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RIO DE JANEIRO
2015
I
Rio de Janeiro
2015
II
III
Aprovada em 26/08/2015
AGRADECIMENTOS
À minha mãe, Maria Carmen, responsável por todas as minhas conquistas, pelo amor e apoio
incondicional durante toda a minha vida.
À minha irmã Andrea, meu orgulho, por ser a melhor irmã que eu poderia ter.
Ao meu namorado Pedro, pelo apoio, motivação e compreensão durante os muitos dias de estudo.
Ao meu orientador, Kleber Figueiredo, pela orientação, dedicação e competência, essenciais para a
conclusão deste trabalhão.
Às professoras Cláudia Araújo e Camila Avozani Zago, por aceitarem compor a banca de defesa desta
dissertação.
À Cátedra Amil, pelo suporte financeiro às viagens e transcrições, além de facilitar o acesso às
informações necessárias para realizar esta pesquisa.
Aos profissionais dos hospitais estudados, que se dispuseram a responder esta pesquisa, tornando
possível este trabalho.
Aos meus colegas do COPPEAD, pela amizade, parceria e momentos de descontração durante o
curso.
Enfim, a todos que me ajudaram, direta ou indiretamente, a concluir mais esta etapa da minha vida.
V
RESUMO
Nas últimas décadas, as organizações do setor de saúde começaram a perceber que melhorar a
eficiência apenas dentro da própria organização não era suficiente para garantir sua competitividade,
sendo preciso preocupar-se com todos os elos da cadeia de suprimentos. Estudos sugerem que a gestão
da cadeia de suprimentos (GCS) hospitalar propicia benefícios como o aumento do desempenho e
redução de custos e, por este motivo, os hospitais vêm investindo cada vez mais em práticas de gestão
da cadeia de suprimentos.
O objetivo deste trabalho foi investigar como a cadeia de suprimentos é gerenciada pelos
hospitais privados brasileiros pertencentes a uma rede hospitalar. Mais especificamente, o estudo
visou identificar quais práticas de gestão da cadeia de suprimentos estão sendo adotadas pelos
hospitais pesquisados e como eles estão posicionados frente às boas práticas sugeridas pela literatura.
Ademais, o estudo pretendeu investigar como algumas características relacionadas ao perfil e
posicionamento do hospital podem impactar a gestão da cadeia de suprimentos.
Os resultados da pesquisa sugerem que os hospitais privados brasileiros estão investindo em
práticas de gestão da cadeia de suprimentos, mas que ainda existe espaço para o desenvolvimento de
práticas voltadas, principalmente, para a gestão logística, sistemas de informação e para a implantação
de princípios da filosofia Just in Time. Não foi possível identificar um impacto considerável do
tamanho do hospital na gestão da cadeia de suprimentos. Já os hospitais gerais e aqueles que possuem
um quadro clínico aberto enfrentam maiores desafios para gerir a cadeia de suprimentos. O estudo
sugere ainda que hospitais que pertencem a redes hospitalares adotam práticas que visam tirar
benefício das parcerias e sinergias.
ABSTRACT
In the last decades, healthcare organizations began to realize that only improving efficiency
from inside was not enough to ensure their competitiveness and that it's also necessary to worry about
all links of the supply chain. Studies suggest that hospital supply chain management provides benefits
such as increased performance, cost reduction and, for this reason hospitals are increasingly investing
in supply chain management (SCM) practices.
The objective of this study was to investigate how the supply chain is managed by Brazilian
private hospitals managed by the same group. More specifically, the study aimed to identify which
management practices in the supply chain are being adopted by these hospitals and how they are
positioned towards the good practices suggested by literature. In addition, the study aimed to
investigate how some profile related characteristics and hospital positioning can impact the supply
chain management.
The survey results suggest that Brazilian private hospitals are investing in supply chain
management practices, but there is still a lot to be done, especially regarding logistics management,
information systems and implementation of principles of Just in Time philosophy. It was not possible
to identify a significant impact of the size of the hospital on the supply chain management but general
hospitals and those who have non-dedicated physicians usually face greater challenges to manage the
supply chain. The study also suggests that hospitals that are part of a hospital chain adopt practices
that focus on taking advantage of partnerships and synergies.
Keywords: Supply Chain Management, Healthcare supply chain, Hospital, Supply chain
management best practices and others.
VII
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE SIGLAS
Comission International
Pesquisa e Desenvolvimento
SUMÁRIO
1 - INTRODUÇÃO.................................................................................................................13
2 - REVISÃO DA LITERATURA...........................................................................................17
2.1 - INTRODUÇÃO......................................................................................................................17
2.2 - GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS.......................................................................18
2.2.1 - O que é “Gestão da Cadeia de Suprimentos”...................................................................18
3 - MÉTODO DE PESQUISA................................................................................................59
XI
5 - ANÁLISE DOS CASOS.................................................................................................101
5.1 - INTRODUÇÃO....................................................................................................................101
5.2 - CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS HOSPITAIS.............................................................101
5.3 - PRÁTICAS DE GCS ADOTADAS PELOS HOSPITAIS ENTREVISTADOS..................103
5.3.1 - Integração......................................................................................................................103
5.3.2 - Coordenação..................................................................................................................105
7 - ANEXOS........................................................................................................................ 146
8 - BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................157
1 - INTRODUÇÃO
O presente estudo tem por objetivo geral investigar como a cadeia de suprimentos é
gerenciada pelos hospitais privados brasileiros pertencentes a uma rede hospitalar. Mais
especificamente, o estudo visa identificar quais práticas de gestão da cadeia de suprimentos
(GCS) estão sendo adotadas pelos hospitais pesquisados e como eles estão posicionados frente
às boas práticas sugeridas pela literatura. Ademais, o estudo pretende investigar como algumas
características relacionadas ao perfil e posicionamento do hospital podem impactar a gestão da
cadeia de suprimentos.
Um dos motivos para isso é que o setor de saúde não tem enfatizado a gestão da cadeia
de suprimentos na mesma medida em que as indústrias de manufatura e varejo o fizeram. Uma
vez que o foco principal de profissionais de saúde é fornecer qualidade no tratamento e buscar a
rápida recuperação dos pacientes, os investimentos são normalmente voltados para a adoção de
novas tecnologias e técnicas diretamente associadas ao contexto técnico-científico (SMITH;
NACHTMANN; POHL, 2011a). Dedicar recursos para a melhoria dos processos da cadeia de
suprimentos não tem sido uma prioridade para o setor. No entanto, com o aumento da pressão
para redução de custos, os profissionais de saúde estão buscando maneiras de reduzir seus
custos sem afetar negativamente a qualidade de seus serviços.
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A gestão da cadeia de suprimentos oferece grandes oportunidades para atingir este
objetivo, pois há evidências bem documentadas de que as práticas de gestão da cadeia de
suprimentos resultam em vantagem competitiva e redução de custos (LA FORGIA;
COUTTOLENC, 2009). Apesar disso, o setor de saúde tem sido extremamente lento para
abraçar essas práticas (MCKONE-SWEET; HAMILTON; WILLIS, 2005) devido,
principalmente, à complexidade da indústria e à falta de conhecimento sobre o tema
(ARONSSON; ABRAHAMSSON; SPENS, 2011).
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privados brasileiros e identificar oportunidades de melhoria frente às boas práticas de GCS
citadas pela literatura. A importância prática deste trabalho decorre da possibilidade de
utilização dos resultados do estudo como subsídio para melhorar o planejamento e a gestão das
atividades relacionadas à cadeia de suprimentos hospitalar.
Para a investigação proposta foi selecionado o método de estudo de casos, em que foram
selecionados cinco hospitais privados brasileiros pertencentes a uma mesma rede hospitalar e
que atuam apenas no Rio de Janeiro e em São Paulo. O presente estudo limitou-se também a
investigar as práticas de GCS levantadas na literatura que são adotadas por estes hospitais e não
teve por objetivo aprofundar-se em questões operacionais. As entrevistas foram conduzidas
apenas com os diretores dos hospitais e, portanto, os resultados estão baseados no ponto de vista
desses gestores.
• O segundo capítulo traz uma revisão da literatura, iniciando-se com a definição do termo
“Cadeia de Suprimentos” e sua origem e apresentando os principais fatores que influenciam o
desempenho da cadeia de suprimentos. Em seguida, este conceito é abordado no contexto
hospitalar, identificando os fatores que influenciam o desempenho da cadeia de suprimentos
hospitalar e as melhores práticas associadas a tais fatores.
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• O terceiro capítulo apresenta a metodologia do estudo, contendo as perguntas propostas
para a pesquisa, o método escolhido, a seleção dos hospitais e dos entrevistados, o processo de
coleta e análise e as limitações do método.
• O quarto capítulo apresenta a descrição dos casos estudados, seguindo a estrutura formada
pelas perguntas de pesquisa e baseando-se no esquema conceitual fruto da revisão da literatura.
• O quinto capítulo apresenta a análise dos casos, com o objetivo de responder às quatro
perguntas de pesquisa propostas no terceiro capítulo.
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2 - REVISÃO DA LITERATURA
2.1 - INTRODUÇÃO
Neste capítulo será apresentado o referencial teórico do estudo, o qual será utilizado
como base na elaboração do modelo conceitual, que será usado para elaborar o roteiro de
entrevistas e investigar como a cadeia de suprimentos é gerenciada pelos hospitais selecionados
para o estudo de casos. Na pesquisa bibliográfica serão levantados os fatores que influenciam no
desempenho da cadeia de suprimentos bem como as melhores práticas recomendadas a fim de
obter os benefícios apontados pelos pesquisadores do tema.
Para tanto, a revisão da literatura que fundamenta esta pesquisa está dividida em quatro
partes. A primeira delas aborda o conceito de Supply Chain Management ou, em
português, Gestão da Cadeia de Suprimentos (GCS) de forma mais ampla, apresentando a
origem do termo e a evolução do seu significado. Nela também são expostos os fatores que
influenciam o desempenho de uma cadeia de suprimentos de forma geral. A parte seguinte
aborda o tema central dessa pesquisa. A GCS será abordada no contexto hospitalar, através do
levantamento das especificidades deste contexto, das características das cadeias de suprimentos
hospitalares e dos fatores e práticas que contribuem para o desempenho da cadeia de
suprimentos. São apresentadas também algumas práticas adotadas por grandes redes de
hospitais, conforme indicam alguns estudos do setor.
O capítulo se encerra com um resumo dos pontos mais relevantes e uma proposta de
esquema conceitual reunindo os principais fatores que influenciam o desempenho de uma
cadeia de suprimentos hospitalar e as melhores práticas associadas a estes fatores. Além disso,
são resumidos alguns impactos das características gerais dos hospitais na GCS, conforme o
levantamento bibliográfico. Este modelo conceitual será utilizado como base para a análise dos
casos a fim de atender os objetivos propostos neste estudo.
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relacionados à cadeia de suprimentos no contexto hospitalar, entretanto, tendem a ser mais
recentes, pois o tema começou a ser abordado com maior frequência apenas no final dos anos
2000. As principais palavras-chave introduzidas para esta pesquisa foram: Supply Chain,
Healthcare Supply Chain, Supply Chain Management, Hospital Logistics, Supply Chain
Best Practices, dentre outras. Cabe destacar, entretanto, que alguns artigos citados na revisão
da literatura não foram resultado direto das buscas feitas com as palavras-chave mencionadas. A
localização de tais artigos se deu com base nas referências de artigos já lidos.
Outros autores interpretam o termo como sendo uma filosofia para gerenciar o fluxo
total do canal de distribuição do fornecedor para o usuário final (COOPER; ELLRAM, 1993) ou
até mesmo como sendo uma ferramenta ou um conjunto de princípios de gestão (CHANG
WON; KWON; SEVERANCE, 2007). Ao adotar uma filosofia de gestão da cadeia de
suprimentos, as empresas devem estabelecer práticas de gestão que lhes permitam agir ou se
comportar de forma consistente com esta filosofia. Como tal, muitos autores têm-se centrado
sobre as atividades que constituem a gestão da cadeia de suprimentos (MENTZER et al., 2001).
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explicitamente este objetivo e o estabelece como primordial da gestão da cadeia de suprimentos.
Essa integração não envolve apenas empresas e entidades, mas também processos e fluxos de
informação. Mentzer et al. (2001), por exemplo, definem cadeia de suprimentos como um
conjunto de três ou mais entidades envolvidas diretamente à montante e à jusante, em que existe
a transferência de produtos, serviços, finanças e / ou informações de uma fonte para um cliente.
Mais recentemente, sugiram definições de GCS que vão além do usuário final. Em meio
a uma tendência pela sustentabilidade, novas definições passaram a incluir também o processo
de descarte do produto. Considerando esta tendência, Ellram et al. (2004) definem a gestão da
cadeia de suprimentos como sendo a gestão de informações, processos, bens e recursos do mais
distante fornecedor ao cliente final, incluindo o descarte.
O CSCMP ressalta ainda que a GCS é uma função integradora, responsável pela
integração das principais funções e processos de negócios dentro e entre empresas, por meio de
um modelo de negócio coerente e de alto desempenho. Isto inclui todas as atividades de gestão
logística, bem como operações de fabricação, e conduz à coordenação dos processos e
atividades de marketing, vendas, design de produto, finanças e tecnologia da informação. O
campo de prática de GCS está em
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constante mutação, pois a competitividade das empresas internacionais é cada vez mais
dependente da sua capacidade de produzir e entregar produtos personalizados e serviços de
forma rápida e eficiente em todo o mundo. Isso induz maior complexidade e diversidade em
decisões de gestão relativas à estrutura das operações, posicionamento de atividades e
processos, papel e o poder dos participantes, e formas mais eficientes de colaboração entre
todos os membros de uma cadeia de suprimentos (HALLDORSSON et al., 2007). Com isso,
tanto o escopo quanto a definição do termo GCS também precisam acompanhar essas
mudanças.
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Do ponto de vista da abrangência, a logística é geralmente vista como interna à empresa, ainda
que gere fluxos entre a empresa e seus fornecedores e clientes. Já o conceito de GCS inclui os
fluxos de logística, a gestão de pedidos de clientes e de processos de produção e os fluxos de
informação necessários para monitorar todas as atividades nos elos da cadeia de suprimentos
(LUMMUS; KRUMWIEDE; VOKURKA, 2001). Em linhas gerais, o campo da Logística
evoluiu de um tratamento mais restrito, voltado para a distribuição física de materiais e bens,
para um escopo mais abrangente, em que se considera a cadeia de suprimentos como um todo,
além das atividades de compras, administração de materiais e distribuição (FIGUEIREDO;
ARKADER, 1998).
Muitas empresas desenvolveram desde então suas cadeias de suprimentos como uma
forma de buscar a melhoria da competitividade através de contenção de custos, aumento da
eficiência do canal, diminuição do tempo de lançamento de produtos, ou de resposta ao cliente
(CAVINATO, 1991).
Há muitas razões que impulsionaram esse movimento. Primeiro, os mercados estão cada
vez mais globalizados e dinâmicos e, como consequência, existe uma tendência para que as
corporações se tornem fontes globais para os seus fornecimentos. Esta globalização da oferta
tem forçado as empresas a procurar formas mais eficazes para coordenar o fluxo de materiais
dentro e fora da organização (MENTZER et al., 2001). Segundo, as empresas lidam com
clientes cada vez mais exigentes. Para satisfazê-los, proliferam as linhas e modelos de
produtos com ciclos de vida mais curtos. Além disso, o aumento da competição por mercados
tem levado as empresas a oferecerem serviços com mais qualidade a preços mais baixos. Nesse
sentido, a coordenação da gestão de materiais, da produção e da distribuição passou a dar
respostas mais eficazes aos objetivos de excelência que os negócios exigem (FIGUEIREDO;
ARKADER, 1998).
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2.2.3 - Fatores que influenciam o desempenho da cadeia de suprimentos
Outra questão que dificulta o mapeamento das práticas de GCS é a sua extensão e
complexidade. A cadeia de suprimentos é uma entidade complexa, composta por várias
empresas em diferentes níveis, como fornecedores, fabricantes, distribuidores e consumidores
(DESHPANDE, 2012). A fim de captar essa perspectiva holística da gestão da cadeia de
suprimentos, uma extensa análise de diferentes práticas de GCS é necessária. Visando entender
melhor o tema, muitos autores têm focado seus estudos em identificar as atividades que
constituem a gestão da cadeia de suprimentos. Buscou-se classificar estas práticas de GCS em
algumas categorias, conforme será apresentado a diante.
(1) Integração
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atividades de suprimentos, de fabricação e de distribuição (COOPER; LAMBERT; PAGH,
1997). Estas atividades devem refletir um esforço coordenado entre os parceiros da cadeia, tais
como fornecedores, transportadoras, e fabricantes, para responder dinamicamente às
necessidades do cliente final (GREENE, 1991).
(2) Coordenação
A coordenação tem como objetivo gerenciar os fluxos de produtos, serviços, pessoas e
informações para permitir o planejamento e controle das operações da cadeia de suprimentos
(COOPER; LAMBERT; PAGH, 1997). A coordenação, entretanto, não se limita às
necessidades da transação atual e acontece em vários níveis de gestão, envolvendo a
coordenação interfuncional dos membros da cadeia de suprimentos (COOPER; LAMBERT;
PAGH, 1997).
Desenvolver boas relações com os membros da cadeia de suprimentos ajuda a focar em
objetivos comuns, voltados para o atendimento ao cliente e integração dos processos
(MENTZER et al., 2001). Além de planejamento e controle, a cooperação é necessária para
reduzir os estoques da cadeia de suprimentos e buscar maior eficiência em custo (COOPER;
LAMBERT; PAGH, 1997). Envolver fornecedores na fase de projeto de novos produtos, no
planejamento da produção e gestão de estoques, diminui o tempo de processamento de pedidos,
aumenta a confiabilidade da
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entrega e estimula o compartilhamento de informações (CHANG WON; KWON;
SEVERANCE, 2007).
La Londe e Mastres (1994) sugerem que o sucesso de uma cadeia de suprimentos requer
que seus membros tenham o mesmo objetivo e o mesmo foco no atendimento aos clientes. Para
isso, o alinhamento dos objetivos organizacionais de longo prazo e a comunicação efetiva destes
objetivos estratégicos a todos os componentes da cadeia de suprimentos são práticas
importantes (DESHPANDE, 2012; SANDBERG; ABRAHAMSSON, 2009).
Parceria estratégica com fornecedor é definida como a relação de longo prazo entre a
organização e seu fornecedor (LI et al., 2005). Essa parceria tem como objetivo aproveitar as
capacidades estratégicas e operacionais das organizações participantes para ajudá-los a alcançar
benefícios significativos. Algumas das principais vantagens de manter relacionamentos de
longo prazo incluem o
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compartilhamento de informação entre os parceiros envolvidos, o desenvolvimento de confiança
e melhorias na gestão do conhecimento (GRIFFITH; HARVEY; LUSCH, 2006).
São práticas que visam à eliminação de desperdícios (custo, tempo, etc) através, por
exemplo, da redução dos tempos de preparação, da diminuição do tamanho dos lotes, e de uma
produção puxada (LI et al., 2005).
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pelo cliente (WALLER; DABHOLKAR; GENTRY, 2000). Além disso, a empresa adia
também os gastos relacionados a essas atividades.
Por meio desta pesquisa bibliográfica pode-se verificar que muitas das práticas
mencionadas na literatura são repetidas em diversos estudos sobre o tema. Algumas dessas
práticas são encontradas com uma nomenclatura diferente ou agrupadas com outras práticas,
evidenciando a existência de uma grande sobreposição entre as classificações adotadas. A
seguir será abordada cada uma destas práticas em detalhes, considerando as especificidades do
contexto hospitalar.
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2.3 - GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS HOSPITALAR
O setor privado tem maior participação nesses investimentos em saúde no país. De cada
R$ 100 investidos, R$ 54 saem dos bolsos das famílias e dos caixas das empresas. Os R$ 46
restantes vem do poder público (IBGE, 2014). Segundo especialistas, entre os países que
adotam o sistema de saúde universal, o Brasil é o único em que o gasto do governo com saúde é
inferior ao investimento privado. A dificuldade de atendimento no Sistema Único de Saúde
(SUS) e o aumento do poder aquisitivo são fatores que alimentam a demanda por serviços
privados de saúde. A Tabela 1 apresenta o perfil dos hospitais no Brasil e mostra que o número
de hospitais privados já ultrapassa o número de hospitais públicos,
Públicos 950
Privados 4.781
Públicos 348.620
Privados 157.718
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inexistente – processo de planejamento no sistema de suprimentos, com atividades
burocratizadas e morosas nas áreas de compras, de armazenagem e de distribuição de
materiais/insumos, muitas vezes descoladas das reais necessidades do sistema produtivo local.
