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ESCOLA DE CURSOS ONLINE


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MATERIAL DO CURSO

AUXILIAR VETERINÁRIO - CUIDADOS COM EQUINOS

APOSTILA
REPRODUÇÃO EM EQUINOS
REPRODUÇÃO EM EQUINOS

A indústria equina mundial exerce importante papel como fonte geradora de renda e
empregos. Em nosso país, o rebanho efetivo é de cerca de 8,5 milhões de equinos e
1,2 milhões de muares e jumentos. A equideocultura no país é responsável pela
geração de 600 mil empregos diretos e 3,2 milhões de empregos indiretos (CNA,
2006). Não há equideocultura sem reprodução, por isso a importância da mesma na
criação de equinos.

A espécie equina apresenta algumas peculiaridades em relação às demais espécies


domésticas, apresentando baixo índice de fertilidade (SULLIVAN et al, 1975;
VOSS,1993) e sendo pouco prolífica. Como fatores que corroboram esse fato, pode-
se citar a reprodução apenas ao redor dos 3 anos, 11 meses de gestação, apenas
um produto por gestação e a ocorrência comum de reabsorção e abortos,
ultrapassando 15% em alguns casos. Em parte, a dificuldade de emprenhar e levar a
gestação à termo se deve à pouca seleção para fertilidade na espécie, pois os
animais vencedores de competições e provas é que são escolhidos para a
reprodução, por mais que sejam subférteis.

É essencial lembrar que cada animal do plantel é registrado com nome e número,
tendo um valor e tratamento individual. Cada potro é muito importante para o criador.
Outra característica da reprodução em equinos é o uso de técnicas avançadas de
forma corriqueira, como o uso de ultrassonografia (US) no acompanhamento dos
folículos ovarianos, determinando o momento exato da ovulação, inseminação
artificial (IA) com sêmen resfriado ou congelado, transferência de embrião (TE). É
preciso profissionais capacitados para trabalharem com reprodução de equinos.

ANATOMIA E FISIOLOGIA

O sistema genital da égua é composto por 2 ovários, 2 ovidutos (composto por


fímbrias, infundíbulo, ampola e istmo), 2 cornos uterinos, corpo do útero, cérvix,
vagina e vulva. A glândula mamária também faz parte do sistema reprodutivo.
O sistema genital do garanhão é composto pelos testículos, epidídimo, canal
deferente, uretra (pélvica e peniana), pênis e prepúcio. O garanhão possui três
glândulas acessórias importantes: as vesículas seminais, com função de produzir a
maior parte do sêmen, servindo para o transporte e nutrição dos espermatozoides; a
próstata, com função de neutralizar o pH ácido da vagina; e as glândulas
bulbouretrais, que limpam a uretra e ao final da ejaculação secretam uma espécie de
“tampão”, que é espermicida e serve para dificultar a fecundação por outros machos.

No macho, a produção de espermatozoides se dá com a produção de GnRH


(hormônio liberador de gonadotrofina) pelo hipotálamo, que atua na hipófise
provocando a liberação de LH (hormônio luteinizante) e FSH (hormônio estimulante
do folículo). O LH vai atuar nas células de Leydig, estimulando a produção de
testosterona, enquanto que o FSH irá atuar nas células de Sertoli, que liberam
proteínas importantes na produção e diferenciação dos espermatozoides. A
testosterona é responsável pelo comportamento de garanhão, libido, e manutenção
dos caracteres sexuais secundários.

Na fêmea, é fundamental para a estimulação do hipotálamo que haja diminuição da


produção de melatonina pela glândula pineal, em resposta ao aumento da
luminosidade e fotoperíodo. Portanto, a égua é considerada poliéstrica estacional de
primavera/verão. O hipotálamo secreta GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina),
que atua na hipófise provocando a liberação de LH (hormônio luteinizante) e FSH
(hormônio estimulante do folículo). O FSH atua estimulando o desenvolvimento dos
folículos ovarianos, que abrigam os oócitos. Os folículos produzem estrogênio, de
acordo com seu tamanho, sendo que o pico de estrogênio coincide com o
desenvolvimento máximo do folículo, próximo da ovulação, provocando o cio. O
estrogênio é responsável pelo comportamento sexual na fêmea e manutenção dos
caracteres sexuais secundários. O LH atua no corpo hemorrágico (formado no
ovário após a ovulação do folículo), estimulando a produção de progesterona. A
progesterona é o principal hormônio responsável pela manutenção da gestação.

