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ESTRATÉGIAS

PARA AUMENTAR
A DETECÇÃO DE CIO NAS FAZENDAS
INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL
O sucesso da atividade leiteira passa pela maximização
da eficiência reprodutiva, levando ao aumento da
eficiência produtiva e alimentar das vacas, uma vez
que ao elevar os indicadores reprodutivos, é possível
aumentar a proporção de vacas em fases iniciais da
lactação, onde não só a produção de leite é maior, mas
também o retorno sobre o custo alimentar é maximizado.
Desta forma, toda propriedade deve dar foco em pelo
menos 3 aspectos. O primeiro é maximizar a taxa de
serviço, que em outras palavras significa inseminar
mais vacas a cada intervalo de 21 dias. Um segundo
objetivo é aumentar a taxa de concepção do rebanho.
E, por último, reduzir as perdas gestacionais. O objetivo
deste texto é discutir as dificuldades da observação de
cio e estratégias para se maximizar a taxa de serviço.
O que é o cio?
O cio ou estro consiste no período do ciclo estral Com a ovulação, tem-se início o desenvolvimento do
no qual a fêmea apresenta sinais de receptividade corpo lúteo (CL) que é a estrutura responsável por
sexual (aceitação de monta), seguida de ovulação. O produzir progesterona e manutenção da gestação.
ciclo estral dos bovinos tem duração aproximada de Uma vez que esse CL se encontra maduro tem-se
21 dias e pode ser dividido didaticamente em quatro início a fase de diestro, que é a mais duradoura do

fases: proestro, estro, metaestro e diestro. O período ciclo e caracterizada por elevadas concentrações de

do proestro tem início com a luteólise e é o período progesterona.

que antecede a aceitação de monta, caracterizado Em determinado momento do ciclo estral, caso não
pela queda da concentração de progesterona e exista presença de um concepto em desenvolvimento
crescimento final do folículo ovulatório. No estro, a ou no caso de quaisquer falhas na comunicação
vaca aceita a monta e a concentração de estradiol entre o embrião e a vaca, ocorrerá a liberação
circulante na corrente sanguínea é alta, já as pulsátil de prostaglandina levando a lise do CL e
concentrações de progesterona são muito baixas. consequentemente retorno ao cio.
Entretanto, um questionamento comum é:

Se essa vaca não emprenhou, por que


não demonstrou cio novamente?

Muitos trabalhos têm mostrado taxas de fecundação de gestação aos 30 dias podiam estar gestantes alguns
de aproximadamente 80 a 90% em vacas leiteiras, o dias atrás e, por alguma razão, perderam a gestação.
que significa que grande parte das vacas se torna É importante a reflexão sobre esse aspecto. Sendo
gestante após uma inseminação artificial. Porém, assim, muitas vezes algumas vacas que se esperava
parte delas perde essa gestação, uma vez que em que retornassem em cio no dia 21, podem não ter
situações favoráveis, a taxa de concepção aos 30 dias manifestado estro pelo simples fato de estarem
tem se aproximado dos 40 a 45%. Dessa forma, fica gestantes naquele momento, além disso vale dizer que
claro que as perdas gestacionais nos primeiros 30 muitas vacas expressam sinais de cio pouco intensos
dias são bastante elevadas, em torno de 50%. Assim, de difícil visualização e muitas vezes em períodos onde
muitas das vacas encontradas vazias no diagnóstico não há ninguém observando os animais.
Como identificar a
vaca em cio? Quais
sinais observar?
Existe um conjunto de comportamentos característicos
que o animais manifestam durante o cio, sendo
importante que o colaborador responsável pela
observação de cio conheça tais comportamentos para
que redobre sua atenção quando o animal manifestar
um ou mais destes sinais.

