h→0
( ) h
∑n
n
y n−i hi + ny n−1 h
i
= lim i=2
h→0 h
{ n ( ) }
∑ n
n−i i−1 n−1
= lim y h + ny
h→0
i=2
i
= ny n−1 ,
pois a última soma acima sempre tem uma potência de h com expoente ≥ 1. Dessa forma,
f é derivável em y e sua derivada é dada por f ′ (y) = ny n−1 .
Exemplo 7.4 (Derivada do Seno e do Cosseno). Seja f : R → R definida pela seguinte lei
de transformação:
f (x) = senx, ∀ x ∈ R.
= cos y,
onde, na última igualdade, utilizamos os Exemplos 5.15 e 5.6. Por fim, a função seno é
derivável em y e sen′ y = cos y. Analogamente,
= −seny,
pois a função seno é contı́nua (ver Exemplo 5.5). Portanto, a função cosseno é derivável em
y e cos′ y = −seny.
f (x) = |x|, ∀ x ∈ R.
Veja que
|x| − |0| |x| x
lim+ = lim+ = lim+ = 1.
x→0 x−0 x→0 x x→0 x
250 CAPÍTULO 7. SÉTIMA AULA: DERIVADAS DE FUNÇÕES REAIS
-2 -1 0 1 2
Figura 7.2: Não existe uma reta tangente ao gráfico do módulo no ponto (0, 0) bem definida
g(y) = f ′ (y), ∀ y ∈ X ∩ X ′ ,
Exemplo 7.6. A função constante é derivável e sua função derivada é dada através da
função nula.
f (x) = xn , ∀ x ∈ R,
f ′ (y) = ny n−1 , ∀ y ∈ R.
7.2. DERIVADAS E EXEMPLOS 251
Exemplo 7.8. As funções seno e cosseno são deriváveis e as respectivas funções derivadas
são estabelecidas por
sen′ (y) = cos y e cos′ (y) = −sen y.
O resultado a seguir no diz que a classe formada por funções deriváveis está contida na
coleção constituı́da por aplicações contı́nuas.
Teorema 7.1. Toda função derivável em um ponto é contı́nua neste mesmo valor.
= f ′ (y) · 0 = 0.
f (x) = |x|, ∀ x ∈ R.
f (x) − f (y)
f+′ (y) = lim+ .
x→y x−y
252 CAPÍTULO 7. SÉTIMA AULA: DERIVADAS DE FUNÇÕES REAIS
f (x) − f (y)
f−′ (y) = lim− .
x→y x−y
f (x) = |x|, ∀ x ∈ R.
1
lim− = −∞.
x→0 x
Portanto,
1
−0 1
lim− x
= lim− 2 = ∞.
x→0 x − 0 x→0 x
Exercı́cios de Fixação
√
i) x;
7.3. OPERAÇÕES ELEMENTARES COM FUNÇÕES DERIVÁVEIS 253
ii) 1/x, x ̸= 0.
√
2. Mostre que 3
x não é derivável em 0.
x−1
4. Utilize a Proposição 7.1 para calcular o limite lim (ver Definição 10.1).
x→1 ln x
i) f + g : X → R é derivável em y e
ii) f · g : X → R é derivável em y e
[ ] [ ]
(f + g)(x) − (f + g)(y) f (x) + g(x) − f (y) − g(y)
lim = lim
x→y x−y x→y x−y
[ ]
f (x) − f (y) g(x) − g(y)
= lim +
x→y x−y x−y
[ ] [ ]
f (x) − f (y) g(x) − g(y)
= lim + lim
x→y x−y x→y x−y
= f ′ (y) + g ′ (y),
ii) Como g é derivável em y, então g é contı́nua neste mesmo ponto, ver Teorema 7.1,
ou seja, lim g(x) = g(y). Com isso, pelo Exemplo 7.1, temos que
x→y
[ ] [ ]
(f g)(x) − (f g)(y) f (x)g(x) − f (y)g(x) + f (y)g(x) − f (y)g(y)
lim = lim
x→y x−y x→y x−y
{ }
[f (x) − f (y)]g(x) + [g(x) − g(y)]f (y)
= lim
x→y x−y
[ ] [ ]
f (x) − f (y) g(x) − g(y)
= lim g(x) + lim f (y)
x→y x−y x→y x−y
iii) Como g é contı́nua em y e g(y) ̸= 0, então, pelo Teorema 6.6, lim [1/g(x)] = [1/g(y)].
x→y
Mostraremos, primeiramente, que
−g ′ (y)
(1/g)′ (y) = .
[g(y)]2
7.3. OPERAÇÕES ELEMENTARES COM FUNÇÕES DERIVÁVEIS 255
Com efeito,
[ ] [ ]
(1/g)(x) − (1/g)(y) g(y) − g(x)
lim = lim
x→y x−y x→y g(x)g(y)(x − y)
[ ]
g(y) − g(x) 1
= lim
x→y x−y g(x)g(y)
g(y) − g(x) 1
= lim lim
x→y x−y x→y g(x)g(y)
g ′ (y)
= − ,
[g(y)]2
−g ′ (y)
Portanto, (1/g)′ (y) = . Com isso, por ii), f /g é derivável em y e
[g(y)]2
Obs 7.4. Segue por indução o seguinte fato: se f1 , f2 , ..., fn são deriváveis em y, então
f1 + f2 + ... + fn e f1 · f2 · ... · fn são deriváveis em y,
(f1 + f2 + ... + fn )′ (y) = f1′ (y) + f2′ (y) + ... + fn′ (y)
e também vale
(f1 · f2 · ... · fn )′ (y) = f1′ (y)f2 (y) · ... · fn (y) + f1 (y)f2′ (y) · ... · fn (y) + ... + f1 (y)f2 (y) · ... · fn′ (y).
Obs 7.5. Note que se f é uma função derivável em y, então, pelo Teorema 7.2, cf também
o é (ver Exemplo 7.1). Além disso,
Obs 7.6. Sejam f, g funções deriváveis em y, então f − g também o é. Basta notar que
f − g = f + (−g). Além disso,
p(x) = a0 + a1 x + a2 x2 + ... + an xn , ∀ x ∈ R.
p(x) = x + 1 e q(x) = 2x − 1, ∀ x ∈ R.
onde y ̸= 1/2.
senx
tan x = , ∀ x ∈ X,
cos x
Vamos utilizar o Teorema 5.6. Seja (xn ) ⊆ X\{y} tal que lim xn = y. Será provado que
Como f é derivável em y, então, pelo Teorema 7.1, f é contı́nua neste mesmo ponto. Por-
tanto, usando o Teorema 6.3, concluı́mos que lim f (xn ) = f (y). considere os seguintes
conjuntos
= g ′ (f (y))f ′ (y),
pois lim f (xn ) = f (y), g é derivável em f (y) e f é derivável em y (ver também os Teoremas
2.1, 2.2 e 5.6). Por outro lado, se N1 é finito e N2 é infinito, chegamos a
f (xn ) − f (y) 0
f ′ (y) = lim = lim = 0.
n∈N2 xn − y n∈N2 xn − y
258 CAPÍTULO 7. SÉTIMA AULA: DERIVADAS DE FUNÇÕES REAIS
0
= lim
n∈N2 xn − y
= 0.
Por conseguinte,
g(f (xn )) − g(f (y))
lim = g ′ (f (y))f ′ (y).
xn − y
Por fim, se N1 e N2 são infinitos, então as igualdades
onde esta última igualdade segue de uma demonstração análoga à realizada na primeira
questão dos exercı́cios resolvidos do Capı́tulo sequência de números reais. De qualquer
maneira, obtemos
g(f (xn )) − g(f (y))
lim = g ′ (f (y))f ′ (y),
xn − y
isto é, g ◦ f é derivável em y e
encontrada na demonstração.
g ◦ f (x) = sen(x2 ), ∀ x ∈ R.
√ √
ou seja, (g ◦ f )′ ( π) = −2 π.
ex − e−x ex + e−x
senh x = e cosh x =
2 2
são denominadas seno e cosseno hiperbólicos. Estas funções são deriváveis (ver Teorema 7.3)
e suas derivadas são dadas por
ex + e−x ex − e−x
senh′ (x) = = cosh x e cosh′ (x) = = senhx,
2 2
isto é,
senh′ (x) = cosh x e cosh′ (x) = senhx,
A seguir, mostraremos, sob algumas hipóteses, que a derivada da inversa de uma função
é o inverso multiplicativo da derivada desta.
1
(f −1 )′ (f (y)) = .
f ′ (y)
260 CAPÍTULO 7. SÉTIMA AULA: DERIVADAS DE FUNÇÕES REAIS
Demonstração. Como y ∈ X ∩ X ′ , então existe (xn ) ⊆ X\{y} tal que lim xn = y. Como f
é contı́nua em y (ver Teorema 7.1), então lim f (xn ) = f (y) (ver Teorema 6.3). Como f é
bijetiva, então (f (xn )) ⊆ Y \{f (y)}. Portanto, f (y) ∈ Y ∩ Y ′ .
f −1 (f (x)) = x, ∀ x ∈ X,
1
(f −1 )′ (f (y)) = .
f ′ (y)
⇐) Suponha que f ′ (y) ̸= 0. Vamos provar que f −1 é derivável em f (y), isto é,
f −1 (b) − f −1 (f (y))
lim
b→f (y) b − f (y)
existe. Utilizaremos o Teorema 5.6. Seja (yn ) ⊆ Y \{f (y)} tal que lim yn = f (y). Como f é
bijetiva então existe (xn ) ⊆ X\{y} tal que
f (xn ) − f (y)
lim = f ′ (y).
xn − y
7.3. OPERAÇÕES ELEMENTARES COM FUNÇÕES DERIVÁVEIS 261
xn − y 1 1
lim = lim = .
f (xn ) − f (y) f (xn )−f (y) f ′ (y)
xn −y
Portanto,
f −1 (b) − f −1 (f (y)) 1
lim = ′ .
b→f (y) b − f (y) f (y)
Como aplicação do último resultado, mostraremos como obter a derivada da raiz qua-
drada.
Exemplo 7.17 (Derivada da Raiz Quadrada). Vimos que f : [0, ∞) → [0, ∞) dada por
f ′ (y) = 2y ̸= 0 ⇔ y ̸= 0.
1
(f −1 )′ (f (y)) = , ∀ y ∈ (0, ∞),
f ′ (y)
262 CAPÍTULO 7. SÉTIMA AULA: DERIVADAS DE FUNÇÕES REAIS
1
ou seja, (f −1 )′ (y 2 ) = , ∀ y ∈ (0, ∞). Com isso,
2y
1
(f −1 )′ (x) = √ , ∀ x ∈ (0, ∞).
2 x
f (x) = ex − 1, ∀ x ∈ R,
ver Definição 10.2. Suponha que f ′ (0) = 1 e lim ex = 1 (ver Teorema 10.2). Então, utilizando
x→0
a Proposição 7.1, temos que
ex − 1 f ′ (0)
lim = = 1,
x→0 x 1
ou seja,
ex − 1
lim = 1.
x→0 x
7.4. COMPORTAMENTO LOCAL DE UMA FUNÇÃO REAL 263
Exercı́cios de Fixação
x
1. Derive as seguintes funções f (x) = tan(x2 ) e g(x) = .
1 + x2
Teorema 7.5. Sejam X ⊆ R, y ∈ X ∩ X−′ e f : X → R uma função. Suponha que f−′ (y)
existe e f−′ (y) > 0, então existe δ > 0 tal que
Demonstração. Como
f (x) − f (y)
f−′ (y) = lim− > 0,
x→y x−y
então, tomando ε = f−′ (y) > 0, concluı́mos que existe δ > 0 tal que
f (x) − f (y)
para todo x ∈ X ∩ (y − δ, y), tem-se > f−′ (y) − ε = 0.
x−y
Mas,
x − y < 0, ∀ x ∈ X ∩ (y − δ, y).
264 CAPÍTULO 7. SÉTIMA AULA: DERIVADAS DE FUNÇÕES REAIS
Dessa forma,
f (x) − f (y) < 0, ∀ x ∈ X ∩ (y − δ, y),
ou seja,
para todo x ∈ X ∩ (y − δ, y), tem-se f (x) < f (y).
f (x) − f (y)
i) f−′ (y) = lim− < 0 ⇒ ∃ δ > 0 tal que ∀ x ∈ X ∩ (y − δ, y), tem-se f (x) > f (y);
x→y x−y
f (x) − f (y)
i) f+′ (y) = lim+ > 0 ⇒ ∃ δ > 0 tal que ∀ x ∈ X ∩ (y, y + δ), tem-se f (x) > f (y);
x→y x−y
f (x) − f (y)
iii) f+′ (y) = lim+ < 0 ⇒ ∃ δ > 0 tal que ∀ x ∈ X∩(y, y+δ), tem-se f (x) < f (y).
x→y x−y
O resultado a seguir nos diz, resumidamente, que se uma função é não-crescente, então
as derivadas laterais existentes são não-positivas.
Demonstração. Suponha, por absurdo, que f−′ (z) > 0. Assim sendo, pelo Teorema 7.5,
concluı́mos que existe δ > 0 tal que
Por outro lado, como f é não-crescente, então f (x) ≥ f (z), pois x < z. Mas z ∈ X ∩ X−′ ,
assim existe x ∈ X ∩ (z − δ, z). Daı́, f (x) < f (z) ≤ f (x). Isto é um absurdo. Portanto,
f−′ (z) ≤ 0. Analogamente, prova-se que f+′ (y) ≤ 0.
f (x) = −2x5 , ∀ x ∈ R.
7.4. COMPORTAMENTO LOCAL DE UMA FUNÇÃO REAL 265
então f é derivável (ver Exemplo 7.12) e f ′ (y) = −10y. Assim, f ′ (0) = 0. Veja que f é
decrescente. Mesmo assim, não podemos afirmar no Corolário 7.6 que
para todo x, z ∈ X com y − δ < x < y < z < y + δ, tem-se f (x) < f (y) < f (z).
Demonstração. Suponha que f ′ (y) > 0. Sabemos, pelo Teorema 5.11, que
tem-se
y − δ1 ≤ y − δ < x < y < z < y + δ ≤ y + δ2 .
Por consequentemente,
x ∈ X ∩ (y − δ1 , y) e z ∈ X ∩ (y, y + δ2 ).
para todo x, z ∈ X com y − δ < x < y < z < y + δ, tem-se f (z) < f (y) < f (x).
f (n) = n, ∀ n ∈ N
é uma sequência, a qual já vimos que é ilimitada superiormente (ver Definição 2.3 e Teorema
1.2). Portanto, f não possui um ponto de máximo.
Definição 7.6 (Ponto de Máximo Local). Sejam X ⊆ R, y ∈ X e f : X → R uma função.
Dizemos que y ∈ X é ponto de máximo local de f , se existe δ > 0 tal que
f(w)
f(x)
f(y)
f(z)
( ( ( (
( (
0 x y z w
Figura 7.3: x, y, w são pontos de máximo local. x, z são pontos de mı́nimo local. z e w são
pontos de mı́nimo e máximo, respectivamente.
Exemplo 7.22. Seja f : R → R a função sinal, isto é, f (x) = sgn(x), para todo x ∈ R.
Note que, 0 não é ponto de mı́nimo local de f . Suponha, por absurdo, que 0 seja um ponto
de mı́nimo local de f . Assim, existe δ > 0 tal que
Mas,
1 ≤ f (−δ/2) = −1 < 1.
Exemplo 7.23. No Exemplo 7.22, 0 é ponto de máximo local de f . De fato, para δ = 1 > 0,
tem-se
f (x) ≤ 1 = f (0), ∀ x ∈ (−1, 1).
(respectivamente, f (x) > f (y)). Neste caso, f (y) é denominado valor máximo (respectiva-
mente, mı́nimo) local estrito f .
268 CAPÍTULO 7. SÉTIMA AULA: DERIVADAS DE FUNÇÕES REAIS
Obs 7.11. Observe que segue diretamente das definições 7.6, 7.7 e 7.8 que todo ponto de
máximo (respectivamente, ponto de mı́nimo) local estrito é um ponto de máximo (respecti-
vamente, ponto de mı́nimo) local.
Exemplo 7.24. No Exemplo 7.22 0 é ponto de máximo local, mas não é ponto de máximo
local estrito de f . De fato, para todo δ > 0 existe
f (x) = x3 , ∀ x ∈ R.
Observe que, 0 não é ponto de máximo, nem ponto de mı́nimo, local estrito de f . Com
efeito, para qualquer δ > 0 existem −δ/2, δ/2 ∈ (−δ, δ) tais que
Portanto,
f (−δ/2) < f (0) e f (δ/2) > f (0).
f (x) = x2 , ∀ x ∈ R.
Veja que 0 é ponto de mı́nimo local estrito de f . De fato, para δ = 1 > 0, tem-se
ou seja,
f (0) < f (x), ∀ x ∈ (−1, 1)\{0}.
Demonstração. Suponha, por absurdo, que f−′ (y) > 0. Utilizando o Teorema 7.5, concluı́mos
que existe δ1 > 0 tal que
Por outro lado, como y é ponto de mı́nimo local de f , então existe δ2 > 0 tal que
f (y) ≤ f (x), ∀ x ∈ X ∩ (y − δ2 , y + δ2 ).
Dessa forma, f (x) < f (y) ≤ f (x). Absurdo! Por fim, f−′ (y) ≤ 0.
Obs 7.12. Analogamente ao que foi feito no Corolário 7.9 e Observação 11.1, conclui-se que
Exemplo 7.27. Seja f (x) = x3 então f é derivável e f ′ (0) = 0, isto é, 0 é ponto crı́tico de
f . Por outro lado, f ′ (1) = 3 ̸= 0. Portanto, 1 não é ponto crı́tico de f .
(2z + 1)π/2, ∀ z ∈ Z.
O Corolário abaixo informa que todo ponto de mı́nimo ou máximo local de uma função
derivável é ponto crı́tico desta mesma.
Demonstração. Seja y um ponto de mı́nimo de f , então, pelo Teorema 5.6 e Corolário 7.9,
concluı́mos que
0 ≤ f+′ (y) = f ′ (y) = f−′ (y) ≤ 0,
270 CAPÍTULO 7. SÉTIMA AULA: DERIVADAS DE FUNÇÕES REAIS
f (x) = x3 , ∀ x ∈ R.
Vimos que 0 não é ponto de máximo, nem de mı́nimo, local de f . Mas, f ′ (0) = 0. Com isso,
a recı́proca do Corolário 7.10 não é verdadeira.
Exercı́cios de Fixação
1. Encontre os pontos crı́ticos, os máximos e mı́nimos locais das funções f (x) = x3 − 3x + 4
e g(x) = 3x − 4x2 .
Caro leitor, nesta seção, veremos os teorema mais importantes sobre derivadas de funções
reais. Entre eles estão os Teoremas de Rolle e do Valor Médio, que de fato, são equivalentes.
Comecemos com o seguinte resultado, que garantirá a inexistência de uma primitiva para
uma determinada função.
Demonstração. Como f é derivável, então, pelo Teorema 7.1, f é contı́nua em [c, d]. Lembre
que [c, d] é compacto. Assim sendo, usando o Teorema 6.11, existe a ∈ [c, d] tal que
ou seja, a é ponto de mı́nimo de f . Pelo Corolário 7.10, f ′ (a) = 0, se a ∈ (c, d). Precisamos
verificar que a ̸= c e a ̸= d. Faremos a prova em dois casos.
Observe que X ∩ (d − δ, d) ̸= ∅, pois d ∈ X−′ (ver Teorema 4.4). Dessa forma, a ̸= d. Caso
contrário,
f (x) < f (d) = f (a),
Usando o que foi feito nesta demonstração, existe a ∈ (c, d) tal que
f ′ (a) − z = g ′ (a) = 0.
Vejamos uma simples aplicação do Teorema 7.11. Esta será utilizada na teoria das
Integrais a Riemann.
272 CAPÍTULO 7. SÉTIMA AULA: DERIVADAS DE FUNÇÕES REAIS
Com isso, g ′ (−1) < 0 < g ′ (1). Pelo Teorema 7.11, existe a ∈ (−1, 1) tal que
f (a) = g ′ (a) = 0.
Em palavras, o resultado a seguir nos diz, sob algumas hipóteses, que se uma função
assume o mesmo valor nos extremos do intervalo sobre o qual está definida, então existe
algum valor no domı́nio que a reta tangente neste tem inclinação horizontal.
Teorema 7.12 (Teorema de Rolle). Seja f : [c, d] → R uma função contı́nua em [c, d] e
derivável em (c, d), onde f (c) = f (d). Então existe a ∈ (c, d) tal que f ′ (a) = 0.
f(c)=f(d)
0 c a d
Figura 7.4: A inclinação da reta tangente ao gráfico de f no ponto (a, f (a)) é nula.
7.5. TEOREMAS IMPORTANTES SOBRE DERIVABILIDADE 273
ou seja,
f (x) = f (c), ∀ x ∈ [c, d],
Portanto,
f ′ (x) = 0, ∀ x ∈ [c, d].
Exemplo 7.31. Seja f : [c, d] → R contı́nua em [c, d] e derivável em (c, d), onde f (c) =
f (d) = 0. Vamos provar que dado b ∈ R, existe a ∈ (c, d) tal que f ′ (a) = bf (a). De fato,
defina g : [c, d] → R por
g(x) = f (x)e−bx , ∀ x ∈ [c, d],
274 CAPÍTULO 7. SÉTIMA AULA: DERIVADAS DE FUNÇÕES REAIS
ver Definição 10.2. Dessa forma g é contı́nua em [c, d] e derivável em (c, d), onde
Além disso,
g ′ (x) = f ′ (x)e−bx − bf (x)e−bx = [f ′ (x) − bf (x)]e−bx ,
ver Teoremas 7.2 e 10.2. Aplicando o Teorema 7.12 a g existe a ∈ (c, d) tal que g ′ (a) = 0,
ou seja,
[f ′ (a) − bf (a)]e−ba = 0.
O Teorema do Valor Médio, nada mais é que o Teorema 7.12 com uma rotação no sistema
de eixos que ilustra o gráfico da função em questão.
f (d) − f (c)
f ′ (a) = .
d−c
f(x)
f(d)
q
q
f(c)
0 c a d x
Figura 7.5: A inclinação da reta tangente ao gráfico de f no ponto (a, f (a)) é a mesma que
a da secante, a este mesmo gráfico, nos pontos (c, f (c)) e (d, f (d)).
f (d) − f (c)
⇔ y(d − c) = f (d) − f (c) ⇔ y = .
d−c
Aplicando o Teorema 7.12 a g, concluı́mos que existe a ∈ (c, d) tal que g ′ (a) = 0. Ou
seja, f ′ (a) − y = 0, isto é,
f (d) − f (c)
f ′ (a) = y = .
d−c
Exemplo 7.32. Seja x > 0. Pelo Teorema 7.13, existe a ∈ (0, x) tal que
|senx| ≤ x, ∀ x > 0.
f (d) − f (c) 0
f ′ (a) = = = 0.
d−c d−c
Mas,
a ∈ (y, z) e f ′ (a) = 0.
Absurdo! Pois y, z são raı́zes consecultivas de f ′ . Vejamos um exemplo para esta aplicação.
276 CAPÍTULO 7. SÉTIMA AULA: DERIVADAS DE FUNÇÕES REAIS
p(x) = x3 − 6x2 + 9x − 1, ∀ x ∈ R.
Assim, p possui exatamente uma raiz em (1, 3). De fato, observe que
Assim, p′ (1) = p′ (3) = 0. Com isso, 1 e 3 são raı́zes consecultivas de p′ . Portanto, existe no
máximo uma raiz de p em (1, 3). Usando o Teorema 6.9, concluı́mos que existe y ∈ (1, 3) tal
que p(y) = 0, já que p(3) < 0 < p(1). Assim, este y é único no intervalo (1, 3).
Na verdade os Teoremas 7.12 e 7.13 são maneiras diferentes de informar o mesmo fato.
Em Matemática, dizemos simplesmente que tais resultados são equivalentes. O que fizemos
acima foi verificar que o Teorema de Rolle resulta o Teorema do Valor Médio, mais também
é verdade que a recı́proca é válida. Com efeito, se f (c) = f (d), no Teorema 7.13, então
existe a ∈ (c, d) tal que
f (d) − f (c)
f ′ (a) = = 0.
d−c
Isto é a conclusão do Teorema 7.12.
Como aplicação do Teorema 7.13, mostraremos que toda função que possui derivada nula
é constante.
f ′ (x) = 0, ∀ x ∈ int(I),
então, f é constante em I.
f (d) − f (c)
0 = f ′ (a) = .
d−c
7.5. TEOREMAS IMPORTANTES SOBRE DERIVABILIDADE 277
Agora, vamos relacionar a monotonicidade de uma função com o sinal de sua derivada.
i) f é não-crecente ⇔ f ′ (x) ≤ 0, ∀ x ∈ I;
Demonstração. ⇒) O Teorema 5.6, o Corolário 7.6 e a Observação 11.1 provam as idas dos
itens i) e ii).
f (y) − f (x)
f ′ (a) = .
y−x
278 CAPÍTULO 7. SÉTIMA AULA: DERIVADAS DE FUNÇÕES REAIS
f (y) − f (x)
≤0
y−x
f (x) = x5 , ∀ x ∈ R.
Assim, f ′ (x) = 5x4 ≥ 0. Portanto, pelo Corolário 7.15, f é uma função não-decrescente.
Para finalizar esta aula, mostraremos como é possı́vel generalizar o Teorema 7.13. Discu-
tiremos isto em um teorema intitulado Teorema do Valor Médio Generalizado. É possı́vel,
também, encontrar na literatura este mesmo resultado com o nome Teorema do Valor Médio
de Cauchy.
Como f e g são contı́nuas em [a, b] e deriváveis em (a, b), então podemos concluir a mesma
informação para h (pois h é um resultado de operações elementares envolvendo f e g). Além
disso, temos que
h(b) = [f (b) − f (a)]g(b) − [g(b) − g(a)]f (b) = f (b)g(b) − f (a)g(b) − g(b)f (b) + g(a)f (b)
= f (b)g(a) − g(b)f (a) = f (b)g(a) − f (a)g(a) − g(b)f (a) + g(a)f (a)
= [f (b) − f (a)]g(a) − [g(b) − g(a)]f (a) = h(a).
Portanto, pelo Teorema 7.12, existe c ∈ (a, b) tal que h′ (c) = 0. Por outro lado, é fácil ver
7.5. TEOREMAS IMPORTANTES SOBRE DERIVABILIDADE 279
que
h′ (c) = [f (b) − f (a)]g ′ (c) − [g(b) − g(a)]f ′ (c).
Consequentemente,
0 = [f (b) − f (a)]g ′ (c) − [g(b) − g(a)]f ′ (c).
Obs 7.14. Observe que o Teorema 7.13 é um corolário imediato do que provamos acima
quando assumimos que g é a função identidade.
Sugiro, como um saudável exercı́cio, que o leitor tente interpretar o resultado acima
geometricamente.
Exercı́cios de Fixação
4. Seja f (x) = 0, se x < 0, e f (x) = 1, se x ≥ 0. Mostre que não existe g tal que g ′ ≡ f .
5. Suponha que f : [0, 2] → R contı́nua em [0, 2], derivável em (0, 2) e f (0) = 0, f (1) =
f (2) = 1. Mostre que existem a, b ∈ (0, 2) tais que f ′ (a) = 1 e f ′ (b) = 1/3.
280 CAPÍTULO 7. SÉTIMA AULA: DERIVADAS DE FUNÇÕES REAIS
7.6 Conclusão
Caro leitor, ao final desta aula, devemos ressaltar que o conceito de derivabilidade é
imprescindı́vel para a Análise Matemática. É claro que a definição dada neste material para
função derivável pode não servir em alguns estudos mais avançados. Por isso, recomendamos
a leitura do livro [9], para que o aluno possa encontrar uma nova interpretação para o
significado de aplicação diferenciável.
7.7 Resumo
Exercı́cios:
3. Dê exemplo de uma função derivável f : R → R e sequências de pontos 0 < xn < yn , com
f (yn ) − f (xn )
lim xn = lim yn = 0 sem que entretanto exista o limite lim .
yn − xn
7.8. EXERCÍCIOS PROPOSTOS 281
f (y + h) − f (y − h)
4. Sejam f : X → R e y ∈ intX. Dê um exemplo em que o limite lim
h→0 2h
existe porém f não é derivável em y.
ey
5. Admitindo que (ex )′ = ex e que lim = ∞, prove que a função f : R → R, definida por
y→∞ y
7. Seja f : R → R derivável, tal que f (tx) = tf (x) para quaisquer t, x ∈ R. Prove que
f (x) = f ′ (0)x, qualquer que seja x ∈ R. Mais geralmente, se f : R → R é k vezes derivável
e f (tx) = tk f (x), ∀ t, x ∈ R, prove que f (x) = [f (k) (0)/k!]xk , ∀ x ∈ R.
9. Dê exemplo de uma função derivável f : R → R tal que 0 seja limite de uma sequência
de pontos crı́ticos de f , mas f ′ (0) > 0.
10. Se y ∈ I é um ponto crı́tico de f : I → R derivável no intervalo aberto I, prove que
existe δ > 0 tal que y é o único ponto crı́tico de f no intervalo (y − δ, y + δ). Conclua que,
se f é de classe C 1 , então num conjunto compacto K ⊆ I, onde os pontos crı́ticos de f são
todos não-degenerados, só existe um número finito destes.
11. Prove que se o ponto crı́tico y da função f : I → R é limite de uma sequência de pontos
crı́ticos (yn ) ⊆ I\{y} e f ′′ (y) existe, então f ′′ (y) = 0.
282 CAPÍTULO 7. SÉTIMA AULA: DERIVADAS DE FUNÇÕES REAIS
12. Seja f : R+ → R definida por f (x) = log x/x. Admitindo que (log)′ (x) = 1/x, indique
os intervalos de crescimento e decrescimento de f , seus pontos crı́ticos e seus limites quando
x → 0 e quando x → ∞.
14. Seja f : [c, d] → R contı́nua em [c, d], derivável e m (c, d), exceto possivelmente em
y ∈ (c, d). Se lim f ′ (x) = l, prove que f ′ (y) = l.
x→y
15. Seja p : R → R um polinômio de grau ı́mpar. Prove que existe y ∈ R tal que p′′ (y) = 0.
Questões Resolvidas:
f (x) − f (y)
g(x) = , se x ̸= y e g(y) = f ′ (y).
x−y
Observe que
f (x) − f (y)
lim g(x) = lim = f ′ (y) = g(y).
x→y x→y x−y
Portanto, g é contı́nua em y ∈ X ∩ X ′ . Além disso,
f (x) − f (y)
g(x) = ,
x−y
se x ̸= y. Logo,
g(x)(x − y) = f (x) − f (y),
se x ̸= y, ou seja,
f (x) = g(x)(x − y) + f (y), ∀ x ∈ X.
7.9. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 283
Assim sendo,
f (x) − f (y)
lim = lim g(x) = g(y),
x→y x−y x→y
Demonstração. Seja
C = {x ∈ R : f ′ (x) = 0}
o conjunto dos pontos crı́ticos de f . Vamos provar que C é fechado. Considere y ∈ C. Dessa
forma, existe (xn ) ⊆ C tal que lim xn = y. Veja que
f ′ (xn ) = 0, ∀ n ∈ N.
Ex3. Seja f : [c, d] → R contı́nua em [c, d], derivável em (c, d), com f ′ (x) ≥ 0, ∀ x ∈ (c, d).
Se f ′ (x) = 0 apenas num conjunto finito, prove que f é crescente.
Demonstração. Suponha, por absurdo, que f não é crescente. Assim sendo, existem a < b
tais que a, b ∈ [c, d] e f (a) ≥ f (b). Se f (a) > f (b), então, pelo Teorema 7.13, existe
z ∈ (a, b) ⊆ (c, d) tal que
f (b) − f (a)
f ′ (z) = < 0.
b−a
Considerando que
f ′ (x) ≥ 0, ∀ x ∈ (c, d),
obtemos um absurdo. Consequentemente, f (a) = f (b). Dessa forma, usando o Teorema 7.12,
concluı́mos que existe u ∈ (a, b) ⊆ (c, d), tal que f ′ (u) = 0. Agora, pela Lei da Tricotomia,
284 CAPÍTULO 7. SÉTIMA AULA: DERIVADAS DE FUNÇÕES REAIS
temos que ou
f (u) = f (a), ou f (u) > f (a) ou f (u) < f (a).
Se f (u) > f (a) = f (b), então pelo Teorema 7.13 existe p ∈ (u, b) ⊆ (c, d) tal que
f (b) − f (u)
f ′ (p) = < 0.
b−u
Isto é um absurdo, pois f ′ (x) ≥ 0, ∀ x ∈ (c, d). Se f (u) < f (a), então pelo Teorema 7.13
existe q ∈ (a, u) ⊆ (c, d) tal que
f (u) − f (a)
f ′ (q) = < 0.
u−a
Isto é uma contradição, já que f ′ (x) ≥ 0, ∀ x ∈ (c, d). Logo, f (a) = f (u). Portanto,
utilizando o Teorema 7.12, existe v ∈ (a, u) ⊆ (c, d) tal que f ′ (v) = 0. Continuando este
processo, encontramos uma infinidade de valores em (c, d) que satisfazem f ′ (x) = 0. Isto
prova o resultado por contraposição.
Auto-Avaliação
Proxima Aula
Caro leitor, na próxima aula, estudaremos a Fórmula de Taylor. A partir desta, podemos
aproximar algumas funções a um determinada aplicação polinomial, denominada polinômio
de Taylor.
Referências Bibliográficas
[1] Alonso, M.; Finn, E. J., Fı́sica: Um Curso Universitário. Segunda Edição, São Paulo,
Edgard Blücher Ltda, 2009. 481p.
[2] Bartle, R. G.; Sherbert, D. R., Introdution to Real Analysis, Third Edition, New York,
JohnWiley and Sons,Inc., 2000. 399p.
[3] Boyce, W. E.; DiPrima, R. C., Elementary Differential Equations and Boundary Value
Problems. Seventh Edition, New York, JohnWiley and Sons,Inc, 2001. 745p.
[5] Brauer, F.; Nohel, J. A., The Qualitative Theory of Ordinary Differential Equations.
University of Wisconsin, 1989.
[6] Dragomir, S. S., Some Gronwall Type Inequalities and Applications. Monograph. Vic-
toria University of Technology, 2002.
[7] Ferreira, J., A Construção dos Números. Primeira Edição, Rio de Janeiro, SBM, 2010.
133p.
[8] Figueiredo, D., Análise I. Segunda Edição, Rio de Janeiro, LTC, 2008. 266p.
[9] Guillemin, V.; Pollack, A., Differential Topology. First Edition, New Jersey, Prentice-
Hall, Inc., Englewood Cliffs, 1974. 227p.
[10] King, A.C.; Billingham, J.; OTTO, S.R., Differential Equations. Linear, Nonlinear,
Ordinary, Partial. Cambridge University Press. New York, 2003.
[11] Lima, E. L., Análise Real. Funções de uma variável, vol.1. 8o . ed. Coleção Matemática
Universitária, Rio de Janeiro: IMPA, 2006.
285
286 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[13] Lima, E. L., Curso de Análise, vol. 1, Décima Segunda Edição, Rio de Janeiro, IMPA,
2008. 431p.
[14] Melo, W., Existência de soluções clássicas para as Equações de Burgers e Navier-
Stokes. Dissertação de Mestrado. UFPE, 2007.
[15] Munkres, J. R., Topology. Second Edition, New Jersey, Prentice Hall, Inc., 2000. 552p.
[16] Nolt, J.; Rohatys, D.; Varzi, A., Theory and problems or logic. Second edition, New
York, McGraw-Hill, 2009. 279p.
[17] Rudin, W., Principles of Mathematical Analysis. Third Edition, New York, McGraw-
Hill, Inc., 1976. 351p.
[18] Smoller, J., Shock Waves and Reaction-Diffusion Equations. 2nd ed., Springer-Verlag,
1994.
[19] Tveito, A.; Winther, R., Introduction to Partial Differential Equations. A Computa-
tional Approach. New York, 1961.
Professor Revisor
Meta
Apresentar o conceito de derivada de ordem superior. Mostrar também que existe uma
fórmula para aproximar linearmente algumas funções, denominada Fórmula de Taylor.
Objetivos
Ao final desta aula, o aluno deverá ser capaz de aplicar corretamente a Fórmula de
Taylor.
Pré-requisitos
287
288 CAPÍTULO 8. OITAVA AULA: FÓRMULA DE TAYLOR PARA FUNÇÕES REAIS
8.1 Introdução
Caro leitor, iniciaremos esta aula definindo e exemplificando algumas funções que pos-
suem a propriedade de serem deriváveis mais de uma vez, isto é, conceituaremos o que
significa derivada de ordem superior. Como um bom exemplo, exporemos uma fórmula
para encontrar a derivada de ordem qualquer da função seno. Contribuiremos também com
um contraexemplo de uma função que não possui derivada de todas as ordens. Em se-
guida, provaremos o Teorema da Fórmula de Taylor Infinitesimal. Para este, exibiremos
uma aplicação que relaciona o sinal da segunda derivada de uma função com seus pontos de
máximo e mı́nimo locais. Outra aplicação, de grande importância computacional, demons-
trada nesta aula, é mais uma forma da Regra de L’Hôpital. Por fim, trabalharemos em uma
outra maneira de escrever a Fórmula de Taylor, esta é denominada Fórmula de Taylor com
Resto de Lagrange. Com esta, descreveremos um valor aproximado para o número de Euler
e.
f (0) (y) = f (y), f ′′ (y) = (f ′ )′ (y) e f (n) (y) = (f (n−1) )′ (y), ∀ n = 2, 3, ...
Exemplo 8.1 (Derivada n-ésima do Seno). Vimos, no Exemplo 7.4, que sen′ y = cos y, para
todo y ∈ R. Portanto,
sen′′ y = cos′ y = −seny.
Consequentemente,
sen′′′ y = (−sen)′ (y) = − cos y.
8.2. DERIVADAS DE ORDEM SUPERIOR 289
Dessa forma,
sen(iv) y = (− cos)′ (y) = seny.
Indutivamente, chegamos a
f (x) = xn |x|, ∀ x ∈ R,
Portanto,
n
(n + 1)x , se x > 0;
f ′ (x) = −(n + 1)xn , se x < 0;
0, se x = 0.
Deste modo,
f ′ (x) = (n + 1)xn−1 |x|, ∀ x ∈ R.
Seguindo este raciocı́nio, provamos a igualdade (8.1). Por outro lado, a função modular não
é derivável em 0 (ver Exemplo 7.5). Logo, não existe f (n+1) (0).
Exemplo 8.3 (Derivada n-ésima do Cosseno). O Exemplo 7.4 afirma que cos′ y = −seny,
290 CAPÍTULO 8. OITAVA AULA: FÓRMULA DE TAYLOR PARA FUNÇÕES REAIS
Logo,
cos′′′ y = (− cos)′ (y) = seny.
Consequentemente,
cos(iv) y = sen′ y = cos y.
Indutivamente, obtemos
Exercı́cios de Fixação
Agora, considere que n = 2. Logo, r(0) = r′ (0) = r′′ (0) = 0. Com isso, usando o Teorema
7.13, concluı́mos que existe a entre 0 e h, tal que
Portanto,
pois r′′ (0) = 0, a/h ≤ 1 (ver Teorema 5.10). Seguindo este processo provamos que
r(h)
lim = 0.
h→0 hn
r(h)
⇐) Agora, suponha que lim = 0. Primeiramente provaremos que
h→0 hn
r(h)
lim = 0, ∀ i = 0, 1, 2..., n.
h→0 hi
De fato,
r(h)
r(0) = lim r(h) = lim =0
h→0 h→0 h0
Além disso,
r′′ (0)h2
f (h) = r(h) − , ∀ h ∈ J.
2
Assim sendo,
r′′ (0) · 0
f (0) = r(0) − = 0, f ′ (0) = r′ (0) − r′′ (0) · 0 = 0 e f ′′ (0) = r′′ (0) − r′′ (0) = 0.
2
f (h)
Dessa forma, pelo que foi feito acima, lim = 0. Por fim,
h→0 h2
[ ]
r(h) f (h) r′′ (0) r′′ (0)
0 = lim 2 = lim − = − .
h→0 h h→0 h2 2 2
Consequentemente, r′′ (0) = 0. Proseguindo este raciocı́nio, garantimos que r(i) (0) = 0, para
todo i = 0, 1, ..., n.
h2 hn
r(h) = f (y + h) − f (y) − f ′ (y)h − f ′′ (y) − ... − f (n) (y) ,
2! n!
r(h)
lim = 0.
h→0 hn
8.3. RESULTADOS IMPORTANTES SOBRE A FÓRMULA DE TAYLOR 293
O polinômio
h2 hn
p(h) = f (y) + f ′ (y)h + f ′′ (y) + ... + f (n) (y)
2! n!
0 0
r(0) = f (y) − f (y) − f ′ (y)0 − f ′′ (y) − ... − f (n) (y) = 0,
2! n!
0 0
r′ (0) = f ′ (y) − f ′ (y) − 2f ′′ (y) − ... − nf (n) (y) = 0, ..., r(n) (0) = 0.
2! n!
Usando o Lema 8.1, concluı́mos que lim r(h)/hn = 0. Vamos provar que o polinômio de
h→0
Taylor de f é o único que satisfaz a definição de r. Suponha que existe p polinômio tal
que r(h) = f (y + h) − p(h), onde lim r(h)/hn = 0. Usando novamente o Lema 8.1, obtemos
h→0
r(i) (0) = 0, para todo i = 0, 1, 2, ..., n. Daı́,
ou seja,
p(i) (0) f (i) (y)
ai = = , ∀ i = 0, 1, ..., n.
i! i!
Logo,
h2 hn
p(h) = f (y) + f ′ (y)h + f ′′ (y) + ... + f (n) (y) .
2! n!
Obs 8.1. Como lim r(h)/hn = 0, então o polinômio de Taylor de f em y é uma aproximação
h→0
de f para os pontos próximos a y.
294 CAPÍTULO 8. OITAVA AULA: FÓRMULA DE TAYLOR PARA FUNÇÕES REAIS
Exemplo 8.4. Seja f : I → R uma função duas vezes derivável em y ∈ intI. Considere que
y é ponto crı́tico de f e f ′′ (y) ̸= 0 (neste caso, y é chamado ponto crı́tico não-degenerado de
f ). Então,
Demonstração. i) Como y ∈ intI, então existe λ > 0 tal que (y − λ, y + λ) ⊆ I (ver Definição
4.1). Ou seja, y + h ∈ I, se |h| < λ. Utilizando o Teorema 8.1, temos que
h2
f (y + h) = f (y) + f ′ (y)h + f ′′ (y) + r(h),
2!
h2
f (y + h) = f (y) + f ′′ (y) + r(h).
2!
Dessa forma, [ ′′ ]
f (y + h) − f (y) f (y) r(h)
= + 2 .
h2 2! h
Portanto,
[ ′′ ]
f (y + h) − f (y) f (y) r(h) f ′′ (y) r(h) f ′′ (y)
lim = lim + = lim + lim = > 0.
h→0 h2 h→0 2! h2 h→0 2! h→0 h2 2!
f (y + h) − f (y)
para todo h ∈ I, com 0 < |h| < δ1 , tem-se > 0.
h2
ou seja,
f (y + h) > f (y), ∀ h ∈ I, com 0 < |h| < δ.
h2
f (y + h) = f (y) + f ′ (y)h + f ′′ (y) + r(h),
2!
h2
f (y + h) = f (y) + f ′′ (y) + r(h).
2!
Portanto, [ ′′ ]
f (y + h) − f (y) f (y) r(h)
= + 2 .
h2 2! h
Dessa forma,
[ ′′ ]
f (y + h) − f (y) f (y) r(h) f ′′ (y) r(h) f ′′ (y)
lim = lim + = lim + lim = < 0.
h→0 h2 h→0 2! h2 h→0 2! h→0 h2 2!
f (y + h) − f (y)
para todo h ∈ I, com 0 < |h| < δ, tem-se < 0.
h2
Logo, f (y + h) < f (y), se h é suficientemente pequeno. Por fim, y é ponto de máximo local
de f .
Agora, vejamos uma maneira de resolvermos um limite que envolve uma indeterminação.
Então,
f (x) f (n) (y)
lim = (n) .
x→y g(x) g (y)
De fato, usando o Teorema 8.1, obtemos
h2 hn hn
f (y + h) = f (y) + f ′ (y)h + f ′′ (y) + ... + f (n) (y) + r(h) = f (n) (y) + r(h),
2! n! n!
296 CAPÍTULO 8. OITAVA AULA: FÓRMULA DE TAYLOR PARA FUNÇÕES REAIS
h2 hn hn
g(y + h) = g(y) + g ′ (y)h + g ′′ (y) + ... + g (n) (y) + s(h) = g (n) (y) + s(h),
2! n! n!
Teorema 8.2 (Fórmula de Taylor com Resto de Lagrange). Seja f : [c, d] → R uma função
n-vezes derivável em (c, d), onde f (n−1) é contı́nua em [c, d]. Então, existe x ∈ (c, d) tal que
Demonstração. Seja
[ ]
n! ′ f (n−1) (c)(d − c)n−1
k= f (d) − f (c) − f (c)(d − c) − ... − .
(d − c)n (n − 1)!
Portanto,
Além disso,
Como f é n-vezes derivável em (c, d) e f (n−1) é contı́nua em [c, d], então g é contı́nua em
[c, d], derivável em (c, d) e
k − f (n) (x)
g ′ (x) = (d − x)n−1 .
(n − 1)!
Mas, g(c) = g(d) = 0. Dessa forma, pelo Teorema 7.12, existe x ∈ (c, d) tal que g ′ (x) = 0.
Consequentemente,
k − f (n) (x)
(d − x)n−1 = 0,
(n − 1)!
isto é, k − f (n) (x) = 0. Por fim,
[ ]
n! ′ f (n−1) (c)(d − c)n−1
f (n)
(x) = k = f (d) − f (c) − f (c)(d − c) − ... − .
(d − c)n (n − 1)!
ver Definição 10.2. Considere que (ex )(n) = ex , para todo x ∈ [0, 1] (ver Teorema 10.2).
Assim sendo, pelo Teorema 8.2, temos que existe x ∈ (0, 1) tal que:
1 1 1 ex
e=1+1+ + + ... + + .
2! 3! 8! 9!
1 1
Veja que o polinômio de Taylor de ordem 9 de e no ponto 1 é dado por 1 + 1 + + ... + .
2! 8!
Assim, e ≈ 2, 71828.
Exercı́cios de Fixação
√
1. Encontre o valor aproximado de 2.
8.4 Conclusão
Caro leitor, ao final desta aula, é importante ressaltar que a Fórmula de Taylor é uma
boa ferramenta para aproximar alguns valores, tais como raiz quadrada e o número de Euler.
Além disso, existem limites de expressões indeterminadas, encontradas no cálculo elementar,
que são solucionados com aplicação da Regra de L’Hôpital, a qual é consequência imediata
da Fórmula de Taylor Infinitesimal. Portanto, o Teorema da Fórmula de Taylor deve fazer
parte do conhecimento do estudante.
8.5 Resumo
Exercı́cios:
f (y + h) + f (y − h) − 2f (y)
f ′′ (y) = lim .
h→0 h2
Questões Resolvidas:
f (y + h) − f (y − h)
lim = f ′ (y).
h→0 2h
Demonstração. Como f é derivável em y ∈ intI, então, utilizando o Teorema 8.1, temos que
r(h)
f (y + h) = f (y) + f ′ (y)h + r(h), onde lim = 0,
h→0 h
e também
s(h)
f (y − h) = f (y) − f ′ (y)h + s(h), onde lim= 0.
h→0 h
Com isso,
[ ]
f (y + h) − f (y − h) ′ r(h) − s(h)
lim = lim f (y) +
h→0 2h h→0 2h
r(h) s(h)
= f ′ (y) + lim − lim
h→0 2h h→0 2h
= f ′ (y).
Ex2. Sejam f, g : I → R duas vezes derivável em y ∈ int I. Se f (y) = g(y), f ′ (y) = g ′ (y) e
f (x) ≥ g(x), para todo x ∈ I, prove que f ′′ (y) ≥ g ′′ (y).