Tanto no macho quanto na fêmea, esses sistemas são regulados principalmente por
feedback (retroalimentação).

MANEJO REPRODUTIVO

O garanhão ideal seria aquele com 3 anos ou mais, com bom temperamento,
saudável, com aparelho reprodutor funcional, apresentando sêmen de qualidade
(análise quantitativa e qualitativa), boa genética e morfologia e com bom
desempenho competitivo.

A égua ideal entraria na reprodução a partir dos 3 aos 5 anos, tendo de preferência
18 anos no máximo, saudável, aparelho reprodutor funcional e boa conformação de
vulva, boa habilidade materna, boa genética e morfologia e bom desempenho
competitivo.

Mesmo que ambos os reprodutores sejam bons animais, é preciso ver se o


acasalamento é indicado. Os animais devem ser semelhantes quanto ao porte e
morfologicamente, evitando endogamia (incesto). Se produto anterior for bom, é
recomendado repetir o cruzamento. Se dentro da raça houver uma pelagem mais
valorizada, é importante procurar conhecer a genética de pelagens de forma a
aumentar a probabilidade de se obter o animal desejado. Deve-se evitar
cruzamentos conhecidamente perigosos, como Overo x Overo dentro da raça Paint
Horse, pois a chance de se obter um produto portador do gene branco letal é muito
alta.

A estação de monta nos equinos vai de setembro a fevereiro na maioria das raças,
que é exatamente onde ocorre a maior parte dos cios férteis. No caso do puro
sangue inglês (PSI), a estação de monta se inicia em 15 de agosto indo até 15 de
janeiro, para acompanhar o calendário das corridas. Os cavalos fazem “aniversário”
todos ao mesmo tempo quando o ano muda, independente do mês de nascimento,
isso é chamado de ano hípico. Isso quer dizer que dois potros podem competir
juntos na mesma categoria mesmo tendo meses de diferença. Por isso é tão
importante na equideocultura obter potros “do cedo”, ou seja, aqueles que nascem
de éguas cobertas logo no início da estação de monta. Além dos produtos terem
vantagem de desenvolvimento sobre os concorrentes, a égua possui mais tempo
para emprenhar antes que a estação de monta acabe.

As éguas são poliéstricas estacionais de primavera/verão, isso é, apresentam vários


cios mas somente em uma época do ano, nas estações mais quentes. Para que a
égua entre no cio, é essencial que ela tenha idade adequada e boa condição
nutricional, além da presença de fotoperíodo longo (16h/dia) e temperaturas mais
quentes. Essas condições estão interrelacionadas, pois é exatamente quando os
dias se tornam mais longos e a temperatura aumenta que a pastagem se torna mais
exuberante, melhorando o escore nutricional dos animais que tiverem acesso à ela.
Em haras onde as éguas estão com dificuldade de entrar no cio, pode-se
estabelecer um programa de luz (20wts/m2) nas cocheiras, a fim de completar as 16
horas de luminosidade necessárias por dia. A estabulagem à noite também evita que
as éguas passem frio, o que também é desfavorável ao estro. Esses programas
devem começar meses antes da estação de monta para serem efetivos. Pode ser
necessário suplementar a alimentação com concentrados se o escore corporal das
reprodutoras não for adequado. Se mesmo assim houver problemas e parte das
éguas não apresentar cio, é necessário acompanhamento veterinário.

O ciclo estral nas éguas dura de 20 a 23 dias, com média de 21 dias. As fases são o
Proestro (preparação para o estro), Estro (5-8 dias – influência do estrógeno),
metaestro (fase de transição) e diestro (15-17 dias – influência da progesterona).
Fora da estação de monta, a maioria das éguas entra em anestro, com exceção
daquelas em áreas tropicais com luminosidade e calor durante todo o ano. As éguas
ovulam 24-48 horas antes do final do cio (pico de LH).

