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Decisão em Grupo

Luis Dias, FEUC


Convidar palestrante para aniversário da
FEUC
• Opções:
A) Uma investigadora prestigiada
B) Uma empreendedora de sucesso
C) A CEO de uma grande empresa
D) A diretora de uma grande instituição de
solidariedade

Que processo deve ser seguido pelo nosso grupo para


escolher uma opção?
LC Dias / FEUC 2
Análise de decisão
Decisão em grupo
Como se decide em grupos?
• Por autoridade
• Por maioria (votação)
• Por unanimidade ou compromisso
– Inclui “Conferência de decisão”: avaliar em conjunto
com apoio de um método de avaliação
• Pelo silêncio
– (implicitamente) rejeição por aparente falta de apoio [silêncio]
– (implicitamente) aceitação por aparente falta de oposição [silêncio]
Votações
Um assunto há muito estudado
• Cartas de Plínio o Jovem (90 AC): descreve
votações no senado romano, manipulação.
• Ramon Lull(Sec XIII): propõe métodos de Borda e
de Condorcet.
• Niculau Cusanus (Sec XV): Comparação de
métodos de Borda e Condorcet, manipulação.
• Borda e Condorcet (Sec. XVIII): disputa no seio da
Academia Francesa.
• Arrow (Sec XX): Análises axiomáticas
Convidar palestrante para aniversário da
FEUC
• Opções:
A) Uma investigadora prestigiada
B) Uma empreendedora de sucesso
C) A CEO de uma grande empresa
D) A diretora de uma grande instituição de
solidariedade

Como deveria o grupo decidir por votação?

LC Dias / FEUC 5
Análise de decisão
voto simples
Voto simples: como eleger os candidatos?
A
B X
C
Exemplo D
2 votam A
3 votam B
4 votam C
2 votam D
Análise de decisão
Para além do voto simples
Voto múltiplo: como eleger os candidatos?
A
B X
C X
Exemplo D
2 votam A
3 votam A e B
2 votam A e D
4 votam B
1 vota B e C
1 vota C
Análise de decisão
Para além do voto simples
Voto ordinal: como como eleger os candidatos?
A 4º
B 2º
C 1º
Exemplo D 3º
3 votam: 1ºA, 2ºB, 3ºC, 4ºD
4 votam: 1ºA, 2ºD, 3ºB, 4ºC
4 votam: 1ºB, 2ºC, 3ºA, 4ºD
1 votam: 1ºC, 2ºB, 3ºA, 4ºD
1 votam: 1ºC, 2ºA, 3ºD, 4ºB
Um Exemplo
(Saari, The Geometry of Voting)
• Como agregar diferentes opiniões?
– 15 pessoas escolhem a bebida para servir num passeio de
barco no Douro, de entre sumo (S), cerveja (C) e vinho
(V)
– 6 pessoas preferem: 1º Sumo, 2º Vinho, 3º Cerveja
– 5 pessoas preferem: 1º Cerveja, 2º Vinho, 3º Sumo
– 4 pessoas preferem: 1º Vinho, 2º Cerveja, 3º Sumo

a b c d e f g h i j k l m n o
S>V>C C>V>S V>C>S
9
Votações
Método da pluralidade

a b c d e f g h i j k l m n o
S>V>C C>V>S V>C>S

• Método da pluralidade:
– Cada eleitor vota na opção mais preferida
– Vence a opção com mais votos

10
Votações
Método da maioria

a b c d e f g h i j k l m n o
S>V>C C>V>S V>C>S

• Método da maioria:
– Semelhante ao da pluralidade, mas
– Se nenhuma opção recolher mais de metade dos votos há
uma 2ª volta com as duas opções mais votadas

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Votações
Método da pluralidade
• V é um Vencedor de Condorcet
• S é um Perdedor de Condorcet

• Pluralidade → elege um “perdedor de Condorcet”.

