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NITERÓI
2018
CESAR AUGUSTO SAMPAIO MILHOMENS
NITEROI
2018
Ficha catalográfica automática - SDC/BFV
DOI: http://dx.doi.org/10.22409/MPV-HV.2018.m.07418333790
CDD -
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Prof. Dr. Elmiro Rosendo do Nascimento Silva (Orientadora) - UFF
_____________________________________________
Drª Renata Falcão Rabello da Costa (co-orientadora) - SEAPPA-RJ
_____________________________________________
Dr. Virginio Pereira da Silva Junior - SEAPPA-RJ
NITEROI
2018
AGRADECIMENTOS
Rabies is one of the most important zoonoses in public health, due not only to its drastic and
lethal evolution, but also to its enormous social and economic cost. The etiological agent of
rabies is a virus of the genus Lyssavirus of the family Rhabdoviridae and order
Mononegavirales highly neurotropic in mammals, affecting all species of domestic and wild
animals, as well as the human being itself. The main transmitter of rabies in herbivores in
Brazil it is the hematophagous bat of the species Desmodus rotundus. Natural factors
associated with anthropic factors are involved in the epidemiology of rabies in herbivores, in
Brazil the disease presents different levels of endemicity according to the region, and the
receptivity variants should be considered. The main impact caused by the rural cycle is
economic in nature, due to the damages caused, affecting the quality of livestock production.
From the temporal and spatial analysis of the distribution of reports of suspected cases of
neurological syndrome and hematophagous bats shelters, also using geoprocessing
techniques, the distribution of rabies in the state was evaluated so that this information served
as a subsidy for proposing strategies for the control of rabies in herbivores in Rio de Janeiro.
In the period between 2010 and 2016, 666 reports of suspected nerve syndrome in herbivores
were recorded, of which 512 were bovine records, 295 of which were positive and 217 were
negative. Data from 355 shelters between artificial (211/355) and natural shelters (141/355)
were analyzed, and 3 shelters did not provide information on their nature. Due to geolocation
errors there was a 19% loss in the spatialisation of rabies reports in bovids, resulting in only
414 geospatial precision. It was also observed the occurrence of seasonality in the
epidemiology of rabies in the state.
1 INTRODUÇÃO, p. 12
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA, p.14
2.1 A RAIVA, p. 14
2.1.1 Conceitos gerais, p. 14
2.1.2 Aspectos históricos, p. 14
2.1.3 Distribuição geográfica, p. 15
2.1.4 Aspectos epidemiológicos, p. 17
2.1.4.1 Etiologia, p. 17
2.1.4.2 Transmissão e vias de infecção, p. 18
2.1.4.3 Patogenia e manifestações clínicas em herbívoros, p. 19
2.1.4.4 Cadeia epidemiológica de transmissão, p. 19
2.1.4.5 Transmissores, p. 21
2.1.4.6 Aspectos socioeconômicos, p. 24
2.2 O PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DA RAIVA DOS HERBÍVOROS,
p. 25
2.2.1 Embasamento legal, p. 25
2.2.2 Responsabilidades institucionais, p. 26
2.2.3 Estratégia adotada no Programa Nacional de Controle de Raiva em Herbívoros, p. 27
2.2.4 Vigilância epidemiológica, p. 27
2.2.4.1.1 Vigilância passiva, p. 27
2.2.4.1.2 Vigilância ativa, p. 28
2.2.4.1.3 Áreas de Risco, p. 30
2.2.4.2 Vacinação das espécies susceptíveis, p. 31
2.2.4.3 Ações de controle do transmissor, p. 31
2.2.4.4 Ações educativas, p. 32
2.3 EPIDEMIOLOGIA GEOGRAFICA , p. 33
2.3.1 Geotecnologias, p. 34
2.3.2 Sistemas de informação geográfica, p. 34
3 MATERIAL E MÉTODOS, p. 37
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO, p. 38
4.1 DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO TEMPORAL DAS NOTIFICAÇÕES E OCORRÊNCIAS
DE RAIVA EM BOVÍDEOS ENTRE 2010 e 2016, p. 38
4.2 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL E CLASSIFICAÇÃO DOS ABRIGOS DE
MORCEGOS, p. 44
4.3 INDICADORES PARA AS AÇÕES, p. 46
4.4 ERROS DE GEOLOCALIZAÇÃO, p. 49
5 CONCLUSÃO, p. 54
6 BIBLIOGRAFIA, p.55
LISTA DE FIGURAS
1. INTRODUÇÃO
Sistemas Globais de Navegação por Satélite (GNSS1) e a estatística espacial, ganhassem papel
de destaque nas questões de epidemiologia. Este autor destaca ainda a crescente importância
do SIG na ciência veterinária devido à possibilidade de especializar a ocorrência de doenças e
do cruzamento de diversas informações de naturezas diferentes permitindo uma visão
detalhada da situação no espaço (local de ocorrência, propriedades fronteiriças, aspectos
fisiograficos relevantes, dados populacionais e estatísticos).
