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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA


CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA
CURSO DE BACHARELADO EM ZOOTECNIA

NAYANE SUELEN LIRA SOUZA

OCORRÊNCIA DE PLANTAS TÓXICAS PARA RUMINANTES EM ÁREAS DE


SAVANA E TRANSIÇÃO SAVANA-FLORESTA NO ESTADO DE RORAIMA

Boa Vista - RR
2014
1

NAYANE SUELEN LIRA SOUZA

OCORRÊNCIA DE PLANTAS TÓXICAS PARA RUMINANTES EM ÁREAS DE


SAVANA E TRANSIÇÃO SAVANA-FLORESTA NO ESTADO DE RORAIMA

Trabalho apresentado como pré-


requisito para a conclusão do Curso
de Bacharelado em Zootecnia, da
Universidade Federal de Roraima.

Orientador: Prof. Dsc. Jalison Lopes.

Boa Vista - RR
2014
2

Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP)


Biblioteca Central da Universidade Federal de Roraima

S729o Souza, Nayane Suelen Lira.


Ocorrência de plantas tóxicas para ruminantes em áreas de
savana e transição savana-floresta no Estado de Roraima / Nayane
Suelen Lira Souza – Boa Vista, 2014.
55 p. : il.

Orientador: Prof. MSc. Jalison Lopes.


Monografia (graduação) – Universidade Federal de Roraima,
Curso de Zootecnia.

1 – Pecuária. 2 – Pastagem. 3 – Intoxicação. 4 – Lavrado. I -


Título. II – Lopes, Jaliso (orientador).

CDU – 631.8
3

NAYANE SUELEN LIRA SOUZA

OCORRÊNCIA DE PLANTAS TÓXICAS PARA RUMINANTES EM ÁREAS DE


SAVANA E TRANSIÇÃO SAVANA-FLORESTA NO ESTADO DE RORAIMA

Trabalho apresentado como pré-


requisito para a conclusão do Curso
de Bacharelado em Zootecnia, da
Universidade Federal de Roraima.
Defendido em 27 de janeiro de 2014 e
avaliada pela seguinte banca
examinadora:

___________________________________________
Prof. Dsc. Jalison Lopes
Orientador / Curso de Zootecnia – UFRR

____________________________________________
Dsc. Caio Augustus Fortes
Instituto de Amparo à Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de Roraima – IACTI/RR

___________________________________________
Profª. Msc. Raimifranca Maria Sales Véras
Co-orientadora/Curso de Zootecnia – UFRR
4

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por me dar forças nos momentos mais difíceis,
possibilitando, assim, que eu não desistisse ao longo desta caminhada.
Aos meus pais Francisco e Sebastiana, que muito se dedicaram para manter os meus
estudos e nunca mediram esforços para me ajudar.
Todo apoio dos meus irmãos Fredson e Nayara, que sempre acreditaram na minha
vitória.
À Universidade Federal de Roraima pela criação, do curso de Bacharelado em
Zootecnia.
Ao meu orientador, Professor Jalison, por acreditar em mim e me ajudar a realizar
esse sonho, juntamente com a Professora Ramifranca, por quem tenho um imenso carinho.
Agradeço ao Dr. Caio por ter aceitado participar da banca e por suas sugestões para a
melhoria do trabalho realizado.
À todos os professores do curso de Zootecnia e Agronomia, que contribuíram
imensamente pra minha formação profissional e pessoal.
Aos anjos que Deus coloca em nossas vidas em forma de amigos: Jouse, Andreia,
Rafaelly, Dieny, Amanda, José Wilker, Renan, Durval, Rairon, Vandré, pessoas que tive o
prazer de conhecer ao longo da vida acadêmica, as quais vou levar para o resto da vida.
Às amigas que sempre me apoiaram e alegraram meu final de semana, quando não
tinha prova na segunda-feira.
Agradeço ao meu namorado Joziel, pelo amor, paciência. ajuda e compreensão nos
momentos que mais precisei.
Agradeço também ao Sr. Sebastião Portella e família, por terem permitido realizar o
levantamento em sua propriedade.
Muito obrigada à todos que torceram por mim e acreditaram em minha capacidade.
5

Meu Deus,

Entrego-me a vós e fazei de mim,


Profissional da Ciência Zootecnia, o
que for de vosso agrado.
Deponho minha sabedoria em prol da
saúde, conforto, melhoramento e
alimentação de todos os animais.
Ajudai-me a cuidar e lutar pela
salvação dos Campos.
Dai-me forças para progredir como
Zootecnista, buscando melhor
qualidade e quantidade de alimentos
para a humanidade.
Não deixai que o egoísmo e a inveja
se apossem de meu coração.
Estou pronto para tudo, aceito tudo,
desde que Vossa vontade se realize
em mim, com uma Confiança infinita,
pois sois nosso Pai.
Amém.

Autores:
Zootecnistas: Fabrício de Morais
Ribeiro e Celso Pontes.
6

RESUMO

Na pecuária extensiva e semi-extensiva, as plantas tóxicas são uns dos principais problemas
que trazem grandes perdas econômicas à produção animal. Assim, o objetivo deste trabalho
foi realizar um levantamento visando identificar a presença de plantas tóxicas de interesse
pecuário em dois locais de estudos, sendo o primeiro na área de savana do Centro de Ciências
Agrárias da Universidade Federal de Roraima, localizada no Município de Boa Vista e na
Fazenda Racho Octávio Portella, localizado no Município de Iracema, caracterizada como
área de transição de savana para floresta amazônica. Para a identificação das plantas tóxicas
foram realizadas visitas nos locais de estudo entre os meses de novembro de 2013 a janeiro de
2014, foi realizado uma coleta das possíveis plantas tóxicas e realizada a analise através de
fotografias e consulta bibliográfica para uma possível identificação botânica. Foram
identificadas as seguintes plantas tóxicas: Palicourea marcgravii, que causa morte súbita em
bovinos, Ipomoea asarifolia com sinais clínicos neurológicos em bovinos, a Arrabidaea
bilabiata, Arrabidaea japurensis, sendo Arrabidaea japurensisa segunda em importância
relacionada com morte de bovinos para o Estado de Roraima. Lantana spp, Palicourea
grandiflora, entre outras. Concluiu que ambos os locais de estudo apresentam um quantitativo
considerável de plantas tóxicas de importância pecuária, podendo até ocorrer alguma
intoxicação nos animais, que estão presentes nos locais onde foi realizada a pesquisa.

Palavra-chave: Intoxicação. Lavrado. Pastagem. Pecuária.


7

ABSTRACT

In extensive and semi-extensive livestock, toxic plants are major problems which bring great
economic losses to livestock production ones. The objective of this study was to conduct a
survey to identify the presence of toxic plants for livestock interests in two study sites, the
first being in the area of the Savannah Center for Agrarian Sciences, Federal University of
Roraima, located in the municipality of Boa Vista Farm and Racho Octavio Portella, located
in the municipality of Iracema, characterized as a transition area of the Amazon rainforest to
savannah. For the identification of toxic plants were visited in the study sites between the
months of November 2013 to January 2014 a collection was made possible toxic plants and
the analysis performed through photographs and bibliographic research for a possible
botanical identification. The following toxic plants were identified: Palicourea marcgravii,
which causes sudden death in cattle, Ipomoea asarifolia with neurological clinical signs in
cattle, the Arrabidaea bilabiata, Arrabidaea japurensis , with Arrabidaea japurensisa the
second in connection with death of cattle in the State of Roraima importance. Lantana spp
Palicourea grandiflora, among others. Concluded that both study sites have a considerable
quantity of toxic plants importance of livestock, poisoning may even occur in some animals,
which are present in the places where the survey was conducted.

Keyword: Intoxication. Plowed. Pasture. Livestock.


8

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Palicourea marcgravii ............................................................................................ 14


Fgura 2 - Arrabidaea bilabiata ............................................................................................... 16
Figura 3 - Arrabidaea japurensis............................................................................................ 17
Figura 4 - Imagem aérea do Centro de Ciências Agrárias.......................................................18
Figura 5 - Lantana câmara......................................................................................................20
Figura 6 - Ipomoea asarifolia..................................................................................................23
Figura 7 - Solanum spp............................................................................................................26
Figura 8 - Mimosa spp.............................................................................................................28
Figura 9 - Senna occidentalis...................................................................................................30
Figura 10 - Palicourea marcgravii..........................................................................................33
Figura 11 - Palicourea grandiflora..........................................................................................36
Figura 12 - Arrabidaea bilabiata.............................................................................................38
Figura 13 - Arrabidaea japurensis...........................................................................................40
Figura 14 - Crotalaria incana..................................................................................................43
Figura 15 - Brachiaria radicans..............................................................................................45
Figura 16 - Urina de bovino.....................................................................................................46
9

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 10
2 OBJETIVO ...................................................................................................................... 12
2.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................................. 12
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................... 12
3 REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................................... 13
3.1 PLANTAS QUE CAUSAM MORTALIDADE SÚBITA ........................................ 13
3.1.1 Palicourea marcgravii ........................................................................................ 13
3.1.2 Arrabidaea bilabiata .......................................................................................... 15
3.1.3 Arrabidaea japurensis ........................................................................................ 16
4 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................ 18
4.1 Localização da pesquisa ............................................................................................. 18
4.2 Critérios de escolha para os locais da pesquisa ......................................................... 19
5 RESULTADOS E DISCUSÕES .................................................................................... 19
5.1 Plantas que causam fotossensibilização secundária (hepatógena) ............................. 19
5.1.1 Lantana camara.................................................................................................. 19
5.2. Plantas que causam síndrome tremorgênica .............................................................. 23
5.2.1. Ipomoea asarifolia.............................................................................................. 23
5.3. Plantas que causam neurolipidose ............................................................................. 26
5.3.1. Solanum spp........................................................................................................ 26
5.4. Plantas que causam lesões mecânicas traumáticas .................................................... 28
5.4.1. Mimosa pudica e Mimosa debilis ....................................................................... 28
5.5. Plantas que causam degeneração e necrose muscular................................................ 30
5.5.1. Senna occidentalis .............................................................................................. 30
5.6. Plantas que afetam o funcionamento do coração ....................................................... 32
5.6.1. Palicourea marcgravii ........................................................................................ 32
5.6.2. Palicourea grandiflora ....................................................................................... 35
5.6.3. Arrabidaea bilabiata .......................................................................................... 37
5.6.4. Arrabidae japurensis .......................................................................................... 40
5.7. Plantas que, sob condições naturais, causam cirrose hepática ................................... 42
10

