Você está na página 1de 196

Perguntas e Respostas - Alta CRIA

Alta
CRIA 1
2
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

Rafael Alves de Azevedo – Alta


Carla Maris Machado Bittar – Universidade de São Paulo
Sandra Gesteira Coelho – Universidade Federal de Minas Gerais

Perguntas e Respostas
Alta CRIA
2ª Edição

Uberaba, MG
Alta Genetics
2021
Alta
CRIA 3
© 2021 by Rafael Alves de Azevedo, Carla Maris Machado Bittar e Sandra
Gesteira Coelho. Direitos de edição reservados à empresa Alta. Todos os
direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida,
apropriada e estocada, por qualquer forma ou meio, sem autorização, por
escrito, do detentor dos seus direitos de edição. Impresso no Brasil

Todos os direitos reservados


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).

Perguntas e Respostas Alta CRIA, 2021. Editores: Rafael Alves de Aze-


vedo, Carla Maris Machado Bittar e Sandra Gesteira Coelho. Uberaba,
Minas Gerais, 2021. 2ª Edição. 196p.

ISBN: 978-65-5668-053-8
DOI: http://dx.doi.org/10.26626/978-65-5668-053-8.2021B0001

O conteúdo das respostas contidas nesta publicação é de inteira res-


ponsabilidade dos respectivos autores.

Revisão linguística: Aírton José de Souza


Projeto gráfico: Ana Paula Silva Alves
Impressão e acabamento: Gráfica 3P
- A não citação de fonte em tabelas e figuras indica que os detentores dos
seus direitos autorais patrimoniais são os autores dos respectivos capítulos
desta obra.
- As ideias e informações presentes nesta obra são de responsabilidade dos(s)
autor(es) e não, obrigatoriamente, refletem a opinião da empresa Alta.

Alta Pedidos
Caixa postal: 4008 – CEP: 38.020-970 Tel. (34) 3318-7777
BR 050, KM 164, PARQUE HILEIA www.altagenetics.com.br
Tel. (34) 3318-7777 comunicacao@altagenetics.com.br
www.altagenetics.com.br
comunicacao@altagenetics.com.br

4
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

SUMÁRIO

1. Pré-parto e Maternidade ................................................................. 15


José Eduardo Portela Santos, Rafael Alves de Azevedo, Rodrigo Melo
Meneses, Rodrigo Otávio Silveira Silva e Sandra Gesteira Coelho
2. Colostragem .................................................................................. 31
Carla Maris Machado Bittar, Sandra Gesteira Coelho
e Rafael Alves de Azevedo
3. Cura do cordão umbilical ................................................................. 45
José Azael Zambrano, Polyana Pizzi Rotta, Rafael Alves de Azevedo,
Rodrigo Melo Meneses e Sandra Gesteira Coelho
4. Dieta líquida ................................................................................. 53
José Eduardo Portela Santos, João Henrique Cardoso Costa, Lívia
Carolina Magalhães Silva Antunes, Rafael Alves de Azevedo, Rodrigo
Melo Meneses e Sandra Gesteira Coelho
5. Dieta sólida ................................................................................. 69
Alex de Matos Teixeira, Carla Maris Machado Bittar, Rafael Alves
de Azevedo, Rodrigo Melo Meneses e Sandra Gesteira Coelho
6. Mochação ..................................................................................... 85
José Azael Zambrano, Polyana Pizzi Rotta e Rafael Alves de Azevedo
7. Biosseguridade na cria e recria ........................................................ 93
Rafael Alves de Azevedo, Sandra Gesteira Coelho e Viviani Gomes
8. Vacinação na cria e recria
..................................................................................... 107
Rodrigo Otávio Silveira Silva e Viviani Gomes
9. Doenças gastrointestinais ............................................................... 117
José Azael Zambrano, Rodrigo Melo Meneses, Sandra Gesteira Coelho
e Viviani Gomes
10. Doenças respiratórias ................................................................... 135
José Azael Zambrano, José Eduardo Portela Santos, Rodrigo Melo Me-
neses e Viviani Gomes
11. Tristeza parasitária bovina ............................................................ 147
José Azael Zambrano e Rodrigo Melo Meneses
12. Nutrição e reprodução de novilhas ................................................. 157
Gabriel Caixeta Ferreira, Glaucio Lopes, José Eduardo Portela Santos,
Polyana Pizzi Rotta e Valdir Chiogna Júnior
13. Instalações para cria e recria .......................................................... 175
Carla Maris Machado Bittar, Gabriel Caixeta Ferreira, José Eduardo
Portela Santos, João Henrique Cardoso Costa, Rafael Alves de Azevedo
e Sandra Gesteira Coelho

Alta
CRIA 5
6
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

INTRODUÇÃO
A criação de bezerras e novilhas é uma das fases mais importantes para
a pecuária leiteira, pois compreende a reposição genética que visa sempre à
incorporação de animais mais produtivos e saudáveis nos rebanhos.
Gerenciar os números e conhecer os principais índices zootécnicos é fun-
damental para traçar metas, estratégias e alcançar os objetivos, que definirão
o sucesso da criação das bezerras e novilhas. Além disso, é importante tanto
para auxiliar a tomada de decisões de manejos nas propriedades, quanto
para apontar áreas que necessitam de mais estudos.
O programa Alta CRIA surgiu em 2017 com o objetivo de levantar os
principais índices zootécnicos na fase de cria e recria, de forma a auxiliar no
gerenciamento e estabelecer o panorama nacional da criação de bezerras e
novilhas leiteiras. O programa é composto por um seleto grupo de conselhei-
ros e técnicos, os quais discutem e trabalham os resultados e as inovações
relacionadas às fases de criação, contando com grande participação dos
responsáveis técnicos/proprietários de fazendas comerciais distribuídas em
quase todo o território nacional.
Em 2021, mais de 135 fazendas participaram do programa, formando
um grupo de produtores comprometidos em levantar números e trabalhar no
gerenciamento de indicadores zootécnicos na área de criação de bezerras e
novilhas leiteiras.
Um dos pontos fortes do programa é gerar discussões e tentar criar so-
luções para os desafios que surgem no manejo das bezerras no dia a dia.
Nesse contexto, nasceu em 2019 a ideia de criarmos um livro de perguntas
e respostas, que fosse prático e simples, com perguntas cotidianas e respos-
tas objetivas e aplicáveis. Em 2021, além de atualização da última edição,
considerando os avanços da ciência, estamos trazendo novos capítulos e per-
guntas. Todas as perguntas foram respondidas por profissionais capacitados
e especialistas nas suas respectivas áreas, os quais se responsabilizam pelo
conteúdo respondido.

Boa leitura!
Rafael Alves de Azevedo
Gerente de Neonatos Alta
Coordenador e Conselheiro do programa Alta CRIA
Coordenador do Padrão Ouro de Criação de Bezerras Leiteiras

Alta
CRIA 7
8
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

AUTORES

Alex de Matos Teixeira


Médico-veterinário pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de
Minas Gerais (EV UFMG). Mestrado e Doutorado em Zootecnia (EV UFMG).
Atualmente, é professor na Faculdade de Medicina Veterinária da Universi-
dade Federal de Uberlândia e é conselheiro do Programa Alta CRIA.
E-mail: alexmteixeira@yahoo.com.br

Carla Maris Machado Bittar


Engenheira agrônoma pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Quei-
roz (ESALQ/USP). Master of Science pela University of Arizona. Doutorado
em Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ/USP. Atualmente, é professora
na ESALQ/USP, coordenadora do grupo de extensão Clube de Criação de
Bezerras (CCB) e do Grupo de Pesquisa em Metabolismo Animal e é conse-
lheira do Programa Alta CRIA.
E-mail: carlabittar@usp.br

Gabriel Caixeta Ferreira


Médico-veterinário pela Universidade de São Paulo, com formação em ges-
tão de fazendas leiteiras pelo sistema Agro + Lean e, atualmente, é consul-
tor pelo Grupo Apoiar.
E-mail: gabriel.ferreira@grupoapoiar.com

Glaucio Lopes
Médico-veterinário pela Universidade Federal Fluminense. Mestre em Ciên-
cias de Gado de Leite e Mestre em Administração e Negócios pela University
of Wisconsin, nos EUA. Atualmente, é o gerente global de desenvolvimento
pessoal da Alta, coordenador do programa Universidade Alta e ex-presi-
dente do Conselho de Reprodução de Gado de Leite dos EUA.
E-mail: glaucio.lopes@altagenetics.com

Alta
CRIA 9
José Azael Zambrano
Médico-veterinário pela Universidad Centroccidental Lisandro Alvarado
(UCLA). Mestrado em Ciência Animal (EV-UFMG). Doutorado em Ciência
Animal (EV-UFMG). Atualmente, é facilitador nos cursos de capacitação
e pós-graduação do Rehagro, consultor sênior nas equipes de assistência
técnica em gado leiteiro e de corte nessa mesma empresa, e é conselheiro
do Programa Alta CRIA.
E-mail: jose.zambrano@rehagro.com.br

José Eduardo Portela Santos


Médico-veterinário pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho. Mestrado e Doutorado em Ciência Animal pela University of Arizo-
na, nos EUA. Residente clínico em medicina de produção de bovinos lei-
teiros pela University of Califórnia, Davis, EUA. Foi professor da Escola de
Medicina Veterinária da University of Califórnia, Davis, EUA. Fez sabático
na University of Sidney, Austrália. Atualmente, é professor titular na Uni-
versity of Florida, EUA, e professor na Universidade Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho, em Botucatu, e é conselheiro do Programa Alta CRIA.
E-mail: jepsantos@ufl.edu

João Henrique Cardoso Costa


Engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). Mestrado em Agroecossistemas pela UFSC. Doutorado em Ani-
mal Science pela University of British Columbia no Canadá. Atualmente, é
professor na University of Kentucky, em Lexington, nos EUA, onde também
é o coordenador do grupo de pesquisa em Gado Leiteiro e é professor
diretor do Centro de Pesquisa Coldstream Dairy, e é conselheiro do Pro-
grama Alta CRIA.
E-mail: costa@uky.edu

Lívia Carolina Magalhães Silva Antunes


Zootecnista pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Uni-
versidade Estadual Paulista (FCAV-Unesp). Mestre em Genética e Melho-
ramento Animal (FCAV-Unesp). Doutorado em Zootecnia (FCAV-Unesp e
pelo IRTA Investigación y Tecnologia Agroalimentarias, Catalunya, Espa-
nha). Pós-doutorado (FCAV-Unesp). Desenvolve projetos na área de com-
portamento e bem-estar animal junto ao Núcleo de Pesquisa Fazu e ao
Grupo ETCO (FCAV/ Unesp) e à empresa BEA Consultoria e Treinamento.

10
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

Atualmente, é coordenadora do curso de Zootecnia, professora das Facul-


dades Associadas de Uberaba (FAZU), e é conselheira do Programa Alta
CRIA.
E-mail: livia.silva@fazu.br

Polyana Pizzi Rotta


Zootecnista pela Universidade Estadual de Maringá. Mestrado e doutora-
do na Universidade Federal de Viçosa (UFV). Período de treinamento na
Colorado State University durante o doutorado. Atualmente, é professora
adjunta de produção e nutrição em bovinocultura de leite da UFV, coor-
denadora do Programa Família do Leite e é conselheira do Programa Alta
CRIA.
E-mail: polyana.rotta@ufv.br

Rafael Alves de Azevedo


Zootecnista pelo Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal
de Minas Gerias (ICA UFMG). Mestre em Ciências Agrárias (ICA UFMG).
Doutor em Zootecnia (EV-UFMG), com período de treinamento na Univer-
sity of Florida. Pós-doutorado em Zootecnia (EV-UFMG). Atualmente, é
Gerente de Neonatos da Alta, coordenador do Padrão Ouro de Criação
de Bezerras Leiteiras e coordenador e conselheiro do Programa Alta CRIA.
E-mail: rafael.azevedo@altagenetics.com

Rodrigo Melo Meneses


Médico-veterinário pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Especiali-
zação em Clínica e Cirurgia Veterinária (Área de Grandes Animais) pela
UFV. Mestrado e Doutorado em Ciência Animal, área de Medicina e Cirur-
gia Veterinária (EV-UFMG). Atualmente, é professor na EV-UFMG e conse-
lheiro do Programa Alta CRIA.
E-mail: menesesrm@gmail.com

Rodrigo Otávio Silveira Silva


Médico-veterinário pela Escola de Veterinária da Universidade Federal
de Minas Gerais (EV UFMG). Mestrado e doutorado em Ciência Ani-
mal (EV-UFMG), com doutorado sanduíche na University of Copenhagen
(Denmark). Atualmente, é professor na EV-UFMG e conselheiro do Progra-
ma Alta CRIA.
E-mail: rodrigo.otaviosilva@gmail.com

Alta
CRIA 11
Sandra Gesteira Coelho
Médica-veterinária pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de
Minas Gerais (EV-UFMG). Mestrado em Medicina Veterinária (Área de Re-
produção) pela EV-UFMG. Doutorado em Ciência Animal (Área de Nutri-
ção) pela EV-UFMG, com período de treinamento na University of Florida
(EUA). Atualmente, é uma das coordenadoras do Grupo de estudo e pes-
quisa em Pecuária de Leite (GPleite; EV-UFMG), professora na EV-UFMG, e
é conselheira do Programa Alta CRIA.
E-mail: sandragesteiracoelho@gmail.com

Valdir Chiogna Júnior


Médico-veterinário pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Especializa-
ção em Produção de Ruminantes pela Escola Superior de Agricultura Luiz
de Queiroz (Esalq/USP). Mestre em Biociência Animal (UFG). Consultor de
fazendas leiteiras pela Milk+ Consultoria
E-mail: chiognavet@hotmail.com

Viviani Gomes
Médica-veterinária pela Universidade Paulista (UNIP). Aprimoramento em
Clínica e Cirurgia de Grandes Animais (Área de Ruminantes) pela FMVZ
(USP). Mestrado e Doutorado em Clínica Veterinária pela FMVZ (USP). Pós-
-doutorado em Imunologia Bovina na University of Georgia (UGA). Atual-
mente, é coordenadora de pesquisa do Grupo de Pesquisa especializado
em Medicina aplicada ao período de transição, cria e recria (GeCria), pro-
fessora na (FMVZ-USP), e é conselheira do Programa Alta CRIA.
E-mail: viviani.gomes@usp.br

12
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

AGRADECIMENTOS

Agradecemos, especialmente, aos produtores(as), técnicos(as) e aos colabo-


radores(as) pertencentes ao programa Alta CRIA, por participarem deste livro,
enviando-nos as perguntas de cada capítulo.

Sem dúvida, este livro não existiria se não fosse pela confiança e apoio de
vocês!

Alta
CRIA 13
14
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

Capítulo 01

PRÉ-PARTO E MATERNIDADE

Alta
CRIA 15
Capítulo 01: Pré-parto e maternidade

José Eduardo Portela Santos - University of Florida


Rafael Alves de Azevedo - Alta
Rodrigo Melo Meneses - Universidade Federal de Minas Gerais
Rodrigo Otávio Silveira Silva - Universidade Federal de Minas Gerais
Sandra Gesteira Coelho - Universidade Federal de Minas Gerais

16
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

1. Qual o período médio de gestação de uma vaca e de uma novilha?


Existe uma pequena variação no período de gestação entre as diferen-
tes raças leiteiras:
• Novilhas da raça Holandês: 277 dias;
• Vacas da raça Holandês: 279 dias;
• Novilhas da raça Jersey: 278 dias;
• Vacas da raça Jersey: 280 dias;
• Vacas e novilhas da raça Pardo Suíço: 287 dias;
• Vacas da raça Gir: 286 dias;
• Novilhas mestiças F1 Holandês x Gir: 277 dias;
• Vacas mestiças F1 Holandês x Gir: 276 dias;
• Novilhas ¾ Holandês x Gir: 278 dias;
• Vacas ¾ Holandês x Gir: 277 dias.
Esses são dados médios, ocorrendo variação de mais ou menos 10 dias
em torno da média. Em todas as raças, observamos também alteração no
período de gestação devido a fatores como:
• estação de nascimento (estresse térmico reduz em média 5 dias);
• sexo da cria (fêmeas nascem 2 dias antes que machos);
• gestação gemelar (gestação reduz em média 4 a 5 dias);
• touro utilizado.

2. Qual o período seco ideal a ser planejado de descanso para uma


vaca seca, pensando em saúde da glândula mamária e produção de
colostro?
Período mínimo de descanso de 45 a 50 dias. Secar a vaca aos 230
dias de gestação seria o ideal por várias razões:
• Praticamente, mais de 95% das vacas terão pelo menos 35 dias de
período seco;
• o risco de resíduo no leite originário da terapia de vaca seca é pe-
queno, porém, fique atento às recomendações de bula de cada produto
utilizado;
• a vaca irá passar pelo menos 2 semanas no lote de pré-parto;
• o produtor obtém 2 semanas a mais de lactação;
• o risco de comprometer a qualidade e a produção de colostro ou
produção de leite na lactação subsequente é mínimo.

Alta
CRIA 17
Capítulo 01: Pré-parto e maternidade

3. Em quais situações seria viável o uso padrão de antibióticos intra-


mamários e/ou selante em novilhas?
Na maioria dos casos, a utilização de antibiótico e selante pode ser re-
comendada quando mais de 15% de primíparas têm mastite clínica no pós-
-parto ou mais de 15% das primíparas apresentam contagem de células
somáticas (CCS) acima de 150 mil de 10 a 35 dias pós-parto.

4. Qual o escore de condição corporal ideal para as vacas entrarem


no lote seco? Seria o mesmo para Holandês e Girolando?
Para vacas que foram secas, o ideal para a raça Holandesa é que entrem
no lote de secas e no de pré-parto com escore de condição corporal entre
3,00 e 3,25 e de que não percam condição corporal de forma alguma
nesse período seco. Vacas Holandesas devem manter ou ter um pequeno
acréscimo (0,25 unidades) de condição corporal nesses períodos. Já para
vacas da raça Girolando, a condição corporal mais alta, entre 3,50 e 3,75,
está associada com maior produção de leite e componentes no leite na
lactação subsequente.

5. Qual o escore de condição corporal ideal para as novilhas da raça


Holandês apresentarem 60 dias antes da data prevista do parto?
Para as novilhas da raça Holandês, o ideal é que cheguem ao parto com
escore de condição corporal entre 3,50 e 3,75 e com 90 a 92% do peso
adulto, o que seria equivalente a 620 a 630 kg de peso corporal. É possível
que condição corporal mais baixa traga vantagens para a novilha da raça Ho-
landês, mas a dificuldade é atingir peso adequado com idade ao parto de 23
a 24 meses ao mesmo tempo que a condição corporal seja inferior a 3,50.

6. Como definir se devo ou não usar vacinas no pré-parto dos meus


animais, pensando em passar anticorpos para os bezerros via inges-
tão de colostro?
A definição da inclusão ou não de vacina no pré-parto ou em qualquer
outra categoria animal é baseada, principalmente, na ocorrência de do-
enças na propriedade ou região, ou no risco de introdução delas no reba-
nho. Como temos opções limitadas para vacinar bezerros durante a fase de
aleitamento, sobretudo até os 90 dias de vida, a vacinação das fêmeas no
pré-parto e subsequente transmissão da imunidade passiva pela correta co-

18
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

lostragem é uma estratégia de grande importância, sobretudo para doenças


neonatais, como diarreias e doenças respiratórias.

7. As vacinas de pré-parto, quando utilizadas de forma estraté-


gica, devem ser aplicadas nas nulíparas também, além das mul-
típaras?
Sim, as vacinas devem ser aplicadas tanto nas nulíparas quanto nas mul-
típaras. Deve-se atentar ainda para o número de doses, que, comumente,
difere entre esses animais: comumente, as nulíparas exigem doses de refor-
ço a mais que as multíparas, justamente, por nunca terem iniciado o ciclo
de vacinação pré-parto.

8. Falam muito de quantidade de vacinas a serem administradas no


lote de pré-parto. Quantas vacinas diferentes podem ser realizadas
para se obter uma eficiente memória imunológica?
Não há embasamento científico que permita afirmar o número máximo
de vacinas que podem ser aplicadas no mesmo dia ou dentro de um pe-
ríodo curto. De forma geral, o sistema imune dos animais adultos parece
responder mesmo sob o desafio de vários6 antígenos, sendo aplicados ao
mesmo tempo. Recomenda-se, porém, espaçar as vacinas com pequenos
intervalos (três dias, por exemplo), caso o manejo permita, ou tentar fazer
agrupamentos de imunógenos (aplicando dois e dois, por exemplo, caso
sejam quatro vacinas a serem utilizadas naquela fase). Vale citar ainda que
há uma tendência de separar vacinas vivas e vacinas mortas (inativadas) pela
diferença do tipo de resposta induzida por elas.

9. Qual o limite mínimo de dias para uma vacina gerar memória imu-
nológica na vaca, garantindo mobilização de anticorpos para o co-
lostro? Ex.: passar vacas para o pré-parto faltando 25 dias da data
prevista do parto e vaciná-la, nesse momento, pode ser um problema?
Após a vacinação, o animal precisa ainda desenvolver a resposta imune,
produzir os anticorpos e células de defesa para só então mobilizá-los para
o colostro. Com isso, a literatura coloca que a última imunização ocorra,
no máximo, 30 dias antes da data prevista do parto. Períodos menores,
dependendo da vacina, podem influenciar negativamente na qualidade do
colostro quanto à resposta vacinal desejada.

Alta
CRIA 19
Capítulo 01: Pré-parto e maternidade

10. No Brasil, existem vacinas importadas para IBR/BVD para


vacas no pré-parto, as quais podem ter algumas cepas diferen-
tes das IBR/BVD convencionais nacionais. Para prevenção de
doenças respiratórias, mesmo assim seria indicado usar essas
vacinas no pré-parto? E qual seria o melhor manejo vacinal des-
sas vacas?
Dependendo do país, há disponibilidade de vacinas com vírus mortos,
vivos atenuados ou vivo termo sensível. Nos Estados Unidos, as mais utili-
zadas são as vacinas contendo vírus vivos atenuados da Rinotraqueíte Infec-
ciosa Bovina (IBR) e Diarreia Viral Bovina (BVD). Vacinas com vírus vivo
atenuado resultam em melhor imunidade, maior duração de imunidade e,
muitas vezes, têm menor custo por dose. A crítica a essas vacinas é que o
vírus se replica, temporariamente, no animal vacinado, o que resulta em
eliminação de pequenas quantidades de vírus nas secreções corpóreas. Em
alguns países, onde as prevalências de BVD e IBR são baixas e há progra-
ma de erradicação dessas doenças, o uso de vacinas vivas atenuadas não é
permitido. Como cada vacina tem suas próprias características de eficácia,
que devem ter sido validadas com ensaios experimentais, é importante ob-
ter informações e pedir resultados desses estudos para o laboratório res-
ponsável. Por exemplo, para a BVD, a duração de imunidade das vacinas
disponíveis nos Estados Unidos varia de 5 a 13 meses. É importante salien-
tar que a maioria das vacinas disponíveis não previne de maneira efetiva a
infecção pelo agente, ou seja, boa parte delas reduz a sintomatologia da
doença, mas não, necessariamente, evita a infecção do animal vacinado
pelo agente. Quando se utilizam vacinas com vírus morto, quase sempre é
necessário que todo animal primovacinado receba reforço da mesma vaci-
na entre 3 e 6 semanas depois. Animais adultos, previamente vacinados,
devem ser revacinados de acordo com a duração de imunidade da vacina
utilizada. Em aplicação de vacinas com vírus vivo atenuado em animais
gestantes, é importante que esses tenham sido vacinados previamente com
a mesma vacina, pois, em casos da IBR, por exemplo, o vírus pode cau-
sar processo inflamatório no ovário e regressão do corpo lúteo, causando
aborto. Normalmente, vacas gestantes são vacinadas com vacinas contendo
vírus da IBR e BVD na semana da secagem, quando estão com 220 a 230
dias de gestação. Uma única dose é administrada com o objetivo de ofere-
cer proteção fetal e enriquecer o colostro com imunoglobulinas específicas
contra esses agentes.

20
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

11. Qual o impacto do estresse térmico sobre o feto? O mesmo ocorre


em novilhas e vacas gestantes?
Vários são os impactos observados em filhas de primíparas ou vacas que
passaram por estresse térmico no útero no final da gestação:
• menor absorção de anticorpos colostrais;
• menor peso ao nascimento (em média -9%) e até 1 ano de idade;
• comprometimento no metabolismo e função imune com menor taxa
de sobrevivência;
• desenvolvimento mamário e capacidade sintética de produção de leite
comprometidos nas futuras lactações (-1,3 a -5,1 kg/dia na primeira lacta-
ção, -1,9 kg/dia na segunda lactação e -6,7 kg/dia na terceira lactação em
animais da raça Holandês);
• maior número de serviços por concepção;
• apresentam alterações na capacidade de termorregulação.

12. Qual a melhor forma de avaliar se as minhas vacas secas estão


passando por estresse térmico no período seco? Qual o mínimo de
animais que devem ser avaliados no lote? Qual a temperatura que
considero que elas estão em estresse térmico?
A maneira mais objetiva seria aferir a temperatura retal das vacas no
período da tarde, entre 14 e 17 horas. O ideal é que toda vaca tenha tem-
peratura retal abaixo de 39,0°C. Caso contrário, você sabe que os animais
estão sofrendo de estresse por calor. O bovino, como todos os mamíferos,
utiliza de medidas de perda de calor para manter sua temperatura corpórea.
Dentre esses mecanismos, estão a radiação, condução, convecção e perda
evaporativa de calor. Toda vez que o animal é exposto a estresse por calor,
ele irá utilizar desses métodos de troca de calor para evitar aumento excessi-
vo de temperatura corporal. Invariavelmente, quando o animal está sofren-
do de estresse por calor, haverá mudança de comportamento, com menos
tempo deitado, aumento na frequência respiratória e redução na ingestão
de alimento. A presença de animais com respiração ofegante, acelerada e
salivação é indicativa de compensação respiratória para aumentar a taxa
evaporativa. Isso é um mau sinal e indica que o estresse por calor está pre-
sente. O ideal é que o maior número possível de vacas no lote tenha tem-
peratura retal abaixo de 39,0°C (caso seja vaginal, então inferior a 39,1°C)
e que nenhuma apresente os sinais de estresse por calor descritos acima.

Alta
CRIA 21
Capítulo 01: Pré-parto e maternidade

13. O resfriamento do lote de pré-parto, nas salas de espera, pode se


tornar um problema ao ter que levar os animais várias vezes até o local?
Sim. A movimentação constante dos lotes dos animais em pré-parto
pode acabar influenciando na taxa de partos auxiliados. Temos de lembrar
que a movimentação do lote completo irá fazer com que animais que es-
tejam a poucos dias ou horas de entrarem em trabalho de parto tenham
evolução do parto alterada. Outro ponto importante é que, caso o pré-parto
seja em Compost barn, esses animais já são movimentados algumas vezes
ao dia durante o momento de revolver a cama.

14. Fazer o resfriamento na linha de cocho, no lote seco e de pré-par-


to, pode ser uma alternativa para evitar a movimentação dos animais?
Isso funcionaria no Compost barn?
Sim, métodos de resfriamento evaporativo como ventilação forçada e
uso de aspersores são altamente efetivos em reduzir a temperatura corpó-
rea e os efeitos do estresse por calor. Ventiladores e aspersores na linha de
alimentação podem e devem ser utilizados, tanto em sistemas de confina-
mento tipo Freestall, assim como em Compost barn.

15. Mais ou menos 60 dias antes da data prevista do parto, as no-


vilhas também deveriam ser resfriadas, caso estejam sujeitas a um
possível estresse térmico?
Sim, as novilhas gestantes também devem ser resfriadas caso estejam
submetidas ao estresse térmico.

16. Nulíparas e multíparas podem ficar juntas no pré-parto? Qual o


impacto de não separar?
O ideal é que esses dois grupos de animais sejam alojados separada-
mente por várias razões, como necessidades nutricionais, comportamento
e competição entre eles. No entanto, quando isso não é possível de ser
feito, o alojamento em conjunto pode ser feito desde que o ambiente não
propicie competição entre multíparas e nulíparas. Para tal, espaço para
descanso, acesso à linha de alimentação e acesso aos bebedouros devem
ser de tal maneira que a taxa de lotação do grupo seja sempre aquém do
que a máxima recomendada. Por exemplo, quando novilhas e vacas são
alojadas juntas, é recomendado que o lote pré-parto tenha, no máximo, 85
a 90% de sua capacidade de lotação.

22
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

17. Qual o espaço de cocho ideal por animal no pré-parto?


Competição, a ponto de afetar o comportamento alimentar, na li-
nha de alimentação em vacas em lactação é observada toda vez que o
acesso à linha de cocho é inferior a 60 cm lineares de acesso por vaca.
No caso de vacas em pré-parto, é sempre recomendado trabalhar com
mais acesso na linha de alimentação que o mínimo recomendado para
vacas em lactação. Nesse caso, seria recomendado entre 70 e 80 cm de
acesso por animal.

18. A utilização de sais acidogênicos no pré-parto de vacas confina-


das é essencial?
Dietas acidogênicas durante o pré-parto não são essenciais, porém são
benéficas para vacas que irão iniciar a 2ª ou mais lactações. Essas dietas,
desde que utilizadas corretamente, reduzem o risco de hipocalcemia clínica
e subclínica, a incidência de retenção de placenta e metrite e aumentam a
produção de leite de vacas multíparas.

19. A utilização de sais acidogênicos no pré-parto de nulíparas confi-


nadas é essencial?
Dietas acidogênicas durante o pré-parto não são essenciais e tampouco
indicadas para nulíparas. Até que novos dados de pesquisas científicas pro-
vem o contrário, o que sabemos hoje é que dietas acidogênicas fornecidas
no pré-parto para nulíparas não trazem benefício no pós-parto.

20. A utilização de sais acidogênicos no pré-parto, em que nulíparas


e multíparas ficam juntas, pode trazer algum malefício para as nulí-
paras?
Quando utilizadas de forma correta, as dietas acidogênicas não devem
causar malefício às nulíparas. Isso desde que o valor de diferença cátio-a-
niônica da dieta não seja muito baixo (não seja inferior a -100 mEq/kg) e
que o pH urinário não seja inferior a 5,8, caso contrário, é sim, possível,
ter efeitos deletérios às nulíparas. Acidose exacerbada reduz a ingestão
de matéria seca e reduz a resposta dos tecidos a certos hormônios como
a insulina. Esses efeitos favorecem o catabolismo tecidual e aumento da
lipólise.

Alta
CRIA 23
Capítulo 01: Pré-parto e maternidade

21. Quais pontos importantes a serem observados em um bom local


para pré-parto?
Um bom local para pré-parto deve ser de fácil localização, calmo e iso-
lado. Além disso, deve ser seco, limpo, sombreado e muito bem drenado.
Deve ainda apresentar boa área de circulação para os animais, com 19
m2 por animal. A disponibilidade e acessibilidade de cochos é algo muito
importante.

22. Quais as dimensões de uma baia maternidade individual?


As baias de maternidade devem ter entre 16 e 19 m2.

23. As baias de maternidade devem ter todas as laterais abertas ou


fechadas?
Os bovinos possuem o comportamento de se isolar totalmente dos ou-
tros animais no momento do parto. Sendo assim, o ideal é fazer baias fe-
chadas, em todas as laterais, com altura em torno de 1,8 m.

24. Quando o animal deve ser levado para a baia maternidade para
parir?
Os animais só devem ser levados para a baia maternidade quando estive-
rem no estágio dois do parto. Nesse estágio, o feto já se encontra insinuado
no canal do parto e, usualmente, as mãos do bezerro já estão sendo vistas
para fora da vulva no animal.

25. Como deve ser o acesso à baia maternidade? O acesso voluntário


é uma boa opção para fazendas que não tem acompanhamento em
tempo integral?
O acesso deve ocorrer por condução de colaborador treinado e calmo.
Nesse momento, qualquer tipo de estresse pode ser prejudicial para o par-
to. Além disso, a distância do pré-parto até a baia de parição deve ser muito
curta, para evitar que esse animal ande por longos caminhos. O acesso
voluntário é adotado em alguns sistemas, mas corremos o risco de muitos
partos ocorrerem no lote de pré-parto, dificultando assim o controle de
biosseguridade da recém-nascida.

24
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

26. Em propriedades que não possuem vigilante noturno para parto,


qual deve ser o manejo da baia de parição? Coloca-se o animal ante-
cipadamente na baia ou não?
Quando a fazenda não possui um acompanhamento noturno do lote
de pré-parto, uma opção é colocar o animal que se encontra com algumas
características visuais de proximidade do início do trabalho de parto dentro
da baia maternidade. Porém, essa baia tem que ter cocho de água e alimen-
tação disponível. Caso o animal já esteja na fase 1, com muita contração,
espere iniciar a fase dois, antes de colocar na baia.

27. Qual o impacto para o bezerro nascer dentro do Compost barn?


Ainda não temos trabalhos científicos que comprovam o impacto positi-
vo ou negativo desse ambiente sobre a saúde dos bezerros. Porém, visual-
mente, é algo preocupante, pois é um ambiente contaminado, com muita
ventilação e com presença de muitos animais do lote. Ou seja, é um local
com grandes riscos sanitários para o recém-nascido. Além disso, existem
relatos de recém-nascidos que nascem e acabam morrendo sufocados por
asfixia na cama.

28. Qual o tempo de um parto normal?


Um parto normal demora entre 60 e 70 minutos após o aparecimento
do saco amniótico ou dos membros do bezerro.

29. Quando e como devo intervir no parto?


O auxílio deve ocorrer após 90 minutos do aparecimento do saco am-
niótico ou dos membros do bezerro. Porém, em casos que o bezerro
não esteja na posição normal (duas mãos e cabeça para frente no canal
vaginal), o auxílio pode ocorrer antes. A intervenção deve ocorrer por co-
laboradores treinados, usando sempre luva e lubrificante. Todo o material
a ser utilizado deve estar limpo e desinfectado. A recomendação é que,
quando for tracionar um animal, que seja utilizado, no máximo, a força de
duas pessoas adultas. Em casos de partos mais complicados, um médico-
-veterinário deve ser chamado imediatamente.

Alta
CRIA 25
Capítulo 01: Pré-parto e maternidade

30. Quais cuidados devo ter imediatamente após o nascimento de


bezerros que vieram de partos complicados?
Estimule imediatamente a respiração assim que o tórax do animal estiver
livre da vaca. Esfregue o bezerro com uma toalha, limpe a boca e o nariz,
retirando o resto de líquido placentário. Coloque o bezerro deitado em po-
sição esternal. Para estimular a respiração, coloque os dedos no nariz e nos
ouvidos. Água gelada sobre as orelhas também pode ser utilizada. Nunca
coloque o animal pendurado de cabeça para baixo.

31. Quais os valores encontrados para partos auxiliados, no Brasil, de


acordo com composição racial?
Nos dados nacionais levantados pelo Alta CRIA em 2020, temos os
seguintes valores de referência para nascimentos de fêmeas:

Tipo de nascimento
Composição
racial Novilhas Multíparas N
Normal Auxiliado Normal Auxiliado Nulíparas Multíparas
Holandês 90% 10% 92% 8% 7.690 7.204
7/8
Holandês-Gir 98% 2% 97% 3% 346 556

3/4
97% 3% 98% 2% 345 725
Holandês-Gir

32. Quais os parâmetros normais de uma recém-nascida?


• 3 minutos: levantar a cabeça;
• 25 minutos: ficar em decúbito esternal;
• 20 minutos: tentar ficar de pé;
• 60 minutos: em pé;
• temperatura: 38,3 a 38,9°C;
• frequência cardíaca: 90-160 batimentos por minuto;
• frequência respiratória: 50-75 movimentos por minuto.

26
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

33. A aplicação de meloxicam em bezerros de partos complicados é


indicada? Se sim, qual a dose?
A administração de meloxicam em bezerros oriundos de partos difíceis
pode ser uma alternativa para aumentar o vigor, o reflexo de sucção, a
ingestão de leite e melhorar a saúde durante a fase de aleitamento. A dose
de meloxicam recomendada é 0,5 mg/kg (1 ml do produto a 2% para um
bezerro de 40 kg).

34. Em casos de partos auxiliados ou prematuros, bezerros que apre-


sentam dificuldade respiratória, a aplicação de corticoide pode ajudar?
Apesar de o principal efeito dos corticoides sobre a maturação pulmo-
nar e, consequentemente, auxílio na produção de substâncias surfactantes
serem mais evidentes em bezerros oriundos de vacas cujos partos foram
induzidos utilizando essas drogas, é recomendado o uso de corticoides (0,05
mg/kg de dexametasona, intramuscular ou intravenosa) em todo bezerro
recém-nascido prematuro com dificuldade respiratória. No entanto, o efeito
ocorre cerca de 24 horas após a sua aplicação, de forma que seu efeito será
benéfico caso o bezerro sobreviva.

35. Como agir em situações nas quais os bezerros nascem prematuros


e/ou apresentam febre nos primeiros dias de idade?
Atente-se para a ocorrência de sepse. Bezerros prematuros, usualmen-
te, apresentam menor capacidade de absorção do colostro e, consequen-
temente, maior falha de transferência de imunidade passiva e, portanto,
infecções generalizadas podem levar a esse quadro. Em adição à febre,
você, possivelmente, vai observar mucosas congestas, apatia/depressão,
fraqueza, falta de apetite. Nesses casos, a hidratação intravenosa, associada
ao uso de antimicrobianos, como Ceftiofur (5 mg/kg) por, no mínimo, sete
dias, além do uso de anti-inflamatórios não esteroidais como o Flunixin me-
glumine (1 a 2 mg/kg) ou Meloxicam (0,5 mg/kg) por até três dias.

36. Como definir os natimortos e quais os percentuais considerados


dentro do normal?
Natimortos compreendem as mortes que ocorrem com mais de 260 dias
de gestação e até 48 horas após o nascimento. Alguns autores consideram
até 24 horas após o nascimento. Os percentuais americanos mostram taxas
de 5 a 6 % em filhos de vacas e de 10 a 12% em filhos de novilhas.

Alta
CRIA 27
Capítulo 01: Pré-parto e maternidade

37. O que pode aumentar a taxa de natimortos?


Alguns fatores que podem aumentar a taxa de natimorto são:
• dificuldade de parto;
• doenças: neosporose, leptospirose, brucelose etc.;
• nulíparas parindo com menos de 24 meses;
• gestação gemelar;
• duração anormal de gestação;
• genética;
• nutrição mineral desbalanceada (iodo, selênio, zinco e cobre).

38. Quanto tempo o bezerro deve ficar com a mãe na maternidade


após o nascimento?
O bezerro tem que ser retirado da maternidade o mais rápido possível,
de preferência antes de ficar de pé, ou seja, no máximo, 20 a 30 minutos
após o nascimento.

39. Após o nascimento, o ideal é deixar a bezerro com a mãe para ele
ser seco? Se não, quais alternativas eu tenho?
Vai depender do manejo de cada fazenda. Se a fazenda não possui con-
dições de realizar esse manejo de forma artificial, é melhor deixar o mesmo
com a mãe. As alternativas existentes são:
• colocar o bezerro em uma “caixinha de carinho” na frente da mãe na
hora da ordenha do colostro ou fora da maternidade;
• usar pó secante;
• usar toalhas limpas e secas;
• usar secadores industriais.

40. Quais fatores devem ser considerados e trabalhados para diminuir


partos gemelares?
Partos gemelares ocorrem em decorrência de dupla ovulação e, conse-
quentemente, prenhez gemelar. Fatores de risco para dupla ovulação in-
cluem:
• estresse por calor;
• inseminação logo após a 1ª ovulação pós-parto;
• protocolos de sincronização de cio ou ovulação que resultam em baixa
concentração do hormônio progesterona durante o crescimento folicular;
• alta produção de leite;

28
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

• componente genético, animais com capacidade de selecionar mais de


1 folículo dominante para ovulação.
De maneira geral, bovinos selecionam um único folículo para ovulação.
No entanto, quando o processo de seleção folicular é alterado devido à
capacidade de dominância do folículo, como no caso de danos às células fo-
liculares causados por hipertermia, ou então quando o crescimento folicular
ocorre sob baixa concentração de progesterona no sangue, a vaca acaba
selecionando mais de um folículo dominante. Nesse caso, ocorrerão múlti-
plas ovulações. Além desses fatores, vacas com alta produção de leite apre-
sentam menor concentração de progesterona no sangue, o que favorece a
ocorrência de ovulações duplas. Por último, múltipla ovulação tem um com-
ponente genético e, provavelmente, há animais que apresentarão múltiplas
ovulações por portarem genes que favorecem sua ocorrência. Portanto,
para reduzir o risco de partos gemelares, é importante combater o estresse
por calor, evitar inseminar vacas muito cedo no período pós-parto logo
após períodos anovulatórios e evitar o uso de protocolos de sincronização
de cio ou ovulação que resultam em baixa concentração de progesterona
durante a seleção e desenvolvimento do folículo ovulatório.

41. Em partos gemelares, quando considero que a fêmea é infértil?


Quando ela vem de um parto gemelar, com um macho, ela tem 80 a
95% de chance de ser freemartin. Acredita-se que também pode ocor-
rer freemartinismo, em baixíssima frequência, quando nasce de um parto
simples, de uma gestação que iniciou gemelar, com a morte do macho
no início da gestação. As freemartin apresentam masculinização do trato
reprodutivo feminino em diferentes graus, o que interfere na fertilidade.
Considerá-la infértil vai depender dos achados clínicos. A confirmação de
que é freemartin pode ser feita pela avaliação do comprimento vaginal. Em
bezerras normais, com 1 mês de idade, a vagina mede de 13 a 15 cm, nas
freemartin, cinco a oito cm de comprimento. Na fêmea adulta normal de
30 cm e na freemartin adulta, oito a 10 cm. Na palpação do trato reprodu-
tivo, é observado trato quase normal a quase inteiramente masculino, com
estruturas semelhantes a testículos no lugar de ovários, em alguns casos
com ausência de cérvix. O aumento da distância ânus-vulva, clitóris alarga-
do e presença de pelos longos e grosseiros na vulva, semelhantes aos vistos
em torno do prepúcio também podem ser indicativos de freemartinismo,
mesmo que fracos.