300 CAPÍTULO 8. OITAVA AULA: FÓRMULA DE TAYLOR PARA FUNÇÕES REAIS
e também
p(x) = f (x) − g(x) ≥ 0, ∀ x ∈ I.
ou seja,
0 ≤ p′′ (y)/2 + lim r(h)/h2 = p′′ (y)/2.
h→0
Ex3. Sejam f, g : R → R n-vezes derivável em y ∈ R. Prove que se, para algum y ∈ R vale
f ′ (y) = ... = f (n) (y) = 0. então (g ◦ f )(i) (y) = 0, para i = 1, 2, ..., n.
Analogamente,
(g◦f )′′ (y) = [(g ′ ◦f )f ′ ]′ (y) = [(g ′′ ◦f )(f ′ )2 +(g ′ ◦f )f ′′ ](y) = (g ′′ ◦f )(y)(f ′ )2 (y)+(g ′ ◦f )(y)f ′′ (y)
= (g ′′ ◦ f )(y) · 0 + (g ′ ◦ f )(y) · 0 = 0.
8.7. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 301
Auto-Avaliação
Proxima Aula
Caro leitor, na próxima aula, estudaremos Integrais de funções reais limitadas. Reco-
mendo ao aluno fazer uma revisão nas definições de supremo e ı́nfimo. Estas serão utilizadas
com muita frequência na próxima aula.
302 CAPÍTULO 8. OITAVA AULA: FÓRMULA DE TAYLOR PARA FUNÇÕES REAIS
Referências Bibliográficas
[1] Alonso, M.; Finn, E. J., Fı́sica: Um Curso Universitário. Segunda Edição, São Paulo,
Edgard Blücher Ltda, 2009. 481p.
[2] Bartle, R. G.; Sherbert, D. R., Introdution to Real Analysis, Third Edition, New York,
JohnWiley and Sons,Inc., 2000. 399p.
[3] Boyce, W. E.; DiPrima, R. C., Elementary Differential Equations and Boundary Value
Problems. Seventh Edition, New York, JohnWiley and Sons,Inc, 2001. 745p.
[5] Brauer, F.; Nohel, J. A., The Qualitative Theory of Ordinary Differential Equations.
University of Wisconsin, 1989.
[6] Dragomir, S. S., Some Gronwall Type Inequalities and Applications. Monograph. Vic-
toria University of Technology, 2002.
[7] Ferreira, J., A Construção dos Números. Primeira Edição, Rio de Janeiro, SBM, 2010.
133p.
[8] Figueiredo, D., Análise I. Segunda Edição, Rio de Janeiro, LTC, 2008. 266p.
[9] Guillemin, V.; Pollack, A., Differential Topology. First Edition, New Jersey, Prentice-
Hall, Inc., Englewood Cliffs, 1974. 227p.
[10] King, A.C.; Billingham, J.; OTTO, S.R., Differential Equations. Linear, Nonlinear,
Ordinary, Partial. Cambridge University Press. New York, 2003.
[11] Lima, E. L., Análise Real. Funções de uma variável, vol.1. 8o . ed. Coleção Matemática
Universitária, Rio de Janeiro: IMPA, 2006.
303
304 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[13] Lima, E. L., Curso de Análise, vol. 1, Décima Segunda Edição, Rio de Janeiro, IMPA,
2008. 431p.
[14] Melo, W., Existência de soluções clássicas para as Equações de Burgers e Navier-
Stokes. Dissertação de Mestrado. UFPE, 2007.
[15] Munkres, J. R., Topology. Second Edition, New Jersey, Prentice Hall, Inc., 2000. 552p.
[16] Nolt, J.; Rohatys, D.; Varzi, A., Theory and problems or logic. Second edition, New
York, McGraw-Hill, 2009. 279p.
[17] Rudin, W., Principles of Mathematical Analysis. Third Edition, New York, McGraw-
Hill, Inc., 1976. 351p.
[18] Smoller, J., Shock Waves and Reaction-Diffusion Equations. 2nd ed., Springer-Verlag,
1994.
[19] Tveito, A.; Winther, R., Introduction to Partial Differential Equations. A Computa-
tional Approach. New York, 1961.
Professor Revisor
Meta
Apresentar as funções reais que são integráveis a Riemann. Mostrar também resultados
como, por exemplo, Teorema Fundamental do Cálculo, Mudança de Variável e Integração
por Partes, os quais têm aplicações diretas em Equações Diferenciais Parciais (ver dissertação
[14]).
Objetivos
Ao final desta aula, o aluno deverá ser capaz de identificar funções integráveis e aplicar
corretamente os Teoremas Fundamental do Cálculo, Mudança de Variáveis e Integração por
Partes.
Pré-requisitos
305
306 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
9.1 Introdução
Nesta aula, mostraremos, através de somas inferior e superior, como verificar se uma
determinada função limitada é integrável. De posse destas aplicações, estudaremos quais
operações elementares podem ser realizadas sobre tais para obtermos novamente uma função
do mesmo tipo, ou seja, integrável. Em seguida, demonstraremos condições suficientes de
integrabilidade como, por exemplo, continuidade e monotonicidade. Por fim, veremos alguns
teoremas que nos possibilitam entender por que a integral indefinida é, em alguns textos,
considerada uma antiderivada. Entre estes estão os Teoremas Fundamental do Cálculo e
Mudança de Variável. Aplicações destes dois resultados estão inseridas também no contexto
da Matemática Financeira e Ciências Biológicas.
a b
[ ]
t1 t2 t3 ti-1 ti tn-1
Definição 9.2 (Subintervalo da Partição). Seja P : a = t0 < ... < tn = b uma partição do
intervalo [a, b]. O intervalo da forma
[ti−1 , ti ], ∀ i = 1, 2, ...n,
a b
[ ]
t1 t2 t3 ti-1 ti tn-1
são partições do intervalo [1, 4]. Os intervalos [1, 2] e [2, 4] são, respectivamente, o primeiro
e o segundo intervalo da partição P .
Definição 9.3. Uma partição Q de [a, b] refina uma outra partição do mesmo intervalo P ,
se P ⊆ Q.
Exemplo 9.2. A partição Q = {1, 3, 4} de [1, 4] não refina a partição P = {1, 2, 4} de [1, 4],
pois 2 ∈ P , mas 2 ∈
/ Q. Porém, a partição R = {1, 2, 3, 4} refina a partição Q = {1, 3, 4},
pois Q ⊆ R.
Exemplo 9.3. Se P e Q são partições de um intervalo [a, b], então P ∪ Q é uma partição
de [a, b] que refina P e Q simultaneamente, já que P ∪ Q é finito e P, Q ⊆ P ∪ Q.
Definição 9.4 (Oscilação). Seja P : a = t0 < ... < tn = b uma partição de [a, b]. Seja
f : [a, b] → R uma função limitada. Sejam
mfi = inf{f (x) : x ∈ [ti−1 , ti ]} e Mif = sup{f (x) : x ∈ [ti−1 , ti ]}, ∀ i = 1, 2, ..., n.
Obs 9.2. Denotaremos mf = inf{f (x) : x ∈ [a, b]} e M f = sup{f (x) : x ∈ [a, b]}.
308 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
Mf
Mif
w if
mif wf
mf
0 a ti-1 ti b
Exemplo 9.4. Relembre a definição da função caracterı́stica de Q (ver Exemplo 6.15). Ana-
logamente podemos definir a função caracterı́stica de Q no intervalo [a, b], basta estabelecer
a seguinte lei de transformação
{
1, se x ∈ [a, b] ∩ Q;
f (x) =
0, se x ∈ [a, b] ∩ R\Q.
Seja P : a = t0 < ... < tn = b uma partição qualquer de [a, b]. Como em qualquer intervalo
não-degenerado existe um número racional e um irracional (ver Teorema 1.6), então f assume
os valores 0 e 1 em qualquer intervalo da partição P . Com isso,
e também
Mif = sup{f (x) : x ∈ [ti−1 , ti ]} = 1,
Considere P : a = t0 < ... < tn = b uma partição qualquer de [a, b]. Assim,
e de maneira análoga
onde i = 1, 2, ..., n.
Seja P : 1 = t0 < ... < tn = 2 uma partição qualquer de [1, 2]. Assim,
Definição 9.5 (Somas Inferior e Superior). Seja f : [a, b] → R uma função limitada. De-
310 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
∑
n ∑
n
f
s (P ) = mfi (ti − ti−1 ) e S (P ) =
f
Mif (ti − ti−1 ).
i=1 i=1
M2f
M1f m2f
m1f
0 a t1 t2 ti-1 ti b 0 a t1 t2 ti-1 ti b
Obs 9.3. Note que as somas inferior e superior dependem da partição que está sendo
considerada.
∑
n ∑
n ∑
n
sf (P ) = mfi (ti − ti−1 ) ≥ mf (ti − ti−1 ) = mf (ti − ti−1 )
i=1 i=1 i=1
= mf (tn − t0 ) = mf (b − a),
onde na primeira desigualdade usamos o fato que [ti−1 , ti ] ⊆ [a, b] para concluir que mfi ≥ mf
(para a prova deste fato ver exercı́cios sobre ı́nfimo). Assim,
Analogamente,
∑
n ∑
n ∑
n
f
S (P ) = Mif (ti − ti−1 ) ≤ M (ti − ti−1 ) = M
f f
(ti − ti−1 ) = M f (b − a).
i=1 i=1 i=1
9.2. INTEGRAL A RIEMANN E EXEMPLOS 311
Deste modo,
S f (P ) ≤ M f (b − a), ∀ P partição de [a, b].
∑
n ∑
n
f
s (P ) = mfi (ti − ti−1 ) ≤ Mif (ti − ti−1 ) = S f (P ), ∀ P partição de [a, b].
i=1 i=1
já que mfi ≤ Mif , ∀ i = 1, 2, ..., n (ver definições 1.11 e 1.12). Com isso,
mf (b − a) ≤ sf (P ) ≤ S f (P ) ≤ M f (b − a),
∑
n ∑
n ∑
n
S (P ) − s (P ) =
f f
Mif (ti − ti−1 ) − mfi (ti − ti−1 ) = (Mif − mfi )(ti − ti−1 )
i=1 i=1 i=1
∑
n
= wif (ti − ti−1 ).
i=1
Exemplo 9.7. No Exemplo 9.4 vimos que a função caracterı́stica de Q em [a, b], f : [a, b] →
R, dada por f (x) = 1, se x ∈ [a, b] ∩ Q e f (x) = 0, caso contrário, satisfaz
∑
n
sf (P ) = mfi (ti − ti−1 ) = 0
i=1
e também
∑
n ∑
n
S f (P ) = Mif (ti − ti−1 ) = (ti − ti−1 ) = b − a.
i=1 i=1
Exemplo 9.8. Vimos que a função constante, f : [a, b] → R, dada por f (x) = k, satisfaz
para qualquer partição P : a = t0 < ... < tn = b de [a, b]. Dessa forma,
∑
n ∑
n ∑
n
f
s (P ) = mfi (ti − ti−1 ) = k(ti − ti−1 ) = k (ti − ti−1 ) = k(b − a)
i=1 i=1 i=1
e de maneira análoga,
∑
n ∑
n ∑
n
f
S (P ) = Mif (ti − ti−1 ) = k(ti − ti−1 ) = k (ti − ti−1 ) = k(b − a).
i=1 i=1 i=1
Exemplo 9.9. No Exemplo 9.6 vimos que a função, f : [1, 2] → R, dada por f (x) = 1,
∀ x ∈ [1, 2) e f (2) = 2 satisfaz
∑
n ∑
n
sf (P ) = mfi (ti − ti−1 ) = (ti − ti−1 ) = 2 − 1 = 1
i=1 i=1
e também
∑
n ∑
n−1
f
S (P ) = Mif (ti − ti−1 ) = (ti − ti−1 ) + 2(tn − tn−1 ) = tn−1 − t0 + 2(tn − tn−1 )
i=1 i=1
= 4 − 1 − tn−1 = 3 − tn−1 .
Definição 9.6 (Integrais Inferior e Superior). Seja f : [a, b] → R uma função limitada. As
integrais inferior e superior de f são definidas e denotadas, respectivamente, por
∫ b
f = sup{sf (P ) : P partição de [a, b]}
a
e ∫ b
f = inf{S f (P ) : P partição de [a, b]}.
a
Obs 9.6. O supremo e ı́nfimo na Definição 9.6 estão sendo encontrados variando as partições,
denotadas por P , do intervalo [a, b].
9.2. INTEGRAL A RIEMANN E EXEMPLOS 313
Obs 9.7. Note que a existência do ı́nfimo e a do supremo na Definição 9.6 está justificada
na Observação 9.4.
Exemplo 9.10. No Exemplo 9.7 vimos que para a função caracterı́stica de Q em [a, b],
f : [a, b] → R, dada por f (x) = 1, se x ∈ [a, b] ∩ Q e f (x) = 0, caso contrário, satisfaz
Exemplo 9.11. Vimos, no Exemplo 9.8, que a função constante, estabelecida por f (x) = k,
satisfaz
sf (P ) = k(b − a) e S f (P ) = k(b − a), ∀ P partição de [a, b].
Assim sendo,
∫ b
f = sup{sf (P ) : P partição de [a, b]} = sup{k(b − a) : P partição de [a, b]} = k(b − a)
a
e analogamente
∫ b
f = inf{S f (P ) : P partição de [a, b]} = inf{k(b − a) : P partição de [a, b]} = k(b − a).
a
O resultado a seguir nos diz, em palavras, que quando refinamos uma partição a soma
inferior não diminui e a soma superior não aumenta.
Teorema 9.1. Sejam f : [a, b] → R uma função limitada e P , Q partições de [a, b] tais que
P ⊆ Q (isto é, Q refina P ), então
sf (P ) ≤ sf (Q) e S f (Q) ≤ S f (P ).
314 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
P : a = t0 < ... < tn = b e Q : a = t0 < ... < tj−1 < c < tj < ... < tn = b
f
Mc1 = sup{f (x) : x ∈ [tj−1 , c]} e Mc2
f
= sup{f (x) : x ∈ [c, tj ]}.
∑
n ∑
j−1
S (P ) − S (Q) =
f f
Mif (ti − ti−1 ) − Mif (ti − ti−1 ) − Mc1
f
(c − tj−1 ) − Mc2
f
(tj − c)
i=1 i=1
∑
n
− Mif (ti − ti−1 )
i=j+1
= 0.
O Corolário abaixo nos informa que a soma inferior nunca supera a superior.
Demonstração. Sejam P e Q partições de [a, b]. Vimos no Exemplo 9.3 que P ∪ Q é uma
9.2. INTEGRAL A RIEMANN E EXEMPLOS 315
partição que refina P e Q simultaneamente. Com isso, pelo Teorema 9.1, temos que
sf (P ) ≤ sf (P ∪ Q) ≤ S f (P ∪ Q) ≤ S f (Q).
Portanto, sf (P ) ≤ S f (Q).
Corolário 9.3. Seja f : [a, b] → R limitada tal que mf ≤ f (x) ≤ M f , ∀ x ∈ [a, b]. Então,
∫ b ∫ b
m (b − a) ≤
f
f≤ f ≤ M f (b − a).
a a
mf (b − a) ≤ sf (P ) ≤ S f (P ) ≤ M f (b − a),
∫ b
ou seja, mf (b − a) ≤ a
f. Por outro lado,
∫ b
f = inf{S f (P ) : P partição de [a, b]} ≤ S f (P ) ≤ M f (b − a).
a
sf (P ) ≤ S f (Q),
Definição 9.7 (Integral a Riemann). Seja f : [a, b] → R uma função limitada. Dizemos que
∫ b ∫b
f é integrável a Riemann, ou simplesmente integrável, se a f = a f . Neste caso, definimos
e denotamos a integral de f por
∫ b ∫ b ∫ b
f= f= f.
a a a
Área
0 a b
∫b
Figura 9.5: A integral a
f pode ser representada pela área acima.
∫ b
Obs 9.8. Quando houver possibilidade de confusão escreveremos f (x) para representar
a
a integral da função f .
Exemplo 9.12 (Caracterı́stica Não-integrável). Vimos no Exemplo 9.10 que a função ca-
racterı́stica de Q em [a, b], f , não é integrável, pois
∫ b ∫ b
f = 0 ̸= b − a = f.
a a
Exemplo 9.13 (Integral da Constante). No Exemplo 9.11 mostramos que a função cons-
tante f : [a, b] → R, dada por f (x) = k, satisfaz
∫ b ∫ b
f= f = k(b − a).
a a
∫ b
Logo, a função constante é integrável e f = k(b − a).
a
9.2. INTEGRAL A RIEMANN E EXEMPLOS 317
Vejamos, agora, duas maneiras equivalentes de definir integral utilizando somas inferior
e superior.
i) f é integrável;
S f (P ) − sf (Q) < ε;
iii) dado ε > 0, existe R : a = t0 < ... < tn = b partição de [a, b] tal que
ou equivalentemente,
∑
n
wif (ti − ti−1 ) < ε.
i=1
Assim, dado ε > 0 e usando as definições 1.11 e 1.12, existem P, Q partições de [a, b] tais que
∫ b ∫ b
f − ε/2 < s (Q) e
f
f + ε/2 > S f (P ),
a a
isto é, ∫ ∫
b b
f − ε/2 < s (Q) e
f
f + ε/2 > S f (P ).
a a
Consequentemente,
S f (P ) − sf (Q) < ε.
318 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
ii) ⇒ iii) Dado ε > 0, suponha que existem P, Q partições de [a, b] tais que
S f (P ) − sf (Q) < ε.
∑
n
wif (ti − ti−1 ) < ε.
i=1
iii) ⇒ i) Agora, suponha que dado ε > 0 existe R partição de [a, b] tal que
Sabemos que
∫ b ∫ b
f≤ f,
a a
∫ b ∫b
Agora, tome ε = a
f− a
f > 0. Por hiótese, existe R partição de [a, b] tal que
∫ b ∫ b
S (R) − s (R) <
f f
f− f.
a a
Mas isto é um absurdo, já que a Definição 9.6, nos diz que
∫ b ∫ b
S (R) − s (R) ≥
f f
f− f.
a a
9.2. INTEGRAL A RIEMANN E EXEMPLOS 319
Por fim,
∫ b ∫ b
f= f,
a a
ou seja, f é integrável.
Exemplo 9.14. Dado ε > 0, seja R : 1 = t0 < ... < tn = 2 partição de [1, 2] tal que
2 − tn−1 < ε. Vimos no Exemplo 9.9 que a função, f : [1, 2] → R, dada por f (x) = 1,
∀ x ∈ [1, 2) e f (2) = 2, satisfaz
sf (P ) = 1 e S f (P ) = 3 − tn−1 ,
∫2
isto é, 1
f = 1.
Exercı́cios de Fixação
1. Considere o intervalo [0, 4]. Seja f (x) = x2 , ∀ x ∈ [0, 4]. Encontre as somas inferior e
superior de f para as partições P = {0, 1, 2, 4} e Q = {0, 2, 3, 4}. Podemos dizer que Q
refina P ?
2. Seja f (x) = 2, ∀ x ∈ [0, 1) e f (x) = 1, ∀ x ∈ [1, 2]. Mostre que f é integrável e calcule
sua integral.
3. Seja g(x) = 2, ∀ x ∈ [0, 1) e g(x) = 3, ∀ x ∈ [1, 2]. Mostre que g é integrável e calcule
sua integral.
4. Suponha que f : [a, b] → R é tal que f (x) = 0 exceto para os valores c1 , c2 , ..., cn ∈ [a, b].
320 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
∫ b
Mostre que f é integrável e que f = 0.
a
5. Sejam c ≤ d pontos em [a, b]. Seja f : [a, b] → R dada por f (x) = k, se x ∈ [c, d] e
∫ b
f (x) = 0, caso contrário. Mostre que f é integrável e que f = k(d − c).
a
Lema 9.1 (Caracterização da Oscilação). Seja f : [a, b] → R uma função limitada. Então,
a oscilação no i-ésimo intervalo da partição P : a = t0 < ... < tn = b pode ser encontrada
da seguinte forma:
wif = sup{|f (x) − f (y)| : x, y ∈ [ti−1 , ti ]}.
onde Xi = {|f (x) − f (y)| : x, y ∈ [ti−1 , ti ]}. De fato, sejam x, y ∈ [ti−1 , ti ]. Observe que
ou seja, Mif − mfi é cota superior para Xi . Agora, dado ε > 0, tem-se que existem c, d ∈
[ti−1 , ti ] tais que
Mif − ε/2 < f (c) e mfi + ε/2 > f (d),
|f (c) − f (d)| ≥ f (c) − f (d) > Mif − ε/2 − (mfi + ε/2) = Mif − mfi − ε,
isto é,
|f (c) − f (d)| > Mif − mfi − ε,
9.3. OPERAÇÕE ELEMENTARES COM A INTEGRAL A RIEMANN 321
onde c, d ∈ [ti−1 , ti ]. Dessa forma, usando a Definição 1.11, concluı́mos que Mif − mfi =
sup Xi .
Abaixo, listamos algumas operações elementares que são verificáveis por funções in-
tegráveis a Riemann.
i) f + g, f · g são integráveis e
∫ b ∫ b ∫ b ∫ b ∫ b
(f + g) = f+ ge kf = k f,
a a a a a
ii) Se 0 < c ≤ |g(x)|, para todo x ∈ [a, b], onde c é uma constante, então f /g : [a, b] → R é
integrável;
é integrável e ∫ b ∫ b
f ≤ |f |,
a a
ver exercı́cios de supremo no Capı́tulo Números Reais. Assim sendo Mif +g ≤ Mif + Mig .
Com isso,
∑
n ∑
n
S f +g (P ) = Mif +g (ti − ti−1 ) ≤ (Mif + Mig )(ti − ti−1 )
i=1 i=1
∑
n ∑
n
= Mif (ti − ti−1 ) + Mig (ti − ti−1 ) = S f (P ) + S g (P ),
i=1 i=1
ou seja,
S f +g (P ) ≤ S f (P ) + S g (P ), ∀ P partição de [a, b].
Observe que,
∫ b
(f + g) = inf{S f +g (R) : R é partição de [a, b]} ≤ S f +g (P ) ≤ S f (P ) + S g (P ),
a
∀ P partição de [a, b]. Lembre que, pelo Exemplo 9.3, P ∪ Q refina P e Q simultaneamente.
Portanto, pelo Teorema 9.1,
∫ b
(f + g) ≤ S f (P ∪ Q) + S g (P ∪ Q) ≤ S f (P ) + S g (Q).
a
∫ b ∫ b ∫ b ∫ b
= f+ g = f+ g,
a a a a
∫b ∫b ∫b
Analogamente, prova-se que a
f+ a
g≤ a
(f + g). Assim,
∫ b ∫ b ∫ b ∫ b
(f + g) ≤ f+ g≤ (f + g),
a a a a
9.3. OPERAÇÕE ELEMENTARES COM A INTEGRAL A RIEMANN 323
∫b ∫b
Por conseguinte, a
(f + g) ≤ a
(f + g). Por outro lado, pelo Corolário 9.3, obtemos
∫ b ∫ b ∫ b
(f + g) ≤ (f + g) ≤ (f + g).
a a a
∫b ∫b
Logo, a
(f + g) = a
(f + g). Isto nos diz que, f + g é integrável e
∫ b ∫ b ∫ b ∫ b ∫ b ∫ b
(f + g) = (f + g) ≤ f+ g≤ (f + g) = (f + g),
a a a a a a
Por fim, ∫ ∫ ∫
b b b
(f + g) = f+ g.
a a a
Agora vamos provar que f · g é integrável. Como f e g são integráveis, então inferimos que
f e g são limitadas. Assim, existe d ∈ R tal que
≤ d(wif + wig ).
Como f e g são integráveis, então dado ε > 0, existe, pelo Teorema 9.4 e Exemplo 9.3,
324 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
∑
m ∑
m
wif (si − si−1 ) < ε/2d e wig (si − si−1 ) < ε/2d.
i=1 i=1
Dessa forma,
∑
m ∑
m
wif g (si − si−1 ) ≤ d(wif + wig )(si − si−1 )
i=1 i=1
[ ]
∑
m ∑
m
≤ d wif (si − si−1 ) + wig (si − si−1 )
i=1 i=1
Pelo Teorema 9.4, tem-se que f · g é integrável. Em particular, obtemos que kf é integrável,
ver Exemplo 9.13. Se k ≥ 0 e usando que f é integrável, obtemos
∫ b ∫ b
kf = kf = inf{S kf (P ) : P é partição de [a, b]}
a a
∫ b ∫ b
= k f =k f,
a a
encontramos
∫ b ∫ b
kf = kf = inf{S kf (P ) : P é partição de [a, b]}
a a
∫ b ∫ b
= k f = k f.
a a
∫b ∫b
Por conseguinte, a
kf = k a
f.
Vamos provar que 1/g é integrável. Sejam x, y ∈ [γi−1 , γi ], onde T : a = γ0 < ... < γθ é uma
partição do intervalo [a, b]. Assim sendo,
g(y) − g(x) wig
|1/g(x) − 1/g(y)| = ≤ .
g(x)g(y) c2
1/g
wi ≤ wig /c2 , ∀ i = 1, ..., θ.
Como foi feito anteriormente, 1/g é integrável, pelo Teorema 9.4. Assim, pelo item i),
f /g = f · 1/g é integrável.
então f (x) ≤ g(x), para todo x ∈ [ηi−1 , ηi ], onde Y : a = η0 < ... < ηβ é uma partição de
[a, b]. Logo,
∑
β
∑
β
f
s (Y ) = mfi (ηi − ηi−1 ) ≤ mgi (ηi − ηi−1 ) = sg (Y ).
i=1 i=1
Logo,
∫ b ∫ b
f = f = sup{sf (Y ) : Y é uma partição de [a, b]}
a a
∫ b ∫ b
= g = g,
a a
∫b ∫b
pois f e g são integráveis, ou seja, a
f≤ a
g.
iv) Sejam Z : z0 < ... < zu = b uma partição e x, y ∈ [zi−1 , zi ]. Portanto, usando o
Lema 9.1, concluı́mos
||f (x)| − |f (y)|| ≤ |f (x) − f (y)| ≤ wif .
|f |
E usando o mesmo resultado, obtemos wi ≤ wif . Como foi feito anteriormente, |f | é
integrável. Por outro lado,
∫b
ver Teorema 9.5. Por fim, a
f g = 0.
O Lema a seguir nos relata uma outra maneira de definirmos integrais inferior e superior.
Lema 9.2 (Caracterização de Integrais Inferior e Superior). Sejam f : [a, b] → R uma função
limitada e Q uma partição de [a, b] fixa. Então,
∫ b ∫ b
f = sup{s (P ) : Q ⊆ P } e
f
f = inf{S f (P ) : Q ⊆ P }.
a a
e também
inf{S f (P ) : Q ⊆ P } = inf{S f (R) : R partição de [a, b]}.
É claro que
{sf (P ) : Q ⊆ P } ⊆ {sf (R) : R partição de [a, b]}
e
{S f (P ) : Q ⊆ P } ⊆ {S f (R) : R partição de [a, b]},
onde tais conjuntos são limitados (ver Observação 9.4). Portanto, as desigualdades seguintes
são verdadeiras:
Usando a Definição 1.11, concluı́mos que existe uma partição R0 tal que
isto é,
sup{sf (P ) : Q ⊆ P } < sf (R0 ).
e também
∫ b
f = inf{S f (R) : R partição de [a, b]} = inf{S f (P ) : Q ⊆ P }.
a
Teorema 9.6. Seja f : [a, b] → R uma função limitada. Então, f é integrável se, e somente
9.3. OPERAÇÕE ELEMENTARES COM A INTEGRAL A RIEMANN 329
se, f |[a,c] e f |[c,b] são integráveis, onde c ∈ (a, b). Neste caso,
∫ b ∫ c ∫ b
f= f+ f.
a a c
g ≡ f |[a,c] e h ≡ f |[c,b] .
Sejam
A = {S g (P ); P partição de [a,c]} e B = {S h (Q); Q partição de [c,b]}.
Vimos que
Sejam
P : a = t0 < ... < tn = c e Q : c = tn < ... < tm = b
∑
n ∑
m ∑
m
g
S (P ) + S (Q) = h
Mig (ti − ti−1 ) + Mih (ti − ti−1 ) = Mif (ti − ti−1 ) = S f (R),
i=1 i=n i=1
onde R : a = t0 < ... < tn = c < ... < tm = b é uma partição de [a, b] que contém c. Usando
o Lema 9.2, temos que
∫ b ∫ c ∫ b
f = inf{S (P ) : {a, c, b} ⊆ P } = inf{A + B} = inf A + inf B =
f
g+ h,
a a c
Obs 9.10. Por indução podemos generalizar o Teorema 9.6. Sejam c1 , c2 , ..., cn ∈ (a, b),
então f é integrável se, e somente se, f |[a,c1 ] , f |[c1 ,c2 ] ,..., f |[cn ,b] são integráveis. Neste caso,
∫ b ∫ c1 ∫ c2 ∫ cn ∫ b
f= f+ f + ... + f+ f.
a a c1 cn−1 cn
Exercı́cios de Fixação
1. Considere a função f (x) = x + 1, para x ∈ [0, 1] ∩ Q e f (x) = 0, caso contrário. Mostre
que f não é integrável.
9.4. TEOREMAS IMPORTANTES SOBRE INTEGRABILIDADE 331
Demonstração. Seja f : [a, b] → R uma função contı́nua. Como [a, b] é compacto, utilizando
o Teorema 6.14, concluı́mos que f é uniformemente contı́nua. Com isso, dado ε > 0, existe
δ > 0 tal que
ε
para todo x, y ∈ [a, b], com |x − y| < δ, tem-se |f (x) − f (y)| < .
b−a
Vamos provar que f é integrável. Seja P : a = t0 < ... < tn = b uma partição de [a, b] tal
que
|ti − ti−1 | < δ, ∀ i = 1, 2, ..., n.
Como f é contı́nua em [a, b], então f é contı́nua em [ti−1 , ti ], ∀ i = 1, 2, .., n (ver Teorema
6.1). Dessa forma, f é uniformemente contı́nua em [ti−1 , ti ], ∀ i = 1, 2, ..., n, pelo Teorema
6.14 ([ti−1 , ti ] é compacto). Assim sendo, usando o Teorema 6.11, concluı́mos que existem
xi , yi ∈ [ti−1 , ti ] tais que
Observe que
|xi − yi | ≤ |ti − ti−1 | < δ.
Logo,
ε
f (yi ) − f (xi ) = |f (xi ) − f (yi )| < .
b−a
Portanto,
∑
n ∑
n
ε ∑
n
ε
wif (ti − ti−1 ) = [f (yi ) − f (xi )](ti − ti−1 ) < (ti − ti−1 ) = b − a = ε,
i=1 i=1
b − a i=1 b−a
332 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
ou seja,
∑
n
S (P ) − s (P ) =
f f
wif (ti − ti−1 ) < ε.
i=1
Exemplo 9.17 (Integrabilidade do Seno, Cosseno, Polinômio). Vimos nos Exemplos 6.8 e
6.9 que as funções seno, cosseno e polinomial são exemplos de funções contı́nuas em [a, b].
Logo, estas funções são integráveis pelo Teorema 9.7.
Exemplo 9.18. Vimos no Exemplo 9.14 que a função f : [1, 2] → R dada por f (x) = 1,
para todo x ∈ [1, 2) e f (2) = 2 é integrável. Analogamente ao que foi feito no Exemplo 6.1,
encontramos que f é descontı́nua em 2. Assim, a recı́proca do Teorema 9.7 é falsa.
Vejamos outra condição suficiente para que uma função seja integrável.
ε
|ti − ti−1 | < .
f (a) − f (b)
Observe que f (b) < f (a) e f (ti ) ≤ f (ti−1 ), pois f é não-crescente. Portanto,
∑
n ∑
n
ε ∑ n
wif (ti − ti−1 ) = [f (ti−1 ) − f (ti )](ti − ti−1 ) < (f (ti−1 ) − f (ti ))
i=1 i=1
f (a) − f (b) i=1
ε
= f (a) − f (b) = ε,
f (a) − f (b)
isto é,
∑
n
S (P ) − s (P ) =
f f
wif (ti − ti−1 ) < ε.
i=1
O Teorema 9.4 nos garante que f é integrável. Analogamente, prova-se o caso f não-
decrescente.
9.4. TEOREMAS IMPORTANTES SOBRE INTEGRABILIDADE 333
Exemplo 9.19. A recı́proca do Teorema 9.8 não é verdadeira, pois a função seno é integrável
mas não é monótona em [0, 2π].
Exemplo 9.20. A função caracterı́stica de Q em [a, b] não é uma função monótona, pois
não é integrável (ver Exemplo 9.12).
Definição 9.8 (Integral Indefinida). Sejam f : [a, b] → R uma função integrável e y ∈ [a, b],
onde [a, b] ⊆ R é um intervalo. Dizemos que uma função g : [a, b] → R é uma integral
indefinida de f se essa aplicação pode ser definida por
∫ x
g(x) = g(y) + f, ∀ x ∈ [a, b].
y
Com isso, ∫ ∫
x x
g(0) + f =0+ k = kx = g(x), ∀ x ∈ [0, 1],
0 0
Definição 9.9 (Primitiva). Seja f : [a, b] → R uma função integrável, onde [a, b] ⊆ R é um
intervalo. Se g : [a, b] → R é uma função derivável tal que
Obs 9.11. Observe que a primitiva, quando existe, não é única. De fato, se g é uma primitiva
de f , então g + k também o é, onde k é uma constante qualquer, já que
Exemplo 9.22. Seja f : [0, 1] → R dada por f (x) = xn , para algum n ∈ N. Defina
334 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
g : [0, 1] → R por
xn+1
g(x) = , ∀ x ∈ [0, 1].
n+1
Assim sendo,
(n + 1)xn
g ′ (x) = = xn = f (x), ∀ x ∈ [0, 1].
n+1
Com isso, g é primitiva de f .
Exemplo 9.23. A função seno é a primitiva da função cosseno em [a, b], pois
ver Exemplo 7.4. A função constante é a primitiva da função identicamente nula, pois a
derivada da constante é 0 (ver Exemplo 7.1).
Exemplo 9.24. Vimos no Exemplo 7.30 que a função f : [−1, 1] → R dada por f (x) = −1,
se −1 ≤ x < 0 e f (x) = 1, se 0 ≤ x ≤ 1 não possui primitiva.
∫ x
i) g(x) = g(y) + f, ∀ x ∈ I;
y
Em palavras, g é uma integral indefinida de f se, e somente se, é uma primitiva para esta
mesma função.
9.4. TEOREMAS IMPORTANTES SOBRE INTEGRABILIDADE 335
A integral de f existe, pois f é contı́nua (ver Teorema 9.7). Além disso, dado ε > 0, existe
δ > 0 tal que
Dessa forma, usando o Teorema 9.5, com 0 < |h| < δ e z + h ∈ I, inferimos
∫ z+h ∫ z+h
g(z + h) − g(z) [f − f (z)]
− f (z) = ≤ 1 |f − f (z)|
h h h
z z
∫ z+h
1 1
≤ ε ≤ |h| ε = ε,
h z h
pois 0 < |h| < δ implica em |x − z| < δ, para x entre z e z + h. Assim sendo,
g(z + h) − g(z)
lim − f (z) = 0,
h→0 h
isto é,
g(z + h) − g(z)
g ′ (z) = lim = f (z).
h→0 h
336 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
λ′ (x) = f (x), ∀ x ∈ I.
Dessa forma, λ′ (x) = g ′ (x), isto é, (λ − g)′ (x) = 0. Pelo Corolário 7.14, concluı́mos que
λ(x) − g(x) = k, onde k é constante. Como
∫ y
k = λ(y) − g(y) = f − g(y) = −g(y),
y
ou equivalentemente, ∫ b
f = g(b) − g(a).
a
Neste caso, para calcular a integral de uma função integrável basta encontrar sua primitiva,
caso isto seja possı́vel.
Exemplo 9.25 (Integral do Seno e do Cosseno). Usando o Teorema 9.9, podemos concluir
que ∫ π
sen = − cos(π) − [− cos(0)] = 1 + 1 = 2.
0
E que, ∫ π
cos = sen(π) − sen(0) = 0 − 0 = 0.
0
9.4. TEOREMAS IMPORTANTES SOBRE INTEGRABILIDADE 337
xn+1
g(x) = , ∀ x ∈ [0, 1].
n+1
Por fim,
∫ d ∫ h(d)
′
(f ◦ h)h = f.
c h(c)
338 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
= sen(π/2) − sen(0) = 1,
∫ π/4
ou seja, 0
cos(2x) = 1/2.
Teorema 9.11 (Integração por Partes). Sejam f, g : [a, b] → R funções de classe C 1 . Então,
∫ b ∫ b
′
f g = f (b)g(b) − f (a)g(a) − f g′.
a a
Consequentemente, ∫ ∫
b b
′
f g = f (b)g(b) − f (a)g(a) − f g′.
a a
Teorema 9.12 (Teorema do Valor Médio para Integrais). Sejam f, g : [a, b] → R funções,
com f contı́nua, g integrável e g(x) ≥ 0, ∀ x ∈ [a, b]. Assim, existe y ∈ [a, b] tal que
∫ b ∫ b
f g = f (y) g.
a a
Demonstração. Como f é contı́nua no compacto [a, b], então, utilizando o Teorema 6.11,
existem c, d ∈ [a, b] tais que
Corolário 9.13. Seja f : [a, b] → R uma função contı́nua. Então, existe y ∈ [a, b] tal que
∫ b
f = f (y)(b − a).
a
ver Exemplo 9.13. Além disso, g(x) = 1 ≥ 0, ∀ x ∈ [a, b]. Dessa forma, pelo Teorema 9.12,
existe y ∈ [a, b] tal que
∫ b ∫ b
f g = f (y) g = f (y)(b − a).
a a
Exemplo 9.29. Como a função cosseno é contı́nua e a função seno é não-negativa e integrável
em [0, π], então, usando o Teorema 9.12, concluı́mos que existe y ∈ [0, π] tal que
∫ π ∫ π
sen cos = cos(y) sen = cos y[− cos(π) + cos(0)] = cos y(1 + 1) = 2 cos y,
0 0
ou equivalentemente, ∫ π
sen cos = 2 cos y.
0
Teorema 9.14 (Fórmula de Taylor com Resto Integral). Seja f : I → R n vezes derivável
com f (n) contı́nua em [y, y + h], onde y, y + h ∈ I. Então,
[∫ ]
′ f (n−1) (y) n−1 1
(1 − t)n−1 (n)
f (y + h) = f (y) + f (y)h + ... + h + f (y + th) hn .
(n − 1)! 0 (n − 1)!
Portanto,
g ′ (0) = f ′ (y)h, g ′′ (0) = f ′′ (y)h2 , ..., g (n) (0) = f (n) (y)hn .
Vamos provar esta fórmula por indução sobre n. Se n = 1, temos que provar a igualdade
∫ 1
g(1) = g(0) + g′.
0
9.4. TEOREMAS IMPORTANTES SOBRE INTEGRABILIDADE 341
Porém, este fato segue diretamente do Teorema 9.9. Suponha, agora que
∫
′ g (n−1) (0) 1
(1 − t)n−1 (n)
g(1) = g(0) + g (0) + ... + + g (t).
(n − 1)! 0 (n − 1)!
Ou seja, ∫ 1
9! 9! 9!
(1 − t)9 et = 9!e − (2)9! − − − ... − .
0 2! 3! 8!
Exercı́cios de Fixação
∫ b ∫ b
1. Sejam f, g : [a, b] → R contı́nuas tais que f = g. Mostre que existe c ∈ [a, b] tal
a a
que f (c) = g(c).
∫ 1 √ ∫ 4 √ √
4. Use o Teorema 9.10 para calcular as integrais t 1−t e
2 cos t/ t.
0 1
Nesta seção, trabalharemos com aplicações de uma desigualdade do tipo Gronwall e de-
senvolveremos uma teoria que estende os conceito de Integral a Riemann, as então chamadas
Integrais a Riemann-Stieltjes.
Teorema 9.15 (Desigualdade tipo Gronwall). Seja f : [0, T ] −→ R uma função derivável.
Se, para todo t ∈ [0, T ],
f ′ (t) ≤ M f (t), (9.1)
para todo t ∈ [0, T ]. Aplicando a Regra da Cadeia (ver Teorema 7.3), chegamos a
f ′ (t) − M f (t) ≤ 0,
f (t) ≤ eM t f (0),
para todo (x, y) ∈ X com ∥(x, y) − (a, b)∥ < δ, tem-se |f (x, y) − f (a, b)| < ε.
para todo x ∈ X, com 0 < ∥(x, y) − (a, b)∥ < δ, tem-se |f (x, y) − l| < ε.
f (a, b + h) − f (a, b)
ft (a, b) = lim .
h→0 h
Caso um destes limites não exista, simplesmente diremos que a respectiva derivada parcial,
em tal ponto, não existe.
O resultado a seguir nos informa quando podemos passar uma derivada parcial pelo sinal
de integração.
Agora, faremos uma aplicação da Desigualdade tipo Gronwall com o propósito de anali-
sar o Comportamento Assintótico de uma solução da Equação Diferencial Parcial de Fisher.
Para a sua elaboração, será demonstrado o seguinte teorema.
onde u, ux , uxx , ut são funções contı́nuas em [0, 1] × [0, ∞). Consideremos que u satisfaz as
condições de fronteira
ux (0, t) = ux (1, t) = 0, (9.4)
e a condição inicial
u(x, 0) = f (x). (9.5)
ε ≤ f (x) ≤ 1 + ε, (9.6)
para todo t ≥ 0.
346 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
Consequentemente,
∫ ∫ ∫
′
1 [ ][ ] 1 1
f (t) = 2 u(x, t) − 1 u(x, t) − 1 t dx = 2(u − 1)ut dx = 2 (u − 1)ut dx.
0 0 0
A existência de uma solução para Problema de Fronteira acima está discutida em [18].
Além disso, a desigualdade (9.7) é sempre satisfeita se as outras condições no Teorema 9.17
são verificáveis. Para ver a prova deste fato ver [3].
Observe que, com as mesmas hipóteses estabelecidas no Teorema 9.17, podemos reescrever
a desigualdade ∫ ∫
1 1
[u(x, t) − 1]2 dx ≤ e−2εt [u(x, 0) − 1]2 dx.
0 0
da seguinte maneira:
(∫ ) 12
1
para todo t ≥ 0, onde ∥u(·, t)∥L2 ([0,1]) = 0
[u(x, t)]2 dx . Consequentemente,
Analogamente ao que foi feito para a Integral a Riemann, definiremos as somas inferior
e superior para a Integral a Riemann-Stieltjes.
∑
n
f
s (α, P ) = mfi [α(xi ) − α(xi−1 )]
i=1
∑
n
f
S (α, P ) = Mif [α(xi ) − α(xi−1 )],
i=1
Sabemos que f e α são limitadas em [a, b] e que α é monótona crescente em [a, b]. Seja
P : a = x0 < ... < xn = b uma partição de [a, b], então
Além disso,
Mif = sup{f (x); x ∈ [xi , xi−1 ]} = sup{c; x ∈ [xi , xi−1 ]} = c.
Logo,
∑
n ∑
n
f
s (α, P ) = mfi [α(xi ) − α(xi−1 )] = c[xi + 1 − (xi−1 + 1)]
i=1 i=1
∑n
= c [xi − xi−1 ] = c(xn − x0 ) = c(b − a)
i=1
∑
n ∑
n
f
S (α, P ) = Mif [α(xi ) − α(xi−1 )] = c(xi + 1)(xi−1 + 1)
i=1 i=1
∑n
= c [xi − xi−1 ] = c(xn − x0 ) = c(b − a).
i=1
Logo,
∑
n ∑
n
f
s (α, P ) = mfi [α(xi ) − α(xi−1 )] = 0[(xi )2 − (xi−1 )2 ] = 0
i=1 i=1
e
∑
n ∑
n
S f (α, P ) = Mif [α(xi ) − α(xi−1 )] = 1[(xi )2 − (xi−1 )2 ]
i=1 i=1
= (xn ) − (x0 ) = 1 − 0 = 1.
2 2 2 2
350 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
ou, em outras palavras, a soma inferior não diminui e a soma superior não aumenta.
mfk1 = inf{f (x); x ∈ [xj−i , k]} e mfk2 = inf{f (x); x ∈ [k, xj ]}.
Como [xj−i , k], [k, xj ] ⊆ [xj−i , xj ], então mfk1 , mfk2 ≥ mfj . Daı́,
sf (α, P ) − sf (α, Q) = mfj [α(xj ) − α(xj−1 )] − mfk1 [α(k) − α(xj−1 )] − mfk2 [α(xj ) − α(k)]
≤ mfj [α(xj ) − α(xj−1 )] − mfj [α(k) − α(xj−1 )] − mfj [α(xj ) − α(k)]
= mfj [α(xj ) − α(xj−1 ) − α(k) + α(xj−1 ) − α(xj ) + α(k)] = 0.
Como esse procedimento pode ser generalizado para uma quantidade finita de passos, temos
que sf (α, P ) ≤ sf (α, Q). Analogamente, mostramos que S f (α, Q) ≤ S f (α, P ).
e ∫ b
f dα = inf{S f (α, P )} = inf{c(b − a)} = c(b − a).
a
temos, que
sf (α, P ) = 0 e S f (α, P ) = 1.
Daı́, ∫ 1
f dα = sup{sf (α, P )} = sup{0} = 0
0
e ∫ 1
f dα = inf{S f (α, P )} = inf{1} = 1.
0
Exemplo 9.35. Consideremos mais uma vez as funções α, f : [a, b] → R tais que
Logo, f ∈ R(α).
9.6. LEITURA COMPLEMENTAR: INTEGRAL A RIEMANN-STIELTJES 353
Então f ∈
/ R(α).
Obs 9.13. Quando α(x) = x, a Integral a Riemann é obtida como um caso particular
da Integral a Riemann-Stieltjes. Portanto, os resultados aqui apresentados generalizam os
resultados vistos no estudo da Integral a Riemann.
Assim,
mfi = inf{f (x); x ∈ [xi , xi−1 ]} = inf{c; x ∈ [xi , xi−1 ]} = c
e
Mif = sup{f (x); x ∈ [xi , xi−1 ]} = sup{c; x ∈ [xi , xi−1 ]} = c.
∑
n ∑
n
f
s (α, P ) = mfi [α(xi ) − α(xi−1 )] = c[xi − xi−1 ]
i=1 i=1
∑n
= c [xi − xi−1 ] = c(xn − x0 ) = c(2 − 1) = c
i=1
∑
n ∑
n
S f (α, P ) = Mif [α(xi ) − α(xi−1 )] = c[xi − xi−1 ]
i=1 i=1
∑n
= c [xi − xi−1 ] = c(xn − x0 ) = c(2 − 1) = c,
i=1
354 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
Demonstração. ⇒) Suponhamos que f ∈ R(α). Dado ϵ > 0, pelas definições 1.12 e 1.11,
existem partições P1ϵ e P2ϵ de [a, b] tais que
∫ b ∫ b
ϵ ϵ
S f
(α, P2ϵ ) − f dα < e f dα − sf (α, P1ϵ ) < ,
a 2 a 2
pois
∫ b ∫ b ∫ b
f dα = f dα = f dα,
a a a
onde ∫ b
f dα = sup{sf (α, P ); P }
a
e ∫ b
f dα = inf{S f (α, P ); P }.
a
Seja P =ϵ
P1ϵ∪ P2ϵ
um refinamento comum a P1ϵ e P2ϵ (ver Exemplo 9.3). Pela Proposição
9.1 e através das relações acima, temos que
∫ b
ϵ ϵ ϵ
S (α, P ) ≤ S
f ϵ f
(α, P2ϵ ) ≤ f dα + < sf (α, P1ϵ ) + + .
a 2 2 2
Consequentemente,
S f (α, P ϵ ) < sf (α, P1ϵ ) + ϵ ≤ sf (α, P ϵ ) + ϵ.
⇐) Seja P ϵ : a = x0 < ... < xn = b uma partição de [a, b] tal que S f (α, P ϵ ) − sf (α, P ϵ ) < ϵ.