De modo geral, o principal sinal de cio é a aceitação


de monta, porém sinais como inquietude, micção
frequente, contato de cabeça com cabeça, tentativas
de monta, agitação e pressionar a cabeça na garupa de
outro animal são frequentes de serem observados em
animais em cio.
Associado a essas alterações comportamentais estão No entanto, uma série de limitantes nesse processo
as mudanças anatômicas do aparelho reprodutivo da que deve ser pensada ao se definir a estratégia para se
fêmea. Dentre elas, as principais são: o edema da vulva, identificar as vacas em estro.
avermelhamento da vagina e presença de corrimento
A maior produção de leite tem reduzido a duração e a
mucoso pela vagina.
intensidade de manifestação de sinais de estro pela maior

A forma clássica de identificação de animais em cio metabolização de hormônios esteróides pelo fígado. Vacas

é por meio da observação visual da aceitação de que produzem mais leite apresentam maior consumo de

monta. matéria seca, o que eleva o fluxo sanguíneo para o fígado


aumentando o metabolismo de hormônios esteróides.
Além disso, há uma proporção de vacas que manifestam
sinais do cio durante a noite, período em que não há
ninguém observando o cio.

Com o objetivo de contornar esses e outros desafios da


observação de cio, uma série de ferramentas auxiliares
vem sendo desenvolvidas, buscando maximizar as taxas de
serviço. Algumas delas serão discutidas no tópico abaixo.
Ferramentas
Auxiliares
A raspadinha é um dispositivo semelhante a uma
raspadinha de loteria, que é colada na base da
cauda do animal. No momento em que o animal
é montado, a tinta da tira adesiva é removida, o
que torna possível identificar que o animal aceitou
a monta. Uma grande vantagem da utilização Algumas fazendas que utilizam da Inseminação
dessa ferramenta é identificar os animais que Artificial em Tempo Fixo (IATF) a tem utilizado em
manifestaram cio durante a noite ou em momentos vacas entre 18 e 24 dias de inseminadas, para auxiliar
sem algum responsável presente. Um ponto a ser na identificação do retorno ao cio. Outro exemplo
analisado é o valor pago pelo dispositivo. Como comum da sua utilização é em novilhas, por auxiliar
qualquer outra ferramenta é passível de erros, por a observação de cio sem a necessidade de deslocar
isso é importante ter conhecimento a cerca dos todos animais diariamente ou visualizar a aceitação de
demais sinais de cio que o animal demonstra. monta.
Medidores de atividade
Os medidores se baseiam no princípio, de que as vacas em estro aumentam a quantidade de passos e de atividade
durante a fase de receptividade sexual. Além disso, alguns desses medidores atualmente conseguem realizar outras
funções como identificar possíveis animais doentes e avaliar estresse térmico.

O sistema capta os sinais de atividade, ruminação e ofegação da vaca. Os pedômetros são equipamentos acoplados
a um dos membros do animal, que monitoram a quantidade de passos da vaca. Vacas em cio se movimentam mais e,
consequentemente, o pedômetro registra um aumento do número de passos.
O bastão
marcador é uma
Consiste em pintar a base da cauda do animal
e observar se o bastão passado foi apagado,
indicando que o animal aceitou monta. Esse

ferramenta manejo é realizado geralmente, após a ordenha,


na saída dos animais, aproveitando a passagem

simples, barata,
pelos currais e evitando manejos adicionais.
Fazendas que possuem canzis conseguem
realizar esse manejo no momento da alimentação

eficiente e dos animais. De modo geral, as fazendas pintam


todas as vacas em lactação com o objetivo de

muito utilizada facilitar o manejo, porém, essa decisão compete


a fazenda e a sua estrutura disponível para isso.

