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Sato e Hespanhol Saúde Mental No Trabalho 2005
Sato e Hespanhol Saúde Mental No Trabalho 2005
Leny Sa to 1
Márcia Hespanhol Bern a rdo 2
Ab s tract This article fo c u ses on Mental He a l t h Re su m o Este artigo toma por objeto a Saúde
and Work as a subarea of the Workers’ He a l t h Mental e Tra balho como uma su b á rea do campo
f i el d . Its starting point is the ob serva tion that the da Saúde do Tra balhador. Pa rte da co n s t a t a ç ã o
probl ems of mental health rel a ted to wo rk iden ti- de que os probl emas de saúde mental e tra balho,
fied in the mid 80’s still persist. After exposing the já identificados em meados da década de 1980,
taxonomy of these problems, the paper searches to persistem. Após retomar a taxonomia de tais pro-
explain some of their current expressions from the blemas, busca evidenciar algumas de suas expres-
assistance and the su rvei ll a n cein wo rkers’ health sões atuais a pa rtir da assistência e da vi gilância
as well as from the point of view of some tra d e em saúde do trabalhador, bem como pela perspec-
unions more atten tive to this issu e . In ord er to do tiva de alguns sindicatos mais aten tos à questão.
that, the Cen tro de Refer ê n cia em Saúde do Tra- Para tal, toma como ponto de partida o Centro de
balhador (CRST) of Campinas is taken as a ref- Refer ê n cia em Saúde do Tra balhador (CRST) de
eren ce. Fi n a lly, it points out to some ch a racteri s- Campinas. Por fim, po n tua algumas cara cter í s ti-
tics of wo rk in the pre sent co n text to understand cas do trabalho no contexto atual para compreen-
the reasons of this persistence. der as motivações dessa persistência.
Key word s Workers’ health, Mental health and Pa l avra s - ch ave Saúde do tra balhador, Saúde
wo rk, Worker ’s health pol i cies, Social psych ol o gy mental e trabalho, Políticas de saúde do trabalha-
of health dor, Psicologia social da saúde
1 In s ti tuto de Ps i co l ogia
da Un iversidade de
São Pa u l o, Dep a rt a m en to
de Ps i co l ogia Social e
do Tra b a l h o.
Av. Profe s s or Mello Moraes
1.721, 05508-900,
São Paulo SP.
lenys a to @ u s p. br
2 Cen tro de Referência
de Sa ú de do Trabalhador
de Ca m p i n a s .
870
cada uma das abord a gen s , no âmbi to dos ser- se se preferir, a terminologia empregada por
viços públ i cos de saúde e das entidades sindi- O d done et al. (1986): o con h ec i m en to e a su b-
cais, ele tem se de s envo lvi do em torno, pri ori- jetividade operária. A interação co tidiana no
tari a m en te, do alcance de re s postas que con s i- local de trabalho e em outros espaços de soc i a-
derem a divers i d ade da re a l i d ade vivida pelos bi l i d ade, a vivência pessoal e singular e a troc a
tra b a l h adores e a premência em com preen der, de informações animam a constru ç ã o, pelos
lidar e modificar as condições que geram os tra b a l h adore s , de con h ec i m en tos e explicações
problemas de saúde mental. A diversidade de sobre a relação saúde mental e trabalho.
