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DOMINGO DE PÁSCOA

Chegamos, enfim, ao Domingo da


Ressurreição do Senhor, vencedor da morte.
Satanás e o pecado já tinham sido vencidos
sob o peso da cruz na Sexta-feira Santa; era
necessário que hoje esse último inimigo — a
morte — fosse clamorosamente derrotado.
Em Cristo, a vida divina transbordou em
abundância; agora, uma vez ressuscitado, a
sua humanidade é plenificada ao extremo,
iluminada pelos fulgores da divindade a que
está indissolúvel e hipostaticamente unida. Ele,
que assumiu a forma de servo, deixa agora que
a luz de sua divina Pessoa reluza em seu corpo
glorificado.
Existe aqui, no entanto, um “problema”: nós
não vemos a Jesus ressuscitado. Tudo o que
está à nossa volta parece mais vivo e real do
que Aquele que é o Senhor da vida.
Mas tudo isso que vemos — o sol que se
levanta, os ramos que balançam ao vento, os
riachos que correm… — é só aparência de
vida, porque só Cristo é a vida verdadeira. É
por isso que, ao longo dos próximos quarenta
dias, Ele se deixará ver pelos discípulos a fim
de ressuscitar neles a fé que, diante dos
horrores da crucifixão, havia morrido e sido
sepultada.
É interessante notar que, nas narrativas das
aparições, o Senhor ressuscitado se mostra
aos Apóstolos e dá-lhes a certeza do que estão
vendo, mas se trata de uma certeza que deixa
sempre um espaço para a fé e, portanto, para a
dúvida: assim Ele se mostra aos discípulos de
Emaús; assim Ele aparece à beira do lago;
assim Ele entra no Cenáculo, disposto a
mostrar inclusive as chagas de sua Paixão.
Mas por que esse modo de agir? Porque o
corpo do Ressuscitado, participando das
qualidades de seu espírito, torna-se invisível,
de maneira que o Senhor pode aparecer sob a
figura que quiser. E Ele aparece sempre de um
modo que fortalece a fé de quem o vê e, ao
mesmo tempo, exige fé para que se veja.
Jesus quer, sim, que nós creiamos e
tomemos parte naquela alegria indizível que
inundou o coração não só dos Apóstolos e
discípulos, mas ainda o seu próprio Coração.
Alegria para os primeiros, já que a fé nos dá a
garantia certíssima de que fomos e somos
muito amados, com um amor infinito e
superabundante: “De tal modo Deus amou o
mundo”, escreve S. João, “que lhe deu seu
Filho único, para que todo o que nele crer não
pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).
Amou-nos Ele tanto que nos deu a
capacidade de, pela luz da fé, nos sabermos
amados.
Alegria também para o Coração de Cristo,
porque “sem fé”, como diz o autor da Epístola
aos Hebreus, “é impossível agradar a Deus”
(Hb 11, 6). É pelo ato de fé, com efeito, que nos
unimos ao Ressuscitado, que do alto do céu
envia o Espírito Santo para introduzir-nos
na comunhão de sua vida divina. Isso significa
que, se estamos unidos a Cristo pela fé, é ao
próprio Filho que o Pai enxerga quando olha
para nós: “Eis meu Filho muito amado”, diz-nos
Ele, “em quem ponho minha afeição” (Mt 3, 17).
O Pai se alegra, porque pela nossa fé Ele vê
Aquele que é o objeto de todo o seu agrado, de
todo o seu bem-querer, de toda a sua
complacência.
Eis aí a maravilha da Igreja! Cristo
ressuscita e, ao ressuscitar, traz de volta à vida
os membros do seu Corpo místico.
O tempo pascal, nesse sentido, é tempo de
grande alegria e tempo de pedirmos
continuamente a Deus uma fé católica plena e
abundante, com a da Virgem SS., com a dos
Apóstolos depois da Ressurreição do Senhor.
O nosso corpo miserável e frágil, enquanto
caminhamos neste mundo, continuará
padecendo, mas pela fé sabemos já que, no
fundo de nossa alma, habita Aquele cujo amor
vale mais do que a vida presente.
Como membros vivos do Corpo místico de
Cristo, que é a Igreja, vivamos o tempo pascal
com uma fé luminosa e uma caridade ardente.
Que o Pai dos céus nos conceda, por seu
Filho muito amado, a graça de vivermos com
fidelidade os nossos compromissos batismais e
crescermos, dia após dia, nas virtude teologias
com que Ele nos enriqueceu. É Páscoa:
sejamos os santos que o Senhor deseja unidos
a si!

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