Alta
CRIA 29
Capítulo 01: Pré-parto e maternidade

42. Como aquecer os recém-nascidos em dias frios?


O ideal é colocá-los em local com boa cama, com, no mínimo, 20 cm,
e disponibilizar aquecimento artificial. Usar lâmpadas de calor que emitem
energia radiante do espectro de luz visível e radiação infravermelha. Não
usar lâmpada por iluminação fluorescente ou diodos emissores de luz do
tipo LED. Monte lâmpadas de calor de forma que a lente fique cerca de
1 metro da parte superior do bezerro que está deitado. Embora distâncias
mais próximas sejam mais eficazes no aquecimento, distâncias de 30 cm
ou menos produzem temperaturas que podem queimar a pele ou incendiar
a cama. Distâncias mais próximas também não protegem a lâmpada e o
contato com o bezerro em pé. Já as distâncias do bezerro da lâmpada, em
1,2 m, fazem pouco para aquecer o bezerro, porque a energia fornecida
pela lâmpada torna-se mais espalhada. Embora a lâmpada de 250 watts
seja mais quente, lâmpadas de 125 watts em bezerros normais e saudáveis
trazem bons resultados. Uma vez que a radiação é convertida em calor pela
pele e pelo do bezerro, não há vantagem em usar lâmpadas infravermelhas
vermelhas que tendem a produzir calor perto da lâmpada. Lâmpadas com
lentes coloridas, lâmpadas com lentes grossas e lâmpadas com menor po-
tência são menos eficazes. Uma outra opção é utilizar jaquetas de aqueci-
mento, específicas para bezerros.

30
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

Capítulo 02

COLOSTRAGEM

Alta
CRIA 31
Capítulo 02: Colostragem

Carla Maris Machado Bittar - Universidade de São Paulo


Sandra Gesteira Coelho - Universidade Federal de Minas Gerais
Rafael Alves de Azevedo - Alta

32
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

1. Quando que o colostro começa a ser produzido pelas vacas?


O colostro começa a ser produzido em torno de quatro semanas anterio-
res ao parto, com maior passagem de imunoglobulinas do tipo G (IgG) para
a glândula mamária nas três semanas pré-parto.

2. Quais pontos avaliar no lote pré-parto, quando os animais estão


produzindo pouca quantidade de colostro?
Infelizmente, não há muitos dados disponíveis para se entender exa-
tamente por que as fazendas passam por períodos de baixa produção de
colostro. Porém, devemos avaliar:
• dieta: certificar que estamos atendendo todas as exigências nutricionais
dessa categoria com boas fontes de nutrientes (energia, proteína, minerais,
vitaminas e água);
• espaço de cocho: garantir que todos os animais consigam se alimentar
(80 a 90 cm por animal);
• conforto: camas confortáveis, secas e limpas, sombra, aspersores e
ventiladores;
• sanidade dos animais: livre de doenças e intercorrências como proble-
mas de casco, mastite etc.;
• escore de condição corporal: entre 3,0 e 3,5;
• duração do período seco: não deve ser menor do que 30 dias e nem
maior do que 60 dias;
• tempo entre parto e a primeira ordenha: deve ser inferior a duas horas.

3. Qual o melhor tipo de colostro a ser fornecido aos bezerros recém-


-nascidos?
• Colostro obtido com higiene, ou seja, baixa contagem bacteriana total;
• qualidade imunológica de, no mínimo, 25% de Brix;
• livre de qualquer tipo de doença que possa ser transmitida da mãe para
a filha;
• livre de sangue ou grumos característicos de mastite.

Alta
CRIA 33
Capítulo 02: Colostragem

4. Qual a quantidade (litros) ideal de colostro deve ser fornecida


para os bezerros?
• Primeiro fornecimento: no mínimo, 10% do peso corporal do be-
zerro nas primeiras duas horas de vida, obrigatoriamente. Exemplo: se o
bezerro nascer com 40 kg, ele deverá receber, no mínimo, 4 I de colostro
nas primeiras duas horas de vida;
• segundo fornecimento: 5% do peso corporal nas primeiras oito horas
de vida, sem precisar forçar a administração.

5. Qual o limite de contagem bacteriana total no colostro fornecido


para os bezerros?
Uma medida secundária, mas não menos importante, da qualidade do
colostro, é a carga bacteriana, medida em unidades formadoras de colô-
nia (UFC) por ml. Adotando os padrões de contaminação bacteriana do
colostro, ele deve conter menos do que 50.000 UFC/ml para contagem
padrão em placa e menos do que 5.000 UFC/ml para contagem total de
coliformes fecais no momento da colostragem.

6. Quais as principais doenças que a vaca pode transmitir para o


recém-nascido, via colostro?
O colostro pode transmitir:
• Mycoplasma spp.;
• Mycobacterium avium subsp. Paratuberculosi;
• Escherichia coli;
• Salmonella spp.;
• Listeria monocytogenes;
• Campylobacter spp.;
• Vírus da Leucose.

7. Além da qualidade, da quantidade e do tempo de fornecimento do


colostro após o nascimento, o que mais pode influenciar a colostra-
gem dos bezerros?
A eficiência da colostragem é determinada basicamente pela quanti-
dade, qualidade imunológica e sanitária do colostro, além do tempo após
o nascimento para o seu fornecimento. Porém, trabalhos também de-

34
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

monstram que existem fatores dos recém-nascidos que podem influenciar


essa eficiência, como o tipo de parto que gerou o bezerro, sendo que
partos complicados reduzem a eficiência de absorção de anticorpos pelo
animal. Outros fatores que podem influenciar de forma negativa são, por
exemplo, o estresse térmico da vaca no período de pré-parto, estresse do
bezerro, pasteurização incorreta do colostro e a temperatura incorreta de
descongelamento.

8. Além de transferência de imunidade passiva, quais outras funções


fisiológicas e outros benefícios o colostro pode fornecer para os re-
cém-nascidos?
O colostro é a primeira fonte de nutrientes que os bezerros recebem
após o nascimento e possui vários componentes importantes para eles,
além da transferência de imunidade, como, por exemplo:
• proteínas: além de nutrir, serão importantes para renovação do epi-
télio intestinal;
• gordura: irá fornecer energia para as funções vitais e para o aqueci-
mento do animal;
• oligossacarídeos: podem fornecer proteção contra agentes patogê-
nicos, atuando como inibidores competitivos nas superfícies epiteliais do
intestino;
• minerais e vitaminas: importantes para estocagem e uso pelo corpo;
• insulina, fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1), fatores
de crescimento, citocinas e fatores antimicrobianos inespecíficos: neces-
sários para renovação celular e desenvolvimento de vários órgãos e para
retenção de energia no corpo. O IGF-1 pode ser regulador chave no
desenvolvimento do trato gastrointestinal de neonatos, incluindo estimu-
lação ao crescimento da mucosa, enzimas da borda em escova e síntese
de DNA intestinal, aumento do tamanho das vilosidades intestinais e au-
mento na captação de glicose. O inibidor da tripsina é encontrado no co-
lostro em concentrações quase 100 vezes maior que no leite e serve para
proteger as imunoglobulinas e outras proteínas da degradação proteolítica
no intestino;
• componentes bioativos como a lactoferrina, lisozima e a lactoperoxi-
dase: apresentam atividade antimicrobiana.

Alta
CRIA 35
Capítulo 02: Colostragem

9. A falta de volume de colostro ou a falta de qualidade pode ser ame-


nizada com algum manejo ou protocolo?
Não existe manejo que consegue substituir o papel do colostro para os
recém-nascidos. A fazenda tem que estar preparada para esses casos, com
armazenamento de colostro excedente de alta qualidade (banco de colostro)
ou substituto de colostro (colostro em pó) para serem usados estrategica-
mente, quando necessário.

10. Existe diferença entre raças na habilidade de absorção de imuno-


globulinas e de produção de colostro?
Não, desde que estejamos falando de animais com o mesmo vigor e pro-
venientes de partos não auxiliados. A fisiologia dos animais de diferentes ra-
ças leiteiras é muito parecida e o que deve afetar a absorção de forma mais
efetiva é o tempo para o fornecimento. Assim, animais das diversas raças
leiteiras devem ser colostrados da mesma forma, com colostro em quanti-
dade e qualidade imunológica e sanitária adequadas, o mais rápido possível.

11. Qualidade do colostro de novilhas, em termos gerais, é inferior ao


de vacas. Mito ou verdade?
Verdade. De forma geral, novilhas apresentam colostro com menor
quantidade e variedade de anticorpos, uma vez que foram expostas a menor
quantidade de patógenos durante a sua vida. Alguns autores citam ainda
que o mecanismo de transferência de imunoglobulinas circulantes para o
colostro pode ser menos desenvolvido em animais mais jovens ou de pri-
meira cria. No entanto, quando se tem um programa adequado de vacina-
ção no pré-parto, com aplicação estratégica de vacinas contra os principais
patógenos que acometem os bezerros, essa diferença diminui e o colostro
de vacas e novilhas acaba sendo bem semelhante. Antes de tirar qualquer
conclusão, avalie a qualidade do colostro através de refratômetro de Brix.

12. Qual o papel da imunidade celular nos recém-nascidos?


O colostro bovino contém 1 x 106 células/ml de leucócitos maternos ati-
vos, incluindo macrófagos, linfócitos T e B e neutrófilos. Pelo menos parte
dos leucócitos colostrais é absorvida intacta pelo epitélio intestinal. Após a
entrada na circulação neonatal, os leucócitos maternos vão para os tecidos
linfoides e não linfoides, desaparecendo da circulação entre 24 e 36 horas
após a ingestão do colostro. Pesquisas sugerem que os leucócitos aumen-

36
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

tam a resposta linfocitária a agentes mitogênicos inespecíficos, aumentam a


fagocitose e a capacidade de matar bactérias e estimulam respostas imunes
humorais (formação de anticorpos).

13. No refratômetro do tipo Brix, qual o valor ideal para certificarmos


boa colostragem?
Para avaliação com refratômetro do tipo Brix, a tabela de avaliação do
colostro é:

Brix (%) Qualidade


< 18% Baixa qualidade
18-22% Média qualidade
22-24% Boa qualidade
≥ 25% Excelente qualidade

14. Colostro de vaca Jersey possui ponto de corte Brix diferente do


de vacas Holandês?
Até 2019, os trabalhos indicavam que para a raça Jersey, colostro com
valores de Brix maior ou igual a 18% era considerado de boa qualidade.
No entanto, atualmente, independente da raça, devemos considerar como
colostro de excelente qualidade aqueles com valores maiores ou iguais a
25% de Brix.

15. Em caso de partos noturnos e sem observação, o fornecimento de


colostro fresco com maior percentual de Brix, enriquecido com colos-
tro em pó, e na quantidade de 10% do peso corporal ao nascimento
para animais com 10 horas de vida seria suficiente?
O ideal seria esse animal receber o colostro o mais rápido possível após
o nascimento, pois, além do fornecimento de anticorpos para proteção do
recém-nascido, o colostro irá fornecer vários outros nutrientes, como a gor-
dura, que será importante para a regulação térmica e nutrição do animal.
Um grande problema dos partos noturnos é a permanência do bezerro com
a mãe, uma vez que as maternidades são muito contaminadas. Outra fonte
de contaminação é o bezerro tentar mamar na própria mãe. O mais reco-
mendado é retirar o recém-nascido da maternidade o mais rápido possível

Alta
CRIA 37
Capítulo 02: Colostragem

e fornecer colostro com excelente qualidade (Brix ≥ 25%), tentando, assim,


compensar o tempo após o nascimento com o fornecimento de maior dose
de anticorpos, garantindo a transferência de imunidade. Por questão de
logística, para partos que ocorrem à noite, uma opção é utilizar substitutos
de colostro (colostro em pó) ou banco de colostro para a primeira mamada.
E, no dia seguinte, ordenhar a vaca e complementar o restante de colostro
dentro das seis às 12 horas de vida.

16. O enriquecimento do colostro fresco com o colostro em pó, para


maiores valores de Brix, permite a redução na quantidade de volume
recomendada no fornecimento (10% do peso corporal ao nascimento)?
O mínimo que um recém-nascido necessita de IgG são 100 g e reco-
mendações mais atuais já indicam de 200 a 300 g de IgG, o mais rápido
possível, após o nascimento. Considerando 1 l de colostro com Brix de
22%, temos 50 g por l de IgG, de forma que o fornecimento de 4 l desse
colostro fornece 200 g de IgG para o recém-nascido. Quando concentra-
mos o colostro, adicionando-se colostro em pó, conseguimos fornecer, em
1 l de colostro, maior quantidade de IgG, o que nos permite trabalhar com
volume menor, quando necessário. Este é o caso, por exemplo, de animais
com baixo vigor e menor reflexo de mamada, normalmente, aqueles prove-
nientes de partos auxiliados. Nesses casos, fica mais fácil fornecer a dose de
imunoglobulinas adequada em menor volume, seja por mamada voluntária
ou pela utilização de sonda. É importante lembrar que, quanto mais colostro
o recém-nascido receber, melhor será para ele.

17. Existe vantagem de padronizar o colostro a 30% de Brix, acres-


centando-se colostro em pó?
O enriquecimento do colostro fresco com a utilização de colostro em
pó é uma opção para padronização da qualidade imunológica e nutricional
na colostragem dos recém-nascidos. Para aumentar 1 ponto percentual no
valor percentual de Brix do colostro, deve-se adicionar 15 gramas de colos-
tro em pó (SCCL®) para cada 1 litro de colostro fresco. A escolha do valor
Brix adotado pela fazenda irá depender dos desafios sanitários enfrentados
pelos recém-nascidos, com valor mínimo recomendado de 25% de Brix.
Porém, quanto maior o teor Brix do colostro, mais anticorpos e nutrientes
serão fornecidos.

38
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

18. Realizo manejo de enriquecimento do colostro fresco, com adição


de colostro em pó, para 24% Brix. Para bezerros nascidos à noite ou
de madrugada e que só serão colostrados no outro dia de manhã, o
aumento da correção para 30% Brix cobre, em parte, a menor absor-
ção de IgG pelos bezerros?
O fornecimento de colostro com maior quantidade de anticorpos será
uma tentativa de compensar as falhas de colostragem devido aos partos
noturnos. No entanto, não há ainda pesquisas que comprovam que irá re-
sultar na absorção de mais anticorpos, diminuindo as chances de falhas na
transferência de imunidade passiva. Porém, o fornecimento desse colostro
com mais anticorpos irá proteger melhor o trato digestivo dos animais.

19. O fornecimento de apenas 1 pacote de colostro em pó garante


boa colostragem quando fornecido em até duas horas de vida?
O fornecimento de 1 pacote de colostro em pó (SCCL®), com 100 g de
imunoglobulinas, irá fornecer o mínimo de que um bezerro recém-nascido
necessita para correta colostragem. Quando o produto é utilizado, seguindo
as recomendações de rótulo e é fornecido o mais rápido possível, ele irá ga-
rantir adequada transferência de imunidade passiva. No entanto, as novas
recomendações de colostragem apontam para maior consumo de imuno-
globulinas como estratégia para diminuir a taxa de morbidade do bezerrei-
ro, de forma que 1,5 a dois pacotes de colostro em pó seriam necessários.

20. Qual a diferença entre os substitutos e os suplementos de colostro?


Suplementos e substitutos de colostro são produtos com composição
diferente e, por isso, têm recomendação de uso também diferente.
• Os suplementos têm, em sua composição, menos que 100 g de imuno-
globulinas e não trazem consigo todos os nutrientes presentes no colostro
materno. Assim, sua recomendação de uso é de fornecimento em conjunto
com colostro materno de média ou baixa qualidade, de forma a garantir a
dose mínima de IgG consumido pelo recém-nascido. Dessa forma, o suple-
mento de colostro funciona somente corrigindo a concentração de IgG no
colostro materno, o qual deve estar disponível na propriedade;
• os substitutos, além de fornecer, no mínimo, 100 g de IgG por dose,
têm, em sua composição, todos os nutrientes e fatores de crescimento pre-
sentes no colostro materno, possibilitando, assim, o seu fornecimento ex-
clusivo ou no auxílio para enriquecimento do colostro de baixa qualidade.

Alta
CRIA 39
Capítulo 02: Colostragem

21. Qual é a temperatura ideal para descongelamento do colostro?


O colostro deve ser descongelado lentamente à temperatura de, no má-
ximo, 55°C. Temperaturas superiores podem desnaturar proteínas, como
as imunoglobulinas, fazendo com que percam sua função biológica.

22. Qual é a temperatura ideal, após o descongelamento do colostro,


de fornecimento para os bezerros?
O ideal é fornecer o colostro na temperatura próxima à temperatura
corporal do animal, por volta de 38 a 39°C.

23. Existe tempo de duração para o colostro permanecer congelado?


Desde que o freezer não sofra ciclos de congelamento e descongelamen-
to, o colostro pode ficar armazenado por até 1 ano.

24. Qual a melhor estratégia para trabalhar com colostro refrigerado?


A melhor estratégia é avaliar a real necessidade de fornecimento nas pró-
ximas horas para que se tome a decisão entre refrigerar em vez de congelar.
Caso seja uma época com vários nascimentos, refrigerar pode ser uma boa
opção, pois logo esse será fornecido ao recém-nascido. A vantagem é que
pode ser preparado mais rapidamente para o fornecimento, já que não está
congelado, o que beneficia o processo, pois o bezerro vai receber o colostro
mais rapidamente, quando a sua eficiência de absorção é maior.

25. Quanto tempo um colostro fresco pode ser guardado na geladei-


ra, de forma refrigerada, antes de ser fornecido aos bezerros?
A conservação de colostro excedente de boa qualidade pode ser feita em
geladeira por até, aproximadamente, dois dias, sem que haja redução na
sua qualidade. No entanto, essa conservação depende fortemente da qua-
lidade microbiológica inicial do colostro, a qual é determinada pela saúde
da vaca, limpeza de equipamentos de ordenha, limpeza de baldes ou con-
têineres para armazenamento do colostro e limpeza da geladeira, além do
tempo entre sua obtenção e a refrigeração.

40
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

26. Colostro que sobra do primeiro fornecimento posso colocar na


geladeira para segunda mamada, que será realizada após umas três
horas?
Caso o animal não tenha consumido todo o volume necessário para
adequada transferência de imunidade passiva (10% do peso corporal ao
nascimento) na primeira mamada, o recomendando é que um colabora-
dor, devidamente treinado, faça o fornecimento forçado através da sonda.

27. Por que o processo de pasteurização do colostro não gera perda


dos anticorpos? Como ocorre esse processo?
As imunoglobulinas só são desnaturadas se a temperatura de pasteu-
rização exceder 61°C, o que não ocorre se seguirmos rigorosamente a
temperatura recomendada para pasteurização que é de 60°C por 30 ou
60 minutos. Dessa forma, nessa temperatura, muitas bactérias e vírus são
inativados, mas as imunoglobulinas não.

28. É indicado pasteurizar o colostro da fazenda? Se sim, qual a


temperatura e o tempo mais indicados?
Sim, se a fazenda está dentro de um plano para eliminar, por exemplo,
Mycoplasma sp. do rebanho. A pasteurização deve ocorrer a 60°C por
30 ou 60 minutos.

29. Qual a melhor maneira de administrar o colostro para os recém-


-nascidos? Sonda ou mamadeira?
O fornecimento através de mamadeira é preferível, pois faz com que
o colostro alcance o intestino, local onde ocorrerá a absorção de anticor-
pos, mais rapidamente. Além disso, o ato de mamar auxilia no início de
outros processos fisiológicos do recém-nascido. No entanto, nem todos os
bezerros apresentam reflexo de mamada ao nascimento e, como o forne-
cimento de colostro deve ser feito o mais rápido possível, o uso da sonda
acaba sendo necessário.

Alta
CRIA 41
Capítulo 02: Colostragem

30. Como são absorvidas as imunoglobulinas e como o estresse caló-


rico sofrido pela mãe interfere nessa absorção?
As células do intestino do recém-nascido (enterócitos neonatais) permi-
tem a passagem de grandes moléculas, como as imunoglobulinas, de for-
ma intacta e não seletiva. Em seguida, as moléculas de imunoglobulinas
são transportadas pela célula e liberadas nos vasos linfáticos por exocitose,
entrando no sistema circulatório pelo duto torácico. Ainda não é possível
explicar os mecanismos que levam à interferência na absorção de imuno-
globulinas em bezerros que passaram por estresse térmico uterino. Pesqui-
sadores hipotetizam que talvez a interferência seja devido à menor capaci-
dade de absorção desses animais e/ou em decorrência de menor superfície
de contato do intestino, uma vez que os animais nascem mais leves.

31. Estamos tendo dificuldade para coletar o sangue dos bezerros


para fazermos a avaliação da eficiência de colostragem. Que lugar no
animal é mais fácil para realizarmos essa coleta?
Na veia jugular. Verifique se a dificuldade não está associada ao fato de
os animais estarem desidratados no momento da coleta. O uso de tubos
próprios para a coleta de sangue, em vez de seringas, também pode fa-
cilitar.

32. Qual a melhor ferramenta a campo para avaliar a eficiência de


colostragem dos bezerros?
A eficiência de colostragem pode ser feita de maneira bem simples e
com baixo custo através da leitura do soro do bezerro em refratômetro do
tipo Brix. O sangue deve ser coletado entre 1 e sete dias de vida do bezerro
e a leitura realizada após o sangue dessorar.

33. O refratômetro de proteína sérica é melhor do que o de Brix para


avaliar a eficiência de colostragem dos bezerros?
Os dois refratômetros estão validados para essa função e podem ser
utilizados de acordo com a conveniência da fazenda. No entanto, é impor-
tante ficar atento tanto às diferenças na calibração, quanto ao valor alvo a
ser obtido para considerar a transferência de imunidade passiva como boa
ou excelente.

42
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

34. A avaliação da eficiência da colostragem no refratômetro óptico


de tipo Brix é a mesma do refratômetro digital de tipo Brix?
Sim, os equipamentos medem, essencialmente, a mesma coisa. No en-
tanto, em muitas ocasiões, a leitura exata no refratômetro óptico é mais di-
fícil e, nesse caso, temos vantagens com a utilização do refratômetro digital,
pois o valor é exibido na tela, facilitando a leitura.

35. Quantos dias, após o nascimento, devemos coletar o sangue para


avaliarmos a colostragem dos bezerros?
O sangue pode ser coletado entre 24 e 48 horas após o fornecimento
do colostro, e até sete dias de vida. Este é um tempo hábil para se realizar a
coleta de sangue para avaliação da eficiência de colostragem. É importante
que a fazenda coloque essa prática na rotina.

36. Quais as recomendações atuais de avaliação da eficiência de co-


lostragem?
Para avaliação da eficiência de colostragem, devemos seguir a seguinte
tabela:
Proteína sérica Brix sérico Percentual de bezerros
Categoria (g/dL) (%) em cada categoria
Excelente ≥ 6,2 ≥ 9,4 > 40%
Boa 5,8 a 6,1 8,9 a 9,3 ~ 30%
Aceitável 5,1 a 5,7 8,1 a 8,8 ~ 20%
Ruim < 5,1 < 8,1 < 10%
Deverão ser avaliados, no mínimo, 20% dos animais.

37. Quando utilizamos somente colostro em pó, observamos proteína


sérica com valores menores. Por que isso ocorre?
Isso ocorre devido a diferenças na composição do colostro em pó e do
colostro fresco. A concentração de proteína sérica depende da quantidade
de colostro ingerida e ingestão das outras proteínas presentes no colos-
tro, além das imunoglobulinas. Além disso, refratômetros de avaliação de
proteína sérica ou de Brix possuem pequena correlação para avaliação da
eficiência de colostragem de bezerros que receberam somente substituto de
colostro, não sendo ferramentas indicadas para avaliação nesses animais.
Alta
CRIA 43
Capítulo 02: Colostragem

38. Sabemos que, quando fornecemos o colostro em pó para os be-


zerros, o resultado no refratômetro fica comprometido. Existe outra
forma de averiguarmos o sucesso da colostragem com o uso do co-
lostro em pó?
Atualmente, sabemos que o uso do refratômetro de proteína total sérica
não é acurado para determinar a falha ou o sucesso na transferência de
imunidade passiva quando usamos colostro em pó. Ainda não temos cer-
teza se o refratômetro Brix tem melhor acurácia. Até o momento, o único
teste com acurácia é a imunodifusão radial; no entanto, esse teste é realiza-
do mais, comumente, em laboratório, principalmente, pelo custo dos kits,
o que dificulta a avaliação a campo.

39. Se, após o exame de sangue, o diagnóstico foi de falha na trans-


ferência de imunidade passiva, o que pode ser feito para diminuir os
efeitos de má colostragem?
Infelizmente, esse diagnóstico é feito após o período de absorção de
anticorpos pelo recém-nascido, de forma que não é possível corrigir a
falha para esse animal, a não ser melhorando sua alimentação e redu-
zindo toda e qualquer fonte de estresse ambiental, sanitário e alimentar.
Se a avaliação for realizada com 24 horas após o nascimento, agir da
seguinte forma:
• fornecer leite de transição;
• realizar, da melhor forma possível, a cura do umbigo;
• manter o animal em ambiente limpo e seco, com cama de palha ou
feno, nos momentos de baixas temperaturas;
• alimentar o animal com, pelo menos, 6 l de leite;
• observar o animal, frequentemente, para diagnóstico e tratamento
de qualquer enfermidade o mais rápido possível.
Por outro lado, o diagnóstico de falha na transferência de imunidade
passiva auxilia na melhoria dos protocolos de colostragem. Os problemas
podem estar associados, desde o volume inadequado de fornecimento
até o descongelamento em temperaturas muito altas. Um exemplo co-
mum é uma sequência de seis dias de nascimento com todos os animais
sem falha de transferência de imunidade passiva e um dia com todos os
bezerros com baixos valores de proteína ou brix sérico, sugerindo que
o folguista possa estar com problemas na realização da colostragem e
deverá ser treinado.

44
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

Capítulo 03
CURA DE UMBIGO

Alta
CRIA 45
Capítulo 03: Cura de umbigo

José Azael Zambrano - Rehagro


Polyana Pizzi Rotta - Universidade Federal de Viçosa
Rafael Alves de Azevedo - Alta
Rodrigo Melo Meneses - Universidade Federal de Minas Gerais
Sandra Gesteira Coelho - Universidade Federal de Minas Gerais

46
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

1. Qual o melhor recipiente para realizar a cura do coto umbilical?


O mais recomendado é a utilização de aplicador dipping, sem retorno.

2. Quantas vezes se deve realizar a cura do cordão umbilical do re-


cém-nascido?
Esse manejo deve ser colocado na rotina da fazenda, devendo ser rea-
lizado pelo menos duas vezes ao dia, até o momento de secagem e queda
do cordão umbilical.

3. Qual a diluição recomendada da tintura de iodo para a correta cura


do cordão umbilical?
Mesmo que não seja encontrada no mercado, a recomendação é que
seja feita diluição da tintura de iodo a 7%. Concentrações acima dessas
podem provocar queimaduras na pele do animal e do tratador, em casos de
acidentes. De qualquer modo, recomenda-se o uso de luvas para a realiza-
ção da prática.

4. Qual a fórmula para se passar para o laboratório para ser pro-


duzido a tintura de iodo a 7%, para a cura do cordão umbilical dos
recém-nascidos?

Item Quantidade
Iodo metálico 52,5 g
Iodeto de potássio 17,5 g
Água destilada 70 ml

Quantidade suficiente para completar até


Álcool a 96%
chegar 1 l de solução total

Alta
CRIA 47
Capítulo 03: Cura de umbigo

5. Como avaliar a qualidade do iodo usado para a cura do cordão um-


bilical?
Trabalhos científicos mostram métodos de se comparar a qualidade de
produtos para cura do cordão umbilical; porém, na maioria das vezes, são
métodos utilizados em pesquisa e que não são facilmente aplicáveis em rotina
de fazenda. Como, por exemplo, temos a medição do diâmetro do cordão
umbilical, número de imersões necessárias, tempo até a cura completa do
umbigo, quantidade de imersões até secar, entre outros. Além disso, a base
para os produtos, na maioria das vezes, é o iodo, o qual, de acordo com a
RESOLUÇÃO DE DIRETORIA COLEGIADA – RDC N°107, DE 5 DE SE-
TEMBRO DE 2016 da ANVISA, encaixa-se na LISTA DE MEDICAMENTOS
DE BAIXO RISCO SUJEITOS À NOTIFICAÇÃO SIMPLIFICADA, fato que
isenta as empresas fabricantes de registrarem o produto, fazendo com que
tal produto não passe por fiscalização. Isso abre várias brechas para o surgi-
mento de soluções de baixa qualidade para a cura do cordão umbilical. Sendo
assim, a identificação de melhores alternativas fica dificultada. Vale ressaltar
que produtos mais baratos e de empresas não confiáveis, em certos casos,
devem ser evitados, visto que a eficácia dos mesmos não é comprovada.

6. Quais fatores podem inativar a eficiência da tintura de iodo enquanto


armazenada?
Apesar de não haver estudos científicos avaliando os fatores que inter-
ferem na eficiência da tintura de iodo, experiências práticas indicam que a
exposição ao sol e o contato com a matéria orgânica diminuem a qualidade
da tintura de iodo, necessitando de um tempo maior de cura e, muitas vezes,
o produto não é eficaz. Dessa forma, recomenda-se o armazenamento do
produto em local onde não haja incidência solar e uso de copo sem retorno
para que, ao entrar em contato com o cordão umbilical, a matéria orgânica
contida nele não contamine o produto como um todo.

7. Existe algum produto comprovado que possa substituir a tintura de


iodo para a cura do cordão umbilical?
Alguns trabalhos demonstram que a nisina seca, clorexidina (0,5% a 3%),
cloro e o citrato trissódico podem ser alternativas eficazes para substituição
do iodo na cura do cordão umbilical de bezerros. Porém, alguns desses pro-
dutos não se encontram no mercado brasileiro, dificultando o acesso aos pro-
dutores. Por outro lado, outros produtos estão disponíveis, mas os seus custos
acabam não sendo vantajosos quando comparamos com a tintura de iodo.

48
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

8. Quais são os indicadores de referência para avaliar se o processo


de cura do cordão umbilical está adequado?
A palpação do umbigo externo, interno e as suas estruturas internas
(veia, artérias e úraco) é uma forma de avaliação. Para isso, devemos esta-
belecer avaliação prática de escore nas fazendas, da seguinte forma:

Escore Descrição
Umbigo normal
0
(ausência de dor à palpação, sem secreção purulenta)
Umbigo inflamado
1
(presença de dor à palpação, secreção purulenta)
Umbigo muito inflamado
2
(presença de dor à palpação, secreção purulenta e miíases)
Hérnia
3
(importante descrever o tamanho)

9. Quantos dias, após o nascimento, devo fazer a avaliação do es-


core umbilical?
O ideal é realizar a avaliação do umbigo na segunda semana de vida do
bezerro como rotina, podendo ser definido um dia fixo na semana para
essa avaliação. Se o objetivo é realizar diagnóstico na fazenda (esporádi-
co), o ideal é avaliar animais com mais de duas semanas de vida até 30
dias de vida. Quanto mais velho for o animal, mais difícil será a avaliação,
pois o abdômen do animal fica mais tenso e dificulta a correta palpação.

10. Quais estruturas devem ser palpadas na avaliação do umbigo e


o que esperar de um bezerro com o cordão umbilical bem curado?
• Umbigo externo: deve estar seco, sem secreção e sem dor à palpa-
ção;
• umbigo interno, úraco e veia umbilical: ausência de dor à palpação.
Quando manipulado, não deve fluir secreção pelo orifício do umbigo ex-
terno;
• artéria umbilical: na maioria das vezes, não é palpável. Quando é
possível a palpação, é muito provável que o animal apresente alguma
alteração (inflamação e/ou infecção).

Alta
CRIA 49
Capítulo 03: Cura de umbigo

11. Quando intervir nos casos de alguma sequela de infecção umbilical?


Assim que identificar alguma alteração, seja inflamação ou infecção (se-
creção purulenta), deve ser utilizado o protocolo para tratamento, com an-
tibióticos e anti-inflamatórios específicos.

12. Qual a base de antibiótico mais indicada para o tratamento de


animais que apresentam infecção umbilical?
A penicilina é utilizada com mais frequência, juntamente com anti-infla-
matório não-esteroidal (AINES), como o Flunixin meglumine ou Meloxicam.
Recomendações de literatura são:
• Penicilina G Procaína
- Dose: 22.000 UI/kg
- Via: Intramuscular
- Frequência: Duas vezes por dia, durante cinco dias
• Ceftiofur
- Dose: 2 mg/kg
- Via: Intramuscular
- Frequência: Duas vezes por dia, durante cinco dias

13. Caso os animais de fertilização in vitro (FIV) possuam algumas


anomalias de umbigo, dificultando a cura do mesmo por completo,
faz-se necessário algum procedimento especial nessas condições?
Não seriam necessários procedimentos especiais, apenas aumentar a
frequência da cura de umbigo e garantir que o local em que o bezerro per-
manece esteja sempre seco.

14. Quais os critérios para abordagens conservativas ou cirúrgicas em


casos de hérnias umbilicais?
Para se definir qual a melhor abordagem no caso de hérnias umbilicais,
alguns pontos devem ser avaliados:
• tamanho do anel umbilical: O anel umbilical com diâmetro inferior a
cinco cm, usualmente, tende a regredir sem necessidade de intervenção
cirúrgica;
• idade do bezerro: animais até 60 dias de vida podem ter regressão do
anel umbilical, não sendo necessário abordagem cirúrgica;
• presença de infecção: bezerros que possuem infecção umbilical e hér-
nia precisam de intervenção cirúrgica para redução da hérnia;
• tipo da hérnia: hérnias que não são redutíveis estão associadas a ade-

50
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

rências e/ou infecções, fazendo-se necessária a abordagem cirúrgica. Por


exemplo, bezerro de 10 dias de vida com hérnia umbilical, cujo anel possui
três dedos (cinco cm) de diâmetro, não possui infecção umbilical e é com-
pletamente redutível. Deve-se proceder à abordagem conservadora.
É preciso lembrar que as hérnias têm caráter hereditário, sendo necessá-
rio investigar se a ocorrência não está ligada ao touro utilizado no rebanho.

15. Quais doenças podem ocorrer em consequência da infecção um-


bilical nos bezerros?
As infecções umbilicais ocorrem, essencialmente, devido a falhas na cura
do umbigo e/ou alto desafio do ambiente onde os animais permanecem e
podem predispor à ocorrência de:
• hérnias umbilicais;
• abscessos hepáticos;
• poliartrite;
• doenças respiratórias;
• endocardite;
• encefalite;
• cistite;
• nefrite;
• sepse.

16. Realizo a cura do cordão umbilical com tintura de iodo a 10%, 1


vez ao dia, por cinco dias e, mesmo assim, estamos verificando altas
taxas de onfalite. Quais providências devo tomar?
Verifique se o ambiente no qual os animais são mantidos enquanto a cura
de umbigo está sendo feita encontra-se seco; certifique-se da qualidade do
produto que está sendo utilizado e de seu armazenamento (em embalagens
escuras e na ausência de incidência solar direta); aumente a frequência de
cura para duas vezes ao dia até que o coto umbilical caia e certifique-se de
que a cura está sendo feita de forma correta (cobrindo todo o coto umbilical).

17. Todas as doenças causadas pela má cura do cordão umbilical po-


dem ser evitadas pela cura com tintura de iodo?
Não. Todas as doenças associadas à cura inadequada do umbigo podem
ter outras causas, como hereditariedade, nos casos de hérnia umbilical e ou-
tras fontes de infecção para doenças como abscessos hepáticos, poliartrite,
doenças respiratórias, endocardite, encefalite, cistite, nefrite e sepse.

Alta
CRIA 51
Capítulo 03: Cura de umbigo

18. Tem como montar protocolo de cura do cordão umbilical para


facilitar o trabalho no dia a dia e padronizar esse manejo?
Sim. O protocolo de cura do cordão umbilical deve ser colocado na roti-
na, com utilização de tintura de iodo a 7%, devendo ser realizada todos os
dias, duas vezes ao dia, até o coto umbilical do animal secar e cair.

19. Existe algum estudo correlacionando eficiência de colostragem


com problemas umbilicais?
Existe e, embora pareça contraditório, não encontraram relação entre
a eficiência na colostragem e afecções umbilicais. Em alguns estudos, o
número de animais avaliados foi pequeno, deixando dúvidas quanto à capa-
cidade de detecção dessa correlação. No entanto, outros estudos com até
500 animais também não foram capazes de detectar essa correlação. Esses
estudos se basearam em banco de dados e parece que os quadros de sepse
foram subnotificados, o que pode justificar a falha em detectar essa corre-
lação. Na prática, o que vemos no campo é que animais que têm falha na
transferência de imunidade passiva e na cura de umbigo, frequentemente,
apresentam sepse e morrem.

20. Quando devo realizar o corte do cordão umbilical do bezerro?


O corte do coto umbilical dos bezerros é indicado somente nos casos em
que o umbigo está muito grande e quase tocando o chão. Quando ocorre
isso, a indicação é realizar o corte, com tesoura “cega” e desinfetada com
álcool, deixando o tamanho de 10 cm de coto umbilical.

52
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

Capítulo 04
DIETA LÍQUIDA

Alta
CRIA 53
Capítulo 04: Dieta líquida

José Eduardo Portela Santos - University of Florida


João Henrique Cardoso Costa - University of Kentucky
Lívia Carolina M. Silva Antunes - Faculdades Associadas de Uberaba
Rafael Alves de Azevedo - Alta
Rodrigo Melo Meneses - Universidade Federal de Minas Gerais
Sandra Gesteira Coelho - Universidade Federal de Minas Gerais

54
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

1. Qual a importância de se fornecer o leite de transição para os


bezerros?
O leite de transição tem maior concentração de proteínas, gordura,
minerais, vitaminas, hormônios, oligossacarídeos e fatores de crescimento
que o leite, sendo importante para o estabelecimento da microbiota intes-
tinal, desenvolvimento intestinal, proteção contra patógenos entéricos e
a transição gradual para digestão de menores quantidades de proteína e
gordura e maior quantidade de lactose.

2. Qual a quantidade e por quanto tempo devo fornecer o leite de


transição para os bezerros?
O ideal é que seja fornecido entre 3 e 5 dias, e o volume oferecido deve
ser, no mínimo, 5 l por animal ao dia.

3. Na falta do leite de transição das vacas, o que posso fazer para


tentar simular o leite de transição na minha fazenda?
Quando a fazenda não consegue ordenhar ou colocar na rotina o for-
necimento do leite de transição das vacas, existem duas opções para si-
mular o leite de transição. Uma delas é fornecer a dieta líquida (leite ou
sucedâneo) misturada com 70 g de colostro em pó (SCCL®), em cada
aleitamento, até o quarto dia de vida. A outra opção é diluir 0,5 l de co-
lostro de qualidade, em 2 l e meio de dieta líquida (leite ou sucedâneo), até
o quarto dia de vida.

4. Aumentar o volume de dieta líquida, nos primeiros 30 dias de


vida, irá ajudar no desempenho e desenvolvimento dos bezerros?
Sim. Experimentos científicos em que foi testado o aumento do volu-
me de leite, de quatro contra seis ou mais litros de dieta líquida, mostram
aumento nas taxas de ganho de peso dos animais.

5. Qual o melhor programa de aleitamento (quantidade e duração)


para bezerros, considerando a relação custo/benefício?
Bezerros necessitam de dieta líquida para crescimento adequado du-
rante as primeiras seis a oito semanas de vida. De maneira geral, a in-
gestão de dieta líquida (lactose, gordura, proteína, minerais e vitaminas)
para bezerros deve ficar ao redor de 4,8 a 7,2 l/dia, considerando-se
leite/sucedâneo com 12,5% de sólidos totais (o que seria correspondente
à ingestão de 600 a 900 g/dia de sólidos via dieta líquida), dependendo

Alta
CRIA 55
Capítulo 04: Dieta líquida

do peso e da idade do bezerro. Programas de aleitamento com quanti-


dades mais restritas de leite/sucedâneo, cerca de 4,8 l/dia (600 g de
sólidos lácteos/dia) resultam em menor ganho de peso nas primeiras
semanas de vida, mas maior ingestão de alimento sólido, além de tran-
sição durante o desaleitamento, mais fácil. Por outro lado, aleitamento
com quantidades de 900 g de sólidos lácteos, diariamente, resultam em
maior ganho de peso, mas requer programa de transição para alimentos
sólidos mais cauteloso. De maneira geral, a ingestão de dieta líquida
explica muito pouco da variação em produção de leite da novilha na sua
primeira lactação. O mais importante é assegurar bom crescimento com
combinação de uso de quantidades de dieta líquida nas primeiras quatro
a cinco semanas de vida, promovendo ganhos de peso médio de 600
a 700 g/dia para raças de grande porte (Holandês), para então iniciar
a redução gradativa no oferecimento da dieta líquida para estimular a
ingestão de concentrado. A ingestão de concentrado no período de alei-
tamento explica mais da variação em produção de leite da novilha em
sua primeira lactação.

6. Oferecer oito a 10 l por dia de dieta líquida pode prejudicar o


desenvolvimento do trato gastrointestinal dos bezerros?
Se for durante todo o período de aleitamento e sem correto desaleita-
mento gradual, sim. O fornecimento de grandes volumes de dieta líquida
(> 7 litros/dia) pode promover redução na ingestão de concentrado, o
que pode atrasar o desenvolvimento ruminal. Esses efeitos são, princi-
palmente, vistos a partir da quarta semana de vida. Até a terceira se-
mana de vida, a queda no consumo é muito pequena e, provavelmente,
ainda não impacta o desenvolvimento do rúmen. Dessa forma, é neces-
sário, a partir de 30 a 45 dias de vida, iniciar a redução do consumo da
dieta líquida para estimular o consumo de concentrado e não prejudicar
o desenvolvimento do rúmen, ou fazer essa redução nas duas últimas se-
manas do aleitamento. O desaleitamento gradual irá garantir o aumento
no consumo de concentrado, minimizando as perdas de desempenho,
após o desaleitamento.

7. Qual a temperatura ideal do leite que será fornecido aos bezer-


ros? E qual variação de temperatura é aceitável entre o primeiro e
o último bezerro durante o aleitamento?

56
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

A temperatura ideal é a próxima a do corpo dos bezerros, ou seja,


39°C. Um trabalho de pesquisa publicado em 2020 mostrou que os
bezerros mantêm a ingestão do leite mesmo quando o leite está a 8°C.
No entanto, eles apresentaram tremores musculares, indicando estresse
por frio e a necessidade de gerar calor para manter a temperatura cor-
poral, o que não é bom, pois há gasto de energia que seria usada para
outros fins, por exemplo, ganho de peso ou pelo sistema imune. Existem
também relatos mostrando que a ingestão de leite frio aumenta as falhas
de reflexo da goteira esofágica, causando “beber ruminal”, que resulta
em acidose ruminal aguda, enfermidade com alta taxa de mortalidade.
Dessa forma, o ideal é oferecer o leite com variação máxima de 5°C, ou
seja, até no máximo 34°C.

