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Curso de Solicitadoria

NOTAS SOBRE
DIREITO DO NOTARIADO

Unidade curricular a cargo do docente Luís Pizarro Bravo

Índice:

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Páginas
. Breve introdução histórica…………………………………………….…. 3
. O notariado e a função notarial…………………………………………. 5
. Os princípios da atividade notarial. ……….………………………...…. 6
. Livros, índices e arquivos……………………………………………...… 7
. Segredo profissional e prestação de informações……………….…... 9
. Os diversos tipos de documentos………………………………….….. 10
. Requisitos gerais e especiais dos instrumentos notariais………….. 11
. Ilegitimidades conjugais …………………………………………………16
.Menções relativas ao registo e matriz. ……………………………….. 18
. Obrigatoriedade do registo ou dispensa de menção registo prévio. .20
. Arquivamento e exibição de documentos…………………………….. 22
. Intervenientes acidentais. …………………………………………….....23
. Nulidades e revalidação de atos notariais……………………………..25
. Instrumentos públicos avulsos………………………………………….26
. O testamento. …………………………………………………………….31
. Atos notariais em especial: ………………………………………….….36
. A compra e venda……………………………………………………..….36
. A doação.…………………………………………………………………..43
. O mútuo/hipoteca………………………………………………….…….. 47
. A habilitação de herdeiros………………………………………….……48
. Partilha (herança, subsequente a divórcio/em vida)…………………..51
. A propriedade horizontal. …………………………………….………….55
. A justificação notarial. ……………………………………………………57
. Código do Imposto do Selo e Tabela geral do imposto de selo…..... 61
. Código do Imposto Municipal sobre Transmissões Onerosas……... 66
. Comunicações obrigatórias ………………………………………….….69
. O documento particular autenticado. ……………………………….… 70

Breve introdução histórica:

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A origem do notariado podemos encontrá-la na cidade de Roma, numa
época em que os notarii eram escreventes públicos, os quais prestavam o seu
serviço ao público limitando-se a escrever por notas, redigindo os documentos
que lhe eram solicitados, não estando ainda não dotados de fé pública.
Os tabeliães, que viram a sua função oficializada com Constantino, são
profissionais já mais próximos dos notários modernos. Prestavam juramento
perante o perfeito e dele recebiam um anel, como sinal da sua função. A
principal função dos tabeliães era dar forma escrita à vontade das partes.
Com o Imperador Justiniano, os tabeliães passaram a ter uma formação
jurídica especializada. Aqui começa a ganhar forma a vocação do notariado
para dar forma legal e autêntica à vontade das partes.
Em Itália, nos séculos VII e VIII, a função do notário vê alcançado
prestígio e relevo social, o que se foi consolidando com o decorrer dos anos e a
evolução das sociedades. No século XIII já encontramos a figura do Notário
Público, dotado de fé pública, que dá forma legal solene aos atos em que
intervém.
É assim em Itália, mas também noutros países como a França, onde no
ano de 1270 foram criados, em Paris, 60 notários.
EM PORTUGAL:
O notariado também terá surgido no século XIII devido à influência do
direito justinianeu. Foi contudo apenas final do século XIX que o tabelionato foi
substituído pelo notariado moderno, função pública exercida por juristas
especializados, então profissionais liberais.
Portugal foi um dos países fundadores da União Internacional do
Notariado, no ano de 1947, com mais 17 países.
Em 1949, os notários portugueses passaram a ser funcionários públicos,
quer quanto à função quer quanto à relação jurídico-laboral. Passaram a
exercer a sua atividade como funcionários do Estado sendo por este
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remunerados, embora em moldes significativamente diferentes da generalidade
dos funcionários públicos.
Importa referir que existem dois grandes sistemas jurídicos, um de
influência Romano-Germânica, onde se encontra um notariado do tipo latino, e
outro de influência Anglo-Saxónica, em que não há notariado.
O primeiro dos sistemas caracteriza-se por ser de justiça preventiva, em
que o Estado intervém logo aquando da titulação dos negócios jurídicos,
através do oficial público que é o notário. Este, como delegatário da Fé Pública,
do Estado, confere autenticidade aos documentos que elabora e aos atos que
pratica ou em que intervém. É o Estado que, desta forma, dá garantias de
verdade, de certeza, de segurança jurídica.
Nestes sistemas de justiça preventiva, os índices de litigiosidade são
muito reduzidos, sendo que o ordenamento jurídico português é tipicamente de
raiz romano-germânico, de direito escrito;
A privatização
Em 1995 foi aprovado o primeiro diploma legislativo que consagrava a
liberalização do notariado português, o qual contudo foi objeto de veto
presidencial. Tal fundamentou-se no facto de o Governo estar em final de
mandato, devendo a opção por reformas de fundo ser deixada ao executivo
que viesse a sair das eleições de então.

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O Governo seguinte voltou a consagrar a privatização do notariado como
uma das reformas a concretizar, tendo sido para o efeito, constituída uma
comissão ad hoc, presidida pelo Prof. João Caupers. Dos trabalhos desta
comissão resultou um pacote legislativo que acabou por ser aprovado, na
generalidade, pela Assembleia da República, em 1999, no último dia de
legislatura.
O Governo que se seguiu, no entanto votou ao abandono a reforma do
notariado e qualquer movimento no sentido da liberalização ou da privatização.
Finalmente o caminho da privatização e da modernização do notariado
foi retomado pelo Governo Português, no ano de 2004, que concluiu o que
antes havia sido abortado, por uma ou outra razão.
Com o pacote legislativo publicado em 2004, nomeadamente os
Decretos-Leis nº26/2004 e nº27/2004, ambos de 4 de fevereiro - que aprovam,
respetivamente, o Estatuto do Notariado e o Estatuto da Ordem dos Notários -
o Estado Português deu expressão legal à reforma e à modernização do
notariado português, convidando os notários a trocar o funcionalismo público
pela iniciativa privada. O estatuto do notariado foi entretanto alterado pelo
decreto-lei nº Decreto-Lei n.º 15/2011 de 25 de janeiro que veio introduzir
sobretudo novas funções dos notários, abrir a possibilidade de constituição de
sociedades de notários, e a atividade de notário estar aberta a cidadãos
estrangeiros, entre outros.
Recentemente ocorreu mais uma alteração ao estatuto do notariado pela
Lei 155/2015 de 15 de setembro, que entrou em vigor um mês depois, onde
para além do reforço da atividade profisional como oficial dotado de fé pública e
profissional liberal se tem vista a criação de um sistema de arquivo eletrónico
de documentos notariais.
NOTÁRIO E A FUNÇÃO NOTARIAL
- O notário é considerado o “ O juiz da paz”, pela formalização de atos jurídicos
extrajudiciais, conferindo autenticidade, por via da fé pública de que goza e que
lhe é conferida pelo Estado e da qual resulta a força probatória material e
formal dos títulos e documentos por ele exarados.
Características e tónicas essenciais da sua função:
- Assessoria – o notário deve prestar assistência às partes ajustando a
vontade declarada pelas partes às exigências legais.
- Numerus clausus – o exercício da atividade depende da atribuição de uma
licença. Está prevista a revisão do mapa de atribuição de licenças de 5 em 5
anos. – artigo 6º do Decreto – Estatuto do Notariado
- Competência territorial: circunscrição territorial do município onde está
instalado do município: artigo 7º do Estatuto do Notariado e artigo 4º nº 3 do
Código do Notariado.
Dentro do concelho onde se encontra domiciliado o notário pode praticar todos
os atos da sua competência, nomeadamente atos sobre bens ou com pessoas
que não sejam desse concelho. O artigo nº 7, nº 3 prevê uma exceção a esta
regra.
Exemplos:
A, notário em Barcelos vai realizar uma escritura, em casa de uma senhora que
fica numa aldeia sita nos limites de Barcelos.
B, residente na cidade do Porto veio a Barcelos fazer uma escritura de compra
e venda
C, notário em Braga fez um testamento a uma casa particular sita em Barcelos.

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( esta situação não é permitida)
- Prática de atos por trabalhadores / Substituição do notário
O notário pode autorizar os trabalhadores ao seu serviço a realizarem
determinadas tarefas –artigo 8º do Estatuto do Notariado – contudo deve-se ter
em atenção a questão do nº 2 do mesmo artigo relativo aos atos vedados aos
trabalhadores por conta do notário. Este artigo sofreu alterações com as
alterações ao estatuto efetuadas em 2011.
O notário nas suas ausências e impedimentos deve ser sempre substituído por
outro notário. No artigo 9º do Estatuto do Notariado encontra-se a forma de
substituição.
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PRINCÍPIOS DA ATIVIDADE NOTARIAL
- Princípio da legalidade: artigo 11º do D.L. nº 26/2004: O notário deve
verificar sempre a legitimidade dos interessados/regularidade formal e
substancial dos documentos e legalidade substancial do ato.
O notário deve sempre RECUSAR a prática de atos nulos quer por não
caberem na sua competência (autorizações judiciais), ou por estar impedido de
praticar determinado ato. (ver principio da imparcialidade)
- Se se levantar alguma questão ou dúvidas sobre as faculdades mentais o
notário, ou as partes podem solicitar a intervenção de 2 peritos médicos
- Em casos onde se verifique a existência do vício da anulabilidade ou a
existência de ineficácia o notário não se pode recusar a realizar os atos.
Contudo, deverá efetuar no ato a necessária advertência da anulabilidade ou
ineficácia. Exemplos de advertências:
“Adverti os outorgantes de que este ato é ineficaz em relação ao dono do
negócio, enquanto por ele não for ratificado.” – GESTÃO DE NEGÓCIOS
“Adverti os outorgantes da anulabilidade deste ato nos termos do artigo 1687º
do Código Civil por falta de consentimento do cônjuge da quarta outorgante”
(VER ARTIGO 173º E 174º DO CODIGO NOTARIADO)
Princípio da autonomia: artigo 12º do D.L. 26/2004. O notário deve exercer a
sua profissão de forma independente quer a interesse públicos quer a
interesses privados.
Princípio da imparcialidade: artigo 13º do D.L. 24/2006 Ver aqui a questão
dos impedimentos que também se encontram no artigo 5º do Código do
Notariado. Atenção que na extensão dos impedimentos há divergência nas
exceções que se encontram previstas no nº 2 do artigo 14º do referido
decretolei
e no nº 2 do artigo 6º do Código do Notariado.
Princípio da exclusividade: artigo 15º do D.L. nº 26/2004
Princípio da livre escolha: artigo 16º do D.L. nº 26/2004: está vedada a
angariação de clientela e as formas de publicidade são apenas as previstas
nesse artigo.
LIVROS /ÍNDICES E ARQUIVOS
Os atos notariais podem ser lavrados em Livros, em instrumentos fora
do livro de notas ou no próprio documento a que respeitem.
Os livros podem dividir-se em dois grupos: os livros de notas – livros
para escrituras diversas e livros para testamentos públicos e para escrituras de
revogação de testamentos e os livros especiais que são os que constam nas
restantes alíneas do artigo 7º.
Encadernação dos livros: artigo 21º - os livros devem, em princípio, ser

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encadernados antes de serem utilizados. Contudo, só os livros manuscritos é
que são previamente encadernados. Os outros devem sê-lo, depois de
utilizados, devendo ter um mínimo de cem folhas e um máximo de cento e
cinquenta folhas.
Legalização dos livros: Antes da sua utilização todos os livros devem ser
legalizados – artigo 22º - que consiste no preenchimento dos termos de
abertura e de encerramento, na rubrica das folhas e na numeração de todas
elas.
O termo de abertura deve mencionar o número de ordem, a letra, o
destino do livro e o nome do notário e sede do seu cartório notarial, e o termo
de encerramento deve indicar o número de folhas do livro e a rubrica usada.
Maços de documentos – artigo 28º - Existem vários documentos, que
para além dos livros, ficam arquivados no cartório em maços distintos e pela
ordem cronológica dos atos a que respeitam ou da sua apresentação, sendo
que a organização dos mesmos deve ser a que consta daquele artigo.
Quanto aos documentos utilizados para integrar ou instruir atos notariais,
a regra é a do seu arquivamento. – artº 27 CN
Os documentos só serão exibidos quando a lei determine o contrário ou
apenas exija a sua exibição.
Contudo, ter em atenção a distinção entre a palavra “integrar e “instruir”:
Assim:
Integram os atos os documentos complementares a que respeita o artigo
64.º. São documentos que ficam sempre arquivados pois integram o ato, ou
seja, formam com o próprio uma unidade. Por exemplo, os estatutos de uma
associação.
Instruem os atos os documentos que se destinam a provar certos factos
mencionados no instrumento. Neste caso podem ser meramente exibidos, ou
seja, restituídos, ou então arquivados no maço de documentos respetivo,
senda esta a regra como já foi dito, e que o artigo 27º prevê.
Relativamente a documentos passados no estrangeiro, e de acordo com
o previsto no artigo 44º do CN desde que em conformidade com a lei local, são
admitidos para instruir actos notariais, independentemente da sua prévia
legalização.
Em caso de fundadas dúvidas sobre a autenticidade do documento
pode então o titulador exigir a sua legalização, nos termos da lei processual
(ver artigo 540 do Código do Processo Civil quanto á forma da sua
legalização). Em alternativa a esta legalização podemos também recorrer ao
serviço da apostila, mas apenas entre os países aderentes da Convenção de
Haia de 5 de Outubro de 1961, relativa à supressão da exigência da
legalização dos actos públicos estrangeiros, a qual consagrou a apostila como
a única formalidade que pode ser exigida para atestar a veracidade da
assinatura, a qualidade em que o signatário do ato atuou, bem como a
autenticidade do selo ou do carimbo, que constem dos actos públicos lavrados
no território de um Estado contratante e que devam ser apresentados no
território de outro Estado contratante.
Ainda nesta temática de documentos estrangeiros, refere o mesmo
artigo 44º que os documentos escritos em língua estrangeira devem ser
acompanhado da tradução correspondente, a qual poderá ser realizada pelas
formas referidas nesse artigo.
Quanto à utilização de documentos arquivados, rege o artº 45º do