No âmbito das organizações de saúde no país, o setor hospitalar é um dos mais críticos
em relação a ineficiências e altos custos. A relevância do setor hospitalar se faz expressiva
principalmente quando se verifica o número médio de pacientes que passam pelos hospitais ao
ano, 20 milhões, e os gastos hospitalares equivalentes a 3,5% do PIB do Brasil (LA FORGIA;
COUTTOLENC, 2009; IBGE, 2014). Segundo os
autores, os custos do setor estão subindo devido ao aumento dos custos de hospitalizações, à
falta de controle dos exames, ao maior rigor regulatório e ao aumento do número de consultas
devido à maior preocupação das pessoas com a saúde. Diante deste cenário, muitas
organizações estão buscando formas de diminuir os gastos através da verticalização e
consolidação. Um grande número de fusões e compras pode ser observado entre operadoras de
planos, redes hospitalares, farmácias e laboratórios.
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sucesso em serviços de saúde. Estes são alguns exemplos de estudos que focaram na gestão da
cadeia de suprimentos hospitalar.
No caso dos serviços de saúde, o produto final pode ser definido como o conjunto de
procedimentos aplicados, testes e terapias relacionados com o tratamento de um determinado
paciente (COLLETTI, 1994). Para isso, diferentes recursos são consumidos em cada etapa do
processo de diagnóstico e tratamentos dos pacientes. Esses recursos incluem, por exemplo, as
equipes médicas, enfermeiros, equipamentos, salas de cirurgia, além dos insumos médicos, que
variam desde compressas de gaze descartáveis e ataduras até dispositivos e implantes médicos
de alta tecnologia. A frequência de utilização e custo desses itens muitas vezes determinam
como um produto flui através dessa cadeia de suprimentos (SMITH; NACHTMANN; POHL,
2011a).
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serviços. Essas organizações compram os produtos de forma consolidada em nome dos
hospitais, com o objetivo de aumentar o volume comprado e conseguir preços mais baixos.
(MCKONE-SWEET; HAMILTON; WILLIS, 2005). Os provedores de serviço são os hospitais,
clínicas e consultórios que utilizam os bens produzidos por produtores para realizar os serviços
de saúde.
Fonte: A autora
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serviços, através da melhoria da eficiência e qualidade das operações (SMITH; NACHTMANN;
POHL, 2011a). De uma perspectiva de planejamento de produção, a questão principal é como
organizar as atividades de forma a atender as demandas utilizando os recursos de produção da
melhor maneira possível (ARONSSON; ABRAHAMSSON; SPENS, 2011).
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Altos custos: Os custos da cadeia de suprimentos respondem por mais de um terço das
despesas operacionais.
Outro estudo empírico realizado por Aronsson, Abrahamsson e Spens (2011) com 12
organizações de saúde nos Estados Unidos identificou as seguintes características de uma cadeia
de suprimentos hospitalar:
Incertezas de lead time inerentes à natureza das atividades envolvidas. Por exemplo, a
dificuldade de prever o tempo de um procedimento cirúrgico.
Não falta apenas uma estratégia global da cadeia de suprimentos, mas também uma
estratégia para os subprocessos dentro de cada departamento e como eles podem
contribuir para melhorar o desempenho do todo.
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As semelhanças gerais em termos de necessidades e complexidade de fluxo em
comparação com a indústria indicam que a introdução das práticas de gestão da cadeia de
suprimentos pode ser benéfica para o setor. Da mesma forma que as empresas de manufatura,
muitos dos desafios das organizações do setor de saúde estão relacionados ao problema de
garantir uma alta utilização de recursos mantendo- se um alto nível de serviço ao cliente
(VRIES; HUIJSMAN, 2011). Entretanto, o setor de saúde é um setor de serviços, o que
significa que o cliente é parte integrante do processo de produção. Ao invés de ir até a loja para
comprar um produto acabado, um paciente procura ajuda médica e passa, então, a fazer parte de
todo o processo até que o tratamento esteja concluído. Por tratar-se de um serviço, não é
possível estocar e, portanto, a única alternativa é ter uma fila de pacientes à espera de
atendimento (ARONSSON; ABRAHAMSSON; SPENS, 2011).
Além dessas características, outras especificidades do setor fazem com que seja
problemática a aplicação de práticas de gestão da cadeia de suprimentos conforme são aplicadas
nas indústrias. Segundo Smith et al. (2011), algumas questões específicas da cadeia de
suprimentos de saúde incluem a falta de consolidação dos fornecedores, questões regulatórias,
falta de planejamento a montante ou a jusante na cadeia de suprimentos, ações
predominantemente reativas ao invés de proativas, grande variedade de itens em estoque, cliente
final não ser um tomador de decisão, falta de visibilidade e foco na qualidade do atendimento
como o principal condutor.
Outros aspectos que tornam a cadeia de suprimentos do setor de saúde diferente do setor
de manufatura é o nível de customização dos serviços prestados, o grau de participação do
cliente e a incerteza inerente aos serviços de saúde (PITTA; LARIC, 2004), dificultando a
previsão do mix de serviços e, consequentemente, a demanda por insumos (BAKAR et al.,
2010).
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A grande variedade de itens demandados não é o único desafio da área de compras.
Segundo Burns et al. (2002), as compras dentro dos hospitais são geralmente realizadas por
pessoas que não possuem formação administrativa e nem tampouco experiência em gestão. Os
produtos são solicitados de maneira a maximizar a sua disponibilidade ao invés de minimizar os
custos de manutenção de estoque. Devido ao alto custo de falta de produtos (cirurgias podem ser
canceladas, interrupção de tratamento, além de outras complicações), muitos hospitais optam
por manter estoques muito altos, gerando custos desnecessários de armazenagem. Esse
comportamento é agravado, muitas vezes, pelo fato de que o responsável pela solicitação
geralmente não é a pessoa que paga pelo produto. Além disso, a demanda do produto é
fortemente baseada na preferência clínica dos médicos e não em uma análise formal de custo-
benefício (BURNS et al., 2002).
34
al., 2002). Essa decisão tem impacto direto da eficiência da cadeia de suprimento dos hospitais,
conforme será apresentado mais adiante.
35
facilidade de compartilhamento de informações também é uma consequência do relacionamento
mais próximo com os membros da cadeia, resultando na melhora da qualidade e da
flexibilidade, diminuição do tempo de entrega e, consequentemente, dos custos
(ARMISTEAD; MAPES, 1993).
36
custos. Serão apresentadas também as melhores práticas associadas a cada um desses fatores,
com o objetivo de fornecer uma diretriz prática para a melhor compreensão das dimensões
apresentadas.
(1) Integração
Para muitos autores, a fundamentação de uma abordagem de gestão da cadeia de
suprimentos está na crença de que a coordenação e a integração intensiva entre os processos
operacionais pode levar a um melhor desempenho da cadeia de suprimentos de saúde (VRIES;
HUIJSMAN, 2011). A integração deve ser tanto interna
– dentro do hospital – quanto externa – com outras organizações. A integração interna refere-se
aos produtos físicos, como produtos farmacêuticos, dispositivos médicos e auxiliares de saúde,
além dos processos associados com o fluxo de pacientes (VRIES; HUIJSMAN, 2011). Já a
integração externa está relacionada à cooperação e desenvolvimento de atividades integradas
com parceiros externos à organização, como fornecedores, distribuidores, clientes e outros
stakeholders (SMITH; NACHTMANN; POHL, 2011a).
A maior parte dos custos em excesso dentro da cadeia de suprimentos é resultado de
processos ineficientes e redundantes envolvidos no transporte e entrega de suprimentos
(BRENNAN, 1998). Ao integrar as atividades da cadeia de suprimentos hospitalar, os
processos tornam-se mais padronizados, há redução de custos fixos e melhoria da eficiência
operacional. Além disso, ao compartilhar processos comuns, todos os participantes da cadeia de
suprimentos conseguem compartilhar os benefícios (BRENNAN, 1998).
Práticas associadas:
Um dos primeiros passos para aumentar a integração de uma cadeia de suprimentos
hospitalar é entender que ela é um sistema amplo, composto não apenas do hospital, mas
incluindo também todas as organizações com as quais há algum tipo de relação – tanto a
montante quanto a jusante. Ganhos reais de eficiência exigem que as organizações
compartilhem os mesmo conceitos, e que esses conceitos sejam aplicados aos processos, que
muitas vezes começam em uma organização e continuam ou terminam em outra (EVERARD,
2001).
A comunicação e compartilhamento de informações entre os diferentes níveis da
organização e entre os parceiros da cadeia de suprimentos são extremamente importantes para
construir uma relação de confiança entre as partes e manter uma relação de trabalho positiva
(KUMAR; DEGROOT; CHOE, 2008). Yap e Tan (2012) aconselham que as equipes reúnam-
se para compartilhar resultados, dificuldades e
37
melhores práticas e que essa proximidade pode ajudar a reduzir redundâncias e conseguir apoio
para as mudanças de processos. Essa integração é fortemente apoiada por sistemas de
informação que transpassam os limites das organizações e integram todas as atividades da
cadeia de suprimentos (SMITH; NACHTMANN; POHL, 2011a).
(2) Coordenação
A coordenação dos fluxos de produtos, serviços, pessoas e informações é essencial para
que as atividades sejam realizadas no prazo, principalmente no que se refere ao fornecimento de
insumos necessários a recuperação de pacientes (SMITH; NACHTMANN; POHL, 2011a). O
compartilhamento de informações entre os parceiros da cadeia de suprimentos de saúde pode
melhorar a sincronização, tornando o fluxo de suprimentos mais eficiente e diminuindo os
custos de estoque. Além disso, a coleta de dados permite que as organizações realizem previsões
de demanda mais eficientes (SMITH; NACHTMANN; POHL, 2011a). Outros benefícios
potenciais incluem processos padronizados de pedidos, redução de burocracia,
acompanhamento de pedidos, programação de pagamento, e muitos outros (BRENNAN, 1998).
Práticas associadas:
Para uma coordenação eficiente são necessários sistemas de informação para
sistematizar a enorme quantidade de dados existentes nos estabelecimentos de serviços de
saúde, dispondo de software para o gerenciamento do processo de logística e distribuição de
materiais e insumos médicos (NETO; SILVA; LUIZA, 2010). Entretanto, para que seja
possível utilizar as informações para a tomada de decisão, as nomenclaturas adotadas devem
ser padronizadas (MCKONE-SWEET; HAMILTON; WILLIS, 2005). Em muitos hospitais é
possível verificar a adoção de nomenclaturas completamente diferentes para um mesmo item,
e isso faz com que seja praticamente impossível analisar as
informações (SMITH; NACHTMANN; POHL, 2011b).
Everard (2001) ressalta ainda a necessidade de adotar uma abordagem colaborativa para a
gestão e compartilhamento das informações através da cadeia de
suprimentos hospitalar.
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o desempenho dos processos realizados (SHAH et al., 2008). Se o bem-estar do paciente é a
meta das organizações de saúde, então todos os elos da cadeia e os processos realizados também
devem de alguma forma apoiar este objetivo (EVERARD, 2001).
Práticas associadas:
Conceber mecanismos para coordenar as atividades e alinhar os objetivos de membros
independentes em uma cadeia de suprimentos descentralizada deve ser um desafio enfrentado
pelas organizações (SHAH et al., 2008). Metas para cada subprocesso devem ser estabelecidas
para desdobrar os objetivos da cadeia de suprimentos como um todo (ARONSSON;
ABRAHAMSSON; SPENS, 2011). Uma vez estabelecidos os objetivos, é necessário
acompanhar o progresso para avaliar se as metas estão sendo cumpridas e ajustá-las, caso
necessário (YAP; TAN, 2012). É importante que os componentes da cadeia de suprimentos
participem tanto da definição quanto da revisão desses objetivos.
Práticas associadas:
Para desenvolver o relacionamento com clientes é necessário identificar quais são os
clientes, que no caso dos hospitais são os médicos e pacientes (CHANDRA; KACHHAL,
2004). O envolvimento desses clientes no planejamento e melhoria de processos pode trazer
ganhos reais para o hospital. Ballard (2005) reforçou em seu artigo a importância do
envolvimento médico no esforço para reduzir o número de itens de alto custo utilizados no
tratamento de pacientes. Sem o envolvimento e apoio do médico, muitos programas de redução
de custo tendem a fracassar (SMITH; NACHTMANN; POHL, 2011a). Da mesma forma, o
envolvimento de pacientes e seus
39
acompanhantes também contribui para identificar oportunidades de melhorias. A avaliação do
nível de satisfação – tanto de médicos quanto pacientes – permite identificar problemas e
direcionar os esforços para realizar melhorias (BAKAR et al., 2010). Segundo Swinehart e
Smith (2005), a satisfação do cliente pode ser medida de acordo com o desempenho dos
processos utilizados para atender às necessidades do cliente.
Práticas associadas:
Um aspecto fundamental da complexidade da cadeia de suprimentos de uma
organização de saúde é o número de fornecedores envolvidos, bem como a variedade de
produtos que são adquiridos. Reduzir o número de fornecedores pode levar a benefícios
significativos, uma vez que os preços tendem a cair quando o volume é consolidado em um
número menor de fornecedores (NEUMANN, 2003; BRENNAN, 1998; CHANDRA;
KACHHAL, 2004). Com um número limitado de fornecedores, transações eletrônicas também
podem ser simplificadas (PAN; POKHARE, 2007). Padronizar os produtos médicos que são
utilizados diminui ainda mais o número de fornecedores necessários e contribui para conseguir
descontos devido a volumes maiores de compra (SMITH; NACHTMANN; POHL, 2011a).
Outros benefícios consequentes da adoção destas práticas incluem a maior facilidade de gestão,
o fortalecimento de parcerias e a redução dos custos de manutenção de estoques (BRENNAN,
1998).
A seleção criteriosa de fornecedores também contribui para o desenvolvimento de
parcerias de sucesso. Segundo Burns et al. (2001), os fornecedores devem ser selecionados com
base em sua capacidade técnica e desempenho, ao invés de utilizar processos de licitação. Ou
seja, o valor de uma parceria deve avaliado em uma escala mais ampla, considerando benefícios
além do preço unitário dos itens. O estabelecimento de contratos de longo prazo, a manutenção
dos mesmos gestores responsáveis pela contratação, uma intensa comunicação (BURNS et al.,
2002), além
40
do compartilhamento de objetivos e conhecimentos (SHAH et al., 2008), são outros fatores
que contribuem para o sucesso de uma parceria.
Práticas associadas:
Um dos princípios da filosofia Lean baseia-se busca por operações mais enxutas e
eliminação de desperdícios. Nesse sentido, Everard (2001) propõe que todas as atividades da
cadeia de suprimentos hospitalar sejam continuamente avaliadas e que sejam eliminadas aquelas
atividades que não agregam valor. Esse mesmo princípio deve ser aplicado aos relacionamentos
e parcerias em que elos da cadeia que não agregam valor devem ser eliminados (EVERARD,
2001). Experiências obtidas com a aplicação da filosofia lean indicam que é necessário um
fluxo de produtos e serviços bem definido e que haja uma divisão clara de papéis e
responsabilidades entre as funções da cadeia de suprimentos (ARONSSON; ABRAHAMSSON;
SPENS, 2011). Além disso, essa filosofia também trouxe consigo uma ênfase na criação de
parcerias e na redução do número de fornecedores.
41
Práticas associadas:
Su et al. (2011) encontraram bons resultados na implantação de uma cadeia de
suprimentos puxada em hospitais. Essa estratégia resultou em uma diminuição significativa dos
níveis de estoque, tendo como consequência a redução do espaço necessário para armazenagem,
a redução do investimento em estoque e uma maior eficiência operacional. A utilização de
tecnologias que permitam o gerenciamento do estoque pelo fornecedor podem ser adotadas para
auxiliar esta estratégia e reduzir os níveis de estoque nos hospitais (PAN; POKHARE, 2007). A
maneira mais eficaz para permitir uma cadeia de suprimentos puxada é encurtar os tempos de
ciclo de reposição e prazos de entrega. Com isso é possível reduzir custos e diminuir os ciclos
de pagamento e recebimento (COLLETTI, 1994).
Kumar et al. (2008) defendem que duas mudanças operacionais precisam ser realizadas
pelas organizações antes que implementem estas estratégias JIT. Primeiro, elas precisam formar
parcerias colaborativas com seus fornecedores para aumentar a confiabilidade das entregas.
Segundo, é necessário determinar com precisão a capacidade da cadeia de suprimentos
hospitalar, a fim de categorizar e prever todos os produtos. Colletti (1994) reforça essa ideia ao
defender que a chave do sucesso de um programa JIT está em conhecer os padrões da demanda
e as necessidades dos departamentos, além dos custos envolvidos em todos os processos.
Toba et al. (2008) chamam a atenção, no entanto, para a necessidade dos hospitais
manterem um nível de estoque suficiente para garantir o atendimento das demandas dos
pacientes sempre que necessário. Nesse caso, a falta de produtos em estoque é crítica, podendo
resultar na perda de vidas. Por esse motivo, alguns hospitais têm receio de implantar uma
estratégia JIT.
42
Práticas associadas:
A seleção dos produtos pode desempenhar um papel significativo nos custos da
cadeia de suprimentos. A avaliação cuidadosa dos produtos adquiridos pode reduzir os custos
através da padronização de tipos de produtos funcionalmente equivalentes e diminuição do
número de itens de alto preço que são demandados pelos médicos. Um desafio que deve ser
enfrentado para a padronização e redução do número de SKUs é a preferência dos médicos.
Segundo Volpe (apud TOBA; TOMASINI; YANG, 2008) estes itens de alto valor que são
preferidos pelos médicos são responsáveis, em média, por 40% do total de gastos com
suprimentos em um hospital. Uma avaliação dos itens com base na relação custo-benefício pode
auxiliar a tarefa de redução de SKUs e levar a reduções significativas de custo (SMITH;
NACHTMANN; POHL, 2011a). Nessa análise de custo-benefício é necessário considerar o
custo total do produto na cadeia de suprimentos e não apenas o custo unitário do item (TOBA;
TOMASINI; YANG, 2008; EVERARD, 2001). Por exemplo, a utilização de uma determinada
ferramenta de diagnóstico pode ter um custo unitário mais baixo, mas, se a ferramenta utiliza
reagentes que contêm metais pesados, pode gerar um custo significativo de descarte deste
material, aumentando o custo total (TOBA; TOMASINI; YANG, 2008).
Uma gestão eficiente dos pedidos de compras deve possibilitar um rápido
reabastecimento do hospital, através da colocação automática do pedido (MUSTAFFA;
POTTER, 2009). Nesse cenário, o fornecedor assume a responsabilidade pela gestão de estoque
no cliente e toma decisões sobre reposição. Segundo Brennan (1998), algumas práticas podem
ser adotadas para atingir este objetivo:
Integrar os processos de compras e contas a pagar, centralizar a prestação de contas e
estabelecer padrões de gerenciamento de pedidos.
Adotar um processo de compra eletrônico, através do Electronic Data
Interchange (EDI) ou outras formas de comércio eletrônico.
Implantar a numeração de produtos e rastreamento eletrônico para simplificar a
identificação e rastreamento de pedidos e pagamentos.
Economias de escala podem ser obtidas pela compra de volumes maiores. Sendo assim,
consolidar as compras em um número menor de fornecedores pode levar a descontos por
volume, assim como a aquisição centralizada de produtos por meio de grupos de compras
(TOBA; TOMASINI; YANG, 2008; SU; GAMMELGAARD; YANG, 2011; SMITH;
NACHTMANN; POHL, 2011a). Pan e Pokhare (2007)
identificaram em seu estudo que hospitais que realizam compras consolidadas através de uma
unidade central obtiveram considerável redução nos custos.
