Você está na página 1de 11

Tema 7: Lajes Nervuradas

Segundo [1], uma laje nervurada é constituída por um conjunto de vigas (nervuras)
que se cruzam (bidirecional) ou não (unidirecional) e são solidarizadas entre si
pela mesa. Uma das principais características das lajes nervuradas é a redução
do consumo do concreto na região tracionada. Nesta região pode ser utilizado um
material inerte, como enchimento, para substituir o concreto. Esse material deve
ser o mais leve possível e ter resistência necessária que garanta com segurança
as atividades da fase de construção, embora essa resistência seja desprezada no
projeto. Entre os materiais de enchimento mais utilizados destacam-se: bloco
cerâmico (figuras 1 e 2), bloco de concreto, bloco de EPS (figura 3) e caixotes
modulados reaproveitáveis de polipropileno ou de metal (figura 4).

Figura 1 - Laje pré-fabricada com vigotas de concreto armado


(Fonte: www.classiwebgratis.com.br)

Figura 2 Laje treliçada unidirecional Figura 3 Laje treliçada bidirecional (Fonte:


(Fonte: www.lajesfortaleza.com.br) www.bloco cerâmicolaje.com.br)

1
Figura 4 - Laje nervurada moldada no local com caixotes modulados

As lajes nervuradas, depois de desformadas, apresentarão a seção transversal


conforme mostrado na figura 5. Observa-se a economia de concreto que será
obtida com a adoção dos espaços vazios ou preenchidos com elementos inertes.
Como consequência, também haverá uma redução do peso próprio da laje.

Figura 5 - Laje nervurada moldada no local com caixotes modulados


Esse tipo de laje tornou-se uma alternativa interessante para lajes com vão
maiores que, consequentemente, também terão uma maior espessura.
Inicialmente a espessura de uma laje (h) pode ser obtida a partir de uma avaliação

prática, em função do seu menor vão, :

 lajes maciças em concreto armado (/40) ≤ h ≤ (/36)

 lajes nervuradas em concreto armado h ≥ (/30)

 lajes de piso em concreto protendido h ≥ (/42)

 lajes de forro em concreto protendido h ≥ (/48)

2
Segundo a NBR 6118:2014, as dimensões limites para uma laje nervurada devem
seguir as seguintes recomendações:

Figura 6 – Seção transversal da laje nervurada com especificações da NBR 6118:2014

As lajes nervuradas unidirecionais devem ser calculadas como vigas de um vão,


considerado no sentido das nervuras. Dependendo das condições de contorno
essas vigas podem ser biapoiadas, apoiada-engastada ou biengastadas. Além
disto, a norma prescreve as seguintes condições:

“a) para lajes com espaçamento entre eixos de nervuras menor ou igual a 65 cm,
pode ser dispensada a verificação da flexão da mesa, e para a verificação do
cisalhamento da região das nervuras, permite-se a consideração dos critérios de
laje;
b) para lajes com espaçamento entre eixos de nervuras entre 65 cm e 110 cm,
exige-se a verificação da flexão da mesa, e as nervuras devem ser verificadas ao
cisalhamento como vigas; permite-se essa verificação como lajes se o
espaçamento entre eixos de nervuras for até 90 cm e a largura média das
nervuras for maior que 12 cm;

3
c) para lajes nervuradas com espaçamento entre eixos maior que 110 cm, a mesa
deve ser projetada como laje maciça, apoiada na grelha de vigas, respeitando-se
os seus limites mínimos de espessura.
As lajes nervuradas bidirecionais (conforme ABNT NBR 14859-2) podem ser
calculadas, para efeito de esforços solicitantes, como lajes maciças.”

Segue abaixo um exemplo do cálculo de uma laje nervurada unidirecional com


blocos cerâmicos (dimensões 9 cm x 19 cm x19 cm). Esse exemplo foi adaptado
do livro [2] e as medidas no desenho abaixo estão em cm. Considere que a laje é
de um edifício residencial.

PLANTA BAIXA
Considerar:
2
Carga de revestimento do piso = 1,0 kN/m
2
Carga acidental = 3,0 kN/m
3
Peso específico dos blocos cerâmicos = 13,0 kN/m
3
Peso específico do concreto = 25,0 kN/m
Aço CA-50
Concreto fck=20 MPa
Ecs = 21287 MPa (módulo de elasticidade secante do concreto)
Es = 210000 MPa (módulo de elasticidade do aço)
d(altura útil) = 22,4 cm

4
Escolha da seção transversal da laje (arbitrada):

- Para que não haja necessidade de verificar a mesa à flexão, nem as nervuras ao
cisalhamento como vigas e, principalmente, em função das dimensões dos blocos,
a seção transversal será arbitrada com as seguintes dimensões:

Observe que todas as medidas atendem as prescrições da norma, mostradas na


figura 6:
bw = 9 cm (largura das nervuras);
hf = 6 cm (maior que 4 cm e 36/15=2,4 cm).

