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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE VETERINÁRIA CURSO DE


PÓS-GRADUAÇÃO EM HIGIENE, INSPEÇÃO E
TECNOLOGIA DE ALIMENTOS DE ORIGEM ANIMAL

CESAR AUGUSTO SAMPAIO MILHOMENS

AVALIAÇÃO ESPAÇO TEMPORAL DOS


CASOS DE RAIVA EM BOVÍDEOS NO
PERIODO DE 2010 - 2016 NO ESTADO DO
RIO DE JANEIRO

NITERÓI
2018
CESAR AUGUSTO SAMPAIO MILHOMENS

AVALIAÇÃO ESPAÇO TEMPORAL DOS CASOS DE RAIVA EM BOVÍDEOS NO


PERIODO DE 2010 - 2016 NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-


Graduação em Higiene, Inspeção e Tecnologia
de Alimento de Origem Animal, em nível de
Mestrado Profissional da Universidade Federal
Fluminense, como requisito parcial para
obtenção de grau de Mestre Profissional.

Orientador: Prof. Dr. Elmiro Rosendo do Nascimento


Coorientador: Drª Renata Falcão Rabello da Costa

NITEROI
2018
Ficha catalográfica automática - SDC/BFV

M637a Milhomens, Cesar Augusto Sampaio


AVALIAÇÃO ESPAÇO TEMPORAL DOS CASOS DE RAIVA EM BOVÍDEOS NO
PERIODO DE 2010 -2016 NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO / Cesar
Augusto Sampaio Milhomens ; Elmiro Rosendo do Nascimento,
orientador ; Renata Falcão Rabello da Costa, coorientadora.
Niterói, 2018.
60 f. : il.

Dissertação (mestrado)-Universidade Federal Fluminense,


Niterói, 2018.

DOI: http://dx.doi.org/10.22409/MPV-HV.2018.m.07418333790

1. Raiva . 2. Abrigos. 3. Sazonalidade. 4. Geolocalização.


5. Produção intelectual. I. Título II. Nascimento,Elmiro
Rosendo do , orientador. III. Costa, Renata Falcão Rabello da
, coorientadora. IV. Universidade Federal Fluminense.
Faculdade de Veterinária.

CDD -

Bibliotecária responsável: Ana Claudia Ferreira Messias - CRB7/5786


CESAR AUGUSTO SAMPAIO MILHOMENS

AVALIAÇÃO ESPAÇO TEMPORAL DOS CASOS DE RAIVA EM BOVÍDEOS NO


PERIODO DE 2010 - 2016 NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-


Graduação em Higiene, Inspeção e Tecnologia
de Alimento de Origem Animal, em nível de
Mestrado Profissional da Universidade Federal
Fluminense, como requisito parcial para
obtenção de grau de Mestre Profissional.

Aprovada em : _______ de ____________ de 2018

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________
Prof. Dr. Elmiro Rosendo do Nascimento Silva (Orientadora) - UFF

_____________________________________________
Drª Renata Falcão Rabello da Costa (co-orientadora) - SEAPPA-RJ

_____________________________________________
Dr. Virginio Pereira da Silva Junior - SEAPPA-RJ

NITEROI
2018
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus por todas as oportunidades e lições oferecidas em meu


caminho até os dias de hoje.
À minha família pelo apoio incondicional em todos os momentos de vida, nos bons
momentos e também naqueles que não foram tão bons e mesmo assim trouxeram
aprendizados para a vida. Em especial agradeço a meus pais Ainda e Alberto Milhomens
por sempre me mostrarem o caminho da retidão e do amor.
Agradeço à minha companheira, Juliana, pela paciência durante esse processo e pelo
apoio para seguir em frente e não abandonar a luta. A nossa amada Laninha, nosso anjinho
de quatro patas, que com seu olhar meigo e carinhoso sempre trouxe alegrias aos nossos
corações nos momentos de angustia.
Muito tenho a agradecer aos companheiros da Defesa Agropecuária, em especial ao
Paulo Henrique e ao André Sampaio, responsáveis pela articulação com a UFF para a
realização deste curso de mestrado.
Ao professor Elmiro que prontamente acolheu minha proposta de trabalho e deu todo
o apoio nas discussões, principalmente nas que tangiam as análises estatísticas.
Agradeço à incansável amiga Renata Falcão por me conduzir ao longo deste
processo com muita paciência e principalmente muito carinho e respeito ao apontar os
erros e falhas.
Ao amigo Virginio que me deu muitos e muitos conselhos e dicas durante as longas
horas de engarrafamentos na ida e vinda ao trabalho .
“Quem come da árvore do conhecimento sempre acaba expulso de algum paraíso.”
William Ralph Inge.
RESUMO
A raiva é uma das mais importantes zoonoses em saúde publica, devido não apenas a sua
evolução drástica e letal, mas também pelo seu enorme custo social e econômico. O agente
etiológico da raiva é um vírus do gênero Lyssavirus da família Rhabdoviridae e ordem
Mononegavirales altamente neurotrópico em mamíferos, acometendo todas as espécies de
animais domésticos e silvestres, além do próprio ser humano. O principal transmissor da raiva
nos herbívoros no Brasil é o morcego hematófago da espécie Desmodus rotundus. Fatores
naturais associados a fatores antrópicos estão envolvidos na epidemiologia da raiva em
herbívoros, no Brasil a doença apresenta diferentes níveis de endemicidade de acordo com a
região, devendo ser consideradas as variantes de receptividade. O impacto principal causado
pelo ciclo rural é de caráter econômico, devidos aos prejuízos que causa, afetando a qualidade
da produção pecuária. A partir da análise temporal e espacial da distribuição das notificações
de casos suspeitos de síndrome neurológica e abrigos de morcegos hematófagos, utilizando
também técnicas de geoprocessamento, avaliou-se a distribuição da raiva no estado de forma
que esta informação servisse de subsidio para proposição de estratégias para o controle da
raiva em herbívoros no Rio de Janeiro. No período entre 2010 e 2016 foram registradas 666
notificações de suspeita de síndrome nervosa em herbívoros, deste total 512 registros foram
referentes a bovídeos sendo 295 laudos positivos e 217 laudos negativos. Foram analisados os
dados de 355 abrigos entre artificiais (211/355) e naturais (141/355), 03 abrigos não traziam
informações quanto a sua natureza. Devido a erros de geolocalização ocorreu uma perda de
19% na espacialização das notificações de raiva em bovídeos, resultando em apenas 414 com
precisão geoespacial. Observou-se também a ocorrência de sazonalidade na epidemiologia da
raiva no estado.

Palavras-chave: Raiva. Abrigos. Sazonalidade. Geolocalização


ABSTRACT

Rabies is one of the most important zoonoses in public health, due not only to its drastic and
lethal evolution, but also to its enormous social and economic cost. The etiological agent of
rabies is a virus of the genus Lyssavirus of the family Rhabdoviridae and order
Mononegavirales highly neurotropic in mammals, affecting all species of domestic and wild
animals, as well as the human being itself. The main transmitter of rabies in herbivores in
Brazil it is the hematophagous bat of the species Desmodus rotundus. Natural factors
associated with anthropic factors are involved in the epidemiology of rabies in herbivores, in
Brazil the disease presents different levels of endemicity according to the region, and the
receptivity variants should be considered. The main impact caused by the rural cycle is
economic in nature, due to the damages caused, affecting the quality of livestock production.
From the temporal and spatial analysis of the distribution of reports of suspected cases of
neurological syndrome and hematophagous bats shelters, also using geoprocessing
techniques, the distribution of rabies in the state was evaluated so that this information served
as a subsidy for proposing strategies for the control of rabies in herbivores in Rio de Janeiro.
In the period between 2010 and 2016, 666 reports of suspected nerve syndrome in herbivores
were recorded, of which 512 were bovine records, 295 of which were positive and 217 were
negative. Data from 355 shelters between artificial (211/355) and natural shelters (141/355)
were analyzed, and 3 shelters did not provide information on their nature. Due to geolocation
errors there was a 19% loss in the spatialisation of rabies reports in bovids, resulting in only
414 geospatial precision. It was also observed the occurrence of seasonality in the
epidemiology of rabies in the state.

Keywords: Rabies. Shelters. Seasonality. Geolocation.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO, p. 12
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA, p.14
2.1 A RAIVA, p. 14
2.1.1 Conceitos gerais, p. 14
2.1.2 Aspectos históricos, p. 14
2.1.3 Distribuição geográfica, p. 15
2.1.4 Aspectos epidemiológicos, p. 17
2.1.4.1 Etiologia, p. 17
2.1.4.2 Transmissão e vias de infecção, p. 18
2.1.4.3 Patogenia e manifestações clínicas em herbívoros, p. 19
2.1.4.4 Cadeia epidemiológica de transmissão, p. 19
2.1.4.5 Transmissores, p. 21
2.1.4.6 Aspectos socioeconômicos, p. 24
2.2 O PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DA RAIVA DOS HERBÍVOROS,
p. 25
2.2.1 Embasamento legal, p. 25
2.2.2 Responsabilidades institucionais, p. 26
2.2.3 Estratégia adotada no Programa Nacional de Controle de Raiva em Herbívoros, p. 27
2.2.4 Vigilância epidemiológica, p. 27
2.2.4.1.1 Vigilância passiva, p. 27
2.2.4.1.2 Vigilância ativa, p. 28
2.2.4.1.3 Áreas de Risco, p. 30
2.2.4.2 Vacinação das espécies susceptíveis, p. 31
2.2.4.3 Ações de controle do transmissor, p. 31
2.2.4.4 Ações educativas, p. 32
2.3 EPIDEMIOLOGIA GEOGRAFICA , p. 33
2.3.1 Geotecnologias, p. 34
2.3.2 Sistemas de informação geográfica, p. 34
3 MATERIAL E MÉTODOS, p. 37
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO, p. 38
4.1 DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO TEMPORAL DAS NOTIFICAÇÕES E OCORRÊNCIAS
DE RAIVA EM BOVÍDEOS ENTRE 2010 e 2016, p. 38
4.2 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL E CLASSIFICAÇÃO DOS ABRIGOS DE
MORCEGOS, p. 44
4.3 INDICADORES PARA AS AÇÕES, p. 46
4.4 ERROS DE GEOLOCALIZAÇÃO, p. 49
5 CONCLUSÃO, p. 54
6 BIBLIOGRAFIA, p.55
LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Países com risco de ocorrência de raiva, p. 16


Figura 02 Estrutura do vírus da raiva, p. 18
Figura 03 Ciclos de transmissão da raiva, p. 20
Figura 04 Desmodus rotundus, p. 22
Figura 05 Diphylla ecaudadta, p. 22
Figura 06 Diaemus youngi, p. 22
Figura 07 Área de ocorrência de morcegos hematófagos, p. 22
Figura 08 Desmodus rotundus, p. 23
Figura 09 Notificações de raiva em bovídeos no Brasil entre 2010 e 2016, p. 28
Figura 10 Estrutura da Superintendência de Defesa Agropecuária, p. 29
Figura 11 Superintendência de Defesa Agropecuária, Coordenadorias de Defesa
Agropecuária, Núcleo de Defesa Agropecuária, p. 29
Figura 12 Estrutura interna de um SIG, p. 35
Figura 13 Aspectos tecnológicos de um SIG, p. 35
Figura 14 Número de notificações e ocorrências no estado do Rio de Janeiro, p. 39
Figura 15 Frequência de ocorrências e notificações nas estações do ano entre 2010 e 2016,
p. 38
Figura 16 Numero de ocorrências e população media de bovídeos por mesorregião entre
2010 e 2016 , p. 40
Figura 17 Distribuição da ocorrência da raiva no estado do Rio de Janeiro no período de
2010 a 2016, p. 41
Figura 18 Relação entre % de municípios atingidos e % de ocorrências por região , p. 42
Figura 19 Distribuição dos abrigos de morcegos no estado do Rio de Janeiro no período de
2010 a 2016, p. 43
Figura 20 Agrupamento de municípios para ações de defesa, p. 48
Figura 21 Geolocalização das notificações de suspeita de raiva em herbívoros, p. 49
Figura 22 Geolocalização das notificações de suspeita de raiva em herbívoros ajustadas no
software QGIS, p. 49
Figura 23 Imagem da tela do QGIS com seleção do ponto desejado e detalhe das
informações do ponto, p. 50
Figura 24 Geolocalização das notificações relacionadas a bovídeos, p. 51
LISTA DE TABELAS E QUADROS