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CN: é permitido o uso desses documentos, desde que os mesmos não tenham
sofrido alterações quanto ao seu conteúdo e estejam dentro do prazo de
validade. Ver exceção do nº 2 do artº 49º, quanto às certidões do registo
comercial.
Segredo profissional e informações – artº 32º do CN. REGRA: antes
de serem lavrados há segredo, depois os atos tornam-se públicos.
Enquanto o ato não for realizado, tudo o que lhe diga respeito é sigiloso,
incluindo a própria marcação da escritura.
Lavrado o ato cessa a obrigação de sigilo, uma vez que o ato se torna
público, podendo qualquer pessoa requerer a emissão de certidões ou cópias
não certificadas dos atos notariais arquivados ou até mesmo dos documentos
que instruem os mesmos.
Quanto à consulta de livros, o notário não é obrigado a mostrar os livros
existentes no Cartório, senão nos casos previstos na lei (caso da consulta por
advogado ou solicitador), porém é obrigado a prestar todas as informações
verbais quanto aos mesmos.
Exceção ou regime de verdadeira confidencialidade surge no que se
refere a testamentos: salvo ao testador ou a procurador com poderes
especiais, só mediante a exibição de certidão de óbito se poderá fornecer
dados quanto à existência, e por maioria de razão quanto ao conteúdo.
No caso de revogação de testamentos, ainda que o interessado
apresente certidão de óbito, impossibilidade de fornecer informações quanto ao
conteúdo do testamento revogado. No caso porém, de o testamento revogado
conter uma perfilhação, e uma vez que esta é irrevogável independentemente
da revogação do testamento (artº 1858 CC), do mesmo podem ser emitidas
certidões parciais.
ESPÉCIES DE DOCUMENTOS:
- Artigos 363º do Código Civil – Documentos escritos, podem ser:
Documentos autênticos (REMISSÃO DO ARTIGO 35º DO C.N. PARA
OS ARTIGOS 363º E SEGUINTES DO CÓDIGO CIVIL)
Documentos particulares - podem ser autenticados, se confirmados
perante o notário, ou ter reconhecimento notarial, se a letra e assinatura ou
só a assinatura forem reconhecidas pelo notário.
São assim autênticos os atos exarados pelos notários nos livros de notas ou
em instrumentos avulsos e os certificados, certidões e documento análogos,
por ele expedidos;
Nos documentos particulares a intervenção do notário, se existir, é
posterior à sua conclusão.
Reconhecimentos de assinaturas – só se considera verdadeiras as
assinaturas – o notário não tem que fiscalizar a validade intrínseca de um
documento particular ainda que seja para colocar um termo de autenticação –
exceção – ver artigo 157º
A lei não impõe os materiais que devem ser usados na composição dos
atos, desde que sejam de cor preta e confiram à escrita duração e
inalterabilidade – artigo 39º.
É permitido o uso de qualquer processo gráfico, escrita à mão ou à
máquina, contanto que a escrita seja nítida e percetível, mas enquanto nos
testamentos o seu processamento informático é a exceção, devendo o suporte
informático ser destruído logo após a sua utilização, as escrituras podem e
devem ser processadas informaticamente – artigo 38º.

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Artigo 40º nº 3 – os atos notariais são, regra geral escritos por extenso e
sem espaços em branco, contudo no artigo referido encontram-se os casos
taxativos de uso de algarismos e abreviaturas.
Artigo 41º - obrigatoriedade de serem ressalvadas as palavras traçadas,
emendadas, escritas sobre rasuras ou entrelinhadas, sendo que as palavras
não ressalvadas consideram-se não escritas, sem prejuízo do disposto no
artigo 371º do Código Civil, e as traçadas, mas legíveis, que não forem
ressalvadas consideram-se não eliminadas. – Ver artigo 70º nº 1 alínea c) do
C.N. sobre a nulidade do ato por vício de forma.
Requisitos gerais dos instrumentos notariais – art.º 46º CN
O instrumento notarial divide-se em três partes:
A primeira contém a denominação do ato, o dia e lugar da celebração, a
identificação do notário (ou seu substituto legal) e do local – cartório -, dos
outorgantes e seus representantes e da verificação da identidade dos mesmos.
A segunda reporta-se ao conteúdo do ato ou negócio jurídico e contém a
declaração de vontade das partes.
Por último, uma terceira onde se dá cumprimento a disposições do C.N
.ou de outras normas legais e se indicam os documentos arquivados e
exibidos, a intervenção de testemunhas, abonadores, peritos e tradutores e se
fazem as advertências legais, terminando com a leitura e explicação do
instrumento, as assinaturas e a referência à estatística, conta e liquidação do
selo.
4. – Identificação dos outorgantes – 46º/1 c) CN
- Pessoas singulares:
- nome completo;
- estado civil;
- naturalidade;
- residência
Se algum dos outorgantes não for português, indicar nacionalidade (exceto se
intervier como representante, ou declarante em escritura de habilitação ou
justificação notarial) – 46º/4 CN
Se o ato se destinar a registo, indicar nome do cônjuge e regime de bens do
outorgante – 47º/1 a) CN.
O número de contribuinte deve ser sempre indicado quando o ato tenha
relevância fiscal.
Nota: os procuradores só têm de ser identificados pelo nome, estado civil,
naturalidade e residência, nunca pelo nome do cônjuge, regime de bens ou
NIF, uma vez que o ato não produz efeitos na sua esfera jurídica, mas na do
seu representado.
- Pessoas coletivas:
- tipo de sociedade;
- firma;
- sede;
- matrícula;
- nas sociedades de capitais, pelo montante realizado (que pode
não coincidir com o capital próprio).
- Demais pessoas coletivas:
- denominação;
-sede.
Verificação da identidade dos outorgantes – 46º/1 d) e 48º CN

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a) conhecimento pessoal;
b) Bilhete de identidade (atualmente o seu substituto – cartão de
cidadão), documento equivalente ou carta de condução quando emitidos pela
autoridade competente de um país da UE;
c) passaporte;
d) declaração de dois abonadores.
Os documentos referidos nas alíneas b) e c) devem ser mencionados
pela sua data de emissão (no cartão de cidadão a sua data de validade) e o
serviço emitente e os dados não podem diferir dos fornecidos pelos
outorgantes a menos que seja relativamente à residência ou estado civil, sendo
que neste ultimo caso se comprove por documento que essa alteração ocorreu
há menos de seis meses.
Representação – 46º/1 e) CN
A lei exige que se faça referencia às procurações e documentos que
justifiquem a qualidade de representante, sendo que em casos de
representação legal ou orgânica tem que se verificar a existência de poderes
necessários para o ato
Representação legal
Representação de menores – 46º/5 CN
As responsabilidades parentais cabem a ambos os pais, ainda que
separados, logo se um deles não intervier no ato, deve indicar-se o motivo da
sua ausência.
No caso de só um deles ser detentor do poder paternal, basta a sua
intervenção, desde que exiba: certidão do Acordo ou da Sentença que regulou
o poder paternal ou certidão de nascimento do menor com o a regulação do
poder paternal averbada.
Tratando-se de ato para o qual seja exigida a autorização do Ministério Público
(1889º e 1990º do CC), é necessária a apresentação da certidão de
autorização do M.P.
Representação de incapazes
Existindo tutela ou curatela é necessário fazer prova da qualidade de tutor ou
curador.
Representação Voluntária – 46º/1 e) CN
Genericamente são as situações de procuração.
Procurações ficam sempre arquivadas, podendo ser aproveitadas
procurações já arquivadas no Cartório – 45º CN - desde que não revogadas.
Obviamente que em casos de substabelecimentos deve-se arquivar não só os
substabelecimentos como as procurações.
Para determinados atos não é suficiente uma procuração genérica: Ex.
procurações entre cônjuges têm que especificar o ato; procurações para
doação têm que designar o donatário e o objeto da doação.
Podem ser passadas procurações a pessoas coletivas, como
sociedades ou associações, sendo que, nesta situação a determinação das
pessoas físicas que poderão exercer esses poderes depende do disposto nos
respetivos estatutos , ou por deliberação dos órgãos competentes.
Representação Orgânica
Pessoas Coletivas de Direito Comum
A representação cabe a quem os Estatutos designarem. No caso de os
mesmos serem omissos cabe à Administração em bloco ou quem por ela for
designado.

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Após consulta aos Estatutos, devemos exigir:
- fotocópia da ata de eleição da Administração;
- fotocópia da ata de tomada de posse da Administração;
- eventualmente, fotocópia da ata de deliberação de designação de
representante.
Pessoas Coletivas de Utilidade Pública
Uma vez que estão sujeitas a registo, a prova dos poderes do representante
faz-se por certidão do registo comercial.
Pessoas Coletivas de Direito Canónico
A prova é feita por credencial emitida pela Diocese que refira a participação ao
Governo Civil da pessoa coletiva e certifique quem a representa e quais os
poderes do representante. - Concordata entre a Santa Sé e a República
Portuguesa.
Pessoas coletivas religiosas – Lei 16/2001 de 22 de junho (Lei da Liberdade
Religiosa) a possibilidade de adquirirem personalidade jurídica pelo registo no
competente departamento governamental – O Decreto-Lei nº 134/2003 de 28
de junho criou o registo de pessoas coletivas religiosas
Sociedades Comerciais
A prova é feita pela certidão do registo comercial, válida por seis meses
– embora o artigo 49º CN ainda fale de um ano, o código do registo comercial
foi alterado no sentido de que as certidões apenas têm o prazo de seis meses
– ver artigo 75º nº 2 do Código do Registo Comercial.
Estando a certidão arquivada, ainda que fora de validade, poderá ser
aceite, desde que os representantes e os seus poderes de gerência se
mantenham inalterados e todos os membros da Administração ou da Gerência
façam uma declaração nesse sentido, sob sua responsabilidade, declaração
essa que terá de ser feita em documento autêntico ou autenticado e que ficará
também arquivada. – 49º/3 CN.
Porém caso se trate de ato dependente de deliberação dos sócios, será
exigida também fotocópia da ata da Assembleia-geral da sociedade. A
fotocópia da ata poderá ser dispensada desde que todos os sócios
intervenham e deliberem na própria escritura, pois neste caso a deliberação é
tomada em Assembleia Universal
Gestão de Negócios (464º do CC)
Trata-se de uma representação sem poderes e por isso o negócio
celebrado em nome do gestido (dono do negócio) é ineficaz em relação a este
enquanto por ele não for ratificado.
O notário deverá fazer a advertência às partes da existência do vício –
174º/2 CN.
Artigo 11º do Estatuto do Notariado
Consequências: como não sabemos se o dono do negócio o vai ser
efetivamente temos que identificar da mesma maneira o gestor e o gestido, e
mesmo que este pudesse usufruir de alguma isenção, não poderá na escritura
isso acontecer…
Ilegitimidades conjugais
A - Caracterização dos Regimes de Bens permitidos pelo nosso Código
Civil
O nosso CC permite adotar um dos seguintes regimes de bens:
1. Comunhão Geral de Bens
2. Comunhão de Adquiridos

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3. Separação de Bens
O regime supletivo é, desde 01.06.1967, o da comunhão de adquiridos,
pelo que no caso de os nubentes quererem estipular um outro regime de bens
que não esse, terão que:
- o declarar em auto perante o Conservador do Registo Civil, quando
tratam do processo preliminar de publicações para casamento; ou
- fazer uma escritura de Convenção Antenupcial, sendo certo que esta
escritura é obrigatória quando pretendam estipular cláusulas face a um regime
tipo.
1. Comunhão Geral de Bens – 1732º CC
Todos os bens adquiridos anterior ou posteriormente ao casamento são bens
comuns.
Excluem-se os bens indicados no artigo 1733º CC.
Este regime não pode ser convencionado por quem tenha filhos de outro
casamento – 1692º CC.
2. Comunhão de Adquiridos – 1722º CC
São bens próprios: - os que cada um tiver ao tempo do casamento;
- os que vier a herdar ou lhe forem doados após o casamento;
- os que adquiriu após o casamento em virtude de direito próprio anterior.
São bens comuns: todos os adquiridos após o casamento não excluídos por lei.
3. Separação de Bens – 1735º CC
Não existem bens comuns, seja anterior ou posteriormente ao casamento.
O que cada um comprar é seu bem próprio, logo será necessária a intervenção
de ambos os cônjuges se pretenderem ser ambos proprietários. Não funciona
aqui a comunhão conjugal, mas tão só um regime de compropriedade entre os
cônjuges.
Este regime é imperativo – 1722º CC, nos seguintes casos:
- casamento celebrado sem processo preliminar de publicações;
- casamento celebrado por quem tenha mais de 60 anos de idade.
B – Ilegitimidades conjugais propriamente ditas
1 – Nos regimes das comunhões (comunhão geral de bens ou comunhão de
adquiridos)
I - Bens Imóveis
Carece do consentimento de ambos os cônjuges:
- a alienação, a oneração, o arrendamento ou a constituição de outros direitos
pessoais de gozo sobre imóveis próprios ou comuns - 1682º - A nº1/a) CC;
- a alienação, a oneração ou a locação de estabelecimento comercial próprio
ou comum - 1682º - A nº1/b) CC;
- a alienação, a oneração, o arrendamento ou a constituição de outros direitos
pessoais de gozo sobre a casa de morada de família - 1682º - A nº 2 CC;
- o repúdio de herança ou legado – 1683º/2 CC (mas já não a aceitação de
doações, heranças ou legados – 1683º/1 CC).
- a disposição do direito ao arrendamento sobre a casa de morada de família
carece também do consentimento de ambos os cônjuges – 1682 – B CC.
2. No regime da Separação de Bens
A regra é a de que cada um dos cônjuges pode dispor livremente dos
seus bens.

Só será necessário o consentimento de ambos os cônjuges, no caso de:

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- a alienação, a oneração, o arrendamento ou a constituição de outros direitos
pessoais de gozo sobre a casa de morada de família - 1682º - A nº 2 CC;
- qualquer alteração relativamente à casa de morada de família – 1682 – B CC
Em qualquer dos regimes a falta de consentimento do cônjuge, quando
necessária, dá lugar à anulabilidade do ato – 1687º CC.
O consentimento deve ser prestado antes ou no próprio ato.
Sendo dado antes, deve ser especial, ou seja, indicar concretamente o
ato para o qual está a ser dado o consentimento e deve revestir a forma de
procuração ou instrumento de consentimento.
Posteriormente à outorga do ato e dada a anulabilidade só poderá ser
sanado mediante confirmação, pelo que será exigível um instrumento de
confirmação.
Na segunda parte do instrumento notarial, encontramos as
declarações de vontade das partes que integram o negócio jurídico que as
mesmas visam celebrar.
Como requisito dos instrumentos sujeitos a registo predial:
Menções relativas ao Registo e à Matriz – 54º a 58º CN
A inscrição matricial (Finanças) não confere direitos, o titular inscrito na
matriz não é necessariamente o seu proprietário. Interessa tão só para efeitos
de tributação, para saber quem é o sujeito passivo dos impostos,
nomeadamente o IMI.
Diferentemente, a inscrição do prédio no registo atribui ao seu titular
uma presunção de propriedade, presunção essa que só é elidível judicialmente.
O Código do Notariado exige que nos instrumentos em que se
descrevam prédios deve indicar-se sempre se os mesmos se encontram
descritos ou omissos na Conservatória – 54º/1CN, e

Indicar o número da inscrição matricial, ou, no caso de os mesmos se


encontrarem aí omissos, comprovar terem sido já participados no Serviço de
Finanças – 57º/1 CN.
- Quanto à prova:
Da inscrição Matricial:
- Certidão de teor (tanto para os rústicos como para os urbanos);ou
- Caderneta Predial Urbana (só para urbanos), ambas com o prazo de validade
de um ano – 57º/2 CN.
Se o prédio se encontrar omisso nas Finanças, terá de ser provada por:
- Declaração para inscrição de prédios urbanos na matriz (Mod. 1 do IMI), no
caso de prédios urbanos;
- Duplicado da participação do prédio à matriz, no caso de prédios rústicos.
A validade destes documentos é também de um ano.
Sendo o ato para o qual o valor patrimonial tributário assuma
importância (como é o caso das partilhas ou doações), a certidão de teor ou da
caderneta predial urbana têm de estar atualizadas há menos de seis meses –
63º CN.
Da descrição e inscrições prediais:
- certidão de teor emitida pela Conservatória do Registo Predial com
antecedência não superior a um ano - 54º/4 CN. – atenção que apesar de
código do notariado constar ainda o prazo de um ano, o código do registo
predial alterou o prazo das certidões para 6 meses – ver artigo 110º nº 2 do

12
Código do Registo Predial – pelo que se deve considerar que este artigo está
tacitamente revogado, não fazendo agora sentido aceitar certidões com o prazo
de um ano.
- certidão de omissão com o prazo de três meses, no caso de prédios omissos
– 54º/5 CN.

