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SÃO PAULO
PUC-SP
São Paulo
2019
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
São Paulo
2019
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________
Profa. Dra. Marina G. Feldmann
______________________________________________________
Prof. Dr. Décio Gatti Júnior
______________________________________________________
Prof. Dr. Antonio Chizzotti
______________________________________________________
Prof. Dr. Fernando Almeida
______________________________________________________
Profa. Dra. Silvana A. Freitas
Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal De Nível
Superior (Capes). “O presente trabalho foi realizado com apoio da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- Brasil
(Capes) – Código de Financiamento 001”: bolsa de estudos concedida
no período de janeiro de 2016 a julho de 2019, conforme Portaria nº
206 de 4 de setembro de 2018.
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total
ou parcial desta tese por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.
Ficha Catalográfica
138 Paglia
PAGLIA, ROSANGELA DA SILVA CAMARGO
BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR: A POLÍTICA
EDUCACIONAL PARA O ENSINO MÉDIO NO SISTEMA
ESTADUAL
DE ENSINO DE BARUERI / ROSANGELA DA SILVA
CAMARGO
PAGLIA. -- São Paulo: [s.n.], 2019.
150 p. ; 21 cm x 29,7 cm cm.
CDD
(Raimundo Nonato)
RESUMO
A presente tese tem como objeto de estudo a elaboração da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC). Como objetivo, procurou-se analisar a organização de construção
da BNCC do ensino médio, em seu aspecto global, nacional e local, tendo como
cenário a rede estadual de educação do município de Barueri – SP. A proposta insere-
se no eixo temático Políticas Públicas, Reformas Educacionais e Curriculares do
Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Currículo da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A pesquisa, que traz um recorte da
BNCC, com o foco para o ensino médio, segmento da educação que tem sido objeto
de muitos estudos e de críticas ao longo da história, apontando a fragmentação do
tempo escolar e dos fazeres dos alunos. Atualmente, temos um ensino médio
impreciso, que necessita de mais atenção, o que dificulta essa etapa do ensino–
aprendizagem, inviabilizando a qualidade. Um dos problemas reiteradamente
apontado é a atual fragmentação de disciplinas, a imprecisão nessa fase da educação
básica. Nesse sentido, a análise construída da BNCC mais aprofundada para a
construção das finalidades e da formação desejada para os jovens nessa faixa etária,
é indispensável. Desse modo, em um primeiro movimento, identificou-se os agentes
políticos públicos e privados que têm atuado na hegemonização da implantação da
BNCC e, consequentemente, para a nova estrutura do currículo para a educação
nacional. Observa-se que a Base Nacional Comum Curricular, embora se apresente
como uma proposta de documento completo e complexo, formado por áreas,
componentes curriculares e objetivos de aprendizagem, não se mostra suficiente para
o sistema educacional brasileiro de forma a garantir os fins aos quais se propõe, como
direito de todos à aprendizagem e ao desenvolvimento humano. Para o
desenvolvimento do estudo, utilizou-se uma abordagem de caráter qualitativa, em que
se adotou como estratégia de pesquisa a combinação das pesquisas bibliográfica/
documental. A metodologia possibilitou reunir informações e dados de modo a
sustentar a realização do estudo, com a pesquisa de campo, com questionário
semiestruturado e a técnica de grupo focal, a fim de ouvir não só os professores do
município aludido, mas também os conflitos e a contestação existente. Foi possível,
com isso compreender a maneira como a BNCC é percebida e interpretada pelos
atores. Foram selecionados dois grupos, totalizando 23 professores que lecionam no
ensino médio estadual. Os encontros aconteceram nas ATPCs (aula de trabalho
pedagógico coletivo), nas unidades escolares no segundo semestre de 2018 e teve
continuidade no primeiro trimestre de 2019. Desde já, ressalta-se que não foi intenção
nesta pesquisa, apontar uma conclusão, mas reflexões sobre o processo de
elaboração da BNCC, ao analisar a construção da referida base, o que resultou na
possibilidade de identificar diversos conflitos e disputas em torno dos sentidos da
política e, como resultado, pelo controle político-econômico da educação.
The present thesis has as object of study the elaboration of the National Curricular
Common Base (BNCC). The purpose of this study was to analyze BNCC's construction
organization in its global, national and local aspect, based on the State Education
Network of the city of Barueri - SP. The proposal is part of the thematic area Public
Policies, Educational and Curricular Reforms of the Program of Postgraduate Studies
in Education: Curriculum of the Pontifical Catholic University of São Paulo (PUC-SP).
The research brings a cut of the BNCC, with the focus for High School. This segment
of education has been the subject of many studies and criticisms throughout history,
pointing to the fragmentation of school time and student achievement. Currently, we
have an inaccurate high school, which needs more attention, which makes this
teaching / learning difficult, making quality unfeasible. One of the problems that has
been repeatedly pointed out is the current fragmentation of disciplines, the imprecision
in this phase of Basic Education. In this sense, the analysis constructed by the BNCC,
it is indispensable to discuss more in depth the construction of the aims and the desired
formation for the young people in this age group, from which it will be possible to define
an adequate curricular structure. The first movement was to identify the public and
private political agents that have acted in the hegemonization of BNCC implementation
and, consequently, to the new structure of the curriculum for national education. It is
observed that the National Curricular Common Base, although presented as a
proposal for a complete and complex document, composed of areas, curricular
components and learning objectives, does not prove sufficient for the Brazilian
Educational System in order to guarantee the ends to the which is proposed as the
right of all to Learning and Human Development. For the development of the study, a
qualitative approach was used, in which the combination of bibliographical /
documentary research was adopted as a research strategy. The methodology made it
possible to gather information and data in order to support the study, with the field
research, with a semi-structured questionnaire, and the focus group technique, in order
to listen not only to the teachers of the mentioned municipality, but also the conflicts
and the existing dispute. It was possible, with this to understand the way the BNCC is
perceived and interpreted by the actors. Two groups were selected, totaling 23
teachers who teach in the State High School, who participated in the research. The
meetings with the teachers took place in the (ATPCs), a collective pedagogical work
class, in the School Units in the second semester of 2018 and continued in the first
quarter of 2019. From now on, it is emphasized that it was not intended in this research,
to draw a conclusion , but reflections on the BNCC's elaboration process, when
analyzing the construction of this base, which resulted in the possibility of identifying
several conflicts and disputes around the meanings of politics and, as a result, the
political-economic control of Education.
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 18
2. BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR: TRAMAS E CONTEXTOS.......... 25
2.1. Articulação para o impeachment da presidenta ...................................... 28
2.2. Contexto político nacional, a educação na atualidade ........................... 31
2.3. Base Nacional Comum Curricular e cenário político nacional .............. 34
2.4. “Amigos da Escola”: o interesse das instituições privadas pela escola
pública .................................................................................................................. 38
2.5. Crise na escola pública: uma crise existente ou criada para beneficiar a
mercantilização e destruição da educação pública?........................................ 40
3. O CURRÍCULO DO ENSINO MÉDIO, PÓS A PROMULGAÇÃO DA BASE
NACIONAL COMUM CURRICULAR ........................................................................ 44
3.1. Raio-X do ensino médio noturno .............................................................. 47
3.2. Educação nacional: implantação da Base Nacional Comum ................. 51
3.3. Desafios da Base Nacional Comum Curricular – ensino médio na
atualidade ............................................................................................................. 55
3.4. Reforma do ensino médio no olhar da BNCC .......................................... 60
3.5. Em debate: políticas públicas para o ensino médio ............................... 62
4. A REFORMA DO ENSINO MÉDIO: REFLEXÕES E ANÁLISE DA MEDIDA
PROVISÓRIA 746/2016 ............................................................................................ 66
4.1 Vantagens e entraves da “reforma” do ensino médio ............................ 73
4.1.1. Linguagens e suas tecnologias no ensino médio .................................. 76
4.1.2. Competência específica para a área de Matemática e suas tecnologias
no ensino médio ................................................................................................. 77
4.1.3. Competência específica para a área de Ciências da Natureza e suas
tecnologias no ensino médio .............................................................................. 79
4.1.4. Competência específica para Ciências Humanas, Sociais Aplicadas ... 80
4.2. “Reforma do ensino médio”: análise da lei nº 13.415 de 2017 ............... 81
4.3. Formação do professor após a lei nº 13.415, de 2017 ............................ 92
4.4. Desafios da implementação da base nacional comum curricular ......... 97
4.5. Base Nacional Comum – as expectativas da proposta para a educação
fundamental básica ........................................................................................... 101
5. PESQUISA DE CAMPO – APRESENTAÇÃO DAS UNIDADES
ESCOLARES...... .................................................................................................... 104
5.1. O Delineamento e resultados da realização da pesquisa de campo: a
implementação da política educacional para o ensino médio na cidade de
Barueri-SP .......................................................................................................... 104
5.2. Escola estadual – República do Equador .............................................. 105
5.3. Escola estadual – República de El Salvador ......................................... 107
5.4. Apresentação dos dados e gráficos ....................................................... 109
5.4.1. Apresentação – grupos focais ............................................................. 120
5.4.2. Reescrita dos grupos focais ................................................................ 132
5.4.3. O desconhecimento da BNCC pelos educadores em exercício .......... 137
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 139
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 144
18
1. INTRODUÇÃO
Achei que ainda faltava alguma coisa para completar minha trajetória e fui fazer
a graduação em Letras. Nessa caminhada, atuando como professora desde o ensino
fundamental, especialmente ensino médio até a educação de jovens e adultos (EJA).
Atuei como professora, coordenadora pedagógica do ensino médio, vice-diretora e
diretora na rede municipal de Barueri e, como professora do curso de Pedagogia, no
ensino superior privado.
No decorrer desse percurso profissional, as experiências e os acontecimentos
vivenciados me incitaram a buscar fundamentações mais aprofundadas, entre
teoria/prática tão discutida no ensino superior e, muitas vezes, distante do cenário da
educação básica.
O meu primeiro momento de aprofundamento foi no curso de especialização
em Magistério do Ensino Superior pela PUC-SP, no ano de 2003. Em seguida, a
continuidade, através da especialização em Violência Doméstica Contra Crianças e
Adolescentes pela Universidade de São Paulo (USP), procurando respostas para as
questões de violência que observava no dia a dia ou em relatos de alunos, o que me
permitiu me aproximar de um grupo com objetivos comuns junto à Promoção Social
de Barueri e ajudar na elaboração da Secretaria da Mulher, a qual sou conselheira até
2021.