Tabela 01 Distribuição das notificações referentes a bovídeos entre 2010 e 2016, p. 38


Tabela 02 Frequência de ocorrências e notificações nas estações do ano durante o período,
p. 40
Tabela 03 Distribuição das notificações nas regiões de estado entre 2010 e 2016, p. 40
Tabela 04 Classificação dos municípios quanto a notificação e ocorrência de raiva em
bovídeos, p. 42
Tabela 05 Difusão da raiva por mesorregiões, por municípios e ocorrência por região, p. 43
Tabela 06 Mesorregiões com abrigos de morcegos com hematófagos, abrigos de morcegos
sem hematófagos, sem abrigos de morcegos e ocorrência da doença entre 2010 e
2016, p. 45
Tabela 07 Mesorregiões com abrigos de morcegos com hematófagos, tipo de abrigo,
ocorrência da doença e rebanho médio regional entre 2010 e 2016, p. 46
Quadro 01 Indicadores situacionais para as ações de controle da raiva no âmbito do PCNRH,
p. 47
Quadro 02 Listagems dos municípios por classe, p. 48
12

1. INTRODUÇÃO

A raiva é considerada uma das zoonoses de maior importância em Saúde Pública,


devido não apenas a sua evolução drástica e letal, mas também pelo seu enorme custo social e
econômico (BRASIL, 2009). Trata-se de uma doença listada no Código Sanitário de Animais
Terrestres da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) sendo de notificação obrigatória
ao Serviço Veterinário Oficial (SVO). (BRASIL, 2013).
Há no mundo diversas famílias e espécies de morcegos. A família Phyllostomidae
apresenta uma subfamília denominada Desmodontinae que possui três espécies hematófagas,
encontradas na América do Sul, a saber: Desmodus rotundus, Diphylla ecaudadta, Diaemus
yougii. A primeira tem por hábito alimentar-se com sangue de grandes mamíferos, enquanto
que as duas outras se alimentam preferencialmente em aves (BRAGA, 2014).
Na América Latina, os morcegos hematófagos encontram-se distribuídos desde o
México até a Argentina (KOTAIT, 1998 a). No Brasil, o morcego hematófago Desmodus
rotundus é o principal responsável pela manutenção da cadeia silvestre do vírus da raiva na
natureza e o principal transmissor da raiva para os herbívoros (CORREA e CORREA, 1992).
Os prejuízos diretos causados pela raiva em herbívoros são da ordem de centenas de
milhões de dólares/ano na América Latina. No Brasil este prejuízo é de cerca de 15 milhões
de dólares/ano aos pecuaristas. Há também gastos indiretos, que são relacionados aos custos
com vacinação, controle de transmissores e tratamento de pessoas que foram expostas a
animais com suspeita da doença. (GOMES, 2009)
Como a principal forma de transmissão do vírus da raiva é via saliva do animal
infectado, reside aí alto risco de infecção por ataque de morcegos hematófagos. Pelo hábito de
alimentar-se do sangue de grandes mamíferos o Desmodus rotundus representa grande
prejuízo para a sanidade dos rebanhos em função da possibilidade de infecção e pelo estresse
provocado pelo ataque que pode refletir em quedas na produção (CORREA e CORREA,
1992).
Segundo Amaral (2014), nos últimos anos o aumento do fluxo de pessoas, do
comercio de bens, de animais, bem como as mudanças nos sistemas agrícolas e as climáticas
tornaram tanto seres humanos quanto os animais mais expostos a doenças. A associação deste
risco à necessidade de uma resposta rápida fez com que os Sistemas de Informações
Geográficas (SIG), os produtos de sensoriamento remoto (SR), os equipamentos que utilizam
13

Sistemas Globais de Navegação por Satélite (GNSS1) e a estatística espacial, ganhassem papel
de destaque nas questões de epidemiologia. Este autor destaca ainda a crescente importância
do SIG na ciência veterinária devido à possibilidade de especializar a ocorrência de doenças e
do cruzamento de diversas informações de naturezas diferentes permitindo uma visão
detalhada da situação no espaço (local de ocorrência, propriedades fronteiriças, aspectos
fisiograficos relevantes, dados populacionais e estatísticos).
A análise usando SIG permite a integração de informações sobre fatores ambientais
que se associem a determinadas enfermidades possibilitando o mapeamento de áreas propícias
a sua ocorrência. Este mapeamento também contribui para se entender a dinâmica da doença
em determinado território dando subsídios para ações de mitigação de risco e de controle da
enfermidade e das populações de reservatório (GOMES; MONTEIRO e NOGUEIRA FILHO
2007).
Tamada et al. (2009) ressaltaram a importância das geotecnologias em diversos
seguimentos do agronegócio como: dados de desmatamento, análise de uso e utilização de
solo, dentre outras aplicações. Segundo estes autores todos os dados obtidos pelos serviços
oficiais podem ser tratados em sistemas de informação geográfica permitindo analises,
manipulações, consultas e espacialização sobre a superfície terrestre.
O objetivo do presente trabalho foi verificar a ocorrência da raiva no estado do Rio
de Janeiro no período de 2010 a 2016 por meio de analises espaciais e temporais com apoio
de técnicas de geoprocessamento.

1
Sigla em inglês para Global Navigation Satellite System
14

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 A RAIVA

2.1.1 Conceitos gerais

A raiva é considerada uma zoonose de grande importância devido às consequências


danosas tanto para saúde coletiva quanto para a economia (BRASIL, 2009). É uma doença
infecciosa, viral, que apresenta letalidade em quase 100% dos casos2. Segundo Morato; Ikuta
e Ito (2011; apud BAER 1991), nos cães a doença é conhecida pelo nome popular de “doença
de cachorro louco” devido à sua manifestação furiosa. Já nos bovinos ela é conhecida como
raiva paralitica ou então como doença paresiante em função da paralisia quer causa.
Animais de sangue quente de todas das idades são susceptíveis à raiva. A doença
acomete mamíferos domésticos e silvestres, além do próprio ser humano, tendo grau de
susceptibilidade variável de acordo com a espécie em questão. Dentre os mamíferos
silvestres destaca-se a ocorrência da raiva nos pertencentes à classe Chiroptrera da qual
fazem parte os morcegos (RIET-CORREA et al, 2001).

2.1.2 Aspectos históricos

Há registros históricos a respeito da raiva datados do século XX a.C, contidos no


decreto de Eshnunna da Mesopotâmia. Este decreto estabelecia penas para os proprietários de
cães raivosos que atacassem alguma pessoa e esta viesse a óbito. Os antigos gregos utilizaram
a palavra lyssa para se referir à raiva em cães, provavelmente devido à sua raiz que traz por
significado “violento”. Data do ano 5.000 a.C., a primeira descrição da doença feita na Grécia
por Demócrito. Já a descrição da hipótese da propagação da doença por meio da mordida de
cães a outros animais, ainda não incluindo o homem, foi creditada a Aristóteles, Luciano e
outros (BABBONI; MODOLO, 2011). Aristóteles escreveu em sua obra A historia natural
dos animais, que cachorros eram acometidos do que ele chamou de loucura e que ao
morderem outros animais transmitiam para eles a doença (BAER, 1991).
No século XVI, o médico italiano Girolamo Fracastoro propôs a teoria do contágio
quando escreveu que a laceração da pele era necessária. Ele fez isso mais de 300 anos antes

2
Em humanos há 05 casos de pessoas que foram submetidas a tratamento protocolar e sobreviveram, sendo
02 nos EUA, 01 na Colômbia e 02 no Brasil. Em animais a doença é invariavelmente fatal
15

de Koch e Pasteur estabelecerem os fundamentos da microbiologia moderna (JACKSON;


WUNNER e CONZELMANN, 2013).
Entre os séculos XIII e XVIII diversos países da Europa foram acometidos por surtos
de raiva, em geral tendo os cães como principais vetores. Raposas, ursos e lobos também
foram apontados como transmissores da doença tanto para animais domésticos como para os
seres humanos. Além do continente europeu, houve relatos de surtos no México, Estados
Unidos e Peru. O surto do México, relatado por um padre a seus superiores, foi considerado o
mais antigo relato de raiva das Américas datando de 1703 (BAER 1991).
O primeiro relato de casos de raiva em bovinos na América Latina, atribuído à
espoliação por morcegos, data do século XVI na Guatemala. Outros relatos datam do século
XVII no Equador e século XIX em Trinidad. (ibid.).
Carini, em 1911, realizou o primeiro diagnostico de raiva paralitica em bovinos
durante um surto no estado de Santa Catarina. Havia entre os colonos a crença de que a
doença seria transmitida por morcegos. Contudo, os pesquisadores da época não acreditaram
nesta hipótese. Apenas em 1916 o vírus da raiva foi identificado no cérebro de morcegos
hematófagos nesse estado. Os responsáveis por esta identificação foram veterinários Haupt e
Rehaag, contratados pelo governo de Santa Catarina. Ainda assim a possibilidade de o
morcego hematófago ser o transmissor da doença ainda não era aceita como fato real.
Somente na década de 1930 é que foi “aceita a ideia de que os morcegos hematófagos podiam
transmitir a raiva aos seres humanos e aos animais” (BRASIL, 2009).
Até a primeira metade do século XX, casos de raiva em bovinos concentraram-se na
costa brasileira, possivelmente associada ao processo de ocupação do solo pelo homem. A
devastação da Mata Atlântica, a fim de viabilizar as atividades agrícolas, alterou
profundamente o habitat dos morcegos, principalmente os hematófagos. Posteriormente, os
surtos surgiram em outros estados mais interioranos, no rastro das grandes transformações
ambientais que se expandiram. O perfil da propagação da raiva em herbívoros, ainda hoje,
apresenta a mesma motivação da primeira metade do século XX, estando intimamente ligada
à atividade humana. (BRASIL, 2009).

2.1.3 Distribuição geográfica

A doença é considerada uma enfermidade cosmopolita sendo relatada em vários


países ao longo do tempo. A enfermidade encontra-se presente em quase todos os continentes
ao redor do globo (SILVA, 2012; WHO, 2018), como mostra a figura 01.
16

Há apenas alguns países e ilhas onde não há registros da doença. Além da Austrália e
da Antártica apenas 24 países, dentre eles os insulares Japão, Reino Unido, Escandinávia,
Nova Zelândia, encontram-se livres da doença em sua forma endêmica (SILVA, 2012).
De acordo com Baer (1991), em praticamente toda América Latina há registros de
ocorrência da raiva em bovinos. Segundo este autor os casos reportados correspondem a um
percentual de 3% a 60% das estimativas de morte em decorrência da doença devido ao fato de
ocorrerem surtos que não são informados às autoridades competentes. Kotait et al (1998 b) já
alertavam haver uma estimativa de que para cada caso notificado existem 10 outros que não
foram notificados.

Figura 01: Países com risco de ocorrência de raiva.