• Maioria → não elege o elege “vencedor de


Condorcet”, mas nunca elegeria um “perdedor de
Condorcet”.
Votações
Método da maioria não satisfaz
condição de monotonia (associação positiva)

6:a>b>c 6:a>b>c
5:c>a>b 5:c>a>b
4:b>c>a 4:b>c>a
2:b>a>c 2:a>b>c

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Método da agenda

• Estabelecer uma sequência de votações onde se


comparam apenas duas opções de cada vez
• Será que o resultado pode depender da agenda?
p.ex.
2:a>b>c
1:c>a>b
1:c>b>a
1:b>c>a
Análise de decisão
Método da agenda

• Elege Vencedor de Condorcet


• Mas…

40 : b > a > d > c


35 : c > b > a > d
25 : a > d > c > b

Agenda: a vs. b, depois c, depois d


Análise de decisão
Para além do voto simples
Voto simples Voto múltiplo Voto ordinal
A A A 4º
B B X B 2º
C X C X C 1º
D D D 3º
• Voto simples: métodos da pluralidade, da maioria (e
variantes), da agenda, ... (métodos não ordinais)
• Voto múltiplo: método da aprovação, ...
• Voto ordinal: métodos de Borda, Maximin, de
Dodgson, de Kemeny, ... (métodos ordinais)
Convidar palestrante para aniversário da
FEUC
• Opções:
A) Uma investigadora prestigiada
B) Uma empreendedora de sucesso
C) A CEO de uma grande empresa
D) A diretora de uma grande instituição de
solidariedade

Como deveria o grupo decidir por votação ordinal?

LC Dias / FEUC 18
Análise de decisão
Método de Borda
• Proposto pelo Chevalier de Borda (1733-1799)
• Para n opções,
– cada 1º lugar vale n-1 pontos
– cada 2º lugar vale n-2 pontos
– ...
– cada último lugar vale 0 pontos
Análise de decisão
Método/função de Borda
• Exemplo
3: A > B > C > D
4: A > D > B > C
4: B > C > A > D
1: C > B > A > D
1: C > A > D > B
• A: (3+4)*3 + 1*2 + (4+1)*1 + 0*0 = 28 pts
• B: 4*3 + (3+1)*2 + 4*1 + 1*0 = 24 pts
• C: (1+1)*3 + 4*2 + 3*1 + 4*0 = 17 pts
• D: 0*3 + 4*2 + 1*1 + 8*0 = 9 pts
• Ordem final: A > B > C >D
Análise de decisão
Método/função de Borda
• Exemplo
A B C D Soma
3: A > B > C > D
4: A > D > B > C A 8 7 13 28
4: B > C > A > D B 5 11 8 24
1: C > B > A > D C 6 2 9 17
1: C > A > D > B
D 0 5 4 9
A>B>C>D
Notas:
• Pontuação final de cada opção é igual à soma dos
votos que recebe nas comparações par a par com os
adversários
• Candidato A é neste caso um vencedor de Condorcet
Análise de decisão
Método/função de Borda
• Exemplo sem D
A B C D Soma
3: A > B > C > D
4: A > D > B > C A 8 7 13 15
4: B > C > A > D B 5 11 8 16
1: C > B > A > D C 6 2 9 8
1: C > A > D > B
D 0 5 4 B>A>C
A>B>C>D
• Método de Borda não verifica a propriedade de
independência face a alternativas restantes
• Método de Borda não garante eleição de um
Vencedor de Condorcet (neste caso, A)
Princípio de Condorcet

• Proposto pelo Marquis de Condorcet (1743-1794)


• Princípio de Condorcet: dado um par (X,Y) de
opções, se a maioria do grupo preferir X, então o
grupo deve concluir X>Y.
• Exemplo 1

a b c d e f g h i j k l m n o
S>V>C C>V>S V>C>S
Votações
Princípio de Condorcet
• Proposto pelo Marquis de Condorcet (1743-1794)
• Critério de Condorcet: dado um par (X,Y) de
opções, se a maioria do grupo preferir X, então o
grupo deve concluir X>Y.
• Exemplo 2
–1 : Sumo >Vinho > Cerveja
–1 : Cerveja > Sumo > Vinho
–1 : Vinho > Cerveja > Sumo
• Não há transitividade (paradoxo de Condorcet)
Princípio de Condorcet

• Qual dos candidatos é mais parecido com um


Vencedor de Condorcet? (Há 13 eleitores)

A B C D
A 4 7 5
B 9 4 12
C 6 9 9
D 8 1 4
Análise de decisão
Função Maximin
• Pontuação de cada opção é igual à mínima pontuação
que obtenham numa comparação par a par
• Exemplo
3: A > B > C > D A B C D Mínimo
4: A > D > B > C A 8 7 13 7
4: B > C > A > D B 5 11 8 5
1: C > B > A > D
C 6 2 9 2
1: C > A > D > B
D 0 5 4 0
A>B>C>D
Nota: Um vencedor de Condorcet é garantidamente eleito
Análise de decisão
Função Maximin
• Exemplo sem A
A B C D Mínimo
3: A > B > C > D
4: A > D > B > C A 8 7 13
4: B > C > A > D B 5 11 8 8
1: C > B > A > D C 6 2 9 2
1: C > A > D > B
D 0 5 4 4
B>D>C
A>B>C>D