Pela Proposição 9.2, temos
∫ b ∫ b
s (α, P ) ≤ sup{s (α, P )} =
f ϵ f
f dα ≤ f dα = inf{S f (α, P )} ≤ S f (α, P ϵ ).
a a
ou seja,
∫ b ∫ b
0≤ f dα − f dα < ϵ.
a a
∫ b ∫ b
Passando ao limite, quando ϵ → 0, encontramos f dα = f dα. Logo, f ∈ R(α).
a a
Lema 9.3. Sejam α, f, : [a, b] → R funções limitadas, com α monótona crescente. Seja Q
uma partição fixa de [a, b]. Então,
∫ b ∫ b
f dα = sup{s (α, P ); Q ⊆ P } e
f
f dα = inf{S f (α, P ); Q ⊆ P }.
a a
Mas,
Além disso, dados sf (α, R) e S f (α, R), existe uma partição P = R ∪ Q (ver Exemplo 9.3),
refinamento comum a R e Q, tal que
onde
sf (α, P ) ∈ {sf (α, P ) : Q ⊆ P } e S f (α, P ) ∈ {S f (α, P ) : Q ⊆ P },
Portanto,
Consequentemente,
isto é,
∫ b ∫ b
f dα = sup{s (α, P ) : Q ⊆ P } e
f
f dα = inf{S f (α, P ) : Q ⊆ P }.
a a
Demonstração. i) Através dos resultados obtidos nos exercı́cios resolvidos sobre ı́nfimo, con-
cluı́mos que
∑
n ∑
n
f1 f2
s (α, P ) + s (α, P ) = mfi 1 [α(xi ) − α(xi−1 )] + mfi 2 [α(xi ) − α(xi−1 )]
i=1 i=1
∑
n
= (mfi 1 + mfi 2 )[α(xi ) − α(xi−1 )]
i=1
∑
n
≤ mfi 1 +f2 [α(xi ) − α(xi−1 )]
i=1
f1 +f2
= s (α, P ).
358 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
Semelhantemente,
∑
n ∑
n
f1 f2
S (α, P ) + S (α, P ) = Mif1 [α(xi ) − α(xi−1 )] + Mif2 [α(xi ) − α(xi−1 )]
i=1 i=1
∑
n
= (Mif1 + Mif2 )[α(xi ) − α(xi−1 )]
i=1
∑
n
≥ Mif1 +f2 [α(xi ) − α(xi−1 )]
i=1
f1 +f2
= S (α, P ).
Daı́,
sf1 (α, P ) + sf2 (α, P ) ≤ sf1 +f2 (α, P ) ≤ S f1 +f2 (, α, P ) ≤ S f1 (α, P ) + S f2 (α, P )
Como f1 , f2 ∈ R(α), temos, usando o Teorema 9.18, que dado ϵ > 0, existem partições P1 e
P2 de [a, b] tais que
ϵ ϵ
S f1 (α, P1 ) − sf1 (α, P1 ) < e S f2 (α, P2 ) − sf2 (α, P2 ) < .
2 2
ϵ ϵ
S f1 (α, P ) − sf1 (α, P ) < e S f2 (α, P ) − sf2 (α, P ) < .
2 2
Assim,
S f1 +f2 (α, P ) − sf1 +f2 (α, P ) ≤ S f1 (α, P ) + S f2 (α, P ) − [sf1 (α, P ) + sf2 (α, P )]
= S f1 (α, P ) − sf1 (α, P ) + S f2 (α, P ) − sf2 (α, P )
ϵ ϵ
< + = ϵ.
2 2
Portanto, pelo Teorema 9.18, temos que f1 + f2 ∈ R(α), uma vez que f1 , f2 ∈ R(α). Vimos
na demonstração da Proposição 9.2 que
∫ b ∫ b
s (α, P ) ≤
f1
f1 dα ≤ S (α, P ) e s (α, P ) ≤
f1 f2
f2 dα ≤ S f2 (α, P ).
a a
9.6. LEITURA COMPLEMENTAR: INTEGRAL A RIEMANN-STIELTJES 359
Além disso, ∫ b
s f1 +f2
(α, P ) ≤ (f1 + f2 )dα ≤ S f1 +f2 (α, P ).
a
Donde ∫ b
ϵ ϵ
S (α, P ) < s (α, P ) + ≤
f1 f1
f1 dα +
2 a 2
e ∫ b
ϵ ϵ
S (α, P ) < s (α, P ) + ≤
f2 f2
f2 dα + .
2 a 2
Logo,
∫ b ∫ b ∫ b
(f1 + f2 )dα ≤ S f1 +f2
(α, P ) ≤ S (α, P ) + S (α, P ) <
f1 f2
f1 dα + f2 dα + ϵ.
a a a
∑
n
S (α, P ) − s (α, P ) =
cf cf
[Micf − mcf
i ][α(xi ) − α(xi−1 )]
i=1
Micf − mcf
i = sup{|(cf )(x) − (cf )(y)|; x, y ∈ [xi−1 , xi ]}
= sup{|c||f (x) − f (y)|; x, y ∈ [xi−1 , xi ]}
= |c| sup{|f (x) − f (y)|; x, y ∈ [xi−1 , xi ]}
= |c|(Mif − mfi ).
360 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
Logo,
∑
n
S (α, P ) − s (α, P ) =
cf cf
|c|[Mif − mfi ][α(xi ) − α(xi−1 )]
i=1
∑
n
= |c| [Mif − mfi ][α(xi ) − α(xi−1 )]
i=1
= |c|[S(f, α, P ) − s(f, α, P )].
ϵ
S f (α, P ) − sf (α, P ) < , se c ̸= 0.
|c|
Então,
ϵ
S cf (α, P ) − scf (α, P ) = |c|[S f (α, P ) − sf (α, P )] < |c| = ϵ.
|c|
Donde cf ∈ R(α). O caso c = 0 é trivial. Vamos encontrar a Integral a Riemann-Stieltjes
de cf . Se c ≥ 0, obtemos
∫ b ∫ b
cf dα = cf dα = inf{S cf (α, P )}
a a
= inf{cS f (α, P )} = c inf{S f (α, P )}
∫ b ∫ b
= c f dα = c f dα.
a a
∫b ∫b
ou seja, a
cf dα = c a
f dα.
∑
n ∑
n
f1
s (α, P ) = mfi 1 [α(xi ) − α(xi−1 )] ≤ mfi 2 [α(xi ) − α(xi−1 )] = sf2 (α, P ).
i=1 i=1
∫b ∫b
Portanto, a
f1 dα ≤ a
f2 dα.
iii) Sejam f1 (x) = f (x), se x ∈ [a, d] e f2 (x) = f (x) se x ∈ [d, b]. Sejam P1 : a = x0 < ... <
xn = d e P2 : d = xn < ... < xm = b partições de [a, d] e [d, b], respectivamente. Assim,
∑
n ∑
m
S f1 (α, P1 ) = Mif [α(xi ) − α(xi−1 )] e S f2 (α, P2 ) = Mif [α(xi ) − α(xi−1 )].
i=1 i=n
Logo,
∑
m
f1
S (α, P1 ) + S (α, P2 ) = f2
Mif [α(xi ) − α(xi−1 )],
i=1
onde P : a = x0 < ... < xn = d < ... < xm = b é uma partição de [a, b] que contém d. Como
P1 , P2 ⊆ P temos, pelo Lema 9.3, que
∫ b
f dα = inf{S f (α, P ) : {a, d, b} ⊂ P }
a
{ m }
∑
= inf Mif [α(xi ) − α(xi−1 )]
i=1
∫ d ∫ b
= f1 dα + f2 dα.
a d
362 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
∫ b ∫ b ∫ b ∫ b
Como f dα ≤ f dα, concluı́mos que f dα − f dα ≥ 0. O mesmo é válido para as
a a a a
integrais de f1 e f2 . Assim,
∫ b ∫ b ∫ d ∫ d ∫ b ∫ b
f dα − f dα = 0 ⇔ f1 dα − f1 dα = f2 dα − f2 dα = 0.
a a a a d d
Consequentemente,
∫ b ∫ b ∫ b
f dα ≤ M dα = M dα
a a a
{ n }
∑
= inf{S M (α, P )} = inf M [α(xi ) − α(xi−1 )]
i=1
= M [α(b) − α(a)].
Isto é, ∫ b
f dα ≤ M [α(b) − α(a)].
a
9.6. LEITURA COMPLEMENTAR: INTEGRAL A RIEMANN-STIELTJES 363
v) Suponha que f ∈ R(α1 ) ∩ R(α2 ). Dado ϵ > 0, temos, pelo Teorema 9.18, que existe
partição P de [a, b] tal que
ϵ ϵ
S f (α1 , P ) − sf (α1 , P ) < e S f (α2 , P ) − sf (α2 , P ) < .
2 2
Logo,
∑
n
S (α1 + α2 , P ) − s (α1 + α2 , P ) =
f f
Mif [(α1 + α2 )(xi ) − (α1 + α2 )(xi−1 )]
i=1
∑
n
− mfi [(α1 + α2 )(xi ) − (α1 + α2 )(xi−1 )]
i=1
∑
n
= [Mif − mfi ][(α1 (xi ) − α1 (xi−1 ))]
i=1
∑
n
+ [Mif − mfi ][α2 (xi ) − α2 (xi−1 )]
i=1
[ ]
= S (α1 , P ) − sf (α1 , P )
f
[ ]
+ (S f (α2 , P ) − sf (α2 , P )
ϵ ϵ
< + = ϵ.
2 2
= inf{S f (α1 + α2 , P )}
∫ b ∫ b
= f dα1 + f dα2
a a
∫ b ∫ b
= f dα1 + f dα2 .
a a
364 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
vi) Por fim, para k > 0 e f ∈ R(α), temos que existe P partição de [a, b] tal que
ϵ
S f (α, P ) − sf (α, P ) < .
k
E consequentemente,
∫ b ∫ b
= k f dα = k f dα.
a a
Demonstração. Como φ é uma função contı́nua definida no compacto em [m, M ], temos que
9.6. LEITURA COMPLEMENTAR: INTEGRAL A RIEMANN-STIELTJES 365
φ é uniformemente contı́nua (ver Teorema 6.14). Dado ϵ > 0, existe δ1 > 0 tal que
Seja 0 < δ = min{δ1 , 2ϵ } < ϵ. Uma vez que f ∈ R(α), então, pelo Teorema 9.18, existe uma
partição P : a = x0 < ... < xn = b de [a, b] tal que
Considere os conjuntos
Logo,
∑
[α(xi ) − α(xi−1 )] < δ.
i∈B
Portanto,
∑
S h (α, P ) − sh (α, P ) = (Mih − mhi )[α(xi ) − α(xi−1 )]
i∈A
∑
+ (Mih − mhi )[α(xi ) − α(xi−1 )]
i∈B
∑ ∑
≤ ϵ[α(xi ) − α(xi−1 )] + 2K[α(xi ) − α(xi−1 )]
i∈A i∈B
∑ ∑
= ϵ [α(xi ) − α(xi−1 )] + 2K [α(xi ) − α(xi−1 )]
i∈A i∈B
∑
< ϵ [α(xi ) − α(xi−1 )] + 2Kδ
i∈A
≤ ϵ[α(b) − α(a)] + 2Kδ.
i) f g ∈ R(α);
∫ b ∫ b
ii) |f | ∈ R(α) e f dα ≤ |f |dα.
a a
9.6. LEITURA COMPLEMENTAR: INTEGRAL A RIEMANN-STIELTJES 367
Sabemos que
1
f g = [(f + g)2 − (f − g)2 ].
4
Logo, pela Proposição 9.3, f g ∈ R(α).
isto é, ∫ b ∫ b
f dα ≤ |f |dα.
a a
Vamos demonstrar, agora, uma condição necessária para que uma função seja integrável
a Riemann-Stieltjes.
para ϵ > 0, P : a = x0 < ... < xn = b uma partição de [a, b] e si , ti ∈ [xi−1 , xi ], então
∑
n
|f (si ) − f (ti )|[α(xi ) − α(xi−1 )] < ϵ.
i=1
para ϵ > 0 e P : a = x0 < ... < xn = b uma partição de [a, b]. Tomemos si , ti ∈ [xi−1 , xi ].
Assim, mfi ≤ f (si ), f (ti ) ≤ Mif . Logo,
Daı́,
∑
n ∑
n
|f (si ) − f (ti )|[α(xi ) − α(xi−1 )] ≤ (Mif − mfi )[α(xi ) − α(xi−1 )]
i=1 i=1
∑
n ∑
n
= Mif [α(xi ) − α(xi−1 )] − mfi [α(xi ) − α(xi−1 )]
i=1 i=1
= S (α, P ) − s (α, P ) < ϵ.
f f
α(xi ) − α(xi−1 )
α′ (ti ) = , i = 1, ..., n,
xi − xi−1
ou seja,
α(xi ) − α(xi−1 ) = α′ (ti )[xi − xi−1 ], i = 1, ..., n.
∑
n
|α′ (si ) − α′ (ti )|[xi − xi−1 ] < ϵ.
i=1
Assim,
∑
n ∑
n
f (si )[α(xi ) − α(xi−1 )] = f (si )α′ (ti )[xi − xi−1 ]
i=1 i=1
implica que
∑
n ∑
n
f (si )[α(xi ) − α(xi−1 )] = f (si )α′ (ti )[xi − xi−1 ]
i=1 i=1
∑
n ∑
n
′ ′
= f (si )[α (ti ) − α (si )][xi − xi−1 ] + f (si )α′ (si )[xi − xi−1 ]
i=1 i=1
∑
n ∑
n
′ ′
≤ |f (si )| |α (ti ) − α (si )| [xi − xi−1 ] + f (si )α′ (si )[xi − xi−1 ]
i=1 i=1
∑
n ∑
n
≤ K |α′ (ti ) − α′ (si )| [xi − xi−1 ] + f (si )α′ (si )[xi − xi−1 ]
i=1 i=1
∑
n
′
≤ Kϵ + Mif α [xi − xi−1 ]
i=1
= Kϵ + S(f α′ , P ),
∑
n
f (si )[α(xi ) − α(xi−1 )] ≤ Kϵ + S(f α′ , P ), ∀ si ∈ [xi−1 , xi ].
i=1
Analogamente,
∑
n ∑
n ∑
n
′ ′ ′
f (si )α (si )[xi − xi−1 ] = f (si )[α (si ) − α (ti )][xi − xi−1 ] + f (si )α′ (ti )[xi − xi−1 ]
i=1 i=1 i=1
∑
n ∑
n
≤ |f (si )| |α′ (si ) − α′ (ti )| [xi − xi−1 ] + f (si )[α(xi ) − α(xi−1 )]
i=1 i=1
∑
n ∑
n
≤ K |α′ (ti ) − α′ (si )| [xi − xi−1 ] + Mif [α(xi ) − α(xi−1 )]
i=1 i=1
≤ Kϵ + S (α, P ).
f
Dessa forma,
∑
n
f (si )α′ (si )[xi − xi−1 ] ≤ Kϵ + S(f, α, P ), ∀ si ∈ [xi−1 , xi ].
i=1
Seja Q uma partição de [a, b], com P ⊆ Q, então pelo Teorema 9.1, temos que
pois S(α′ , P ) − s(α′ , P ) < ϵ. Usando o que foi feito acima, obtemos
Com isso, f ∈ R(α) se, e somente se, f α′ é integrável a Riemann. Neste caso,
∫ b ∫ b
f dα = f α′ dx.
a a
No restante deste capı́tulo, nossa meta é descrever precisamente (sem apelo geométrico),
e analiticamente, como conceituar as funções trigonométrica seno, cosseno, tangente, secante,
cossecante e cotangente. O ponto chave na obtenção precisa destas definições é utilizar uma
integral já conhecida do cálculo como sendo a aplicação arcotangente.
f (x2 ) − f (x1 )
f (x) − f (x1 ) ≤ (x − x1 );
x2 − x1
f (x2 ) − f (x1 )
f (x) − f (x1 ) < (x − x1 );
x2 − x1
372 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
f (x2 ) − f (x1 )
f (x) − f (x1 ) ≥ (x − x1 );
x2 − x1
f (x2 ) − f (x1 )
f (x) − f (x1 ) > (x − x1 ).
x2 − x1
9.7.1 Arcotangente
1
φ(t) = , para todo t ∈ R. (9.8)
1 + t2
Claramente φ é contı́nua, já que esta é dada por operações elementares de funções deste
9.7. LEITURA COMPLEMENTAR: FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 373
mesmo tipo. Assim sendo, defina arctan : R → R pela seguinte lei de transformação:
∫ x
arctan(x) := φ(t)dt, para todo x ∈ R. (9.9)
0
A função arctan estabelecida acima é denominada função arcotangente. É fácil notar, por
utilizar as propriedades elementares de integrais, que
∫ 0
arctan(0) = φ(t)dt = 0. (9.10)
0
Além disso, aplicando o fato que φ(t) > 0 para todo t ∈ R (ver (9.8)), pode-se inferir que
Teorema 9.21. Seja φ a função definida em (9.8). Então, as seguintes afirmações envol-
vendo a aplicação arcotangente são verdadeiras:
1
arctan′ (x) = , para todo x ∈ R; (9.11)
1 + x2
ii) Arcotangente é crescente em R. Além disso, esta mesma função é estritamente convexa
em (−∞, 0) e estritamente côncava em (0, ∞).
iii) Arcotangente é uma função ı́mpar (isto é, arctan(−x) = − arctan(x), para todo x ∈ R)
e limitada em R;
374 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
π
lim arctan(x) = ± . (9.12)
x→±∞ 2
v) Dado y ∈ (−π/2, π/2), existe um único x ∈ R tal que arctan(x) = y. Em outras palavras,
arctan : R → (−π/2, π/2) é uma função bijetora.
1
arctan′ (x) = φ(x) = , para todo x ∈ R,
1 + x2
Por outro lado, usando (9.11), inferimos que a derivada do arcotangente é sempre positiva.
Dessa forma, o arcotangente é crescente em R. Além disso, derivando mais uma vez a função
arcotangente, obtemos
2x
arctan′′ (x) = − , para todo x ∈ R.
(1 + x2 )2
Portanto, analisando o sinal desta segunda derivada, inferimos que a função arcotangente é
estritamente convexa em (−∞, 0) e estritamente côncava em (0, ∞). Isto prova ii).
1
arctan(1) − arctan(0) = arctan′ (c) = . (9.13)
1 + c2
Consequentemente, arctan(1) < 1 desde que 1/(1 + c2 ) < 1 e arctan(0) = 0. Por outro
lado, escolhemos x ∈ (1, ∞) e aplicamos o Teorema 7.16 (com g : [1, x] → R definida por
g(t) = −1/t) para obter
θ2
arctan(x) = · (g(x) − g(1)) + arctan(1)
1 + θ2 ( )
θ2 1
= · − + 1 + arctan(1). (9.14)
1 + θ2 x
1 1
arctan(x) < − + 1 + 1 = 2 − < 2.
x x
Resta somente verificar que arctan é limitada em (−∞, −1). Contudo, pelo que foi feito
acima e usando a condição de que arctan é uma aplicação ı́mpar, é verdade que
Deste modo,
−2 < arctan(x) < 0, para todo x ∈ (−∞, −1).
onde este número é de fato real pelos itens demonstrados anteriormente. Por conseguinte,
376 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
π
lim arctan(x) = sup{arctan(x) : x ∈ (0, ∞)} = .
x→∞ 2
π
lim arctan(x) = − lim arctan(y) = − ,
x→−∞ y→∞ 2
Por fim, para demonstrar v) é suficiente verificar que arctan é injetora e sobrejetora
(quando o contradomı́nio está restrito ao intervalo (−π/2, π/2)).
A injetividade segue simplesmente do fato da função arcotangente ser monótona. Já para
a sobrejetividade aplicaremos o Teorema 6.9. Antes de tudo, verificamos acima os seguintes
limites:
π
lim arctan(x) = ± .
x→±∞ 2
Os quais podem ser traduzidos matematicamente pelas afirmações abaixo:
π
dado ε > 0, ∃ A > 0 tal que ∀ x > A, tem-se arctan(x) − < ε (9.15)
2
e
π
dado ε > 0, ∃ A > 0 tal que ∀ x < −A, tem-se arctan(x) + < ε. (9.16)
2
Estamos prontos para verificar a sobrejetividade relatada acima. Assim sendo, considere
que y ∈ (−π/2, π/2) e seja ε = π/2−y > 0. Aplicando este valor de ε em (9.15), encontramos
x1 suficientemente grande tal que
π (π )
− − y < arctan(x1 ).
2 2
Consequentemente, y < arctan(x1 ). Por outro lado, supondo que ε = y + π/2 > 0 inferimos
que existe x0 ∈ R tal que
π ( π)
arctan(x0 ) < − + y + .
2 2
Logo, arctan(x0 ) < y.
9.7. LEITURA COMPLEMENTAR: FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 377
Sabemos que a função arcotangente é contı́nua (ver Teorema 9.9) e acabamos de mostrar
que arctan(x0 ) < y < arctan(x1 ), onde x0 , x1 ∈ R. Portanto, pelo Teorema 6.9, existe algum
x ∈ (x0 , x1 ) tal que arctan(x) = y. Isto mostra que arctan é uma aplicação sobrejetora. Isto
completa a prova do Teorema 9.21.
Através do Teorema 9.21 é possı́vel encontrar o seguinte gráfico para a função arcotan-
gente.
9.7.2 Tangente
Vimos na seção anterior que a função arctan : R → (−π/2, π/2) é bijetora (ver Teorema
9.21 v)). Este fato garante a existência de sua inversa, a qual é denominada função tangente
e é denotada por tan : (−π/2, π/2) → R. Esta aplicação associa x ∈ (−π/2, π/2) a um valor
real tan(x). Além disso, tan(x) pode ser obtido através da seguinte equivalência:
( π π)
tan(x) = y, com x ∈ − , ⇔ arctan(y) = x, com y ∈ R. (9.17)
2 2
Note que tan(x) > 0 para x ∈ (0, π/2), enquanto tan(x) < 0 para x ∈ (−π/2, 0). Com
efeito, se tan(x) = y com x ∈ (0, π/2), temos que arctan(y) = x > 0. Portanto, pelo que
foi discutido na seção anterior, concluı́mos que y > 0. Isto nos informa que tan(x) > 0. O
outro caso é análogo. Em adição, desde que arctan(0) = 0 (ver (9.10)), temos a igualdade
tan(0) = 0.
Abaixo, permita-nos listar algumas propriedades elementares satisfeitas pela função tan-
gente.
378 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
i) A função tangente é derivável em (−π/2, π/2), e sua derivada satisfaz a relação a seguir:
( π π)
′
tan (x) = 1 + [tan(x)] , 2
para todo x ∈ − , ; (9.18)
2 2
ii) A função tangente é crescente em (−π/2, π/2). Em adição, esta aplicação é estritamente
côncava em (−π/2, 0) e estritamente convexa em (0, π/2);
iii) A função tangente é ı́mpar, isto é, tan(−x) = − tan(x) para todo x ∈ (−π/2, π/2);
lim ∓
tan(x) = ±∞. (9.19)
x→(± π2 )
1
tan′ (arctan(y)) = ′
= 1 + y2, para todo y ∈ R.
arctan (y)
A igualdade acima também nos mostra que tan′ (x) > 0 parar todo x ∈ (−π/2, π/2).
Dessa forma, podemos concluir que a função tangente é crescente em (−π/2, π/2).
Agora, analisando o sinal da segunda derivada podemos concluir que a função tangente
é estritamente côncava em (−π/2, 0) e estritamente convexa em (0, π/2). Com efeito, as
operações elementares envolvendo derivadas nos levam a concluir que
basta utilizar (9.18). Como 1 + [tan(x)]2 > 0, então só nos resta analisar o sinal do fator
tan(x). Todavia, vimos acima que tan(x) > 0 se x ∈ (0, π/2). Assim sendo, segue que tan
é estritamente convexa em (0, π/2). E, por outro lado, tan(x) < 0 se x ∈ (−π/2, 0). Por
conseguinte, tan é estritamente cônvava em (−π/2, 0). Isto completa a prova de ii).
Usando (9.17) e o Teorema 9.21 iii), obtemos, para tan(x) = y com x ∈ (−π/2, π/2)
(i.e., arctan(y) = x), que
Por fim, note que tan é ilimitada pelo simples fato que sua imagem é R. Assim sendo,
usando o fato que a função tangente é crescente, concluı́mos que
lim ∓
tan(x) = ±∞.
x→(± π2 )
O Teorema 9.22 nos permite encontrar o seguinte gráfico para a função tangente definida
em (−π/2, π/2).
Definição 9.19. As aplicações sen, cos : (−π/2, π/2) → R que associam um número x ∈
(−π/2, π/2) aos números reais sen(x) e cos(x), os quais são definidos, respectivamente, por
tan(x) ( π π)
sen(x) := √ , para todo x ∈ − , (9.20)
1 + [tan(x)]2 2 2
1 ( π π)
cos(x) := √ , para todo x ∈ − , . (9.21)
1 + [tan(x)]2 2 2
tan(0)
sen(0) = √ = 0, (9.22)
1 + [tan(0)]2
E, analogamente, chegamos a
1
cos(0) = √ = 1. (9.23)
1 + [tan(0)]2
i) A função seno é ı́mpar, isto é, sen(−x) = −sen(x) para todo x ∈ (−π/2, π/2);
ii) A função seno é limitada em (−π/2, π/2). Mais precisamente, 0 < sen(x) < 1 para
todo x ∈ (0, π/2) e −1 < sen(x) < 0 para todo x ∈ (−π/2, 0). Em particular, −1 <
sen(x) < 1 para todo x ∈ (−π/2, π/2);
9.7. LEITURA COMPLEMENTAR: FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 381
iv) A função seno é derivável em (−π/2, π/2), e sua derivada é dada por
( π π)
′
sen (x) = cos(x), para todo x ∈ − , ;
2 2
v) A função seno é crescente em (−π/2, π/2). Além disso, esta mesma aplicação é estrita-
mente convexa em (−π/2, 0) e estritamente côncava em (0, π/2).
tan(−x) tan(x) ( π π)
sen(−x) = √ = −√ = −sen(x), para todo x ∈ − , ,
1 + [tan(−x)]2 1 + [tan(x)]2 2 2
Como já foi discutido na seção anterior, tan(x) > 0 com x ∈ (0, π/2) e tan(x) < 0 com x ∈
(−π/2, 0). Consequentemente,
tan(x) ( π)
0 < sen(x) = √ < 1, para todo x ∈ 0, .
1 + [tan(x)]2 2
Dessa forma, para x ∈ (−π/2, 0), encontramos 0 < sen(−x) < 1. Mas, sen é uma função
ı́mpar. Logo, −1 < sen(x) < 0. Isto prova o item ii).
Em relação ao primeiro limite acima, podemos aplicar a Definição 9.19 em ordem a encontrar
tan(x) tan(x)
lim
π −
√ = lim
π −
√ ,
x→( 2 ) 1 + [tan(x)]2 x→( 2 ) 1
tan(x) [tan(x)]2 + 1
1
lim
π −
sen(x) = lim
π −
√ .
x→( 2 ) x→( 2 ) 1
[tan(x)]2
+1
382 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
1 1
lim
π −
sen(x) = lim
π −
√ =√ = 1.
x→( 2 ) x→( 2 ) 1
+1 0+1
[tan(x)]2
De modo análogo a verificação anterior, e novamente usando o Teorema 9.22 iv) com a
condição tan(x) < 0, considerando que x → (−π/2)+ , obtemos as seguintes igualdades:
tan(x) −1
limπ sen(x) = limπ √ = limπ + √ = −1.
− tan(x) [tan(x)]
x→(− 2 ) + x→(− 2 )+ 1 x→(− 2 ) 1
2 + 1 [tan(x)]2
+ 1
Para determinar que a função seno é derivável em (−π/2, π/2) e encontrar sua derivada,
é suficiente aplicar a regra da derivação do quociente, o Teorema 9.22 i) e a Definição 9.19.
De fato,
=
1 + [tan(x)]2
2 12 [tan(x)]2
= (1 + [tan(x)] ) − 1
(1 + [tan(x)]2 ) 2
1
= √ ,
1 + [tan(x)]2
= cos(x),
para todo x ∈ (−π/2, π/2), ver Definição 9.19. Portanto, está provado o item iv).
Pelo item anterior, podemos afirmar que a primeira derivada da função seno é positiva no
intervalo (−π/2, π/2). Logo, podemos concluir que a sen é crescente no intervalo (−π/2, π/2).
9.7. LEITURA COMPLEMENTAR: FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 383
para todo x ∈ (−π/2, π/2) (ver Definição 9.19). Por fim, analisando o sinal da segunda
derivada, nota-se, pelo item ii) acima, que a função seno é estritamente convexa em (−π/2, 0)
e estritamente côncava em (0, π/2).
Por utilizar o Teorema 9.23, chegamos ao gráfico abaixo para a função seno definida sobre
(−π/2, π/2).
De modo similar ao que foi estudado para a função seno, listaremos a seguir algumas
propriedades elementares satisfeitas pela função cosseno definida no inı́cio desta seção (ver
Definição 9.19).
i) A função cosseno é par, isto é, cos(−x) = cos(x) para todo x ∈ (−π/2, π/2);
ii) A aplicação cosseno é limitada em (−π/2, π/2). Mais precisamente, 0 < cos(x) ≤ 1 para
todo x ∈ (−π/2, π/2);
iv) A função cosseno é derivável em (−π/2, π/2), e sua derivada é dada por
( π π)
cos′ (x) = −sen(x), para todo x ∈ − , ;
2 2
v) A função cosseno é crescente em (−π/2, 0) e decrescente em (0, π/2). Além disso, cos é
estritamente côncava em (−π/2, π/2).
Demonstração. Para verificar que a função cosseno é par em (−π/2, π/2), basta observar a
Definição 9.19 e as seguintes igualdades:
1 1
cos(−x) = √ =√ = cos(x),
1 + [tan(−x)]2 1 + [− tan(x)]2
onde foi aplicado item iii) do Teorema 9.22. Coseguindo assim, a verificação de i).
1 ( π π)
0 < cos(x) = √ ≤ 1, para todo x ∈ − , . (9.24)
1 + [tan(x)]2 2 2
Isto nos informa que cos é uma aplicação limitada em seu domı́nio. Isto completa a prova
do item ii).
Agora, usando o resultado da função tangente obtido no Teorema 9.22 iv), chegamos a
1 1
limπ −
cos(x) = limπ −
√ = limπ −
√ = 0,
x→( 2 ) x→( 2 ) 1 + [tan(x)]2 x→( 2 ) 1
tan(x) [tan(x)] 2 + 1
desde que tan(x) > 0, quando x ∈ (0, π/2). Por outro lado,
1 1
limπ cos(x) = limπ √ = limπ √ = 0,
x→(− 2 )+ x→(− 2 )+ 1+ [tan(x)]2 x→(− 2 )+
− tan(x) [tan(x)]
1
2 + 1
pois tan(x) < 0, quando x ∈ (−π/2, 0). Desse modo, iii) está demonstrado.
concluı́mos que cos é derivável em (−π/2, π/2) e sua derivada é dada por
para todo x ∈ (−π/2, π/2) (ver Definição 9.19). Na primeira igualdade acima, usamos o
Teorema 9.22 i). Isto estabelece iv).
Por aplicar o Teorema 9.23 ii) e a derivada do cosseno encontrada acima, temos que esta
aplicação é crescente em (−π, 2, 0), e decrescente em (0, π/2).
Por fim, por usar ii) e (9.25), concluı́mos que a função cosseno é estritamente côncava
em (−π/2, π/2). Sendo assim, v) está verificado.
Obs 9.14. Para concluir esta seção, observamos que, através da Definição 9.19, podemos
386 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
representar a função tangente como esta é conhecida no ensino elementar. Com efeito,
sen(x) tan(x) √ ( π π)
:= √ 1 + [tan(x)]2 = tan(x), para todo x ∈ − , . (9.26)
cos(x) 1 + [tan(x)] 2 2 2
Primeiramente, podemos notar que, através das igualdades já obtidas neste texto; tais
como: sen(0) = 0, sen′ (0) = 1, cos(0) = 1 e cos′ (0) = 0, encontramos os seguintes limites
sen(h) cos(h) − 1
lim = 1 e lim =0
h→0 h h→0 h
(Os resultados acima podem também ser vistos como uma simples aplicação da Regra de
L’Hôpital).
Em ordem a estender as aplicações sen e cos, definimos as imagens das funções seno e
cosseno no valor π/2 da seguinte forma
Para essa demonstração, usaremos indução matemática sobre m. Sendo assim, considere que
m = 1. Logo,
sen(x) = (−1)m sen(x + mπ) := (−1)m (−1)sen((x + mπ) + π) = (−1)m+1 sen(x + (m + 1)π),
basta considerar que m é um natural negativo para obter, por (9.30), as igualdades abaixo
Supondo que a afirmação (9.32) é válida, faremos a verificação desta para o caso m + 1. Com
isso,
Com isso,
sen(x) = (−1)m sen(x + mπ), para todo x ∈ R, m ∈ Z.
O próximo resultado estabelece algumas propriedades satisfeitas pela função seno definida
sobre R.
i) A função sen é periódica, com perı́odo 2π, ou seja, sen(x+2π) = sen(x), para todo x ∈ R;
sen(2n) (x) = (−1)n sen(x) e sen(2n−1) (x) = (−1)n−1 cos(x), para todo x ∈ R.(9.34)
Demonstração. Para mostrar que a função seno é periódica, e tem como periódo 2π, basta
observar que
Já foi estudado que a função seno é ı́mpar no intervalo (−π/2, π/2) (ver Teorema 9.23).
Além disso,
[ π π]
R := ∪n∈Z (2n + 1) , (2n + 3) . (9.35)
2 2
π π
(2nx + 1) ≤ x ≤ (2nx + 3) .
2 2
π π
(2nx + 1) + y ≤ x + y ≤ (2nx + 3) + y,
2 2
π π
(2nx + 1) +y =− ,
2 2
ou seja,
π π
y=− − (2nx + 1) = −(nx + 1)π.
2 2
Sendo assim,
π π
(2nx + 1) − (nx + 1)π ≤ x − (nx + 1)π ≤ (2nx + 3) − (nx + 1)π
2 2
se transforma em −π/2 ≤ x − (nx + 1)π ≤ π/2. Por outro lado, usando o Lema 9.6,
encontramos
sen(x) = (−1)nx +1 sen(x − (nx + 1)π) = −(−1)nx +1 sen(−x + (nx + 1)π) = −sen(−x),
desde que x − (nx + 1)π ∈ [−π/2, π/2] e sen(π/2) = 1 = −sen(−π/2). Pontanto, concluı́mos
que a função seno é ı́mpar em R.
onde nx ∈ Z foi encontrado em (9.35). Como x − (nx + 1)π ∈ (−π/2, π/2) e sen(x − (nx +
1)π) = 0 = sen(0), então
x = (nx + 1)π, nx ∈ Z,
pois sen é injetora em (−π/2, π/2) (ver Teorema 9.23). Isto completa a prova do item iii).
Já foi demonstrado que sen é derivável em (−π/2, π/2), e sua derivada é dada pela
seguinte igualdade:
( π π)
′
sen (x) = cos(x), para todo x ∈ − , ,
2 2
π π
(2nx + 1) < x < (2nx + 3) .
2 2
π π
(2nx + 1) + y < x + y < (2nx + 3) + y.
2 2
y = (−nx − 1)π.
9.7. LEITURA COMPLEMENTAR: FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 391
Por conseguinte, −π/2 < x + (−nx − 1)π < π/2. Agora, usando o Teorema 9.23, obtemos
e também
cos(x) = (−1)nx +1 cos(x + (−nx − 1)π).
sen′ (x) = (−1)nx +1 sen′ (x + (−nx − 1)π) = (−1)nx +1 cos(x + (−nx − 1)π) = cos(x).
Portanto,
sen′ (x) = cos(x), para todo x ∈ R\{(2n + 1)π/2 : n ∈ Z}.
Para concluir a demonstração, vamos provar que a função seno é derivável em {(2n +
1)π/2 : n ∈ Z}. Com efeito, usando novamente o Lema 9.6 e (9.27), temos
sen(x) − sen((2n + 1) π2 )
lim = lim cos(x) = (−1)n lim + cos(y).
x→[(2n+1)π/2]+ x − (2n + 1) π2 x→[(2n+1)π/2]+ y→(π/2)
ver Teorema 9.24. Dessa forma, pelo Lema 9.6, encontramos as igualdades
Analogamente ao que foi feito acima, considere que x ∈ R\{(2n + 1)π/2 : n ∈ Z}. Logo,
existe nx ∈ Z tal que
π π
(2nx + 1) < x < (2nx + 3) ,
2 2
ver (9.36). Portanto,
π π
− < x + (−nx − 1)π < .
2 2
Pelo Teorema 9.23, temos que
cos′ (x) = (−1)nx +1 cos′ (x + (−nx − 1)π) = −(−1)nx +1 sen(x + (−nx − 1)π) = −sen(x).
Assim,
cos(x) − cos((2n + 1)π/2)
lim =− lim sen(x),
x→[(2n+1)π/2]− x − (2n + 1) π2 x→[(2n+1)π/2]−
O limite lateral à direita pode ser encontrado através das seguintes igualdades:
= (−1)n+1 lim sen(z) = (−1)n lim sen(−z) = (−1)n lim sen(y) = (−1)n+1 ,
z→(π/2)+ z→(π/2)+ y→(−π/2)+
onde na terceira igualdade usamos o fato que a função seno é ı́mpar sobre R e na última o
Teorema 9.23. Por fim,
Consequentemente,
sen′′ (x) = −sen(x), para todo x ∈ R.
Em ordem a estabelecer uma prova para v), utililizaremos o prı́ncipio de indução ma-
temática. Dessa forma, para n = 1, obtemos
sen[2(n+1)] (x) = sen(2n+2) (x) = (sen(2) )(2n) (x) = (−sen)(2n) (x) = (−1)n+1 sen(x),
sen[2(n+1)−1] (x) = sen(2n+1) (x) = (sen(2n) )′ (x) = (−1)n sen′ (x) = (−1)n cos(x),
Note que, usando a figura 9.7.3, o Lema 9.6 e o Teorema 9.25, podemos obter o seguinte
gráfico para a função seno definida em toda a reta.
i) A função cos é periódica, com perı́odo 2π, ou seja, cos(x + 2π) = cos(x), para todo x ∈ R;
ii) A função cos é par, isto é, cos(−x) = cos(x), para todo x ∈ R;
cos(2n) (x) = (−1)n cos(x), cos(2n−1) (x) = (−1)n sen(x), para todo x ∈ R. (9.38)
Demonstração. De modo similar ao que foi feito para a função seno, usando (9.29), encon-
tramos as seguintes igualdades:
Por isso, a função cosseno é periódica, e tem perı́odo 2π. Chegando assim a demonstrar o
item i).
Utilizaremos novamente o Lema 9.6 para monstrar que a função cosseno é par.
Seja x ∈ R. Assim, por (9.35), existe nx ∈ Z tal que (x − (nx + 1)π) ∈ [−π/2, π/2]. Por
outro lado, aplicando o Lema 9.6, obtemos
cos(−x) = (−1)nx +1 cos(−x + (nx + 1)π) = (−1)nx +1 cos(x − (nx + 1)π) = cos(x),
desde que cos(π/2) = 0 = cos(−π/2) e cos é par em (−π/2, π/2). O item ii) está provado.
Vimos no inı́cio desta seção que a função cosseno se anula em π/2 (ver (9.27)). Por
conseguinte, aplicando o Lema 9.6, inferimos
Então,
cos(x − (nx + 1)π) = cos(π/2) = cos(−π/2) = 0, com x − (nx + 1)π ∈ [−π/2, π/2].
Como cos(x) > 0, para todo x ∈ (−π/2, π/2), ver Teorema 9.24, então
π π
= x − (nx + 1)π ou − = x − (nx + 1)π,
2 2
ou equivalentemente,
π π
x = [2(nx + 1) + 1]
ou x = [2nx + 1] .
2 2
Com isso, concluı́mos a demonstração de iii).
Para provar v), usaremos novamente o prı́ncipio de indução matemática. Assim sendo,
para n = 1, temos que
cos[2(n+1)] (x) = cos(2n+2) (x) = (cos(2) )(2n) (x) = (− cos)(2n) (x) = (−1)n+1 cos(x),
cos[2(n+1)−1] (x) = cos(2n+1) (x) = (cos(2n) )′ (x) = (−1)n cos′ (x) = (−1)n+1 sen(x),
Usando o gráfico 9.7.3, aplicando o Lema 9.6 e o Teorema 9.26, encontramos o gráfico
abaixo para a função cosseno definida em toda a reta.
Conhecidas as funções seno e cosseno definidas sobre R, podemos estabelecer uma ex-
tensão para a função tangente sobre um subconjunto de R no qual desconsideramos os valores
9.7. LEITURA COMPLEMENTAR: FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 397
sen(x)
tan(x) := , para todo x ∈ R\{(2n + 1)π/2 : n ∈ Z}, (9.39)
cos(x)
A partir dos resultados estabelecidos nos Teoremas 9.25 e 9.26, podemos concluir algumas
informações sobre a extensão da função tangente.
i) A função tan é periódica, com perı́odo π, ou seja, tan(x + π) = tan(x) para todo x ∈
R\{(2n + 1)π/2 : n ∈ Z};
ii) A função tan é ı́mpar, isto é, tan(x+π) = tan(x) para todo x ∈ R\{(2n+1)π/2 : n ∈ Z};
iv) A função tangente é derivável em R\{(2n + 1)π/2 : n ∈ Z}, e sua derivada é dada por
sen(x + π) −sen(x)
tan(x + π) = := = tan(x), para todo x ∈ R\{(2n + 1)π/2 : n ∈ Z},
cos(x + π) − cos(x)
ver (9.28) e (9.29). Isto nos informa que a aplicação tangente é periódica, com perı́odo π.
sen(−x) −sen(x)
tan(−x) = = = − tan(x), para todo x ∈ R\{(2n + 1)π/2 : n ∈ Z},
cos(−x) cos(x)
sen(x)
tan(x) = 0 ⇔ = 0 ⇔ sen(x) = 0 ⇔ x = nπ, para algum n ∈ Z.
cos(x)
Para provar iv), note que a função tangente é obtida de uma operação elementar entre
duas funções deriváveis. Logo, esta também é derivável em seu domı́nio, e sua derivada pode
ser obtida da seguinte maneira:
[cos(x)]2 + [sen(x)]2
tan′ (x) = 2
= 1 + [tan(x)]2 , para todo x ∈ R\{(2n + 1)π/2, n ∈ Z}.
[cos(x)]
sen(x − nπ)
lim = lim tan(y) = ∞,
x→[(2n+1)π/2]− cos(x − nπ) y→(π/2)−
Através da figura 9.7.2 e do Teorema 9.27, o seguinte gráfico representa a função tangente
em toda a reta.
Aplicando a regra da cadeia e os Teoremas 9.25 e 9.26, concluı́mos que f é derivável e sua
derivada é dada por
Consequentemente, f ≡ c, onde c é uma constante. Por outro lado, para x = 0, temos que
onde x2 ∈ R está fixo. Pelos Teoremas 9.25 e 9.26, temos que g e h são deriváveis e suas
derivadas são dadas, respectivamente, por
Assim,
g ′ (x) = h′ (x) = 0, para todo x ∈ R.
onde usamos os fatos que as funções seno e cosseno são ı́mpar e par, respectivamente (ver
Teoremas 9.25 e 9.26). Por outro lado, para x = x1 , obtemos
cos(x2 ) − sen(x1 ) y
t =
cos(x1 )
cos(x2 ) − sen(x1 )[sen(x1 ) cos(x2 ) + sen(x2 ) cos(x1 )]
=
cos(x1 )
cos(x2 ) − [sen(x1 )] cos(x2 ) − cos(x1 )sen(x1 )sen(x2 )
2
=
cos(x1 )
cos(x2 )[cos(x1 )] − cos(x1 )sen(x1 )sen(x2 )
2
=
cos(x1 )
= cos(x1 ) cos(x2 ) − sen(x1 )sen(x2 ),
e também
Usando novamente o fato que as funções seno e cosseno são ı́mpar e par (ver Teoremas 9.25
e 9.26), respectivamente, podemos deduzir as seguintes igualdades:
i) [sen(x)]2 = 1
2
− 12 cos(2x);
1
ii) [cos(x)]2 = 2
+ 12 cos(2x).
404 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
Portanto,
1 1
− cos(2x).
[sen(x)]2 =
2 2
Podemos também, através dos Teoremas 9.28 e 9.30, encontrar
Por fim,
1 1
[cos(x)]2 = + cos(2x).
2 2
Isto estabelece i) e ii).
( x1 ±x2 ) ( x1 ∓x2 )
i) sen(x1 ) ± sen(x2 ) = 2sen 2
cos 2
;
( x1 +x2 ) ( x1 −x2 )
ii) cos(x1 ) + cos(x2 ) = 2 cos 2
cos 2
;
(x ) (x )
1 −x2
iii) cos(x1 ) − cos(x2 ) = −2sen 1 +x2
2
sen 2
.
(x1 + x2 ) (x1 − x2 )
p= , q= ,
2 2
chegamos ao sistema {
x1 + x2 = 2 p
x1 − x2 = 2 q
Tal sistema tem como solução, nas variáveis x1 , x2 ,
x1 = p + q, x2 = p − q.
9.7. LEITURA COMPLEMENTAR: FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 405
sen(p + q) + sen(p − q) = sen(p) cos(q) + sen(q) cos(p) + sen(p) cos(q) − sen(q) cos(p)
= 2sen(p) cos(q)
( ) ( )
x1 + x2 x1 − x2
= 2sen cos ,
2 2
sen(p + q) − sen(p − q) = sen(p) cos(q) + sen(q) cos(p) − sen(p) cos(q) + sen(q) cos(p)
= 2sen(q) cos(p)
( ) ( )
x1 − x2 x1 + x2
= 2sen cos ,
2 2
e, por fim,
1
csc(x) := , para todo x ∈ R\{nπ : n ∈ Z}, (9.42)
sen(x)
1
sec(x) := , para todo x ∈ R\{(2n + 1)π/2 : n ∈ Z}, (9.43)
cos(x)
cos(x)
cot(x) := , para todo x ∈ R\{nπ : n ∈ Z}. (9.44)
sen(x)
1
cot(x) = , para todo x ∈ R\{nπ : n ∈ Z}.
tan(x)
i) A função sec é periódica, com perı́odo 2π, isto é, sec(x + 2π) = sec(x) para todo x ∈
R\{(2n + 1)π/2 : n ∈ Z};
ii) A função sec é par, ou seja, sec(−x) = sec(x) para todo x ∈ R\{(2n + 1)π/2 : n ∈ Z};
iii) A função secante é derivável em R\{(2n + 1)π/2 : n ∈ Z}, e sua derivada é dada por
v) A função secante é não decrescente nos intervalos [0, π/2) e (π/2, π]. Além disso, esta
mesma aplicação é estritamente convexa em [0, π/2) e estritamente côncava em (π/2, π];
1 1
sec(x + 2π) = = = sec(x), para todo x ∈ R\{(2n + 1)π/2 : n ∈ Z},
cos(x + 2π) cos(x)
i.e., segue facilmente do fato que a função cosseno é periódica, e tem como perı́odo 2π, que
a secante também é periódica e seu perı́odo é dado por 2π.
1 1
sec(−x) = = = sec(x), para todo x ∈ R\{(2n + 1)π/2 : n ∈ Z}.
cos(−x) cos(x)
Como cos é derivável em R (ver Teorema 9.26), então sec também é derivável. Além
disso, a derivada da secante é dada por
[sen(x)]2 [cos(x)]2 1
2
+ 2
= , para todo x ∈ R\{(2n + 1)π/2 : n ∈ Z},
[cos(x)] [cos(x)] [cos(x)]2
ou equivalentemente,
sen(x) [ π ) (π ]
sec′ (x) = , para todo x ∈ 0, ∪ ,π .
[cos(x)]2 2 2
Por outro lado, o Teorema 9.23 nos informa que sen(x) ≥ 0, para todo x ∈ [0, π/2), e
sen(x) ≤ 0, para todo x ∈ (−π/2, 0]. Usando o Lema 9.6, concluı́mos que
sen(x) [ π ) (π ]
′
sec (x) = ≥ 0, para todo x ∈ 0, ∪ ,π .
[cos(x)]2 2 2
Consequentemente, temos que sec é não decrescente nos intervalos [0, π/2) e (π/2, π]. Deri-
vando mais uma vez a função secante, encontramos
1 + [sen(x)]2 [ π ) (π ]
sec′′ (x) = , para todo x ∈ 0, ∪ ,π . (9.46)
[cos(x)]3 2 2
Vimos no Teorema 9.24 que cos(x) > 0, para todo x ∈ (−π/2, π/2). Pelo Lema 9.6, temos
que cos(x) > 0, para todo x ∈ [0, π/2), e cos(x) < 0, para todo x ∈ (π/2, π]. Portanto,
por (9.49), inferimos que sec é estritamente convexa em [0, π/2) e estritamente côncava em
(π/2, π]. Isto completa a prova de v).
