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CONTROLE ZOOTÉCNICO - TÉCNICA EFICIENTE E


NECESSÁRIA

O mercado de leite no Brasil é historicamente conhecido por apresentar


tendências instáveis e impondo, principalmente, estreitas margens ao
produtor. Desse modo, o uso de ferramentas gerenciais que auxiliem na
tomada de decisão por parte do produtor é essencial.

O controle zootécnico é uma técnica de gerenciamento que vem sendo


muito utilizada em propriedades leiteiras. Com esta técnica o produtor tem a
possibilidade de realizar anotações sobre a vida produtiva (controle leiteiro),
reprodutiva (controle reprodutivo) e sanitária (controle da sanidade) de cada
animal da propriedade. Estes indicadores de desempenho zootécnico obtidos
são fundamentais para a tomada de decisões do produtor de leite, visando à
eficiência e produtividade da atividade leiteira.

- Porque realizar o controle zootécnico?

A principal meta do controle zootécnico é observar o que acontece com


os animais da propriedade do ponto de vista de produção, de sanidade e de
reprodução. Assim, o gerenciamento da propriedade se torna mais preciso e a
chance de erros ou precipitações na tomada de decisão será diminuída
gradativamente.

Um exemplo da vantagem da adoção do controle zootécnico é o


conhecimento do perfil de produção dos animais da fazenda, permitindo que
estes sejam separados em lotes, assim o balanceamento da dieta pode ser
especifico para cada grupo de animais e o direcionamento da alimentação
volumosa para cada categoria.

- Como realizar o controle zootécnico?

Para realização de um controle zootécnico é necessário que a


propriedade tenha uma boa escrituração zootécnica unida a um bom sistema
de gerenciamento de dados, que não precisa ser necessariamente um software,
organização é o ponto chave do controle zootécnico. Para essa organização, o
indicado é o uso de fichas padronizadas e individuais para cada animal. Além
disso, são necessários funcionários empenhados, comprometidos e
devidamente treinados para com a atividade.

Um bom controle zootécnico deve ser realizado em três passos básicos:


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1. Identificar os animais;

Consiste em identifica-los com o uso de brincos ou marcação a ferro,


assim a visualização e identificação fica mais eficiente e rápida. O indicado
também é fazer uma ficha individual para cada animal.

2. Fichar o lote e fichar todos os animais;

Primeiramente prepara-se uma ficha coletiva de controle leiteiro, onde


são anotadas as produções individuais de cada animal, para, em seguida,
transferir os dados para a ficha individual. Em seguida é preparada a ficha
individual para cada animal do rebanho contendo os seguintes dados:

- Nome e número do animal, nome do produtor e da propriedade,


idade, pelagem;

- Dados reprodutivos do animal: data de cio, data de


inseminação/cobertura, diagnóstico de gestação, data provável de parto,
dentre outros que julgar pertinente;

- Dados do controle leiteiro da vaca, incluindo data de parto e início do


controle leiteiro, número da lactação, produção mensal ou quinzenal, data de
secagem, duração da lactação, produção total e produção média diária (estes
quatro últimos são calculados e preenchidos após o final da lactação);

- Dados genealógicos: nome dos pais e avós (se possível), necessários


para futuras análises genéticas destes animais.

3. Realizar as anotações e observações necessárias:

- Dados particulares: anotar todos os dados que são específicos para


cada animal, como por exemplo, nome e número do animal, proprietário,
pelagem e dados genealógicos.

- Controle leiteiro: pesar a quantidade de leite mensalmente (ou


quinzenalmente), com o auxilio de balanças precisas e anotar na ficha de
controle coletivo. Esta produção deve ser multiplicada pelo número de dias do
mês ou da quinzena e ser anotada na ficha de controle individual de cada
vaca;

- Controle Reprodutivo: Todas as ocorrências reprodutivas do animal


devem ser anotadas na ficha individual de cada vaca.

- O que deve ser realizado com os dados obtidos por meio do


controle zootécnico?
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Após a obtenção dos dados é aconselhável que o produtor realize


cálculos dos indicadores de desempenho zootécnico, assim, o conhecimento do
potencial produtivo da propriedade é mais bem visualizado:

1. Produção média diária por vaca em lactação (kg/vaca/dia);

2. Produção anual de leite por hectare (kg/ha/ano);

3. Produção de leite por vaca na lactação (kg/vaca);

4. Duração da lactação (dias);

5. Porcentagem de vacas em lactação (%VL);

6. Intervalo de partos (meses);

- Com os dados calculados, qual deve ser o procedimento


seguinte?

Com todos estes dados obtidos e calculados é possível realizar a análise


da eficiência do sistema produtivo e reprodutivo que irá auxiliar na tomada de
decisão do processo, principalmente no auxílio ao descarte de animais. Neste
informativo serão apresentados os procedimentos referentes aos índices
produtivos e reprodutivos mais significativos:

Índices Produtivos

- Produção diária de leite: primeiro indicador que deve ser checado no


rebanho. O ideal é que a produção diária aumente, respeitando sempre as
limitações de cada sistema e o poder genético de cada raça, assim a
lucratividade apresenta uma crescente com o aumento da produção.