• Função Maximin não verifica a propriedade de


independência face a alternativas restantes
Análise de decisão
Método de Dodgson
• Proposto por Charles L. Dodgson (1832 - 1898)
• Ideia: eleger sempre o vencedor de Condorcet, se
existir; caso contrário, eleger o que for mais parecido
com um vencedor de Condorcet.
• Concretização: somar o número de votos, nas
comparações par a par, que cada candidato precisaria
para ser vencedor de Condorcet.
• Quanto menor for essa soma, melhor.
Análise de decisão
Função de Dodgson
• Nota: função a minimizar! +2 +1 +5
• Exemplo
A B C D
3: A > B > C > D
4: A > D > B > C A 8 7 13 Faltam 0
4: B > C > A > D B 5 11 8 Faltam 2
1: C > B > A > D C 6 2 9 Faltam 6
1: C > A > D > B
D 0 5 4 Faltam 12
A>B>C>D
+7 +2 +3

Nota: Um vencedor de Condorcet é garantidamente eleito


Análise de decisão
Função de Dodgson
• Exemplo sem A +5
A B C D
3: A > B > C > D
4: A > D > B > C A 8 7 13
4: B > C > A > D B 5 11 8 Faltam 0
1: C > B > A > D C 6 2 9 Faltam 5
1: C > A > D > B Faltam 5
D 0 5 4
B>C,D
+2 +3 A>B>C>D

• Função de Dodgson não verifica a propriedade de


independência face a alternativas restantes
Método de Kemeny

• Proposto John George Kemeny (János Kemény) (1926-1992)


• Ideia: pontuar as ordens possíveis, em vez dos candidatos
possíveis. Exemplo:
Pontuar os Pontuar as
B C D candidatos: ordens:
B 11 8 B B>C>D
C 2 9 C B>D>C
D 5 4 D C>B>D
C>D>B
D>B>C
D>C>B
Análise de decisão
Função de Kemeny
• Exemplo sem A
A B C D
3: A > B > C > D
4: A > D > B > C A 8 7 13
4: B > C > A > D B 5 11 8
1: C > B > A > D C 6 2 9
1: C > A > D > B
D 0 5 4
ORDENS:
B>C>D (apoio 11+8+9=28) C>D>B (apoio 2+9+5=16)
B>D>C (apoio 11+8+4=23) D>B>C (apoio 5+4+11=20)
C>B>D (apoio 2+9+8=19) D>C>B (apoio 5+4+2=11)
Nota: Um vencedor de Condorcet é garantidamente eleito
Análise de decisão
Função de Kemeny
• Exemplo A B C D
3: A > B > C > D
4: A > D > B > C A 8 7 13
4: B > C > A > D B 5 11 8
1: C > B > A > D C 6 2 9
1: C > A > D > B
D 0 5 4
• Melhor ordem: A>B>C>D (8+7+13+11+8+9 = 56)
• Pior ordem: D>C>B>A (0+5+4+6+2+5 = 22)
• Neste caso não se viu, mas a Função de Kemeny não
verifica a propriedade de independência face a
alternativas restantes
Votações
Contribuição de Kenneth Arrow
• Que condições devia respeitar um método de
votação?
• Contexto estudado: função que agregue n ordens
individuais R1,...,Rn numa ordem colectiva R