Cio do Potro: cio que ocorre de 5 a 9 dias após o parto, e possui a função fisiológica
de “limpar” o útero e provocar a involução do mesmo, pois com a presença de
estrogênio aumenta a irrigação sanguínea, trazendo mais células de defesa e
preparando assim o útero para uma nova gestação dali a 21 dias. Porém, dentro de
uma visão comercial, normalmente esse cio é utilizado para a cobertura da égua, a
fim de emprenhá-la o quanto antes. O correto seria avaliar os animais caso a caso e
nunca cobrir ou inseminar éguas que sofreram dificuldades no parto ou cujos úteros
ainda não regrediram.

A detecção do cio é de extrema importância, para identificar o momento correto para


a cobertura. Algumas éguas apresentam o chamado “cio silencioso”, que é quando
elas não demonstram sinais típicos de cio. Nesses casos, se faz o acompanhamento
folicular para se determinar o momento da cobertura. Além do controle folicular, a
rufiação é muito utilizada para se determinar quais éguas estão no cio. O animal
para rufiação é um garanhão apto à reprodução e deve ser calmo e experiente. Não
se usam fêmeas androgenizadas ou modificações cirúrgicas como desvio de pênis
em equinos. Pode-se utilizar a observação do temperamento da égua no cio e
acompanhamento do ciclo estral para auxiliar na identificação, mas esses dados não
devem ser observados isoladamente.

Os sinais de que a égua está no cio são: inquietação, égua se torna indócil,
temperamental, relincha, apresenta hiporexia. Na presença do reprodutor, ela se
aproxima/permite aproximação; apresenta orelhas eretas, olhos brilhantes; eleva a
cauda, deslocando para o lado; assume posição receptiva, afastando os membros
posteriores; micção frequente; vulva edemaciada e hiperêmica; contração e abertura
da vulva (“piscando”); sinais se tornam mais claros com o avanço do cio.

Para cobrir a égua, é preciso ter certeza de que ela está no cio (rufiação/controle
folicular), caso contrário além do desperdício de sêmen ou desgaste do garanhão
ela poderá desenvolver lesões e infecção uterina, pois a cérvix estará fechada e o
endométrio com poucas células de defesa. Se a égua for rufiada diariamente, cobrir
48h após a identificação do cio, se rufiada em dias alternados, cobrir 24 horas após
a identificação. Deve-se repetir a cobertura ou inseminação a cada 48 horas,
enquanto durar o cio, pois a égua ovula de 24 a 48 hora antes do final do cio; e os
espermatozoides resistem por 48h no trato genital da égua. O óvulo resiste por
apenas 6 horas. Se houver um controle folicular, apenas uma cobertura/inseminação
pode ser necessária, reduzindo custos e diminuindo contaminação com sêmen no
trato genital da égua.

O local para cobertura deve ser gramado, pois se houver areia ou terra, essas
partículas podem se aderir ao pênis e acabar lesionando ou contaminando o trato
genital da égua. A égua deve estar preparada, com a cauda enfaixada e contida. O
comportamento normal do garanhão na cobertura é: aproximação; garanhão corteja
égua, com encontro de focinhos e cheirando a região perivulvar, relincha, reflexo de
Flehmen; garanhão expõe o pênis e inicia ereção; ocorre a monta; garanhão
introduz o pênis; ejaculação (sapateia no mesmo local, cauda em bandeira);
relaxamento e descida.

Existem três sistemas de monta na equideocultura:

Na monta à campo, um grupo de éguas (harém) são soltas com um garanhão


durante toda a estação de monta. Cada garanhão pode cobrir de 15 a 25 éguas. As
vantagens são a alta taxa de fecundação – 80% a 100%, pouca mão de obra, bem
estar animal (mais próximo ao natural). As desvantagens são: não se sabe data
correta da cobertura, há risco de acidentes, é preciso um controle sanitário bom para
não disseminar doenças pelo plantel, pode ocorrer exaustão do garanhão. Esse
sistema é utilizado para animais rústicos e experientes. É comum nas raças crioulo,
lusitano, pantaneiro, mangalarga marchador, mangalarga paulista.

