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EDUCAÇÃO

Dossiê: Grupos de Pesquisa


Revista Científica do Claretiano – Centro Universitário
Reitoria / Rectorate
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Prof. Dr. Flávio Henrique Dias Saldanha (UFTM) Prof. Me. Robson Amaral da Silva (CLARETIANO)
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Prof. Dr. Henry Marcelo Martins da Silva (UFMS) Prof.ª Dra. Tatiana Noronha de Souza (UNESP)

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Periodicidade: semestral
Número de páginas: 128 páginas
Número de artigos: 6 artigos neste volume
Mancha/Formato: 11,3 x 18 cm / 15 x 21 cm

Os artigos são de inteira responsabilidade de seus autores


ISSN 2237-6011

EDUCAÇÃO
Dossiê: Grupos de Pesquisa
Revista Científica do Claretiano – Centro Universitário

jul./dez.
Educação Batatais v. 12 n. 2 p. 1-128
2022
© 2022 Ação Educacional Claretiana

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Editores responsáveis: Prof. Dr. Everton Luis Sanches e Prof. Me. Rafael Menari Archanjo

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370 E26

Educação : dossiê : grupos de pesquisa: revista científica do Claretiano – Centro


Universitário – v.12, n. 2 (jul./dez. 2022) -. – Batatais, SP : Claretiano, 2022.
128 p.

Semestral.
ISSN: 2237-6011

1. Educação - Periódicos. I. Educação : revista científica do Claretiano – Centro


Universitário.

CDD 370

Os trabalhos publicados nesta Revista são de inteira responsabilidade dos seus autores, não refletindo
necessariamente a opinião do Claretiano – Centro Universitário, do Conselho Editorial ou da
Coordenadoria Geral de Pesquisa e Iniciação Científica.
Sumário / Contents

Editorial / Editor’s note

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL PAPER

Reflexões sobre o processo de iniciação científica no curso de


Filosofia sob a perspectiva da educação e missão claretianas
Reflections on the process of scientific initiation in the course of
Philosophy from the perspective of claretian education and mission

Conquistas e caminhos do curso de Licenciatura em Música a


distância do Claretiano – Rede de Educação: olhares sobre os
impactos culturais e sociais
Achievements and paths of the Claretian Distance Music Degree course
- Education Network: perspectives on cultural and social impacts

A utilização de atividades práticas para o ensino de Física: sala de


aula invertida
Practical activities for the teaching of Physics: the flipped classroom
strategy

Antropologia e Sociologia do Direito: o ensino jurídico e uma


proposta de Gestão de Significado no curso de Bacharelado em
Direito do Claretiano – Centro Universitário de Batatais (SP)
Anthropology and Sociology of Law: the legal teaching and a proposal
of Meaning Management in the Claretiano – Centro Universitário Law
Bachelor's Degree course

Estratégias de mediação na 3ª série do Ensino Médio do


Claretiano – Colégio São José: alcançando o sucesso escolar
Mediation strategies in the final year of High School at Claretiano –
Colégio São José: reaching school succes
Perfil sociodemográfico de pessoas atendidas pelos estagiários
do curso de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro
Universitário
Sociodemographic profile of people attended by trainees of the
Occupational Therapy course of Claretiano – University Center

Política Editorial / Editorial Policy


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Editorial / Editor’s note

A realização de atividades de pesquisa em nível de iniciação


científica envolve desafios que não são costumeiros para os
estudantes não habituados com a sua prática. A ciência sempre
esteve atrelada a pesquisas, mas estas, ao apresentarem seus
resultados finais à sociedade, promovem suas benesses mantendo
o escopo teórico e as explicações mais técnicas entre os pares,
que, naturalmente, compreendem os caminhos percorridos pelos
pesquisadores. Assim, alunos de graduação chegam à universidade
sem saber que a prática da pesquisa está em todas as nossas ações,
que vivemos em um modelo de organização permeado pelos
trabalhos de pesquisa de muitas pessoas, sem compreender que
o exercício pleno da cidadania e da autonomia individual está
diretamente ligado aos esforços de cada um de nós.
Quando perguntarmos “Por quê?”, iniciamos um esforço
de investigação que pode levar a vários caminhos, muitas vezes
contraditórios e que exigem métodos de análise, triagem de
informações, investigação da veracidade das fontes e, sobretudo,
uma postura equilibrada, que não confunda as respostas mais
prováveis com aquelas que são mais desejáveis. Notoriamente,
pesquisar nos empurra para longe do “paraíso” de nossas vontades
de confirmação e nos coloca a caminho da compreensão mais
profunda quanto à novidade e necessidade de mudança. Trata-se de
uma construção.
Posto isso, nesta edição especial da Revista Educação,
foi composto o dossiê Grupos de Pesquisa, que reúne artigos
preocupados em levantar informações sobre processos e estratégias
e em relacionar resultados de práticas educativas, apresentando,
ainda, os seus desafios. Constitui, dessa maneira, a busca por
elementos que instiguem o despertar de novas práticas, assim
como o reconhecimento de ações que se mantém em bom
funcionamento. Nesse ínterim, destaca-se a formação integral
da Pessoa Humana como prerrogativa que conduz ao avanço das
ações educativas voltadas para resultados integrais, ou seja, que

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incluem o desenvolvimento humano como aspecto crucial dos


ganhos desejáveis em diferentes níveis da educação. Construir uma
educação de pessoas para que ocupem lugares de prosperidade
enquanto contribuem para uma sociedade mais amistosa e fraterna,
competente e responsável se tornou algo imperativo.
Os artigos desta edição se ocupam de diferentes temas
e demonstram os resultados de diversos estudos e práticas,
evidenciando os esforços dos educadores do Claretiano – Rede de
Educação pela formação integral da Pessoa Humana.
Ótima leitura!
Everton Luís Sanches
Editor