Fonte: Organização Mundial de Saúde 2013

Fatores naturais associados a fatores antrópicos3 estão envolvidos na epidemiologia da


raiva em herbívoros. Dentre os fatores naturais o principal é a presença do vírus no ambiente.
No tocante aos fatores antrópicos pode ser destacado o desempenho da atividade econômica
do homem na natureza que provoca a substituição da cobertura vegetal trocando mata por
pastagem e traz o gado até as áreas de ocorrência dos morcegos. Uma vez que a enfermidade
é de notificação compulsória áreas onde não haviam registros da doença passam a apresentá-
la (BRASIL, 2009)

3
Ações do homem sobre a paisagem e o meio
17

A epidemiologia da raiva no Brasil apresenta diferentes níveis de endemicidade de


acordo com a região devendo ser consideradas as variantes de receptividade e de
vulnerabilidade (BRASIL, 2009; GOMES; MONTEIRO e NOGUEIRA FILHO, 2011;
KANITZ et al, 2014).
Dognani (2016) usou a divisão regional do estado do Paraná para verificar a relação
destas unidades geográficas com a distribuição da raiva de herbívoros, relacionando
quantidade de abrigos, espécies acometidas, meses do ano em que as ocorrências foram
registradas com as regiões. Feital e Confalonieri (1998) também se basearam na divisão do
estado em meridiões para realização de seu estudo epidemiológico no Rio de Janeiro. Os dois
autores sugeriram ser comum a variabilidade regional da ocorrência da doença dentro de um
mesmo estado.
O estado do Rio de Janeiro apresenta seu território, de 43.781,56 km2, dividido em
oito mesorregiões chamadas também de Regiões de Governo. Esta divisão é amparada pela
Lei n° 1.227/87 e composta pelas seguintes regiões: Metropolitana, Noroeste Fluminense,
Norte Fluminense, Baixadas Litorâneas, Serrana, Centro-Sul Fluminense, Médio Paraíba e
Costa Verde (RIO DE JANEIRO, 1987). De acordo com os dados oficiais do Programa
Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA) quatro municípios do estado Rio de
Janeiro não possuem rebanho de bovídeos, são eles: Arraial do Cabo, Mesquita, Nilópolis e
São João do Meriti.

2.1.4 Aspectos epidemiológicos

2.1.4.1 Etiologia

O agente etiológico da Raiva é um vírus do gênero Lyssavirus da família


Rhabdoviridae e ordem Mononegavirales altamente neurotrópico em mamíferos e,
invariavelmente, causam a morte do animal infectado por uma encefalopatia fatal (CORRÊA
e CORRÊA, 1992, JACKSON; WUNNER e CONZELMANN, 2013). Uma característica do
vírus rábico é sua alta capacidade de adaptação, que lhe permite adotar várias espécies de
animais como reservatórios (JACKSON; WUNNER e CONZELMANN, 2013).
O virion apresenta forma de projétil com duas camadas de diferentes densidades que
envolvem um nucleocapsídeo helicoidal. Sua sensibilidade a solventes orgânicos se deve ao
conteúdo proteico da membrana exterior que é dotada de espiculas glicoproteicas (BERR,
1999) como mostrado na figura 02.
18

Figura 02: estrutura do vírus da raiva.


Fonte: www.microbiologybook.org

O genoma do vírus rábico é formado por uma cadeia única de ácido ribonucleico
(RNA) com polaridade negativa e possui cinco genes, que codificam a nucleoproteína (N), a
fosfoproteina (P), a glicoproteína (G), a proteína de matriz (M) e a RNA polimerase (L)
(KANITZ et al, 2014). A glicoproteína induz a formação de anticorpos neutralizantes. (RIET-
CORREA et al, 2001). O RNA, a nucleoproteína, a proteína associada à transcriptase e a
transcriptase associada ao virion formam o nucleocapsídeo helicoidal das partículas virais.
Duas proteínas adicionais associadas à membrana circundam a estrutura do nucleocapsídeo e,
juntamente com os lipídios da membrana, compõem o envelope viral (BAER, 1991).
Segundo Kanitz et al (2014) uma divergência na sequência de três aminoácidos no
gene N permite a separação do vírus circulante no Brasil em dois grupos, um relacionado aos
canídeos e o segundo relacionado aos morcegos hematófagos. Estes grupos são compostos
pelas variantes 1 e 2, relacionadas à raiva nas populações de cães e pela variante 3 associada
ao Desmodus rotundus (BRASIL, 2009).

2.1.4.2 Transmissão e vias de infecção

A transmissão da raiva dá-se pela penetração do vírus contido na saliva de um animal


infectado, através da mordida e, é possível a ocorrer pela arranhadura e lambedura de
mucosas ou em feridas abertas. Pode ocorrer também infecção aerógena em cavernas, porém é
mais rara. Outras formas de contaminação como sangue, leite, urina ou fezes apresentam
possibilidade de ocorrência extremamente remota por não conterem quantidades suficientes
do vírus para desencadear a doença. (BRASIL, 2009). Não ocorre diferença de
susceptibilidade entre os sexos, porém os animais jovens costumam ser mais susceptíveis
(BABBONI e MODOLO, 2011).
19

2.1.4.3 Patogenia e manifestações clínicas em herbívoros

Depois de inoculado, o vírus replica-se nos miócitos próximos ao local da inoculação,


podendo permanecer aí por intervalos de tempo variáveis (CARLTON, 1998). Esta replicação
é um passo importante antes da invasão do vírus no sistema nervoso periférico do animal
infectado (BATISTA; FRANCO e ROEHE, 2007). Após deixar o local da inoculação o vírus
utiliza-se do receptor acetilcolina presente no tecido muscular avançando rapidamente ao logo
dos nervos periféricos. (BAER, 1991). Através dos nervos periféricos o vírus chega, por
transporte passivo, até os gânglios espinhais e a partir daí ao segmento correspondente da
medula espinhal. (BEER, 1999).
Nos gânglios espinhais ocorre a primeira multiplicação do vírus, e então se segue uma
emigração centrípeta em direção ao encéfalo. A partir do encéfalo, após uma segunda fase de
multiplicação, ocorre a difusão centrifuga do vírus em direção a periferia pelas vias nervosas.
A multiplicação do vírus nas glândulas salivares e sua secreção através da saliva em
quantidades elevadas são decisivas para a sua velocidade de disseminação quando do ataque a
um novo hospedeiro (ibid.)
Dentre as manifestações clínicas que o animal pode apresentar observa-se: isolamento
do resto do rebanho, apatia, perda de apetite, aumento da sensibilidade e prurido na região da
mordedura, salivação abundante e viscosa e dificuldade em deglutir. Também são
apresentados movimentos desordenados da cabeça, tremores musculares e ranger de dentes,
midríase com ausência de reflexo pupilar, descoordenação motora, andar cambaleante e
contrações musculares involuntárias (BRASIL, 2009).
No caso dos bovinos a morte do animal ocorre entre 4 e 8 dias após o inicio dos
sintomas. O período de incubação do vírus vai sofrer variações de acordo com a capacidade
invasiva, patogenia, carga viral do inócuo inicial, ponto de inoculação, idade e
imunoconpetência do animal. A incubação em bovinos a campo tem um período médio de 60
a 75 dias (BRASIL, 2009).

2.1.4.4 Cadeia Epidemiológica de transmissão

De acordo com Beer (1999) o vírus rábico, usualmente, mantem-se no hospedeiro


principal que pode ser o cão, carnívoros selvagens ou morcegos e a partir destes hospedeiros
a doença pode ser transmitida a outros animais.
20

Na natureza o vírus rábico ocorre em ciclos que podem ou não ser interligados
(figura 03) a saber: ciclo urbano, ciclo aéreo, ciclo silvestre e ciclo rural (BATISTA;
FRANCO e ROEHE, 2007). Segundo Kotait (2009) por meio de estudos laboratoriais é
possível comprovar o entrelaçamento desses ciclos usando-se técnicas de biologia molecular.
O ciclo urbano é o mais estudado tendo como principais transmissores o cão e o gato,
sendo o primeiro o hospedeiro natural neste ciclo que pode vitimar humanos e outros
animais (KOTAIT, 2009). O ciclo rural tem como principal vetor o morcego hematófago
Desmodus rotundus, que ataca preferencialmente os herbívoros, podendo ocorrer também
agressões a humanos e outros animais domésticos e de criação. O ciclo silvestre traz como
hospedeiros carnívoros silvestres, macacos e morcegos.

Figura 03: Ciclos de transmissão da raiva.


Fonte: Instituto Pasteur

Já o ciclo aéreo apresenta menor incidência da transmissão do vírus rábico afetando


principalmente morcegos (GAGLIANE; LIMA, 2014). Pereira et al (2017) Apontam a
hipótese de que pode haver a disseminação do vírus rábico em situações de coabitação do D.
rotundus com outros quirópteros, principalmente os não hematófagos, devido a interações
interespecíficas, como mordeduras nas lutas por espaços, aumentando a possibilidade de
transmissão da doença.
21

Devido ao protagonismo do papel que os morcegos hematófagos desempenham no


ciclo silvestre, alguns pesquisadores defendem que eles deveriam constituir um ciclo
diferenciado chamado de raiva desmodina. (RIET-CORREA et al, 2001).
Na América Latina, em virtude das campanhas de vacinação em massa e da
conscientização da população das cidades, o ciclo urbano tem apresentado significativa
redução do numero de casos (OPS, 2005).
No Brasil segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) a situação no campo em relação à raiva em herbívoros (ciclo rural) é semelhante,
com uma tendência de queda no numero de casos.
Nas áreas rurais podem-se apontar fatores políticos, sociais e ambientais, dentre os
quais são citados a falta de uma política de combate mais efetivo e o desequilíbrio ecológico
(desmatamentos principalmente), como elementos que propiciam a migração de morcegos
hematófagos para as fazendas à procura de alimentos (REIS et al, 2003).
De acordo com Riet-Correa et al (2001) a raiva que acomete os bovinos tende a ser
cíclica apresentando picos que coincidem com o aumento do número de morcegos infectados
e doentes e os períodos de declínio da doença estão relacionados ao tempo necessário para
repovoar e reinfectar as colônias que sofrem grandes perdas pela ocorrência da contaminação.
Os autores também alertam para a sazonalidade da doença relacionada ao ciclo biológico dos
morcegos. Durante o período da primavera os machos disputam as fêmeas por meio de
agressões mutuas, o macho dominante estimula os demais a procurarem outras colônias e
neste processo ocorre contaminação e os machos derrotados carregam o vírus consigo.
Considerando o período de incubação nos morcegos e depois nos próprios animais agredidos
os autores informam que o pico de ocorrência da doença tende a ocorrer durante o outono.
Dognani et al (2016) apontam que no estado do Paraná a distribuição temporal das
ocorrências não obedeceram padrão de sazonalidade, porém cita que, segundo estudos de
outros pesquisadores, há sazonalidade na ocorrência da raiva nos estados do Rio de Janeiro
(FEITAL; CONFALONIERI, 1998) Minas Gerais (SILVA et al, 2001; Meneses et al, 2008),
Mato Grosso (MATTA et al 2010) e Rio Grande do Sul (MARCOLONGO-PEREIRA et al
2011).

2.1.4.5 Transmissores

De acordo com Andrade (2011) na ordem Chiroptera apenas três espécies


apresentam comportamento de "mordedura alimentar" em animais endotérmicos. São elas
22

Desmodus rotundus (Geoffroy, 1810), Diphylla ecaudata (Spix, 1823)e Diaemus youngi
(Jentink, 1893) mostradas nas figuras 4, 5 e 6 respectivamente.

04 05 06
a+ 5
bX
04

Figura 04: Desmodus rotundus Figura 05: Diphylla ecaudata Figura 06: Diaemus youngi
Fonte: SEAPPA-RJ Fonte: SEAPPA-RJ Fonte: Geoffrey Gomes

Na América Latina os morcegos hematófagos são encontrados desde o norte do


México até o norte da Argentina em algumas ilhas do Caribe, em regiões com altitude média
abaixo de 2.000m (BRASIL, 2009). como pode ser visto na figura 07.

Figura 07: Area de ocorrência de morcegos hematófagos.