Na monta controlada em piquete, a égua com sinais claros de cio e garanhão são
colocados juntos em um piquete pequeno, sob observação (após rufiação à
distância). Nesse sistema, um garanhão pode fazer de 1 a 2 coberturas por dia, com
descanso de um dia na semana. As vantagens são: controle das datas de cobertura,
possibilidade de intervenção em caso de brigas, possibilidade de realizar higiene
prévia, utilização racional do garanhão. A desvantagem seria o maior risco de
acidentes. Esse sistema funciona para animais experientes e não agressivos.

Na monta dirigida, a égua é preparada para a monta: limpeza da vulva com papel
toalha, a cauda é enfaixada, imobilização com peia, uso de cabresto e cachimbo, se
necessário. O garanhão é levado até a égua para realizar o salto, com cabresto ou
cabeçada. As vantagens são o controle das datas de cobertura, possibilidade de
intervenção, uso racional do garanhão, segurança para funcionários e animais. A
desvantagem seria maior utilização de mão-de-obra e baixo grau de bem estar
animal, principalmente para a égua, que muitas vezes é contida de forma dolorosa.

BIOTECNOLOGIA DE REPRODUÇÃO

 Inseminação artificial (IA): É realizada a colheita do sêmen do garanhão com


uso de vagina artificial, análise quanto à qualidade e quantidade, processamento,
fracionamento e deposição no trato reprodutor da égua. As vantagens são: maior
número de produtos/garanhão, menor risco de transmissão de doenças, animais
incapazes de realizar a cobertura podem se reproduzir, não há necessidade de
transporte dos animais, menor risco de acidentes, é possível obter descendentes
após a morte do garanhão. As desvantagens são a necessidade de mão de obra
especializada, maior custo e menor índice de prenhez. A colheita é realizada com
um manequim (ou égua). O sêmen à fresco apresenta maior índice de prenhez –
com técnica correta, chega a ser a mesma de monta natural (BRISKO & VARNER,
1992). A cada 48h, deve-se inseminar, se o cio continuar. É de uso imediato, não
podendo ser armazenado. O sêmen resfriado/refrigerado é mantido de 15-20ºC (12
horas) ou 4 – 6 ºC (máximo por 48 horas), porém apresenta menor índice de
prenhez. O sêmen congelado é mantido a mantido a -196ºC, por tempo indefinido,
porém apresenta baixo índice de prenhez: 20 a 60%, mesmo quando inseminado no
máximo 6h após a ovulação (Squires et al., 2000).

 Transferência de Embrião (TE): os óvulos são fecundados dentro do trato


genital da égua doadora. Nos dias 7 ou 8 pós-ovulação, os embriões são
transferidos para o útero da receptora, que deve estar com ciclo sincronizado
(ovulando 2 dias depois da doadora). As vantagens são: maior número de
produtos/égua, éguas incapazes de manterem a gestação podem se reproduzir,
assim como éguas com baixa habilidade materna; não há desgaste de doadoras ou
afastamento prolongado do esporte para reprodução. As desvantagens são a
necessidade de mão de obra especializada, o maior custo e a necessidade de
manter éguas receptoras e sincronizá-las.

 Fertilização “in vitro” (FIV): óvulo e espermatozoide são maturados e ocorre


fecundação em laboratório. Não é realizada com sucesso em equinos por enquanto,
apresentando alto custo e resultado ruim.

 Transferência de oócito (TO): é utilizado para éguas que não possuem


condições de fecundação do oócito no próprio trato reprodutivo. Apresenta resultado
ruim, especialmente para éguas velhas, com índice de sucesso abaixo de 20%. É
utilizado apenas excepcionalmente ou de forma experimental.

A maioria das associações de criadores das raças aceita inseminação artificial


(inclusive com sêmen congelado): 54 das 60 associações dos Estados Unidos e 6
das 10 maiores associações brasileiras (BOCHIO - ABQM). Algumas associações,
como a do Brasileiro de Hipismo (BH), não apresenta restrições ao uso de
biotecnologia, enquanto que outras, como a do Puro Sangue Inglês (PSI), não aceita
nenhum tipo de biotecnologia na reprodução. No entanto, a maioria das associações
aceita o uso com restrições, por exemplo:

 Mangalarga Marchador: receptora deve ser MM

 Quarto de milha: sêmen só pode ser utilizado até o ano hípico da morte do
reprodutor
 Crioulo: somente sêmen fresco, na propriedade; em casos de incapacidade
adquirida de monta natural, com autorização da associação. Transferência de
embrião: égua doadora só registra um produto/ano

CONTROLE REPRODUTIVO

O controle reprodutivo é realizado de forma individual, com o uso de tabelas onde se


anota todos os acontecimentos da vida reprodutiva do animal. Por exemplo, quando
ocorreu o último cio, quando a égua foi rufiada, quando foi coberta, quando foi
confirmada a gestação e quando foi o último parto.