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Reflexões sobre o processo de iniciação


científica no curso de Filosofia sob a
perspectiva da educação e missão claretianas
Edson Renato NARDI1
Alessandro REINA2
Resumo: O presente relato de experiência tem como principal objetivo discutir as
principais ações e experiências realizadas in loco pelo curso de Filosofia do Claretiano
– Centro Universitário no ano de 2016/2017, visando à inserção dos alunos na pesquisa
científica voltada ao estudo e à prática de ensino de Filosofia. No ano de 2016/2017, foram
duas iniciativas: a primeira (2016)referente à criação do Grupo de Pesquisa sobre Cinema,
Educação e Filosofia do Claretiano (GECEF), sob coordenação do Prof. Me. Alessandro
Reina, com participação de alunos da graduação (licenciatura e bacharelado) e da pós-
graduação do Claretiano, com parceria de pesquisadores do Núcleo de Estudos sobre
Ensino da Filosofia (NESEF) da Universidade Federal do Paraná e amplo apoio do Setor
de Pesquisa e Extensão do Claretiano – Centro Universitário; e a segunda (2017),referente
à tradução dos materiais didáticos de filosofia elaborados pela Johns Hopkins Center
for TalentedYouth, que foram produzidos a pedido da Squire Family Foundation, com a
participação dos alunos com fluência em língua inglesa do Claretiano, sob coordenação
do Prof. Dr. Edson Renato Nardi. Os projetos tiveram êxito em sua proposta, apresentando
resultados práticos significativamente relevantes para a iniciação ao estudo, à pesquisa e à
docência em filosofia, que serão apresentados e explorados por intermédio deste Relato de
Experiência. Ambas as iniciativas estão plenamente de acordo com a missão e perspectiva
de educação claretiana, cuja função é “[...] capacitar a pessoa humana para o exercício
profissional e para o compromisso com a vida, mediante a sua formação integral; missão
essa que se caracteriza pela investigação da verdade, pelo ensino e pela difusão da cultura,
inspirada nos valores éticos e cristãos e no carisma Claretiano, que dão pleno significado
à vida humana”.

Palavras-chave: Pesquisa. Filosofia. Iniciação Científica. Educação Claretiana.

1
Edson Renato Nardi. Doutor e Mestre em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho (UNESP). Especialista em Violência Doméstica Contra Crianças e Adolescentes pela
Universidade de São Paulo (USP). Especialista em Logoterapia aplicada à Educação pelo Instituto
Viktor Frankl. Pós-graduando em Foundationsof Positive Psychology pela Universidade da Pensilvânia.
Licenciado em Filosofia e Educação Física pelo Claretiano – Centro Universitário. Professor e
Coordenador dos cursos de graduação e pós-graduação do Claretiano– Centro Universitário. E-mail:
edsonclaretiano@gmail.com.
2
Alessandro Reina. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestre
em Educação Filosófica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Filosofia da
Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Licenciado em Filosofia pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR). Professor em curso de Graduação e Pós-graduação do Claretiano – Centro
Universitário. Coordenador do Grupo de Estudos sobre Cinema, Educação e Filosofia (GECEF) do
Claretiano – Centro Universitário. E-mail: alessandroreina@claretiano.edu.br.

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Reflections on the process of scientific


initiation in the course of Philosophy from the
perspective of claretian education and mission

Edson Renato NARDI


Alessandro REINA

Abstract: The main objective of this present experience report is to discuss


the main actions and experiments carried out on-site produced by the course
of Philosophy of Claretian University Center in 2016/2017, in order to insert
students in scientific research in study and teaching practice of Philosophy. In
2016/2017, there were two initiatives: the first (2016) refers to the creation of
the Claretian Cinema, Education and Philosophy Research Group (GECEF),
under the coordination of Prof. Alessandro Reina, attended by undergraduate
and postgraduate students from the Claretian, with the partnership of researchers
from the Center for Studies on Philosophy Teaching (NESEF) of the Federal
University of Parana and broad support from the Claretian Research and
Extension – University Center. The second (2017) was the translation of
philosophy teaching materials prepared by the Johns Hopkins Center for Talented
Youth, which were produced at the request of the Squire Family Foundation,
with the participation of English speakers students of the Claretian, under the
coordination of Dr. Edson Renato Nardi. The projects were successful in their
proposal, presenting practical results significantly relevant to the initiation to
study, research and teaching in philosophy, which will be presented and explored
through this Experience Report. Both initiatives are fully in line with the mission
and perspective of Claretian education, whose function is to “[...] enable the
human person to practice and to commit to life through his integral formation.
This mission is characterized by the investigation of the truth, the teaching and
the diffusion of culture, inspired by the ethical and Christian values ​​and the
Claretian charism, which give full meaning to human life.”

Keywords: Research. Philosophy. Scientific Initiation. Claretian Education.

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1.  INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, a academia tem se dedicado a pensar


profundamente seus processos formativos, afinal o mundo
globalizado traz em seu bojo mudanças e transformações que
alteram tanto a percepção quanto o trabalho humano. Dessa
forma, as instituições de nível superior têm trabalhado com afinco
no desenvolvimento de seus programas de pesquisa e extensão,
no sentido de orientar a produção de conhecimento científico e
fornecer aos seus alunos uma formação profissional e humana que
seja sólida e consistente.
Dentro de suas prerrogativas educacionais, o Claretiano –
Centro Universitário tem se colocado tanto como uma instituição
pioneira na Educação a Distância como devotado um incrível esforço
e aperfeiçoamento nos seus métodos de ensino e pesquisa, visando
atender uma demanda cada vez mais crescente de profissionais
capacitados para um novo mercado que emerge neste século.
A instituição coloca como missão:
[...] capacitar a pessoa humana para o exercício profissional
e para o compromisso com a vida, mediante a sua formação
integral; missão essa que se caracteriza pela investigação da
verdade, pelo ensino e pela difusão da cultura, inspirada nos
valores éticos e cristãos e no carisma Claretiano, que dão pleno
significado à vida humana (CLARETIANO, 2012, p. 17).
Dessa forma, observamos um diferencial profundo na educação
claretiana, ao identificarmos que sua preocupação se estende a
não somente uma formação profissional, como também humana,
prezando pelos princípios da integralidade do conhecimento e da
verdade científica, sem deixar de lado o comprometimento ético
institucional, que tem como fundamento e inspiração os valores
cristãos de nosso padroeiro Santo Antônio Maria Claret.
Com base no compromisso ético e profissional do Claretiano –
Centro Universitário, neste artigo se objetiva trazer ao conhecimento
da comunidade claretiana duas experiências no interior do curso
de graduação em Filosofia que demonstram, concretamente,
a intencionalidade e comprometimento com o aprimoramento