No ano de 2010, fui aceita e ingressei no curso de mestrado do PEPG em EHPS
– Educação, História, Política, Sociedade da PUC-SP, onde cursei dois semestres.
No ano de 2011, ingressei na Universidade Metodista de São Paulo (Umesp),
no curso de Formação de Professores, onde eu realmente encontrei o meu objetivo e
foco de estudo.
Em 2014, ao defender minha dissertação de mestrado, minha antiga
orientadora, professora doutora Marilia Clares Duran, me orientou a voltar para a
PUC-SP e me inscrever no curso de pós-graduação Educação: Currículo, na linha de
Políticas Públicas, pois percebia essa vertente em meus discursos e na minha
trajetória.
No ano de 2015, fui aceita no doutorado em Educação: Currículo, na linha de
Pesquisa: Políticas Públicas e Reformas Educacionais e Curriculares, sob a
orientação do professor doutor Antonio Chizzotti.
Nesse período em que me encontrei sob a sua orientação, como
professora/pesquisadora, investigando, na área do Currículo, as políticas, suas
práticas na educação básica, tenho participado de discussões relevantes sobre o
20
1 Mário Covas, governador do estado de São Paulo, no uso de suas atribuições legais, considerando,
finalmente, a necessidade de se dar cumprimento ao disposto no artigo 240 e nos §§ 1º e 2º do artigo
249 da Constituição do Estado, objetivando a melhoria e expansão do Ensino Público Fundamental, de
modo a propiciar a todas as crianças condições de real acesso à escola e que nela permaneçam e
progridam, decreta:
“Artigo 1º - Fica instituído o Programa de Ação de Parceria Educacional Estado-Município, com o
objetivo de desenvolver o ensino fundamental, através de ação conjunta dos poderes executivos
estadual e municipal” (BARUERI, 1997).
22
médio, como nosso campo de pesquisa, seleciono duas escolas da rede estadual que
ficaram responsáveis somente pelo ensino médio, especificamente como objeto desta
pesquisa.
Por esses motivos, consideramos que a escolha das escolas de ensino médio
do município de Barueri como campo empírico desta pesquisa é bastante apropriada,
com uma das melhores infraestruturas dentre os municípios do Brasil. Diante de tantas
questões a serem analisadas, discutidas e que devem ser levadas em consideração,
me proponho:
I. analisar como está sendo “implantação” da BNCC na cidade de Barueri, uma vez
que envolve grupos com interesses divergentes;
II. analisar os avanços significativos com a BNCC no ensino médio;
III. analisar como deve acontecer a formação e aperfeiçoamento dos professores;
IV. analisar a lei nº 13.415/2017, de reforma do ensino médio.
Para tal, o presente estudo é composto por três movimentos:
1º Movimento –um estudo procurando compreender e situar as primeiras
discussões sobre a BNCC e a análise do período histórico brasileiro em que se
andarilhou as discussões, a promulgação da Base Nacional Comum Curricular,
no período conturbado, com o impeachment contra a presidenta eleita pelo povo;
2º Movimento – O estudo procura debater e propor a relevância da proposta da
Base Nacional Comum Curricular para o ensino médio como parte na educação
básica, procurando compreender os que se posicionam a favor e os que se opõe
à criação da Base Nacional Comum Curricular;
3º Movimento – A repercussão da BNCC, analisando os problemas que afetam
diretamente a consolidação da Base Nacional Curricular Comum no Sistema
Educacional Brasileiro.
Para a consecução da preparação da pesquisa, identifiquei questões gerais do
sistema estadual de educação e singularidades próprias do contexto da cidade de
Barueri.
Para Thompson (1981, p. 61-62), precisamos ler, aprofundar e entender
profundamente todo documento. Para Chizzotti (2014, p. 20), “a pesquisa pressupõe
teorias ou visões de, que em diferentes domínios do conhecimento, moldando a
atividade investigativa o auxiliam a pesquisar. Essas teorias de trabalho tem sido
definidos como paradigma, tradição, modelo, programa ou postura do pesquisador”.
24
ficar claro é que a BNCC, desde o início de sua elaboração, vem sendo debatida com
posicionamentos a favor e contra a sua implementação.
Desde o seu início, a elaboração da BNCC passou por grande instabilidade
política, econômica e social no Brasil. Com a saída da presidenta Dilma Rousseff,
eleita pelo povo, destituída de seu cargo pelo impeachment, ocorre um risco do
processo democrático.
Esse movimento, de destituir a presidenta afetou profundamente a organização
e implementação da Base Nacional Comum Curricular e enfraqueceu a democracia,
conquistada com muita luta depois de trinta anos de ditadura.
pelo É importante destacar o contexto histórico do golpe sofrido pela
democracia com o afastamento definitivo da Presidência da República, um capítulo
marcante da história brasileira, organizado e arquitetado com o apoio de alguns
partidos como PMDB e 2 PSDB3, com o apoio do vice-presidente, em um processo de
articulação política para assumir a presidência.
Dilma Rousseff, acusada de praticar manobra contábil, as chamadas
“pedaladas fiscais”, embora feito, depois de todo o tipo de investigação, não foram
comprovadas quaisquer suspeitas de enriquecimento ilícito ou aproveitamento do
cargo em benefício próprio, ainda que sua vida privada e pública tenham sido
vasculhada em todas as instâncias, procurando com mesurar de detalhes por todos
os seus adversários que desejavam sua condenação.
Em 2014, um grupo composto por empresários, denominado “Vem pra Rua”,
ergue a bandeira anticorrupção, procurando alimentar, fermentar uma reação de
política de oposição, aguerrida em todas as grandes capitais brasileiras, mobilizando
a opinião pública de uma parte significativa da sociedade brasileira, pela velha
confusão entre economia e política.
No segundo momento, em 2016, com a participação consensual e hipócrita da
político-midiática, que foi a forma do golpe de 2016, temos a saída da presidenta
reeleita.
Marx, em O 18 Brumário de Luís Bonaparte, observa que todos os fatos e
personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer,
(...) vejo a mesma casta por trás de tudo isso. A mesma elite inconformada
com os pretinhos de canelas ruças que passaram a ter educação boa e a
comer melhor nos Cieps do meu tempo. Essa mesma elite se incomoda agora
com nossos irmãos nordestinos que conseguiram viajar de avião. Ela se
incomoda com a inclusão de jovens negros nas universidades. É claro que,
com os anos, essa casta se modernizou. Usa gravata estrangeira, não é
verdade? O velho Getúlio tomou uma atitude extrema para encerrar uma crise
que paralisava o Brasil, construída artificialmente pelos que falavam de um
“mar de lama” sobre o Palácio do Catete. Francamente! Com Jango, foi um
pouco diferente. O temor era do perigo comunista, como se nós fôssemos
28
invadir as mansões do Morumbi. Esta mesma elite que chegou a abrir seus
salões para chás da intelectualidade petista e agora se volta contra Dilma.
Dona Dilma já esteve conosco, lá no Rio Grande do Sul. Nasceu para a
política sob as nossas vistas. Era uma jovem técnica que contribuiu com o
governo do nosso irmão Alceu Colares. Vinha de um passado sofrido. Foi
presa e torturada. Não delatou um só companheiro. Isso, para uma mulher, e
ter chegado aonde chegou, francamente, é digno de grande respeito. O
simbolismo de uma mulher na Presidência é, para nós, para mim, que tanto
defendi a participação não só das mulheres, mas dos negros… O simbolismo
de ter a Dilma na Presidência nos gratifica. (BRIZOLA in VIEIRA, 26 abril de
2019)
E como os brasileiros esqueceram tão facilmente tudo que nossos pais, avós
vivenciaram, sofrendo oprimidos, ameaçados sem nenhum direito a se expressar ou
tendo seus direitos violados?
Em 2010, nas eleições presidenciais, há uma aliança do Partido dos
Trabalhadores (PT) com o PMDB, elegendo a presidenta Dilma e cedendo alguns
ministérios para o PMDB e para os outros partidos que se diziam aliados, a fim de ter
apoio na Câmara dos Deputados.
Perante a Câmara dos Deputados, é uma prática legal em todos os governos
brasileiros, essa divisão de cargos entre os partidos, mesmo porque o Brasil, sendo
um país democrático, precisa ter a participação de todos os partidos. Portanto, é
importante e necessária a participação de todos os partidos para uma real
democracia.
Tal manobra pode ser entendida ao se analisar a Figura 1, que mostra o
organograma ministerial. O Ministério de Minas e Energia foi dado à administração do
PMDB. Dentro do Ministério de Minas e Energia, encontram-se diversas estatais,
dentre elas, Petrobras e Furnas. Mas a que mais despertava o interesse do PMDB era
a diretoria de Furnas que, até então, estava no comando de Eduardo Cunha, que
também comandava toda a lavagem de dinheiro, sendo também o responsável e o
pivô do processo de impeachment, da presidenta Dilma Rousseff.
O sr. Eduardo Cunha, diretor de Furnas, responsável pelos crimes de corrupção
com contas em bancos suíços, foi retirado da direção de Furnas, pela presidenta em
exercício, e eleita pelo povo. Logo não podia permanecer no poder.
Todo descontentamento, era visível entre deputados, e senadores que
praticamente paralisa os trabalhos no Congresso Nacional. O início da trama para a
concretização do golpe começou no momento em que o último voto foi registrado na
urna eletrônica e anunciada a nova presidenta do Brasil, no 2014.
30
Eleições
2010 Ministérios
PT e PMDB
P
Minas e
Outros Energias
PMDB
Furnas
Impeachment
O que aconteceu após esse momento turbulento na política brasileira fez com
que todos, de Norte a Sul no País, ficassem perplexos com a direção que a política
brasileira estava tomando. É possível perceber que toda a nação ficou inerte, como
se a ação que o País sofreu tivesse retirado do povo a vontade de levantar, de ir para
as ruas, reivindicar, lutar pelos seus direitos.
Paralisados, como estatuas na frente da TV, ouvindo os noticiários, toda a
nação ficou adormecida, como se tivesse retirado de todo o povo a vontade de
levantar e ir para as ruas, reivindicar, lutar pelos seus direitos.