Nota: no caso particular das escrituras de justificações, o prazo de


validade das certidões da matriz ou da Conservatória é só de três meses.
O artº 58º CN, exige a Harmonização entre os elementos da
Conservatória e das Finanças.
Quanto à divergência da área, o nº 3 vem permitir que seja dispensada a
harmonização no caso de a diferença entre a área fixada na Conservatória e a
fixada nas Finanças, não exceda, face à maior, 20% no caso de prédios
rústicos (não submetidos ao cadastro geométrico) e 10% no caso de prédios
urbanos. Neste caso o interessado terá tão só que fixar qual a área correta: se
a da Conservatória, se a das Finanças.
Assim, a área constante da descrição predial pode ser atualizada, no
limite das percentagens atrás referidas e fixadas no artigo 28.º-A do Código do
registo Predial, se o proprietário inscrito declarar que a área correta é a que
consta da matriz, sendo que o recurso a esta faculdade para proceder à
atualização da descrição ou mesmo à sua abertura, apenas pode ser efetuado
uma única vez, ficando o exercício desta faculdade mencionado na descrição
predial.
Porém, se a diferença de áreas for superior à tolerada, haverá que
proceder do seguinte modo:
- sendo a área correta a do Registo, juntar um pedido de retificação
matricial da área;
- sendo a área correta a do Serviço de Finanças, terá que pedir a
retificação da descrição predial e para tanto, terá que aí juntar uma planta nos
termos previstos no artigo 28º C do Código do Registo Predial: Planta do prédio
elaborada por técnico habilitado e declaração do titular de que não ocorreu
alteração na configuração do prédio; ou planta do prédio e declaração dos
confinantes de que não ocorreu alteração na configuração do prédio.
Obrigatoriedade do Registo ou Dispensa do Registo
Prévio – artºs 54/2 e 3 e 55º CN
Regra: obrigatoriedade do registo prévio – 54º/2 CN

Este artigo estabeleceu uma obrigatoriedade indireta do registo (embora


o registo seja atualmente diretamente obrigatório), na medida em que exige
que:
- para a transmissão ou oneração de um bem, ele esteja registados a favor do
alienante ou onerante;
- para a partilha de um bem, ele esteja registado a favor do autor da herança.
Exceções: Dispensa de Registo Prévio nas situações do 54º/3 a) e b) e
55º a) e b).
- 54º/3 a)- Refere-se a prédios descritos na Conservatória.
Permite que alguém adquira um imóvel e no mesmo dia o transmita a outrém
ou o onere sem que previamente tenha que o registar a seu favor.

13
Os pressupostos desta exceção são, por um lado, que as transmissões
se verifiquem no mesmo dia, por outro, que o notário tenha conhecimento
delas, seja porque ambas as escrituras foram realizadas no seu Cartório, seja
porque o interessado exibe certidão da escritura de aquisição lavrada noutro
cartório, ou por outro documento de transmissão – documento particular
autenticado, ou procedimento simplificado da conservatória.
O conhecimento pessoal do notário ( ou outro titulador) terá que ser
mencionado na escritura.
- 54º/3 b) - Casos de urgência.
O perigo de vida terá que ser comprovado por peritos médicos, devendo
mencionar-se na escritura o modo como foi comprovada a urgência – 56º a).
- 55º a) – Diferencia-se da exceção do 54º/3 a), na medida em que se aplica a
prédios omissos ou descritos na Conservatória, mas sem inscrição em vigor.
Permite aos herdeiros de uma determinada pessoa partilharem ou
transmitirem os bens da herança, sem que os mesmos se encontram
registados a favor do falecido ou em comunhão hereditária a favor dos
herdeiros. Para tanto terão tão só que invocar a qualidade de herdeiros,
mediante escritura de “Habilitação de Herdeiros” que efetuarão ou exibirão,
caso já tenha sido feita.

- 55º b) – A primeira parte do artigo faculta aos interessados a possibilidade de


transmitir bens sem que os mesmos estejam registados a seu favor, desde que
exiba um título de aquisição válido, anterior a 1 de outubro de 1984.
Título válido para o efeito, será uma escritura, um inventário ou qualquer
outra sentença judicial que comprove validamente a titularidade do
transmitente.
A imposição da anterioridade a 1 de outubro de 1984, justifica-se pela
entrada em vigor do Código do Registo Predial nesta data e a obrigatoriedade
indireta de registo que ele veio exigir.
Esta faculdade aplica-se quer a prédios omissos, quer a prédios
descritos na Conservatória, incluindo situações em que os prédios se
encontrem registados ainda a favor de antigos transmitentes. Neste último
caso, se bem que para efeitos de escritura bastará apresentar o título, para
efeitos de registo, o adquirente terá que reconstituir as transmissões desde o
titular inscrito até à sua (reconstituir o trato Sucessivo).
A parte final do artigo reporta-se às situações de justificação simultânea
de direitos, facultando àquele que invoca a posse, mediante escritura de
justificação, transmitir na mesma escritura o prédio a outrem (ex. “Justificação e
Compra e Venda”.
Por fim, na terceira parte do instrumento notarial, encontramos:
Arquivamento e exibição de documentos – 46º/1 f) e g) e 27º CN
Quanto aos documentos, a regra é a do seu arquivamento.
A exceção reporta-se aos casos em que a lei mencione somente a sua
exibição (ex. certificado de admissibilidade de firma – 47º/3 CN; certidão de
omissão de prédios ou do número das descrições – 54º/4 e 5 CN; títulos
anteriores a 1 de outubro de 1984 – 55º b); certidão matricial, modelo 11 ou a
participação para inscrição dos prédios na matriz- 57º/2 e 3),
ou quando a lei determine que não fiquem arquivados (ex. certidão de
óbito para averbar o falecimento do testador, ao testamento – 138º CN).

14
Na dúvida o documento deve ficar arquivado.
A menção dos documentos arquivados é feita nos termos do 46º/1 f) e a
dos exibidos nos termos do 46º/1 g). Esta alínea g) sofreu uma recente
atualização com o decreto-lei número 125/2013 de trinta de agosto, no sentido
de acrescentar que na menção também se deve indicar o número de ordem
das certidões de registo ou no caso de certidão permanente do respetivo
código de acesso.
Integram os próprios atos os documentos complementares nos termos
previstos no artigo 64º do CN e por este facto qualquer certidão ou fotocópia de
teor integral deve reproduzir não só o teor do instrumentos como também do
próprio documento complementar.
Advertências
Entre outras, é necessário fazer a advertência aos interessados:
- no caso de os atos serem anuláveis ou ineficazes;
- da intervenção/ ou não, de mediador imobiliário em atos transmissões
onerosas de imóveis;
Intervenientes Acidentais
No instrumento notarial, além das partes, podem intervir:
1. Abonadores – para identificarem os outorgantes;
2. Intérpretes e Leitores – para, respetivamente, transmitirem o conteúdo
dos atos àqueles que não percebam a língua portuguesa ou sejam surdos,
mudos ou surdos - mudos;
3. Peritos médicos – para garantirem a sanidade mental dos outorgantes;
4. Testemunhas – caso a lei as exija (ex. testamento), ou as partes ou o
notário as requeiram.
A identificação dos intervenientes acidentais é feita nos termos do 46º/1
h), e a verificação da sua identidade nos termos do 48º.

Nos atos em que haja a intervenção de surdos, mudos ou de surdosmudos,


haverá que atuar em conformidade com o artº 66º.
A incapacidade ou inabilidade dos intervenientes acidentais determina a
nulidade do ato – 71º/2, daí que seja importante ter em atenção o artº 68º que
determina quem não pode ser interveniente.
O artº 69º exige ainda o juramento legal aos intérpretes, peritos e
leitores.
Não convém esquecer que a falta de declaração do cumprimento de
todas as formalidades referentes à intervenção de leitores e intérpretes
acarreta a nulidade dos instrumentos nos termos do artigo 70º nº 1 alínea b).
Leitura e explicação do ato – 46º/1 l) e 50º CN
É obrigatória a leitura do ato, a menos que as partes a dispensem, por
conhecerem o seu conteúdo.
No caso de documentos complementares a sua leitura é também obrigatória,
podendo ser dispensada nos mesmos termos pelos interessados: artigo 50º e
64º nº 4.
Após a leitura, o notário terá que fazer uma explicação sucinta do
conteúdo do ato.
Assinaturas – 46º/1 n) e 51º

15
São feitas em seguida ao contexto do ato.
Em caso de atos lavrados fora do Livro de Notas, como sejam os
documentos complementares da escritura, todas as páginas, com a exceção da
última, têm de ser rubricadas.
Embora não seja obrigatório na lei, por razões metodológicas e de
controlo os intervenientes costumam assinar pela ordem que foram nomeados,
sendo a do notário, ou se substituto a última.
Caso o interessado não saiba ou não possa assinar deve indicar-se o
motivo pelo qual não faz, apondo depois o outorgante a sua impressão digital à
margem do documento – 51º/1, não sendo necessário ninguém assinar a seu
rogo.
As impressões digitais são apostas pela ordem de identificação dos
outorgantes e no final do instrumento, na margem oposta à lombada do livro.
Se for impossível a impressão digital deve mencionar-se a existência e a causa
dessa impossibilidade.
A aposição da impressão digital pode ser substituída pela intervenção de
duas testemunhas, exceto nos testamentos -51º/3.
Outras menções:
As referências à estatística, nos casos em que ela exista, ao número da
conta, ao selo cobrado, são lançados fora do contexto do ato, logo a seguir às
assinaturas e rubricadas pelo notário ou seu substituto. Se algum ato beneficiar
de isenção de selo ou de redução ou for um ato gratuito deve anotar-se no
contexto do ato também o respetivo fundamento legal.
O Código do Imposto do selo determina que nos documentos sujeitos a
imposto devem ser mencionados o seu valor e data da liquidação
Nulidades e Revalidação dos Atos Notariais – 70º a 79º CN
A nulidade em causa é a nulidade formal, a nulidade do próprio ato, não
a nulidade substantiva, a nulidade do conteúdo, que por si só leva à recusa do
ato.
Causas de nulidade – as previstas no artº 70º/1 e 71º/1 e 2, vigorando
aqui o Principio da Tipicidade.
Algumas nulidades são sanáveis nos termos do 70º/2 e 71º/3, porém a lei
considera insanáveis, a nulidade resultante de:
- incompetência do notário em razão da matéria;
- impedimento legal do funcionário – 5º CN (por intervenção do notário,
do seu cônjuge, ou de qualquer parente ou afim na linha reta ou em segundo
grau da linha colateral), muito embora a nulidade seja restrita às disposições a
favor dessas pessoas – 72º CN.
Também o referido decreto-lei 125/2013 veio aditar uma alínea – a f) –
referente à menção das certidões nos termos do artigo 46º alínea g).
Não podendo ser sanadas nos termos do 70º/2 e 71º/3 podem ser
revalidadas por decisão do notário, mediante requerimento do interessado nos
termos do 73º a 79º.
Os notários não ficam eximidos da responsabilidade disciplinar que lhes possa
caber.

Instrumentos Públicos Avulsos


Notas comuns:
- são lavrados fora do Livro de Notas, normalmente em folhas
avulsas.