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profissional e a difusão do conhecimento por meio do estudo e


da pesquisa. As duas iniciativas tiveram início em 2016/2017 e
envolveram os alunos do curso de Filosofia da instituição.
A primeira iniciativa (2016) foi a à formação do Grupo de
Estudos e Pesquisas sobre Cinema e Ensino de Filosofia – GECEF,
que possibilitou a diferentes alunos do curso de filosofia um primeiro
contato com a pesquisa e a publicação de artigos acadêmicos. O
grupo é coordenado pelo Prof. Me. Alessandro Reina e possibilitou
a criação de uma iniciativa única no país, ao pensar a relação entre
o cinema, a filosofia e a educação. Esse pioneirismo traz em seu
bojo o comprometimento tanto dos alunos como dos profissionais
do curso de graduação em filosofia, o que fomenta a pesquisa e
contribui, de forma significativa, para a formação acadêmica dos
alunos, dando pleno sentido à missão claretiana dentro de suas
prerrogativas institucionais.
A segunda iniciativa se refere tradução livre dos textos
utilizados para o ensino da Filosofia produzidos pela Johns Hopkins
Center for TalentedYouth. Tais materiais tiveram a participação ativa
dos graduandos na tradução e disponibilização futura de tais textos
de forma gratuita para diferentes entidades educacionais espalhadas
pelo país. O projeto de tradução teve como coordenador no Brasil
o Prof. Dr. Edson Renato Nardi e, após ser concluído, propiciou
não somente o acesso a um material de alto nível aos educadores
brasileiros, como também trouxe uma contribuição significativa
ao processo formativo dos alunos da graduação em Filosofia do
Claretiano – Centro Universitário envolvidos no projeto.
Este estudo se trata de um relato de experiência e tem seu
desenvolvimento dividido em duas partes: a primeira refere-se
àcriação e os trabalhos desenvolvidos pelo Grupo de Estudos e
Pesquisas sobre Cinema e Ensino de Filosofia (GECEF-Claretiano)
e a segunda,à tradução dos textos para o ensino da Filosofia da
Johns Hopkins Center for TalentedYouth.
Em cada parte, relata-se as metodologias de pesquisa utilizadas,
bem como realiza-se a discussão sobre os resultados obtidos.
Esperamos, dessa forma, trazer ao conhecimento da comunidade
claretiana iniciativas que expressam o comprometimento dos

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profissionais que trabalham na instituição com a educação e


desenvolvimento humano de seus alunos por meioda missão e
educação claretianas.

2.  METODOLOGIA

A primeira experiência ocorreu no ano de 2016, após a


criaçãodo Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Cinema e Ensino
de Filosofia (GECEF) visando fomentar a pesquisa inter-
relacionando as áreas do cinema, da filosofia e da educação. A
segunda experiência foi realizada no ano de 2017, com a tradução
de materiais didáticos inéditos no Brasil, utilizados no processo de
ensino-aprendizagem de Filosofia nos Estados Unidos pela Johns
Hopkins Center for TalentedYouth. Os materiais atualmente estão
sendo disponibilizados gratuitamente, em todo território nacional,
após a realização da tradução dos cadernos de estudo pelos alunos
fluentes na língua inglesa do curso de Filosofia do Claretiano. Já
o Grupo de Pesquisa em Cinema, Filosofia e Educação (GECEF)
continua ativo desde sua criação no ano de 2016 e completará em
2020, quatro anos de existência. Ambas as experiências contaram
com supervisão e apoio das coordenações do curso de Filosofia e do
setor de Pesquisa e Extensão do Claretiano– Centro Universitário.

3.  DISCUSSÃO

Educação e pesquisa por intermédio do Grupo de Estudos


e Pesquisas sobre Cinema e Ensino de Filosofia (GECEF-
Claretiano)

Na sociedade midiatizada há como fator preponderante


a reflexão sobre as novas formas pelas quais o conhecimento
é produzido. Sabe-se que o conhecimento é fruto do trabalho de
diferentes esferas que englobam, inclusive, a experiência científica,
a cotidiana e a espiritual dos indivíduos. Dessa forma, pensar sobre a
construção do conhecimento revela não somente uma preocupação
com as novas formas de manifestação da cultura, como também a

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ideia de se preparar para um futuro que ainda desconhecemos. Para


Garcia (1988, p. 67):
Conhecer significa [...] descrever um fenômeno, sejam em
suas particularidades estruturais, seja em seus aspectos
funcionais; prever a probabilidade de ocorrência futura
de um evento [...]; e, por fim, manipular e utilizar [...], um
objeto qualquer, além de reproduzi-lo, alterando, até, suas
características básicas.
Conhecer torna-se para o ser humano um pré-requisito para
enfrentamento dos problemas hodiernos. Neste sentido, no âmbito
universitário, pensar a pesquisa como instrumento de aquisição
e aprimoramento do conhecimento constitui um elemento de
fundamental importância.
De acordo com a LDB, a Lei 9.394 (BRASIL, 1996), das
Diretrizes e Bases da Educação Nacional:
O ensino superior tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício
da cidadania e sua qualificação para o trabalho, bem como
deve estimular a criação cultural, o desenvolvimento do
espírito científico e do pensamento reflexivo, o incentivo
ao trabalho de pesquisa e a investigação científica, com
vistas ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da
criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver
o entendimento do homem e do meio em que vive, além
da promoção e da divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da
humanidade e comunicação do saber através do ensino, de
publicações ou de outras formas de comunicação. Uma das
alternativas em busca do conhecimento é o ensino através
da pesquisa, desenvolvendo a autonomia dos alunos,
instigando-os a questionamentos constantes. (BRASIL,
1996, [n.p.]).
Pensando a pesquisa como estratégia de difusão do
conhecimento e da cultura, criou-se, no ano de 2016, o Grupo de
Estudos e Pesquisas sobre Cinema e Ensino de Filosofia (GECEF),
no Claretiano – Centro Universitário, tendo como principal
objetivo fomentar o estudo e a pesquisa sobre a imbricação entre
as áreas do cinema, da filosofia e da educação, com uma atuação