Diagnóstico de gestação: quando a égua não repete cio em 15-16 dias após a
ovulação, é um indicativo importante. Outro sinal é a melhora no estado geral do
animal, que pode ser observado ao redor dos 30 dias. O exame ginecológico permite
identificar com precisão se a égua está gestando, a partir dos 12 dias:

 Palpação retal com ultrassom + vaginoscopia (12 dias)


 Palpação retal simples + vaginoscopia (20 dias)

Porém, como o índice de reabsorção embrionária e aborto é relativamente alto,


acompanhar a gestação é essencial na equideocultura.

Gestação Gemelar: quando mais de um oócito viável é ovulado e ambos são


fertilizados, ocorre a gestação gemelar. A ovulação múltipla é relativamente comum
nos equinos: chega a 20% em PSI (GOBESSO-USP). Entretanto, a gestação
gemelar é altamente indesejável, pois normalmente ocorre aborto ou então os potros
nascem fracos e normalmente morrem alguns dias após o nascimento, além de
existir risco para a mãe. Na maior parte das vezes, felizmente, um dos embriões é
absorvido (80% dos casos quando no mesmo corno uterino) e a gestação ocorre de
maneira normal com apenas um feto. Em éguas de alto valor, porém, há intervenção
veterinária em casos de gestação gemelar, com dieta ou crushing.

GESTAÇÃO

O período de gestação irá variar conforme uma série de fatores:

 Espécie - equinos: 11 meses (336 dias), muares: 12 meses, asininos: 13


meses
 Raça – há pequenas variações entre as raças.
 Sexo – machos demorariam mais, mas não há comprovação científica em
equinos.
 Idade – éguas jovens que ainda não completaram o seu desenvolvimento
podem demorar mais para parir porque utilizam parte dos nutrientes para seu próprio
desenvolvimento, atrasando o desenvolvimento do feto. Se a égua for jovem, porém
bem nutrida, pode ser que nasça antes porque há menos espaço no útero do que
em um animal com mais idade, o que provoca estímulo para o nascimento do feto.
 Número de partos – se uma égua já teve vários partos, o útero estará mais
dilatado e o feto demorará mais para nascer, já no caso de uma nulípara irá nascer
antes porque há menos espaço.
 Número de fetos: potros gêmeos nascem antes, muitas vezes até prematuros,
pois não há espaço suficiente, o que desencadeia o parto.
 Nutrição: se a égua estiver bem nutrida, seu potro irá completar o
desenvolvimento antes do que o potro de uma égua desnutrida.
 Época do ano: está ligada diretamente à nutrição e disponibilidade de
forragem.

O hormônio que mantém a gestação na égua é a progesterona (PG4). Até os 35


dias, o corpo lúteo primário (originado a partir do folículo que ovulou) produz
progesterona. Dos 35 aos 120 dias, são os corpos lúteos secundários (decorrentes
de uma nova onda folicular) que mantem a gestação. Esses corpos lúteos
secundários se originam a partir do hormônio PMSG produzido nos cálices
endometriais. A partir dos 120 dias, a placenta produz progesterona de forma
independente, o que difere da maioria das outras espécies, que continuam
dependendo do corpo lúteo para manter a gestação. Não por acaso, é exatamente
nesses períodos de transição que ocorre, respectivamente, grande parte das
reabsorções embrionárias e abortos.

A placenta nos equinos é epitelio-corial, do tipo difusa, o que impede a passagem de


anticorpos e permite o fácil descolamento da placenta (abortos).