A análise usando SIG permite a integração de informações sobre fatores ambientais
que se associem a determinadas enfermidades possibilitando o mapeamento de áreas propícias
a sua ocorrência. Este mapeamento também contribui para se entender a dinâmica da doença
em determinado território dando subsídios para ações de mitigação de risco e de controle da
enfermidade e das populações de reservatório (GOMES; MONTEIRO e NOGUEIRA FILHO
2007).
Tamada et al. (2009) ressaltaram a importância das geotecnologias em diversos
seguimentos do agronegócio como: dados de desmatamento, análise de uso e utilização de
solo, dentre outras aplicações. Segundo estes autores todos os dados obtidos pelos serviços
oficiais podem ser tratados em sistemas de informação geográfica permitindo analises,
manipulações, consultas e espacialização sobre a superfície terrestre.
O objetivo do presente trabalho foi verificar a ocorrência da raiva no estado do Rio
de Janeiro no período de 2010 a 2016 por meio de analises espaciais e temporais com apoio
de técnicas de geoprocessamento.
1
Sigla em inglês para Global Navigation Satellite System
14
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 A RAIVA
2
Em humanos há 05 casos de pessoas que foram submetidas a tratamento protocolar e sobreviveram, sendo
02 nos EUA, 01 na Colômbia e 02 no Brasil. Em animais a doença é invariavelmente fatal
15
Há apenas alguns países e ilhas onde não há registros da doença. Além da Austrália e
da Antártica apenas 24 países, dentre eles os insulares Japão, Reino Unido, Escandinávia,
Nova Zelândia, encontram-se livres da doença em sua forma endêmica (SILVA, 2012).
De acordo com Baer (1991), em praticamente toda América Latina há registros de
ocorrência da raiva em bovinos. Segundo este autor os casos reportados correspondem a um
percentual de 3% a 60% das estimativas de morte em decorrência da doença devido ao fato de
ocorrerem surtos que não são informados às autoridades competentes. Kotait et al (1998 b) já
alertavam haver uma estimativa de que para cada caso notificado existem 10 outros que não
foram notificados.
3
Ações do homem sobre a paisagem e o meio
17
2.1.4.1 Etiologia
O genoma do vírus rábico é formado por uma cadeia única de ácido ribonucleico
(RNA) com polaridade negativa e possui cinco genes, que codificam a nucleoproteína (N), a
fosfoproteina (P), a glicoproteína (G), a proteína de matriz (M) e a RNA polimerase (L)
(KANITZ et al, 2014). A glicoproteína induz a formação de anticorpos neutralizantes. (RIET-
CORREA et al, 2001). O RNA, a nucleoproteína, a proteína associada à transcriptase e a
transcriptase associada ao virion formam o nucleocapsídeo helicoidal das partículas virais.
Duas proteínas adicionais associadas à membrana circundam a estrutura do nucleocapsídeo e,
juntamente com os lipídios da membrana, compõem o envelope viral (BAER, 1991).
Segundo Kanitz et al (2014) uma divergência na sequência de três aminoácidos no
gene N permite a separação do vírus circulante no Brasil em dois grupos, um relacionado aos
canídeos e o segundo relacionado aos morcegos hematófagos. Estes grupos são compostos
pelas variantes 1 e 2, relacionadas à raiva nas populações de cães e pela variante 3 associada
ao Desmodus rotundus (BRASIL, 2009).
Na natureza o vírus rábico ocorre em ciclos que podem ou não ser interligados
(figura 03) a saber: ciclo urbano, ciclo aéreo, ciclo silvestre e ciclo rural (BATISTA;
FRANCO e ROEHE, 2007). Segundo Kotait (2009) por meio de estudos laboratoriais é
possível comprovar o entrelaçamento desses ciclos usando-se técnicas de biologia molecular.
