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Indicadores reprodutivos

Os indicadores reprodutivos são números que mostram se determinados processos estão ou


não sendo bem conduzidos. Através deles é possível encontrar oportunidades de melhorias nos
processos da fazenda. A tomada de decisões através da avaliação de indicadores é uma forma
de ser mais assertivo nas condutas do dia a dia em propriedades leiteiras.

Existem diversos indicadores que podem ser utilizados como ferramenta para tomada decisões.
No entanto, alguns se destacam por sua importância sobre os demais.

O objetivo desse texto é apresentar o conceito dos principais indicadores reprodutivos a relação
que existe entre eles e como interpretá-los. Assim, será possível dimensionar, no aspecto
econômico, o impacto que a eficiência reprodutiva tem em propriedades produtoras de leite.

São quatro os indicadores que determinam a eficiência reprodutiva de uma fazenda produtora
de leite:

-PEV (Período de Espera Voluntário)

-Taxa de serviço

-Taxa de concepção

-Perda de prenhez

1- Período de espera voluntário é o intervalo entre o parto e o dia em que a vaca volta a ser
considerada apta para ser novamente inseminada. O PEV é definido para cada propriedade em
função da produção de leite, persistência de lactação, taxa de prenhez do rebanho, taxa de
concepção à primeira inseminação e forma que será utilizada para servir a vaca na primeira
tentativa (IATF ou cio natural). Para cada nível de produção das vacas, existe um momento ideal
para que fiquem gestantes. Vacas de menor produção precisam emprenhar o mais cedo possível
na lactação, enquanto vacas de alta produção podem gestar um pouco mais tarde, quando
comparado às vacas menos produtivas.

De um modo geral, com aproximadamente 35 a 40 dias, ocorre a involução uterina em vacas


leiteiras. Assim, é pouco provável que as fazendas venham a trabalhar com PEV inferior a 35
dias. Por outro lado, o objetivo é emprenhar o maior número possível de vacas o mais cedo
possível. Dessa forma, se foi definido que o PEV de uma fazenda é de 50 dias, o objetivo é que
o maior número possível de vacas seja inseminado o mais próximo dos 50 dias.

2- Taxa de serviço é a divisão do número de serviços feitos pelo número de vacas elegíveis a
serem inseminadas. É um número extremamente dinâmico, com mudança diária, porém medido
em intervalos de 21 dias. Através desse número é possível medir a eficiência da fazenda para
servir o maior número de vacas quando ela deve ser realmente servida. É uma forma de medir
também a eficiência na detecção de cio.

De um modo geral, deve-se buscar trabalhar com taxas de serviço de no mínimo 60%. Ou seja,
a cada intervalo de 21 dias, de cada 10 vacas elegíveis a serem inseminadas, deve-se de fato
inseminar no mínimo 6.
O desafio para se identificar vacas no cio tem aumentado com o passar do tempo em função de
uma série de fatores. Entre eles, merece destaque o aumento da produção de leite das vacas.
Na medida em que aumenta a produção, ocorre redução na duração e intensidade dos sinais de
estro.

3- Taxa de concepção é a divisão do número de vacas gestantes pelo número de vacas servidas
naquele mesmo período. É um indicador mais fácil de calcular, porém, mais difícil de alterarmos
na propriedade. Ele sofre influência de uma série de fatores. Entre eles merecem destaque o
estresse por calor, incidência de doenças após o parto, perda de condição corporal, atraso no
retorno à ciclicidade ovariana, manejo por parte do inseminador, escolha do touro entre outros.

4- Perda de prenhez é o número de animais que perdem gestação, dividido pelo número de
animais que tiveram diagnóstico positivo. Sofre influência dos mesmos fatores citados no tópico
3, exceto pelo inseminador. Neste caso estamos falando das perdas tardias, que são aquelas em
que conseguimos diagnosticar a perda, seja pela visualização do cio de retorno, seja pela
palpação com diagnóstico negativo ou ainda pela visualização de um aborto. No entanto, a
maior parte das perdas são imperceptíveis, pois ocorrem antes mesmo do primeiro diagnóstico
de gestação.