Fonte: https://biodiversidade10c.wikispaces.com

O principal transmissor da raiva nos herbívoros no Brasil é o morcego hematófago da


espécie Desmodus rotundus (figura 08), de acordo com Enright4 (1954, apud Lopes 2009)
citando) o fato de esta espécie alimentar-se de sangue a torna um importante reservatório
silvestre do vírus da raiva.
Trata-se de um quiróptero de porte médio com envergadura de asa de 37 cm e peso
corporal aproximado de 29g, seu lábio inferior apresenta um sulco mediano em forma de “V”.

4
EINRIGHT, J.B. Bats, and their ralative to rabies. Annual Reviem of Microbiology, v.10, p. 362-392. 1954
23

O corpo é coberto por pelos castanhos, curtos e densos, dependendo da região do pais a
pelagem pode ser dourada ou acinzentada (BRASIL, 2009).
O morcego D. rotundus utiliza como abrigos naturais e artificiais, tais como:
cavernas, ocos de árvores, minas, casas, bueiros, ou locais em baixo de pontes de estradas
podendo adaptar-se bem em qualquer um desses tipos de abrigos estabelecendo colônias que
podem variar 10 a mais de 100 indivíduos (ibid.).
Gonçalves5 (1996, apud Gomes; Monteiro e Nogueira Filho, 2007) constataram que
70% dos abrigos de morcegos hematófagos cadastrados no estado de São Paulo eram
artificiais. Baseado em outros estudos o autor relata que o D. rotundus possui uma grande
adaptabilidade às ações do homem no ambiente, e assim o morcego pode se instalar em locais
que não seu habitat preferencial que é perto dos principais rios ou cursos d’água.

Figura08: Desmodus rotundus


Fonte: SEAPPA-RJ

Segundo Gomes (2008) a frequência de lutas por território e posição na hierarquia, o


habito de limpeza mútua e de troca de regurgitado, além da reorganização de colônias podem
ajudar a entender a dinâmica da raiva entre os morcegos e esta dinâmica pode refletir-se na
dinâmica da enfermidade nos bovinos, pois uma maior quantidade de morcegos infectados
pode representar um maior risco de contaminação dos animais na região.

5
Gonçalves C.A. 1996. Controle de populações de morcegos hematófagos no estado de São Paulo. Bolm Inst.
Pasteur 2:45-49.
24

Gomes (2008) e Braga (2014) citam um estudo de Delpietro et al. (1992) no qual foi
constatado o fato de, aparentemente, o D. rotundus apresentar uma maior capacidade de
desenvolvimento em ambiente com forte presença de criações bovinas do que onde não haja
a presença destas criações. Neste estudo, realizado no nordeste argentino, foram feitos
levantamentos censitários onde nos ambientes naturais o índice máximo de morcegos
capturados foi 0,23 por rede de captura. Por outro lado, nos ambientes pecuários, o índice
máximo foi de um morcego por rede de captura.

2.1.4.6 Aspectos socioeconômicos

Lopes (2009) diz, com base em informes da Organização Mundial da Saúde, que a
raiva humana é uma doença endêmica dos países em desenvolvimento. Devido às
disparidades na oferta e no acesso ao tratamento pós-exposição e em função do risco de
contato com cães infectados ocorre uma distribuição irregular da doença, tendo como
principais vitimas as camadas mais desvalidas da sociedade.
Para a saúde pública a principal preocupação é a raiva urbana. Na América Latina
desde 1983 há um forte engajamento dos países para eliminação da doença (OPS, 2005) Nesta
faixa territorial a principal estratégia para o controle da raiva urbana é realização de massivas
campanhas de vacinação de cães e gatos (OLIVEIRA; SILVA e GOMES, 2010).
O impacto principal causado pelo ciclo rural é de caráter econômico, devidos aos
prejuízos que causa, afetando a qualidade da produção, danos ao couro, morte de animais e
custos sanitários causados pela doença (KOTAIT, 2009).
O impacto social desta zoonose não pode ser desprezado uma vez que sua ocorrência
pode trazer danos à sobrevivência de pequenos produtores através da perda de parte do
rebanho ou de todos os animais, dependendo da escala de produção e também pode causar a
morte dos produtores caso os mesmos pela manipulação de infectados. A autora supracitada
informa a contaminação de um veterinário em 2006, no estado de Minas Gerais, por
manipulação de herbívoros raivosos.
Feital e Confalonieri (1998) apontam que os prejuízos diretos causados pela doença
referem-se à perda dos animais propriamente dita e são calculados em função da finalidade da
criação havendo critérios e parâmetros diferenciados para gado leiteiro e para gado de corte.
Já os prejuízos indiretos associados à doença estão relacionados aos custos com vacinação,
ações de monitoramento e captura, e custos com exames diagnósticos.
25

A raiva ocasionada por agressão de Desmodus rotundus constitui um problema de


importância em saúde pública nas Américas Central e do Sul (RIET-CORREA et al, 2001).
De acordo com Scheneider6 et al. (2005, apud Lopes 2009) no ano de 2004, nas Américas, o
numero de casos de raiva humana em decorrência de espoliação por morcegos ultrapassou o
numero de casos por mordida de cães.
No período entre 2010 e 2016, segundo dados do Ministério da Agricultura,
Pecuária, Pesca e Abastecimento (MAPA) foram registrados no Brasil 8.675 casos de raiva
em bovídeos, durante este período o numero ocorrências (figura 09), a nível nacional,
mostrou uma tendência de queda (MAPA, 2018).

Figura 09: Notificações de raiva em bovídeos no Brasil entre 2010 e 2016.


Fonte: MAPA, 2018

2.2 O PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DA RAIVA DOS HERBÍVOROS

2.2.1 Embasamento legal

Desde 1966, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), vêm


desenvolvendo ações voltadas ao controle da enfermidade. O programa se inicia com a
instituição do Plano de Combate à Raiva dos Herbívoros e traz a seguinte linha histórica de
regulamentações e normativas legais para sua execução:

6
SCHENEIDER, M.C; BELOTTO, A; ADÉ, M.P; LEANES, L.F; CORREA, A.E; PANAFTOSA/OPS; TAMAYO, H. Situacón
epidemiológica de la rabia humana transmitida por perros em América Latina em 2004. Boletin
epidemiológico OPS, v. 16, n 1, p. 2-4, 2005
26

 2002 - Instrução Normativa MAPA nº 5, aprova as normas técnicas para controle da raiva
dos herbívoros e atualiza a inclusão da Encefalopatia Espongiforme Bovina - EEB, da
scrapie e de outras doenças de caráter progressivo no sistema de vigilância da raiva dos
herbívoros (BRASIL, 2002 a).
 2002 - Instrução Normativa SDA nº 69, determina o uso de um selo de garantia
(holográfico) nos frascos de vacinas contra a raiva dos herbívoros das partidas aprovadas e
liberadas para comercialização pelo Mapa (BRASIL, 2002 b).
 2005 – Portaria SDA nº 168, aprova o Manual Técnico para o Controle da Raiva dos
Herbívoros, para uso dos agentes públicos nas ações do Programa Nacional de Controle da
Raiva dos Herbívoros – PNCRH (BRASIL, 2002).
 2006 - Instrução Normativa IBAMA nº 141, regulamenta o controle e o manejo ambiental
da fauna sinantrópica nociva. Permite aos órgãos federais (Saúde e Agricultura) o controle
de morcegos hematófagos Desmodus rotundus, sem a necessidade de autorização do Ibama
(BRASIL, 2006).
 2012 - Instrução Normativa SDA nº 8, define os critérios para o diagnóstico de raiva, por
meio do Teste de Imunofluorescência Direta (TIFD) e da Prova Biológica em
camundongos (PB), nos laboratórios pertencentes à Rede Nacional de Laboratórios
Agropecuários do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária. (BRASIL,
2012)
 O Programa Nacional de Controle e Raiva em Herbívoros (PNCRH) tem suas ações
estabelecidas com foco no controle da ocorrência da doença e não na convivência com ela
(BRASIL, 2009).

2.2.2 Responsabilidades institucionais

As ações no tocante às estratégias para prevenção e controle da raiva dos herbívoros


são coordenadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) que
também as normatiza e supervisiona, além realizar o credenciamento de laboratórios para
realização de diagnostico da raiva e de outras síndromes neurológicas. No âmbito da
operacionalização do programa compete a esse órgão federal a promoção das ações relativas
ao sistema de informação bem como auditorias e ações de capacitação dos serviços de defesa
sanitária nos Estados. Em todas as unidades da federação, bem como no Distrito Federal, as
27

atividades do PCNRH são coordenadas e supervisionadas pelas Superintendências Federais de


Agricultura (SFA). (BRASIL, 2009)
Em nível estadual a execução das ações do programa tem como destaque aquelas de
atendimento aos focos da doença, cadastramento das propriedades rurais para
acompanhamento dos casos e suspeitas; cadastramento e monitoramento dos abrigos
utilizados por morcegos hematófagos; execução de ações de vigilância em áreas de risco ou
em propriedades de risco. Também são inclusas as atividades de educação sanitária,
promoção e fiscalização de vacinação dos rebanhos. (ibid.)
Os laboratórios credenciados junto ao MAPA devem enviar ao Serviço Estadual de
Defesa Agropecuária todos os resultados das amostras enviadas para exame. Aquelas
amostras de bovinos com idade maior que 24 meses ou caprinos e ovinos maiores que 12
meses que apresentarem resultado negativo para raiva são enviadas aos laboratórios oficiais
para realização de diagnostico diferencial de encefalopatias espongiformes. Caso a amostra
tenha sido encaminhada ao laboratório credenciado por veterinário autônomo, por outros
profissionais ou pelos proprietários a suspeita deve ser notificada ao serviço de defesa
sanitária animal para que o mesmo desloque um medico veterinário oficial à propriedade para
avaliação e cadastro do foco e demais providencias (ibid.)

2.2.3 Estratégia adotada no Programa Nacional de Controle de Raiva em Herbívoros

A estratégia do PNCRH é baseada em ações de vigilância, ações de vacinação de


espécies susceptíveis, ações de controle dos transmissores e ações educativas (MAPA, 2009).

2.2.3.1 Vigilância epidemiológica

2.2.3.1.1 Vigilância passiva

A Instrução normativa n° 50, de 24 de setembro de 2013 do MAPA (BRASIL, 2013)


trata da lista de doenças passíveis da aplicação de medidas de defesa sanitária animal. No
tocante às doenças que tenham notificação obrigatória, esta instrução normativa trás em seu
artigo 2° a seguinte redação:
“As doenças listadas no Anexo desta Instrução Normativa são de
notificação obrigatória ao serviço veterinário oficial, composto pelas
unidades do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e
28

pelos Órgãos Estaduais de Defesa Sanitária Animal, em atendimento


ao art. 5º do Anexo do Decreto no 5.741, de 30 de março de 2006”.

A raiva consta como doença que requer notificação imediata de qualquer caso
suspeito (BRASIL, 2013).
Cabe ao proprietário a notificação da suspeita de ocorrência de casos de raiva em
herbívoros assim como a presença de animais que apresentem sinal de agressão por morcegos
hematófagos, bem como a presença de abrigos utilizados pelos morcegos. A não notificação
pode acarretar sanção legal ao proprietário que não cumprir tal obrigatoriedade (BRASIL,
2009).
De acordo com a Instrução Normativa n° 31 de 2014 (BRASIL, 2014) após receber
a notificação o serviço oficial deve, no prazo máximo de 24 h, atende-la, iniciar a
investigação do caso e, quando do óbito do(s) animal(is) coletar material para envio a
laboratórios credenciados.