situações apre s en t adas pela re a l i d ade co tidia- Foi a partir do aco l h i m en to às demandas
namen te por eles vivida não re s peita as fron tei- aos serviços públicos de saúde e às entidades
ras te ó ri co - m etodo l ó gicas. As s i m , para além do sindicais que alguns gru pos de probl emas vie-
deb a te – import a n te , d i ga-se de passagem – em ram a con formar essa subárea de Sa ú de Men t a l
torno das teorias e dos métodos mais adequ a- e Trabalho. Podemos acom odá-los em cinco gru-
dos para com preen der, interpretar ou ex p l i c a r pos, con forme Sa to & Seligm a n n - Si lva (1986)
os fenômenos de Saúde Mental e Tra b a l h o, e Sa to (1996): o pri m ei ro diz respei to à cl á s s i c a
busca-se outro ti po de re s po s t a : em que med i- relação entre saúde mental e organização do
da esses olhares poderão subsidiar ações pr á ti- processo de trabalho. Aqui foram importantes
cas, individuais e coletivas, que con s i derem o os estudos no setor de serviços e no setor in-
a p a ra to insti tu c i onal e legal que en qu ad ram as dustrial, nos quais a organização do trabalho
relações de trabalho no Brasil? E, além disso, t ayl ori s t a - fordista foi bastante estudada. O se-
em que medida, as opções teóricas tom adas gundo se refere aos efeitos neu rop s i co l ó gi co s
poderão nos levar a angariar elemen tos para decorren tes da ex posição a solven tes e metais
i n tervir na re a l i d ade? Os probl emas de ordem pe s ados, para cujo equ ac i on a m en to, a atuação
pr á tica que se apre s entam também ex i gem que mu l tidisciplinar foi ex trem a m en te import a n te ,
outras qu e s t õ e s , como direitos trabalhistas e ten do os profissionais da área “p s i ” um papel
previdenciários, se imponham e demandem a b a s t a n terel evante no sen ti do de con tri buir pa-
a tenção dos prof i s s i onais de saúde. ra o diagnósti co precoce da intoxicação (Re-
O que se verifica nessa tra j et ó ria de cerca de bouças et al., 1989). O tercei ro gru po tem as re-
duas décadas da Saúde Mental e Trabalho no percussões psico s s ociais decorren tes dos ac i-
Brasil é que alguns gru pos de probl emas fora m dentes de trabalho e de doenças do trabalho e
se conform a n do, a partir da acolhida das de- prof i s s i onais como foco, em que as Lesões por
mandas aos serviços públ i cos de Sa ú de do Tra- Esforços Repeti tivos são um importante exem-
b a l h ador e às en ti d ades sindicais. Im port a n te p l o. Outra família de problemas congrega os
ressaltar qu e , dada a origem mesma do Movi- relac i on ados ao sof ri m en to psíqu i co que pode
m en to de Sa ú de do Tra b a l h ador no Brasil (Sa- estar assoc i ado ao fato de os tra b a l h adores en-
to, Lacaz & Bernardo, 2004; Ribei ro et al., f ren t a rem co ti d i a n a m en te situações de ri s co à
2002), foi a re a l i d ade de trabalho urbano, sob vida, como as explosões e o trabalho em altu ra.
reg u l a m entação da CLT, aqu ela qu e , de início, Por fim, como apontado por Seligm a n n -Silva
foi tomada como foco de aten ç ã o. Desta fei t a , (1997), as situações de de s em prego pro l on gado
os probl emas iden ti f i c ados são aqueles que tra- em suas repercussões psico s s oc i a i s .
b a l h adores e lideranças sindicais inseri dos nes- Import a n te lem brar que uma taxon omia é
se contex to trazem aos serviços públicos de sem pre uma den tre várias po s s í veis e, por isso,
Saúde do Trabalhador e às entidades de asses- arrisca separar fen ô m enos que deveriam estar
soria sindical, como, por exemplo, o DIESAT numa mesma categoria e en gl obar numa única
( Dep a rtamen to In tersindical de Estu dos e Pe s- os que poderiam estar sep a rado s . Corren do es-
quisas de Sa ú de e dos Am bi en tes de Trabalho). se ri s co, a opção aqui ado t ada foi norte ada pa-
In depen den tem en te do aporte te ó ri co - m e- ra apre s entar gru pos de probl emas que se mo-
todológi co adotado para o exame das relações vimen t a ram dos locais de trabalho para as en-
en tre a saúde mental e o trabalho, recon h ece - s e ti d ades sindicais, p a ra os serviços públ i cos de
que um ponto de partida importante para o saúde e para as insti tuições de pe s quisa e uni-
exame detido por parte dos prof i s s i onais de vers i d ade.
s a ú de , de determinados problemas de saúde,
bem como os recortes operado s , é dado pela vi-
vência, ex periência e con h ec i m en to dos traba-
l h adores sobre o seu dia-a-dia de trabalho; ou,
872
A expressão atual dos probl emas cia da dificuldade por parte de todos os envo l-
de saúde mental e trabalho vi dos – em presas, prof i s s i onais de saúde e peri-
tos do INSS – em recon h ecer o trabalho com o
Para apre s entar como os problemas de saúde c a u s ador de probl emas de saúde men t a l , o que,
mental e trabalho hoje se expressam, opta-se con s eq ü en tem en te , reduz a busca de ajuda em
por tomar o caso de um serviço público de serviços de refer ê n c i a , como os CRSTs.