5.7.1. Crotalaria incana ............................................................................................... 42


5.8. Plantas que causam anemia hemolítica ...................................................................... 44
5.8.1. Brachiaria radicans............................................................................................ 44
6 MANEJO E CONTROLE DAS PLANTAS INVASORAS ......................................... 47
6.1. Prevenção ................................................................................................................... 47
6.2. Controle x erradicação ............................................................................................... 48
7 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 52
10

1 INTRODUÇÃO

A criação de ruminantes no Brasil é essencialmente baseada em sistemas de


pastagens. Avalia-se que 80% dos quase 60 milhões de hectares das áreas de pastagens na
região de cerrados apresentam algum estágio de degradação (MACEDO, RICHEL &
ZIMMER, 2000). Um dos principais problemas resultantes do manejo inadequado das
pastagens é a infestação por plantas daninhas e tóxicas. Estas plantas promovem queda da
capacidade de suporte da pastagem, aumentam o tempo de formação e de recuperação do
pasto, podendo causar ferimentos e/ou intoxicação aos animais e comprometendo a estética da
propriedade (ROSA, 2001; SILVA et al., 2002; citados por ANDRADE, 2007).
A criação dos animais no Estado de Roraima baseia-se quase que exclusivamente no
sistema de criação extensivo. Esse sistema permite uma maior exposição dos animais de
produção às plantas tóxicas, principalmente por sua presença indesejável nas pastagens. Uma
das maiores dificuldades é de reconhecimento prático e visual destas plantas pelos
profissionais, pecuaristas e demais interessados, necessitando assim de uma informação
acessível e regionalizada para rápida identificação das espécies tóxicas objetivando minimizar
os prejuízos causados.
A falta de definição do que seja planta tóxica, do ponto de vista da pecuária, fez com
que, de uma maneira geral no Brasil, inúmeras plantas fossem indevidamente incluídas nesta
categoria. Tal fato tem causado bastante confusão em torno do assunto (TOKARNIA et al.,
2007).
TOKARNIA et al (2002) define planta tóxica de interesse pecuário a que é ingerida
por animais de fazenda, em condições naturais que causa danos á saúde ou morte desses
animais, com comprovação experimental. Portanto, consideram-se tóxicas todas as plantas
que, ingeridas espontânea ou acidentalmente pelos animais, podem aduzir danos que se
refletem na saúde ou vitalidade.
As perdas econômicas causadas pela ingestão de plantas tóxicas pelos ruminantes são
significantes aos pecuaristas, porém, muita dessas mortes ainda é desconhecida em nossa
região, devido ao fato dos proprietários não reconhecer essas plantas em suas propriedades.
Segundo TOKARNIA et al., 2007 pode se afirmar que no Brasil, é na região
Amazônica onde as plantas tóxicas causam atualmente os maiores prejuízos aos rebanhos
bovinos. O interessante é que apesar da Amazônia se tratar de uma região tão vasta, são
11

somente três as plantas tóxicas responsáveis por quase todas as mortes, em terra firme. Quase
todas as mortes são causadas por uma só planta, Palicourea marcgravii (“cafezinho”, “erva de
rato”), da família Rubiaceae. Por outro lado, na várzea, na área do Rio Amazonas, a principal
planta responsável pelas mortes é Arrabidaea bilabiata (“gibata”) é na área do Rio Branco e
seus afluentes é Arrabidae japurensis (sem nome popular), ambas da família Bignoniaceae.
Considerando a falta de informação sobre o significativo impacto das intoxicações
por plantas em animais de produção no Estado de Roraima precisamente na área de savana e
na área de transição de savana para floresta Amazônica nos municípios de Boa Vista e
Iracema, este trabalho tem como objetivo, levantar e identificar as plantas tóxicas que
ocorrem nestas regiões, sugerida e/ou confirmadas como causadoras de mortalidades de
ruminantes.
12

2 OBJETIVO

2.1 OBJETIVO GERAL

 Levantar e identificar as plantas tóxicas para ruminantes na área de savana e área de


transição de savana para floresta Amazônica nos municípios de Boa Vista e Iracema.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Identificar a ocorrência de plantas tóxicas na estação de seca e os locais de maior


incidência;
 Identificar a botânica das plantas;
 Apresentar um esquema de controle e possível erradicação dessas plantas.
13

3 REVISÃO DE LITERATURA

A seguir serão descritas as principais plantas tóxicas de interesse pecuário na região


Norte, conforme relatos de literatura. Serão apresentadas as plantas causadoras de
intoxicações naturais, distribuídas por órgão ou sistema afetado, considerando o nome
científico, nome vulgar e características da planta tóxica, epidemiologia, quadro clínico-
patológico, princípio ativo, diagnóstico e diagnóstico diferencial, tratamento e profilaxia.

3.1 PLANTAS QUE CAUSAM MORTALIDADE SÚBITA

Na região Norte, as plantas que causam “morte súbita” pertencem às famílias


Rubiaceae e Bignoniaceae (TOKARNIA et al., 2007).

3.1.1 Palicourea marcgravii

Da família Rubiaceae, conhecida pelos nomes populares de “cafezinho”, “café-


bravo, “erva café”, “erva de rato”, “roxa”, “roxinha”, “roxona” e “vick”, é a planta tóxica para
herbívoro mais importante da Amazônia (Figura 1) (TOKARNIA et al., 2007).
A maioria das perdas causadas por plantas tóxicas, na região amazônica é devido à P.
marcgravii, sendo que na terra firme quase todas as mortes por plantas tóxicas em bovinos
são causadas por ela, sua distribuição geográfica é a mais abundante do Brasil. É encontrada
em todo país com exceção da Região Sul e do Sertão do Nordeste. São observados, os
arbustos em lugares sombreados (mata, capoeira, pastos recém-formados) em terra firme, tem
uma boa aceitabilidade, possui alta toxicidade e efeito acumulativo (TOKARNIA et al.,
2007).
Em condições naturais, a intoxicação ocorre quase que exclusivamente em bovinos,
mas recentemente foram observados surtos de intoxicação por P. marcgravii em ovinos e
caprinos (SOTO-BLANCO et al., 2004)
A intoxicação pela planta em bovinos ocorre quando estes penetram em matas ou
capoeiras onde existe a planta, ou quando os animais são colocados em pastos recém-
formados em áreas antes ocupadas por mata. A planta aparentemente possui boa
14

aceitabilidade, pois os bovinos a ingerem em qualquer época do ano, mesmo com forragens
abundantes, sem necessidade da presença do fator fome. São tóxicas as folha e as sementes.
Para bovinos, a dose letal das folhas frescas é ao redor de 0,6g/kg, a dose também é
semelhante para ovinos, caprinos e equinos.
Para bovinos o início dos sintomas se dá poucas horas após a ingestão da dose letal e
o exercício físico pode precipitar ou provocar os sintomas e a morte (TOKARNIA;
DÖBEREINER, 1986). A sintomatologia clínica em bovinos consiste basicamente em pulso
venoso positivo, instabilidade, tremores musculares seguidos por convulsões tônicas e morte.
A evolução é superaguda, para bovinos e ovinos, já em caprinos, varia entre minutos a dias
(SOTO-BLANCO et al., 2004).
O princípio ativo presente na P. marcgravii e responsável pelas mortes é o ácido
monofluoroacético que não é tóxico diretamente, mas o fluorcitrato, produto do seu
metabolismo, é o responsável pela toxicidade, cujo mecanismo de ação é semelhante ao
descrito na A. bilabiata (GÓRNIAK, 2008).
Ainda não há tratamento satisfatório para a intoxicação de ruminantes pela P.
marcgravii, em virtude de evolução superaguda. Experimentalmente, administrações de
xilazina, hidrato de cloral e acetamina (doadora de acetato) foram realizados em ratos com
bons resultados, mas não foram eficazes na reversão desta intoxicação em bovinos
(GÓRNIAK, 2008)
O único meio atualmente disponível para se evitar mortes dos animais por esta planta
é a remoção dela ou a restrição total do acesso dos animais a áreas onde ela esteja presente
(POTT et al., 2006; SOTO-BLANCO et al., 2004).

Figura 1 - Palicourea marcgravii


15

Fonte: Costa (2000).