16
- todas as folhas são rubricadas, com exceção da última que é
assinada.
- são lavrados num só exemplar, com exceção dos instrumentos
de depósito de testamentos cerrados que são lavrados em duplicado –
103 CN;
- são por regra, entregues aos interessados. Excetuam-se as
procurações irrevogáveis, os instrumentos de ratificação de atos
notariais e instrumentos de abertura de testamentos cerrados, todos
arquivados no Cartório.
Tipos de instrumentos:
1 – Instrumentos de atas de reuniões de órgãos sociais – podem
ser lavradas pelo notário – 63º/7 CN.
2 – Instrumentos de protesto de títulos de crédito – 119º a 130º CN.
27
3 – Procurações – 116º a 118º CN.
Procuração: é o ato pelo qual alguém atribui a outrem voluntariamente
poderes representativos – artigo 262º do CC
Capacidade – artigo 263º CC – esta norma não exclui a possibilidade de
serem atribuídos voluntariamente poderes de representação a pessoas
coletivas, sendo que a determinação das pessoas físicas que exercerão esses
poderes dependerá da lei, estatutos ou deliberações dos órgãos competentes.
Requisitos especiais:
- entre cônjuges não podem ter caráter genérico, dado o
1684º CC e 117º CN; A finalidade é impedir que os cônjuges
possam alterar na constância do casamento o estatuto legal que
regula as relações patrimoniais devido à atribuição indiscriminada
de poderes um ao outro. Rege aqui o princípio da especialidade.
- para doar, tem de indicar qual o objeto da doação e o
beneficiário – 949º CC;
- o negócio celebrado pelo representante consigo mesmo,
seja em nome próprio, seja em nome de terceiro, deve ser
especificamente autorizado pelo representado – artº 261º CC;
- procuração para casamento deve individualizar o outro
nubente e indicar a modalidade do casamento – 1.620º CC
Forma: as procurações podem ser lavradas de três formas –
116º/1 CN:
- por instrumento público;
- por documento autenticado (documento particular
confirmado pela parte perante o notário/outro profissional, através de
termo de autenticação);

- por documento particular escrito e assinado pelo


representado, com reconhecimento presencial de letra e
assinatura;
Formas de extinção: 1 – renúncia (pelo procurador).
2 – revogação (pelo mandante).
Procurações passadas no interesse do procurador ou de
terceiros: aquelas que são passadas não só no interesse do mandante,
mas também no do procurador ou de terceiro, pelo que só podem ser

17
revogadas com o interesse destes. Ex: procuração passada pelo
vendedor a favor do comprador para este poder vender os seus bens em
nome próprio, furtando-se assim à realização da escritura
pública/documento particular autenticado e ao pagamento de impostos
116º/2 CN diz que devem revestir a forma de instrumento público,
e têm de ficar arquivadas no Cartório.
Nas procurações para venda tem de ser indicado o preço e o
valor patrimonial tributário, uma vez que o IMT incide sobre o maior dos
valores, não podendo o sujeito passivo beneficiar de qualquer tipo de
isenção ou redução de taxa. (Eventualmente terá direito de reembolso
do imposto pago, se o vier a beneficiar de redução ou isenção).
Neste tipo de procurações é devido IMT nas situações previstas
no 2º/3 c) e d) CIMT. O imposto é devido pelo procurador ou
substabelecido e é liquidado e cobrado antes da outorga da procuração,
pelo que o procurador terá de apresentar documento comprovativo do
pagamento do IMT, que ficará arquivado no cartório – 4º f), 22º/2 e 49º/1
CIMT.
Cessação da relação jurídica que lhe serviu de base: por exemplo
uma procuração passada durante a constância do casamento: os
poderes extinguem-se com o divórcio.
Substabelecimentos: o procurador pode fazer-se substituir por outrem,
substabelecendo os poderes que lhe foram conferidos, desde que a faculdade
de substituição resulte do conteúdo da procuração ou seja autorizada de forma
expressa ou tácita pelo representado.
Revestem a mesma forma que as procurações (artigo 116º CN nº 3)
Instrumentos de ratificação de negócios jurídicos.
Ratificação – é o instrumento pelo qual o dono do negócio chama
a si, à sua esfera jurídica, os efeitos do ato praticado pelo gestor de
negócios. Ver artigo 464º e seguintes do CC.
Forma – a mesma da procuração, tendo eficácia retroativa, sem
embargo de não poder prejudicar terceiros. Ficam arquivados no
Cartório e a ratificação é averbada à escritura.
Instrumentos de Consentimento e Instrumentos de Confirmação
O consentimento conjugal tem de ser especial para cada ato –
artº 1684º/1 CC.
Se for prestado antes da escritura, é feito um Instrumento de
Consentimento. Quanto à forma, o 117º CN diz que são aplicadas as
regras da procuração: por instrumento público, documento particular
autenticado através de termo de autenticação, ou com reconhecimento
de assinatura ou de letra e assinatura.
Se for prestado depois da escritura, uma vez que a escritura é
anulável – 1.687º CC, para a sanação deste vício é necessário um
Instrumento de Confirmação. Quanto à forma, não é exigida forma
especial, tendo eficácia retroativa, mesmo em relação a terceiros. – 288º
CC.
Termos de Autenticação e Reconhecimentos
Os documentos particulares podem ser autenticados – através de um
Termo de Autenticação (artº363º/3 CC), que lhes confere força probatória
igual à dos documentos autênticos – ou terem reconhecimento notarial de
letra e assinatura ou só de assinatura – caso em que fazem prova plena

18
quanto às declarações atribuídas ao seu autor, sem prejuízo da arguição e
prova da falsidade do documento.
Termos de Autenticação
Noção: 150º CN. Requisitos: 151º CN
O termo de autenticação deve ser lavrado no próprio documento a que
respeita ou então em folha anexa, e se em folha anexa deve agrafar-se ao
documento particular de forma a não permitir a sua separação, numerando-se
e rubricando-se todas as folhas – ver artigo 36º nº 4 do C.N.
A autenticação dos documentos particulares deve ser assinada
simultaneamente por todos os declarantes quando estivermos perante um
contrato.
A validade dos termos de autenticação quando efetuados por solicitadores,
advogados, e câmara de comércio ou indústria, depende do registo em sistema
informático cuja regulamentação consta da portaria 657-B/2006 de 29 de junho.
Se o documento a autenticar obrigar à liquidação de imt ou outros impostos o
termo de autenticação tem que fazer referencia à liquidação e pagamento
desses impostos e a menção do seu arquivamento.
Reconhecimentos:
Simples - referentes à letra e assinatura ou só de assinatura.
Estes têm de ser sempre presenciais – 153º/2, 4 e 5 CN.
com menções especiais – quando inclui qualquer circunstância
especial, por exigência da lei ou a pedido dos interessados, que o
notário tenha conhecimento ou possa verificar pelos documentos
exibidos – 153º/3 CN. Estes podem ser: presenciais
por semelhança – por confronto com a assinatura
do B.I. ou outro equivalente ou pública forma de um destes
documentos.
Requisitos dos reconhecimentos: 155º CN.
Imposto de Selo: terá de ser cobrado o selo da verba 2 TGIS, quando
se faça o reconhecimento de assinatura num contrato de arrendamento;

O TESTAMENTO
Noção: artº 2.179 CC
É um ato pessoal – 2.182 CC. – não admite representação, ou
ficar dependente do arbítrio de outrem e tem de ser feito pelo próprio testador.
É um ato individual ou singular - O 2.181º CC proíbe os
testamentos de mão comum, logo não podem testar num mesmo
testamento duas pessoas ou mais.
É um ato revogável (2.311º CC) – admite sempre revogação,
com exceção das disposições perfilhatórias.
A revogação pode ser expressa – 2.312º CC: quando o testador
expressamente declara que revoga no todo ou em parte um testamento
anterior, ou tácita – 2.313º CC: quando em testamento posterior, o
testador faça uma disposição incompatível com a já feita num outro
testamento.
No entanto o testamento anterior revogado pode recuperar a sua
força se o testamento revogatório posterior for por sua vez revogado e o
testador declare ser sua vontade que revivam as disposições do primeiro
– artigo 2314º nº 2 do C.C.

19
No caso dos testamentos cerrados e sem prejuízo de poderem
ser revogados por testamento ou escritura, o modo mais fácil e
económico de o testador o revogar é inutilizá-lo rasgando-o ou
queimando-o.
É um negócio jurídico mortis – causa – só produz efeitos após
a morte do testador – 2.179º/1 CC.
Tem caráter essencialmente patrimonial, admitindo
disposições de caráter pessoal – 2.179º/2 CC.
Capacidade para testar
Regra é a de que todos os indivíduos podem testar – 2.188º CC.
A lei só exceciona o caso dos menores não emancipados e dos
interditos por anomalia psíquica. – 2.189º CC.
Quanto aqueles que não saibam ou não possam ler
(analfabetos e cegos), o artº 2.208º CC e o 108º/3 CN parte final dizem
que estes não podem dispor através de testamento cerrado, só o
poderão fazer através de testamento público, pois só assim o notário se
poderá certificar que eles sabem qual o conteúdo do testamento.
Formas do Testamento
Os testamentos podem ser comuns ou especiais.
São Comuns: os testamentos públicos (2.205º CC) – aqueles
que são lavrados pelo notário no seu Livro de Notas;
os testamentos cerrados (2.206º CC)– os escritos
e assinados pelo testador ou por outra pessoa a seu rogo, ou escritos
por outra pessoa e assinados pelo testador;
os testamentos internacionais – quando
elaborados nos termos da Convenção de Washington de 26 de outubro
de 1973, que uniformiza procedimentos e permite o reconhecimento nos
países aderentes.
São especiais: os testamentos militares – 2.210º CC;
os testamentos a bordo de navio – 2.214º CC;
os testamentos a bordo de aeronave – 2.219º CC;
Testamentos cerrados – 2.206º CC e 106º CN
O testamento cerrado tem de ser manuscrito (não sendo possível
aprová-lo se ele se encontra datilografado ou elaborado noutro sistema
gráfico), as palavras rasuradas, emendadas, trancadas ou entrelinhadas
têm de ser ressalvadas antes da assinatura do testador e todas as folhas
que não a última têm de estar rubricadas.
Para que produza efeitos necessita de ser aprovado pelo notário
através de um Instrumento de Aprovação – 2.206º/5 CC. É este
instrumento que lhe vai conferir autenticidade, pelo que a data do
testamento será a data da sua aprovação – 2.207º CC.
O notário não poderá ler o testamento a menos que o testador o
autorize – 107º CN. Lavrará o instrumento de aprovação de seguida à
assinatura do testador, devendo o mesmo conter as declarações
previstas no 108º/2 CN. Todas as folhas serão rubricadas pelo notário
com aposição do selo branco. A pedido do testador o notário poderá
ainda coser e lacrar o testamento, com aposição do sinete do notário
sobre o lacre.
Uma vez aprovado o testamento, o testador poderá depositá-lo
no Cartório ou levá-lo consigo.

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Optando por depositá-lo o notário terá que lavrar um Instrumento
de Depósito (109º/1 CN), em duplicado, sendo um deles entregue ao
testador. Para que fique depositado, o testamento terá que estar
obrigatoriamente selado e lacrado – 109º/2 CN.
A qualquer momento o testador ou um procurador com poderes
especiais poderá levantá-lo (110º CN), caso em que se averba a
restituição ao duplicado do instrumento de depósito arquivado no
Cartório, com indicação da pessoa a quem foi entregue.
Falecido o testador, o testamento cerrado, quer esteja depositado
no Cartório, quer esteja na posse de outra pessoa, terá sempre de ser
legalizado através de um Instrumento de Abertura – 111º e 114º CN.
No referido instrumento de abertura ficam consignadas as
formalidades previstas no artigo 113º e ainda a data do óbito ou a data
da decisão judicial que mandou proceder à sua abertura no caso de se
tratar de justificação de ausência do testador.

Para tanto, o interessado terá que juntar uma certidão de óbito do


testador ou de uma decisão judicial a ordenar a abertura do testamento
– 112º CN.
Se porém, o notário tiver conhecimento do falecimento de algum
testador cujo testamento esteja depositado no Cartório, deve requerer
oficiosamente à Conservatória do Registo Civil certidão de óbito e lavrar
o Instrumento de Abertura. De seguida notifica os herdeiros ou os
beneficiários.
O que caracteriza o testamento público é o facto de ser
exarado pelo notário nos livros de notas, enquanto o testamento
cerrado ou internacional é executado pessoalmente pelo testador
ou por outra pessoa a seu pedido, intervindo o notário em momento
posterior para a sua aprovação, ou seja, para lhe dar autenticidade
e consequentemente ele possa produzir os seus efeitos.
Requisitos ou Menções Especiais dos Testamentos
Os testamentos públicos e os instrumentos de aprovação,
depósito e abertura obedecem aos requisitos gerais dos instrumentos
notariais. Para além destes há alguns requisitos especiais:
- a menção da data é aqui muito importante, pois como referido, é
a data de aprovação que é a data do testamento – 2.207º CC.
- tanto os testamentos públicos como os instrumentos devem ser
manuscritos a preto e com grafia de fácil leitura – 38º e 39º CN. A
exceção é feita quando o notário esteja em exercício, em que os
mesmos podem ser processados informaticamente, desde que seja
destruído o suporte informático.
- nos testamentos, contrariamente ao resto dos instrumentos
notariais, não é necessário fazer menção da descrição na Conservatória
nem à inscrição dos prédios na matriz, tal como no caso de constituição
de propriedade horizontal, em que não é necessário juntar certidão
camarária ou projeto de construção – 61º CN.
- o testamento público e o instrumento de aprovação terão que
mencionar obrigatoriamente a data de nascimento do testador e o nome
completo dos pais – 47º/4 CN
- é sempre obrigatória a intervenção de duas testemunhas, que só

21
poderão ser dispensadas em caso de urgência, e em tal situação o
notário terá que fazer menção expressa dessa circunstância no texto do
ato – 67º/1 a), nº2 e 3.
Índices e fichas
Tanto os testamentos como os instrumentos dão lugar à
realização de um ficheiro pessoal, privativo, sujeito a sigilo profissional.
Os notários são obrigados a enviar mensalmente uma ficha à
Conservatória dos Registos Centrais, com os elementos relativos a
testamentos lavrados – 187º a) CN.
Averbamentos e Participações
Ao testamento são averbados: o óbito do testador (131º a) e a
modificação ou revogação do testamento (131º g) CN).
Relativamente às participações, o notário é obrigado e participar
ao ordinário da diocese a que pertença o lugar da abertura da herança
(última residência do falecido), certidões de testamentos que contenham
legados pios, e ao Presidente da Câmara Municipal, certidões de
testamentos que contenham legados de interesse público – 204ºCN.
Disposições Testamentárias
Tendo herdeiros legitimários (cônjuge, descendentes ou
ascendentes), o testador só poderá dispor de uma parte dos seus bens.
Essa parte chama-se Quota Disponível e é de:
- Um terço, se falecer: com cônjuge e filhos;
com cônjuge e pais vivos;
não deixando cônjuge, se deixar mais de um filho.
- Metade, se falecer: só com o cônjuge;
só com um filho;
só com pais vivos.
Não tendo herdeiros legitimários, pode dispor de todos os seus
bens. Porém, neste caso, se não fizer testamento, herdeiros serão
sucessivamente as pessoas indicadas no artº 2.133º CC: irmãos e
sobrinhos; primos; Estado.
Se o testador fizer a disposição de um bem certo e determinado
do seu património, diz-se que faz um legado e institui alguém legatário;
se deixa a totalidade ou uma quota parte do seu património a alguém,
diz-se que institui essa pessoa seu herdeiro. – 2.030º CC.
Alguns exemplos de disposições testamentárias inválidas:
- disposições a favor do tutor, do médico, enfermeiro e sacerdote,
do notário ou do cônjuge adúltero – 2.192º a 2.197º do CC;
- disposição feita com a condição de a pessoa casar ou não casar
– 2.233º CC;
- disposições contrárias à lei, previstas no artº 2.232º CC.

ATOS SUJEITOS A ESCRITURA PÚBLICA/ TERMO DE


AUTENTICAÇÃO NOS TERMOS DO D.L. 116/2008
( imóveis)
Compra e Venda
Noção: 874ºCC – é o paradigma dos contratos onerosos e um contrato
típico ou nominado pois tem a sua regulamentação no referido artigo e
seguintes.