43
Outra boa prática é priorizar a compra de fornecedores locais. Esta prática pode
reduzir os tempos de entrega e garantir a disponibilidade de suprimentos em situações
emergenciais (PAN; POKHARE, 2007). A terceirização de atividades secundárias, como
limpeza, segurança, cafeteria, alimentação e lavanderia também costuma contribuir para a
redução dos custos e aumento da satisfação dos clientes (MOSCHURIS; KONDYLIS, 2006).
Práticas associadas:
Uma pesquisa realizada por Smith et al. (2011) mostrou a importância da prevenção de
problemas de qualidade e da identificação dos problemas o mais rápido possível, a fim de
minimizar o impacto no custo. O custo com a falta de qualidade aumenta à medida que os
produtos e serviços se movem através da cadeia de suprimentos. Portanto, os erros ocorridos ou
detectados mais tarde na cadeia de suprimentos são mais caros do que os erros ocorridos ou
detectados anteriormente (STOKES, 2008). De acordo com Smith et al. (2011), outras práticas
que influenciam a qualidade da cadeia de suprimentos hospitalar consistem em: adotar um
modelo de gestão da qualidade, garantir a disponibilidade de materiais, permitir o rastreamento
dos produtos ao longo da cadeia, diminuir a variabilidade dos processos e melhorar a qualidade
das informações compartilhadas.
44
reduzindo o trabalho operacional – e a diminuição do custo são algumas das principais razões
para que tecnologias da informação e comunicação sejam adotadas em hospitais.
Práticas associadas:
Sistemas integrados como os sistemas do tipo Enterprise Resources Planning (ERP)
são pacotes de software projetados para integrar, padronizar e automatizar os processos dentro
das organizações e ao longo de suas cadeias de valor (VRIES; HUIJSMAN, 2011). Dentre
outros benefícios destes sistemas, são citados: a melhoria da eficiência, redução do custo
operacional e facilidade de compartilhamento de informações através de uma plataforma única
(CHANDRA; KACHHAL, 2004). A utilização de sistemas de prontuário eletrônico também é
um exemplo conhecido de tecnologia de informação integrada a ser implantado nos sistemas de
saúde (VRIES; HUIJSMAN, 2011).
Tecnologias de ponto de venda para rastreamento dos produtos, como código de barras
ou Radio-frequency identification (RFID), têm sido apontadas como essenciais para controlar
o aumento dos custos da indústria de saúde. Esse tipo de tecnologia permite que os produtos
sejam rastreados ao longo da cadeia e que os estoques sejam atualizados automaticamente
sempre que um produto é retirado do armazém. De forma complementar, as tecnologias
estatísticas para previsão de demanda podem ajudar a gerar dinamicamente quantidades de
pedidos e previsões de quando os itens devem ser solicitados (COLLETTI, 1994).
Práticas associadas:
Uma prática para identificar oportunidades de melhoria consiste na análise dos
processos da cadeia de suprimentos. Os processos da cadeia de suprimentos devem ser avaliados
periodicamente a fim de identificar oportunidades de melhoria, integração ou automatização
(LANGABEER, 2005). A avaliação dos processos também pode revelar oportunidades de
colaboração com os parceiros da cadeia de
45
suprimentos, reduzindo os custos e aumentando a eficiência (SMITH; NACHTMANN; POHL,
2011a). Clientes e fornecedores também devem ser envolvidos nessas atividades de
reengenharia (COLLETTI, 1994).
Outra forma de prospectar melhores práticas de gestão da cadeia de suprimentos é
realizar um benchmarking dentro do setor de saúde. Para isso, a organização deve selecionar o
processo a ser avaliado, encontrar um parceiro que já tenha implementado melhorias e, em
seguida, analisar tais processos para identificar as lacunas e implementar mudanças (KUMAR;
DEGROOT; CHOE, 2008). Embora nem todas as práticas identificadas possam ser
implementadas em sua forma exata, será útil identificar porque tais práticas tiveram sucesso e as
modificações que precisam ser realizadas a fim de obter benefícios semelhantes (ANDERSEN
et al., 1999).
Práticas associadas:
Uma gestão logística integrada e centralizada contribui para aumentar a eficiência da
cadeia de suprimentos. Para melhorar a eficiência, devem ser criados um centro de serviços e
uma rede de transporte integrada para assegurar a utilização eficiente dos serviços de transporte,
gerenciar informações logísticas da cadeia de suprimentos, e eliminar redundâncias
(BRENNAN, 1998; CHANDRA; KACHHAL, 2004). A gestão centralizada da logística
também facilita a coleta e gestão dos dados necessários para medir a eficiência da cadeia de
suprimentos, avaliar a qualidade do serviço e garantir uma melhor previsão da demanda
(BRENNAN, 1998).
Outras práticas que obtiveram bons resultados na gestão logística de hospitais foram: a
consolidação das cargas e a utilização de cross-docking no transporte dos produtos
(CHANDRA; KACHHAL, 2004). Su et al. (2011) reportaram ganhos consideráveis com a
adoção de inovações logísticas, inclusive o cross-docking, por hospitais. Dentre os ganhos
obtidos, pode-se citar a redução do espaço necessário para estocagem, economias de escala e
redução do tempo para realizar tarefas operacionais.
46
(13) Planejamento da demanda
É fundamental que os hospitais mantenham um nível de estoque suficiente para
garantir o atendimento às necessidades de seus pacientes. Caso contrário, a falta de
materiais e medicamentos pode resultar na perda de vidas (TOBA; TOMASINI; YANG, 2008).
Diante deste cenário crítico, a gestão e o planejamento da demanda são atividades-chave
para garantir que não faltem insumos médicos. Uma previsão eficaz da demanda permite reduzir
o nível de estoque, evitar faltas e melhorar o fluxo dos suprimentos que se movem ao longo
da cadeia de suprimentos (BRENNAN, 1998). Além disso, o autor argumenta que um
planejamento da demanda permite alocar melhor o espaço destinado ao estoque, evitar o
excesso de pessoal durante os períodos de menor demanda, além de permitir o melhor
planejamento dos fornecedores e distribuidores (BRENNAN, 1998).
Práticas associadas:
A demanda deve ser prevista e um plano deve ser elaborado para facilitar o atendimento
das necessidades de suprimentos em uma base trimestral, semestral ou anual (BRENNAN,
1998). Esse plano deve ser revisto periodicamente e atualizado conforme a necessidade. Para
um melhor resultado, é importante o envolvimento de outras áreas do hospital – além da área
de suprimentos – na elaboração deste plano. A utilização de sistemas de previsão de demanda
pode auxiliar a tarefa de elaboração e compartilhamento da previsão de demanda entre os
departamentos dentro do hospital e entre fornecedores, por exemplo (BRENNAN, 1998).
Brennan (1998) sugere ainda que diretrizes clínicas sejam desenvolvidas para definir os
requisitos de suprimentos de grupos-chave de pacientes. Essas orientações fornecem uma base
para antecipar a demanda e atendê-la de forma mais eficiente (BRENNAN, 1998).
47
dos estoques e a agilidade e acurácia na distribuição interna desses produtos (KUMAR;
DEGROOT; CHOE, 2008).
Práticas associadas:
Uma prática básica na gestão de estoques consiste na classificação dos itens de acordo
com critérios para agrupar os materiais/insumos e facilitar o controle (NETO; SILVA; LUIZA,
2010). Algumas classificações adotadas por hospitais são a classificação segundo a importância
financeira do item (classificação ABC) e segundo a criticidade (classificação XYZ). Para uma
gestão de estoque mais eficiente, muitos hospitais têm adotado tecnologias para automatizar e
facilitar o rastreamento e monitoramento dos produtos (KUMAR; DEGROOT; CHOE, 2008).
Dentre as tecnologias mais adotadas estão o uso de código de barras, RFID e robôs. As
principais vantagens desta prática consistem no aumento do controle, agilidades das transações,
diminuição dos erros e redução das perdas por obsolescência (KUMAR; DEGROOT; CHOE,
2008).
Outras ações que contribuem para a redução dos custos com estoque consistem em
minimizar os níveis de estoque, reduzir o espaço destinado à estocagem e maximizar o giro
(CHANDRA; KACHHAL, 2004). Um fator essencial para que estas ações possam ser
colocadas em prática é a diminuição da variedade de SKUs, através da padronização de itens
funcionalmente equivalentes (CHANDRA; KACHHAL, 2004). Pan e Pokhare (2007) chamam
a atenção para a natureza imprevisível dos serviços hospitalares - principalmente aqueles que
recebem emergências -, que requer um nível mínimo de estoque para garantir um atendimento
adequado. Os autores sugerem também que o uso de revisão periódica e métodos de reposição
podem ser boas políticas de gestão de estoque em hospitais.
Outras práticas encontradas na literatura que influenciam o desempenho da cadeia de
suprimentos são: (1) apoio da alta gestão, (2) visibilidade de informações,
(3) atribuição de papéis e responsabilidade e (4) compartilhamento de riscos e recompensas. O
apoio da alta gestão é essencial para garantir o engajamento necessário de todos os
departamentos nas atividades de melhoria e manter o alinhamento estratégico (MCKONE-
SWEET; HAMILTON; WILLIS, 2005). A visibilidade está relacionada ao conhecimento e
divulgação dos custos, desempenhos e ineficiências. A medição através de indicadores de
desempenho das diversas áreas dos hospitais é essencial para quantificar as ineficiências e
priorizar ações de melhoria (EVERARD, 2001). Atribuir responsabilidades ao longo da cadeia
de suprimentos também contribui para desenvolver iniciativas de redução de custos e melhoria
do controle (SMITH; NACHTMANN; POHL, 2011a). Já o compartilhamento de riscos e
48
recompensas é importante principalmente para a manutenção de um bom
relacionamento com os parceiros (EVERARD, 2001).
Segundo Ghisi et al. (2008), as alianças entre empresas têm um papel importante
também no acesso aos recursos e competências necessárias para a sobrevivência e sucesso das
empresas independentes. Além disso, os resultados da padronização e coordenação dos esforços
de cada membro fazem com que os grupos alcancem uma maior presença no mercado (STOEL,
2002).
Outra vantagem é que as empresas organizadas sob uma mesma gestão podem
conseguir economias de escala e de escopo (STOEL, 2002). Este tipo de
49
organização aumenta o poder de mercado das empresas, gera um melhor desempenho, permite o
compartilhamento de objetivos, redução de custos, troca de experiências e resultados que
impactam positivamente na competitividade (GHISI et al., 2008).
50
menores custos e melhores condições de negociação, que pode, no caso de medicamentos,
resultar uma redução de custos na ordem de 40% (NOLLET; BEAULLIEU, 2005).
Outra vantagem é poder comparar com maior facilidade o desempenho dos diversos
estabelecimentos, aprender com os melhores e compartilhar as boas práticas, de forma a
melhorar progressivamente o desempenho global (HÄKKINEN et al., 2004). Essas vantagens
conferem à rede sinergia na gestão, desde que seus dirigentes consigam superar as forças
adversas – rivalidade, ciúme, inveja, hostilidade
– e entender a oportunidade que existe em realizar esse benchmarking (AIK et al., 2013). Para
aplicar essas melhores práticas, entretanto, os autores ressaltam que os dirigentes precisam
conhecer as realidades locais e peculiaridades de cada hospital para adaptá-las a cada realidade.
A rede hospitalar proporciona, assim como nas demais indústrias, apreciável economia
de escala de recursos humanos e físicos, por meio de compartilhamento de diretores, assessores,
especialistas e equipamentos caros, desde que a logística o permita (MACHLINE; PASQUINI,
2011). Além disso, se a distância entre os hospitais da rede não for proibitiva, eles podem
socorrer-se mutuamente em caso de falta de algum material médico ou equipamento (GHISI et
al., 2008). Além disso, segundo o autor, um estoque de segurança compartilhado deve ser
menor do que a soma dos estoques de segurança das unidades individuais, se independentes.
Isso pode proporcionar um menor custo de estoque e, ao mesmo tempo, menor risco de falta de
produtos.
Ademais, segundo Ghisi et al. (2008), a rede forma um sistema natural de referência
para encaminhamento de pacientes, podendo se beneficiar das especialidades de determinado
estabelecimento que inexistem em outro, propiciando a economia conjunta do modelo. Esse
modelo propicia o fortalecimento da marca do grupo e aumenta a captação de pacientes, que
podem ser indicados por outros hospitais da rede.
51
consequência, a gestão da cadeia de suprimentos sofre influência direta destas estratégias
adotadas, que incluem a decisão de posicionamento, consolidação, diferenciação, foco em
custos, entre várias outras. Entretanto, os efeitos à jusante dessas decisões estratégicas e
operacionais sobre o desempenho da organização nem sempre são facilmente mensuráveis
(GOLDSTEIN et al., 2002).
Além disso, o papel dos gestores em hospitais grandes concentra menos atividades
técnicas e operacionais e mais atividades estratégicas e gerenciais quando comparado com
hospitais pequenos (MUNSON; ZUCKERMAN, 1983). Ao reduzir o tempo consumido com
atividades técnicas e operacionais, os gerentes de grandes empresas têm mais tempo para
dedicar-se à gestão das relações à montante e à jusante da cadeia de suprimentos.
Outra característica citada por Carey, Burgess e Young (2008) que impacta diretamente
a gestão da cadeia de suprimentos hospitalar é o grau de especialização dos hospitais. Um
hospital pode optar por oferecer um atendimento geral, contemplando as diversas especialidades
médicas ou um atendimento focado em determinada especialidade, como ortopedia, pediatria,
cardiologia, etc. Esta decisão influencia a maneira como o hospital organiza-se para atender este
objetivo e as práticas de gestão da cadeia de suprimentos adotadas.
Munson e Zuckerman (1983) sugerem que hospitais especializados tendem a ter uma
menor complexidade operacional ao mesmo tempo em que possuem processos mais
padronizados e funcionários especializados, fatores que tornam a comunicação e coordenação
mais eficiente. Além disso, hospitais especializados
52
tendem a ter uma estrutura mais enxuta, uma menor variedade de itens em estoques, um menor
número de fornecedores, uma menor incerteza na demanda e uma menor variabilidade nos seus
processos (CAREY; BURGESS; YOUNG, 2008). Tudo isso contribui para diminuir a
complexidade na gestão da sua cadeia de suprimentos.
Carey e Burgess (2008) ressaltam, porém, que a especialidade médica de cada hospital
pode influenciar diretamente essas características. Segundo os autores, os hospitais de
especialidade cardiovascular, por exemplo, tendem a aproximar-se operacionalmente dos
hospitais gerais devido à complexidade de gestão de suas atividades e à grande variedade
possível de atendimentos e tratamentos. Por isso os autores defendem que é preciso levar em
consideração não apenas se o hospital é geral ou especializado, mas também em qual
especialidade ele está focado.
Segundo Mathew, John e Kumar (2013), um hospital que possui uma baixa rotatividade
de médicos tende a ter a cultura, práticas e processo mais disseminados e enraizados na
organização. Quanto maior a rotatividade, maior a dificuldade de realizar treinamentos e de
que os profissionais conheçam plenamente os
53
procedimentos do hospital. Outros benefícios de um corpo clínico exclusivo é a familiaridade
com os sistemas de informação, qualidade e frequência da comunicação além de permitir um
relacionamento mais próximo com o próprio hospital.
Este capítulo teve por objetivo descrever as características inerentes à gestão da cadeia
de suprimentos, em sua forma mais abrangente, até convergir para sua aplicação no contexto
hospitalar, identificando os fatores que contribuem para o desempenho da cadeia de
suprimentos hospitalar e as principais práticas associadas a eles, conforme os estudos
conduzidos pelos pesquisadores da área. Ademais, buscou-se levantar os aspectos ligados à
implantação dessas práticas no que diz respeito às dificuldades enfrentadas pelos hospitais e às
motivações que os conduzem a adotar determinadas práticas.
54
(2) Coordenação Utilizar sistemas de informação para armazenar os dados e facilitar o
acesso e compartilhamento (NETO; SILVA; LUIZA, 2010).
Intensificar a comunicação entre os elos da cadeia (EVERARD, 2001).
Coordenar eficientemente o fluxo dos produtos/informações ao longo da
cadeia de suprimentos (SMITH; NACHTMANN; POHL, 2011a).
(7) Princípios JIT Implantar uma estratégia de cadeia de suprimentos puxada (SU;
GAMMELGAARD; YANG, 2011).
Permitir que o fornecedor tenha acesso às informações de estoque
(PAN; POKHARE, 2007).
Encurtar os tempos de reposição (COLLETTI, 1994).
Desenvolver parcerias colaborativas com fornecedores (KUMAR;
DEGROOT; CHOE, 2008).
Determinar com precisão a capacidade da cadeia de suprimentos
(KUMAR; DEGROOT; CHOE, 2008).
55
(8) Estratégia de Selecionar os produtos com base na relação custo-benefício (SMITH;
suprimentos NACHTMANN; POHL, 2011a).
Considerar o custo total do produto na cadeia de suprimentos ao invés do
custo unitário do item (TOBA; TOMASINI; YANG, 2008; EVERARD,
2001).
Consolidar os pedidos para aumentar o volume (TOBA; TOMASINI;
YANG, 2008; SU; GAMMELGAARD; YANG, 2011; SMITH;
NACHTMANN; POHL, 2011a).
Integrar os processos de compras e contas a pagar, centralizar a prestação
de contas e estabelecer padrões de gerenciamento de pedidos
(BRENNAN, 1998).
Adotar um processo de compra eletrônico (BRENNAN, 1998).
Implantar a numeração de produtos e rastreamento eletrônico
(BRENNAN, 1998).
Comprar de fornecedores locais (PAN; POKHARE, 2007).
(11) Gestão de estoques e Classificar os itens em estoque (NETO; SILVA; LUIZA, 2010).
distribuição
Utilizar tecnologias de rastreamento de produtos (KUMAR; DEGROOT;
CHOE, 2008).
Minimizar os níveis de estoque (CHANDRA; KACHHAL, 2004).
Padronizar os itens e diminuir a variedade de SKUs (CHANDRA;
KACHHAL, 2004).
56
Envolver clientes e fornecedores nas atividades de reengenharia
(COLLETTI, 1994).
Realizar benchmarking (KUMAR; DEGROOT; CHOE, 2008).
Práticas associadas
Estender a parceria não apenas para os elos verticais, mas também para as relações horizontais
(HÄKKINEN et al., 2004).
57
Tabela 4. Impactos das características dos hospitais na GCS
(1) Tamanho Hospitais maiores tendem a ter uma melhor coordenação e integração do
que hospitais menores (WATCHARASRIROJ; TANG, 2004).
(2) Tipo de Hospital / Hospitais gerais tendem a ser mais complexos com relação à GCS
Posicionamento
(MUNSON; ZUCKERMAN, 1983; CAREY; BURGESS; YOUNG, 2008).
Estratégico
Estratégias de diferenciação aumentam a complexidade de GCS
hospitalar (LAMONT; MARLIN; HOFFMAN, 1993).
(3) Perfil do Quadro Hospitais com grande percentual do quadro clínico aberto tendem a
Clínico adotar menos práticas de GCS (MATHEW; JOHN; KUMAR, 2013).
A alta rotatividade dos médicos prejudica a comunicação, coordenação e
integração (MATHEW; JOHN; KUMAR, 2013).
58
3 - MÉTODO DE PESQUISA
3.1.1 - Quais práticas de gestão da cadeia de suprimentos estão sendo adotadas pelos
hospitais privados brasileiros pertencentes a uma rede hospitalar? Como esses hospitais
estão posicionados frente às práticas de gestão da cadeia de suprimentos levantadas na
literatura?
3.1.3 - Como o fato de esses hospitais fazerem parte de uma rede hospitalar impacta a
gestão da cadeia de suprimentos?
59
3.2 - MÉTODO DA PESQUISA
O roteiro de entrevista foi organizado por temas relacionados aos principais processos
realizados pelo hospital a fim de facilitar a condução da entrevista e garantir que a conversa
pudesse fluir da maneira mais natural possível. Para relacionar o modelo conceitual proposto no
capítulo 2 com o roteiro de pesquisa foi construído um quadro (Anexo II) em que cada um dos
fatores que influenciam a GCS e suas respectivas práticas foram relacionados às perguntas do
roteiro de entrevista. Com isso pode-se identificar facilmente as perguntas realizadas para
investigar a adoção de cada uma das práticas de GCS.
60
desta rede de hospitais se deveu à facilidade de acesso aos entrevistados e às informações
necessárias para realizar este estudo.