31
cujo atendimento é claro e exige 10% do Produto Interno Bruto (FAGNANI, 2016, p.
329).
Para o autor, trata-se de uma disputa por recursos públicos, de um movimento
do capital rumo à apropriação da relativamente pequena margem de recursos estatais
(FAGNANI, 2016, p. 329).
Fagnani, em carta aberta, expõe que o governo instituído pós-golpe contra a
presidenta, também vinha tomando atitudes arbitrárias e que, somente com a pressão
e atuação dos movimentos sociais, seus desmandos e irresponsabilidades com as
políticas públicas se amenizaram.
Observamos, por meio da limitação, dos cortes e da falta de compromisso do
governo com questões de extrema importância para as políticas públicas, como o
cumprimento das metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação (PNE),
principalmente a obrigatoriedade e efetivação para a educação entre os 4 e 17 anos
de idade e a valorização do magistério da educação básica, como política obrigatória,
passa por um retrocesso em âmbito nacional.
Em seus mandos e desmandos, o vice-presidente, ao assumir o cargo de
presidente, toma como primeira medida a exoneração de 31 assessores técnicos, 23
deles ligados à Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e
Inclusão (Secadi) e mais oito da Secretaria Executiva da pasta, o que afetou de
imediato as atividades do Fórum Nacional da Educação (FNE) e, também, a
participação social nas políticas educacionais e de monitoramento participativo da
implementação do Plano Nacional de Educação (FARIA, 2016).
Analisando os acontecimentos, o difícil momento político da história nacional, é
possível perceber que, diante de ações tão prejudiciais às políticas públicas, o futuro
da educação do País torna-se dúbio e as preocupações, vão se solidificando com a
proposta da implantação da BNCC e da MP nº 746/16 para o ensino médio.
Esse temor é sentido na elaboração e implementação da BNCC, uma vez que
vetaram a participação de importantes entidades de educação, como a Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), a Associação
Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (Anfope) e o Centro de
Estudos Educação e Sociedade (Cedes), entre outras entidades que, historicamente,
representam e articulam discussões sobre o tema. Além disso, referente aos
educadores da educação básica, poucos foram ouvidos e alguns tiveram sua
presença limitada.
33
Com essa análise do professor Freitas, é possível entender o que está por trás
de tudo isso, ou seja, o grande mercado da privatização da educação, que favorece
as empresas de avaliação, de formação docente, e principalmente as empresas de
materiais didáticos.
David Berliner, ex-presidente da Associação Americana de Pesquisa
Educacional (Aera), do estado do Arizona (Estados Unidos), em sua palestra A
desigualdade da educação norte-americana: Mudanças na governança e controle, nos
aponta que a escola pública, no Brasil, está caminhando para as “estratégias
conservadoras da direita para demonizar e privatizar nosso notável sistema público”
(KRAWCZYK, 2018, p. 56).
Ainda segundo Berliner (2018), a escola pública é o melhor sistema de
educação de um País, sendo o único sistema que garante a igualdade entre todos os
alunos.
O Brasil, assim como o seu país, Estados Unidos, tem uma escola pública muito
eficiente, oportunizando aos mais pobres educação. Contudo, assim como o governo
estadunidense, o brasileiro vem subsidiando as famílias mais privilegiadas,
contribuindo ainda mais para a desigualdade entre os que mais necessitam.
Berliner (2018), diz perceber que a educação no Brasil está caminhando para
o sistema privado, com isso excluindo os mais necessitados, como em seu país, e
observa que todo país que deseja o avanço para o seu povo deve investir em Políticas
Públicas, começando por uma educação igualitária para todos e não para uma minoria
(KRAWCZYK, 2018, p. 47).
Em debates sobre a nova versão da BNCC, apresentada pelo documento "A
travessia social", divulgado pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro, às
vésperas da votação do impedimento da presidenta da República no Senado, há uma
34
educação. Nas grandes capitais, prefeituras estão privatizando todo o ensino infantil,
algumas até, como experiência, o ensino fundamental básico.
A constituição da relação público-privada na promoção da educação não
representa um fato inédito e, por assim dizer, um movimento isolado. O que ocorre é
que a relação entre o público-privado se modificou ao longo do tempo.
O interesse dos grandes grupos econômicos, das grandes instituições
financeiras, na criação da BNCC, revela uma tentativa de incorporar a educação ao
domínio empresarial.
Essas indagações nos fazem remeter a obra de Paulo Freire, Pedagogia do
Oprimido, que, nesse período de tantas discussões, debates sobre a implantação da
BNCC, se faz presente. Como bem disse Freire: “Nenhuma ‘ordem’ opressora
suportaria que os oprimidos passassem a dizer: ‘Por que?’” (FREIRE, 2012, p. 83).
Ao analisar profundamente os caminhos da elaboração da BNCC, é preciso ter
presente a advertência de Paulo Freire. Como foi tratada, “por quem” foi pensada a
elaboração da Base Nacional Comum. Afinal, como bem disse:
De acordo com Sacristán (2013, p. 116) “tanto a riqueza como a pobreza são
seletivas. Elas estão associadas ao padrão de poder, de dominação e de
subordinação”.
A conjuntura mundial, voltada para a privatização, qualifica a escola como
inadequada para atender as exigências de uma sociedade capitalista. No entanto, a
crise da escola não deixa de ser o resultado da própria crise da sociedade capitalista:
em decorrência da de caráter planetário que vem desde os anos 1970.
Para Salvador (2010, p. 93), a crise não nasce da falta de mercado, mas surge
da valorização de capitais, como “resultado de um conjunto de elementos, que não
pode ser reduzida, a uma única causa como a superprodução ou subconsumo”.
41
De acordo com Frigotto, “a crise dos anos 70 têm na sua gênese, as estratégias
de superação na crise dos anos 30” (2000, p. 69). Segundo o autor, a “intervenção do
Estado na economia não era uma escolha, mas sim, uma imposição para a crise do
capitalismo dos anos 30, a mudança dos capitalistas em face do trabalho, à educação
básica e à qualificação, na crise dos anos 70/90, também não é uma escolha” ambas
as crises tiveram o mesmo propósito: solucionar tais dificuldades provocadas pela
própria crise do capitalismo.
Em meio aos novos e velhos contextos sociais, a novos e velhos projetos, a
realidade educacional continua a ser um problema real, principalmente no Brasil,
caracterizado pelos entraves e dilemas, em relação a educação básica, universal e
gratuita.
A realidade brasileira, como em outros países da América Latina ou do
continente Africano, faz levantar questões de extrema importância relacionadas com
a educação e a qualificação da força de trabalho. Sobre essa situação, Paiva (2017
p. 42) argumenta que “não há dúvida de que as transformações nas estruturas
produtivas e as mudanças tecnológicas colocam à educação novos problemas”.
Dessa forma, os temas como qualidade total invadem por completo o universo
escolar e mostram, de acordo com Frigotto (2000, p. 153), que a compreensão do
“capital depende de trabalhadores com capacidade de abstração e de trabalho em
equipe”.
Tais temas, que fazem parte do complexo universo escolar, vão exigir, também,
do trabalhador flexibilidade e níveis altos de formação para que atenda a tais
imposições do mercado capitalista, que procura justificar a exclusão e a desigualdade
como falta de preparação para a competitividade exigida pela crise, onde o “pobre, o
miserável”, paga o preço pela sua incompetência ou pelas suas opções pessoais e
coletivas.
Não faltam escolas, faltam escolas melhores, não faltam professores, faltam
professores mais qualificados; não faltam recursos para financiar as políticas
educacional, ao contrário, falta uma melhor distribuição dos recursos
existentes. Sendo assim, transformar a escola supõe um enorme desafio
gerencial: promover uma mudança substantiva nas práticas pedagógicas,
tornando-as mais eficientes; reestruturar o sistema para flexibilizar a oferta
educacional reformular o perfil dos professores, requalificando-os,
implementar uma ampla reforma curricular, etc. (SILVA; GENTILLI, 1996, p.
18)
Santomé, em sua obra Currículo escolar e justiça social, vai nos dizer que, para:
Para Sacristán (2013, p. 29), a reforma do currículo é uma tarefa árdua e decidir
o texto de um currículo requer intensa elaboração e pesquisa, levando em conta todo
o conhecimento cultural, social e político onde se está inserido.
Nesse sentido, analisando o contexto histórico, podemos perceber que
educadores, pesquisadores têm seguido com os esforços de seus precursores, de
reformas, no sentido de dar novas formas para escolas e currículos e com o objetivo
de inserir mudanças em cada momento da sociedade.
Isso não corresponde ao valor que hoje, sabemos que os currículos têm.
Entre as tradições curriculares, a tradição iluminista atribui à cultura o valor
de um ser nutriente para o ser humano, ou seja os conteúdos são os materiais
que fazem com que o ser humano se desenvolva até alcançar grande
plenitude. (SACRISTÁN, 2013, p. 31)
46
Para possibilitar uma reflexão mais consistente sobre o ensino médio, é preciso
que se conheça quem é, quantos são os alunos que o frequentam, bem como a escola
que lhes é oferecida.
Esse segmento da educação brasileira, ainda, provoca os debates mais
controversos da educação, quer seja pela sua peculiaridade, pelo seu processo nos
últimos 15 anos, ou pelas poucas oportunidades que são oferecidas aos jovens que
estão entre 15 e 19 anos.
A realidade que temos hoje, do ensino médio, na maior parte dos estados
brasileiros, é de dois tipos de jovens estudantes que estão no ensino médio. O jovem
que estuda durante o dia, não trabalha, que representa um percentual de 6,5 de
jovens, totalizando 2.542.833, de acordo com o IBGE e um segundo grupo, o de
jovens que estão inseridos no ensino médio e estuda à noite. Estes, em sua maioria,
estão inseridos no mercado de trabalho ou à procura de uma colocação no mercado,
totalizando, de acordo com o IBGE (2013), um percentual de 3,2, que representa
1.252.765, sem a devida qualificação, e com jornadas de 8h diárias ou mais, sendo
que muitos trabalham na informalidade.