O ciclo urbano é o mais estudado tendo como principais transmissores o cão e o gato,
sendo o primeiro o hospedeiro natural neste ciclo que pode vitimar humanos e outros
animais (KOTAIT, 2009). O ciclo rural tem como principal vetor o morcego hematófago
Desmodus rotundus, que ataca preferencialmente os herbívoros, podendo ocorrer também
agressões a humanos e outros animais domésticos e de criação. O ciclo silvestre traz como
hospedeiros carnívoros silvestres, macacos e morcegos.
2.1.4.5 Transmissores
Desmodus rotundus (Geoffroy, 1810), Diphylla ecaudata (Spix, 1823)e Diaemus youngi
(Jentink, 1893) mostradas nas figuras 4, 5 e 6 respectivamente.
04 05 06
a+ 5
bX
04
Figura 04: Desmodus rotundus Figura 05: Diphylla ecaudata Figura 06: Diaemus youngi
Fonte: SEAPPA-RJ Fonte: SEAPPA-RJ Fonte: Geoffrey Gomes
4
EINRIGHT, J.B. Bats, and their ralative to rabies. Annual Reviem of Microbiology, v.10, p. 362-392. 1954
23
O corpo é coberto por pelos castanhos, curtos e densos, dependendo da região do pais a
pelagem pode ser dourada ou acinzentada (BRASIL, 2009).
O morcego D. rotundus utiliza como abrigos naturais e artificiais, tais como:
cavernas, ocos de árvores, minas, casas, bueiros, ou locais em baixo de pontes de estradas
podendo adaptar-se bem em qualquer um desses tipos de abrigos estabelecendo colônias que
podem variar 10 a mais de 100 indivíduos (ibid.).
Gonçalves5 (1996, apud Gomes; Monteiro e Nogueira Filho, 2007) constataram que
70% dos abrigos de morcegos hematófagos cadastrados no estado de São Paulo eram
artificiais. Baseado em outros estudos o autor relata que o D. rotundus possui uma grande
adaptabilidade às ações do homem no ambiente, e assim o morcego pode se instalar em locais
que não seu habitat preferencial que é perto dos principais rios ou cursos d’água.
5
Gonçalves C.A. 1996. Controle de populações de morcegos hematófagos no estado de São Paulo. Bolm Inst.
Pasteur 2:45-49.
24
Gomes (2008) e Braga (2014) citam um estudo de Delpietro et al. (1992) no qual foi
constatado o fato de, aparentemente, o D. rotundus apresentar uma maior capacidade de
desenvolvimento em ambiente com forte presença de criações bovinas do que onde não haja
a presença destas criações. Neste estudo, realizado no nordeste argentino, foram feitos
levantamentos censitários onde nos ambientes naturais o índice máximo de morcegos
capturados foi 0,23 por rede de captura. Por outro lado, nos ambientes pecuários, o índice
máximo foi de um morcego por rede de captura.
Lopes (2009) diz, com base em informes da Organização Mundial da Saúde, que a
raiva humana é uma doença endêmica dos países em desenvolvimento. Devido às
disparidades na oferta e no acesso ao tratamento pós-exposição e em função do risco de
contato com cães infectados ocorre uma distribuição irregular da doença, tendo como
principais vitimas as camadas mais desvalidas da sociedade.
Para a saúde pública a principal preocupação é a raiva urbana. Na América Latina
desde 1983 há um forte engajamento dos países para eliminação da doença (OPS, 2005) Nesta
faixa territorial a principal estratégia para o controle da raiva urbana é realização de massivas
campanhas de vacinação de cães e gatos (OLIVEIRA; SILVA e GOMES, 2010).
O impacto principal causado pelo ciclo rural é de caráter econômico, devidos aos
prejuízos que causa, afetando a qualidade da produção, danos ao couro, morte de animais e
custos sanitários causados pela doença (KOTAIT, 2009).
O impacto social desta zoonose não pode ser desprezado uma vez que sua ocorrência
pode trazer danos à sobrevivência de pequenos produtores através da perda de parte do
rebanho ou de todos os animais, dependendo da escala de produção e também pode causar a
morte dos produtores caso os mesmos pela manipulação de infectados. A autora supracitada
informa a contaminação de um veterinário em 2006, no estado de Minas Gerais, por
manipulação de herbívoros raivosos.
Feital e Confalonieri (1998) apontam que os prejuízos diretos causados pela doença
referem-se à perda dos animais propriamente dita e são calculados em função da finalidade da
criação havendo critérios e parâmetros diferenciados para gado leiteiro e para gado de corte.
Já os prejuízos indiretos associados à doença estão relacionados aos custos com vacinação,
ações de monitoramento e captura, e custos com exames diagnósticos.