3.1.2 Arrabidaea bilabiata

Pertencente a Família Bignoniaceae, conhecida pelos nomes populares de “gibata”


ou “chibata”, (Figura 2) é a planta tóxica para herbívoros mais importantes das regiões de
várzeas da Bacia Amazônica e a segunda em importância considerando toda a região
Amazônica, nos estados do Pará, Roraima e Acre. A. bilabiata, no Brasil, é abundante em
muitas áreas da Bacia Amazônica, mais ocorre somente nas partes baixas (várzeas, restingas e
abas de teso) que se inundam durante o período de “cheia”, isto é, nas margens do Rio
Amazonas, de seus paranás, lagos e afluentes (TOKARNIA et al., 2007).
Estudos experimentais realizados por Tokarnia et al. (2004) demonstraram que tanto
búfalos quanto bovinos são sensíveis aos efeitos tóxicos da A. bilabiata, sendo às folhas mais
novas duas vezes (100%) mais tóxicas do que as folhas maduras (50%), e que os búfalos
foram pelo menos duas vezes mais resistentes à ação tóxica da A. bilabiata do que os bovinos.
Ficando, no entanto, sem esclarecimentos mais específicos sobre a(s) causa(s) dessa maior
resistência nos búfalos.
Os sintomas de intoxicação por A. bilabiata, nos bovinos, iniciam-se
aproximadamente de 6 a 24 horas após a sua ingestão, quanto maior a quantidade ingerida,
menor é a evolução da intoxicação, que geralmente é superaguda, de minutos nos casos fatais.
As características da intoxicação por A. bilabiata, nos bovinos inclui instabilidade, tremores
musculares, dispnéia, queda em decúbito esterno-abdominal, depois lateral, movimentos de
pedalagem, mugidos e morte (TOKARNIA et al., 2007).
Um glicosídeo do tipo esteróide cárdioativo foi identificado como princípio ativo da
A. bilabiata, que pode interferir com a Na/K-ATPase, diminuindo o K intracelular e levando o
bloqueio cardíaco e aumento do tônus vagal, reduzindo ou bloqueando a atividade sinoatrial
(CORTES, 1969/71).
Já Krebs, Kemmerling & Habermehl (1994) ao isolarem o ácido monofluoracético da
A. bilabiata, presumiram que este princípio tóxico possa ser responsável pela insuficiência
cardíaca aguda nos animais intoxicados, por interferir diretamente no funcionamento cardíaco
e posteriormente no desenvolvimento de choque cardiogênico.
Não se conhece tratamento para a intoxicação por A. bilabiata. Recomenda-se deixar
em repouso os animais intoxicados. A profilaxia da intoxicação consiste em fazer o possível
para que os animais não passem fome nas épocas de mudança de gado, fazer o embarque e
16

desembarque dos animais em áreas onde não haja A bilabiata e movimentar os bovinos só o
essencialmente necessário. Tentar o combate da planta com herbicidas (TOKARNIA et al.,
2007).

Figura 2 - Arrabidaea bilabiata

Fonte: Tokarnia et al. (2007).

3.1.3 Arrabidaea japurensis

Pertencente à família Bignoniaceae, apesar de ser a planta tóxica mais importante da


região dos “lavrados” do Estado de Roraima (Figura 3), onde causa prejuízos bastante
elevados, era uma planta desconhecida aos criadores de bovinos. As “mortes súbitas”
causadas por sua ingestão foram erroneamente atribuídas por eles a outra planta, o “tingui”,
identificado como Coutoubea ramosa Aubl., da família Gentianaceae (TOKARNIA et al.,
2007).
Arrabidaea japurensis tem sido reconhecida até agora como causa de mortandades
em bovinos no Brasil somente no Estado de Roraima. Ela tem seu habitat nas margens dos
grandes rios da região, em clareiras e na borda das matas que margeiam esses rios, sempre em
áreas que se inundam durante as cheias. Ocorre também dentro dessas matas, onde, devido ao
excesso de sombra, não se desenvolvem bem, não devendo constituir problemas porque a
massa de folhas produzida é pequena, a folha madura é menos tóxica, além disso, a A.
17

japurensis sobe pelas árvores ficando assim, em grande parte, fora do alcance de bovinos
(TOKARNIA et al., 2007).
A dose que causa a morte em bovinos é bastante variável: 10 gramas de brotação de
Arrabidaea japurensis por Kg de peso animal, ingerido de uma só vez, porém, quantidades
decrescentes, até 1,25g/kg, ainda causam a morte de parte dos bovinos, não possui efeito
acumulativo. Os primeiros sintomas de intoxicação experimental por essas plantas foram de
aproximadamente de 6 a 22 horas após a sua ingestão. Os principais sintomas foram: andar
cambaleando, tremores musculares, súbita perda de equilíbrio, queda do animal, movimentos
de pedalagem, ás vezes berros e forte cerramento das pálpebras, seguindo-se de morte súbita
(TOKARNIA et al., 2007).
Não se conhece o principio tóxico da planta. Também não se conhece tratamentos
para esta intoxicação, deixar o animal em repouso à manifestação dos primeiros sintomas é a
única medida que se pode aconselhar. A profilaxia é problemática, pois, não se pode evitar o
pastejo dos animais nas margens dos rios na época da seca, pois essas são as únicas áreas
onde há verde, dado o regime de criação extensiva. Talvez a medida mais indicada seja o
combate à planta através de herbicidas (TOKARNIA et al., 2007).

1 Figura 3 - Arrabidaea japurensis

Fonte: Tokarnia et al. (2007).


18

4 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Localização da pesquisa

Os dados desta pesquisa foram coletados entre os meses de novembro de 2013 a


janeiro de 2014 no Campus do Cauamé da Universidade Federal de Roraima (Figura 4),
localizada na região do Monte Cristo, zona rural do Município de Boa Vista, as margens da
BR-174, Km 12 (Figura 4) e na Fazenda Racho Octávio Portella, localizado no Município de
Iracema, Km 110 as margens da BR-174.
Segundo Köppen o clima da região encontra-se na Zona Climática Tropical, sendo
classificado como tropical úmido tipo “A”, subtipo AW onde o clima é o tropical chuvoso
com predomínio de savanas. Este clima tem como características ser quente e úmido, com a
estação chuvosa no período do verão. As precipitações apresentam-se inferiores a 60
milímetros no mês de maior estiagem e a precipitação média anualmente é de 1.750
milímetros.

Figura 4 – Imagem aérea do Centro de Ciências Agrárias


19

Fonte: Fabrício Nunes.


4.2 Critérios de escolha para os locais da pesquisa

Um dos principais critérios da escolha dos locais de coletas das plantas tóxicas foi
devido à constatação da presença das plantas indesejáveis, porém, não se tinha uma possível
identificação das mesmas que estão presentes nos locais pesquisados e houve relatos de
mortes desconhecidas de bovinos na propriedade do município de Iracema.
Para a determinação da identificação de plantas tóxicas no Campus do Cauamé e na
Fazenda Rancho Octávio Portella, foi realizado visitas nas propriedades, todas as pastagens
foram visitadas a pé. Foi realizada a coleta das possíveis plantas tóxicas e feita a análise
através de fotografias e consulta bibliográfica para uma possível identificação botânica.
20

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Como resultados obtidos na referente pesquisa tem-se a identificação das seguintes


plantas tóxicas para os ruminantes.

5.1 Plantas que causam fotossensibilização secundária (hepatógena)

5.1.1 Lantana camara

Pertencente à família Verbenaceae, conhecida com os nomes populares de


“chumbinho”, “cambará”, “camará”, “cambará-de-espinhos, “cambará-de-duas-cortes”,
“camará-branco”, “chumbo”, “camará-juba”, “cambará-de-cheiro”, “cambará-vermelho”,
“cambará-verdadeiro”, “capitão-do-campo”, “cambará-miúdo” e “cambará-de-folha-grande”,
pertencente ao grupo de plantas tóxicas que causam fotossensibilização (Figura 5).
Existem muitas variedades de L. camara, que diferem em cores das flores, no habitat
e em várias características morfológicas. A intoxicação desta planta não está relacionada à cor
das flores (ALUJA, 1971).
Esta planta tóxica foi encontrada nos dois locais de estudos os locais de maior
predominância foram próximos às cercas dos currais, no local onde está a capineira no
Rancho Octávio Portella e no meio da própria pastagem, e sua maior incidência foi nas
pastagens abandonadas, sua distribuição em quantidades foi relativamente alta.
Imagem 5 – Lantana camara
21

Fonte: Arquivo pessoal Fonte: Arquivo pessoal


Centro de Ciências Agrárias Rancho Octavio Portella

Características gerais e descrição botânica

São plantas perene, subarbustivas ou arbusto com todas as partes aromáticas, até 1-2
(2,5)m de altura, bastante ramificada, caule e ramos tetrangulares, pubescentes, lisos ou
esparsamente aculeados. Folhas oposto-decussadas, obovado-oblongas ou ovais, pecioladas,
cartáceas, áspero-rugosas na face superior , pubescentes na inferior, ápice agudo ou curto-
acuminado , raramente obtuso, margem crenado-serreada , rede de nervuras proeminentes na
face inferior. Inflorescência em capítulos umbeliformes, axilares, longo-pedunculados,
pedúnculo anguloso, brácteas involucrais lanceoladas, longas e delgadas, de ápice agudo,
corola amarela, alaranjada, depois vermelha, ou branca, amarela, depois violácea, tubulosa,
com 6-8 (10)mm de comprimento, um pouco abaulada lateralmente, na base, e os lobos
truncados na parte superior. Fruto drupa globosa, lisa, de superfície brilhante, com 3mm de
diâmetro, reunidos em infrutescências densas, roxo-escuros ou pretos quando maduro
(MOLDENKE, 1955).

Distribuição e habitat

Acredita-se que elas sejam originárias da parte tropical e subtropical do Continente


Americano; elas teriam sido levadas como plantas ornamentais para outros países com clima
semelhante onde se difundiram. No Brasil Lantana spp. são encontrada desde a Amazônia até
22

o Rio Grande do Sul. Ocorrem em lugares abertos e em solos argilosos (TOKARNIA et al,
2007).

Espécies animais sensíveis

Sob condições naturais se intoxicam bovinos e ovinos. Pode-se concluir que são
necessárias duas condições naturais para que ocorra a intoxicação natural por Lantana spp; é
necessário que os animais estejam com fome e que sejam transferidos de pasto ou de região.
(TOKARNIA et al, 2000).
TUBET (1931) observa que, além da intoxicação ocorrer em animais de qualquer
idade trazidos de fora, com fome, também seriam afetados bovinos jovens nascidos e criados
nas áreas onde há a planta..