Segundo Yin (2005), cada caso pode ser selecionado de forma a (1) predizer resultados
similares (replicação literal) e (2) produzir resultados contrários, com razões prognosticáveis
(replicação teórica). Para conduzir este estudo optou-se por adotar a replicação teórica com o
objetivo de, segundo o autor, explorar casos em que o fenômeno a ser provado pode falhar. Ou
seja, procuram-se situações com características contrárias às definidas na pesquisa que
produzam resultados contrários e, no entanto, prognosticáveis. Diante disso, procurou-se
selecionar uma amostra de hospitais com características diferentes em relação ao tamanho,
especialidade médica, perfil do quadro clínico e tempo de atuação no mercado. São encontrados
na literatura evidências que sugerem que estas características podem impactar direta ou
indiretamente a GCS (NOLLET; BEAULLIEU, 2005; ARONSSON; ABRAHAMSSON;
SPENS, 2011; BALLARD, 2005; SMITH; NACHTMANN; POHL, 2011a).
Nas conversas preliminares com os possíveis entrevistados percebeu-se que parte das
respostas desejadas seria fornecida pela área corporativa, que realiza, de forma centralizada,
algumas atividades para todos os hospitais do grupo. Algumas decisões, como aquelas
relacionadas à seleção e contratação de fornecedores, colocação do pedido de compra e
acompanhamento dos pedidos são realizadas centralizadamente pela área de compras. Optou-se,
portanto, a entrevistar duas pessoas da área de compras corporativa e, em seguida, entrevistar os
profissionais de cada hospital selecionado.
61
característica essencial para a análise da cadeia de suprimentos. Os diretores dos hospitais
possuem formação em Medicina e ocupam cargos gerenciais, além de serem os mais
interessados nos resultados da pesquisa. Contudo, quando necessário, também foram
entrevistados profissionais de outras áreas, inclusive aqueles responsáveis pela área de farmácia,
com intuito de complementar determinadas informações.
O primeiro contato para agendamento das entrevistas foi feito por e-mail, para que
informações essenciais sobre o conteúdo e o intuito da pesquisa fossem claramente explanados
aos possíveis entrevistados. Foi também enviada aos entrevistados, por e-mail, a agenda de
temas que seriam abordados na entrevista. Tal medida teve como objetivo identificar os
profissionais mais adequados para responder às perguntas bem como permitir uma preparação
prévia do entrevistado, já que algumas perguntas demandavam informações mais específicas.
Contatos posteriores foram feitos majoritariamente por telefone.
62
3.6 - LIMITAÇÕES DO MÉTODO
De acordo com Yin (2005), o método de estudo de caso apresenta essencialmente três
limitações. Para o autor, independentemente do número de empresas estudadas, não é possível
fazer generalizações para toda a população. Dessa forma, não se deve assumir que as
constatações feitas neste estudo possam ser aplicadas para o universo dos hospitais brasileiros
que estejam adotando práticas de gestão da cadeia de suprimentos em suas operações.
Além das três limitações do método apontadas por Yin (2005), cabe mencionar que
outra limitação refere-se ao fato de que os cinco hospitais selecionados fazem parte da mesma
rede e são controlados pela mesma operadora. O fato de os hospitais pertencerem a uma mesma
rede pode gerar respostas muito semelhantes em termos de práticas gerenciais uma vez que,
embora cada hospital apresente suas especificidades, existe uma diretriz global que norteia o
modo como algumas atividades são realizadas. Esse é um viés importante, pois alguns dos
resultados encontrados podem estar atrelados ao modelo de gestão adotado pelo grupo e não
refletir a realidade dos demais hospitais privados brasileiros.
63
4 - DESCRIÇÃO DOS CASOS
A seguir são descritos cinco estudos de caso de hospitais cuja apresentação foi realizada
no capítulo de metodologia. Sendo assim, todos os hospitais, que neste estudo receberam nomes
fictícios baseados no alfabeto grego, fazem parte de uma mesma rede de operadora de plano de
saúde.
Para contextualização dos casos é apresentado um breve histórico sobre o grupo que faz
a gestão dos hospitais analisados. Em seguida são descritas as operações dos hospitais em duas
partes. Primeiro são apresentadas as atividades realizadas de forma centralizada e que são
comuns a todos os hospitais da rede. Em conformidade com a revisão da literatura, são descritas
as práticas de GCS no que diz respeito às atividades de compras e o relacionamento com
fornecedores.
64
hospitalares da rede, que possuem diferentes tempos de atuação no mercado, diferentes
especialidades médicas e perfis de atendimento.
A primeira iniciativa do grupo foi criar um armazém onde seriam estocados todos os
produtos para serem posteriormente distribuídos aos hospitais. Nessa época, a área era
responsável por realizar a previsão de demanda dos hospitais, gerar os pedidos de compra,
negociar, receber e estocar os materiais, além de entregar os produtos aos hospitais.
65
de construção, marketing, materiais e serviços em geral, TI, equipamentos hospitalares e
artigos. Dentre estas categorias, apenas os medicamentos, materiais técnicos e equipamentos
hospitalares exigem vigilância sanitária, o que aumenta a complexidade do processo de compra.
Todos os produtos consumidos pelos hospitais devem ser comprados centralizadamente, porém,
na prática, é difícil de controlar que isto aconteça. Nas palavras de um entrevistado no setor de
compras:
66
Para alguns tipos de produtos é utilizado um sistema de mercado eletrônico, que é um
portal na internet onde o comprador indica o produto que deseja comprar e os fornecedores
disponibilizam as informações técnicas e preços, como um leilão eletrônico. Com base nas
propostas recebidas, a área de compras negocia e decide, junto com o solicitante, a melhor
opção e realiza a compra.
Nos casos dos produtos para os quais existe um contrato o fluxo é diferente, pois não
existe a necessidade de realizar cotação e negociação. Uma vez que o pedido é inserido no
sistema pelo hospital solicitante, o mesmo é encaminhado diretamente ao fornecedor
contratado. Nesses casos em que há um contrato, o processo de compra é mais ágil e geralmente
as condições de preço e prazo de entrega são melhores do que quando não há um contrato.
67
ser realizada. Esse é o caso principalmente dos materiais do tipo Órteses, Próteses e Materiais
Especiais (OPME), que são solicitados pelo médico, muitas vezes de forma emergencial.
Estes itens de OPME não são estocados por muito tempo e geralmente chegam ao
hospital no dia da cirurgia. Por isso é necessário existir uma sincronização entre a chegada do
material e o início da cirurgia a fim de evitar que a cirurgia tenha que ser reagendada. Esse
acompanhamento da entrega dos materiais é feito, em parte, pela área de compras. Entretanto,
segundo os entrevistados, essa é uma tarefa que demanda tempo e esforço e a equipe atual não
tem efetivo para acompanhar 100% das entregas.
Todos os fornecedores que prestam serviços para o grupo precisam passar por um
processo de avaliação e seleção conforme critérios preestabelecidos para que possam ser
cadastrados no sistema, já que os hospitais não podem solicitar serviços ou produtos de
fornecedores que não sejam cadastrados.
A seleção dos fornecedores que irão prestar serviço para os hospitais do grupo leva em
consideração diversos critérios, entre eles: boas práticas de fabricação, registros dos produtos,
certificação de qualidade, etc. As categorias de medicamentos e materiais possuem critérios
ainda mais rígidos, relacionados à vigilância sanitária. Entretanto, os entrevistados não
consideram a situação financeira nem tampouco a localização geográfica dos fornecedores.
Uma vez que os fornecedores atendem a
68
todos os critérios estabelecidos pelo grupo, ele está apto para ser cadastrado no sistema.
Além da qualificação dos fornecedores existe ainda a qualificação dos itens. Cada item
comprado passa por uma etapa de análise e qualificação com o objetivo de atestar sua
funcionalidade e qualidade. Essa etapa inclui não apenas a análise dos requisitos de qualidade,
mas também o parecer da equipe médica ou de enfermagem.
Com aqueles fornecedores considerados críticos, o grupo procura fazer contratos, que
podem ter duração de até dois anos. Entretanto, a maioria dos contratos possui duração de um
ano, tempo considerado curto pelos entrevistados. Um dos obstáculos para assinar contratos
de maior duração é a falta de um planejamento de demanda de longo prazo.
69
4.3 - HOSPITAL ALFA
O hospital Alfa foi incorporado ao grupo em 2012, mas atua no mercado brasileiro há
mais de 50 anos. Está localizado na cidade do Rio de Janeiro e é especializado em lesões
ortopédicas, sendo referência nacional em tratamentos e cirurgias ortopédicas simples e
complexas. O hospital possui 35 leitos e realiza em média 450 cirurgias por mês e trabalha
basicamente com um quadro clínico aberto, ou seja, a maior parte dos médicos não é vinculada
ao hospital. Além disso, são aceitos pacientes de outras quatro operadoras de saúde, além da
operadora que administra o hospital.
O hospital realiza cirurgias de pequeno, médio e grande porte, tendo como foco,
além da qualidade, a rapidez na recuperação do pacientes e, consequentemente, a redução do
tempo de permanência do mesmo no hospital. A média desse tempo, em 2015, é de dois dias,
variando de um dia no caso de cirurgias mais simples até três dias em caso de cirurgias
complexas. Para manter este foco, o hospital investe em práticas que possibilitem a recuperação
mais rápida dos pacientes como fisioterapia, reabilitação e orientações sobre higiene e cuidados
pós-operatórios. O diretor defende que a redução do tempo de permanência na unidade aumenta
a rotatividade e a capacidade de atendimento do hospital, melhorando a eficiência.
70
distribuição, Infraestrutura das salas de cirurgias e Relacionamento com médicos e pacientes.
4.3.1 - Suprimentos
71
Para contornar a situação de falta de material e insumos para cirurgias, o hospital Alfa
aposta em uma parceria com fornecedores, fazendo com que estes deixem um material
consignado permanentemente no hospital. No caso de atraso na entrega existe a possibilidade,
caso o médico concorde, de manter a cirurgia e utilizar esse material consignado, que já está
esterilizado e pronto para o uso. Segundo o entrevistado, essa disponibilidade é um diferencial
competitivo e deve ser considerado no momento da escolha dos fornecedores.
O entrevistado considera que a gestão de estoque é boa e que raramente faltam insumos.
Além disso, as informações sobre inventário são precisas e acuradas, principalmente devido ao
sistema de controle por código de barras. Ele afirma que a perda de insumos, principalmente
medicamentos, por expiração do prazo de validade é muito baixa, porém, em alguns casos,
inevitável.
72
giro são os que mais expiram, mas por serem itens de baixo custo
não representam uma perda financeira absurda.”
Hoje o hospital Alfa não realiza muitas trocas de recursos com outros hospitais da rede.
Primeiro porque muitos dos instrumentos cirúrgicos e materiais do tipo OPME são específicos
para cirurgias ortopédicas e segundo pela dificuldade logística de movimentação desses
produtos. Nos casos de falta de medicamentos e materiais é preferível, quando possível,
comprá-los em uma farmácia mais próxima.
Para que uma cirurgia aconteça é necessário que alguns requisitos sejam atendidos: o
material precisa estar disponível e devidamente esterilizado, a sala deve estar desocupada e
limpa de acordo com a cirurgia a ser realizada, a equipe médica e os enfermeiros devem estar
presentes e o paciente deve ser preparado conforme requisitos necessários.
73
Uma cirurgia ortopédica envolve uma grande quantidade de materiais, desde
instrumentos cirúrgicos até próteses e órteses. Quando estes materiais chegam ao hospital é
preciso que sejam devidamente esterilizados, um processo que pode levar até seis horas para ser
concluído. Segundo o entrevistado, o ideal é que estes materiais cheguem ao hospital com
uma antecedência mínima de 24 horas, porém isso dificilmente acontece.
Além dos instrumentos e materiais, as medicações também devem ser distribuídas nas
salas de cirurgia conforme especificações médicas. Para facilitar a distribuição dessas
medicações para as salas de cirurgia foram estabelecidos kits padronizados com os
medicamentos geralmente utilizados para aquele tipo de cirurgia. Segundo o entrevistado, o
objetivo desses kits é facilitar e agilizar o processo de distribuição. Entretanto, isso só é possível
porque as cirurgias desde tipo são bastante previsíveis e existe pouca variabilidade com relação
ao tipo de medicação utilizada. Caso algum medicamento do kit não seja utilizado na cirurgia,
este é devolvido à farmácia.
A limpeza das salas de cirurgia é realizada de acordo com o planejamento das cirurgias.
A equipe de limpeza tem acesso ao plano de cirurgias via sistema e verifica qual o tipo de
cirurgia será realizado em cada sala. Os procedimentos e o tempo total requerido para limpeza
podem variar de 30 minutos, no caso de cirurgias de pequeno porte, até 50 minutos para
cirurgias de grande porte.
Uma restrição de capacidade atual é o número de leitos que podem ser usados para pós-
operatório, que atualmente é de cinco leitos. Com isso, o número máximo de cirurgias de grande
porte (que requerem uma internação pós-operatória) é de cinco cirurgias por dia. Segundo o
entrevistado, existe um custo considerável que é incorrido quando as salas de cirurgias ficam
ociosas. Portanto, os cancelamentos de cirurgias
74
são acompanhados de perto e um indicador semanal é calculado para monitorar o número e
o motivo dos cancelamentos.
O hospital Alfa trabalha com um quadro clínico aberto, em que médicos de fora do
hospital podem utilizar as instalações cirúrgicas para operarem seus pacientes. Sendo assim, o
número de médicos que frequentam o hospital é bastante grande e existe uma alta rotatividade.
Essa rotatividade dificulta uma aproximação maior e o conhecimento sobre o sistema e o
ambiente do hospital.
75
Para acompanhar o nível de satisfação dos médicos e aproximar a relação deles com o
hospital, reuniões e pesquisas de satisfação são realizadas periodicamente. Com o corpo clínico
fixo do hospital são realizadas reuniões mensais para discutir oportunidades de melhorias,
estratégias futuras e novos negócios. Como é mais difícil realizar reuniões periódicas com os
médicos não vinculados ao hospital, o Diretor procura aproximar a relação com os mesmos no
seu dia-a-dia, de maneira menos formal.
O hospital Beta foi incorporado ao grupo em 2011, mas atua no mercado brasileiro
desde 2005. Está localizado na cidade do Rio de Janeiro e é um hospital geral que possui 180
leitos e recebe um grande volume de atendimentos de emergência. O hospital realiza uma
média de 11 mil atendimentos e uma média de 800 cirurgias por mês, entre cirurgias de
pequeno, médio e grande porte. Recentemente o hospital incorporou o setor de oncologia, que
antes era uma unidade de atendimento independente do hospital.
O hospital Beta pode ser considerado um hospital verticalizado, já que 90% dos
pacientes atendidos são clientes da rede e apenas 10% são conveniados com outras operadoras.
Entretanto, a meta é que o hospital passe a ser um hospital de mercado, aumentando a
participação de pacientes de outros convênios. Com esse objetivo, o hospital aumentou a
carteira de planos de saúde atendidos e hoje conta com mais de 40 planos.
76
Ao perguntar a opinião do entrevistado sobre a configuração da cadeia de suprimentos,
ele indicou como principais players os fornecedores e distribuidores de insumos, planos de
saúde, médicos e pacientes. Os médicos e pacientes são os principais clientes, sendo o médico
um dos grandes responsáveis por captar pacientes. O hospital adota um quadro clínico aberto, o
que significa que os médicos não possuem contrato de exclusividade com o hospital.
4.4.1 - Suprimentos
77
A grande maioria de itens é comprada de forma centralizada, mas existem algumas
exceções, em casos específicos, em que é necessária uma compra de emergência. Quando uma
compra de urgência é demandada, o item é comprado em uma farmácia do bairro. Essas
situações, apesar de raras, ocorrem geralmente quando um médico de fora do hospital exige
determinado medicamento que não consta na grade de produtos usuais. O número de compras
emergenciais teve um pico de ocorrência quando o hospital incorporou o setor de oncologia,
causado principalmente pelo fato de não possuir experiência na área nem histórico de demanda
de itens. Porém, segundo o entrevistado, esse problema já está controlado e o número de
compras emergencias é pouco representativo hoje.
Todos os itens que chegam ao hospital são armazenados na farmácia central para, então,
serem distribuídos para as farmácias satélites ou para as salas de cirurgia e quartos. O hospital
Beta possui uma variedade de cerca de 800 SKUs e trabalha para aumentar a padronização dos
itens e reduzir essa variedade. Segundo o entrevistado, além do esforço de padronização
realizado pelo corporativo, o próprio hospital também desenvolve um trabalho paralelo visando
eliminar itens substitutos e desnecessários a fim de simplificar a gestão de estoques.
78
Apesar do esforço para padronização, os médicos ainda são uma barreira para a
evolução desse trabalho. Na opinião do entrevistado, o fato de possuir a maior parte do quadro
clínico formado por médicos do convênio (de 80 a 90%), minimiza este problema. Entretanto,
quanto maior o número de médicos que não são do convênio, maior o número de solicitações
por materiais e medicamentos fora do padrão. O diretor ressalta, porém, que isso ocorre
normalmente com os medicamentos complementares, pois os medicamentos fundamentais são
universais.
Os itens em estoque são classificados segundo o critério ABC, em que os itens de maior
movimentação financeira são classificados como “A”. Entretanto, o entrevistado ressalta que
cada hospital terá um grupo diferente de itens com maior giro, de acordo com a
especialidade e perfil de atendimento. Dentro do almoxarifado, os itens são organizados de
acordo com o giro de modo a facilitar o acesso e retirada desses produtos.
Recentemente o hospital passou a utilizar o código de barras dos itens para controlar o
nível de estoque, cadastrando no sistema todos os itens que chegam ao hospital através de seus
códigos de barras. Isso permite que o hospital Beta, além de controlar os níveis de estoque,
controle também o prazo de expiração e evite desperdícios de medicamentos. O entrevistado
defende que, depois da implantação deste sistema, o desperdício por obsolescência atingiu
níveis muito baixos.
79
Atualmente a prescrição é totalmente eletrônica e o processo de distribuição de
medicamentos e materiais é disparado conforme solicitação da equipe médica. Cada hospital
estabelece o intervalo de distribuição da farmácia central para os setores e quartos solicitantes.
Antes, o hospital Beta realizava esta distribuição em intervalos de 2 horas. Porém, essa
dinâmica demandava um grande esforço operacional e uma numerosa equipe de funcionários.
Com o tempo, o hospital percebeu que poderia aumentar este intervalo de distribuição sem gerar
perdas de qualidade e, portanto, passaram a distribuir os medicamentos a cada 6 horas.
Para atender ao volume médio de 800 cirurgias por mês, o hospital Beta possui seis
salas de cirurgias. Como o hospital atende emergências, nem todas as cirurgias são agendadas
com antecedência, gerando uma incerteza na demanda. Devido a essa incerteza, o hospital
precisa manter um percentual de ociosidade para ter capacidade de atender pacientes graves que
chegaram pelo setor de emergência. No momento da entrevista, o hospital operava com 85% de
sua capacidade ocupada, um percentual considerado bom no ponto de vista do entrevistado, pois
possibilita uma flexibilidade de atendimento.
80
Considerando a alta demanda dos pacientes que chegam através da emergência, o
hospital, que antes agendava 30 cirurgias/dia passa hoje a agendar apenas 21 cirurgias/dia. O
objetivo da mudança é poder atender às demandas inesperadas e evitar que pacientes fiquem
acumulados na área de emergência aguardando vaga no centro cirúrgico. Outro problema
enfrentado pelo hospital Beta é o cancelamento de cirurgias pelos médicos. Segundo o diretor,
alguns médicos de outros convênios agendam a mesma cirurgia em dois ou três hospitais
diferentes e decidem, na véspera, em qual hospital irão operar. Por conta disso existe um esforço
por parte dos funcionários do hospital de confirmarem todas as cirurgias com antecedência.