25
6
SCHENEIDER, M.C; BELOTTO, A; ADÉ, M.P; LEANES, L.F; CORREA, A.E; PANAFTOSA/OPS; TAMAYO, H. Situacón
epidemiológica de la rabia humana transmitida por perros em América Latina em 2004. Boletin
epidemiológico OPS, v. 16, n 1, p. 2-4, 2005
26
2002 - Instrução Normativa MAPA nº 5, aprova as normas técnicas para controle da raiva
dos herbívoros e atualiza a inclusão da Encefalopatia Espongiforme Bovina - EEB, da
scrapie e de outras doenças de caráter progressivo no sistema de vigilância da raiva dos
herbívoros (BRASIL, 2002 a).
2002 - Instrução Normativa SDA nº 69, determina o uso de um selo de garantia
(holográfico) nos frascos de vacinas contra a raiva dos herbívoros das partidas aprovadas e
liberadas para comercialização pelo Mapa (BRASIL, 2002 b).
2005 – Portaria SDA nº 168, aprova o Manual Técnico para o Controle da Raiva dos
Herbívoros, para uso dos agentes públicos nas ações do Programa Nacional de Controle da
Raiva dos Herbívoros – PNCRH (BRASIL, 2002).
2006 - Instrução Normativa IBAMA nº 141, regulamenta o controle e o manejo ambiental
da fauna sinantrópica nociva. Permite aos órgãos federais (Saúde e Agricultura) o controle
de morcegos hematófagos Desmodus rotundus, sem a necessidade de autorização do Ibama
(BRASIL, 2006).
2012 - Instrução Normativa SDA nº 8, define os critérios para o diagnóstico de raiva, por
meio do Teste de Imunofluorescência Direta (TIFD) e da Prova Biológica em
camundongos (PB), nos laboratórios pertencentes à Rede Nacional de Laboratórios
Agropecuários do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária. (BRASIL,
2012)
O Programa Nacional de Controle e Raiva em Herbívoros (PNCRH) tem suas ações
estabelecidas com foco no controle da ocorrência da doença e não na convivência com ela
(BRASIL, 2009).
A raiva consta como doença que requer notificação imediata de qualquer caso
suspeito (BRASIL, 2013).
Cabe ao proprietário a notificação da suspeita de ocorrência de casos de raiva em
herbívoros assim como a presença de animais que apresentem sinal de agressão por morcegos
hematófagos, bem como a presença de abrigos utilizados pelos morcegos. A não notificação
pode acarretar sanção legal ao proprietário que não cumprir tal obrigatoriedade (BRASIL,
2009).
De acordo com a Instrução Normativa n° 31 de 2014 (BRASIL, 2014) após receber
a notificação o serviço oficial deve, no prazo máximo de 24 h, atende-la, iniciar a
investigação do caso e, quando do óbito do(s) animal(is) coletar material para envio a
laboratórios credenciados.
7
Apenas a Defesa Agropecuária adota esta regionalização por este motivo ela só é apontada neste trabalho
neste momento, as demais regionalizações seguem a regionalização oficial do estado
29
Bom Jesus do Itabapoana, Itaocara, Itaperuna, Natividade, Santo Antônio de Pádua); CRA
Niterói (NDAs: Araruama, Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Niterói, Tanguá);
CRA Rio de Janeiro (NDAs: Angra dos Reis, Rio de Janeiro) e CRA Três Rios (NDAs:
Petrópolis, Três Rios, Vassouras). A figura 11 mostra a distribuição destas coordenadorias
regionais no território Fluminense (RIO DE JANEIRO, 2005).
SDA
07 COORDENADORIAS
REGIONAIS DE DEFESA
AGROPECUARIA
27 NÚCLEOS DE DEFESA
AGROPECUARIA
É da competência dos Núcleos de Defesa a realização das ações de vigilância ativa que
consistem na busca de informações sobre agressões por morcegos nos animais, presença de
abrigos, controle da venda de pasta vampiricida como consta no procedimento de operação
padrão (POP) desenvolvido pela Coordenadoria Setorial de Vigilância Zoosanitária (CSVZ)
da Coordenadoria de Defesa Sanitária Animal (CDSA) (RIO DE JANEIRO, 2018 ).
