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Curso Intensivo de Direito Eleitoral com

Bruno Gaspar para Magistraturas e


MP Estaduais

Profº Bruno Gaspar


bruno.eleitoral2016@gmail.com
@profbrunogaspar
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DE DIREITO ELEITORAL:

3) PRINCÍPIO DA CELERIDADE

- processos que tramitam perante a JE devem receber andamento célere.


- legislação eleitoral prevê tal princípio em diversas normas. Ex: art. 94 da Lei
9.504/97 e art. 16 da LC 64/90. Súmula 49 do TSE.

4) PRINCÍPIO DA ANUALIDADE
- Objetivo de evitar alterações casuísticas das regras que envolvem o processo
eleitoral.
- TSE vem entendendo pela aplicação do princípio da anualidade para as decisões
proferidas em matéria eleitoral que impliquem em mudança na jurisprudência.

Art. 16 da CF/88: A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data
de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de
sua vigência.
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto
direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

I - plebiscito;

II - referendo;

III - iniciativa popular.

SUFRÁGIO UNIVERSAL

§ SOBERANIA POPULAR

VOTO DIRETO E SECRETO


Ø SUFRÁGIO

§ Conceito (Alexandre de Moraes): é um direito público subjetivo de natureza política, que


tem o cidadão de eleger, ser eleito e de participar da organização e da atividade do poder
estatal.

§ Em resumo, é o poder de decidir sobre os rumos da Administração Pública, sobre o destino


de uma comunidade, votando ou sendo votado.

§ O Sufrágio apresenta, portanto, uma concepção ativa e uma concepção passiva.

§ A capacidade eleitoral ativa - ius suffragium, significa o direito de votar, de eleger


representantes. A capacidade eleitoral passiva - ius honorum, ou cidadania passiva,
significa o direito de ser escolhido em processo eleitoral. Tal direito não é a todos
atribuído, mas somente as pessoas que preencherem determinados requisitos.
u SUFRÁGIO UNIVERSAL X SUFRÁGIO RESTRITO

u Sufrágio universal se caracteriza pela concessão genérica de


cidadania. A mera existência de restrição, por si só, não
retira o caráter universal do sufrágio (exemplo: menores de
16 anos não podem votar). Nele não se admitem restrições
por motivos étnicos, de riqueza ou capacidade intelectual.
u Sufrágio restrito, ao contrário, é aquele concedido tão só a
uma minoria, que preenche a determinados requisitos
econômicos, sociais e culturais.

u (i) Censitário é o sufrágio fundado na capacidade


econômica do indivíduo.

u (ii) Cultural ou capacitário é o sufrágio fundado na


aptidão intelectual dos indivíduos.

u (iii) Masculino é o sufrágio que veta participação de


mulheres nas eleições.

u Portanto, o que distingue o sufrágio universal do restrito é a


razoabilidade da restrição.
Ø Voto

§ Enquanto o sufrágio é um direito, o voto representa seu exercício. O voto é a


concretização do sufrágio, do processo de manifestação da vontade popular.

§ As principais características do voto no sistema eleitoral brasileiro são:

1) Personalíssimo

2) Obrigatório

3) Secreto

4) Direto

5) Periódico

6) Valor igual para todos


6) DEMOCRACIA

§ Foram os gregos que criaram o termo democracia, que significa o poder


exercido pelo povo. Se não existe efetiva participação popular no governo,
obviamente não existe uma democracia.

§ A doutrina elenca três modelos de democracia:

a) Democracia Direta: governo em que os cidadãos participam diretamente das


decisões governamentais, sem a presença de intermediários.

b) Democracia Indireta (ou Representativa): A participação das pessoas no


processo político se resume na escolha dos mandatários. Na democracia
representativa, não há vinculação jurídica entre representantes e representados,
de modo que não há obrigação de cumprir os termos do “mandato” outorgado
pelo povo.
c) Democracia Semidireta (ou Participativa): é aquela que, partindo de uma
democracia representativa, o povo exerce a soberania popular não só elegendo
seus representantes, mas também participando de forma direta da vida política
do Estado, através dos institutos da democracia participativa (plebiscito,
referendo e iniciativa popular de lei).

Tanto o plebiscito como o referendo são consultas formuladas ao povo para que
delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional,
legislativa ou administrativa (art. 2° da Lei 9709/98).

Plebiscito: consiste na consulta prévia à edição de ato legislativo ou


administrativo, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha
sido submetido (Lei 9709/98, art. 2°, § 1°). Exemplo: Art. 2º do ADCT
(Plebiscito de 1993).
Art. 2º. No dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado definirá, através de plebiscito, a
forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo
(parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no País.
§ Referendo: é a consulta posterior à edição de ato legislativo ou administrativo,
cumprindo ao povo a ratificação ou rejeição (Lei 9709/98, art. 2 § 2°).

Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e munição em todo o


território nacional, salvo para as entidades previstas no art. 6º desta Lei.
§ 1º Este dispositivo, para entrar em vigor, dependerá de aprovação mediante
referendo popular, a ser realizado em outubro de 2005.
§ 2º Em caso de aprovação do referendo popular, o disposto neste artigo entrará em
vigor na data de publicação de seu resultado pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Ø Nos termos do art. 49, XV da CF/88, cabe ao Congresso Nacional convocar


plebiscito e autorizar referendo. De acordo com o art. 3º da Lei nº 9.709/98,
tal convocação deverá ser feita através de decreto legislativo, por proposta de
um terço, no mínimo, dos membros que compõem qualquer das Casas do
Congresso Nacional.

Ø Aprovado o ato convocatório, o Presidente do Congresso Nacional dará ciência à


Justiça Eleitoral, a quem incumbirá, dentre outras funções, fixar a data e
expedir instruções para a realização do plebiscito ou referendo (art. 8º).
Lei nº 9709/98

Art. 9º Convocado o plebiscito, o projeto legislativo ou medida administrativa


não efetivada, cujas matérias constituam objeto da consulta popular, terá
sustada sua tramitação, até que o resultado das urnas seja proclamado.

Art. 10. O plebiscito ou referendo, convocado nos termos da presente Lei, será
considerado aprovado ou rejeitado por maioria simples, de acordo com o
resultado homologado pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Art. 14 CF/88
§ 12. Serão realizadas concomitantemente às eleições municipais as consultas
populares sobre questões locais aprovadas pelas Câmaras Municipais e encaminhadas
à Justiça Eleitoral até 90 (noventa) dias antes da data das eleições, observados os
limites operacionais relativos ao número de quesitos. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 111, de 2021)

§ 13. As manifestações favoráveis e contrárias às questões submetidas às consultas


populares nos termos do § 12 ocorrerão durante as campanhas eleitorais, sem a
utilização de propaganda gratuita no rádio e na televisão. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 111, de 2021)
§ Iniciativa popular: é o poder atribuído aos cidadãos para apresentar projetos de lei
ao Parlamento, inaugurando, com essa medida, procedimento legislativo que
poderá culminar em uma lei (V. art. 13 da Lei 9.709/98 e art. 61, §2º da CF/88).

Lei nº 9.709/98

Art. 13. A iniciativa popular consiste na apresentação de projeto de lei à Câmara dos
Deputados, subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional,
distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento
dos eleitores de cada um deles.

§ 1º O projeto de lei de iniciativa popular deverá circunscrever-se a um só assunto.

§ 2º O projeto de lei de iniciativa popular não poderá ser rejeitado por vício de
forma, cabendo à Câmara dos Deputados, por seu órgão competente, providenciar a
correção de eventuais impropriedades de técnica legislativa ou de redação.
§ Os sistemas eleitorais tem papel fundamental na organização das eleições e
na conversão de votos em mandatos. Na Constituição Federal de 1988,
foram consagrados os sistemas majoritário e proporcional.

1) Sistema Majoritário:

§ Pelo sistema majoritário, consideram-se eleitos aqueles que obtiverem o


maior número de votos para o cargo em disputa. Por este sistema são
regidas as eleições para Prefeito, Governador, Senador, Presidente da
República e respectivos vices/suplentes.

1.1) Sistema majoritário simples ou de turno único: adotado nas


eleições para o Senado e Prefeito em Municípios com até 200.000 eleitores.
Por este sistema, será eleito o candidato que conquistar o maior número
de votos entre os participantes do certame (ou seja, exige-se apenas
maioria relativa).
1.2) Sistema majoritário de dois turnos: adotado nas eleições para Presidente,
Governador e Prefeito nos Municípios com mais de 200.000 eleitores.
Por esse sistema, o candidato só é considerado eleito no primeiro turno se obtiver
a maioria absoluta de votos válidos.

Ex: Município W, 1.000.000 de votos válidos. Prefeito será eleito em primeiro


turno se obtiver 500.001.
Ex2: Município Z, 999.999 de votos válidos. Metade será 499.999,5. Prefeito será
eleito em primeiro turno se obtiver 500.000.

Não obtida maioria absoluta, faz-se nova eleição (2º turno), em que estará eleito
o que obtiver a maioria dos votos válidos (art.77 § 3º, da CF/88).

Art. 77, §4º da CF/88: Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte,
desistência ou impedimento legal de candidato, convocar-se-á, dentre os
remanescentes, o de maior votação.
2) Sistema Proporcional: adotado nas eleições para Vereador, Deputados
Estaduais, Distritais e Federais, conforme dispõe os art. 27 § 1°, 29, IV, 32 §
3º e 45, todos da CFRB.