Sa ú de do Tra b a l h ador, o Centro de Refer ê n c i a Apesar de os probl emas de Sa ú de Mental e
em Saúde do Trabalhador (CRST) de Campi- Trabalho serem recon h ec i dos na CID 10, a su a
nas, como local de pon to de partida para a dis- n o tificação ainda repre s enta um desafio para a
cussão aqui desenvo lvida. saúde públ i c a . A lógica positivista hegemônica
Com esse intu i to, primei ra m en te , s erão es- e a visão de que a gênese desses probl emas re s i-
tu d ados os probl emas que con f i g u ra ram a áre a de na esfera intra - i n d ivi dual – também forte-
de Saúde Mental e Trabalho – nas condições mente pre s en te nos campos previdenciário e
acima apon t adas – bu s c a n dodiscutir as form a s jurídico – acaba por ser determ i n a n te também
como eles se apre s entam na demanda por as- no campo da Saúde do Trabalhador tendo em
sistência em Sa ú de do Tra b a l h ador. Em segui- vista os em b a tes freq ü en tes que se estabel ecem
da, as questões de Sa ú de Mental e Trabalho se- en tre essas áreas.
rão analisadas à luz da percepção dos sindica- Do lado dos tra b a l h adores, por sua ve z , ob-
tos e dos profissionais de saúde que re a l i z a m serva-se que mu i tos parecem se sen tir mais au-
a tividades de vigilância em ambi en tes e proce s- tori z ados a buscar a assistência no CRST qu a n-
sos de trabalho. do se re s s en tem de probl emas de ordem física,
sendo rara a sua ocorrência em situações em
A saúde mental vista pela assistência que eles apre s en tem uma demanda cl a ra e ini-
ao tra b a l h a dor cial de probl ema de saúde men t a l . Destacam-se
a qui dois dos casos que dem a n d a ram assistên-
Q u a n do se ob s erva o que há de novo e o cia no CRST por esse motivo. O primeiro é o de
que persiste tom a n do-se a assistência à saúde um trabalhador de cerca de 40 anos que era res-
m ental dos tra b a l h adore s , nota-se que as “no- pon s á vel pela ex pedição de produtos de uma
vi d ades” não dizem re s pei to a uma maior ênfa- grande empresa de alimentos. Ele procurou aju-
se dada a esse ti po de probl ema nos serviços de da de um outro serviço de saúde após ter uma
s a ú de , n em a um aumen to ex pre s s ivo de noti- crise de ausência en qu a n to con duzia um carro
ficações de problemas de saúde mental, mas, e quase ter provocado um grave ac i den te que
sim, a inclusão de novas ocupações en tre aqu e- envolveria sua esposa e filhos. Em avaliação rea-
las qu e , mais freq ü en tem en te, têm sido assoc i a- l i z ada pelo médico daquele serviço foi veri f i c a-
das às qu eixas rel ac i on adas à esfera psíqu i c a . do que esse tra b a l h ador apre s en t ava sintom a s
O que se ob s erva no CRST de Campinas é or g â n i cos (pressão alta, el etroc a rd i ograma alte-
que o número de notificações de probl emas de rado) e psíqu i cos (insônia, irritabilidade , etc . )
s a ú de mental relacion ados ao trabalho ainda é que pareciam decorren tes de estresse e foi-lhe
pouco significativo em relação ao total dos su geri do que proc u rasse o CRST de Ca m p i n a s .