22
A falta de forma dá lugar à nulidade da venda – 220ºCC.
Efeitos: 879ºCC
Da compra e venda resulta: a transmissão da propriedade da coisa;
a obrigação de entregar a coisa;
a obrigação de pagar o preço;
Limitações à celebração do contrato:
A - Proibição de compra e venda entre cônjuges, exceto se
separados judicialmente de pessoas e bens – 1.714º CC.
B - Situações de necessidade de autorização do Ministério Público,
para alienação de bens de menores – 1.889º e 1.892 CC.
C - Proibição de venda a filhos ou netos sem o consentimento dos
outros filhos ou netos - 877º CC.
Na venda a filhos é necessário o consentimento dos restantes
filhos ou dos seus descendentes, caso tenham já falecido;
Na venda a netos é necessário o consentimento dos filhos e dos
irmãos dos netos compradores.
Isto para se evitar que se façam compras e vendas simuladas
com prejuízo das legítimas.
D – Proibição de fracionamento de terrenos aptos para cultura –1376º CC
Abrange: a proibição de fracionamento de terrenos em parcelas de área
inferior a uma unidade de cultura – no Norte = 10.000 m2;
a proibição de fracionamento se do mesmo resultar o encrave de
qualquer das parcelas, ainda que respeitada a unidade de cultura para a
região;
abrange ainda a proibição de venda de terreno contíguo pertencente ao
mesmo proprietário.
A consequência do desrespeito por esta norma alterou recentemente de
forma radical pois se antes era a mera anulabilidade do ato, desde a entrada
em vigor da Lei 111/2015 de 27 de agosto, a qual entrou em virgor no dia 27 de
setembro, alterou o artigo 1379º do Código Civil, no sentido de que são nulos
os atos de fracionamento ou troca contrários ao disposto nos artigos 1376.º e
1378.º
E – Regime Jurídico da Edificação e Urbanização – Loteamento
DL nº 555/99 de 16 de dezembro, com as alterações do DL 272/2001
de 4 de junho, Lei 60/2007 de 4 de setembro e Decreto-lei nº 26/2010 de 30
de março.
As operações de loteamento para serem válidas necessitam de ser
tituladas por um Alvará de Loteamento.
O artº 2º n) deste DL define operação de loteamento como as ações
que tenham por efeito a constituição de um ou mais lotes destinados imediata
ou subsequentemente à edificação urbana e que resulte da divisão de um ou
vários prédios ou do seu reparcelamento.
O artigo 49º nº 1 deste DL vem exigir que nas escrituras das quais
resultem direta ou indiretamente a constituição de lotes ou a sua transmissão,
seja mencionado o número de Alvará ou da comunicação prévia, a data da
sua emissão ou admissão pela Câmara Municipal a data da sua
caducidade e a certidão do registo predial da qual conste o registe de
autorização de loteamento.
O nº 2 deste artigo vem ainda exigir que nos atos de primeira
transmissão de imóveis ou de frações autónomas de imóveis construídos

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em lotes, se exija certidão emitida pela Câmara Municipal comprovativa da
receção provisória das obras de urbanização, ou de que a caução
apresentada para a realização das referidas obras é suficiente. Estando as
obras concluídas, é suficiente uma certidão comprovativa de tal facto. Nas
transmissões subsequentes tais certidões já não são necessárias.
As exigências do artº 49º não são porém aplicáveis aos casos em que os
Alvarás de Loteamento tenham sido emitidos ao abrigo do DL nº 289/73 de 6
de junho e DL nº 400/84 de 31 de dezembro.
Ainda relativamente às situações de loteamento importa atentar no artº
6º deste DL, relativo às situações de isenção de Alvará de Loteamento. É o
caso do Destaque de parcela de prédio com descrição predial previsto nos
nºs 4 e 5, em que é suficiente a apresentação de uma certidão camarária –
nº 9 do artº 6º.
Têm de ser preenchidos determinados requisitos cumulativos:
1. Se o prédio se situar em perímetro urbano – nº4:
é necessário que as parcelas resultantes do destaque confrontem
com arruamentos públicos;
2. Se o prédio se situar fora do perímetro urbano – nº 5:
a) – na parcela destacada terá que ser construído edifício que se
destine exclusivamente a habitação, com não mais de dois fogos;
b) – na parte restante seja respeitada a área mínima fixada no
projeto de intervenção em espaço rural em vigor ou quando
aquele não exista, a unidade de cultura prevista para a região.
A nível registral o destaque tem tradução, na medida em que é
necessária a inscrição de dois ónus no registo predial - nºs 6 e 7 do artº 6º:
- o de não permissão de novo destaque no prazo de dez anos;
- o do condicionamento da construção no caso destaque ocorrer fora do
perímetro urbano.
documentos necessários:
- nas situações em que se verifique a transmissão de um lote, é
necessária a certidão do registo predial da qual conste o registo de
autorização de loteamento, o número de Alvará, data de emissão e Câmara
emitente. Caso tais dados não constem da certidão é que será exigido o
próprio Alvará.
- na primeira transmissão de imóvel ou de fração autónoma que faça
parte de um imóvel construído num lote de terreno, é necessária certidão
camarária comprovativa da receção provisória das obras de urbanização, da
suficiência da caução, ou de as referidas obras já foram realizadas.
- nas situações de destaque ao abrigo dos nºs 4 e 5 do artº 6º, basta
certidão camarária a autorizar o destaque.
F – LICENÇA DE UTILIZAÇÃO (DL nº 281/99 de 26 de julho alterado pelo
decreto-lei 116/2008 de 4 de julho)
O artigo 1º deste DL vem exigir a exibição da licença de utilização
nas escrituras de transmissão de prédios urbanos ou de frações
autónomas dos mesmos.
O nº 4 vem dispensar a apresentação da licença de utilização caso a
sua existência esteja já anotada no registo predial e o prédio não tiver sofrido
qualquer alteração.
O artigo 2º vem permitir que a licença de utilização possa ser
substituída pela licença de construção:

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- no caso de prédios já concluídos, mas sem licença de utilização,
desde que preenchidos os requisitos do artº 2º/1 para a primeira transmissão e
do 2º/2 para as transmissões subsequentes.
- no caso de prédios não concluídos, basta a licença de construção
em vigor, ou tratando-se da situação de falência, independentemente do prazo
de validade.
Esta permissão facultada aos prédios não concluídos não é, porém,
aplicável à transmissão de frações autónomas ou de moradias familiares.
A apresentação ou não na transmissão do imóvel é também avaliada
tendo em conta a data de entrada em vigor do Regulamento Geral das
Edificações Urbanas – 7 de agosto de 1951.
A partir desta data a licença de utilização é exigível.
Porém o Regulamento Geral das Edificações Urbanas não entrou em
vigor em todos os concelhos ao mesmo tempo.
A Câmara Municipal é que terá de certificar qual a data de entrada em
vigor para a freguesia de situação do prédio urbano.
A prova de que o prédio não está sujeito à exibição da licença de
utilização é feita:
- através da Caderneta Predial Urbana ou da certidão da matriz da
qual consta a data de inscrição do prédio na matriz;
- ou por certidão camarária a indicar que o prédio não estava sujeito
à apresentação da licença de utilização na data de construção.
G - Proibição de transmissão de frações autónomas de prédios em regime
de propriedade horizontal, sem que previamente esteja registada a
constituição da propriedade horizontal, na Conservatória – 62º/1 CN
A exceção do registo prévio reporta-se aos casos em que sejam
realizadas no mesmo dia e com conhecimento pessoal do notário (que tem
de ser exarado na escritura) as escrituras de constituição de propriedade
horizontal e de venda de frações autónomas.
H - Proibição relativa à constituição de compropriedade nos termos do artº
54º AUGI (Regime Legal das Áreas Urbanas de Génese Ilegal).
Proíbe a celebração de escritura pública em que se verifique a
constituição de compropriedade ou o aumento do número de comproprietários,
sem que se exiba um parecer favorável da Câmara Municipal.
O artigo 54º/3 determina a nulidade dos atos celebrados sem o parecer.
I – Ficha Técnica da Habitação – DL nº 68/2004 de 25 de março.
Determina a obrigatoriedade de entrega perante o notário, da Ficha
Técnica da Habitação, ao comprador.
Não é exigível:
- no caso de prédios já edificados ou para os quais foi emitida ou
requerida licença de utilização, anterior a 30 de março de 2004.
- no caso de prédios construídos antes da entrada em vigor do
Regulamento Geral das Edificações Urbanas.
Para além de todas limitações à celebração do contrato de compra e
venda, o notário terá ainda que controlar nesta escritura:
A intervenção ou não de Mediador Imobiliário – LEI nº 15/2013 de
08/02/2013 que veio revogar o regime do DL nº 211/2004 de 20 de agosto –
O artº 40º deste DL exige que a escritura ou documento particular
mencione se houve ou não intervenção de Mediador Imobiliário. A
declaração é feita pelas partes, que em caso afirmativo devem indicar o

25
número da licença, bem como a denominação social.
É ainda necessário fazer a advertência às mesmas, pelo notário,
ou profissional equiparado de que incorrem nas penas aplicáveis ao
crime de desobediência.
O notário deve ainda ter em consideração a Lei nº 25/2008 de 5 de
junho que veio revogar a Lei nº 11/2004 de 27 de março e que veio
impor aos notários, assim como a outros profissionais, como advogados
e solicitadores a vários deveres, sobretudo o de identificação da
identidade dos seus clientes e respetivos representantes nas situações
previstas no artigo 7º daquele decreto-lei.
Documentos da escritura de compra e venda:
- Certidão das Finanças e certidão da Conservatória, dentro dos prazos
estabelecidos na lei, respetivamente 1 ano e 6 meses.
- Pedido de retificação matricial de áreas ou croquis assinado por todos
os confrontantes, ou planta assinada por técnico competente, caso se
verifiquem diferenças de áreas entre a matriz (Finanças) e a descrição
(Conservatória).
- Documento comprovativo do pagamento de IMT quando sujeito, ou da
sua isenção, e também do pagamento do imposto de selo da verba 1.1 da
Tabelga geral do imposto de selo.
- Sendo urbano, Licença de Utilização ou certidão matricial da qual
conste o ano de inscrição na matriz e o mesmo seja anterior à entrada em vigor
do Regulamento Geral das Edificações Urbanas, ou certidão camarária
comprovativa de que o prédio não está sujeito à apresentação de Licença de
utilização.
- Ficha Técnica da Habitação, nas situações enunciadas.
- Parecer da Câmara autorizativo da constituição de compropriedade,
quando seja prédio rústico e tal situação se verifique.
- Certidão camarária comprovativa da receção provisória das obras de
urbanização, da suficiência da caução, ou de as referidas obras já foram
realizadas, em caso de primeira transmissão de imóvel ou de fração autónoma
que faça parte de um imóvel construído num lote de terreno.
A DOAÇÃO
Noção: 940º CC.
Pressupõe um acordo de vontades:
- a vontade de doar;
- a vontade de aceitar a doação
A aceitação pode ser feita na própria escritura ou posteriormente.
Enquanto não for aceite, a doação não se considera perfeita, é tão só
uma proposta de doação, pelo que neste caso, para que produza efeitos é
necessário efetuar uma escritura de aceitação da doação.
Também enquanto não for aceite, o doador pode sempre revogá-la
unilateralmente, com exceção das Doações Puras (doações feitas sem
encargos a favor de incapazes, que produzem efeitos, independentemente de
aceitação). Após a aceitação, só com acordo do donatário é possível a
revogação.
Capacidade
Ativa – Têm capacidade para doar, todos aqueles que possam
contratar ou dispor dos seus bens – artº 948º/1 CC.
nº 2 acrescenta que a capacidade é averiguada pelo estado em que o

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doador se encontrar no momento da doação.
O artº 949º CC vem ainda dizer que os representantes legais dos
incapazes não podem fazer doações em seu nome, e que não é possível
atribuir a outrem, por mandato – procuração -, a faculdade de designar o
donatário e objeto da doação, dado o caráter pessoal da doação.
Passiva – Podem aceitar doações todos os que não estejam inibidos de
as aceitar – 950º CC,
porém, os incapazes não podem aceitar doações com encargos
senão por intermédio dos seus representantes legais, e mesmo neste caso é
necessário autorização do Ministério Público – 951º CC. Diferentemente, no
caso das doações puras, e uma vez que se tratam de doações sem
encargos, elas produzem efeitos em relação aos incapazes
independentemente de aceitação – 951º/2 CC.
O 952º CC permite ainda fazer doações a nascituros, concebidos ou
não concebidos, desde que sejam filhos de pessoa determinada e que a
pessoa seja viva ao tempo da declaração de vontade do testador. Este artigo
deve interligar-se com o artigo 66º do CC que exige o nascimento completo e
com vida, pelo que se a criança nascer morta, a doação caduca, com efeito
retroativo.
Ainda quanto à capacidade passiva, o notário deve recusar-se a efetuar
a doação quando esteja em causa uma situação de indisponibilidade relativa
– ex. doação feita a favor de médico durante a doença; doação a favor de tutor
por interdito, etc, uma vez que o artigo 953º remete para as regras dos artigos
2.192º a 2.198º CC.
Reserva de usufruto – 958º CC
Na doação, o doador pode reservar o usufruto: para si OU a favor de
terceiro – neste caso constitui uma segunda doação, pelo que também ela
necessita de ser aceite pelo usufrutuário.
Pode também reservar o usufruto a favor de várias pessoas:
- Usufruto simultâneo: quando dois ou mais beneficiários adquirem ao
mesmo tempo a titularidade do direito;
- Usufruto sucessivo: quando o usufrutuário só é chamado à
titularidade do seu direito após a morte do outro.
- Usufruto simultâneo e sucessivo, quando à morte do primeiro
usufrutuário, o segundo adquire o direito de usufruto em toda a sua plenitude. É
geralmente o caso do usufruto reservado a favor de ambos os cônjuges, em
que se verifica um direito de acrescer entre ambos – 958º/2 e 1.442º do CC.
Doação a herdeiros legitimários.
Uma vez que se trata de uma doação feita a um herdeiro, e este, por
força da lei, tem direito a uma parte da herança – legítima -, importa perceber
qual a vontade de doador: se a doação é feita por conta da legitima dos
donatários ou se é feita por força da quota disponível do doador.
Doação por conta da legitima dos donatários.
Neste caso a doação não envolve uma liberalidade, uma vez que o
doador não pretende beneficiar o donatário face aos restantes herdeiros.
A doação funciona aqui como um antecipação daquilo a que o herdeiro
terá direito, pelo que o donatário terá que restituir os bens à massa da herança
quando se fizerem as partilhas.
Sendo feita a presuntivos herdeiros legitimários, é necessário
averiguar ainda, se à data da doação o donatário é ou não presuntivo herdeiro