Se for preciso transportar a égua, a melhor época é entre os 4 e 8 meses de


gestação. A égua prenhe deve ser mantida à pasto com outras éguas, pela
tranquilidade e oportunidade de se exercitar. A alimentação até os 8 meses é de
manutenção e apenas no terço final se faz necessário uma suplementação especial,
especialmente em proteína, cálcio e fósforo.
PARTO

O parto fisiológico é aquele em que as fases do parto ocorrem de maneira normal e


dentro do tempo esperado. A distocia, dificuldade no parto, é menos comum em
equinos do que em bovinos, graças à cérvix muscular que facilita a dilatação, e que
é cartilaginosa nos bovinos. Outro fator que auxilia no parto é que os equinos são
mesatipélvicos, ou seja, a largura e altura da pelve são semelhantes.

A via fetal, caminho por onde passa o feto, é dividida em mole e dura. A mole é
composta pela cérvix, vagina, vestíbulo vaginal, ligg. Sacroisquiáticos e vulva;
enquanto que a dura é representada pelo íleo, ísquio, pube, sacro e vértebras
coccígeas. Existem três pontos de constrição principais: cérvix, anel himenal e vulva.

As fases do parto são:

 Preparação: de 3 semanas antes do parto até primeiras contrações


 Preparação da glândula mamária
 Descida do abdome
 Relaxamento dos ligamentos pélvicos
 Alteração de comportamento: se afasta do grupo ou fica na companhia de uma
amiga
 Dilatação: contrações até rompimento dos anexos fetais – dura 2 horas no
máximo.
 Auxilia na lubrificação
 Expulsão: rompimento dos anexos fetais até saída completa do feto. Deve
durar no máximo 30 minutos

FISIOLOGIA DO PARTO: o momento do parto fisiológico é determinado pelo feto,


que se sente pressionado e desconfortável no útero quando seu desenvolvimento
está completo. Esse estímulo externo chega ao hipotálamo, que libera hormônio
liberador de corticotrofina (CRH), que atua na hipófise provocando a liberação de
hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), que atua na adrenal provocando liberação de
cortisol. O cortisol irá atuar na placenta, diminuindo a progesterona e aumentando o
estrógeno, além de aumentar a concentração de prostaglandina e relaxina,
importantes para o parto. Com a abertura da cérvix (estrógeno, relaxina) e contração
do útero (prostaglandina, estrógeno), o feto se insinua no canal do parto,
provocando o reflexo de Ferguson na mãe, que estimula o hipotálamo da mãe a
liberar ocitocina, importante para a contração do miométrio. O útero também libera
mais prostaglandina. Esse processo culmina na expulsão fetal.
CUIDADOS NO PARTO: NÃO se deve interferir no parto normal, porém esse deve
ser observado. Normalmente os partos ocorrem à noite: 75-85% (Anderson, 2008). A
égua pode estar em estação ou decúbito, porém é mais comum que se deite quando
a fase de expulsão tem início. O ambiente deve ser tranquilo, sem outros animais ou
pessoas estranhas. O melhor local é um piquete maternidade, pois permite à égua
caminhar e é menos contaminado. Por comodidade ou condições climáticas, muitas
vezes o parto é realizado em baias-maternidade, o que facilita a observação, porém
é mais contaminado. Só se deve interferir no parto se alguma das fases passar do
tempo normal ou a estática fetal estiver anormal. A estática fetal normal do potro é
apresentação longitudinal anterior, posição superior e atitude flexionada.

O parto distócico é considerado emergência. Não se faz cesárea rotineiramente nas


éguas, pois estas são muito sensíveis à infecção e a taxa de mortalidade é muito
alta para os potros e relativamente alta para as éguas, que mesmo quando
sobrevivem podem apresentar problemas reprodutivos. Pode-se verificar se feto está
vivo pressionando os olhos (ele irá afastar a cabeça) ou colocando a mão na boca
do mesmo (reflexo de sucção). Se ele estiver morto, algumas vezes é melhor
realizar uma fetotomia do que tentar reposicionar o feto ou realizar cesárea.