Esse panorama do ensino médio noturno constata que eles assim estão por
extrema necessidade de sobrevivência. Essa condição de aluno-trabalhador, talvez,
seja a característica mais forte dos alunos do ensino médio noturno. A grande maioria
precisa ajudar no sustento da família, completar o orçamento familiar e muitos vivem
só com a mãe ou são criados pela vó, ajudando na manutenção da casa.
Segundo Pucci (1995, p. 31), a
embora seja, naturalmente, parte do currículo das escolas. No entanto, sua adoção
tem como consequência que os currículos de todas as escolas sejam similaridades
no que diz respeito às aprendizagens esperadas em cada fase escolar em âmbito
nacional. Contudo, sabe se que as realidades dos nossos alunos e estados são muito
divergentes, assim como também a situação de nossas escolas públicas.
A definição da referida base deve criar uma linguagem de expressão dos fatos
pedagógicos que precisam ser também parte inegociável do currículo dos cursos de
formação inicial e continuada dos professores de educação básica, da preparação de
estratégias pedagógicas, de materiais de apoio ao ensino, da organização de
atividades didáticas, livros e até da organização de sítios na internet, onde o
desenvolvimento de tecnologias de ensino possa ser compartilhado. Finalmente, a
Base Nacional Comum deve emanar a matriz de especificação das avaliações
nacionais.
Em um segundo momento, ela precisa considerar as muitas habilidades não
cognitivas que já se demonstram também importantes para a vida, a convivência
enquanto ser atuante e participativo do processo de desenvolvimento do aluno.
São habilidades como: responsabilidade, disciplina, abertura a novas
experiências, capacidade de trabalhar em grupos, respeito às diferenças, capacidade
de enfrentar e resolver problemas. Ou seja, habilidades que podem ser adquiridas na
escola e, portanto, fazer parte do currículo e da BNCC, se o debate assim o indicar.
Cabe registrar que, embora nada do que é necessário para a vida dos
estudantes deve ser estranho à escola, ela não pode se ocupar de todas as
capacidades que os estudantes precisam para o seu desenvolvimento intelectual e
humano. É notório que outras instâncias também interferem na formação de visão de
mundo e dos valores de cada criança ou jovem que está se desenvolvendo.
A escola precisa ter condições para desempenhar seu papel na garantia do
direito à educação de seus estudantes. São condições essenciais: infraestrutura,
pessoal e pedagógica.
O sistema de ensino básico brasileiro tem grandes dificuldades nessas
dimensões e, portanto, a solução dos graves problemas educacionais nacionais
exigem ações concomitantes nas três dimensões referidas, ainda que com ritmos e
ênfases apropriados à história e especificidade de cada sistema de ensino.
54
Seja por bem ou por mal, o fato é que o ensino aprendizagem e seus
respectivos agentes destinatários – professores e alunos – tornaram-se mais
orientados por um controle externo, uma vez que este determinou a
organização da totalidade do ensino por meio do estabelecimento de uma
ordem sequenciada. (SACRISTÁN, 2013, p. 18)
55
século XX, ou seja, que contivesse as promessas e expectativas para o século XXI
existentes no Relatório Delors de 1998.7
A concepção de formação geral, presente no ensino médio regular, a partir do
decreto nº 2.208 que retirou a possibilidade de profissionalização nessa etapa de
ensino, admitindo-a, somente em concomitância, ou após sua conclusão, foi trazida
como uma tentativa de adequação da oferta educativa no sentido de responder às
exigências que se apresentavam para a educação naquele final de século, a partir das
mudanças ocorridas na organização do trabalho que reforçavam a educação geral e
a noção de educação para toda a vida.
Por tais razões, o currículo do ensino médio também foi modificado com a
introdução de novas matrizes curriculares centradas na noção de competências e no
desenvolvimento de habilidades. Contudo, a retirada da oferta de ensino técnico
profissionalizante, nos moldes oferecidos antes de 1997, considerou outros fatores,
tais como: a necessidade de se responder à oferta do ensino médio para uma
demanda crescente em razão da expansão do ensino fundamental e das políticas de
ajustes de fluxo, que resultaram em aumento significativo dos concluintes do ensino
fundamental.
Para se desenvolver estruturas de atendimento capazes de responder à
crescente demanda, a opção pelo ensino médio de caráter geral era, sem dúvida, a
melhor, sob o ponto de vista econômico (no sentido de ser menos onerosa) que os
governos estaduais, obrigados pelo atendimento dessa etapa, poderiam fazer naquele
momento.
A reforma apresentada pelo decreto nº 2.208/1997 foi duramente criticada por
setores organizados da sociedade civil e nos meios acadêmicos, culminando na
edição do decreto nº 5.154/2004, já em outro contexto político no Brasil, em que Lula
era presidente e representava interesses diferentes daqueles que promoveram tal
reforma.
7 O relatório da Unesco ficou conhecido como Relatório Jacques Delors, por ter sido organizado por
esse político francês. Nesse documento estão sintetizados os resultados dos trabalhos realizados pela
Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. Os PCNs foram elaborados por vários
educadores, os quais tiveram a assessoria do educador espanhol César Coll. Sua elaboração atendeu
o artigo da Constituição que prevê o estabelecimento de conteúdos mínimos para a educação. Após
impresso, foram distribuídos em diferentes estados e municípios brasileiros, com o objetivo de subsidiar
e orientar a revisão curricular, a formação inicial e continuada dos professores, a produção de livros
didáticos, a elaboração dos projetos educativos e a avaliação.
58
O modelo atual do ensino médio tem sido objeto de muitas críticas, porém o
plano de mudança que está sendo colocado, também, não vem de acordo com as
necessidades da atualidade. Sabemos que o ensino médio deve ser um
prosseguimento do ensino básico, fundamental, Portanto, ele não visa somente a
preparação para o trabalho. Além disso, precisamos ressaltar que o ensino médio
público não é o mesmo para as classes mais elitizadas.
Desse modo, é preciso pensar em um ensino médio como um direito de todos
e para todos com uma proposta curricular baseada em princípios centrais, tais como:
a escola que aprende, o currículo como espaço de cultura, as competências como
eixo de aprendizagem, a prioridade da competência de leitura e de escrita, a
articulação das competências para aprender e a contextualização no mundo do
trabalho.
De acordo com Sacristán (2013, p. 112), devemos “pensar em Políticas
Públicas, Políticas Sociais como um instrumento para cobrir as necessidades e as
carências básicas”.
A escola é um ambiente dinâmico e democrático, sua função, enquanto local
de aprendizagem, é lutar para que esse espaço continue a ser um espaço de lutas e
diálogos democráticos para o bem comum.
62
A escola deve ser pensada enquanto um local de criação. Ou seja, ela não
pode ser mínima, excludente e fechada.
professor Antônio Nóvoa. O autor traz para o foco a discussão sobre a qualificação
profissional, o desafio dos profissionais da área escolar de manter-se atualizados
sobre as novas metodologias de ensino, o desenvolvimento a práticas reflexivas e
diferenciadas.
As reformas educacionais, promovidas no final do século XX, preocuparam-se
em manter, em evidência, algo que vem de séculos passados, associando a educação
à formação necessária. Em outras palavras, somente por meio da educação formal e
de suas propostas curriculares é que o sistema produtivo mantém sua estreita relação
com as estruturas sociais vigentes, ou como afirmou Apple (1999), é através dela que
se constrói a consciência coletiva.
Nessa concepção de sociedade, quem tem educação possui competência para
trabalhar e, portanto, tem assegurada sua posição na sociedade. A educação formal
se configura, aparentemente, como uma exigência fundamental para a sobrevivência,
e é validada, historicamente, através de políticas e discursos que promovam seus
fundamentos teórico-pedagógicos. Portanto, o papel que o currículo oficial
desempenha é de extrema importância para garantir a inserção dos significados
simbólicos dos processos formativos, em cada comunidade educativa.
Dessa maneira, a educação passou a ostentar uma bandeira de destaque no
contexto das lutas democráticas no Brasil. Tanto é que uma nova redação foi dada à
lei n° 9394/1996, tornando dever do Estado a universalização do ensino médio
gratuito.
Embora essa universalização represente uma conquista importante para toda
a sociedade brasileira, através da garantia de mais direito à educação gratuita, por
outro lado, é necessário questionar o que isso significa em termos de conquistas reais
para a população.
A educação, enquanto parte da formação cidadã e da consolidação do sistema
social capitalista, não é necessária somente para o desenvolvimento pessoal, ela se
constitui como fundamento indispensável à lógica das relações sociais, sobretudo ao
trabalho produtivo. Ainda sobre a existência de uma cultura híbrida na educação
brasileira, Chizzotti e Ponce (2012) apontam que, na origem histórica dos sistemas
educacionais, podemos encontrar a construção de duas tradições.
A primeira configura a educação como um sistema fechado, o modelo
republicano, no qual cabe ao Estado financiar e regular o sistema de ensino,
desenvolvido principalmente em países como a França, Alemanha, Holanda e Suíça.
64
Como já foi analisado no capítulo anterior, o ensino médio, apesar dos avanços
que alcançou a partir de 1980, continua a ser um segmento da educação que vem
sofrendo com as políticas públicas paliativas, de forma expressiva, com marcas
próprias que perfilaram movimentos, lutas, avanços e recuos na construção
democrática do Estado de direito,
A constituição de 1988, em seu texto, expressa positivamente a década de
1980 nessa processualidade, contudo, na década de 1990, vai se instaurar no Brasil
o projeto neoliberal e o início de vendas do patrimônio público.
Não pode ser negado que a educação, mais precisamente o ensino médio, teve
um avanço significativo no período de 2003 a 2014, período este que houve um grande
avanço nas políticas sociais e que permitiu, aos jovens brasileiros, o acesso ao ensino
médio e superior.
Ao ser anunciada e publicada a medida provisória n. 746, de 22 de setembro
de 2016, essa notícia surpreendeu educadores e proporcionou, ao ministro em
exercício, Mendonça Filho, alguns intelectuais representantes do pensamento
empresarial na educação, como a professora Guiomar Namo de Mello, que
representava o Grupo Civita, e o diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton
Senna, Mozart Neves Ramos, um lugar de destaque na mídia nacional – é preciso
destacar a forma autoritária que se revela nesse ato.