2.2.3.1.2 Vigilância ativa

As ações de vigilância ativa são de competência do Serviço Veterinário Oficial dos


estados. No estado do Rio de Janeiro a Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e
Abastecimento (SEAPPA) possui em sua estrutura uma Superintendência de Defesa
Agropecuária (SDA) que possui setor especifico responsável por promover, manter e
recuperar a saúde dos animais de importância econômica ou que transitam no território
fluminense.
A estrutura da SDA (figura 10) é composta pelos seguintes: elementos em nível
central, a Coordenadoria de Defesa Sanitária Animal (CDSA), a Coordenadoria de Defesa
Sanitária Vegetal (CDSV) e a Coordenadoria de Controle de Qualidade de Produtos
Agroindustriais (CCQPA), cada coordenadoria possui coordenações setoriais específicas para
suas ações. Há 07 Coordenadorias Regionais de Defesa Agropecuária 7 (CRA) que tem por
função fazer a ligação entre a sede e os 27 Núcleos de Defesa Agropecuária (NDA) (RIO DE
JANEIRO, 2005). As CRA são compostas da seguinte forma: CRA Barra Mansa (NDAs:
Barra do Pirai, Barra Mansa, Pirai, Resende e Valença); CRA Campos dos Goytacazes
(NDAs: Campos dos Goytacazes, São Francisco do Itabapoana, São Fidelis, Macaé); CRA
Cordeiro (NDAs: Cordeiro, Nova Friburgo, Santa Maria Madalena); CRA Itaocara (NDAs:

7
Apenas a Defesa Agropecuária adota esta regionalização por este motivo ela só é apontada neste trabalho
neste momento, as demais regionalizações seguem a regionalização oficial do estado
29

Bom Jesus do Itabapoana, Itaocara, Itaperuna, Natividade, Santo Antônio de Pádua); CRA
Niterói (NDAs: Araruama, Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Niterói, Tanguá);
CRA Rio de Janeiro (NDAs: Angra dos Reis, Rio de Janeiro) e CRA Três Rios (NDAs:
Petrópolis, Três Rios, Vassouras). A figura 11 mostra a distribuição destas coordenadorias
regionais no território Fluminense (RIO DE JANEIRO, 2005).

SDA

CDSA CDSV CCQPA

Coordenações Coordenações Coordenações


Setoriais Setoriais Setoriais

07 COORDENADORIAS
REGIONAIS DE DEFESA
AGROPECUARIA

27 NÚCLEOS DE DEFESA
AGROPECUARIA

Figura 10: Estrutura da Superintendência de Defesa Agropecuária


Fonte: Adaptado de SEAPI 2005

Figura 11: Coordenadorias Regionais de Defesa Agropecuária


Fonte: Adaptado de SEAPI 2005
30

É da competência dos Núcleos de Defesa a realização das ações de vigilância ativa que
consistem na busca de informações sobre agressões por morcegos nos animais, presença de
abrigos, controle da venda de pasta vampiricida como consta no procedimento de operação
padrão (POP) desenvolvido pela Coordenadoria Setorial de Vigilância Zoosanitária (CSVZ)
da Coordenadoria de Defesa Sanitária Animal (CDSA) (RIO DE JANEIRO, 2018 ).

2.2.3.1.3 Áreas de risco

A epidemiologia da raiva bovina envolve fatores naturais como presença de abrigos,


presença do vírus circulante e fatores antrópicos que estabelecem a forma como a atividade
econômica humana é desempenhada na natureza. Para conhecer o modelo epidemiológico da
raiva bovina é necessário compreender a organização do espaço8 (BRASIL, 2009).
A ocupação do espaço interfere no comportamento ecológico do Desmodus rotundus,
e este comportamento é dado pela disponibilidade de abrigos e fonte de alimentação. O risco
de raiva pode ser explicado pela relação entre receptividade e vulnerabilidade. (ibid.).
A receptividade é a inter-relação do conjunto de variáveis que expressam a capacidade
do ecossistema de albergar as populações do morcego hematófago. Essas variáveis são ligadas
à disponibilidade de alimento (presença de bovinos, tipo de criação que pode ser intensiva ou
extensiva), e relacionadas aos abrigos aptos (presença de afloramentos calcários, ocorrência
de áreas de mata permanente, declividade do terreno, localização de abrigos naturais
permanentes e temporários, localização de abrigos artificiais e de edificações com potencial
utilização como abrigos, altitude) (BRASIL, 2009; DIAS, 2011).
A receptividade pode ser alta, média, baixa e nula, dependendo da presença e da
intensidade da relação entre os fatores supracitados (BRASIL, 2009)
A vulnerabilidade pode ser entendida como um conjunto de fatores relacionados à
capacidade de ingresso do transmissor em determinada área e à circulação viral. Tais fatores
possibilitam a difusão da doença para novas áreas e são facilitadores desta propagação. Estão
incluídos entre as variáreis a construção de usinas hidrelétricas, ferrovias e estradas,
desmatamentos, formação de novas áreas de pastagens, retirada abrupta de fontes de
alimentação, inundações. Casos de raiva em herbívoros ou em Desmodus rotundus no
município e/ou em municípios vizinhos e casos de raiva em outros mamíferos e quirópteros
também são fatores de vulnerabilidade (BRASIL, 2009; DIAS, 2011).

8
Resultado da união entre paisagem e sociedade
31

A raiva em quirópteros não hematófagos relacionada à variante 3 do virus deve ser


considerada, caso haja notificação, porque que há indícios de transmissão do vírus entre
morcegos hematófagos e não hematófagos relacionada à questões de co-habitação (DIAS,
2011; PEREIRA et al, 2017).

2.2.3.2 Vacinação das espécies susceptíveis

A instrução normativa n° 05 de 2002 (BRASIL, 2002) determina que a profilaxia da


raiva dos herbívoros, deverá ser feita pela utilização de vacina inativada que deve ser
administrada por responsabilidade do proprietário.
Em seu artigo 8° esta instrução normativa preconiza que em áreas de ocorrência de
raiva, deve ser realizada a vacinação sistemática de herbívoros com idade igual ou superior a
3 (três) meses. Os animais primovacinados deverão ser revacinados após 30 dias. Os
bovídeos e equídeos com menos de três meses, bem como animais de outras espécies, poderão
ser vacinados a critério do medico veterinário (BRASIL, 2002)
Pode ser cobrada ao produtor a comprovação da vacinação antirrábica de seus animais
por meio da apresentação de nota fiscal de compra da vacina, que deverá trazer número da
partida, a validade e o laboratório produtor da vacina. Também pode ser cobrada a anotação
da data da vacinação, o número de animais vacinados por espécie e a respectiva identificação
dos animais (BRASIL, 2009)
A Instrução Normativa n° 05 de 2002 (BRASIL, 2002) também preconiza que o
atestado de vacinação antirrábica será expedido por médico veterinário, e terá validade pelo
período de proteção conferido pela vacina usada. A duração da imunidade das vacinas para
uso em herbívoros, para efeito de revacinação, será de no máximo 12 (doze) meses.

2.2.3.3 Ações de controle do transmissor

O controle das populações de morcegos hematófagos pode ser direto ou indireto


dependendo da espécie animal envolvida, da topografia da região e de eventuais restrições
legais9. Os métodos adotados para este fim devem ser seletivos e executados de forma correta,
a fim de atingir apenas os morcegos hematófagos (D. rotundus) e não causar danos a outas
espécies que tenham papeis ecológicos relevantes (BRASIL, 2009).

9
Áreas de proteção ambiental, reservas indígenas e outras
32

O método de controle seletivo direto é feito pelo SVO, por meio de equipe capacitada
para tal atividade, pois existe a necessidade da captura do morcego hematófago junto à fonte
de alimentação (currais, baias, pocilgas) ou junto aos abrigos. Uma vez capturados é feita a
aplicação tópica de pasta vampiricida na região dorsal de seus corpos. Quando o abrigo é
artificial a captura pode ser realizada em seu interior. Porém quando se trata de abrigos
naturais a captura é realizada nas proximidades do abrigo. Só podendo ser realizada no
interior de cavernas e furnas com autorização do órgão competente (ibid.).
O método de controle indireto pode ser feito pelo produtor, sob orientação do médico
veterinário, por meio de aplicação tópica de pasta vampiricida ao redor das feridas recentes
dos animais espoliados. Nesta técnica apenas os morcegos hematófagos agressores são alvo
do controle, devido ao hábito de retornar ao mesmo animal para se alimentar. A aplicação da
pasta deve ser feita preferencialmente no final da tarde e o animal deve permanecer no mesmo
local onde se encontrava na noite anterior (ibid.).
A pasta vampiricida é a base de warfarina (fármaco do grupo dos anticoagulantes)
que levará o morcego a óbito por hemorragia interna. Os morcegos, ao retornarem ao abrigo,
estabelecem contatos físicos uns com os outros, inclusive lambendo-se mutuamente para
higienizar-se. Por meio deste contato difundem o produto para os demais. Para cada morcego
tratado com o anticoagulante 20 virão a óbito no período de 4 a 10 dias após ingerir o produto
(ibid.).

2.2.3.4 Ações educativas

É desejável que os produtores sejam informados da centralidade do seu papel no


controle da raiva. Esta sensibilização é o objetivo das ações de educação sanitária. O produtor
deve estar conscientizado da importância de notificar imediatamente toda a morte de animais
com suspeita de raiva (BRASIL.2013), bem como a ocorrência de espoliações por morcegos
e a existência de abrigos dos mesmos. Além da realização da notificação ao SVO o produtor
deve ser orientado a vacinação e o uso de pasta vampiricida (BRASIL, 2009).
Os produtores as associações de produtores, sindicatos rurais, cooperativas, entes
governamentais, conselhos municipais e intermunicipais de sanidade animal devem ser
envolvidos nas ações de educação sanitária. Desta forma a execução das medidas de controle
da doença preconizada no PNCRH toma uma condição extremamente favorável. (ibid.).
33

2.3 EPIDEMIOLOGIA GEOGRAFICA

De acordo com Silva (2012), há muito tempo o espaço é usado pelo homem como
categoria de analise para compreensão da distribuição de diversas doenças, sendo atribuído a
Hipócrates os primeiros registros de relação entre a doença, ambiente e localização da
ocorrência.
Conhecer o espaço onde a doença se manifesta e as interações que nele ocorrem é de
suma importância para a tomada de decisões estratégicas para as ações sanitárias previstas nos
programas de controle e erradicação das doenças (Pignatti, 2004). Na visão de Santos (2006)
espaço é o resultado da união entre paisagem e sociedade, ou seja, o “casamento” entre as
formas que compõe a paisagem e a vida que os anima.
Na segunda metade do século XX diversos conceitos de ecologia são incorporados
em estudos médicos originando a teoria chamada de “geografia médica” que se ocupa da
geografia das doenças, em outras palavras, a ocorrência da patologia é estudada considerando
a relação entre sua ocorrência e a situação do ambiente onde ela se manifesta ( PIGNATTI,
2004).
A epidemiologia geográfica, como também pode ser chamada a geografia medica,
vai estudar a distribuição e a prevalência das doenças na superfície da terra e também as
modificações que estas doenças possam sofrer em decorrência de diversos fatores de ordem
geográfica ou humana. Esta teoria propiciou então o surgimento de um sistema de ações
preventivas embasadas por um conceito conhecido como Historia Natural das Doenças
(HND). ( ibid.).
Arouca10 (1976 apud Pignatti, 2004) informou que a HND pode ser dividida em dois
momentos qualitativamente diferentes entre si: o período pré-patogênico e o período
patogênico. No primeiro momento se tem o surgimento da doença com a relação entre o
hospedeiro, os agentes e os fatores do meio ambiente, tem-se aí o conceito de interação
múltipla envolvendo também determinações diversas e interdisciplinaridade. Já no período
patogênico a doença encontra-se instalada e segue até a morte ou cura com ou sem sequelas,
este período restringe-se ao individuo e configura o momento clínico.
Ainda em Pignatti (2004) há a informação de que as ações humanas no ambiente
propiciam as condições para a transmissão de diversas doenças principalmente devido a

10
AROUCA, A. S. S. A História Natural das Doenças. Rev.Saúde em Debate. n.1, Rio de Janeiro, out-dez , 1976.
p.15-19
34

problemas ambientais que impactam na movimentação de animais bem como na concentração


de diversos vetores.