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legitimário do doador.
Ex.: uma doação feita a um neto, não está, em princípio, sujeita à
colação, é sempre imputada na quota disponível do doador. Porém, se o neto,
em virtude do pré-falecimento de seu pai, se presume ser herdeiro do doador, é
necessário também neste caso averiguar qual a vontade do doador.
Este tipo de doação dá sempre lugar à inscrição oficiosa de um ónus no
registo predial: o ónus de eventual redução da doação sujeita à colação –
artº 2º /1 al. q) do CRP. Desta forma é dada publicidade a terceiros de que o
bem deve ser restituído à massa da herança quando se proceder à partilha, e
assegura-se o cumprimento da vontade do doador.
Nota: Este ónus que incide sobre o bem doado, obsta frequentemente a
que os Bancos aceitem o prédio como garantia de empréstimos. Assim,
pretendendo o donatário dar de hipoteca o bem doado em virtude de um
empréstimo, é de toda a conveniência que a doação seja feita por força da
quota disponível do doador. Não o sendo, doador e donatário terão que
celebrar nova escritura/documento particular de forma a que o doador dispense
da colação o donatário e se possa proceder ao cancelamento daquele ónus no
registo predial.
Doação feita por força da quota disponível do doador.
A doação envolve aqui uma verdadeira liberalidade, na medida em que o
doador pretende beneficiar o donatário face aos restantes herdeiros. Este, para
além do bem doado, terá ainda direito à sua legítima.
Neste caso o donatário não é obrigado a restituir o bem para partilha.
Eventualmente poderá a doação ter de ser reduzida por inoficiosidade, se o
valor da doação exceder a quota disponível do doador (se tiver disposto por
doação mais daquilo que poderia ter disposto).
Nota: todas as doações feitas a pessoas que não sejam presuntivos
herdeiros legitimários do doador, são sempre imputadas na quota disponível.
Revogação.
As doações podem sempre ser revogadas pelo doador enquanto não
forem aceites pelo donatário – 969º CC.
Após a aceitação, só por acordo entre ambos, podem ser revogadas ou
nos casos de ingratidão do donatário, unilateralmente pelo doador – 974º CC.
Limitações à celebração do contrato de doação
. Doações para casamento entre nubentes, ou feitas por terceiro a
favor de um ou de ambos os nubentes têm de ser feitas por escritura de
convenção antenupcial. – 1754º a 1756º CC.
Têm um regime muito apertado quanto à revogação.
Doações entre casados
Dado o perigo de ascendente de um cônjuge sobre o outro, não são
proibidas, mas a lei fere-as de nulidade se vigorar entre os cônjuges o regime
imperativo da separação de bens (1720º e 1762º CC);
só podem ter por objeto bens próprios do doador, passando a ser
considerados bens próprios do donatário, uma vez que não se comunicam;
podem ser revogadas unilateralmente pelo doador, a todo o tempo –
1765º CC (contrariamente ao regime geral da revogação das doações);
caducam, nas hipóteses do artigo 1.766º CC.
Intervenientes na escritura pública de doação:
O doador e o donatário.
A aceitação de doações não exige o consentimento do cônjuge –

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1683º/1 CC.
Uma vez que os bens adquiridos por doação no regime da comunhão de
adquiridos são considerados bens próprios – 1722º/1 b) CC, se o doador
pretender beneficiar o cônjuge do donatário, terá que indicar na doação que o
bem se destina a integrar a comunhão conjugal, não necessitando neste caso
de aceitação do mesmo – 1729º CC.
O MÚTUO
Noção: 1.142º CC
Os Bancos antes da realização da escritura pública de Mútuo com
Hipoteca costumam exigir o registo provisório de constituição de hipoteca –
artºs 47º e 92º/1 i) do CRP, de modo a obterem uma preferência na execução
do bem, em caso de incumprimento.
Sem prejuízo do disposto em lei especial, quanto à forma e de acordo
com o previsto no artigo 1143º do C.C, o contrato de mútuo de valor superior a
(euro) 25 000 só é válido se for celebrado por escritura pública ou por
documento particular autenticado e o de valor superior a (euro) 2500 se o for
por documento assinado pelo mutuário.
A HIPOTECA
Noção: 686º CC – confere ao credor o direito de ser pago pelo produto
da venda dos bens hipotecados, com preferências sobre os demais credores.
Sujeição a escritura pública/documento particular autenticado: 714º
CC.
Legitimidade para hipotecar: 715º CC.
Objeto: 688º CC. Pode incidir sobre bens imóveis, águas, figuras
parcelares do direito de propriedade como o direito de superfície ou o usufruto
e também sobre alguns móveis que a lei equipara a imóveis (ex. automóvel).
De resto, os bens móveis não são hipotecados, são empenhados (
dados em penhor)
Registo: o registo de hipoteca é constitutivo, i.e. não produz efeitos
sequer entre as partes enquanto não for registado – 687º CC.
O 693º CC diz-nos também que a hipoteca abrange os acessórios de
crédito que constem do registo e só estes. – artº 96 do CRP.
Modalidades: Judicial;
Legal;
Voluntária – pode ser constituída por contrato ou
unilateralmente.
A HABILITAÇÃO
Conforme o que consta no artigo 2024º do Código Civil diz-se sucessão
o chamamento de uma ou mais pessoas à titularidade das relações jurídicas
patrimoniais de uma pessoa falecida e a consequente devolução dos bens que
a esta pertenciam. Ora a prova de que tais pessoas são os sucessores do
falecido faz-se por habilitação judicial ou notarial, sendo esta por escritura
pública.
Definição: 83º CN. Consiste na declaração feita por três pessoas que
o notário considera dignas de crédito, ou pelo cabeça de casal (2.080º CC), de
quem são os herdeiros do falecido e de que não há outros que lhes prefiram ou
que com eles concorram
A habilitação de herdeiros é considerada o ato preparatório da partilha
pelo que na mesma devem constar todos os elementos que se tornem
necessários ao correto cálculo dos quinhões que se fará na partilha,

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nomeadamente a pré-morte ou o repúdio como fundamento do direito de
representação.
Elementos da escritura
A declaração feita pelo cabeça de casal ou por três declarantes deve
indicar o nome completo, o estado civil, a naturalidade, e a residência
habitual do autor da herança e a dos habilitandos (herdeiros) – 83º/3 CN.
Sendo algum herdeiro menor, deve indicar-se tal facto, tal como sendo
casados, o regime de bens e o nome do cônjuge. – artº 47º/1 a) e nº 2 CN.
Na escritura devem ainda fornecer-se todos os elementos necessários à
realização da partilha, nomeadamente:
- a existência de testamento;
- o direito de representação – 2.039º CC;
- no caso de os herdeiros serem os irmãos, se são germanos (filhos do
mesmo pai e da mesma mãe), uterinos (só da mesma mãe), ou consanguíneos
(filhos só do mesmo pai), pois os primeiros recebem o dobro dos segundos –
2.146º CC;
- a data de óbito, dada a sua importância para saber, por ex., se o
cônjuge chegou ou não a ser herdeiro, uma vez que só a partir de 01.04.1978 o
cônjuge o passou a ser.
Efeitos de Habilitação: 86º CN.
Serve para os herdeiros e o cônjuge meeiro fazerem:
- levantamentos de dinheiro ou de outros valores;
- registos nas Conservatórias do Registo Predial, Comercial e
Automóveis;
- averbamentos de títulos de crédito;
- transmissão de direitos de propriedade literária, cientifica,
artística ou industrial;
sempre a favor de todos os herdeiros em comunhão
hereditária (em comum e sem determinação de parte ou
direito).
Documentos necessários:
- Certidão de óbito do autor da herança – para provar o falecimento;
- Certidão de casamento do autor da herança – para provar o
casamento, e como tal que o cônjuge também é herdeiro. Só será por isso
necessária, no caso o mesmo falecer no estado de casado.
- Certidões de nascimento dos herdeiros – dos filhos, para provar a
filiação; dos netos para provar a avoenga; dos irmãos e sobrinhos, para provar
que os ascendentes são comuns.
Relativamente à prova da filiação o código do notariado foi recentemente
alterado – decreto-lei nº 125/2013 de trinta de agosto – no sentido de apenas
poderem ser utilizadas certidões do registo civil, dado que havia quem
utilizasse documentos de identificação oficiais onde constava tal filiação
- Certidão de nascimento do autor da herança - tão só no caso de
herdeiros do falecido serem os seus irmãos ou sobrinhos.
- Certidão do testamento – caso exista e não esteja arquivado no
Cartório.
Se a prova do óbito do autor da herança e que os habilitandos são
herdeiros do falecido se pode facilmente fazer através dos documentos
referidos já a declaração de que não há quem lhes prefira ou que com eles
possam concorrer à sucessão só pode ser realizada através de declarações,

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dai que, e no caso de essas declarações serem realizadas pelo cabeça de
casal terá de ser feita a declaração prevista : 83º nº 2 do C.N e artigo 97º , não
esquecendo ainda no caso dos três declarantes o artigo 84º do C.N.
Nos termos do artigo 62º do Código Civil a sucessão por morte é
regulada pela lei pessoal do autor da sucessão ao tempo do seu falecimento –
ver artigos 31º e 62º do Código Civil, daí que no C.N. no artigo 85º nº 2 se
tenha determinado em caso de ser uma lei estrangeira a lei aplicável e o
notário a não conhecer, a escritura deve ser instruída com documento idóneo
comprovativo da referida lei.
Habilitação de legatários – artigo 88º - É possível efetuar este tipo de
escritura desde que o testador distribua toda a sua herança em legados, e/ou
não nomeie o nome do legatário, efetuando uma referencia genérica. Por
exemplo: deixa como legatários os filhos de seu irmão X.
Impugnação da Habilitação – 87º CN
Havendo algum herdeiro preterido, poderá impugnar judicialmente a
Habilitação, solicitando ao Tribunal a comunicação ao Cartório da pendência da
ação, para efeito de averbamento à escritura.
As habilitações de herdeiros podem também ser realizadas nos balcões
das heranças e de divórcio com partilha, um serviço a funcionar em todos os
serviços de registo civil e nalgumas conservatórias do registo predial e do
registo comercial – ver artigo 210º-A do Código do Registo Civil.
PARTILHA
Partilha da Herança
Tem por objeto a universalidade da herança, mediante a atribuição aos
herdeiros dos bens que a compõe, quer preenchendo o seu quinhão com a
totalidade dos bens, quer com parte dos mesmos, quer somente com o valor
das tornas.
Pode ser parcial ou total. Sendo parcial, para os restantes bens será
necessário fazer uma partilha adicional – 2.122º CC.
É uma escritura em que se invoca a habilitação de herdeiros; se
descrevem os bens que fazem parte da herança, com indicação da situação
registral e do valor patrimonial tributário e do atribuído aos memos; se separam
as meações; se procede ao cálculo do valor da herança tendo em conta
eventuais doações feitas por conta da legítima e a existência de testamento; se
procede às adjudicações e ao cálculo do valor das tornas.
IMT – é calculado pelo notário, mas a liquidação e cobrança é feita a
posteriori pelos Serviços de Finanças.
Imposto de Selo – verba 1.1 da TGIS incide sobre o excesso da quota
parte que ao adquirente caberia em bens imóveis.
Documentos:
- certidão da escritura de Habilitação de Herdeiros (a menos que
tenha sido feita no mesmo local);
- certidões da matriz e da Conservatória, relativas aos prédios que
fazem parte da herança;
- no caso de haver divergência de áreas entre a matriz e a
conservatória: duplicado do pedido de retificação de área na matriz, caso
seja esta a errada; planta topográfica assinada pelos confrontantes ou por
técnico, caso a errada seja a da Conservatória.
- parecer da Câmara Municipal da situação os bens, a autorizar a
constituição de compropriedade, se se verificar adjudicação do mesmo

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prédio rústico a vários herdeiros.
Nota: a licença de utilização dos prédios urbanos não é exigível nas
partilhas por morte, uma vez que este tipo de partilha não tem efeito
translativo. Aqui, os herdeiros vão, tão só, ocupar a posição do falecido.
Partilha subsequente a divórcio
É uma partilha normal, em que se relacionam os bens existentes no
património do casal. As participações sociais devem também ser relacionadas,
de forma a poderem ser adjudicadas a um só dos ex-cônjuges e este poder
proceder ao registo de transmissão a seu favor no registo comercial.
Só se aplica às situações de casamentos em comunhão geral de bens
ou comunhão de adquiridos. No regime de separação de bens nada há a
partilhar, dado que não há bens comuns.
Documentos: Além dos normais quanto aos prédios é necessária
Certidão da sentença judicial a decretar o divórcio, ou da decisão da
Conservatória a decretar o divórcio, caso o mesmo tenha sido por mútuo
consentimento e corrido os seus termos na Conservatória do Registo Civil.
O Orçamento do Estado para 2009, aprovado pela Lei n.º 64-A/2008, de
31 de dezembro veio introduzir importantes alterações ao regime da tributação
do património na transmissão de imóveis por efeito da dissolução do
casamento.
Com o divórcio, uma das possibilidades das partes é partilhar o imóvel
do casal, atribuindo-o na totalidade a um dos membros, mediante a entrega de
tornas. Ou seja, uma das partes, tendo já na sua esfera uma quota-parte da
habitação, adquire a outra parte através do pagamento de tornas pelo excesso
do que lhe cabe pela partilha.
Até ao Orçamento do Estado para 2009, esta aquisição era considerada
onerosa para efeitos de IMT e como tal sujeita a imposto.
Dispõe o artigo 2.º, n.º 5 alínea c) do Código do IMT que estão também
sujeitas a IMT:
«O excesso da quota-parte que ao adquirente pertencer, nos bens
imóveis, em ato de divisão ou partilhas, bem como a alienação da herança ou
quinhão hereditário».
Com base nesta redação, o legislador considera, para efeitos de IMT,
que o ato em que uma das partes fica com a totalidade do imóvel, preenchendo
o quinhão da outra parte com dinheiro (as denominadas tornas), está sujeita a
IMT.
No entanto, a introdução do número 6 ao artigo 2.º, veio excluir a partilha
por divórcio da incidência a IMT:
«O disposto na alínea c) do número anterior não é aplicável sempre que
o excesso da quota-parte resultar de ato de partilha por efeito de dissolução do
casamento que não tenha sido celebrado sob o regime de separação de bens.»
Contudo, mantém-se a sujeição a IMT das restantes partilhas admitidas
no ordenamento jurídico, como por exemplo as partilha hereditárias ou por
divisão de coisa comum (em compropriedade).