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mais determinante no estudo da relação entre o cinema e o ensino


de filosofia.
O desafio era reunir indivíduos de diferentes localidades e
com diferentes formações na modalidade EaD, para construir um
trabalho profícuo de estudo tanto do cinema como “locus” para
o ato do filosofar como sua respectiva abordagem no interior dos
processos de ensino aprendizagem da Filosofia.
Tendo a Filosofia como eixo orientador, a proposta seria
articular e estimular o estudo e a produção bibliográfica por parte
dos discentes ligados ao curso de Filosofia do Claretiano, tanto
no âmbito da graduação quanto da pós-graduação, estabelecendo
parcerias com outras instituições de ensino superior, a fim de
ampliar o conhecimento produzido pelo grupo. Sobre a importância
de educar pela pesquisa, Demo (2001, p. 2) destaca o seguinte:
Educar pela pesquisa tem como condição essencial
primeira que o profissional da educação seja pesquisador,
ou seja, maneje a pesquisa como princípio científico e
educativo e a tenha como atitude cotidiana [...]. Não se
busca um profissional de pesquisa, mas um profissional da
educação pela pesquisa.
Segundo Demo (2001), a pesquisa é uma das formas pelas
quais é possível educar. Tratando-se do ensino superior, introduzir
os alunos no contato com a pesquisa científica não apenas é
importante para situar o tipo de conhecimento que é produzido
nessa etapa da educação, como possibilita uma intensa troca de
conhecimento entre os participantes. Essa troca só ocorre quando há
diversidade, e neste quesito, o GECEF tem procurado estabelecer
o diálogo entre diferentes indivíduos, com diferentes formações.
O grupo é bastante heterogêneo, possuindo 42 alunos,em que
18% possuem doutorado, 50% possuem mestrado, 19% possuem
especialização e 13% ou possuem graduação ou estão cursando a
graduação em filosofia no Claretiano3. A participação e integração
ao grupo é voluntária e gratuita, servindo de apoio para publicação
e atendendo indivíduos que pretendem iniciar uma trajetória
profissional acadêmica.

Dados levantados e fornecidos pelos autores do presente relato referentes ao ano de 2018.
3

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No ano de 2016, a ementa do GECEF estabeleceu como


meta o estudo inicial sobre a imbricação entre o cinema, a filosofia
e a educação. Apoiados pelo setor de Pesquisa e Extensão do
Claretiano, sob coordenação do Prof. Me. Rafael Menari Arcanjo,
e também pela coordenação de Filosofia, sob representatividade do
Prof. Dr. Edson Renato Nardi, foi criada uma (SAV) Sala de Aula
Virtual.
A SAV abrigou todo o material necessário para o início
dos trabalhos de pesquisa do grupo, a ementa, vídeos, os textos
orientados para estudo e pesquisa ao longo do ano, bem como as
atividades de discussão, que envolviam a participação em reuniões
síncronas pela ferramenta “bate papo” da sala de aula virtual, uso
da ferramenta assíncrona(fórum) para discussões gerais e postagens
textuais em portfólio, para produção textual no formato de uma
resenha por semestre ou de um artigo completo ao final do ano.
Ao fim do ano de 2016, o grupo produziu uma série de artigos
e resenhas compondo o primeiro dossiê, que foi submetido para
publicação em 2017. A partir do estudo e da pesquisa, publicar é
uma forma importante de difusão do conhecimento, que contribui,
também, para a formação dos pesquisadores envolvidos. Sobre a
relevância das publicações, Petroyanu (2012, p. 100) destaca o
seguinte:
É indispensável que todo trabalho científico, depois de
concluído, seja publicado. Não faz sentido realizar um
estudo, independentemente de seu valor, e não o divulgar.
Todo artigo contribui de alguma maneira para o progresso
científico e pode auxiliar outros pesquisadores que
trabalham na mesma área do conhecimento.
No ano de 2017, a Revista Livre de Cinema (RELICI)
realizou a publicação do primeiro dossiê do grupo GECEF, sobre
Filosofia, Cinema e Educação. Foram publicados 7 artigos e 4
resenhas envolvendo 16 pesquisadores do GECEF. Para muitos, foi
a primeira publicação acadêmica realizada. Umas das exigências
realizadas ao grupo é que os artigos sejam produzidos em duplas
ou trios, pois, dessa forma, além de estabelecer parcerias com
troca intensiva de conhecimento, democratizamos as publicações,
atingindo um número maior de membros do grupo. Os alunos têm

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liberdade para escolher o tema dentro da proposta colocada pela


ementa anual e com quem desejam escrever, sendo que as parcerias
têm sido bastante significativas e colaborativas.
No final do ano de 2017, os pesquisadores membros do
GECEF já haviam reunido novamente mais artigos e resenhas e,
dessa forma, lançou-se mais um desafio: publicar o segundo dossiê
para 2018. Em abril de 2018, recebemos a resposta positiva para
publicação na Revista do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre
Ensino de Filosofia da Universidade Federal do Paraná (NESEF-
UFPR) e, dessa forma, publicamos em outubro de 2018 o segundo
dossiê temático sobre Filosofia, Educação e Cinema. Foram 7
artigos publicados, sendo 2 artigos de opinião, 2 resenhas e uma
entrevista especial realizada com a cineasta brasileira Suzana
Amaral, entrevista mediada pelas suas filhas, em especial a Prof.
Dra. Flávia Amaral Rezende, que também integra o GECEF.
No ano de 2018, demos continuidade aos estudos sobre
cinema, com foco no cinema nacional e na utilização do filme como
fator de educação. A pesquisa tem sido fortemente impulsionada,
visto que existem pouquíssimos grupos no Brasil com foco nessa
área de estudo, e as produções têm sido escassas. Dessa forma, o
grupo GECEF tem executado um protagonismo ao trabalhar com a
pesquisa e publicação nessa respectiva área.
No ano de 2019, nossa ementa contemplou o estudo sobre
o cinema em períodos de repressão. Temos estudado e analisado
tanto as produções cinematográficas realizadas no interior de
regimes autoritários e ditaduras, pensando como o cinema foi
utilizado como uma ferramenta para expressão da defesa das
ideologias totalitárias, quanto pela crítica e luta pela liberdade e
reestabelecimento da democracia.
Em novembro de 2019, O GECEF publicou seu terceiro
dossiê temático na Revista Paideia. Foram publicados no total 6
artigos e 2 resenhas envolvendo 10 pesquisadores. Desta forma, o
Grupo GECEF-Claretiano tem contribuído de forma crescente para
a pesquisa e extensão da instituição, com publicações regulares
de dossiês anuais sobre a temática de pesquisa, desde o ano de
2016. Um detalhe importante é que todas as publicações foram em