f: R1, ..., Rn → R
Análise de decisão
Teorema de Arrow
• Kenneth Arrow: existe um método que agregue
ordenações individuais numa ordenação coletiva
– que funcione sempre,
– respeitando a condição da unanimidade,
– onde a comparação de duas opções não dependa de outras
– e que não seja a ditadura ?
… não existe!
Votações
Condições de Arrow para uma função de escolha social
• Pretende-se função que agregue n ordens individuais R1,...,Rn
numa ordem coletiva R (Transitividade), f:R1,...,Rn→ R,
respeitando:
• Domínio universal (universalidade): o domínio da função
engloba todas as ordens individuais possíveis, sem restrições.
• Unanimidade (princípio de Pareto fraco):
x >i y (i=1..n)  x > y
• Independência relativamente a alternativas restantes: Dados
x e y, e perfis (R1,...,Rn) e (R’1,...,R’n) tais que x >i y sse x >’i y
(i), tem-se f (R1,...,Rn) e f (R’1,...,R’n) iguais para x vs. y
• Não-ditadura: d: x >d y  x > y
Votações
Manipulabilidade
• Um método é manipulável se for possível beneficiar
de um voto estratégico (que não respeita as
preferências do eleitor).
• Um método não manipulável é aquele em que um
eleitor não pode obter um resultado melhor por votar
contra as suas preferências.

39
Manipulabilidade (voto estratégico)

O método de Borda pode ser facilmente manipulado?


Preferências do grupo de apoiantes de A:
A>B>C
Preferências do grupo de apoiantes de B:
B >A> C

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Análise de decisão
Teorema de Gibbard-Satterthwaite
• um método que agregue ordenações individuais
numa ordenação coletiva
– que seja universal,
– e que não seja a ditadura...
... Tem que ser manipulável
(i.e., sujeito a votação estratégica)
Julgamento maioritário: Uma possível solução?

Candidatos são
ordenados pela sua
classificação mediana

Michel Balinski, Rida Laraki, A theory of measuring, electing and ranking, Proceedings of the
National Academy of Sciences of the United States of America 104, pp. 8720-8725, 2007.
Julgamento maioritário
(mediana de nota qualitativa)
Exemplo: 7 pessoas votam em 5 opções usando a escala
Mau(1), Razoável(2), Bom(3), M.Bom (4), Excelente (5)
Frank Grace Helen Igor John Kate Lucy
A 2 5 3 4 2 5 5
B 2 4 4 1 1 2 4
C 3 4 2 3 3 2 5
D 2 2 3 4 2 3 3
E 4 1 2 4 2 3 4

pior mediana melhor


A 2 2 3 4 5 5 5
B 1 1 2 2 4 4 4
C 2 2 3 3 3 4 5
A>{CDE?}>B
D 2 2 2 3 3 3 4
E 1 2 2 3 4 4 4
Julgamento maioritário
(mediana de nota qualitativa)
pior mediana melhor
A 2 2 3 4 5 5 5
B 1 1 2 2 4 4 4
C 2 2 3 3 3 4 5
A>{CDE?}>B
D 2 2 2 3 3 3 4
E 1 2 2 3 4 4 4

pior mediana melhor


C 2 2 3 3 4 5
D 2 2 2 3 3 4 C>{DE?}
E 1 2 2 4 4 4

pior mediana melhor


D 2 2 3 3 4
E 1 2 4 4 4 E>D

Logo, A>C>E>D>B
Julgamento maioritário
(mediana de nota qualitativa)
Exemplo: 7 pessoas votam em 5 opções usando a escala
Mau(1), Razoável(2), Bom(3), M.Bom (4), Excelente (5)
Frank Grace Helen Igor John Kate Lucy
A 2 5 3 4 2 5 5
B 2 4 4 1 1 2 4
C 3 4 2 3 3 2 5
D 2 2 3 4 2 3 3
E 4 1 2 4 2 3 4

pior mediana melhor


A 2 2 3 4 5 5 5
B 1 1 2 2 4 4 4
C 2 2 3 3 3 4 5
A>C>E>D>B
D 2 2 2 3 3 3 4
E 1 2 2 3 4 4 4
(6) (4) (2) (1) (3) (5) (7)
Bibliografia
• EVALUATION AND DECISION MODELS: a critical perspective, Denis
Bouyssou et al., Boston, Kluwer, 2000. [BP 519.8 EVA]
Cap 2.1 (pp 7-18)
• TIDEMAN, Nicolaus T - Collective decisions and voting, Ashgate, 2006.
[BP 519.8 TID]
Cap 1, 2, 7-12
• GOODWIN, Paul; George Wright, Decision analysis for management
judgment, Chichester, John Wiley & Sons, 2001. [BP 519.8 GOO]
Cap “Decisions involving groups of individuals”

• Avançado: NURMI, Hannu, Comparing voting systems, Dordrecht, D. Reidel Publishing


Company, 1987. [BP 330.1 NUR]
• Avançado: ARROW, Kenneth J., Social choice and individual values [BP 330.1 ARR]

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