É preciso lembrar que a medida provisória só se aplica a situações de
emergência nas quais o executivo tem a prerrogativa de tomar uma decisão, sob a
condição de que esta seja afirmada ou rejeitada, no todo ou em parte, mediante a sua
conversão em projeto de lei, ou mesmo não sendo apreciada pelo Congresso Nacional
no prazo regimentalmente definido para tais casos.
O ensino médio, antes da MP. 746/16, possuía uma legislação completa e
atual, de acordo com a LDB 9394/96, em seu conteúdo original, aprovado em 1996,
com as revisões posteriores, dentre as quais a que incorpora a integração da
67
Contudo a reforma do ensino médio vem na contramão do que Morin nos diz
ser necessário para viver em comunhão com as mudanças aligeiradas, com a
humanidade em constante transformação.
68
Art. 36. O currículo do Ensino Médio será composto, pela Base Nacional
Comum Curricular e por itinerários formativos específicos, a serem definidos
70
Junto com a nova “reforma” com a “flexibilização”, outro ponto que também
deve ser questionado é quanto à falta de professores(as) para alguns dos
componentes curriculares da base nacional. Nesse caso, os sistemas de ensino
podem optar por não oferecer os “itinerários formativos” que correspondam às áreas
de maior carência de docentes devidamente habilitados(as) para o exercício
profissional. Como consequência, o ensino público pode ser levado a priorizar a
“formação técnica e profissional” na medida em que, para atuar nesta área, está
autorizada a contratação de “profissionais com notório saber”.
Os critérios para as escolhas formais dos educadores com notório saber devem
ser frutos de regulamentação e total transparência para o segmento da educação
básica – ensino médio.
71
Nesse contexto, é que deve ser repensada “a reforma do ensino médio”, que é
o pivô central de diversos grupos ligados à educação e que tem atraído muitas críticas.
A “reforma”, como foi posta até o momento, é um termo ambicioso. Os
questionamentos em cima dela levaram a sociedade a várias indagações que até o
momento não obtiveram uma resposta clara:
a escola não é para estimular o senso crítico?
deve ser apenas para “preparar” os jovens para o mercado de trabalho?
quais as proposta para garantir a infraestrutura das escolas?
quais as ações para reduzir a desigualdade educacional?
Nesse contexto, a escola é vista como um aparelho que impede o domínio do
Estado e, portanto, é através dela que o governo procura desestimular toda ação que
leve ao pensamento crítico, a fazer valer os direitos, atingindo a toda sociedade.
Gramsci, em uma de suas obras Concepção dialética da história, o autor vai
dizer que o estado “desempenha, assim, o papel de instrumento coercitivo e alienante
das classes subalternas, que acabam internalizando as visões de mundo da classe
dirigente e reproduzindo-as nas suas relações” (GRAMSCI, 2001, p.237).
O autor explica que, ao analisar os aparelhos de domínios que são
representados pelo estado, “de certa forma, a ideologia teria um papel educativo,
tendo a finalidade de orientar as ações dos indivíduos, assim como torná-los aptos
para o mercado de trabalho e a vida em sociedade”, que precisam conter a força
qualquer manifestação (GRAMSCI, 2001, p. 237).
Com uma proposta duvidosa, sem haver um amplo debate com a sociedade,
limitando o direito de associações científicas, acadêmicas, estudantes professores e
toda a população, é encaminhada para análise e votação, através da criação da lei
13.415/17, retirando do currículo a Filosofia e a Sociologia, com objetivos claros de
reduzir a sensibilidade dos jovens do EM público. Desse modo, impedindo esses
alunos de fazerem uma leitura mais crítica do mundo, permanecendo como
obrigatoriedade somente, Português, Matemática e Língua Inglesa ou uma outra
Língua que pode ser o Espanhol.
No texto, elaborado para a BNCC, a competência é definida como a
mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas,
cognitivas e sócio emocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas
da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho.
75
Multiletramentos, Sociedades,
Culturas e Espaço/Tempo
Multiletramentos,
Multiletramentos, Ciências, Meio
Indivíduos, Ambiente e
Identidades e educação
Diversidades
Multiletramentos, Estado,
Política e Trabalho
econômico, social,
ambiental e cultural.
§ 2o A Base Nacional
Comum Curricular
referente ao ensino
médio incluirá
obrigatoriamente
estudos e práticas de
educação física, arte,
sociologia e filosofia.
§ 3o O ensino da
língua portuguesa e
da matemática será
obrigatório nos três
anos do ensino
médio, assegurada
às comunidades
indígenas, também, a
utilização das
respectivas línguas
maternas. (Incluído
pela Lei nº 13.415, de
2017).
§ 4º Os currículos do
ensino médio
incluirão,
obrigatoriamente,
estudo da língua
inglesa e poderão
ofertar outras línguas
estrangeiras, em
caráter optativo,
preferencialmente o
espanhol, de acordo
com a disponibilidade
de oferta, locais e
horários definidos
pelos sistemas de
ensino. (Incluído pela
Lei nº 13.415, de
2017).
§ 5º A carga horária
destinada ao
cumprimento da
Base Nacional
Comum Curricular
não poderá ser
superior a mil e
oitocentas horas do
total da carga horária
do ensino médio, de
acordo com a
definição dos
sistemas de ensino.
§ 6º A União
estabelecerá os
padrões de
desempenho
esperados para o
ensino médio, que
86
ensino e em cada
estabelecimento
escolar, por uma
parte diversificada,
exigida pelas
características
regionais e locais da
sociedade, da
cultura, da economia
e dos educandos.
O currículo do ensino
médio observará o
disposto na Seção I
deste Capítulo e as
seguintes diretrizes:
I - destacará a educação
tecnológica básica, a . O currículo do
O currículo do
compreensão do ensino médio será
ensino médio será
significado da ciência, composto pela Base
composto pela
das letras e das artes; o Nacional Comum
Base Nacional
processo histórico de Curricular e por
Comum Curricular e
transformação da itinerários formativos,
por itinerários
sociedade e da cultura; a que deverão ser
formativos
língua portuguesa como organizados por meio
específicos, a
instrumento de da oferta de
serem definidos
comunicação, acesso ao diferentes arranjos
pelos sistemas de
conhecimento e curriculares,
ensino, com ênfase
exercício da cidadania; conforme a
nas seguintes áreas
relevância para o
de conhecimento
II - adotará metodologias contexto local e a
ou de atuação
Art. 36 de ensino e de avaliação possibilidade dos
profissional:
que estimulem a sistemas de ensino, a
I - linguagens;
iniciativa dos estudantes saber:
II – matemática;
escolhida pela I - linguagens e suas
III - ciências da
comunidade escolar, e tecnologias;
natureza;
uma segunda, em II - matemática e
IV - ciências
caráter optativo, dentro suas tecnologias;
humanas;
das disponibilidades da III - ciências da
V - formação
instituição. natureza e suas
técnica e
III - será incluída uma tecnologias;
profissional.
língua estrangeira IV - ciências
(Redação dada
moderna, como humanas e sociais
pela Medida
disciplina obrigatória, aplicadas;
Provisória nº 746,
IV – serão incluídas a V - formação técnica
de 2016).
Filosofia e a Sociologia e profissional.
como disciplinas
obrigatórias em todas as
séries do ensino médio.
(Incluído pela Lei nº
11.684, de 2008).
A critério dos
A organização das sistemas de ensino,
áreas de que trata o poderá ser composto
caput e das itinerário formativo
respectivas integrado, que se
competências, traduz na
O parágrafo 3º foi
habilidades e composição de
modificado o que tinha:
expectativas de componentes
O Ensino Médio terão
aprendizagem, curriculares da Base
Art. 36 Equivalência legal e
definidas na Base Nacional Comum
habilitarão ao
Nacional Comum Curricular - BNCC e
prosseguimento de
Curricular, será dos itinerários
estudos.
feita de acordo com formativos,
critérios considerando os
estabelecidos em incisos I a V do caput.
cada sistema de (Redação dada pela
ensino. Lei nº 13.415, de
2017).
§ 5º. Os sistemas de
ensino, mediante
disponibilidade de
vagas na rede,
possibilitarão ao
aluno concluinte do
ensino médio cursar
mais um itinerário
formativo de que trata
o caput. (Incluído
pela Lei nº 13.415, de
2017).
§ 6º A critério dos
Art. 36
sistemas de ensino, a
oferta de formação
com ênfase técnica e
profissional
considerará:
I - a inclusão de
vivências práticas de
trabalho no setor
produtivo ou em
ambientes de
simulação,
estabelecendo
parcerias e fazendo
89
uso, quando
aplicável, de
instrumentos
estabelecidos pela
legislação sobre
aprendizagem
profissional;
II - a possibilidade de
concessão de
certificados
intermediários de
qualificação para o
trabalho, quando a
formação for
estruturada e
organizada em
etapas com
terminalidade.
(Incluído pela Lei nº
13.415, de 2017).
§ 7º A oferta de
formações
experimentais
relacionadas ao
inciso V do caput, em
áreas que não
constem do Catálogo
Nacional dos Cursos
Técnicos, dependerá,
para sua
continuidade, do
reconhecimento pelo
respectivo Conselho
Estadual de
Educação, no prazo
de três anos, e da
inserção no Catálogo
Nacional dos Cursos
Técnicos, no prazo
de cinco anos,
contados da data de
oferta inicial da
formação. (Incluído
pela Lei nº 13.415, de
2017).
§ 8º A oferta de
formação técnica e
profissional a que se
refere o inciso V do
caput, realizada na
própria instituição ou
em parceria com
outras instituições,
deverá ser aprovada
previamente pelo
Conselho Estadual
de Educação,
homologada pelo
Secretário Estadual
de Educação e
90
certificada pelos
sistemas de ensino.
(Incluído pela Lei nº
13.415, de 2017).
§ 9º As instituições de
ensino emitirão
certificado com
validade nacional,
que habilitará o
concluinte do ensino
médio ao
prosseguimento dos
estudos em nível
superior ou em outros
cursos ou formações
para os quais a
conclusão do ensino
médio seja etapa
obrigatória (Incluído
pela Lei nº 13.415, de
2017).
§ 10º Além das
formas de
organização
previstas no art. 23, o
ensino médio poderá
ser organizado em
módulos e adotar o
sistema de créditos
com terminalidade
específica. (Incluído
pela Lei nº 13.415, de
2017).