Os limtes do item vi) seguem diretamente das propriedades satisfeitas pelo cosseno.
i) A função csc é periódica, com perı́odo 2π, isto é, csc(x + 2π) = csc(x) para todo x ∈
R\{nπ : n ∈ Z};
ii) A função csc é ı́mpar, ou seja, csc(−x) = − csc(x) para todo x ∈ R\{nπ : n ∈ Z};
iii) A função cossecante é derivável em R\{nπ : n ∈ Z}, e sua derivada é dada por
v) A função cossecante é não crescente nos intervalos [−π/2, 0) e (0, π/2]. Além disso,
esta mesma aplicação é estritamente convexa em (0, π/2] e estritamente côncava em
[−π/2, 0).
1 1
csc(x + 2π) = = = csc(x), para todo x ∈ R\{nπ : n ∈ Z}.
sen(x + 2π) sen(x)
1 1 1
csc(−x) = = =− = − csc(x), para todo x ∈ R\{nπ : n ∈ Z}.
sen(−x) −sen(x) sen(x)
Como o seno é uma função derivável (ver Teorema 9.28), então a função cossecante
também o é. Além disso,
− cos(x) cos(x) 1
csc′ (x) = 2
=− · = − cot(x) · csc(x), (9.47)
[sen(x)] sen(x) sen(x)
[sen(x)]2 [cos(x)]2 1
2
+ 2
= , para todo x ∈ R\{nπ : n ∈ Z},
[sen(x)] [sen(x)] [sen(x)]2
ou seja,
1 + [cot(x)]2 = [csc(x)]2 , para todo x ∈ R\{nπ : n ∈ Z}.
cos(x) [ π ) ( π]
csc′ (x) = − , para todo x ∈ − , 0 ∪ 0, .
[sen(x)]2 2 2
410 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
Por outro lado, o Teorema 9.23 nos informa que sen(x) > 0, para todo x ∈ (0, π/2], e
sen(x) < 0, para todo x ∈ [−π/2, 0). Já o Teorema 9.24 nos diz que cos(x) ≥ 0, para todo
x ∈ [−π/2, π/2]. Portanto,
cos(x) [ π ) ( π]
csc′ (x) = − ≤ 0, para todo x ∈ − , 0 ∪ 0, ,
[sen(x)]2 2 2
1 + [cos(x)]2 [ π )
csc′′ (x) = < 0, para todo x ∈ − , 0 .
[sen(x)]3 2
1 + [cos(x)]2 ( π]
csc′′ (x) = > 0, para todo x ∈ 0, . (9.48)
[sen(x)]3 2
Consequentemente, temos que csc é não crescente nos intervalos [−π/2, 0) e (0, π/2],
estritamente convexa em (0, π/2] e estritamente côncava em [−π/2, 0). Isto completa a prova
de v).
Os limtes do item vi) seguem diretamente das propriedades satisfeitas pelo seno. Assim,
completamos a prova do Teorema 9.34.
Em seguida, a partir dos estudos realizados para a função tangente, encontraremos pro-
priedades importantes relacionadas a função cotangente.
Teorema 9.35. As seguintes propriedades elementares relacionadas a função cotangente são
válidas:
i) A função cot é periódica, com perı́odo π, isto é, cot(x+π) = cot(x) para todo x ∈ R\{nπ :
n ∈ Z};
ii) A função cot é ı́mpar, ou seja, cot(−x) = − cot(x) para todo x ∈ R\{nπ : n ∈ Z};
iv) A função cotangente é derivável em R\{nπ : n ∈ Z}, e sua derivada é dada por
v) A função cotangente é decrescente nos intervalos (−π/2, 0) e (0, π/2). Além disso,
esta mesma aplicação é estritamente convexa em (0, π/2) e estritamente côncava em
(−π/2, 0);
1 1
cot(x + π) = = = cot(x), para todo x ∈ R\{nπ : n ∈ Z},
tan(x + π) tan(x)
ver Teorema 9.27 e a definição (9.39). Com isso, comprovamos que a função cotangente é
periódica, de perı́odo π.
1 1 1
cot(−x) = = =− = − cot(x), para todo x ∈ R\{nπ : n ∈ Z}.
tan(−x) − tan(x) tan(x)
−[sen(x)]2 − [cos(x)]2 1
cot′ (x) = 2
=− = −[csc(x)]2 , para todo x ∈ R\{nπ : n ∈ Z}.
[sen(x)] [sen(x)]2
Por iv), temos que cot′ (x) < 0, para todo x ∈ (−π/2, 0) ∪ (0, π/2). Dessa forma, cot é
decrescente nos intervalos (−π/2, 0) e (0, π/2).
Por outro lado, o Teorema 9.23 nos informa que sen(x) > 0, para todo x ∈ (0, π/2), e
sen(x) < 0, para todo x ∈ (−π/2, 0). Já o Teorema 9.24 nos diz que cos(x) > 0, para todo
412 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
cos(x)
cot′′ (x) = 2 , para todo x ∈ R\{nπ : n ∈ Z}. (9.49)
[sen(x)]3
Por conseguinte, temos que cot é estritamente convexa em (0, π/2) e estritamente côncava
em (−π/2, 0). Isto completa a prova de v).
Os limtes do item vi) seguem diretamente das propriedades satisfeitas pela tangente e
pelo seno.
Nesta subseção, faremos um estudo sobre como justificar a existência das inversas das
funções trigonométricas estudadas anteriormente. Em ordem a alcançar tal objetivo, é im-
portante ressaltar que uma função é inversı́vel se, e somente se, esta é uma aplicação bijetora.
Por este motivo, nem todas as funções trigonométricas possuem inversas em seus domı́nios
de definição, porém podemos considerar restrições com o intuito de obter aplicações injetoras
e sobrejetoras.
Note que não mencionamos acima a inversão da função tangente. Isto não é necessário,
desde que já mostramos através da Teorema 9.21 que arctan : R → (−π/2, π/2) é uma
aplicação bijetora e, em particular, tem como inversa a função tan : (−π/2, π/2) → R
definida em (9.17). Resta-nos, então, verificar em qual domı́nio as funções seno, cosseno,
secante, cossecante e cotangente são bijetoras.
Demonstração. Como já foi visto que a função sen é estritamente crescente em (−π/2, π/2)
(ver Teorema 9.23), logo esta aplicação é injetora, quando restrita a (−π/2, π/2). Além
disso, vimos que −1 < sen(x) < 1 para todo x ∈ (−π/2, π/2) (ver Teorema 9.23 e (9.22)).
Porém, sen(π/2) = 1 e sen(−π/2) = −1. Como um resultado, obtemos que sen é injetora
em [−π/2, π/2].
Permita-nos verificar a sobrejetividade da função sen : [−π/2, π/2] → [−1, 1]. Faremos
9.7. LEITURA COMPLEMENTAR: FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 413
√
y2
tan(x) 1−y 2
sen(x) = √ =√ = y.
1 + [tan(x)]2 1+ y2
1−y 2
Atarvés do 1o caso, existe x ∈ (−π/2, π/2) tal que sen(x) = −y. Logo, como a função
seno é ı́mpar, concluı́mos que sen(−x) = −sen(x) = y, onde −x ∈ (−π/2, π/2).
Portanto, sen : [−π/2, π/2] → [−1, 1] é sobrejetora. Deste modo, completamos a prova
do Teorema 9.36.
Pelo Teorema 9.36 acima, a função sen : [−π/2, π/2] → [−1, 1] possui inversa. Tal
aplicação será denotada por arcsen : [−1, 1] → [−π/2, π/2], e a chamaremos função arcoseno.
É fácil perceber que os valores desta aplicação podem ser determinados através da seguinte
equivalência:
Claramente a função arcoseno é contı́nua em [−1, 1]. Na verdade, pelos Teoremas 9.23, 7.4 e
9.28, arcsen é derivável em (−1, 1) e sua derivada é dada por
1 1 1 1
arcsen′ (y) = ′
= =√ =√ , (9.51)
sen (x) cos(x) 1 − [sen(x)]2 1 − y2
414 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
para todo y ∈ (−1, 1), com y = sen(x). Por conseguinte, pelo Teorema 9.9, temos que
∫ y
1
arcsen(y) = √ dz, para todo y ∈ (−1, 1), (9.52)
0 1 − z2
A partir das igualdades (9.51) e (9.52), podemos inferir os seguintes resultados envolvendo
a função arcoseno.
i) Arcoseno é derivável em (−1, 1), e sua derivada é dada pela seguinte igualdade:
1
arcsen′ (y) = √ , para todo y ∈ (−1, 1); (9.53)
1 − y2
ii) Arcoseno é crescente em (−1, 1). Além disso, esta mesma função é estritamente convexa
em (0, 1) e estritamente côncava em (−1, 0).
iii) Arcoseno é uma função ı́mpar em [−1, 1], isto é, arcsen(−x) = −arcsen(x) para todo
x ∈ [−1, 1];
π π
iv) lim arcsen(x) = − e lim− arcsen(x) = .
x→(−1)+ 2 x→1 2
y
arcsen′′ (y) = √ , para todo y ∈ (−1, 1).
(1 − y 2 )3
Note que
∫ −y ∫ y
1 1
arcsen(−y) = √ dz = − √ dt = −arcsen(y),
0 1 − z2 0 1 − t2
9.7. LEITURA COMPLEMENTAR: FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 415
π
arcsen(−1) = − = −arcsen(1).
2
Logo, a função arcoseno é ı́mpar em [−1, 1]. Com isso, completamos a prova do item iii).
e também
( π π) π
lim− arcsen(x) = sup{arcsen(x) : x ∈ (−1, 1)} = sup − , = .
x→1 2 2 2
Demonstração. Primeiramente, vamos verificar que cos : [0, π] → [−1, 1] é injetora. Suponha
416 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
que cos(x) = cos(y), com x, y ∈ [0, π]. Para estes valores de x e y, temos que x−π/2, y−π/2 ∈
[−π/2, π/2]. Por outro lado, usando o Teorema 9.29, inferimos
( π) ( π) π π [ π π]
sen x − = − cos(x) = − cos(y) = sen y − , para x − ,y − ∈ − , .
2 2 2 2 2 2
Aplicando o Teorema 9.36, obtemos que x − π/2 = y − π/2. Logo, x = y. Dessa forma,
cos : [0, π] → [−1, 1] é injetora.
onde utilizamos o Teorema 9.29 na primeira igualdade. Com isso, cos : [0, π] → [−1, 1] é
sobrejetora. Como querı́amos demonstrar.
Pelo Teorema acima temos que a função cosseno é bijetora, quando restrita a [0, π]. Logo,
esta aplicação tem uma inversa. Tal função será chamada arcocosseno e a denotaremos
arccos : [−1, 1] → [0, π]. Como um resultado, é fácil ver que os valores do arcocosseno podem
ser caracterizados por
Claramente a função arcocosseno é contı́nua. Mais é verdade, por usar os Teoremas 7.4
e 9.28, arccos é derivável em (−1, 1) e sua derivada é dada por
1 1 1 1
arccos′ (y) = = = −√ = −√ , (9.55)
′
cos (x) −sen(x) 1 − [cos(x)] 2 1 − y2
para todo y ∈ (−1, 1), y = cos(x) e x ∈ (0, π). Em adição, aplicando o Teorema 9.9, chegamos
a
∫ y
π 1
arccos(y) = − √ dz, para todo y ∈ (−1, 1),
2 0 1 − z2
9.7. LEITURA COMPLEMENTAR: FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 417
i) Arcocosseno é derivável em (−1, 1), e sua derivada é dada pela seguinte igualdade:
1
arccos′ (y) = − √ , para todo y ∈ (−1, 1);
1 − y2
ii) Arcocosseno é decrescente em (−1, 1). Além disso, esta mesma função é estritamente
convexa em (−1, 0) e estritamente côncava em (0, 1);
Por conseguinte, podemos concluir que a função arcocosseno é decrescente e, além disso,
y
arccos′′ (y) = − √ , para todo y ∈ (−1, 1).
(1 − y 2 )3
e também
lim arccos(x) = inf{arccos(x) : x ∈ (−1, 1)} = inf (0, π) = 0.
x→1−
418 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
Por usar o Teorema 9.39 acima, encontramos o seguinte gráfico para a função arcocosseno.
Para finalizar este capı́tulo estabeleceremos uma observação que garante a existência
das funções inversas para as funções trigonométricas secante, cossecante e cotangente. Em
adição, acrescentamos os graficos destas mesmas aplicações.
Obs 9.15. Podemos cocluir, através dos Teoremas 9.36, 9.38, 9.21 e relação (9.17), que
sen : [−π/2, π/2] → [−1, 1], cos : [0, π] → [−1, 1] e tan : (−π/2, π/2) → R são funções
bijetoras. Portanto, as aplicações csc : [−π/2, 0) ∪ (0, π/2] → (−∞, −1] ∪ [1, ∞), sec :
[0, π/2) ∪ (π/2, π] → (−∞, −1] ∪ [1, ∞) e cot : (−π/2, 0) ∪ (0, π/2) → (−∞, 0) ∪ (0, ∞) são
também bijetoras. Portanto é possı́vel definir suas respectivas inversas.
Usando a observação acima e os Teoremas 9.33, 9.34, 9.35 concluı́mos que o gráfico
da função secante em [0, π/2) ∪ (π/2, π] pode ser descrito como na primeira figura abaixo.
Analogamente, através dos Teoremas 9.34 e 9.35, juntamente com a observação acima, os
gráficos das funções cossecante e cotangente estão determinados na segunda figura a seguir.
Por fim, utilizando o Lema 9.6, os dois primeiros gráficos abaixo, e os Teoremas 9.33, 9.34
e 9.35, podemos construir os gráficos das funções secante, cossecante e cotangente, definidas
em toda a reta (ver as figuras que seguem).
9.7. LEITURA COMPLEMENTAR: FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 419
9.8 Conclusão
Caro leitor, ao final desta aula, é relavante concluir que em muitos casos não é possı́vel,
manualmente, calcular uma integral. Porém, alguns resultados como, por exemplo, os que nos
dão condições suficientes para integrabilidade, nos garantem a existência de certas integrais,
mesmo que não informe o valor desta. Em Matemática este fato é, muitas vezes, a informação
mais importante que podemos inferir. Portanto, avaliar a existência da integral não deve
ser menosprezada. Mesmo por que não faz sentido calcular a integral de uma função não-
integrável.
9.9 Resumo
Exercı́cios:
3. Prove que se f, g : [a, b] → R são integráveis então são também integráveis as funções
φ, ψ : [a, b] → R, definidas por φ(x) = max{f (x), g(x)} e ψ(x) = min{f (x), g(x)}. Conclua
que as funções f+ , f− : [a, b] → R dadas por f+ (x) = 0 se f (x) ≤ 0, f+ (x) = f (x) se f (x) > 0;
9.11. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 423
4. Seja f : [a, b] → R∫ derivável com f ′ integrável. Prove que para quaisquer x, c ∈ [a, b],
x
tem-se f (x) = f (c) + f ′.
c
5. Dada f : [a, b] → R com derivada integrável, seja m = (a + b)/2. Prove que f (a) + f (b) =
∫ b
[2/(b − a)] [f (x) + (x − m)f ′ (x)].
a
Questões Resolvidas:
Ex1. Seja f : [a, b] → R uma função integrável, com f (x) ≥ 0, ∀ x ∈ [a, b]. Se f é contı́nua
∫ b
em c ∈ [a, b] e f (c) > 0, prove que f > 0.
a
Demonstração. Como f (c) > 0, então, pela demonstração do Teorema 6.4, existe δ > 0 tal
que para todo x ∈ (c − δ, c + δ), tem-se f (x) > f (c)/2 > 0. Consequentemente, para todo
x ∈ [c − δ/2, c + δ/2], tem-se f (x) > f (c)/2 > 0. Com isso, pelos Teoremas 9.6 e 9.5,
∫ b ∫ c−δ/2 ∫ c+δ/2 ∫ b ∫ c−δ/2 ∫ c+δ/2 ∫ b
f= f+ f+ f≥ f+ f (c)/2 + f
a a c−δ/2 c+δ/2 a c−δ/2 c+δ/2
∫ c−δ/2 ∫ b
= f + [c + δ/2 − (c − δ/2)]f (c)/2 + f
a c+δ/2
∫ c−δ/2 ∫ b ∫ c−δ/2 ∫ b
= f + δf (c)/2 + f> f+ f ≥ 0,
a c+δ/2 a c+δ/2
|f (x)| ≤ M, ∀ x ∈ [a, b]
para todos x, y ∈ [a, b]. Portanto, F é uma função Lipschitziana. Pela Proposição 6.2, F é
uniformemente contı́nua.
Prove que
φ′ (x) = f (β(x))β ′ (x) − f (α(x))α′ (x), ∀ x ∈ [a, b].
∫ β(x) ∫ β(x) ∫ c
φ(x) = f= f+ f = F (β(x)) + G(α(x)),
α(x) c α(x)
para todo x ∈ [a, b]. Com isso, pelo Teorema 7.3, obtemos
φ′ (x) = F ′ (β(x))β ′ (x) + G′ (α(x))α′ (x) = f (β(x))β ′ (x) − f (α(x))α′ (x), ∀ x ∈ [a, b].
9.11. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 425
Auto-Avaliação
Proxima Aula
Caro leitor, na próxima aula, estudaremos com mais precisão, através de Integral a
Riemann, as propriedades já conhecidas do ensino básico para o logaritmo Neperiano. Além
disso, aproveitaremos os conceitos que aprendemos até este momento para definir integração
imprópria.
426 CAPÍTULO 9. NONA AULA: INTEGRAL A RIEMANN DE FUNÇÕES REAIS
Referências Bibliográficas
[1] Alonso, M.; Finn, E. J., Fı́sica: Um Curso Universitário. Segunda Edição, São Paulo,
Edgard Blücher Ltda, 2009. 481p.
[2] Bartle, R. G.; Sherbert, D. R., Introdution to Real Analysis, Third Edition, New York,
JohnWiley and Sons,Inc., 2000. 399p.
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derna, 2006.
[4] Boyce, W. E.; DiPrima, R. C., Elementary Differential Equations and Boundary Value
Problems. Seventh Edition, New York, JohnWiley and Sons,Inc, 2001. 745p.
[6] Brauer, F.; Nohel, J. A., The Qualitative Theory of Ordinary Differential Equations.
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[7] Dragomir, S. S., Some Gronwall Type Inequalities and Applications. Monograph. Vic-
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[8] Ferreira, J., A Construção dos Números. Primeira Edição, Rio de Janeiro, SBM, 2010.
133p.
[9] Figueiredo, D., Análise I. Segunda Edição, Rio de Janeiro, LTC, 2008. 266p.
[10] Ghorpade, S. R.; Limaye, B. V., A Course in Calculus and Real Analysis. Springer,
2006.
[11] Guillemin, V.; Pollack, A., Differential Topology. First Edition, New Jersey, Prentice-
Hall, Inc., Englewood Cliffs, 1974. 227p.
427
428 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[12] King, A.C.; Billingham, J.; OTTO, S.R., Differential Equations. Linear, Nonlinear,
Ordinary, Partial. Cambridge University Press. New York, 2003.
[13] Lima, E. L., Análise Real. Funções de uma variável, vol.1. 8o . ed. Coleção Matemática
Universitária, Rio de Janeiro: IMPA, 2006.
[15] Lima, E. L., Curso de Análise, vol. 1, Décima Segunda Edição, Rio de Janeiro, IMPA,
2008. 431p.
[16] Melo, W., Existência de soluções clássicas para as Equações de Burgers e Navier-
Stokes. Dissertação de Mestrado. UFPE, 2007.
[17] Munkres, J. R., Topology. Second Edition, New Jersey, Prentice Hall, Inc., 2000. 552p.
[18] Nolt, J.; Rohatys, D.; Varzi, A., Theory and problems or logic. Second edition, New
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[19] Rudin, W., Principles of Mathematical Analysis. Third Edition, New York, McGraw-
Hill, Inc., 1976. 351p.
[20] Smoller, J., Shock Waves and Reaction-Diffusion Equations. 2nd ed., Springer-Verlag,
1994.
[21] Tveito, A.; Winther, R., Introduction to Partial Differential Equations. A Computa-
tional Approach. New York, 1961.
Professor Revisor
Meta
Objetivos
Ao final desta aula, o aluno deverá ser capaz de utilizar corretamente as propriedades
das funções logaritmo e exponencial, como também saber aplicar o Teste da Integral.
Pré-requisitos
429
430 CAPÍTULO 10. DÉCIMA AULA: LOGARITMO E INTEGRAÇÃO IMPRÓPRIA
10.1 Introdução
Nesta aula, apresentaremos uma definição da função logaritmo que envolve o conceito
de Integral a Riemann. Com esta, é possı́vel provarmos as principais propriedades já conhe-
cidas do ensino básico para tal aplicação, como, por exemplo, o resultado que afirma que o
logaritmo do produto é a soma dos logaritmos. Em particular, verificaremos a bijetividade
desta função, ou seja, mostraremos a existência da inversa para a aplicação logarı́tmica, a
qual chamamos função exponencial. A partir daı́, reexaminaremos as operações elementares,
vistas no cáculo elementar, para tal. Por fim, apresentaremos como integrar impropriamente
funções que posuem singularidades no intervalo contruı́do pelos limites de integração. Com
este novo conceito, acrescentaremos um novo teste para séries numéricas, este é chamado
Teste da Integral. Por fim, mostraremos uma outra maneira de definir Integral a Riemann,
através do conceito de conjunto de medida nula.
1/x Área
0 1 x
pois 0 < x < y < 1 (ver observações do Teorema 9.6 e Teorema 9.5). Além disso, se x > 1,
temos que ∫ x
1
ln x = > 0,
1 y
ii) Vamos provar que ln é crescente. Seja 0 < x < z, então, pelo Teorema 9.6, concluı́mos
que ∫ x ∫ x ∫ z ∫ z
1 1 1 1
ln x = < + = = ln z,
1 y 1 y x y 1 y
∫z
já que x 1/y > 0, ou seja, ln é crescente (ver Definição 5.5).
iii) Como a função y 7→ 1/y é contı́nua para y ∈ (0, ∞), e com o Teorema 9.9, obtemos
(∫ x )′
′ 1 1
ln x = = .
1 y x
isto é,
ln xz = ln x + ln z, ∀ x, z ∈ (0, ∞).
Além disso, usando o item anterior juntamente com indução matemática, concluı́mos
ln xn = n ln x, ∀ x ∈ (0, ∞), n ∈ N.
Portanto,
0 = ln 1 = ln xn x−n = ln xn + ln x−n = n ln x + ln x−n ,
ou seja,
ln x−n = −n ln x, ∀ n ∈ N, x ∈ (0, ∞).
Dessa forma,
ln xp = p ln x, ∀ p ∈ Z, x ∈ (0, ∞).
p ln x = ln xp = ln x(p/r)r = r ln xp/r = r ln xq .
Consequentemente,
ln xq = p/r ln x = q ln x, ∀ x ∈ (0, ∞).
10.2. LOGARITMO NEPERIANO E EXPONENCIAL 433
Deste modo,
ln(x/z) = ln(xz −1 ) = ln x + ln z −1 = ln x − ln z,
isto é,
ln(x/z) = ln x − ln z, ∀ x, z ∈ (0, ∞).
v) Como ln é derivável, então ln é contı́nua (ver Teorema 7.1). Dessa forma, usando o
Teorema 6.8, temos que ln(0, ∞) é um intervalo de R. Afirmamos que este intervalo é R.
Com efeito,
ln 2n = n ln 2 e ln 2−n = −n ln 2, ∀ n ∈ N.
Com isso, dado A > 0 existe N ∈ N tal que ln 2N > A (pois lim ln 2n = ∞). Mas, ln 1 = 0.
Como ln(0, ∞) é um intervalo, então existe a ∈ (0, ∞) tal que ln a = A, ou seja, A ∈ ln(0, ∞).
Analogamente, se B < 0, então B ∈ ln(0, ∞) (use lim ln 2−n = −∞). Consequentemente,
ln(0, ∞) = (−∞, ∞) = R. Isto nos diz que ln é uma função sobrejetiva.
Obs 10.1. É fácil ver que, através de indução finita, podemos inferir
Obs 10.2. Como lim ln 2n = ∞ e ln é crescente, então lim ln x = ∞. Com efeito, dado
x→∞
A > 0, existe N ∈ N tal que ln 2N > A. Assim sendo, para B = 2N > 0, tem-se que
ou seja, lim ln x = ∞. Analogamente, prova-se que lim ln x = −∞, desde que lim ln 2−n =
x→∞ x→0
−∞ e ln é crescente.
Obs 10.3. No Teorema 10.1, vimos que ln é crescente e sobrejetiva. Seja x ̸= z em (0, ∞).
Suponha que x < z, então ln x < ln z, pois ln é crescente. isto é, ln x ̸= ln z. Isto nos garante
que ln é injetiva. Por conseguinte, ln é uma função bijetiva.
Com isto podemos definir a função inversa de ln. Esta está estabelelcida na seguinte
434 CAPÍTULO 10. DÉCIMA AULA: LOGARITMO E INTEGRAÇÃO IMPRÓPRIA
definição.
ex
1
0 x
Vamos imediatamente listar algumas propriedades básicas satifeitas pela função expo-
nencial.
i) e0 = 1 e e1 = e;
iii) e′ (x) = ex , ∀ x ∈ R;
ex
iv) ex+y = ex ey , ex−y = ∀ x, y ∈ R;
ey
v) eqx = [ex ]q , para todo x ∈ R e q ∈ Q.
e0 = eln 1 = 1.
10.2. LOGARITMO NEPERIANO E EXPONENCIAL 435
Além disso,
1 = ln e1 = 1 · ln e = ln e,
ii) Como e é a inversa de ln, então e é uma bijeção. Sejam a, b ∈ R tais que a < b.
Como ln é sobrejetiva, então existem x, y ∈ (0, ∞) tais que
ln x = a e ln y = b.
1 1
e′ (x) = ′ −1 = ′ x = ex , ∀ x ∈ R.
ln (ln x) ln (e )
ln a = x e ln b = y.
Portanto,
ex ey = eln a eln b = ab = eln(ab) = eln a+ln b = ex+y ,
1 = e0 = ey+(−y) = ey e−y .
Consequentemente,
1
e−y = y
= [ey ]−1 . (10.1)
e
436 CAPÍTULO 10. DÉCIMA AULA: LOGARITMO E INTEGRAÇÃO IMPRÓPRIA
Além disso,
ex
ex−y = ex+(−y) = ex e−y = .
ey
x √ 1
en = n
ex = [ex ] n .
m [ x ]m 1 m
eqx = e n x = e n = {[ex ] n }m = [ex ] n = [ex ]q .
m
eqx = e− n x = e[ n (−x)] = [e−x ] n = [ex ]− n = [ex ]q .
m m m
en > n, ∀ n ∈ N e lim n = ∞,
10.2. LOGARITMO NEPERIANO E EXPONENCIAL 437
onde a desigualdade acima segue facilmente por um argumento de indução finita. Como e é
crescente, então lim ex = ∞. De fato, dado A > 0, existe N ∈ N tal que eN > A. Portanto,
x→∞
Por conseguinte,
1
lim ex = lim e−y = lim = 0.
x→−∞ y→∞ y→∞ ey
e(n) (x) = ex , ∀ x ∈ R, n ∈ N.
ln y − ln 1 ln y 1
1 = ln′ (1) = lim = lim = lim ln(x + 1) = lim ln(x + 1)1/x .
y→1 y−1 y→1 y − 1 x→0 x x→0
1/x
e = e1 = lim eln(x+1) = lim (x + 1)1/x .
x→0 x→0
( )z
1
e = lim 1 + .
z→∞ z
Em particular, ( )n
1
e = lim 1 + .
n
438 CAPÍTULO 10. DÉCIMA AULA: LOGARITMO E INTEGRAÇÃO IMPRÓPRIA
Exercı́cios de Fixação
1. ln(e/2) = 1 − ln 2.
2. Se x ≥ 0 e n ∈ N, mostre que
1 (−x)n
= 1 − x + x2 − ... + (−x)n−1 + .
x+1 1+x
Nesta seção, estabeleceremos definições para alguns tipos de integrais impróprias. Nosso
intuito é exemplificar tais conceitos e aplicá-los em outro teste para séries numéricas, o
denominado Teste da Integral. Como exemplo, verificaremos quando uma série, dita p-
harmônica, é convergente.
Definição 10.3 (Integral Imprópria). Seja f : (a, b] → R integrável em [a + ε, b], para todo
0 < ε < b − a. A integral imprópria é definida como sendo o seguinte limite
∫ b ∫ b
f = lim+ f.
a ε→0 a+ε
∫ b
Se o limite acima existir dizemos que f é convergente. Caso contrário, dizemos que esta
a
integral diverge.
10.3. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS DE FUNÇÕES REAIS 439
Área
0 a a+e b
1
f (x) = , ∀ x ∈ (0, 1].
xp
Observe que
∫ 1
x−1 , se p = 1;
∫ ∫ ∫
lim+
1 1
1 1 ε→0 ε
f = lim+ = lim x−p =
ε→0 xp ε→0+
∫
0 0+ε ε
1
lim x−p , se p ̸= 1.
+
ε→0 ε
lim − ln ε, se p = 1; ∞, se p ≥ 1;
ε→0+
= =
x1−p 1
1
lim , se p ̸= 1. , se p < 1.
ε→0+ 1 − p ε 1−p
∫1 ∫1
Dessa forma, se p ≥ 1, então 0
f diverge, e se p < 1, então 0
f converge.
∫ ∫ ∫ π/2 ∫ 1 ∫ 1
π/2
cos x π/2
cos x sen′ x 1 − 12
√ = lim √ = lim+ √ = lim+ √ = lim u
0 senx ε→0+ 0+ε senx ε→0 0+ε senx ε→0 senε u ε→0+ senε
√ √ √
= lim+ [2 1 − 2 senε] = 2 − 2 sen0 = 2.
ε→0
∫ π/2
cos x
Dessa forma, a integral imprópria √ é convergente.
0 senx
Definição 10.4 (Integral Imprópria). Seja f : [a, b) → R uma função integrável em [a, b−λ],
para todo 0 < λ < b − a, definimos a integral imprópria de f no intervalo [a, b) como sendo
o limite abaixo: ∫ ∫ b b−λ
f = lim+ f.
a λ→0 a
∫ b
Se este limite existe, dizemos que a integral f é convergente, caso contrário esta é chamada
a
divergente.
Além disso,
∫ ∫ ∫ √ √
6
1 6
1 3 √
u− 3 = lim+ [3 3 − 3 3 ε] = 3 3.
2 3 3
2 = lim+ 2 = lim+
3 (x − 3) 3 ε→0 3+ε (x − 3) 3 ε→0 ε ε→0
∫ 6 √ √
1 3 3
Dessa forma, a integral imprópria 2 = 3 2 + 3 3 é convergente.
1 (x − 3) 3
0 a A
Área
1
f (x) = , ∀ x ∈ (1, ∞).
xp
Observe que
∫ A
x−1 , se p = 1;
∫ ∫ ∫
lim
∞ A
1 A A→∞ 1
f = lim = lim x−p =
A→∞ xp A→∞
∫
1 1 1
A
lim x−p , se p ̸= 1.
A→∞ 1
lim ln A, se p = 1;
A→∞ ∞, se p ≤ 1;
=
[ 1−p ] =
1
A 1 p−1
, se p > 1.
lim − , se p ̸= 1.
A→∞ 1 − p 1−p
∫ ∞ ∫ ∞
Dessa forma, se p ≤ 1, então f diverge, se p > 1, então f converge.
1 1
∫ b
Se este limite existe dizemos que a integral f é convergente. Caso contrário, dizemos
−∞
∫ b
que f é divergente.
−∞
∫0
ou seja, −∞
e−x é divergente.
∫ 0 ∫ ∞ ∫ ∞
Se f ou f é divergente, dizemos que f é divergente.
−∞ 0 −∞
∫∞
Dessa forma, −∞
x é divergente.
Por fim, mostraremos um teste para verificar, sob algumas hipóteses, se uma série de
números reais é convergente.
Teorema 10.3 (Teste da Integral). Seja f : X → R, tal que [1, ∞) ⊆ X ⊆ R, f (x) > 0,
para todo x ∈ [1, ∞), e f é decrescente em [1, ∞). Então,
∫ ∞ ∑
f é convergente ⇔ f (n) é convergente .
1
ou seja, ∫ k+1
f (k + 1) ≤ f ≤ f (k).
k
Somando todas estas desigualdades, quando k varia no conjunto {1, 2, ..., n}, chegamos ao
seguinte resultado
∑
n n ∫
∑ k+1 ∫ 2 ∫ 3 ∫ n+1 ∑
n
f (k + 1) ≤ f= f+ f + ... + f≤ f (k).
k=1 k=1 k 1 2 n k=1
∑ ∑
n
Lembre que a n-ésima soma parcial da série f (n) é dada por sn = f (k) (ver Definição
k=1
3.2). Dessa forma, pelo Teorema 9.6, obtemos
∫ n+1
sn+1 − f (1) ≤ f ≤ sn ,
1
Consequentemente, ∫ ∫
n+1 ∞
sn+1 − f (1) ≤ f≤ f,
1 1
isto é, ∫ ∞
sn+1 ≤ f (1) + f, ∀ n ∈ N.
1
pois f > 0. Portanto, (sn ) é monótona e limitada. Pelo Teorema 2.4, (sn ) é convergente.
∑
Com a Definição 3.3, concluı́mos que f (n) é convergente.
∫ ∞
∑
⇐) Considere que f é divergente. Vamos provar que f (n) é divergente. Assim
1
sendo, com um abuso de notação,
∫ n+1
∞ = lim f ≤ lim sn .
1
∑ ∑
∫ ∞ lim sn = ∞, ou seja
Com isso, f (n) é divergente. Portanto, se f (n) é convergente,
então f é convergente.
1
∫ ∞ ∑ ∫ ∞
∑
Obs 10.7. O Teorema 10.3 não diz que f= f (n), se f ou f (n) é convergente.
1 1
Esta afirmação é falsa.
Obs 10.8. A função f descrita no Teste da integral não precisa ser decrescente em [1, ∞),
basta ser decrescente e positiva em [x, ∞), onde x ≥ 1 é uma constante real. Este fato é
devido a Proposição 2.1.
∑ 1
Exemplo 10.11 (Série p-harmônica). A série , onde p > 0, é chamada série p-
np
∑1
harmônica. No caso em que p = 1 denominamos a série n
de série harmônica. Vamos
mostrar que esta série é convergente quando p > 1 e é divergente se p ≤ 1. Usaremos o
Teorema 10.3 para isto. Seja f : [1, ∞) → R dada por
1
f (x) = , ∀ x ∈ [1, ∞).
xp
446 CAPÍTULO 10. DÉCIMA AULA: LOGARITMO E INTEGRAÇÃO IMPRÓPRIA
Olhe que
1
f (x) = > 0, ∀ x ∈ [1, ∞).
xp
1 1
Além disso, se 1 ≤ x < y então xp < y p . Com isso, f (x) = p
> p = f (y), isto é, f é
x y
decrescente em [1, ∞). Note que
∫ b
1
∫ ∫
lim , se p = 1;
∞
1 b
1 b→∞ 1 x
= lim =
xp b→∞ xp
1 1
1
lim [b−p+1 − 1], se p ̸= 1.
b→∞ −p + 1
lim [ln b − ln 1], se p = 1; ∞, se p ≤ 1.
b→∞
= ∞, se p < 1. =
−1
, se p > 1. 1 , se p > 1,
−p + 1 p−1
∫∞
ou seja, 1 x1p converge para 1/(p − 1) quando p > 1 e diverge se p ≤ 1. Pelo Teorema
∑ 1
10.3, np
é convergente se p > 1 e é divergente se p ≤ 1.
∑
Exemplo 10.12. Considere a série ∞ 1
n=2 n ln n . Vamos utilizar o Teorema 10.3 para mostrar
que tal série é divergente. Com efeito, defina f : [2, ∞) → R, pondo
1
f (x) = , ∀ x ∈ [2, ∞).
x ln x
Verifique que f (x) é decrescente. Assim sendo, pelo Teorema 9.10, concluı́mos que
∫ ∞ ∫ ∞
1 1
= = lim [ln b − ln(ln 2)] = ∞.
2 x ln x ln 2 u b→∞
∑∞ 1
Portanto, pelo Teorema 10.3, n=2 n ln n é divergente.
Exercı́cios de Fixação
1. Determine se cada integral é convergente ou divergente. Calcule aquelas que são diver-
gentes.
∫ ∞
1
a) ;
1 (3x + 1)2
10.4. LEITURA COMPLEMENTAR 447
∫ −1
1
b) √ ;
−∞ 2−ω
∫ ∞
x
c) ;
−∞ 1 + x2
∫ 3
1
d) .
−2 x4
∑
∞
n2
b) ;
n=3
en
∑ 3n + 2
c) .
n(n + 1)
Definição 10.9 (Medida Nula). Seja X ⊆ R. O conjunto X é dito ter medida nula, e
escrevemos m(X) = 0, se para todo ε > 0 existe uma coleção enumerável de intervalos
448 CAPÍTULO 10. DÉCIMA AULA: LOGARITMO E INTEGRAÇÃO IMPRÓPRIA
Exemplo 10.13 (Q tem Medida Nula). Seja X um conjunto enumerável. Assim, existe
uma bijeção entre N e X. Logo, X = {x1 , x2 , ..., xn , ...}. Dado ε > 0, seja
( ε ε )
Xn = xn − , x n + , ∀ n ∈ N.
2n+2 2n+2
Assim, (
ε ε ) ε
|Xn | = xn + − xn − = e X ⊆ ∪n∈N Xn .
2n+2 2n+2 2n+1
Além disso,
∑ ∑ ε ∑ 1 ε
|Xn | = = ε = < ε.
2n+1 2n+1 2
Portanto, m(X) = 0, isto é, todo conjunto enumerável tem medida nula. Como Q é enu-
merável, então m(Q) = 0.
Exemplo 10.14. Todo subconjunto de um conjunto de medida nula tem medida nula. Com
efeito, seja X um conjunto de medida nula e Y ⊆ X. Assim, dado ε > 0, existe uma coleção
enumerável de intervalos abertos e limitados (Xn )n∈N tal que
∑
X ⊆ ∪n∈N Xn e |Xn | < ε.
Exemplo 10.15. Seja (Yn )n∈N uma famı́lia de conjuntos de medida nula. Vamos mostrar
que m(Y ) = 0, onde Y = ∪n∈N Yn . De fato, dado ε > 0, existe (Xnj )j∈N coleção enumerável
de intervalos abertos e limitados tal que
∑
Yn ⊆ ∪j∈N Xnj e |Xnj | < ε/2n+1 .
j∈N
10.4. LEITURA COMPLEMENTAR 449
Deste modo,
∑∑ ∑
Y = ∪n∈N Yn ⊆ ∪n,j∈N Xnj e |Xnj | ≤ ε/2n+1 = ε/2 < ε,
n∈N j∈N n∈N
ou seja, m(Y ) = 0.
O teorema a seguir nos dá uma maneira equivalente de definirmos Integral a Riemann.
Df = {x ∈ [a, b] : f é descontı́nua em x}
Demonstração. ⇐) Suponhamos que m(Df ) = 0. Usando a Definição 10.9, temos que dado
ε > 0, existe uma coleção enumerável de intervalos abertos e limitados (Xn′ )n∈N tal que
∑
Df ⊆ ∪n∈N Xn′ e |Xn′ | < ε/2(Mf − mf ),
ver Definição 9.4. Para cada ponto x ∈ [a, b]\Df , temos que f é contı́nua em x. Logo,
existe δ1 > 0 tal que para todo y ∈ (x − δ1 , x + δ1 ) ∩ [a, b], tem-se |f (y) − f (x)| < 4(b−a)
ε
.
Consequentemente, chegamos a
ε ε ε
|f (c) − f (d)| ≤ |f (c) − f (x)| + |f (d) − f (x)| < + = ,
4(b − a) 4(b − a) 2(b − a)
para todo c, d ∈ (x − δ1 , x + δ1 ) ∩ [a, b]. Seja Xx′′ um intervalo aberto e limitado tal que
Xx′′ ⊆ (x − δ1 , x + δ1 ) ∩ [a, b]. Então, obtém-se
ver Teorema 4.12. Seja P : a = t0 < ... < tn = b uma partição de [a, b] tal que cada intervalo
(ti−1 , ti ) ⊆ Xn′ , para algum n = 1, 2..., r ou (ti−1 , ti ) ⊆ Xj′′ , para algum j = 1, 2, ..., s.
Podemos tomar P formada pelos pontos a, b mais os extremos dos intervalos Xn′ ou Xj′′ que
pertençam ao intervalo [a, b]. Denotaremos os intervalos [ti−1 , ti ] de P contidos em algum
Xn′ por In′ e os demais intervalos de P (que estão contidos em algum Xj′′ ) por Ij′′ . Assim,
∑ ∑
|In′ | ≤ |Xn′ | < ε/2(Mf − mf ) e ω(f ; Ij′′ ) ≤ ω(f ; Xj′′ ) ≤ ε/2(b − a).
Portanto,
∑
n ∑ ∑
ωi (ti − ti−1 ) = ω(f ; In′ )|In′ | + ω(f ; Ij′′ )|Ij′′ |
i=1
∑ ∑ (Mf − mf )ε ε(b − a)
≤ (Mf − mf ) |In′ | + ε/2(b − a) |Ij′′ | < + = ε.
2(Mf − mf ) 2(b − a)
Dm = {x ∈ [a, b] : ωx (f ) ≥ 1/m}, ∀ m ∈ N,
onde
(Ver Teorema 2.4). Logo Df = ∪m∈N Dm . Com efeito, considere que x ̸∈ ∪m∈N Dm , então
ωx (f ) < 1/m, ∀ m ∈ N.
para todo 0 < δ < 2η, tem-se ω(f ; (x − δ, x + δ) ∩ [a, b]) < ε.
10.4. LEITURA COMPLEMENTAR 451
Consequentemente,
Em particular, se c ∈ (x − η, x + η) ∩ [a, b], infere-se que |f (c) − f (x)| < ε, isto é, f é contı́nua
em x ∈ [a, b]. Com isso, x ̸∈ Df . Isto mostra a inclusão Df ⊆ ∪m∈N Dm . Reciprocamente, se
x ̸∈ Df , temos que f é contı́nua em x ∈ [a, b]. Deste modo, dado ε > 0, existe η > 0 tal que
|f (y) − f (z)| ≤ |f (y) − f (x)| + |f (z) − f (x)| < ε/4 + ε/4 = ε/2.
m(Dm ) = 0, ∀ m ∈ N.
Sejam m ∈ N e ε > 0. Como f é integrável, usando o Teorema 9.4, temos que existe uma
partição P : a = t0 < ... < tn = b de [a, b] tal que
∑
n
ε
ωi (ti − ti−1 ) < .
i=1
2m
Denote por I ′ os subintervalos de P tais que intI ′ ∩ Dm ̸= ∅ (os interiores dos outros
subintervalos estão contidos no complementar de Dm ). Com isso, ω(f ; I ′ ) ≥ ωx (f ) ≥ 1/m,
452 CAPÍTULO 10. DÉCIMA AULA: LOGARITMO E INTEGRAÇÃO IMPRÓPRIA
∑ ∑ ∑
n
ε
′ ′ ′
1/m |I | ≤ ω(f ; I )|I | ≤ ωi (ti − ti−1 ) < .
i=1
2m
∑ ′
Logo, |I | < ε/2. Como Dm ⊆ (∪ int I ′ ) ∪ X, onde X é o conjunto dos extremos dos
intervalos [ti−1 , ti ]. Note que, m(X) = 0 (ver Exemplo 10.13). Portanto, existe uma coleção
∑
de intervalos abertos e limitados (Jk )k∈N tais que X ⊆ ∪k∈N Jk e |Jk | < ε/2. Logo, Dm ⊆
′
∑ ′ ∑
(∪ int I ) ∪ (∪k∈N Jk ), com |I | + |Jk | < ε. Isto nos leva a conluir que m(Dm ) = 0.
Usando o Exemplo 10.15, chegamos a m(Df ) = 0.
Logo, pelo Exemplo 10.13, m(Df ) = m({0, 1, 2}) = 0. Através do Teorema 10.4, concluı́mos
que f é integrável.
Nesta última seção, através dos conceitos de logaritmo e exponencial expostos anterior-
mente, pretendemos apresentar e provar, de maneira clara, as propriedades das funções
logarı́tmica e exponencial em uma base qualquer.
ax = ex ln a , ∀ x ∈ R.
a0 = e0 ln a = e0 = 1 e a1 = e1·ln a = eln a = a.
10.4. LEITURA COMPLEMENTAR 453
Demonstração. Com efeito, considere que a > 1, então, ln a > 0 (ln é crescente). Assim,
dados x, y ∈ R tais que x > y, devemos provar que ax > ay .
Suponha, por absurdo, que ax ≤ ay . Pela Definição 10.10, podemos afirmar que ex ln a ≤
ey ln a . Como e é uma função crescente (ver Teorema 10.2), concluı́mos que x ln a ≤ y ln a.
Assim, x ≤ y (pois, ln a > 0), o que é uma contradição. Logo, a função exponencial na base
a é crescente para a > 1.
Agora assuma que 0 < a < 1. Deste modo ln a < 0 (ver Teorema 10.1). Assim,
ln a = −A, com A > 0. Sejam x, y ∈ R tais que x > y. Se ax ≥ ay , então, ex ln a ≥ ey ln a . Por
conseguinte, e−Ax ≥ e−Ay , ou seja, 1/eAx ≥ 1/eAy , ou equivalentemente, eAy ≥ eAx . Usando
o Teorema 10.2, chegamos a Ay ≥ Ax. Como A > 0, daı́, y ≥ x, o que é um absurdo. Por
fim, ax < ay . Isto no diz que ax é decrescente se 0 < a < 1.
Demonstração. A injetividade segue diretamente do fato que esta função é monótona cres-
cente ou decrescente. Vamos, agora, verificar a sobrejetividade. Dessa forma, dado y > 0,
ln y
tome x = ln y/ ln a, com a ̸= 1. Assim, ax = a ln a . Pela Definição 10.10, temos
ln y ln y
ax = a ln a = e ln a ln a = eln y = y.
Logo, para todo y > 0, existe x ∈ R tal que ax = y. Provando assim, a sobrejetividade da
função exponencial na base a.
Teorema 10.7. A função exponencial na base a é derivável e sua derivada é dada por ax ln a,
para todo x ∈ R.
454 CAPÍTULO 10. DÉCIMA AULA: LOGARITMO E INTEGRAÇÃO IMPRÓPRIA
[ax ]′ = ex ln a (ln a) = ax ln a, ∀ x ∈ R.
[ax ]′ = ax ln a, ∀ x ∈ R.
Obs 10.10. Diante desse resultado, vamos achar uma igualdade que descreva a n-ésima
derivada da função ax . Considere então, a derivada de segunda ordem
(ax )′′′ = (ax (ln a)2 )′ = (ln a)2 (ax )′ = ax (ln a)3 .
Assim, ax+y = ax ay .
ax
Teorema 10.9. Sejam x e y ∈ R e a > 0, com a ̸= 1. Então, ax−y = .
ay
ex ln a ax
ax−y = e(x−y)·ln a = e(x ln a−y ln a) = = .
ey ln a ay
10.4. LEITURA COMPLEMENTAR 455
ax
Com isso, ax−y = .
ay
1
Obs 10.11. Observe que a−x = , pois
ax
a0 1
a0−x = x
= x,
a a
com a > 0.
( a )x ax
Teorema 10.12. Sejam x ∈ R e a, b > 0, com a, b ̸= 1, então = .
b bx
Demonstração. Novamente através da Definição 10.10 e dos Teoremas 10.1 e 10.2, chegamos
a (a)
ax ex ln a x ln ( a )x
= = e x ln a − x ln b = ex(ln a − ln b) = e b = .
bx ex ln b b
Provaremos alguns limites envolvendo a função exponencial na base a para saber como
se caracteriza o gráfico dessa função.
Demonstração. i) Note que, se a > 1, então ln a > 0. Daı́, quando x → +∞, temos que
y → +∞, se y = x ln a. Consequentemente,
ii) Agora, se 0 < a < 1, então ln a < 0. Portanto, quando x → +∞, temos que y → −∞, se
y = x ln a. Assim,
lim ax = lim ex ln a = lim ey = 0,
x→+∞ x→+∞ y→−∞
Por outro lado, quando x → −∞, temos que y → +∞, se y = x ln a. Por conseguinte,
ax ax
1
1
0 x 0 x
Figura 10.5: Gráfico da exponencial nas bases 0 < a < 1 e a > 1, respectivamente
10.4. LEITURA COMPLEMENTAR 457
Vimos que a função exponencial na base a é bijetiva. Isto nos permite definir uma função
inversa a função exponencial. A essa função inversa denominamos função logarı́tmica na
base a. Ela será o objeto de estudo a partir deste momento.