Partilha em Vida
Noção: 2.029 CC.
Trata-se de um contrato misto, uma vez que envolve doações e
partilha.
No mesmo ato, existem uma ou mais doações feitas em vida a favor de

32
algum ou de todos os herdeiros legitimários, e uma partilha em que, com o
consentimento dos restantes, os donatários se obrigam a pagar aos restantes
herdeiros, em tornas, o valor dos seus quinhões.
Contrariamente à partilha por óbito, aqui as tornas não ficam todas logo
pagas. Isto acontece nomeadamente com as pagas aos cônjuges doadores,
uma vez que não é possível prever qual o que falecerá em primeiro lugar.
Nestas situações, estipula-se um prazo após a morte do primeiro doador, para
que o herdeiro sujeito ao pagamento de tornas, as pague.
Sendo uma partilha definitiva, os bens doados que condicionam a
partilha em vida não podem ficar sujeitos a serem levados à colação numa
futura partilha por morte dos doadores. A partilha em vida é uma partilha
definitiva cujo objetivo é repartir os bens dos doadores pelos seus presuntivos
herdeiros legitimários.
Intervenientes: - os doadores.
- os presuntivos herdeiros legitimários (quer venham a
receber bens ou não).
- os cônjuges dos presuntivos herdeiros legitimários,
casados no regime da comunhão de adquiridos ou comunhão geral de
bens, para prestarem consentimento para a partilha.
Documentos: os mesmos da partilha por óbito, porém a licença de
utilização é de exigir, uma vez que a transmissão assenta em doações.
Imposto de Selo: tem uma especificidade face à partilha por óbito, uma
vez que paga a verba 1.1 da TGIS tanto sobre cada uma das doações, como
sobre as tornas.
A Propriedade Horizontal
Noção: 1.414º e 1.415 CC.
É uma forma especial do direito de propriedade, que permite a divisão
de um prédio em diversas frações que poderão pertencer a diferentes
proprietários, desde que as mesmas cumpram determinados requisitos:
- constituam unidades independentes;
- sejam distintas e isoladas entre si;
- tenham saída própria para a via pública ou para parte comum do
prédio.
Na propriedade horizontal coexistem dois direitos: sobre cada uma das
frações existe um direito de propriedade; sobre as partes comuns do prédio,
existe um direito de compropriedade na proporção de cada fração.
Modos de Constituição: 1.417º CC.
Pode ser constituída por negócio jurídico, usucapião ou decisão
judicial.
No negócio jurídico, inclui-se o testamento, a partilha, a divisão de
coisa comum, e o negócio jurídico unilateral típico que se chama
Constituição de Propriedade Horizontal, em que o proprietário de um prédio
declara submetê-lo ao regime jurídico da propriedade horizontal.
Conteúdo do título constitutivo: 1.418º CC.
Menções obrigatórias– nº1. Têm que ser especificadas quais as partes
do edifício correspondentes às frações e fixar-lhes um valor relativo em
percentagem ou permilagem face ao valor total do prédio.
Menções facultativas – nº2. Pode ser indicado o fim a que se destina
cada uma das frações e ainda o regulamento do condomínio.
A área da fração embora ser indicada no titulo constitutivo da

33
propriedade horizontal não é elemento de identificação indispensável, ao
contrário do que acontece com os restantes prédios porque estes
correspondem a uma parte delimitada do solo e a superfície que ocupam é
elemento essencial para a sua individualização.
Documentos: 59º/1 e 2 CN
- Certidão camarária comprovativa de que as frações autónomas
satisfazem os requisitos legais ou projeto de construção, com os eventuais
projetos de alteração posteriores, aprovados pela Câmara Municipal, com a
menção de que o prédio se destina a ser transmitido em frações autónomas.
- Certidão das Finanças relativa ao prédio urbano em que está a ser
constituída a propriedade horizontal, ou duplicado da participação à matriz do
prédio e das suas frações, caso o prédio seja construído de raiz.
- Certidão da Conservatória, relativa ao prédio urbano em que é
constituída a propriedade horizontal ou relativa ao terreno em que foi
construído o edifício.
Atenção: A exigência destes documentos não se aplicam em caso de
testamento por força do disposto no artigo 61º do C.N.
Transmissão de frações autónomas:
A propriedade horizontal pode ser constituída sobre um prédio já
existente que satisfaça os requisitos legais, ou sobre um prédio novo, quer este
esteja já construído ou não.
A venda de frações autónomas não é possível sem que a constituição da
propriedade horizontal esteja definitivamente registada – 62º/1 CN. (De
qualquer modo, nunca seria possível vender frações de prédio não construído,
uma vez que as mesmas não têm ainda licença de utilização e o artº 2º/4 do DL
281/99 de 26 de julho, não permite a transmissão de frações autónomas só
com o projeto de construção).
Estando porém o prédio concluído, o 62º/2 CN permite que no mesmo
dia em que é constituída a propriedade horizontal sejam vendidas frações
autónomas, sem o registo prévio da constituição de propriedade horizontal,
desde que com o conhecimento pessoal do notário.
Garagens – podem ser parte integrante da fração autónoma (é o caso dos
lugares de aparcamento na cave, que fazem parte do apartamento) ou
constituírem verdadeiras frações autónomas, caso em que podem ser
transmitidas autonomamente.
Sendo frações autónomas estão sujeitas à exibição da licença de
utilização.
Para a celebração do ato de constituição de propriedade horizontal em
prédio comum do casal entende-se que é necessário a intervenção de ambos
os cônjuges pois se trata de um ato de administração extraordinária – artigo
1678º nº 3 2ªa parte do C.C., salvo se a administração desse prédio pertencer
apenas a um dos cônjuges.
A modificação do titulo constitutivo da propriedade horizontal que
signifique a alteração da composição ou destino só pode ser efetuada se for
junto documento camarário comprovativo de que tal alteração está de acordo
com os requisitos legais ou projeto devidamente aprovado no caso da
modificação exigir obras de adaptação – artigo 60º CN
A Justificação
Artºs 89º a 101º CN
A lei criou uma providência de caráter excecional – justificação –

34
destinada a possibilitar o estabelecimento do princípio do trato sucessivo
sempre que não existam documentos que comprovem os direitos dos atuais
titulares e adquirentes.
Noção: Escritura que visa fornecer ao interessado um título para o
registo. Para tanto, o interessado deverá invocar a usucapião, i.e., uma posse
pública, continua e pacifica sobre um determinado prédio, durante um
determinado período de tempo tal, que conduza à aquisição do direito de
propriedade – 1.287º CC.
No caso de bens imóveis, exige-se o decurso do prazo de 20 anos –
1.296º CC. – dado incluir o prazo máximo que abrange os casos de má-fé.
Modalidades:
Justificação para estabelecimento de trato sucessivo (ou
primeira inscrição)
Aplica-se a situações de prédio não descritos na Conservatória.
É a mais usual e permite resolver situações em que o prédio
esteja omisso na Conservatória e o interessado não tenha nenhum título
válido para registo. O justificante terá que fazer prova que possui o
prédio há tempo suficiente para o adquirir por usucapião e que o possui
de forma continuada, há vista de toda a gente e sem oposição de quem
quer que seja, especificando a causa de aquisição e referindo as razões
que o impossibilitam de comprovar aquela aquisição pelos meios
normais, e, quando é alegada a usucapião baseada em posse não
titulada deve-se expressamente mencionar as circunstancias de facto
que determinam o inicio da posse, bem como as que consubstanciam e
caracterizam a posse geradora de usucapião
Justificação para reatamento de trato sucessivo
É aplicável a prédios descritos na Conservatória e com inscrição
de aquisição a favor de alguém, que não o transmitiste.
Ex. Diogo pretende justificar um prédio com inscrição de
aquisição a favor de António no ano de 1910. Em 1940 António vendeu a
Bento o referido terreno por escritura pública. Em 1970, Bento doou
aquele prédio a Carlos também por escritura, mas Diogo não sabe onde
a mesma foi feita. Diogo adquiriu o referido prédio por adjudicação em
inventário judicial por óbito de Carlos.
Todas as transmissões foram validamente tituladas, i.e., foram
devidamente formalizadas através de escritura pública ou inventário,
porém, Diogo não consegue apresentar a escritura de doação de Bento
a Carlos, por não saber onde a mesma foi outorgada. Nesta situação,
Diogo terá que recorrer a este tipo de escritura e reconstituir todas as
transmissões, invocando as razões porque não lhe é possível apresentar
os títulos.
Justificação para estabelecimento de novo trato sucessivo
Aplica-se também a prédios descritos na Conservatória e com
inscrição de aquisição a favor de alguém.
Distingue-se da justificação para reatamento do trato sucessivo,
uma vez que na cadeia das transmissões existe uma ou mais
transmissões que não foram validamente tituladas (ex. contratos
promessa de compra e venda em vez de escritura pública de compra e
venda; doação verbal, etc.).
O justificante para além de reconstituir todas as transmissões terá

35
ainda que invocar a usucapião, relativamente aquela ou aquelas que não
foram validamente tituladas.
Intervenientes: O justificante e três testemunhas para confirmar as
suas declarações - artº 96º CN.
Os declarantes das justificações têm que reunir os requisitos de
idoneidade das testemunhas instrumentarias.
Pressupostos de admissibilidade das escrituras de justificação
- o prédio tem de estar inscrito na matriz (não basta a simples
participação à matriz de um prédio omisso, ou a existência de um artigo urbano
ainda provisório) – 92º/1 CN.
- tem de estar aí inscrito a favor do pretenso titular (justificante,
credor ou aquele de quem o justificante adquiriu por sucessão ou por um titulo
válido) – 92º/2 CN.
- no caso de justificação de prédios urbanos, a licença de utilização é
sempre de exigir – artº 4º do DL nº 281/99 de 26 de julho.
A doutrina oficial considera que a justificação não é um mero ato de
administração pelo que deve haver a intervenção de ambos os cônjuges
quando se trate de direitos pertencentes ao casal.
Documentos:
Arquivados: - a certidão da matriz e da conservatória, cujo prazo
de validade para efeitos de justificação é de 3 meses - 98º/2 CN.
- documentos relativos à notificação prévia prevista no artº 99º
CN, caso se trate de justificação para reatamento de trato sucessivo ou
de estabelecimento de novo trato sucessivo.
Exibidos: - a licença de utilização no caso de justificação de
prédios urbanos – artº 4º do citado DLº 281/99 de 26 de julho.
- escrituras ou outros títulos formalmente válidos, anteriores ou
posteriores ao facto registado, que seja possível obter.
Formalidades comuns:
Notificação prévia: 99º CN. Nas escrituras de justificação para
reatamento de trato sucessivo ou de estabelecimento de novo trato
sucessivo, uma vez que existe um titular inscrito no registo, é necessário
proceder à sua notificação ou dos seus herdeiros. Para tanto, o
interessado deverá fazer um requerimento dirigido ao notário a explicar o
encadeamento das transmissões e a requerer a notificação do titular
inscrito.
Dá lugar à notificação edital na junta de freguesia da situação dos
prédios durante 30 dias, e conservatória da área do prédio, findos os
quais não havendo oposição, pode ser feita a escritura.
Publicações: qualquer uma das modalidades dá lugar à
publicação da escritura, por extrato – 100º CN – num dos jornais mais
lidos do concelho ou da situação do prédio.
Impugnação: pode dar lugar a impugnação judicial, caso em que
o Tribunal comunica ao notário a pendência da ação e da decisão final –
101º/1 CN.
Averbamentos: às escrituras de justificação podem ser lavrados
os seguintes averbamentos: - a publicação no jornal; a pendência da
ação; a decisão final – 131º/1 c) e d) CN.
Certidões – só podem ser emitidas 30 dias após a publicação no
jornal Havendo impugnação judicial, só após a decisão final. – artº

36
101º/2 a 5 CN.
Estas regras não prejudicam a passagem de certidão para efeitos
de impugnação devendo mencionar-se nestes casos expressamente o
fim para que se destina.
Justificação simultânea – artigo 93º CN - possibilidade de a
justificação ser feita no mesmo título pelo qual se adquire o direito,
competindo ao alienante fazer previamente as declarações concernentes
à justificação, não esquecendo que, só podem ser extraídas certidões
depois de observados os prazos e condições exigidas para a passagem
de certidões das escrituras de simples justificações. (exemplos :
justificação e compra e venda; justificação e doação)
ANÁLISE DO CÓDIGO DO IMPOSTO DE SELO E DA TABELA GERAL DO
IMPOSTO DE SELO
Código do Imposto de Selo (CIS) - DL Nº 150/99, de 11 de setembro, com as
alterações posteriores.
Tabela Geral do Imposto de Selo(TGIS) – em anexo ao citado DL.
Importa esclarecer previamente que as transmissões gratuitas tributadas pelo
CIS, vieram substituir o já abolido imposto sobre as sucessões e doações, pelo
que tais factos são tributados agora em sede de imposto de selo.
Código do Imposto de Selo
Incidência objetiva: Incide sobre todos os atos, contratos, documentos,
títulos, livros, papéis, e outros factos previstos na T.G.I.S, incluindo
transmissões gratuitas de bens. - artº 1º nº1.
Incide ainda sobre todos os documentos, atos ou contratos emitidos ou
celebrados fora do território nacional, nos mesmos termos em que o seriam se
no território nacional fossem emitidos ou celebrados, caso em Portugal sejam
apresentados para quaisquer efeitos legais – artº 4º/2 a).
Incidência subjetiva: o imposto de selo constitui encargo de quem tiver
interesse económico no ato. – artº 3º nº1.
Havendo interesse comum a vários titulares, o encargo é repartido
proporcionalmente -nº2.
Nas transmissões gratuitas, o imposto é devido pelas pessoas
singulares para quem se transmitem os bens – artº 2º/2 sem prejuízo das
situações previstas na alínea a) e b).
Isenções (com relevância no notariado):
- entidades referidas nas al.s a) a d) do artº 6º: Estado e outros entes
públicos;
- o cônjuge ou unido de facto, os descendentes e os ascendentes nas
transmissões gratuitas – 6 e);
- os empréstimos com características de suprimento, incluindo os juros,
feitos pelos sócios à sociedade, desde que se convencione um prazo não
inferior a um ano e o sócio não seja reembolsado do suprimento e respetivo
juro nesse mesmo prazo – 7º/1 i);
- os mútuos constituídos ao abrigo do Regime Geral de Crédito à
Habitação, até ao montante do capital em dívida, desde que deles resulte a
mudança de instituição ou a sub-rogação nos direitos e garantias do credor
hipotecário, nos termos do artº 590º C.C. – 7º/1 j).
Havendo lugar a isenção de imposto de selo, deve averbar-se no
documento ou título a disposição legal que prevê a isenção. – artº 8º
Liquidação e pagamento do imposto de selo.