Partes e quantidades tóxicas da planta

São tóxicas as folhas, tanto frescas quanto dessecadas. A planta não perde a toxidez
durante o processo de dessecagem e a mantém durante pelo menos um ano (BRITO &
TOKARNIA, 1995).
As quantidades de Lantana spp, necessárias para causar intoxicação em bovinos e
ovinos, têm sido bastante variáveis. Em experimento realizado em Pernambuco, a
administração de L. camara fresca ou dessecada, por via oral, a oito bovinos, nas doses de 10
a 40g/kg/dia, durante 15 a 30 dias, só provocou leves sinais de fotossensibilização (SILVA &
COUTO, 1971).
Em outro experimento realizado no município de Quatis, Rio de Janeiro, foi
disponibilizado para bovinos uma dose única de 40g/kg de planta fresca, por via oral,
causando intoxicação grave com êxito letal, quando ofereceu a dose única de 20g/kg, também
provocou intoxicação grave, porém, sem êxito letal já na dose única de 10g/kg, determinou
apenas leve intoxicação ou ausência de sinais clínicos. A planta apresentou efeito acumulativo
quando ingerida em quatro doses diárias de 10g/kg (1/4 da dose letal). A administração de
quatro doses diárias de 5g/kg (1/8 da dose letal) ou de 8 doses de 2,5 g/kg (1/16 da dose letal)
reproduziu grave intoxicação em partes dos animais. Doses de 1,25 g/kg (1/32 da dose letal)
administradas durante 34 dias, não produziram quaisquer sinais clínicos (TOKARNIA et al,
1999).
23

Quadro clínico

Os sinais clínicos descritos para a intoxicação por Lantana spp, tanto em bovinos
quanto em ovinos, são muito uniformes.
Em uma série de experimentos em bovinos, os sinais clínicos se iniciaram com
anorexia e diminuição ou parada dos movimentos do rúmen, quando colocados ao sol os
animais procuravam a sombra e apresentavam manifestações de fotossensibilização (reação
química de queimadura exercida pelos raios solares à pele) sob forma de eritema, edema e
necrose das partes despigmentadas da pele, inquietação, icterícia, urina de cor amarela escura
até marrom, fezes ressecadas e em pequena quantidade. Parte dos animais morreram neste
período de intoxicação. Nos animais que adoeceram gravemente e sobreviveram a esta
primeira fase de aproximadamente 15 dias, seguiu-se uma segunda fase caracterizada por
aparecimento de fendas cutâneas com desprendimento de pedaços de pele (gangrena
seca/mumificada) e formação de feridas abertas e com mau cheiro. Nesta fase, os animais
tinham bom apetite, o rúmen funcionava bem, as fezes eram normais, não havia mais
inquietação, icterícia ou alterações na cor da urina (TOKARNIA et al, 1984).

Tratamento e profilaxia

A primeira providência a ser tomada no tratamento da intoxicação por Lantana spp. é


a de colocar os animais na sombra, administrar glicose e purgantes oleosos, medicar as lesões
na pele, na fase aguda, com unguentos anti-inflamatórios e, mais tarde, com pomadas que
contêm substâncias que aceleram a cura (vitamina A e óxido do zinco), antibióticos e
repelentes. Em casos graves usar também, por via parenteral, corticosteroides, anti-
histamínicos e antibióticos (TOKARNIA et al, 2007).
A profilaxia consiste em não transferir animais com fome para pastagens invadidas
por esta planta e, se possível, erradicar as plantas do pasto (TOKARNIA et al, 2007).
24

5.2. Plantas que causam síndrome tremorgênica

5.2.1. Ipomoea asarifolia

Planta herbácea prostrada ou trepadeira, pertencente à família Convolvulaceae, que


tem os nomes populares de “salsa”, “batatarana”, “jetirana”, “salsa-brava”, “salsa-da-praia” e
“salsa-do-rio” (Figura 6).
Esta planta tóxica foi encontrada nos dois locais de estudos, principalmente nas
pastagens abandonadas, no Rancho Octávio Portella sua distribuição foi no piquete
maternidade, sua ocorrência é bastante alta.

Imagem 6 – Ipomoea asarifolia

Fonte: Arquivo pessoal Fonte: Arquivo pessoal


Centro de Ciências Agrárias Rancho Octavio Portella

Características gerais e descrição botânica

São plantas perenes herbáceas prostradas ou trepadeiras, latescente, totalmente gaba,


de caule procumbente liso ou muricado, ascendente nas extremidades, com raízes adventícias
nos nós. Folhas alternas, inteiras, glabrescentes, suborbiculares ou orbiculares, largamente
cordiformes, base cordada e ápice arrendondado, palmatinérveas. Flores em geral solitárias,
axilares ou em cimeiras de 2-10 flores pediceladas, corola infundibuliforme, róseo-violáceo a
purpúreo, estames longos de dois tamanhos, anteras de base sagitada. Fruto cápsula
subglobosa, tardiamente deiscente, sementes subglabras, marrom-escuras, com pelos muito
curtos (AUSTIN, 1975).
Distribuição e habitat
25

No Brasil, Ipomoea asarifolia, ocorrem nas regiões Norte e Nordeste, podem ser
encontradas nas margens de rios e lagoas, nas praias marítimas, em terrenos abandonados e
nas margens de estradas (TOKARNIA et al, 2012).

Espécies de animais sensíveis

Em condições naturais, ocorrem casos de intoxicação em bovinos, búfalos, caprinos


e sobre tudo em ovinos (cordeiros são afetados com maior frequência) (TOKARNIA et al,
2012).

Partes e quantidades tóxicas da planta

Para mostrarem sinais de intoxicação, os animais precisam comer partes aéreas de I.


asarifolia em grandes quantidades, quase como alimento exclusivo.
Em bovinos, os primeiros sinais aparecem entre dois e quatro dias, porém, em ovinos
e caprinos os sinais aparecem por volta de algumas semanas após a ingestão da planta
(TOKARNIA et al, 2012).
Em experimentos realizado por BARBOSA et al (2005), em bovinos e búfalos, uma
a quatro doses de 10 a 20g/kg provocaram o aparecimento de sinais clínicos acentuados.
MEDEIROS et al (2004), administraram as folhas verdes de I. asarifolia a nove
caprinos que ingeriram 5 a 37 g/kg/dia e apresentaram sinais clínicos em 4 a 38 dias. Cinco
caprinos se recuperaram 4 a 9 dias após a suspensão da planta. Dois caprinos morreram
(tinham ingerido 24,5 e 23,0 g/kg/dia durante 8 dias, mostraram os primeiros sinais clínicos
após 7 e 6 dias, respectivamente e mostraram sinais clínicos durante 4 e 9 dias). Três caprinos
com sinais clínicos foram eutanasiados para estudos histológicos e ultraestrutura. Um caprino
que ingeriu 2,5g/kg/dia, durante 125 dias, não mostrou sinais clínicos.

Quadro clínico

Os sinais clínicos de intoxicação por está planta segundo DÖBEREINER,


TOKARNIA & CANELLA (1960), são sempre de ordem nervosa, porém diferentes em cada
26

uma das três espécies animais. Em bovinos observam-se balanço da cabeça, tremores
musculares, desequilíbrio do posterior e queda do animal ao solo. Esses sinais, em geral,
aparecem sem a movimentação dos animais, mas são por elas intensificados e, algumas vezes,
só são observados quando os animais são tangidos, o apetite é mantido. Interrompida a
ingestão da planta, os sinais clínicos desaparecem em poucos dias, exceto quando ingeridas
doses muito elevadas. Os ovinos mostram tremores musculares e perturbações na locomoção,
o apetite é mantido quando interrompida a ingestão da planta, os sinais clínicos duram ainda
vários dias e só morrem os animais que continuam a ingerir a planta depois de mostrarem os
sinais clínicos. Já os caprinos intoxicados por I. asarifolia, apresentam sonolência, letargia
(perda temporária ou completa da sensibilidade e do movimento) e poucas vezes tremores
musculares e opistótono (arqueamento do corpo com a cabeça curvada para trás), o apetite é
mantido, porém uma vez que tenha apresentados sinais clínicos, quase sempre os animais
morrem, mesmo suspendendo-se imediatamente a ingestão da planta.

Tratamento e profilaxia

No caso dos bovinos e dos ovinos, é suficiente retirá-los do pasto invadido pela
planta. Segundo DÖBEREINER et al. (1960), os caprinos, em geral, não mais se recuperam
após terem exibido sinais clínicos. Em relação aos caprinos, pelos experimentos realizados
por MEDEIROS et al. (2004), ao contrário do verificado por DÖBEREINER et al. (1960),
estes também podem se recuperar.
A profilaxia consiste em evitar que durante a época de seca, os animais sejam
colocados em pastagens ou tenham acesso a áreas muito invadidas por I. asarifolia.
27

5.3. Plantas que causam neurolipidose

5.3.1. Solanum spp.

São plantas conhecidas pelos nomes populares de “arrebenta-cavalo”, “melância-da


praia”, “babá”, “bobó”, “mingola”, “joá-bravo”, “joá”, “juá”, “mata-cavalo”, “arrebenda-boi”,
“joá-ti” e “jurubeba” (Figura 7). Pertencente a família Solanaceae.
Esta planta tóxica foi encontrada nos dois locais de estudo, constada sua presença
principalmente em pastagens abandonadas, nas margens dos corredores que separam as
pastagens onde os bovinos percorrem para ir para o curral e na pastagem utilizada como
maternidade no Rancho Octávio Portella. Sua incidência é bastante alta nos locais de análise.

Imagem 7 – Solanum spp

Fonte: Arquivo pessoal Fonte: Arquivo pessoal


Centro de Ciências Agrárias Rancho Octávio Portella

Características gerais

Planta anual herbácea, ereta, espinhenta, ramificada, de caule densamente armado de


acúleos verde-amarelados, entre 30-80 cm de altura, nativa do Brasil. Propaga-se
exclusivamente por sementes (LORENZI, 2000).

Distribuição e habitat
28

É planta invasora de pastagens ou terrenos abandonados, são encontrados


praticamente em todo o Brasil.

