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Apostila de

Bovinocultura
de Corte

6° SEMESTRE (2023-2024)
Desmame de bovinos de corte
O desmame consiste na separação definitiva do bezerro e da vaca
com a paralisação do aleitamento. O termo muda de acordo com o tipo de
produção, sendo que na bovinocultura de corte emprega-se o tempo
“desmame” e na bovinocultura de leite, “desaleitamento”. Existem 6 diferentes
tipos de desmame, tais como: precoce, intermediário, convencional, tardio,
interrompido e controlado, levando em conta que a escolha deve depender
dos objetivos e características do sistema de produção. As decisões quanto ao
desmame devem ter como principal objetivo: favorecer a capacidade da
vaca (mudança hormonal causada pela interrupção da lactação origina cio)
sem trazer prejuízos ao bezerro.

O momento ideal para a realização do desmame deve ser


determinado a partir da avaliação de certos fatores, como: custo de cada
protocolo, qualidade e oferta de alimento da propriedade; subdivisões de
instalações e potreiros; disponibilidade de mão-de-obra especializada e
operacionalização do sistema; peso, idade, ECC e produção leiteira da vaca;
época de parição; idade e peso do bezerro, em decorrência do peso e idade
mínimos exigidos entre os diferentes protocolos.

O desenvolvimento do sistema digestivo de terneiros também é um


parâmetro a ser avaliado, visto que auxilia a ter um melhor entendimento das
necessidades fisiológicas de um bezerro. Os componentes do sistema
digestório do bovino (rúmen-retículo, omaso e abomaso) diferem quanto a sua
representatividade em relação à idade do bezerro, como mostra a tabela a
seguir:
Compartimento IDADE
Nascimento 2 semanas 7 semanas 4 meses Adulto
Abomaso 61% 59% 24% 21% 23%
Rúmen-retículo 31% 36% 72% 73% 69%
Omaso 8% 5% 4% 6% 8%
Total 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: Adaptado de Swenson & Reece, 1996.

É evidenciado que o desafio do bezerro será maior quando o animal for


mais jovem (primeiras 4-7 semanas), visto que possui dependência da mãe
para suprir suas exigências, fazendo com que as estratégias de manejo sejam
voltadas para adaptação do animal com o alimento sólido, a fim de garantir
que o mesmo continue adquirindo peso após a separação da vaca. Com o
tempo, percebe-se que enquanto o abomaso tem uma redução no seu
percentual representativo até atingir 23% na fase adulta, enquanto o rúmen-
retículo tende a ter uma parte maior da porcentagem até representar 69% no
animal adulto. O omaso apresenta oscilações durante as fases de idade do
bezerro, mas estabiliza em 8% no bovino adulto. Diante do conhecimento do
desenvolvimento do sistema digestório do ruminante, é possível dividir os
animais em fases: fase de não-ruminante (0-3 semanas), fase de transição (3-8
semanas) e fase de ruminante adulto (acima de 8 semanas). Ademais, é
importante salientar que as bactérias são importantes para a formação da
microbiota e desenvolvimento das papilas ruminais.

A velocidade de desenvolvimento do pré-estômago é influenciado por


alguns pontos, sendo eles: tipo de dieta (sólida ou líquida); produção de leite
da vaca, sendo que quanto mais leite produzido, menos o bezerro se sente
atraído por um tipo de alimentação suplementar, porém vacas com alta
produção de leite não são desejadas no ramo do gado de corte, visto que
possuem maior exigência, risco de mastite e atraso no desenvolvimento;
desenvolvimento das papilas ruminais, sendo definido, principalmente, pelo
consumo e fermentação de concentrados que produzem propionato e
butirato que estimulam a formação das papilas, já o pasto (volumoso) tem
fermentação lenta com produção de acetato que não estimula eficazmente
as papilas, atrasando o desenvolvimento do rúmen; práticas de manejo, como
o creep-feeding que pode definir o momento do desmame (o bezerro deve
estar consumindo mais que 800g/dia de concentrado). A maturidade do
sistema digestório do bezerro indica a possibilidade de emprego do desmame,
a partir, aproximadamente, dos 2 meses de vida.