8. Existem benefícios em se fornecer a dieta líquida em três vezes


ao dia em vez de 2 vezes ao dia? Se sim, precisaria ser durante
todo o aleitamento dos bezerros?
De maneira geral, programas de dietas líquida com consumo diário de
sólidos lácteos de 500 a 600 g/dia (5 l de leite/dia), são difíceis de jus-
tificar e encontrar benefícios do aumento da frequência de alimentação
acima de duas vezes por dia. Entretanto, quando a quantidade de sólidos
lácteos oferecidas diariamente é alta, como em programas com ingestão
de 800 g a 1 kg de sólidos lácteos, é recomendado que a frequência de
alimentação seja aumentada para três vezes ao dia, quando o forneci-
mento do leite é feito com uso de mamadeiras ou baldes. Aumentar a
frequência de alimentação favorece o comportamento alimentar mais
natural do bezerro, com intervalos entre mamadas mais curtos e inges-
tão menor por mamada. Apesar de não comprovado experimentalmen-
te, acredita-se que intervalos longos entre mamadas possam favorecer
o aparecimento de úlcera abomasal. Da mesma forma, acredita-se que
a ingestão de grande quantidade de leite em uma única mamada, com
intervalos longos (8 a 14 horas) entre mamadas, favoreça a dilatação do
abomaso e o aparecimento de timpanismo abomasal e a proliferação
de bactérias do gênero Clostridium. Ou seja, apesar das vantagens em
saúde e desempenho animal não serem claras ou demonstradas experi-
mentalmente, é recomendado que, em programas com ingestão alta de
sólidos de leite, o seu fornecimento seja feito de forma mais dividida,
com maior frequência de alimentação.

Alta
CRIA 57
Capítulo 04: Dieta líquida

9. Qual a variação de % de sólidos totais (medido em refratômetro


de Brix) do leite é aceitável, visando a constância de fornecimento?
O ideal é não haver variação no teor de sólidos do leite.

10. Posso aumentar valor de sólidos totais do leite para compensar


pouco volume de ingestão voluntária, decorrente da frequência de
aleitamento? Qual o valor máximo de sólidos totais sem riscos de
diarreia osmótica?
Sim. O aumento dos teores de sólidos totais do leite, com a adição de
sucedâneo de boa qualidade ou corretores, torna-se boa opção para forne-
cer maiores quantidades de nutrientes para os bezerros, em mesmo volume
de dieta líquida final. Mesmo que alguns trabalhos demonstrem resultados
positivos com valores de sólidos totais até 20%, a recomendação a campo
é que esses valores não ultrapassem 15% de sólidos totais, sendo muito im-
portante ter água de qualidade e fresca disponível a todos os animais, desde
o nascimento e um bom controle do adensamento.

11. No fornecimento de leite enriquecido com sucedâneo para fechar


valores de sólidos totais diários, existe risco de diarreia nutricional
pelo fato de ter dia em que o animal irá receber somente leite e em
outros dias receberá leite mais sucedâneo, porém sempre com o mes-
mo teor de sólidos?
Desde que o sucedâneo utilizado para adensamento seja de ótima quali-
dade (grande parte da proteína vinda de fontes lácteas) e o teor de sólidos
totais a ser atingido esteja na casa de 15%, os riscos de diarreia nutricional
são pequenos. No entanto, é preciso entender que o teor de sólidos está
sendo mantido, mas as fontes de nutrientes estão mudando e, com isso, o
sistema enzimático dos bezerros será forçado a mudanças todos os dias. O
ideal para criação de bezerros é consistência em todos os procedimentos
(manejo, nutrição, conforto etc.).

12. O sucedâneo pode substituir em 100% o leite?


Sim. Um bom sucedâneo pode ser utilizado na substituição do leite, se-
guindo as recomendações de diluição e utilizando água de boa qualidade.

13. Como escolher um bom sucedâneo?


Seguindo as recomendações do NRC (2001), um bom sucedâneo deve
ter 20 a 22% de proteína bruta, 10 a 25% de gordura (no entanto, valo-

58
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

res acima de 20% são recomendados apenas em regiões muito frias, pois
deprimem o consumo de concentrado) e valores de fibra bruta abaixo de
0,15%. É importante sempre olhar no rótulo e checar as fontes dos alimen-
tos, evitando-se farinhas e farelos como potenciais substitutos (que indicam
muita variação na formulação). No entanto, pesquisas mostram que, para
animais em aleitamento intensivo, para obtenção de maiores taxas de cres-
cimento, com ganho de tecido magro, maiores teores de proteína bruta (>
24% de proteína bruta) são necessários no sucedâneo. Também é impor-
tante averiguar os teores de lactose, pois valores acima de 45% podem
resultar em diarreia.

14. Como avalio a qualidade de um sucedâneo, de forma quantitativa


e qualitativa?
De forma quantitativa, seguindo as recomendações do NRC (2001), mas
fazendo uma avaliação do sistema de aleitamento adotado, considerando as
exigências nutricionais do animal para uma determinada taxa de ganho de
peso. De forma qualitativa, um bom sucedâneo é fácil de preparar, tem alta
solubilidade e não decanta rapidamente. Além disso, os bezerros demons-
tram satisfação em ingerir o produto.

15. Quando começar a introduzir o sucedâneo? Qual a recomendação


ideal?
Não existe recomendação ideal. A idade de introdução do produto é
uma decisão do produtor, desde que a composição do produto permita seu
fornecimento desde a primeira semana. Alguns produtos comerciais são
recomendados somente a partir da terceira semana devido à inclusão de
proteína e carboidrato de origem vegetal. As três primeiras semanas de
vida são as de maior desafio para os bezerros devido a mudanças no sistema
digestivo e por ser esse período o de maior susceptibilidade às diarreias. Se
for possível respeitar essas três primeiras semanas, fornecendo leite com
a mesma qualidade nutricional e sanitária vendida para a indústria, segura-
mente, os bezerros irão se beneficiar desse manejo.

16. Qual o melhor protocolo de utilização de sucedâneo? Priorizar o


leite para as mais novas, fazer uma mistura padronizada (leite mais
sucedâneo) ou fornecer somente o sucedâneo o tempo todo?
O melhor protocolo é sempre escolher um produto de ótima qualidade,
com valores nutricionais recomendados que se adequam às exigências dos

Alta
CRIA 59
Capítulo 04: Dieta líquida

animais e do sistema de aleitamento e que tenha grande proporção dos


sólidos vindos de fontes lácteas. Se possível, introduzir o produto após as
três primeiras semanas de vida. Um bom manejo seria iniciar com o forne-
cimento de colostro, imediatamente, após o nascimento (10% do peso ao
nascimento na primeira mamada e 5% do peso corporal ao nascimento na
segunda mamada), seguido de leite de transição por 3 a 5 dias. Após isso,
fornecer o leite integral durante as três primeiras semanas de vida. A partir
daí, caso seja necessário, utilizar sucedâneo de ótima qualidade.

17. Como faço avaliação de diluição do sucedâneo? Qual o valor que


se soma para fechar o valor em relação à leitura no refratômetro
BRIX?
O valor final de sólidos no sucedâneo pode ser avaliado pelo uso do refra-
tômetro BRIX, óptico ou digital. No caso do refratômetro BRIX óptico, so-
mar 1,1 ao valor final obtido. No caso do digital, acrescentar o valor de 1,5.
Para a avaliação dos teores de sólidos totais no leite, independentemente
do tipo de refratômetro Brix, devem-se somar 2 ao valor de leitura.

Refratômetro Sólidos Refratômetro Sólidos


Item totais
BRIX óptico totais BRIX digital
Sucedâneo
10% Brix 11,1% 10% Brix 11,5%
diluído em água

Leite 10% Brix 12,0% 10% Brix 12,0%

18. Em um aleitamento com balde sem bico, na quantidade de 6 l de


sucedâneo por dia, diluído na proporção 1:7, sendo o mesmo pesado
em balança digital antes de cada aleitamento para evitar algum tipo
de erro, e mesmo assim o ganho de peso corporal continua baixo nos
primeiros 30 dias de vida. O que devo investigar?
O primeiro ponto a ser investigado é a qualidade do produto que
está sendo utilizado. Um bom sucedâneo deve ter 20 a 22% de proteína
bruta, 10 a 25% de gordura (no entanto, valores acima de 20% são reco-
mendados apenas em regiões muito frias, pois deprimem o consumo de
concentrado) e valores de fibra bruta abaixo de 0,15%. Observar se os
bezerros estão ingerindo todo o produto oferecido, observar como está a

60
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

ocorrência de doenças no primeiro mês de vida, observar se os bezerros


estão passando por estresse térmico pelo frio ou por calor. Durante os
dias quentes e em estresse térmico, as taxas de ganho de peso caem.

19. Se tenho leite de descarte pasteurizado de boa qualidade (con-


tagem padrão em placa < 1.000 UFC/ml, com aspecto normal e
com boa porcentagem de gordura), mas o volume não é suficiente
para todos os bezerros em aleitamento, o que seria melhor, dar
esse leite de descarte pasteurizado e adensado para 14% de sóli-
dos totais ou fornecer sucedâneo puro com 14% de sólidos para
bezerros até os 15 dias de vida?
A melhor opção é sempre fornecer um produto que não ofereça risco
para a saúde dos bezerros e que mantenha valores de sólidos adequados
(mínimo 12,5% sólidos totais). Ao fornecer leite de descarte pasteuriza-
do e adensado, reduzimos o risco de fornecer leite com grande número
de bactérias e corrigimos o teor de sólidos. Essas medidas melhoram as
características do produto; no entanto, não podemos esquecer que esse
produto tem resíduo de antimicrobianos e pode provocar resistência bac-
teriana, o que traz riscos para o animal, o meio ambiente e a todos que
estão em contato com os animais. Na situação apresentada (leite com
menos de 1.000 UFC/ml de contagem padrão em placa), provavelmen-
te, esse leite está sendo descartado por conter alta contagem de células
somáticas, mas com baixa UFC, além de estar misturado com leite de
transição, leite de carência de antimicrobianos, carrapaticidas etc. Nesse
caso, a qualidade nutricional do produto é boa e irá proporcionar maior
digestibilidade que qualquer sucedâneo, tornando-se a melhor opção.
Porém, caso tenha resíduo de antimicrobianos, ele deveria ser descarta-
do e um bom sucedâneo poderia ser fornecido.

20. O leite com resíduo de antimicrobianos pode trazer algum


malefício para os bezerros?
Sim. O resíduo de antimicrobianos provoca resistência das bacté-
rias do trato digestivo e respiratório dos bezerros em relação à base
utilizada para o tratamento das vacas. Isso seleciona, no organismo do
animal e no meio ambiente, bactérias que crescem e se reproduzem,
mesmo que o animal esteja sendo tratado com antimicrobianos, o que
faz com que os tratamentos sejam ineficazes, aumentando as chances
de mortalidade.

Alta
CRIA 61
Capítulo 04: Dieta líquida

21. Quais as vantagens de se pasteurizar o leite para fornecimento


aos bezerros?
Reduzir o número de bactérias no leite, expondo os animais a menores
riscos de transtornos causados pelas bactérias.

22. Qual o melhor tipo de pasteurização do leite de descarte?


Tanto a pasteurização lenta (63°C por 30 minutos) quanto a pasteuriza-
ção rápida (72°C por 10 a 15 segundos), seguidas de resfriamento rápido
do leite, são efetivas na redução do número de patógenos. Porém, é pre-
ciso lembrar que o processo de pasteurização não significa esterilização e
a qualidade do produto pasteurizado vai depender de alguns pontos, como
a qualidade do produto que entrou no pasteurizador, a capacidade do pas-
teurizador atingir a temperatura e o tempo adequado de pasteurização, a
eficiência de resfriamento imediato e a estocagem refrigerada do produto,
caso ele não seja fornecido imediatamente.

23. Quais as metas de qualidade que posso utilizar como referência


para avaliação da pasteurização do leite de descarte?
Seguir com as seguintes metas:

Valor recomendado
Contagem padrão em placas do leite de descarte (UFC/mL)
Antes da pasteurização < 500.000 UFC/mL
Após a pasteurização < 20.000 UFC/mL
Leite fornecido ao último bezerro < 100.000 UFC/mL

24. Como realizar o controle de qualidade da pasteurização do leite


na minha fazenda?
Os testes devem ser realizados em amostras coletadas, imediatamente,
após a pasteurização e, novamente, no final do ciclo de alimentação dos
bezerros. As amostras devem ser coletadas da seguinte maneira:
• Colete, assepticamente, e resfrie, imediatamente, as amostras;
• embale e envie ao laboratório para chegar em 48 horas, com menos
de 4°C;
• seguir cronograma rigoroso (pelo menos semanalmente) durante o pri-
meiro mês de operação;

62
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

• depois disso, uma programação mensal seria a frequência mínima


aconselhável para o teste.

25. Como deve ser feita a limpeza do pasteurizador


Deve ser feita, imediatamente, após a conclusão da pasteurização. A
maioria dos pasteurizadores lentos são limpos, manualmente, com uma
lavagem com água, seguida por detergente alcalino e uma lavagem com
detergente ácido. Trinta minutos antes do próximo uso, é importante fazer
a desinfecção com cloro. Embora a limpeza dos pasteurizadores rápidos
possa ser automatizada, vários fatores importantes devem ser considerados
para manter o equipamento operando com a capacidade projetada:
• use produtos de limpeza e desinfetantes de acordo com as instruções
do fabricante;
• a temperatura da água durante a limpeza deve permanecer entre 76
e 82°C;
• quando a pasteurização estiver concluída, lave, imediatamente, o siste-
ma com água até que a água escorra limpa;
• siga as instruções do fabricante que, geralmente, recomenda a limpeza
com detergente alcalino por pelo menos 30 minutos, drenando e, em se-
guida, com detergente ácido;
• faça a desinfecção com cloro, conforme recomendação do fabricante,
e drene.

26. O leite sem antimicrobianos, mas com contagem de células somá-


ticas (CCS) alta, pode ser fornecido aos bezerros?
O leite com alta CCS também possui bactérias presentes, uma vez que o
aumento da CCS é causado pelo processo inflamatório e infeccioso. Todas
as vezes que fornecemos aos bezerros leite com muitas bactérias, podemos
desestabilizar a microbiota comensal presente no intestino e aumentar as
chances de distúrbios gastrointestinais, como a diarreia. Sendo assim, caso
a fazenda opte em fornecer esse produto, o mesmo deve ser pasteurizado
e ser direcionado aos animais mais velhos.

27. É viável, economicamente, descartar o leite de antibiótico e não o


utilizar para os bezerros?
Isso é uma opção do fazendeiro e alguns aspectos devem ser considera-
dos ao se tomar a decisão de se usar ou não leite de descarte. Caso a opção
seja utilizá-lo, ele deve ser pasteurizado devido ao risco de alta contagem

Alta
CRIA 63
Capítulo 04: Dieta líquida

bacteriana e presença de agentes patogênicos como o Mycoplasma. De


maneira geral, vacas tratadas com antimicrobianos que são excretados no
leite representam de 0,5 a 1% do rebanho e esse leite pode não ser suficien-
te para alimentar todas os bezerros. Nesse caso, o uso de leite com resíduo
de antimicrobianos tem pouca importância do ponto de vista econômico
para o rebanho e seria prudente descartá-lo por completo. A dificuldade é
quando o rebanho passa por problemas de saúde e inúmeras vacas estão
sob tratamento com produtos que exigem período de descarte. Nesse caso,
a quantidade de leite de descarte é grande e seu valor econômico se torna
importante. Nem todo leite de descarte é originário de vacas que recebem
antimicrobianos. Em muitos casos, o uso de carrapaticidas, anti-inflama-
tórios e outros produtos faz com que o leite deva ser descartado e, nesses
casos, o risco de resistência antimicrobiana pode não ser observado nos
bezerros. Cada situação deve ser considerada com cautela e não há res-
posta única, já que irá depender do total de leite destinado ao descarte no
rebanho.

28. Se não for fornecido aos bezerros, o que fazer com o leite descarte?
Caso a opção seja por não utilizar o leite de descarte, então ele deve ser
eliminado por completo da alimentação animal e descartado junto com os
outros resíduos da fazenda, nas lagoas de decantação de dejetos.

29. A acidificação e/ou pasteurização do leite de descarte pode elimi-


nar os resíduos de antimicrobianos?
Não. Tanto a pasteurização como a acidificação do leite de descarte não
conseguem eliminar as moléculas de antimicrobianos presentes.

30. A acidificação do leite traz benefícios na vida do bezerro?


A acidificação do leite só traz vantagens aos bezerros se o leite tratado
tem risco de alta contagem bacteriana, nos casos em que a fazenda é inca-
paz de controlar o crescimento microbiano do leite por métodos mais apro-
priados como a pasteurização e a estocagem correta. Leite utilizado para
alimentação dos bezerros deve ser pasteurizado e, se não utilizado logo em
seguida, deve ser refrigerado. A acidificação do leite reduz o crescimento
microbiano, mas não deve ser utilizada como substituição de boas práticas
de higiene. De maneira geral, a literatura não dá suporte a benefícios do
uso de leite acidificado em melhorar o desempenho dos bezerros, porém
alguns trabalhos relatam menor incidência de diarreia e maior tempo para

64
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

o primeiro episódio de diarreia com fornecimento de leite acidificado em


comparação com leite refrigerado.

31. Existe alguma diferença para os bezerros, nas primeiras semanas


de vida, se a dieta líquida é fornecida por mamadeira ou em balde?
Não existem diferenças, desde que a higiene seja muito bem feita. Do
ponto de vista comportamental, existe uma tendência de se entender a
mamadeira como melhor, pelo fato de haver o bico e proporcionar uma
posição da cabeça do animal similar ao que ocorreria com o bezerro ao
pé da vaca, pela produção de mais saliva, além de reduzir problemas de
mamada cruzada em sistemas coletivos ou em pares. Mais importante que
o método de fornecimento do leite é assegurar que tanto o balde como as
mamadeiras sejam higienizadas corretamente para evitar contaminação e
risco de diarreia. Entretanto, quando é feito o uso de baldes nos primeiros
dias de vida, é fundamental treinar o bezerro para que ele aprenda como
mamar, o que requer paciência e comprometimento do tratador.

32. A utilização de baldes com bico é indicada?


Sim, existe indicação. A adoção de baldes com bicos para o aleitamento
dos bezerros pode melhorar o bem-estar dos animais. De fato, a oportu-
nidade de expressar o comportamento inato de sugar o leite atende a um
dos quatro princípios da promoção do bem-estar animal, nesse caso, o
princípio do Comportamento Apropriado, sendo que os outros três são
Boa saúde, Boa Nutrição e Bom Ambiente. O aleitamento artificial é, ge-
ralmente, realizado em baldes sem bicos, o que não oferece a oportunidade
de os bezerros sugarem a dieta líquida. Isso pode gerar problemas de ordem
motivacional, levando-as a alterarem o seu comportamento, podendo au-
mentar a ocorrência de mamadas cruzadas, que é a sucção de partes dos
corpos de outros animais. A utilização de balde com bico pode favorecer o
bom funcionamento da goteira esofágica pelo posicionamento correto do
pescoço dos bezerros. Além disso, permitir que os animais expressem seus
comportamentos naturais, nesse caso, o de sugar a dieta líquida, é uma das
novas demandas do mercado consumidor, que preza pela qualidade de vida
dos animais nas fazendas. Para que esses bons resultados sejam observados,
é preciso a adoção de boas práticas de manejo, atentando-se ao tamanho
do furo do bico, o qual não pode ser grande, a higienização correta dos
equipamentos e a altura correta do balde, onde o bico deve estar a 45 cm
do chão para que se alcancem resultados positivos em sua plenitude.

Alta
CRIA 65
Capítulo 04: Dieta líquida

33. Quais os benefícios e os desafios de se trabalhar com aleitado-


res automáticos?
O sistema de criação de bezerros com alimentadores automáticos de-
manda menos serviço braçal quando comparado ao sistema tradicional.
Porém, o sucesso do sistema moderno de cria depende da atenção aos
detalhes e intenso manejo dos dados. Ao adotar sistemas modernos,
extingue-se a função do “tratador(a) de bezerros”, porém dá-se origem
ao cargo de “gerente de cria”. Os maiores benefícios são a possibilida-
de de fornecer dietas líquidas para cada bezerro, individualmente, sem
mais trabalho e com desaleitamentos graduais. Os maiores desafios são
a transição para o sistema em grupo, a identificação de doenças e o uso
dos dados fornecidos pelo sistema.

34. Qual a melhor opção, trabalhar com grupos menores de 5


animais e com baldes com bicos coletivos ou trabalhar com aleita-
dores automáticos que demandam grupos de 25 animais por equi-
pamento?
São duas situações diferentes e que se adaptam a fazendas de forma
diferente. A competição em grupos maiores é um dos pontos a serem
observados. Como regra, os bezerros em um grupo não devem ter mais
de 21 dias ou 20 kg de diferença. Muitas fazendas não possuem animais
o suficiente para encher os grupos em tão pouco tempo com 25 animais.
Os benefícios do uso de sistemas automáticos são a menor mão-de-obra
associada e a flexibilidade, mas o custo e o manejo necessários são mais
intensos. As pesquisas mostram que os benefícios para os bezerros são
muito similares em grupos pequenos ou grandes e melhores que bezer-
ros criados individualmente.

35. É indicado o fornecimento de dieta líquida por sonda quando


o bezerro não apresenta apetite (redução de consumo para 0 ou
menos de 25% do que estava consumindo)? Se sim, qual o proce-
dimento adequado para esse fornecimento? Quais os riscos dessa
prática?
O fornecimento de dieta líquida (leite ou sucedâneo) por sonda nunca
é indicado, mesmo quando o animal não apresenta apetite. Durante o
parto, o bezerro já inicia o seu contato com microrganismos presentes
na vagina da vaca. Logo após o parto, microrganismos oriundos das

66
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

lambidas da vaca e aqueles presentes no ambiente vão colonizando, gra-


dualmente, o trato gastrointestinal do bezerro. A prática de fornecimen-
to de dieta líquida por sonda faz com que esse alimento caia diretamente
no rúmen, permitindo a sua fermentação nesse local pela microbiota ali
existente. Isso gera quadro de acidose ruminal aguda, conhecida como
beber ruminal. Esse quadro leva à distensão abdominal devido ao acúmu-
lo de líquido e gás no rúmen oriundo da fermentação lática aguda. Em
resumo, a única dieta líquida que pode ser fornecida via sonda é o colos-
tro, nas primeiras horas de vida, além do soro, em caso de desidratação.

36. O fornecimento de soro eletrolítico pode substituir a dieta líqui-


da quando o bezerro não quiser mamar?
Quando o bezerro não quer tomar a dieta líquida (leite ou sucedâneo),
deve ser fornecido soro oral, especialmente se ele estiver com diarreia,
para mantê-lo hidratado. No entanto, o soro nunca deve substituir a die-
ta líquida. No soro, além de eletrólitos, como sódio, potássio e cloreto, a
principal fonte de energia é a glicose, salvo nos casos em que a compo-
sição do soro também tenha acetato de sódio, pois ele também é fonte
de energia. Importante lembrar que o leite ou um bom sucedâneo são
alimentos completos, pois, além de lactose, possuem gordura, proteína,
vitaminas e diversos outros minerais que não são encontrados no soro.

37. Existem alguns aditivos nutricionais que posso adicionar na


dieta líquida dos bezerros pensando em aumentar o ganho de peso
e a saúde deles?
Sim. Vários aditivos como ionóforos, probióticos, óleos essenciais,
emulsificadores, ácidos graxos etc. têm sido estudados, objetivando me-
lhorar o desempenho e a saúde dos bezerros. Alguns desses aditivos se
mostram efetivos em reduzir as diarreias e dias em diarreia, aumentar a
digestibilidade de nutrientes e aumentar o ganho peso.

38. Devo trabalhar com o desaleitamento abrupto ou gradual? Se


for o gradual, qual a melhor forma do mesmo ser feito?
O ideal é trabalhar com o desaleitamento gradual, dando mais chan-
ce ao bezerro de se adaptar à mudança da dieta. A forma mais fácil de
fazer o desaleitamento gradual é a redução do volume, sendo oferecida
a metade do volume por, pelo menos, 1 semana.

Alta
CRIA 67
Capítulo 04: Dieta líquida

39. Quais os prós e contras da prática de desaleitamento precoce


(menor do que 50 dias de vida)?
A principal razão do desaleitamento ao redor dos 50 dias de vida é
econômica, já que o fornecimento de dieta líquida é mais caro que o uso
de concentrado. No entanto, para que o bezerro seja desaleitado aos 50
dias, ele precisa ter passado por um programa nutricional que promove
não somente ganho de peso e crescimento adequado, mas também de-
senvolvimento ruminal e capacidade de ingestão de concentrado. Isso só
ocorre se o bezerro receber dieta líquida suficiente para seu crescimento
nas primeiras cinco a seis semanas de vida e se houver redução gradual do
fornecimento dessa dieta ao mesmo tempo que a ingestão de concentrado
tenha aumento gradativo. Desaleitamento muito precoce irá, em muitos
casos, restringir o crescimento do bezerro e aumentar o risco de doenças.
Por outro lado, o desaleitamento muito tardio irá aumentar os custos de
cria sem nenhum benefício aparente no desempenho do bezerro. Devido
aos riscos do desaleitamento muito precoce, quando o consumo de con-
centrado é insuficiente, é mais recomendado fazê-lo entre 55 a 60 dias de
vida. Nesse caso, para raças de grande porte como a Holandês, espera-se
que o bezerro, ao ser desaleitado, apresente ingestão de concentrado de
1,5 kg/dia e que tenha dobrado o seu peso corporal ao nascimento.

40. Nos aleitadores automáticos, qual a melhor forma de se progra-


mar um desaleitamento gradual?
Nos alimentadores automáticos, ou não, as 3 principais regras para um
desaleitamento de sucesso são:
1. pelo menos três semanas entre o primeiro dia de redução da dieta
líquida e o desaleitamento completo;
2. que os bezerros estejam consumindo, pelo menos, 1,5 kg de con-
centrado;
3. que nenhum bezerro perca peso durante o processo, sendo que de-
vem ganhar na mesma taxa do aleitamento.
O alimentador automático possibilita maior flexibilidade no forneci-
mento da quantidade de dieta líquida, visto que nos possibilita fazer um
step-down.

68
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

Capítulo 05
DIETA SÓLIDA

Alta
CRIA 69
Capítulo 05: Dieta sólida

Alex de Matos Teixeira - Universidade Federal de Uberlândia


Carla Maris Machado Bittar - Universidade de São Paulo
Rafael Alves de Azevedo - Alta
Rodrigo Melo Meneses - Universidade Federal de Minas Gerais
Sandra Gesteira Coelho - Universidade Federal de Minas Gerais

70
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

1. A partir de que idade devo começar a fornecer concentrado para


os bezerros?
O concentrado deve ser fornecido desde os primeiros dias de vida do
animal. Porém, é importante ir fornecendo uma pequena quantidade e
aumentando de acordo com o consumo do animal. Colocar grande quan-
tidade de uma vez pode gerar perda do concentrado, além de não gerar
estímulo de consumo causado pela troca diária do produto.

2. Qual o teor de proteína bruta (PB) ideal do concentrado durante o


período de aleitamento? Esse teor muda depois nos primeiros meses
após o desaleitamento?
O NRC (2001) recomenda 18% PB na matéria seca do concentrado
para bezerros em aleitamento. No entanto, trabalhos mais recentes suge-
rem 20% de PB. Pode-se trabalhar com concentrados com teores supe-
riores com respostas positivas em ganho de peso corporal até por volta
de 24%, quando aliado ao fornecimento de altos volumes de dieta líquida
(≥ 7 l). Após o desaleitamento, a dieta dos bezerros passa a ter maior in-
clusão de volumosos. Dessa forma, após o desaleitamento, o foco passa
a ser a dieta total (concentrado + volumoso) e não apenas o concentrado.
O ideal é que o teor de PB da dieta total esteja entre 18 e 20% PB do de-
saleitamento até quatro meses de idade e com uma relação entre proteína
metabolizável e energia metabolizável maior que 41 g/Mcal.

3. Quanto maior o teor de proteína bruta (PB) do concentrado forne-


cido, melhor será o desempenho dos animais em aleitamento?
Não. Trabalhos de pesquisa avaliando maiores teores de PB mostram
que existe limite para essa resposta que está em torno de 24% de PB. A
partir desse valor, ocorre redução de consumo e os ganhos em desempe-
nho são cada vez menores, de forma que não existe benefício do forneci-
mento de concentrado mais proteico quando se considera o aumento no
custo.

4. Posso fornecer ureia como fonte de proteína no concentrado dos


bezerros?
Trabalhos desenvolvidos na década de 70 e 80 mostraram que sim,
pode ser utilizada, no entanto seu uso não é recomendado para bezerros
antes de 10 a 12 semanas de vida.

Alta
CRIA 71
Capítulo 05: Dieta sólida

5. Quais as principais fontes de energia e proteína em um concentrado


para bezerros?
• Fontes de energia: milho, sorgo, aveia, polpa cítrica, melaço, casquinha
de soja, cevada e trigo.
• Fontes de proteína: farelo de soja, farelo de algodão, linhaça, canola e
grãos de milho secos por destilação (DDG).

6. Posso substituir o milho pela polpa cítrica no concentrado dos bezer-


ros, como fonte energética?
Sim, alguns trabalhos mostram que o milho pode ser substituído por polpa
cítrica sem prejuízos ao desempenho e à saúde dos animais. Uma das vanta-
gens é o menor risco de acidose ruminal nos animais. Como a polpa é, nor-
malmente, peletizada, será necessário realizar sua moagem para sua inclusão
nos concentrados. Nesse aspecto, é importante garantir que a mistura final
tenha tamanho de partícula adequado (grosseiro) de forma a não resultar em
menor consumo.

7. Qual o papel do melaço no concentrado dos bezerros e até que por-


centagem posso adicionar na matéria seca?
O melaço é um aditivo que irá ajudar a aumentar a palatabilidade do con-
centrado, além de reduzir a separação das partículas e a presença de pó no
concentrado. A sua inclusão deve ocorrer entre 5 e 6% da matéria seca.

8. Posso adicionar algum tipo de gordura no concentrado dos bezer-


ros? Se sim, qual tipo de gordura e qual o percentual máximo na ma-
téria seca (MS)?
A inclusão de gordura no concentrado de bezerros é bastante polêmica,
pois, se por um lado aumenta a densidade energética da dieta, por outro, re-
duz o consumo. Além do efeito indireto no desenvolvimento ruminal, ocorre
efeito negativo direto pelo fato de a gordura adicionada não fornecer energia
para os microrganismos ruminais. Questões relacionadas à forma de inclusão
também são levantadas, pois inclusões acima de 3%, por exemplo, afetam de
forma negativa o processo de peletização. Por outro lado, existem métodos
de inclusão durante extrusão de ingredientes que funcionam bem. Alguns tra-
balhos observaram redução no consumo quando a inclusão foi de 7% na MS.
A depender do método de inclusão de gordura, o valor de 7% na MS seria o
limite para se ter aumento no desempenho dos animais. A maior parte dos
trabalhos avaliou a inclusão de óleo de palma, soja e coco.

72
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

9. Quais os benefícios de se incluir óleos essenciais e/ou extratos de


plantas no concentrado de bezerros?
Alguns trabalhos têm mostrado efeitos benéficos da inclusão desses adi-
tivos na dieta de bezerros leiteiros. Quando adicionados ao concentrado,
terão efeito no rúmen desses animais, o qual está em desenvolvimento.
A depender do produto, podemos ter seleção de microrganismos de inte-
resse para acelerar o desenvolvimento do rúmen ou, por exemplo, reduzir
risco de acidose ruminal. No entanto, os maiores efeitos estão associados
à inclusão desses aditivos na dieta líquida, como manipuladores da micro-
biota intestinal, reduzindo a incidência e a severidade de diarreias.

10. Adicionar extrato de própolis no concentrado dos bezerros traz


algum benefício?
O extrato de própolis tem propriedades antibióticas e, assim como
ocorre com os ionóforos, resulta em maior produção de alguns produtos
de fermentação ruminal importantes para o desenvolvimento do rúmen.
Alguns estudos mostram também aumento na digestibilidade e redução na
produção de metano. Mas, assim como os óleos essenciais e extratos de
plantas, no caso de animais em aleitamento, o maior benefício se dá pelo
fornecimento através da dieta líquida, pois reduz a ocorrência de diarreias.

11. É importante fornecer concentrado com textura mais grosseira?


Sim. Concentrados finamente moídos podem reduzir o consumo. Os
concentrados farelados devem ter tamanho de partícula de 1,19 mm.
Quando finamente moídos, os ingredientes têm maior taxa de degradação
e, dependendo da quantidade ingerida, podem levar o animal à acidose
ruminal. Por isso, as grandes variações no consumo de concentrado.

12. Existe diferença de desempenho quando se fornece concentrado


farelado em vez do peletizado?
Não, desde que se esteja comparando concentrados com a mesma
formulação. A forma física não afeta o consumo ou o desenvolvimento ru-
minal e, consequentemente, o ganho de peso corporal dos animais, desde
que o tamanho de partícula seja grosseiro (> 1,19 mm). O que, normal-
mente, ocorre é a percepção do produtor de que o peletizado é melhor
que o farelado. Isso ocorre quando o produtor deixa de usar farelado com
formulação caseira e sem controle de qualidade de ingredientes e passa
a fornecer concentrado comercial peletizado, formulado para atender às

Alta
CRIA 73
Capítulo 05: Dieta sólida

exigências dos animais e produzido com controle de qualidade de ingre-


dientes.

13. A utilização de ração micropeletizada no aleitamento é recomen-


dada?
Não. A ração micropeletizada, normalmente, tem altas taxas de degra-
dação, podendo levar à acidose ruminal. Esses concentrados são finamen-
te moídos antes de sofrer peletização e, como o pellet é muito pequeno
e tem baixa estabilidade, quando cai no rúmen, acaba sendo degradado
como uma ração finamente moída.

14. Quais os benefícios de se trabalhar com concentrados comer-


ciais que possuem ingredientes peletizados, extrusados e floculados,
como se fossem granola?
A principal vantagem desses concentrados é o fato de que apresentam
alta digestibilidade, mas com a inclusão de fibra. Além disso, o tipo de
processamento dos ingredientes com partículas de maior tamanho reduz o
risco de acidose ruminal nos bezerros. Assim, o consumo de concentrado
é mais constante e crescente, garantindo maior ganho de peso corporal.

15. O que devo levar em consideração na tomada de decisão de


comprar ração pronta para bezerros ou fazer a batida na fazenda?
O produtor deve considerar sua capacidade de produção, qualidade dos
ingredientes, controle da qualidade do processo (de forma que a mistura
final seja sempre a mesma) e, o mais importante, a adoção de formulação
adequada para animais em aleitamento.

16. Qual o teor de fibra em detergente neutro (FDN) e de fibra em


detergente ácido (FDA) indicado para concentrado de bezerros?
Segundo o NRC (2001), o concentrado de bezerros deve conter:
• 12,8% de FDN;
• 11,6% de FDA.
Ambos com base na matéria seca. Porém, teores de FDA abaixo de 6%
ou acima de 20% devem ser evitados. Já para a FDN, podemos trabalhar
entre 15 e 25%, sendo que, quando trabalhamos com fontes como a cas-
ca de soja, polpa cítrica, caroço de algodão, ou aveia, podemos trabalhar
com valores maiores.

74
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

17. Quais os melhores volumosos a serem fornecidos para os bezer-


ros?
O melhor volumoso é o feno de uma gramínea de boa qualidade. Os
outros volumosos possuem baixo teor de matéria seca, o que resulta em
enchimento do rúmen e redução do consumo. O pior seria a cana de açúcar
ou capim velho, devido ao longo tempo gasto para deixar o rúmen, o que
provoca enchimento e redução do consumo.

18. A partir de qual binômio peso corporal versus idade que o feno,
fornecido à vontade, interfere em menor ganho de peso corporal e
crescimento dos bezerros?
Durante a fase de aleitamento, se o feno estiver sendo oferecido à vonta-
de para os bezerros, e o consumo de concentrado estiver sendo substituído
pelo de feno, iremos observar redução do ganho de peso corporal. Por
isso, temos que trabalhar com o fornecimento restrito de feno, a partir de
30 dias de vida. Quando o feno disponível é de baixa a média qualidade, o
próprio animal faz controle do consumo. A ideia é que o consumo de feno
não seja superior a 5% do consumo total do animal.

19. A introdução de volumoso na dieta dos bezerros pode diminuir o


ganho de peso corporal?
Sim, quando o volumoso causar queda na ingestão de concentrado. No
entanto, alguns dados mostram que, a depender do manejo de forneci-
mento e da qualidade do feno, podemos ter aumento no consumo total de
alimentos, resultando em maior ganho de peso corporal.

20. Qual o momento ideal de iniciar o fornecimento de feno aos be-


zerros?
Durante a fase de aleitamento, devemos introduzir volumoso à dieta de
bezerros quando estivermos observando fezes líquidas ou pastosas, com
bolhas de gás, geralmente, aparecendo próximo aos 40 dias de vida. Após
30 dias de vida, o consumo de concentrado aumenta rapidamente, levando
alguns animais a apresentar quadros de pH baixo no rúmen e timpanismo.
Nesse momento, devemos introduzir pequena quantidade de volumoso à
dieta para auxiliar a ruminação, produção de saliva, movimentação do rú-
men, exposição de ácidos graxos voláteis (AGV) ao epitélio do rúmen, ab-
sorção de AGV e entrada de bicarbonato via transporte epitelial (passagem
de AGV para corrente circulatória e bicarbonato do sangue para o rúmen).

Alta
CRIA 75
Capítulo 05: Dieta sólida

A quantidade de feno oferecida nesse momento não deve ser superior a 5%


do fornecimento do concentrado.

21. Existe algum tamanho ideal da fibra de feno para ser fornecido
aos bezerros? Esse tamanho deve ser mantido até que idade?
Durante a fase de aleitamento, devemos reduzir o tamanho do feno para
evitar desperdício. O tamanho das partículas deve ser entre 2 e 3 cm de
comprimento.

22. Fornecimento de feno antes dos 60 dias de vida pode prejudicar


o consumo de concentrado, prejudicando, assim, a formação das pa-
pilas ruminais?
Se o consumo for grande, sim. Por isso devemos limitar o consumo a
não mais que 5% do concentrado.

23. O feno peletizado tem o mesmo efeito do feno na forma tradicio-


nal?
Não, pois o tamanho da partícula após a mastigação é muito pequeno
para estimular a ruminação.

24. Como deve ser fornecido o feno aos bezerros? Poderia ser usada
a medida de uma “mão” de feno sobre o baldinho de ração de cada
animal ou o melhor seria deixar uma redinha de feno à vontade, sepa-
rada do baldinho de ração?
Picado em partículas de 2 a 3 cm de comprimento para evitar desperdí-
cio. De forma prática, podemos sim utilizar uma mão de feno picado mis-
turada ao concentrado oferecido aos bezerros a partir de 30 dias de vida.

25. Existe diferença entre fornecer ração peletizada e ração farelada


com feno misturado?
Existe. O ideal é que os bezerros recebam concentrado que estimule a
movimentação do rúmen. Na grande maioria dos concentrados peletizados
produzidos no Brasil, o pellet é facilmente quebrado na boca do animal,
chegando ao rúmen na forma farelada, não estimulando a ruminação. Des-
sa forma, o concentrado farelado com inclusão de 5% de feno (com partí-
culas de 2 a 3 cm de comprimento), oferecido a partir de 30 dias de vida,
vai estimular mais o rúmen que o concentrado peletizado, sendo melhor
para os bezerros.

76
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

26. A partir de qual idade deve-se iniciar o fornecimento de sila-


gem de milho para os bezerros?
Primeiramente, deve-se pensar que a escolha do volumoso a ser
fornecido deve estar inserida no planejamento alimentar do rebanho.
Entretanto, é importante considerar que, quando comparada ao feno,
em virtude de suas características, a silagem de milho apresenta menor
estabilidade aeróbia e ácidos orgânicos como produtos finais da fermen-
tação, o que, dependendo das condições de manejo e ambiente, podem
impactar negativamente no consumo de dieta sólida do animal na fase
de aleitamento. Sendo assim, deve-se, preferencialmente, iniciar o for-
necimento de silagem de milho após o desaleitamento dos animais.

27. Com qual idade posso começar a fornecer silagem de milho e


qual idade posso retirar o feno, passando a fornecer somente sila-
gem como volumoso?
A silagem de milho ou de outra forrageira deve ser fornecida a partir
do desaleitamento. É importante lembrar que o volumoso (feno) repre-
senta uma pequena fração da dieta sólida do animal durante a fase de
aleitamento, porém uma grande fração da dieta nas fases subsequentes.
Portanto, deve-se, primeiramente, estabelecer manejo nutricional para
adaptação dos animais, não apenas ao novo volumoso como também à
estratégia de dieta total (volumoso misturado ao concentrado). Preferen-
cialmente, deve-se iniciar esse procedimento no primeiro lote coletivo
após o desaleitamento, realizando adaptação à nova dieta (silagem de
milho e concentrado). A partir do segundo lote coletivo, é possível ado-
tar a silagem de milho como volumoso único, lembrando a necessidade
de fornecer uma dieta balanceada de acordo com a meta de desempe-
nho almejada.

28. A introdução de dieta com silagem de milho e aveia, por sete


a 10 dias, na última semana antes do desaleitamento, é recomen-
dada?
Nessa fase da vida dos bezerros, é fundamental que eles alcancem
adequada ingestão de dieta sólida para estar preparados para o desalei-
tamento. Dessa maneira, não é recomendado realizar mudanças bruscas
e drásticas na dieta sólida durante esse período, para não comprometer
o consumo e o desempenho na fase de pós-desaleitamento.

Alta
CRIA 77
Capítulo 05: Dieta sólida

29. Posso trabalhar com a silagem de trigo como volumoso para


bezerros em aleitamento ou na fase de transição?
Por se tratar de um alimento fermentado, é importante sempre consi-
derar que, quando o padrão de fermentação da silagem não é adequado,
há impacto negativo no consumo. A silagem de trigo é uma boa opção de
forragem conservada para regiões que possibilitam o cultivo dessa cultura.
No ponto de colheita, o conteúdo de amido ainda será baixo e, conse-
quentemente, o teor de fibra elevado. O conteúdo de proteína é superior
ao de outras silagens, como a de milho e de sorgo, sendo de alta degra-
dação ruminal e parte dessa podendo ser convertida em amônia durante
a fermentação. Sendo assim, seria mais adequado iniciar sua utilização a
partir de quatro meses ou após a transição, sempre estando atento aos
valores nutricionais da dieta total.

30. Posso fornecer cevada para bezerros?


Tradicionalmente denominado de cevada, o resíduo úmido de cerveja-
ria é um concentrado proteico de bom valor nutricional, com boa parte da
fração proteica sendo PNDR (proteína não degradável no rúmen), mas de
digestibilidade intestinal um pouco inferior ao farelo de soja. Em virtude
das características do processo industrial para sua obtenção e de seu ele-
vado teor de umidade, é um alimento de rápida deterioração na fazenda,
e que favorece o crescimento acentuado de fungos e leveduras. Sendo
assim, não deve ser fornecido para animais em aleitamento ou na fase de
transição.