§ 11º Para efeito de
cumprimento das
exigências
curriculares do
ensino médio, os
sistemas de ensino
poderão reconhecer
competências e
firmar convênios com
instituições de
educação a distância
com notório
reconhecimento,
mediante as
seguintes formas de
comprovação:
I -
demonstração
prática;
II -
experiência de
trabalho
supervisionado ou
outra experiência
adquirida fora do
ambiente escolar;
91
nos três anos, é “um arremedo de formação”, que “não contempla nem a formação
básica, nem a profissional”. É importante analisar que, às novas mudanças, não vem
de acordo com as necessidades dos alunos, que as mudanças implantadas, são
novas medidas paliativas para a educação nacional.
Paglia vai nos dizer que o perfil do profissional de educação do século XXI deve
ser:
De acordo com Schön, “ele enfatiza uma nova abordagem de formação que se
apoia no conceito da reflexão”.
Schön descreve uma epistemologia prática de um profissional reflexivo,
considerando duas diferentes categorias:
Uma das principais mudanças propostas pelo MEC no que diz respeito à
formação inicial do professor é substituir as 400 h de estágio obrigatório dos
estudantes de licenciatura por uma residência pedagógica, que teria início já no
primeiro semestre da licenciatura, procurando seguir os moldes da residência médica,
cujo estudante de licenciatura atue diretamente na prática, supervisionado de perto
tanto pelo orientador universitário quanto pelo professor da escola.
Segundo o MEC "Cada centro, núcleo, faculdade ou outra instituição
educacional formadora deverá ter associada ou conveniada uma ou mais escolas de
educação básica para as atividades de residência pedagógica para todos os alunos
de licenciatura".
Outra proposta de mudança no documento do MEC é tornar o Enade
obrigatório para que qualquer estudante de licenciatura tenha permissão para atuar
como professor em uma escola de ensino básico ou possa disputar vagas de professor
em escola pública. "Nessa proposta, todos os alunos podem fazer o exame durante a
graduação ou depois dela, se habilitar à docência no caso de aprovação", explica o
MEC.
A formação continuada é de responsabilidade das secretarias. Na versão
preliminar da base, vemos a formação inicial vinculada às instituições de ensino
97
Embora pareça, a pergunta não é nada simples, pois os conflitos acerca do que
deve ser ensinado ou não são imensos e profundos. Os debates em torno da questão
da criação ou não da Base Nacional Curricular não pode ser tratada apenas como
uma questão educacional, mas de uma questão política, ideológica e estritamente
comercial.
De acordo com Apple, o currículo e as questões educacionais mais genéricas
sempre estiveram atrelados à história dos conflitos de classe, raça, sexo e religião em
todos os países (APPLE, 1982, p. 39).
Na história da educação no Brasil, sempre foi presente, entre os diferentes
segmentos, a divergência de ideias, e a elaboração da BNCC, desde o seu início até
a sua versão final, vem gerando muitos conflitos sobre a necessidade ou não de um
currículo comum. Sobre a criação da BNCC não tem sido diferente, porque é preciso
que analisemos a extensão geográfica do nosso País. Afinal, um país que possuí uma
área de 8.514.876 km², o quinto maior do mundo em extensão territorial, com uma
grande diversidade cultural e com enormes problemas sociais, é inviável e difícil a
implantação de um currículo único para todo o território nacional, como na Inglaterra
de Margareth Thatcher, desde 1988.
Ao analisar a história da educação brasileira, é preciso concluir que é
necessário, de uma Base Nacional Comum, justamente enfrentar todas essas
diversidades e problemas sociais. Ainda, é preciso pensar como a BNCC foi
elaborada, construída, através de decreto-lei, como será desenvolvida para chegar ao
aluno, como alcançará o educador, o professor que é o fio condutor da efetiva
transformação em todo o processo de mudança no nosso sistema educacional.
Como o professor poderá colocar em prática, de forma plena um projeto tão
discutido se não participou da elaboração da BNCC, para conseguir desempenhar
com eficiência a sua função enquanto agente transformador junto aos seus alunos em
sala de aula, como objetivo principal?
Lino diz:
[...] expectativa média de vida era 40 anos, logo, a entrada na vida do trabalho
tinha que ser aos 14, 15. Hoje, a média é 80 anos, então a entrada na vida
adulta se faz mais tarde, inevitavelmente. Portanto, falar de uma formação
técnica ou tentar que, hoje, uma pessoa com 14 anos tenha uma relação com
o mundo do trabalho não faz nenhum sentido. (in PAIVA, 2017)
A primeira escola que abriu os portões para o nosso trabalho de campo é a E.E.
República do Equador: uma escola que tem um grande significado na nossa formação
enquanto educadora. Iniciamos em 1977 nossos estudos na unidade escolar logo que
foi recém-inaugurada. Nesse período, enquanto aluna da E.E. Republica do Equador,
com 12 anos, era a primeira escola de alvenaria do bairro. Antes, porém, as aulas
eram ministradas em uma escola que possuía somente duas salas de aula, com o
nome de Escola Estadual do Engenho Novo.
Comecei como aluna nessa escola e hoje faço parte do quadro de professores
desde o ano de 1997, ou seja, há 21 anos na mesma escola. Portanto sinto-me tocada
a apresentar a posição de todos os professores, suas opiniões, posições sobre a
possibilidade de uma possível Base Nacional Comum Curricular para o Ensino Médio.
A E. E. República do Equador fica na cidade de Barueri – Grande São Paulo e
trabalha com o ensino na modalidade “Ensino Médio” e “EJA”, situada na Rua Maria
Helena, 155, Bairro Vila Engenho Novo – CEP 06415-100 – Município Barueri – SP.
Possui 585 alunos matriculados em dois turnos de funcionamento, onde funcionam 17
106
salas de aulas com o EM regular e educação de jovens e adultos – EJA, com 14 alunos
de inclusão que foram inseridos ao processo de ensino aprendizagem regular.
Possui banheiros adequados a alunos com deficiência, dependência e vias
adequadas a alunos que necessitam, rede de abastecimento de água pública e
filtrada, energia elétrica pública.
A unidade escolar possui sala de leitura, pátio descoberto e coberto, quadra de
esportes coberta, sala de professores, sala de secretaria, sala de diretoria e
almoxarifado.
Na primeira parte da pesquisa, deixamos os professores bem à vontade e
percebemos que o número de profissionais do sexo feminino é muito maior que os do
sexo masculino, no total de 60% dos professores do sexo feminino.
A formação desses profissionais, em 80% dos participantes, ocorreu em
instituição de ensino superior privada, em diversas áreas da graduação: “História,
Matemática, Letras e Pedagogia”, sendo que a maioria está no magistério há mais de
vinte anos: 80% dos professores lecionam na rede estadual de ensino há mais de
vinte anos e estão na mesma unidade escolar há mais de cinco anos
vinte anos. Ou seja, 80% dos professores lecionam na rede estadual de ensino a mais
de vinte anos e estão na mesma unidade escolar a mais de cinco anos.
Abaixo seguem fotos da escola, de encontros com professores nos (HACs).
Figura 10: 1º Encontro com professores para HAC (hora de trabalho coletivo)
Fonte: Foto tirada pela autora.
Figura 11: 1º Encontro com professores para HAC (hora de trabalho coletivo)
Fonte: Foto tirada pela autora.
O estudo foi composto por 23 professores, sendo que destes fazem parte do
gênero feminino (14) professores e do gênero masculino (10) professores. Pode ser
observado que a idade dos professores varia entre 25 e 54 anos percebe.
60-64
9% 25-29
45-49 18%
9%
30-34
18%
40-44
28%
35-29
35-39 9%
9%
Questão1 – Você já leu algum material sobre a Base Nacional Comum Curricular, que
deverá nortear os currículos dos estados e municípios no País?
No Gráfico 2, durante nosso encontro com os professores, percebemos que,
na E.E. República do Equador, há professores que não leram nada a respeito da
BNCC, não tiveram a oportunidade de discutir a questão e, conforme levantamos as
discussões nas hora de trabalho coletivo (HACs), ficou claro a falta de participação
dos professores em assunto tão importantes quando se trata de políticas públicas.
111
sim ou não
E.E. Republica
de Equador
43%
E.E. Republica
de El Salvador
57%
Total
E.E. Republica de
Equador Discordo
Totalmente
13% E.E. Republica de El
E.E. Republica de
Salvador Concordo
Equador Discordo
Parcialmente
Parcialmente
31%
9%
E.E. Republica de
Equador Concordo E.E. Republica de El
Totalmente Salvador Concordo
4% Totalmente
13%
E.E. Republica de
Equador Concordo
Parcialmente
18%
E.E. Republica
E.E. Republica
E.E. Republica de El de El Salvador
de El Salvador
Salvador Discordo Discordo
Não Tem
Totalmente Parcialmente
Opinião
4% 4%
4%
Fonte: Elaborado pela autora.
E.E. Republica de
Equador Discordo
Totalmente
11%
E.E. Republica de
Equador Discordo
Parcialmente E.E. Republica de El
11% Salvador Concordo
Parcialmente
45%
E.E. Republica de
Equador Concordo
Parcialmente
22% E.E. Republica de El
Salvador Discordo
Parcialmente 11%
Fonte: Elaborado pela autora.
Questão 4 – Devemos lembrar que a Base Nacional Comum Curricular deverá ser
um documento de orientação com o que ensinar, ou seja, os conhecimentos e
habilidades essenciais para todos os alunos, como ensinar deve ficar a cargo de cada
rede de ensino e cada unidade escolar. Assim, o direito a um aprendizado de
qualidade para todos ficará garantido e as diversidades regionais e autonomia do
professor também. O que você acha do texto da BNCC?
De acordo com os professores na representação do Gráfico 4: nove
professores concordam parcialmente quando a BNCC, em seu texto, assegura que
todos os alunos terão a mesma oportunidade de aprender o que é fundamental para
o seu aprendizado, seis discordam parcialmente, seis discordam totalmente, um
concorda totalmente, e um não tem opinião.
