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MEDICINA VETERINÁRIA
ICA 0658 – FISIOPATOLOGIA DA REPRODUÇÃO DE
CÃES E GATOS
Orientador(a):
Prof.ª Ma. Paula Piccolo Maitan.
Jataí/GO
2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JATAÍ
MEDICINA VETERINÁRIA
ICA 0658 – FISIOPATOLOGIA DA REPRODUÇÃO DE
CÃES E GATOS
Jataí/GO
2021
1. Introdução
Segundo relatos de Vivacqua (2020), há uma lenda que atribui aos árabes
o pioneirismo em inseminação artificial (IA) em equinos, estando o fato remetido
ao ano 1332. Duas tribos estavam em guerra, uma delas possuía uma tropa de
cavalos com qualidade superior à outra, o que garantia à primeira grande
vantagem nas batalhas. A outra tribo, notou o benefício alheio e enviou um
guerreiro ao acampamento do inimigo. Este coletou sêmen do melhor garanhão
e levou para emprenhar as fêmeas de seu plantel, resultando, assim, numa
melhoria significativa na qualidade de sua tropa, o que garantiu à tribo vitória na
guerra.
No século XVIII, especificamente em 1780, ocorreu a primeira IA
notificada cientificamente. O responsável pelo evento foi o fisiologista e monge
italiano Lázaro Spallanzari, que conseguiu demostrar que seria possível a
fecundação sem contato direto de uma fêmea com um macho. Spallanzari
utilizou de sêmen fresco obtido por meio da excitação mecânica de um cão, em
seguida, com o auxílio de uma seringa, depositou o sêmen na vagina de uma
cadela que estava no cio. Dessa técnica foram obtidos três filhotes vivos e
normais, após uma gestação de 62 dias (Mies Filho, 1987 apud Santana, 2012).
O fisiologista não parou por aí, tamanho foi o sucesso de seu experimento.
Em 1954, Harrop (1960) adaptou a técnica com o uso de sêmen
refrigerado a 4ºC. Isso impulsionou Seager (1969, apud Chirinéa, 2008) a utilizar
sêmen congelado, experiência da qual teve um excelente resultado, obtendo
dois filhotes saudáveis. Desde essa época, então, numerosos desenvolvimentos
nas técnicas e princípios da criobiologia vêm sendo realizados para o sêmen de
espécies pecuárias e do ser humano, porém as pesquisas direcionadas para a
espécie canina eram raras, sendo empregadas com mais frequência em outras
espécies.
No entanto, mais recentemente, esse quadro vem mudando. Dentro do
contexto social, os animais de companhia tornaram–se componentes
importantes, visto que se encontram mais próximos ao ser humano. Devido a
esse fator, criadores vêm se esforçando para obter animais de alto valor
genético, adequados aos padrões de cada raça. Atualmente têm sido
encontradas soluções para tais técnicas nas biotecnologias de reprodução
(Gonsalves; Figueiredo, et al 2002). A IA pode ser utilizada como um meio
alternativo quando da impossibilidade de realização de monta natural, devido a
problemas anatômicos e comportamentais (Feldman & Nelson, 1996 apud
Chirinéa, 2008), ou ainda, quando da utilização do sêmen congelado. Essa
biotécnica apresenta, ainda, como vantagens, a possibilidade de utilização do
sêmen por tempo indefinido e disseminação mais rápida do material genético de
machos; a preservação da sanidade de reprodutores, bem como a redução de
custos e de estresse com transporte de animais. Nesse sentido, o presente
trabalho tem por objetivo apresentar uma revisão geral acerca dos principais
aspectos ligados à aplicação dessa biotécnica. Dentre esses aspectos, pode se
destacar anatomia da fêmea e do macho, ciclo estral, coleta, conservação,
técnica e melhoramento genético.
2. Desenvolvimento
Figura 1. Órgãos genitais do cão: representação esquemática (KÖNIG; LIEBICH. 2016, p. 413).
Figura 2. Órgãos genitais da cadela: representação esquemática (KÖNIG; LIEBICH. 2016, p. 430).
O útero é composto por dois cornos, um corpo curto e uma cérvix, também
denominada de colo, com forma, cumprimento e diâmetro variáveis de espécie
para espécie. Apresenta ampla capacidade de distensão, permitindo a gestação;
contrai-se fortemente no momento do parto, facilitando a expulsão dos produtos
e evolui rapidamente no puerpério, garantindo a depuração do órgão, na
preparação para nova prenhez. A vagina é o órgão copulatório e via fetal mole
no momento do parto, apresentando ph e flora microbiológica típica. (Feitosa et
al, 2008; Souza et al, 2000). A figura 3 representa o útero de uma cadela.
Figura 3: útero feminino de uma cadela: representação esquemática (KÖNIG; LIEBICH. 2016, p. 433).
O ciclo estral tem início após a puberdade e é definido como o período entre
as duas ovulações (cios). Vale lembrar que apesar de a vida reprodutiva da
cadela ter seu início marcado após a puberdade, muitas fêmeas têm os primeiros
ciclos reprodutivos de forma silenciosa ou até mesmo anovulatórios, isto ocorre
pelo fato de as cadelas ainda não terem atingido a maturidade sexual. Esse
episódio pode vir a ocorrer entre dois a três cios subsequentes. De forma geral,
o ciclo éstrico é marcado pelas sucessivas oportunidades da fêmea se tornar
gestante.
A cadela é uma fêmea monoéstrica, isto é, exibe apenas um ciclo éstrico
por época reprodutiva. O número anual de épocas reprodutivas depende,
sobretudo, do genótipo (raça), além de sofrer influência de fatores ambientais e
nutricionais. O ciclo reprodutivo das cadelas pode ser dividido em: proestro,
estro, diestro e anestro.
O proestro é marcado pelo crescimento folicular; aumento de estrógeno;
vulva edemaciada; corrimento sanguinolento. Nesta etapa o macho se sente
atraído pela fêmea, mas ela ainda não aceita a monta. O proestro tem seu
término pouco antes do pico de hormônio luteinizante (LH). Em seguida, ocorre
a fase de estro, que é o período em que a fêmea está receptiva ao macho e
consequentemente aceita a cópula. O estro termina quando a cadela deixa de
aceitar a monta. As cadelas possuem como particularidade, no estro, a transição
do estrogênio (hormônio responsável pelas manifestações clínicas do cio), que
começa a declinar em função do aumento exacerbado da progesterona. Esse
aumento faz com que os sinais de cio da cadela se tornem exagerados, fase
conhecida também como “cio máximo”. A ovulação nas cadelas, nessa fase,
ocorre 48h após o pico de LH.
Depois do estro, dá-se início ao diestro, que é o período após a ovulação;
é marcado por ser o período de formação e manutenção do corpo lúteo. Nesta
fase a fêmea não aceita e nem atrai mais o macho. Por fim vem o anestro, que
é a fase de ausência reprodutiva, ou seja, é a fase interestral.
Fotografia 4: Inseminação artificial em cadela da raça Buldogue Inglês com sêmen fresco, membros
posteriores elevados para evitar a perda de sêmen.
Fonte: <ttps://www.researchgate.net/profile/Carla-MoyaAraujo/publication/344545645>.
Referências bibliográficas
HARROP, A. E. Reproduction in the dog. London: Bailliere, Tindal and Cox, 1960,
204p.