31. Posso incluir casquinha de soja no concentrado dos bezerros? Se


sim, qual o percentual de inclusão?
Sim. Esse é um ótimo ingrediente para ajustar o teor de fibra em de-
tergente neutro dos concentrados. No entanto, os trabalhos de pesquisa
mostram que inclusões maiores que 45% reduzem a energia da dieta, a
eficiência alimentar e provocam menor taxa de ganho de peso corporal.
Ao incluir a casquinha de soja, fique atento às concentrações finais de
energia e fibra.

32. Qual o melhor esquema de adaptação para introdução de volu-


mosos na dieta dos bezerros?
Durante a fase de aleitamento, o ideal é colocar pequena quantidade de
volumoso, no máximo, 5% do consumo total, após 30 dias de vida.

78
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

33. Posso fornecer dieta dos lotes das vacas de alta produção de leite
para os bezerros recém-desaleitados?
Não é desejável adotar tal prática com essa categoria. Na fase da transi-
ção, é importante fornecer uma dieta total com baixa inclusão de forragem
e baixo teor de umidade, em virtude da capacidade ingestiva ainda limitada
do animal. Além disso, os níveis nutricionais das dietas de vacas em lacta-
ção, ainda que do lote de alta produção, não necessariamente atendem aos
requerimentos dessa categoria.

34. Posso adicionar sucedâneo no concentrado dos bezerros para


aumentar a palatabilidade? Se sim, qual percentual de inclusão é acei-
tável?
Apesar de utilizado como palatabilizante em concentrados de bezerros,
não há respaldo científico para sua utilização e recomendações de uso.
Possivelmente, a ausência dessas recomendações se deve à grande diversi-
dade de formulações disponíveis no mercado mundial. Porém, na indústria,
o recomendado é 5% de inclusão de sucedâneo na fórmula, sendo que a
inclusão afeta, negativamente, a formação de pellets. Importante salientar
que o palatabilizante mais utilizado em concentrado de bezerros é o melaço
(5 a 7%). Além do melaço, por algum tempo, o soro de leite (whey) foi uti-
lizado também, por conter grande fração de lactose. A sua inclusão variou
nos experimentos de 300 g/tonelada a 10% do concentrado, sendo que va-
lores maiores que 10% de inclusão resultaram em menores taxas de ganho
de peso corporal, provavelmente, causada por alta taxa de fermentação,
produção de ácido lático e acidose ruminal.

35. Teor de sólidos totais com a utilização de sucedâneos pode inter-


ferir no consumo dos demais sólidos (concentrado e volumoso)? Quais
restrições para não impactar no consumo da dieta sólida?
Sim, trabalhos de pesquisa publicados em 2019 mostram que o consu-
mo de sólidos da dieta líquida acima de 800g começa a impactar, negativa-
mente, o consumo de concentrado. Dessa forma, devemos limitar a inges-
tão de sólidos de leite a esse valor, após 30 dias de vida, para não impactar,
negativamente, o desenvolvimento do rúmen.

36. Quais estímulos físicos e químicos favorecem ou antecipam o de-


senvolvimento ruminal do bezerro?
Os estímulos físicos estão relacionados ao tamanho das partículas do

Alta
CRIA 79
Capítulo 05: Dieta sólida

concentrado, pois o atrito dessas partículas no rúmen estimula a sua movi-


mentação, expondo os ácidos graxos voláteis (AGV) ao epitélio do rúmen
e ainda estimulando o desenvolvimento muscular do órgão. Por isso, é
recomendado oferecer concentrados com partículas grosseiras. Os estí-
mulos químicos são causados pelos AGV absorvidos. Durante a absorção,
ocorre estímulo de divisão celular nas papilas, aumentando seu tamanho,
o que leva ao aumento da superfície de absorção do rúmen. O butirato
e o propionato são os AGV que mais estimulam o desenvolvimento do
epitélio, por isso é recomendado fornecer concentrado para bezerros.
Esse concentrado deve ser formulado com grãos que contenham carboi-
dratos rapidamente fermentáveis (exemplo: milho), com isso, a produção
de AGV, principalmente, butirato e propionato, aumenta, favorecendo o
desenvolvimento das papilas ruminais.

37. Existem, no mercado nacional, produtos contendo, na sua com-


posição, ácido butírico, visando a estimular o desenvolvimento ou
crescimento de papilas? Isso realmente acontece? E qual o mecanis-
mo de ação desse ácido?
Esses produtos ainda são novos. A literatura cientifica é ainda contra-
ditória quanto aos resultados, de forma que são necessários mais experi-
mentos para sua indicação de uso no campo.

38. A introdução do feno na dieta dos bezerros pode causar diar-


reia?
Não. O feno em dieta de bezerros pode ser utilizado para prevenir diar-
reia em animais cujo consumo de concentrado é alto, usualmente, após
45 dias de vida, especialmente quando tem baixo teor de fibra. Nesses
casos, o animal apresenta diarreia osmótica devido à acidose ruminal sub-
clínica e, então, o feno pode ser adicionado à dieta (5% do concentrado)
para estimular a ruminação, sem prejudicar o consumo de concentrado e
desenvolvimento ruminal, controlando o pH ruminal e, consequentemen-
te, melhorando a consistência das fezes.

39. Concentrado farelado pode causar doença respiratória por ina-


lação?
Não há comprovação científica de que concentrado farelado seja um
fator de risco para doença respiratória em bezerros.

80
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

40. Sal mineral pode ser fornecido à vontade desde os primeiros dias?
Pode. No entanto, não há relatos científicos comprovando vantagens ou
desvantagens do fornecimento de sal mineralizado durante a fase de alei-
tamento. Porém, as exigências dos bezerros em minerais e vitaminas são
consideradas na formulação do concentrado.

41. Como controlar a presença de abelhas no concentrado dos be-


zerros?
Algumas medidas têm sido recomendadas para minimizar a presença de
abelhas, como:
• oferecer o concentrado em horários diferentes aos hábitos das abelhas,
ou seja, oferecer o concentrado aos bezerros no final da tarde. As abelhas
são mais ativas no início da manhã até início da tarde e, por isso, é preciso
evitar esses horários;
• usar repelentes naturais como alho e citronela próximo ao cocho dos
bezerros;
• o número de abelhas aumenta nos cochos nos meses de seca quando
as abelhas não encontram alimentos nas matas. Dessa forma, seria interes-
sante a fazenda que está passando pelo problema procurar apicultores na
região para capturar as abelhas e alimentá-las.

42. Existe correlação entre o consumo de água e o de concentrado?


Sim. Por isso a água de boa qualidade deve estar sempre disponível para
os bezerros desde o primeiro dia de vida, sendo fornecida fresca e com fácil
acesso.

43. Existe consumo máximo de concentrado, por bezerro, durante a


fase de aleitamento?
Não. O que se busca nessa fase é exatamente maximizar o consumo de
concentrado de forma que o animal tenha seu rúmen desenvolvido para que
o desaleitamento ocorra sem prejuízos ao desempenho animal. O consumo
de concentrado é modulado basicamente por três fatores:
• volume de fornecimento de dieta líquida;
• peso corporal do animal;
• qualidade do concentrado.
Quanto maior o volume de dieta líquida fornecida, menor será o con-
sumo de concentrado, de forma que animais em aleitamento intensivo de-
vem ser desaleitados de forma mais gradativa. O peso corporal do animal

Alta
CRIA 81
Capítulo 05: Dieta sólida

também afeta o seu consumo, uma vez que define suas exigências nutri-
cionais. Assim, quando se têm animais em aleitamento com volume fixo
de dieta líquida, à medida que os animais aumentam seu peso corporal,
o consumo de concentrado também deve aumentar. O último fator que
define o consumo é a qualidade do concentrado. Os concentrados devem
ser compostos por ingredientes de alta digestibilidade e palatabilidade.
Além disso, quando se utilizam concentrados farelados, esses devem ser
grosseiros, apresentando tamanho de partícula de 1,19 mm. Concentra-
dos finamente moídos reduzem o consumo.

44. Independentemente da idade, o critério principal para o desalei-


tamento seria o consumo de ração (aproximadamente 2 kg/dia - du-
rante três dias seguidos)? Teria alguma idade mínima, mesmo tendo
esse consumo de 2 kg por dia?
O consumo de concentrado é o aspecto mais importante para o suces-
so do desaleitamento. Os animais devem estar consumindo, no mínimo,
1 kg/dia, durante três dias consecutivos, para que o desaleitamento possa
ser realizado sem prejuízos ao desempenho na fase subsequente. Traba-
lhos mais novos estão apontando para valores de, no mínimo, 1,5 kg/dia,
por três dias consecutivos, como critério de desaleitamento. As alterações
no rúmen ocorrem tanto do ponto de vista anatômico quanto metabólico.
O consumo de alimento sólido que leva à produção de ácidos graxos de
cadeia curta, principalmente propiônico e butírico, após sua fermentação
ruminal, estimula o desenvolvimento ruminal, com aumento do número,
altura e largura de papilas ruminais, assim como estimula o aparato enzi-
mático do epitélio ruminal a se tornar apto a metabolizar os produtos fi-
nais da fermentação que serão absorvidos. A idade mínima para o desalei-
tamento é de 21 dias, período em que uma das enzimas importantes para
o metabolismo desses ácidos começa a ser produzida no epitélio ruminal.
Porém, desaleitamento muito precoce irá, em muitos casos, restringir o
crescimento do bezerro e aumentar o risco de doenças. Considerando as-
pectos do metabolismo e desempenho animal e financeiro, o ideal é que o
desaleitamento seja realizado por volta dos 80 dias de vida.

82
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

45. Existem alguns valores de referência para acompanhar o consu-


mo de concentrado dos bezerros próximo ao desaleitamento?
Sim, uma boa opção é seguir a seguinte avaliação:

Consumo médio de
Semana concentrado (g/dia)
Antes do desaleitamento iniciar 450 g/dia
Durante a redução da dieta líquida 900 g/dia
Desaleitamento completo 1.800 g/dia
Segunda semana após o desaleitamento 2.200 g/dia

Alta
CRIA 83
84
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

Capítulo 06
MOCHAÇÃO

Alta
CRIA 85
Capítulo 06: Mochacão

José Azael Zambrano - Rehagro


Polyana Pizzi Rotta - Universidade Federal de Viçosa
Rafael Alves de Azevedo - Alta

86
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

1. Por que devemos mochar os bezerros?


São quatro principais fatores que nos levam a realizar o procedimento
de mochação de bezerros:
1. Evitar acidentes entre os animais – é comum “cabeçadas” entre os
animais, o que pode resultar em acidentes, como perfuração do olho, po-
dendo esse ser grave e diminuir a vida útil do animal na fazenda;
2. Evitar acidentes com as pessoas que trabalham na fazenda – como
o manejo diário em bovinos de leite, o contato homem-animal é muito in-
tenso e, mesmo sem querer, um animal pode machucar uma pessoa ao dar
uma cabeçada e acertar o chifre em quem estiver próximo;
3. Menor espaço de cocho – animais não mochados precisam de espaço
de cocho maior; dessa forma, em vez de ocuparem espaço de 70 a 80 cm
(para a raça Holandês) eles podem ocupar espaço de até 1 metro de cocho.
Dessa forma, haverá maior competição por alimentos e teremos vacas sem
acesso à dieta e, com isso, queda na produção de leite ou então teremos
maior custo com instalações, o que não é desejado;
4. Maior valor de venda – na bovinocultura de leite a renda bruta da ativi-
dade é composta pela venda do leite e pela venda de animais, podendo ser
essas novilhas ou vacas comercializadas, e é cultural no Brasil as novilhas/
vacas serem mochadas na fase de cria; dessa forma, animais com chifre são
menos valorizados.

2. A partir de que idade devo realizar a mochação com a pasta cáus-


tica?
Primeiro dia após o nascimento.

3. Existe idade máxima para realizar a mochação com a pasta cáus-


tica?
O indicado é realizar até os sete dias de vida.

4. Quais os cuidados tenho que ter ao realizar a mochação com a


pasta cáustica?
Para esse procedimento, é necessário que o animal esteja alojado indivi-
dualmente, não deve ser aplicada em animais que estejam em abrigos como
casinhas e bezerreiros tropicais em dias de chuva, e não se deve exagerar
na quantidade de pasta.

Alta
CRIA 87
Capítulo 06: Mochacão

5. Na utilização da pasta cáustica para mochação dos bezerros, preci-


so usar anestesia local e anti-inflamatório por quatro dias?
É necessária a utilização de anestesia local de forma eficaz para mitigar
a dor aguda do animal durante e após o procedimento. Além disso, deve-se
associar ao uso de anti-inflamatório não esteroidal. Trabalhos mostram que
dose única de Meloxicam já fornece alívio da dor.

6. Quanto tempo demora para ocorrer a cicatrização total em mocha-


ção, utilizando-se pasta cáustica?
A cicatrização total em mochação com pasta cáustica ocorre, aproxima-
damente, 20 dias após a mochação, quando a mesma ocorre até o 4º dia
de vida. Mas esse período pode variar, pois algumas mochações com pasta
cáustica precisam ser refeitas após 60 dias, mostrando, assim, variação de
resposta entre animais.

7. Existem estudos sobre qual ferramenta é mais interessante, ferro


quente ou pasta cáustica, em relação ao desenvolvimento e ganho de
peso do animal?
Existem estudos comparando os dois métodos com foco em bem-estar
animal, sem avaliar o desenvolvimento e ganho de peso. No entanto, acre-
dita-se que, se realizados no tempo correto, com aplicação de anestésico e
anti-inflamatório, o método não afetará o desempenho dos animais.

8. Pensando no bem-estar animal, devo optar pelas pastas cáusticas


ou pelo ferro quente, elétrico ou a gás para a mochação dos bezerros?
A recomendação do European Code of Recommendations for the
Welfare of Cattle é o uso preferencial para mochação do ferro quente com
uso de anestesia e anti-inflamatório.

9. Por que alguns programas de bem-estar animal baniram a utiliza-


ção da pasta cáustica na mochação dos bezerros?
A mochação com pasta foi considerada mais dolorosa que a feita com
ferro quente, baseada nas diferenças nas concentrações de cortisol após os
dois procedimentos, e ao fato que a pasta pode causar feridas profundas no
animal tratado e mesmo em outros animais como consequência do contac-
to físico entre animais. Além disso, bezerros que não ficam protegidos das
intempéries climáticas podem sofrer queimaduras oculares em casos em
que há chuva após a aplicação.

88
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

10. Com qual idade devo realizar a mochação com ferros quente,
elétrico ou a gás?
Antes das cinco semanas de vida.

11. Existe idade mínima para realizar a mochação com ferros quen-
te, elétrico ou a gás?
Não há idade mínima bem estabelecida para realização da mochação,
mas trabalhos comparam a mochação sendo realizada em dois momen-
tos, com 3 e 35 dias e apontam que animais mais jovens podem apre-
sentar maior sensibilidade à dor. O mais recomendado é a mochação
com 30 dias de vida, mas alguns programas de bem-estar animal e, em
algumas fazendas, têm-se adotado 15 dias.

12. Que cuidados tenho que ter ao realizar a mochação com ferro
quente, elétrico ou a gás?
Respeite a idade do animal, não realize o procedimento em animais
doentes, use anestésico local e anti-inflamatório, utilize, após o proce-
dimento, pasta repelente de moscas. Dê preferência para realizar esse
manejo nos horários mais frescos do dia e antes do fornecimento da
dieta líquida.

13. Qual o protocolo devo adotar durante a mochação com ferro


quente, elétrico ou a gás?
Utilizar um anestésico antes da mochação, quatro dias de anti-infla-
matório e uso de pasta repelente local.

14. Qual o melhor local de se fazer o bloqueio anestésico na mo-


chação com ferro quente, elétrico ou a gás?
O bloqueio do nervo cornual é o mais utilizado, apresenta duração
anestésica maior comparado ao bloqueio em anel.

15. Qual o melhor anestésico e qual a dosagem devo utilizar na


mochação com ferro quente, elétrico ou a gás?
Cloridrato de Lidocaína entre 2 a 5% sem vasoconstritor, na dosagem
de 5 ml, fazendo o bloqueio do nervo cornual, localizado entre a região
ocular e a base da orelha.

Alta
CRIA 89
Capítulo 06: Mochacão

16. Qual o melhor anti-inflamatório e qual a dosagem devo utilizar na


mochação com ferro quente, elétrico ou a gás?
Meloxicam, na dosagem de 0,5 mg/kg de e aplicado de forma intramus-
cular.

17. Quanto tempo, após a aplicação da anestesia local, posso fazer a


mochação com ferro quente, elétrico ou a gás?
Após a aplicação, esperar em torno de 10 minutos e verificar se o ani-
mal está anestesiado por meio do teste de estimulação da agulha em torno
da base de cada botão do chifre.

18. Devo usar algum sedativo durante a mochação com ferro quente,
elétrico ou a gás? Se sim, qual?
O uso combinado de anestésico local e anti-inflamatório não esteroidal é
a prática mais utilizada e atende o bem-estar animal, garantindo mitigação
da dor, não sendo necessário o uso de sedativo durante o procedimento.

19. Devo usar algum analgésico durante a mochação com ferro quen-
te, elétrico ou a gás? Quantos dias de aplicação? Quanto tempo antes
da mochação devo fazer a primeira dose do analgésico?
O uso de anti-inflamatório não esteroidal em dose única antes da mocha-
ção apresenta ação analgésica, com controle da inflamação e hipertermia,
não sendo necessária a utilização de outro medicamento.

20. Quanto tempo demora para ocorrer a cicatrização total em mo-


chação, utilizando-se ferro quente, elétrico ou a gás?
A cicatrização leva de 50 a 60 dias. A depender da qualidade de mocha-
ção, esse período pode ser maior, visto que alguns procedimentos são feitos
com pressão excessiva do ferro de mochar sobre o botão cornual.

21. O que posso aplicar para acelerar a cicatrização após a mochação


com ferro quente, elétrico ou a gás?
Pomadas cicatrizantes como unguento ou aerossol à base de alumínio
para acelerar o processo de regeneração do tecido e ação repelente contra
moscas.

90
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

22. A partir de que idade o botão cornual inicia a calcificação?


Entre quatro e cinco semanas (5 a 10 mm). Após esse período ou com
botões com maiores dimensões, o botão germinativo cornual adere-se ao
periósteo do osso frontal, tornando-se uma extensão óssea do crânio com
o centro se comunicando com o seio frontal.

23. A partir de que idade que eu perco o período para realizar a


mochação e tenho que entrar com o procedimento de descorna do
animal?
Animais acima de 60 dias. A partir desse momento, o chifre se fixa ao
crânio e deve ser removido por meio da descorna cirúrgica.

24. A utilização de genética de touros de raças europeias que não


permitem o desenvolvimento de chifre (gene Polled) pode ser uma
alternativa confiável para o meu rebanho?
A utilização de touros com o gene Polled para a progênie nascer sem
chifre não é a melhor opção, pois são poucos touros disponíveis com
essas características e, normalmente, existem outras variáveis a serem
melhoradas no rebanho por meio de planejamento genético e de acasala-
mento, tais como: produção de leite, produção de sólidos do leite, saúde,
fertilidade. Além disso, nem todos os touros terão as duas cópias do gene
mocho e, assim, poderá haver bezerros com chifres (até 50% dos animais,
a depender da presença do gene nas matrizes). No entanto, se o touro
utilizado tiver as duas cópias do gene, a progênie será 100% mocha.

25. O Policresuleno pode ser utilizado para a mochação dos be-


zerros? Se sim, qual a forma de utilização e qual o protocolo devo
utilizar?
Sim, mas a sua aplicação não é simples e, caso ocorra de maneira
inapropriada, o chifre vai nascer e será necessário nova mochação ou
descorna. Deve-se raspar o pelo na região do botão do corno e aplicar
0,2 ml do produto no meio do botão do corno em animais com, aproxi-
madamente, 15 dias de vida. Porém ainda são necessárias mais pesquisas
para uma correta indicação e avaliação do sucesso dessa nova opção de
mochação.

Alta
CRIA 91
92
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

Capítulo 07
BIOSSEGURIDADE
NA CRIA E RECRIA

Alta
CRIA 93
Capítulo 07: Biosseguridade na cria e recria

Rafael Alves de Azevedo - Alta


Sandra Gesteira Coelho - Universidade Federal de Minas Gerais
Viviani Gomes - Universidade de São Paulo

94
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

1. O que é biosseguridade?
Biosseguridade é um conjunto de práticas de manejo que visam à pro-
teção de humanos e animais contra doenças e agentes biológicos prejudi-
ciais, dentre eles bactérias, vírus, fungos ou toxinas. Em outras palavras,
são práticas de manejo adotadas para prevenir a entrada, a disseminação
e saída de agentes patogênicos dentro de um sistema de produção animal.
Vale ressaltar que o risco biológico não pode ser totalmente eliminado
dentro de um complexo sistema de produção, mas deve ser gerenciado
por meio de medidas de controle eficazes.

2. Qual a importância da biosseguridade na cria e recria dos animais?


Os bezerros, nas fases de cria e recria, são altamente vulneráveis às
infecções, devido a uma série de fatores. Eles nascem estressados e aga-
maglobulinêmicos (sem níveis detectáveis de anticorpos antes da ingestão
do colostro materno) e apresentam sistema imune imaturo, o qual precisa
de um período para o seu desenvolvimento pleno, ficando dependentes
da proteção conferida pelo colostro materno durante a fase inicial da vida.
Ao mesmo tempo, entram em contato com uma diversidade de microrga-
nismos da maternidade, berçário e bezerreiro. Assim, as particularidades
do sistema imune e intenso desafio microbiano ao início da vida pode
gerar desbalanço e culminar em doenças. Apesar de escassas, já existem
pesquisas demonstrando que a implementação das medidas de biosseguri-
dade nos primeiros sete dias de vida, por exemplo, diminui os índices de
morbidade no primeiro ano de vida. Já na recria, diversos microrganismos
podem causar desordens à saúde animal e à saúde dos colaboradores. No
geral, as doenças afetam a eficiência alimentar, desempenho, reprodução
e produção, com redução do retorno econômico da atividade.

3. Quais os principais pontos a serem levantados para se iniciar um


programa de biosseguridade na cria e recria dos animais?
O ideal é que a implementação de um programa de biosseguridade
seja pensado na fase de elaboração de projeto/construção das instalações
(maternidade, berçário e bezerreiro etc.). Uma série de fatores precisam
ser considerados e personalizados de acordo com os principais riscos bio-
lógicos dentro do sistema de criação de bezerros. No projeto, deve-se
considerar a construção de barreira física, separando área suja e área
limpa (local onde os animais estão alojados), fluxo e trânsito de pessoas e
veículos entre área suja e área limpa, vestiários e uso de uniformes, com

Alta
CRIA 95
Capítulo 07: Biosseguridade na cria e recria

a previsão de uma lavanderia local (de preferência), local para armazena-


mento de alimentos e suplementos, previsão de pedilúvios em locais estra-
tégicos, estações para lavagem de mãos e botas. Considerar a densidade
populacional (animais por metro quadrado), escolha entre alojamentos
individuais contra os coletivos, separação física entre animais, distancia-
mento entre as baias e alojamentos individuais, tipo de material usado
nas instalações (laváveis ou não), previsão de espaço suficiente para vazio
sanitário, sistemas de ventilação etc. Infelizmente, a maioria das instala-
ções para bezerros são pouco planejadas. Para dar início a um programa
de biosseguridade, é necessário identificar e analisar os fatores de risco
dentro do sistema de criação, para seguir com a elaboração de processos
com o intuito de minimizar o perigo identificado. Essa análise deve ser
feita por um sanitarista. Os processos podem ser registrados na forma de
Protocolos Operacionais Padrão (POP), similar ao usado nas Boas Prá-
ticas de Fabricação (BPF). Em geral, na criação de bezerros, são muito
importantes protocolos direcionados à colostragem, processos de limpeza
e desinfecção dos utensílios (fômites) e instalações, garantir boa ventilação
e qualidade do ar, troca e manejo das camas, qualidade da água ao qual
o sucedâneo é diluído, isolamento dos doentes dentre os animais saudá-
veis. Na recria, os principais pontos são a divisão de lotes, separação de
animais saudáveis e doentes e os processos de limpeza e desinfecção do
ambiente e dos fômites. Vale ressaltar que, tanto a percepção, quanto a
avaliação de risco diferem entre as propriedades, a depender do local,
adaptabilidade, estrutura física e rotina estabelecida na fazenda, progra-
mas previamente implementados etc.

4. Como implementar um programa de biosseguridade e como cons-


cientizar a equipe da importância dele?
A implementação do programa de biosseguridade pode ser feita atra-
vés da abordagem estrutural e operacional. A abordagem estrutural é
incorporada na construção física e manutenção das instalações. Tendo,
cada setor, seu próprio plano de ação com a inserção das práticas de bios-
seguridade. Já a operacional envolve práticas de gestão, a fim de impedir
a introdução e propagação de agentes patogênicos dentro ou fora das
instalações de produção animal. Isso se dá pelo Gerenciamento de Risco
Biológico, dividido em percepção de risco, avaliação de risco, gestão de
risco e comunicação de risco.

96
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

• Percepção de risco: a primeira etapa é identificar o risco, ou seja, o


que o produtor enxerga como um risco para o seu rebanho. Para isso,
utiliza-se um questionário de pré-avaliação, que visa coletar informações
sobre a produção, vacinação, doenças, questões administrativas, a meta
de produção e os tipos de instalação. Assim, obtém-se a percepção do
produtor sobre o risco e o nível de tolerância dele.
• Avaliação de risco: a avaliação de risco é feita, analisando as vias de
transmissão de agentes (aerossol, contato direto, fômites, oral, vetorial e
zoonótica), além da transmissão animal-humano para doenças zoonóti-
cas. Essa etapa é essencial para o convencimento do produtor, uma vez
que, entendendo os meios de transmissão de uma doença, ele passa a
ter mais atenção e controle sobre ela. Nessa etapa, o questionário é so-
bre as práticas de prevenção no local e permite a conscientização sobre
aquelas que impedem ou controlam a doença.
• Gerenciamento de riscos: para serem eficazes, os planos de bios-
seguridade devem basear-se em riscos potenciais e atender às necessi-
dades de cada setor, individualmente. Para serem implementados, com
sucesso, devem ser desenvolvidos com o apoio dos responsáveis pela
sua execução. Os planos de biosseguridade devem incluir uma visão ge-
ral da fazenda, com indicações para entrada de veículos e pessoas, mo-
vimentos de animais, bem como local apropriado de descarte de carcaça
e armazenamento de alimentos. Devem-se designar pontos de acesso
de veículos e equipamentos, para minimizar o contato desses com os
animais.
• Comunicação de risco: diz respeito à parte educativa do plano de
biosseguridade elaborado. O plano de biosseguridade só será eficaz se
todos, na operação, o seguirem o tempo todo. Geralmente, a falta de
conformidade se dá pelo desconhecimento ou incompreensão dos proto-
colos ou das consequências, caso eles sejam descumpridos. Desse modo,
deve-se garantir que todos os envolvidos na implementação das práticas
de prevenção de doenças compreendam a necessidade e a importância
do seu papel na manutenção da saúde e bem-estar das vacas. Para tan-
to, todos devem receber treinamento abrangente, pelo menos uma vez
por ano e, posteriormente, ter acesso aos protocolos estabelecidos. O
cumprimento de boas práticas de biosseguridade por parte do pessoal da
fazenda e dos visitantes é um desafio permanente.

Alta
CRIA 97
Capítulo 07: Biosseguridade na cria e recria

5. Pensando em maternidade, quais os controles de biosseguridade


que devem ser implementados?
A maternidade é uma das áreas de mais alto risco para transmissão
de patógenos para os bezerros. Sendo assim, esse local dever ser de fácil
visualização, um ambiente seco, com boa ventilação e, acima de tudo, lim-
po. As camas devem ser trocadas periodicamente de forma que estejam
sempre limpas e secas. É importante que o piquete ou a baia esteja em
área bem drenada, com a presença de várias maternidades para alocação
de vacas gestantes, realizando-se assim o vazio sanitário para evitar fontes
de contaminação cruzada. Há estudos que relatam que bezerros que ficam
mais de 1 hora na maternidade são expostos a condições de risco e têm
39% mais chance de desenvolver diarreia que aqueles que são retirados da
maternidade o quanto antes. O fornecimento do colostro ao recém-nascido
é essencial como fonte nutricional e de transferência de imunidade passiva,
garantindo assim a saúde animal. A fonte do colostro, ou seja, a vaca do-
adora, deve ter seu status sanitário assegurado, sendo o fornecimento de
colostro de vacas portadoras de doenças infectocontagiosas um grande ris-
co de biosseguridade interna. Recomenda-se monitorar a qualidade micro-
biológica do colostro por meio da contagem padrão em placas (≤ 50.000
UFC/ml) e contagem de coliformes totais (≤ 5.000 UFC/ml).

6. Existe alguma indicação ou comprovação de eficácia do uso do


permanganato de potássio como desinfetante das luvas nos procedi-
mentos de parto auxiliado?
O permanganato de potássio é um oxidante enérgico com ação de-
sinfetante e desodorizante. Ele não penetra profundamente, apresentando
somente ação superficial e, a depender da concentração, pode ter ação
bacteriostática, adstringente, irritante ou cáustica. Existem relatos do uso
de permanganato de potássio para desinfecção tópica de procedimentos e
para limpeza de órgãos prolapsados, entretanto nenhuma comprovação de
que seja ideal para a desinfecção de luvas de parto. O ideal é usar luvas de
palpação e luvas de procedimentos descartáveis, de preferência, estéreis.

7. Pensando nos berçários, quais os controles de biosseguridade que


devem ser implementados?
A área do berçário é uma área “sagrada”, devido ao recebimento dos
bezerros, imediatamente, após o nascimento. Geralmente, são animais em
adaptação pós-natal em relação ao estabelecimento das suas funções fisio-

98
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

lógicas. Assim, deve-se fornecer condições que facilitam a vida das bezer-
ras, como, por exemplo, área aquecida, feno para a formação dos ninhos,
cobrindo completamente os membros das bezerras, termômetro para ava-
liação da temperatura local, de preferência área fechada, isolada e com
controle de acesso de pessoas. Rigoroso protocolo de limpeza e desinfec-
ção dos fômites e instalações, de preferência estrutura física lavável. Rigo-
rosidade no processo de troca de cama. Previsão de estação de lavagem de
mãos, pedilúvios, botas restritas ao setor, vestiários e pedilúvios antes da
entrada no setor. Nessa área, o principal desafio pode ser a diarreia; sendo
assim, o ideal é optar por alojamentos individuais suspensos com separação
física entre as bezerras etc.

8. Como deve ser a higienização de baias e gaiolas para bezerros?


A limpeza e higienização dos bezerreiros devem começar com imple-
mentação de um protocolo que incorpora etapas que devem ser aplica-
das na rotina da fazenda. É importante que os bezerreiros sejam limpos,
adequadamente, antes da aplicação do desinfetante. A lavagem à alta
pressão não deve ser usada devido ao risco de contaminação cruzada do
meio ambiente. Mais importante, proprietários e gerentes das fazendas
devem entender que, embora a lavagem à alta pressão remova detritos,
como material fecal seco, ela não remove, consistentemente, os biofilmes.
A remoção do biofilme é um componente essencial e vital da limpeza ade-
quada. Passos a serem seguidos:
1. remova todo o material de cama: Após a remoção do material da
cama, use vassoura para varrer o restante mais grosso;
2. mergulhe em água: Molhe bem o bezerreiro com água usando uma
mangueira de jardim. Aplique a água começando no ponto mais alto e
termine a lavagem no ponto mais baixo, como em um dreno de piso;
3. limpeza de espuma alcalina: Aplique detergente alcalino (pH 11 a
12), usando equipamento portátil (air compressor) que produza espuma,
sem ar ou com ar. Comece no ponto mais baixo do bezerreiro e termine
no ponto mais alto. Aplique a espuma de detergente alcalino, uniforme-
mente, em todas as superfícies. Use tiras indicadoras de pH para verificar
se o pH do detergente alcalino está correto;
4. deixe as superfícies de molho por, pelo menos, 10 a 15 minutos.
Não permita que o detergente alcalino espumante seque. Se necessário,
coloque mais espuma.
5. enxágue: Enxágue com muita água, usando mangueira de jardim, do

Alta
CRIA 99
Capítulo 07: Biosseguridade na cria e recria

ponto mais alto ao ponto mais baixo do bezerreiro;


6. limpeza com espuma ácida: Aplique espuma de detergente ácido
(pH 3 a 4) usando equipamento portátil (air compressor) que produza
espuma. Comece no ponto mais baixo do bezerreiro e termine no ponto
mais alto. Aplique a espuma de detergente ácido, uniformemente, em
todas as superfícies. Use tiras indicadoras de pH para verificar se o pH do
detergente está correto;
7. mais uma vez, deixe tudo de molho por, pelo menos, 10 a 15 minu-
tos. Não permita que a espuma de detergente ácido seque;
8. enxágue: Enxágue, abundantemente, com água, usando mangueira
de jardim, indo do ponto mais alto ao ponto mais baixo da instalação e
das gaiolas ou baias;
9. secar: Deixe o bezerreiro secar, completamente, antes de aplicar o
desinfetante;
10. desinfecção: 12 a 24 horas antes da entrada dos animais, desinfe-
te o bezerreiro com solução de 250 ppm de dióxido de cloro, passando do
ponto mais alto ao ponto mais baixo. O desinfetante deve ficar em con-
tato com a instalação por 5 a 10 minutos. Um pulverizador de mão com
vedações de borracha ou um aplicador de espuma sem ar pode ser usado
para aplicar o dióxido de cloro. É vital que a concentração do dióxido de
cloro esteja correta. Ao usar dióxido de cloro em concentrações supe-
riores a 200 ppm, use óculos de proteção, máscara respiratória, luvas e
macacões apropriados para trabalhos de desinfecção.

9. Preciso de vazio sanitário em baias e gaiolas de bezerros?


Quando seguimos todo o protocolo de lavagem indicado para baias e
gaiolas, não existe a necessidade de vazio sanitário. O mais importante é
desinfetar o bezerreiro com solução de 250 ppm de dióxido de cloro, pas-
sando do ponto mais alto ao ponto mais baixo, 12 a 24 horas antes da en-
trada dos animais. O desinfetante deve ficar em contato com a instalação
por 5 a 10 minutos. Um pulverizador de mão com vedações de borracha
ou um aplicador de espuma sem ar pode ser usado para aplicar o dióxido
de cloro. É vital que a concentração do dióxido de cloro esteja correta.
Ao usar dióxido de cloro em concentrações superiores a 200 ppm, use
óculos de proteção, máscara respiratória, luvas e macacões apropriados
para trabalhos de desinfecção.

100
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

10. Em bezerreiros argentinos ou tropicais, quais os controles de bios-


seguridade que devem ser implementados?
Para bezerreiros argentinos, tem-se a vantagem de serem arejados e
terem bastante incidência de sol, o que reduz a multiplicação de micror-
ganismos, principalmente, se a estrutura for construída na direção Nor-
te-Sul. Além disso, por ser um sistema geralmente individual, não existe
contato direto entre as bezerras, minimizando a transmissão de doenças
e proporcionando o acompanhamento clínico de cada animal de maneira
individual. Entretanto, é necessário proceder à retirada das fezes e trocar a
cama. Infelizmente, os desinfetantes possuem pouca eficácia sobre a maté-
ria orgânica (fezes, cama, terra e areia). Nesse caso, o vazio sanitário deve
ser realizado. Recomenda-se o vazio sanitário de, pelo menos, sete dias,
antes de colocar outro animal no local. Quando ocorre a troca do animal,
é fortemente recomendada a lavagem e desinfecção da estrutura (casinhas),
antes da entrada do próximo bezerro. Ainda, é importante estabelecer uma
rotina de limpeza e desinfecção ao menos semanal dos fômites (utensílios),
cochos e bebedouros.

11. Em bezerreiros argentinos ou tropicais, qual o tempo necessário


de vazio sanitário?
Não temos uma resposta exata para essa pergunta, uma vez que esse
tipo de bezerreiro pode apresentar grau diferente de cobertura vegetal e
matéria orgânica. O bezerreiro que está com pouca cobertura vegetal e alta
incidência de raios solares no solo irá precisar de menos tempo de vazio
sanitário que um com maior cobertura vegetal.

12. A pulverização de desinfetantes em chão “batido”, ou seja, sem


ser de concreto, possui eficiência?
Os desinfetantes são ineficazes sobre matéria orgânica. Nesse caso,
recomenda-se planejar uma rotina para remoção de fezes e troca cama.
Garantir insolação, fazer vazio sanitário de pelo menos sete dias. Pode-se
usar a desinfecção com a cal (pó) entre a saída e entrada das bezerras.
Ressalta-se que a cal deve ser removida, antes da introdução das bezerras
no sistema de criação, porque é extremamente irritante para as mucosas.
Há trabalhos voltados à avicultura mostrando o poder bactericida e virucida
da cal (óxido de cálcio), um deles foi utilizado em diferentes processos de
desinfecção da casca do ovo, aço inoxidável, borracha e plástico, inativando
em três minutos o vírus da Doença de Newcastle, vírus da Influenza Aviária,

Alta
CRIA 101
Capítulo 07: Biosseguridade na cria e recria

Doença Infeciosa da Bursa (IBDV) e infecções causadas por Pseudomonas


aeruginosa, Salmonela Infantis e Escherichia coli.

13. No caso de baias coletivas, com serragem, para animais em aleita-


mento, qual é o manejo correto? Retirar tudo e colocar a cama nova?
Ou retirar excesso de umidade? Como proceder?
Quando temos baias coletivas com números pequenos de animais, no
máximo 5 animais por grupo, não precisamos retirar toda a cama dia-
riamente. O manejo mais correto é que os animais entrem com uma boa
disponibilidade de cama nos lotes, mínimo de 20 cm, respeitando 2 a 2,5
m2 por animal. De tempos em tempos, vamos repondo mais cama, e reti-
rando aquelas partes mais úmidas ou sujas. Em casos de surtos de algumas
doenças gastrointestinais ou respiratórias, realizar a troca de toda a cama e
desinfecção do ambiente, antes de retornar com os animais.

14. Como deve ser a higienização correta dos utensílios?


Estabeleça protocolos de limpeza e rotina para equipamentos e utensí-
lios de alimentação. Como a formação de bio¬filmes é comum, verifique,
periodicamente, a limpeza do equipamento, realizando testes de cultura
bacteriana. Lave, diariamente, os baldes de fornecimento de água, com sa-
bão/detergente e avalie a necessidade de higienização do balde de concen-
trado. É muito importante limpar e desinfetar os utensílios de fornecimento
de dieta líquida logo após o uso, bem como tomar medidas para evitar a
recontaminação antes do próximo fornecimento. É preciso que alguém seja
responsável pela limpeza. Monte protocolos que indicam os procedimentos
a serem usados e ¬fixe-os na área de manejo:
1. desmonte os baldes com bico e as mamadeiras;
2. enxágue todos os utensílios por dentro e por fora em água fria ou
morna (32°C). O uso de água quente durante o enxágue torna as proteínas
do leite presas nas superfícies e cria bio¬filme para a proliferação bacteria-
na. Lembre-se de que apenas “enxaguar” e armazenar os utensílios não é
suficiente;
3. mergulhe os bicos, mamadeiras, sondas, baldes em umas das duas
soluções:
• detergente alcalino clorado (pH de 11 a 12) acima de 60° C, por 30
minutos;
• uma xícara de água sanitária em 18,5 l de água; se tiver bezerros com
diarreia, use 1,5 xícara de água sanitária para 18,5 l de água. Coloque os

102
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

bicos de molho na solução por 5 minutos e preencha as mamadeiras e os


baldes com essa solução. Certi¬fique-se de que a temperatura da água não
caia abaixo de 49°C.
4. lave todos os utensílios com escovas, mantendo a temperatura en-
tre 60 e 62°C; enxágue com água morna (38°C) com 50 ppm de dióxi-
do de cloro (ótimo desinfetante contra Cryptosporidium). Esse enxágue é
para eliminar os possíveis sólidos de leite remanescentes nos recipientes. A
maioria das bactérias não crescerá em condições muito ácidas. Os desinfe-
tantes ácidos para limpeza manual de tanques de leite também funcionam
bem nessa aplicação;
5. após a limpeza e desinfecção, permita que todos os recipientes sejam
secos ao ar. Evite empilhar baldes (um dentro do outro) até secar completa-
mente. As bactérias podem crescer rapidamente onde há umidade, ausên-
cia de luz solar e baixa troca de ar. Por esse motivo, os baldes recém-lavados
não devem ser colocados de cabeça para baixo em um piso de concreto;
6. duas horas antes de usar os utensílios, borrife solução de 50 ppm de
dióxido de cloro;
7. duas vezes por semana, lave os utensílios com detergente ácido (pH
de 3 a 4).

15. Tem como avaliar a limpeza dos utensílios como baldes, bico de
mamadeira?
Para uma boa avaliação, primeiro é preciso verificar se a fazenda possui
um bom protocolo de limpeza dos utensílios e se o protocolo está sendo
seguido. Caso o protocolo da resposta acima esteja sendo seguido, e você
ainda quer se certificar de que a desinfecção foi realizada, será necessário
realizar swabs e enviar o material para laboratório para contagem padrão
em placas. Algumas indústrias usam um medidor de trifosfato de adenosina
(ATP) para essa finalidade. Esse dispositivo utiliza um luminómetro para
medir a luz de uma enzima, luciferase, fornecendo uma medida direta de
organismos vivos, tais como bactérias numa superfície.

16. Quais desinfetantes agem especificadamente sobre os principais


agentes causadores de doenças em bezerros?
Em relação aos principais agentes causadores tanto da diarreia neonatal
como das doenças respiratórias, tem-se observado o uso comum de algu-
mas opções de princípios ativos com potencial de eliminação à base de
aldeídos (glutaraldeídos, formaldeídos), hipocloritos (de sódio, de cálcio),

Alta
CRIA 103
Capítulo 07: Biosseguridade na cria e recria

álcalis (hidróxido de sódio, hidróxido de amônia), e peróxidos. Para o Cryp-


tosporidium spp., tem-se direcionado para o desinfetante à base de dióxido
de cloro, e para os agentes virais respiratórios, a mistura de compostos de
sulfato hidrogenado de potássio, dodecil benzeno sulfonato de sódio, mo-
nopersulfato de potássio, sulfato de potássio e ácido sulfâmico.