2.3.1 Geotecnologias

Geoprocessamento é, em síntese, a disciplina do conhecimento que utiliza as técnicas


matemáticas e computacionais para o tratamento da informação geográfica. Sua utilização
tem influenciando de forma inconteste as áreas como cartografia, análise de recursos naturais,
geografia medica entre outras. (CÂMARA; DAVIS e MONTEIRO, 2001).
O geoprocessamento, também conhecido como geotecnologia, utiliza a topografia,
fotogrametria; cartografia; sensoriamento remoto; posicionamento por satélite; geoestatística;
banco de dados geográficos; webmapping e sistemas de informação geográfica (MEDEIROS,
2012)

2.3.2 Sistemas de informação geográfica

A coleta de informações sobre a distribuição geográfica de animais, plantas e


doenças que os acometem sempre foi uma parte importante das atividades das sociedades
organizadas. Porém, até recentemente, esta compilação limitava-se a documentos e mapas em
papel o que impossibilitava, ou dificultava muito, uma análise que combinasse diversos
mapas e dados. (CÂMARA et al 2001).
Santos (2001) afirma que no fim do século XX, mais precisamente em sua segunda
metade, houve a produção de um sistema de técnicas11 liderado em especial por técnicas da
informação. Este sistema passou a exercer um papel de elo entre as diversas técnicas já
existentes, unindo-as e assegurando ao novo sistema técnico uma presença planetária. Graças
a este sistema, denominado tecnologia de informática, foi possível não apenas armazenar, mas
também representar tais informações, abrindo espaço para o aparecimento do
Geoprocessamento.
Os Sistemas de Informações Geográficas (SIG) podem ser entendidos como as mais
completas das técnicas de geoprocessamento, uma vez que podem englobar todas as demais
técnicas e tecnologias que se prestam a este fim (COSTA, 2002). A principal característica
deste sistema é a capacidade de integrar e inserir dados censitários, informações espaciais e

11
O autor trata por técnica todo o conjunto de saberes desenvolvido pelo homem
35

imagens de satélite em um único banco de dados, gerando como produto final a representação
gráfica dos dados em forma de mapas ou modelos digitais (SILVA, 2012).
Medeiros (2012) Amplia este conceito dizendo que “o sistema é composto, não
apenas de softwares, mas também por metodologias aplicadas, dados a serem coletados e
tratados, hardwares específicos, como por exemplo scanners e coletores de dados GPS e
recursos humanos”.
De acordo com Câmara e Ortiz [s.d.] um SIG apresenta estrutura geral composta por:
interface para comunicação com o utilizador, base de dados, unidade de gestão dessa base de
dados, e um conjunto de funcionalidades para entrada e edição de dados, sua análise e
produção e impressão de mapas, como mostrado na figura 12.

Figura 12: estrutura interna de um SIG.


Fonte: Câmara e Ortiz [s.d]

De uma maneira mais simplificada, Filho e Iochpe (1996) dizem que um SIG se
constitui, tecnologicamente, de três aspectos básicos, a saber: gerenciamento de banco de
dados, ferramentas para analise espacial e capacidades gráficas ( figura 13).

Gerenciamento
de banco de
dados

SIG Ferramentas
Capacidades
para analise
Gráficas
espacial

Figura 13: Aspectos tecnológicos de um SIG.


Fonte: Filho e Iochpe (1996)
36

Ao desenvolver um sistema de informações geográficas é necessário conhecer a


realidade com a qual se pretende trabalhar e formular a questão (ou questões) que se pretende
solucionar ou compreender (MEDEIROS, 2012). Segundo este autor a partir deste
conhecimento é que será desenvolvido o SIG. Após se conhecer o objetivo do sistema, o autor
relaciona cinco etapas que devem ser seguidas; são elas:
 Aquisição dos Dados: constitui na obtenção dos dados através de coleta de campo
(obtenção de coordenadas com uso de aparelhos de GNSS12), aquisição de dados
tabulares e outras técnicas que se façam necessárias;
 Manejo dos Dados: consiste no tratamento, edição, correção, integração dos dados
visando torna-los adequados ao projeto e eliminar dados que não sejam de interesse no
momento.
 Análises: nesta fase realiza-se a verificação da existência de possíveis padrões de
distribuição espacial e de qualquer outro parâmetro e variável mensurável.
 Gerência dos Produtos: é a elaboração de mapas, cartas relatórios, laudos e outros
documentos resultantes do projeto desenvolvido que serão fundamentais para a ultima
etapa.
 Tomada de Decisão: finalizado todo o processo de análise, o sistema é utilizado como
suporte para tomada de decisão mais eficiente a fim de atender a questão inicial.
O produto final de um SIG consiste nas informações de um mapa, organizadas em
bases de dados geográficas que são constituídas por layers (camadas ou níveis). Cada camada
representa um grupo de elementos do mesmo tipo podendo ser município, focos de doenças,
áreas focais e perifocais, densidade de população ou de ocorrências, etc. (MEDEIROS,2012).
Os SIGs podem atuar num vasto universo de problemas trazendo substanciosas
contribuições para as soluções dos mesmos. Nos dias de hoje muitos órgãos nas esferas
federal, estadual e municipal se utilizam destas tecnologias em institutos de pesquisa,
prestação de serviços a população, além de aplicar em ações de planejamento estratégico em
diversas áreas da administração (ibid.).

12
Global Navigation Satelite Sistem (Sistema Global de Navegação por Satélite) popularmente conhecidos
como GPS (sigla em inglês para Global Position Sistem)
37

3. MATERIAL E MÉTODOS

Para a realização do presente trabalho, foi feita uma pesquisa aplicada, quali-
quantitativa, a partir dos dados de atendimento a notificação de síndrome nervosa registrados
nos arquivos da CDSA, nos anos de 2010 a 2016.
A partir dos formulários de investigação de doenças (FORM-IN) e dos laudos
laboratoriais emitidos pela Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio de Janeiro (PESAGRO-
RJ) e pelo Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman (IJV), foram tabulados
os dados sobre as suspeitas, as ocorrências de raiva nos herbívoros, o núcleo de defesa
agropecuária (NDA) responsável pela área, o município onde se encontrou o caso suspeito, a
mesorregião, a data da ocorrência e as coordenadas das notificações.
As espécies de herbívoros escolhidas para este estudo foram a bovina e a bubalina
(bovídeos). Esta escolha se deu pela representatividade e confiabilidade das informações
sobre o rebanho bovídeo registradas no banco de dados oficial da SEAPPA-RJ fornecido
pelo Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA).
Também foi realizada a tabulação dos cadastros de abrigos de morcegos, baseada nas
informações, extraídas dos formulários próprios, tais como: quantidade de abrigos, o tipo de
abrigo (natural ou artificial), a localização dos abrigos (município e mesorregião), presença ou
ausência de morcegos hematófagos e coordenadas geográficas.
Toda a tabulação de dados foi realizada com o uso do software Microsoft Office
Excel™ versão 2010. As análises estatísticas foram realizadas no software livre BioEstat 5.3.
Os mapas foram confeccionados usando o software livre Quantum GIS versão
2.18.1. No mapeamento de plotagem foram descartadas as propriedades e abrigos quem não
possuíssem coordenadas ou que por erro de coleta de dados geográficos estivessem plotadas
fora do território fluminense.
38

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO TEMPORAL DAS NOTIFICAÇÕES E DAS


OCORRÊNCIAS DE RAIVA EM BOVÍDEOS ENTRE 2010 e 2016

No período estudado (2010-2016) foram registradas 666 notificações de suspeita de


síndrome nervosa em herbívoros. Deste total, 512 foram notificações referentes a bovídeos
sendo 295 laudos positivos e 217 laudos negativos (tabela 01).
O número de notificações apresentou redução, passando de 105 notificações em 2010
para 33 notificações em 2016. A diferença entre casos positivos e casos negativos (tabela 01)
não se mostrou significativa quando analisado o período inteiro (p=1,00), porém a análise ano
a ano mostrou que em 2010, 2013 e 2015 essa diferença foi significativa (p<0,005).
As notificações e as ocorrências apresentaram tendência de queda com alta
significância e alta correlação entre elas (p=0,0228 e R2 = 0,8233). As duas tendências de
queda apresentam correlação com a cronologia do período (figura 14). A tendência de queda
das notificações apresentou maior correlação com a variável “ano” (R2=0,9801) do que a
correlação encontrada na análise ocorrências/ano (R2=0,6073).

Tabela 01: Distribuição das notificações referentes a bovídeos entre 2010 e 2016
Ano Notificações (%) Positivos (%) Negativos (%)
**
2010 105 21% 47 9% 58 11%
2011 99 19% 63 12% 36 7%
2012 85 17% 53 10% 32 6%
2013 78 15% 62** 12% 16 3%
2014 59 12% 30 6% 29 6%
**
2015 53 10% 19 4% 34 7%
2016 33 6% 21 4% 12 2%
Total 512 100% 295 58% 217 42%

*Teste G: Independência (p>0.05) **Teste Binomial: duas proporções/ano (p<0,005)


Fonte: Elaborado pelo Autor

A pratica da subnotificação é recorrente no território nacional e citada em estudos


como os de Kotait et al (1998) e Dognani et al (2016) que citam a proporção de 10 casos não
notificados para cada caso de raiva diagnosticado pelo sistema oficial, e este fator deve ser
levado em consideração.
Quanto à distribuição das ocorrências e notificações da raiva dentro das estações do
ano foi observado que a maior frequência da doença ocorreu no inverno, seguido pelo outono
e primavera. Estes dados apontaram existência de sazonalidade (figura 15) resultado
39

semelhante ao encontrado por Feital e Confalonieri (1998). Martinez et al (2013) também


encontraram sazonalidade em seu estudo realizado no Rio Grande do Sul. Situação diferente
desta foi apontada por Dognani et al (2016) no estado do Paraná onde a doença não
apresentou distribuição sazonal.

Figura 14: Número de notificações e ocorrências no estado do Rio de Janeiro

120
105
99
100
85 R2 = 0,9801
78
80
63 62 59
60 53
47 53

40 R2 = 0,6073 33
30
19 21
20

0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Notificações Ocorrências

Fonte: Elaborado pelo Autor

Figura 15: Frequência de ocorrências e notificações nas estações do ano entre 2010 e 2016

Fonte: Elaborado pelo Autor


40

Tabela 02: Frequência de ocorrências e notificações nas estações do ano durante o período
Estação Notificações Ocorrências
Verão 96 57 a, b, d
Outono 127 68a, b, c , d
Inverno 151 99b, c , d
Primavera 138 71a, b, c , d
Total 512 295
b
Teste Binomial duas proporções: ocorrência a p>0,05 p < 0,05
d
Teste Binomial duas proporções: notificação/ocorrência c p>0,05 p < 0,05
Fonte: Elaborado pelo Autor

O teste estatístico aplicado na tabela 02 confirmou a existência de diferença


significativa na quantidade de ocorrências entre verão/inverno (p<0,0001), outono/inverno
(p=0,023) e inverno/primavera (p=0,0055), as diferenças nas ocorrências entre verão/outono,
verão/primavera e outono/primavera não foram significativas (p>0,05). Quando foi testada a
diferença entre notificações e ocorrências entre as estações esta diferença mostrou-se
significativa entre outono/inverno (p=0,02) e inverno/primavera (p=0,007). Estas diferenças
entre verão/outono, verão/inverno e verão/primavera foram significativas (p>0,05). Estes
resultados podem ser verificados também na figura 15.
A tabela 03 mostra a distribuição das notificações, das ocorrências e do rebanho
bovídeo por região no estado entre 2010 e 2016. Em relação às mesorregiões Feital e
Conafalonieri (1998) encontraram o maior numero de casos na região Metropolitana e no Sul-
Fluminense, lembrando que essa regionalização foi feita de acordo com a legislação vigente à
época dos levantamentos, o presente estudo mostrou que a maior concentração de ocorrências
de raiva foi na região do Médio Paraíba.