Quando surge a necessidade de realizar uma cirurgia, o médico agenda a data desejada
no centro cirúrgico e entra em contato com o convênio para solicitar aprovação dos materiais
que serão utilizados. O convênio avalia a solicitação e, caso aprovado, entra em contato com o
fornecedor para solicitar o material na data e horário necessário. Quando o material chega ao
hospital, ele é recebido e conferido pelos funcionários da farmácia e, em seguida, esse material é
cadastrado no sistema e atribuído à prescrição médica daquele paciente. Já os instrumentos
cirúrgicos não passam pela farmácia. Eles são recebidos, conferidos e encaminhados para
esterilização e, depois, para o centro cirúrgico. Esse fluxo requer grande coordenação para
garantir que os insumos estejam disponíveis em tempo hábil para realização da cirurgia.
81
o entrevistado, este processo pode variar de 20 minutos até 1 hora e dificilmente é um fator
crítico para o atraso das cirurgias.
Segundo o entrevistado, o médico é uma peça importante para trazer pacientes para
serem operados no hospital Beta e por isso precisam estar satisfeitos com os serviços e
infraestrutura do hospital. Os médicos também são envolvidos nas ações de planejamento e
melhoria desenvolvidas pelo hospital. Um percentual menor de pacientes é encaminhado pelos
convênios, pois entendem que o hospital é referência em diversas especialidades.
“Eu procuro fazer pelo menos uma reunião por ano com os
médicos. Nesta reunião nós escutamos as sugestões e
reclamações e pensamos em soluções para os problemas.
Geralmente a gente consegue encaminhar a solução ali
mesmo.”
82
“Nós fomos bem avaliados também na pesquisa de satisfação
dos médicos, que elogiaram muito o nosso trabalho.”
O hospital Beta disponibiliza a seus pacientes três principais canais de sugestões: o site,
um telefone para contatar ouvidoria e um formulário de reclamação e sugestão. Além desses
canais, existe uma rotina de conversar com os pacientes e seus acompanhantes para coletar as
percepções sobre o serviço prestado. Segundo o diretor, desde que os treinamentos da equipe
passaram a incorporar conceitos utilizados na hotelaria, o nível de satisfação dos clientes
aumentou. A equipe de enfermeiros passou a preocupar-se mais com o bem-estar dos pacientes
e ser mais sensível às necessidades humanas.
O hospital tem como missão e visão ser um dos hospitais com referência nacional no
tratamento e diagnóstico de doenças cardiovasculares. Para isso há alguns anos o hospital
investe em treinamentos e convênios para compartilhamento de boas práticas. Atualmente o
hospital mantém um convênio com dois hospitais americanos com o objetivo de trocar
experiências e informações na área. Além disso, o hospital possui as certificações máximas do
setor a nível nacional, além da cerificação canadense Previdencion Care, que atesta a
excelência em tratamento de pacientes com AVC, desde o atendimento até a alta hospitalar.
Esse hospital pode ser considerado um hospital verticalizado, já que 90% dos pacientes
atendidos são clientes da rede e apenas 10% são conveniados com outras operadoras, que
totalizam mais de 30 planos de saúde. Entretanto, a meta é que o hospital passe a ser um
hospital de mercado, aumentando a participação de pacientes de outros convênios. O perfil do
paciente atendido pelo hospital Gama é de pacientes
83
com convênios mais diferenciados e com maior abrangência de atendimento. Por se posicionar
no mercado como um hospital Premium, o público atendido possui um alto poder aquisitivo.
4.5.1 - Suprimentos
O hospital Gama realiza uma previsão de demanda com base no consumo histórico de
cada produto. A área de farmácia, junto com a área de suprimentos, é responsável por coletar os
dados históricos e elaborar essa previsão. Essa previsão não utiliza nenhum sistema ou
ferramenta estatística e baseia-se unicamente na demanda histórica, nas informações de
mercado e expectativas futuras. Como a demanda por atendimento hospitalar é bastante
inelástica, o entrevistado acredita que existe uma pequena variação entre a demanda planejada e
a demanda real.
84
compras no sistema corporativo para que o produto seja comprado pela área de compras.
Apesar da grande maioria dos produtos ser comprada centralizadamente, algumas vezes
é necessário realizar compras emergenciais. Esses casos acontecem quando o estoque de
determinado produto acabou ou quando um médico requisita um produto que não seja da grade
de produtos do hospital. O hospital Gama apresenta uma particularidade quando se trata da
compra de produtos importados. Como o hospital possui registros internacionais, ele importa
alguns produtos em nome do grupo e distribui para os demais hospitais.
Uma vez entregue o produto, este é conferido com a nota fiscal e com o pedido de
compra. Alguns produtos, entretanto, já ficam armazenados no estoque do hospital em
consignação. Assim sendo, havendo necessidade de utilizá-lo, o hospital informa ao fornecedor
e realiza o pagamento. Apesar do atraso na entrega de alguns produtos, o impacto na realização
de cirurgias é pequeno. O hospital mantém um estoque de segurança de todos os insumos, além
de materiais e instrumentos consignados no estoque.
85
histórico de medicamentos e materiais utilizados é automaticamente atualizado na ficha do
cliente.
Segundo o diretor, o hospital procura manter uma postura rígida com relação aos
médicos que solicitam produtos que não fazem parte desta grade. A orientação é de que sejam
utilizados apenas produtos de fornecedores cadastrados pelo grupo, evitando abrir exceções.
86
prescrição eletrônica. Por último o enfermeiro abre a gaveta, pega o produto, passa o leitor
sobre o código de barras. No momento de administrar o medicamento existe mais uma
conferência, através da leitura do código de barras da pulseira do paciente. O intuito deste
processo é poder manter máquinas espalhadas pelo hospital, facilitando a distribuição dos
insumos, aumentar o controle de estoque e evitar erros de prescrição.
Entretanto nem todos os materiais e medicamentos são dispensados por este processo.
Os demais insumos maiores ou específicos como, por exemplo, próteses e órteses, são
distribuídos, através da farmácia central, para as farmácias satélites, quartos e demais setores do
hospital com uma periodicidade de duas horas.
Algumas salas são reservadas para as cirurgias agendadas com antecedência enquanto
algumas precisam ser mantidas ociosas para o caso de uma cirurgia emergencial. Como o
hospital atende emergências, existe uma incerteza com relação à demanda e essa ociosidade é
necessária para oferecer flexibilidade de atendimento. O hospital busca manter uma taxa de
ocupação de aproximadamente 85% no hospital como um todo, sendo 92% de ocupação no
Centro de Terapia Intensiva (CTI).
As cirurgias geralmente são agendadas pelo médico ou sua secretária, que entra em
contato com o hospital e agenda uma data. Durante a marcação, são identificadas as demandas
daquela cirurgia para que o hospital possa verificar a disponibilidade de todos os requisitos para
aquela data e horário. Depois de conferida a disponibilidade, o hospital encaminha a solicitação
para aprovação do convênio. Todas as cirurgias agendadas são disponibilizadas em um mapa
para facilitar a visualização e programação das demandas.
87
cancelada. Apesar da complexidade de coordenação destas atividades, o diretor do hospital
afirma que o percentual de cirurgias canceladas é muito baixo. Esse indicador é acompanhado
semanalmente na reunião da diretoria médica junto com os staffs.
No dia da cirurgia, a sala precisa ser limpa de acordo com o protocolo de limpeza do
hospital. Essa limpeza, em situações normais, leva em torno de 55 minutos. Em casos
específicos, após uma cirurgia com pacientes com doenças infectocontagiosas, uma limpeza
mais rigorosa é necessária e pode levar mais tempo. Depois da limpeza, a sala é equipada com
os materiais e medicamentos demandados pela equipe médica. Após a realização da cirurgia,
existe ainda um processo de devolver à farmácia aqueles materiais e medicamentos que não
foram utilizados.
Segundo o diretor, o médico é uma peça importante para captação de clientes, pois ele
estima que aproximadamente 80% dos pacientes que dão entrada no hospital chegam por
indicação do médico. Diante deste cenário, existe uma necessidade de manter a satisfação e
fidelização dos médicos tanto quanto dos pacientes.
88
“Existe uma interação contínua com os médicos e
enfermeiros. Ouvimos as demandas deles e
avaliamos a possibilidade de implantar as
sugestões. Porém, nem sempre podemos
implantar todas as sugestões de imediato, pois
existe uma limitação financeira.”
Além das pesquisas de satisfação, existe uma equipe de ouvidoria que vai regularmente
aos quartos dos pacientes e coletam sugestões e percepções sobre o serviço prestado. Outros
canais oficiais de recebimentos de sugestões e reclamações são as caixas de sugestões e o site
do hospital.
O hospital Delta está localizado em São Paulo e foi construído em 1961 e ampliado há
15 anos, quando foi construída a estrutura atual. Apesar de atuar no mercado há mais de 50
anos, ele foi incorporado à rede apenas em 2009. O hospital é considerado um hospital geral e
realiza atendimentos de emergência, em diversas especialidades como pediatria, ortopedia,
ginecologia, cirurgia geral e clínica médica. Apesar disso, o hospital Delta é reconhecido pelo
setor de ortopedia, com foco em traumatologia.
O hospital possuía, no momento da entrevista, 299 leitos e realizava uma média de 800
cirurgias por mês e 1300 internações. Apesar de o hospital pertencer atualmente a uma rede de
operadora de plano de saúde, ele é um hospital de mercado e atende, em menor volume, outros
planos de saúde. Entretanto, o hospital está buscando aumentar a proporção de pacientes
atendidos que são clientes de outros planos. O quadro clínico é considerado aberto, pois
qualquer médico pode utilizar as instalações do hospital para realizar as cirurgias e
atendimentos.
89
médicos e pacientes. Em sua opinião os médicos e pacientes são os clientes diretos do
hospital e o foco principal deve ser atendê-los da melhor forma possível.
Os pacientes atendidos são dos mais diversos níveis sociais, com predominância das
classes B e C, com planos de saúde de abrangência intermediária. Para atrair também pacientes
das classes mais altas o hospital inaugurou, em 2011, uma ala onde estão oito leitos VIPs, que
oferecem um atendimento diferenciado, que inclui um layout mais espaçoso, lençóis e móveis
de melhor qualidade, serviços de quarto dedicado, além de um menu diferenciado.
4.6.1 - Suprimentos
90
visibilidade da nossa demanda com
antecedência.”
Segundo o diretor, em geral os insumos são entregues pelo fornecedor dentro de prazo
estabelecido, não causando grande impacto no atraso de cirurgias. Entretanto, os materiais do
grupo Órteses, Próteses e Materiais Especiais (OPME) por vezes são entregues com atraso e
acabam impactando algumas cirurgias, principalmente aquelas de urgência. Esse tipo de
material é entregue sob demanda pelo fornecedor e, quando uma cirurgia de emergência é
agendada, geralmente o prazo para entrega dos materiais é muito curto.
O hospital Delta possui em estoque 1400 SKUs, mas existe um objetivo de diminuir
esta quantidade. Esta grande variedade de itens justifica-se pelo perfil do hospital, que é um
hospital geral e atende as mais diversas especialidades médicas. Além disso, segundo o diretor,
esse número ainda pode ser enxugado, pois existem itens duplicados que podem ser
padronizados.
91
do atendimento. Atualmente a cobertura média de estoque gira em torno de 17 dias, um pouco
abaixo da meta do grupo.
Todos os itens que chegam ao hospital são identificados através de um código de barras
e sempre que um item é retirado ou devolvido à farmácia ele deve ser atualizado no sistema.
Esta prática permite um melhor acompanhamento do nível de estoque e prazo de validade dos
itens. Para evitar desperdícios, o hospital Delta procura trocar medicamentos com risco de
expiração com outros hospitais do grupo.
92
De posse do mapa de cirurgias é possível planejar o tempo necessário de intervalo entre
uma cirurgia e outra de acordo com o processo de limpeza e com as demais atividades
necessárias pré-cirurgia. O processo de limpeza das salas varia de acordo com a complexidade
da cirurgia a ser realizada e da cirurgia realizada anteriormente. Em caso de cirurgias menores e
menos complexas é possível realizar a limpeza da sala em até meia hora enquanto cirurgias
complexas podem demandar até 1 hora e meia de limpeza.
93
Sabendo da importância do médico em atrair pacientes, o hospital procura não apenas
acompanhar os índices de satisfação, mas também oferecer um ambiente de conforto, além da
infraestrutura necessária para promover o bem-estar do médico e a qualidade do atendimento.
Outra ação que visa buscar um relacionamento mais próximo com os médicos é a
realização de reuniões periódicas, onde comitês formados por enfermeiros, médicos e
funcionários do hospital se reúnem para discutir a satisfação dos clientes, a estrutura do centro
cirúrgico, dentre outros assuntos. Esse comitê não tem função de coordenação e seu objetivo é
levantar sugestões, acompanhar as iniciativas, estabelecer metas e planos de ação.
Existem canais diretos de sugestão e reclamação que podem ser usados tanto pelos
médicos, quanto pelos pacientes e seus familiares. Além do site e do formulário de satisfação,
existe um setor de assistência ao cliente para receber e direcionar os pedidos e sugestões dos
clientes.
O hospital Ômega localiza-se em São Paulo e foi inaugurado em 2011 com 178 leitos e
uma área para atendimentos emergenciais. O hospital atende diversas especialidades médicas e
realiza uma média de 760 cirurgias por mês. Apesar de ser considerado um hospital geral, pode-
se dizer que o foco de atuação são os atendimentos do setor de maternidade e cirurgia bariátrica.
O hospital Ômega é considerado um hospital de mercado por atender uma gama variada
de planos de saúde, totalizando mais de 30 planos. Entretanto, o plano de saúde da rede ao qual
pertence ainda concentra grande parcela dos atendimentos, sendo apenas 10% dos pacientes
atendidos filiados a outros planos de saúde. O perfil dos pacientes do hospital Ômega é de
pessoas das classes A e B que possuem elevado poder aquisitivo e são clientes de planos de
saúde mais abrangentes. O corpo
94
clínico é aberto e o hospital recebe médicos de todos os planos de saúde, que procuram
o local para realizarem cirurgias.
4.7.1 - Suprimentos
95
“Ainda enfrentamos problemas na entrega de
material cirúrgico. Acho que o que falta é
justamente ter essa constância de entrega, que é
fruto também dos problemas logísticos do nosso
país.”
Para aumentar a confiabilidade da entrega, o hospital Ômega aproximou-se daqueles
fornecedores críticos que atrasavam regularmente a entrega dos produtos para procurar uma
solução para o problema. A ideia é evitar que a falta de produtos impacte a qualidade do
atendimento e a realização das cirurgias.
96
enfermeiros. Muitos itens são retirados da grade de produtos por desuso e alguns são
substituídos por outros de função equivalente. Segundo o diretor, os médicos, de forma geral,
não são resistentes a essa padronização.
Todos os produtos são identificados por código de barra e isto permite que os prazos de
validade sejam acompanhados periodicamente. Atualmente menos de 1% dos medicamentos são
descartados por expiração do prazo de validade. Para evitar a perda de itens de maior valor,
existe um esforço de trocar esses medicamentos que estão próximos do prazo de validade com
outros hospitais da rede ou mesmo com o fornecedor.
97
4.7.3 - Gestão da informação, qualidade e infraestrutura
Um ponto crítico para a preparação das salas de cirurgias são os materiais cirúrgicos
que não são estocados dentro do hospital e que precisam ser entregues pelo fornecedor com
uma antecedência mínima de 6 horas antes do início da cirurgia. Esses materiais e instrumentos
precisam passar por uma etapa de conferência e posterior esterilização para que estejam prontos
para uso. Essa antecedência é importante, pois às vezes ocorrem problemas na esterilização e
este processo precisa ser refeito.
Quando o médico entra em contato com a central de marcação para agendar uma
cirurgia, ele informa o tipo de cirurgia, os requisitos de infraestrutura e os materiais
necessários. Depois de escolhido o dia, é solicitada a autorização da cirurgia pelo plano de
saúde em questão, processo que leva em torno de 48 horas. Uma vez autorizada a cirurgia e os
materiais necessários, o hospital atualiza no mapa de cirurgias de forma a constar no
planejamento.
A taxa de ocupação do hospital gira em torno de 80%, sendo que uma das salas de
cirurgia é específica para emergências e não é realizado nenhum agendamento. Uma oitava sala
de cirurgia está sendo construída para aumentar a capacidade de atendimento. O hospital
procura manter ocupadas as salas de cirurgia a maior parte do tempo possível, pois a
ociosidade desse recurso representa uma perda de receitas relevante. Por isso o indicador de
cancelamento de cirurgias é acompanhado de perto e analisado semanalmente na reunião da
equipe. No momento da entrevista, o número de cancelamentos girava em torno de duas
cirurgias por semana e, na maioria dos casos, os motivos estão relacionados ao estado de
saúde do paciente.
São preparados alguns kits específicos para as principais cirurgias realizadas no hospital
a fim de facilitar a preparação das salas. Nesses kits estão apenas os produtos que constam na
grade de produtos do hospital. Porém alguns médicos, às vezes, solicitam outros tipos de
medicamentos.
98
“Às vezes os médicos pedem medicamentos
diferentes daqueles que constam no kit ou em
quantidades maiores. A gente busca entender o
motivo e negociar com ele.”
Diante deste cenário, o hospital Ômega procura manter um bom relacionamento com
os médicos e mantê-los satisfeitos com os serviços do hospital. Para isto são realizadas
mensalmente pesquisas de clima com o objetivo de medir a satisfação dos médicos.
Da mesma forma que o hospital monitora a satisfação dos médicos, existe também um
indicador de satisfação dos pacientes. Esse indicador é medido mensalmente e sua meta é 1,7
em uma escala de 0 a 2,0. No mês da entrevista o valor deste indicador havia sido 1,82,
mostrando que está acima da meta indicada pelo grupo. No pronto socorro, entretanto, esse
valor tende a ser menor e no mês em questão foi de 1,42. Existe um esforço de melhorar esse
resultado e atender melhor os pacientes do pronto socorro.
Já com relação aos pacientes, não existe um envolvimento direto no planejamento das
atividades do hospital Ômega. Existem quatro canais oficiais de comunicação com o hospital: o
Fale Conosco, por telefone, o site do hospital, o Centro de Apoio à Família, no hospital e a
pesquisa de satisfação. A pesquisa de satisfação
99
se divide em duas: um formulário que é disponibilizado nos andares e uma entrevista aleatória,
em que mensalmente o grupo de qualidade da operadora de saúde seleciona uma amostra de
pacientes para telefonar e entrevistar.
10
5 - ANÁLISE DOS CASOS
5.1 - INTRODUÇÃO
10
Atributo / Hospitais Alfa Beta Gama Delta Ômega
Canadian Joint
Organização
Council for Comission
Certificações Não Nacional da ISO 14001
Health International
Acreditação
Services (JCI)
Hospital for Sim. Com 2
Parcerias técnico-
Special Não hospitais Não Não
científica
Surgery, NY americanos.
Exclusividade do
Baixa Alta Baixa Média Alta
Quadro Clínico
Número de planos
de saúde Aprox. 4 Aprox. 40 Aprox. 30 Aprox. 20 Aprox. 30
atendidos
Pode-se observar também que não existe uma uniformidade com relação às
certificações de cada hospital. Com exceção do hospital Alfa, que ainda não possui nenhuma
certificação, os demais hospitais possuem certificações de diferentes órgãos acreditadores
brasileiros ou internacionais. Dentre todos os hospitais, o hospital Ômega é o único que citou
possuir a certificação ISO 14.001, voltada para gestão ambiental. Por ser o hospital mais novo
dos cinco estudados, sua construção já foi planejada e concebida de acordo com os requisitos
desta norma para uma gestão ambiental sustentável.
Dos cinco hospitais estudados, três deles são considerados hospitais gerais, que atendem
todo o tipo de especialidade médica, além de possuírem um setor de emergência 24h. Apenas os
hospitais Alfa e Gama são considerados hospitais especializados, atendendo casos de ortopedia
e cardiologia, respectivamente. Essa diferença no escopo de atuação interfere também no
tamanho e complexidade dos hospitais. Pode-se observar que os hospitais gerais, que são
maiores e mais complexos, possuem um número maior de leitos, realizam mais cirurgias e
precisam manter um número maior de SKUs em estoque. Essas características contribuem
também para aumentar a complexidade da GCS, conforme será analisado mais adiante neste
capítulo.
10
A seguir são apresentadas quatro seções em que cada uma delas tem por objetivo
responder a uma das quatro perguntas de pesquisa apresentadas no capítulo 3.