17. Existe comprovação científica da ação do dióxido de cloro contra


o Cryptosporidium?
Existe sim. Alguns trabalhos mostram que o dióxido de cloro é um desin-
fetante eficaz para o Cryptosporidium sp., capaz de inativar 2,1 unidades
log10 a 22°C. Mas também existem alguns investigadores que permane-
cem cautelosos quanto a utilizar esse desinfetante para inativar protozoá-
rios. Em parte, a disparidade de resultados científicos pode ser atribuída
aos diferentes métodos analíticos que têm sido utilizados para medir a via-
bilidade dos parasitas e as concentrações de dióxido de cloro utilizadas. O
pesquisador Dr. Donald Sockett, microbiologista/epidemiologista do Labo-
ratório de Diagnóstico Veterinário da Universidade de Wisconsin, Estados
Unidos, recomenda o uso do dióxido de cloro para desinfecção de utensílios
e instalações para controle do Cryptosporidium.

18. Existe algum trabalho científico demonstrando eficácia da cal


como bactericida ou bacteriostático?
Sim, as substâncias alcalinas têm sido utilizadas como agentes desinfe-
tantes desde a antiguidade. Mas, antes de sua utilização, é preciso a remo-
ção da matéria orgânica, limpeza com água, detergente e enxágue.

19. Qual protocolo é recomendado para desinfecção e limpeza de


alojamento de madeira?
Seguir com o mesmo protocolo para baias e gaiolas apresentadas neste
capítulo. Porém, materiais de madeira não são indicados para instalações
de bezerros, pois a sua limpeza e desinfecção não são eficientes.

20. Qual produto ou base é ideal para pedilúvio de colaboradores na


entrada dos bezerreiros?
Os princípios ativos mais eficazes para o pedilúvio são aqueles à base
de glutaraldeído e fenol. Ele deve ser instalado na entrada dos bezerreiros e
alguns lugares chave na propriedade, no caminho de entrada ou retorno da
sala de ordenha, por exemplo.

104
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

21. Pedilúvio de formol preparado, diariamente, é efetivo para acesso


dos colaboradores ao saírem do berçário?
O formaldeído faz parte de compostos químicos do grupo aldeído. Nesse
sentido, conforme o Center for Food Security and Public Health (2020),
ele teria ação contra inúmeros agentes patogênicos e poderia ser efetivo,
todavia deve-se levar em conta suas propriedades, ou seja, é uma substância
que pode causar alergias aos colaboradores quando o manipulam e com po-
tencial carcinogênico, ressaltando-se a necessidade do uso de equipamentos
de proteção individual (EPI’s) como óculos, luvas, roupas de manga longa e
botas ao manipular o produto.

22. Pensando na qualidade do ar de bezerreiros em galpões, com


quais pontos na biosseguridade tenho que me preocupar?
Os principais pontos a serem levados em conta são a ventilação, quali-
dade e umidade relativa do ar e odor amoniacal. Esses podem ser corrigidos
com o uso de ventiladores e quebra-ventos. A ventilação pode ser avaliada
com aparelho digital anemômetro portátil, cuja faixa média preconizada é
de 0,50 m por segundo. A qualidade do ar pode ser analisada através da
cultura microbiológica aleatória, alocando-se as placas no galpão, abertas
e expostas por, pelo menos, 15 minutos em contato com o ar. Ressalta-se
a importância da limpeza de dejetos para a diminuição do odor amoniacal.

23. Qual o melhor produto para desinfetar eficientemente a agulha


entre aplicações de produtos que são aplicados em um lote?
Não há estudos científicos que comprovam a eficácia da desinfecção
de agulhas com a utilização de desinfetantes comerciais. No caso de rea-
proveitamento, deve-se realizar a esterilização desse material, utilizando-se
uma autoclave. Em termos práticos, a campo, recomenda-se o descarte de
agulhas após o uso em um animal, evitando-se, assim, o carreamento de
doenças de um animal para outro.

24. Como podemos fazer um controle de moscas eficiente nos bezer-


reiros? Podemos pulverizar as bezerras? E por quanto tempo? Qual
produto mais recomendado?
A reprodução das moscas ocorre em matéria orgânica úmida, camas
úmidas, esterco, restos de ração, leite e sucedâneo. Por isso, manter todas
as áreas livres de matéria orgânica é o primeiro passo para prevenção e
controle das moscas. A limpeza semanal da matéria orgânica úmida pode

Alta
CRIA 105
Capítulo 07: Biosseguridade na cria e recria

perturbar o ciclo de vida da mosca, removendo ovos, larvas, ou pupas,


antes de se tornarem moscas adultas. Armadilhas e fitas adesivas auxiliam
o controle das moscas. Em níveis moderados e elevados de infestação de
moscas, é necessário o uso de inseticidas. Alguns podem ser utilizados em
bezerros. Nesses casos, leia e siga as instruções do rótulo.

25. A presença de outros animais, no mesmo ambiente que as bezer-


ras, é contra a biosseguridade? Quais os problemas de se ter cachor-
ros, gatos, galinhas, por exemplo, nesses ambientes?
A presença de outras espécies de animais é considerada como fator de
risco para introdução e disseminação de novos agentes patogênicos num
sistema de criação, sejam eles conhecidos ou não, e potenciais fontes de
surtos por doenças desconhecidas. Nesse sentido, é importante controlar
o acesso desses animais aos animais da propriedade, implantar medidas de
biosseguridade, como separar animais acometidos por doenças dos indiví-
duos saudáveis, isolar a área de acesso de galinhas, cães e gatos, evitando,
principalmente, que esta seja próximo aos bezerreiros e maternidade.

26. Qual a qualidade de água ideal em um bezerreiro?


• Total de sólidos dissolvidos (TSD): < 1.000 ppm;
• concentração de sódio na água usada para reconstituir o substituto do
leite: 100 ppm;
• contagem padrão em placa: < 1.000 UFC/mL;
• contagem de coliformes: < 1 UFC/ml;
• faixa de pH: 6,0 a 8,5.

27. Posso clorar a água fornecida às bezerras e novilhas? Se sim, qual


a diluição?
Não temos valores de referência para o uso de cloro na água fornecida
a bezerras e novilhas. Para animais adultos, estudos, na Europa, recomen-
dam que a água não contenha mais que 250 mg/l de cloro.

106
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

Capítulo 08
VACINAÇÃO NA
CRIA E RECRIA

Alta
CRIA 107
Capítulo 08: Vacinação na cria e recria

Rodrigo Otávio Silveira Silva - Universidade Federal de Minas Gerais


Viviani Gomes - Universidade de São Paulo

108
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

1. Quais vacinas são obrigatórias no Brasil, durante a fase de cria e


recria?
Atualmente, apenas a vacinação contra Brucelose e Febre Aftosa é
obrigatória por lei em quase todos os estados brasileiros, salvo aqueles
listados como “Livres de Febre Aftosa sem vacinação” e Santa Catari-
na, onde a vacinação contra Brucelose não ocorre de forma regular. Em
alguns estados, a vacinação contra Raiva também pode ser exigida pelo
órgão estadual de defesa sanitária.

2. Existe algum calendário vacinal básico para a cria e recria?


Existem diferenças marcantes no calendário sanitário de cada proprie-
dades, devido às diferentes áreas geográficas e ao perfil microbiológico
aos quais os animais são desafiados. Porém, algumas vacinas podem ser
consideradas básicas. Além da vacinação contra Brucelose, obrigatória
de acordo com a legislação atual em quase todo o território brasileiro, as
vacinas contra as Clostridioses, Raiva e doenças respiratórias são ampla-
mente utilizadas nessas categorias de animais.

3. Como devo montar um calendário vacinal da cria e recria da mi-


nha fazenda? Quais pontos observar previamente?
A elaboração do calendário vacinal e o retorno no investimento de va-
cinas pode ser otimizado com a disponibilização de informações e dados
sobre o rebanho e manejo. Algumas dessas informações podem ser des-
tacadas. Primeiro, o conhecimento do manejo das diferentes categorias
dentro da propriedade é essencial para que permita a inclusão das vaci-
nações nas rotinas. A anotação das doenças que acometem os animais
(doenças respiratórias, doenças gastrointestinais, tristeza parasitária etc.)
e pico de ocorrência permite ainda que o impacto das diferentes doenças
nessas categorias seja avaliado, elucidando a necessidade ou não da adi-
ção de vacinas específicas; o melhor momento para iniciar a imunização;
ou mesmo a inclusão de uma revacinação tardia na recria, algo comum,
por exemplo, com doenças respiratórias e Salmonelose. Informações es-
pecíficas relacionadas ao diagnóstico laboratorial também podem ser de
grande auxílio na escolha da composição das vacinas a serem utilizadas.

Alta
CRIA 109
Capítulo 08: Vacinação na cria e recria

4. Como iniciar um protocolo imediato de vacina sem diagnóstico de


agente causador das enfermidades?
O diagnóstico laboratorial é sempre desejável para confirmação ou mo-
nitorar agentes causadores, o que pode influenciar, ao mesmo tempo, tanto
nas medidas de manejo quanto na composição e aplicação das vacinas es-
colhidas. Porém, é possível iniciar um protocolo baseado na principal idade
afetada, o que auxilia na escolha de quando iniciar a vacinação, além da
escolha da formulação com base nos principais patógenos/microrganismos
detectados para a região.

5. Quais vacinas não devem ser aplicadas no mesmo dia?


Infelizmente, sabe-se pouco com relação a possível interferência entre
vacinas aplicadas simultaneamente. Até o momento, sabemos que a vacina
contra Brucelose interfere, negativamente, na resposta sorológica das va-
cinas contra Clostridioses. Dessa forma, recomenda-se que vacinas vivas,
sobretudo a vacina contra Brucelose, seja aplicada, isoladamente, em mo-
mento único. O intervalo necessário para a aplicação de uma nova vacina
também é desconhecido, mas tem sido recomendada uma distância de três
dias após a aplicação da vacina contra Brucelose.

6. Existe um limite máximo de vacinas que podem ser aplicadas no


mesmo dia?
Não há embasamento científico, até o momento, que permita afirmar o
número de vacinas que podem ser aplicadas no mesmo dia. Recomenda-se,
empiricamente, espaçar as vacinas com intervalos de, pelo menos, três
dias. Recomenda-se ainda que vacinas vivas (como a vacina contra Brucelo-
se) e vacinas mortas (como as vacinas contra Leptospiroses, Clostridioses e
diarreia neonatal) sejam aplicadas, separadamente, devido ao antagonismo
entre as respostas induzidas pelas vacinas. Em vacas, recomenda-se somar
o número de bactérias Gram-negativas nas formulações, o que não pode
exceder três diferentes microrganismos desses grupos, devido ao maior ris-
co de reação adversa indesejável. Leptospira spp. (apesar de ser uma bac-
téria Gram-negativa) não entra no cálculo.

7. Como deve ser o armazenamento das vacinas na minha fazenda?


Todas devem ser armazenadas em geladeira?
Em geral, deve-se ler a bula dos produtos comerciais, pois o armaze-
namento depende, principalmente, da composição antigênica da vacina.

110
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

Por exemplo, vacinas contendo o vírus vivo e modificadas precisam ser


armazenadas sob refrigeração rigorosa ao redor de 4°C., caso contrário, o
vírus poderá morrer e prejudicar a resposta imune induzida pela vacina. Em
geral, as vacinas inativadas (com microrganismos mortos) também devem
ser mantidas sob refrigeração para evitar a deterioração da formulação.
Portanto, é muito importante atentar-se para a idade da geladeira e adicio-
nar um termômetro de máxima e mínima no seu interior para controle de
temperatura, ao menos, 1 vez ao dia.

8. Durante o momento da vacinação, as vacinas devem ficar dentro de


caixa de isopor com gelo?
O ideal é que a vacina seja mantida entre 2 e 8°C, ou seja, dentro da
caixa de isopor pequena com, ao menos, um gelo reciclável.

9. Em que região do animal as vacinas devem ser aplicadas?


O local de aplicação da vacina depende da formulação e indicação do
fabricante. Em geral, existem vacinas intranasais e injetáveis. O local de
escolha para aplicação das vacinas injetáveis é a tábua do pescoço.

10. Pensando nas vacinas mais utilizadas na cria e recria, elas podem
dar algum efeito colateral, como febre?
As formulações (vacinas) precisam estimular as células que participam
da resposta inflamatória, para a indução da imunidade adaptativa, a qual é
o alvo das vacinas. A resposta inflamatória, sendo assim, é desejada, o que
desencadeia uma série de efeitos colaterais como secreção nasal serosa (cla-
ra e líquida), lacrimejamento e aumento de temperatura corpórea. Porém,
o que não desejamos é que a vacina induza os efeitos colaterais indesejáveis
manifestada principalmente por reações alérgicas e febre alta.

11. Quais as diferenças entre vacinas vivas e vacinas mortas? Existem


outros tipos além dessas? O que considerar na hora da escolha?
• Vacinas vivas: possuem microrganismos vivos, porém atenuados com
a perda do seu potencial em causar a doença em si;
• vacinas mortas: formadas por microrganismos ou toxinas inativados ou
subunidade desses.
Atualmente, a grande maioria das vacinas disponíveis no mercado bra-
sileiro são vacinas mortas/inativadas. A escolha entre antígenos (microrga-
nismos) vivos ou inativados (mortos) deve-se basear muito mais na adequa-

Alta
CRIA 111
Capítulo 08: Vacinação na cria e recria

ção da vacina em si (momento ideal de aplicação, categoria a ser vacinada)


com o manejo, algo essencial ao se estabelecer o calendário vacinal de cada
propriedade. Sempre verificar a bula do produto. Em geral, não é reco-
mendado o uso de vacinas vivas e injetáveis em bezerros com idade inferior
a três meses e nem em animais doentes, devido ao maior risco de efeitos
adversos indesejáveis.

12. Existem vacinas eficazes para serem aplicadas nos bezerros para
prevenção de diarreia, além das vacinas utilizadas nas vacas e novi-
lhas no pré-parto?
A melhor estratégia para prevenir a diarreia neonatal é a vacinação ma-
terna no pré-parto ao redor da secagem e o manejo do colostro. O pico de
ocorrência das diarreias é muito precoce, não havendo tempo hábil entre a
vacinação e o desafio para a indução da produção de anticorpos protetores.
O ideal é que os animais recebam duas doses das vacinas, com intervalo ide-
al de 30 dias, antes do pico de surto da doença. Ainda se deve ressaltar que
os anticorpos maternos oriundos do colostro bloqueiam a resposta imune
ativa induzida pelas vacinas, principalmente, no 1º mês de vida.

13. Em casos de Escherichia coli. K99 nos primeiros sete dias de


vida, mesmo com a vacinação das mães no pré-parto, é recomendada
a vacinação dos bezerros?
O ideal é vacinar a vaca no pré-parto e realizar a colostragem dos be-
zerros, além de bom protocolo de limpeza e desinfecção da maternidade,
berçário e bezerreiro com o objetivo de reduzir a carga de microrganismos
ambientais, principalmente Escherichia coli. Ver complemento na resposta
da pergunta 12.

14. Em casos de salmonelose em bezerros com menos de 20 dias de


idade, mesmo com a vacinação das mães no pré-parto e desinfecção
de utensílios e baias, é recomendada a vacinação dos bezerros?
Os bezerros apresentam fraca resposta vacinal, especialmente, ao 1º
mês de vida. Esse fenômeno ocorre pela influência dos anticorpos colostrais
maternos sobre a resposta imune adaptativa dos bezerros induzida pela va-
cinação. Ou seja, não observamos aumento dos títulos e/ou concentrações
de anticorpos após aplicação de uma ou até mesmo duas doses das vacinas
injetáveis. O ideal é vacinar as vacas no pré-parto e reforçar o manejo de
colostro, associado a um bom protocolo de limpeza e desinfecção de uten-

112
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

sílios em geral (bicos, mamadeiras, baldes, bebedouros e instalações). Lem-


brar que Salmonella spp. é comumente isolada do leite de descarte, sendo
necessária a pasteurização para diminuir a carga de patógenos.

15. A vacinação contra clostridioses durante a fase de aleitamento é


eficaz para prevenir casos da doença? Sobretudo casos agudos por
Clostridium perfringens? Se sim, quando fazer a primeira dose da
vacina?
A vacinação materna deve ser feita no pré-parto para melhorar a quali-
dade do colostro, o que é a prioridade número 1 em termos de imunização
contra as clostridioses em bezerros. Em seguida, recomenda-se a vacinação
dos bezerros a partir dos três meses de idade com duas doses intervaladas
de 21 a 30 dias.

16. Se a minha fazenda fica alguns anos sem encontrar animais, per-
sistentemente, infectados (PI) para diarreia viral bovina (BVD) respei-
to de teste de PI, posso suspender a vacinação do meu rebanho?
O controle da BVD no rebanho depende de três pilares:
1. detecção e confirmação do agente etiológico com triagem e descarte
dos animais PI;
2. programa de vacinação;
3. programa de biosseguridade.
Sendo assim, a suspensão da vacinação depende da implementação e
amadurecimento de um programa de biosseguridade. Em geral, recomen-
damos manter a vacinação com formulações contendo o vírus inativado
(morto), com menor risco biológico em relação à introdução de uma vacina
contendo o vírus vivo em um rebanho livre do vírus da BVD.

17. Existe alguma vacina para os bezerros para ajudar na prevenção


de doenças respiratórias?
Sim. Para bezerros recém-nascidos, podem ser utilizadas as vacinas in-
tranasais. É recomendada ainda a vacinação das fêmeas prenhes na pro-
priedade para que ocorra a transferência de imunidade passiva colostral
para os bezerros neonatos. Já as vacinas parenterais podem ser aplicadas
em bezerros com idade entre 60 e 90 dias, com duas doses intervaladas de
21 a 30 dias. A idade de início da primeira dose, nesse caso, deve anteci-
par o pico de ocorrência da doença nessa categoria animal, algo que varia
fortemente de acordo com a propriedade. Deve-se enfatizar ainda que, em

Alta
CRIA 113
Capítulo 08: Vacinação na cria e recria

propriedades com ocorrência marcante de doença respiratória, fatores pre-


disponentes (fatores de risco) devem ser sempre avaliados em conjunto com
a implementação da vacinação, já que a última, sozinha, não é capaz de
controlar completamente a ocorrência dos quadros.

18. Qual o melhor protocolo para trabalhar com as vacinas intrana-


sais para doenças respiratórias?
As vacinas intranasais sofrem pouca interferência da imunidade pas-
siva (colostral) dos bezerros. Com isso, recomenda-se a vacinação nos
primeiros dias de vida dos bezerros, sendo o momento ideal entre 1 e
sete dias de idade, após a organização do sistema imune dos bezerros
pós-nascimento.

19. Há necessidade de reforço da Inforce® com 30 dias de idade,


em rebanhos com desafios de casos de doenças respiratórias após
30 dias de idade?
Sim, a revacinação com a vacina intranasal pode ser benéfica, pois os
estudos demonstram que a duração da imunidade induzida pelas vacinas
intranasais, geralmente, é curta. O ideal é revacinar os bezerros 21 dias
após a 1ª dose. Deve-se enfatizar, porém, que nenhuma vacina respira-
tória consegue reduzir fortemente os casos clínicos e subclínicos em situ-
ações em que fatores de riscos continuam presentes e não são corrigidos
em paralelo com um bom programa de vacinação. Nesse contexto, des-
tacam-se fatores de risco ambientais, como acúmulo de matéria orgâni-
ca, mudanças bruscas de temperatura, ocorrência de outras doenças que,
indiretamente, facilitam a ocorrência de quadros respiratórios, sobretudo
diarreia e tristeza parasitária, e correta transferência de imunidade pas-
siva pela vacinação das fêmeas prenhes e subsequente colostragem dos
bezerros.

20. Qual a eficiência das vacinas existentes no Brasil para prevenir


doenças respiratórias e qual o período ideal para vacinar os bezerros?
Existem poucos estudos sobre a eficácia das vacinas intranasais e in-
jetáveis no Brasil. Por princípio, as vacinas intranasais são mais eficazes
em bezerros no 1º mês de vida, pela menor interferência dos anticorpos
maternais na indução da imunidade dos bezerros. No momento, existem
duas vacinas intranasais no Brasil, o que aumenta a disponibilidade e op-
ções. As vacinas respiratórias injetáveis aplicadas em bezerros antes dos

114
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

três meses de vida, em geral, têm baixa eficácia. Idealmente, a vacinação


deve fazer parte de um programa racional de prevenção e controle de
doenças respiratórias e que deve incluir ainda a avaliação de fatores am-
bientais, da colostragem e prevenção de doenças que contribuem para a
ocorrência de doenças respiratórias, diarreia, tristeza parasitária bovina e
onfaloflebites.

21. Existem boas vacinas para doenças respiratórias contra bacté-


rias causadoras de doenças respiratórias? Quais seriam as mais indi-
cadas e em que momento aplicar?
A grande questão quanto às vacinas contra bactérias causadoras de do-
enças respiratórias é a expectativa que se coloca nelas. Esses imunógenos
são importantes dentro de um plano de controle da doença respiratória e
auxiliam na redução da gravidade dos quadros clínicos, aumentam a res-
posta aos tratamentos. Porém, a aplicação da vacina de forma isolada tem
pouca capacidade de reduzir a ocorrência dos quadros de doença respira-
tória, sendo essencial que a imunização seja associada a outras medidas
de controle. Atualmente, os principais patógenos bacterianos envolvidos
nesses quadros são: Pasteurella multocida, Mannheimia haemolytica e,
em menor frequência, Histophilus somni. Deve-se lembrar, porém, que
outros patógenos, inclusive algumas sorovariedades de Salmonella spp.,
também podem causar quadros respiratórios.

22. As vacinas comerciais para paratifo são benéficas para auxiliar


no controle de doenças respiratórias na fase de aleitamento?
A ocorrência de doença respiratória por Salmonella spp. em animais
na fase de aleitamento é menos comum, sendo mais frequente na recria.
Nesse contexto, as vacinas podem auxiliar no controle dos quadros, prin-
cipalmente, se a sorovariedade causadora da doença no rebanho encon-
tra-se presente na vacina utilizada. Já na fase de aleitamento, as vacinas
contra paratifo podem auxiliar nos quadros de diarreia causados por Sal-
monella spp., nesses animais, algo relativamente frequente em alguns
rebanhos.

23. A vacina Tifopasteurina é recomendada utilizar a partir dos 15


dias de idade. Isso está certo? O bezerro responderia a essa vacina?
Atualmente, recomenda-se a aplicação em animais com idade superior
a 60 dias, preferencialmente, a partir dos 90 dias de vida. Caso contrá-

Alta
CRIA 115
Capítulo 08: Vacinação na cria e recria

rio, a vacina poderá sofrer interferência da imunidade passiva (colostral).


Deve-se enfatizar ainda que quanto mais novo é o bezerro, pior é a capa-
cidade de resposta imunológica às imunizações.

24. É viável vacinar os bezerros machos que ficam instalados junto


com as fêmeas?
A criação de machos pode representar um risco biológico para as fême-
as, caso as medidas de prevenção, como a vacinação e colostragem, não
sejam realizadas por conta de custos, mão de obra e manejo. Os machos
não vacinados têm maior risco de infecção e potencial para a transmissão
de patógenos/microrganismos para as fêmeas, principalmente, se criados
no mesmo alojamento ou com a ausência de separação física entre os lo-
tes. O produtor deve calcular o custo de produção dos machos, incluindo o
mesmo calendário sanitário das fêmeas, se a criação for na mesma área e
instalação.

25. As vacinas contra ceratoconjuntivite são eficazes? Qual a estraté-


gia a ser utilizada?
As vacinas contra ceratoconjuntivite são indicadas mediantes surtos da
doença. Em geral, as formulações são bem inflamatórias e devem ser evita-
das na ausência de risco ou desafio no sistema de criação de bezerros. Por
outro lado, é uma importante ferramenta na prevenção da ceratoconjun-
tivite infecciosa, desde que atrelada ao controle de moscas, principal fator
associado à ocorrência e transmissão da doença.

26. Pensando na recria, quais vacinas reprodutivas são imprescindí-


veis no calendário vacinal?
Estudos sugerem que IBR, BVD e Leptospira (sobretudo a sorovariedade
Hardjo) circulam na grande maioria dos rebanhos de diversos estados bra-
sileiros, sendo, por isso, comumente, incluídas no calendário vacinal, com
pelo menos a aplicação de duas doses na fase de novilha. A 2ª dose da
vacina deve anteceder a inseminação artificial dos animais em, pelo menos,
30 dias.

116
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

Capítulo 09

DOENÇAS GASTROINTESTINAIS

Alta
CRIA 117
Capítulo 09: Vacinação na cria e recria

José Azael Zambrano - Rehagro


Rodrigo Melo Meneses - Universidade Federal de Minas Gerais
Sandra Gesteira Coelho - Universidade Federal de Minas Gerais
Viviani Gomes - Universidade de São Paulo

118
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

1. Como classificar as fezes para caracterizar que o bezerro possui ou


não diarreia?
A definição de diarreia é: ocorrência de três ou mais evacuações amoleci-
das ou líquidas nas últimas 24 horas, acompanhada ou não de quadro febril.
Para avaliação, pode ser utilizado o seguinte escore fecal:

Escore Descrição
1 Fezes normais (bolo fecal firme e bem formado)
2 Fezes macias (tendendo a ficar pastosa)
3 Fezes pastosas, tendendo a líquidas (diarreia moderada)
4 Fezes aquosas (diarreia grave e fezes líquidas)
Se o escore fecal for três ou quatro, o animal está com diarreia

2. Quais as taxas aceitáveis de morbidade para diarreia na cria e re-


cria?
Segundo o Padrão Ouro Nacional de Criação de Bezerras Leiteiras, as
taxas aceitáveis de diarreia são:
Idade Taxa
Fase de aleitamento < 25%
Fase de pós-aleitamento até 120 dias de idade < 2%
121 a 180 dias de idade de idade < 1%

3. Quais os principais agentes de diarreia em bezerros leiteiros?


Cryptosporidium spp., Rotavírus, Salmonella spp., Eimeria spp., Es-
cherichia coli, Coronavírus e Giardia spp., além da associação entre diferen-
tes agentes infecciosos. A associação mais comum é entre Cryptosporidium
spp. e Rotavírus.

Alta
CRIA 119
Capítulo 09: Vacinação na cria e recria

4. Qual a idade mais comum de ação dos principais agentes de diar-


reia em bezerros?

Categoria Patógeno
Antes de 5 dias de idade Escherichia coli
Rotavírus, Coronavírus, Salmonella spp e
5 a 14 dias de idade
Cryptosporidium spp.
> 14 dias de idade ou Escherichia coli, Salmonella spp, Eimeria spp
desaleitadas e Giardia spp.

5. Independente do agente que causou a diarreia, a duração da diar-


reia será em torno de três dias?
Usualmente, três dias é o período mínimo de diarreia neonatal quando
um animal é acometido por algum agente infeccioso; no entanto, observa-
-se, com frequência, que os animais acometidos, principalmente, por Cryp-
tosporidium spp. apresentam duração de cinco a sete dias de diarreia.
É importante salientar que fatores relacionados à vacinação de vacas no
pré-parto, boa colostragem e ambiente com baixo desafio são importantes
para a redução da intensidade e duração da diarreia neonatal.

6. Quais alterações fisiológicas acontecem em bezerros com diarreia?


A primeira alteração evidente é a desidratação, que é seguida de acidose
metabólica, a qual é caracterizada por depressão, decúbito e diminuição
do reflexo de sucção. Além disso, pode ocorrer hipo ou hiperpotassemia,
hiponatremia (redução de sódio sanguíneo) e hipocloremia.

7. Por que alguns bezerros morrem por diarreia?


A principal causa da morte de bezerros com diarreia é a desidratação e a
acidose metabólica. No entanto, alguns casos de morte podem ser consequ-
ência de sepse (infecção bacteriana generalizada com resposta inflamatória
sistêmica) devido à disseminação de bactérias do intestino para todo o orga-
nismo do bezerro, por via sanguínea. Porém, nem sempre as bactérias que
causam a sepse nas diarreias são os agentes primários (como Escherichia
coli enterotoxigênica e Salmonella spp.), e sim, bactérias oriundas de um
desequilíbrio da microbiota intestinal, que se multiplicam e se disseminam
pela circulação sanguínea, com posterior estimulação do sistema imune e
desencadeamento dos sinais clínicos de sepse.

120
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

8. Como posso rastrear os fatores de risco para diarreia no bezerreiro?


Para rastrear as causas da diarreia no bezerreiro, é necessário bom le-
vantamento dos dados, como o número de animais no bezerreiro, número
de animais doentes, idade de ocorrência, calcular as taxas de morbidade e
mortalidade, investigação do local de nascimento, alojamento, alimentação,
quadro clínico e aspecto das fezes (presença de muco, sangue etc.). É pre-
ciso entender também que a maioria dos problemas de diarreia de bezerros
é causada por combinação de fatores, e que nem todos são infecciosos. Os
patógenos entéricos de maior importância para os bezerros têm períodos
de incubação (tempo entre a infecção e manifestação clínica da doença)
que variam de 12 horas a cinco dias. Dessa forma, quando a diarreia afeta
os bezerros nos primeiros cinco dias de idade, a fonte de infecção ocorreu,
geralmente, antes do bezerro chegar ao seu local de alojamento no bezer-
reiro, ou seja, a contaminação ocorreu na maternidade. Nas diarreias que
começam após sete dias de idade, a fonte de contaminação, geralmente,
ocorreu no berçário ou bezerreiro. A partir do conhecimento do local de
contaminação, é preciso agora avaliar a condição de higiene da materni-
dade, escore de limpeza da vaca, higiene do colostro (contagem bacteria-
na total), dos vasilhames utilizados para alimentação (sondas, mamadeiras,
baldes utilizados para aleitamento, concentrado e água), avaliar a qualidade
sanitária e nutricional do leite ou sucedâneo, concentrado fornecido aos
bezerros e a limpeza da casinha ou gaiola. Além disso, devem-se avaliar as
características das fezes: frequência, aspecto (presença de sangue e fibrina)
e sintomas sistêmicos associados, histórico alimentar, contato com outros
animais doentes, presença de comorbidades e uso de medicamentos, in-
cluindo antimicrobianos, além de verificar também como foi a colostragem
do animal, utilizando-se o dado obtido no refratômetro. Para pesquisa dos
patógenos que estão causando a diarreia, devem ser obtidas amostras de,
pelo menos, seis bezerros. Quando dois em seis animais são positivos, con-
sidera-se que a contaminação está alta.

9. O que fazer em casos de surto de diarreia no bezerreiro?


O primeiro passo é manter a calma, medir a temperatura dos animais e
iniciar imediatamente o tratamento dos animais doentes (hidratação e, se
necessário, usar anti-inflamatório e/ou antimicrobiano). Além da medica-
ção, é preciso também implementar as medidas de enfermagem, mantendo
os animais aquecidos (prepare uma boa cama) e abrigados de sol, chuva
e ventos. Sempre alimente primeiro os animais saudáveis e depois os do-

Alta
CRIA 121
Capítulo 09: Vacinação na cria e recria

entes, assim reduzimos o risco de o tratador contaminar os bezerros


e áreas do bezerreiro que ainda não estão contaminadas. Respeite a
vontade de ingestão de alimentos do animal (não force a alimentação).
Se possível, ofereça a dieta líquida em menores porções e mais vezes
ao longo do dia. Reforce as medidas de higiene (limpeza de vasilhames,
casinhas, utilização de cal, pedilúvio, limpeza de mão e utilização de lu-
vas). Faça a necropsia dos animais para auxiliar o diagnóstico do agen-
te etiológico. Investigue a possível causa do surto de diarreia. Após
finalizado o surto, treine toda a equipe sobre medidas de colostragem,
higiene de instalações, alimentação dos animais e biossegurança.

10. Quais exames laboratoriais podemos fazer em caso de diarreia?


Pesquisa do agente etiológico nas fezes e, algumas vezes, cultura de
fezes.

11. Como realizar a coleta e o envio de amostrar para identifica-


ção dos principais agentes causadores de diarreia nos bezerros?
Para identificar o provável patógeno entérico causador de diarreias
no bezerreiro, devem-se coletar amostras fecais de bezerros ainda não
tratadas dentro da faixa etária afetada. A população em risco pode
ser confirmada, identificando-se a idade dos bezerros em tratamento
de diarreia. A suspeita de patógenos entéricos e a respectiva técnica
laboratorial de escolha dependerá da idade da população-risco. O tes-
te de diagnóstico para Escherichia coli enteroxigênica deve ser feito
em bezerros com menos de 5 dias de idade. Rotavírus, Coronavírus,
Salmonella spp. e Cryptosporidium parvum devem ser feitos em fe-
zes de bezerros com diarreia e com idade inicial entre 5 e 14 dias.
Problemas de diarreia em bezerros com mais de 14 dias ou novilhas
podem incluir testes de diagnóstico adicionais para Escherichia coli,
Salmonella spp., Eimeria spp. e Giardia spp. A amostragem ideal
para caracterizar o perfil microbiológico das diarreias é equivalente a
5-10 amostras fecais oriundas de bezerros com escore 3 ou 4. Para
isso, a região perineal deve ser previamente limpa e desinfetada com
toalha seca e álcool a 70%. A primeira amostra fecal deve ser coletada
utilizando-se swab com meio de cultura Stuart para o isolamento de
Escherichia coli e definição do patotipo dessa espécie bacteriana por
reação em cadeia da polimerase (PCR). Para a pesquisa de Salmonella

122
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

spp. deve-se coletar a amostra em swab seco, o qual deve ser poste-
riormente mergulhado em meios de transporte específicos (Tetratio-
nato de Sódio, Selenito Cistina Novobiocina e Rapport-Novobiocina).
Amostras fecais também serão coletadas diretamente da ampola retal
com luvas de látex estéreis e acondicionadas em copos coletores uni-
versais estéreis para a identificação de agentes virais e protozoários.
Todas as amostras devem ser mantidas refrigeradas após a coleta e
envidas imediatamente para o laboratório de escolha.

12. Quais exames laboratoriais específicos para a identificação


dos principais agentes causadores de diarreia nos bezerros?
Diferentes métodos laboratoriais estão sendo desenvolvidos para a
detecção dos agentes infecciosos causadores da diarreia, a depender
de infraestrutura laboratorial, equipamentos e mão de obra especializa-
da. Como as diarreias são causadas por diferentes grupos de microrga-
nismos, como bactérias, vírus, protozoários e helmintos, deve-se entrar
em contato com o laboratório para verificar a disponibilidade de exa-
mes para cada grupo de enteropatógenos. Em geral, recomendamos
cultivo bacteriano associado à reação em cadeia da polimerase (PCR)
para a identificação da espécie. A PCR é muito importante no caso
da Escherichia coli, pois essa é uma bactéria normal da microbiota
intestinal, ou seja, todos os bezerros são colonizados por essa espécie
bacteriana logo ao início da vida. A questão é que alguns patotipos
de Escherichia coli causam diarreia, como a K99 (enterotoxigênica), a
qual deve ser diferenciada das demais espécies pela PCR. O laboratório
precisa saber sobre a suspeita de Salmonella spp, pois o seu cultivo é
feito em meios específicos para esse gênero bacteriano. Ao contrário,
existe a chance de falso-negativo. Para os agentes virais (Rotavírus/
Coronavírus), recomendamos testes de biologia molecular (PCR), ELI-
SA antígeno, dentre outros. O Cryptosporidium spp. pode ser detec-
tado por flotação fecal, microscopia direta, esfregaço e coloração das
fezes, dentre outros. Os métodos de detecção rápida para o diagnós-
tico da diarreia têm sido de grande ajuda clínica em campo, quando a
utilização de técnicas laboratoriais está indisponível, permitindo uma
abordagem terapêutica rápida e oportuna. Atualmente, existem, no
mercado internacional, diversos kits práticos e simples, com a tendên-
cia de importação e disponibilização desses produtos no Brasil.

Alta
CRIA 123
Capítulo 09: Vacinação na cria e recria

13. A halofuginona é eficaz para prevenção e tratamento do Cryp-


tosporidium spp.? Se sim, como deve ser utilizada?
Trabalhos de pesquisa têm visto efeito benéfico do uso profilático de
halofuginona quando bezerros são criados em boas condições de higiene.
Sua efetividade tem sido em:
• atrasar o início da infecção por Cryptosporidium spp. e consequente
início da diarreia;
• reduzir o número de bezerros infectados e com diarreia;
• diminuir o nível de excreção de oocistos.
No entanto, é possível observar um “efeito rebote”, com eliminação
de oocistos após o término do uso da droga. Apesar disso, a halofugino-
na limita as consequências clínicas da criptosporidiose e não aumenta,
significativamente, a quantidade cumulativa de oocistos excretada pelos
bezerros. O seu uso deve ser realizado conforme a bula do produto, ini-
ciando entre as 24 e 48 horas de vida do animal e administrado uma vez
ao dia, após a ingestão da dieta líquida (leite ou sucedâneo), por sete dias
consecutivos. Já com relação ao uso dessa droga de forma terapêutica, há
ainda pouca evidência científica para a sua recomendação.

14. A halofuginona pode trazer algum efeito colateral nos bezerros


durante o fornecimento?
O fornecimento de halofuginona pode estar associado à redução do ga-
nho de peso dos animais. A dose de intoxicação pelo produto é, aproxima-
damente, duas vezes a dose recomendada; portanto, deve-se prestar bem
atenção ao peso dos bezerros para evitar possíveis intoxicações. Diarreia,
fezes com sangue, redução da ingestão de leite, desidratação, apatia e pros-
tração são sinais clínicos observados em casos de intoxicação.

15. A Nitazoxanida (Annita®) é eficaz para prevenção e tratamento


do Cryptosporidium spp.? Se sim, como deve ser utilizada?
Há pouca evidência científica para o uso de nitazoxanida para a pre-
venção e tratamento de Cryptosporidium spp. cujos resultados são
controversos. Em um estudo experimental, a nitazoxanida não alterou
o curso da infecção, a intensidade da diarreia, nem a excreção de oocis-
tos, utilizando a dose de 15 mg/kg, duas vezes ao dia por 7 a 10 dias
de forma profilática ou terapêutica. Num outro, observou-se redução
da eliminação de oocistos e melhoria na consistência fecal, utilizando

124
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

a dose aproximada de 37,5 mg/kg, duas vezes ao dia, durante cinco


dias, a partir do início da diarreia. Considerando as doses e a frequência
citadas acima, o seu custo se torna de duas a cinco vezes mais caro que
a halofuginona.

16. Com que idade devo iniciar a prevenção de coccidiose em um


bezerreiro com desafios?
Fazendas que apresentam desafio elevado para coccidiose em be-
zerros precisam focar na prevenção desde o nascimento (pensando no
ambiente), utilizar Toltrazuril de 21 a 40 dias e utilizar ionóforos no
concentrado na fase de aleitamento e recria.

17. Como realizar a prevenção de coccidiose nos bezerros?


Controlando ambiente (umidade e sujeira), realizando vazio sanitário,
boa desinfecção das instalações, garantindo uma água para consumo
de boa qualidade, usando produtos específicos para controlar Eimeria
como Toltrazuril pela via oral, em momento específico (21 a 40 dias de
idade), e usando ionóforos na dieta dos animais.

18. Em sistema de gaiola suspensa, o fornecimento de Toltrazuril


ou outro anticoccidiostático se torna necessário?
Nesse tipo de sistema, quando bem manejado (ambiente seco), difi-
cilmente vamos ter desafios de eimeriose ou coccidiose, portanto não é
necessário o uso desse produto nessa fase.

19. A utilização de coccidiostáticos no concentrado é eficaz para


prevenir a coccidiose? Se sim, qual a dose máxima?
São muito eficazes desde que sejam utilizados de forma contínua por,
pelo menos, 15 dias seguidos. A dose recomendada de Monensina, La-
salocida, Decoquinato e Salinomicina é de 0,6 a 1 mg/kg de peso cor-
poral. Devemos ter muito cuidado já que doses superiores podem ser
tóxicas para os animais.

20. Quais as principais características visuais na diarreia causada


por Salmonella spp.?
Não possui uma regra. Em alguns casos, a diarreia é fétida e com
fragmentos de fibrina e sangue.

Alta
CRIA 125
Capítulo 09: Vacinação na cria e recria

21. Os kits para identificação do agente causador de diarreia a campo


apresentam boa acurácia?
No mercado, existem alguns testes rápidos que podem ser utilizados
a campo. Esses testes identificam fezes com presença de Escherichia
coli, Coronavírus, Rotavírus, Cryptosporidium spp. e Clostridium per-
fringens. Segundo a ficha técnica, esses testes apresentam sensibilidade
e especificidade superiores a 80% para todos os agentes citados. Essa
ferramenta pode ser utilizada, mas os testes laboratoriais convencionais
ou “testes ouro” sempre serão superiores. O recomendado é utilizar esses
testes e enviar amostras a laboratórios certificados para esses diagnósticos,
esporadicamente.

22. Qual o melhor protocolo de tratamento de animais que apresen-


tam diarreia?
Todos os animais que apresentam diarreia devem receber imediatamente
soro oral, do início ao término dela. Aqueles animais que apresentam febre
e/ou se mostram prostrados devem receber antimicrobiano suficiente para
cobertura de uma semana e anti-inflamatório por três dias consecutivos.

23. Quais as melhores bases de antimicrobianos para tratamento de


diarreia em animais que apresentam febre?
O 1º passo para decidir o uso ou não de antimicrobiano é avaliar o es-
tado geral dos bezerros. O ideal seria coletar a amostra para assegurar que
a diarreia é causada por um microrganismo bacteriano. Caso confirmado,
recomenda-se a realização de antibiograma para verificar a sensibilidade da
bactéria isolada em relação aos antimicrobianos. Em geral, a enrofloxacina
e florfenicol são princípios ativos indicados para as diarreias causadas por
Salmonella spp. O Ceftiofur e Cefquinoma também são indicadas para
tratar bezerros com diarreia.
• 1ª escolha: ceftiofur ou cefaquinoma;
• 2ª escolha: enrofloxacino;
• 3ª escolha: florfenicol.

24. Usar antimicrobiano em pó, no leite, para tratar a diarreia, é


indicado?
Apesar de ser uma das vias de fornecimento dos antimicrobianos, não
tem sido recomendado. Além disso, a literatura científica recomenda ape-
nas a amoxicilina para o uso oral no tratamento da diarreia. As recomen-

126
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

dações de uso são amoxicilina tri-hidratada (10 mg/kg a cada 12 horas)


ou amoxicilina tri-hidrato-clavulanato de potássio (12,5 mg de fármaco
combinado/kg a cada 12 horas) por, pelo menos, cinco dias.