8
Resultado da união entre paisagem e sociedade
31
9
Áreas de proteção ambiental, reservas indígenas e outras
32
O método de controle seletivo direto é feito pelo SVO, por meio de equipe capacitada
para tal atividade, pois existe a necessidade da captura do morcego hematófago junto à fonte
de alimentação (currais, baias, pocilgas) ou junto aos abrigos. Uma vez capturados é feita a
aplicação tópica de pasta vampiricida na região dorsal de seus corpos. Quando o abrigo é
artificial a captura pode ser realizada em seu interior. Porém quando se trata de abrigos
naturais a captura é realizada nas proximidades do abrigo. Só podendo ser realizada no
interior de cavernas e furnas com autorização do órgão competente (ibid.).
O método de controle indireto pode ser feito pelo produtor, sob orientação do médico
veterinário, por meio de aplicação tópica de pasta vampiricida ao redor das feridas recentes
dos animais espoliados. Nesta técnica apenas os morcegos hematófagos agressores são alvo
do controle, devido ao hábito de retornar ao mesmo animal para se alimentar. A aplicação da
pasta deve ser feita preferencialmente no final da tarde e o animal deve permanecer no mesmo
local onde se encontrava na noite anterior (ibid.).
A pasta vampiricida é a base de warfarina (fármaco do grupo dos anticoagulantes)
que levará o morcego a óbito por hemorragia interna. Os morcegos, ao retornarem ao abrigo,
estabelecem contatos físicos uns com os outros, inclusive lambendo-se mutuamente para
higienizar-se. Por meio deste contato difundem o produto para os demais. Para cada morcego
tratado com o anticoagulante 20 virão a óbito no período de 4 a 10 dias após ingerir o produto
(ibid.).
De acordo com Silva (2012), há muito tempo o espaço é usado pelo homem como
categoria de analise para compreensão da distribuição de diversas doenças, sendo atribuído a
Hipócrates os primeiros registros de relação entre a doença, ambiente e localização da
ocorrência.
Conhecer o espaço onde a doença se manifesta e as interações que nele ocorrem é de
suma importância para a tomada de decisões estratégicas para as ações sanitárias previstas nos
programas de controle e erradicação das doenças (Pignatti, 2004). Na visão de Santos (2006)
espaço é o resultado da união entre paisagem e sociedade, ou seja, o “casamento” entre as
formas que compõe a paisagem e a vida que os anima.
Na segunda metade do século XX diversos conceitos de ecologia são incorporados
em estudos médicos originando a teoria chamada de “geografia médica” que se ocupa da
geografia das doenças, em outras palavras, a ocorrência da patologia é estudada considerando
a relação entre sua ocorrência e a situação do ambiente onde ela se manifesta ( PIGNATTI,
2004).
A epidemiologia geográfica, como também pode ser chamada a geografia medica,
vai estudar a distribuição e a prevalência das doenças na superfície da terra e também as
modificações que estas doenças possam sofrer em decorrência de diversos fatores de ordem
geográfica ou humana. Esta teoria propiciou então o surgimento de um sistema de ações
preventivas embasadas por um conceito conhecido como Historia Natural das Doenças
(HND). ( ibid.).
Arouca10 (1976 apud Pignatti, 2004) informou que a HND pode ser dividida em dois
momentos qualitativamente diferentes entre si: o período pré-patogênico e o período
patogênico. No primeiro momento se tem o surgimento da doença com a relação entre o
hospedeiro, os agentes e os fatores do meio ambiente, tem-se aí o conceito de interação
múltipla envolvendo também determinações diversas e interdisciplinaridade. Já no período
patogênico a doença encontra-se instalada e segue até a morte ou cura com ou sem sequelas,
este período restringe-se ao individuo e configura o momento clínico.
Ainda em Pignatti (2004) há a informação de que as ações humanas no ambiente
propiciam as condições para a transmissão de diversas doenças principalmente devido a
10
AROUCA, A. S. S. A História Natural das Doenças. Rev.Saúde em Debate. n.1, Rio de Janeiro, out-dez , 1976.
p.15-19
34
2.3.1 Geotecnologias
11
O autor trata por técnica todo o conjunto de saberes desenvolvido pelo homem
35
imagens de satélite em um único banco de dados, gerando como produto final a representação
gráfica dos dados em forma de mapas ou modelos digitais (SILVA, 2012).
Medeiros (2012) Amplia este conceito dizendo que “o sistema é composto, não
apenas de softwares, mas também por metodologias aplicadas, dados a serem coletados e
tratados, hardwares específicos, como por exemplo scanners e coletores de dados GPS e
recursos humanos”.
De acordo com Câmara e Ortiz [s.d.] um SIG apresenta estrutura geral composta por:
interface para comunicação com o utilizador, base de dados, unidade de gestão dessa base de
dados, e um conjunto de funcionalidades para entrada e edição de dados, sua análise e
produção e impressão de mapas, como mostrado na figura 12.