As tabelas a seguir, elaboradas com base nos resultados das entrevistas e seguindo a
ordem do esquema conceitual resultante da revisão de literatura, resumem as práticas de GCS
adotadas por cada um dos hospitais estudados.
5.3.1 - Integração
10
distribuidores dentro da cadeia. Os hospitais Alfa e Gama ressaltaram ainda a importância do
relacionamento com as instituições regulatórias, como a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA).
10
que a integração deve ser apoiada por sistemas de informação que transpassem os limites das
organizações e integrem todas as atividades da cadeia de suprimentos. Segundo o autor, a falta
de sistemas integrados é uma barreira à integração e proximidade dos membros da cadeia de
suprimentos.
De forma geral, pode-se considerar que, nos caso dos hospitais analisados, existe uma
boa integração interna. Porém, a integração com membros externos como os demais hospitais da
rede, fornecedores, distribuidores, médicos e pacientes ainda precisa ser aprimorada. Para isso é
necessário investir em desenvolvimento de parcerias de longo prazo, sistemas de informação
integrados e na intensificação de uma relação de confiança entre as partes.
5.3.2 - Coordenação
10
acesso e compartilhamento.
Para uma coordenação mais eficiente é necessário que haja uma intensa comunicação
entre os envolvidos e que as informações sejam armazenadas e disponibilizadas em sistemas de
informação (VRIES; HUIJSMAN, 2011). Conforme diretriz do grupo, todas as informações
referentes a agendamentos de salas de cirurgia, solicitações de equipamentos, aprovações dos
planos de saúde e prescrições médicas são armazenadas em sistemas para que possam ser
acessadas sempre que necessário. Além disso, não foi citado nenhum problema de comunicação
durante as entrevistas realizadas.
10
Problemas relacionados aos médicos e pacientes também podem prejudicar a
coordenação das atividades e, consequentemente, a realização das cirurgias. O hospital Beta
citou que muitas vezes a causa de cancelamento de cirurgias é o atraso dos médicos, que não
comparecem a tempo ou cancelam a cirurgia em cima da hora. Outro fator que pode causar o
cancelamento de cirurgias é o paciente. Caso este tenha alguma mudança no seu estado de
saúde a cirurgia pode até ser cancelada.
Atividades internas também precisam ser coordenadas para viabilizar a realização das
cirurgias. A limpeza, arrumação, disponibilização de equipamentos, materiais e medicamentos
deve acontecer de forma coordenada para que tudo esteja preparado com a antecedência
necessária.
10
objetivos e ajustá-los quando necessário.
Segundo Shah et al. (2008), é importante que os objetivos, uma vez definidos, estejam
bem claros e alinhados entre os membros. Para que isso aconteça, cada hospital é responsável
por realizar um alinhamento com os responsáveis de cada setor a fim de explicar a metodologia
de cálculo, metas e propósito de cada um dos indicadores. Os médicos que compõem o quadro
clínico do hospital também são alinhados com relação a estes objetivos.
Dentre as práticas apontadas na literatura, a única que não é executada pelos hospitais
da rede é a definição e alinhamento de objetivos formais com membros externos ao grupo –
como fornecedores, pacientes e médicos externos. Apesar de alguns indicadores contemplarem
atividades que estão relacionadas, em parte, as ações destes membros da cadeia, não existe um
processo formal de alinhamento destes objetivos.
Segundo Yap e Tan (2012), não basta apenas definir os objetivos, é necessário
acompanhá-los para avaliar se as metas estão sendo cumpridas e ajustá-las, caso necessário. Em
linha com esta ideia, todos os hospitais do grupo acompanham semanalmente os resultados de
seus indicadores durante reuniões entre a diretoria e os setores do hospital. O objetivo é
verificar não apenas os resultados alcançados, mas também antecipar problemas e definir
planos de ação para que haja tempo hábil para reverter os resultados, que são divulgados ao
final de cada mês.
Pode-se perceber que a gestão por indicadores faz parte da cultura do grupo e está
bastante enraizada pelos hospitais. Existe uma rotina de definição, alinhamento e
acompanhamento periódico dos objetivos, porém sem a participação dos membros externos ao
hospital.
10
5.3.4 - Relacionamento com clientes
É uma diretriz do grupo que todos os hospitais tenham foco na satisfação de seus
clientes. Essa diretriz se reflete nas práticas adotadas pelos hospitais, já que todas as práticas de
relacionamento com clientes sugeridas na literatura pesquisada estão sendo adotadas pelos cinco
hospitais entrevistados. O primeiro passo para focar na satisfação dos clientes é identificar quais
são os seus clientes (CHANDRA; KACHHAL, 2004). Essa informação está clara para os
hospitais entrevistados, que reponderam ser os médicos e pacientes os seus principais clientes.
Segundo Ballard (2005), uma prática que pode gerar ganhos consideráveis para o
hospital é o envolvimento de clientes no planejamento e melhoria de processos. Em linha com
tal prática, foi igualmente destacado pelos hospitais entrevistados o envolvimento dos médicos
e pacientes como prática importante para manter um bom
10
relacionamento com estes clientes. Esse processo, entretanto, é mais frequente com os médicos
do que com os pacientes. Os médicos participam de reuniões periódicas de planejamento e
apresentação de resultados e são consultados sempre que há possibilidade de mudança de
processo.
A literatura sobre parcerias estratégicas com fornecedores aponta diversas práticas, que
foram agrupadas em cinco categorias, conforme o esquema conceitual apresentado no capítulo
2.
Reduzir o número de fornecedores pode levar a benefícios significativos, uma vez que
os preços tendem a cair quando o volume é consolidado em um número menor de
fornecedores (NEUMANN, 2003; CHANDRA ; KACHHAL, 2004; PAN ; POKHARE, 2007).
Esta prática é uma das diretrizes corporativas do grupo e vem sendo adotada por todos os
hospitais da rede. O objetivo do grupo é diminuir os mais de 800 fornecedores cadastrados para
aproximadamente um terço deste número.
11
A seleção criteriosa de fornecedores também contribui para o desenvolvimento de
parcerias de sucesso. Os critérios de seleção de fornecedores adotados pelo grupo estão
alinhados com a ideia de Burns et al. (2002), a qual propõe que os fornecedores devem ser
selecionados com base em sua capacidade técnica e desempenho, ao invés de utilizar processos
de licitação. Apesar dos hospitais utilizarem um processo de leilão eletrônico, não é apenas o
preço que é levado em consideração para a escolha de um fornecedor. Outros critérios como
boas práticas de fabricação, registros dos produtos, certificação de qualidade também são
considerados.
Dentre as cinco práticas listadas, apenas duas não são hoje adotadas de forma plena
pelos hospitais entrevistados. A comunicação com os fornecedores ainda deixa a desejar, pois
não existe um processo formal de comunicação sobre previsão de demanda, planejamento de
longo prazo ou estratégia de compras. A comunicação acontece pontualmente sempre que o
hospital precisa comprar algum produto ou realizar alguma reclamação. Dessa mesma forma
não são compartilhados com os fornecedores os objetivos e conhecimentos adquiridos pelo
grupo.
11
(3) Enfatizar a criação de parcerias
X X X X X
com fornecedores
Dentre as várias práticas da filosofia Lean, foram selecionadas três práticas que
segundo Oliveira (2014) influenciam diretamente o desempenho da cadeia de suprimentos
hospitalar. A prática de eliminação de desperdícios, princípio central da filosofia, é aplicada
pelos hospitais em diversas atividades, dentre elas: redução do número de fornecedores, redução
do desperdício de materiais durante as cirurgias, redução do número de itens estocados, redução
da perda de produtos por expiração do prazo de validade, entre outras.
A eliminação de atividades que não agregam valor, prática defendida por Everard
(2001), é aplicada pelos cinco hospitais e geralmente está associada a melhorias de processo e
inovação. Além das melhorias já implantadas, projetos que visam eliminar o transporte de
materiais e medicamentos através da utilização de tubos pneumáticos ou o aumento do
intervalo de distribuição de insumos dentro do hospital são apenas alguns exemplos da
aplicação desta prática.
11
(4) Desenvolver parcerias
colaborativas com fornecedores.
Das cinco práticas associadas à abordagem Just in Time, apenas uma é parcialmente
aplicada pelos hospitais entrevistados. A implantação de uma estratégia de cadeia de
suprimentos puxada requer, segundo Colletti (1994), tempos de ciclo e prazos de entrega mais
curtos. Este ainda é um desafio para os hospitais entrevistados, pois ainda há muita incerteza
com relação aos prazos de entrega de produtos. Além disso, a reposição de insumos em um
hospital é uma atividade bastante crítica e a falta de materiais e medicamentos pode impactar de
forma drástica o atendimento.
Outra prática sugerida por Burns et al. (2002) como forma de tornar a cadeia de
suprimentos hospitalar mais próxima de uma operação Just in Time é o compartilhamento das
informações sobre demanda com os fornecedores. Atualmente os hospitais entrevistadas não
repassam a seus fornecedores uma previsão de demanda nem tampouco o posicionamento de
seus estoques. As principais dificuldades apontadas pelos entrevistados é que cada hospital
adota um sistema diferente de gestão de estoque e não há um processo formal de
planejamento de longo prazo que seja comum a todos.
Embora ainda haja considerável incerteza com relação aos tempos de reposição de
insumos, os hospitais vêm investindo em estratégias que possam reduzir ou até mesmo eliminar
este tempo. Uma estratégia mencionada por três hospitais consiste na manutenção de um
estoque consignado de materiais e instrumentos cirúrgicos dentro dos hospitais. Nesses
hospitais, que uma cirurgia é agendada, é demandado um conjunto de materiais como
instrumentos e próteses. Estes materiais precisam chegar ao hospital com uma antecedência
mínima que permita a sua conferência e esterilização. Em caso contrário, a cirurgia pode ser
atrasada ou até mesmo cancelada. A manutenção de um estoque dos principais materiais dentro
dos hospitais é uma forma de reduzir a incerteza de reposição.
Outra prática mencionada pelos hospitais Alfa, Beta e Gama é a elaboração de kits de
materiais e medicamento para as cirurgias mais comuns. Essa atividade agiliza o processo de
dispensação e distribuição desses medicamentos para as salas de cirurgia. Entretanto, os
hospitais Alfa e Beta relataram que ainda há um trabalho a ser
11
feito em parceria com os fornecedores para que os mesmos consigam diminuir os tempos de
ressuprimento e aumentar a confiabilidade das entregas.
Outro ponto que, segundo os entrevistados, deve ser melhorado para permitir o
desenvolvimento de parcerias colaborativas com fornecedores é o compartilhamento de
informações sobre estoque e demanda, conforme sugerido por Shah et al. (2008). A
aproximação com os fornecedores e o desenvolvimento de uma relação baseada na confiança
são duas iniciativas que podem fazer com que o grupo fique mais confortável para compartilhar
informações.
11
(6) Implantar a numeração de produtos e
X X X X X
rastreamento eletrônico.
Para que um item seja comprado pela área de compras corporativa ele precisa primeiro
ser qualificado e aprovado. Para isso é realizada uma análise de qualidade e outra de custo a fim
de verificar o impacto financeiro no orçamento do grupo. A análise de qualidade tem o objetivo
de atestar a funcionalidade e qualidade do produto e inclui o parecer da equipe médica ou de
enfermagem. A análise de custo leva em consideração o custo do produto e os impactos
financeiros causados pela adoção do item. Alguns exemplos desses impactos são os custos de
treinamentos, energia elétrica, medicamentos e materiais complementares, descarte etc. Por esse
motivo, pode-se considerar que é realizada uma análise de custo-benefício e que esta análise
considera o custo total do produto, conforme sugerido por Smith, Nachtmann e Pohl (2011a) e
Toba, Tomasini e Yang (2008)
Segundo Mustaffa e Potter (2009), uma gestão eficiente dos pedidos de compras deve
possibilitar um rápido reabastecimento do hospital, através da colocação automática do pedido.
Para agilizar o processo de compra, o grupo optou por utilizar um sistema de comércio
eletrônico em que os diversos fornecedores cadastrados colocam os seus preços para as
demandas informadas. A colocação de pedidos, entretanto, não é automática, pois é inserida
manualmente pela área de compras depois de consolidadas as demandas de cada hospital. A
dificuldade de implantação de um processo automático de reposição dos estoques é explicada,
em parte, pela falta de integração entre os sistemas de gestão de estoque adotados por cada
hospital.
Outra iniciativa apontada por Mustaffa e Potter (2009) para possibilitar um rápido
reabastecimento do hospital é a possibilidade de rastrear eletronicamente os produtos dentro da
cadeia de suprimentos. Todos os hospitais da rede adotam a
11
identificação por código de barras de forma a controlar os itens em estoque, prazos de validade
e rastrear os pagamentos. Os hospitais entrevistados citaram ainda que utilizam o código de
barras dos produtos para relacionar os medicamentos e materiais aplicados aos pacientes à
prescrição médica. Com isso é possível aumentar o controle sobre os medicamentos que estão
sendo ministrados aos pacientes, diminuir a possibilidade de erros e atualizar a conta do
paciente com os itens a serem pagos. Cabe ressaltar, entretanto, que o hospital não consegue
usar o código de barras para rastrear esses produtos antes que estes cheguem ao hospital e sejam
cadastrados no sistema.
Mais uma prática sugerida por Pan e Pokhare (2007) para agilizar o reabastecimento do
hospital é a compra de fornecedores locais ou fornecedores que tenham armazéns localizados
perto dos hospitais com o objetivo de reduzir os tempos de reposição. Para o caso dos hospitais
analisados, por se localizarem nos dois maiores centros urbanos do país, isso é mais fácil de
acontecer. Praticamente todos os fornecedores e distribuidores mantém algum centro de
distribuição localizado no Rio de janeiro e em São Paulo. Entretanto, por serem cidades muito
grandes, nem sempre esses centros estão localizados próximos aos hospitais. Além disso, a
dificuldade logística agravada pelas regras de circulação de caminhões e pelo trânsito intenso
muitas vezes dificulta o abastecimento dessas unidades.
A área de compras alegou que nem sempre considera a localização geográfica dos
fornecedores como um critério de seleção. Isso porque alguns insumos são bastante específicos
e fornecidos por poucos ou até mesmo um único fornecedor. Entretanto, existe a preferência por
fornecedores brasileiros a fornecedores estrangeiros principalmente devido à burocracia
envolvida na importação de medicamentos e materiais hospitalares.
11
(2) Identificar os problemas o mais
X X X X X
rápido possível.
Além disso, segundo Smith, Nachtmann e Pohl (2011a), é importante que os hospitais
tenham mecanismos para identificar problemas o mais rápido possível. Os hospitais Beta e
Delta citaram iniciativas que visam identificar e prevenir erros na prescrição de medicamentos.
Sempre que um médico prescreve algum medicamento, esta prescrição é conferida por um
especialista de farmácia a fim de garantir que a posologia está correta e não há risco de
interação indesejável com outro medicamento que esteja sendo aplicado no paciente. Apesar de
o médico ter esta responsabilidade no momento da prescrição, essa segunda conferência é
realizada a fim de evitar erros humanos.
Já o hospital Gama citou que utiliza o código de barras do produto para conferir se o
medicamento que será ministrado ao paciente pelo enfermeiro é de fato o medicamento
prescrito pelo médico. Quando o médico prescreve eletronicamente um determinado
medicamento, este fica registrado na prescrição do paciente. No momento em que o
medicamento chega e é aplicado pelo enfermeiro é necessário registrar novamente o código de
barra para que o sistema faça uma conferência e verifique se a identificação é a mesma
indicada pelo médico. Essas iniciativas, além de outras citadas pelos entrevistados, mostram a
preocupação dos hospitais de identificarem possíveis erros o mais rápido possível.
11
manter uma cobertura de estoque suficiente para garantir que não falte nenhum item crítico.
Com relação àqueles itens que não são estocados no hospital, como os instrumentos cirúrgicos e
próteses, por exemplo, a situação é mais crítica e exige uma grande sincronização com os
fornecedores. Para aqueles casos emergenciais os hospitais mantêm um exemplar desses
instrumentos em estoque. Entretanto, por falta de espaço físico há uma limitação da quantidade
de itens estocados.
Outra prática de gestão da qualidade total sugerida por Smith, Nachtmann e Pohl
(2011a) é a necessidade de diminuir a variabilidade dos processos. No contexto hospitalar existe
uma variabilidade inerente à natureza da atividade, que envolve alto grau de interação humana.
Resultados de uma mesma cirurgia podem ser diferentes dependendo do estado físico e mental
do médico e do paciente naquele momento. Mesmo assim o hospital Alfa citou algumas
iniciativas realizadas para reduzir a variabilidade. Dentre as iniciativas citadas, a padronização
do processo de anestesia, com uma equipe dedicada e especializada em cirurgias ortopédicas,
visa diminuir a variabilidade do tempo de recuperação dos pacientes.
Com relação à qualidade das informações, os hospitais Delta e Gama alegam que
procuram manter as informações de maneira mais automática possível, com menor quantidade
de inputs humanos a fim de minimizar a possibilidade de erros. O hospital Delta alegou que,
para manter a qualidade das informações há uma preocupação de padronizar as nomenclaturas
utilizadas tanto no registro dos insumos quanto dos procedimentos e equipamentos médicos.
Todos os hospitais entrevistados alegam que a qualidade das informações geradas e
armazenadas nos bancos de dados é boa, não trazendo nenhum prejuízo à qualidade dos serviços
prestados.
11
(3) Envolver outras áreas no
X
planejamento da demanda.
Essa previsão acaba sendo revisada periodicamente pela área de farmácia sempre que é
colocado um pedido de compra no sistema. A demanda é ajustada, de forma intuitiva, quando
existem fenômenos que influenciam na demanda, como férias, feriados e epidemias. Entretanto,
não existe um processo formal de revisão do plano de demanda dos meses futuros e pode-se
considerar que este processo está sob a responsabilidade do gestor da farmácia.
A falta de uma metodologia comum de previsão da demanda faz com que cada hospital
adote um processo diferente. Alguns consideram o histórico dos últimos três meses, outros
consideram o último ano e outros hospitais consideram os últimos dois anos. Não existe também
um sistema estatístico que auxilie o cálculo desta previsão e considere a incerteza inerente a este
processo. Apesar de existir uma diretriz comum sobre o indicador de cobertura de estoque, o
processo de previsão não padronizado entre os hospitais. Nunca se validou se este indicador está
correto no que se refere a não ocorrência de falhas ou excesso de produtos em estoque.
11
Esta previsão de demanda geralmente é compartilhada apenas com a diretoria do
hospital. A área corporativa de compras, que é responsável por realizar todas as compras do
grupo não tem acesso a esta informação. Da mesma forma, os fornecedores também não tem
visibilidade desta informação e só conhecem a demanda quando um pedido é colocado no
sistema. Esse fato dificulta o planejamento e a redução da incerteza na cadeia de suprimentos,
aumentando a probabilidade de ocorrer o “efeito chicote”.
Segundo Hakkinen et al. (2004), uma das vantagens de se organizar em redes é poder
minimizar os níveis de estoque ao centralizar os estoques das unidades. A centralização dos
estoques já foi adotada pelo grupo, mas esta iniciativa foi abandonada pouco tempo depois
devido à complexidade logística e de gestão envolvidas. Atualmente cada hospital mantém seu
próprio estoque, que é gerido de forma descentralizada. Ou seja, uma unidade não tem
visibilidade do estoque da outra unidade. Um dos motivos para isto é que os sistemas de gestão
de estoque adotados por cada unidade, no momento da entrevista, eram diferentes e não
conversavam entre si.
12
É uma diretriz do grupo que todos os hospitais classifiquem seus estoques segundo a
metodologia ABC, em que os itens de maior giro e maior representatividade financeira são os
itens mais críticos. Essa classificação auxilia a gestão de estoque na medida em que requer
diferentes níveis de cobertura de estoque de acordo com a classificação do item. Os hospitais
Alfa e Ômega citaram adotar ainda a metodologia XYZ que classifica os itens em estoque
com base na importância operacional dos itens. Segundo estes hospitais, a classificação dos
estoques é essencial para identificar os itens mais críticos, tanto devido à demanda quando pela
importância no tratamento dos pacientes.