atualmente.
Uma vez que as vacas foram pintadas, aqueles animais sem a tinta na base da cauda deverão ser avaliados e a decisão de
inseminá-los ou não, deve ser tomada. Vacas sem a tinta que estejam repetindo o cio no intervalo de 18 a 24 dias após
uma inseminação prévia, muito provavelmente estão em cio e devem ser inseminados. Porém, no caso de animais
que estejam repetindo cio em qualquer outro intervalo, outros sinais podem ser encontrados, como a presença de
marcas de aceitação de monta, ralados na garupa, presença de muco, aspecto da vulva e da vagina, presença de tinta
nas proximidades do peito do animal, uma vez que essa vaca pode ter montado outras vacas, dentre outros. É também
interessante notar, que alguns animais em estro apresentam um reflexo de abaixar a garupa quando são pintados na base da
cauda. Os critérios para a decisão de inseminar ou não a vaca devem ser avaliados em cada fazenda.
Uma dica interessante é pintar o número do dia em que a vaca foi inseminada na garupa dos animais. Isso facilita ao responsável
do manejo, identificar quantos dias o animal tem de inseminado. Além disso, para um eficiente funcionamento da ferramenta
é fundamental o acesso a uma listagem semanal atualizada com as informações reprodutivas de cada vaca. Com base nessas
informações, na observação do bastão e de outros sinais de cio, o responsável irá decidir se o animal deve ser inseminado ou não.

Nas fazendas assistidas pelo Rehagro, que adotaram o uso dessa ferramenta, houve aumento de até 20 pontos percentuais
na taxa de serviço. Ao aumentar a taxa de serviço, ocorre redução do DEL médio do rebanho e, consequentemente, aumento
da produção de leite e maior nascimento de fêmeas na fazenda.

Agora que já sabemos a importância e a necessidade de ter boa observação de cio em fazendas leiteiras, os principais entraves
e as ferramentas capazes de auxiliar a superar os desafios citados, vem a última pergunta:
Como monitorar a eficiência
na observação de cio?
É simples. O indicador utilizado para demonstrar os resultados alcançados em observação de cio é a taxa de serviço.
Este mede o número de vacas inseminadas em relação ao número de vacas aptas a cada intervalo de 21 dias. A quantidade
de vacas aptas do rebanho é um número dinâmico que muda diariamente, tornando-se importante a utilização de um
software que permita avaliação desse indicador de forma agil e precisa. Deve-se buscar taxas de serviço acima de 65%, o
que em outras palavras, significa inseminar 65% das vacas que podem ser inseminadas a cada intervalo de 21 dias. Para
isso, é essencial a adoção de ferramentas auxiliares.

65%
CONCLUSÃO
Por meio da reprodução é possível ter mais vacas em fases iniciais da
lactação, onde não só a produção de leite é maior, mas também o
custo alimentar das vacas é menor. Sendo assim, é fundamental que as
fazendas maximizem a eficiência reprodutiva, de forma a produzir mais
leite à custos competitivos. Uma forma de conseguir esses resultados
é por meio da maximização da taxa de serviço.
Autores
Guilherme Corrêa Pontes
Médico Veterinário, formado pela UFMG. Especialista em reprodução de bovinos leiteiros Rehagro/FAZU. Mestre em
ciência animal e pastagens pela ESALQ/USP, com foco em Reprodução de Bovinos. Atua no grupo Rehagro desde 2008.

Rafael Santana Ferraz


Médico Veterinário, formado pela UFMG. Mestrando em ciência animal área de clínica e cirurgia pela UFMG. Especialista
em pecuária leiteira pelo Rehagro. Atua no grupo Rehagro desde 2014.

Daniel Campos Escarce


Médico Veterinário, formado pela UFMG. Atua no grupo Rehagro desde 2015.

Gustavo Rafael de Oliveira Silva


Medico veterinário formado, pela UFLA. Mestre em produção animal, com foco em custo de produção de leite pela UFLA.
Atua no grupo Rehagro desde 2012.

Bruno Marinho Mendonça Guimarães


Médico Veterinário, formado pela PUC Minas. Técnico em Agropecuária pela UFV. Atua no grupo Rehagro desde 2019.
Referências
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rehagro

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