De modo geral, a taxa de fecundação em vacas leiteiras é bastante alta (80-90%). No entanto,
as taxa de concepção aos 30 dias após a inseminação têm girado em torno dos 30 a 40%, o que
sugere uma perda gestacional de aproximadamente 50% nesse período. Avaliando esses
números fica fácil perceber que se o objetivo é aumentar a taxa de concepção, reduzir o número
de doses por prenhez, grande atenção deve ser dada à redução das perdas gestacionais que
ocorrem nos primeiros 30 dias após o serviço.

A TAXA DE PRENHEZ nada mais é do que a multiplicação da taxa de serviço pela taxa de
concepção. É um número que nos mostra a velocidade com que as vacas elegíveis estão
emprenhando a cada intervalo de 21 dias. Espera-se trabalhar com taxa de prenhez superiores
a 20%, sendo que a média da taxa de prenhez das fazendas nos EUA está em torno de 17% e no
Canadá em torno de 16%. Dados avaliados em 2019 pelo Ideagri, considerando um total de
aproximadamente 1.000 fazendas no Brasil, mostraram que a taxa de prenhez delas está
próxima a 16%, sendo que as “top”, 10% dessas fazendas, têm taxa de prenhez de 23% na média.
Além disso, vale dizer que existem fazendas tanto no Brasil quanto em outros países trabalhando
com taxas de prenhez acima dos 30%, ou seja, emprenhando 30% das vacas aptas a gestarem a
cada intervalo de 21 dias.

Existem outros indicadores que também podem ser monitorados para avaliar a eficiência
reprodutiva de vacas leiteiras. No entanto, todos eles são consequência dos citados
anteriormente.

Abaixo os conceitos de alguns deles.

- Período de serviço: é o intervalo entre o parto e a nova gestação da vaca que irá gerar um novo
parto. Também pode ser calculado a partir da taxa de prenhez. A mediana de dias para
emprenhar as vacas corresponde ao período de serviço. Em outras palavras, aquele DEL em que
50% das vacas se encontra gestante corresponde ao período de serviço.
- Intervalo entre partos: é o intervalo entre um parto de outro. Pode ser avaliado considerando
o tempo decorrido entre o último e o penúltimo parto (IEP real) ou entre o último e o próximo
parto (IEP projetado). O objetivo principal é ter o intervalo entre partos o mais próximo possível
dos 12 meses, na maior parte das vacas.

- DEL: é o número de dias em lactação médio das vacas que estão neste estado em determinado
momento. Fazendas que trabalham com DEL baixo (próximo de 150 na média do ano)
apresentam alta proporção de vacas em fases iniciais da lactação, onde não só a produção é
mais alta, mas também há maior retorno sobre o custo alimentar. Por outro lado, fazendas que
trabalham com DEL alto, apresentam maior proporção de vacas em fases finais da lactação onde
não só a produção diária é menor, mas também há menor retorno sobre o custo alimentar, pela
menor conversão de comida em leite.

- % de vacas em lactação: é o número de vacas em lactação dividido pelo número de vacas no


rebanho adulto. Para rebanhos de maior persistência de lactação, o objetivo é trabalhar com
aproximadamente 80-85% das vacas em produção. Nesses rebanhos mais especializados, na
medida em que a eficiência reprodutiva diminui, aumenta-se a % de vacas em lactação. No
entanto, ocorre aumento concomitante no DEL médio, reduzindo a eficiência produtiva dos
animais. Já em rebanhos menos especializados, muitas vezes apenas 60-70% das vacas se
encontram em produção. Dessa forma, o aumento na eficiência reprodutiva eleva a quantidade
de vacas em produção, sem afetar a eficiência produtiva dos animais com a elevação de DEL.

As perdas causadas pela reprodução muitas vezes não são percebidas pelo produtor em função
da falta de avaliação dos indicadores de eficiência. Além disso, em rebanhos que apresentam
problemas na reprodução, o prejuízo é causado pela não produção do leite, seja pela média
baixa, seja pelo menor % de vacas que está em lactação, o que torna esse problema pouco
palpável para o produtor. No entanto, ao se familiarizar com esses indicadores, fica fácil
perceber o quão importante é a reprodução para o sucesso da atividade.

Msc: Guilherme Corrêa de Sousa Pontes

Equipe Rehagro

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