a ten d i m en tos, fato que parece também ocorrer Na en trevista inicial, no CRST, ele assoc i ava di-
em outros serviços do mesmo tipo. No ano de ret a m en te as caracter í s ticas do seu trabalho co-
2004, por exem p l o, os “transtornos psíqu i co s” mo as causadoras dos seus probl emas de saúde,
– mais espec i f i c a m en te, a depressão não-or g â- de s t ac a n do a gra n de re s pon s a bi l i d ade associa-
nica, o estresse e os transtornos do sono – re- da à sua função e à jornada exce s s iva de traba-
pre s entaram menos de 1% dos 892 diagnósti- lho. Seg u n do el e , du ra n te anos, era comum que
cos médicos atri bu í dos a novos pac i en tes de s s e trabalhasse por até vi n te horas seguidas, com
s ervi ç o, enqu a n to as LER corre s pon deram a predominância do horário noturn o, em uma
quase 70% desse total (CRST-Campinas, 2004). ativi d ade que lhe ex i gia atenção constante. Aqui,
Considerou-se, aqui, apenas os diagnósti co s cl a ramen te , se evidencia a importância da par-
principais atri bu í dos com base naCl a s s i f i c a ç ã o ticipação da or ganização do trabalho na vivên-
In tern ac i onal de Doenças (CID 10). cia desses sintomas. Contudo, deve-se notar que
Por outro lado, o número po u co sign i f i c a- a “autorização” para buscar a ajuda do CRST foi
tivo desses diagnósti cos não indica nece s s a ria- dada por um médico.
men te sua baixa freqüência na população tra- No caso de probl emas de saúde mental as-
b a l h adora . An te s , p a recem mostrar a pers i s t ê n- s oc i ados à convivência co tidiana com situações
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um bom exemplo. Apesar de as LERs serem, funções neu rop s í quicas recebam aten d i m en to
ainda, a principal doença do trabalho iden tifi- adequ ado.
c ada nos trabalhadores da categori a , Paulo Sér-
gio Gomes, d i retor de saúde do Si n d i c a to dos A vigilância em saúde e as questões
Metalúrgi cos da região de Campinas, já apre- de Saúde Mental e Trabalho
senta uma grande preocupação em relação ao
c re s c i m ento das qu eixas de estre s s e . Em uma As avaliações do sindicato dos qu í m i cos e
en trevista e esse re s pei to, ele diz o seguinte: Es- do sindicato dos metalúrgicos de Ca m p i n a s
tou há três anos no Sindicato e, em todos esses a pre s en t adas acima coi n c i dem com aquilo qu e
três anos (...), eu fiquei tra balhando na saúde e é ob s ervado pelos profissionais do CRST de
de lá pra cá, logo de início você observa , né? Eu Campinas em vigilâncias nas em presas do mu-
fui cipeiro, vice-presidente de CIPA, por duas nicípio. Os ri s cos para a saúde mental dos tra-
gestões (...) e, aí, a gen te já ob serva , vem aco m- b a l h adore s , s ejam aqu eles rel a tivos à or ga n i z a-
panhando dentro da fábrica e, depois, aqui no ção do tra b a l h o, à convivência com situações
Si n d i c a to. Vê que vem intensificando as doen ç a s de perigo ou à contaminação por produtos
mentais. A gente percebe alguns distúrbios, que qu í m i co s , não só pers i s tem como import a n te s
a n tes não eram vi s tos na fábrica, você começa a probl emas de saúde públ i c a , como têm se agra-
ob servar que os trabalhadores estão começando a vado sen s ivelmen te do pon to de vista da vigi-
desenvolver esses ti pos de distúrbi o. [o qu ê ? ] Es- lância em saúde .
tresse! O diagnósti co... a maioria das pessoas, Esse é, particularmente, o caso dos fatore s
quando você vai co nversar diz que está... que é rel ac i on ados à or ganização do tra b a l h o. O rit-
e s tre s se . mo acel erado, a pressão por produ ç ã o, os con s-
As qu eixas apre s en t adas pelos trabalhado- tra n gi m en tos cotidianos e a ameaça de de s em-
res são, segundo ele, os distúrbios do sono e a prego são ob s ervados em quase todas as em-
dificuldade em “organizar as idéias”: Eles pro- presas submetidas à vigilância pelo CRST de
curam vo c ê , você está ligado na área de saúde, tá Ca m p i n a s . A intensificação do ritmo é tal que
no sindicato, eles falam: “oh , eu não co n s i go dor- os tra b a l h adores não têm tem po para conver-
mir à noite, eu não consigo mais...”, às ve zes tá sar com os prof i s s i onais que atuam na vi gi l â n-
estu d a n d o, “a n te s , eu estu d ava , a s s i m i l ava tão cia. Esses aspectos parecem estar cada vez mais
bem , a go ra, tenho que ler ci n co ou seis ve zes uma natura l i z ados nos processos de trabalho, com a
coisa simples pa ra pod er abstrair 30 ou 40%...”. alegação por parte das empresas de que elas
Paulo avalia que esse probl ema tem tido não têm outra op ç ã o, pois também sofrem
ocorrência cre s cen te en tre os met a l ú r gi cos de- pressões do “m erc ado”.