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veículos de comunicação que obedecem ao sistema Qualis do CNPq,


o que eleva o status do grupo e também da própria Instituição ao
fomentar e incentivar a pesquisa na área acadêmica com excelência
e qualidade. O trabalho desenvolvido contribui para a formação
profissional, ética e cidadã, bem como para a difusão da cultura e
do conhecimento, plenamente de acordo com o Projeto Educativo
do Claretiano – Centro Universitário.
A cultura atual do conhecimento deve contribuir para
uma busca constante de estudos e especializações que
favoreçam a formação profissional e o enriquecimento da
qualidade de serviços. Assim, faz-se necessário o trabalho
em equipe, próprio da dinâmica do conhecimento, o
que estimula os vínculos comunitários e a prática da
solidariedade (CLARETIANO, 2012, p. 29).
Assim, o grupo tem contribuído, decisivamente, para a
formação acadêmica de seus envolvidos, tanto por explorar uma
área de pesquisa pouco estudada em nosso paíscomo por estabelecer
publicações que servem de incentivo a outros pesquisadores
e instituições ao abordarem esse tema. O GECEF tem dado
continuidade aos seus trabalhos, por entender a relevância de seu
papel, tanto diante do curso de filosofia como também institucional,
o que motiva e conduz seus participantes em busca de resultados
cada vez mais eficientes.

Tradução dos textos disponibilizados pela Johns Hopkins Center


for TalentedYouthsobre o ensino de Filosofia

Na missão estabelecida pela instituição, manifesta-se o


ensino e a difusão da cultura. Tal característica possui profunda
relação com o fundador da organização comunitária claretiana, o
padre Antônio Maria Claret, isto porque, dentre muitos aspectos
interessantes a respeito de sua biografia, salientamos que ele foi
um dos “[...] mais eficazes promotores católicos da democratização
da leitura e do desenvolvimento de bibliotecas populares” (HIBBS,
2005, p. 204).
Essas ações, dada a formação religiosa de Claret, possuíam
um caráter proselitista e evangelizador, com vistas ao crescimento

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espiritual do leitor e que via na difusão dos livros à população a


possibilidade de transmissão dos valores e crenças católicas por
meio do texto escrito. Claret preocupava-se, também, segundo
Hibbs (2005), com a necessidade da criação de uma pedagogia da
leitura, ou seja, que os textos e livros fossem produzidos de modo a
lidar com as particularidades de seus leitores, pois:
Não se pode propor livros e impressos similares aos
homens, às mulheres ou às crianças. Se o prazer da
leitura segue sendo admitido com reticencia, se destacam
o interesse, a curiosidade dos leitores. Pode perceber-se
naquele momento, através das iniciativas e recomendações
em matéria de livros e bibliotecas, uma incipiente
pedagogia e sociologia da leitura (HIBBS, 2005, p. 220).
Essa preocupação com a possibilidade da difusão da cultura
à população, produção de materiais didáticos pedagogicamente
estruturados e sua respectiva disponibilização ao público em geral
tornaram-se um traço marcante da comunidade claretiana no Brasil,
visto que uma das primeiras ações dessa instituição em nosso país
foi a construção da editora Ave Maria, que já no ano de 1898 se
destacava em nosso país ao produzir aquela que seria a primeira
revista mariana do país.
Desses elementos apresentados, pode-se afirmar que a
vocação para o ensino, a difusão da cultura, a produção e distribuição
de textos e livros para a população que atendam a esses objetivos
educativos é traço marcante dos Missionários Claretianos e de seu
fundador e pretendemos demonstrar que esse traço foi exercitado
ipsis litteris no projeto descrito a seguir.
O projeto se inicia em meados de 2017 nas ações realizadas
pelo curso de graduação em Filosofia do Claretiano – Centro
Universitário de Batatais. Naquele momento, diante dos
desafios culturais e sociais existentes em nosso país, aventou-
se a possibilidade de que, para contribuir efetivamente para o
ensino de qualidade na área da filosofia, necessitava-se difundir
materiais didáticos e ou livros que fossem pedagogicamente
sólidos e que pudessem propiciar aos profissionais de ensino dessa
área de conhecimento um recurso importante para a difusão do
conhecimento e competências inerentes à Filosofia.

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Dessa necessidade, surgiu a possibilidade de se realizaruma


pesquisa em outras fontes de divulgação de conhecimento filosófico
que não fossem tão somente nacionais e que favorecessem a difusão
e o ensino de qualidade.
Essa pesquisa gerou, entre seus desdobramentos, o acesso ao
projeto PLATO (Philosophy Learning and Teaching Organization),
desenvolvido nos Estados Unidos e que busca defender e apoiar a
introdução da filosofia às crianças e jovens por meio de programas,
compartilhamento de recursos e o desenvolvimento de uma rede
nacional de filosofia pré-universitária (PLATO, [s.d.], [n.p.]).
Por meio do acesso ao projeto, foi possível investigar os
recursos pedagógicos oferecidos pelo programa, e um deles se
mostrou interessante para nossas necessidades. Esse recurso se
trata da disponibilização daquilo que os norte-americanos intitulam
de lesson plans (planos de aula) para professores que desejam atuar
no ensino e difusão da filosofia.
Ao analisar os planos de aula, percebeu-se que se tratavam
dos planos de aula desenvolvidos pela Johns Hopkins Center for
Talented Youth, instituição norte-americana que atua na educação
de crianças com altas habilidades e que produziu para o projeto,
por meio da realização de um pool de instituições educativas e
acadêmicos, uma coletânea de materiais didáticos para o ensino de
Filosofia.
Esses materiais didáticos se destacaram em nossa análise
dada a sua abrangência, tanto porque cobriam todos os grandes
temas da filosofia quanto pela sua qualidade didática, isto porque
sua estruturação possuía uma faceta que se sobressaía: a de
promoção de experiências de caráter teórico-prático entre os alunos
e a filosofia.
Feita essa descoberta, constatou-se a necessidade de entrar
em contato com os responsáveis pela instituição citada e seus
financiadores, a Squire Family Foundation. Com isso, obtivemos
autorização para tradução, adaptação e disponibilização gratuita
para a sociedade brasileira.