25. Em qualquer quadro de diarreia (com ou sem febre), deve-se


entrar com terapia de anti-inflamatório? Até quantos dias deve ser a
aplicação, sem riscos de efeitos colaterais no animal?
Alguns agentes como a Salmonella spp. e o Cryptosporidium spp.
causam inflamação intestinal, sendo, nesses casos, recomendado o uso
de anti-inflamatório não esteroidal por, no máximo, três dias. Mas, além
dessa indicação, precisamos levar em consideração que, diante de uma
infecção e inflamação, ocorrem alterações comportamentais que incluem
perda de apetite, apatia, febre, redução da atividade social e redução na
motivação para procurar alimentos e água. Essas mudanças comporta-
mentais são causadas por substâncias pró-inflamatórias que agem sobre o
sistema nervoso central. Os anti-inflamatórios não esteroidais amenizam
esse quadro e fazem com que o animal mantenha a motivação para se
alimentar, auxiliando a recuperação nos quadros de diarreia. Dessa forma,
a decisão de uso dos anti-inflamatórios não esteroidais deve ser baseada
no comportamento do animal e conhecimento do patógeno. Como no
campo nem sempre temos possibilidade de diagnosticar o patógeno, seria
interessante utilizar os anti-inflamatórios quando o animal está deprimido e
sem motivação de se alimentar e quando está com febre, pois, nesse caso,
ele tem, provavelmente, infecção bacteriana e a mais comum, após cinco
dias, será por Salmonella spp.

26. Diarreias que duram mais de três dias e o animal não apresenta
febre, posso manter apenas a hidratação como tratamento suporte?
Sim, se o animal não tem febre e está motivado a alimentar, o reco-
mendado é manter o fornecimento da dieta líquida (leite ou sucedâneo),
hidratação e conforto.

27. Existem outras possíveis causas de diarreias com presença de


sangue, além de coccidiose? Qual tratamento caso haja outra causa?
Sim, a presença de sangue nas fezes indica que houve quebra da inte-
gridade intestinal e isso pode ocorrer, especialmente, em casos de diarreias
por Eimeria spp., mas também podem estar presentes em casos de diar-
reia por Escherichia coli patogênica e Salmonella spp.

Alta
CRIA 127
Capítulo 09: Vacinação na cria e recria

28. Qual o melhor soro para hidratação dos bezerros?


Em se tratando de soro para uso via oral, tanto a fórmula caseira in-
dicada pela equipe da Clínica de Ruminantes da UFMG (tabela a seguir)
como os soros comerciais disponíveis no mercado são indicados para a
hidratação; já os soros para uso intravenoso, a melhor opção disponível no
mercado é a solução de Ringer Lactato.
Ingrediente Quantidade
Cloreto de sódio (NaCl) 5g
Cloreto de potássio (KCl) 1g
Acetato de sódio tri-hidratado (NaHCO3 3 H2O) 6g
Glicose ou dextrose de milho (C6H12O6) 20 g
Água 1l
29. Quando devo parar de fornecer o soro oral para bezerros que não
apresentam mais diarreia?
Quando o animal voltar a ingerir normalmente a dieta líquida (leite ou
sucedâneo) e a consistência das fezes mudar de líquida para pastosa, ten-
dendo a fezes firmes, podemos suspender a hidratação oral.

30. Devo usar bicarbonato de sódio ou acetato no soro dos bezerros?


Sempre que puder utilizar acetato de sódio, é melhor, pois o bicarbonato
aumenta significativamente o pH do abomaso. Naturalmente, o baixo pH
do abomaso é um mecanismo de defesa do animal e, quando é elevado,
pode permitir a multiplicação de microrganismos no próprio abomaso e no
intestino. Além disso, o acetato é uma fonte de energia e auxilia na absor-
ção de sódio e, consequentemente, de água.

31. O produto Glutellac® deve ser fornecido puro, misturado no leite


ou misturado na água para ser fornecido aos bezerros?
A sugestão da empresa é na dieta líquida, garantindo o consumo total
da dose da bisnaga. Porém, o ideal é que qualquer produto para hidratação
seja fornecido misturado em água e que todo o tempo tenha água à dispo-
sição do animal, além da solução de hidratação.

128
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

32. Qual a forma prática de calcular quantos litros de soro injetável é


necessário em quadros severos de desidratação por diarreia?
Quando o bezerro apresenta quadro de desidratação severa, ele se en-
contra com, aproximadamente, 10% de desidratação. Se ele pesar 40 kg,
ele irá necessitar de 10% de 40 kg para repor a volemia, ou seja, 4 l de soro
que devem ser administrados, via intravenosa, nas primeiras 4 a 6 horas. É
possível fazer metade desses 4 l via intravenosa e a outra metade via oral.
Outros 4 l devem ser fornecidos via oral para mantê-lo hidratado. Portanto,
o volume total nas primeiras 24 horas é de 8 l, sendo 2 a 4 l via intravenosa
e 4 a 6 l via oral.

33. Quais os riscos no processo de hidratação intravenosa nos be-


zerros?
Nos casos de hidratação intravenosa, deve-se atentar para a antissepsia
da região de acesso do vaso para evitar contaminação, que pode evoluir
para tromboflebite e sepse. Adicionalmente, deve-se tomar cuidado com a
velocidade de infusão do soro, sendo não mais que 1 l, a cada 30 minutos,
para bezerro de 40 kg, pois altas velocidades de infusão podem levar a ede-
ma pulmonar, especialmente, se o bezerro se encontra em decúbito lateral.

34. Na falta do soro Ringer Lactato, qual outra opção se tem para
hidratação intravenosa nos quadros de diarreia severa?
Solução de Ringer Simples ou Solução Fisiológica (NaCl 0,9%) podem
ser utilizadas em substituição ao Ringer Lactato, mas ambas têm potencial
acidificante, o que pode acentuar a acidose metabólica dos animais. Porém, é
melhor o animal ser hidratado com essas soluções do que ele permanecer de-
sidratado. No entanto, sempre que tiver disponível, opte por Ringer Lactato.

35. A utilização do bicarbonato injetável em quadros de diarreia é


indicada? Existem riscos?
A utilização de bicarbonato de sódio 8,4% injetável é indicada em ca-
sos de diarreia muito severa, quando o bezerro se encontra próximo ao
coma, em decúbito lateral, pouco responsivo a estímulos e com extremida-
des (membros e orelhas) frias. No entanto, por ser uma solução altamente
alcalinizante, pode levar o animal de uma acidose metabólica intensa para
uma alcalose metabólica induzida, quando realizada de forma incorreta.

Alta
CRIA 129
Capítulo 09: Vacinação na cria e recria

36. Tem-se utilizado plasma hiperimune no auxílio de controle de


diarreia?
A literatura não é consistente. Alguns trabalhos mostram que o uso de
plasma hiperimune em bezerros, nos primeiros dias de vida, quando usadas
duas doses, aumentam significativamente os níveis de anticorpos sanguíne-
os (IgG) específicos para Escherichia coli. No entanto, essa estratégia não é
suficiente para proteger os bezerros contra diarreia e de melhorar os índices
de morbidade e mortalidade, quando comparado com animais do grupo
controle. Acredita-se que parte desse resultado seja pela ausência do efeito
protetor de imunoglobulinas locais ou de mucosa.

37. Pensando em diarreia, o que posso fazer com o bezerro quando


ele apresenta falha de transferência de imunidade passiva?
Aumentar a vigilância sobre o animal para iniciar o mais rapidamen-
te possível qualquer tratamento necessário. Nos quadros de diarreia, em
bezerros mal colostrados, a chance de eles apresentarem sepse é muito
grande, por isso é necessário iniciar a hidratação o mais rápido possível
e acompanhamento do comportamento e da temperatura corporal para
decidir se devemos ou não utilizar antimicrobiano e/ou anti-inflamatório.

38. Com quantas horas/dias um bezerro que bebeu colostro contami-


nado pode apresentar diarreia?
Vai depender do patógeno, mas os primeiros sinais clínicos podem apa-
recer dentro de 12 horas, após o nascimento, a cinco dias de idade.

39. Como evitar a diarreia que ocorre na mudança do fornecimento


do leite de transição para o sucedâneo?
Se estamos usando um bom sucedâneo, não é esperado que os bezerros
apresentem diarreia nessa mudança. No entanto, pode ser feita transição
menos brusca fazendo o oferecimento de uma parte de leite de transição e
uma parte de sucedâneo por 3 dias. Mas é preciso verificar também se essa
diarreia não está sendo causada por agentes patogênicos que, frequente-
mente, iniciam as diarreias com 3 a 5 dias de idade.

40. Sucedâneo pode causar diarreia?


Pode sim, quando, na formulação, observamos fontes de proteína de
baixa digestibilidade, excesso de amido e/ou fibra, incorporação e tipo
inadequado de gordura. Frequentemente, nesses casos, a osmolaridade do

130
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

sucedâneo é alta, o que provoca influxo de água para o intestino e leva a


transtornos digestivos.

41. Animais que apresentam diarreia devem ter o fornecimento da


dieta líquida (leite ou sucedâneo) suspensa?
Não, no caso do leite, nunca devemos suspender o fornecimento, mas
precisamos respeitar a vontade de ingestão do animal. Sempre oferecer o
leite deixando o bezerro ingerir o volume desejado. No caso de diarreia com
uso de sucedâneo, devemos verificar se o produto que estamos utilizando é
de boa qualidade, com grande parte da proteína e gordura sendo de origem
láctea. Se o sucedâneo é de boa qualidade, também não devemos suspen-
der o fornecimento; devemos oferecer e respeitar a vontade do animal. Se
o produto não é de boa qualidade, devemos suspender o fornecimento e
substituí-lo por outro produto melhor.

42. O fornecimento de leite de descarte pode causar diarreia nos be-


zerros?
Pode, uma vez que, na maior parte das fazendas, esse produto não tem
seu armazenamento em vasilhames limpos e sob refrigeração, o que au-
menta a contaminação do produto.

43. A utilização de pré e probióticos pode trazer benefícios para a


saúde intestinal dos bezerros?
Ao longo dos anos, algumas pesquisas têm demonstrado que probióticos
contendo Lactobacillus reduzem os casos de diarreia, devido à capacidade
desse microrganismo produzir substâncias que podem agir contra bactérias
patogênicas, como a Salmonella spp. e Escherichia coli enterotoxigênica.
O Bifidobacterium também é um excelente probiótico, pois estimula o cres-
cimento de outras bactérias benéficas e auxilia na redução da inflamação
intestinal, prevenindo infecções por vírus e bactérias patogênicas. O Faeca-
libacterium spp. é outra bactéria probiótica que traz efeitos benéficos para
os bezerros. Animais que apresentavam altas quantidades dessa bactéria nas
fezes apresentaram maior ganho de peso pré-desmame (20,3% mais peso)
e menor incidência de diarreia. De modo geral, os principais resultados en-
contrados com a utilização de probióticos na alimentação de bezerros são o
aumento no ganho de peso diário, menores contagens de bactérias causado-
ras de diarreia (Escherichia coli), aumento do peso corporal final dos bezerros
(90 dias), redução no número de animais apresentando diarreia e diminuição

Alta
CRIA 131
Capítulo 09: Vacinação na cria e recria

no tempo de desmame. Na prática, a grande questão é que os resultados


encontrados pelas fazendas são variáveis, a depender da formulação do pro-
biótico. Ainda não existe um consenso sobre a dose de probiótico adequada
para administração em bezerros, sendo esse o principal limitante na resposta
benéfica das preparações comerciais. O número de bactérias contido nos
probióticos é calculado com base no número de Unidades Formadoras de
Colônias (UFC). Muitos autores recomendam uma dose mínima de 107 UF-
C/g de bactérias probióticas, enquanto outros defendem que, para obtermos
efeitos benéficos, são necessárias doses de, pelo menos, 109 UFC/g. Ain-
da não temos na legislação brasileira uma regulamentação que determina a
quantidade específica de bactérias probióticas recomendada para o uso em
bezerros. A legislação vigente determinada pela Agência Nacional de Vigilân-
cia Sanitária – ANVISA, para humanos, estabelece que a quantidade mínima
viável para os probióticos deve estar situada na faixa de 108 a 109 UFC/g ou
ml fornecidos diariamente para garantir a eficácia do produto.

44. Existe correlação do umbigo mal curado com diarreia? Se sim,


como acontece?
O animal que tem o umbigo mal curado tem grande chance de apresen-
tar problemas umbilicais. Isso deixa o animal debilitado, aumentando o risco
para outras doenças, entre elas, a diarreia. Dessa forma, as complicações
umbilicais são fator de risco para diarreia. Além disso, bezerro com onfalite
pode apresentar quadro mais intenso e duradouro de diarreia.

45. Leite fermentado (Yakult®) auxilia no tratamento e/ou prevenção


de diarreias?
Não há comprovação científica de sua ação em bezerros.

46. O fornecimento de vinagre, antes do fornecimento de dieta líquida


(leite ou sucedâneo), pode ajudar no controle da diarreia?
O vinagre é um ácido com pH em torno de 4,8. Alguns vírus e bactérias
são inativados em pH próximo a 4. Dessa forma, esse ácido pode, ao ser for-
necido aos bezerros, inativar alguns desses agentes. Alguns produtores, em
todo o mundo, usam o fornecimento de vinagre de maçã (uma colher duas
vezes ao dia) para evitar diarreias e relatam bons resultados.

47. Leite acidificado pode ajudar a reduzir diarreia nos bezerros?


Sim, na acidificação do leite, o pH da solução final fica em torno de 4 a

132
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

4,5. Nesses valores de pH, muitos vírus e bactérias são eliminados. A litera-
tura científica comprova a redução nos quadros de diarreia com a utilização
da acidificação do leite.

48. A utilização de protetores gástricos manipulados, juntamente com


o fornecimento da dieta líquida (leite ou sucedâneo), à base de cimeti-
dina, em propriedade positiva para a diarreia viral bovina (BVD), pode
ajudar a diminuir os riscos de úlceras abomasais?
O Vírus da Diarreia Viral Bovina causa diferentes manifestações clínicas
no animal infectado. A diarreia é uma manifestação clínica restrita ao ani-
mal que nasce persistentemente infectado com o vírus (a transmissão da
mãe ao feto ocorre na gestação), os quais podem evoluir para a Doença das
Mucosas (com diarreia e úlceras) ao redor de 6-8 meses de idade. A questão
é que os animais PIs (Persistentemente infectados) representam apenas 0,5
a 2,0% em relação ao número total de animais do rebanho. Os animais com
infecção transitória (infectados após o nascimento pelo contato com um PI),
geralmente, apresentam broncopneumonias, sendo incomum os distúrbios
gastrintestinais causados pelo vírus da BVD. Não existem associações entre
a BVDV com as úlceras de abomaso. Sendo assim, usar cimetidina em re-
banhos positivos para BVDV não possui indicação benéfica.

49. O que devo fazer para evitar acidose metabólica em bezerros em


aleitamento?
É frequente a observação de acidose metabólica em quadros de diarreia;
dessa forma, ao observar os primeiros sinais de diarreia, devemos ime-
diatamente iniciar a fluidoterapia oral, usando produtos que têm, em sua
formulação, agentes alcalinizantes como acetato de sódio e propionato,
preferencialmente (uma vez que esses alcalinizantes conseguem manter o
pH abomasal baixo, o que é importante para evitar o empanzinamento
abomasal e conter a passagem de patógenos para o intestino).

50. O que fazer quando o beber ruminal é recorrente no mesmo be-


zerro?
Sondar o animal para retirar o conteúdo ruminal e fazer uso de soro
oral com bicarbonato para aumentar o pH desse órgão afetado. Em casos
de recorrência, devem-se analisar outros fatores envolvidos como rotinas
no manejo do aleitamento, qualidade dos bicos de mamadeira e doenças
envolvidas (pneumonias crônicas, diarreia, entre outras).

Alta
CRIA 133
Capítulo 09: Vacinação na cria e recria

51. Como evitar o timpanismo? E qual tratamento ideal, caso algum


bezerro venha a apresentar essa doença?
Para prevenir problemas com timpanismo, deve ser evitada a adoção de
dietas com excesso de grãos e deficientes em fibras. O de feno de legumi-
nosas, em animais estabulados, também deve ser levado em consideração
na predisposição. Outro fator importante são as doenças respiratórias (fator
de risco para timpanismo). O tratamento depende das circunstâncias em
que ocorreu o timpanismo, se é espumoso ou de gás livre. Com a passa-
gem da sonda esofágica pode ocorrer eliminação total do gás nos casos de
timpanismo gasoso, caso não haja obstrução esofágica. No timpanismo
espumoso, sai apenas um pouco de gás e, em seguida, a sonda se enche
com conteúdo espumoso, sendo recomendada a administração de agentes
antiespumantes com objetivo de diminuir a tensão superficial da espuma.
A utilização de substâncias alcalinizantes pode ser adotada nos casos de
acidose e o transplante de conteúdo ruminal é uma alternativa interessante.

52. Quais as principais bases de vermífugo para serem adotadas na


cria e recria de bezerros leiteiros?
Levamisol e Albendazol têm mostrado uma boa eficiência para o contro-
le de vermes gastrointestinais.

53. Como escolher a melhor base de vermífugo para cria e recria de


bezerros leiteiros?
O ideal seria realizar uma avaliação de eficiência de vermífugos das prin-
cipais bases que temos no mercado, deixando um grupo controle (sem uso
de vermífugo). Para isso, deve realizar-se coleta de amostras de fezes e
devem ser analisadas pela técnica de OPG (ovos por g de fezes). Os mo-
mentos das coletas devem ser antes da vermifugação e 14 dias após e deve
comparar-se a redução das quantidades de vermes encontrados nas fezes
(OPG) após o tratamento.

54. A partir de que idade devo começar o fornecimento de vermífugo


para os bezerros?
Nas seguintes fases:
Iniciar 21 a 30 dias após o desaleitamento até a categoria de novilha
gestante. Independentemente do tipo de sistema de aleitamento, não reco-
mendamos vermifugação nessa fase já que os animais têm pouco desafio
com esses parasitas.

134
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

Capítulo 10
DOENÇAS RESPIRATÓRIAS

Alta
CRIA 135
Capítulo 10: Doenças respiratórias

José Azael Zambrano - Rehagro


José Eduardo Portela Santos - University of Florida
Rodrigo Melo Meneses - Universidade Federal de Minas Gerais
Viviani Gomes - Universidade de São Paulo

136
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

1. Qual índice é considerado aceitável para doenças respiratórias em


bezerros no período de aleitamento?
Segundo o Padrão Ouro Nacional de Criação de Bezerras Leiteiras, as
taxas aceitáveis de doenças respiratórias são:

Idade Taxa
Fase de aleitamento < 10%
Fase de pós-aleitamento até 120 dias de idade < 10%
121 a 180 dias de idade < 2%

2. Quais os principais agentes das doenças respiratórias em bezerros?


Os principais agentes de doenças respiratórias na cria e recria são: Man-
nheimia haemolytica, Pasteurella multocida, Histophilus somni, Myco-
plasma bovis, Vírus Sincicial Bovino (BRSV), Vírus da Parainfluenza tipo 3
(PI-3) e Herpesvírus Bovino tipo 1 (BoHV-1).

3. Em que idades, são mais comuns as doenças respiratórias na cria


e recria no Brasil?
Em levantamento nacional, com mais de 4.600 dados avaliados, em
sistemas de gaiolas suspensas, as doenças respiratórias ocorrem entre 30 e
40 dias de idade. Já nos bezerreiros de tipo tropical ou argentino, ocorrem
nos primeiros dias de vida, principalmente, nas épocas de chuva. Outro
período com aumento na frequência de doença respiratória é no pós-desa-
leitamento.

4. Quais os principais sinais clínicos das doenças respiratórias e como


identificá-las de forma precoce em bezerros e novilhas?
Os animais apresentam respiração rápida e superficial, febre, tosse, se-
creção nasal e sons de crepitação à auscultação, revelando presença de
exsudato nas vias aéreas. Pode também ser auscultado o sibilo, devido ao
estreitamento das vias aéreas em brônquios e bronquíolos, devido ao acú-
mulo de secreção purulenta e pouco fluida. Para identificar de forma preco-
ce, a observação individual do padrão respiratório e da atividade do bezerro
durante o fornecimento da dieta líquida ou sólida é importante. No caso da
dieta líquida (leite ou sucedâneo), o bezerro demora mais tempo para inge-
rir o leite e interrompe a ingestão para poder respirar, além de ficar mais
ofegante e, usualmente, apresentar febre.
Alta
CRIA 137
Capítulo 10: Doenças respiratórias

5. Como diferenciar das doenças respiratórias outras doenças que


podem gerar alterações na frequência respiratória em bezerros?
O principal diagnóstico diferencial de doença respiratória em bezerros é
a tristeza parasitária bovina (TPB), pois, em ambos os quadros, há febre. Se
o bezerro já tem anemia devido à TPB, ele também se apresentará ofegante
e mais apático. Como as mucosas em bovinos não são bons indicativos para
observação de anemia, pois a coloração normal já é rósea clara, quando se
observam mucosas pálidas, a anemia já é grave. Então, a mensuração do
hematócrito e/ou identificação de agentes da TPB em esfregaço sanguíneo
é importante. Além disso, bezerros com diarreia podem se apresentar ofe-
gantes devido à tentativa de compensação da acidose metabólica. Nos be-
zerros recém-nascidos, é importante lembrar que é normal respiração mais
acelerada, devido à adaptação pós-natal. Nessa fase, é muito importante
monitorar a região umbilical e septicemia (infecção sistêmica), porque a
sepse também desencadeia um aceleramento da respiração, que associado
à adaptação pós-natal, pode levar à confusão no discernimento entre sepse
e doença respiratória.

6. Diarreia sem tratamento correto pode causar doença respiratória?


Sim, pois a diarreia desencadeia desidratação no bezerro e reduz a quan-
tidade de fluidos e muco do trato respiratório, aumentando a sua viscosi-
dade. Com isso, as células ciliadas do trato respiratório, responsáveis pela
eliminação de partículas e patógenos das vias aéreas, têm maior dificuldade
de realizar sua função.

7. Animais sem tosse e/ou febre podem estar com doença respirató-
ria?
Sim. Na fase crônica da doença, os animais apresentam-se muitas vezes
subclínicos com a ausência de sintomas como febre e tosse. Recomenda-se
a ultrassonografia pulmonar para a detecção do problema.

8. Quais estratégias estão disponíveis para prevenção de problemas


respiratórios nos bezerros em períodos de alta amplitude térmica en-
tre o dia e a noite?
Proporcionar ambiente que ameniza essa variação, como a presença de
cercas vivas ou cortinas em galpões, minimizando, assim, o vento no ber-
çário ou bezerreiro. Disponibilizar cobertura vegetal ou cama que permita
que o bezerro tenha os membros cobertos quando deitado. Fornecimento

138
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

de sombra.

9. Quais os pontos em relação à ambiência que podemos melhorar


para diminuir o risco de doenças respiratórias no bezerreiro?
A ventilação é o principal fator determinante para a redução do risco
de doenças respiratórias, pois permite a redução de umidade do ambiente
e remoção de gases que irritam o trato respiratório. Alta densidade animal
aumenta a umidade e reduz a qualidade do ar, o que exige ainda melhor
ventilação. No entanto, vento direto sobre os animais não é desejável. A
individualização e o distanciamento/separação entre os bezerros também
são muito importantes. O distanciamento mínimo deve ser de, pelo menos,
2 m. Caso não seja possível, é recomendada a separação física entre os
animais.

10. Qual o melhor método de ventilação, pensando em proporcionar


ambiente ideal para reduzir casos de doenças respiratórias?
Há vários métodos para manter o bezerreiro com qualidade de ar ade-
quada. O método mais comum é ambiente aberto com ventilação natu-
ral. No entanto, ventilação natural é, em muitos casos, insuficiente. Nesses
casos, o uso de ventiladores que, além de facilitar a eliminação de ar de
má qualidade, tem a opção de proporcionar resfriamento por condução e
convecção, é recomendado nos bezerreiros. Para tal, é indicado que a velo-
cidade de ar seja de, pelo menos, 2 m por segundo. Dependendo do siste-
ma de criação, há a opção de uso de tubos de ventilação forçada, também
chamados sistemas de ventilação positiva com tubos. Esses são localizados
próximos ao teto da instalação ao longo de todo o galpão. Esse tipo de
sistema com tubos é comum em locais onde o inverno é mais rigoroso e,
durante os meses de inverno, não há calor suficiente para criar movimento
do ar pelas cortinas ou chaminés devido à falta de flutuabilidade do ar frio.
Quando se utilizam de tubos com ventilação positiva, é indicado fazer o cál-
culo para mínimo de 15 pés cúbicos por minuto (cerca de 0,4 m3/minuto)
de ar por bezerro.

11. Qual o nível crítico de amônia que pode causar problemas respi-
ratórios?
Muito da literatura sobre qualidade de ar e níveis de amônia que podem
afetar o trato respiratório dos bezerros é proveniente de risco ocupacional
por trabalhadores em locais onde há concentração de amônia acima de

Alta
CRIA 139
Capítulo 10: Doenças respiratórias

25 partes por milhão (ppm, ou mg/kg). Níveis acima de 35 ppm por mais
de 15 minutos não são recomendados. No caso de bezerros, é citado, na
literatura, valor máximo de até 15 ppm em bezerreiros, sendo que alguns
trabalhos falam de 6 ppm. Um aspecto importante para reduzir a concen-
tração de amônia no ar das instalações de bezerros, além da ventilação, é a
remoção e troca da matéria de cama no qual se acumulam esterco e urina.
Amônia urinária se volatiliza facilmente, o que prejudica a qualidade do ar.

12. A utilização de medidores de teor de amônia nos berçários e be-


zerreiros pode ser uma ferramenta a mais para nos ajudar a controlar
desafios para a doença respiratória?
Sim, medidores de amônia, outros gases nocivos e de partículas no ar
servem para avaliar a qualidade do ar do ambiente onde os bezerros são
criados. Baixa qualidade de ar e ambientes fechados com ventilação limi-
tada favorecem o aparecimento de doença respiratória tanto em animais
jovens como adultos. A amônia é um dos gases nocivos que pode estar pre-
sente em instalações fechadas. Além da amônia, o gás sulfídrico e dióxido
e monóxido de carbono podem estar presentes no ar quando a ventilação é
inadequada. Além de gases nocivos, a presença de partículas, a temperatu-
ra e a umidade relativa devem ser consideradas no processo de avaliação da
qualidade de ar e do ambiente onde os bezerros estão presentes. Amônia,
em particular, tem efeito irritante no epitélio respiratório e propicia o apa-
recimento de doença respiratória em bezerros.

13. A cal utilizada para desinfecção das instalações pode contribuir


para o desenvolvimento das doenças respiratórias nos bezerros?
Sim. Dependendo da forma que é utilizada, pode gerar muita poeira e
irritar o trato respiratório dos animais. Em geral, recomenda-se realizar a
desinfecção com cal no vazio, sem a presença do bezerro.

14. A criação individualizada dos bezerros pode diminuir o risco de


doenças respiratórias?
Sim. A criação individualizada visa ao impedimento do contato direto en-
tre os animais e essa é uma forma de minimizar a disseminação da doença.

15. Em sistemas coletivos de criação, com alta lotação e muitos casos


de doenças respiratórias, quais seriam os métodos mais eficazes para
prevenção e redução dessa doença?

140
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

Melhorar a condição de ventilação, a frequência da limpeza do ambiente


e vacinar os animais para doenças respiratórias.

16. Em criações coletivas, quando o bezerro é diagnosticado com


doença respiratória, ele deve ser isolado dos outros para tratamento?
Sim, pois o bezerro doente excreta grande quantidade de patógenos,
aumentando o desafio para os demais animais. Além disso, o animal doente
tem menor capacidade de competir com os demais, dificultando a sua recu-
peração. O ideal é que fique isolado em ambiente com, pelo menos, 2 m de
distância em relação ao alojamento dos bezerros saudáveis.

17. Qual a relação entre o modo de fornecer leite aos bezerros (balde,
balde com bico ou mamadeira) com casos de doenças respiratórias?
Fornecimento de leite por mamadeira ou em baldes não altera o risco
de doenças respiratórias. A exceção ocorre apenas nos casos em que o uso
de mamadeiras com bicos mal conservados e com fluxo de leite exagerado,
podendo levar o bezerro a aspirar o conteúdo. É comum pessoas aumenta-
rem, de maneira exagerada, o tamanho do orifício do bico da mamadeira
com o intuito de alimentar o bezerro mais rapidamente. Isso não deve ser
feito para evitar o risco de aspiração e ocorrência de pneumonia. De ma-
neira geral, pneumonia por aspiração tem baixa resposta aos tratamentos
tradicionais com antimicrobianos e anti-inflamatórios. Também existem ris-
cos de broncopneumonias aspirativas com o mau uso da sonda orogástrica
e, por isso, é muito importante não forçar a ingestão de leite via sonda.

18. Qual o melhor protocolo de tratamento de doenças respiratórias


em bezerros? Qual os melhores antimicrobianos para tratamento? De-
vem-se utilizar antimicrobianos de longa ação?
As fazendas devem adotar, pelo menos, três protocolos para tratamen-
tos das doenças respiratórias, sendo que várias bases mostram boa eficácia.
Recomenda-se o uso de antimicrobianos com cobertura mínima de uma
semana, além de anti-inflamatórios não esteroidais (AINES), como Flunixin
meglumine e o Meloxicam, por três dias, para garantir uma recuperação
mais satisfatória. Os antimicrobianos escolhidos para o tratamento devem
ter espectro de ação contra bactérias Gram-negativas, sendo também im-
portante realizar registros e verificar o histórico de eficácia dentro do reba-
nho. Opções de bases de antimicrobianos para as doenças respiratórias são
o Florfenicol, Tulatromicina, Tilmicosina e Ceftiofur. Podem ser utilizadas

Alta
CRIA 141
Capítulo 10: Doenças respiratórias

sim as drogas de longa ação, desde que o animal seja monitorado para ve-
rificar a necessidade de doses complementares do mesmo princípio ativo/
produto. Alguns estudos mostram eficácia dos mesmos e facilita o manejo.

19. Como saber se devo ou não mudar a base do antimicrobiano em


casos que o animal não está respondendo ao tratamento para doen-
ças respiratórias?
Usualmente, após o início do tratamento, o animal apresenta melhora
significativa nas primeiras 48h com relação à temperatura retal, apetite e
comportamento. Se o animal melhorar, mesmo que ainda não esteja com-
pletamente curado, deve-se aumentar o número de doses da mesma droga,
respeitando o período mínimo estabelecido pelo fabricante do produto. A
ausência de nenhuma melhora ou piora do quadro clínico sugere a necessi-
dade de mudança do antimicrobiano. Cuidado com a troca de antimicrobia-
nos frequente, porque pode desencadear resistência bacteriana.

20. Posso utilizar antimicrobiano em quadros de alterações na frequ-


ência respiratória sem presença de hipertermia?
Deve ser realizado adequado diagnóstico com uso de ferramentas com-
plementares (estetoscópio ou ultrassom), já que existem outras doenças que
podem ocasionar esse tipo de alterações, como, por exemplo, a diarreia e
a tristeza parasitária bovina. Outro ponto importante é o fato de que pneu-
monias crônicas, na maioria das vezes, não estão associadas com hiperter-
mia e a eficácia da antibioticoterapia é reduzida. Mesmo assim, os animais
devem ser tratados por mais tempo. Se esses casos acontecem com muita
frequência (pneumonias crônicas), devemos reavaliar os protocolos de tra-
tamento, diagnóstico e monitoramento da doença no rebanho e a possibi-
lidade de doenças crônicas estarem presentes na propriedade (tuberculose),
principalmente em animais na recria.

21. O que fazer com os bezerros que, mesmo após o tratamento, con-
tinuam com uma ronquidão forte e diária por muito tempo?
Nesses casos, há três possibilidades:
• quadros de laringite necrótica;
• traqueíte;
• bronquite.
Em todos esses casos, o animal pode responder ao tratamento com pe-

142
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

nicilina, porém o prognóstico, usualmente, é reservado.

22. Hidratação oral é indicada para bezerros que estão em tratamen-


to de doença respiratória?
Sim. Uma vez que o bezerro é hidratado, ele se torna mais eficiente em
responder ao quadro clínico, já que as secreções respiratórias se tornam
mais fluidas, o que facilita a limpeza do trato respiratório e consequente
recuperação do animal. Além disso, a hidratação auxilia na distribuição cor-
poral das drogas utilizadas para o tratamento, fazendo com que o antimicro-
biano e o anti-inflamatório utilizados cheguem aos pulmões com mais faci-
lidade para sua atuação. No entanto, é preciso tomar cuidado com essa via
de hidratação em bezerros que apresentam dificuldade respiratória grave,
pois a passagem da sonda pode criar desconforto respiratório ainda maior,
podendo levar o animal a óbito. Portanto, ao passar a sonda, realize o pro-
cedimento com calma e cuidado para evitar que o animal se torne agitado.

23. Qual protocolo adotar nos bezerros recém-nascidos que apresen-


tam ingestão de líquido nos pulmões durante o parto?
Assim que o bezerro nasce, para facilitar a respiração, é importante co-
locá-lo em decúbito esternal e as narinas e a boca devem ser limpas, retiran-
do os fluidos com as mãos ou por meio de bomba de sucção. Em situações
de aspiração de grande quantidade de fluidos, coloque o animal em declive,
deixando a cabeça do bezerro na parte mais baixa. Não mantenha o animal
pendurado pelas pernas de cabeça para baixo, pois os órgãos abdominais
empurram o diafragma e dificulta a expansão dos pulmões, prejudicando
a respiração. Algumas fazendas possuem um instrumento chamado res-
suscitador, o qual possui um aspirador de um dos lados, o que permite a
aspiração do conteúdo líquido.

24. A utilização de mucolíticos injetáveis, à base de cloridrato de bro-


mexina, no tratamento de quadros respiratórios com acúmulo de se-
creções, pode causar distúrbios intestinais?
A literatura não é consistente no estudo de mucolíticos em bovinos. Mes-
mo assim, a bula da maioria deles (bromexina) alerta que distúrbios intes-
tinais podem acontecer, mesmo não sendo prática observada a campo.
Lembrar que a presença de sibilo no pulmão ocasionado pelo acúmulo de
secreção purulenta e não fluida norteia o uso do mucolítico.

Alta
CRIA 143
Capítulo 10: Doenças respiratórias

25. Quais mucolíticos estão disponíveis no mercado para tratamento


de doenças respiratórias?
Existem vários. O mais utilizado é a bromexina, apesar de não ter
estudos consistentes, avaliando o seu uso no tratamento de pneumonia
em bezerros. Existem alguns experimentos realizados em humanos, ava-
liando o efeito do “Ambroxol” e seu precursor “Bromexina”, tanto em
quadros de doença respiratória aguda como na crônica. Em ambos os
casos, quando utilizados, as concentrações de antimicrobianos no pulmão
foram maiores, recomendando-se, assim, esse produto para o tratamento
de pneumonias e, indiretamente, para evitar resistência de antimicrobiano
por parte das bactérias.

26. É possível fazer inalação nos bezerros, pensando em ajudar no


tratamento das doenças respiratórias? É viável? Quais os benefícios?
A inalação com o uso de mucolíticos é interessante no processo de
expectoração da secreção purulenta do trato respiratório inferior.

27. É recomendado realizar swabs nasais para diagnóstico em be-


zerreiros com alta incidência de doenças respiratórias durante a fase
de aleitamento?
Bactérias causadoras de doenças respiratórias, usualmente, são isola-
das da cavidade nasal de bovinos, mesmo em animais saudáveis. Portanto,
a utilização de swabs nasofaríngeos tem valor diagnóstico limitado, se
os métodos laboratoriais de cultura tradicional ou PCR tradicional forem
usados. Os swabs nasofaríngeos podem ser úteis para a identificação de
alguns grupos bacterianos em menor abundância na microbiota, como o
Mycoplasma bovis. Interessante realizar antibiograma para nortear a esco-
lha do antimicrobiano no tratamento das broncopneumonias. Infelizmen-
te, recomenda-se o lavado transtraqueal para a identificação dos agentes
virais, por ser uma amostra mais representativa dos pulmões, onde se
localiza a infecção pelo BRSV, por exemplo.

28. Já estão sendo realizados diagnósticos de doenças respiratórias,


com o uso de ultrassom, a campo? Qual a eficiência desse diagnósti-
co?
No Brasil, a ultrassonografia ainda está começando a ser implementada

144
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

nas rotinas dos médicos-veterinários na rotina de campo, principalmen-


te, pela possibilidade de usar o ultrassom reprodutivo. É uma ferramenta
muito útil que permite a identificação precoce de lesões antes mesmo dos
sinais clínicos, assim como verificar a evolução do processo e resposta ao
tratamento.

29. O diagnóstico de doenças respiratórias, com o uso de ultrassom,


deve ser realizado em quais categorias e de quanto em quanto tem-
po?
A ultrassonografia serve não só para o diagnóstico precoce de bron-
copneumonia, quanto para o monitoramento da doença no rebanho. A
sua utilização deve ser focada nas categorias de maior risco, portanto
é importante entender quando a doença ocorre em cada rebanho. Po-
rém, em geral, as categorias mais afetadas são bezerros em aleitamento e
pós-desaleitamento. De acordo com filosofia #WeanClean, elaborada por
pesquisadores da Universidade de Wisconsin – Madison, sugere-se que, a
partir dos sete dias de vida, 12 bezerros sejam monitorados semanalmente
para identificar a faixa etária de maior risco. Além disso, outros três pon-
tos de avaliação são sugeridos:
• início do tratamento para pneumonia;
• sete a 10 dias após o tratamento;
• início do pós-desaleitamento.

30. Muitos casos de doenças respiratórias em animais nas primeiras


semanas de idade podem ser um dos motivos para preocupar e reali-
zar testes para identificação de animais persistentemente infectados
para a diarreia viral bovina?
Sim. O vírus da diarreia viral bovina (BVDV), geralmente, causa imu-
nossupressão e predispõe a instalação e multiplicação dos demais agentes
infecciosos envolvidos no Complexo Doença Respiratória Bovina. Menos
frequente, o BVDV também pode ser um agente primário da doença res-
piratória em bezerros. A existência de animais persistentemente infecta-
dos (PI) no rebanho aumenta, consideravelmente, a circulação do vírus,
podendo torná-lo um importante contribuidor para a ocorrência de doen-
ça respiratória bovina (DRB) e uma série de outras doenças na fazenda em
diferentes categorias animal.

Alta
CRIA 145
Capítulo 10: Doenças respiratórias

31. Compensa descartar uma bezerra que apresenta mais de um caso


de doença respiratória na sua fase de cria e recria?
A decisão em descartar qualquer animal é, ou deveria ser, uma deci-
são econômica. Bezerras que apresentam doença respiratória durante a
fase de aleitamento ou nos primeiros meses após o desaleitamento têm
desenvolvimento atrasado e boa parte delas não atinge o mesmo grau de
desenvolvimento (ganho de peso diário e crescimento em estatura) daquele
observado em bezerras saudáveis. Consequentemente, esses animais aca-
bam sendo menos produtivos. A decisão em descartar uma bezerra em
crescimento depende de vários fatores, e não apenas de seu histórico de
saúde. Por exemplo, em um rebanho onde a disponibilidade de animais em
crescimento para entrada no rebanho supera as necessidades de animais
para reposição, então há a oportunidade de ser seletivo e vender bezerras
jovens. Nesses casos, seria recomendado vender esses animais e não inves-
tir recursos já que a fazenda tem excesso de animais em recria. Por outro
lado, em rebanhos em crescimento ou aqueles cuja recria é insuficiente,
a venda de animais em crescimento pode criar uma lacuna na reposição.
Apesar dessas novilhas que tiveram problema respiratório serem menos
produtivas, é muitas vezes melhor uma novilha menos produtiva do que um
rebanho onde há falta de reposição.

32. Casos de pneumonias crônicas na fase de aleitamento podem


trazer complicações futuras nas novilhas e vacas?
Sim, principalmente no caso de doenças respiratórias. A pneumonia
crônica compromete o desenvolvimento da bezerra e afeta o tecido res-
piratório. O tecido respiratório saudável tem uma baixa taxa de reposição
celular quando comparado com outros tecidos. No entanto, após sofrer um
processo inflamatório ou injúrias decorrentes de pneumonia, o tecido respi-
ratório apresenta rápida proliferação celular, mas muito do tecido funcional
acaba sendo substituído por tecido conjuntivo, o qual não tem capacidade
de troca de gases. Consequentemente, animais com doença crônica respi-
ratória não só apresentam desenvolvimento comprometido durante o perí-
odo da doença, mas também após a doença ter sido clinicamente curada.
Provavelmente, essa redução em ganho de peso e crescimento observada
em bezerras que tiveram doença respiratória esteja associada com uma per-
da parcial na capacidade respiratória nesses animais. As bezerras com lesão
pulmonar detectadas na fase de aleitamento apresentam menor precocida-
de reprodutiva e menor produção de leite na 1ª lactação.

146
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

Capítulo 11
TRISTEZA
PARASITÁRIA BOVINA

Alta
CRIA 147
Capítulo 11: Tristeza parasitária bovina

José Azael Zambrano - Rehagro


Rodrigo Melo Meneses - Universidade Federal de Minas Gerais

148
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

1. O que é a tristeza parasitária bovina?


É um complexo de doenças (anaplasmose e babesiose) causado pela
riquétsia Anaplasma marginale e pelos protozoários Babesia bigemina e
Babesia bovis. Esses patógenos são responsáveis por infectar hemácias e
causar anemia e são transmitidos, principalmente, por carrapatos e moscas
hematófagas.

2. Como os animais podem adquirir a tristeza parasitária bovina?


Através de contato com os vetores (carrapatos e moscas hematófagas)
e/ou fômites contaminados, como agulhas e materiais cirúrgicos. Além dis-
so, há possibilidade de quadros congênitos, cujos animais se infectam in
útero (transmissão transplacentária).

3. Quais os percentuais aceitáveis de tristeza parasitária bovina em


um rebanho, na cria e recria?
Ainda não há dados consistentes que permitem definir, com seguran-
ça, percentuais aceitáveis de tristeza parasitária nos rebanhos. No entanto,
com base em fazendas que monitoram a tristeza parasitária em bezerros
rotineiramente, sugere-se menos que 3% durante a fase de aleitamento e
menos que 35% do desaleitamento aos 180 dias de vida, conforme publica-
do no Padrão Ouro de Criação de Bezerras Leiteiras de 2020.

4. O bezerro já pode nascer com tristeza parasitária bovina?


Sim. Em rebanhos onde tristeza parasitária é endêmica, entre 10 e 20%
dos bezerros nascem positivos para A. marginale, porém sem sinais clíni-
cos, ou seja, são portadores. No entanto, uma pequena parcela desses ani-
mais apresenta sinais clínicos logo após o nascimento. Os bezerros também
podem nascer positivos para Babesia spp., mas isso ocorre de forma mais
rara.

5. Qual a importância do colostro na passagem de anticorpos contra


tristeza parasitária bovina?
Vacas portadoras dos agentes da tristeza parasitária produzem colos-
tro com anticorpos contra esses patógenos, os quais são absorvidos pelo
bezerro. No entanto, a importância desses anticorpos para a prevenção
da tristeza parasitária parece ser limitada, tendo em vista que a imunidade
celular é a principal responsável pelo controle da infecção. Os anticor-
pos agem, principalmente, como opsoninas, ou seja, ligam-se às células

Alta
CRIA 149
Capítulo 11: Tristeza parasitária bovina

infectadas e facilitam que elas sejam fagocitadas (destruídas). Essa função


é realizada, especialmente, pelo anticorpo IgG2, porém o principal anti-
corpo presente no colostro é IgG1. Na prática, o colostro parece ter mais
importância para a prevenção de quadros de babesiose por B. bovis nas
primeiras duas semanas de vida.