Tabela 03: Distribuição das notificações nas regiões de estado entre 2010 e 2016
Região Notificação Positivos % de positivos Negativos População media
Médio Paraíba 150 82 16,0 68 306.841
Noroeste Fluminense 142 71 13,9 71 480.738
Serrana 69 54 10,5 15 269.126
Centro-Sul Fluminense 50 37 7,2 13 140.244
Metropolitana 50 29 5,7 21 181.716
Norte Fluminense 36 18 3,5 18 613.536
Baixada Litorânea 15 4 0,8 11 189.197
Costa verde 0 0 0,0 0 12.592
Total 512 295 57,6 217 2.193.990

Fonte: Elaborado pelo Autor


41

O coeficiente de correlação linear (r=0.1390) demonstrou que a relação entre


concentração de população e numero de casos da doença apresentam baixa correlação e baixa
significância (p=0,3630), mostrando que o tamanho da população, neste caso de bovídeos,
não interfere na quantidade de casos da doença. Resultados semelhantes foram encontrados
por Dognani et al (2016) em seu estudo com dados do estado do Paraná e Lopes (2009) no
Mato Grosso.
No estado do Rio de Janeiro as regiões com maior número de ocorrências de raiva
em bovídeos não foram as que apresentaram maior concentração populacional (figura 16),
como exemplo disso pode-se tomar a região Norte Fluminense, que com rebanho médio no
período de 613.536 de cabeças apresentou 18 casos no período ao passo que a região do
Médio Paraíba, que apresentava um rebanho médio de 306.841 de cabeças, registrou 82
ocorrências. Esta baixa ocorrência na região Norte Fluminense pode ser atribuída à baixa
atratividade fisiográfica que a região oferece ao morcego, poucas elevações naturais e pouca
cobertura florestal.
Com base nos dados do período, os municípios foram organizados em: municípios
sem notificação e municípios com notificação, sendo que este segundo grupo foi subdividido
em: municípios com e sem ocorrência de raiva em bovídeos (tabela 04).

Figura 16: Numero de ocorrências e população média de bovídeos por mesorregião entre 2010 e 2016.
Fonte: Elaborado pelo Autor
42

Tabela 04: Classificação dos municípios quanto a notificação e ocorrência de raiva em bovídeos
Município Total %
Sem notificação 22 24%
Com notificação 70 76%
Com ocorrência 52 74%
Sem ocorrência 18 26%

Fonte: Elaborado pelo Autor

Durante o período estudado 76% dos municípios que compõem o estado (70/92),
apresentaram notificação de casos suspeitos da doença e 24 % (22/92) não tiveram registros
de suspeitas. Os municípios fluminenses que tiveram notificação com pelo menos um
resultado positivo para raiva ao longo do período estudado representaram 56,5% (52/92) e
19,5% (18/92) dos municípios não apresentaram nenhum caso da doença entre 2010 e 2016
(figura 17).

Figura 17: Distribuição da ocorrência da raiva no Rio de Janeiro no período de 2010 a 2016.
Fonte: Elaborado pelo Autor

A raiva encontra-se difundida pelo estado, atingindo 56,5% dos municípios (tabela
05) durante o período, a região com maior proporção de municípios atingidos foi a Serrana e a
mesorregião das Baixadas Litorâneas apresentou a menor proporção de municípios atingidos.
Assim como apontado no estudo de Dognani et al (2016) realizado no Paraná, a
doença se apresentou distribuída no estado com diferentes proporções de municípios atingidos
43

(p=0,0230), tendo a região Serrana a maior porcentagem de municípios afetados (85,7%) e a


região das baixadas litorâneas com apenas 10% de seus entes territoriais com registros de
raiva.
Tabela 05: Difusão da raiva por mesorregião, por município e ocorrência por região
Total de Municípios com % de municípios % de
REGIÃO
Municípios ocorrência* atingidos** Ocorrência**
Serrana 14 12 85,7% 10,5%
Noroeste Fluminense 13 11 84,6% 13,9%
Centro-Sul Fluminense 10 8 80,0% 7,2%
Médio Paraíba 12 9 75,0% 16,0%
Norte Fluminense 9 4 44,4% 3,5%
Metropolitana 21 7 33,3% 5,7%
Baixadas Litorâneas 10 1 10,0% 0,8%
Costa Verde 3 0 0,0% 0,0%
TOTAL 92 52 56,5% 57,6%

*Teste Mann-Whitney p=0,0230 **Teste: regressão linear simples p=0,0058 e R 2=0,7514


Fonte: Elaborado pelo Autor

A análise de regressão linear simples13 indica que existe relação entre a quantidade
de municípios afetados e o volume de ocorrências (figura 18), sendo que a região do Médio
Paraíba se apresenta como um ponto fora da reta por ter registrado 16% das ocorrências e não
ter a maior proporção de municípios atingidos.

Figura 18: Relação regional entre % de municípios atingidos e % de ocorrências

Fonte: Elaborado pelo Autor

13
Considerou-se a proporção de ocorrência como variável dependente e a proporção de municípios como
variável explicativa
44

4.2 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL E CLASSIFICAÇÃO DOS ABRIGOS DE MORCEGOS

No período estudado dos 355 abrigos de morcegos cadastrados junto à


Coordenadoria de Defesa Sanitária Animal, 56% (199/355) possuíam morcegos hematófagos
(D. rotundus), 40,3% (143/355) eram utilizados por outras espécies e 3,6% (13/355) dos
abrigos não traziam informação de que espécies os ocupavam (figura 19).
Uma proporção de 59% dos municípios (54/92) possuíam abrigos com morcegos
hematófagos, 4% (4/92) tinham abrigos utilizados por outras espécies de morcegos e 37% dos
municípios (34/92) não possuíam abrigos de morcegos cadastrados no Serviço Veterinário
Oficial.

Figura 19: Distribuição dos abrigos de morcegos no estado do Rio de Janeiro 2010 - 2016
Fonte: Elaborado pelo Autor

A distribuição dos abrigos cadastrados nas mesorregiões do estado (tabela 06) se


apresentou da seguinte maneira, região Serrana (109/355), Médio Paraíba (96/355), Noroeste
Fluminense (52/355), Metropolitana (39/355), Baixadas Litorâneas (29/355), Norte
Fluminense (16/355), Centro-Sul Fluminense (10/355) e a região com menor quantidade de
abrigos cadastrados é a Costa Verde (4/355).
45

Tabela 06: Mesorregiões com abrigos de morcegos com hematófagos, abrigos de morcegos sem hematófagos,
sem abrigos de morcegos e ocorrência da doença entre 2010 e 2016
Abrigos Ocorrência
Região Sem Com Sem Sem da
Cadastrados Artificiais Naturais Raiva
Informação Hematófagos Hematófagos informação
Serrana 109 57 52 0 46 61 2 54
Médio Paraíba 96 71 23 2 49 44 3 82
Noroeste Fluminense 52 24 28 0 32 19 1 18
Metropolitana 39 28 11 0 28 11 0 29
Baixada Litorânea 29 11 18 0 22 5 2 4
Norte Fluminense 16 7 9 0 12 1 3 71
Centro Sul Fluminense 10 9 0 1 6 2 2 37
Costa Verde 4 4 0 0 4 0 0 0
Total 355 211 141 3 199 143 13 295

Fonte: Elaborado pelo Autor

Os morcegos hematófagos podem utilizar abrigos naturais e/ou abrigos artificiais


(Brasil, 2009). Gomes et al (2007) mostraram em seu estudo no estado de São Paulo que 70%
dos abrigos de D. rotundus eram artificiais. Dos 355 abrigos, cadastrados na SEAPPA-RJ no
período estudado 59,4% (211/355) eram artificiais, 39,7% (141/355) eram abrigos naturais e
0,9% (3/355) não traziam a informações sobre o tipo de abrigo no formulário de cadastro.
Quanto a ocupação dos abrigos foi constatado que 56% (199/355) eram ocupados
por morcegos hematófagos, 40,3% (143/355) eram ocupados por espécies não hematófagas e
3,7% (13/355) não traziam informações a respeito do tipo de ocupação.
Dos abrigos que continham D. rotundus 56,3% (112/199) era composto por abrigos
artificiais, que são edificações de uma maneira geral e 43,7% (87/199) dos abrigos eram
naturais como grutas e fendas em rochas (tabela 07).
A região com maior número de abrigos com morcegos hematófagos foi a do Médio
Paraíba (49/199), seguida pela Serrana (46/199). Após estas regiões vêm, respectivamente,
Noroeste Fluminense (32/199), Metropolitana (28/199), Baixadas Litorâneas (22/199), Norte
Fluminense (12/199), Costa Verde (4/199) e Centro-Sul Fluminense (6/199).
Em seu artigo Dognani et al (2016) sugerem que o mosaico de ocorrência da raiva no
estado do Paraná guardaria relação com condições que facilitassem a fixação dos morcegos,
apontando que as regiões onde houvesse a maior concentração de abrigos apresentariam o
maior volume de ocorrências.
46

No estado do Rio de Janeiro esta tendência também foi percebida (tabela 07) durante
o período estudado, indicando que 58,94% das ocorrências se deveram à presença de abrigos
com morcegos hematófagos e que há grande significância nesta relação.

Tabela 07: Mesorregiões com abrigos de morcegos com hematófagos tipo de abrigo, ocorrência da doença e
rebanho médio regional entre 2010 e 2016
Abrigos com Ocorrência da Abrigos
Região Abrigos Naturais
hematófagos* doença* artificiais
Médio Paraíba 49 82 38 11
Serrana 46 54 23 23
Noroeste Fluminense 32 71 10 22
Metropolitana 28 29 18 10
Baixas da Litorâneas 22 4 8 14
Norte Fluminense 12 18 5 7
Centro Sul Fluminense 6 37 6 0
Costa Verde 4 0 4 0
Total 199 295 112 87

*Teste de correlação (p=0,0261 e R²=0,5894)


Fonte: Elaborado pelo Autor

Este grande numero de abrigos artificiais usados pelo morcego indicam que de fato, a
ação antrópica tem grande importância na epidemiologia da doença podendo inclusive, como
dito por Gonçalves14 et al (1996 apud Gomes et al, 2007 ), fazer com que o D. rotundus se
instale em locais que não seriam seu habitat preferencial.
Outros fatores como imunidade dos animais em períodos de seca, ausência de
vacinação, não utilização de pasta vampiricida em animais espoliados podem ser apontados
como contribuição à ocorrência da doença independente da existência de registro de abrigos
de morcegos hematófagos.

4.3 INDICADORES PARA AS AÇÕES

Com base nos fatores relacionados à caracterização de áreas de risco, tais como:
receptividade (abrigo natural ou artificial e fontes de alimento) vulnerabilidade (fatores
relacionados com a capacidade de ingresso do transmissor em uma área e à circulação viral)
(Brasil, 2009), foi possível sugerir indicadores para auxiliar as ações de controle da raiva no
âmbito do PCNRH no estado do Rio de Janeiro.

14
Gonçalves C.A. 1996. Controle de populações de morcegos hematófagos no estado de São Paulo. Bolm Inst.
Pasteur 2:45-49.
47

Não foi a proposta deste trabalho caracterizar áreas de risco, mas o conhecimento dos
fatores foi o ponto de partida para estabelecer indicadores baseados nas informações
disponíveis.
A partir da análise dos indicadores como: presença ou ausência de notificações de
suspeitas de ocorrência de raiva em bovídeos, os resultados dos laudos laboratoriais destas
notificações, a existência de abrigos cadastrados nos municípios e a presença ou não de
morcegos hematófagos nestes abrigos os municípios puderam ser divididos em grupos com
similaridade de condições (quadro 01). Os municípios pertencentes a cada grupo encontram-
se listados no quadro 02.
As ações propostas com base nos indicadores elencados são: ações de educação
sanitária (AEDS), atividades de vigilância ativa (AVA), captura de morcegos (CAP), cadastro
de abrigos (CAB) e monitoramento de abrigos (MAB).