- Produção por lactação: deve ser a maior possível (levando também em


consideração o padrão genético, condições de manejo e de ambiente),
lembrando que a melhor vaca não é a que dá mais leite no período e sim a que
dá mais lucro.

- Duração da lactação (DL): tempo em dias decorridos do parto até o final


da lactação (secagem da vaca). Para animais taurinos o ideal é uma duração
de 305 dias, em mestiços este período está compreendido em
aproximadamente 290 dias e em zebuínos este período gira em torno de 270
dias. O ideal é realizar o controle leiteiro e assim estabelecer a duração e a
curva de lactação de cada vaca, levando sempre em consideração o padrão
genético do animal. Este índice é muito indicado para auxiliar o produtor a
escolher seus animais que serão descartados.

- Persistência de lactação (PL): caracterizada como sendo a capacidade


da vaca em manter sua produção de leite após atingir sua produção máxima
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na lactação (pico). A maneira que a produção cai após o alcance do pico da


lactação determina se a curva do animal é persistente. Vacas com maior
persistência de lactação necessitam de menor número de concentrados na
produção de leite, além de apresentar uma maior produção de leite e maior
longevidade dos animais, possibilitando um maior aproveitamento do animal
durante a sua vida produtiva, adiando o período médio do descarte,
acarretando em maior lucro.

- Porcentagem de vacas em lactação (%VL): obtida dividindo-se o número


de vacas em lactação pelo número total de vacas do rebanho, multiplicado por
100. A %VL ideal é de 83%, o que somente pode ser obtido com IP de 12 meses
e duração da lactação de 305 dias. Valores abaixo de 80% são representativos
de uma indicação de desempenho reprodutivo inadequado ou baixa
persistência de lactação.

- Período Seco: através do controle zootécnico, pode-se controlar o


período seco das vacas, o ideal é de 60 dias antes da data prevista do parto, 90
dias ainda é aceitável, no entanto, quando esse período atinge 120 dias devem
ser realizadas algumas mudanças no manejo, afim de diminuir este período.

Índices reprodutivos

- Porcentagem de Prenhez (%P): representa o número de vacas prenhes


dividido pelo número total de vacas do rebanho (vacas prenhes mais vacas
vazias), multiplicado por 100. Este índice deverá ser medido todo mês, para
depois se tirar a média anual. Se ficar entre 75% e 80% há uma boa indicação
da boa eficiência reprodutiva.

- Taxa de natalidade: número de bezerros nascidos vivos durante o ano


dividido pelo número médio mensal de vacas, multiplicado por 100. O ideal é
ter 100% de bezerros nascidos vivos no período, apesar de ser difícil devido
problemas de saúde que as vacas possam a ter, impossibilitando o cio ou o
parto.

- Intervalo entre partos (IP): tempo compreendido entre dois partos


consecutivos da mesma vaca, corresponde ao período de serviço mais o
período de gestação. Embora tenha algumas limitações, o IP é considerado o
índice mais utilizado na medição da eficiência reprodutiva, e com ele se pode
estimar o potencial de produção leiteira.

- Período de serviço (PS): Tempo transcorrido entre o parto e uma nova


concepção (em dias). Este período não pode ultrapassar os 90 dias, para que
assim, se possa obter um intervalo entre partos de 12 meses. O PS depende de
vários fatores que podem ser controlados ao usar o controle zootécnico, entre
eles cita-se: a sanidade, escore corporal, manejo e raça.
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- Escore de condição corporal (ECC): Sabe-se que em vacas leiteiras, o


pico de produção leiteira ocorre antes do pico de consumo de matéria seca, o
que gera um balanço energético negativo, por consequência, vacas com
aptidão leiteira fazem uso de suas reservas corporais (ou seja, tecido adiposo),
sustentando suas altas produções, a ferramenta mais utilizada para monitorar
o grau de mobilização da gordura é o ECC, que varia entre 1 (excessivamente
magra) a 5 (obesidade excessiva). Resumidamente, pode-se dizer que ao parto,
o ideal é um escore de 3,25, valores abaixo de 3 indicam que a vaca está
parindo com pouca reserva e, por consequência, não consegue demostrar todo
seu potencial de produção. Valores acima de 3,50 ao parto indicam menor
consumo no pós-parto, acarretando em maior incidência de enfermidades
metabólicas.

Considerações Finais

A adoção do controle zootécnico nas propriedades leiteiras é de extrema


importância, pois não implica em custos extras ao produtor e faz com que todo
o sistema de produção seja conhecido, diminuindo a incidência de erros nas
tomadas de decisões da propriedade.

Ao adotar a técnica de anotação de todas as ocorrências, percebe-se


uma gradativa melhora de todo o sistema produtivo, principalmente na
tangente de produção e reprodução, além da sanidade e higiene.

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