Espécies animais sensíveis

Sobre condições naturais, a intoxicação por esta planta só tem sido observada em
bovinos (TOKARNIA et al, 2012).

Partes e quantidades tóxicas da planta

Em dois bovinos com respectivos 6 a 12 meses de idade, doses de 400g de Solanum


spp. (partes superiores com folhas, flores e frutos) dessecadas, administradas de segunda a
sexta-feira, através de fistula ruminal, causaram aparecimento dos primeiros sinais clínicos
entre 76 e 155 dias, foram consumidos entre 21.200 e 40.200g da planta, isto é, 166 a
297g/kg, o que corresponde a mais ou menos 1,5 a 2.0kg/dia da planta dessecada
(TOKARNIA et al, 2012).

Quadro clínico

Os sinais clínicos são caracterizados por crises periódicas do tipo epileptiforme


(assemelha a um ataque de epilepsia) que, em geral, ocorrem quando os animais são
assustados ou excitados, mais podem ser espontâneos. Essas crises são evidenciadas por
nistagmo (oscilações rítmicas, repetidas e involuntárias de um ou ambos os olhos
conjugadamente), rigidez dos músculos do pescoço e dos membros anteriores, extensão da
cabeça, perda de equilíbrio e queda em decúbito dorsal ou lateral, com opistótomo
(arqueamento do corpo com a cabeça curvada para trás) e contrações tônico-clônicas. Quando
em marcha os animais mostram hipermetria (erro de focalização da imagem no olho). A crise
leva em geral desde alguns segundos até um minuto (TOKARNIA et al, 2012).
29

Tratamento e profilaxia

Não se conhece tratamento para a intoxicação por esta planta. A profilaxia da


enfermidade é difícil, porém, a medida mais eficiente é evitar que os bovinos sejam colocados
em lugares muito invadidos por esta planta, sobretudo em épocas de carência de forragem
(TOKARNIA et al, 2012).

5.4. Plantas que causam lesões mecânicas traumáticas

5.4.1. Mimosa pudica e Mimosa debilis

Da família Mimosoideae, Mimosa pudica é conhecida pelos nomes populares de


“dormideira”, “sensitiva”, “dorme-dorme”, “malícia-de-mulher”, “dorme-maria”, “erva-viva”,
“mimosa”, “arranhadeira”, “malícia”, “juquiri-rasteiro”, “malícia-roxa”, “morre-leão”,
“vergonha” e “malícia-das-mulheres”, já, a Mimosa debilis é conhecida por nomes populares
de “dormideira” e “sensitiva-de-leite” (Figura 8).
Estas plantas tóxicas foram encontradas somente em um local de pesquisa, no Centro
de Ciências Agrárias.

Imagem 8 – Mimosa spp

Fonte: Arquivo pessoal – Mimosa pudica Fonte: Arquivo pessoal – Mimosa debilis
Centro de Ciências Agrárias Centro de Ciências Agrárias
30

Características gerais e descrição botânica

Mimosa pudica é um subarbustos prostrados, ramos híspidos, aculeados, acúleos


recurvados. Folhas 4-pinadas; estípulas 6–8 × 1–2mm, lanceoladas, persistentes; raque foliar
1–2mm comprimento, híspidas; 30–42 foliólulos, 8–10 × 1,5–2mm, oblongo-
lineares, glabros; parafilídios presentes. Inflorescências capituliformes, espiciformes, axilares;
flores 4 meras, 7–9mm comprimento, homomórficas; cálice menos que 1mm comprimento,
campanulado, glabro; corola comprimento 2 mm, tomentosa; 4 estames, 6–
8mm comprimento, homodínamos, filetes róseos, livres, puberulentos; ovário 1mm
comprimento, tomentoso, estilete 5mm comprimento, glabro. Craspédios 3–4-articulados,
1,1–1,6 × 0,4–0,5cm, estrigosos; sementes 2 × 1mm, elípticas, negras. (DUTRA, GARCIA &
LIMA, 2008).

Distribuição e habitat

São plantas invasoras e ocorrem em todo território brasileiro. Invadem pastagem,


solos cultivados, pomares e terrenos baldios (LORENZI, 2000).

Espécies de animais sensíveis

Os efeitos de intoxicação por esta planta foram observados em bovinos, ovinos e


equinos.

Sinais clínicos

As lesões determinadas pelo contato surgem poucos dias após os animais serem
colocados em pasto onde existem grande quantidades dessa planta. Em bovinos e equinos
observa-se ulceras na pele, em alguns casos recoberto por crostas. Essas lesões localizam-se
principalmente na superfície anterior das quartelas e dos boletos e na cabeça. Em ovinos as
lesões são semelhante a dos bovinos. (TOKARNIA et al, 2012).
31

Tratamento e profilaxia

Com a retirada dos animais das pastagens invadidas pela planta as lesões
desaparecem (TOKARNIA et al, 2012).

5.5. Plantas que causam degeneração e necrose muscular

5.5.1. Senna occidentalis

Planta tóxica da família Caesalpinoideae, conhecida por nomes populares de


“fedegoso”, “fedegoso-verdadeiro”, “mata-pasto”, “manjerioba”, “mamangá”, “lava-pratos”,
“pajamarioba”, “tararaçu” e “tararubu” (Figura 9).
Esta planta foi encontrada nos dois locais de estudo, em maior quantidade no Rancho
Octávio Portella foi constatado sua presença em praticamente toda área de pastagem.

Imagem 9 – Senna occidentalis

Fonte: Arquivo pessoal Fonte: Arquivo pessoal


Centro de Ciências Agrárias Rancho Octávio Portella

Características gerais
32

São plantas anuais, arbustiva, lenhosa, muito ramificada, de 1-8m de altura, com
tronco de 20-30 cm de diâmetros. Folhas compostas de 2 pares de folíolos opostos. Propaga-
se exclusivamente por sementes (LORENZI, 2000).

Distribuição e habitat

É uma planta amplamente distribuída em regiões tropicais e subtropicais, ocorre em


todo Brasil. A planta tem como habitat pastos baixos e áreas de solo fértil, em especial ao
redor de culturas. É bastante encontrado em fazendas com excesso de lotação (TOKARNIA et
al, 2012).

Espécies animais sensíveis

Intoxicação natural por essa planta foi visto em suínos (MATINS et al, 1986) e,
provavelmente em equinos (BARROS et al, 1990). Experimentalmente, a intoxicação foi
reproduzida em bovinos (BARROS et al, 1990), caprinos (BARBOSA et al, 2003), equinos
(IRIGOYER, GRAÇA & BARROS 1991), suínos (MARTINS et al, 1986, RODRIGUES,
RIET-CORREA & MORES, 1993) e aves (TORRES et al, 1971, BUTOLO et al, 1972).

Partes e quantidades tóxicas da planta

No Brasil, os surtos de intoxicação ocorreram pela ingestão de ração contaminada


por sementes de S. occidentalis, em bovinos e equinos através do sorgo (BARROS et al,
1999) e em suíno através do milho (MARTINS et al, 1986).
Em todos os experimentos utilizaram-se sementes de S. occidentalis. Um bezerro
recebeu por via oral 10g/kg das sementes moídas, em duas vezes (8 e 2g/kg) com dois dias de
intervalo, e em outro, que ingeriu 10g/kg em cinco doses diárias de 2g/kg, os primeiros sinais
clínicos foram observados depois de 24 e 48 horas, e a morte ocorreu 5 e 6 dias após início da
administração da planta (BARROS et al, 1999).
33

Quadro clínico

Em dois surtos em bovinos foi observado mioglobinúria a urina se torna vermelho-


amarronzada na presença de valores altos de mioglobina indicado pela liberação de
mioglobina pelos rins, são observados fraqueza muscular, tremores, andar cambaleando,
decúbito e morte. A evolução clínica foi de 2 a 5 dias. Em um dos surtos, os bovinos
adoeceram 7 dias após terem sido retirados do campo invadido pela planta (IIHA et al, 1997).

Tratamento e profilaxia

Não se conhece tratamento para a intoxicação por esta planta. Na profilaxia é


importante evitar que animais pastem onde a planta exista em grande quantidade,
especialmente por ocasião de geadas e escassez de pasto, e não incluir a planta ou as suas
sementes em feno ou rações de animais (TOKARNIA et al, 2012).

5.6. Plantas que afetam o funcionamento do coração

5.6.1. Palicourea marcgravii

Esta erva foi encontrada no Rancho Octávio Portella, somente esta planta da imagem
foi encontrada, a mesma estava na pastagem utilizada pelos bovinos adultos (Figura 10).
Esta planta é muito apreciada pelos bovinos em geral, sendo consumida mesmo com
os pastos fartos (LORENZI, 2000).
34

Imagem 10 – Palicourea marcgravii

Fonte: Arquivo pessoal


Rancho Octávio Portella

Características gerais e descrição botânica

Planta perene, arbusto de até 4m de altura, com caule lenhoso, nodoso e quebradiço.
Folhas opostas, oblongo-lanceoladas, cartáceas, quando jovem às vezes arroxeada no dorso,
tanto o caule quanto as folhas exalam nítido odor do salicilato de metila, cheiro característico
do balsamo bengué, quando esmagados, nervação peninérvea. Estipulas interpeciolares
subtriangulares, agudas, com base saldada. A inflorescência em panículas terminais, tendo
pêndulos e pedicelas alaranjadas ou vermelhos, flores tubulosas, amarelas na base, suferinas
na metade superior e purpúreas no ápice, externamente subvilosas, internamente com anel de
pelos, estames com anteras brancas, inseridas mais ou menos na região mediana do tubo.
Fruto baga arredondada de superfície costada, inicialmente avermelhada passando a roxo-
escuro, quase preto na maduração (SAIND-HILAIRI, 1824).
Nativa do Brasil. Propaga-se apenas por sementes (LORENZI, 2000).