Quadro 01: Indicadores situacionais para as ações de controle da raiva no âmbito do PCNRH
Grupo de
Indicadores Municípios Estratégia de ação
municípios
Sem notificação de suspeitas, presença de bovídeos no
Grupo 01 território, presença de abrigos cadastrados com 10 AEDS, AVA, CAP , MAB
hematófagos.
Sem notificação de suspeitas, presença de bovídeos no
Grupo 02 território, ausência de abrigos cadastrados com 14 AEDS, MAB, AVA
hematófagos.
Notificações positivas para raiva, presença de
Grupo 03 bovídeos no território, presença de abrigos cadastrados 38 AEDS, MAB, CAP, AVA
com hematófagos.
Notificações positivas para raiva, presença bovídeos
Grupo 04 no território, sem presença de abrigos cadastrados com 4 AEDS, CAB, AVA
hematófagos.
Notificações positivas para raiva, presença bovídeos
Grupo 05 10 AEDS, AVA, CAB
no território, sem abrigos cadastrados.
Notificações negativas para raiva, presença bovídeos
Grupo 06 no território, presença de abrigos cadastrados com 6 AEDS, MAB, CAP
hematófagos.
Notificações negativas para raiva, presença bovídeos
Grupo 07 6 AEDS, AVA, CAB
no território, sem abrigos cadastrados.
Grupo 08 Ausência de bovídeos no território. 4 AEDS

Fonte: Elaborado pelo Autor

Todos os dados do presente estudo são baseados nos registros oficiais, ou seja, casos
notificados que foram submetidos aos devidos procedimentos laboratoriais para confirmação
ou não da ocorrência de raiva.
48

Quadro 02: Listagem dos municípios por classe


Grupo de % de
Municípios
municípios municípios
Angra do Reis, Carmo, Cordeiro, Itaboraí, Itatiaia, Japeri, Nova Iguaçu, Pinheiral,
Grupo 01 11%
Quissamã, Saquarema
Belford Ro xo, Cabo Frio, Carapebus, Conceição de Macabu, Engenheiro Paulo de
Grupo 02 Frontin, Iguaba Grande, Italva, Mangaratiba, Niteroi, Paraty, Porto Real, Queimados, 15%
São Gonçalo, São Pedro D'aldeia
Aperibé, Barra do Pirai, Barra Mansa, Bom Jardim, Cambuci, Campos dos
Goytacazes, Cantagalo, Cardoso Moreira, Duas Barras, Itaguaí, Itaocara, Itaocara,
Laje do Muriaé, Miracema, Natividade, Nova Friburgo, Paracambi, Paraíba do Sul,
Grupo 03 Petrópolis, Piraí, Porciúncula, Quatis, Resende, Rio Claro, Rio das Flores, Rio de 41%
Janeiro, Santa Maria Madalena, Santo Antônio de Pádua, São Fidelis, São Jose de
Ubá, São José do Vale do Rio Preto, São Sebastiao do Alto, Seropédica, Silva Jardim,
Teresópolis, Trajano de Moraes, Valença, Varre Sai, Vassouras

Grupo 04 Itaperuna, Macaé, Três Rios, Volta Redonda 4%


Areal, Bom Jesus do Itabapoana, Cachoeiras De Macacu, Comendador Levy
Grupo 05 11%
Gasparian, Guapimirim, Macuco, Magé, Miguel Pereira, Paty do Alferes, Sapucaia
Araruama, Casimiro de Abreu, Duque de Caxias, Rio Bonito, São Francisco de
Grupo 06 7%
Itabapoana, Sumidouro
Grupo 07 Armação dos Búzios, Maricá, Mendes, Rio Das Ostras, São João da Barra, Tanguá 7%

Grupo 08 Arraial do Cabo, Mesquita, Nilópolis, São João de Meriti 4%

Fonte: Elaborado pelo Autor

Figura 20: Agrupamento de municípios.


Fonte: Elaborado pelo Autor
49

A figura 20 mostra a distribuição dos grupos no estado do Rio de Janeiro, nota-se


que o grupo 03 apresentava a maior distribuição territorial, com 41% dos municípios (38/92).
Os munícipios dos grupos 04 e 08 tiveram a menor representatividade no estado, vale
considerar que apenas os do grupo 08 não apresentam bovídeos em seu território. À medida
que as ações estratégicas forem sendo aplicadas é esperado que ocorram mudanças de
composição dos grupos.

4.4 ERROS DE GEOLOCALIZAÇÃO

Algumas notificações não traziam informações de coordenada no laudo e/ou no


FORM-IN e para esses casos foram realizadas consultas ao Sistema de Integração
Agropecuária (SIAPEC)15, para apuração das coordenadas das propriedades onde ocorreram
as notificações. Também foram realizadas consultas aos próprios núcleos de defesa. Estas
consultas sanaram boa parte das ausências de coordenadas, mas ainda assim das 666
notificações iniciais 3,75% (25/666) permaneceram sem os dados geográficos, restando 641
notificações espacializáveis.
Quando as notificações foram espacializadas identificou-se erros de posicionamento
dos respectivos pontos. Algumas notificações traziam coordenadas que as colocavam fora do
território fluminense. Das 641 notificações que traziam informação de posicionamento
espacial, 5,40% (35/641) estavam com erro de coordenada (figura 21). Após eliminar os
pontos com erros de espacialização restaram 606 notificações, relativas a herbívoros,
geoespacializáveis (figura 22).
O programa de georreferenciamento usado neste trabalho, o QGIS, permitiu
identificar os pontos errados e visualizar as informações pertinentes às notificações que se
encontravam dentro do território a fim de verificar se, por exemplo, se tratava de um caso
positivo para a doença e se a notificação estava plotada no mesmo município de registro ou
em outro local (figura 23).

15
Software de código fechado utilizado pela Defesa Agropecuária da Secretaria de Estado de Agricultura,
Pecuária, Pesca e Abastecimento do Rio de Janeiro (SEAPPA-RJ) para gerenciamento da atividade agropecuária
no estado
50

Figura 21: Geolocalização das notificações de suspeitas de raiva em herbívoros.


Fonte: Elaborado pelo Autor

Figura 22: Geolocalização das notificações ajustadas no QGIS .


Fonte: Elaborado pelo Autor
51

Figura 23: Imagem da tela do QGIS com seleção do ponto desejado e detalhe das informações do ponto.
Fonte: Elaborado pelo Autor

Os erros de posicionamento, em geral, se deveram a motivos como erro de


calibragem do aparelho de GNSS, uso de DATUM16 errado, falta de conhecimento
procedimentos de leitura e de uso dos aparelhos de GNSS, ou ainda podem haver erros na
transcrição das informações do aparelho para o formulário próprio. De qualquer forma, na
maioria das vezes, está relacionado ao fator humano.
Todo o erro de posicionamento é indesejável, mas os erros de geolocalização
ocorridos em focos de raiva trazem grandes problemas para as ações de controle, pois
dificultam localizar, com base em bancos de dados georreferenciados, a presença de abrigos
com hematófagos e outras propriedades que estejam dentro da área focal.
A análise geoespacial mostrou que das 512 notificações de suspeita de síndrome
nervosa em bovídeos feitas durante o período de estudo e que traziam coordenadas
geográficas, 40 apresentavam erro de geolicalização que as colocavam fora do estado,
fazendo com que o numero de pontos que de fato estavam dentro do território fluminense
caísse para 472, uma perda de 7,8% dos dados.

16
DATUM- palavra oriunda do latim que significa detalhe, em cartografia se refere ao modelo matemático
teórico da representação da superfície da Terra ao nível do mar utilizado numa dada carta ou mapa
52

Estes 472 pontos referentes à notificações envolvendo bovídeos foram submetidos à


avaliação de geolocalização, utilizando técnicas de seleção por atributos para montar o
shapefile17 que contivesse apenas estas notificações.
Foi constatado que 58 pontos apresentaram erro de localização, pois estavam
plotadas fora do município onde estavam registradas (figura 24).

Figura 24: Geolocalização das notificações relacionadas a bovídeos.


Fonte: Elaborado pelo Autor

As posições com erros se encontravam distribuídas em 23 municípios e


representavam 22,1% do total de notificações registradas nestes entes territoriais (tabela 08).
Os registros eram relativos tanto a laudos positivos (33/58) quanto a laudos negativos (25/58).
Estes erros variaram de 5,9% das notificações como no caso do município de Teresópolis,
podendo chegar a 100% das notificações como ocorreu nos municípios de São Jose de Ubá,
Tanguá e Volta Redonda.

17
É o nome dado ao arquivo que contém dados geoespaciais em forma de vetor usado por Sistemas de
Informações Geográficas para descrever geometrias de: pontos, linhas, e polígonos.
53

Tabela 08: Erros de localização em relação às notificações em municípios nos anos de 2010 a 2016

Erros de Erros de Total de


Total de % de erro de
Município posição em posição em notificações com
notificações notificação
positivos negativos erro de posição

Barra do Piraí 20 1 1 2 10.0%


Barra Mansa 11 1 2 3 27.3%
Duas Barras 9 3 0 3 33.3%
Itaguaí 2 0 1 1 50.0%
Itaperuna 14 5 7 12 85.7%
Macuco 2 1 0 1 50.0%
Magé 11 2 3 5 45.5%
Miguel Pereira 4 2 1 3 75.0%
Paraíba do Sul 12 1 0 1 8.3%
Paty do Alferes 11 1 0 1 9.1%
Piraí 13 0 1 1 7.7%
Resende 6 0 1 1 16.7%
Rio Claro 14 2 2 4 28.6%
Rio das Flores 25 2 1 3 12.0%
Rio de Janeiro 7 1 0 1 14.3%
Santo Antônio de Pádua 24 0 2 2 8.3%
São Jose de Ubá 2 2 0 2 100.0%
Sumidouro 2 0 1 1 50.0%
Tanguá 1 0 1 1 100.0%
Teresópolis 7 2 0 2 28.6%
Valença 51 2 1 3 5.9%
Varre-Sai 13 4 0 4 30.8%
Volta Redonda 1 1 0 1 100.0%
Total 262 33 25 58 22.1%

Fonte: Elaborado pelo Autor

A aplicação da análise geoespacial demonstrou que das 512 notificações de suspeita


de síndrome nervosa em bovídeos 19% (98/512) apresentavam erros de geolocalização.
Assim sendo apenas 414 notificações poderiam ser aproveitadas para a elaboração de analises
e estratégias com base em geoprocessamento.
54

5. CONCLUSÃO

Do trabalho desenvolvido conclui-se que:


1. Durante o período estudado a raiva apresentou-se amplamente distribuída no estado do
Rio de Janeiro, com ocorrência em 56,5% dos municípios mostrando que a doença é
endêmica no estado.

2. Entre os anos de 2010 e 2016 tanto o volume de notificações quanto o numero de


casos sofreram reduções. Os testes estatísticos mostraram que a redução das
ocorrências foi afetada por fatores que não influenciaram a redução das notificações.

3. A quantidade de abrigos artificiais com morcegos hematófagos mostrou que ação


antrópica é responsável por fornecer 56,2% dos abrigos usados por morcegos
hematófagos no estado, e a presença dos abrigos responde por 58,9% das ocorrências
da doença.

4. É de suma importância o desenvolvimento de trabalhos continuados de educação


sanitária com atores envolvidos com a problemática da síndrome nervosa (produtores,
veterinários autônomos e estruturas de saúde) para que ocorra a redução das
subnotificações, alertando-os e sensibilizando-os quanto a importância da pronta
realização da notificação de qualquer caso suspeito da doença ao SVO.

5. A associação entre as informações de caráter zoosanitário e os métodos de análise


espacial e de representação gráfica permite visualizar a distribuição da doença e
formular ações de prevenção e controle. Porém é imperativo que o aspecto de
geoinformação seja o mais preciso possível e para tanto é essencial que haja
capacitações periódicas nas técnicas e procedimentos de construção destas
informações.
55

6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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