De uma maneira mais simplificada, Filho e Iochpe (1996) dizem que um SIG se
constitui, tecnologicamente, de três aspectos básicos, a saber: gerenciamento de banco de
dados, ferramentas para analise espacial e capacidades gráficas ( figura 13).
Gerenciamento
de banco de
dados
SIG Ferramentas
Capacidades
para analise
Gráficas
espacial
12
Global Navigation Satelite Sistem (Sistema Global de Navegação por Satélite) popularmente conhecidos
como GPS (sigla em inglês para Global Position Sistem)
37
3. MATERIAL E MÉTODOS
Para a realização do presente trabalho, foi feita uma pesquisa aplicada, quali-
quantitativa, a partir dos dados de atendimento a notificação de síndrome nervosa registrados
nos arquivos da CDSA, nos anos de 2010 a 2016.
A partir dos formulários de investigação de doenças (FORM-IN) e dos laudos
laboratoriais emitidos pela Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio de Janeiro (PESAGRO-
RJ) e pelo Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman (IJV), foram tabulados
os dados sobre as suspeitas, as ocorrências de raiva nos herbívoros, o núcleo de defesa
agropecuária (NDA) responsável pela área, o município onde se encontrou o caso suspeito, a
mesorregião, a data da ocorrência e as coordenadas das notificações.
As espécies de herbívoros escolhidas para este estudo foram a bovina e a bubalina
(bovídeos). Esta escolha se deu pela representatividade e confiabilidade das informações
sobre o rebanho bovídeo registradas no banco de dados oficial da SEAPPA-RJ fornecido
pelo Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA).
Também foi realizada a tabulação dos cadastros de abrigos de morcegos, baseada nas
informações, extraídas dos formulários próprios, tais como: quantidade de abrigos, o tipo de
abrigo (natural ou artificial), a localização dos abrigos (município e mesorregião), presença ou
ausência de morcegos hematófagos e coordenadas geográficas.
Toda a tabulação de dados foi realizada com o uso do software Microsoft Office
Excel™ versão 2010. As análises estatísticas foram realizadas no software livre BioEstat 5.3.
Os mapas foram confeccionados usando o software livre Quantum GIS versão
2.18.1. No mapeamento de plotagem foram descartadas as propriedades e abrigos quem não
possuíssem coordenadas ou que por erro de coleta de dados geográficos estivessem plotadas
fora do território fluminense.
38
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 01: Distribuição das notificações referentes a bovídeos entre 2010 e 2016
Ano Notificações (%) Positivos (%) Negativos (%)
**
2010 105 21% 47 9% 58 11%
2011 99 19% 63 12% 36 7%
2012 85 17% 53 10% 32 6%
2013 78 15% 62** 12% 16 3%
2014 59 12% 30 6% 29 6%
**
2015 53 10% 19 4% 34 7%
2016 33 6% 21 4% 12 2%
Total 512 100% 295 58% 217 42%
120
105
99
100
85 R2 = 0,9801
78
80
63 62 59
60 53
47 53
40 R2 = 0,6073 33
30
19 21
20
0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Notificações Ocorrências
Figura 15: Frequência de ocorrências e notificações nas estações do ano entre 2010 e 2016
Tabela 02: Frequência de ocorrências e notificações nas estações do ano durante o período
Estação Notificações Ocorrências
Verão 96 57 a, b, d
Outono 127 68a, b, c , d
Inverno 151 99b, c , d
Primavera 138 71a, b, c , d
Total 512 295
b
Teste Binomial duas proporções: ocorrência a p>0,05 p < 0,05
d
Teste Binomial duas proporções: notificação/ocorrência c p>0,05 p < 0,05
Fonte: Elaborado pelo Autor
Tabela 03: Distribuição das notificações nas regiões de estado entre 2010 e 2016
Região Notificação Positivos % de positivos Negativos População media
Médio Paraíba 150 82 16,0 68 306.841
Noroeste Fluminense 142 71 13,9 71 480.738
Serrana 69 54 10,5 15 269.126
Centro-Sul Fluminense 50 37 7,2 13 140.244
Metropolitana 50 29 5,7 21 181.716
Norte Fluminense 36 18 3,5 18 613.536
Baixada Litorânea 15 4 0,8 11 189.197
Costa verde 0 0 0,0 0 12.592
Total 512 295 57,6 217 2.193.990
Figura 16: Numero de ocorrências e população média de bovídeos por mesorregião entre 2010 e 2016.