114
E.E. Republica de
Equador Discordo
Concordo Parcialmente
Totalmente
11%
E.E. Republica de
Equador Discordo
E.E. Republica de El
Parcialmente
Salvador Concordo
11%
Parcialmente
45%
E.E. Republica de
Equador Concordo E.E. Republica de El
Parcialmente Salvador Discordo
22% Parcialmente
11%
E.E. Republica de
Equador Concordo E.E. Republica de El
Parcialmente Salvador Discordo
17% Totalmente
18%
E.E. Republica de
Equador Não Tem Total
Opinião
4% E.E. Republica de El
Salvador Concordo
Parcialmente
E.E. Republica de 31%
Equador Discordo
Totalmente
22%
E.E. Republica de El
Salvador Concordo
Totalmente
E.E. Republica de 5%
Equador Discordo
E.E. Parcialmente E.E. Republica de El
Republica de 13% Salvador Discordo
Equador Parcialmente
Concordo 13%
Totalmente
4% E.E. Republica de El E.E. Republica de El
Salvador Não Tem Salvador Discordo
Opinião Totalmente
4% 4%
Fonte: Elaborado pela autora.
Questão 8 – O MEC explica que a Base Nacional Comum Curricular foi elaborada
seguindo os Parâmetros Curriculares Nacionais e as Diretrizes Curriculares
Nacionais, porém alegam que a Base é mais específica, determinando com mais
clareza os objetivos de aprendizagem de cada ano escolar, pelo contato que você
teve em nossos encontros com o texto da BNCC, o que você acha?
Conforme a representação do Gráfico 9, quando perguntamos aos
entrevistados em HAC, o que você pensa enquanto professor sobre o texto da BNCC
que alega ter a Base mais especificidade, determinando com mais clareza os objetivos
de aprendizagem de cada ano escolar: oito professores concordam parcialmente, três
concordam totalmente, três discordam parcialmente, sete discordam totalmente e dois
não têm opinião.
118
Total
E.E. Republica de
E.E. Republica de E.E. Republica de El
Equador Discordo
Equador Discordo Salvador Concordo
Parcialmente
Totalmente Parcialmente
4%
26% 31%
E.E. Republica de
Equador Concordo
Totalmente
E.E. Republica de El
4%
Salvador Concordo
Totalmente
E.E. Republica de El 4%
Salvador Não Tem
Opinião E.E. Republica de
E.E. Republica de El
4% Equador Concordo
Salvador Discordo
Parcialmente
Totalmente
9%
18%
2. Informalmente, você ouviu falar sobre ela. O que chegou a vocês? Com que tipo
de crítica ou de elogio? De onde você ouviu? Dos jornais, da TV ou de conversa
nas sua escola?
3. Houve por parte da sua escola alguma reunião ou texto ou conversa formal sobre
a BNCC do ensino médio? Como foi ela? Foram distribuídos textos, foram
chamados especialistas ou o coordenador pedagógico fez alguma explanação,
seguida de discussão?
QUESTÕES REESCRITAS DO – P1
2. Informalmente, vovê ouviu falar sobre ela. O que chegou a vocês? Com que tipo
de crítica ou de elogio? De onde você ouviu? Dos jornais, da TV ou de conversa
nas sua escola?
R: Sim, informalmente sim, comecei a ver na TV em casa, e na TV nas progagandas
eram só elógios, como se fosse um projeto “Maravilho”, depois eu comecei a buscar
informações sobre o tema, mas quando via alguma entrevista na TV, artigo em jornal
ou revista, eu procurava extrair às informações, porque acho que é um assunto de
difícil entendimento.
123
3. Houve por parte da sua escola alguma reunião ou texto ou conversa formal sobre
a BNCC do ensino médio? Como foi ela? Foram distribuídos textos, foram
chamados especialistas ou o coordenador pedagógico fez alguma explanação,
seguida de discussão?
R: Não, no começo ninguém sabia, nem à escola, nem os professores, só muito tempo
depois é que o assunto saiu da TV e veio para às escolas. Creio que não tenho
informações suficientes para ajuda- lá na pesquisa, pois nada foi discutido com
profundidadena escola, ficamos um bom tempo sem coordenadora da, então não tive
acesso ao material. Na escola formalmente não houve nenhuma discussão sobre a
BNCC.
4. A partir da homologação da última versão BNCC, os sistemas de ensino deverão
estabelecer um cronograma de implantação. As escolas que já têm condições
de iniciar as mudanças propostas poderão iniciá-las. Como você analisa as
propostas para o ensino médio?
R: Ao meu ver as escolas públicas estão bem desassistidas, falta material, falta
espaços adequados para aulas diversificadas, como sala de informática, laboratórios,
etc... Então tem que realmente ter um apoio por parte dos governantes, não é só
querer implantar uma nova base curricular sem dar condições pra isso. Nem as
escolas, nem os professores e alunos, não estão preparados para essa implantação,
professores e alunos estão super desmotivados.
5. Em sua unidade escolar, está sendo possível começar a implantação da BNCC
para o segmento do Ensino Médio? Como?
R: É Como disse, não tem como implantar, na minha escola não tem condição de
implantar nada no momento, falta tudo, inclusive uma gestão competente, agora que
a chegou uma coordenadora. É importante ter uma base nacional comum, porém é
necessário lembrar que cada região tem sua própria realidade.
6. Como você analisa a autorização para o profissional de educação exercer a
função de professor com o (notório saber)? O que pode ser bom? O que pode
ser ruim?
R: Eu particularmente não concordo, creio que não será bom para os professores que
já estão na ativa e muito menos para os alunos, eu sei fazer bolo, mas não é por isso
que vou me meter em uma panificadora, todo mundo acha que sabe dar aula, acha
que pode ser professor, eu não concordo com isso.
124
QUESTÕES REESCRITAS DO – P2
2. Informalmente, você ouviu falar sobre ela. O que chegou a vocês? Com que tipo
de crítica ou de elogio? De onde você ouviu? Dos jornais, da TV ou de conversa
nas sua escola?
R: Sim, informalmente sim. Eu assim como as outras professoras, vimos muitas
propagandas em horário nobre, querendo dizer que a proposta da Reforma do Ensino
Médio é uma maravilha, só que nós sabemos, o que o que o governo quer mostrar
com essas propagandas é que, o que, nós professores fizemos até hoje não presta, é
jogar a população contra a escola, contra os professores. Então eu procurei me
informar um pouco para mostrar aos meus alunos que não é bem assim, do jeito que
está na televisão, nem estrutura física às escolas públicas possuem.
3. Houve por parte da sua escola alguma reunião ou texto ou conversa formal sobre
a BNCC do ensino médio? Como foi ela? Foram distribuídos textos, foram
chamados especialistas ou o coordenador pedagógico fez alguma explanação,
seguida de discussão?
R: Tivemos sim muitas conversas, primeiro informal, no campo das especulações.
Depois das propagandas começamos aqui na escola com uma conversa mais formal,
até mesmo porque nós, enquanto professores precisamos saber do que se tratava,
mas somente, se eu não estou enganada, somente depois de agosto é que realmente
o assunto foi se solidificando, e depois veio as informações nos (ATPCs) e textos, mas
mesmo assim, não foram em todos os ATPCs, achei um pouco superficial, mas nos
ATPCs, também é muita coisa, e além do mais é tudo projeto ainda.
125
QUESTÕES REESCRITAS DO – P3
1. Você teve a oportunidade de conhecer ou debater a BNCC (em qualquer das
últimas versões) para o ensino médio, formalmente em sua escola ou no
sindicato ou num curso na universidade?
Assinale uma ou mais as respostas abaixo
a) ( X ) Em casa, em meus estudos;
126
2. Informalmente, vovê ouviu falar sobre ela. O que chegou a vocês? Com que tipo
de crítica ou de elogio? De onde você ouviu? Dos jornais, da TV ou de conversa
nas sua escola?
R: Sim, se é que podemos chamar de informar, porque eu comecei a ouvir falar pela
TV, e às propagandas tinham como objetivo chamar mesmo a atenção da população,
eram muito diretas, procurando dizer a população que a nova BNCC, que não tem
nada de novo, porque nunca tivemos uma BNCC, tivemos sim a LDB 9394/16, e todos
nós sempre nós orientamos por ela, assim como os outros documentos que vieram
após a LDB. Então as propagandas queriam mostrar, a todos que a reforma do Ensino
Médio será uma maravilha para a educação, coisa de primeiro mundo. Eu ouvi, assisti,
li algumas coisas, mas sei que tudo que está sendo posto é “Lorota”.
3. Houve por parte da sua escola alguma reunião ou texto ou conversa formal sobre
a BNCC do ensino médio? Como foi ela? Foram distribuídos textos, foram
chamados especialistas ou o coordenador pedagógico fez alguma explanação,
seguida de discussão?
R: Tivemos sim muitas conversas, depois das propagandas começamos aqui na
escola, mas às informações eram muito desoncrontadas, porque ninguém sabe do
assunto com profundidade, e mais agora com um governo indeciso como esse, é
como minha colega disse, estamos no campo das especulações. O que é certo
mesmo, o que nós temos, nossa realidade é: Preparamos às aulas de acordo com às
orientações que foram nós dada ao logo do caminho, tiramos as nossas dúvidas, com
os amigos, nos (ATPCs), um procura auxiliar o outro e o trabalho vai seguindo, porque
nosso aluno precisa ter sua aula, e eu enquanto professora, procuro dar o melhor de
mim.
127
QUESTÕES REESCRITAS DO – P4
2. Informalmente, você ouviu falar sobre ela. O que chegou a vocês? Com que tipo
de crítica ou de elogio? De onde você ouviu? Dos jornais, da TV ou de conversa
nas sua escola?
R: Sim, na TV.
3. Houve por parte da sua escola alguma reunião ou texto ou conversa formal sobre
a BNCC do ensino médio? Como foi ela? Foram distribuídos textos, foram
chamados especialistas ou o coordenador pedagógico fez alguma explanação,
seguida de discussão?
R: Na nossa escola, tivemos reuniões com a coordenação, equipe de gestão e corpo
docente, foram apresentados alguns materiais – textos e apresentação em Power-
Point pela equipe gestora, porém sei que isso está sendo feito só na nossa escola,
porque a outra que eu trabalho até agora não fez o mesmo trabalho, ficamos sem
coordenador, a escola está sem espaço até para a sala de professores, então acredito
que às informações varia de escola para escola.