Distribuição e habitat

É umas das plantas tóxicas de mais larga distribuição geográfica no Brasil. Ela é
encontrada em quase todo país. A planta tem como habitat áreas de terra firme, com boa
pluviosidade, mais jamais ocorre na várzea (TOKARNIA et al, 2012).
35

P. marcgravii não sobrevive durante muito tempo em pastagens limpas, onde fica
exposta ao sol. Ela precisa de sombra, porém não de sombra fechada, pode ocorrer na mata
fechada, porém, não tem um bom desenvolvimento, assim cresce bem em beiras de mata, em
capoeiras fechadas e ainda em pastos recém formados (TOKARNIA et al, 2012).

Espécies animais sensíveis

Sob condições naturais a intoxicação por esta planta ocorre, sobretudo em bovinos e,
com menor frequência em búfalos. Não se conhece a intoxicação por esta P. marcgravii em
ovinos e há raros históricos sugestivos de intoxicação em caprinos (TOKARNIA et al, 2012).

Partes e quantidades tóxicas da planta

São tóxicas as folhas e os frutos para bovinos 0,6g/kg das folhas frescas tem sido
estabelecido como dose letal. Para ovinos, caprinos e equinos, a dose letal é semelhante. Na
maioria dos experimentos, a planta demostrou acentuado efeito acumulativo nas
administrações diárias de 1/5 da dose letal e se fez sentir ainda com 1/10, mais não com 1/20
da dose letal. A ingestão semanal de 1/5 da dose letal, não mais causou sinais de intoxicação
(PACHECO et al, 1932; TOKARNIA et al, 1986; TOKARNIA et al, 1991; TOKARNIA et al,
1993).

Quadro clínico

Para bovinos, o início dos sinais clínicos se dá poucas horas após a ingestão da dose
tóxica.
O exercício físico, como andar ou correr pode precipitar ou mesmo provocar os
sinais clínicos e a morte dos bovinos. Os vaqueiros dizem que os animais morrem ao “sentir a
poeira do curral”, na realidade não é a poeira o fator decisivo e sim a movimentação e o calor
que sobrecarregam o coração (TOKARNIA & DÖBEREINER, 1986).
Os sinais clínicos da intoxicação em bovinos e búfalos consistem em pulso nervoso
positivo, instabilidade, tremores musculares, o animal deita-se ou cai em decúbito esterno-
abdominal e depois lateral, faz movimentos de pedalagem. Muge e finalmente entra em
convulsão tônica. Alguns animais mostram, anteriormente, sinais clínicos menos evidentes
36

como relutância em andar quando movimentados, taquipneia (aumento do número de


incursões respiratórias na unidade de tempo), deitar-se em posição esterno-abdominal e urinar
com frequência. O índice de letalidade é alto. Em equinos intoxicados experimentalmente
predominam sinais nervosos acompanhados também de manifestação de insuficiência
cardíaca (TOKARNIA et al, 1993).

Tratamento e profilaxia

Não se pode indicar qualquer tratamento em virtude da evolução superaguda da


intoxicação. Considerando-se que o exercício poderá precipitar a morte, recomenda-se
movimentar os animais o mínimo necessário, durante alguns dias, após a sua retirada da
pastagem que exista esta planta tóxica (TOKARNIA et al, 2012)
A profilaxia consiste em cercar as matas e capoeiras onde exista a planta, ou
erradicá-la dos locais ao qual o gado tem acesso. Em regiões de mata ou capoeira, deve-se ter
cuidado com pastos recém-formados, e ainda inspecioná-lo, arrancar a planta e/ou combatê-la
com herbicidas, antes de colocar os animais (TOKARNIA et al, 2012).
Bons resultados na prevenção da intoxicação de Palicourea marcgravii por
fluoroacetato em animais de laboratório têm sido obtido pela administração de substâncias
que fornecem acetato durante a sua metabolização, a administração, entretanto deve ser feita
antes da exposição ao fluoroacetato ou logo no início do período de latência, o que, na prática,
inviabiliza o tratamento com essas substâncias. Os melhores resultados têm sido obtidos como
monoacetato de glicerol (monoacetina) e acetamina, enquanto que a monoacetina só é
eficiente pela repetida aplicação por via intramuscular, a acetamida pode ser administrada por
via oral (VICKERY & VICKERY, 1973; KELLERMAN et al, 2005).

5.6.2. Palicourea grandiflora

É uma planta tóxica de menor importância, não possui nome popular (Figura 11).
Esta planta tóxica foi encontrada somente no Racho Octávio Portella, no piquete
maternidade no meio da pastagem.
37

Imagem 11 – Palicourea grandiflora

Fonte: Arquivo pessoal


Rancho Octávio Portella

Características gerais

Planta tóxica pertencente à família Rubiacea, é uma planta arbustiva de 2-6m de


altura, com ramos jovens frequentemente pubérulos. Folhas pecioladas, glabras, subcartáceas,
ovadas ou lanceolado-oblongas, acuminadas no ápice cuneadas ou obtusa na base, com 11 (15
pares de nervura laterais, proeminentes na face inferior, na superior imersas, anastomosando-
se a 3 (5)mm de distância da margem. O caule e as folhas não exalam odor de salisilato de
metila, quando esmagados. Inflorescência terminal pedunculada, simosa, multiflora, com
raque pedúncula e pedicelos vermelhos, puberulentos, corola amarela, tubulosa,
infundibuliforme, o tubo com espesso anel de pêlos internamente, lóbulos lanceolado-
oblongos, agudos e inflexos no ápice, extremamente puberulento. Estames exsertos, com
anteras deiscência linear e filetes longos. Fruto glabro, fortemente 8-10 costado ou
profundamente estirado longitudinalmente em duas bandas hemisféricas unidas
(STEYERMARK, 1974)

Distribuição e habitat

No Brasil, tem sido comprovada intoxicação por esta planta apenas no estado de
Rondônia. Seu habitat é a mata (TOKARNIA et al, 2012).
38

Espécies animais sensíveis

Em condições naturais a única espécie que tem se comprovado morte por Palicourea
grandiflora é a bovina.

Partes e quantidades tóxicas da planta

A dose letal das folhas frescas de Palicourea grandiflora varia entre 1 e 2g/kg. A
planta possui poder acumulativo quando ingerida em doses diárias de 1/5 ou 1/10 da dose
letal (TOKARNIA et al, 2012).

Quadro clínico

Em bovinos os primeiros sintomas de intoxicação pelas folhas desta planta ocorrem


no máximo 24h após a ingestão da dose letal. Os animais intoxicados apresentam os sinais de
deitar-se ou cair em decúbito esternal, depois em decúbito lateral, apresenta opistótono, faz
movimentos de pedalagem, muge algumas vezes e morre. Os sinais clínicos e a morte podem
ser precipitados, ou mesmo provocados por exercícios (TOKARNIA et al, 2012).

Tratamento e profilaxia

Não se conhece tratamento para essa intoxicação. Como o exercício pode precipitar,
ou mesmo provocar os sinais clínicos e a morte do animal, deve-se evitar ao máximo a
movimentação de animais intoxicados. A profilaxia consiste em não deixar que os bovinos
penetrem em locais onde existam essas plantas (TOKARNIA et al, 2012).

5.6.3. Arrabidaea bilabiata

Está planta foi encontrada somente no Racho Octávio Portella, em menor quantidade
somente no piquete onde ficam os bovinos adultos (Figura 12).
39

Imagem 12 – Arrabidaea bilabiata

Fonte: Arquivo pessoal


Rancho Octávio Portella

Características gerais e descrição botânica

Planta tóxica pertencente à família Bignoniaceae. É uma planta trepadeira, ramos


cilíndricos acinzentados, glabos, lenticelosos. Folhas pecioladas, usualmente 3-folioladas, ou
2-folioladas com folíolo terminal transformado em gavinha, simples, glabra, folíolo elítico, ou
ovado elítico, ápice agudo ou curto acuminado, base arredondada ou assimétrica.
Inflorescência em rácemos axilares, curtos, com 7-15 flores, brancas, com uma brácta
paleáceas envolvendo o cálice: cálice bilobado, corola campanulada infundibuliforme,
externamente esparsamente tomentosa, fruto cápsula alongada deiscente, comprimida, 2-
valvar, 20-30cm de comprimento por 1,5 a 2 cm de largura, superfície lisa com uma nervura
proeminente na região mediana, no sentindo longitudinal do fruto, valvas caducas quando
bem maduras ou secas, permanecendo apenas a rafe presa ao pendúculos. Sementes
achatadas, suborbiculares, aladas, ala estreita coriáceas, castanhas pouco diferenciada do
corpo da semente (GOMES JUNIOR, 1951).

Distribuição e habitat
40

A toxidez desta planta foi descoberta na Venezuela onde sua ocorrência é as margens
do Rio Orinoco e de alguns de seus afluentes (CORTES 1969/1971).
Espécies animais sensíveis

Até o momento, há somente relato de intoxicação por esta planta em bovinos e


búfalos (DÖBEREINER, TOKARNIA & SILVA, 1983).

Partes e quantidades tóxicas da planta

Em experimentos com as folhas frescas de A. bilabilata realizada em bovinos, a dose


letal variou muito (TOKARNIA et al, 2012). Enquanto que, em uma série de experimentos
feito na Amazônia, 1,25g/ kg das folhas frescas causaram graves sinais de intoxicação e
2,5g/kg provocaram a morte, em outra série de experimentos, também realizada na Amazônia,
mas em locais diferentes, foram necessário 15g/kg para causar morte em bovinos
(DÖBEREINER, TOKARNIA & SILVA, 1983).
Quadro clínico
Os sinais de intoxicação por A. bilabilata, em bovinos, iniciam-se por volta de 6 e 24
horas após o começo da ingestão da planta. A evolução da intoxicação em geral é superaguda,
de minutos, na maioria dos casos fatais. Os sinais clínicos da intoxicação consistem em
instabilidade, tremores musculares, dispneia, pulso nervoso positivo, o animal deita-se
precipitadamente ou cai em decúbito esterno-lateral e faz movimentos de pedalagem, muge
algumas vezes e morre. Em exames histopatológico foi observada degeneração hidrópico
vacuolar associada à picnose nuclear dos túbulos contornados distais no rim em um búfalo
(TOKARNIA et al, 2012).