vido às mudanças nos sistemas de produção Esses probl emas não afetam som en te o se-
inspiradas no modelo japonês, que impõem tor indu s trial – on de , aliás, é cada vez mais co-
uma intensificação marc a n te do ritmo de tra- mum ouvi rem-se rel a tos dos tra b a l h adores so-
balho e uma carga de re s pon s a bilidades aos bre a total impo s s i bi l i d ade de aten der nece s s i-
trabalhadores que ultrapassa a simples execu- dades humanas básicas durante a jornada de
ção de uma tarefa. Ainda, segundo ele, o de- trabalho, tais como beber água ou ir ao banhei-
semprego é um fator de pressão adicional so- ro – mas também estão inten s a m en te pre s en te s
bre o tra b a l h ador para que acei te se su bm eter a no setor de serviços. Além do caso já citado do
s i tuações de trabalho de su m a n a s . tel e a tendimento, os serviços terceirizados –
Já o Si n d i c a to dos Químicos dessa mesma qu e , em geral, não contam com sindicatos
região – a qual, vale lembrar, é um dos mais atuantes – também têm apresentado ocorrência
importantes pólos petroqu í m i cos do país – crescente desse tipo de situação, o que é agrava-
vem lut a n do para dem on s trar a con t a m i n a ç ã o do com o aumen to de atividades re a l i z adas no
de tra b a l h adores por produtos qu í m i cos utili- per í odo noturno. A oferta de serviços de aten-
zados nos processos de produção de diversas dimen to vinte e qu a tro horas ou até altas hora s
em presas da sua base. Mu i tos desses produto s da noi te tem aumen t ado sen s ivel m en te em di-
têm efeitos neuro t ó x i cos e podem provocar versos setores, o que afeta não só os trabalhado-
s i n tomas que são fac i l m en te con f u n d i dos com res diretamente envolvi do s , mas também ou-
probl emas de saúde mental de ori gem psicod i- tro s , como os prof i s s i onais de limpeza e manu-
nâmica e, assim, tra t ados erron e a m en te . Desse tenção que con cen tram suas ativi d ades na ma-
modo, o nexo com o trabalho é fundamental drugada, como é o caso dos shopping centers.
p a ra que os tra b a l h adores que apre s entam dis-
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nha), diretor do Si n d i c a to dos Trabalhadore s dos tra b a l h adores seja a de que eles têm con d i-
em Proce s s a m en to de Dados do Estado de São ções de recon h ecer as situações de ri s co do tra-
Paulo: balho para sua saúde, mas não têm ti do outra
Eu vejo, por ex em pl o, tra ba l h a d o res que têm opção que a submissão a tais con d i ç õ e s . É co-
pl ena co n sci ê n cia do mal que o tra balho lhe cau- mu m , a tu a l m en te , o uvi r-se que qu em tem um
sa – eu estou falando de coisas que se ref l etem no em prego, não importa qu a l , já pode ser con s i-
a m bi en te psico s so cial do tra balho que é a pre s s ã o derada uma pessoa de sorte. Essa submissão
da ch efia, a q u ele medo do desem prego, fazer ho- conscien te a condições inadequadas, particu-
ra extra sem cob rar, po rque tem ba n co de horas e l a rm en te no que diz re s peito ao ritmo de tra-
“ vamos nessa po rque pre cisamos ve s tir a camisa balho e às pressões cotidianas, p a rece estar se
da em pre s a” – justamen te pa ra não perd er o em- tornando um fator adicional de sofrimen to
prego se calam; é aquela situação da pe s soa estar psíqu i co que merece uma atenção especial da
tra balhando com dor e não ir ao médico po rq u e área de Sa ú de Mental e Trabalho.