5. Houve por parte da sua escola alguma reunião ou texto ou conversa formal sobre
a BNCC do ensino médio? Como foi ela? Foram distribuídos textos, foram
chamados especialistas ou o coordenador pedagógico fez alguma explanação,
seguida de discussão?
R: Na nossa escola, tivemos reuniões com a coordenação, equipe de gestão e corpo
docente, foram apresentados alguns materiais – textos e apresentação em Powerpoint
pela equipe gestora, porém sei que isso está sendo feito só na nossa escola, porque
129
a outra que eu trabalho até agora não fez o mesmo trabalho, ficamos sem
coordenador, a escola está sem espaço até para a sala de professores, então acredito
que às informações varia de escola para escola.
QUESTÕES REESCRITAS DO – P5
2. Informalmente, você ouviu falar sobre ela. O que chegou a vocês? Com que tipo
de crítica ou de elogio? De onde você ouviu? Dos jornais, da TV ou de conversa
nas sua escola?
R: Sim, na TV também e através do curso preparátorio que fiz, um curso alternativo
antes mesmo de lançar o novo currículo paulistano que chamava “Elogios ou
Melhorias”?
130
3. Houve por parte da sua escola alguma reunião ou texto ou conversa formal sobre
a BNCC do ensino médio? Como foi ela? Foram distribuídos textos, foram
chamados especialistas ou o coordenador pedagógico fez alguma explanação,
seguida de discussão?
R: Através das (ATPCs) com os coordenadores pedagógicos e com apresentações,
foram bons e bem redigidos, para que não ficassemos tão fora também de tudo o que
está acontecendo na educação, é muito importante.
5. Houve por parte da sua escola alguma reunião ou texto ou conversa formal sobre
a BNCC do ensino médio? Como foi ela? Foram distribuídos textos, foram
chamados especialistas ou o coordenador pedagógico fez alguma explanação,
seguida de discussão?
R: Na nossa escola, tivemos reuniões com a coordenação, equipe de gestão e corpo
docente, foram apresentados alguns materiais – textos e apresentação em Powerpoint
pela equipe gestora, porém sei que isso está sendo feito só na nossa escola, porque
a outra que eu trabalho até agora não fez o mesmo trabalho, ficamos sem
coordenador, a escola está sem espaço até para a sala de professores, então acredito
que às informações varia de escola para escola.
QUESTÕES REESCRITAS DO – P6
2. Informalmente você ouviu falar sobre ela. O que chegou a vocês? Com que tipo
de crítica ou de elogio? De onde você ouviu? Dos jornais, da TV ou de conversa
nas sua escola?
R: Sim, na TV também e através do curso preparátorio que fiz, um curso alternativo
antes mesmo de lançar o novo currículo paulistano que chamava “Elogios ou
Melhorias”?
4. Houve por parte da sua escola alguma reunião ou texto ou conversa formal sobre
a BNCC do ensino médio? Como foi ela? Foram distribuídos textos, foram
chamados especialistas ou o coordenador pedagógico fez alguma explanação,
seguida de discussão?
R: Sim, a nossa coordenadora fez um trabalho na aula de trabalho pedagógico coletivo
(APCs), e você também veio aqui falar com a gente (risos...), foram ótimos e bem
redígicos.
132
dia, hora e local da realização dos encontros; estimativa do tempo de duração dos
encontros, procurando não atrapalhar o andamento das escolas.
Dessa forma três professores de cada escola aceitaram participar da pesquisa
com a autorização da direção de sua escola.
Ainda nos apoiando nos trabalhos da professora Gatti (2005), que nos ajuda a
compreender a composição do grupo focal, que deve se basear em características
homogêneas dos participantes, mas com variações suficientes de opiniões, de visão
diferente entre os participantes para que seja possível estimular as discussões, o perfil
dos participantes, de modo geral, foi caracterizado da seguinte forma:
Relativo aos dados pessoais: todas os participantes do sexo feminino, entre 25
– 45 anos, professoras da rede estadual de São Paulo, em exercício no
segmento do ensino médio, todas com formação universitária em Matemática,
Português, Biologia e História.
Com relação ao perfil profissional das professoras da rede estadual, cinco
professoras são concursadas e uma está no magistério há quatro anos, mas
ainda não prestou o concurso. Todas acumulam cargo na rede municipal e
estadual de Barueri, o tempo de magistério varia entre 4 a 24 anos de trabalho.
A realização dos dois encontros dos grupos focais foram realizados na própria
unidade escolar, em uma sala disponibilizada pelas coordenadoras da escola.
O início do diálogo com as professoras dos dois grupos foi muito tranquilo, com
boa receptividade. O trabalho de mediação dos grupos foi realizado pela própria
pesquisadora, que assumiu a função de coordenar o processo de discussão,
procurando oferecer as devidas informações para o bom andamento dos trabalhos.
Nesse momento na função de mediadora, coordenadora e pesquisadora,
procuramos não exercer um papel diretivo, ficando mais centrada no processo de
discussão, procurando fazer a função com muita tranquilidade, com bom senso, para
conduzir os trabalhos, e assim, garantindo a espontaneidade das participantes para
que não houvesse equívocos na direção do grupo focal, de forma que a discussão
girasse em torno de suas opiniões, e não daquelas expressas pelos participantes.
Ao iniciar os trabalhos, no primeiro momento, com as três professoras de cada
escola, a apresentação do objetivo do grupo, a importância do grupo focal para a
pesquisa, explicando as questões centrais, nas quais a discussão iria se concentrar
em torno do conhecimento e implantação da BNCC.
135
1º Encontro
1. Você teve a oportunidade de conhecer ou debater a BNCC (em qualquer das
últimas versões) para o ensino médio, formalmente em sua escola ou no
sindicato ou num curso na universidade?
Assinale uma ou mais as respostas abaixo
a) ( ) Em casa, em meus estudos;
b) ( ) Em reuniões pedagógicas em minha escola;
c) ( ) Em sindicatos;
d) ( ) Em cursos em universidades ou cursos extras;
e) ( ) Não tive oportunidade de acessar o material.
136
2. Informalmente você ouviu falar sobre ela. O que chegou a vocês? Com que tipo
de crítica ou de elogio? De onde você ouviu? Dos jornais, da TV ou de conversa
nas sua escola?
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que fazeres se
encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando,
reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me
indago. Pesquiso para constatar, contatando intervenho, intervindo educo e
me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou
anuncia a novidade. (FREIRE, 1999, p. 32)
139
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escola sem conteúdos culturais é uma ficção, uma proposta vazia, irreal e
irresponsável... O conteúdo cultural é a condição lógica do ensino e o
currículo é a estrutura dessa cultura. (SACRISTAN, 2013, p. 10)
desinteressantes aos alunos a fim de permitir que os alunos optem por áreas com que
se identifiquem para que, assim, possam aprofundar seus estudos.
É objetivo também da reforma do EM a proposta de incluir a formação técnica,
proporcionando ao estudante a conclusão concomitante dessa etapa, de forma a
facilitar o seu ingresso no mercado de trabalho, segundo os grupos que idealizaram a
BNCC.
Como toda mudança trás divergências, a BNCC, sua elaboração e discussões
não podem deixar de ocorrer. Também foi motivo de muitos movimentos políticos para
a aprovação da legislação que definiu parte das diretrizes que deveriam passar a ser
seguidas para efetivação da reforma do EM.
Cada lado, ou seja, os grupos pró-reforma e o antirreforma apresentaram seus
argumentos de defesa. Contudo, a partir das leituras disponíveis sobre o assunto, há
diversas questões que precisam ser consideradas antes que se chegue a alguma
conclusão se a reforma é viável ou impraticável.
É preciso salientar também que o texto da lei que trata da reforma é bastante
vago e impreciso, especialmente no que diz respeito a um possível cronograma para
realização das etapas para a sua implantação.
Porém, mesmo que seja apresentada uma previsão, ela também costuma ser
genérica e imprecisa em termos, como, por exemplo: “meados de”, “possivelmente”
ou “ainda” por ser “definidos”, o que são recorrentes e dão a ideia de que o texto
procura deixar margem para possíveis atrasos que possam ocorrer com algumas
definições para a sua implantação.
Além disso, as explicações para defender a reforma do governo são vagas e
os críticos as usam como argumento contra a proposta, alegando que o governo não
teve e não têm clareza do que se pretende fazer para por em prática com eficiência.
Enquanto algumas entidades da sociedade, como Associação Nacional de
Política e Administração da Educação (Anpae), Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) e Associação Nacional de Pesquisa em
Financiamento da Educação (Fineduca), se manifestam com argumentações diversas
no sentido de apontar a necessidade de ampliação das discussões acerca da
implantação da Base Nacional Comum Curricular, essas mesmas entidades procuram
sensibilizar a sociedade e o MEC, por meio das redes sociais, de que as escolas já
têm seus currículos definidos, orientados pelos PCNs, DCNs e matrizes curriculares
dos respectivos estados e municípios.
142
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, J. M. L. de. A Educação como política pública. 3a. ed.. Campinas, SP:
Autores Associados, 2004.
______. Base nacional comum curricular Ensino Médio. Brasília, DF: MEC, 2018b.
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wpcontent/uploads/2018/04/
BNCC_EnsinoMedio>. Acesso em: 10 abr. 2018.
______. Pesquisa princípio científico e educativo. 11a. ed. São Paulo: Cortez,
2005.
______. Conscientização: teoria e prática da libertação. 3a. ed. São Paulo: Centauro,
2003.
MELLO, G. N. Diretrizes curriculares para o ensino médio: por uma escola vinculada
à vida. Revista Ibero-americana de Educação, n. 20, p. 162-172, maio/ago. 1999.
MORENO, A. C.; FOREQUE, F. MEC divulga base comum para reformar a formação
dos professores. G1 Globo.com., 13 dez. 2018. Disponível em: <https://g1.globo.
com/educacao/guia-de-carreiras/noticia/2018/12/13/mec-divulga-base-comum-para-
reformar-a-formacao-de-professores.ghtml>. Acesso em: 11 nov 2018.
______.A Via: para o futuro da humanidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.
ROMANELLI, O. de. História da Educação no Brasil. 12a. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
1990.
______. O que significa o currículo? In: ______ (Org.). Saberes e incertezas sobre
o currículo. Porto Alegre: Penso, 2013.