O sucesso do desmame precoce (60-90 dias) depende de algumas


variáveis, como: taxa de desenvolvimento do pré-estômago (tamanho do
rúmen-retículo e capacidade fermentativa), qualidade da dieta (altas
exigências em nutrientes), aleitamento nas três primeiras semanas de vida do
bezerro (dependência exclusiva do leite da vaca) com ingestão de 10 a 15%
do peso vivo (ex: bezerro de 40kg terá ingestão de 4 a 6 L/dia). É notável
pontuar que a produção de leite superior vai permitir que as vacas
desmamem bezerros com maior peso, porém essa produção de leite irá exigir
nutrientes para o ventre, que ocasionalmente, não serão fornecidos
totalmente pelo pasto, afetando a eficiência reprodutiva.

Desmame precoce
No desmame precoce, o bezerro é separado definitivamente da vaca
aos 60-90 dias de vida, sendo que é desmamado, geralmente, entre o início e
meio da estação de acasalamento, viabilizando o período de recuperação
do ventre e uma nova concepção. Dentre os objetivos, podemos destacar: o
aumento do peso e ECC das vacas, aumento da fertilidade do rebanho
(incremento de natalidade), diminuição das exigências dos ventres, acréscimo
da taxa de lotação de pastagens e permitir o descarte de vacas velhas, com
venda desses animais gordos antes do inverno.

Esse tipo de desmame exige um manejo preparativo dos animais para a


ocorrência da prática, como: formação de lotes homogêneos em idade
(evitar hierarquia e dominância entre os animais); acompanhamento diário do
consumo de concentrado (visando aumentar gradativamente a cada dia);
verificar peso, idade, ECC das vacas pré-desmame (desmamar de vacas
velhas, de baixo peso e baixo ECC); escolher dias ideais (claros e secos) para
fazer o desmame; programar a demanda de mão-de-obra; verificar o custo
de produção nessa fase. É importante ressaltar que quanto mais precoce o
desmame, maior será a exigência nutricional do alimento (aumento de custo).
O creep-feeding é uma prática que visa proporcionar um alimento
suplementar para os terneiros antes da realização do desmame. A
lucratividade dessa prática se relaciona com o custo do concentrado, preço
recebido pelo bezerro, valor agregado pelo maior desempenho (2-45kg) e
conversão alimentar dos animais. O creep precisa ser implantado em um local
onde as vacas fiquem mais, com o uso de arame liso, permitindo a passagem
do bezerro, mas restringindo o acesso dos adultos. Dentre os fatores que
justificam o emprego desse manejo, tem-se: aumento do peso ao desmame,
redução da mortalidade, melhoria do manejo pastoril, melhoria da taxa de
prenhez (primíparas) e protocolo obrigatório para antecipação da data do
desmame. Ademais, é interessante pontuar os porquês de realizar o creep-
feeding, ponderando as vantagens que trará no futuro, como: precocidade
de acabamento de carcaça, rendimento de cortes comerciais, melhora a
aceitabilidade e palatabilidade da carne, uso necessário em cruzamentos,
aumento da fertilidade dos futuros ventres, sendo indispensável em protocolos
de IATF (inseminação artificial em tempo fixo).

Para a efetividade do desmame precoce, alguns cuidados devem ser


feitos durante a prática, como: não desmamar terneiros com menos de 80kg e
65 dias de idade; iniciar o desmame na mangueira (10-15 dias confinados);
fornecer água limpa à vontade, concentrado controlado (mínimo de 18% de
PB) e feno à vontade (adaptação de alimentos sólidos); oferecer concentrado
duas vezes ao dia; respeitar o espaço mínimo de 30cm lineares de cocho por
animal. O momento do desmame será apontado pelo nível de consumo
regular de concentrado.

Após a implementação do desmame, mais cuidados devem ser


tomados, dentre eles: utilização de piquetes especiais (cercas, sombra, água e
suplementação; realização de vacinas e vermifugação; realizar duas
avaliações diárias sobre a ocorrência de diarreias; usar rações com conensina
sódica e oxitetraciclina; não fornecer ureia ou outra fonte de nitrogênio não-
proteico; observar o comportamento ingestivo; manter 30 a 40cm de piso no
cocho por animal; usar palatabilizantes; oferecer volumoso (alta qualidade e
boa palatabilidade) e concentrado (0,1 kg/animal/dia); zelar por um local
seco e bem drenado; evitar doenças (ceratoconjuntivite, TPB, coccidiose e
enfermidades respiratórias).