Fonte: Elaborado pelo Autor
42
Tabela 04: Classificação dos municípios quanto a notificação e ocorrência de raiva em bovídeos
Município Total %
Sem notificação 22 24%
Com notificação 70 76%
Com ocorrência 52 74%
Sem ocorrência 18 26%
Durante o período estudado 76% dos municípios que compõem o estado (70/92),
apresentaram notificação de casos suspeitos da doença e 24 % (22/92) não tiveram registros
de suspeitas. Os municípios fluminenses que tiveram notificação com pelo menos um
resultado positivo para raiva ao longo do período estudado representaram 56,5% (52/92) e
19,5% (18/92) dos municípios não apresentaram nenhum caso da doença entre 2010 e 2016
(figura 17).
Figura 17: Distribuição da ocorrência da raiva no Rio de Janeiro no período de 2010 a 2016.
Fonte: Elaborado pelo Autor
A raiva encontra-se difundida pelo estado, atingindo 56,5% dos municípios (tabela
05) durante o período, a região com maior proporção de municípios atingidos foi a Serrana e a
mesorregião das Baixadas Litorâneas apresentou a menor proporção de municípios atingidos.
Assim como apontado no estudo de Dognani et al (2016) realizado no Paraná, a
doença se apresentou distribuída no estado com diferentes proporções de municípios atingidos
43
A análise de regressão linear simples13 indica que existe relação entre a quantidade
de municípios afetados e o volume de ocorrências (figura 18), sendo que a região do Médio
Paraíba se apresenta como um ponto fora da reta por ter registrado 16% das ocorrências e não
ter a maior proporção de municípios atingidos.
13
Considerou-se a proporção de ocorrência como variável dependente e a proporção de municípios como
variável explicativa
44
Figura 19: Distribuição dos abrigos de morcegos no estado do Rio de Janeiro 2010 - 2016
Fonte: Elaborado pelo Autor
Tabela 06: Mesorregiões com abrigos de morcegos com hematófagos, abrigos de morcegos sem hematófagos,
sem abrigos de morcegos e ocorrência da doença entre 2010 e 2016
Abrigos Ocorrência
Região Sem Com Sem Sem da
Cadastrados Artificiais Naturais Raiva
Informação Hematófagos Hematófagos informação
Serrana 109 57 52 0 46 61 2 54
Médio Paraíba 96 71 23 2 49 44 3 82
Noroeste Fluminense 52 24 28 0 32 19 1 18
Metropolitana 39 28 11 0 28 11 0 29
Baixada Litorânea 29 11 18 0 22 5 2 4
Norte Fluminense 16 7 9 0 12 1 3 71
Centro Sul Fluminense 10 9 0 1 6 2 2 37
Costa Verde 4 4 0 0 4 0 0 0
Total 355 211 141 3 199 143 13 295
No estado do Rio de Janeiro esta tendência também foi percebida (tabela 07) durante
o período estudado, indicando que 58,94% das ocorrências se deveram à presença de abrigos
com morcegos hematófagos e que há grande significância nesta relação.
Tabela 07: Mesorregiões com abrigos de morcegos com hematófagos tipo de abrigo, ocorrência da doença e
rebanho médio regional entre 2010 e 2016
Abrigos com Ocorrência da Abrigos
Região Abrigos Naturais
hematófagos* doença* artificiais
Médio Paraíba 49 82 38 11
Serrana 46 54 23 23
Noroeste Fluminense 32 71 10 22
Metropolitana 28 29 18 10
Baixas da Litorâneas 22 4 8 14
Norte Fluminense 12 18 5 7
Centro Sul Fluminense 6 37 6 0
Costa Verde 4 0 4 0
Total 199 295 112 87
Este grande numero de abrigos artificiais usados pelo morcego indicam que de fato, a
ação antrópica tem grande importância na epidemiologia da doença podendo inclusive, como
dito por Gonçalves14 et al (1996 apud Gomes et al, 2007 ), fazer com que o D. rotundus se
instale em locais que não seriam seu habitat preferencial.
Outros fatores como imunidade dos animais em períodos de seca, ausência de
vacinação, não utilização de pasta vampiricida em animais espoliados podem ser apontados
como contribuição à ocorrência da doença independente da existência de registro de abrigos
de morcegos hematófagos.
Com base nos fatores relacionados à caracterização de áreas de risco, tais como:
receptividade (abrigo natural ou artificial e fontes de alimento) vulnerabilidade (fatores
relacionados com a capacidade de ingresso do transmissor em uma área e à circulação viral)
(Brasil, 2009), foi possível sugerir indicadores para auxiliar as ações de controle da raiva no
âmbito do PCNRH no estado do Rio de Janeiro.