Tratamento e profilaxia

Não se conhece tratamento para a intoxicação por A. bilabilata. A profilaxia consiste


em fazer o possível que os animais não passem fome nas épocas de mudança de gado, o
embarque dos animais deve ser efetuado em áreas onde não haja esta planta e a movimentação
deve ser reduzida ao mínimo necessário. Pode-se tentar combater a planta com herbicida,
embora ainda não existam estudos experimentais a respeito, convém lembrar que esta planta
possui o sistema radicular muito bem desenvolvido (TOKARNIA et al, 2012).
41

5.6.4. Arrabidae japurensis

É a planta tóxica de maior importância da região dos “lavrados” do estado de


Roraima (Figura 13), onde causa bastante prejuízo, porém, ainda é uma planta bastante
desconhecida aos criadores e sem nome popular (TOKARNIA et al, 2012).
Esta planta de grande importância foi encontrada somente no Rancho Octávio
Portella, somente na pastagem dos bovinos adultos.

Imagem 13 – Arrabidaea japurensis

Fonte: Arquivo pessoal


Rancho Octávio Portella

Características gerais e descrição botânica

Trepadeira com caule de até 10 cm de diâmetro, com ramos estriados


longitudinalmente, glabros, lepidotos ou pubérolos, os nós normalmente com uma glândula
interpeciolar. Folhas 2-foliolatas, às vezes com gavinha, pecíolos pubérolos, folíolos oblongos
ou ovado-oblongos, cartáceo e membranáceos, peninérveos. Inflorescência em rácemos
curtos, axilares, flores alvas, tubuloso-campanulados, perfeitamente bilabiadas, corola
campanulada, o tubo glabro internamente, pubescente apenas ao nível de inserção dos
42

estames; estames didínamos, anteras em tecas divergentes, e estaminoides muito próximo na


base do tubo da corola. Fruto cápsula linear, comprimida, superfície verrucosa, com uma
nervura na região mediana em sentido longitudinal, sementes aladas (GENTRY, 1977)

Distribuição e habitat

No Brasil só se tem relatos de mortes por Arrabidaea japurensis, no estado de


Roraima. Esta planta tem seu habitat nas margens dos grandes rios da região, em clareias e na
borda das matas que margeiam esses rios (igarapés), sempre em áreas que inundam durante a
cheia. Ocorre também dentro de matas, onde, devido ao excesso de sombra, não se
desenvolve bem, não devendo, portanto, constituir problema nessa área, porque a massa de
folhas produzida é pequena, além disso, como é uma trepadeira fica, em grande parte, fora do
alcance dos bovinos (TOKARNIA et al, 2012).

Espécies animais sensíveis

Até o momento só há relato de intoxicação por esta planta em bovinos (TOKARNIA


et al, 2012).

Partes e quantidades tóxicas da planta

A dose que causa morte em bovinos é muito variável, 10g/kg de brotação de


Arrabidaea japurensis, ingeridos de uma só vez, sempre têm causado morte dos bovinos,
porém quantidades decrescentes, até 1,25g/kg, ainda causam morte de parte dos animais. As
folhas maduras são menos tóxicas (TOKARNIA et al, 2012).

Quadro clínico

A evolução da intoxicação foi superaguda e durou de 1 a 8 minutos. Os principais


sinais clínicos consistiram em andar cambaleante, tremores musculares, súbita perda de
equilíbrio, quedas e movimentos de pedalagem, por várias vezes os animais mugiam e
morriam, também foi observado à relutância do animal correr ou andar, os animais deitavam-
43

se repedidas vezes, apresentavam micções e defecações frequentes, dispneia, taquicardia e


pulso venoso positivo (TOKARNIA et al, 2012).

Tratamento e profilaxia

Não se conhece tratamento para essa intoxicação. Deixar o animal em repouso à


manifestação dos primeiros sinais clínicos é a única medida que se pode aconselhar. A
profilaxia é complicada, pois, não se pode evitar o pastejo dos animais nas margens dos rios
na época da seca, pois estas são as únicas áreas onde há vegetação verde, além disso, no que
se refere ao aspecto econômico, é muito difícil cercar essas áreas, dado o regime de criação
extensiva. Talvez a medida mais indicada seja o combate à planta através de herbicidas,
contudo ainda não existem estudos experimentais a respeito.

5.7. Plantas que, sob condições naturais, causam cirrose hepática

5.7.1. Crotalaria incana

Planta anual, subarbustiva ou herbácea, ereta, de 50-120 cm de altura. Propaga-se


apenas por sementes. Conhecidas pelos nomes populares de “xique-xique”, “chocalho-de-
cascavel”, “feijão-de-boi”, “gergelim-bravo”, “cascaveleira”, “guiso-de-cascavel”,
“manduvira”, “guiseiro”, “perupaqui” e “jurupaqui” (LORENZI, 2000). Os frutos desta
planta, quando seco, produz som semelhante ao de chocalho, quando a planta é tocada
(TOKARNIA et al, 2012).
Esta planta foi encontrada no Rancho Octávio Portella, sua distribuição foi
relativamente alta, ela se encontra praticamente em todas as áreas de pastagens da propriedade
(Figura 14).
44

Imagem 14 – Crotalaria incana

Fonte: Arquivo pessoal Fonte: Arquivo pessoal


Rancho Octávio Portella Rancho Octávio Portella

Características gerais e descrição botânica

Crotalaria incana pertencente à família Papilionoideae. Apresenta caule verde,


ramificado com manchas avermelhadas e pilosidade revelada pela cor branca. Folhas
alternadas, compostas trifoliadas, folíolos obovados com peciólulos muito curtos e com
pequena ponta nos ápices, folíolo terminal pouco mais curto do que o pecíolo da folha.
Inflorescência terminal do tipo cacho, contendo flores hermafroditas, curto-pedunculadas,
cálice com 5 sépalas, corola com 5 pétalas amarelas, sendo uma delas, a mais externa,
totalmente diferente das demais e apresentando estrias avermelhadas. Androceu com 10
estames e gineceu com ovário alongado e verde. Fruto legume verde, piloso e inflado.
Assemelha-se muito com C. pallida, que apresenta também folhas compostas trifoliadas com
folíolos obovados, mas cujo ápice é emarginado ou com reentrância. Propagação por meio de
sementes (PORTAL MANUAL, 2014)

Espécies animais sensíveis

Há poucas informações na literatura brasileira sobre intoxicações naturais por


Crotalaria spp. em bovinos. Não existem relatos na literatura de intoxicações por C. incana
em bovinos ou em outras espécies de animais domésticos. Há apenas uma sugestão de que
45

essa planta tenha causado surtos de intoxicações em bovinos em Cuba (MARRERO et al.,
2004).

Quadro clínico

As observações no surto investigado indicam que bovinos famintos devido à falta de


pastagem podem se intoxicar por C. incana experimentando insuficiência hepática aguda e
manifestando encefalopatia hepática rapidamente fatal. No presente relato as novilhas
exibiram exclusivamente o quadro agudo, sugerindo que essa seja a forma de apresentação
esperada para a intoxicação por C. incana. As observações dos diferentes autores quanto às
manifestações presentes, o tempo de evolução para a morte e a característica do quadro,
agudo ou crônico, pode ser devido à espécie de Crotalaria causadora da doença, à quantidade
e parte da planta ingerida e à espécie que a ingere. Estudos adicionais poderão confirmar se a
doença aguda é, de fato, a forma de apresentação padrão na intoxicação por C. incana em
bovinos (QUEIROZ et al, 2013).

5.8. Plantas que causam anemia hemolítica

5.8.1. Brachiaria radicans

Planta perene, prostrada ou ereta, 50-100 cm de altura. Propaga-se exclusivamente


por sementes (LORENZI, 2000). Conhecida pelos nomes vulgares de “braquiária-do-brejo”
ou “tanner grass” (Figura 15), é uma gramínea originária da África do Sul (TOKARNIA et al,
2012).
Esta planta tóxica foi encontrada somente no Rancho Octávio Portella, elas estão
localizada nos corredores próxima ao piquete maternidade, em grandes quantidades.
46

Imagem 15 – Brachiaria radicans

Fonte: Arquivo pessoal Fonte: Arquivo pessoal


Rancho Octávio Portella Rancho Octávio Portella

Características gerais

Pertencente à família Gramineae perene, estolonífera, com colmos decumbentes com


nós glabros ou pilosulos. Folhas com bainha e lâmina frequentemente pilosulas ou glabras,
lígula ciliada com 0,1cm, lâmina lanceolada ou linear-lanceolada medindo 10-13cm de
comprimento e 1,8-2,0cm de largura. Inflorescências apresentam de 2-8 rácemos, sendo mais
frequente de 4-6, largura do ráquis variando de 1,5-2,0mm. Espiguetas glabras de 3,5 por
1,5mm (MONTEIRO, et al. 1974).

Distribuição e habitat

No Brasil, B. radicans tem como habitat brejos ou solos úmidos, isto é, as partes
baixas das pastagens (TOKARNIA et al, 2000).