Por síntese, podemos concluir que o desmame precoce é uma


ferramenta de manejo que ajuda no desempenho reprodutivo da vaca, que
exige gasto com instalações, assessoramento técnico em sanidade e nutrição,
custo alto de técnica. Além disso, é importante destacar que essa prática não
corrige pontos básicos.
Desmame temporário/interrompido
Essa modalidade de desmame se baseia na supressão temporária da
lactação, com consequente incremento reprodutivo do rebanho. A eficácia
dessa prática depende do nível nutricional da vaca, sendo que a duração e o
momento de implantação são os principais pontos a serem definidos.
Primeiramente, os bezerros são separados da mãe por 2 a 3 dias, depois
retornam, ficando ao pé da vaca impedidos de mamar pela colocação de
uma “tabuleta” nas fossas nasais. Essa prática de adaptação pode ser
realizada 3 vezes durante a estação de acasalamento com intervalos médios
de 30 dias, sendo que essa interrupção gera o retorno ao equilíbrio
neuroendócrino com a cria ao pé, ocasionando pulsos de LH que viabilizam o
retorno da atividade reprodutiva, em associação a um bom plano nutricional
e ECC da vaca.

O desmame interrompido deve respeitar o pesos e idades mínimos


(70kg e 60 dias) para uso de tabuleta e para interrupção em mangueira (60kg
e 40 dias), assim como a duração de 2 a 13 dias do desmame interrompido.
Na aplicação da primeira tabuleta, observa-se estresse com queda de GMD;
na segunda tabuleta, o GMD do grupo com tabuleta com o grupo ao pé da
vaca (sem redução); no desmame definitivo, há incremento de GMD do
grupo com tabuleta.
(última separação: 30 dias do final da estação de monta)

Desmame controlado
No desmame controlado, durante a estação de monta, o bezerro fica
separado da vaca, porém continua sendo aleitado. O protocolo estabelece a
separação parcial diária de 20 a 22 horas, e o acesso de bezerro para mamar
fica restrito a 1 a 2 vezes por dia num período de 2 a 4 horas por dia. A
implementação do creep-feeding associado com creep-granzing, pastagem
cultivada fertilizada (gramíneas e leguminosas associadas). Necessita de
investimento de instalações, manejo de pastagens e acréscimo da mão-de-
obra para separar o bezerro da vaca diariamente. No momento doencontro
entre bezerro e vaca deve ser observada a ocorrência de cio (ECC da vaca ≥
2,5). A separação definitiva irá ocorrer nos 5-8 meses de idade do bezerro, e a
inseminação da vaca acontece 12 horas após a observação de cio posterior
à separação.
Desmame intermediário
O desmame definitivo da vaca irá ocorrer entre 4-5 meses de idade do
animal. Esse tipo de desmame é empregado em novilhas de primeira cria e/ou
em partos gemelares, com vacas de ECC>2,5. Nessa modalidade, o animal
pasteja, não é obrigatório o uso de creep-feeding e os bezerros respondem
rápido à ração e ao suplemento. É realizado após a estação de monta, sendo
que os resultados serão obtidos na próxima estação de monta (não tem
efeitos fora da estação de monta). Essa prática garante à vaca um bom
ganho de peso e acúmulo de ECC antes do período do inverno (de 25 a
35kg), já para o bezerro, possibilita a ingestão de sólidos e melhor
desenvolvimento ruminal antes do inverno.
Desmame convencional
O desmame convencional é empregado aos 7-8 meses de vida do
bezerro. É o tipo mais recomendado quando o nível nutricional do rebanho é
excelente, gerando menos estresse ao bezerro, requer menos mão-de-obra e
proporciona um maior peso ao desmame, e não produz resultado reprodutivo.
É importante verificar a taxa de prenhez.

(leilões: fevereiro a maio)

Desmame tardio
O desmame tardio é realizado entre os 8-10 meses, somente em casos
de rebanhos com planos nutricionais excepcionais, em que os animais são
enviados diretamente para confinamento (usado no sistema americano). A
escolha do momento do desmame é utilizada como ferramenta de
incremento da taxa reprodutiva em rebanhos de bovinos de corte.

Critérios para a escolha do protocolo


Primeiramente, é importante destacar que o tipo de desmame deve ser
realizado pensando nos parâmetros da propriedade e no desafio a ser
atingido. Os protocolos devem ser feitos entre o início e o meio da estação de
monta. Alguns fatores a serem ponderados são: ECC do ventre, taxa de
repetição de cria das vacas, época de parição, momento do parto (início,
meio e fim), idade dos ventres, disponibilidade de alimentos, custo do
alimento, custo na ineficácia reprodutiva, custo de uma vaca vazia na
propriedade, principal receita da propriedade e idade do primeiro
acasalamento.