ele não pode se afastar, po rque senão vai ficar sob Esse con texto, portanto, m o s tra-se po u co
a mira do capataz e aí é “ir pr´o olho da rua”. É propício para que o discurso da Sa ú de do Tra-
tudo isso aí e que el e , na realidade, não dei xa de balhador tenha força argumentativa, ceden do
co n h e cer, mas ele simplesmente [faz de conta]. espaço para que a visão alinhada ao discurso da
(...) É, e de sindicato eu , tra ba l h a d o r, só vou que- Saúde Ocupacional/Medicina do Trabalho re-
rer saber depois que eu for demiti d o, po rque se- cru de s ç a . Aqu i , vale recuperar o estu do de s en-
não “aqueles malucos [os sindicalistas] lá, vão vo lvi do por Lacaz (1996), que tomou como ob-
atra palhar a minha vida! ( P é rsio Dutra [Pen i- j eto de estu do as formações discurs ivas da ac a-
nha], 2002). demia, dos serviços e dos órgãos sindicais so-
Se, a n te s , trabalhar sob a regulamentação bre as relações Sa ú de e Trabalho, m o s tra n do as
da CLT ou o sob o regime dos servidores públi- d i ferenças en tre o discurso da Sa ú de Ocupacio-
cos era um direi to, h oj e , a qu ele que tem a “c a r- nal/Medicina do Trabalho e o da Sa ú de do Tra-
teira de trabalho assinada” é um privilegiado. balhador. Se o da Sa ú de Ocupac i on a l / Medicina
Como afirma Boi to Jr. (1999): An te s , cada tra- do Trabalho deve sua emergência no con tex to
balhador via no direito conquistado por outro do processo de indu s trialização bra s i l ei ra, vin-
um primei ro pa s so pa ra que ele pr ó prio co n q u i s- do ao encon tro da nece s s i d ade de controlar a
t a s seo seu; hoje, o tra balhador tende a ver no di- força de tra b a l h o, su s tentando-se em uma vi-
reito conquistado por outro um privilegio que são funcionalista e individualizante, a Sa ú de do
ameaça seus pr ó prios direitos. Exemplificando: Tra b a l h ador é for jada no con tex to do ressu r gi-
até 1964, a estabilidade do funcionalismo públ i- m en to do movimen to sindical no Brasil no fi-
co era um estímulo à luta do tra balhador do se- nal da década de 1970 e bu s cou nas relações de
tor privado pa ra obter, também, algum ti po de trabalho a determinação do processo saúde-
e s t a bilidade no em prego (...). Hoje, a mesma es- doen ç a . Con forme Lacaz (1996), tais discurs o s
t a bilidade do funcionalismo não é vista como ob- estão em relação dinâmica, lut a n do por posi-
jetivo a ser atingido por tod o s , mas como privi l é- ções centrais no campo científico (Bo u rd i eu,
gio de pou cos a ser revo ga d o. 1983) e devem sua força argumentativa não a
O enfraquecimen to na mobilização dos eles mesmos, mas às condições concretas em
trabalhadores desde o avanço das políticas que se inserem.
neo l i berais na década de 1990 (Boi to Jr., 1999) A persistência dos problemas de Saúde
se ref l ete diretamente na sua atuação em rel a- Mental e Trabalho pode ser com preendida nos
ção à saúde. Esse fato é parti c u l a rm en te ob s er- m o l des propo s tos por Lacaz (1996): o con tex to
vável em relação a probl emas cuja ori gem está a tual con grega duas tendências opostas. De um
na or ganização do processo de tra b a l h o, com o l ado a existência de conhec i m en tos ac u mula-
é o caso de gra n de parte dos probl emas de saú- dos sobre o tema e, de outro, o “tercei ro espíri-
de mental e trabalho. to do capitalismo”, con forme Boltanski & Ch i a-
Nessas condições, talvez uma das caracte- pello (1999), que propicia a hipertrofia do dis-
rísticas importantes no que se refere à saúde c u rso da culpabilização da vítima.
877
Co l a bora dore s
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