Definição 10.11 (Logaritmo na Base a). Seja 1 ̸= a > 0. A função loga : R+ → R, que
associa um númeoro positivo x a um valor real denotado por loga x, é chamada logaritmo de
x na base a e é definida pela seguinte equivalência:
loga x = y ⇔ x = ay .
loga ax = y ⇔ ax = ay .
ax = ay ⇔ y = x.
Logo, loga ax = x. Além disso, segue diretamente da Definição 10.11 que z = aloga z .
É fácil ver que a função ln é uma função logarı́tmica com base a = e. Mas, qual a relação
existente entre ln x e loga x?
ln x
Teorema 10.15. Seja 1 ̸= a > 0. Então, vale a segunite relação: loga x = .
ln a
eln x = x = aloga x .
458 CAPÍTULO 10. DÉCIMA AULA: LOGARITMO E INTEGRAÇÃO IMPRÓPRIA
aloga x = eloga x · ln a .
Teorema 10.16. Seja 1 ̸= a > 0. A função loga é crescente, para a > 1 e é decrescente,
para 0 < a < 1.
Demonstração. Primeiramente considere que a > 1. Dados x, y ∈ R tais que x > y, devemos
mostrar que loga x > loga y. Pela Definição 10.11, podemos concluir que
Assim, para x > y, obtemos ab1 > ab2 . Como a função exponencial na base a é crescente,
para a > 1 (ver Teorema 10.5), podemos afirmar que b1 > b2 . Logo, loga x > loga y. Daı́, a
função logaritmo na base a é crescente, para a > 1.
Agora assuma que 0 < a < 1. Sejam x, y ∈ R tais que x > y, devemos provar que
loga x < loga y. Novamente, pela Definição 10.11, inferimos
Assim, com x > y, chegamos a ab1 > ab2 . Como a função exponencial na base a é decrescente,
para 0 < a < 1 (ver Teorema 10.5), podemos afirmar que b1 < b2 . Deste modo, loga x <
loga y. Portanto, a função logaritmo na base a é decrescente, para 0 < a < 1.
Obs 10.13. Como a função loga foi definida como a inversa da função ax chegamos a
conclusão que a função logarı́tmica na base a é bijetiva. Assim, para 1 ̸= a > 0 e x, y ∈ R,
temos que
x = y ⇔ loga x = loga y.
Além disso, para qualquer b ∈ R, existe um único x > 0 tal que loga x = b.
Teorema 10.17. Seja 1 ̸= a > 0. A função logarı́tmica na base a é derivável e sua derivada,
1
em cada x > 0, é dada por log′a x = .
x · ln a
Demonstração. Para provar que a função loga é derivável vamos utilizar a relação existente
entre o logaritmo na base a e o logaritmo Neperiano. Assim sendo,
1 1
log′a x = ln′ x = .
ln a x · ln a
1
Logo, a função loga é derivável e sua derivada em x > 0 é dada por log′a x = .
x · ln a
1
Agora, sabendo que a função loga é derivável com sua derivada dada por log′a x = .
x · ln a
Vamos calcular a n-ésima derivada da função loga . Por indução finita, temos que
( )(n)
ln x 1 (−1)n−1 · (n − 1)!
log(n) x= = ln(n) x = , ∀ n ∈ N.
a
ln a ln a xn · ln a
Exibiremos, agora, algumas operações elementares da função loga . Entre elas estão a
transformação do produto em soma, e da divisão em subtração.
Teorema 10.18. Seja 1 ̸= a > 0. Considere também os números reais positivos x e y, então
Demonstração. Considerando a relação existente entre loga e ln, podemos afirmar que
ln(xy)
loga (xy) =
ln a
ln(xy) ln x + ln y ln x ln y
loga (xy) = = = + = loga x + loga y.
ln a ln a ln a ln a
Teorema 10.19. Seja 1 ̸= a > 0. Considere também os números reais positivos x e y, então
Demonstração. Considerando a relação existente entre loga e ln, podemos afirmar que
ln(x/y)
loga (x/y) =
ln a
ln(x/y) ln x − ln y ln x ln y
loga (x/y) = = = − = loga x − loga y.
ln a ln a ln a ln a
ln(xq ) q ln x ln x
loga (xq ) = = =q = q loga x,
ln a ln a ln a
ln x
logb x ln x ln b ln x
= ln b = = = loga x.
logb a ln a ln b ln a ln a
ln b
logb b 1
loga b = = ,
logb a logb a
10.4. LEITURA COMPLEMENTAR 461
Vejamos, agora, alguns limites que nos auxiliarão na construção do gráfico da função
logarı́tmica na base a.
ln x ln x
lim loga x = lim e lim loga x = lim .
x→+∞ x→+∞ ln a x→0 x→0 ln a
loga x
loga x
0 1 x
0 1 x
Figura 10.6: Gráfico do Logaritmo nas bases 0 < a < 1 e a > 1, respectivamente
10.5 Conclusão
Caro leitor, ao final desta última aula, é importante ressaltar a aplicabilidade da inte-
gração a Riemann. Como, por exemplo, vimos, através da definição da função logaritmo,
que é possı́vel, de uma maneira mais elegante, provar afirmações estudadas no ensino básico.
10.6 Resumo
Nesta aula, mostramos como trabalhar, utilizando integração a Riemann, com o loga-
ritmo. Além disso, estendemos nossos conceitos de integrais, criando uma nova categoria de
integrabilidade, as integrais impróprias. Por fim, através destas, mostramos como utilizar
um novo teste de convergência para séries de números reais, o Teste da Integral.
Exercı́cios:
10.8. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 463
f (b) − f (a)
2. Uma função f : I → R é dita convexa se f (x) ≤ f (b) + (x − b), para x ∈ (a, b)
b−a
e a, b ∈ I. Uma função g : I → R diz-se côncava se −g é uma função convexa. Encontre
exemplos de funções convexas e côncavas.
ln x xn
4. Prove que lim = 0. Conclua que lim x ln x = 0 e lim x = 0, ∀ n ∈ N.
x→∞ x x→0 x→∞ e
∫ 1 ∫ ∞ ∫ ∞
1 1 x
5. Verifique a convergência ou divergência das integrais √ , √ , ,
−1
3
x (1 + x) x −∞ 1 − ex
∫ 3 0
1
2
.
−3 x
∑
∞
6. Mostre que se r > 1 a série 1/n(ln n)r converge.
n=2
Questões Resolvidas:
( x )n
Ex1. Prove que, lim 1+ = ex , ∀ x ∈ R.
n→∞ n
Demonstração. Faça
yn = x/n, ∀ n ∈ N.
para cada x ∈ R.
464 CAPÍTULO 10. DÉCIMA AULA: LOGARITMO E INTEGRAÇÃO IMPRÓPRIA
∫ 1
1
Ex2. Verifique a convergência ou divergência da integral .
0 1 − cos x
Consequentemente,
Com isso,
1 1
≥ , ∀ x ∈ (0, 1].
1 − cos x x
Dessa forma, dado ε > 0, temos que
∫ 1 ∫ 1
1 1
≥ = − ln ε,
ε 1 − cos x ε x
Auto-Avaliação
Proxima Aula
Caro leitor, espero que você tenha encontrado estı́mulo e divertimento no nosso material.
Além disso, recomendo aos alunos mais curiosos sobre o prosseguimento deste texto, o estudo
10.8. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 465
do curso Cálculo Avançado. Neste, são vistas generalizações de vários conteúdos abordados
aqui.
466 CAPÍTULO 10. DÉCIMA AULA: LOGARITMO E INTEGRAÇÃO IMPRÓPRIA
Referências Bibliográficas
[1] Alonso, M.; Finn, E. J., Fı́sica: Um Curso Universitário. Segunda Edição, São Paulo,
Edgard Blücher Ltda, 2009. 481p.
[2] Bartle, R. G.; Sherbert, D. R., Introdution to Real Analysis, Third Edition, New York,
JohnWiley and Sons,Inc., 2000. 399p.
[3] Boyce, W. E.; DiPrima, R. C., Elementary Differential Equations and Boundary Value
Problems. Seventh Edition, New York, JohnWiley and Sons,Inc, 2001. 745p.
[5] Brauer, F.; Nohel, J. A., The Qualitative Theory of Ordinary Differential Equations.
University of Wisconsin, 1989.
[6] Dragomir, S. S., Some Gronwall Type Inequalities and Applications. Monograph. Vic-
toria University of Technology, 2002.
[7] Ferreira, J., A Construção dos Números. Primeira Edição, Rio de Janeiro, SBM, 2010.
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[8] Figueiredo, D., Análise I. Segunda Edição, Rio de Janeiro, LTC, 2008. 266p.
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Hall, Inc., Englewood Cliffs, 1974. 227p.
[10] King, A.C.; Billingham, J.; OTTO, S.R., Differential Equations. Linear, Nonlinear,
Ordinary, Partial. Cambridge University Press. New York, 2003.
[11] Lima, E. L., Análise Real. Funções de uma variável, vol.1. 8o . ed. Coleção Matemática
Universitária, Rio de Janeiro: IMPA, 2006.
467
468 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[13] Lima, E. L., Curso de Análise, vol. 1, Décima Segunda Edição, Rio de Janeiro, IMPA,
2008. 431p.
[14] Melo, W., Existência de soluções clássicas para as Equações de Burgers e Navier-
Stokes. Dissertação de Mestrado. UFPE, 2007.
[15] Munkres, J. R., Topology. Second Edition, New Jersey, Prentice Hall, Inc., 2000. 552p.
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[17] Rudin, W., Principles of Mathematical Analysis. Third Edition, New York, McGraw-
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[18] Smoller, J., Shock Waves and Reaction-Diffusion Equations. 2nd ed., Springer-Verlag,
1994.
[19] Tveito, A.; Winther, R., Introduction to Partial Differential Equations. A Computa-
tional Approach. New York, 1961.
Professor Revisor
Apêndice
Nesta seção, daremos ênfase a contrução dos números naturais através dos famosos
Axiomas de Peano.
469
470 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
intuitivas sobre o conjunto dos números naturais. Em ordem a entendermos por completo
o enunciado deste axioma, dado logo abaixo, precisamos de alguns conceitos matemáticos
básicos como, por exemplo, os de conjuntos e funções.
A1) s é injetiva2 ;
i) 0 ∈ X;
ii) k ∈ X ⇒ s(k) ∈ X.
Então, X = N.
A aplicação s considerada no Axioma 11.1 tem sua origem na palavra sucessor. Mais
precisamente, temos a seguinte definição.
Definição 11.1. A função s, dada acima, é denominada função (ou aplicação) sucessor.
Além disso, chamamos s(x) ∈ Im(s) ⊂ N sucessor de x, onde x ∈ N.
É importante ressaltar que, o axioma A3) acima dado é conhecido na literatura como o
Princı́pio da Indução Finita (ou Princı́pio da Indução Matemática, ou simplesmente Princı́pio
da Indução). Além disso, A2), estabelecido acima, garante que N ̸= ∅ (pois 0 ∈ N) e também
que s(0) ̸= 0 (desde que 0 ∈ / Im(s) e s(0) ∈ Im(s)). Portanto, N contém, pelo menos, os
elementos distintos 0 e s(0). Consequentemente, como s é injetora (ver A1)), obtemos que
s(0) ̸= s(s(0)). Este fato acrescenta mais um elemento em N, s(s(0)), o qual é diferente de
0 (através da simples justificativa: 0 ∈ / Im(s) e s(s(0)) ∈ Im(s)).
Seguindo o processo acima, tomando sucessores de forma iterada, parece que cada ele-
mento encontrado é diferente de todos aqueles anteriormente obtidos. Devido a esse fato,
somos levados a considerar que N é um conjunto infinito (esta afirmação ficará mais clara
ao decorrer deste capı́tulo). A partir disto, podemos definir quando um conjunto qualquer é
infinito da seguinte forma:
2
Uma função f : A → B é chamada injetiva se f (x) = f (y), com x, y ∈ A, implicar x = y.
11.1. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS NATURAIS 471
Definição 11.2. Um conjunto X é denominado infinito quando existe uma função injetora
f : N → X. Caso contrário, X é chamado finito.
Note que a Definição 11.2 nos garante que um conjunto infinito X está em bijeção3 com
f (N) ⊂ X. Reciprocamente, se existir uma bijeção f : N → Y , onde Y ⊂ X, então X é
infinito (basta compor f com a inclusão i : Y ,→ X, dada por i(y) = y para todo y ∈ Y ).
Teorema 11.1. Seja s : N → N a função sucessor. Então, são válidos os seguintes itens:
i) Nenhum número natural é sucessor de si próprio, isto é, s(n) ̸= n para todo n ∈ N;
ii) Im(s) = N∗ .
Demonstração. Primeiramente vamos provar o item i). Para este fim, seja
X = {n ∈ N/s(n) ̸= n} ⊆ N.
Agora, vamos utilizar o Princı́pio de Indução para mostrar que X = N. Assim sendo, é fácil
ver que 0 ∈ X, pois s(0) ̸= 0 (já que 0 ∈/ Im(s)). Resta somente, então, verificarmos que
vale a seguinte implicação:
k ∈ X ⇒ s(k) ∈ X.
Nesta subseção, estudaremos duas operações sobre o conjunto dos números naturais, as
quais serão chamadas adição (+ : N × N → N) e multiplicação (· : N × N → N).
Nesta subseção, formalizaremos o que significa adicionar números naturais; além disso,
provaremos algumas propriedades elementares envolvendo tal adição. Mais precisamente,
definimos adição da seguinte forma.
Obs 11.1. É importante ressaltar que, por definição, 0 é o elemento neutro4 para a adição
do naturais.
O resultado a seguir nos mostra como garantir que a adição, do maneira que está esta-
belecida acima, está bem definida.
Proposição 11.1. A adição entre números naturais está bem definida, ou seja, m + n ∈ N
para todo m, n ∈ N.
Xm = {n ∈ N/m + n ∈ N}.
4
Um elemento 0 de um conjunto A, com uma operação de adição estabelecida, é chamado de elemento
neutro da adição se a + 0 = a, para todo a ∈ A.
11.1. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS NATURAIS 473
Segue diretamente de (11.1) que 0 ∈ Xm (pois m+0 = m ∈ N). Por outro lado, considere que
k ∈ Xm ; então, m + k ∈ N. Por conseguinte, s(k) ∈ Xm desde que m + s(k) = s(m + k) ∈ N
(ver (11.1)). Por fim, aplicando o Princı́pio de Indução, obtemos Xm = N. Isto completa a
prova da proposição em questão.
Definição 11.4. Denotaremos por 1, lê-se “um”, o número natural que é sucessor de 0, isto
é, 1 = s(0). Também definimos, 2 = s(1) (lê-se dois), 3 = s(2) (lê-se três), s(3) = 4 (lê-se
quatro), e assim por diante.
Usando a notação da Definição 11.4, podemos escrever o conjunto dos números naturais
de maneira usual.
Note que a Definição 11.3 estabelece a forma de adicionar números naturais conhecida
na literatura elementar. Com efeito,
i) 1 + 1 = 1 + s(0) = s(1) = 2;
f 0 = IdX e f s(n) = f ◦ f n ,
Xm = {n ∈ N/m + n = sn (m)}.
Em ordem a provar que X = N, vamos aplicar indução sobre n. É fácil ver que 0 ∈ Xm , pois
onde na segunda igualdade acima usamos a hipótese de indução. Logo, s (n) ∈ Xm . Assim,
pelo Princı́pio da Indução , Xm = N. Isto conclui a prova da proposição em questão.
Vejamos alguns exemplos de como aplicar a definição de soma dada na Proposição 11.2.
Ainda precisamos provar a propriedade associativa5 (ver Teorema 11.3 abaixo) para ga-
rantir que a comutatividade entre números naturais, com relação à adição, é válida.
m + (n + 0) := m + n = (m + n) + 0,
ver (11.1). Mostraremos agora que o fato de k ∈ Xm,n acarreta que s(k) ∈ Xm,n . Com efeito,
seja k ∈ Xm,n . Então, m + (n + k) = (m + n) + k. Por conseguinte, através do uso de (11.1),
encontramos
m + (n + s (k)) := m + s (n + k)
:= s (m + (n + k))
= s ((m + n) + k)
= (m + n) + s (k) .
Agora, vamos provar que a adição entre números naturais é comutativa. Começaremos
mostrando, através de uma caracterização bem conhecida de um sucessor, que qualquer
número natural comuta com 1.
Lema 11.1. Seja m ∈ N. Então, s(m) = m+1 e s(m) = 1+m. Em particular, m+1 = 1+m.
m + 1 = s(m) = 1 + m, ∀m ∈ N.
Agora, estamos prontos para provar a comutatividade6 , com relação à adição, entre dois
números naturais.
Xm = {n ∈ N/n + m = m + n}.
X = {m ∈ N/m = 0 + m}.
Provaremos que X = N. É fácil ver que 0 ∈ X, pois 0 = 0 + 0 (ver (11.1)). Agora suponha
que m ∈ X. Logo, m = 0 + m. Por conseguinte, inferimos
Agora estamos aptos a provar que Xm = N. Vimos acima que 0 ∈ Xm . Por outro lado,
6
A igualdade exposta no Teorema 11.4 nos diz que a adição é comutativa.
11.1. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS NATURAIS 477
m + s (n) =: s (m + n) = (m + n) + 1
= 1 + (m + n) = 1 + (n + m)
= (1 + n) + m = (n + 1) + m
:= s (n) + m.
O resultado a seguir nos mostra que a lei de cancelamento para a adição7 , definida sobre
o conjunto dos números naturais, é válida.
Apliquemos indução sobre p para mostrar que Xm,n = N. É fácil ver que se m + 0 = n + 0,
então, por (11.1), temos que
m = m + 0 = n + 0 = n.
m + s (p) = n + s (p) .
Deste modo,
s (m + p) = s (n + p) .
Proposição 11.3. Suponha que exista u ∈ N tal que m + u = m (ou u + m = m) para todo
m ∈ N. Então, u = 0.
0 = 0 + u =: u,
m · n = mn, ∀m, n ∈ N.
Exemplo 11.2. É fácil ver que:
1. 1 · 1 = 1 · (0 + 1) = 1 · 0 + 1 = 0 + 1 = 1;
2. 1 · 2 = 1 · (1 + 1) = 1 · 1 + 1 = 1 + 1 = 2.
Proposição 11.4. A multiplicação está bem definida, isto é, m · n ∈ N para todo m, n ∈ N.
Xm = {n ∈ N/m · n ∈ N}.
m · s(n) = m · (n + 1) := m · n + m ∈ N,
n · 1 = n · (0 + 1) = n · 0 + n = 0 + n = n.
X = {n ∈ N/1 · n = n}.
1 · (n + 1) = 1 · n + 1 = n + 1.
O corolário a seguir nos mostra que o elemento neutro da multiplicação, assim como o
da adição, entre números naturais é único.
1 = 1 · p = p,
8
Um elemento 1 de um conjunto A, com uma operação de multiplicação definida, é chamado de elemento
neutro se a · 1 = 1 · a = a, para todo a ∈ A.
480 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Usando as definições dadas em (11.1) e (11.2), vamos mostrar uma propriedade envol-
vendo números naturais conhecida como distributividade9 .
Vamos provar que Xm,n = N por indução sobre p. Primeiramente, é fácil checar que
m(n + 0) := mn =: mn + 0 =: mn + n0,
por (11.1) e (11.2). Logo, m(n + 0) = mn + m0. Assim, 0 ∈ Xm,n . Mostraremos que
se p ∈ Xm,n acarreta que p + 1 ∈ Xm,n . Com efeito, assumindo que p ∈ Xm,n (isto é,
m(n + p) = mn + mp), chegamos a
onde aplicamos o Lema 11.1, o Teorema 11.3 e (11.2). Deste modo, s(p) ∈ Xm,n . Com isso,
concluı́mos, pelo Princı́pio da Indução, que Xm,n = N. Isto prova que a primeira igualdade
exposta no Teorema em questão.
(m + n)0 = 0 = 0 + 0 = m0 + n0.
9
A igualdade dada no Teorema 11.8 nos diz que a propriedade distributiva é válida.
11.1. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS NATURAIS 481
Mostraremos que Xm,n = N, por indução. Inicialmente, é fácil ver que 0 ∈ Xm,n , pois
m(n0) = m0 = 0 = (mn)0.
onde aplicamos o Lema 11.1 e (11.2). Deste modo, s(p) ∈ Xm,n . Portanto, pelo Princı́pio da
Indução, Xm,n = N. O teorema em questão segue.
Agora, vamos provar que o conjunto dos números naturais não possui divisores de zero11 .
Para este fim, demonstraremos inicialmente o seguinte resultado:
10
A igualdade dada no Teorema 11.9 nos diz que a associatividade para a multiplicação é válida.
Um conjunto A, com uma multiplicação estabelecida, é dito não conter divisores de zero se x · y = 0,
11
com x, y ∈ A, implicar x = 0 ou y = 0.
482 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
pelos Teorema 11.1 e Lema 11.1. Consequentemente, pelo Teorema 11.3, chegamos a
0 = m + n = m + (n′ + 1) = (m + n′ ) + 1 = s(m + n′ ),
pelo Lema 11.1 novamente. Isto é um absurdo, pois zero não é sucessor de nenhum número
(ver Teorema 11.1). Logo, n = 0. Dessa forma, concluı́mos
0 = m + n = m + 0 = m.
Vejamos agora como utilizar o Lema 11.2 para provar que só existe uma maneira para que
a multiplicação entre dois números naturais resulte em 0: pelo menos um deste elementos
tem que ser 0.
Teorema 11.10. Sejam m, n ∈ N. Então, N não possui divisores de zero, isto é, m · n =
0 ⇒ m = 0 ou n = 0.
0 = mn = m(k + 1) = mk + m,
Para finalizar esta subseção, mostraremos que a multiplicação entre números naturais,
assim como a adição, é uma operação comutativa12 . Este fato está verificado no teorema a
12
A igualdade dada no Teorema 11.11 nos diz que a propriedade comutativa para a multiplicação é válida.
11.1. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS NATURAIS 483
seguir.
0s(m) = 0(m + 1) = 0m + 0 = 0 + 0 = 0,
Xm = {n ∈ N/m · n = n · m}.
Nesta seção, faremos um estudo, envolvendo números naturais, que nos proporcionará
comparar os números naturais com a bem conhecida ideia elementar quando um elemento é
menor (ou maior) que o outro; formalizando, assim, a ideia intuitiva de que 0 é menor que
1, 1 é menor do que 2, e assim por diante. Por fim, mostraremos como definir potências de
números naturais.
Definição 11.6. Seja X um conjunto não vazio. Dizemos que uma relação binária R é
uma relação de ordem em X quando esta satisfizer as condições seguintes, para quaisquer
x, y, z ∈ X:
484 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
i) [Reflexividade]: xRx;
O par (X, R) é chamado um conjunto ordenado. Quando não houver possibilidade de con-
fusão com a relação de ordem R, diremos que X é um conjunto ordenado.
m = n + q = (m + p) + q = m + (p + q).
r = (m + p′ ) + q = m + (p′ + q ′ ).
Obs 11.3. É fato que se n < m, com n, m ∈ N, então existe p ∈ N tal que m = n + p
e n ̸= m. Como p ̸= 0 (caso contrário, terı́amos n = m), então m = n + p, onde p ∈ N∗ .
Reciprocamente, se m = n + p com p ∈ N∗ , tem-se que n ≤ m e p ̸= 0. Se n = m, terı́amos
n = n + p. Pela lei do cancelamento, encontrarı́amos p = 0 (um absurdo). Dessa forma,
resumindo, podemos caracterizar a relação < da seguinte forma:
n < m ⇔ m = n + p, com p ∈ N∗ .
O exemplo anterior nos informa que 1 > 0. Na verdade, qualquer número natural dife-
rente de 0 é maior do que 0. Mais precisamente, apresentamos a seguinte proposição.
Demonstração. Suponhamos, por absurdo, que n < 0. Então, pela Definição 11.7, existe
p ∈ N tal que 0 = n + p. Assim sendo, aplicando o Lema 11.2, obtemos que n = 0. Isto é
uma contradição, pois n ∈ N∗ . Portanto, n > 0.
Agora, estamos aptos a provar que o sucessor de qualquer número natural é estritamente
maior do que ele próprio.
Obs 11.4. Poderı́amos estabelecer uma prova da proposição acima usando indução. De fato,
considere o conjunto
X = {n ∈ N/s(n) > n}.
Note que 0 ∈ X, pois s(0) = 1 > 0. Agora, se assumirmos que n ∈ X (s(n) > n), obtemos
s(n + 1) = (n + 1) + 1 = s(n) + 1.
Como s(n) > n, temos que existe p ∈ N tal que s(n) = n + p. Dessa forma, pela associativi-
dade, chegamos a
s(n) + 1 = (n + p) + 1 = n + (p + 1) = n + (1 + p) = (n + 1) + p.
Portanto, s(n + 1) > n + 1. Deste modo, s(n) ∈ X. Por fim, pelo Princı́pio da Indução,
X = N.
O resultado a seguir nos mostra que é sempre possı́vel comparar dois números naturais
através da Definição 11.7. Mais precisamente, temos o seguinte teorema.
Teorema 11.12 (Lei da Tricotomia). Sejam m, n ∈ N. Então, somente uma das relações
abaixo ocorre:
i) m < n;
ii) m = n;
iii) m > n.
Agora, suponhamos que i) e iii) ocorrem ao mesmo tempo. Dessa forma, terı́amos
n = m + p e m = n + q, p, q ∈ N∗ .
Consequentemente,
11.1. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS NATURAIS 487
n = m + p = (n + q) + p = n + (q + p).
Mostraremos agora que uma as três relações acontece. Sendo assim, primeiramente, fixe
m ∈ N e considere o conjunto
Vamos provar por indução sobre n, que Xm = N. É fácil checar que 0 ∈ Xm , pois, pela
Proposição 11.5, 0 = m ou m > 0. Assuma que k ∈ Xm (k = m ou k > m ou k < m).
Assim, devemos considerar três situações:
1a ) k = m.
2a ) k > m.
k + 1 = (m + p) + 1 = m + (p + 1).
3a ) k < m.
Neste caso, existe p ∈ N∗ tal que m = k + p. Daı́, como p = s(j) = j + 1, para algum
j ∈ N, tem-se que
m = k + p = k + (j + 1) = k + (1 + j) = (k + 1) + j.
Proposição 11.7. A relação <, definida em N não é uma relação de ordem; porém, esta é
transitiva e antissimétrica.
Demonstração. Suponhamos que < é reflexiva. Então, terı́amos n < n, para todo n ∈ N.
Isto é uma contradição, já que n = n (ver Teorema 11.12).
Mostraremos que < é transitiva. De fato, se m < n e n < p, então existem q, r ∈ N∗ tais
que n = m + q e p = n + r. Segue que,
p = n + r = (m + q) + r = m + (q + r),
onde q + r ̸= 0; caso contrário, q = r = 0 (ver Lema 11.2). Logo, m < p. Isto nos informa
que < é transitiva.
Por fim, por vacuidade, se m ̸= n então m < n ou n < m, pela tricotomia. Isto nos diz
que a antissimetria é satisfeita por <.
É importante notar que, a proposição anterior pode ser reformulada com a relação > no
lugar de < .
Agora vamos estabelecer um resultado que apresenta de que maneira podemos utilizar a
relação de ordem ≤ juntamente com as operações de adição e multiplicação entre números
naturais.
i) n ≤ m ⇔ n + p ≤ m + p;
m + p = (n + p′ ) + p = n + (p′ + p) = n + (p + p′ ) = (n + p) + p′ .
11.1. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS NATURAIS 489
De onde, obtemos n + p ≤ m + p.
(⇐) Reciprocamente, considere que n + p ≤ m + p. Então, m + p = (n + p) + d para
algum d ∈ N. Daı́,
m + p = (n + p) + d = n + (p + d) = n + (d + p) = (n + d) + p.
ii) (⇒) Assuma que n ≤ m, então existe q ∈ N tal que m = n + q. Multiplicando ambos os
lados da igualdade por p, obtemos
mp = (n + q)p = np + qp.
Portanto, np ≤ mp.
(⇐) Pela lei da tricotomia, se n m então n > m. Logo, n = m + d, para algum
d ∈ N∗ . Multiplicando ambos os lados da igualdade por p ∈ N∗ , obtemos
np = (m + d)p = mp + dp.
Obs 11.5. A reformulação do teorema acima para a relação ≥ segue passos análogos aos da
prova estabelecida acima.
Vejamos como reescrever o teorema acima substituindo a relação de ordem ≤ por <.
i) n < m ⇔ n + p < m + p;
m + p = (n + p′ ) + p = n + (p′ + p) = n + (p + p′ ) = (n + p) + p′ .
490 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
m + p = (n + p) + d = n + (p + d) = n + (d + p) = (n + d) + p.
ii) (⇒) Se n < m então existe q ∈ N∗ tal que m = n + q. Multiplicando ambos os lados
desta igualdade, por p, obtemos
mp = (n + q)p = np + qp.
Obs 11.6. A demostração da proposição anterior para a relação > é análoga a que fizemos.
Demonstração. Suponha, por absurdo, que n ̸= m. Então, pela tricotomia, temos que n < m
ou m < n. Assim sendo, se n < m, terı́amos np < mp (ver Proposição 11.8). Por outro lado,
se m < n, terı́amos mp < np (ver Proposição 11.8). Isto prova o teorema em questão.
O resultado a seguir tem como uma de suas aplicações a prova de que o único elemento
inversı́vel de N é 1.
m = n + p = n + (c + 1) = n + (1 + c) = (n + 1) + c.
Consequentemente, chegamos a n + 1 ≤ m.
(⇐) Se n + 1 ≤ m, então
n < s(n) = n + 1 ≤ m.
O resultado abaixo nos mostra que o único número natural que possui inverso multiplica-
tivo14 é 1, o qual é dado pelo próprio 1. Mais especificamente, temos a seguinte proposição.
m = 1m = nm = 1.
Agora, vamos mostrar que a soma de dois números naturais resulta em 1 se, e somente
se, um deles é 0 e o outro é 1.
1 = n + m = (a + 1) + m = (1 + a) + m = 1 + (a + m).
Já sabemos que 0 + 2 = 2 + 0 = 2. Vamos mostrar agora que a única outra maneira de
somarmos dois naturais resultando em 2 é somando 1 a ele próprio.
2 = n + m = (a + 1) + (b + 1) = (a + 1) + (1 + b) = (a + 2) + b = (2 + a) + b = 2 + (a + b).
Assim, pela lei do cancelamento, encontramos a + b = 0. Logo, pela Proposição 11.2, temos
que a = b = 0. Portanto, n = 0 + 1 = 1 e m = 0 + 1 = 1.
A seguir, provaremos que a multiplicação entre dois números naturais não nulos é maior
do que ou igual a qualquer um de seus fatores.
i) a ∈ X
11.1. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS NATURAIS 493
ii) n ∈ X ⇒ n + 1 ∈ X.
Então, {a + m/m ∈ N} ⊂ X.
Y = {m ∈ N/a + m ∈ X}.
Demonstração. Seja X = {n ∈ N∗ /sn (0) ̸= sk (0), ∀k < n}. Mostraremos, usando o Lema
11.3 que X = N∗ . De fato,
ii) Seja n ∈ X, ou seja, sn (0) ̸= sk (0), para todo k < n. Mostraremos que n + 1 ∈ X. De
fato, aplicando s (ver Teorema 11.1), obtemos
O que nos diz que sn+1 (0) ̸= sl (0), para todo 1 ≤ l ≤ n. Como também sn+1 (0) ̸= 0 =
s0 (0) (ver Teorema 11.1), concluı́mos que sn+1 (0) ̸= sl (0), para todo l < n + 1. Logo,
n + 1 ∈ X. Portanto, pelo Lema 11.3, concluı́mos que X = N∗ .
23 = 22 · 2 = (2 · 2) · 2 = 4 · 2 = 8.
Obs 11.7. Podemos checar que an ∈ N, para todo n ∈ N. De fato, seja X = {n ∈ N/an ∈
N}. Dessa forma, 0 ∈ X, pois a0 = 1 ∈ N. Considere que n ∈ X, isto é, an ∈ N. Com isso,
as(n) = an+1 = an a ∈ N,
desde que an , a ∈ N. Isto nos informa que s(n) ∈ X. Por indução, concluı́mos que X = N.
am+0 = am = am · 1 = am · a0 .
as(n) = an+1 = an · a ̸= 0,
pois a ̸= 0 e an ̸= 0. Dessa forma, s(n) ∈ X. Isto nos informa, pelo Princı́pio da Indução,
que X = N.
1 = an = am+1 = am a.
Como aplicação da proposição acima temos o seguinte corolário. Tal resultado terá papel
importante na prova da enumerabilidade de Q.
an aq = an+q = am = an .
Como an ̸= 0 (ver Lema 11.4), então, pela lei do corte, temos que aq = 1. Portanto, pelo
Lema 11.5, obtemos q = 0. Isto é um absurdo (q ∈ N∗ ). Dessa forma, concluı́mos que
m = n.
Sabemos que N = {0, 1, 2, ....}, ou seja, N é formado por 0 e seus sucessores. Da relação
de ordem em N e suas propriedades, decorre que 0 < 1 < 2 < ...., isto é, se n ∈ N, então
n < s(n) (pois 0 < 1 e s(n) = n + 1). Além disso, não há naturais compreendidos entre n
e s(n), qualquer que seja n ∈ N; caso contrário, se existisse r ∈ N tal que n < r < n + 1
terı́amos, pelo teorema anterior, que n + 1 ≤ n < n + 1 (uma contradição pela tricotomia).
496 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Nesta subseção, provaremos o Princı́pio da Boa Ordem por aplicar o axioma do Princı́pio
da Indução. Além disso, mostraremos que, na verdade, este primeiro princı́pio é equivalente
ao segundo. Por fim, exibiremos uma forma alternativa de apresentar o Princı́pio da Indução,
o chamado Segundo Princı́pio da Indução.
O exemplo acima lista dois subconjuntos de N que possuem elemento mı́nimo. Na ver-
dade, todo subconjunto de N, exceto o vazio, tem um mı́nimo.
Teorema 11.16 (Prı́ncipio da Boa Ordem). Todo subconjunto não vazio de N possui um
elemento mı́nimo.
Vimos no Teorema 11.16 que o Princı́pio da Indução pode ser utilizado para provar o
Princı́pio da Boa Ordem. Gostarı́amos de ressaltar que a recı́proca para esta afirmação é
verdadeira e será provada no próximo corolário.
11.1. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS NATURAIS 497
i) 0 ∈ X;
ii) n ∈ X ⇒ n + 1 ∈ X.
Então, X = N.
i) 0 ∈ X;
ii) n ∈ X, fornecido que X contém todos os números naturais m tais que m < n.
Então, X = N.
Demonstração. Seja K = N\X. Afirmamos que K = ∅. Com efeito, se K não fosse vazio,
existiria p = min K (ver Teorema 11.16). Por i), terı́amos que p ̸= 0 (0 ∈ X e p ∈ / X).
Logo, p > 0 (ver Proposição 11.5). Então, para todo número natural m < p (0 seria um
desses elementos), terı́amos que m não pertenceria a K (p = min K), ou equivalentemente,
m estaria em X. Por ii), obterı́amos p ∈ X. Isto é um absurdo. Dessa forma, X = N.
498 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Uma outra aplicação do Princı́pio da Boa Ordem está exposta no próximo teorema. Tal
resultado pode ser encontrado na literatura nomeado como Algoritmo da Divisão de Euclides
e mostra como dividir um número natural por outro (observe que, não necessariamente, o
resultado é um elemento de N).
n = 1 · n + 0 = dq + r, onde 0 ≤ r < d.
n = d · 0 + n = dq + r, onde 0 ≤ r = n < d.
X = {q ∈ N/n ≥ dq}.
Vamos provar, por indução sobre q, que X = N. Com efeito, 0 ∈ X, pois n ≥ 0 = d · 0. Além
disso, se q ∈ X, temos que n ≥ dq. Logo, por (11.4), concluı́mos que n ≥ d(q + 1) = ds(q).
Então, s(q) ∈ X. Por isso, pelo Princı́pio da Indução, X = N. Deste modo, n ∈ X, ou
seja, n ≥ dn. Como n ≥ d > 0, inferimos que 1 ≥ d. Mas, 1 < d. Isto é um absurdo, pela
11.1. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS NATURAIS 499
pois q0 ∈ Y . Pelo Princı́pio da Boa Ordem, existe q1 = min Y . Como q1 ∈ Y , tem-se que
ou equivalentemente, 0 ≤ r1 < d (lembre que r1 ∈ N). Por fim, existem q1 , r1 ∈ N tais que
r1 = ds + r2 .
Por conseguinte, pelo fato que d > 0 e s ≥ 1 (ver Proposição 11.9), podemos escrever
r1 ≥ ds ≥ d.
500 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Uma aplicação que podemos compartilhar com o leitor, para o Algoritmo da divisão, é
que qualquer número natural n se escreve na forma n = 2k (neste caso, n é dito natural par)
ou n = 2k ′ + 1 (aqui, n é chamado natural ı́mpar), onde k, k ′ ∈ N.
n = 2q + r, onde 0 ≤ r < 2.
n = 2q ou n = 2q + 1.
11.1.5 Enumerabilidade de N
Nesta subseção, estamos interessados em provar que o conjunto dos números naturais é
enumerável. Para este fim, definamos o que significa enumerabilidade.
IN (n0 ) = IN (n1 ) ⇒ n0 = n1 .
x ∈ X\(∪n∈N An ) ⇔ x ∈ X e x ∈
/ ∪n∈N An ⇔ x ∈ X e x ∈
/ An , ∀n ∈ N ⇔ x ∈ X\An , ∀n ∈ N
⇔ x ∈ ∩n∈N (X\An ).
x ∈ X\(∩n∈N An ) ⇔ x ∈ X e x ∈
/ ∩n∈N An ⇔ x ∈ X e x ∈
/ An0 , n0 ∈ N ⇔ x ∈ X\An0 , n0 ∈ N
⇔ x ∈ ∪n∈N (X\An ).
Afirmamos que
Assim, se existisse x ∈ X\(∪n∈N An ), esse x também seria elemento de ∩n∈N Yn , e como tal,
deveria ser maior do que x0 (pois x0 = min X), por estar em Y0 = X\{x0 }, que deveria
também ser maior do que x1 (pois x1 = min Y0 ) e por estar em Y1 (Y1 = X\{x0 , x1 }) e, assim
sucessivamente x deveria ser maior do que xn , para todo n ∈ N.
Afirmamos que
X\Ix ⊆ X\(∪n∈N An ), (11.5)
′ ′ ′
onde Ix = {0, 1, 2, 3, ..., x}. Com efeito, se x ∈ X\Ix , então x ∈ X e x > x. Como x > xn ,
′
para todo n ∈ N, tem-se que x > xn , para todo n ∈ N. O que implica que
′
x ∈ ∩n∈N Yn ,
′ ′ ′
já que x ∈ X e x ̸= xn , para todo n ∈ N. Consequentemente, x ∈ X\(∪n∈N An ). Por
(11.5), concluı́mos que
∪n∈N An ⊆ Ix .
Como Ix é finito, então ∪n∈N An = {x0 , x1 , ..., xn , ...} (xi ̸= xj , i ̸= j) também o é. Mas isto
é um absurdo, pela construção dos x′n s. Por fim, X\(∪n∈N An ) = ∅. Consequentemente,
X = ∪n∈N An = {x0 , x1 , ..., xn , ...}.
11.1. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS NATURAIS 503
Sejam agora A1 , A2 , A3 , ..., An conjuntos enumeráveis. Temos que mostrar que ∪k∈{1,2,...,n} Ak
é enumerável. Provaremos por indução finita. Sabemos que se n = 2 isto é verdade, então
suponhamos que ∪k∈{1,2,...,n−1} Ak é enumerável e provemos que ∪k∈{1,2,...,n} Ak também é. Daı́,
∪
como ∪k∈{1,2,...,n−1} Ak é enumerável e An também, obviamente, (k ∈ {1, 2, ..., n − 1} Ak )∪An
é enumerável, como querı́amos.
Faremos uso da definição de relação de equivalência para estabelecer quem são os ele-
mentos que vão formar o conjunto dos números inteiros. A referência que serviu como base
nesta seção está apresentada em [3].
Definição 11.11. Seja X um conjunto. Uma relação binária R em X diz-se uma relação
de equivalência se esta satisfizer as seguintes propriedades:
O exemplo que daremos, aqui neste capı́tulo, para uma relação de equivalência está
implı́cito na definição que segue.
Definição 11.12. Sejam (a, b), (c, d) ∈ N × N. Dizemos que (a, b) é equivalente a (c, d), e
escrevemos (a, b) ∼ (c, d), quando a + d = b + c.
11.2. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS INTEIROS 505
Vamos, agora, provar que, de fato, a relação binária ∼, definida acima, é de equivalência.
Proposição 11.20. A relação ∼, estabelecida na Definição 11.12 é uma relação de equi-
valência.
(ii) Se (a, b) ∼ (c, d), então a + d = b + c. Logo, c + b = d + a. Daı́, (c, d) ∼ (a, b).
(a + f ) + d = (a + d) + f = (b + c) + f = b + (c + f ) = b + (d + e) = (b + e) + d.
ii) (0, 4) = {(0, 4), (1, 5), (2, 6), (3, 7), ...};
iii) (6, 2) = {(4, 0), (5, 1), (6, 2), (7, 3), ...}.
No restante deste capı́tulo, exibiremos condições para que a definição de Z, dada acima,
coincida com a conhecida do ensino elementar.
506 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Definição 11.15. Dados (a, b) e (c, d) em Z, definimos a adição (a, b) + (c, d) como sendo o
inteiro (a + c, b + d).
Vamos agora provar que dois elementos de N × N são equivalentes se, e somente se, estes
representam a mesma classe de equivalência.
Lema 11.7. Sejam (a, b) e (a′ , b′ ) ∈ N × N. Então, (a, b) ∼ (a′ , b′ ) ⇔ (a, b) = (a′ , b′ ).
Demonstração. (⇐) Note que, (a, b) ∈ (a, b) = (a′ , b′ ). Logo, (a, b) ∼ (a′ , b′ ).
(⇒) Suponha, agora, que (x, y) ∈ (a, b), então (x, y) ∼ (a, b). Assim, (x, y) ∼ (a, b) ∼
(a′ , b′ ), por hipótese. Dessa forma, (x, y) ∈ (a′ , b′ ). Consequentemente, (a, b) ⊂ (a′ , b′ ). A
inclusão recı́proca é análoga.
Note que a definição de adição entre dois inteiros é realizada através de classes de equi-
valência. Portanto, precisamos verificar se esta depende dos elementos que representam tais
classes.
Proposição 11.21. Sejam (a, b) e (c, d) ∈ Z. Se (a, b) = (a′ , b′ ) e (c, d) = (c′ , d′ ), então
(a, b) + (c, d) = (a′ , b′ ) + (c′ , d′ ).
11.2. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS INTEIROS 507
Demonstração. Como (a, b) = (a′ , b′ ), então, pelo Lema 11.7, temos que (a, b) ∼ (a′ , b′ ).
Segue deste fato que a + b′ = b + a′ . Da mesma maneira, (c, d) = (c′ , d′ ) ⇔ (c, d) ∼ (c′ , d′ ).
Assim, c + d′ = d + c′ . Por outro lado, temos que
Mostraremos que as duas expressões dos lados direitos das igualdades acima coincidem. Pelo
Lema 11.7, isso equivale a mostrar que
(a + c, b + d) ∼ (a′ + c′ , b′ + d′ ).
(a + c) + (b′ + d′ ) = (a + b′ ) + (c + d′ ) = (b + a′ ) + (d + c′ ) = (b + d) + (a′ + c′ ).
Agora, estamos interessados em provar que a adição de números inteiros satisfaz pro-
priedades elementares tais como: associatividade, comutatividade, existência de um único
elemento neutro e lei do cancelamento. Comparando com os elementos de N, veremos que
cada número inteiro apresentará um simétrico aditivo, o que não é verificado em N.
Teorema 11.21 (Associatividade). Sejam (a, b), (c, d), (e, f ) ∈ Z. Então,
Teorema 11.22 (Comutatividade). Sejam (a, b), (c, d) ∈ Z. Então, (a, b) + (c, d) = (c, d) +
(a, b).
Teorema 11.23 (Elemento Neutro). Seja (a, b) ∈ Z. Então, (a, b) + (0, 0) = (a, b).
Teorema 11.24 (Lei do Cancelamento). Seja (a, b), (c, d), (e, f ) ∈ Z. Então,
(a + e, b + f ) = (c + e, d + f ).
(a + e) + (d + f ) = (c + e) + (b + f ).
11.2. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS INTEIROS 509
Logo,
(a + d) + (e + f ) = (b + c) + (e + f ).
Com isso, aplicando a lei do cancelamento em N, obtemos a + d = b + c, isto é, (a, b) ∼ (c, d).
O Lema 11.7 nos informa que (a, b) = (c, d).
A seguir provaremos que cada número inteiro tem um simétrico16 . Este fato não é válido
em N.
Teorema 11.25 (Simétrico). Dado (a, b) ∈ Z, existe um único (c, d) ∈ Z tal que (a, b) +
(c, d) = (0, 0). Na verdade, temos que (c, d) = (b, a).
Agora, chequemos a unicidade do simétrico. Consideremos que existe (c′ , d′ ) tal que
(a, b) + (c′ , d′ ) = (0, 0). Assim,
Pela lei do cancelamento, concluı́mos que (c′ , d′ ) = (b, a). Portanto, o elemento simétrico
existe e é único.
Exemplo 11.9. É fácil ver que (0, 1) e (2, 5) são os simétricos de (1, 0) e (5, 2), respectiva-
mente, em Z.
Lembre que verificamos, na Proposição 11.2, que o único elemento natural que possui
simétrico (com uma definição análoga a dada acima) é 0. Assim sendo, o conjunto Z já
apresenta uma propriedade que não é observada em N.
16
Seja A um conjunto com uma adição definida. Assuma que a ∈ A. Um elemento b ∈ A é denominado
simétrico de a se a + b = b + a = 0.
510 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
É importante ressaltar que provamos que α + (−α) = (0, 0) (ver Teorema 11.25), onde
α = (a, b) e −α = (b, a) ∈ Z. A existência e a unicidade do simétrico para cada elemento de
Z nos permite que definamos uma terceira operação em Z (esta não está bem estabelecida
em N).
α − β := α + (−β).
Exemplo 11.10. Um simples exemplo de subtração pode ser dado pelas seguintes igualda-
des:
(0, 1) − (2, 5) = (0, 1) + (5, 2) = (5, 3).
i) −(−α) = α;
ii) −α + β = β − α;
iii) α − (−β) = α + β;
v) α − (β + γ) = α − β − γ.
β − α := β + (−α) = (−α) + β = −α + β.
Nesta subseção, apresentaremos uma definição para a multiplicação entre dois números
inteiros quaisquer. Além disso, mostraremos que algumas propriedades elementares, já co-
nhecidas do ensino elementar, são, de fato, verdadeiras.
Definição 11.18. Dados (a, b), (c, d) ∈ Z, definimos o produto (a, b) · (c, d) como sendo o
inteiro (ac + bd, ad + bc).
Como a definição de multiplicação entre dois inteiros, assim como a adição, depende de
classes de equivalência, provaremos que os representantes de cada uma das classes envolvidas
não alteram o resultado da operação.
Proposição 11.23. Sejam (a, b), (a′ , b′ ), (c, d), (c′ , d′ ) ∈ Z. Se (a, b) = (a′ , b′ ) e (c, d) =
(c′ , d′ ), então (a, b) · (c, d) = (a′ , b′ ) · (c′ , d′ ).
a + b′ = b + a′ e c + d′ = d + c′ .
ac + bd + a′ d′ + b′ c′ = ad + bc + a′ c′ + b′ d′ .
O que significa dizer que (a, b) · (c, d) = (a′ , b′ ) · (c′ , d′ ) (ver Lema 11.7).
Teorema 11.26 (Comutatividade). Sejam (a, b), (c, d) ∈ Z. Então, (a, b) · (c, d) = (c, d) ·
(a, b).
11.2. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS INTEIROS 513
Teorema 11.27 (Associatividade). Sejam (a, b), (c, d), (e, f ) ∈ Z. Então,
O elemento neutro da multiplicação entre números naturais é dado por (1, 0). Mais
precisamente, temos o seguinte resultado.