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Contudo, um dos empecilhos que encontramos à época se


referia à operacionalização do processo de tradução/adaptação.
Constatou-se, empiricamente, que a instituição não possuía, naquele
momento, um corpo técnico grande o suficiente para a realização
desse procedimento e, se nos limitássemos a fazer uso somente
desse corpo técnico, a efetivação da tradução e adaptação levaria
muito tempo.
Diante dessa dificuldade, aventou-se a possibilidade da
inserção dos alunos do curso de Filosofia nesse processo, ou seja,
que esses alunos pudessem contribuir para a realização da tradução
e adaptação. Para isso, realizou-se um convite para todos os alunos
que existiam à época no curso de filosofia que possuíssem fluência
plena em língua inglesa, para participarem como voluntários desse
projeto.
Com essa ação, conseguimos a adesão de cerca de 15
profissionais com formação adequada para o desafio e, ao longo do
ano de 2017, realizou-se a tradução e adaptação para o português de
todos os materiais didáticos citados.
Inspirados nos valores claretianos do ensino e difusão da
cultura, especificamente voltados para a difusão da filosofia,
propiciamos à sociedade o acesso livre e gratuito a um conjunto
de materiais didáticos de alta qualidade e, também, a oportunidade
para os alunos envolvidos fazerem uso de certas competências e
habilidades que possuem, valorizando-as e inserindo-os em um
projeto de alta visibilidade pedagógica e importância social.
Atualmente, estão disponibilizados para a sociedade todos os
planos de aula produzidos por essas duas instituições americanas, e
esses são os que se segue:
• Epistemologia.
• Estética.
• Ética.
• Ética Aplicada.
• Filosofia da Ciência.

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• Filosofia da Mente.
• Filosofia da Religião.
• Filosofia Política.
• Metafísica: identidade pessoal.
• Metafísica: livre arbítrio.
• Métodos Lógicos e Filosóficos.
Dessa ação realizada, surgiram alguns desafios que deverão
ser enfrentados. O primeiro deles é a necessidade da revisão de
eventuais discrepâncias que possam ser encontradas nesses planos
de ensino e, nesse sentido, convidamos a sociedade a se manifestar
de modo a auxiliar-nos nesse procedimento.
Outro desafio importante é a necessidade da adaptação das
sugestões pedagógicas propostas nos planos de ensino originais,
sem que essa ação dilua ou descaracterize a estreita relação dessas
sugestões com a estrutura pedagógica montada pelos seus autores
originais. Exemplo dessa dificuldade salientou-se, sobretudo, no
plano de aula: Identidade Pessoal. Nele os autores estruturam suas
aulas baseados nos textos do ensaísta e escritor Frederik Pohl (The
meeting) e do filósofo John Perry (A dialogue on personalidentity
and immortality) e ambos os textos não possuem tradução em
língua portuguesa.
Contudo, em que pese esses desafios apontados, podemos
concluir que a realização desse projeto e o apoio institucional
oferecido denotam, efetivamente, o compromisso da instituição
para com sua missão, a estreita integração do curso de Filosofia a
essa mesma missão e a certeza de que essa ação certamente gerou
contribuição relevante para o ensino de filosofia em nosso país.

4.  CONSIDERAÇÕES FINAIS

As experiências produzidas in loco no curso de graduação em


Filosofia no Claretiano – Centro Universitário, a saber, a criação do
Grupo de Pesquisa sobre Cinema e Ensino de Filosofia (GECEF),
no ano de 2016, e a tradução dos textos para ensino de filosofia

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da Johns Hopkins Center for Talented Youth, no ano de 2017,


mostraram-se experiências de sucesso visando inserir os alunos do
curso de filosofia no contato com o processo de iniciação científica
na universidade.
Essas experiências foram importantes, na medida em
que reafirmaram tanto o compromisso ético e cristão com a
educação de acordo com a missão claretiana como forneceram
condições primárias para que os estudantes entrassem em contato
com o universo da pesquisa e com a possibilidade de pensar a
interdisciplinaridade entre diferentes áreas do conhecimento, tais
como a filosofia, o cinema, a educação e a própria língua inglesa,
no que se refere a tradução dos materiais didáticos.
Temos que destacar que a universidade possui um papel muito
mais amplo no que diz respeito à tarefa de educar, uma vez que
não visa apenas promover um suporte primário ao conhecimento,
mas possui uma tarefa muito mais importante, que é buscar o
aperfeiçoamento e capacitação contínua tanto dos seus profissionais
quanto de seus alunos, no que diz respeito à contribuição para a
formação e difusão do pensamento científico, sem abrir mão de sua
perspectiva ética mediante o respeito à história institucional que o
Claretiano possui.
Dessa forma, temos plena consciência que o incentivo
fornecido pela instituição ao desenvolvimento de mais ações como
esta devem criar um ambiente propício para a construção de novas
gerações de profissionais, cidadãos e, sobretudo, de seres humanos
mais comprometidos com o desenvolvimento da educação em
nosso país.
Que o presente relato sirva de referência e inspiração para
todos os segmentos de pesquisa e de difusão do conhecimento e
da cultura no interior do Centro Universitário, para que possamos
construir uma perspectiva de educação baseada na ética, na
liberdade, no respeito à diversidade, estimulando vínculos
comunitários e a prática da solidariedade entre todos os sujeitos
envolvidos no processo.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. LDB – Lei nº 9.394, de 20 de


dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional.
Brasília: MEC, 1996.

CLARETIANO – CENTRO UNIVERSITÁRIO. Projeto Educativo Claretiano.


Batatais: Claretiano, 2012.