Outra iniciativa adotada por todos os hospitais estudados é o rastreamento dos produtos
através do código de barras. Sempre que um produto chega ao hospital este é cadastrado no
sistema. Quando este item sai do estoque, há novamente o registro do seu código de barras de
forma a atualizar automaticamente os níveis de estoque. Segundo os entrevistados a precisão do
estoque é bastante grande e alguns desvios podem ocorrer quando um frasco quebra ou quando
há alguma devolução de um produto que não é registrado no sistema. Esse sistema aponta
também os prazos de validade dos itens e auxilia na gestão.
Nos últimos anos, com a pressão por redução de custos aumentando, aumentou também
a pressão pela redução dos níveis de estoque. No momento da entrevista, a diretriz do grupo
para a cobertura de estoque girava em torno de 17 dias. Entretanto, estes níveis ainda estão
superestimados e, segundo a área corporativa, existe possibilidade para redução. Entretanto, é
necessário considerar o trade-off existente entre custos de manutenção de estoque e nível de
serviço. Quanto menor o nível de estoque, menores os custos envolvidos e maior o risco de falta
de insumos. Esta é uma das principais questões pelas quais os hospitais são reticentes em
reduzir o nível de estoque.
12
5.3.12 - Tecnologia da informação
12
Uma evolução que foi iniciada em todos os hospitais do grupo é o sistema de prontuário
eletrônico, onde qualquer parecer médico, procedimento ou prescrição é armazenado no banco
de dados do paciente. Assim é possível ter um histórico de informações daquele paciente e ainda
permitir que todas as informações possam ser acessadas a qualquer momento. Já a utilização de
tecnologias de informação no que diz respeito ao processo de previsão da demanda é bastante
limitada. Não existe hoje um sistema estatístico de previsão de demanda que considere a
incerteza de fornecimento, sazonalidade, ciclo, etc. Esta previsão é realizada através de
ferramentas de Excel e de maneira ainda pouco automática.
Uma das iniciativas sugeridas por Langabeer (2005) para incentivar a melhoria contínua
é analisar os processos internos a fim de identificar oportunidades de melhorias. Sempre que um
processo interno está apresentando desempenho inferior ao desejado, de acordo com os
resultados dos indicadores de desempenho, é realizado um plano de ação para melhorar o
desempenho daquele processo. O plano em seguida é colocado em prática pela equipe
designada e acompanhado periodicamente nas reuniões de desempenho.
12
práticas de gestão ou desenvolvimento conjunto de produtos. Entretanto, alguns exemplos de
iniciativas informais relacionadas ao desenvolvimento conjunto de embalagens e produtos
mostra que os hospitais enxergam a importância de envolver os médicos e fornecedores no
momento de avaliar oportunidades de melhorias.
12
empresas de transporte terceirizadas para realizarem esta entrega e estas empresas são
responsáveis, junto com os fornecedores, pela gestão logística.
Existem pequenos fornecedores locais ou filiais dos grandes fornecedores que, devido à
proximidade, são responsáveis por abastecer determinado grupo de hospital. Como nem sempre
é um mesmo fornecedor que abastece todos os hospitais do grupo nem tampouco um mesmo
transportador, não é possível garantir que a logística seja gerida de forma centralizada.
Como o grupo não faz a gestão logística de seus insumos, a empresa acaba arcando com
um custo maior devido ao menor poder de consolidação de carga e à perda de economias de
escala. Entretanto, provavelmente por falta de expertise, a empresa optou, no momento, por
não realizar estas atividades.
A literatura aponta ainda algumas outras práticas que não foram enquadradas em
nenhum dos grupos anteriores. Estas práticas foram agrupadas no quadro abaixo, conforme o
esquema conceitual apresentado no capítulo 2.
Pôde-se perceber pelas entrevistas que o apoio da alta gestão é essencial para a
implementação das práticas de GCS. Essa importância é comprovada por existir, no grupo, uma
área voltada exclusivamente para a GCS e uma pessoa responsável por
12
analisar o desempenho da cadeia de suprimentos dos hospitais e promover melhorias. Existe
também um projeto em andamento, apoiado pela matriz, que visa à redução de custos através da
eliminação de desperdícios, diminuição do número de fornecedores, redução de SKUs, melhor
gestão de estoque dentre outras iniciativas. O apoio da alta gestão, seja a nível corporativo, seja
no nível do hospital, é visível.
O objetivo desta seção é identificar a situação atual da GCS dos hospitais estudados,
comparando com as práticas de GCS sugeridas na literatura. É avaliado o desempenho de cada
um dos hospitais estudados e o desempenho do grupo como um topo com relação às práticas de
GCS propostas no modelo conceitual apresentado no capítulo 2.
Quando se comparam as práticas adotadas por cada um dos cinco hospitais estudados é
possível perceber uma grande conformidade entre eles. Todos adotam entre 50% e 60% das
práticas, conforme mostra a Figura 2.
12
Figura 2. Comparação entre os hospitais
Enquanto os hospitais Beta e Delta adotam 55% das práticas levantadas na literatura, os
hospitais Alfa, Gama e Ômega adotam 56% dessas práticas. Essa diferença de apenas 1% entre
esses dois grupos é consequência de que os primeiros adotam apenas uma prática a menos, que
está relacionada à busca por redução de lead times de entrega. Apenas os hospitais Alfa, Gama
e Ômega adotam a estratégia de manter em consignação materiais e instrumentos cirúrgicos
para reduzir o tempo de chegada desses materiais a zero. No caso de um eventual atraso na
entrega dos produtos, é possível utilizar o produto que encontra-se em consignação no estoque
do hospital e evitar que a cirurgia seja remarcada.
Esse resultado demonstra que os hospitais estão alinhados com relação às práticas de
GCS adotadas. Em parte esta situação pode ser explicada pela existência de uma forte diretriz
corporativa que é compartilhada com todas as unidades da rede. O alinhamento das unidades a
essa diretriz é cobrado de forma frequente e avaliado mensalmente pelos indicadores de
desempenho. Além disso, o benchmarking é uma prática é adotada de forma intensiva desde a
criação da rede hospitalar e pode ter ajudado a uniformizar as práticas entre os hospitais do
grupo.
Quando se comparam as práticas de GCS com relação a cada um dos grupos definidos
no modelo conceitual do capítulo 2, é possível observar que algumas práticas são mais
adotadas pelos hospitais estudados do que outras. A Figura 3 mostra que, enquanto as práticas
que envolvem o Relacionamento com Clientes e Princípios Lean são adotadas em sua
totalidade, outras associadas à Gestão Logística e à estratégia Just in Time ainda precisam ser
melhoradas.
12
Figura 3. Comparação entre as práticas adotadas
Esse resultado faz sentido considerando que o relacionamento com os clientes, sejam
eles médicos ou pacientes, é fundamental para a qualidade dos serviços prestados pelo hospital
e é a parte visível do desempenho obtido. O grupo reconhece e estimula este comportamento e
controla de perto os indicadores relacionados à satisfação dos médicos e pacientes. Da mesma
forma, os princípios da filosofia Lean relacionados à eliminação de desperdícios e de atividades
que não agregam valor estão alinhados ao objetivo secundário do grupo, que é a redução de
custos e aumento da competitividade.
Da mesma forma, as práticas que obtiveram pior resultado como a Gestão Logística e a
adoção de uma estratégia Just in Time também estão em linha com os desafios enfrentados
pelo setor e pelo país. Fazer uma boa gestão logística no cenário brasileiro ainda é um grande
desafio para a maioria das empresas. No âmbito dos hospitais e instituições de saúde essa é uma
complexidade ainda maior, pois a pulverização dos fornecedores e os problemas relacionados a
uma infraestrutura precária são desafios ainda pouco dominados pelo setor. Nesse sentido, o
grupo opta por deixar a gestão logística sob a responsabilidade dos fornecedores e
distribuidores.
Outro grande desafio enfrentado pelos hospitais estudados é a adoção de uma estratégia
Just in Time. Uma das barreiras para a adoção desta estratégia está relacionada à dificuldade de
gestão logística. Implementar uma estratégia Just in Time requer tempos de reposição curtos e
uma estratégia de suprimentos puxada, que são
12
práticas ainda difíceis de serem implementadas no contexto atual. O risco de falta de
medicamentos e materiais ainda é um fator que faz com que os hospitais não adotem uma
estratégia Just in Time.
Nesta seção são analisadas três características gerais de cada um dos cinco hospitais
estudados a fim de verificar a relação existente entre estas características e o impacto na gestão
da cadeia de suprimentos. As características selecionadas para análise consistem no tamanho
dos hospitais, tipo, estratégia de posicionamento e perfil do quadro clínico. A seguir são
analisadas cada uma destas características e os respectivos impactos na gestão da cadeia de
suprimentos, conforme o quadro conceitual elaborado no capítulo 2 e apresentado abaixo.
Característica Efeitos
12
5.5.1 - Tamanho
Uma das possíveis razões é que todos os hospitais são geridos segundo uma diretriz
comum, que é definida pelo grupo. Esse fato faz com que os hospitais estejam alinhados com
relação às práticas de suprimentos adotadas. Outra possível explicação é que o hospital Alfa,
apesar de ser um hospital pequeno, é também um hospital especializado. A eficiência
consequente da especialização pode mascarar o impacto do tamanho do hospital em relação à
gestão da cadeia de suprimentos.
13
ortopédicas, fato que, segundo o entrevistado, permite um melhor resultado da cirurgia e uma
mais rápida recuperação do paciente. Já um hospital geral jamais conseguiria manter
anestesistas especializados em cada uma das áreas médicas, o que aumentaria
significativamente os custos.
Outras iniciativas que são desenvolvidas pelo hospital Alfa e que são impulsionados
pelo fato deste hospital ser especializado é a concepção do layout do hospital de forma a
estimular a rápida recuperação dos pacientes. As salas são projetadas de forma a facilitar a
movimentação do paciente ao mesmo tempo em que estimula o treinamento dos membros
operados, através de rampas, escadas e equipamentos. Além disso, o hospital mantém parcerias
estratégicas com outros hospitais também focados em ortopedia, facilitando o intercâmbio de
práticas e conhecimentos sobre o tema.
Observa-se também nos hospitais Alfa e Gama uma grande padronização dos processos,
fato que contribui para uma menor variabilidade. Materiais e medicamentos são padronizados e
compõem os kits especializados paras as cirurgias, de pequeno, médio e grande porte. Além
disso, o tempo de recuperação dos pacientes e consequentemente de ocupação dos leitos gira em
torno de uma média de três dias, com uma pequena variabilidade. Um hospital geral, por outro
lado, possui uma grande variabilidade no tempo de permanência do paciente, aumentando as
incertezas com relação à demanda e prejudicando o planejamento de longo prazo.
Mais um exemplo que corrobora esta ideia se deu no momento em que o hospital Beta
decidiu incorporar o setor de oncologia, que até então funcionava como uma unidade
independente. Ao incorporar esta unidade, o hospital enfrentou considerável dificuldade nas
atividades envolvidas com previsão de demanda e gestão de estoque. O aumento da
complexidade de gestão e a falta de experiência e histórico no setor foram fatores que
impactaram de forma considerável a gestão da cadeia de suprimentos do hospital.
13
Outro fato observado tanto no hospital Alfa quanto no Gama é que estes hospitais
buscam certificações voltadas para as especialidades na qual são referência. Diferente dos
demais hospitais, que possuem certificações mais abrangentes e que focam nos processos
médicos de forma geral, estes dois hospitais possuem certificações nas áreas em que atuam.
Esta iniciativa permite que os hospitais busquem, cada vez mais, boas práticas associadas ao seu
campo de atuação e, portanto, aumentando o desempenho de suas atividades.
13
medicamentos à farmácia e de cumprir os horários agendados para as cirurgias.
Consequentemente há um impacto na gestão da cadeia de suprimentos, pois a variabilidade
dificulta a coordenação, integração e comunicação.
Alguns hospitais optam por utilizar os médicos do hospital para algumas atividades-
chave que consideram essenciais para o resultado. O hospital Alfa, por exemplo, formou um
quadro de anestesistas exclusivos do hospital e tenta fazer com que todos os médicos, mesmo
aqueles que não são vinculados ao hospital, utilizem estes anestesistas. O hospital acredita que o
treinamento oferecido aos seus anestesistas permite que eles executem os procedimentos de
forma melhor do que os demais, diminuindo o tempo de recuperação dos pacientes. Entretanto,
ainda existe muita resistência por parte dos médicos em adotar essas iniciativas.
Conforme defendido por Mathew, John e Kumar (2013), os casos estudados mostraram
que um hospital em que o percentual de médicos externos é grande é mais difícil de ser gerido.
A maior variabilidade e a resistência em adotar os processos e normas dos hospitais são fatores
que dificultam a integração, coordenação e comunicação na cadeia de suprimentos. Entretanto, a
semelhança entre os cinco hospitais estudados com relação à proporção de médicos internos e
externos não permite que sejam feitas maiores comparações e conclusões sobre a quantidade de
práticas de gestão de suprimentos adotadas.
O objetivo desta seção é avaliar se as boas práticas recomendadas pela literatura para
obter um bom desempenho da cadeia de suprimentos de uma rede hospitalar são adotadas pelos
hospitais estudados. Machline e Pasquini (2011) identificaram, através de seu estudo, um
conjunto de práticas de GCS que, quando adotadas por um grupo de hospitais, podem impactar
positivamente o desempenho da cadeia de suprimentos. A seguir são analisadas sete práticas
sugeridas pela literatura e resumidas no modelo conceitual apresentado no capítulo 2, conforme
a tabela abaixo.
13
3 Aproveitar as sinergias
4 Compartilhar recursos e competências
5 Padronizar processos e reduzir duplicidades
6 Consolidar volumes e atingir ganhos de escala
7 Gerir estoques de forma centralizada e compartilhada
Segundo Hakkinen et al. (2004) uma das grandes vantagens de uma empresa se
organizar em rede é poder estender suas parcerias não apenas para as relações verticais – como
fornecedores e clientes – mas também aumentar suas relações horizontais – entre as
empresas do grupo. Os hospitais estudados possuem uma forte parceria com os outros hospitais
da rede no que tange a troca de conhecimentos, experiências e indicação de pacientes. O
benchmarking interno entre os hospitais do grupo é frequente e sempre que uma boa prática
adotada por um hospital gera resultados positivos, esta é compartilhada com os demais
membros do grupo.
Além disso, existe um fórum mensal em que os representantes de cada um dos hospitais
se reúnem para trocar experiências e boas práticas no âmbito técnico- científico e de gestão. Os
indicadores de desempenho de cada hospital são comparados com o objetivo de verificar
oportunidades de melhorias através de benchmarking com outros hospitais. Segundo os
entrevistados, essas trocas acontecem de maneira mais frequente com os hospitais da rede do
que com outros hospitais. A preocupação de compartilhar informações sigilosas e de valor
estratégico com hospitais concorrentes é uma das razões para que essas parcerias sejam menos
vantajosas entre hospitais de fora do grupo.
Para Aik et al. (2013), a busca por sinergias é um dos principais objetivos dos hospitais
ao optarem fazer parte de um grupo. Essa sinergia pode acontecer nas mais diversas áreas e está
relacionada à capacidade de alavancar competências, reduzir custos e melhorar a eficiência. O
grupo alavanca suas competências na medida em que compartilha boas práticas, complementa
as especialidades e fortalece sua marca. Os hospitais estudados, por fazerem parte do grupo,
adquirem mais facilmente conhecimentos e captam pacientes dos outros hospitais da rede. A
marca do grupo também ganhou força desde que o processo de aquisição e incorporação de
novos hospitais foi intensificado.
Segundo Ghisi et al. (2008), as alianças entre empresas têm um papel importante para
facilitar o acesso aos recursos e competências necessárias para a sobrevivência e sucesso das
empresas independentes. Os hospitais do grupo se
13
beneficiam, por exemplo, das certificações do hospital Gama para a importação de
medicamentos controlados, que não poderiam ser importados pelos demais hospitais.
Duas iniciativas que podem ser mais exploradas pelo grupo dizem respeito à gestão
centralizada dos estoques e o compartilhamento de recursos. Atualmente cada estoque é gerido
separadamente por cada hospital e não há uma rotina de compartilhamento e troca de produtos e
materiais. Algumas barreiras para isso, já citadas anteriormente, são a falta de integração entre
os sistemas de estoque e à dificuldade logística associada à movimentação dos produtos.
13
6 - RESUMO, CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS
FUTURAS
Este último capítulo apresenta as conclusões resultantes da análise dos casos à luz do
referencial teórico previamente apresentado neste estudo.
O presente trabalho teve por objetivo geral investigar como a cadeia de suprimentos é
gerenciada em um grupo de hospitais pertencentes a uma importante rede privada de hospitais
brasileiros. Mais especificamente, o estudo visou identificar quais práticas de GCS estão sendo
adotadas por estes hospitais e como eles estão posicionados frente às boas práticas de GCS
sugeridas pela literatura. Ademais, o estudo pretendeu investigar como algumas características
relacionadas ao perfil e posicionamento do hospital podem impactar a gestão da cadeia de
suprimentos.
1 - Quais práticas de gestão da cadeia de suprimentos estão sendo adotadas pelos hospitais
pesquisados? Como esses hospitais estão posicionados frente às práticas de gestão da
cadeia de suprimentos levantadas na literatura?
3 - Como o fato de esses hospitais fazerem parte de uma rede hospitalar impacta a gestão
da cadeia de suprimentos?
13
preferencialmente na diretoria, por se tratarem de profissionais com uma visão ampla do
negócio e dos processos que envolvem a GCS. Estas entrevistas foram antecedidas por outras
entrevistadas realizadas com duas profissionais que ocupam cargos gerenciais na área
corporativa de compras da rede com o objetivo de conhecer as atividades executadas de forma
centralizada. Em alguns casos, também foram entrevistados profissionais de outras áreas,
inclusive aqueles responsáveis pela área de farmácia, com intuito de complementar
determinadas informações. A partir dos relatos, procedeu-se à descrição de cada um dos casos
dos hospitais entrevistados, bem como a análise com base na comparação dos cinco casos
estudados, de forma a responder às perguntas de pesquisa.
6.2 - CONCLUSÕES
13
Pôde-se verificar que as práticas de GCS mais recorrentes estão associadas, sobretudo,
ao relacionamento com os clientes – médicos e pacientes – e à adoção dos princípios Lean. O
resultado faz sentido ao considerar os dois grandes focos do grupo: a satisfação dos clientes e a
redução de custos. A satisfação dos médicos e pacientes está relacionada ao ambiente,
infraestrutura e qualidade do atendimento e do tratamento médico. Há alguns anos, os hospitais
investem na aplicação de conceitos do setor de hotelaria para aumentar a satisfação de seus
clientes e em parcerias e certificações para aumentar a qualidade do serviço prestado. Além
disso, o monitoramento frequente através de indicadores permite que os hospitais possam
identificar oportunidades de melhoria e investir na satisfação de seus clientes.
A adoção de práticas voltadas para a filosofia Lean está alinhada com o objetivo de
redução de custos, iniciativa fundamental para manter a competitividade da empresa em um
contexto de grande concorrência. Parte da estratégia de consolidação está associada à obtenção
de sinergias, eliminação de atividades duplicadas, redução do uso de materiais e medicamento e
uma maior economia de escala, confirmando os objetivos de redução de custos impostos pelo
grupo. Apesar da redução de custos obtida logo após o processo de consolidação, os
entrevistados acreditam que ainda há espaço para aumentar a eficiência das operações. Visando
obter parte dos benefícios relacionados à consolidação, os hospitais independentes poderiam
passar a adotar centrais de compras, aumentando o poder de barganha junto aos fornecedores e
atingindo economias de escala.
Práticas ainda pouco adotadas pelos hospitais estudados estão relacionadas com a
adoção de princípios Just in Time, tecnologias de informação e com a gestão logística. A
adoção de práticas Just in Time é ainda um grande desafio enfrentado pelos hospitais,
principalmente pelas incertezas de fornecimento, problemas de infraestrutura logística e falta
de sistemas de informação integrados com os demais
13
membros da cadeia de suprimentos. Por esses motivos, no contexto brasileiro atual, o risco da
adoção de uma cadeia de suprimentos Just in Time nos hospitais ainda é considerado muito
alto. Esse risco é ainda maior no contexto hospitalar ao considerar- se que a falta de um
medicamento pode ser decisiva na vida de um paciente. Verifica- se que os hospitais optam por
manter estoques de segurança maiores, prática contrária à filosofia Just in Time, como forma
de minimizar este risco.