Teorema 11.28 (Elemento Neutro). Sejam (a, b) ∈ Z. Então, (a, b) · (1, 0) = (a, b).
Agora faremos a prova para a propriedade distributiva, a qual relaciona em uma mesma
igualdade as operações de adição e multiplicação entre números inteiros.
Teorema 11.29 (Distributividade). Sejam (a, b), (c, d), (e, f ) ∈ Z. Então,
Teorema 11.30. Sejam (a, b), (c, d), (e, f ) ∈ Z com (e, f ) ̸= (0, 0). Então,
Portanto,
ae + bf + cf + de = af + be + ce + df .
Por hipótese, concluı́mos que e ̸= f ((e, f ) ̸= (0, 0)). Suponhamos, sem perda de generali-
dade, que e > f . Daı́ e = f + k, para algum k ∈ N∗ . Segue, daı́, que
É também verdade que o conjunto dos números inteiros não possui divisores de zero.
Mais precisamente, temos o resultado abaixo.
Proposição 11.25. Sejam α,β ∈ Z tais que α · β = (0, 0), então α = (0, 0) ou β = (0, 0).
Demonstração. Pela Proposição 11.24, temos que (0, 0) · γ = (0, 0), para todo γ ∈ Z. Supo-
nhamos que β ̸= (0, 0). Segue, daı́, que
(0, 0) · β = (0, 0) = α · β.
Agora, mostraremos que as famosas regras de sinais, com relação a multiplicação, entre
os números inteiros são válidas.
Analogamente, temos
e também
(−α) · β = −α · β = α · (−β).
11.2. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS INTEIROS 517
Para terminar esta subseção, exibiremos uma prova para a distributividade que envolve
a multiplicação e a subtração entre números inteiros.
Nesta seção, estamos interessados em discutir uma relação de ordem para o conjunto dos
números inteiros; além disso, mostraremos que tal relação é compatı́vel com as operações de
multiplicação e adição em Z, definidas na seção anterior. Por fim, provaremos que a lei de
tricotomia permanece válida em Z.
Definição 11.19. Sejam (a, b), (c, d) ∈ Z. Dizemos que (a, b) é menor do que ou igual a
(c, d), e escrevemos (a, b) ≤ (c, d), quando a + d ≤ b + c.
518 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
A primeira informação que desejamos transmitir, neste momento, é que a relação binária
≤, definida acima, é uma relação de ordem.
a + d ≤ b + c e c + b ≤ d + a,
donde concluı́mos, pela tricotomia em N, que a + d = b + c, isto é, (a, b) = (c, d) (ver
Lema 11.7).
a + d ≤ b + c e c + f ≤ d + e.
(a + d) + f ≤ (b + c) + f .
Logo, inferimos
(a + f ) + d ≤ b + (c + f ) ≤ b + (d + e).
a + f ≤ b + e.
i) α ≤ β ⇔ α + γ ≤ β + γ;
iii) α ≤ β ⇒ αγ ≥ βγ, onde γ ≤ (0, 0). A recı́proca desta implicação é válida se assumirmos
γ < (0, 0).
(a + e) + (d + f ) = (a + d) + (e + f ) ≤ (b + c) + (e + f ) = (b + f ) + (c + e).
Segue que,
(a + e) + (d + f ) ≤ (b + f ) + (c + e).
(a + e, b + f ) ≤ (c + e, d + f ).
(a + e, b + f ) ≤ (c + e, d + f ).
520 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
a + e + d + f ≤ b + f + c + e.
a + d ≤ b + c.
Logo, α ≤ β.
b + c = (a + d) + p e e = f + q. (11.6)
be + ce = ae + de + pe e bf + cf = af + df + pf .
Segue que
ae + de + pe + bf + cf = af + df + pf + be + ce. (11.7)
pe = pf + pq (11.8)
ae + de + pf + pq + bf + cf = af + df + pf + be + ce.
Segue que
ae + de + bf + cf ≤ af + df + be + ce,
ae + bf + cf + de ≤ af + be + ce + df.
11.2. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS INTEIROS 521
iii) Primeiramente, note que as seguintes equivalências são válidas para quaisquer α =
(a, b), β = (c, d), γ = (e, f ) ∈ Z:
Daı́, como α ≤ β e −γ ≥ (0, 0), por ii), temos α(−γ) ≤ β(−γ). Por fim, por (11.9),
chegamos a αγ ≥ βγ.
(⇐) Agora suponhamos que αγ ≥ βγ e γ < (0, 0). Por (11.9), concluı́mos que α(−γ) ≤
β(−γ). Como
Lema 11.8. Seja α ∈ Z. Então, apenas uma das situações deve ocorrer: α = (0, 0) ou
α < (0, 0) ou α > (0, 0).
Agora estamos prontos para enunciar e provar a lei da tricotomia para números inteiros.
Corolário 11.31 (Tricotomia). Sejam α, β ∈ Z. Então, apenas uma das situações seguintes
deve ocorrer: α = β, ou α < β ou α > β.
Demonstração. Considere que α = (a, b) e β = (c, d). Pela tricotomia em N, temos que
dados x, y naturais, apenas uma das situações seguintes ocorre: x = y ou x < y ou x > y.
Tomemos x = a + d e y = b + c. Daı́, obtemos que ou a + d = b + c ou a + d < b + c ou
a + d > b + c. Portanto, ou α = β ou α < β ou α > β.
Nesta seção, utilizaremos as definições, bem como as propriedades, das relações <, ≤, >, ≥
em Z, definida na seção anterior, com a finalidade de provar que o conjunto dos números
inteiros pode ser identificado com a apresentação usual dada no ensino elementar.
Permita-nos começar com a definição de números inteiros positivos, negativos, não nega-
tivos e não positivos.
Observe que (a, b) > (0, 0) significa a + 0 > b + 0, ou seja, a > b. De maneira análoga,
temos que
Note ainda que se (a, b) é positivo, então existe m ∈ N∗ , tal que a = b+m. Logo, a+0 = b+m.
Dessa forma, (a, b) = (m, 0) (ver Lema 11.7). Analogamente, se (a, b) é negativo, então
b = a + n, para algum n ∈ N∗ . Com isso, b + 0 = a + n. O que significa (a, b) = (0, n) (ver
Lema 11.7). Essas observações, juntamente com a lei da tricotomia em Z, nos dizem que
Z∗− = {(0, n)/n ∈ N∗ }, Z− = Z∗− ∪ (0, 0), Z∗+ = {(m, 0)/m ∈ N∗ } e Z+ = Z∗+ ∪ (0, 0).
Observe ainda que o conjunto, Z+ está em bijeção com N, esta bijeção mostra que Z+ é
uma cópia algébrica de N, no sentido dado pelo teorema abaixo:
Teorema 11.32. Seja fN : N → Z dada por fN (m) = (m, 0), para todo m ∈ N. Então,
valem as seguintes afirmações:
i) fN é injetora;
iv) m < n ⇔ fN (m) < fN (n), isto é, fN é uma função estritamente crescente.
Note que, o teorema acima nos mostrou que o conjunto fN (N) = Z+ possui a mesma estru-
tura algébrica que N. Por exemplo, 2+7 = 9, em N, corresponde, via fN , (2, 0)+(7, 0) = (9, 0)
em Z. Da mesma forma, 2 · 7 = 14 corresponde via fN , (2, 0) · (7, 0) = (14, 0). Finalmente,
a relação de 2 < 7 se preserva via fN , com (2, 0) < (7, 0). Em outras palavras, ordem em Z
é uma extensão da ordem em N.
Observe que se a ∈ N, o simétrico de (a, 0) é (0, a), logo identificando (a, 0) com a através
fN , obtemos −a = −(a, 0) = (0, a). Obtemos assim, sob a identificação de N com Z+ , via
fN , que
2) 13 − 8 = (13, 8) = (5, 0) = 5;
Vejamos, agora, como interpretar a regra de sinais para números inteiros, usando a iden-
tificação dada acima.
i) Como x e y são inteiros positivos, podemos identificá-los com (x, 0) > (0, 0) e (y, 0) >
(0, 0), via o Teorema 11.32. Daı́,
Logo, x · y > 0.
ii) Se x < 0 e y < 0, então (x, 0) < (0, 0) e (y, 0) < (0, 0). Logo,
Portanto, xy > 0.
iii) Se x < 0 e y > 0, então (x, 0) < (0, 0) e (y, 0) > (0, 0). Assim sendo,
Portanto, xy < 0.
Nesta subseção, estamos interessados em provar o Princı́pio da Boa Ordem para subcon-
juntos de números inteiros. Primeiramente, vamos definir quando um subconjunto de Z é
limitado superior e inferiormente.
526 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Proposição 11.31. O conjunto N é ilimitado em Z, isto é, N não admite cota superior em
Z.
Demonstração. Veremos que dado α ∈ Z, existe x ∈ N tal que α < x. A prova desta
afirmação será dividida em três casos:
Permita-nos provar o Princı́pio da Boa Ordem para o conjunto dos números inteiros Z.
Este mesmo princı́pio já foi provado ser válido em N. Neste caso, qualquer subconjunto
já possuia a propriedade de ser limitado inferiormente em Z; com isso, esta condição não
precisava ser assumida como hipótese. Em geral, os subconjuntos de Z não possuem esta
caracterı́stica. Portanto, tal suposição será considerada no próximo teorema.
Teorema 11.33 (Princı́pio da Boa Ordem em Z). Seja X ⊂ Z não vazio e limitado inferi-
ormente. Então X possui elemento mı́nimo.
Demonstração. Seja α uma cota inferior de X, isto é, α ≤ x, ∀x ∈ X (com α ∈ Z). Considere
′ ′
o conjunto X = {x−α/x ∈ X}. Claramente, X ⊂ N (identificado com Z+ ) e, pelo Princı́pio
′
da Boa Ordem em N, o conjunto X , possui elemento mı́nimo, digamos m′ . Assim,
′ ′
m′ ∈ X e m′ ≤ y, ∀y ∈ X .
11.2. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS INTEIROS 527
′
Como m′ ∈ X , m′ é da forma m − α, para algum m ∈ X. Afirmamos que m = m′ + α
é elemento mı́nimo de X. Só falta verificar que m ≤ x, ∀x ∈ X, mas isso equivale a
′
m − α ≤ x − α, ∀x ∈ X, ou seja, m′ ≤ y, ∀y ∈ X , que é verdade pela definição de m′ . Logo,
m é o elemento mı́nimo de X.
O resultado a seguir nos garante que não existe número inteiro entre 0 e 1.
Corolário 11.34. Seja x ∈ Z tal que 0 < x ≤ 1. Então, x = 1.
Demonstração. Seja X = {x ∈ Z/0 < x ≤ 1}. Segue daı́ que, X ̸= ∅, pelo fato de 1 ∈ X
e X é limitado inferiormente por 0. Pelo Princı́pio da Boa Ordem, X possui elemento
mı́nimo, digamos m. Suponhamos que 0 < m < 1. Assim, 0 < m2 < m < 1, o que
implica que m2 ∈ X, contrariando a minimalidade de m. Assim, m = 1 e, consequentemente
X = {1}.
Mais é verdade, não existe nenhum número inteiro entre dois inteiros consecutivos. Mais
precisamente, temos o seguinte corolário.
Corolário 11.35. Sejam n, x ∈ Z tais que n < x ≤ n + 1. Então, x = n + 1.
n < x ≤ n + 1 ⇔ 0 < x − n ≤ 1.
1) |x| = 0 ⇔ x = 0;
2) |x| ≥ 0, ∀x ∈ Z;
3) Para mostrar que |xy| = |x||y|, para todo x, y ∈ Z. Vamos considerar 4 casos:
• Se x = 0 ou y = 0, temos que xy = 0. Logo, |xy| = 0. Como |x| = 0, claramente,
|x||y| = 0 · |y| = 0. Logo, |xy| = |x||y|.
• Se x < 0 e y > 0 (o caso x > 0 e y < 0 é análogo), então xy < 0, isto é, |xy| = −xy.
Por outro lado, temos que |x| = −x e |y| = y. Sendo assim,
Estamos prontos para provar que nenhum número inteiro admite inverso multiplicativo,
exceto −1 e 1.
Seja x ∈ Z∗ e y ∈ Z tais que xy = 1. Segue que 1 = |xy| = |x||y|. Como |x| ≥ 0 e |y| ≥ 0
e |x||y| = 1, então |x| > 0 e |y| > 0 e daı́ resulta que |x| ≥ 1 e |y| ≥ 1. Multiplicando ambos
os membros da última desigualdade por |x|, obtemos
1 = |x||y| ≥ |x| ≥ 1,
de onde segue que |x| = 1 (ver tricotomia). Portanto, pela Proposição 11.32, x = 1 ou
x = −1, como querı́amos.
O próximo resultado nos mostra como dividir um número inteiro por outro (observe que,
não necessariamente, o resultado é um elemento de Z).
Teorema 11.36 (Algoritmo da Divisão em Z). Sejam x, d ∈ Z tais que d > 0. Então, existe
únicos q, r ∈ Z tais que
530 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
x = dq + r, onde 0 ≤ r < d.
x = dq ′ + 0 = dq ′ + r, com 0 ≤ r < d.
De fato, se x ≥ 0, então, pela prova do Teorema 11.19 (Algoritmo da Divisão em N), podemos
garantir que tal q existe e é natural. Se x < 0, então −x > 0; por conseguinte, existe q ∈ N
tal que
ver Teorema 11.19 (Algoritmo da divisão em N). Assim, por (11.11), segue que 0 < x − dq <
d, basta somar −dq a (11.11). Seja r = x − dq ∈ Z. Assim,
x = dq + r, com 0 ≤ r < d.
dq + r = x = dq1 + r1 .
d(q − q1 ) = r1 − r > 0.
11.2. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS INTEIROS 531
Todavia, d > 0. Dessa forma, q − q1 > 0, isto é, q − q1 ≥ 1 (ver Proposição 11.9). Por
conseguinte,
r1 = d(q − q1 ) + r ≥ d,
d(q − q1 ) = r1 − r = 0.
É importante ressaltar que o Algoritmo da divisão em Z pode ser considerado com divisor
negativo. Neste caso a divisão de x ∈ Z por d ∈ Z∗− é dada através da igualdade
onde q e r são únicos. Basta dividir x por −d > 0 para obter únicos q, r ∈ Z tais que
Uma aplicação que podemos fornecer para o Algoritmo da divisão em Z é que qualquer
número inteiro n se escreve na forma n = 2k (neste caso, n é dito inteiro par) ou n = 2k ′ + 1
(aqui, n é chamado inteiro ı́mpar), onde k, k ′ ∈ Z.
n = 2q + r, onde 0 ≤ r < 2.
n = 2q ou n = 2q + 1.
i) [Reflexividade]: x|x;
y = q1 x e x = q2 y.
Logo,
y = q1 x e z = q2 y.
Daı́,
z = q2 (q1 x) = (q2 q1 )x.
i) p ̸= 0 e p ̸= ±1;
Exemplo 11.16. 6 é um número composto, pois 2|6. Por outro lado, 2 é um número primo,
pois os únicos divisores de 2 são ±1 e ±2.
d = py + xz, y, z ∈ Z.
Vamos provar que d = 1. Já sabemos que d ≥ 1. Suponha, então, por contradição,
que d > 1. Pelo Algoritmo da Divisão, temos que existem únicos q, r ∈ Z tais que p =
dq + r, onde 0 ≤ r < d. Desta forma,
Isto nos diz que r ∈ X. Mas, 0 ≤ r < d = min X. Logo, r = 0. Com isso, p = dq. Portanto,
d|p. Consequentemente, como p é primo e d > 1, chegamos a d = p. Analogamente, pelo
Algoritmo da Divisão, temos que existem únicos q ′ , r′ ∈ Z tais que x = dq ′ + r′ , onde 0 ≤
r′ < d. Desta forma,
Isto nos diz que r′ ∈ X. Todavia, 0 ≤ r′ < d = min X. Deste modo, r′ = 0. Com isso,
x = dq ′ = pq ′ . Por fim, p|x. Isto é uma contradição (p - x). Por conseguinte, d = 1, isto é,
1 = py + xz, y, z ∈ Z.
1 = (−p)y + xz, y, z ∈ Z.
Demonstração. (⇒) Seja p primo e suponha que p|xy. Considere que p - x. Daı́, pelo Lema
11.2. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS INTEIROS 535
11.9, existem a0 , b0 ∈ Z tais que 1 = a0 p + b0 x. Como p|xy, então xy = pk, para algum
k ∈ Z. Logo,
(⇐) Suponha que p|xy ⇒ p|x ou p|y. Se p não é primo, então ∃x ̸= ±p e x ̸= ±1 tal que
x|p. Daı́ ∃y ∈ Z tal que p = xy. Dessa forma, p|xy. Consequentemente, p|x ou p|y. Se p|x,
então x = ±p (já que x|p). Isto é uma contradição (x ̸= ±p). Se p|y, então y = ±p (já que
y|p). Daı́, p = ±xp. Deste modo, pela lei do cancelamento, x = ±1. Um absurdo (x ̸= ±1).
Por fim, p é primo.
Suponha que n ∈ X, isto é, p|x1 · x2 · ... · xn · xn+1 , então, pelo Teorema 11.37, temos que
p|x1 · x2 · ... · xn ou p|xn+1 . Dessa forma, p|xi , para algum i = 1, 2, ..., n + 1, pela hipótese de
indução. Isto nos diz que n + 1 ∈ X. Dessa forma, X = N∗ .
Lema 11.10. Seja x ∈ Z tal que x ̸= 0 e x ̸= ±1. Então, min{y ∈ Z/y > 1, y|x} é primo.
Demonstração. Seja S = {y ∈ Z/y > 1, y|x}. Note que |x| > 1 (x ̸= 0) e |x||x. Daı́, |x| ∈ S.
Isto nos diz que S ̸= ∅. Além disso, S é limitado inferiormente por 1. Pelo Princı́pio da Boa
Ordem, ∃p = min S. Como p ∈ S, então p > 1. Logo, p ̸= 0 e p ̸= ±1.
536 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Agora suponha, por absurdo, que existe q ∈ Z tal que q ̸= ±1 e q ̸= ±p e q|p. Conse-
quentemente, |q| > 1 e |q||p. Dessa forma, 1 < |q| < p. De fato, se |q| > p (|q| ̸= p), então,
usando que |q||p (p = |q|k, para algum k ∈ Z+∗ ), terı́amos
Uma contradição. Como p ∈ S, então p|x. Daı́, por transitividade, |q||p e p|x ⇒ |q||x. Isto
nos diz que 1 < |q| < p e |q||x. Ou seja, |q| ∈ S e |q| < p = min S. Um absurdo! Por fim, p
é primo.
Teorema 11.38 (Teorema Fundamental da Aritmética). Seja x ∈ Z tal que x > 1. Então
existem p1 , p2 , ..., pk números primos positivos (k ≥ 1) tais que x = p1 · ... · pk . Além disso,
x = q1 · ... · qs , onde q1 , q2 , ..., qs (s ≥ 1) são números primos positivos, então k = s e cada pi
é igual a um qj .
i) Se x = 2, então x = 2, com k = 1 e p1 = 2.
ii) Agora suponhamos que para todo y ∈ Z tal que 2 ≤ y < x, tem-se que y = p1 · ... · pk′ ,
′
(k ≥ 1), onde pi é primo positivo, para todo i = 1, 2, ..., k ′ . Pelo Lema 11.10, temos
que ∃p primo tal que p > 1 e p|x. Assim, ∃q ∈ Z tal que x = qp. Note que se q = 1,
então x = p e o resultado estaria provado. Se q fosse primo, então x = qp. Assim sendo,
o resultado seguiria. Dessa forma, considere que 2 ≤ q < x (q > 1). Por hipótese de
indução, q = p1 · ... · pk′ , onde pi é primo positivo, para todo i = 1, 2, ..., k ′ . Portanto,
x = p1 · ... · pk′ · p. Por fim, o resultado é válido por indução.
q1 · p2 · ... · pk = q1 · q2 · ... · qs .
11.2. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS INTEIROS 537
Logo,
p2 · ... · pk = q2 · ... · qs .
Isto implicaria, pela Preposição 11.33 que qk+1 = ±1. Um absurdo! Logo, k = s e
pi = qi , para todo i = 1, 2, ..., k.
Obs 11.9. Seja x ∈ Z tal que x ̸= 0 e x ̸= ±1. Se x > 0, podemos escrever x como
um produto finito de inteiros primos positivos de maneira única (Teorema Fundamental
da Aritmética). Se x < 0, então −x = p1 · ... · pk , onde pi é primo positivo, para todo
i = 1, 2, ..., k. Logo, x = −p1 · ... · pk . Geralmente, temos, então, x = ±p1 · ... · pk onde os pi
é primo positivo, para todo i − 1, 2, ..., k (a igualdade acontecendo de maneira única).
11.2.8 Enumerabilidade de Z
Nesta subseção, estamos interessados em provar que o conjunto dos números inteiros Z,
assim como N, é enumerável. Vamos direto ao nosso objetivo.
é bijetora. Na verdade, vamos mostrar que σ é inversı́vel exibindo sua inversa. De fato, seja
538 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
σ −1 : N → Z, dada por {
k + 1, se n = 2k + 1;
σ −1 (n) =
−k ′ , se n = 2k ′ ,
onde k, k ′ ∈ Z. Podemos ver que, se n > 0, temos que
Definição 11.26. Sejam (a, b), (c, d) ∈ Z × Z∗ . Dizemos que (a, b) é equivalente a (c, d), e
escrevemos (a, b) ∼ (c, d), quando ad = bc.
Exemplo 11.17. É fácil ver que (1, 3) ∼ (2, 6), pois 1 · 6 = 3 · 2 = 6. Também podemos
verificar que (1, 2) ∼ (2, 4) ∼ (−31, −62).
A seguir vamos provar que a relação ∼, definida acima, é, de fato, uma relação de
equivalência.
Demonstração. Mostraremos que ∼ é reflexiva, simétrica e transitiva. Sejam (a, b), (c, d), (e, f ) ∈
Z × Z∗ .
ii) [Simetria]: Se (a, b) ∼ (c, d), então ad = bc. Logo, cb = da. Por fim, (c, d) ∼ (a, b).
ad = bc (11.12)
e também
cf = de. (11.13)
Logo, adf = bde. Pela lei do cancelamento, concluı́mos que, af = be (d ̸= 0). Daı́,
(a, b) ∼ (e, f ). Como querı́amos demonstrar.
a
= {(x, y) ∈ Z × Z∗ /(x, y) ∼ (a, b)}.
b
1
= {(x, y) ∈ Z × Z∗ /(x, y) ∼ (1, 2)} = {(x, y) ∈ Z × Z∗ /2x = y}.
2
5
= {(x, y) ∈ Z × Z∗ /(x, y) ∼ (5, 1)} = {(x, y) ∈ Z × Z∗ /x = 5y}.
1
(⇐) Assuma que (a, b) ∼ (c, d). Se (x, y) ∈ ab , então (x, y) ∼ (a, b) ∼ (c, d). Portanto,
(x, y) ∼ (c, d), ou seja, (x, y) ∈ dc . Isto nos informa que ab ⊂ dc . A inclusão recı́proca é
análoga.
Em ordem a finalizar esta seção, vamos definir o conjunto dos números racionais.
Obs 11.10. O sinal de adição no primeiro membro, nas igualdades acima, se refere a operação
de adição em Q; enquanto que, no segundo membro a adição e a multiplicação estão relaci-
onadas a Z.
2 5 2·3+4·5 6 + 20 26 13
+ = = = = .
4 3 4·3 12 12 6
′ ′ ′ ′
Proposição 11.38. Sejam ab , ab′ , dc , dc′ ∈ Q. Se a
b
= a
b′
e c
d
= c
d′
, então
′ ′
a c a c
+ = ′ + ′.
b d b d
′ ′
ab = ba (11.14)
e também que
′ ′
cd = dc . (11.15)
′ ′ ′ ′ ′ ′
(ad + bc)b d = bd(a d + b c ).
′ ′
Porém, se multiplicarmos (11.14) por dd e (11.15) por bb , obtemos
′ ′ ′ ′
ab dd = ba dd (11.16)
e também
cd′ bb′ = dc′ bb′ (11.17)
′ ′ ′ ′ ′ ′
(ad + bc)b d = bd(a d + b c ).
a
Demonstração. Sejam r = b
e dc . Então, é fácil ver que
a c ad + bc cb + da c a
r+s= + = = = + = s + r.
b d bd db d b
Demonstração. r = ab , s = c
d
e t = fe . Dessa forma, podemos concluir que
(a
c) e ad + bc e
(r + s) + t = + + = +
b d f bd f
(ad + bc)f + (bd)e a(df ) + b(cf + de)
= =
(bd)f b(df )
( )
a cf + de a c e
= + = + +
b df b d f
= r + (s + t).
A adição entre números racionais admite um único elemento neutro e este é dado por 01 .
0 a 0 a1 + b0 a
r+ = + = = = r.
1 b 1 b1 b
Isto prova que 01 é o elemento neutro para a adição em Q. Resta-nos provar que este é único.
Suponhamos que existe s ∈ Q tal que r = r + s, para todo r ∈ Q. Com isso, obtemos
0 0 0
= + s = s + = s.
1 1 1
Portanto, s = 01 .
A seguir, provaremos que dado um número racional podemos sempre obter um simétrico
a este, com relação à adição em Q.
−a
Demonstração. Considere que r = ab . Tomemos r′ = b
em ordem a obter
a −a ab + b(−a) 0 0
r + r′ = + = = = .
b b b·b b·b 1
544 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Isto nos informa que r′ é o simétrico de r. Agora, vamos provar que este elemento é único.
Sendo assim, considere que existe s ∈ Q tal que r + s = 01 . Logo, pelas propriedades
associativa e comutativa, chegamos a
0 0 0
r′ = r′ + = r′ + (r + s) = (r′ + r) + s = (r + r′ ) + s = + s = s + = s.
1 1 1
Definição 11.30. O elemento r′ tal que r + r′ = 01 , devido a sua unicidade, é denotado por
−r, este é chamado simétrico de r.
−1 −1
Exemplo 11.20. É fácil checar que 2
é o simétrico de 1
2
em Q, pois 1
2
+ 2
= 10 .
Demonstração. Sejam r = ab , s = c
d
et= e
f
∈ Q. Então,
a c e c ad + bc ed + f c
r+s=t+s⇔ + = + ⇔ =
b d f d bd fd
⇔ (ad + bc)f d = bd(ed + cf ) ⇔ (ad + bc)f = b(ed + cf )
⇔ adf + bcf = bed + bcf ⇔ adf = bed
a e
⇔ af = be ⇔ =
b f
⇔ r = t.
−a
Demonstração. Sabemos, pelo que já foi denotado acima, que − ab = b
. Além disso,
a a a(−b) + ba 0 0
+ = = = .
b −b b(−b) b(−b) 1
11.3. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS RACIONAIS 545
É importante ressaltar que, a proposição acima nos permite informar que qualquer
número racional r pode ser escrito na forma ab , com b > 0, desde que −d
c
= −c
d
, para qualquer
c
d
∈ Q.
ac a c
Em alguns momentos, escreveremos para representar · .
bd b d
Exemplo 11.21. É fácil checar que
2 5 2·5 10 5
· = = = .
4 3 4·3 12 6
Como os elementos de Q são dados por classes de equivalência, então precisamos estabe-
lecer que a multiplicação entre números racionais está bem definida.
′ ′ ′ ′
Proposição 11.40. Sejam ab , ab′ , dc , dc′ ∈ Q. Se a
b
= a
b
′ e c
d
= c
d
′, então
a c a ′ c′
· = ′ · ′.
b d b d
546 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Demonstração. Como
a c ac a′ c′ a ′ c′
· = e ′ · ′ = ′ ′,
b d bd b d bd
′ ′
então desejamos provar que acb′ d′ = bda′ c′ . Por hipótese, temos que ab = ba e cd′ = dc′ .
Dessa forma, multiplicando, estas igualdades por cd′ e ba′ , respectivamente, obtemos acb′ d′ =
cd′ ba′ = bda′ c′ .
a
Demonstração. Sejam r = b
e s = dc . Então,
a c ac ca c a
r·s= · = = = · = s · r.
b d bd db d b
Demonstração. Sejam r = ab , s = c
d
et= e
f
∈ Q. Então,
(a c ) e ( )
ac e (ac)e a(ce) a ce a c e
(r · s) · t = · · = · = = = · = · · = r · (s · t).
b d f bd f (bd)f b(df ) b df b d f
1 a 1 a1 a
r· = · = = = r.
1 b 1 b1 b
11.3. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS RACIONAIS 547
Suponhamos, agora, que existe s ∈ Q tal que r · s = r, para todo r ∈ Q. Dessa forma,
pelo Teorema 11.46, obtemos
1 1 1
= · s = s · = s.
1 1 1
Isto conclui a prova do teorema em questão.
O resultado abaixo mostra que qualquer racional não nulo tem inverso multiplicativo (tal
afirmação não é válida em N e Z).
Teorema 11.49 (Inverso). Seja r ∈ Q∗ . Então, existe um único r′′ ∈ Q tal que r · r′′ = 11 .
Demonstração. Se r = a
b
̸= 0
1
∈ Q, então a, b ∈ Q∗ . Assim, podemos definir r′′ = b
a
∈ Q em
ordem obter
a b ab 1
r · r′′ = · = = .
b a ba 1
Agora, vamos provar a unicidade para r′′ . Suponhamos a existência de s ∈ Q que seja
também inverso de r. Daı́, r · s = 11 . Logo, pelos Teoremas 11.48, 11.47 e 11.46, chegamos a
1 1 1
r′′ = r′′ · = r′′ · (r · s) = (r′′ · r) · s = (r · r′′ ) · s = · s = s · = s.
1 1 1
Demonstração. Sejam r = ab , s = c
d
et= e
f
∈ Q. Então,
( ) ( )
a c e a cf + de
r · (s + t) = + =
b d f b df
a(cf + de) acf + ade
= =
b(df ) bdf
f ac + dae b f ac + dae
= = ·
dbf b dbf
b(f ac + dae) (ac)(bf ) + (bd)(ae)
= =
b(dbf ) (bd)(bf )
ac ae a c a e
= + = · + ·
bd bf b d b f
= r · s + r · t.
Demonstração. Sejam s = ab , t = c
d
er= e
f
̸= 0
1
em Q. Então, pela lei do cancelamento em
Z, chegamos a
a e c e ae ce
sr = tr ⇔ · = · ⇔ =
b f d f bf df
⇔ aedf = cebf ⇔ adef = bcef
a c
⇔ ad = bc ⇔ =
b d
⇔ s = t,
A proposição abaixo nos informa que se multiplicarmos qualquer número racional pelo
elemento neutro da adição em Q teremos como resultados este próprio elemento nulo.
Para finalizar esta subseção, permita-nos mostrar que o conjunto dos números racionais
não possui divisores de zero. Mais especificamente, temos a seguinte proposição.
1 0 0
s= · s = (r−1 · r) · s = r−1 · (r · s) = r−1 · = ,
1 1 1
Proposição 11.43. A relação ≤, dada na Definição 11.33, está bem definida e é uma relação
de ordem em Q.
550 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Demonstração. Mostraremos, inicialmente, que a relação ≤ está bem definida, isto é,
a a′ c c′ a c a′ c′
= ′ , = ′, ≤ ⇒ ′ ≤ ′.
b b d d b d b d
Logo, multiplicando a desigualdade acima por d′ > 0, encontramos add′ ≤ bcd′ . Deste modo,
add′ ≤ bdc′ . Multiplicando esta desigualdade por b′ , obtemos
a′ c′
Como b, d > 0, então, pela lei do cancelamento em Z, obtemos a′ d′ ≤ c′ b′ . Portanto, b′
≤ d′
.
ad ≤ bc = cb ≤ da.
ad ≤ bc e cf ≤ de.
Assim, adf ≤ deb. Pela lei do cancelamento em Z, concluı́mos que af ≤ be (d > 0).
Por conseguinte, chegamos a ab ≤ fe .
i) r ≤ s ⇔ r + t ≤ s + t;
ii) r ≤ s, t ≥ 0
1
⇒ r · t ≤ s · t. A recı́proca desta afirmação é verdadeira, se t > 01 ;
iii) r ≤ s, t ≤ 0
1
⇒ r · t ≥ s · t. A recı́proca desta implicação vale, se t < 01 ;
Demonstração. Sejam r = ab , s = c
d
et= e
f
∈ Q, como b, d, f > 0. Então, é fácil checar que
i)
a c
r≤s⇔ ≤ ⇔ ad ≤ bc
b d
⇔ adf ≤ bcf ⇔ daf + dbe ≤ bcf + dbe
⇔ d(af + be) ≤ b(cf + de) ⇔ df (af + be) ≤ bf (cf + de)
af + be cf + de a e c e
⇔ ≤ ⇔ + ≤ +
bf df b f d f
⇔ r + t ≤ s + t.
r ≤ s ⇔ ad ≤ bc ⇒ ade ≤ bce
ae ce
⇔ adef ≤ bcef ⇔ ≤
bf df
a e c e
⇔ · ≤ · ⇔ r · t ≤ s · t.
b f d f
É importante notar que se t > 0 (e > 0), então a implicação acima se torna equivalência.
Logo, ii) segue.
552 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
r ≤ s ⇔ ad ≤ bc ⇔ adf ≤ bcf
ae ce
⇒ adf e ≥ bcf e ⇔ ≥
bf df
a e c e
⇔ · ≥ ·
b f d f
⇔ r · t ≥ s · t.
Note que a implicação acima se torna equivalência se t < 0 (e < 0). Portanto, iii)
segue.
O próximo resultado nos informa que ≤ é uma relação de ordem total em Q e, conse-
quentemente, Q, munido desta relação, é um conjunto totalmente ordenado.
Teorema 11.53 (Tricotomia). Sejam r, s ∈ Q. Então, somente uma das situações seguintes
ocorre: r = s ou r < s ou r > s.
n
fZ (n) = , ∀n ∈ Z.
1
11.3. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS RACIONAIS 553
i) fZ é injetora;
m n
fZ (m) = fZ (n) ⇔ = ⇔ m · 1 = 1 · n ⇔ m = n.
1 1
ii) Agora, vamos provar que fZ preserva a estrutura algébrica de Z, isto é,
n m n·1+1·m n+m
fZ (n) + fZ (m) = + = = = fZ (n + m).
1 1 1·1 1
n m n·m nm
fZ (n) · fZ (m) = · = = = fZ (nm).
1 1 1·1 1
m n
m<n⇔m·1<n·1⇔ < ⇔ fZ (m) < fZ (n).
1 1
11.3.5 Enumerabilidade de Q
Nesta subseção, estamos interessados em provar que o conjunto dos números racionais
Q, assim com N e Z, é enumerável.
Primeiramente, utilizaremos o Teorema 11.38, para provar que qualquer número racional
positivo ab pode ser escrito de modo único como m
n
∈ Q∗+ , onde m e n ∈ Z∗+ são primos entre
si17 . Mais precisamente, temos o seguinte lema.
enumerável.
Agora vamos provar que Q∗− é enumerável. Basta mostrarmos que a aplicação f : Q∗− →
Q∗+ , dada por ( a) a
f − = , ∀a, b ∈ Z∗+ ,
b b
−a
é bijetora (lembre que − b = b ). De fato, f é injetora, pois
a
( ) ( )
a1 a2 a1 a2 a1 a2
f − =f − ⇒ = ⇒− =− .
b1 b2 b1 b2 b1 b2
Temos também que f é sobrejetora, já que se dc ∈ Q∗+ temos que f (− dc ) = dc , com − dc ∈ Q∗− .
Portanto, f é bijetora. Usando o fato que Q∗+ ser enumerável, concluı́mos que Q∗− também
o é.
Demonstração. Sabemos que Q∗+ e Q∗− são enumeráveis (ver Lema 11.12). Logo, desde que
Q = Q∗− ∪{0}∪Q∗+ , temos, pela Proposição 11.18, que Q é enumerável ({0} é enumerável).
Nesta subseção, nossa meta é trabalhar com o conjunto dos números racionais Q obser-
vando sua estrutura de corpo ordenado.
556 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Comecemos assumindo que o conjunto dos números racionais Q está munido das duas
operações, adição e multiplicação, estudadas anteriormente. Podemos definir, a partir destas,
a subtração e a divisão (esta não é possı́vel em N e Z) entre números racionais da seguinte
forma:
onde, no caso da divisão, s ̸= 0. (Estritamente falando, a divisão não seria uma operação
em Q, uma vez que seu domı́nio não é Q × Q, mas sim Q × Q∗ ).
A proposição a seguir nos permite saber que a definição de divisão, dada acima, pode,
na prática, ser representada com a ideia de fração estabelecida no ensino elementar.
O resultado abaixo nos mostra que a definição de divisão, dada acima, é, na prática, a
mesma da estabelecida no ensino elementar.
a c a ( c )−1 a d ad
÷ = · = · = .
b d b d b c bc
i) rs = 0 ⇒ s = 0 ou r = 0;
a
Demonstração. Sejam r = b
e s = dc .
i) Suponhamos r ̸= 0, ou seja, a
b
̸= 0
1
(a ̸= 0). Segue, daı́, que,
0 a c ac
= · = .
1 b d bd
0
Logo, ac = 0. Isto nos diz que c = 0. Portanto, s = 1
= 0.
ii) Se ab > 01 e dc > 01 , então a > 0 e c > 0. Daı́, pelas propriedades de Z, temos que ac > 0.
Consequentemente, ac bd
> 01 , isto é, rs > 0.
iii) Se ab > 01 , então a > 0. Analogamente, se dc < 01 , temos que c < 0. Assim, pelas
propriedades de Z, encontramos ac < 0. Portanto, acbd
< 10 , ou seja, rs < 0.
v) Se a
b
> 0, tem-se a > 0. Logo, b
a
∈ Q é o inverso de ab . Por conseguinte, b
a
> 0 (b > 0).
Ainda considerando a identificação de Z com fZ (Z), mostraremos que entre dois números
racionais sempre é possı́vel encontrar um outro (este é denominado média aritmética entre
os extremos).
Segue que, 2r < r+s < 2s. Por fim, multiplicando por 2−1 ∈ Q, chegamos a r < (r+s)·2−1 <
s.
Vimos que os conjuntos N e Z são bem ordenados (ver Teoremas 11.16 e 11.33). Porém,
o conjunto dos números racionais não verifica tal afirmação. Mais precisamente, temos a
seguinte proposição.
Proposição 11.48. Q não é bem ordenado, isto é, existem em Q subconjuntos não vazios
e limitados inferiormente que não possuem elemento mı́nimo.
Assim sendo, (q0 + j) · 2−1 ∈ X e (q0 + j) · 2−1 < j. Um absurdo, visto que j = min X.
Portanto, Q não é bem ordenado.
(F) x + y ∈ K e x · y ∈ K, ∀x, y ∈ K;
(M4) [Inverso]: Para cada elemento não nulo x ∈ K, existe um elemento em K, denotado
por x−1 , chamado de inverso multiplicativo de x, tal que x · x−1 = x−1 · x = 1;
Além disso, se um corpo tiver munido de uma relação de ordem compatı́vel com sua
operações aritméticas, ele é chamado de corpo ordenado. Adotaremos a seguinte notação
para os elementos de um corpo ordenado arbitrário K: continuaremos denotando por 0 e
por 1 o elemento neutro aditivo e o neutro multiplicativo de K, respectivamente e, para x
um natural maior do que 1, denotaremos também por x o elemento 1 + 1 + ... + 1 (x vezes)
(isto nos diz que N possui uma cópia em K, pois 0 ∈ K). Assim, seu simétrico, −x, será
−(1 + 1 + 1 + ... + 1) = −1 − 1 − 1 − ... − 1 (x vezes) (isto nos informa que Z admite uma cópia
em K). O contexto encarrega-se de deixar claro que o elemento 3, por exemplo, refere-se ao
natural 3 ou ao 3 ∈ K.
É importante ressaltar que tudo o que foi feito neste capı́tulo nos mostra que Q é um
exemplo de corpo ordenado.
an am = an+m , ∀n ∈ Z, m ∈ N.
an+0 = an = an · 1 = an a0 .
an+m = am+n = am an = an am .
an+m = a−(−n−m) := (a−1 )[(−n)+(−m)] = (a−1 )−n (a−1 )−m =: a−(−n) a−(−m) = an am .
Demonstração. O caso em que n, m ∈ N pode ser provado por indução. Fixe n ∈ N. Defina
Xn = {m ∈ N : (an )m = anm }. É fácil checar que
(an )0 = 1 = a0 = an·0 .
Assim, 0 ∈ Xn . Suponha que m ∈ Xn , isto é, (an )m = anm . Deste modo, podemos escrever,
11.3. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS RACIONAIS 561
Agora, vamos provar que (an )−1 = a−n , para todo n ∈ Z. De fato, pela Proposição 11.49,
temos que
an a−n = an+(−n) = a0 = 1, ∀n ∈ Z.
Portanto, pela unicidade de um elemento inverso, chegamos a (an )−1 = a−n , para todo n ∈ Z.
(an )m = (an )−(−m) := [(an )−1 ]−m = (a−n )−m = a(−n)(−m) = anm .
Por fim, considere que n, m < 0. Assim, pelo que já foi estabelecido acima, chegamos a
(an )m = (a−(−n) )m := [(a−1 )−n ]m = (a−1 )(−n)m = (a−1 )−nm = [(a−1 )−1 ]nm = anm .
Definição 11.37. Num corpo ordenado K, definimos o módulo (ou valor absoluto) de um
elemento x, como sendo x, se x ≥ 0 e −x se x < 0. Usaremos o sı́mbolo |x| para indicar o
módulo de x, ou seja, {
x, se x ≥ 0;
|x| =
−x, se x < 0.
Obs 11.12. A Definição 11.37 é equivalente a |x| = max{x, −x}, onde x ∈ K. Por conse-
guinte, podemos escrever que
|x| ≥ x, −x, ∀x ∈ K,
isto é,
−|x| ≤ x ≤ |x|, ∀x ∈ K.
i) −a ≤ x ≤ a;
ii) x ≤ a e −x ≤ a;
iii) |x| ≤ a.
−a ≤ x ≤ a ⇔ −a ≤ x e x ≤ a ⇔ −x ≤ a e x ≤ a ⇔ |x| ≤ a.
i) |x + y| ≤ |x| + |y|;
iv) |x − z| ≤ |x − y| + |y − z|.
ii) É fácil checar que x2 = |x|2 , pois |x| é um dos elementos x ou −x e vale x2 = (−x)2 .
Logo,
|x · y|2 = (x · y)2 = x2 · y 2 = |x|2 · |y|2 = (|x| · |y|)2 .
Segue que, |x · y| = ±|x| · |y| (K não possui divisores de zero - a prova deste fato
segue os passos da Proposição 11.42). Como |x · y| e |x| · |y| são ambos não negativos,
concluı́mos que |x · y| = |x| · |y|.
O que nos fornece, |x| − |y| ≤ |x − y|. Analogamente, tem-se |y| ≤ |y − x| + |x|. Logo,
−(|x| − |y|) ≤ |x − y|. Por fim, ||x| − |y|| ≤ |x − y|.
Proposição 11.52. Seja K um corpo ordenado. Então, as seguintes afirmações são válidas:
i) x · 0 = 0, ∀x ∈ K;
iii) x2 ≥ 0, ∀x ∈ K;
x · 0 = x · (0 + 0) = x · 0 + x · 0,
x = x · 1 = x · 0 = 0,
• x < 0 ⇒ x2 > 0;
• x = 0 ⇒ x2 = 0;
• x > 0 ⇒ x2 > 0.
Portanto, x2 ≥ 0, para todo x ∈ K.
iv) Se 1 ̸= 0, então
1 = 1 · 1 = 12 > 0.
a
= a : b = a · b−1 ∈ K,
b
como querı́amos.
Definição 11.38. Os corpos ordenados para os quais sua cópia de naturais é ilimitada
superiormente são chamados corpos Arquimedianos.
Vejamos mais duas maneiras de caracterizar corpos ordenados não triviais como Arqui-
medianos. Mais precisamente, temos o seguinte teorema.
Teorema 11.57. Seja K ̸= {0} um corpo ordenado. Então, as seguintes afirmações são
equivalentes:
i) K é Arquimediano;
ii) ⇒ iii): Dado a > 0 em K, existe, em virtude de ii), um n ∈ N tal que n = n · 1 > a−1
(1 > 0). Logo, n · a > 1. Então, n−1 < a.
iii) ⇒ i): Dado qualquer b > 0 em K, existe, por iii), um n ∈ N tal que n−1 < b−1
(b−1 > 0), ou seja, n > b. Assim, nenhum elemento positivo de K pode ser cota superior de
N. Por outro lado, qualquer elemento não positivo de K é limitado por 1 ∈ N (1 > 0). Por
fim, K é Arquimediano.
a2 a·a a a ( a )2
= = · = = 2.
b2 b·b b b b
2 · b2 = a2 = (2k)2 = 4k 2 .
Logo, b2 = 2k 2 . Por conseguinte, b = 2k1 , com k1 ∈ Q. O que nos diz que ab é redutı́vel, uma
contradição pela suposição feita. Portanto, a equação x2 = 2 não tem solução em Q.
11.3.7 Sequências em Q
Limites de Sequências em Q
Definição 11.40. Dizemos que uma sequência (xn ) converge para a ∈ Q e indicamos por
xn → a, ou ainda, lim xn = a, se para um dado ε ∈ Q∗+ existe n0 ∈ N∗ tal que, ∀n ≥ n0 ,
n→∞
568 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Exemplo 11.24. Considere uma sequência constante (xn ), isto é, xn = c ∈ Q, para todo
n ∈ N∗ . Logo, dado ε ∈ Q∗+ , temos que
|xn − c| = |c − c| = 0 < ε, ∀n ∈ N∗ .
ε ε
ε = |b − a| = |b − xn + xn − a| ≤ |b − xn | + |xn − a| < + = ε.
2 2
Definição 11.41. Uma sequência (xn ) de números racionais diz-se limitada se existe c ∈ Q∗+
tal que |xn | ≤ c, para todo n ∈ N∗ .
11.3. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS RACIONAIS 569
Obs 11.13. Esta definição pode ser dada de forma equivalente da seguinte maneira: Uma
sequência de (xn ) de números racionais, diz-se limitada se existem a, b ∈ Q, de forma que
a ≤ xn ≤ b para todo n ∈ N∗ . De fato, se a ≤ xn ≤ b então c pode ser tomado de forma que
c > max{|a|, |b|} e, reciprocamente, se |xn | ≤ c, então a = −c e b = c.
Demonstração. Existe c ∈ Q∗+ tal que |yn | ≤ c para todo n ∈ N∗ . Dado ε ∈ Q∗+ , como
lim xn = 0, podemos encontrar n0 ∈ N∗ tal que n ≥ n0 ⇒ |xn | < εc . Logo, para todo
n→∞
n ≥ n0 , obtemos
ε
|xn yn | = |xn ||yn | < · c = ε.
c
Isto mostra que lim xn yn = 0.
n→∞
i) lim (xn ± yn ) = a ± b;
n→∞
xn a
ii) lim = , se b ̸= 0.
n→∞ yn b
ε ε
n ≥ n1 ⇒ |xn − a| < e n ≥ n2 ⇒ |yn − b| < .
2 2
ε ε
|(xn + yn ) − (a + b)| = |(xn − a) + (yn − b)| ≤ |xn − a| + |yn − b| < + = ε.
2 2
Analogamente ao caso acima, tem-se que dado ε ∈ Q∗+ , existem n3 e n4 em N∗ tais que
ε ε
n ≥ n3 ⇒ |xn − a| < e n ≥ n4 ⇒ |yn − b| < .
2 2
570 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
ε ε
|(xn − yn ) − (a − b)| = |(xn − a) + [−(yn − b)]| ≤ |xn − a| + |yn − b| < + = ε.
2 2
Ora (xn ) é uma sequência limitada e lim (yn − b) = 0. Logo, pelo Teorema 11.58,
n→∞
lim [xn (yn − b)] = 0. Por motivo semelhante, lim [(xn − a)b] = 0. Assim, temos que
n→∞ n→∞
lim (xn yn − ab) = lim [xn (yn − b)] + lim [(xn − a)b] = 0,
n→∞ n→∞ n→∞
iii) Notemos que, como yn b → b2 , existe n0 ∈ N∗ tal que n ≥ n0 ⇒ yn b > b2 (basta tomar
2
( )
2 1
número inferior a b2 . Logo, a sequência é limitada. Ora, é fácil notar que
yn b
xn a bxn − ayn 1
− = = (bxn − ayn ) .
yn b yn b yn b
Como
( )
xn a xn a
segue, do Teorema 11.58, que lim − = 0. Portanto, lim = .
n→∞ yn b n→∞ yn b
O resultado abaixo nos mostra que o limite é compatı́vel com a relação de ordem em Q.