As manobras realizadas para auxiliar o parto são a tração e o reposicionamento


fetal. Durante a tração, é importante respeitar o ângulo correto. Até a saída da
escápula (paleta), deve-se tracionar 45° para cima (em direção à coluna da mãe),
após a paleta deve-se tracionar horizontalmente e após a pelve a tração deve ser
feita 45º para baixo. Deve-se tracionar um dois membros anteriores à frente do
outro, para diminuir o diâmetro dos “ombros”, que é o ponto mais difícil de passar
pelo canal do parto. No máximo 2 a 3 pessoas podem tracionar ao mesmo tempo,
sempre acompanhando as contrações e após conferir que o potro está com estática
normal. O reposicionamento fetal é realizado com mucilagem (lubrificante), luvas e
uso de cordas obstetrícias, sempre que o feto estiver vivo e com estática fetal
anormal. Deve-se devolver o feto ao útero e reposicioná-lo, prendendo a mandíbula
e os membros que estavam para fora com as cordas para facilitar o
reposicionamento. Para devolver o feto ao útero, empurrá-lo sempre nos intervalos
entre as contrações uterinas.

PUERPÉRIO E CUIDADOS COM O POTRO

Após a expulsão, a mãe reconhece o potro (reconhecimento materno-fetal),


encostando os focinhos e cheirando o potro. Essa etapa é muito importante para que
a mãe cuide bem do neonato, evitando machucá-lo e facilitando as mamadas. A
égua deve limpar o potro, comer a placenta (se desejar) e romper o cordão umbilical
ao se levantar. O ambiente deve estar tranquilo e ao ar livre, ficando apenas a égua
com o potro nos primeiros dias. Depois é recomendável reuni-los a outras éguas
com potro ao pé. A expulsão da placenta se dá em até 30 minutos, enquanto que a
expulsão do lóquio pode demorar até 4 dias.

O comportamento normal do potro é se levantar em cerca de 10 minutos até 2 horas


no máximo, porém em raças grandes como o Brasileiro de Hipismo (BH) é aceitável
que demore cerca de 24 horas. O potro deve mamar colostro em até 2 horas, caso
contrário não irá absorver anticorpos suficientes para a sua defesa, já que este
nasce completamente vulnerável a infecções. Se ele não estiver de pé e mamando
até 2 horas após o nascimento, deve-se levantá-lo com auxílio e fazer com que ele
mame. Caso a égua não tenha colostro em quantidade e qualidade suficiente, um
banco de colostro deve ser usado. O banco de colostro é formado no haras com o
colostro excedente de éguas que pariram no ano anterior. Outra opção mais custosa
é a transfusão de plasma, em casos onde o potro não mamou colostro antes de 2
horas. Após esse período, a absorção de anticorpos pelo intestino do potro é muito
reduzida. A expulsão do mecônio (fezes fetais) deve ocorrer nas primeiras 4-5 horas,
se isso não acontecer é necessário intervir, com enemas ou remoção manual das
fezes (se estas estiverem muito secas, esse último procedimento pode ocasionar
lesões). É necessário também curar umbigo, com Iodo ao redor de 8% de
concentração, repetindo nos primeiros dias até que ele seque. Se égua não rompeu
cordão umbilical, é possível romper com as mãos sem necessidade de ligadura, pois
nos equinos existe uma zona de constrição. Se esta zona não for encontrada,
realizar ligadura a um palmo do abdome do potro. Este deve permanecer em um
local limpo e com temperatura amena.

Se mãe não cuidar do potro, por inexperiência ou morte, deve-se secar o neonato
com uma toalha caudo-cranialmente para estimular a respiração, retirando os
líquidos das vias aéreas e limpar as narinas. Se ele não respirar, deve-se espalmar
o abdome, com o potro sendo segurado pelos membros traseiros e molhar a cabeça
do potro com água fria, que também estimula a respiração. Se mãe morrer, além do
fornecimento de colostro de um banco de colostro, é preciso cuidar da alimentação.
Se for possível, deve-se arrumar uma ama de leite, normalmente uma égua que
perdeu a cria, porém deve-se tomar cuidado para verificar se ela não irá rejeitá-lo.
Outra opção é a alimentação com sucedâneo comercial ou caseiro, à base de leite
de vaca desnatado. O potro deve ser amamentado de hora em hora, nunca mais
que 10% do peso vivo/dia, inicialmente com uma madadeira e posteriormente com o
uso de um balde. O potro órfão ou rejeitado deve ser reunido a outros animais de
sua idade assim que for possível.
Produção, Edição, Elaboração e Revisão de Texto:
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