Os resultados indicam que mesmo os hospitais de uma rede, que têm uma área de
compras centralizada, exercendo maior poder de barganha junto aos fornecedores, não
conseguem adotar uma cadeia de suprimentos alinhada com os princípios do JIT. Nesse sentido,
hospitais independentes parecem enfrentar desafios ainda maiores na tentativa de adotar
práticas relacionadas e esta filosofia. A adoção de práticas JIT é um desafio que requer um
bom planejamento de estoque, sistemas integrados e uma gestão logística confiável.
13
A qualidade da previsão de demanda elaborada pelos hospitais é essencial para
planejar as atividades da cadeia de suprimentos. Entretanto, observa-se que os hospitais
estudados ainda não adotam uma metodologia comum para a elaboração desta previsão, ficando
sob a responsabilidade das áreas de farmácia. Apesar de ser elaborada uma previsão de
demanda, a qualidade da informação nem sempre é confiável. A definição de uma metodologia
comum para o desenvolvimento das previsões de demanda assim como a utilização de sistemas
de apoio a este processo poderia ser uma medida simples para trazer benefícios significativos
para a qualidade da informação e redução de risco de falta de produtos em estoque.
Vale enfatizar que as únicas práticas que não são adotadas por nenhum dos hospitais
estudados estão voltadas para a gestão logística. Como os fornecedores entregam os produtos
comprados nos hospitais, o grupo não faz a gestão das entregas e, portanto, não adota nenhuma
prática relacionada à gestão logística, tais como gestão centralizada dos estoques, distribuição
dos produtos, gestão da armazenagem, contratação e gestão do transporte, entre outras.
Observa-se, porém, que algumas práticas citadas pelos entrevistados não foram
encontradas na literatura. Uma delas diz respeito à preparação de kits com medicamentos e
materiais usados nas principais cirurgias. Alguns hospitais citaram que deixam esses kits
prontos em estoque para acelerar o processo de busca desses itens na farmácia e evitar que
algum item essencial seja esquecido. Apesar de esta iniciativa estar voltada para a redução dos
lead times de entrega, que é uma prática citada na literatura, não foi identificada na literatura
nenhuma prática associada especificamente à redução do lead time do processo de distribuição
interna.
14
A pesquisa mostrou que algumas das características dos hospitais como o tamanho, a
estratégia de posicionamento e o perfil do quadro clínico podem influenciar na GCS de diversas
maneiras.
A literatura aponta que hospitais maiores tendem a ter uma melhor coordenação e
integração do que hospitais menores. Entretanto, não se pôde observar uma diferença relevante
no grupo de hospitais estudados. Mesmo os hospitais Alfa e Gama, os menores dentre os
hospitais estudados, não apresentaram menor nível de adoção de práticas relacionadas à
coordenação e integração. Todos os cinco hospitais apresentaram os mesmos percentuais de
adoção de práticas de coordenação e integração, que foram de 67% e 60%, respectivamente.
É possível que estes hospitais não apresentem uma diferença de tamanho considerável a
ponto de gerar diferenças na GCS. Vale relembrar também que todos os cinco hospitais
pertencem a uma mesma rede hospitalar, o que poderia explicar a semelhança das práticas
adotadas nestes dois requistos. A fim de avaliar melhor o efeito do tamanho do hospital nas
práticas de GCS seria necessário estudar hospitais pertencentes a diferentes redes e com uma
maior diferença de tamanho.
O perfil do quadro clínico, que pode ser formado por médicos exclusivos ou não,
também interfere no desempenho da cadeia de suprimentos. A literatura apontou que hospitais
com um grande percentual do quadro clínico aberto tendem a adotar menos práticas de GCS. A
pesquisa, entretanto, não mostrou que esses hospitais adotam menos práticas de GCS, mas que
enfrentam maiores desafios ao tentar implementar estas práticas. Esse maior desafio está
associado principalmente ao fato que o médico é uma peça-chave para a implantação das
práticas de GCS, pois eles desempenham um papel crítico na definição dos procedimentos
hospitalares e dos itens a serem comprados, dificultando a padronização e a consequente
redução de modelos e fornecedores.
14
Ademais, hospitais com uma alta rotatividade da equipe médica têm mais dificuldade
em manter um relacionamento próximo com os médicos, formar parcerias, estimular a
comunicação e fazer com que eles sigam os processos e procedimentos estabelecidos pelo
hospital. Essas dificuldades impactam diretamente a integração e coordenação das atividades da
cadeia de suprimentos e, portanto, aumentam a complexidade de GCS, conforme apontado na
literatura.
Como o fato de esses hospitais fazerem parte de uma rede hospitalar impacta a
gestão da cadeia de suprimentos?
A pesquisa sugere que os hospitais que fazem parte de uma rede hospitalar possuem
algumas vantagens com relação àqueles hospitais que atuam de forma independente no
mercado, vantagens essas que impulsionam a tendência observada hoje em dia de consolidação
no mercado de saúde. Hospitais que fazem parte de uma rede possuem maior facilidade em
adotar certas práticas de GCS, principalmente aquelas que requerem um maior grau de
confiança, cooperação e integração entre os membros. O estudo indica, ainda, que hospitais
independentes enfrentam maiores dificuldades em adotar práticas, por exemplo, que envolvem o
compartilhamento de informações sensíveis, além da gestão e compartilhamento de recursos.
14
de consolidar volumes e atingir uma maior economia de escala também contribui para a
melhoria do desempenho da cadeia de suprimentos ao mesmo tempo em que permite vantagens
financeiras. O fato de esses hospitais estarem organizados em rede permite que algumas
atividades sejam centralizadas, como é o caso das atividades de compras, e eliminar atividades
duplicadas e, consequentemente, reduzir custos.
As duas práticas de GCS que não são hoje adotadas plenamente pelos hospitais
estudados consistem no compartilhamento de recursos e gestão centralizada de estoques. Apesar
de haver um compartilhamento de conhecimentos e competências entre os hospitais estudados,
o compartilhamento de recursos ainda é um desafio logístico. Por este motivo o
compartilhamento de materiais, medicamentos e equipamentos não é frequente entre os
hospitais da rede. Esse fato justifica, em parte, o fato de os estoques serem geridos de forma
independente. Como existe uma dificuldade de compartilhar itens entre os hospitais, não há
motivo para que os mesmos sejam geridos centralizadamente.
14
logísticos do país, a rede prefere optar por terceirizar esta gestão para os fornecedores, que nem
sempre apresentam um bom desempenho. Parece faltar um indicativo claro de que os hospitais
podem se beneficiar financeiramente de uma gestão centralizada dos estoques e da adoção de
práticas logísticas relacionadas à distribuição dos produtos.
Como contribuição teórica deste estudo pode-se destacar que a pesquisa buscou suprir
uma lacuna de estudos similares no contexto brasileiro e poderá fornecer suporte aos
interessados pelo assunto “cadeia de suprimentos hospitalar”. Ademais, o estudo realizou a
consolidação das práticas de GCS a fim de avaliar se tais práticas podem ser estendidas ao
contexto hospitalar brasileiro. A importância teórica da pesquisa está associada, também, à
necessidade de se compreender melhor quais práticas impactam a GCS hospitalar e como a
adoção destas práticas pode trazer benefícios para os hospitais. A pesquisa sugere que o
contexto hospitalar apresenta algumas especificidades que impactam as oportunidades de
melhoria do desempenho da cadeia de suprimentos, inclusive com a identificação de diversos
aspectos que não constam na literatura sobre o tema.
A pesquisa indica, também, um conjunto de práticas de GCS que podem ser utilizadas
pelos gestores como referência para melhorar a GCS hospitalar além de sugerir práticas que
impactam o desempenho da cadeia de suprimentos da rede. Os resultados deste estudo podem
ser utilizados por gestores da área de saúde com o objetivo de entender o panorama dos
hospitais privados brasileiros com relação à adoção de tais práticas. Ademais, a importância
prática deste trabalho também decorre da possibilidade de utilização dos resultados do estudo
como subsídio para melhorar o planejamento e a gestão da cadeia de suprimentos de diversos
hospitais, sejam eles públicos ou privados.
14
6.4 - SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS
14
7 - ANEXOS
(1) Integração Entender a cadeia de forma ampla, considerando os Como você entende a cadeia de suprimentos hospitalar? Quais são,
parceiros à jusante e à montante. em sua opinião, os principais membros?
Investir em comunicação e compartilhamento de Existe um sistema único para todos os hospitais do grupo? Quem tem
informações com equipes internas. acesso às informações deste sistema?
Investir em comunicação e compartilhamento de Existe algum canal oficial de sugestões de melhoria?
informações com membros externos.
Como é a comunicação do paciente com o hospital?
Adotar sistemas de informação integrados.
(2) Coordenação Utilizar sistemas de informação para armazenar os Como são preparadas as salas de cirurgias?
dados e facilitar o acesso e compartilhamento.
Quanto tempo, em média, leva para uma sala ser preparada para
Intensificar a comunicação entre os elos da cadeia. cirurgia?
Coordenar eficientemente o fluxo dos Com quanto tempo de antecedência geralmente é feita a
produtos/informações ao longo da cadeia de solicitação?
suprimentos.
Quem solicita e especifica o que precisa estar na sala de
cirurgia?
Como é o fluxo de informações entre os envolvidos nesta
operação?
Existe algum indicador que mostre o percentual de salas de
cirurgia que estavam preparadas conforme a especificação?
Atrasos por falta de material na sala de cirurgia prejudicam o
14
serviço prestado?
Existe algum acompanhamento formal do desempenho dos
serviços prestados?
O fornecedor tem visibilidade dos níveis de estoque daquele
insumo?
O fornecedor tem acesso à previsão de demanda? Quão precisa é esta
informação?
Os hospitais têm visibilidade sobre os tempos de entrega de
materiais/ medicamentos?
Você consegue ver o estoque dos demais hospitais da rede? Qual a
sua opinião sobre a possibilidade de compartilhar estoques?
(3) Alinhamento de Definir objetivos e metas para cada subprocesso. Como são acompanhados os resultados e o cumprimento dos
objetivos?
Objetivos Estabelecer mecanismos para coordenar as atividades e alinhar
os objetivos entre os membros internos. Com que frequências esses resultados são acompanhados?
Estabelecer mecanismos para coordenar as atividades e alinhar O que acontece quando o resultado de algum indicador está abaixo
os objetivos entre os membros externos. do esperado?
Acompanhar o cumprimento dos objetivos e ajustá-los Os clientes ou fornecedores têm visibilidade desses objetivos
quando necessário. definidos para o grupo?
14
paciente?
(6) Práticas Lean Eliminar desperdícios. É realizado algum esforço para diminuição dessa quantidade de itens?
Como?
Eliminar atividades que não agregam valor.
Há perda de produtos por expiração do prazo de validade?
Enfatizar a criação de parcerias com fornecedores.
Quais são as principais iniciativas conduzidas pelo hospital para
eliminar desperdícios?
(7) Princípios Just Implantar uma estratégia de cadeia de suprimentos puxada. Como acontece a compra dos insumos?
in Time Permitir que o fornecedor tenha acesso às informações de Qual o percentual de insumos comprados centralizadamente?
estoque.
O fornecedor tem visibilidade dos níveis de estoque daquele
Encurtar os tempos de reposição. insumo?
Desenvolver parcerias colaborativas com fornecedores. O fornecedor tem visibilidade da previsão de demanda?
Determinar com precisão a capacidade da cadeia de
suprimentos.
14
(8) Estratégia de Selecionar os produtos com base na relação custo- benefício. Como acontece a compra dos insumos?
Suprimentos Considerar o custo total do produto na cadeia de suprimentos Os insumos são comprados ou consignados?
ao invés do custo unitário do item.
Qual o percentual de insumos comprados centralizadamente?
Consolidar os pedidos para aumentar o volume.
É necessário colocar um pedido de compra ou o pedido é
Integrar os processos de compras e contas a pagar, centralizar a disparado automaticamente ao atingir determinado nível de
prestação de contas e estabelecer padrões de gerenciamento de estoque?
pedidos.
Com que frequência os principais insumos são comprados?
Adotar um processo de compra eletrônico.
Como é definida a grade de insumos que podem ser comprados? Quais
Implantar a numeração de produtos e rastreamento critérios são levados em consideração?
eletrônico.
É considerada a localização geográfica no momento da compra e na
Comprar de fornecedores locais. escolha do fornecedor?
(9) Gestão da Priorizar a prevenção. Com relação à qualidade, qual é a prioridade, em sua opinião?
Qualidade Total Identificar os problemas o mais rápido possível. Quais iniciativas voltadas para a qualidade o hospital
desenvolve?
Garantir a disponibilidade de materiais.
Com que frequência ocorre falta de insumos em estoque?
Diminuir a variabilidade dos processos.
A falta de medicamentos impacta na qualidade do serviço
Melhorar a qualidade das informações. prestado?
Com que frequência os insumos são entregues com atraso?
Como é feito o acompanhamento da entrega dos produtos?
Qual o nível de fidelidade do médico ao hospital?
(10) Planejamento da Elaborar plano de previsão de demanda. Existe alguma previsão de demanda dos insumos? Como esta
previsão é feita? É utilizado algum sistema?
Demanda Revisar periodicamente o plano.
14
Envolver outras áreas no planejamento da demanda. Qual o horizonte de tempo desta previsão? Com que frequência ela é
revisada?
Compartilhar a previsão de demanda com as demais áreas da
empresa e com os fornecedores. Os fornecedores têm acesso a esta estimativa? Quão precisa é esta
informação?
(12) Tecnologia da Utilizar sistemas integrados. Existe um sistema único para todos os hospitais do grupo? Quem tem
acesso às informações deste sistema?
Informação Adotar sistema de prontuário eletrônico.
Como é o sistema de prontuário?
Utilizar sistemas estatísticos para previsão da demanda.
Existe alguma previsão de demanda dos insumos? Como esta
previsão é feita? É utilizado algum sistema?
(13) Melhoria Analisar os processos da cadeia de suprimentos. Existe alguma iniciativa de melhoria contínua? Explique.
Contínua Envolver clientes e fornecedores nas atividades de Os fornecedores são envolvidos nas atividades de planejamento e
reengenharia. melhoria?
Realizar benchmarking. As experiências e melhores práticas são compartilhadas entre os
hospitais da rede? Como acontece esse benchmarking?
15
O mesmo acontece com outros hospitais de fora da rede? Como
acontece esse benchmarking?
(14) Gestão Gerir a logística de forma centralizada. Como é realizado o transporte dos insumos desde o fornecedor até o
hospital?
Logística Criar uma rede de transporte integrada.
Quem é responsável pela gestão logística?
Consolidar cargas.
Existe algum armazém centralizado?
Utilizar cross-docking, quando aplicável.
Onde estão localizados os estoques da rede?
(15) Outras Conseguir o apoio da alta gestão. Como você considera a participação da alta gestão nas iniciativas de
melhoria dos processos da cadeia de suprimentos?
Práticas Aumentar a visibilidade das informações.
Como você considera a visibilidade de informações? Existe
Compartilhar riscos e recompensas. alguma iniciativa nesse sentido?
Práticas Perguntas
Estender a parceria não apenas para os elos verticais, mas também para as relações Como você vê a parceria com outros hospitais da rede?
horizontais.
Aproveitar as sinergias. Como você acredita que as sinergias com outros hospitais da rede
podem ser aproveitadas?
Padronizar processos e reduzir duplicidades.
15
Compartilhar recursos e competências. São compartilhados recursos e competências entre os hospitais? Como
acontece esse compartilhamento?
(1) Tamanho Hospitais maiores tendem a ter uma melhor coordenação e Número de cirurgias realizadas por mês
integração do que hospitais menores.
Número de leitos
(2) Posicionamento Hospitais gerais tendem a ser mais complexos com relação à Especialidades médicas
Estratégico GCS.
Estratégia de posicionamento
Estratégias de diferenciação aumentam a complexidade de
GCS hospitalar. Perfil dos pacientes atendidos
(3) Perfil do Quadro Hospitais com grande percentual do quadro clínico aberto Perfil do quadro clínico / percentual de médicos dedicados
Clínico tendem a adotar menos práticas de GCS.
A alta rotatividade dos médicos prejudica a comunicação,
coordenação e integração.
15
7.2 - Anexo II – Roteiro para as entrevistas
2. Descrição do hospital
• Nome
• Histórico / evolução das atividades
• Ano de construção do hospital / ano de incorporação à rede
• Características gerais do hospital
• Especialidades médicas
• Número de cirurgias realizadas por mês
• Número de leitos
• Estratégia de posicionamento
• Perfil dos pacientes atendidos
• Perfil do quadro clínico / percentual de médicos dedicados
• Certificações
• Como você entende a cadeia de suprimentos hospitalar? Quais são, em sua opinião, os
principais membros?
• Como você considera a participação da alta gestão nas iniciativas de melhoria dos
processos da cadeia de suprimentos?
• Existem iniciativas de compartilhamento de riscos ou ganhos com os membros da cadeia
de suprimentos?
• Como você vê a parceria com outros hospitais da rede?
15
• Como você acredita que as sinergias com outros hospitais da rede podem ser
aproveitadas?
• São compartilhados recursos e competências entre os hospitais? Como acontece esse
compartilhamento?
a) Compras
• Como acontece a compra dos insumos?
• Os insumos são comprados ou consignados?
• Qual o percentual de insumos comprados centralizadamente?
• É necessário colocar um pedido de compra ou o pedido é disparado
automaticamente ao atingir determinado nível de estoque?
• Com que frequência os principais insumos são comprados?
• Como é feito o acompanhamento da entrega dos produtos?
• Os hospitais têm visibilidade sobre os tempos de entrega de materiais/
medicamentos?
• Com que frequência os insumos são entregues com atraso?
15
• Como é definida a grade de insumos que podem ser comprados? Quais critérios são levados
em consideração?
• É considerada a localização geográfica no momento da compra e na escolha do
fornecedor?
• Como é realizado o transporte dos insumos desde o fornecedor até o hospital?
• Quem é responsável pela gestão logística?
b) Armazenagem e distribuição
• Como é realizada a gestão do estoque?
• Existe algum armazém centralizado?
• Onde estão localizados os estoques da rede?
• Quantos itens diferentes existem em estoque?
• É realizado algum esforço para diminuição dessa quantidade de itens? Como?
• Como são classificados os itens em estoque?
• Como essa classificação impacta a gestão do estoque?
• Você consegue ver o estoque dos demais hospitais da rede? Qual a sua opinião sobre a
possibilidade de compartilhar estoques?
• Qual a sua opinião sobre a precisão das informações contidas no sistema?
• Qual a cobertura média de estoque? O que você acha dela?
• Com que frequência ocorre falta de insumos em estoque?
• A falta de medicamentos impacta na qualidade do serviço prestado?
• Como é realizada a distribuição de materiais /medicamentos dentro do hospital?
• Como são rastreados os produtos, desde o momento que entram no hospital?
• Há perda de produtos por expiração do prazo de validade?
• Quais são as principais iniciativas conduzidas pelo hospital para eliminar
desperdícios?
• Como os fornecedores contribuem para estas iniciativas?
15
• Com quanto tempo de antecedência geralmente é feita a solicitação?
• Quem solicita e especifica o que precisa estar na sala de cirurgia?
• Como é o fluxo de informações entre os envolvidos nesta operação?
• Existe algum indicador que mostre o percentual de salas de cirurgia que estavam
preparadas conforme a especificação?
• Atrasos por falta de material na sala de cirurgia prejudicam o serviço prestado?
• Com relação à qualidade, qual é a prioridade do hospital, em sua opinião?
• Quais iniciativas voltadas para a qualidade o hospital desenvolve?
• Existe alguma iniciativa de melhoria contínua? Explique.
• As experiências e melhores práticas são compartilhadas entre os hospitais da rede? Como
acontece esse benchmarking?
• O mesmo acontece com outros hospitais de fora da rede? Como acontece esse
benchmarking?
• Existe algum acompanhamento formal do desempenho dos serviços prestados?
• Como são acompanhados os resultados e o cumprimento dos objetivos?
• Com que frequências esses resultados são acompanhados?
• O que acontece quando o resultado de algum indicador está abaixo do esperado?
• Os clientes ou fornecedores têm visibilidade desses objetivos definidos para o grupo?
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