§ Pelo sistema proporcional, serão considerados eleitos aqueles que forem os


mais votados de cada Partido, dentro da cota obtida pelo Partido na
eleição.

§ Para que um candidato seja eleito, imprescindível que seu partido obtenha
um número mínimo de votos. Esse número mínimo é denominado quociente
eleitoral.

Art. 106 do Código Eleitoral: Determina-se o quociente eleitoral dividindo-


se o número de votos válidos apurados pelo de lugares a preencher em cada
circunscrição eleitoral, desprezada a fração se igual ou inferior a meio,
equivalente a um, se superior.
Município W: 20 mil votos válidos

Lugares a preencher na Câmara Municipal: 10

Quociente eleitoral = 2.000

§ O número de lugares de cada partido será proporcional ao quociente eleitoral


obtido.

§ Obtém-se o quociente partidário dividindo-se pelo quociente eleitoral o


número de votos válidos dados sob a mesma legenda, desprezada a fração.
(art. 107 do CE).

Número de votos válidos da legenda /quociente eleitoral = quociente


partidário

§ Art. 111. Se nenhum partido alcançar o quociente eleitoral, considerar-se-ão


eleitos, até serem preenchidos todos os lugares, os candidatos mais votados.
Número de votos válidos: 50.000
Nº de lugares a preencher na casa legislativa: 09
Quociente eleitoral: 50.000 / 9 = 5.556
Partido X obteve 19.000 votos: 19.000/5.556 = 3,419 = 3 (quociente partidário)
Partido Y obteve 15.000 votos: 15.000/5.556 = 2,699 = 2 (quociente partidário)
Partido W obteve 12.000 votos: 12.000/5.556 = 2,159 = 2 (quociente partidário)
Partido Z obteve 4.000 votos: 4.000/5.556 = 0,719 = 0 (quociente partidário)

§ ATENÇÃO: nos termos do art. 108 do Código Eleitoral, os lugares conquistados


pelos partidos X, Y e W somente poderão ser preenchidos por candidatos que
obtiverem votação nominal igual ou superior a 10% do quociente eleitoral. Os
lugares não preenchidos em razão da exigência de votação nominal mínima serão
distribuídos de acordo com as regras do art. 109 do CE (Sistema de Médias).
§ Há 2 vagas que não puderam ser distribuídas pelo critério do QP. Na ADI 5420, o STF
considerou inconstitucional a redação do art. 109 do CE dada pela Lei 13.165/15.

§ Art. 109, inciso I do CE - dividir-se-á o número de votos válidos atribuídos a cada


partido pelo número de lugares por ele obtido mais 1 (um), cabendo ao partido que
apresentar a maior média um dos lugares a preencher, desde que tenha candidato
que atenda à exigência de votação nominal mínima. (Lei nº14.211, de 2021).

Partido X: 19.000/3 + 1 = 4.750


Partido Y: 15.000/2+ 1 = 5.000 (maior média)
Partido W: 12.000/2+1= 4.000
Partido Z: 4.000/0 +1 = 4.000 (Art. 109, §2º do CE: Poderão concorrer à distribuição
dos lugares todos os partidos que participaram do pleito, desde que tenham obtido
pelo menos 80% (oitenta por cento) do quociente eleitoral, e os candidatos que
tenham obtido votos em número igual ou superior a 20% desse quociente.) (Redação
dada pela Lei nº14.211, de 2021)

- A primeira vaga será do Partido Y, desde que tenha candidato que atenda à
exigência de votação nominal mínima. (Maior média + votação nominal
mínima)
§ Art. 109, inciso III do CE: quando não houver mais partidos com candidatos que
atendam às duas exigências do inciso I deste caput, as cadeiras serão
distribuídas aos partidos que apresentarem as maiores médias. (Redação dada
pela Lei nº14.211, de 2021)

§ No caso de empate nas médias de dois ou mais partidos, a vaga será atribuída
àquele com maior votação. Ocorrendo empate na média e no número de votos
dados aos partidos políticos, prevalece, para o desempate, o número de votos
nominais recebidos pelo candidato que disputa a vaga.

§ O art. 109 § 1º do Código Eleitoral agasalhou o princípio de lista aberta para


preenchimento das vagas obtidas pelas agremiações. Assim, cabe aos próprios
eleitores (e não aos partidos) formar a ordem nominal a ser observada na
indicação dos eleitos, de sorte que os candidatos mais votados é que ocuparão
as cadeiras destinadas ao partido.

§ Suplência: Suplente é o candidato mais votado entre os não eleitos (art. 112 do
CE). A função do suplente é assumir o mandato do titular em caso de vacância
do cargo ou impedimento.

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