6. O fornecimento de colostro de vacas que não tiveram contato


com a tristeza parasitária bovina ou o fornecimento de colostro em
pó de vacas de outros países, onde não existe a tristeza parasitária
bovina, pode ser um problema para os bezerros, pensando em eles
não terem imunidade contra essa doença?
Sim, mas não é primordial. Mesmo sem anticorpos específicos contra
os agentes da tristeza parasitária, bezerros que são submetidos precoce-
mente à exposição controlada de carrapatos e moscas hematófagas po-
dem apresentar boa resposta à infecção.

7. Qual a melhor forma de o bezerro criar sua própria imunidade


contra a tristeza parasitária bovina?
Entrando em contato com os agentes etiológicos. Isso estimulará o
sistema imunológico a criar uma resposta celular e humoral (mediada por
anticorpos) contra as infecções.

8. Quais os sinais clínicos da tristeza parasitária bovina?


• Apatia;
• diminuição do apetite;
• perda de condição corporal;
• pelos secos, arrepiados e sem brilho;
• desidratação;
• hipertermia;
• anemia;
• mucosa ictéricas (amareladas);
• mucosas congestas (avermelhadas) e/ou com petéquias (pontos
hemorrágicos);
• hemoglobinúria (urina com coloração escura);
• distúrbios neurológicos em casos de babesiose cerebral provocado,
exclusivamente, por Babesia bovis.

150
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

9. Qual o manejo ideal de medição de temperatura corporal que


devo instalar na minha propriedade, pensando em prevenção e tra-
tamento dos animais de forma precoce? E qual a referência de tem-
peratura a ser utilizada?
Mensurar temperatura retal através de termômetro digital dos lotes
considerados como risco na propriedade, em horas frescas (manhã), pelo
menos duas a três vezes por semana. Deve ser estabelecido um ponto de
corte na propriedade, sendo sugerido, como referência, 39,3°C, ou seja,
animais com temperatura igual ou superior a 39,3°C teriam indicação de
tratamento.

10. Qual o manejo ideal de avaliação de hematócrito que devo ins-


talar na minha propriedade, pensando em prevenção e tratamento
dos animais de forma precoce? Qual referência do percentual de
hematócrito a ser utilizado?
O hematócrito ou volume globular (VG) é uma ferramenta importante
que indica se o animal está com anemia e qual a sua gravidade. O hemató-
crito deve ser realizado em conjunto com outras ferramentas para o moni-
toramento da tristeza parasitária bovina. Ele pode ser uma forma indireta
de confirmar a tristeza parasitária quando animais apresentam elevação
da temperatura retal. Hematócritos inferiores a 24% indicam anemia e
animais com valores inferiores a 15% podem necessitar de transfusão
sanguínea se apresentarem apatia acentuada.

11. A utilização de ferramentas como o Hemovet® para aferição do


hematócritos dos animais é confiável? Se sim, qual a melhor maneira
de utilizá-lo?
Há pouco conhecimento sobre a acurácia desse aparelho. É sabido que
ele mensura hemoglobina e, a partir dela, calcula o hematócrito. Em ane-
mias hemolíticas, hemoglobina que estava dentro da hemácia é liberada
na corrente circulatória, o que pode superestimar o valor de hematócrito.
No entanto, isso não inviabiliza o uso do aparelho, especialmente quando
há acompanhamento do hematócrito dos animais, mostrando a tendência
de queda nos animais infectados. Porém, para definir um ponto de corte
com o objetivo de indicar o tratamento, fazem-se necessários estudos.

Alta
CRIA 151
Capítulo 11: Tristeza parasitária bovina

12. Além de temperatura e hematócrito, o correto é realizar o esfre-


gaço sanguíneo para identificar os agentes e tratar corretamente? Se
sim, o que é preciso para iniciar esse manejo?
Sim, a realização do esfregaço sanguíneo permite a identificação exa-
ta do(s) agente(s) e o que permite realizar o tratamento específico. Para
iniciar esse manejo, é necessária a aquisição de um microscópio, lâmina
para confecção de esfregaço e corantes, assim como realizar o treinamen-
to da equipe responsável pelo monitoramento.

13. Olhar somente a mucosa dos animais é uma forma de identificar


a tristeza parasitária bovina e tratar os animais doentes?
Sim, mas não é a forma de diagnóstico precoce. Quando os animais
apresentam mucosas pálidas, já apresentam anemia intensa. Nesses ca-
sos, o tratamento visando apenas o agente etiológico não é suficiente,
pois a anemia assume grande importância no quadro clínico, dificultando
a recuperação do animal. Outro ponto importante é que outras doenças
podem causar alterações na coloração das mucosas e confundir com o
diagnóstico de tristeza parasitaria bovina.

14. É efetivo monitorar a tristeza parasitária bovina pelos colares de


atividade e ruminação?
No Brasil, tecnologias de monitoramento já têm sido utilizadas para
a sinalização de doenças em vacas e novilhas com boa eficácia, inclusive
para tristeza parasitária. Em bezerros, a tecnologia também tem sido uti-
lizada em outros países. No entanto, ainda não há resultados específicos
para a detecção de tristeza parasitária em bezerros até seis meses de
idade. Atualmente, um estudo está sendo realizado para avaliar o uso des-
sas tecnologias como ferramenta para identificação precoce de animais
jovens com tristeza parasitária.

15. Existem vacinas eficientes contra tristeza parasitária bovina? Se


sim, quais?
Estão sendo desenvolvidas vacinas para a prevenção da tristeza parasi-
tária bovina, porém, infelizmente, ainda está na fase de pesquisa e não há
produtos comerciais no Brasil.

152
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

16. Trabalhar com preventivos, como o Imizol®, na época de maior


desafio, é uma alternativa? Se sim, como montar essa estratégia de
aplicação?
A utilização do diproprionato de imidocarb, base desse produto, como
forma preventiva (quimioprofilaxia) não é uma boa opção. Usualmente, isso
acaba prorrogando a ocorrência da doença, a qual pode se apresentar de
forma mais grave nos animais mais velhos. Essa prática não permite que
o animal tenha contato suficiente para criar imunidade. É muito frequente
observar quadros de tristeza parasitária bovina quando cessa o uso do imi-
docarb. Porém, em situações de surtos da doença, o seu uso como metafi-
laxia é uma boa estratégia para minimizar o problema e dar oportunidade à
equipe para atuar no controle da doença.

17- Geralmente, a tristeza parasitária bovina é mais comum em


que fase de idade dos animais?
A maioria dos casos acontece após o desaleitamento, quando, usual-
mente, aumenta o contato dos animais com os vetores (moscas hematófa-
gas e carrapatos). O período mais crítico se encontra entre 90 e 180 dias
de idade.

18- Quais os melhores tratamentos para os diferentes agentes cau-


sadores da tristeza parasitária bovina?
• Anaplasmose (Anaplasma marginale):
- Oxitetraciclina LA: 20 mg/kg, via intramuscular, dose única
- Enrofloxacino: 7,5 mg/kg, via intramuscular, dose única
- Diproprionato de Imidocarb: 3 mg/kg, via subcutânea, dose única
• Babesiose (Babesia bigemina e Babesia bovis)
- Diaceturato de diminazeno: 3,5 mg/kg, via intramuscular, dose única
- Diproprionato de imidoarb: 1,2 mg/kg, via subcutânea, dose única

19- Se o animal for tratado uma vez, ele pode vir a ter a tristeza
parasitária bovina novamente? Se sim, sigo com a mesma base de
tratamento?
Sim, isso pode acontecer, principalmente, com quadros de anaplasmo-
se. É necessário ser realizado o mesmo tratamento.

Alta
CRIA 153
Capítulo 11: Tristeza parasitária bovina

20. A hidratação de animais que apresentam tristeza parasitária bo-


vina é importante? Se sim, posso usar a mesma fórmula de soro oral
de bezerros para as novilhas?
Sim, a hidratação de animais com tristeza parasitária é muito importan-
te, especialmente em animais com quadros mais graves, pois eles tendem a
diminuir, consideravelmente, o consumo de água e alimentos. Além disso,
cursam com quadro de acidose metabólica. Para bezerros após o desalei-
tamento e novilhas, o soro a ser utilizado pode ser similar ao usado para
bezerros com diarreia. No entanto, é necessário substituir a fonte de ener-
gia, ou seja, em vez de utilizar glicose, deve-se utilizar propilenoglicol, já que
esses animais já possuem uma microbiota ruminal bem desenvolvida.

21. Em caso de necessidade de transfusão sanguínea, em caso grave


de tristeza parasitária bovina, qual o volume ideal de sangue a ser
fornecido? Seria dose única ou deve ser dividida a aplicação? Quais
critérios deverão ser usados para a escolha da doadora que não seja
a própria mãe?
De forma prática, devem ser fornecidos de 10 a 15 ml de sangue/kg
de peso corporal. Esse volume deve ser infundido de uma só vez, sendo
administrado lentamente. Logo, um animal de 100 kg deverá receber
cerca de 1 a 1,5 l de sangue. Com relação à escolha do doador, o animal
selecionado deve estar saudável, não deve estar recebendo medicações e
ser livre de doenças infecciosas de grande importância como brucelose,
tuberculose e tripanossomose.

22. O confinamento total dos bezerros, novilhas e vacas pode se


tornar um problema caso surja um surto de tristeza parasitária na
minha fazenda?
Ao confinar os animais, reduz-se o contato deles com os vetores (car-
rapatos e moscas hematófagas), diminuindo a resistência ao complexo de
doenças da Tristeza Parasitária Bovina. Caso aconteça um aumento na
população dos vetores em um momento específico, surtos da doença com
altas taxas de morbidade e mortalidade podem ocorrer.

154
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

23. Fazendas que não comercializam animais, podem realizar o con-


finamento total das bezerras, novilhas e vacas, pensando em evitar
a tristeza parasitária bovina, melhorar o desempenho e a produtivi-
dade futura dos animais?
Sim. Fazendas que confinam todos os animais, usualmente, são mais
eficientes. Há diminuição da morbidade e da mortalidade, assim como há
melhor eficiência alimentar.

24. Como agir com novilhas oriundas de regiões ou fazendas com


baixo desafio de tristeza parasitária bovina, assim que eles chegam a
uma propriedade que é comum casos de tristeza parasitária bovina?
Monitorar intensivamente através da aferição da temperatura retal e
mensuração de hematócrito ou, preferencialmente, confecção e leitura de
esfregaço sanguíneo.

25. É recomendável fazer a pré-imunização dos bezerros em siste-


mas de alto desafio de tristeza parasitária bovina?
A pré-imunização é uma forma de tentar minimizar os problemas com
tristeza parasitária, tendo em vista que permite criar uma imunidade pré-
via antes do desafio e monitorar os animais pré-imunizados dentro de um
período, previamente, conhecido. No entanto, há dificuldades de padro-
nização dos inóculos com relação à presença, quantidade e virulência dos
agentes.

Alta
CRIA 155
156
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

Capítulo 12
NUTRIÇÃO E REPRODUÇÃO
DE NOVILHAS

Alta
CRIA 157
Capítulo 12: Nutrição e reprodução de novilhas

Gabriel Caixeta Ferreira - Grupo Apoiar


Glaucio Lopes - Alta
José Eduardo Portela Santos - University of Florida
Polyana Pizzi Rotta - Universidade Federal de Viçosa
Valdir Chiogna Júnior - Milk+ Consultoria

158
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

1- Após a transição no pós-desaleitamento, quantos lotes deve-


riam ser criados pensando no manejo alimentar até o primeiro parto
das novilhas?
O número de lotes numa fazenda depende do número total de animais.
Quanto mais animais no rebanho, maior a possibilidade em se fazer mais
lotes, objetivando assertividade no manejo nutricional e homogeneidade
dentro do lote. Para exemplificar, vamos considerar uma fazenda com 100
partos de fêmeas ao ano. Se os partos forem distribuídos ao longo do ano,
teremos 25 animais com variação de idade de dois meses para mais ou dois
meses para menos (exemplo: cinco meses de idade na média, variando de
três a sete meses); dessa forma, poderemos trabalhar com lotes de 25 ani-
mais (nesse exemplo), desde que haja espaço de cocho de 0,4 a 0,6 m (raça
Holandês a depender da idade dos animais). Com quatro lotes, as divisões
ficariam da seguinte forma:
• Lote 1: animais com três a sete meses de idade;
• Lote 2: animais com 8 a 12 meses de idade;
• Lote 3: animais com 13 a 18 meses de idade;
• Lote 4: animais com 19 a 23 meses de idade.
Essa seria uma sugestão de divisão de lotes, sendo que pode variar de
acordo com o tamanho da fazenda. Se a fazenda tiver mais nascimentos,
pode-se trabalhar com número maior de lotes. No lote 1, é interessante
manter grupos pequenos, de até 8 animais, sem variações superiores a 1
mês de idade nessa fase da vida. Após os 7 meses de idade, manter, no
máximo, quatro meses de diferença entre os animais do lote ou 90 kg de
peso corporal. Outro ponto importante é avaliar o tamanho (altura) e peso
corporal do animal, pois podemos ter animais com menor ganho de peso
corporal diário e, mesmo que atinjam a idade para mudar de lote, devem
continuar no lote com animais menores para evitar brigas e competição no
cocho.

2. A quantidade de concentrado após o desaleitamento tem que ser


restrito? Se sim, qual a quantidade máxima?
O animal é desaleitado normalmente ingerindo por volta de 2 kg de
concentrado ao dia. No entanto, para suprir as demandas nutricionais desse
animal, há o oferecimento de leite (por volta de 4 l próximo ao desaleita-
mento) e a ingestão de feno ou silagem de milho em quantidades restritas.
Quando tiramos o leite desse animal, a energia e proteína oriundas do leite
devem vir de outra fonte, no caso, o volumoso (por ser mais barato que o

Alta
CRIA 159
Capítulo 12: Nutrição e reprodução de novilhas

concentrado e estimular a ruminação). Dessa forma, após o desaleitamen-


to, a quantidade de concentrado deve ser restrita a dois a 3 kg por dia, pois
a dieta deve ser fornecida misturada ao volumoso. Devemos lembrar que
esse animal precisa ruminar e que a ruminação ocorre com a ingestão de
fibra oriunda de volumoso. Além disso, se fornecermos concentrado à von-
tade, o custo de produção aumenta, há maiores chances de acidose ruminal
e menor desenvolvimento ruminal.
Porém, trabalhos mais recentes mostram que visando a otimizar o desem-
penho na recria, entre 2 e 4 meses de idade, dietas com 80% de concentra-
dos tendem a maximizar o consumo de matéria seca e, consequentemente,
o desempenho. Nesse sentido, uma novilha de quatro meses de idade, com
140 a 160 kg de peso corporal, pode chegar a consumir próximo a quatro
kg de concentrado, desde que não haja excesso de amido (acima de 35%)
ou teores de fibra em detergente neutro excessivamente baixos.

3. O teor de proteína bruta fornecida na dieta do pós-desaleitamento


até o primeiro parto das novilhas muda?
Sim, considerando os quatro lotes sugeridos na questão número 1, pode-
mos utilizar as seguintes estratégias nutricionais com foco na proteína bruta
para novilhas:
• lote 1: animais com três a sete meses de idade (17% de proteína bruta);
• lote 2: animais com 8 a 12 meses de idade (16% de proteína bruta);
• lote 3: animais com 13 a 18 meses de idade (15% de proteína bruta);
• lote 4: animais com 19 a 23 meses de idade (14% de proteína bruta).
Esse teor de proteína é recomendado para dietas com objetivo de ganho
de peso corporal diário por volta de 900 g (raça Holandês). Ainda, destaca-
-se que a maneira mais precisa de formular dietas de novilhas e ajustar pro-
teína e energia seria utilizando a relação proteína metabolizável por energia
metabolizável. Proteína metabolizável porque essa será a proteína absorvida
pelo intestino delgado e que terá função na deposição muscular do animal.

4. Posso fazer o ajuste dos teores de proteína com ureia? Se sim, a


partir de qual faixa etária? Qual a quantidade tolerável pelo animal?
Sim, no entanto a ureia não pode ser dada para bezerros em aleitamento
e na fase de transição. Na recria, preferencialmente, devemos dar preferên-
cia a fontes de proteína verdadeira, embora não tenhamos, na literatura,
exigências claras em relação ao balanceamento e quantidade em gramas
de aminoácidos essenciais a serem fornecidos nessa fase. Uma forma de

160
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

calcular a inclusão de ureia, a partir dos quatro meses de idade, vai depen-
der do tipo de volumoso e do tipo de concentrado fornecido. No rúmen, a
ureia será transformada em proteína microbiana (muito importante para o
animal) desde que haja energia prontamente disponível para esse processo.
Dessa forma, o concentrado deverá conter fonte de energia como o milho
fubá. Tomando como exemplo uma novilha de quatro meses de idade, pe-
sando 130 kg, recebendo dieta total com silagem de milho e concentrado
contendo milho fubá e farelo de soja, pode-se incluir nessa dieta até 32,5 g
de ureia mais sulfato de amônio (relação de nove partes de ureia para 1 par-
te de sulfato de amônio) por animal, por dia (até 0,025% do peso corporal
do animal) para uma dieta formulada para ganho de peso corporal próximo
a 800 g. Ao utilizar ureia, deve-se também se atentar para o uso de uma
fonte de enxofre (sulfato de amônio ou flor de enxofre) para a produção de
aminoácidos sulfurados, como a metionina. A proporção de ureia por peso
corporal aumenta, chegando até um limite de 0,05% do peso corporal para
animais mais velhos; dessa forma, animais pesando 500 kg podem receber
até 250 g de ureia mais sulfato de amônio por dia. Esse é o limite máximo
que, se ofertado, deve ser via dieta total com fonte de energia, rapidamente,
disponível no rúmen (exemplo: fubá de milho). Para animais que ficam no
pasto ou que não consomem dieta total, esse valor muda e varia de acor-
do com os ingredientes da dieta. Outra forma de ajuste do teor de ureia
na dieta, além dos níveis de toxicidade, seria de acordo com quantidades
excessivas de proteína não degradável no rúmen, sendo que valores entre
9,7 e 10,3% de proteína degradável no rúmen seriam níveis máximos. Ní-
veis superiores a isso podem acabar não sendo utilizados para a produção
de proteína microbiana, por falta de carboidratos fermentescíveis e, dessa
forma, as concentrações de proteína metabolizável não seriam atendidas. A
melhor maneira para formular dietas com ureia para novilhas, sem que haja
preocupações com a saúde do animal, é consultar um nutricionista.

5. Quais as melhores fontes de proteína no concentrado das novilhas?


As melhores fontes disponíveis, no mercado brasileiro, para formulação de
dietas para novilhas são farelo de soja, grãos de milho secos por destilação
(DDG), farelo de algodão e a ureia. Existem outras fontes, que devido ao
custo são mais utilizadas para vacas em lactação. Além disso, é importante
se atentar à qualidade do DDG utilizado, visto que, diferentemente do farelo
de soja, sua composição bromatológica varia grandemente. O ideal é que o
DDG tenha, no mínimo, 30% de proteína bruta.

Alta
CRIA 161
Capítulo 12: Nutrição e reprodução de novilhas

6. Existe alguma relação de quantidades de aminoácidos essenciais (prin-


cipalmente lisina) oferecida na recria em relação à produção de leite na
primeira lactação?
Pesquisas sobre as exigências de aminoácidos de bovinos jovens são limita-
das, principalmente, em relação aos diferentes estágios de crescimento durante
a vida, uma vez que os modelos devem levar em conta as mudanças nas exi-
gências fisiológicas e de crescimento ao longo do desenvolvimento do animal.
Portanto, mesmo que se saiba que lisina seja o aminoácido mais importante
para o crescimento, infelizmente não temos dados que suportam recomenda-
ções práticas correlacionando quantidades de aminoácidos fornecidos por dia
e suas relações entre si, com desempenho em crescimento ou futura produção
quando lactante.

7. Qual a melhor forma de trabalhar com proteína degradada no rúmen


e proteína não degrada no rúmen na dieta de novilhas?
As recomendações de teores de proteína degradável no rúmen e proteína
não degradada no rúmen em dietas de novilhas não diferem muito das reco-
mendações de vacas lactantes, devendo estar entre 65 e 70% de proteína
degradada no rúmen na proteína total.

8. Quais as melhores fontes de energia no concentrado das novilhas?


As melhores fontes de energia para novilhas são o milho fubá, aveia, farelo
de trigo, farelo de sorgo e os grãos de milho secos por destilação (DDG). Eles
apresentam boa qualidade nutricional e proporcionam excelentes resultados
em ganho de peso corporal; no entanto, devemos nos atentar para o balance-
amento da energia e proteína na dieta, pois valores excessivos de energia na
dieta levam ao acúmulo de gordura nas novilhas e prejuízo em seu crescimento.

9. As dietas das novilhas devem ser calculadas em cima das exigências


de aminoácidos ou de proteína bruta?
A função da proteína dietética é determinada pela sua composição de ami-
noácidos, as habilidades digestivas de nutrientes dos animais e quão bem a
composição do aminoácido absorvido corresponde ao equilíbrio exigido pelos
animais. Porém, como os dados de exigência de aminoácidos para animais em
crescimento são escassos, na prática, usamos balanço de proteína degradável
no rúmen, e proteína metabolizável disponível para ganho de peso corporal,
no balanceamento de proteína da dieta. Em relação ao balanceamento entre
proteína e energia, há, na literatura, sugestões de alguns pesquisadores da re-

162
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

lação em gramas de proteína bruta por megacaloria de energia, bem como ou-
tros, sugerindo relação de gramas de proteína metabolizável por megacaloria.

10. Suplementação injetável com aminoácidos, 1 vez por mês, é reco-


mendada em casos quando não se tem uma dieta adequada para as
novilhas?
Não há dados na literatura que suportam recomendação de aminoácidos
injetáveis como alternativa eficiente para suplementação de aminoácidos em
novilhas.

11. As novilhas devem receber dietas acidogênicas no pré-parto?


Dietas acidogênicas têm como objetivo reduzir o risco de hipocalcemia em
vacas leiteiras nos primeiros dias de lactação. Resultados de pesquisas recentes
mostram que não há benefício em alimentar nulíparas (lactação zero pré-parto
e lactação 1 pós-parto) com dietas acidogênicas nas últimas semanas de ges-
tação.

12. Devemos mensurar o pH da urina das novilhas? Se sim, quais proto-


colos devemos fazer, caso ele venha a estar alterado?
Apenas se forem alimentadas com dietas acidogênicas no lote pré-parto.
Caso contrário, não é necessário. Porém, não há benefício em alimentar no-
vilhas com dietas acidogênicas no lote pré-parto. No entanto, caso o produtor
opte por fazê-la, aí a avaliação do pH urinário se torna necessária para evitar
casos em que a dieta induz acidose metabólica excessiva, o que pode trazer
problemas pós-parto. Quando se faz o monitoramento de pH urinário, esse
deve ser aferido em animais que já estão recebendo a dieta por, pelo menos,
dois dias. De maneira geral, o ideal é que todos os animais tenham pH urinário
entre 5,8 e 7,0, e que nenhum animal tenha pH urinário abaixo de 5,5. A
indicação é aferir o pH urinário de 8 a 10 animais. Após vestir uma luva de pal-
pação transretal, estimule o animal a urinar massageando levemente a região
do períneo. Espere até que o animal urine de forma abundante e colete uma
amostra em um tudo de plástico ou faça a mensuração direta no momento. A
medida de pH pode ser feita com um medidor de pH previamente calibrado
ou então uma fita colorimétrica indicativa de pH. Caso mais de dois dos oito
animais tenham pH abaixo de 5,8, então são recomendados pequenos ajustes
na quantidade de mistura acidogênica adicionada à dieta. Caso essas novilhas
estejam recebendo a mesma dieta pré-parto que as vacas pré-parto, então é
importante reavaliar a dieta, caso animais apresentem pH urinário acima de

Alta
CRIA 163
Capítulo 12: Nutrição e reprodução de novilhas

7,0, não devido a possíveis problemas com as novilhas, mas devido ao aumen-
to de risco de hipocalcemia nas vacas.

13. Qual parâmetro de ganho de peso e altura corporal devemos uti-


lizar para saber se a dieta está adequada nas diferentes idades?
Considerando novilhas Holandês cujo rebanho tem peso corporal a ma-
turidade de 650

Ganho de
Idade Peso Altura Altura
peso corporal
(meses) corporal (kg) cernelha (cm) garupa (cm)
(kg/dia)
3 0,8 100 96 100
4 0,8 124 101 105
5 0,8 148 106 110
6 0,8 172 110 115
7 0,8 196 114 119
8 0,8 220 117 122
9 0,8 244 120 125
10 0,8 268 123 128
11 0,8 292 126 131
12 0,8 316 128 135
13 0,8 340 130 137
14 1,0 364 132 138
15 1,0 394 134 140
16 1,0 424 135 141
17 1,0 454 136 142
18 1,0 484 138 143
19 1,0 514 139 144
20 1,0 544 140 145
21 1,0 574 141 146
22 1,0 604 142 147
23 1,0 - 143 148

164
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

14. Existe algum problema em fornecer caroço de algodão para as


novilhas?
O caroço de algodão é um alimento muito nobre e que, normalmente,
é utilizado em dietas de vacas em lactação por conter energia oriunda de
extrato etéreo e fibra que ajuda na ruminação. Esse alimento pode fazer
parte da dieta de novilhas, mas é, economicamente, inviável. Seu alto
custo não justifica o uso para novilhas. Além disso, altas concentrações
de caroço de algodão podem elevar o extrato etéreo da dieta para valores
próximos a 5%, não sendo interessante para animais em crescimento,
que possuem exigência por volta de 3% em extrato etéreo. Altos teores
de EE para novilhas resultarão em menor digestibilidade da fibra, menor
consumo e menor ganho de peso corporal. Dessa forma, recomenda-se
que esse alimento seja utilizado para vacas e que se procurem alternativas
mais baratas para as novilhas, como os grãos de milho secos por destila-
ção (DDG).

15. Como trabalhar na prática com o balanceamento de energia e


proteína na dieta de novilhas?
Para o balanceamento de proteína e energia em dietas de novilhas, é
importante dividirmos o desenvolvimento em fases do desenvolvimento.
Essas fases são:

g de proteína
g de proteína
metaboli-
bruta por Proteína bru-
zável por
Período Tipo de dieta megacaloria ta da matéria
megacaloria seca da dieta
de energia
de energia
metabolizável
metabolizável

Transição de Alto concen-


52 a 56 38 17 a 18%
2 a 4 meses trado

Quatro meses
até a primeira Alta forragem 61 a 65 44 16 a 17%
inseminação

20 meses ao
Alta forragem 53 a 56 36 14%
pré-parto

Alta
CRIA 165
Capítulo 12: Nutrição e reprodução de novilhas

É importante salientar que, para a formulação de dietas com as relações


de proteína e energia acima, devemos nos atentar às exigências de energia
metabolizável e consumo de matéria seca das dietas. Nesse sentido, a tabela
abaixo pode auxiliar na formulação:

Peso corporal Consumo de matéria Energia metabolizável


(kg) seca (kg/dia) (Mcal/dia)

163 4,7 11,9


201 5,7 14,4
247 6,5 16,2
300 7,4 17,7
349 8,2 19,6
398 8,7 20,7
449 9,4 22,3
499 10,6 24,9
549 10,5 24,6
593 11,1 25,9
643 12,3 28,3

Os valores tabelados acima são apenas referências para animais da raça


Holandês, com ganho de peso corporal esperado entre 800 e 900 g por
dia. Os níveis de energia e proteína da dieta devem ser ajustados de acordo
com os desafios ambientais e sanitários que podem existir nos diferentes
rebanhos. Em casos em que o ganho de peso corporal está aquém do dese-
jado, o aumento dos níveis de energia e de proteína, mantendo as relações
propostas, podem promover melhoria no desempenho dos animais.

16. Qual teor de amido mínimo e máximo na dieta das novilhas?


Com base com o que temos na literatura, dietas contendo de 13 a 22%
de amido são consideradas ideais e valores abaixo ou acima podem pre-
judicar o desempenho quando se objetiva ganho de peso corporal diário
próximo a 1.000 g. É importante destacar que existe uma interação entre o
amido e a fibra na dieta, bem como a inclusão de tamponantes, como bicar-
bonato de sódio e óxido de magnésio, por exemplo. Dessa forma, valores

166
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

mais elevados de amido na dieta de novilhas podem ser ofertados desde que
haja fibra efetiva e aditivos para melhorar a fermentação ruminal.

17. Quais os melhores volumosos para serem utilizados na dieta das


novilhas nas diferentes fases?
Animais em recria nos permitem maior diversidade de uso de volumosos
em relação a vacas em lactação, que são mais exigentes em relação à diges-
tibilidade da fibra em detergente neutro e ao teor de energia. As melhores
opções são: silagem de milho e silagem de capim (bem-feita) ou capim pica-
do (não pode estar “passado”). Um dos problemas que enfrentamos com as
novilhas no confinamento é o elevado ganho de peso corporal quando for-
necemos silagem de milho à vontade. Esse ganho, normalmente, é conver-
tido em gordura quando a dieta não está bem ajustada. Dessa forma, o uso
do capim elefante ou Capiaçu é interessante, apesar do aumento da mão
de obra. Isso porque o capim fresco precisa ser cortado diariamente e a si-
lagem de capim é laboriosa e, se os processos não forem bem-feitos, o risco
de ter um volumoso ruim é grande. Uma sugestão seria o uso de silagem de
milho para novilhas de 4 a 9 meses e o uso de capim elefante ou Capiaçu
misturado com a silagem de milho para as demais fases. Isso reduz o custo
de produção e diminui a quantidade de energia que poderá ser convertida
em gordura. Para animais mantidos em pastagem, o capim Mombaça e/ou
Tifton são ótimas opções, mas requerem manejos intensivos, como rota-
ção, adubação, controle de altura para entrada e saída dos animais e maior
controle de prevenção de endo e ectoparasitas nos animais.

18. Qual o escore de condição corporal ideal para novilhas no primei-


ro serviço e ao parto?
O escore ideal para o primeiro serviço em novilhas é 3. Ao parto, es-
tudos recentes mostram que o escore ideal é 2,75 e que esse deve ser
mantido por toda a fase de transição. No entanto, sabemos da dificuldade
em manter esse escore, principalmente, para novilhas em confinamento.
Nesse caso, o objetivo da fazenda deverá ser manter o escore de condi-
ção corporal entre 2,75 e 3,25. Porém outros trabalhos demonstram que
parto de novilhas com escore corporal entre 3,25 a 3,75 garantem maior
produção de leite, onde novilhas que apresentam produção de leite não
tão alta no pós-parto imediato, ao parirem com escore maior, geralmente,
não apresentam maior quantidade de doenças metabólicas e permite maior
condição corporal na inseminação, que tem sido constantemente associada

Alta
CRIA 167
Capítulo 12: Nutrição e reprodução de novilhas

a melhores resultados reprodutivos. Ou seja, devemos buscar o escore de


condição corporal por volta de 3,0 e evitar perda após o parto para evitar
o aparecimento de problemas metabólicos que podem influenciar negativa-
mente na produção de leite desses animais.

19. Em fazendas com desenvolvimento das novilhas acima do preco-


nizado, animais com 11 meses, peso corporal de 350 kg ou mais e
escore corporal acima no ideal, o que pode ser alterado na dieta para
atingir o peso corporal de primeira inseminação na idade certa e com
o escore correto?
Ajustar a relação entre proteína metabolizável e energia metabolizável
fornecida na dieta (trabalhar com relação acima de 44 g de proteína meta-
bolizável por megacaloria de energia metabolizável) pode ser uma solução.
Nesse caso, possivelmente, as novilhas estão sendo alimentadas com exces-
so de energia, e isso está predispondo acúmulo de gordura em detrimento
de tecido magro. Como o peso corporal alvo está sendo atingido com fa-
cilidade, o mais adequado, nesse caso, seria reduzir energia da dieta. Isso,
naturalmente, trará equilibro na relação proteína metabolizável e energia
metabolizável e ajuste de escore corporal, sem comprometer precocidade
ou desempenho futuro da novilha. Em termos práticos, normalmente, isso
ocorre devido ao excesso de silagem de milho na dieta.

20. Pensando em novilhas da raça Holandês, qual o ganho de peso


corporal ideal da inseminação até o parto?
Podemos considerar dois frames (tamanhos) de vacas da raça Holandês.
As que atingem a maturidade (terceira lactação) com 650 kg e as que atin-
gem com 750 kg. Dessa forma, inicialmente, é necessário entender com
qual rebanho estamos trabalhando. As novilhas precisam parir com 94% do
peso corporal à maturidade; dessa forma, considerando animais com peso
corporal à maturidade de 650 kg, o peso corporal recomendado à primei-
ra inseminação será, aproximadamente, 340 kg. Subtraindo 611 kg por
340 kg, temos que a novilha deverá ganhar 271 kg durante a gestação. O
período de gestação de novilhas Holandês é, aproximadamente, 275 dias,
assim, o ganho de peso corporal diário (271 kg dividido por 275 dias) será
em torno de 1.000 g por dia.

21. Quando o peso corporal para inseminação (350 a 360 kg) é atin-
gido com 11 meses de idade em média, o que é mais indicado, inse-

168
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

minar nessa idade ou aguardar os 13 meses para inseminar?


Novilhas de raças leiteiras devem ser inseminadas quando atingirem 55%
do peso corporal adulto para o genótipo da raça. Cada raça terá seu peso
corporal específico. Por exemplo, para novilhas da raça Holandês, cujo
peso corporal adulto no rebanho (vaca de 3ª lactação com condição corpo-
ral de 3,25 a 3,50) seja de 690 kg, as novilhas deveriam ser inseminadas
ao atingirem cerca de 380 kg. Essa recomendação é baseada no fato de que
animais de raças leiteiras especializadas atingem puberdade com cerca de
40 a 45% do peso corporal adulto e de necessitarem de 2 a 3 ciclos estrais
para atingirem maturidade sexual, quando a fertilidade se estabiliza. No en-
tanto, essa recomendação depende também de os animais não ganharem
peso corporal excessivo em seu primeiro ano de idade, o que resultaria em
novilhas com peso corporal adequado, mas ainda muito jovens para insemi-
nação. Novilhas com ganhos de peso corporal excessivo, no caso da raça
Holandês, acima de 1.000 g por dia, acabam atingindo peso corporal para
inseminação precocemente, mas seu desenvolvimento estrutural fica aquém
daquele de um animal com mesmo peso corporal, mas 1 ou 2 meses mais
velho e que teve ganhos de peso corporal no 1º ano de idade entre 850 e
900 g por dia. No caso da raça Holandês, isso se torna importante, pois
a incidência de distocia, natimortos e laceração vaginal é mais alta que em
outras raças. Novilhas da raça Holandês que parem com idade inferior a 22
meses têm maior risco de problemas ao parto. Portanto, no caso da raça
Holandês, é recomendado que, além do peso corporal, os animais tenham,
no mínimo, cerca de 380 a 390 dias de idade à 1ª inseminação. No caso
de novilhas da raça Jersey, é possível inseminá-las com 360 dias de idade
desde que já tenham atingido os 55% do peso corporal adulto para o ge-
nótipo da raça.

22. Existe idade mínima para as novilhas serem inseminadas, mesmo


quando alcançam o peso corporal de serem inseminadas?
De maneira geral, idade mínima existe para todas as fêmeas mamíferas,
não apenas bovinos. No caso de bovinos leiteiros, o fator principal é o risco
dessa novilha não atingir peso e estrutura corporal adequadas ao 1º parto,
o que ocasiona aumento no risco de distocia, laceração vaginal, natimortos
e perda em produção na 1ª lactação. De maneira geral, espera-se que a
novilha atinja 92% do peso corporal adulto na semana anterior ao parto
(exemplo: se o peso corporal adulto para a raça é de 690 kg, então temos
que planejar para que a novilha chegue na semana anterior ao parto com

Alta
CRIA 169
Capítulo 12: Nutrição e reprodução de novilhas

635 kg). Para atingir tais pesos corporais em um animal muito jovem ao
1º parto (exemplo: 21 meses de idade), essa novilha teria que ganhar mais
de 1.000 g de peso corporal por dia, o que não é recomendado em certas
fases da vida do animal. Portanto, para que a novilha seja capaz de atingir
peso corporal adequado sem ganho excessivo, principalmente, entre os
quatro e 10 meses de idade, é importante estabelecer metas e uma delas
é que as da raça Holandês atinjam 360 a 370 kg aos 390 dias de idade,
sendo que as da raça Jersey (peso corporal adulto 490 kg) atinjam 240 a
250 kg aos 360 dias de idade para a 1ª inseminação.

23. Há algum problema futuro em inseminar animais com menos de


14 meses de idade, mas que já atingiram o peso corporal de insemi-
nação?
Não, desde que esses animais não apresentem ganhos de pesos cor-
porais excessivos entre quatro e 10 meses de idade e desde que atinjam
peso corporal logo antes do 1º parto equivalente a 92% do peso corporal
adulto para o genótipo da raça. Obviamente, para respeitar tais padrões de
crescimento e atingir idade ao 1º parto mais precoce, o produtor terá que
investir mais esforço no manejo das novilhas e estar mais atento para evitar
erros que, de maneira geral, não são de fácil correção uma vez que ocor-
ram, como crescimento e peso corporal inadequado ao 1º parto. Aqui é
importante saber qual o potencial de crescimento do genótipo utilizado. Por
exemplo, animais da raça Jersey de origem norte-americana são de porte
e peso corporal maior que animais da raça Jersey de origem neozelandesa.
Da mesma forma, animais da raça Holandês de origem norte-americana
são de porte e peso corporal maiores que os Fríseos de origem holandês ou
neozelandês. O mesmo deverá ser conhecido se animais forem de origem
zebuína ou cruzados. Portanto, ao decidir quando inseminar sua novilha,
primeiro mensure o peso corporal adulto dos animais em seu rebanho. De-
pois, avalie o desempenho dos animais em crescimento, a taxa de ganho de
peso corporal diária. Uma vez, tendo esses dados em mão, planeje a idade
à 1ª inseminação de tal forma que 55% dessas novilhas irão emprenhar
assim que inseminadas pela primeira vez e chegarão ao parto 275 a 277
dias mais tarde. Neste momento, questione se há tempo suficiente para que
as novilhas atinjam peso corporal adequado (92% do peso corporal adulto)
na semana anterior ao parto. Caso contrário, reavalie seu programa de
cria de novilhas e o manejo reprodutivo necessário até que atinja as metas
desejadas para seu rebanho, sem comprometer o desempenho produtivo

170
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

ou aspectos econômicos durante a 1ª lactação.

24. Em um grupo de novilhas com peso corporal ideal ao parto, po-


rém com 26 meses de idade, e outro grupo com 24 meses, porém
com peso corporal ao parto inferior, qual grupo possui maior proba-
bilidade de dar mais leite?
Os animais com 26 meses e com peso corporal adequado ao parto irão
produzir mais leite na 1ª lactação que os de 24 meses e com peso corporal
aquém do recomendado. Por exemplo, novilhas da raça Holandês com 26
meses de idade ao 1º parto e com 630 kg ao parto irão produzir mais leite
que companheiras de rebanho com 24 meses de idade e com apenas 590
kg ao parto. Fazer uma novilha parir mais jovem, mas com peso corporal
inadequado (exemplo: novilha que chega ao parto com 24 meses de idade,
mas com apenas 85% do peso corporal adulto), resulta em desenvolvimen-
to mamário inadequado, o que irá comprometer a produção de leite na 1ª
lactação. Além disso, essa novilha acabará usando mais dos nutrientes con-
sumidos durante a 1ª lactação para seu crescimento, para incorporação de
mais tecido ósseo e muscular, sendo a incorporação de proteína no tecido
muscular de alto custo energético. Com isso, nutrientes que poderiam ser
utilizados para a síntese de leite acabam sendo redirecionados para cres-
cimento. Muitos produtores utilizam da estratégia de parir a novilha com
idade mais precoce com o objetivo de encurtar o período não produtivo,
o que traz benefícios econômicos quando mensurados de forma vitalícia.
No entanto, para obter esses benefícios de encurtar a idade ao 1º parto, o
produtor deve estar ciente de que eles só ocorrem quando a novilha atinge
crescimento e peso corporal adequados ao 1º parto.

25. É possível inseminar as novilhas somente por inseminação artifi-


cial em tempo fixo?
Sim. Novilhas respondem muito bem aos protocolos de inseminação
artificial em tempo fixo e, se as condições de manejo não proporcionarem
um ambiente adequado para uma boa prática de detecção de cio, ou se
não houver disponibilidade de pessoas capacitadas para desempenhar a
técnica de detecção de cio e de inseminação artificial todos os dias, o uso
da ferramenta reprodutiva baseada em protocolos de fertilidade nos quais se
inseminam os animais em um único dia da semana, pré-determinado pela
duração do protocolo, torna-se uma alternativa viável. Trabalhos da Uni-
versidade da Florida, Estado Unidos, vão além do desempenho reprodutivo

Alta
CRIA 171
Capítulo 12: Nutrição e reprodução de novilhas

e mostram que inseminar novilhas apenas por inseminação artificial em


tempo fixo também pode ser uma alternativa rentável. Muito embora haja
maior investimento na compra, manejo, e administração de hormônios re-
produtivos, o custo total de geração de uma prenhez em um ambiente onde
todas as novilhas são submetidas a protocolos de inseminação artificial em
tempo fixo para todos os serviços é mais baixo que a maioria das estraté-
gias de manejo, baseadas apenas na detecção de cio quando a intensidade
de submissão das novilhas para inseminação artificial também é baixa. Por
exemplo, submeter todas as novilhas a protocolos de 100% tempo fixo é,
economicamente, mais viável que práticas de inseminação em cio em que
a taxa de serviço é menor que 80%. Quando a taxa de serviço é 80% ou
maior, o custo total de geração de uma prenhez deixa de ser mais rentável
para o ambiente 100% tempo fixo e passa a ser mais rentável para um
manejo baseado em alta submissão e acurácia na detecção de cio. Quando
há combinação das duas estratégias, numa prática conhecida como insemi-
nação artificial em tempo fixo mais detecção de cio, o limiar de rentabili-
dade, levando-se em consideração a intensidade de submissão de novilhas
à inseminação artificial, após observação de cio comparada para novilhas,
sendo inseminadas em 100% tempo fixo, diminui. Por exemplo, ao sub-
meter todas as novilhas a um primeiro serviço, seguindo um protocolo de
inseminação artificial em tempo fixo, adicionando detecção de cio para as
novilhas que não emprenharam e retornaram ao cio durante o período
regular do ciclo estral, e submetendo novilhas diagnosticadas não prenhes
ao diagnóstico do veterinário para outro protocolo de inseminação artificial
em tempo fixo (comumente chamado de ressincronização), o custo total de
geração de uma prenhez, seguindo esse protocolo, passa a ser mais baixo
a partir de uma taxa de serviço de 60% quando comparado com o valor de
geração de uma prenhez pela prática de manejo baseada em 100% tempo
fixo. Se a intensidade e acurácia na detecção de cio refletirem uma taxa de
serviço menor que 60%, o manejo de submissão de novilhas baseado em
protocolos de 100% tempo fixo ainda é mais rentável.