37
Cabe ao notário entre outros nomeadamente entidades que
autentiquem documentos particulares – 2º/1 a), 23º/1 e 41º:
- nos atos, contratos e outros factos em que seja interveniente –com
exceção dos atos relativos a crédito e garantias concedidas por instituições de
crédito, sociedade financeiras ou outras entidades legalmente a elas
equiparadas e por quaisquer outras instituições financeiras (ou seja, quando
haja intervenção destas entidades, são elas as entidades responsáveis pela
liquidação e cobrança – 2º/1 b) e c));
Ex. nas escrituras de Mútuo com Hipoteca ou de Abertura de Crédito em
que entidade concedente do crédito é um Banco, será este que terá de liquidar
o imposto de selo da verba 17, e não o notário. Já será diferente a situação em
que o Mútuo é feito entre particulares, em que será o notário a liquidar aquela
verba).
com exceção também dos atos relativos às transmissões
gratuitas previstas na verba 1.2 da T.G.I.S. (que é liquidado posteriormente).
- quando os contratos ou documentos em que, nos termos do artº 5º
n), não intervenham pessoas coletivas ou singulares no exercício de atividade
de comércio, indústria ou prestação de serviços, lhes sejam apresentados
para qualquer efeito legal.
- poderá ainda caber ao notário ou outra entidade autenticadora a
cobrança da verba 2 ou da verba 27 da T.G.I.S. – arrendamento ou
subarrendamento e trespasse, respetivamente - , no caso de os mesmos
serem reduzidos a escritura público ou de as partes se apresentarem no
Cartório para fazerem reconhecimento de assinaturas nestes contratos e o
imposto de selo ainda não se encontrar liquidado. Constitui uma exceção à
regra do artº 2º/1 g), que diz que a liquidação e cobrança desta verba cabe ao
locador.
Competindo a liquidação ao notário ou outra entidade autenticadora,
deverá mencionar no documento o valor do imposto de selo e a data da
liquidação. – 23º/4
Tabela Geral do Imposto de Selo
A Lei nº 3-B/2010 – orçamento do estado – veio revogar por completo a
verba 15 que era especialmente dedicada aos atos notariais.
Escrituras/documentos particulares autenticados
.
Verba 1.1. – aplica-se à compra, à doação, às tornas nas partilhas e nas
divisões de coisa comum, à diferença de valores nas permutas, e à resolução,
reconhecimento de invalidade ou extinção por mútuo consenso dos respetivos
contratos, sempre que respeitem a bens imóveis. Esta verba é liquidada ao
mesmo tempo que é liquidada a verba referente ao IMT, nos atos em que se
aplicam ambos os impostos.
Na aplicação desta verba interessa atender às seguintes regras quanto
ao valor tributável:
a) – Nas transmissões onerosas, o selo incide sobre o valor
constante do ato ou contrato ou sobre o valor patrimonial tributário,
consoante o que for maior.
Se o prédio se encontrar omisso na matriz, o valor tributável será
o valor constante do ato ou contrato, sem prejuízo de a liquidação
poder ser corrigida pelos serviços fiscais, logo que procedam à avaliação
do imóvel (se o valor patrimonial tributário que vier a ser fixado for

38
superior ao declarado no contrato).
b) - Nas doações, o selo incide sobre o valor patrimonial
tributário; sendo o prédio omisso, incide sobre o valor do ato ou
contrato, sujeito também a correção – 13º/1 e 2 do CIS.

Esta verba anteriormente era liquidada pelo próprio notário sendo que
agora e com as recentes alterações introduzidas pelo Orçamento de Estado
para 2009 à liquidação do imposto aplicam-se, com as necessárias
adaptações, as regras contidas no CIMT.
Verba 2. – Arrendamento (10% sobre a renda mensal, só cobrada pelo
notário nos casos acima expostos).
Verba 10. – Garantias (não sendo estipulado prazo, cobra-se a taxa
máxima). Esta verba não será de cobrar nas situações em que a garantia é
materialmente acessória de um contrato especialmente tributado pela
Tabela, e constituída simultaneamente com a obrigação garantida, ainda
que em título diferente – é o caso do Mútuo com Hipoteca, em que a hipoteca é
considerada materialmente acessória e constituída simultaneamente com o
contrato de mútuo, e a liquidação de imposto de selo sobre o mútuo já se
encontra especialmente prevista na Tabela na verba nº 17.
Aplicar-se-à, assim, a situações em que as garantias sejam constituídas
isoladamente, como a Hipoteca Unilateral, por ex..
Verba 17. – Crédito. Só cabe ao notário/entidade autenticadora a
liquidação no caso de não haver intervenção de instituição de crédito, pelo
que o notário só a liquidará no caso de concessão de crédito entre
particulares.
Verba 27. – Trespasse oneroso de estabelecimento comercial, industrial
ou gratuito. Só será de cobrar no caso de ser reduzido a escritura pública ou
em caso de ser requisitado o reconhecimento de assinaturas.
Transmissões gratuitas
Como vimos supra, a liquidação da verba 1.2. da T.G.I.S. relativa às
transmissões gratuitas não cabe ao notário, mas aos Serviços Centrais da
D.G.C.I. – artº 25º CIS.

Tratando-se das situações de incidência previstas no 1º/3, os sujeitos


passivos indicados no 2º/2, ainda que isentos ao abrigo do 6º e) – cônjuge,
descendentes e ascendentes, devem participar ao Serviço de Finanças as
transmissões ocorridas – 26º/1.
O prazo para efetuar a participação é de três meses após a celebração
da escritura – 26º/3 -, a declaração deve identificar os beneficiários e os bens
transmitidos -26º/2, sendo necessário juntar os documentos previstos no artº
26º/6 CIS.
Não fazendo o interessado esta participação, o Serviço de Finanças
oficiosamente instaura o processo de liquidação – 28º/2, sendo depois o
mesmo notificado da mesma – 36º - e tendo dois meses para efetuar o
pagamento – 45º/1.
CÓDIGO DO IMPOSTO MUNICIPAL SOBRE AS TRANSMISSÕES
ONEROSAS DE IMÓVEIS - IMT
O imposto sobra as transmissões onerosas de imóveis (IMT) corresponde à
antiga sisa.
Incidência objetiva: incide sobre as transmissões onerosas do direito

39
de propriedade ou de figuras parcelares desse direito sobre bens imóveis. –
2º/1 CIMT.
O nº 5, vem depois especificar algumas situações abrangidas pela
noção do nº1. Com relevância para o notariado:
- al. b) – a diferença declarada de valores ou a diferença de valores
patrimoniais tributário, consoante a que for maior, no caso de permuta,
está sujeita a IMT.
- al. c) – o excesso da quota parte que ao adquirente pertencer, em
bens imóveis, nas partilhas, divisões de coisa comum e na alienação de
herança ou quinhão hereditário, está sujeito a IMT.
- al. e) – as entradas dos sócios com bens imóveis para a realização do
capital social ou a adjudicação de bens imóveis aos sócios, em caso de
liquidação dessas sociedades.
- al.s f) e g) – transmissão de bens imóveis por efeito de fusão ou cisão
de sociedades.

Além destas transmissões, o nº2 do artº 2º considera ainda a incidência


deste imposto sobre outros atos como o contrato promessa, o arrendamento,
as procurações “irrevogáveis” e a aquisição de partes sociais em sociedades
com bens imóveis.
Incidência subjetiva: – artº 4º.
O IMT é devido pelas pessoas singulares ou coletivas para quem se
transmitam os bens imóveis – regra.
Há, porém, regras próprias neste artigo quanto à incidência subjetiva,
com destaque para:
- nas partilhas e divisões de coisas comuns, o sujeito passivo é o
adquirente em bens imóveis cujo valor exceda a sua quota nesses imóveis;
- nas permutas ou trocas, o imposto é devido pelo permutante que
receber os bens de maior valor.
Incidência territorial: - artº 2º/1
Aplica-se às transmissões onerosas de bens imóveis ocorridas em
território nacional.
Isenções:
Previstas no CIMT:
- artº 6º - Estado e outros entes públicos;
- artº 7º - Aquisição de prédios para revenda – para beneficiar
desta isenção, o comprador terá de declarar na escritura/documento
particular autenticado que o prédio se destina a ser revendido e fazer
prova de que no ano anterior esteve tributado em sede de IRS pelo
exercício da atividade de comprador de prédios para revenda, tendo
exercido essa atividade normal e habitualmente.
- artº 9º - Aquisição de prédio urbano ou de fração autónoma,
destinado exclusivamente a habitação, cuja valor de aquisição não
exceda ***** (valor aalterado todos os anos conforme Orçamento de
Estado).
Excedendo, o imposto é devido pelo excesso, nos termos do artº
17º/1 a).

Prevista em legislação avulsa:


- artº 7º do DL nº 540/76 de 9 de julho, na redação do DL nº

40
316/79 de 21 de agosto – Aquisição de prédios rústicos, urbanos ou
frações autónomas por emigrantes, desde que os mesmos mobilizem a
conta em pelo menos metade do valor da compra.
A prova é feita por certidão emitida pelo Banco titular da conta.
Reconhecimento das isenções
Deverá ser prévio à realização do ato – 10º/1, pelo que o
interessado terá de fazer prova do pagamento do IMT, ficando este
documento arquivado.
Valor Tributável – 12º e 13º
12º/1 diz que o IMT incide sobre o valor constante do ato ou
contrato (=valor declarado pelas partes) ou sobre o valor patrimonial
tributário.
Estando o prédio omisso, incide sobre o valor declarado, sem
prejuízo de poder haver correção da liquidação.
O nº 4 vem estabelecer regras específicas de determinação do
valor tributável
Artº 13º vem consagrar regras especiais para cálculo do valor
tributável, com destaque para a alínea a) e para cálculo do valor do
usufruto e da nua propriedade, tendo em conta a idade do usufrutuário.
Taxas: As previstas no artº 17º.
Liquidação
É sempre prévia à celebração do ato ou da escritura – 22º, com
exceção das partilhas e das divisões de coisa comum, em que a liquidação é
posterior – 36º/7 e feita com base nas operações da partilha - 23º.
Após a liquidação o IMT terá de ser pago no próprio dia ou no seguinte.

Quando seja devido IMT, os notários e outros funcionários ou entidades


que desempenhem funções notariais, bem como as entidades e profissionais
com competência para autenticar documentos particulares que titulem atos ou
contratos sujeitos a registo predial, não podem lavrar as escrituras, quaisquer
outros instrumentos notariais ou documentos particulares ou autenticar
documentos particulares que operem transmissões de bens imóveis nem
proceder ao reconhecimento de assinaturas nos contratos previstos nas
alíneas a) e b) do n.º 3 do artigo 2.º, sem que lhes seja apresentado o
comprovativo da liquidação do IMT que arquivarão, disso fazendo menção no
documento a que respeitam, sempre que a liquidação deva preceder a
transmissão.
Comunicações
Artigo 49º
Os notários e outros funcionários ou entidades que desempenhem
funções notariais, bem como as entidades e profissionais com competência
para autenticar documentos particulares que titulem atos ou contratos sujeitos
a registo predial, devem submeter, até ao dia 15 de cada mês, à Direção-Geral
dos Impostos, em suporte eletrónico, os seguintes elementos:
- Uma relação dos atos ou contratos sujeitos a IMT, ou dele isentos, efetuados
no mês antecedente, contendo, relativamente a cada um desses atos, o
número, data e importância dos documentos de cobrança ou os motivos da
isenção, nomes dos contratantes, artigos matriciais e respetivas freguesias, ou
menção dos prédios omissos;
- Cópias das procurações conferidas no interesse de terceiros ou do próprio

41
procurador que confiram poderes de alienação de bens imóveis;
- Cópia das escrituras ou documentos particulares autenticados de divisões de
coisa comum e de partilhas de que façam parte bens imóveis.
São solidariamente responsáveis com o sujeito passivo pelo pagamento
do imposto os notários que celebrem escrituras públicas e as pessoas que, por
qualquer outra forma, intervenham nos documentos particulares autenticados,
ou qualquer outro título, quando essa forma seja admitida em alternativa à
escritura pública, desde que tenham colaborado na falta de liquidação ou
arrecadação do imposto ou, na data daquela intervenção, receção ou
utilização, não tenham exigido o documento comprovativo do pagamento ou da
isenção.
DOCUMENTOS PARTICULARES AUTENTICADOS
O DL 116/2008, de 4.07. (artigo 24º), veio tornar facultativas as
escrituras públicas para a generalidade dos atos relativos a imóveis, passando
estes atos a poder ser praticados por documento particular autenticado por
Advogados, Solicitadores, Notários e Câmaras de Comércio e Indústria.
Assim, a partir deste diploma, os advogados, câmaras de comércio e
indústria, notários e solicitadores podem titular negócios jurídicos sobre
prédios/imóveis por documento particular autenticado, elaborando o termo de
autenticação no contrato (documento particular), procedendo, de seguida, ao
depósito eletrónico do documento particular autenticado.
Os notários, para além desta faculdade, podem ainda formalizar estes
atos através de escritura notarial. O pedido de registo predial pode, igualmente,
ser feito através da Internet, em www.predialonline.mj.pt. Este pedido pode ser
feito ao mesmo tempo que o depósito eletrónico do documento particular
autenticado.
Os documentos particulares que titulem atos sujeitos a registo predial
devem conter os requisitos legais a que estão sujeitos os negócios jurídicos
sobre imóveis, aplicando-se subsidiariamente o Código aprovado pelo Decreto-
Lei n.º 207/95, de 14 de agosto (Código do Notariado).
Os notários, advogados, solicitadores e câmaras de comércio e
indústria, devem certificar-se do cumprimento das obrigações fiscais e
consignar no termo de autenticação os valores liquidados e a data da
liquidação, sendo que não poderão os documentos ser autenticados sem que
todos os impostos devidos estejam liquidados.

Aliás e conforme o disposto no artigo 25º nº 3 do referido decreto-lei, as


entidades com competência para a autenticação de documentos particulares
devem assegurar, sempre que procedam à autenticação de um documento que
titule atos e contratos previstos no Código do Imposto de Selo, com exceção
dos previstos na verba 1.2 da tabela geral anexa a este Código, que a
liquidação desse imposto seja efetuada nos prazos, nos termos e nas
condições definidas no artigo 22.º do Código do Imposto Municipal sobre as
Transmissões Onerosas de Imóveis, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 287/2003,
de 12 de novembro.
A validade da autenticação dos documentos particulares, está
dependente de depósito eletrónico desses documentos, bem como de todos os
documentos que os instruam, competindo às entidades autenticadoras arquivar
os originais dos documentos autenticados. Contudo, a consulta eletrónica dos
documentos depositados eletronicamente substitui para todos os efeitos a

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apresentação perante qualquer entidade pública ou privada do documento em
suporte de papel.
Todas as disposições legais, regulamentares ou outras, que imponham
obrigações de verificação, comunicação ou participação relacionadas com a
prática dos atos referidos, devem ser entendidas como sendo impostas a todas
as entidades com competência para autenticar documentos particulares, mas
se o registo do ato for pedido por via eletrónica, é dispensada a obrigação de
participação desse ato às entidades públicas, nos termos do n.º 3 do artigo
anterior, devendo estas participações ser promovidas pelos serviços de registo.

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