Teorema 11.60. Sejam (xn ), (yn ) sequências de números racionais tais que xn ≤ yn , para
todo n ∈ N∗ . Se lim xn = a e lim yn = b, então a ≤ b.
n→∞ n→∞
11.3. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS RACIONAIS 571
Analogamente, obtém-se n2 ∈ N tal que para todo n ≥ n2 , chega-se a |yn − b| < ε, isto
é, yn < b + ε, ou seja, yn < a+b
2
. Tomando n0 = max{n1 , n2 } ∈ N∗ , temos
a+b
yn < < xn , ∀n ≥ n∗0 .
2
Um caso particular para o Teorema 11.60 pode ser enunciado como segue.
Obs 11.16. Observe que se xn > 0, ∀n ∈ N∗ não significa que lim xn > 0 (mesmo que este
n→∞
elemento exista). Considere, por exemplo, a sequência xn = n1 , a qual satisfaz lim xn = 0.
n→∞
Sequências de Cauchy em Q
A proposição abaixo nos diz que toda sequência de Cauchy de números racionais é limi-
tada.
572 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Proposição 11.58. Seja (xn ) uma sequência de Cauchy de números racionais. Então, (xn )
é limitada.
Em particular, |xm − xn0 | < 1 para todo m ≥ n0 . Mas, para todo m ≥ n0 , temos
Sendo c = max{|x1 |, |x2 |, ..., |xn0 −1 |, 1 + |xn0 |} ∈ Q, então, para todo n ∈ N∗ , temos que
|xn | ≤ c. Portanto, (xn ) é limitada.
A proposição a seguir nos mostra como provar que a soma de duas sequências de Cauchy
em Q é, novamente, uma sequência do mesmo tipo.
Teorema 11.62. Sejam (xn ), (yn ) sequências de Cauchy de números racionais, então (xn )±
(yn ) := (xn ± yn ) também o é.
Demonstração. Como (xn ), (yn ) são sequências de Cauchy de números racionais, então dado
ε ∈ Q∗+ , existem n1 , n2 ∈ N∗ tais que, ∀m, n ∈ N∗ , tem-se
ε ε
m, n ≥ n1 ⇒ |xn − xm | < e m, n ≥ n2 ⇒ |ym − yn | < .
2 2
ε ε
|(xm + ym ) − (xn + yn )| = |(xm − xn ) ± (ym − yn )| ≤ |(xm − xn )| + |(ym − yn )| < + = ε.
2 2
Não só a adição, mas a multiplicação, definida de maneira usual, de sequências de Cauchy
em Q gera uma sequência do mesma categoria.
Teorema 11.63. Sejam (xn ), (yn ) sequências de Cauchy de números racionais, então (xn ) ·
(yn ) := (xn yn ) também o é.
11.3. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS RACIONAIS 573
|xn yn − xm ym | = |xn yn − xm yn + xm yn − xm ym |
≤ |yn ||xn − xm | + |xm ||yn − ym |, ∀n, m ∈ N.
Como (xn ), (yn ) são sequências de Cauchy de números racionais, então, pela Proposição
11.58, temos que (xn ), (yn ) são limitadas e, assim, existem c, d ∈ Q∗+ tais que |xn | ≤ c,
|yn | ≤ d para todo n ∈ N∗ . Tomando k = max{c, d} ∈ Q∗+ , obtemos que
|xn | ≤ k e |yn | ≤ k, ∀n ∈ N∗ .
E daı́,
Ainda pelo fato de (xn ), (yn ) serem sequências de Cauchy de números racionais, dado ε ∈ Q∗+ ,
temos que existem n1 , n2 ∈ N∗ , de modo que, para todo m, n ∈ N∗ , encontramos
ε ε
m, n ≥ n1 ⇒ |xn − xm | < e m, n ≥ n2 ⇒ |yn − ym | < .
2k 2k
ε ε
|xm ym − xn yn | < k · +k· = ε.
2k 2k
Proposição 11.59. Seja (xn ) uma sequência de Cauchy de números racionais. Então, (|xn |)
é uma sequência de Cauchy.
m, n ≥ n0 ⇒ |xn − xm | < ε.
574 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
A proposição abaixo nos garante que se tivermos uma sequência, constituı́da de termos
não nulos, que não converge para zero, então é possı́vel definir uma outra sequência com os
inversos dos termos da sequência original. O resultado obtido será novamente uma sequência
de Cauchy.
Proposição 11.60. Seja (xn ) uma sequência (de )Cauchy de números racionais tal que
lim xn ̸= 0 e xn ̸= 0, para todo n ∈ N∗ . Então, x1n é uma sequência de Cauchy.
n→∞
Por outro lado, como xn 9 0, então ∃ε0 ∈ Q∗+ tal que ∀y ∈ N∗ podemos encontrar
ny ∈ N∗ de forma que ny ≥ y e |xny | ≥ ε0 .
Como (xn ) é uma sequência de Cauchy, então, pela Proposição 11.59, (|xn |) também o
é. Portanto, ∃m1 ∈ N∗ tal que para todo m, n ≥ m1 , tem-se que ||xm | − |xn || < ε20 . Deste
modo, infere-se ||xm | − |xnm1 || < ε20 , para todo m ≥ m1 . Então,
−ε0
< |xm | − |xm1 | ≤ |xm | − ε0 , ∀m ≥ m1 ,
2
ou equivalentemente,
1 2
< =: k, ∀m ≥ m1 .
|xm | ε0
Novamente, usando o fato que (xn ) é uma sequência de Cauchy, temos que existe n2 ∈ N∗
de modo que
ε
∀m, n ∈ N∗ , com m, n ≥ n2 ⇒ |xn − xm | < 2 .
k
11.3. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS RACIONAIS 575
A seguir, provaremos que toda sequência convergente de números racionais é uma sequência
de Cauchy.
Teorema 11.64. Seja (xn ) uma sequência convergente de números racionais. Então, (xn )
é também uma sequência de Cauchy em Q.
ε
∀n ∈ N∗ , n ≥ n0 ⇒ |xn − a| < .
2
ε ε
|xn − xm | = |xn − a + a − xm | ≤ |xn − a| + |xm − a| < + = ε.
2 2
Seja x1 o maior inteiro tal que x21 ≤ 2. Substituindo os possı́veis valores para x1 desco-
brimos que x1 = 1.
b1
Seja x2 o maior racional da forma 1 + 10 , onde b1 pode ser 0, 1, 2, ... ou 9, determinado
por substituição direta de modo que x22 ≤ 2. Fazendo os cálculos obtemos b1 = 4.
b1 b2
Assuma x3 o maior racional da forma 1 + 10 + 10 2 , onde b2 pode ser 0, 1, 2, ... ou 9,
Logo,
( )2 ( )2
4 1 bn 1 1
1+ + + ... + n + n >2 ⇒ xn + n >2
10 102 10 10 10
2xn 1
⇒ x2n + n + 2n > 2
10 10
2xn 1
⇒ 2 − xn < n + 2n .
2
10 10
1 1
Mas, 102n
< 10n
e xn < 2 implicam
4 1 5
2 − x2n < n
+ n = n.
10 10 10
2ε
|xm − xn ||xm + xn | = |x2m − x2n | < 2ε ⇒ |xm − xn | < .
|xm + xn |
Como |xm + xn | > 2 (ver construção de (xn )), então, para todo m, n ≥ n0 , temos
2ε 2ε
|xm − xn | < < = ε.
|xm + xn | 2
Suponhamos, finalmente, que existe um número racional ab tal que xn → ab , então, pelo
( )2
Teorema 11.59, chegamos a x2n → ab . Porém, já provamos que x2n → 2. Como o limite
de )
( uma sequência de números racionais é único, de acordo com a Proposição 11.57, então
a 2
= 2. Já provamos que isto é um absurdo. Logo, (xn ) não converge para nenhum
b
número racional.
Permita-nos começarmos a construção dos números reais pelos famosos cortes de Dede-
kind. É importante ressaltar que a teoria desenvolvida na seção anterior é imprescindı́vel
para o entendimento desta seção.
i) α ̸= ∅ e α ̸= Q;
Vejamos um exemplo de conjunto que é um corte e outros que não satisfazem a definição
acima.
ii) Seja r ∈ α e s < r (com s ∈ Q); assim, s < r < 35 . Daı́, temos s < 53 . Logo, s ∈ α;
iii) Suponhamos que exista um elemento máximo em α, digamos x = max α. Daı́, segue
que r ≤ x para todo r ∈ α, então x < 35 . Através da Proposição 11.47, concluı́mos que
3 3
x < 2−1 (x + ) < .
5 5
O que é um contradição, visto que x = max α. Logo, α não possui elemento máximo.
Portanto, α é um corte.
Exemplo 11.31. θ = Q∗ não é um corte. Qualquer que seja r > 0 temos que r ∈ θ. Mas
s = 0 ∈ Q, satisfaz s < r e s ∈
/ θ. Portanto, θ não é um corte.
O resultado abaixo nos mostra como caracterizar todas as cotas superiores de um corte.
Demonstração. (⇒) Se r é cota superior de α, então r não pode pertencer a α, caso contrário
r seria elemento máximo de α. Isto contradiz o item iii) da definição de corte.
(⇐) Se r ∈ Q\α, então r é cota superior de α, pois, caso contrário, haveria s ∈ α tal
que r < s, o que, pelo item ii) da definição de corte, obrigaria r a pertencer a α. Isto é uma
contradição.
A proposição abaixo nos mostra como exemplificar alguns cortes que admitem cota su-
perior mı́nima.
iii) Suponha, por absurdo, que exista um elemento s = max α. Daı́ terı́amos s < r (s ∈ α)
e, portanto s < 2−1 (s + r) < r. Contrariando a maximalidade de s (2−1 (s + r) ∈ α e
s < 2−1 (s + r)). Logo, temos que α não possui elemento máximo.
Definição 11.44. Os cortes do tipo da Preposição 11.63 são denominados cortes racionais
e são representados por r∗ , i.e.,
onde r ∈ Q.
Proposição 11.64. Todo corte que possui cota superior mı́nima é racional.
Teorema 11.65. Seja α = Q∗− ∪ {x ∈ Q+ /x2 < 2}. Então α é um corte que não é racional.
• se s ∈ Q∗− , então s ∈ α;
• se s > 0, então s2 < r2 < 2 (r ∈ α), ou seja, s ∈ α;
iii) Para cada r ∈ α é possı́vel encontrar um racional s tal que r < s (isto significa que α
não possui máximo). De fato, suponhamos que r ∈ α. Dessa forma,
11.4. CONSTRUÇÃO DO NÚMEROS REAIS POR CORTES DE DEDEKIND 581
s2 = r2 + 2rh + h2 = r2 + (h + 2r)h.
2 − r2
s2 < r2 + (1 + 2r) < r2 + 2 − r2 = 2.
2r + 1
Mostraremos agora que α não possui cota superior mı́nima (a Proposição 11.64 nos diz que
α não é racional). Os racionais que não pertencem a α são os positivos que têm quadrado
maior ou igual a 2. Além disso, sabemos que não existe racional cujo quadrado é igual a
2 (ver Proposição 11.56). Sendo assim, q é uma cota superior de α se q ∈ Q∗+ e q 2 > 2.
Mostraremos que, para cada cota superior p, encontraremos outra cota superior q tal que
q < p. De fato, seja p uma cota superior de α, ou seja, p ∈ Q∗+ e p2 > 2. Seja q = p − p 2p−2 .
2
p 2 − 2 ( p 2 − 2 )2 ( p2 − 2 )2
q 2 = p2 − 2p + =2+ > 2.
2p 2p 2p
R = {α ⊂ Q/α é um corte}.
582 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Os sı́mbolos ≤, >, ≥ podem ser definidos de maneira natural, através da definição de <
dada acima.
1) ( 35 )∗ < 4∗ , pois 2 ∈ 4∗ \( 35 )∗ ;
2) 0∗ < 1∗ , pois 1
2
∈ 1∗ \0∗ ;
Vejamos abaixo como definir os sinais dos cortes, através da definição dada acima.
Exemplo 11.34. O corte 1∗ é positivo, pois 1∗ > 0∗ . Já (−3)∗ é negativo, fornecido que
(−3)∗ < 0∗ .
i) p∗ = q ∗ ⇔ p = q;
ii) (⇒) Como p∗ < q ∗ , temos que ∃x ∈ q ∗ , tal que x ∈ / p∗ , ou seja, x < q e p ≤ x. Daı́
p ≤ x < q. Logo, p < q.
(⇐) Se p < q, então p ∈ q ∗ . E por definição temos que p ∈/ p∗ . Portanto p∗ < q ∗ .
O resultado abaixo mostra como caracterizar as relações < e ≤, por utilizar a inclusão
entre conjuntos.
i) α < β ⇔ α ⊂ β e α ̸= β;
ii) α ≤ β ⇔ α ⊂ β.
Demonstração. i) (⇒) Se α < β, então ∃x0 ∈ β\α (pois β\α ̸= ∅). Logo, x0 ∈ β e x0 ∈ /α
(isto já garante que α ̸= β). Agora, seja r ∈ α, então r não pode ser maior do que
x0 ; caso contrário, x0 < r, terı́amos, pela definição de corte, x0 ∈ α. Isto é uma
contradição! (x0 ∈
/ α). Portanto, r ≤ x0 . Como x0 ∈ β e β é um corte, então r ∈ β.
Dessa forma, α ⊂ β.
(⇐) Suponha que α ⊂ β e α ̸= β. Então, ∃x0 ∈ β tal que x0 ∈
/ α. Logo, x0 ∈ β\α.
Portanto, α < β.
ii) (⇒) Se α < β, então, pelo item anterior, tem-se que α ⊂ β. Se α = β, então, trivialmente,
temos que α ⊂ β.
(⇐) Se α ⊂ β e α ̸= β, então, pelo item anterior, concluı́mos que α < β. Se α = β,
então α ≤ β.
A proposição a seguir nos mostra que a adição entre dois cortes é novamente um corte.
Portanto, a adição é uma aplicação da forma + : R × R → R.
t > r, ∀r ∈ α e u > s, ∀s ∈ β.
Por conseguinte,
t + u > r + s, ∀r ∈ α, ∀s ∈ β,
ou seja, t + u ∈
/ α + β. Logo α + β ̸= Q;
iii) Vamos mostrar que em α + β não há elemento máximo, ou seja, dado r ∈ α + β, existe
s ∈ α + β com s > r. Com efeito, seja r = p + q, com p ∈ α e q ∈ β. Sabemos
que existe p′ ∈ α com p′ > p (ver item iii) da Definição 11.43). Portanto, o racional
s = p′ + q ∈ α + β é maior do que r.
Vejamos, abaixo, que a adição de cortes racionais resulta em outro corte racional.
x = a + b < p + q,
586 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
isto é, x ∈ (p + q)∗ . Reciprocamente, vamos mostrar que (p + q)∗ ⊂ p∗ + q ∗ . Seja y ∈ (p + q)∗ ,
então y < p + q. Seja y = c + d, com
y p q y q p
c= + − ed= + − .
2 2 2 2 2 2
y p q
c= + − <p⇔y <p+q
2 2 2
α + β = {r + s ∈ Q/r ∈ α, s ∈ β} = {s + r ∈ Q/s ∈ β, r ∈ α} = β + α.
(α + β) + γ = {r + s ∈ Q/r ∈ α + β, s ∈ γ}
= {(a + b) + s ∈ Q/a ∈ α, b ∈ β, s ∈ γ}
= {a + (b + s) ∈ Q/a ∈ α, b + s ∈ β + γ}
= {a + c ∈ Q/a ∈ α, c ∈ β + γ}
= α + (β + γ).
11.4. CONSTRUÇÃO DO NÚMEROS REAIS POR CORTES DE DEDEKIND 587
(α ⊂ α + 0∗ ): Seja agora r ∈ α. Sabendo que existe s ∈ α com s > r (ver item iii)
da Definição 11.43), podemos expressar r como r = s + (r − s), onde r − s ∈ 0∗ . Por fim,
r ∈ α + 0∗ . Deste modo, α ⊂ α + 0∗ .
γ = γ + 0∗ = 0∗ + γ = 0∗ .
O lema a seguir será útil na busca por um simétrico para cada elemento de R.
Logo, 0 ∈ Y . Isto nos diz que Y ̸= ∅. Por outro lado, como α é um corte, então ∃q0 ∈ Q\α.
Dessa forma, q0 é uma cota superior de α. Isto nos diz que x < q0 , para todo x ∈ α.
Consequentemente, sn < q0 , para todo n ∈ Y , ou equivalentemente,
q0 − s
n< , ∀n ∈ Y,
r
588 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
onde s < q0 (s ∈ α) e r ∈ Q∗+ . Com isso, podemos concluir que Y é finito. Dessa forma,
existe m ∈ Y tal que m + 1 ∈
/ Y . Isto nos informa que
s + mr ∈ α e s + (m + 1)r ∈
/ α.
Suponhamos que s + (m + 1)r é uma cota superior mı́nima de α, então assuma que
1 r
p = s + (m + )r e q = s + (m + 1)r + .
2 2
É fácil ver que q − p = r. Além disso, p ∈ α; caso contrário, p seria uma cota superior de
α (p ∈ Q\α) e p < s + (m + 1)r (r ∈ Q∗+ ). Isto contradiz a minimalidade de s + (m + 1)r.
Por fim, q é uma cota superior, a qual não é mı́nima, de α (já que q > s + (m + 1)r). Logo,
q ∈ Q\α.
Agora considere que s + (m + 1)r não é cota superior mı́nima de α, então assuma que
p = s + mr e q = s + (m + 1)r.
Vimos acima que p ∈ α e que q ∈ Q\α não é uma cota superior mı́nima de α. Além disso,
q − p = r.
O teorema abaixo nos mostra como representar o simétrico, com relação a adição, para
cada elemento de R.
β2 = β2 + 0∗ = β2 + (α + β1 ) = (β2 + α) + β1 = 0∗ + β1 = β1 .
β = {p ∈ Q/ − p ∈
/ α não é cota superior mı́nima de α}.
11.4. CONSTRUÇÃO DO NÚMEROS REAIS POR CORTES DE DEDEKIND 589
iii) Seja p ∈ β, queremos mostrar que ∃q ∈ β tal que p < q. Dividiremos a prova desta
afirmação em dois casos:
• α não possui cota superior mı́nima:
Como −p ∈ / α e −p não é cota superior mı́nima de α, então existe uma cota superior
r de α (r ∈
/ α), tal que r < −p. Assim, q = −r ∈ β (desde que α não possui cota
590 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
−m + p m p p p
q= = − + > + = p.
2 2 2 2 2
Portanto, β é um corte.
Reciprocamente, seja p ∈ 0∗ . Por definição, p < 0 (−p > 0). Aplicando o Lema 11.13,
existem r ∈ α e r′ ∈
/ α, com r′ não sendo cota superior mı́nima de α, tais que r′ − r = −p .
Segue que p = r + (−r′ ), com r ∈ α e −r′ ∈ β. Portanto, p ∈ α + β. Isto nos informa que
0∗ ⊂ α + β.
Por fim, α + β = 0∗ .
Definição 11.49. Denotaremos β, encontrado no Teorema 11.71, por −α e o chamaremos
simétrico de α. Além disso, −α é dado por
−α = {p ∈ Q/ − p ∈
/ α não é cota superior mı́nima de α}.
q ∗ + (−q)∗ = [q + (−q)]∗ = 0∗ .
α − β = α + (−β).
i) −(−α) = α;
ii) −α + β = β − α;
iii) α − (−β) = α + β;
v) α − (β + γ) = α − β − γ.
Portanto, −(−α) = α;
β − α = β + (−α) = −α + β;
α − (β + γ) = α + [−(β + γ)] = α − β − γ.
α ≤ β ⇔ α + γ ≤ β + γ.
α + γ ≤ β + γ ⇔ α + γ ⊂ β + γ.
(⇐) Reciprocamente, suponha que α + γ ≤ β + γ. Pelo que foi feito acima, concluı́mos
que
(α + γ) + (−γ) ≤ (β + γ) + (−γ),
α + [γ + (−γ)] ≤ β + [γ + (−γ)].
Portanto, chegamos a
α + 0∗ ≤ β + 0∗ .
Demonstração. (⇒) Como α < 0∗ , então, por definição, ∃q ∈ 0∗ tal que q ∈ / α. Vamos
admitir, sem perda de generalidade, que q não é cota superior mı́nima de α. Como q ∈ 0∗ ,
então q < 0. Denote −r = q, o que nos fornece r > 0. Assim, vemos que r ∈ −α já que
−r = q ∈ / 0∗ . O que nos garante que −α > 0∗ .
/ α não é cota superior mı́nima de α, e que r ∈
(⇐) Suponha que −α > 0∗ . Então, existe p ∈ −α e p ∈ / 0∗ . Isto nos diz que −p ∈
/ α (pois
−p é cota superior de α), −p não é cota superior mı́nima de α (ver definição de simétrico)
e p ≥ 0. Como −p não é uma cota superior mı́nima de α, então existe q cota superior de
α (q ∈/ α) tal que q < −p. Seja r = 2−1 [q + (−p)] ∈ Q, então q < r < −p. Como α é um
corte, então r ∈
/ α (caso contrário, q ∈ α, um absurdo). Além disso, como p ≥ 0, temos
que r < −p ≤ 0. Portanto, r < 0. Isto nos diz que r ∈ / α e r ∈ 0∗ . Por fim, r ∈ 0∗ \α.
Consequentemente, α < 0∗ .
A partir de agora, nossa meta é definir a multiplicação entre dois cortes. Permita-nos
começar estabelecendo o que significa multiplicar dois cortes não negativos.
A proposição a seguir prova que a multiplicação entre dois cortes não negativos é nova-
mente um corte não negativo.
i) Como p = −1 ∈ αβ, logo αβ ̸= ∅. Por outro lado, temos que ∃p0 ∈ Q tal que p0 ∈ / α
(α ̸= Q) e ∃q0 ∈ Q tal que q0 ∈ / β (β ̸= Q). Mostremos que p0 q0 ∈ / αβ. Suponhamos
que p0 q0 ∈ αβ, ou seja, ∃p ∈ α, q ∈ β, p ≥ 0 e q ≥ 0 tais que p0 q0 = pq. Não podemos
ter p0 ≤ p (pois, obterı́amos p0 ∈ α), nem q0 ≤ q (pois, terı́amos q0 ∈ β). Dessa forma,
p < p0 e q < q0 . Daı́, pq < p0 q0 . O que é uma contradição, visto que p0 q0 = pq.
Portanto, p0 q0 ∈
/ αβ e assim αβ ̸= Q;
594 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
ii) Sejam r ∈ αβ e s < r (s ∈ Q). Precisamos mostrar que s ∈ αβ. De fato, se s < 0, temos
que s ∈ Q∗− , logo s ∈ αβ. Suponhamos que s ≥ 0 e, portanto, r > 0. Pelo fato de
r ∈ αβ, então existem p ∈ α e q ∈ β, tais que r = pq com p ≥ 0, q ≥ 0. Como r > 0,
segue que p > 0 e q > 0. Tomemos t = ps (s ≥ 0 e p > 0 ⇒ t ≥ 0). Se q ≤ t, terı́amos
pq ≤ pt, ou seja, s ≥ r. O que é um absurdo, já que s < r por hipótese. Logo, devemos
ter t < q. Mas, como q ∈ β, então t ∈ β (β é corte). Desse modo, como s = pt, com
p ∈ α, t ∈ β com p > 0 e t ≥ 0, então s ∈ αβ.
iii) Mostremos agora que αβ não possui elemento máximo, isto é, dado r ∈ αβ, ∃s ∈ αβ tal
que r < s.
De fato, se r < 0 basta tomar s = r
3
< 0 (s ∈ αβ) em ordem a obter s > r.
Suponhamos agora r ≥ 0. Neste caso, r = pq, como p ∈ α, q ∈ β, p ≥ 0 e q ≥ 0.
Sabemos que existem t ∈ α e u ∈ β tais que p < t e q < u (já que α e β não possuem
máximos). Logo, r = pq < tu. Tomando s = tu , temos s ∈ αβ (pois s = tu com
t ∈ α, u ∈ β, t > 0 e u > 0) e s > r. Portanto, αβ não tem máximo.
Por fim, vamos provar que αβ ≥ 0∗ . Com efeito, se α, β > 0∗ , então ∃p ∈ α e q ∈ β tais
que p, q ∈/ 0∗ . Assim, p, q ≥ 0. Logo, pq ≥ 0. Deste modo, podemos concluir que pq ∈ αβ.
Daı́, pq ∈ αβ e pq ∈/ 0∗ . Isto nos diz que αβ > 0∗ . Se α = 0∗ ou β = 0∗ , então αβ = Q∗− = 0∗ .
Por fim, αβ ≥ 0∗ .
Para definir a multiplicação de cortes com, pleo menos, um dos fatores sendo negativo,
trabalharemos com a noção de módulo em R. Mais precisamente, temos a seguinte definição.
1) |α| ≥ 0∗ ;
11.4. CONSTRUÇÃO DO NÚMEROS REAIS POR CORTES DE DEDEKIND 595
2) |α| = 0∗ ⇔ α = 0∗ ;
3) | − α| = |α|.
ii) (⇒) Suponha que |α| = 0∗ . Assim, se α > 0∗ , temos que α = |α| = 0∗ . Isto é uma
contradição. Agora, se α < 0∗ , temos que −α = |α| = 0∗ . Logo, α = 0∗ . Novamente
uma contradição. Logo, pela tricotomia em R, α = 0∗ .
(⇐) Seja α = 0∗ , então, por definição de módulo, |α| = α = 0∗ ;
|α| = −α = | − α|.
Estamos prontos para definir as multiplicações que restam entre dois cortes.
A proposição abaixo, mostra como devemos proceder com as usuais regras de sinal en-
volvendo a multiplicação em R.
• Caso 1: α ≥ 0∗ e β ≥ 0∗ :
e também
(−α)(−β) := | − α|| − β| = |α||β| = αβ. (11.21)
• Caso 2: α ≤ 0∗ e β ≤ 0∗ :
e também
(−α)(−β) = [−(−α)][−(−β)] = αβ.
• Caso 3: α ≥ 0∗ e β ≤ 0∗ :
e também
• Caso 4: α ≤ 0∗ e β ≥ 0∗ :
e também
O teorema abaixo, demonstra que não importa a ordem que realizamos a multiplicação
entre dois elementos de R .
Caso 1: Assuma α, β ≥ 0∗ :
Logo,
αβ = −|α||β| = −|β||α| = βα.
Caso 4: Assuma α ≥ 0∗ e β ≤ 0∗ :
Dessa forma,
αβ = −|α||β| = −|β||α| = βα.
Caso 1: Assuma α, β, γ ≥ 0∗ :
Reciprocamente,
Caso 2: Considere α ≤ 0∗ , β ≤ 0∗ e γ ≥ 0∗ :
11.4. CONSTRUÇÃO DO NÚMEROS REAIS POR CORTES DE DEDEKIND 599
Caso 3 : α ≥ 0∗ , β ≤ 0∗ e γ ≥ 0∗ :
Caso 4: Assuma α ≥ 0∗ , β ≤ 0∗ e γ ≤ 0∗ :
Caso 5: Considere α ≤ 0∗ , β ≤ 0∗ e γ ≤ 0∗ :
Veja que
Caso 6: Suponha α, β ≥ 0∗ e γ ≤ 0∗ :
600 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Caso 7: Assuma α ≤ 0∗ , β ≥ 0∗ e γ ≤ 0∗ :
Note que
r ∈ α (pois p ∈ α e α é um corte).
Com isso, podemos concluir que −α > 0∗ (ver Proposição 11.71). Dessa forma, con-
cluı́mos, pelo caso anterior, que
αβ = α, ∀α ∈ R.
Assim,
1∗ = 1∗ · β = β · 1∗ = β.
β + γ ≥ 0∗ + γ = γ ≥ 0∗ .
602 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
′ ′ ′ ′ ′ ′
αβ = Q∗− ∪ {r ∈ Q/r = p y , com 0 ≤ p ∈ α e 0 ≤ y ∈ β} ,
′′ ′′ ′′ ′′ ′′ ′′
αγ = Q∗− ∪ {r ∈ Q/r = p z , com 0 ≤ p ∈ α e 0 ≤ z ∈ γ}
e também
αβ + αγ = {s + t ∈ Q/s ∈ αβ e t ∈ αγ}.
a) a + b, com a, b ∈ Q∗− ;
′′ ′′ ′′ ′′
b) a + p z , com a ∈ Q∗− , 0 ≤ p ∈ α e 0 ≤ z ∈ γ;
′ ′ ′ ′
c) p y + b, com b ∈ Q∗− , 0 ≤ p ∈ α e 0 ≤ y ∈ β;
′ ′ ′′ ′′ ′ ′ ′′ ′′
d) p y + p z , com 0 ≤ p ∈ α, 0 ≤ y ∈ β, 0 ≤ p ∈ α e 0 ≤ z ∈ γ.
Vamos primeiramente provar que os elementos de α(β+γ) são escritos por uma das expressões
acima. De fato, se o elemento de α(β + γ) é racional negativo, então este é dado por a);
portanto, este também está em αβ + αγ. Agora considere um elemento de α(β + γ) da forma
py + pz, com 0 ≤ p ∈ α, y ∈ β, z ∈ γ e 0 ≤ y + z. Se y, z ≥ 0, então py + pz está representado
em d) e; consequentemente, pertence a αβ + αγ. Se y < 0 e z ≥ 0, então py + pz é da forma
dada em b) (se p > 0) ou d) (se p = 0); em ambos os casos, py + pz ∈ αβ + αγ. Se y ≥ 0 e
z < 0, então py + pz é da forma estabelecida em c) (se p > 0) ou d) (se p = 0); em qualquer
caso py + pz ∈ αβ + αγ. Concluı́mos que α(β + γ) ⊂ αβ + αγ.
′′ ′′ ′′ ′′ ′′ ′′ ′′
isto é, a + p z , com 0 ≤ p ∈ α e 0 ≤ z ∈ γ. Note que, se p = 0, então a + p z = a < 0.
′′ ′′ ′′ ′′ ′′ ′′ ′′
Logo, a + p z ∈ α(β + γ). Assuma que p > 0. Se a + p z < 0, então a + p z ∈ α(β + γ).
′′ ′′
Considere, então que a + p z ≥ 0. Logo,
1 ′′ ′′ 1
′′ (a + p z ) ≥ · 0 = 0.
p p′′
′′
Daı́, pa′′ + z ≥ 0. Seja y = p
a
′′ . Então, y < 0 (y ∈ 0∗ ⊂ β); logo, y ∈ β. Além disso,
′′
y + z ≥ 0. Portanto,
′′ ′′ ′′ a ′′ ′′ ′′ ′′ ′′ ′′ ′′
a+p z =p ( ′′ ) + p z = p y + p z , 0 ≤ p ∈ α, y ∈ β, 0 ≤ z ∈ γ, y + z ′′ ≥ 0.
p
′′ ′′
Isto nos diz que a + p z ∈ α(β + γ). Se o elemento de αβ + αγ é da forma d), ou seja,
′ ′ ′′ ′′ ′ ′ ′′ ′′ ′′ ′
p y + p z , com 0 ≤ p ∈ α, 0 ≤ y ∈ β, 0 ≤ p ∈ α e 0 ≤ z ∈ γ. Suponhamos p ≥ p ,
então
′ ′ ′′ ′′ ′ ′ ′′ ′ ′′ ′ ′′ ′′ ′ ′′ ′ ′′ ′ ′′ ′′ ′′ ′ ′′ ′′
p y + p z = p y − p y + p y + p z = (p − p )y + p y + p z ≤ p y + p z ∈ α(β + γ).
′ ′ ′′ ′′ ′′ ′
Daı́, p y + p z ∈ α(β + γ) (corte). Suporemos, agora, que p < p , temos
′ ′ ′′ ′′ ′ ′ ′ ′′ ′ ′′ ′′ ′′ ′ ′ ′ ′′ ′′ ′ ′′ ′ ′ ′ ′′
p y + p z = p y + p z − p z + p z = p y + p z + z (−p + p ) ≤ p y + p z ∈ α(β + γ).
′ ′ ′′ ′′
Como α(β + γ) é um corte, então p y + p z ∈ α(β + γ). Portanto, αβ + αγ ⊂ α(β + γ).
Logo, α(β + γ) = αβ + αγ.
Caso 2: Assuma α ≤ 0∗ e β, γ ≥ 0∗ :
Agora, se β + γ ≥ 0∗ , então
Dessa forma, αβ + [−(−α)γ] = −(−α)(β + γ), o que nos diz que αβ + αγ = α(β + γ).
Caso 4: Assuma α, β, γ ≤ 0∗ :
Veja que
β + γ ≤ 0∗ + γ = γ ≤ 0∗ .
Caso 6: Assuma α ≥ 0∗ e β, γ ≤ 0∗ :
Sabemos que
β + γ ≤ 0∗ + γ = γ ≤ 0∗ .
Assim,
α · 0∗ = α · (0∗ + 0∗ ) = α · 0∗ + α · 0∗ .
0∗ = α · 0∗ + (−α · 0∗ ) = (α · 0∗ + α · 0∗ ) + (−α · 0∗ )
= α · 0∗ + [α · 0∗ + (−α · 0∗ )] = α · 0∗ + 0∗ = α · 0∗ .
Portanto, α · 0∗ = 0∗ .
i) α ≤ β, γ ≥ 0∗ ⇒ αγ ≤ βγ;
ii) α ≤ β, γ ≤ 0∗ ⇒ αγ ≥ βγ.
606 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
0∗ = α + (−α) ≤ β + (−α).
0∗ = α + (−α) ≤ β + (−α).
Em ordem a definir o inverso multiplicativo para cada elemento não nulo de R, mostremos
o seguinte resultado.
iii) Seja p ∈ β. Mostraremos que existe q ∈ β tal que p < q. Suponha que p ≤ 0. afirmamos
que ∃q0 ∈/ α tal que q0 > 0. De fato, sabemos que ∃p0 ∈ Q tal que p0 ∈/ α (α ̸= Q).
11.4. CONSTRUÇÃO DO NÚMEROS REAIS POR CORTES DE DEDEKIND 607
Assim, se p0 > 0, nada há a fazer. Considere que p0 ≤ 0. Como vimos acima ∃p′ ∈ α
tal que 0 < p′ . Como α é um corte, p0 ∈ α. Absurdo! Assim, q0−1 ∈ β e p ≤ 0 < q0−1 .
Vamos supor agora que p > 0. Como p ∈ β e p > 0, então p−1 ∈ / α. Tomemos
−1
s = q0 +p
2
. Assim temos que q0 < s < p−1 . Tomando q = s−1 , chegamos a q > p > 0.
Portanto, q > 0. Além disso, q −1 = s ∈ / α (pois s > q0 e q0 ∈ / α). Logo, q ∈ β.
Portanto, β não possui elemento máximo.
Isto prova que β é um corte. Por fim, é fácil ver que 0∗ = Q∗− ⊂ β, 0 ∈ β e 0 ∈
/ 0∗ . Assim,
β > 0∗ .
Definição 11.54. Seja α um corte tal que α ̸= 0∗ . Se α > 0∗ , então o corte β do Teorema
11.79 é denotado por α−1 e chamado de inverso de α. Se α < 0∗ , então definimos o inverso
de α como sendo α−1 = −|α|−1 .
• Caso α > 0∗ :
s(r−1 )n0 = s[1 + (r−1 − 1)]n0 ≥ s[1 + n0 (r−1 − 1)] > s(1 + xs−1 − 1) = x.
608 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
p1 < p2 ⇒ p1 p−1 −1 −1 −1 −1
1 < p2 p1 ⇒ 1 < p2 p1 ⇒ t < tp2 p1 ⇒ t < q1 .
q1 = t−1 p−1 −1
2 p1 ⇒ p2 q1 = t p1
• Caso α < 0∗ :
Por definição, temos que α−1 = −|α|−1 . Como |α|−1 > 0∗ , então −|α|−1 < 0∗ (ver
Proposição 11.71), ou seja, α−1 < 0∗ . Daı́, pela definição de produto,
i) Se γ > 0∗ , então αγ ≤ βγ ⇒ α ≤ β;
Demonstração. i) Vimos no Teorema 11.79, que γ −1 > 0∗ . Portanto, pelo Teorema 11.78,
chegamos a (αγ)γ −1 ≤ (βγ)γ −1 . Por usar a associatividade, encontramos α(γγ −1 ) ≤
β(γγ −1 ). Aplicando o Teorema 11.80, concluı́mos que α ≤ β;
ii) Usando a prova do Teorema 11.79, inferimos que γ −1 < 0∗ . Portanto, pelo Teorema
11.78, obtemos (αγ)γ −1 ≤ (βγ)γ −1 . Por associatividade, resulta α(γγ −1 ) ≤ β(γγ −1 ).
Aplicando o Teorema 11.80, chegamos a α ≤ β.
α = α · 1∗ = α(ββ −1 ) = (αβ)β −1 = 0∗ · β −1 = 0∗ .
Analogamente, chegamos a
Caso p = 0 ou q = 0:
p∗ (p−1 )∗ = (pp−1 )∗ = 1∗ .
O nosso interesse agora é provar que existe um corte racional entre dois cortes quaisquer
dados. Primeiramente, trabalharemos com a seguinte Proposição.
/ r∗ , então r∗ < α.
Demonstração. (⇒) Suponha que r ∈ α. Como r ∈
11.4. CONSTRUÇÃO DO NÚMEROS REAIS POR CORTES DE DEDEKIND 611
Teorema 11.83. Sejam α, β ∈ R tais que α < β. Então, existe um corte racional r∗ ∈ R
tal que α < r∗ < β.
Temos, então, R munido de duas operações e de uma relação de ordem obedecendo às
mesmas leis aritméticas dos racionais. Assim, resgatando a linguagem algébrica da Seção
11.3.6, R é, como Q, um corpo ordenado.
Para finalizar esta subseção, gostarı́amos de ressaltar que, a partir do que foi provado
acima, é possı́vel definir a operação de divisão em R.
Demonstração. Esta proposição segue diretamente de alguns resultados, já provados, para
cortes racionais. De fato,
p∗ ( p )∗
∗ ∗ −1 ∗ −1 ∗ −1 ∗
= p · (q ) = p · (q ) = (p · q ) = .
q∗ q
i) fQ é injetora;
Demonstração. A Proposição 11.65 nos garante que fQ é injetora e e satisfaz iv). Os itens
ii) e iii) foram provados nas Proposições 11.68 e 11.76, respectivamente.
Mais uma vez, obtivemos uma cópia algébrica de um conjunto em outro, desta vez,
fQ (Q) é a cópia de Q em R, sendo fQ (Q) precisamente o conjunto dos cortes racionais.
Vimos também que há em R cortes não racionais. Assim, R\fQ (Q) ̸= ∅.
Definição 11.56. O conjunto R dos cortes será, a partir de agora, denominado de conjunto
dos números reais. Os cortes racionais serão identificados, via injeção fQ , com os números
racionais. Todo corte que não for racional será denominado número irracional.
i) R = A ∪ B;
ii) A ∩ B = ∅;
iii) A ̸= ∅ e B ̸= ∅;
iv) α ∈ A, β ∈ B ⇒ α < β.
Nessas condições, existe um único γ ∈ R tal que α ≤ γ ≤ β, para todo α ∈ A e para todo
β ∈ B.
ii) Sejam r ∈ γ e s < r. Logo, r ∈ α para algum α ∈ A e, como s < r, então s ∈ α de onde
segue que s ∈ γ.
Notemos, informalmente, que em R não há lacunas, mas, em Q há. Por esta razão,
dizemos que R é completo.
Para finalizar esta subseção, permita-nos listar a usual notação para intervalos de números
reais, que são os subconjuntos de R dos seguintes tipos, onde a e b são reais com a < b:
9. (−∞, +∞) = R.
11.4.5 Completude de R
iv) Suponhamos que A seja limitado superiormente e que s é uma cota superior mı́nima de
A (no sentido de que qualquer cota superior de A seja maior ou igual a s). Neste caso,
s diz-se supremo de A e é denotado por sup A.
Demonstração. De fato,
ii) Note que qualquer r ∈ R, tal que r ≤ 0 é uma cota inferior de B. Precisamos mostrar
que 0 é a maior cota inferior de B. De fato, se r > 0, então r não pode ser cota inferior
de B, pois 12 ∈ B e 12 < r. Portanto, inf B = 0.
O resultado a seguir garante a unicidade do supremo, caso exista, para conjuntos limitados
superiormente em R.
Portanto, a1 = a2 (tricotomia). Isto nos diz que se o supremo de um conjunto não vazio
existe, então este é único.
Agora, vamos provar a existência do supremo para qualquer subconjunto de R não vazio
e limitado superiormente (esta propriedade não é válida em N, Z e Q).
Demonstração. Definamos
isto é, A é o conjunto constituı́do pelos números reais que não são cotas superiores de X.
Seja B = R\A, isto é, B é o conjunto constituı́do pelas cotas superiores de X. Vamos
verificar que A e B satisfazem as condições do Teorema 11.84.
As condições i) e ii) são claramente válidas. Quanto a iii), temos que, sendo X ̸= ∅,
existe x ∈ X e, portanto, qualquer α < x é elemento de A. Logo, A ̸= ∅. Além disso, como
X é limitado superiormente, B ̸= ∅. Para verificar iv), sejam α ∈ A e β ∈ B. Assim, existe
x ∈ X tal que α < x. Como β ≥ x (β é cota superior de X), obtemos β > α.
Pelo Corolário 11.85, ou A possui máximo, ou B possui mı́nimo. Vamos mostrar que
a primeira alternativa não pode ocorrer, de onde decorrerá que B possui mı́nimo, que é a
tese do teorema. Tomemos, então, α arbitrário em A. Assim, existe x ∈ X tal que α < x.
′ ′ ′ ′
Consideremos α tal que α < α < x. Logo, α ∈ A e α < α . Portanto, A não possui
máximo. Como querı́amos verificar.
Provaremos agora a existência de números não racionais em R (note que a definição dada
para potência no capı́tulo sobre Q pode ser aplicada a R (ver Definição 11.36), juntamente
com as propriedades dadas nas Proposições 11.49 e 11.50).
Proposição 11.83. Existe um único número real positivo cujo quadrado é 2, isto é, a
√
equação x2 = 2 tem uma única solução real positiva. Tal solução é denotada por 2.
Demonstração. Seja X = {x ∈ R∗+ /x2 < 2}. É claro que X ̸= ∅, pois 1 ∈ X. X é limitado
superiormente, por exemplo, pelo número 3. De fato, 0 < x < 3 equivale a x2 < 32 , que é
618 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
verdadeira para x ∈ X, pois, para esses números, x2 < 2. Pelo Teorema 11.86, X possui
supremo, digamos s = sup X. Mostremos que s2 = 2, por exclusão dos casos s2 < 2 e s2 > 2,
de onde seguirá a afirmação.
2
Suponhamos s2 < 2. Então, podemos escolher h ∈ R tal que 0 < h < min{1, 2s+1
2−s
}.
Dessa forma, obtemos
Suponhamos agora s2 > 2. Então, podemos escolher h ∈ R tal que 0 < h < s 2s−2 para
2
obter
s2 − 2
(s − h)2 = s2 − 2sh + h2 > s2 − 2s > 2,
2s
isto é, (s − h)2 > 2, logo s − h > x, ∀x ∈ X, contradizendo o fato de s ser a menor cota
superior de X (s − h < s).
x1 + x2 + ... + xn + ...
∑
∞
∑
∞
é chamada série de números reais. Esta é denotada por xn . Dizemos que xn = x ∈ R
n=1 n=1
quando dado ε real positivo existe n0 ∈ N∗ tal que ∀n ≥ n0 , com n ∈ N∗ , tem-se
|sn − x| < ε,
11.4. CONSTRUÇÃO DO NÚMEROS REAIS POR CORTES DE DEDEKIND 619
onde sn = x1 + x2 + ... + xn , ∀n ∈ N∗ .
∑
∞
Exemplo 11.36. Considere que a, r ∈ R∗+ . A série de números reais arn−1 é chamada
n=1
de série geométrica de razão r.
∑
∞
a
Afirmamos que arn−1 = 1−r
, sempre que r < 1.
n=1
n+1 )
Logo, sn − rsn = a − arn+1 . Assim, sn = a(1−r
1−r
(1 − r > 0). Dado ε real positivo, existe,
pela propriedade Arquimediana, n0 ∈ N tal que
[ ]
r a 1−r
n0 > −1− .
1 − r (1 − r)ε r
∑
∞
a
Portanto, arn−1 = 1−r
.
n=1
∑∞ ∑∞ ( )n−1 1
9 9 1 10
= = 9 = 1.
n=1
10n n=1
10 10 1 − 10
∑
∞ ∑∞ ( )n−1 9
9 9 1 100
1, 4 + = 1, 4 + = 1, 4 +
n=1
10n+1 n=1
100 10 1 − 101
9
100 90
= 1, 4 + 9 = 1, 4 +
10
900
= 1, 4 + 0, 1 = 1, 5.
Vamos, agora, estudar a representação decimal dos números reais. Para isso, comecemos
com o seguinte lema.
Lema 11.14. Seja α ∈ R+ . Então, existe um máximo m0 ∈ N tal que m0 ≤ α. Além disso,
0 ≤ α − m0 < 1.
elemento mı́nimo, digamos, p0 = min B. Dessa forma, α < p0 ≤ p, ∀p ∈ B (p0 ∈ B). Desse
modo, p0 − 1 ∈/ B, ou seja, p0 − 1 ≤ α; logo, p0 − 1 ∈ A.
No teorema a seguir, estudaremos a representação decimal dos números reais não nega-
tivos menores do que 1.
i) A cada número real α, tal que 0 ≤ α < 1, corresponde uma única sequência de dı́gitos,
denotada por (nk )k∈N∗ , i.e., uma aplicação n : N∗ → R, satisfazendo:
a) 0 ≤ nk ≤ 9, ∀k ∈ N∗ ;
b) (nk )k∈N∗ não possui infinitos dı́gitos consecutivos iguais a 9;
∗
k , ∀k ∈ N , concluı́mos que α = sup S, onde S = {Sk ∈
n1 nk
c) definindo, Sk = 10
+ ... + 10
R/k ∈ N∗ }.
Demonstração. i) Seja n1 o maior natural tal que 0 ≤ 10α − n1 < 1 (ver Lema 11.14). Logo,
n1
10
= α e 0 ≤ n1 ≤ 9 (0 ≤ α < 1).
Se n101 = α, associamos a α a sequência (n1 , 0, 0, 0...) (neste caso Sk = α, ∀k ∈ N∗ ; logo,
α = sup S).
Se n1
10
< α, temos que ∃n2 o maior número natural tal que
n1 n2
+ 2 ≤ α.
10 10
n1
n2 ≤ 102 (α − ) ⇔ n2 ≤ 10(10α − n1 ) < 10,
10
622 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
n1 n2 n3
+ 2 + 3 ≤ α.
10 10 10
(Aqui 0 ≤ (103 α − 102 n1 − 10n2 ) − n3 < 1). Logo, n3 ≤ 10[102 α − (10n1 + n2 )] < 10.
Consequentemente, 0 ≤ n3 ≤ 9. Neste caso, α corresponde a (n1 , n2 , n3 , 0, ...) (note
que, S1 < S2 < Sk = α, ∀k ≥ 3; assim α = sup S).
Seguindo este processo, assuma que foram encontrados n1 , n2 , ..., nk−1 naturais entre 0
e 9 tais que
n1 n2 nk−1
+ 2 + ... + k−1 < α e 0 ≤ 10k−1 α − 10k−2 n1 − ... − 10nk−2 − nk−1 < 1.
10 10 10
n1 n2 nk
+ 2 + ... + k ≤ α.