14
Gonçalves C.A. 1996. Controle de populações de morcegos hematófagos no estado de São Paulo. Bolm Inst.
Pasteur 2:45-49.
47
Não foi a proposta deste trabalho caracterizar áreas de risco, mas o conhecimento dos
fatores foi o ponto de partida para estabelecer indicadores baseados nas informações
disponíveis.
A partir da análise dos indicadores como: presença ou ausência de notificações de
suspeitas de ocorrência de raiva em bovídeos, os resultados dos laudos laboratoriais destas
notificações, a existência de abrigos cadastrados nos municípios e a presença ou não de
morcegos hematófagos nestes abrigos os municípios puderam ser divididos em grupos com
similaridade de condições (quadro 01). Os municípios pertencentes a cada grupo encontram-
se listados no quadro 02.
As ações propostas com base nos indicadores elencados são: ações de educação
sanitária (AEDS), atividades de vigilância ativa (AVA), captura de morcegos (CAP), cadastro
de abrigos (CAB) e monitoramento de abrigos (MAB).
Quadro 01: Indicadores situacionais para as ações de controle da raiva no âmbito do PCNRH
Grupo de
Indicadores Municípios Estratégia de ação
municípios
Sem notificação de suspeitas, presença de bovídeos no
Grupo 01 território, presença de abrigos cadastrados com 10 AEDS, AVA, CAP , MAB
hematófagos.
Sem notificação de suspeitas, presença de bovídeos no
Grupo 02 território, ausência de abrigos cadastrados com 14 AEDS, MAB, AVA
hematófagos.
Notificações positivas para raiva, presença de
Grupo 03 bovídeos no território, presença de abrigos cadastrados 38 AEDS, MAB, CAP, AVA
com hematófagos.
Notificações positivas para raiva, presença bovídeos
Grupo 04 no território, sem presença de abrigos cadastrados com 4 AEDS, CAB, AVA
hematófagos.
Notificações positivas para raiva, presença bovídeos
Grupo 05 10 AEDS, AVA, CAB
no território, sem abrigos cadastrados.
Notificações negativas para raiva, presença bovídeos
Grupo 06 no território, presença de abrigos cadastrados com 6 AEDS, MAB, CAP
hematófagos.
Notificações negativas para raiva, presença bovídeos
Grupo 07 6 AEDS, AVA, CAB
no território, sem abrigos cadastrados.
Grupo 08 Ausência de bovídeos no território. 4 AEDS
Todos os dados do presente estudo são baseados nos registros oficiais, ou seja, casos
notificados que foram submetidos aos devidos procedimentos laboratoriais para confirmação
ou não da ocorrência de raiva.
48
15
Software de código fechado utilizado pela Defesa Agropecuária da Secretaria de Estado de Agricultura,
Pecuária, Pesca e Abastecimento do Rio de Janeiro (SEAPPA-RJ) para gerenciamento da atividade agropecuária
no estado
50
Figura 23: Imagem da tela do QGIS com seleção do ponto desejado e detalhe das informações do ponto.
Fonte: Elaborado pelo Autor
16
DATUM- palavra oriunda do latim que significa detalhe, em cartografia se refere ao modelo matemático
teórico da representação da superfície da Terra ao nível do mar utilizado numa dada carta ou mapa
52
17
É o nome dado ao arquivo que contém dados geoespaciais em forma de vetor usado por Sistemas de
Informações Geográficas para descrever geometrias de: pontos, linhas, e polígonos.
53
Tabela 08: Erros de localização em relação às notificações em municípios nos anos de 2010 a 2016
5. CONCLUSÃO
6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BATISTA, H. B.C.R; FRANCO, A.C; ROEHE, P.M. Raiva: uma breve revisão. Acta
scientiae veterinariae. Porto Alegre, RS. Vol. 35, n. 2 (2007), p. 125-144. Disponível em:
http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/20621 Acessado em: 20/06/2016.
BAER, G.M. The Natural History of Rabies. 2 ed. CRC Boss. Boston.1991
BEER, J. Doenças infecciosas em animais domésticos. Editora Rocca. São Paulo, 1999.
BRAGA, G.B. Modelo Preditivo do risco da raiva em bovinos no Brasil.. Tese (Doutorado
em Ciencias) Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo.
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Paulo entre 1992 e 2003. Tese (doutorado) - Instituto Nacional de Pesquisas
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