A figura abaixo mostra o sentido das nervuras apoiando-se nas vigas V1 e V2.
Ressalta-se que elas deverão ser consideradas em toda a extensão da laje (da
viga V3 até a viga V4). Como ilustração foram desenhadas apenas 3 nervuras.

5
Solução:
a)Carga por nervura

Carga permanente por metro de nervura:

P.P do concreto = (0,09 x 0,19+0,45 x 0,06) x 25 = 1,10 kN/m


P.P do bloco cerâmico = (0,36 x 0,19) x13 = 0,89 kN/m
Revestimento do piso = 1,0 x 0,45 = 0,45 kN/m
Total = 2,45 kN/m
Carga acidental:

3,0 x 0,45 = 1,35 kN/m

Combinação de ações para o ELU:


(2,45 + 1,35) x 1,4 = 5,32 kN/m

b) Momento fletor máximo atuante em uma nervura:

Considere a nervura como uma viga biapoiada (apoio na viga V1 e na viga V2)

2 2
Md = Fd x l /8 = 5,32 x 5 /8 = 16,63 kN x m = 1663 kN x cm

6
c) Dimensionamento da nervura e cálculo da armadura para resistir à flexão:

bf = 45 cm

bw = 9 cm

h = 25 cm

d = 22,4 cm

hf = 6 cm

Verificação do Mdmin.: Cálculo da Armadura (As):

Md,min = 0,8 W 0 fctk,sup

O centro geométrico para a seção T de


concreto em relação à bw: 2
fc = 0,85 x fck / 1,4 = 1,21 kN/cm
ycg = (45x6 x22 + 19x9x 9,5) / (45x6 + 2
Kseção T = [1663/ (1,21x 9 x 22,4 )] – [(45/9 -1) x 6/22,4 x
9x19) = 17,15 cm
(1-(6/2x22,40))] = -0,63

O momento de Inércia com relação ao


CG:
3 2
Ix,cg = [((45x6 )/12)+(45x6)x(4,85) ]
3 2
+[((9x19 )/12)+(9x19)x(7,65) ]
4
=22312,67 cm
2
K = 1663/1,21x45x22,4 = 0,06 < KL = 0,295

fctk,sup = 0,39 x 20
2/3
= 2,87 MPa ≈ K’ = K = 0,06
2
0,29 kN/cm

Md,min = 0,8 x [(22312,67) / 17,15] x


0,29 = 301,80 kNxcm 2
As = (1,21x45x22,4/43,5) x (1-√1-2x0,06)=1,74 cm por
nervura
Md > Mdmin → calcular As para resistir
a Md
Com uma barra de Φ=12,5 mm e outra de Φ=8,0 mm
resulta:
2
As = 1,25 + 0,5 = 1,75 cm

7
d) Verificação da resistência ao cisalhamento:

Conforme citado, para lajes com espaçamento entre eixos de nervuras menor ou igual a 65 cm,
permite-se a consideração dos critérios de laje para a verificação do cisalhamento da região das
nervuras. Essa verificação será conforme mostrado abaixo.
Ressalta-se que, segundo [2] , o ideal é que a laje nervurada não necessite de armadura de
cisalhamento (desde de que não haja cargas concentradas ou lineares). Essa condição é atendida
se:

Sendo:

= tensão de cisalhamento atuante na nervura e

= tensão resistente ao cisalhamento da nervura.

Vsd = Força cortante solicitante de cálculo


2/3
fctd = (0,21.fck )/1,4 (fck em MPa);

K=1 para elementos onde 50% da armadura


inferior da nervura não chega até o apoio;
K= (1,6 – d), não menor que 1, com d em
metros, para os demais casos e

ρ1= As1/bw.d, não maior que 0,02.

Combinação de ações para o ELU: Tensão de cisalhamento resistente


2/3 2/3
Fd = (2,45 + 1,35) x 1,4 = 5,32 kN/m fctd = (0,21 x fck )/1,4 = (0,21 x 20 )/1,4= 1,11
2
MPa = 0,111 kN/cm

Tensão de cisalhamento solicitante: 0,25 x 0,111 = 0,0277 kN/cm


2

Vsd = (Fd x vão)/2 = (5,32 x 5)/2 = 13,30 kN Considerando que toda a armadura inferior
das nervuras chegue até os apoios:
2 K = (1,6 – 0,224) = 1,376 >1 ok.
=13,30/(9x22,4) =0,066 kN/cm
ρ1= As1/bw.d = 1,75/9 x 22,4 = 0,0087

[0,0277 x 1,376 x (1,2 + 40 x 0,0087)


2
=0,059 kN/cm

8
Verificação:
0,066 kN/cm2 > 0,059 kN/cm2
Nesse caso, a tensão solicitante é maior que a tensão resistente, portanto, para evitar a
necessidade de armadura transversal, deve-se aumentar a largura da nervura:

2
= 13,30/(bw x 22,4) =0,059 kN/cm ; bw = 10,06 cm ; Adotar bw = 10 cm
d) Novo cálculo da armadura de flexão considerando bw = 10 cm

bf = 45 cm

bw = 10 cm

h = 25 cm

d = 22,4 cm

hf = 6 cm

Verificação do Mdmin.: Cálculo da Armadura (As):

Md,min = 0,8 W 0 fctk,sup

O centro geométrico para a seção T de


concreto em relação à bw: 2
fc = 0,85 x fck / 1,4 = 1,21 kN/cm
ycg = (45x6 x22 + 19x10x 9,5) / (45x6 + 2
Kseção T = [1663/ (1,21x 10 x 22,4 )] – [(45/10 -1) x 6/22,4
10x19) = 16,84 cm
x (1-(6/2x22,40))] = -0,54

O momento de Inércia com relação ao


CG:
3 2
Ix,cg = [((45x6 )/12)+(45x6)x(4,85) ]
3 2
+[((10x19 )/12)+(10x19)x(7,65) ]
4
=23951,11 cm
2
K = 1663/1,21x45x22,4 = 0,06 < KL = 0,295

fctk,sup = 0,39 x 20
2/3
= 2,87 MPa ≈ K’ = K = 0,061
2
0,29 kN/cm

Md,min = 0,8 x [(23951,11) / 16,84] x


0,29 = 327 kNxcm 2
As = (1,21x45x22,4/43,5) x (1-√1-2x0,061)=1,78 cm por
nervura
Md > Mdmin → calcular As para resistir
Continuar com uma barra de Φ=12,5 mm e outra de
a Md
2
Φ=8,0 mm que resulta: As = 1,25 + 0,5 = 1,75 cm
(pequena diferença)

9
e) Verificação da flecha: (ver tema 1 da apostila de concreto II)

Homogeneização da seção: Momento de serviço x Momento de


fissuração:

n=Es/Ecs = 210000/21287=9,86 Combinação para o estado limite de serviço


(ELS):

Momento de fissuração: Fd,serv= gk +ψ2 qk = 2,45+0,3.1,35 = 2,86 kN/m

Md,serv = Fd x l2/8 = 2,86 x 52/8 = 8,94 kN x m =


894 kN x cm
onde:

 = 1,2 para seções T; Como Md,serv > Mr = 3,28 kN.m a seção


da laje pode estar fissurada e é necessário
 = 1,3 para seções I;
calcular a posição da linha neutra (xII) e o
 = 1,5 para seções retangulares; momento de inércia ( III) no estádio II.

yt = ycg = (45x6 x22 + 19x10x 9,5) / (45x6 + 10x19) = Para seção T com armadura simples, xII é

16,84 cm obtido com a equação abaixo, considerando, a


princípio, que a LN vai cortar a mesa da

O momento de Inércia com relação ao CG: seção:


3 2
Ic = [((45x6 )/12)+(45x6)x(4,85) ]
3 2 4
(bf . xII . xII/2) – [(nAs) . (d - xII)] = 0
+[((10x19 )/12)+(10x19)x(7,65) ] =23996,17 cm
(45 . xII . xII/2) – [(9,86 . 1,75) . (22,4 - xII)] = 0

xII = 3,78 cm (a raiz negativa é ignorada)

xII < hf a linha neutra corta a mesa.

Portanto, a inércia da seção no estádio II pode


ser obtida com a seguinte expressão:

4
III = 6792,5 cm

A rigidez equivalente é dada por:



 3  3 
 M
(EI )eq  Ecs   r

 Ic  1   Mr  
  I II

  Ecs I c
  Ma    Ma   
   

10

Cálculo da flecha imediata:

Cálculo da flecha diferida e da flecha total no tempo t=∞

Considerando-se a retirada do escoramento aos 28 dias:


   0 (armadura simples)

   (t)   (t 0 )  2  0,68  1,32


f   1,32
1  50  

Flecha total= f(t=∞)=fi . (1 + f) =1,38. (1+1,32)=3,2 cm

Comparação da flecha total diferida no tempo com a Flecha admissível (ELS)

A flecha admissível é:

fadm =  /250 = 500/250 = 2,0 cm.

Portanto haverá necessidade de especificar uma contraflecha pois f(t=∞)=3,2 cm >fadm=2,0 cm.

A contraflecha máxima não pode passar de 500/350= 1,43 cm.

Para atender aos dois critérios, bem como às condições de execução da obra, será especificada no projeto
uma contraflecha igual a 1,5 cm.


Referências Bibliográficas

[1] LIBÂNIO M. PINHEIRO, JULIO A. RAZENTE– Apostila de Estruturas de


Concreto, 2003.

[2] LIBÂNIO M. PINHEIRO e ROBERTO C. CARVALHO – Cálculo e


Detalhamento de estruturas usuais de concreto armado, 2009.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de estruturas de
concreto – Procedimento, NBR 6118. Rio de Janeiro, ABNT, 2014, 238p.

11

Você também pode gostar