DEMO, P. Pesquisa: princípio científico e educativo. 8. ed. São Paulo: Cortez,


2001.

GARCIA, F. L. Introdução crítica ao conhecimento. Campinas: Papirus, 1988.

HIBBS, S. El padre Antonio María Claret (1807-1870): unpionero de las


bibliotecas populares en elsiglo XIX. In: DESVOIS, J. M. (Coord.). Prensa,
impresos, lectura en el mundo hispânico contemporáneo: homenaje a Jean-
François Botrel. Paris: Université Michel de Montaigne Bordeaux, 2005. p. 200-
222.

PETROYANU, A. Critérios para autoria de um trabalho científico. J Bras


Doenças Sex Transm., v. 24, n. 2, p. 99-103, 2012. Disponível em: http://ter.
sites.uff.br/wp-content/uploads/sites/303/2018/02/r24-2-2012-7_Criterios-para-
Autoria-de-um-Trabalho-Cientifico.pdf. Acesso em: 12 jul. 2019.

PLATO. Philosophy Learning and Teaching Organization. Disponível em:


https://www.plato-philosophy.org/. Acesso em: 17 ago. 2019.

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Conquistas e caminhos do curso de


Licenciatura em Música a distância do
Claretiano – Rede de Educação: olhares sobre
os impactos culturais e sociais

Mariana Galon da SILVA1


Mariana Barbosa AMENT2

Resumo: O presente artigo apresenta um histórico do curso de Licenciatura em


Música a distância do Claretiano – Rede de Educação (2014-2019), realizando
um comparativo do número de polos com as demais universidades EaD que
oferecem o mesmo curso e lança olhares para as contribuições culturais e sociais
que houveram em algumas comunidades onde ele está inserido. Para tanto,
apresentaremos uma análise qualitativa de alguns casos de alunos em localidades
diversas do país, demonstrando a contribuição do curso para a formação humana
e social e problematizando o perfil do ingressante e as estratégias pedagógicas
da educação a distância, utilizadas com o objetivo de formar educadores capazes
de modificar o seu entorno e, ao fazê-lo, construir uma sociedade mais justa e
humana.

Palavras-chave: Licenciatura em Música a Distância. Claretiano – Rede de


Ensino. Educação Musical Humanizadora.

1
Mariana Galon da Silva. Doutoranda e Mestra em Educação pela Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar). Especialista em Arte, Educação e Tecnologias Contemporâneas pela Universidade de
Brasília (UNB). Licenciada em Educação Artística com Habilitação em Música pela Universidade da
São Paulo (USP). Coordenadora e docente do Curso de Licenciatura em Música do Claretiano – Rede
de Educação. E-mail: marianasilva@claretiano.edu.br.
2
Mariana Barbosa Ament. Mestra em Educação pela Universidade de São Carlos (UFSCar).
Especialista em Gestão Educacional e em Educação a Distância: Planejamento, Implantação e Gestão
pelo Claretiano – Centro Universitário. Licenciada em Música pela Universidade de São Carlos
(UFSCar). Professora dos Cursos de Licenciatura em Música, Artes e Pós-graduação do Claretiano –
Rede de Educação. E-mail: marianaament@claretiano.edu.br.

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Achievements and paths of the Claretian


Distance Music Degree course - Education
Network: perspectives on cultural and social
impacts

Mariana Galon da SILVA


Mariana Barbosa AMENT

Abstract: This article presents a history of the online music course at the
Claretian-Education Network (2014-2019). It compares the number of centers
with that of other online education universities that offer the same course. It also
considers the cultural and social contributions made to the communities by the
presence of an education center. To this end, we will present a qualitative analysis
of some cases of students in different localities of the country, demonstrating the
contribution of the course to human and social formation, problematizing the
profile of the newcomer and the pedagogical strategies of online education used
in order to train capable educators, to change their surroundings, and in so doing,
to build a more just and humane society.

Keywords: Online Music Education. Teaching Diploma in Music. Claretiano –


Education Network. Humanizing Music Education.

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1.  INTRODUÇÃO

O Claretiano – Rede de Educação é uma instituição


educacional que foi fundada pelos missionários claretianos3 em 1925
em Batatais, interior de São Paulo. Após sua formação, somente no
ano de 1970, com a fundação da Faculdade de Educação Física
de Batatais, passou a ofertar ensino superior. No decorrer dessa
história, houve várias expansões e a elaboração de novos cursos.
Em 2014, nasceu o curso de Licenciatura em Música na modalidade
a distância, atendendo uma carência da sociedade atual.
Com a aprovação da Lei 11.769/0, que estabeleceu a Música
como conteúdo obrigatório na escola, houve a necessidade da criação
de cursos de licenciatura em música que atendessem a nova demanda
das escolas de educação básica.  Perante isso, reacendeu-se o debate
e os desafios entre educadores musicais sobre a volta do ensino de
Música nas escolas. Somado a este contexto, a Resolução nº 2, de
10 de maio de 2016 (ABMES, 2016) definiu diretrizes nacionais
para a operacionalização do ensino de Música na Educação Básica
(CLARETIANO, 2018). De acordo com a resolução, compete à
escola organizar seus quadros de profissionais da educação com
professores Licenciados em Música, incorporando a contribuição
dos mestres de saberes musicais, bem como de outros profissionais
vocacionados à prática de ensino. Essa resolução também aponta
que o objetivo principal das Licenciaturas em Música é o de formar
educadores para atuarem na escola de educação básica, atendendo
as especificidades desse local de ensino (ABMES, 2016).
Dentro desse contexto, o curso de Graduação em Música –
Licenciatura (EaD) foi concebido objetivando formar educadores
musicais para atuarem na escola regular. O maior desafio foi pensar
em uma matriz curricular que abrangesse minimamente a grande
diversidade brasileira, uma vez que o curso é ofertado em todo o
país. Ele foi criado tendo como missão valorizar o ser humano, a
sociedade e sua cultura, transmitindo valores a partir da educação e
da investigação da verdade. Tem como premissa o desenvolvimento
de habilidades nas dimensões pedagógicas, artísticas, culturais,
Missionários Claretianos: Congregação Religiosa Católica (CLARET, 2015).
3

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sociais, científicas e tecnológicas, tendo em vista a formação do


licenciando para sua atuação como educador musical nos mais
variados campos do ensino da Música, mas principalmente a
escola de educação básica (CLARETIANO, 2018). Hoje ele se faz
presente em 88 polos espalhados pelo Brasil, contando com 2857
alunos, e cumpre o papel de formar educadores musicais para atuar
na educação básica
Neste artigo, relataremos um breve histórico desse curso e
apresentaremos a sua estrutura e as modificações que ocorreram
nestes 5 anos em que ele vem sendo ofertado. Traçaremos um
comparativo numérico em relação às demais instituições que
oferecem cursos de Licenciatura em Música a distância. Por fim,
traremos alguns casos que demonstram as contribuições culturais
e sociais que houveram em algumas comunidades onde ele está
inserido.

