Você está na página 1de 3

DOCUMENTÁRIO e FILME DE

FICÇÃO: os limites entre realidade e


invenção
Publicado em: 28/03/2018

Para muitos documentaristas, a distinção entre o que caracteriza um filme de ficção e


um documentário pode ser bastante nebulosa. No início, o cinema documental era
uma ferramenta de investigação, mas essa definição perdeu espaço para concepções
de narrativas mais criativas. Na verdade, o cinema nasceu como documentário; afinal,
os primeiros filmes dos irmãos Lumière, pioneiros do fazer cinematográfico, lá no final
do século XIX, retratavam cenas do cotidiano dos franceses da época.
 
Acredita-se que o termo documentary tenha sido cunhado pelo cineasta escocês John
Grierson. Segundo ele, o princípio do documentário estava no potencial do cinema
para a observação da vida, que poderia ser explorado em uma nova forma de arte. Ele
defendia que o ator “original” e a cena “original” seriam melhores para interpretar o
mundo moderno do que os elementos que a ficção oferecia. Ou seja, que os
conteúdos tirados do “material cru” seriam sempre mais reais do que os encenados.
Para muitos estudiosos, o documentário se diferencia das outras formas de não-ficção
porque oferece uma opinião, uma mensagem específica, junto com os fatos que
apresenta. Vale lembrar que o documentário é uma prática cinematográfica que está
constantemente evoluindo e não tem fronteiras muito claras.
Uma das maiores diferenças entre os dois estilos de filmes é de que o cinema de
ficção tem suas responsabilidades éticas, naturalmente, mas no documentário essa
responsabilidade aumenta. Por quê? Para um ator, o filme em que ele está
trabalhando é apenas um trabalho. Já para o sujeito de um documentário, a filmagem
vai acabar, mas a vida continua. Esse “personagem” tem uma experiência existencial
com o filme.
 
Confira também nossos outros artigos sobre cinema
 
Outra diferença é que no documentário você lida com a realidade de uma forma mais
intensa, o que inclui as surpresas e decepções que fazem parte do mundo real. O que
a realidade apresenta ao documentarista pode fazer parte do filme e enriquecê-lo, mas
também podem causar problemas de logística e planejamento.  Na ficção, existe uma
possibilidade muito maior de se planejar o que acontece no set, embora também
exista espaço para improviso. Só que o controle é muito maior.
Enquanto que na ficção boa parte do que se vê no filme já está previamente
estabelecido no roteiro, o documentário é muito mais orgânico. Ele se constrói
enquanto está sendo feito: a filmagem busca o imprevisto. Nesse contexto, a pesquisa
e a montagem são processos longos e importantíssimos para essa construção.
Recentemente, a cultura do documentário se expandiu e a própria ficção tem usado
elementos documentais, misturando linguagens. Para muitos cineastas, a diferença
entre os gêneros não importa muito, pois trabalhar conscientemente na fronteira entre
as várias formas de explorar a realidade pode enriquecer qualquer tipo de arte.
A única distinção que precisa ser feita, para o artista, é de que o filme seja fiel e
potente quanto à sua pretensão artística, que tenha coerência interna de linguagem. O
impacto que ele vai gerar no público, no final das contas, vai depender de inúmeras
variáveis que estão fora do controle do cineasta.
*Texto: Katia Kreutz.
 
 

Gostou? Então que tal dar uma olhada nos cursos da Academia


Internacional de Cinema voltados para essa área? 
Entre em contato com a gente pelo WhatsApp e venha
vivenciar a real experiência de fazer cinema! Aproveite para
seguir a AIC
no Facebook, Instagram, Twitter, Linkedin e YouTube para ficar
por dentro de todas as novidades.
 
Foto: Documentário “Olho de Peixe” feito pelos alunos Diogo Nonato, Icaro Cooke
Vieira, Felipe Portugal, Sergio Lindeberg Chaves e Carlos Gabriel Gila Silva da turma
de documentário de 2015.

Você também pode gostar