26. A observação natural do cio tem maior concepção do que na


inseminação artificial em tempo fixo?
Depende. Como estamos falando de duas situações distintas, há que
se observar se os procedimentos operacionais padrão, para ambas as téc-
nicas, estão sendo executados da melhor forma possível. Em um manejo
reprodutivo que tem o foco em submeter novilhas para a inseminação

172
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

artificial após observação visual de cio, a acurácia na detecção de sinais


relativos ao comportamento de cio tem que ser alta. Inseminar novilhas
que apresentam o sinal primário de cio, que é a aceitação da monta, ou
combinar sinais secundários de detecção de cio, como, por exemplo, o
uso e leitura de giz, tinta ou Estrotect® na base da cauda, sistemas ele-
trônicos de atividade e observação de vulva edemaciada e presença de
muco ajudam o inseminador a tomar uma decisão mais acertada sobre
qual animal inseminar. Caso a acurácia na detecção de cio seja baixa, no-
vilhas que não estejam realmente em cio serão submetidas à inseminação
artificial e terão sua taxa de concepção afetada negativamente. No caso
dos protocolos de inseminação artificial em tempo fixo, ter a certeza de
que o protocolo foi seguido à risca pelos colaboradores responsáveis pela
administração dos hormônios reprodutivos é primordial. Cumprir com o
protocolo significa seguir quatro passos fundamentais: administrar o hor-
mônio correto, na dose correta, para o animal correto, no momento cor-
reto descrito no protocolo. Os produtos utilizados devem seguir as normas
de armazenamento especificado pelo fabricante e estar dentro da data de
validade. Caso algum desses pontos não esteja alinhado, quando produ-
tores optam por submeter novilhas à inseminação artificial, após cumprir
com um protocolo de tempo fixo, as novilhas também terão sua taxa de
concepção alterada negativamente. Portanto, como regra, se todo o ma-
nejo de ambas as estratégias for executado de maneira correta, o produtor
deve esperar resultados similares em relação à taxa de concepção das
novilhas submetidas à inseminação artificial, tanto após a observação de
cio, quanto após cumprir com um protocolo de tempo fixo.

27. Posso utilizar sêmen sexado nas novilhas se for inseminação


artificial em tempo fixo?
Sim. Trabalhos recentes desenvolvidos nas universidades norte-ame-
ricanas de Wisconsin, Florida e Cornell utilizaram sêmen sexado para
inseminar novilhas submetidas ao protocolo de inseminação artificial em
tempo fixo e lograram ótimos resultados. É importante salientar que o
desempenho de fertilidade esperado com o uso de sêmen sexado está em
torno de 75% a 80% do desempenho de fertilidade alcançado com o uso
de sêmen convencional. Por exemplo, se, em uma fazenda, a fertilidade
do rebanho de novilhas apresenta uma taxa de concepção de 60% com o
uso de sêmen convencional, o desempenho com sêmen sexado estará em
torno de 48% na taxa de concepção.

Alta
CRIA 173
Capítulo 12: Nutrição e reprodução de novilhas

28. Há necessidade de se fazer algum protocolo de indução antes da


primeira inseminação artificial?
A realização de protocolos de pré-sincronização de novilhas antes da
primeira inseminação artificial, em geral, não é necessária. Quando há bom
desenvolvimento corporal da novilha durante a fase de crescimento e essas
chegam à idade reprodutiva com peso, altura e escore de condição corporal
adequados, na grande maioria das vezes, elas já estão em plena ciclicidade,
não sendo necessária a realização desses protocolos.
Apesar disso, em algumas condições em que há grande ocorrência de
anestro em novilhas com peso corporal adequado para inseminação, como
novilhas que passaram em período recente por algum estresse ou até mes-
mo novilhas da raça Girolando, as quais tendem a ter menor precocidade
reprodutiva, essa estratégia se torna necessária, já que os protocolos de in-
seminação artificial em tempo fixo podem ter baixa taxa de sincronização e
a sincronização das novilhas com prostaglandina F2α será inefetiva. Outra
condição em que a pré-sincronização de novilhas pode ser benéfica é nas
situações em que as novilhas são sincronizadas a partir de prostaglandina
F2α. A pré-sincronização permitirá que uma maior quantidade de novi-
lhas seja responsiva à primeira aplicação de prostaglandina e permitirá que
maior quantidade de novilhas sejam inseminadas nos primeiros sete dias
após a aplicação, em relação a novilhas não pré-sincronizadas.

29. Quais os melhores protocolos de indução para as novilhas?


A inserção de dispositivo de progesterona por 14 dias em novilhas pode
ser empregada como boa estratégia de indução à ciclicidade para novilhas
pré-púberes. 14 dias após a retirada do dispositivo, a sincronização das
novilhas pode ser iniciada, permitindo boa resposta já à primeira aplicação
de prostaglandina F2α.

174
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

Capítulo 13
INSTALAÇÕES PARA
CRIA E RECRIA

Alta
CRIA 175
Capítulo 13: Instalações para cria e recria

Carla Maris Machado Bittar - Universidade de São Paulo


Gabriel Caixeta Ferreira - Grupo Apoiar
José Eduardo Portela Santos - University of Florida
João Henrique Cardoso Costa - University of Kentucky
Rafael Alves de Azevedo - Alta
Sandra Gesteira Coelho - Universidade Federal de Minas Gerais

176
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

1. O que considerar antes de pensar em uma instalação para bezer-


ros?
• Ventilação e qualidade do ar limpo o tempo todo;
• camas secas e confortáveis;
• espaço adequado para descanso;
• interação social;
• controle de temperatura e umidade;
• capacidade suficiente de acordo com o número de nascimentos na
época de maior volume de partos;
• facilidade de manejo;
• redução de riscos de transmissão de doenças.

2. Após o nascimento, quanto tempo os bezerros devem permanecer


no berçário e qual o melhor tipo de berçário?
Os melhores tipos de berçários são os de baias no chão ou em gaiolas
suspensas, onde os bezerros são alojados de forma individual. Quanto ao
tempo de permanência, a recomendação geral é até o bezerro estar em
pé, atento e conseguindo se alimentar sozinho, o que leva, geralmente, três
dias. Em fazendas que possuem bezerreiros externos, como os argentinos
ou tropicais, esses bezerros podem permanecer mais tempo no berçário,
por exemplo, nos primeiros 14 dias de idade, o que possibilita proteção
contra sol e chuva no período de vida de maiores desafios.

3. Como calcular a quantidade de baias no chão ou gaiolas suspen-


sas para as bezerras em aleitamento, sem considerar tempo de vazio
sanitário? Por favor, dê um exemplo para um rebanho com 100 vacas em
lactação.
Para o cálculo de capacidade de alojamento de bezerras em aleitamento,
devemos considerar alguns fatores, como:
• taxa média de partos ao mês ou mês em que há maior volume de
partos;
• taxa de nascimento de fêmeas, de acordo com a estratégia de utilização
de sêmen convencional ou sexado;
• duração média do período de aleitamento realizado.
A quantidade de partos por mês é bastante variável na grande maioria
das fazendas, já que, em determinadas épocas do ano, ocorrem maiores
concentrações. A quantidade de partos depende do tamanho do rebanho
adulto, taxa de prenhez, perdas gestacionais e até mesmo descarte. Para

Alta
CRIA 177
Capítulo 13: Instalações para cria e recria

sabermos a quantidade de partos média, podemos utilizar dados retroativos.


Caso eles reflitam a realidade atual da fazenda, considerar a projeção de
partos para o próximo ano ou até mesmo considerar a realidade projetada
para os próximos anos, de acordo com a evolução esperada de indica-
dores zootécnicos ou crescimento do rebanho. Após o levantamento da
quantidade de partos média esperada para a fazenda, devemos multiplicar
o valor obtido por 1,3, já que esse fator leva em consideração os períodos
de superlotação do bezerreiro, devido a concentrações de parto. A taxa de
nascimento de fêmeas é um reflexo da estratégia de utilização de sêmen
convencional e sexado na fazenda. Devemos considerar em média taxas
próximas a 50% de expectativa de nascimento de fêmeas para matrizes
gestantes de sêmen convencional e 87% de nascimento de fêmeas para ma-
trizes gestantes de sêmen sexado. Um ponto importante é que as fazendas,
frequentemente, vêm aumentando o uso de sêmen sexado, com a melhoria
dos índices reprodutivos. Nesse caso, considerar a taxa de nascimento de
fêmeas total, considerando a utilização de sêmen sexado para a realidade
planejada, será mais interessante do que calcular nas taxas de utilização de
sêmen sexado atuais. Como exemplo, para fazendas com 100 vacas, com
taxa de descarte de 30%, que possuem em média 10 partos por mês, tería-
mos, aproximadamente, 7 partos de vacas e 3 partos de novilhas por mês.
Em meses de concentração de partos, poderíamos chegar a um total de 13
partos. Aplicando uma taxa de nascimento de fêmeas de uma fazenda que
utiliza 100% de sêmen convencional para vacas em lactação e tem 70% de
novilhas gestantes de sêmen sexado e 30% de novilhas gestantes de sêmen
convencional, teremos, aproximadamente, 57% de nascimento de fêmeas,
o que representaria, nos meses de concentração de partos, 7,4 fêmeas
nascidas. Considerando um período de aleitamento de 60 dias, 14 dias de
adaptação ao desaleitamento e sem vazio sanitário (60 + 14 = 74 dias), as
bezerras exigiriam um tempo de ocupação do alojamento de 2,4 meses.
Nesse caso, deveríamos ter, aproximadamente, 18 postos no bezerreiro
(2,4 meses x 7,4 fêmeas = 18 postos).

4. Quais as dimensões básicas (largura total, altura de pé direito e es-


paço nas laterais) devem ser seguidas para a construção de um galpão
para bezerros em aleitamento?
Os galpões de bezerros em aleitamento devem possuir:
• largura de, no máximo, 12 m, para maximizar a ventilação natural;
• pé direito de 3 m, para permitir boa ventilação e prevenir alta incidên-

178
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

cia de chuvas e radiação solar;


• mínimo de 1 metro de beiral e 1 metro entre o fim das gaiolas/baias
até a extremidade do barracão;
• corredores centrais de 3 a 4 m de largura.
Para galpões com gaiolas suspensas, por exemplo, com gaiolas que pos-
suem 1,8 m de comprimento e trabalhando com duas fileiras de gaiolas,
deveríamos ter ao redor de 9 m de largura. Já galpões com baias individuais
de 3 m de comprimento, deveríamos ter galpões de 12 m de largura.

5. Qual a distância mínima entre dois galpões de bezerros em aleita-


mento?
O ideal é que se respeite, no mínimo, 1,5 vez a largura do barracão de
espaço entre outros galpões, ou seja, para galpões que possuem 12 m de
largura, deveríamos ter, no mínimo, 18 m de distância entre os galpões.

6. Quantas linhas de baias no chão ou de gaiolas suspensas devem ser


feitas dentro de um galpão de bezerros em aleitamento?
Dimensione os galpões com 1 ou, no máximo, duas linhas de gaiolas
suspensas ou baias no chão.

7. Qual a distância ideal entre as linhas de gaiolas suspensas ou baias


no chão?
As linhas de gaiolas suspensas ou até mesmo baias no chão, geralmente,
são separadas pelo corredor de serviço que deve possuir entre 3 e 4 m de
largura. Essa distância permite bom acesso de equipamentos utilizados na
alimentação de bezerros, tráfego de colaboradores, limpeza e reposição de
camas. Além disso, manter uma distância mínima entre as linhas, diminui a
transmissão de patógenos entre bezerros.

8. Qual o sentido em que o galpão deve ser construído?


Os galpões devem ser construídos no sentido Leste-Oeste.

9. Como os ventiladores devem ser posicionados dentro de um gal-


pão e qual a vazão do ar ideal para esse ambiente com animais em
aleitamento?
Ventiladores devem ser posicionados em função do vento predominante no
galpão e de tal forma que a maior área seja coberta pela ventilação forçada.
Para ventiladores de teto, seu posicionamento é simples e sem muitas opções,

Alta
CRIA 179
Capítulo 13: Instalações para cria e recria

apenas colocando acima das casinhas, gaiolas ou baias dos bezerros. Já no


caso de ventiladores montados em postes dentro do galpão, esses devem ser
direcionados de tal forma que a exaustão de ar e sua propulsão vá a favor do
vento predominante. Galpões são construídos no sentido Leste-Oeste para mi-
nimizar áreas de insolação e o posicionamento dos ventiladores, normalmente,
será Leste-Oeste ou em um ângulo de cerca de 45° do direcionamento Les-
te-Oeste. Em sistemas com ventilação montada dentro de tubos com pressão
positiva, esses tubos são posicionados ao longo do galpão, a cerca de 3,5 m
de altura. Esses tubos, feitos de material plástico, contém inúmeras saídas de ar
para distribuição mais homogênea do ar por todo o galpão.

10. Climatização em galpões de bezerros em aleitamento, qual seria o


sistema mais indicado?
Não existe um sistema único de ventilação que funciona para todo tipo
de instalação. De maneira geral, o objetivo de todo sistema de ventilação em
instalações para bezerros é manter a qualidade do ar de forma que a umidade,
patógenos e gases nocivos são constantemente removidos. Leve em conside-
ração os seguintes fatores: frequência de troca de ar no galpão, o volume de ar,
a velocidade do ar e, por último, sua distribuição.
Todo sistema de ventilação de instalações deve assegurar uma frequência
mínima de troca de ar. De maneira geral, em ambientes quentes e úmidos, é
indicada uma frequência de 30 a 40 trocas de ar por hora, ou seja, todo volume
de ar do galpão deve ser removido a cada 90 a 120 segundos. Para tal frequ-
ência de troca, o volume de ar do sistema de ventilação é de suma importância.
Por exemplo, um galpão de 30 m de comprimento, 10 m de largura e 4 m de
altura terá um volume de ar de 1.200 m3. Nesse caso, imagine que o objetivo
é de 1 troca de ar a cada 2 minutos, ou seja, 30 por hora, então o sistema de
ventilação deverá produzir o seguinte volume de ar (normalmente medido em
m3/minuto):

(Volume de ar do sistema de ventilação)


Trocas por hora= x 60 minutos
(Volume de ar do galpão)

(Volume de ar do sistema de ventilação


30= x 60
1200

(30 x 1200)
Volume de ar = =600 metros cúbicos por minuto
60

180
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

Ou seja, nesse exemplo, o sistema de ventilação deveria gerar cerca de


600 m3 por minuto para que todo galpão tenha troca de ar equivalente a
30 por hora. A velocidade de ar recomendada para oferecer troca de calor
por condução e convecção, e para acelerar a perda evaporativa de calor em
bovinos adultos recomendada é de 2 a 3 m por segundo. Estudos de conforto
térmico em bezerros são escassos e há pouca informação sobre os métodos
de resfriamento do animal ou do ambiente que melhoram o conforto e o de-
sempenho do bezerro. No entanto, acredita-se que a velocidade de 1 metro
por segundo atingida na superfície do pelo do bezerro seja suficiente para
oferecer certo conforto térmico em ambientes não muito úmidos. Por último,
a distribuição do ar deve ser homogênea, sem pontos mortos no galpão.
No caso de galpões fechados, a distribuição de ar adequada dependerá do
número, da posição e da abertura das entradas de ar. No caso de galpões
semiabertos, a posição dos ventiladores determinará a distribuição de ar.
Para identificar pontos de má ventilação, utilize um nebulizador com corante
inócuo adicionado à água para visualizar a movimentação do ar no galpão.
Nesse caso, as opções são de direcionar ventilação para essas áreas ou evitar
acesso dos animais a esses pontos mortos.

11. Qual a temperatura ambiente ideal para instalações de bezerros? Ela


varia de acordo com a idade do animal?
Temperatura entre 16 a 20°C para bezerros com até 60 kg e 10 a 20°C para
bezerros pesando de 60 a 150 kg. A temperatura crítica inferior muda à medida
que o animal cresce. Os animais adultos suportam temperaturas mais baixas.

12. Quais as dimensões de uma gaiola individual suspensa? Depende do


tempo que o animal vai ficar dentro?
• Para gaiolas em que os animais permanecerão até 30 dias de idade, seguir
as medidas de, no mínimo, 1,0 metro de largura por 1,5 m de comprimento e
1,2 m de altura;
• para gaiolas em que os animais permanecerão mais do que 30 dias de
idade, seguir as medidas de, no mínimo, 1,2 m de largura por 1,8 m de compri-
mento e 1,5 m de altura.

13. Qual o melhor tipo de piso para gaiolas individuais suspensas?


Utilize pisos confortáveis e com antiderrapante nas gaiolas. Os pisos de ma-
trizes suínas são os mais indicados. Os pisos de borracha com furos também
podem ser uma opção.

Alta
CRIA 181
Capítulo 13: Instalações para cria e recria

14. Quais pontos são essenciais na construção de uma baia ou gaiola


individual?
• Respeitar o tamanho para cada idade máxima que os animais perma-
necerão alojados;
• utilizar materiais de boa higienização;
• painéis laterais sólidos entre animais;
• avançar os painéis para evitar contato entre animais na parte da frente;
• abertura somente na frente e atrás.

15. Qual o melhor tipo de cama para gaiolas suspensas?


A palha de trigo seria a melhor opção, porém, na sua falta, o feno de
baixa qualidade, sem ser picado, torna-se uma opção.

16. As camas das gaiolas suspensas devem ser disponibilizadas du-


rante todo o tempo e devem ser trocadas diariamente?
O ideal é manter uma cama de, no mínimo, 20 cm de altura, durante
todo o tempo em que o animal estiver alojado. A troca não precisa ser diá-
ria, podendo ser reposta de acordo com a redução da altura. Em casos de
o animal apresentar alguma doença gastrointestinal, o indicado seria trocar
toda a cama.

17. Como realizar o cálculo de vazão do flushing dentro de um gal-


pão e qual a declividade indicada?
A declividade indicada para galpões que possuem sistema de limpeza por
flushing é de 2 a 3%. A quantidade de água para que seja realizada boa lim-
peza depende do tamanho da área a ser limpa. Em geral, são necessários
26 l por m2 de área limpa, ou seja, um galpão com 30 m de comprimento,
que possui duas linhas de gaiolas suspensas com 1,8 m de largura de fosso,
deve possuir um reservatório de, aproximadamente, 2.800 l para limpeza
adequada, sendo 1.400 l para cada fosso. Além disso, a água deve sair
com vazão que permita atingir camadas de 8 cm de água e com velocidade
de 1 metro por segundo. Essa vazão depende da velocidade da água, que
é bastante variada de acordo com o tamanho e posicionamento da caixa
de água e canos de transporte da água. Em geral, 2 tubos de quatro a seis
polegadas são suficientes para proporcionar vazão adequada para a limpeza
de um fosso com 1,8 m de largura.

182
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

18. Quantas vezes por dia o flushing deve ser acionado?


Manter o ambiente abaixo das gaiolas limpo permite menor produ-
ção de amônia no ambiente. A inclinação do piso abaixo da gaiola em
3% já permite por si só a redução da produção de amônia. O sistema
de flushing permite uma limpeza fácil sem gerar incrustações abaixo
da gaiola. Infelizmente, não existem dados na literatura que orientam a
quantidade de vezes ao dia em que ele deve ser acionado. Porém, em ge-
ral, o acionamento duas vezes ao dia é eficaz para a manutenção de um
ambiente limpo e baixas concentrações de amônia no ambiente. Além
disso, esse manejo pode ser ajustado de acordo com a necessidade, com
mensurações dos níveis de amônia no ambiente.

19. É importante ter cortinas laterais nos galpões de bezerros em


aleitamento? Se sim, qual o melhor tipo de material e qual o sen-
tido de movimentação, de baixo para cima ou de cima para baixo?
Sim, as cortinas devem ser acionadas em dias de ventos frios e chuva
para evitar que as gaiolas e bezerros se molhem. O sentido de movimen-
tação vai depender da instalação, sendo recomendada a movimentação
que der menos trabalho. Não há uma recomendação de material ideal.
Nos aviários, têm sido utilizadas cortinas de plástico especial trançado,
lona ou PVC. O sistema de acionamento da cortina pode ser por meio
de roda dentada com corrente ou sistema de roldana.

20. Quais as dimensões de uma baia no chão para bezerros?


As baias no chão devem ter tamanho mínimo de 2,3 m2. No entanto,
o aumento dessas baias para 3,6 m2 reduz a necessidade de troca de
cama, possibilita menores contagens bacterianas no ar e, consequente-
mente, redução do risco de doença respiratória. Dessa forma, o ideal
seria trabalharmos com baias de 3 m de comprimento, 1,2 m de largura
e 1,2 m de altura. Adicionalmente, as paredes laterais devem ser fecha-
das com painéis sólidos e esse fechamento deve se estender em 40 cm
na frente da baia, evitando o contato nariz com nariz entre bezerros. A
frente e o fundo das baias devem ser fechados com malhas, para per-
mitir melhor ventilação, com fechamento apenas de 30 a 40 cm, para
reduzir as perdas de cama das baias.

Alta
CRIA 183
Capítulo 13: Instalações para cria e recria

21. Qual o melhor tipo de cama para baias no chão para bezerros?
Cama de maravalha e feno são as mais utilizadas para baias no chão.
As camas de maravalha permitem menor contagem bacteriana do ar, em
relação às camas de feno. Apesar disso, as camas de feno, quando utilizadas
em boa quantidade (30 cm no mínimo), conferem alto grau de aninhamento
dos bezerros, mantendo-os aquecidos e reduzindo o risco de doenças res-
piratórias. Dessa forma, ambas apresentam vantagens. O mais importante
é utilizarmos cama em abundância, para manter os bezerros aquecidos e
evitar umidade.

22. As camas das baias no chão devem ser trocadas diariamente?


Não é necessário. Caso as baias tenham dimensões adequadas e seja
realizada a colocação de uma boa camada de cama (ao menos 30 cm), essa
pode permanecer durante todo o aleitamento. Camadas adicionais de oito
cm de cama devem ser aplicadas todas as vezes que a umidade da cama
aumenta. Nos casos em que há diarreia, a troca de cama ou adição de uma
boa camada de cama também se faz necessária.

23. Qual o melhor tipo de material para a construção de baias no


chão ou gaiolas suspensas?
Materiais de fácil higienização e que sejam resistentes, como o ferro
galvanizado.

24. Posso construir baias no chão ou gaiolas suspensas com madeira?


Não seria o material mais indicado, pois a madeira apresenta pouca re-
sistência e é de difícil higienização.

25. As casinhas do tipo calf-tel podem ser utilizadas no Brasil tam-


bém? Se sim, elas deveriam ficar sobre que tipo de piso?
As casinhas do tipo calf-tel podem sim ser utilizadas no Brasil. Se forem
instaladas em locais de temperaturas altas, devem ser colocadas em locais
sombreados, em piso de brita com areia por cima, com uma cama dentro
da casinha.

26. Quais as dimensões de uma casinha tropical (tipo da Embrapa) e


qual o melhor material para sua construção?
As medidas das casinhas da Embrapa são: 1,00 largura x 1,45 compri-
mento x 1,25 altura na parte da frente e 1,35 na parte de trás. As casinhas

184
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

preconizadas são feitas de madeira; no entanto, esse material é de difícil


higiene. PVC e ferro galvanizado são mais fáceis de serem higienizados.

27- Quais dimensões devem ser seguidas para a construção de


um bezerreiro argentino ou tropical?
O bezerreiro argentino/tropical deve possuir, no mínimo, 14 m de
comprimento de fio e cinco m de largura entre fios. Os fios podem ser
posicionados 10 cm ou a 1,3 m do chão e esses devem possuir trava-
mentos a 1 metro dos postes para que os bezerros não fiquem presos
a eles. Deve haver destorcedores e os bezerros não devem ter contato
nariz com nariz.

28- Como calcular a quantidade de postos no bezerreiro argen-


tino ou tropical para bezerros em aleitamento, considerando um
tempo mínimo de 7 dias de vazio sanitário? Por favor, dê um exem-
plo para um rebanho com 100 vacas em lactação.
Devemos calcular a taxa média de partos por mês, aplicar o fator 1,3 já
que existem meses de concentração de partos, aplicar a taxa de nascimen-
to de fêmeas, levando em consideração o esquema de utilização de sêmen
sexado e convencional, bem como considerar a duração do período em
aleitamento. Para fazendas com 100 vacas, com taxa de descarte de 30%,
que possuem em média 10 partos por mês, teríamos, aproximadamente,
7 partos de vacas e 3 partos de novilhas por mês. Em meses de concen-
tração de partos, poderíamos chegar a um total de 13 partos. Aplicando
uma taxa de nascimento de fêmeas de uma fazenda que utiliza 100%
de sêmen convencional para vacas em lactação e tem 70% de novilhas
gestantes de sêmen sexado e 30% de novilhas gestantes de sêmen con-
vencional, teremos, aproximadamente, 57% de nascimento de fêmeas,
o que representaria, nos meses de concentração de partos, 7,4 fêmeas
nascidas. Considerando um período de aleitamento de 60 dias, 14 dias de
adaptação ao desaleitamento e 7 dias de vazio sanitário (60 + 14 + 7 =
81 dias), as bezerras exigiriam um tempo de ocupação do alojamento de
2,7 meses. Nesse caso, deveríamos ter, aproximadamente, 20 postos no
bezerreiro (2,7 meses x 7,4 fêmeas = 20 postos).

29. Qual o sentido em que o bezerreiro argentino ou tropical deve


ser construído?
Deve ser construído no sentido Norte-Sul.

Alta
CRIA 185
Capítulo 13: Instalações para cria e recria

30. As linhas de arame no sistema argentino ou tropical devem ser no


chão ou suspensas?
Ambas as formas possuem vantagens e desvantagens. As vantagens do
posicionamento próximo ao chão é maior facilidade de mobilidade no be-
zerreiro. As vantagens do posicionamento suspenso são o menor risco de
enroscamento dos destorcedores ao capim e a maior facilidade na roçagem
do piquete.

31. Qual o tipo de sombrite que tenho que utilizar em bezerreiro ar-
gentino ou tropical?
As telas devem reter mais de 80% da luminosidade.

32. Quais os maiores desafios para bezerros em sistemas em ambien-


tes abertos, como os sistemas argentinos ou tropicais?
Os maiores desafios são manter os bezerros abrigados durante os dias de
chuva e aquecidos em dias de temperatura baixa e ventos.

33. Qual o melhor tipo de bebedouro para animais na fase de aleita-


mento?
Os bebedouros com boia são os mais indicados, pois conseguem manter
água fresca e à vontade para os animais durante todo o tempo. Em casos
de baias no chão ou gaiolas suspensas, uma opção é utilizar vasilhas de fácil
higienização e que suportam a quantidade de água necessária para cada
animal, nas diferentes idades.

34. O bebedouro de suínos pode ser utilizado para bezerros?


Mesmo que muitas fazendas no Brasil e exterior já utilizem esse tipo de
bebedouro, ainda não temos comprovação científica de que o mesmo pode
ser utilizado para bezerros.

35. Quais os benefícios e dificuldades de se criar animais em pares?


A criação em pares tem mostrado aumento no consumo de concentrado,
o qual também ocorre de forma mais precoce. Em função disso, os animais
podem apresentar maior ganho de peso. No entanto, uma das dificuldades
é a ocorrência de mamada cruzada, principalmente, quando os animais são
aleitados com volumes restritos de dieta líquida através de baldes abertos.

186
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

36. Quais adaptações no meu sistema tenho que fazer para começar
a criar bezerros em pares?
É importante entender que criar em pares não significa colocar dois
bezerros em uma gaiola utilizada para alojamento individual. Quando a
criação em pares é adotada, é preciso transformar duas gaiolas em uma,
de forma a manter a área necessária por animal. Além disso, é importante
manter dois cochos de concentrado para que seu consumo não seja limi-
tado por competição.

37. O pareamento dos animais deve ocorrer desde o nascimento?


Alguns trabalhos mostram que o pareamento precoce tem mais resulta-
dos em termos de desempenho do que o pareamento mais tardio. Assim,
podemos parear os animais, com peso e altura semelhantes, já a partir
dos 7 dias de vida.

38. Em sistemas de criação coletivos, sem uso de aleitador automá-


tico, com que idade os animais devem começar a ser agrupados?
Esse é um ponto bastante polêmico, pois, em algumas situações, o
agrupamento em idades jovens funciona muito bem, enquanto em outros
traz grandes prejuízos. Assim, a depender da eficiência de colostragem,
do manejo sanitário e alimentar, podemos ter resultados bastante diferen-
tes. A transição dos animais para o alojamento em grupo deve ser feita
de acordo com o vigor físico e reflexo de sucção. Normalmente, bezerros
saudáveis podem ser realocados no terceiro dia de idade. É importante
que a transição para o alojamento de grupos seja feita no mesmo horá-
rio em que os bezerros eram alimentados e pela mesma pessoa. Porém,
para trabalhar de maneira bastante segura, principalmente, do ponto de
vista sanitário, pode-se recomendar o agrupamento a partir de 21 dias de
idade.

39. Em sistemas de aleitamento coletivo, sem uso de aleitadores


automáticos, quantos animais por grupo seria o ideal?
De pares até quatro bezerros é o ideal. Grupos maiores, como de oito a
10 animais, podem ser manejados com maiores cuidados. O mais impor-
tante é que o maior bezerro não seja mais de 3 semanas mais velho que o
mais novo ou que apresentem mais de 20 kg de diferença.

Alta
CRIA 187
Capítulo 13: Instalações para cria e recria

40. Quantos metros quadrados por animal tenho que utilizar em sis-
temas coletivos?
Quando alojamos bezerros em grupo, é essencial que o ambiente seja
mantido limpo e seco, evitando, assim, incidência de diarreia e doenças
respiratórias. As recomendações são de em torno de 3 a 4 m2 por animal,
desconsiderando a área de alimentação. O piso das instalações deve ser in-
clinado contra a área de descanso para propiciar o escoamento de líquidos
e evitar acúmulo de umidade nas áreas de descanso e alimentação. Caso
o lote seja em área aberta, com possibilidade de formação de lama, maior
área por animal é recomendada, de forma que todos os animais tenham
acesso à área adequada para se deitarem.

41. O que fazer para evitar a mamada cruzada em sistema de criação


em pares ou coletivo?
Nos sistemas coletivos, esse é um dos maiores problemas de manejo.
No entanto, utilizar baldes com bicos de menor fluxo, aumentar o volume
de fornecimento de dieta líquida e, em algumas situações, até aumentar o
número de refeições, pode auxiliar na redução desse comportamento. A
disponibilidade de concentrado tão logo termine a mamada, assim como
o enriquecimento ambiental e o fornecimento de feno também podem au-
xiliar. Mas, se o problema ocorrer, a separação da “vítima” é fundamental
para o desaparecimento desse comportamento.

42. Com que idade devo colocar os bezerros no sistema de aleitadores


automáticos?
Durante os primeiros dias de vida, os bezerros devem ser alojados em
baias individuais ou em pares e devem ser alimentados com mamadeiras
ou balde com bico, ao menos, duas vezes por dia. A transição dos animais
para o alojamento em grupo deve ser feita de acordo com o vigor físico e
reflexo de sucção. Normalmente, bezerros saudáveis podem ser realocados
já no terceiro dia de idade até com uma semana de idade. No máximo, essa
introdução deve ser feita no final da quarta semana de idade, depois do
momento sensível do animal.

43. Quanto tempo em média o bezerro demora para aprender a se


alimentar nos aleitadores automáticos? E qual a melhor forma de fa-
zer a adaptação?
É importante que a transição para o alojamento de grupos seja feita no

188
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

mesmo horário em que os bezerros eram alimentados e pela mesma pes-


soa. Dessa forma, facilita-se a adaptação deles ao sistema de alimentação
automática. A apresentação do alimentador deve ser feita duas vezes ao
dia, até o animal conseguir tomar, pelo menos, 50% da dieta oferecida, so-
zinho. Esse processo varia de animal a animal, mas, em média, leva 3 dias.

44. Em sistemas de aleitamento com aleitadores automáticos, qual a


proporção de animais por equipamento?
O número de bezerros por grupo também pode afetar a ingestão de leite
ou sucedâneo e, consequentemente, o sucesso da criação. O número de ani-
mais no grupo é proporcional ao nível do manejo necessário. Sendo assim,
grupos de até 12 animais são mais fáceis de manejar. Alguns fabricantes
sugerem um máximo de 25 bezerros por baia de alimentação automática;
porém, quando se permitem consumos maiores que 8 l por dia, o número
de bezerros por baia de alimentação não deve exceder a 20 animais. Ao
permitir maiores consumos de dieta liquida (leite ou sucedâneo), aumenta-
-se o tempo dedicado a cada refeição. Sendo assim, a baia de alimentação
estará sempre em alta demanda e o sistema não terá tempo suficiente para
alimentar todos os bezerros e realizar os ciclos de limpeza automáticos. A
limpeza do equipamento de alimentação automática é crucial para evitar a
proliferação de doenças em animais alojados em grupo. Apesar de alguns
sistemas realizarem ciclos automáticos de limpeza, limpezas manuais ainda
se fazem necessárias diariamente. Ao realizar a limpeza manual, deve-se
atentar às mangueiras e baia de alimentação.

45. Quais as principais informações para se retirar dos aleitadores


automáticos para auxiliar no dia a dia da fazenda?
Uma vez que o programa de alojamento em grupo com uso de alimenta-
dores automáticos foi instalado com sucesso, é necessário focar no manejo
de dados e animais. Os dados registrados por esses alimentadores podem
ser usados para identificar possíveis bezerros doentes, acompanhar o de-
sempenho geral e o sucesso do período de pré-desaleitamento, todos com
muito pouco trabalho adicional. O manejo de dados e a tomada de decisões
baseada em informações são algumas das oportunidades para o setor de
cria de bezerros. O alimentador automático é uma das tecnologias de pre-
cisão leiteira utilizadas para detectar o desenvolvimento de doenças na fase
de cria. Por exemplo, alguns modelos disponíveis no mercado registram a
quantidade leite/sucedâneo consumida, velocidade de ingestão e número

Alta
CRIA 189
Capítulo 13: Instalações para cria e recria

de visitas à baia de alimentação. Todas as medidas são feitas individualmente,


facilitando a detecção de animais que possam vir a precisar de atenção extra.
O sistema pode ser programado para alertar o produtor(a) ou colaborador(a)
quando um bezerro se desvia do padrão de alimentação desejado. Esses desvios
podem refletir comportamentos de doença, permitindo a detecção e o trata-
mento precoce. Um estudo demonstrou que bezerros apresentaram declínio
no consumo de dieta líquida (leite ou sucedâneo) nos 5 dias que antecederam
a detecção da doença por funcionários treinados. Por outro lado, a ingestão
de dieta líquida (leite ou sucedâneo) aumentou gradativamente por 5 dias após
o tratamento da enfermidade. Da mesma forma, a velocidade de ingestão di-
minuiu 1 dia antes da detecção de doenças e aumentou gradativamente por
5 dias após o tratamento deles. Sendo assim, é importante que propriedades
utilizem os dados coletados pelos alimentadores automáticos para a detecção
de doenças e avaliação da efetividade dos tratamentos ministrados. No entanto,
advertimos que o alimentador automático não é um substituto para a avaliação
física e visual da saúde dos bezerros, mas sim uma ferramenta para auxiliar na
identificação de bezerros que necessitam de atenção adicional.

46. Em sistemas coletivos, tenho que retirar os animais doentes do lote


e ter uma área específica para receber esses animais?
Vai depender do quadro clínico. Por exemplo, animais com diarreia e do-
enças respiratórias podem contaminar seus companheiros e deveriam ser re-
tirados do lote e tratados em local onde sejam abrigados de intempéries como
chuva, ventos, sol e frio. Nesse local, devem ter garantida alimentação sem a
necessidade de disputá-la com outros animais. Em situações em que a doença
não é transmitida a outros animais, eles podem permanecer no mesmo lote
desde que também recebam todo o cuidado necessário.

47. Em sistemas coletivos, qual o melhor tipo de cama? Devem ser tro-
cadas diariamente?
Nas regiões frias, as camas de feno e palhadas são as mais recomendadas
por fornecer ao animal a possibilidade de aninhamento. Em locais de tempe-
ratura elevada, as camas de areia são as mais recomendadas. Quanto à troca
de camas, elas devem ser sempre trocadas quando estão úmidas, sendo reco-
mendada a reposição de 5 cm de cama ao perceber-se que ela está úmida. A
frequência de reposição dependerá da estação do ano e número de animais no
grupo.

190
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

48. No primeiro lote de transição, após o desaleitamento, quantos


animais devo colocar no grupo?
Entre cinco a oito animais, para que os tratadores tenham facilidade
em observar os animais e detectar, precocemente, mudanças no com-
portamento que possam indicar início de doenças.

49. Pensando em um Compost barn para recria, qual o dimensio-


namento de cama de acordo com a idade dos animais?
O dimensionamento da cama para bezerras em fase de recria de-
pende do espaço de cocho necessário por bezerra. Isso acontece pela
necessidade de termos um alinhamento grande entre espaço de cama e
espaço de cocho, para que não tenhamos dimensionamento do galpão
que sobra espaço de cocho ou de cama, já que isso impacta em maior
custo de implantação do projeto. Para cada fase da vida, existe uma
demanda de espaço de cocho e de espaço de cama. Em resumo, para
bezerras de até 12 meses, devemos fornecer espaço de cocho de 46 cm
e, para bezerras de 13 meses ao pré-parto, 61 cm. Para bezerras até 8
meses, são necessários 3,7 m2 de cama. Para bezerras de 8 meses a 16
meses, precisamos, em média, 5,1 m² de cama e, para bezerras de 16
meses ao pré-parto, ao redor de 7 m² de cama. Nesse sentido, devería-
mos trabalhar com:
• 8 m de largura de cama e 46 cm de cocho por cabeça para bezerras
de até oito meses de idade;
• 10 m de largura de cama, 53 cm de cocho por cabeça para novilhas
de 8 a 16 meses;
• 12 m de largura de cama e 61 cm de cocho por cabeça para novi-
lhas de 16 meses ao pré-parto.
Vale ressaltar que a adição de ventiladores pode ser necessária quan-
do a largura do barracão ultrapassa os 12 m, que a colocação de pista
de alimentação em concreto permite menor necessidade de troca e re-
volvimento da cama, fazendo-se necessário e que devemos considerar o
dimensionamento do cocho e da pista de alimentação na definição da
largura total do galpão.

Alta
CRIA 191
Capítulo 13: Instalações para cria e recria

Mínimo de
Peso corporal do Mínimo de
Idade do animal espaço de cocho
animal espaço de cama
por animal
2 a 6 meses 80 a 180 kg 46 cm 2,8 m2
6 a 8 meses 180 a 230 kg 38 cm 3,7 m2
8 a 12 meses 230 a 320 kg 43 cm 4,6 m2
12 a 16 meses 320 a 410 kg 48 cm 5,6 m2
16 a 20 meses 410 a 500 kg 56 cm 6,5 m2
20 meses 500 a 590 kg 61 cm 7,4 m2
ao pré-parto

50. Existe alguma diferença na construção de um Compost barn para


vacas do que um Compost barn para a recria?
A construção do galpão é bastante semelhante. Apesar disso, o dimen-
sionamento da estrutura é totalmente diferente, com tamanhos variados de
espaço de cocho e cama, dimensionamento dos cochos e pista de alimenta-
ção. O ideal é planejarmos uma estrutura de acordo com a fase de criação
objetivada.

51. A área de solário é imprescindível em um galpão para recria?


A área de solário é importante no galpão de recria em situações em que
os animais são expostos a vetores da tristeza parasitária (carrapatos e mos-
cas) infectados por Anaplasma sp. ou Babesia sp.. A exposição da recria
jovem ao carrapato nos solários dos galpões ajuda a garantir imunidade dos
animais contra esses patógenos, em uma fase em que o animal possui maior
resiliência à infecção desses patógenos. A ausência de exposição a carrapa-
tos em fases jovens, geralmente, é associada a altas taxas de mortalidade na
recria e em animais adultos quando expostos ao desafio por Anaplasma sp.
ou Babesia sp.. Em fazendas livres da doença e que aloja toda a recria em
galpões fechados, a área de solário pode tornar-se desnecessária.

52. Qual o espaçamento de cocho para cada categoria da recria?


O espaçamento de cocho tem variação de acordo com o peso dos ani-
mais, assim como o tamanho máximo da parede do cocho de alimentação
e a altura da barreira de alimentação. O cocho deve ser posicionado entre

192
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

10 e 15 cm do chão. De forma simplificada, podemos considerar 46 cm de


cocho para bezerras de até 1 ano de idade e 61 cm de cocho para bezerras
de 13 meses até o pré-parto. As medidas recomendadas para cada catego-
ria da recria estão descritas na tabela abaixo.

Mínimo de Máximo de Altura da barreira


Peso corporal do
animal espaço de cocho altura da pare- de contenção do
por animal de do cocho¹ pescoço²
180 a 230 kg 38 cm 35,5 cm 76 cm
230 a 320 kg 43 cm 39,5 cm 86 cm
320 a 410 kg 48 cm 43,0 cm 104 cm
410 a 500 kg 56 cm 48,0 cm 122 cm
¹Altura medida com base no máximo de altura permitido para uma barreira
na garganta da bezerra, medida na parede externa do cocho (do lado em
que o animal se posiciona).
²Altura medida em relação à superfície do lado em que o animal se posicio-
na para alimentar.

Alta
CRIA 193
194
Perguntas e Respostas - Alta CRIA

MENSAGEM FINAL

Sabemos que os objetivos individuais do rebanho, o nível atual de tec-


nologia implantada e a geografia são diversos e que são fatores que po-
dem influenciar nos resultados entre as fazendas. Este livro de perguntas
e respostas fornece um guia estrutural para auxiliar o manejo dos animais
de reposição no sistema de produção de leite, com o objetivo de apresen-
tar um norte para todos os envolvidos no setor.

Utilize estas informações para identificar áreas para melhoria, conduzir


treinamento, tirar dúvidas e implementar planos que suportam os objeti-
vos de desempenho que você deseja alcançar. E lembre-se: o seu futuro
começa aqui!

Cuide bem dos seus animais!

Editores

Alta
CRIA 195
196

Você também pode gostar