Espécies animais sensíveis

Sob condições naturais, a intoxicação ocorre em bovinos e búfalos. A intoxicação


por B. radicans foi reproduzida experimentalmente em bovinos, no entanto, ela apresentou
efeitos nocivos em equinos e ovinos.
47

Quadro clínico

Os sinais clínicos de intoxicação aparecem poucos dias após a introdução de bovinos


em pastagem com B. radicans. A evolução da intoxicação é aguda ou subaguda. Os sinais
clínicos observados em bovinos consistem em urina marrom avermelhada (Figura 16), fezes
semilíquidas ou liquidas, emagrecimento, debilidade, andar desiquilibrado, mucosas pálidas e
micções frequentes. Exames de laboratório revelam anemia hemolítica, elevado teor de nitrato
no soro sanguíneo e metemoglobinemia (TOKARNIA et al, 2012).
Intoxicação experimental por esta planta em 25 vacas, das quais 4 morreram, chamou
a atenção pelo fato de que os animais, além de apresentarem sinais clínicos da intoxicação por
nitratos/nitritos como perda de apetite, mucosas cianóticas ( coloração azul-arroxeada da
pele), taquipneia, taquicardia, tremores, ataxia ( transtorno neurológico caracterizado pela
falta de coordenação de movimentos musculares), amaurose (cegueira) em alguns casos,
prostração (enfraquecimento, falta total de forças) e morte, ainda mostravam tenesmo vesical
intermitente (sensação dolorosa na bexiga ou na região anal, com desejo contínuo, mas quase
inútil, de urinar ou de evacuar), oligúria (diminuição e a ausência da produção de urina), urina
na cor de café e constipação (TOKARNIA et al, 2012).

Imagem 16 – Urina de bovino

Fonte: Arquivo pessoal


Rancho Octávio Portella

Tratamento e profilaxia
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Não se conhece tratamento específico para intoxicação por B. radicans. A remoção


dos bovinos intoxicados para pastagem constituída por outra forrageira, na maioria dos casos,
tem sido suficiente para recuperá-los. O mais indicado é manter os animais doentes em
piquetes pequenos, e com boa alimentação, a sombra, e movimenta-lo o mínimo possível, a
movimentação e o calor favorecem a morte, provavelmente em função da anemia. Nos casos
mais graves a transfusão sanguínea poderá ser uma boa opção. A recuperação se inicia por
volta de 3 a 4 dias. A profilaxia consiste em não manter os animais em pastagem formada
exclusivamente por esta planta, quando verde e viçosa. Para evitar perdas de bovinos em áreas
constituídas por B. radicans, sugere-se consorciação de pastagens, com outras forrageiras
(GAVA 2009, GAVA et al, 2010).

6 MANEJO E CONTROLE DAS PLANTAS INSAVORAS

O principal programa de controle das plantas invasoras é a prevenção da sua


multiplicação, em qualquer sistema de controle destas plantas, deverá ser levado em
consideração o modo de reprodução e de dispersão das espécies que se desejam controlar
(SHETTY, 1979) o estádio de desenvolvimento (idade) destas plantas (DIAS FILHO, 1990).

6.1 Prevenção

A prevenção de plantas invasoras engloba todas as estratégias de manejo, que


impeçam a sua entrada e permanência em locais indesejáveis. Pode-se afirmar que medidas de
prevenção são mais viáveis economicamente do que medidas de controle.
Os programas de controle de plantas tóxico-invasoras devem ser dirigidos
principalmente para plantas altamente prejudiciais para os animais.
Algumas técnicas de manejo para prevenção são básicas e devem ser adotadas. As
mais recomentadas são:
 No estabelecimento de novas pastagens devem ser utilizadas sementes puras,
deverá certifica-se que as sementes não estejam misturadas com sementes de plantas tóxico-
invasoras.
 O gado recém-comprado ou aquele que comprovadamente esteja pastejando
em áreas infestadas com plantas indesejáveis, não deveram ser diretamente colocados em
49

pastagens limpas. Esses animais devem ser temporariamente colocados em áreas específicas,
a fim que sejam excretados, através das fezes, as sementes destas plantas invasoras
necessitando de um período de até 7 dias para serem excretadas.
 O produtor deverá estar atento, para evitar uma possível produção de sementes
destas plantas invasoras consideradas problemáticas.
 Evitar que as plantas invasoras, produtoras de frutos apreciados por pássaros e
morcegos, frutifiquem em áreas de pastagem (DIAS FILHO, 1990).

6.2 Controle x erradicação

A erradicação das plantas invasoras caracteriza-se, pela eliminação de toda parte viva
e das sementes desta planta, embora na teoria esta prática seja bastante desejável, na prática é
muito cara, principalmente em locais que as plantas invasoras já estejam disseminadas por
grandes áreas.
A principal limitação biológica para a erradicação de plantas invasoras perene, além
da prevenção de produção das sementes, será a destruição das partes subterrâneas (rizomas,
bulbos). Esta destruição pode, no entanto, ser teoricamente conseguida com a aplicação de
herbicidas sistêmicos ou com roçagens frequentes visando esgotar as reservas internas de
alimento da planta.
Devido a uma série de fatores, a erradicação de uma determinada planta não poderá
ser alcançada somente em um único ano, sendo necessário esperar outras estações de
crescimento.
O controle de uma planta invasora consiste na redução da população desta planta a
tal ponto que sua presença não possa comprometer seriamente e economicamente a pastagem.
Ao contrário da erradicação, um programa de controle é mais viável e possível de ser
executado em nível de fazenda. Em situações onde a planta invasora já esteja bastante
disseminada, o controle é a única alternativa a ser executada.
Os principais métodos de controle de plantas invasoras que poderão ser utilizados em
pastagens cultivadas são:
 Manejo das pastagens - Estimular o desenvolvimento das plantas desejáveis é o
principal método de controle das plantas invasoras, uma pastagem competitiva reduz os
espaços para germinação e desenvolvimento das plantas invasoras. O raleamento excessivo da
cobertura da pastagem, fogo etc, além de modificar as condições de luz, também provoca
50

grandes variações na temperatura e na umidade do solo. Esses fatores são altamente


estimulantes para a germinação de sementes de plantas invasoras devido ao efeito que têm na
quebra da dormência das sementes.
 Métodos mecânicos – Controle das plantas invasoras como roçagem, gradagem etc,
são ainda muito comuns, embora, existam técnicas mais avançadas de controle. É importante
que se entenda o modo de ação de atuação dos métodos mecânico afim que sejam empregados
eficientemente. As características físicas do solo influenciam na seleção dos métodos que
serão empregados como exemplo: relevo quando muito acidentado ou inclinado, pode impedir
a utilização de métodos mecânicos como roçagem com trator e favorece o emprego de
roçagem manual.
 Químicos – As substâncias químicas capazes de matar as plantas ou inibir seu
crescimento são chamados herbicidas. Em função do tipo de plantas que afetam, os herbicidas
podem ser descritos como seletivos ou não seletivos. No caso de pastagens, os herbicidas,
seletivos atuam sobre as plantas de folha largas sem afetar, ou afetando muito pouco, os
capins. Os herbicidas não seletivos, quando em dosagem adequada, afetam todos os tipos de
planta. Os principais utilizados são:
 Dicamba - Modo de ação: Herbicida sistêmico seletivo para plantas de folha larga, de
absorção foliar e radicular. Modo de aplicação e doses recomentadas para pastagem: 0,65 a 2
l/ha em aplicação foliar. Intervalo de 30 dias entre a aplicação e o pastejo.
 2, 4 – D + MCPA – Herbicida sistêmico, seletivo. Modo de aplicação e doses
recomentadas para pastagem: 0,75 a 1 l/ha em aplicação foliar localizada ou em área total, por
via terrestre ou aérea. Intervalo de 30 dias entre a aplicação e o pastejo.
 2,4 – D + Picloran – Modo de ação: Herbicida sistêmico, absorvido por folhas, caules
e raízes. É seletivo para espécie de folha larga. Modo de aplicação e doses recomentadas para
pastagem: 3 a 5 l/ha nas aplicações foliares terrestres; 4 a 6 l/ha nas aplicações foliares aéreas;
4% nas aplicações no toco cortado (4 litros de herbicidas em 96 litros de água); 10% nas
aplicações de anelamento, neste último caso aplica-se a solução no anel (10 litros de
herbicidas para 90 litros de água). Intervalo de 30 dias entre a aplicação e o pastejo.
 Glyphosate – Modo de ação: Herbicida sistêmico, absorvido pelas folhas. Não é
seletivo, devendo portando ser usado somente em aplicação dirigida a planta que se quer
controlar e não em área total. As plantas desejáveis devem ser protegidas durante a aplicação.
Modo de aplicação e doses recomentadas para pastagem: 4 a 6 l/ha em aplicação foliar.
51

 Tebutiuron - Modo de ação: Herbicida sistêmico. A seletividade de Tebutiuron é dada


pela sua dosagem de aplicação. Assim, doses a partir de 56kg/ha do produto comercial a 10%
ou 28kg/ha do produto comercial a 20% ou ainda 14% kg/ha do produto comercial a 40%,
podem levar ao controle de toda vegetação, inclusive as gramíneas úteis (DIAS FILHO,
1990).
52

7 CONCLUSÃO

A região do estudo apresenta características peculiares em relação às plantas tóxicas


de importância pecuária encontradas em outras regiões do Norte. A Palicourea marcgravii é a
principal planta tóxica da região, porém no período da pesquisa, esta planta foi encontrada
somente no Rancho Octávio Portella tendo baixa ocorrência, já, as plantas tóxicas Lantana
câmara, Ipomoeia asarifolia, Solanum spp, Senna occidentalis, Crotalaria incana e
Brachiaria radicans foram encontraras nos dois locais de estudos em grandes quantidades,
podendo até intoxicar algum animal com o seu consumo excessivo.
Estas plantas possuem grande importância, principalmente no período seco, pois seus
frutos e folhas podem representar a única fonte de alimento para o rebanho, favorecendo
excelentes condições de intoxicação.
Portanto campanhas educativas sobre as plantas tóxicas de cada região seriam
importantes, possibilitando o aprendizado de práticas preventivas à problemática regional.
Programas de erradicação e prevenção das plantas invasoras são medidas que possibilitariam
um melhor controle destas plantas nas pastagens, podendo até ocorrer à eliminação destas
plantas indesejáveis.
53

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