Planejamento reprodutivo x Dinâmica de pastagens

Desempenho das funções produtivas e


ordem de utilização energética
A fonte de energia para um animal desempenhar suas funções provém
dos nutrientes da dieta e das reservas corporais armazenadas (mobilizadas
pelo catabolismo tecidual). A utilização dos nutrientes segue uma ordem de
prioridade, sendo, respectivamente: metabolismo basal (mantença), atividade
muscular, crescimento (puberdade), reserva energética básica (garantir antes
da segunda prenhez), prenhez (muda o foco das exigências), lactação,
reservas energéticas adicionais, ciclo estral e início de gestação. As reservas
em excesso se formam na ausência de crescimento, indicando na redução do
estado de saúde propício para a reprodução, inibindo um novo ciclo
reprodutivo e podendo ocasionar dificuldades ao parto (injúrias).
O escore de condição corporal (ECC) é um sistema subjetivo que busca
avaliar a quantidade de reserva energética do animal, por meio da
observação visual e/ou palpação de regiões que depositam gordura de
cobertura. Permite comparar animais de diversos tamanhos e raças,
classificando através do grau de reserva independente do peso, através de
escalas que variam de 1 a 5 ou de 1 a 9. É imprescindível pontuar que há
relação direta entre o ECC ao parto com a eficiência reprodutiva.

Quanto aos fatores que influenciam o ECC das vacas, deve-se


destacar: lotação; data de parto (quanto mais tarde for a parição, menor a
chance de prenhez dentro da estação de monta); suplementos minerais,
proteicos e energéticos; genética animal e clima; manejo de forragens e
espécies forrageiras; idade ao desmame; doenças e parasitoses.

O ECC pode sofrer mudanças sazonais, visto que perdas podem


ocorrer, mas devem ser graduais e não drásticas. No campo, o melhor ECC
das vacas é observado no final do verão, decaindo durante o outono e
atingindo o escore mínimo no final de inverno, sendo que nessa fase as vacas
podem perder meio ponto (escala de 1-5). Perdas de ECC maiores que meio
ponto indicam deficiências no sistema produtivo, sendo necessária a
implementação de práticas de manejo. No final do verão, por ocasião do
desmame, a vaca deve ter um escore corporal maior, já no final do inverno
(terço final de gestação ou pré-parto), o ECC é de 3,0-3,5. No parto, o ECC
deve ser de 3,5-4,0, e no puerpério (pós-parto) de 2,5-3,0. O escore de
condição corporal da vaca ao parir não deve estar abaixo de 3 ou acima de
4, já que o ECC ao parto e no início do período de monta será decisivo na
escolha do momento para realizar o desmame.

Supondo um desafio em que uma vaca primípara estar prenhe depois


de 90-120 dias, o peso da fêmea na primeira inseminação é de 50-55% do
peso vivo (ECC: 3,0-3,5) e o peso da primeira parição deverá ser de 90-95% do
peso vivo (ECC:3,5-3,8) para que a vaca tenha sucesso na segunda prenhez
(importante avaliar a idade da vaca). A subnutrição de uma vaca é definida
por um ECC inferior a 2,5. Deve-se tentar evitar distocia e cetose.

O intervalo entre partos (IEP) é um parâmetro que está diretamente


associado ao ECC ao parto, sendo que esse fator consiste no somatório do
período de gestação (280 dias) com o número de dias até a próxima
concepção. Dessa forma, para uma vaca ter um IEP=365 doas (1 cria por
ano), ela deverá conceber em até 85 dias após o parto. Vacas com ECC
inferior a 3,5 ao parto podem ter dificuldade de manifestar cio até 85 dias pós-
parto.
O monitoramento do ECC se faz necessário, principalmente, ao parto
que é um momento crítico. A avaliação do ECC deve ser estratégica,
realizada periodicamente de tempos em tempos nos grupos de fêmeas da
propriedade, objetivando chegar a tomadas de decisões de manejo. Vacas
com ECC inadequado ao parto podem ter desterneiradas precocemente,
permitindo um retorno à atividade reprodutiva.

Embora pesquisas indiquem que proporcionar elevado nível nutricional


antes ou após o parto apresente equivalência sob o ponto de vista
reprodutivo, sob o ponto de vista econômico, é muito mais barato
proporcionar um elevado nível nutricional antes do parto, pois nessa fase as
exigências nutricionais do ventre são muito menores quando comparadas às
exigências do pós-parto.

Dentre os fatores nutricionais que afetam a reprodução, tem-se: energia


(principal responsável/deficiência), proteína (excesso/deficiência) e vitaminas-
minerais (efeitos indiretos).

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