10 10 10
(Aqui 0 ≤ 10k α−10k−1 n1 −...−10nk−1 −nk < 1), com nk satisfazendo, necessariamente,
0 ≤ nk ≤ 9 (pois, nk ≤ 10(10k−1 α − 10k−2 n1 − ... − nk−1 ) < 9).
ii) Reciprocamente, dada uma sequência (nk )k∈N∗ , com 0 ≤ nk ≤ 9, para todo k, como foi
11.4. CONSTRUÇÃO DO NÚMEROS REAIS POR CORTES DE DEDEKIND 623
n1 nk 9 9 ∑ 9 ∞
Sk = + ... + k ≤ + ... + k < λ < = 1,
10 10 10 10 n=1
10n
onde λ é encontrado pelo fato de não termos infinitos noves na sequência (nk )k∈N∗ . S
é limitado superiormente por 1. Assim, α = sup S (S ̸= ∅) é o número real associado
à sequência (nk )k∈N∗ . Note que 0 ≤ α < 1 (pois, 0 ≤ λ < 1).
i) Dado um número real α, com 0 ≤ α < 1, seja (nk )k∈N∗ a sequência de dı́gitos correspon-
dente a α, sem infinitos noves consecutivos, construı́da na primeira parte do teorema
acima. A representação decimal de α se define como sendo a expressão 0, n1 n2 n3 n4 ....
Se nk ̸= 0 e nl = 0, para todo l > k, convenciona-se representar 0, n1 n2 n3 n4 ... por
0, n1 n2 n3 n4 ...nk , que será dita representação decimal finita de α;
ii) Se α ≥ 1, sabemos que existe n0 ∈ N o maior natural tal que 0 ≤ α − n0 < 1 (n0 ≤ α)
(ver Lema 11.14). Seja 0, n1 n2 n3 n4 ...nk ... a representação decimal de α − n0 definida
em i). Definimos a expressão decimal de α como sendo a expressão n0 , n1 n2 n3 n4 ...nk ...;
iii) Se α < 0, definimos sua representação decimal como sendo −x, onde x é a representação
decimal de −α.
Nossas representações decimais não consideram, então, expressões com infinitos noves
consecutivos, como 0, 999.... Vimos no Exemplo 11.36 que é possı́vel, no entanto, atribuir
a elas um significado similar ao das expressões sem infinitos noves consecutivos. Mais pre-
cisamente, vimos que a representação decimal de 1 é, pela definição acima, 1, 00000..., que
convencionamos representar pelo próprio sı́mbolo 1. Dessa forma, escrevemos 0, 999... = 1
(para mais detalhes ver Exemplo 11.36).
Deste modo, estamos apontando para o fato de que representações decimais finitas ou
periódicas (aquelas que contêm uma repetição sucessiva de um bloco de dı́gitos) correspon-
dem os números racionais. De fato, seja 0 ≤ α < 1, onde α = 0, α1 α2 ...αn um número real
624 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
com representação decimal finita. Multiplicando por 10n ambos os membros da igualdade,
obtemos
α1 α2 ...αn
10n α = α1 α2 ...αn ⇒ α = ∈ Q.
10n
Do mesmo modo, seja α = 0, α1 α2 ...αn α1 α2 ...αn ... um número real com representação deci-
mal periódica (n ≥ 1). Multiplicando por 10n ambos lados desta igualdade, encontramos
α1 α2 ...αn
10n α − α = α1 α2 ...αn ⇒ α = ∈ Q.
10n − 1
A representação decimal dos números reais permite demonstrar que R não é enumerável
(diferentemente de N, Z e Q). Como faremos a seguir. Comecemos discutindo a não enume-
rabilidade de I = (0, 1).
Demonstração. Mostremos que, qualquer que seja a enumeração estabelecida para elementos
de I, sempre existirá um elemento de I não considerado na dada enumeração. De fato, seja
′
I um conjunto enumerável constituı́do de elementos de I que, portanto, pode ser escrito na
′
forma I = {x0 , x1 , x2 , ...}, onde, para cada n ∈ N, xn representa a imagem de n por uma
′ ′
certa bijeção de N em I . Vamos representar cada elemento de I pela sua representação
decimal, dada acima, da seguinte forma:
..
.
xk = 0, xk0 xk1 xk2 ...
..
.
′
Vamos construir agora um número real x ∈ I, diferente de todos os elementos de I através
da seguinte representação decimal: 0, a0 a1 a2 a3 ... onde, 1 ≤ an ≤ 8 e an ̸= xnn , ∀n ∈ N. Pela
correspondência bijetora estabelecida acima entre números reais e representações decimais
sem infinitos noves, a representação decimal 0, a0 a1 a2 a3 ... corresponde a um único número
′
real de I que é diferente de todos os elementos de I . Como querı́amos demonstrar.
Demonstração. Como I = (0, 1) é não enumerável, então pela Proposição 11.19, R não pode
ser enumerável.
Nesta bseção, realizaremos uma construção alternativa do conjunto dos números reais.
Esta se dará por meio de uma relação de equivalência envolvendo sequências de Cauchy em
Q.
Definição 11.60. Sejam (xn ) e (yn ) duas sequências de Cauchy de números racionais. Di-
zemos que (xn ) e (yn ) são equivalentes, e denotamos por (xn ) ∼ (yn ), se lim |xn − yn | = 0.
n→∞
Proposição 11.84. Se (xn ), (yn ) e (zn ) são sequências de Cauchy de números racionais e
∼ como na Definição 11.60. Então, são válidas as seguintes propriedades:
Através da relação de equivalência, dada acima, podemos definir o que significa classe de
equivalência de sequências de Cauchy.
Definição 11.61. Seja (xn ) uma sequência de Cauchy de números racionais. Designaremos
por [xn ] o conjunto de todas as sequências equivalentes a (xn ), isto é,
Vejamos uma maneira canônica de verificar quando duas classes de equivalência são iguais
em R.
Proposição 11.85. Sejam [xn ] e [yn ] ∈ R. Então, [xn ] = [yn ] ⇔ (xn ) ∼ (yn ).
através da propriedade reflexiva de ∼. Consequentemente, (xn ) ∈ [yn ]. Isto nos diz que,
(xn ) ∼ (yn ).
(⇐) Reciprocamente, suponhamos que (xn ) ∼ (yn ). Seja (zn ) ∈ [xn ], então (zn ) ∼ (xn ).
Por transitividade, concluı́mos que (zn ) ∼ (yn ). Portanto, (zn ) ∈ [yn ]. Isto nos informa que
[xn ] ⊆ [yn ]. Agora considere que (wn ) ∈ [yn ]. Assim sendo, (wn ) ∼ (yn ). Como (xn ) ∼ (yn ),
então (yn ) ∼ (xn ) (por simetria). Dessa forma, (wn ) ∼ (xn ). Logo, (wn ) ∈ [xn ]. Portanto,
[yn ] ⊆ [xn ] (por transitividade). Por fim, [xn ] = [yn ].
lim |xn − a| = 0.
n→∞
Nesta subseção, trataremos de definir o que significa um elemento de R ser menor do que
ou igual a outro. Comecemos com a definição de quando um elemento de R é maior do que
[0].
Definição 11.62. Seja [xn ] ∈ R. Dizemos que [xn ] é maior do que [0], e denotamos [xn ] > [0],
se existem d ∈ Q∗+ e n0 ∈ N∗ tais que, para todo n ∈ N∗ , tem-se que n ≥ n0 ⇒ xn > d.
Definição 11.63. Seja [xn ] ∈ R. Dizemos que [xn ] é menor do que [0], e denotamos [xn ] <
[0], se existem d ∈ Q∗+ e n0 ∈ N∗ tais que, para todo n ∈ N, tem-se que n ≥ n0 ⇒ xn < −d.
Agora, estamos prontos para definir quando um elemento de R é menor do que outro.
628 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Definição 11.64. Sejam [xn ], [yn ] ∈ R. Dizemos que [xn ] é maior do que [yn ], e indicamos
por [xn ] > [yn ], se [xn − yn ] > [0]. Também definimos que [xn ] é menor do que [yn ], e
indicamos por [xn ] < [yn ], se [yn − xn ] > [0].
A relação < está bem definida, ou seja, as classes de equivalência que estão sendo com-
paradas independem dos seus representantes.
Proposição 11.86. Sejam [xn ], [yn ], [zn ] e [wn ] ∈ R. Se [xn ] = [zn ] e [yn ] = [wn ], então
Demonstração. Como [yn ] > [xn ], então [yn − xn ] > [0]. Daı́, existem d ∈ Q∗+ e n1 ∈ N∗ tais
que
n ≥ n1 ⇒ yn − xn > d.
Por outro lado, (xn ) ∼ (zn ) e (yn ) ∼ (wn ) (pois, [xn ] = [zn ] e [yn ] = [wn ]) nos diz que
d d
n ≥ n2 ⇒ |xn − zn | < e n ≥ n3 ⇒ |wn − yn | < .
4 4
d
n ≥ n0 ⇒ − < xn − zn + wn − yn e xn − yn < −d.
2
d
n ≥ n0 ⇒ − < wn − zn − d.
2
d
n ≥ n0 ⇒ < w n − zn .
2
Proposição 11.87 (Tricotomia). Sejam [xn ], [yn ] ∈ R. Então, apenas uma das três possibi-
lidades pode ocorrer: [xn ] < [yn ], ou [xn ] = [yn ], ou [xn ] > [yn ].
Demonstração. Vamos mostrar inicialmente que pelo menos uma das três opções ocorre. De
fato, dados [xn ] e [yn ] ∈ R ou [xn ] = [yn ], ou [xn ] ̸= [yn ]. Caso valha a igualdade, então
nada há a verificar. Caso contrário, temos que [xn ] e [yn ] não são equivalentes, via relação de
equivalência ∼. Daı́ lim |xn − yn | ̸= 0. Logo, ∃ε ∈ Q∗+ tal que para todo n ∈ N∗ , podemos
n→∞
encontrar mn ∈ N, com mn ≥ n, que satisfaz
|xmn − ymn | ≥ ε.
Como (xn ) e (yn ) são sequências de Cauchy de números racionais, então ∃n0 ∈ N∗ tal que
ε ε
|xn − xm | < e |yn − ym | < , ∀n, m ≥ n0 .
4 4
ε ε
|xn − xmn0 | < e |yn − ymn0 | < , ∀n ≥ n0 .
4 4
ε
xn > xmn0 − , ∀n ≥ n0 .
4
ε
−yn > −ymn0 − , ∀n ≥ n0 .
4
ε ε ε ε ε
xn − yn > xmn0 − − ymn0 − = (xmn0 − ymn0 ) − ≥ ε − = , ∀n ≥ n0 .
4 4 2 2 2
Donde concluı́mos que xn − yn > 2ε , ∀n ≥ n0 . Isto nos diz que [xn ] > [yn ].
ii) Considere que xmn0 − ymn0 ≤ −ε. Como xn − xmn0 < 4ε , ∀n ≥ n0 , então
ε
xn < xmn0 + , ∀n ≥ n0 .
4
630 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
ε
−yn < −ymn0 + , ∀n ≥ n0 .
4
Daı́,
ε ε ε ε ε
xn − yn < xmn0 + − ymn0 + = (xmn0 − ymn0 ) + ≤ −ε + = − , ∀n ≥ n0 .
4 4 2 2 2
Donde concluı́mos que xn − yn < − 2ε , ∀n ≥ n0 . Isto significa que [xn ] < [yn ].
Assim, se [xn ] ̸= [yn ], deve ocorrer [xn ] < [yn ] ou [xn ] > [yn ].
Provaremos agora que [xn ] ̸= [yn ], [xn ] < [yn ] e [xn ] > [yn ] não podem ocorrer simultane-
amente.
Suponhamos que [xn ] = [yn ] e [xn ] > [yn ] ocorram simultaneamente. De [yn ] < [xn ],
existem d ∈ Q∗+ e n1 ∈ N∗ tais que para todo n ∈ N∗ com n ≥ n1 tem-se xn − yn > d. Por
outro lado, temos também que [xn ] = [yn ] então lim |xn − yn | = 0. Dessa forma, ∃n2 ∈ N∗
n→∞
tal que para todo n ∈ N com n ≥ n2 tem-se |xn − yn | < d. O que nos leva a concluir que
xn − yn < d. Tomando n0 = max{n1 , n2 } ∈ N∗ , podemos inferir, para todo n ≥ n0 , que
xn − yn > d e xn − yn < d. Pela Tricotomia em Q as desigualdades não podem ser satisfeitas.
Suponhamos agora que [xn ] = [yn ] e [xn ] < [yn ] sejam válidas. De [yn ] > [xn ], existem
d1 ∈ Q∗+ e n3 ∈ N∗ tais que para todo n ∈ N, com n ≥ n3 , yn − xn > d1 . Por outro
lado, temos também que [xn ] = [yn ] então lim |xn − yn | = 0. Dessa forma, ∃n4 ∈ N∗ para
n→∞
todo n ∈ N, com n ≥ n4 , tem-se |yn − xn | < d1 . Assim sendo, yn − xn < d1 . Assumindo
n5 = max{n3 , n4 } ∈ N∗ , podemos concluir, para todo n ≥ n5 , que
yn − xn > d1 e yn − xn < d1 .
Suponhamos agora que [xn ] < [yn ] e [xn ] > [yn ] sejam válidas. Por [xn ] < [yn ], sabemos
que existem d2 ∈ Q∗+ e n6 ∈ N∗ tais que n ≥ n6 ⇒ yn − xn > d2 . Por outro lado, por
[xn ] > [yn ], existem d3 ∈ Q∗+ e n7 ∈ N tais que n ≥ n7 ⇒ xn − yn > d3 . Tomando
n8 = max{n6 , n7 } ∈ N∗ , obtemos
n ≥ n8 ⇒ yn − xn + xn − yn > d2 + d3 ⇒ 0 > d2 + d3 .
11.5. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS REAIS POR SEQUÊNCIAS DE CAUCHY 631
Proposição 11.88 (Antissimetria). Sejam [xn ] e [yn ] ∈ R. Se [xn ] ≤ [yn ] e [yn ] ≤ [xn ],
então [xn ] = [yn ].
Demonstração. Suponha que [xn ] ̸= [yn ], então, por hipótese, temos que [xn ] < [yn ] e [xn ] >
[yn ]. Mas, isto é uma contradição de acordo com a tricotomia em R. Logo, [xn ] = [yn ].
Com a finalidade de provar que ≤ é uma relação de ordem, resta-nos estabelecer a tran-
sitividade desta relação.
Proposição 11.90 (Transitividade). Sejam [xn ], [yn ] e [zn ] ∈ R. Se [xn ] ≤ [yn ] e [yn ] ≤ [zn ],
então [xn ] ≤ [zn ].
Demonstração. Primeiramente, note que se [xn ] = [yn ] e [yn ] = [zn ], então [xn ] = [zn ] (por
igualdade de conjuntos).
Agora considere que [xn ] = [yn ] e [yn ] < [zn ]. Vamos provar que [xn ] < [zn ]. Por definição,
temos que existem d ∈ Q∗+ e n0 ∈ N∗ tais que
n ≥ n0 ⇒ zn − yn > d.
632 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
d
n ≥ n0 ⇒ zn − xn > .
2
Isto nos diz que [xn ] < [zn ]. O caso [xn ] < [yn ] e [yn ] = [zn ] é análogo.
n ≥ n1 ⇒ yn − xn > d1 .
Por outro lado, como [yn ] < [zn ], então existem d2 ∈ Q∗+ e n2 ∈ N∗ tais que
n ≥ n2 ⇒ zn − yn > d2 .
n ≥ n0 ⇒ yn − xn + zn − yn > d1 + d2 ⇒ zn − xn > d1 + d2 .
Como d1 + d2 ∈ Q∗+ , então [xn ] < [zn ]. Isto completa a prova da proposição em questão.
A partir de agora, podemos afirmar que ≤ é uma relação de ordem. Mais ainda é verdade,
≤ é uma relação de ordem total.
Proposição 11.91. Sejam [xn ] e [yn ] ∈ R. Então, [xn ] ≤ [yn ] ou [yn ] ≤ [xn ].
Para concluir esta subseção, provaremos que se uma sequência de números racionais não
converge para zero, então esta é equivalente a uma outra sequência que possui todos os seus
termos não nulos.
11.5. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS REAIS POR SEQUÊNCIAS DE CAUCHY 633
Proposição 11.92. Se (xn ) é um sequência de Cauchy de números racionais tal que lim xn ̸=
n→∞
0, então existe uma sequência de Cauchy em Q tal que [xn ] = [yn ] e yn ̸= 0, ∀n ∈ N∗ .
Como lim xn ̸= 0, temos que [xn ] > [0] ou [xn ] < [0] (tricotomia).
n→∞
n ≥ n1 ⇒ xn > d1 .
Isto significa que todos os termos xn1 , xn1 +1 , xn1 +2 , ... são maiores do que d1 . Assim as
sequências (xn ) e (yn ) = (d1 , ..., d1 , xn1 , xn1 +1 , xn1 +2 , ...) são equivalentes (note que todos os
termos desta sequência são positivos), visto que para todo n ≥ n1 todos os termos xn −yn são
iguais a zero garantindo então lim |xn − yn | = 0. Donde (xn ) ∼ (yn ). Consequentemente,
n→∞
[xn ] = [yn ].
Por outro lado, se [xn ] < [0], então existem d2 ∈ Q∗+ e n2 ∈ N∗ tais que
n ≥ n2 ⇒ xn < −d2 .
Assim, todos os termos xn2 , xn2 +1 , xn2 +2 , ... são menores que −d2 . Assim as sequências (xn )
e (yn ) = (−d2 , ..., −d2 , xn2 , xn2 +1 , xn2 +2 , ...) são equivalentes (note que todos os termos desta
sequência são negativos), visto que para todo n ≥ n2 todos os termos xn − yn são iguais a
zero garantindo então lim |xn − yn | = 0. Logo, (xn ) ∼ (yn ). Por conseguinte, [xn ] = [yn ].
n→∞
Nos dois casos (yn ) é constituı́da de termos todos diferentes de zero. Como querı́amos
demonstrar.
Obs 11.17. Note que provamos acima que se [xn ] > 0 (respectivamente, < 0), então [xn ] =
[yn ], onde yn > 0 (respectivamente, < 0), para todo n ∈ N∗ .
634 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Definição 11.65. Sejam [xn ] e [yn ] ∈ R. A adição de [xn ] com [yn ], indicada por [xn ] + [yn ],
é definida por [xn ] + [yn ] := [xn + yn ].
Mostremos a seguir que a operação de adição está bem definida, ou seja, não depende da
escolha dos elementos que representam cada parcela desta operação.
Proposição 11.93. Sejam [xn ], [yn ], [zn ], [wn ] ∈ R. Se [xn ] = [zn ] e [yn ] = [wn ], então
[xn ] + [yn ] = [zn ] + [wn ].
Demonstração. Por hipótese, (xn ) ∼ (zn ) e (yn ) ∼ (wn ) (pois, [xn ] = [zn ] e [yn ] = [wn ]), isto
significa que lim |xn − zn | = 0 e lim |yn − wn | = 0. Então, dado ε ∈ Q∗+ existem n1 , n2 ∈ N∗
n→∞ n→∞
tais que
ε ε
n ≥ n1 ⇒ |xn − zn | < e n ≥ n2 ⇒ |yn − wn | < .
2 2
Logo, chegamos a
ε ε ε ε
n ≥ n 1 ⇒ − < x n − zn < e n ≥ n 2 ⇒ − < y n − w n < .
2 2 2 2
Abaixo, mostraremos que é sempre possı́vel somar qualquer elemento de R a dois membros
de uma igualdade em R.
Proposição 11.94. Sejam [xn ], [yn ] e [zn ] ∈ R. Então, [xn ] = [yn ] ⇒ [xn ]+[zn ] = [yn ]+[zn ].
Demonstração. Como [xn ] = [yn ], então lim |xn − yn | = 0. Então, dado ε ∈ Q∗+ , existe
n→∞
n0 ∈ N∗ tal que
n ≥ n0 ⇒ |xn − yn | < ε.
11.5. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS REAIS POR SEQUÊNCIAS DE CAUCHY 635
Logo,
n ≥ n0 ⇒ |(xn + zn ) − (yn + zn )| = |xn − yn | < ε.
Isto nos diz que lim |(xn + zn ) − (yn + zn )| = 0. Assim, (xn + zn ) ∼ (yn + zn ). Dessa forma,
n→∞
inferimos que [xn ] + [zn ] = [yn ] + [zn ].
Teorema 11.91 (Comutatividade). Sejam [xn ], [yn ] ∈ R. Então, [xn ] + [yn ] = [yn ] + [xn ].
Teorema 11.92 (Elemento Neutro). Seja [xn ] ∈ R. Então, [xn ] + [0] = [xn ]. Além disso, [0]
é o único elemento que satisfaz esta igualdade.
636 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Demonstração. Para mostrar a existência de elemento neutro basta tomar [0] como a classe
de equivalência da sequência em que todos os seus termos são iguais a 0 ∈ Q. Tal sequência
é de fato de Cauchy pois converge para 0 ∈ Q. Além disso,
Suponhamos que [yn ] ∈ R é tal que [xn ] + [yn ] = [xn ], para todo [xn ] ∈ R. Então, pela
comutatividade, chegamos a
Teorema 11.93 (Simétrico). Seja [xn ] ∈ R. Então, [xn ] + [−xn ] = [0]. Além disso, [−xn ] é
o único elemento que satisfaz esta igualdade.
Demonstração. Seja [xn ] ∈ R, defina [yn ] = [−xn ], daı́ temos que [yn ] ∈ R. De fato, (−xn )
é uma sequência de Cauchy de números racionais, pois como xn é um número racional para
todo n ∈ N∗ então −xn também o é. Além disso, então dado ε ∈ Q∗+ existe n0 ∈ N∗ tal que
m, n ≥ n0 ⇒ |xn − xm | < ε.
Assim, (−xn ) é uma sequência de Cauchy de números racionais. Portanto, [yn ] ∈ R. Além
disso, temos que
[xn ] + [−xn ] = [xn + (−xn )] = [0].
Agora, suponhamos que existe [zn ] ∈ R tal que [xn ] + [zn ] = [0].. Portanto, por associa-
11.5. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS REAIS POR SEQUÊNCIAS DE CAUCHY 637
Neste ponto, poderı́amos definir a subtração entre dois elementos de R da seguinte forma:
Demonstração. (⇒) Suponha que [xn ] < [yn ], então existem d ∈ Q∗+ e n1 ∈ N∗ tais que
n ≥ n1 ⇒ xn − yn > −d ⇒ xn > yn − d.
Por outro lado, se [xn ] = [yn ], então [xn ] + [zn ] = [yn ] + [zn ] (ver Proposição 11.94).
(⇐) Agora suponha que [xn ] + [zn ] ≤ [yn ] + [zn ]. Consequentemente, adicionando o
elemento [−zn ] ∈ R a esta desigualdade (pelo que foi feito acima), chegamos a
Definição 11.66. Sejam [xn ] e [yn ] ∈ R. A multiplicação de [xn ] por [yn ], indicada por
[xn ] · [yn ], é é dada por [xn ] · [yn ] = [xn yn ].
Veremos agora que a operação de multiplicação estabelecida acima está bem definida.
Proposição 11.95. Sejam [xn ], [yn ], [zn ] e [wn ] ∈ R. Se [xn ] = [zn ] e [yn ] = [wn ], então
[xn yn ] = [zn wn ].
|xn yn − zn wn | = |xn yn − xn wn + xn wn − zn wn |
= |xn (yn − wn ) + wn (xn − zn )|
≤ |xn ||yn − wn | + |wn ||xn − zn |, ∀n ∈ N∗ .
Como (xn ), (wn ) são limitadas, já que ambas são sequências de Cauchy de números racionais,
temos que existem c, d ∈ Q∗+ tais que |xn | ≤ c e |wn | ≤ d para todo n ∈ N∗ . Tomando
k = max{c, d} ∈ Q∗+ , então |xn | ≤ k e |wn | ≤ k, para todo n ∈ N∗ . E, daı́,
Por outro lado, como [xn ] = [zn ] e [yn ] = [wn ], temos que (xn ) ∼ (zn ) e (yn ) ∼ (wn ). Isto
significa que lim |xn −zn | = 0 e lim |yn −wn | = 0. Então, dado ε ∈ Q∗+ , existem n1 , n2 ∈ N∗
n→∞ n→∞
tais que
ε ε
n ≥ n1 ⇒ |xn − zn | < e n ≥ n2 ⇒ |yn − wn | < .
2k 2k
Seja n0 = max{n1 , n2 }, então para todo n ≥ n0 , tem-se
ε ε
|xn yn − zn wn | ≤ k|yn − wn | + k|xn − zn | ≤ k +k = ε.
2k 2k
Daı́, lim |xn yn − zn wn | = 0. Portanto, (xn yn ) ∼ (zn wn ). Por fim, [xn yn ] = [zn wn ].
n→∞
Vejamos a justificativa para podermos multiplicar os dois membros de uma igualdade por
qualquer elemento de R.
Proposição 11.96. Sejam [xn ], [yn ], [zn ] ∈ R. Então, [xn ] = [zn ] ⇒ [xn ] · [yn ] = [zn ] · [yn ].
Demonstração. Como (yn ) é uma sequência de Cauchy de números racionais, então (yn ) é
limitada. Assim, ∃c ∈ Q∗+ tal que
640 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
|yn | ≤ c, ∀n ∈ N∗ .
Por outro lado, como [xn ] = [zn ], então (xn ) ∼ (zn ). Isto nos diz que lim |xn − zn | = 0.
n→∞
Assim sendo, dado ε ∈ Q∗+ , ∃n0 ∈ N∗ tal que
n ≥ n0 ⇒ |xn − zn | < εc .
ε
|xn yn − zn yn | = |(xn − zn )yn | = |xn − zn ||yn | < · c = ε.
c
Portanto,
lim |xn yn − zn yn | = 0.
n→∞
Isto equivale a dizer que (xn yn ) ∼ (zn yn ). Por fim, [xn ] · [yn ] = [zn ] · [yn ].
Teorema 11.98 (Elemento Neutro). Seja [xn ] ∈ R. Então, [xn ] · [1] = [xn ]. Além disso, [1]
é o único elemento de R que satisfaz esta igualdade.
Demonstração. Como já discutimos, nocaso do elemento neutro da adição, [1] ∈ R, de fato.
além disso, é fácil ver que
[xn ] · [1] = [x1 · 1] = [xn ].
Agora, considere que existe [yn ] ∈ R tal que [xn ] · [yn ] = [xn ], para todo [xn ] ∈ R. Deste
modo, podemos escrever
[1] = [1] · [yn ] = [1 · yn ] = [yn ].
Teorema 11.99 (Inverso). Seja [xn ] ∈ R tal que [xn ] ̸= [0]. Então, existe [yn ] ∈ R tal que
[xn ] · [yn ] = [1]. Além disso, [yn ] é o único elemento de R que satisfaz esta igualdade.
Demonstração. Como [xn ] ∈ R, com [xn ] ̸= [0]. Então, pela Proposição 11.92, temos a
garantia que a sequência (xn ) representativa de [xn ] pode ser tomada ( de)modo que todos
1
os seus termos sejam diferentes de zero. Assim, a sequência (yn ) = é também uma
xn
sequência de Cauchy em Q. Logo, [yn ] = [ x1n ] ∈ R. Dessa forma, inferimos que
[1] [ 1]
[xn ] · = xn · = [1].
xn xn
642 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Agora, suponha que existe [zn ] ∈ R tal que [xn ] · [zn ] = [1]. Consequentemente,
É importante ressaltar aqui que se [xn ] > [0], então pela Observação 11.17, podemos
assumir que xn > 0, para todo n ∈ N∗ . Como (xn ) é uma sequência de Cauchy em Q, temos
que existe k ∈ Q∗+ tal que xn = |xn | ≤ k, para todo n ∈ N∗ . Logo, x−1 −1
n ≥ k , para todo
n ∈ N∗ . Escolha d ∈ Q tal que 0 < d < k −1 . Portanto, x−1 ∗
n > d, para todo n ∈ N . Isto nos
informa que [x−1 −1
n ] > [0]. Analogamente conseguimos provar que [xn ] < [0] ⇒ [xn ] < [0].
Neste ponto, poderı́amos definir a divisão entre dois elementos de R da seguinte maneira:
ii) [xn ] ≤ [yn ] e [zn ] < [0] ⇔ [xn ] · [zn ] ≥ [yn ] · [zn ].
Demonstração. i) (⇒) Se [xn ] = [yn ], então, pela Proposição 11.96, concluı́mos que [xn ] ·
[zn ] = [yn ] · [zn ].
Considere, então, que [xn ] < [yn ]. Daı́, existem d1 ∈ Q∗+ e n1 ∈ N∗ tais que
n ≥ n1 ⇒ xn − yn < −d1 .
Analogamente, como [zn ] > [0], concluı́mos que existem d2 ∈ Q∗+ e n2 ∈ N∗ tais que
n ≥ n 2 ⇒ zn > d 2 .
e também
zn d1 > d2 d1 . (11.23)
Das equações (11.22) e (11.23), inferimos que, para todo n ∈ N∗ , com n ≥ n0 , chega-se
a
xn zn − yn zn < −d1 zn < −d2 · d1 ⇒ xn zn − yn zn < −d2 d1 .
(⇐) Reciprocamente, assuma que [xn ] · [zn ] ≤ [yn ] · [zn ]. Como [zn ] > [0], então
[zn−1 ] > [0]. Por usar a ida, chegamos a
ii) (⇒) Vimos acima que podemos considerar que [xn ] < [yn ]. Então, existem d3 ∈ Q∗+ e
n3 ∈ N∗ tais que
n ≥ n3 ⇒ xn − yn < −d3 .
Também temos de [zn ] < [0] que existem d4 ∈ Q∗+ e n4 ∈ N∗ tais que
n ≥ n4 ⇒ zn < −d4 .
e também
− zn d3 > d3 d4 . (11.25)
Das equações (11.24) e (11.25) temos que, para todo n ∈ N∗ , com n ≥ n5 , chega-se a
Demonstração. Como [yn ] ̸= 0, pela Proposição 11.92, temos a garantia que a sequência
representativa (yn ) de [yn ] pode ser tomada de modo que todos os seus termos sejam diferentes ( )
de zero. Como (yn ) é uma sequência de Cauchy de números racionais temos que y1n
( )
também o é. Dessa forma, concluı́mos que y1n é limitada. Assim, existe c ∈ Q∗+ tal que
| y1n | ≤ c, ∀n ∈ N∗ . Também sabemos que [xn ]·[yn ] = [zn ]·[yn ], ou seja, lim |xn yn −zn yn | = 0.
n→∞
Daı́, dado ε ∈ Q∗+ existe n0 ∈ N tal que
ε
n ≥ n0 ⇒ |xn yn − zn yn | < ,
c
11.5. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS REAIS POR SEQUÊNCIAS DE CAUCHY 645
Portanto, lim |xn − zn | = 0, isto é, (xn ) ∼ (zn ). O que nos diz que [xn ] = [zn ].
n→∞
Agora vamos provar que, como em todos os outros conjuntos estudados até agora, mul-
tiplicar qualquer elemento de R por [0] resulta em [0].
Proposição 11.99. Sejam [xn ], [yn ] ∈ R. Se [xn ] · [yn ] = [0], então [xn ] = [0] ou [yn ] = [0].
O nosso objetivo, nesta subseção, é mostrar que R pode ser visto como uma ampliação
de Q em ordem a podermos definir o conjunto dos números naturais, como este é conhecido
no ensino elementar.
′
Definição 11.68. Consideremos como Q o conjunto de todos os elementos [xn ] de R de
modo que a sequência (xn ), representativa de [xn ], seja convergente para um número racional,
isto é,
′
Q = {[r] ∈ R/r ∈ Q}.
646 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
′
Vejamos agora como mostrar que Q é, na verdade, uma cópia de Q em R.
′
Teorema 11.102. Seja fQ : Q → Q uma aplicação definida por fQ (r) = [r], para todo
r ∈ Q. Então, as seguintes afirmações são verdadeiras:
i) fQ é bijetora;
Demonstração. i) Para provar que fQ é bijetora, precisamos estabelecer os dois itens abaixo:
a) fQ é injetora:
Sejam r, s ∈ Q. Então,
b) fQ é sobrejetora:
De fato, dado [r] ∈ Q′ , segue que fQ (r) = [r], com r ∈ Q.
iv) Primeiramente note que x ∈ Q∗+ , então [x] > [0] (isto segue do fato que x > x
2
∈ Q∗+ ).
Portanto, fQ (x) > fQ (0), ∀x ∈ Q∗+ . Assim, dados r, s ∈ Q, tem-se
r < s ⇔ s − r > 0 ⇔ [s − r] > [0] ⇔ [s] − [r] > [0] ⇔ [r] < [s] ⇔ fQ (r) < fQ (s).
11.5. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS REAIS POR SEQUÊNCIAS DE CAUCHY 647
A partir de agora consideraremos, através da aplicação fQ , dada acima, que [r] = r, para
todo r ∈ Q. Isto nos informa que Q, observado como Q′ , satisfaz Q ⊂ R.
Portanto, obtemos
1 < k + 2 − xn , ∀n ∈ N∗ .
Como 1 ∈ Q∗+ , então [k + 2] > [xn ]. Dessa forma, k + 2 > x, já que k + 2 ∈ Q∗+ (através
da função fQ definida acima). Além disso, k + 2 = mn
, com m, n ∈ N∗ . Note também que
m
n
≤ m < m + 1 (desde que m, n ≥ 1). Por fim,
x<k+2= m
n
< m + 1 ∈ N.
648 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Demonstração. Como x > 0, então ∃x−1 ∈ R tal que x−1 > 0 e x−1 · x = 1. Assim, usando
o fato que yx−1 ∈ R e o Teorema 11.103, tem-se que ∃n ∈ N tal que yx−1 < n. Daı́,
multiplicando esta última desigualdade por x > 0, chegamos a
Agora, estamos pronto para provar que o conjunto Q é denso19 em R. Mais precisamente,
temos o seguinte resultado.
Proposição 11.100. Sejam x, y ∈ R tais que x < y. Então, existe r ∈ Q tal que x < r < y.
Demonstração. Como x < y, então, por definição, existem d ∈ Q∗+ e n0 ∈ N∗ tais que,
yn − xn > d, ∀n ≥ n0 ,
yn − xn d
> , ∀n ≥ n0 .
2 2
onde h ∈ Q∗+ . E, como R é Arquimediano (ver Teorema 11.104), então existe n ∈ N tal que
y < nh. De x < y, obtemos x < nh.
19
A afirmação dada na Proposição 11.100 é a definição para que Q seja denso em R.
11.5. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS REAIS POR SEQUÊNCIAS DE CAUCHY 649
y−x
r = ph + h − h = (p − 1)h + h ≤ x + h < x + ( ) < x + y − x = y.
2
11.5.6 Completude de R
Completaremos a construção do conjunto dos números reais mostrando que toda sequência
de Cauchy de números racionais converge para um número real. Para este fim, precisamos,
primeiramente, definir o que significa sequência de números reais.
Definição 11.70. Uma sequência de números reais é uma aplicação x : N∗ → R, que associa
um número n ∈ N∗ a um outro, chamado termo geral, x(n) = xn ∈ R. A sequência x é
denotada por x = (xn )n∈N∗ = (x1 , x2 , ...).
Quando não houver nenhuma possibilidade de confusão denotaremos (xn )n∈N∗ por (xn ).
Definição 11.71. Dizemos que uma sequência de números reais (xn ) converge para a ∈ R,
e indicamos por xn → a, ou ainda, lim xn = a, se dado ε ∈ R∗+ (onde R∗+ = {x ∈ R/x > 0})
n→∞
existe n0 ∈ N∗ tal que, ∀n ≥ n0 (n ∈ N∗ ), tem-se |xn − a| < ε.
Exemplo 11.37. Considere uma sequência constante (xn ), isto é, xn = c, ∀n ∈ N, onde
c ∈ R. Logo, dado ε ∈ R∗+ , temos que
|xn − c| = |c − c| = 0 < ε, ∀n ∈ N∗ .
Abaixo provaremos que podemos aplicar o limite em uma desigualdade, que envolve
termos gerais de duas sequências, desde que estas sejam convergentes.
Analogamente, obtém-se n2 ∈ N tal que para todo n ≥ n2 , chega-se a |yn − b| < ε, isto
é, yn < b + ε, ou seja, yn < a+b
2
. Tomando n0 = max{n1 , n2 } ∈ N∗ , temos
a+b
yn < < xn , ∀n ≥ n∗0 .
2
Corolário 11.106. Seja c um número real e (xn ) uma sequência de números reais. Se
xn ≤ b, para todo n ∈ N∗ , e se lim xn = a, a ∈ R, então a ≤ b.
n→∞
Obs 11.20. Observe que se xn > 0, ∀n ∈ N∗ não significa que lim xn > 0 (mesmo que este
n→∞
elemento exista). Considere, por exemplo o limite lim 1 = 0.
n→∞ n
Demonstração. (⇒) Seja (xn ) uma sequência de Cauchy de números racionais que converge
para a em Q. Seja ε > 0 um número real. Pela Proposição 11.100 existe um número racional
r > 0 tal que r < ε. Como (xn ) converge para a em Q, existe n0 ∈ N∗ tal que para todo
n ≥ n0 , tem-se |xn − a| < r. Aplicando a desigualdade r < ε chegamos a |xn − a| < ε.
Portanto, (xn ) converge para a em R.
(⇐) Suponhamos agora que (xn ) converge para a em R. Seja ε > 0 um número racional.
Mas, ε ∈ R; logo, existe n0 ∈ N∗ tal que, para todo n ≥ n0 , tem-se |xn − a| < ε. Isto conclui
a prova da proposição em questão.
Proposição 11.102. Seja (xn ) uma sequência de números racionais. Então, (xn ) é uma
sequência de Cauchy em Q se, e somente se, (xn ) é uma sequência de Cauchy em R.
Demonstração. (⇒) Seja (xn ) uma sequência de Cauchy de números racionais em Q. Seja
ε > 0 um número real. Pela Proposição 11.100 existe um número racional r > 0 tal que
r < ε. Como (xn ) é uma sequência de Cauchy em Q existe n0 ∈ N∗ tal que para todo
m, n ≥ n0 tem-se |xn − xm | < r. Como r < ε, então |xn − xm | < ε. Portanto, (xn ) é uma
sequência de Cauchy em R.
(⇐) Suponhamos agora que (xn ) seja uma sequência de Cauchy de números racionais
em R. Seja ε > 0 um número racional. Daı́, ε ∈ R, logo, existe n0 ∈ N∗ tal que, para todo
m, n ≥ n0 , tem-se |xn − xm | < ε. Portanto, (xn ) é uma sequência de Cauchy em Q.
Proposição 11.103. Seja (xn ) uma sequência de Cauchy de números racionais. Considere
que x = [xn ] ∈ R. Então, xn → x.
Demonstração. Seja ε > 0 um número real. Consideremos ainda r > 0 um número racional
tal que r < ε, cuja existência é garantida pela Proposição 11.100. Como (xn ) é uma sequência
de Cauchy em Q, então existe n0 ∈ N∗ tal que, para todo m, n ≥ n0 , tem-se
r r r r r
|xn − xm | < ⇒ − < xm − xn < ⇔ − + xn < xm < + xn .
2 2 2 2 2
652 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
r r
xm > xn − = xn + − r, ∀n ≥ n0 .
2 2
r
xm − (xn + r) < − , ∀n ≥ n0 ,
2
onde r
2
∈ Q∗+ . Dessa forma, chegamos a
x − r < xm < x + r, ∀m ≥ n0 .
Por fim, |xm − x| < r < ε, ∀m ≥ n0 . Isto nos diz que lim xm = x. Isto prova o teorema em
n→∞
questão.
Teorema 11.107. Toda sequência de Cauchy de números reais converge para um número
real.
Demonstração. Seja (xi )i∈N∗ uma sequência de Cauchy de números reais. Temos xi = [xin ],
onde (xin )n∈N∗ é uma sequência de Cauchy de números racionais. Vimos na Proposição 11.103
que
lim xin = xi , para cada i ∈ N∗ .
n→∞
1
|xini − xi | < , para cada i ∈ N∗ .
i
11.5. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS REAIS POR SEQUÊNCIAS DE CAUCHY 653
1
|yi | < , ∀i ∈ N∗ .
i
Passando ao limite, quando i → ∞, temos que lim yi = 0. Dessa forma, dado ε ∈ R∗+ ,
i→∞
∃i0 ∈ N∗ tal que
ε
∀i ≥ i0 ⇒ |yi | < .
3
Como (xi )i∈N∗ é uma sequência de Cauchy em R, então ∃i1 ∈ N∗ tal que
ε
i, j ≥ i1 ⇒ |xi − xj | < .
3
Isto significa que (xini )i∈N∗ é uma sequência de Cauchy de números racionais (pois é uma
sequência de Cauchy em R).
Seja x = [xini ] ∈ R. Pela Proposição 11.103, temos que lim xini = x. Portanto, ∃n0 ∈ N∗
i→∞
tal que, para todo i ≥ n0 , tem-se
2ε
|xini − x| < .
3
Por fim, chegamos a
11.5.7 Supremo em R
Nesta subseção, nossa meta é provar a existência do supremo para qualquer conjunto não
vazio e limitado superiormente de R. É importante destacar que a definição de conjuntos
limitados, tanto inferior quanto superiormente, e supremo foram estabelecidas na Definição
11.57.
Definição 11.73. Dizemos que uma sequência (xn ) de números reais é não decrescente
(respectivamente crescente) se xn ≤ xn+1 , ∀n ∈ N∗ (respectivamente xn < xn+1 , ∀n ∈ N∗ ).
Definição 11.74. Uma sequência (xn ) de números reais é não crescente (respectivamente
decrescente) se xn+1 ≤ xn , ∀n ∈ N∗ (respectivamente xn+1 < xn , ∀n ∈ N∗ ).
Definição 11.75. Uma sequência é dita monótona se esta é crescente, decrescente, não
crescente ou não decrescente.
Definição 11.76. Uma sequência (xn ) de números reais, diz-se limitada se existe c ∈ R∗+ ,
tal que |xn | ≤ c, ∀n ∈ N∗ .
Proposição 11.104. Se (xn ) é uma sequência monótona e limitada de números reais, então
(xn ) é uma sequência de Cauchy em R.
Demonstração. Consideremos que (xn ) seja monótona não decrescente. Como (xn ) é limi-
tada, então existe a ∈ R∗+ tal que xn ≤ a, para todo n ∈ N∗ . Assim,
x1 ≤ x2 ≤ ... ≤ xn ≤ ... ≤ a.
Suponhamos, por absurdo, que (xn ) não seja uma sequência de Cauchy. Isto significa que
existe ε ∈ R∗+ tal que para qualquer que seja n0 ∈ N∗ , podemos encontrar m, n ∈ N∗ , com
m ≤ n e m, n ≥ n0 tais que
xn − xm = |xn − xm | ≥ ε.
xn1 − xm1 ≥ ε.
11.5. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS REAIS POR SEQUÊNCIAS DE CAUCHY 655
xn2 − xm2 ≥ ε.
xn3 − xm3 ≥ ε.
Suponhamos, por recorrência, que ∃mi , ni ∈ N∗ , com mi ≤ ni e mi+1 , ni+1 ≥ ni tais que
Tome n0 = nk . Então, ∃mk+1 , nk+1 ∈ N∗ , com mk+1 ≤ nk+1 e mk+1 , nk+1 ≥ nk tais que
xnk+1 − xmk+1 ≥ ε.
por (11.26).
de modo que
k0 ε > a − xm1 .
Deste modo, existe pelo menos um elemento de (xn ) que é maior do que a. Isto contradiz o
fato de que xn ≤ a, para todo n ∈ N∗ . Portanto (xn ) é uma sequência de Cauchy de números
reais. A demonstração para os outros casos possı́veis de sequência monótonas é análoga.
Corolário 11.108. Se (xn ) é uma sequência monótona e limitada de números reais, então
esta é uma sequência convergente.
Demonstração. É fato, pela proposição acima, que (xn ) é uma sequência de Cauchy em R.
Daı́, como toda sequência de Cauchy é convergente (ver Teorema 11.107), então (xn ) é uma
sequência convergente.
O resultado a seguir, será útil para provarmos que todo subconjunto de R não vazio e
limitado superiormente admite supremo.
Teorema 11.109. Sejam (xn ) e (yn ) duas sequências de números reais tais que:
iv) dado ε ∈ R∗+ , ∃n0 ∈ N∗ tal que para todo n ≥ n0 , tem-se yn − xn < ε.
Então, existe um único número real que pertence a todos os intervalos [xm , yn ], com m, n ∈
N∗ .
11.5. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS REAIS POR SEQUÊNCIAS DE CAUCHY 657
Demonstração. Como as hipóteses do teorema nos diz que (xn ) e (yn ) são monótonas e
limitadas (por y1 e x1 ), então temos que (xn ) e (yn ) são sequências de Cauchy em R. Deste
modo estas sequências são convergentes em R. Consideremos, então, que
lim xn = x e lim yn = y,
n→∞ n→∞
O item iii) do enunciado do teorema nos diz que, xm < yn , ∀m, n ∈ N∗ . Daı́, passando
ao limite, quando m → ∞, obtemos
x = lim xm ≤ yn , ∀n ∈ N∗ .
m→∞
x ≤ lim yn = y.
n→∞
Não pode ocorrer x < y. De fato, pelo item iv), com ε = y − x > 0 tem-se que existe
n0 ∈ N∗ tal que para todo n ≥ n0 , obtém-se yn − xn < ε = y − x.
Afirmação: xm ≤ x, ∀m ∈ N∗ .
De fato, suponhamos que ∃m0 ∈ N∗ tal que xm0 > x. Como xm0 ≤ xm , ∀m ≥ m0 , então,
passando ao limite, quando m → ∞, encontramos
Analogamente, temos que yn ≥ y, ∀n ∈ N∗ (já que (yn ) é não crescente e lim yn = y).
n→∞
Logo, chegamos a
xn + y ≤ yn + x, ∀n ∈ N∗ ,
isto é,
y − x ≤ yn − xn , ∀n ∈ N∗ .
Contradizendo o fato de que yn − xn < y − x para todo n ≥ n0 . Assim, x = y. Por fim, pelo
que foi provado acima, encontramos xm ≤ x ≤ yn , para todo m, n ∈ N∗ .
658 CAPÍTULO 11. APÊNDICE
Para concluir este capı́tulo, provaremos que conjuntos gozam da propriedade de admiti-
rem supremo (o que não ocorre em Q).
Observemos que se y2 = y1 +x
2
1
, então x2 = x1 e se y2 = y1 , então x2 = y1 +x
2
1
(pois y1 +x
2
1
> x1 ).
y1 −x1
Em ambos os casos, temos y2 − x2 = 2 . Observe que x2 < y2 , desde que x1 < y1 . Denote
por:
y2 +x2
y3 : o menor dos números 2
e y2 que seja cota superior de X.
y2 +x2
x3 : o maior dos números 2
e x2 que não seja cota superior de X.
Observemos que se y3 = y2 +x
2
2
, então x3 = x2 e se y3 = y2 , então x3 = y2 +x
2
2
(pois y2 +x
2
2
> x2 ).
Em ambos os casos, encontramos y3 − x3 = y12−x 2
1
. Também temos que x3 < y3 .
y1 −x1
Generalizando, se temos xn < yn , com yn − xn = 2n
, podemos determinar:
yn +xn
yn+1 : o menor dos números 2
e yn que seja cota superior de X.
yn +xn
xn+1 : o maior dos números 2
e xn que não seja cota superior de X.
−x1
(pois yn +x
2
n
> xn ). Em ambos os casos yn+1 − xn+1 = y21n+1 . É fácil concluir que xn+1 < yn+1 ,
pois x1 < y1 .
A sequência (yn ) como foi construı́da é monótona não crescente, e a sequência (xn )
monótona não decrescente. Além disso,
x1 ≤ x2 ≤ x3 ≤ x2 ≤ ... ≤ xn ≤ yn ≤ ... ≤ y3 ≤ y2 ≤ y1 ≤ y0 , ∀n ∈ N∗ .
11.5. CONSTRUÇÃO DOS NÚMEROS REAIS POR SEQUÊNCIAS DE CAUCHY 659
y1 − x 1
yn − xn = < ε.
2n
Então são satisfeitas as hipóteses do Teorema anterior, e então existe um único número real
k que pertence a todos os intervalos [xn , ym ], para todo n, m ∈ N∗ . Usando a prova do
Teorema anterior, temos que
lim yn = lim xn = k.
n→∞ n→∞
x ≤ lim yn = k.
n→∞
Suponhamos que exista s ∈ R tal que s < k e s é cota superior de X. Assim, k − s > 0.
Como lim xn = k, então existe n1 ∈ N∗ , tal que, para todo n ≥ n1 , tem-se
n→∞
[1] Dray, T.; Manogue, C. A., The geometry of the octonions. World Scientific Publishing
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661
662 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Professores Revisores