2.  O CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA 

Estrutura do curso

O curso de música tem como objetivo formar educadores


musicais capazes de atuar dentro da educação básica, mas também
em outros contextos de ensino de música. O maior desafio foi
formular uma matriz curricular que oferecesse os conteúdos
musicais específicos e os pedagógicos de maneira concreta e
substancial dentro da modalidade EaD, no decorrer de 6 semestres.
A matriz curricular está dividida em três categorias: disciplinas
específicas musicais, disciplinas de núcleo comum, disciplinas de
formação pedagógica.
As disciplinas com conteúdos específicos musicais são:
História e Crítica Musical: da antiguidade ao barroco, História e
Crítica Musical: do classicismo à música contemporânea, História
e Crítica Musical: música brasileira, Canto Coral e Técnica Vocal,
Instrumento Musicalizador – Percussão e Cantigas, Estética para
a Educação Musical, Percepção, Notação e Linguagem Musical,

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Cultura Digital e Tecnologias para a Educação Musical, Percepção


e Estruturação Musical, Fundamentos da Harmonia, Harmonia
e Análise Musical, Instrumento Musicalizador – Flauta Doce e
Composição e Arranjos Pedagógicos.
As disciplinas de Comunicação e Linguagem, Metodologia
da Pesquisa Científica, Antropologia, Ética e Cultura, e Língua
Brasileira de Sinais fazem parte do rol das disciplinas institucionais,
articuladas com o Projeto Educativo Claretiano (CLARETIANO,
2012) e com as políticas federais. 
Quanto às disciplinas Fundamentos da Educação, Políticas
da Educação Básica, Didática e Metodologia do Ensino da Música,
Psicologia da Educação, Fundamentos da Educação Inclusiva,
estas contemplam a formação de professores da Educação Básica e
fazem parte do Centro de Formação de Professores do Claretiano. 
Em cada uma dessas disciplinas, temos um professor
responsável, que é quem elabora o plano de ensino da disciplina, as
avaliações e planeja as aulas presenciais que serão ministradas nos 88
polos presenciais espalhados pelo Brasil. Temos, também, a figura
do tutor virtual, que tem como função acompanhar o educando no
ambiente virtual, corrigir as suas atividades e esclarecer dúvidas. O
tutor presencial é aquele que está presencialmente nos polos, para
esclarecer dúvidas dos alunos no decorrer da semana e ministrar as
aulas preparadas pelos professores responsáveis pelas disciplinas.
Considerando a prática como elemento indispensável
no curso de Licenciatura em Música do Claretiano – Rede de
Educação, os encontros presenciais se tornam essenciais para que
os processos educativos ocorram de forma coerente com o estudo na
plataforma online. Entendemos por processos educativos práticas
que são geradas por meio da convivência entre as pessoas, neste
caso, comunidade acadêmica de maneira colaborativa, respeitando
suas individualidades, suas culturas e seus saberes advindos da
experiência, por meio da música.
Portanto, os encontros presenciais potencializam esses
processos no sentido de promover o encontro dos alunos com os
tutores presenciais nos polos, a partilha de dúvidas que trazem da
experiência com os meios digitais, como sala virtual, ferramentas

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e funcionalidades do sistema do portal Claretiano e a prática dos


conteúdos alinhados com os planos de aula e estratégias de ensino
planejadas pelos professores responsáveis das disciplinas ofertadas.
Por mais que tutores presenciais recebam planos de aulas
advindos dos professores responsáveis, a autonomia desses tutores,
juntamente com seus alunos, permite a liberdade de adaptarem,
praticarem e criarem práticas diversas nos encontros presenciais,
culminando em experiências plurais e singulares. Isto é de extrema
importância, uma vez que somente esse tutor conhece a fundo as
características e necessidades da região em que atua.
Nesse sentido, oferecemos mais que informações teóricas,
pois a informação, muitas vezes, não traz experiência. De acordo
com Bondía (2002), o conjunto de informações pode significar uma
aprendizagem rasa; pois quem traz profundidade no aprendizado
é a experiência, o fazer, deixando-se de lado o automatismo da
informação.
A informação não é experiência. E mais, a informação não
deixa lugar para a experiência, ela é quase o contrário da
experiência, quase uma antiexperiência. Por isso a ênfase
contemporânea na informação, em estar informados, e
toda a retórica destinada a constituir-nos como sujeitos
informantes e informados; a informação não faz outra
coisa que cancelar nossas possibilidades de experiência.
[...] a experiência é cada vez mais rara, por falta de tempo
(BONDÍA, 2002, p. 21-23).
Desse modo, compreendemos os encontros presenciais
também como um espaço/tempo capaz de permitir aos tutores
presenciais e aos alunos que construam experiências significativas,
se formem enquanto seres humanos e enquanto educadores.
Para que todos os envolvidos – professores responsáveis,
tutores virtuais e tutores presenciais, alunos – possam ter acesso a
essas produções advindas das práticas dos encontros presenciais,
criamos uma página em rede social e instigamos alunos e professores
a compartilharem registros audiovisuais de suas práticas no polo.
Além disso, há fóruns de interação online, nas salas virtuais das
disciplinas, para que os alunos interajam sobre suas impressões,
sensações, dúvidas e materiais dos encontros.

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Acreditamos, portanto, que estamos promovendo uma


educação baseada em fenômenos pessoais e sociais. Como aborda
Neves (2005), a educação a distância não pode mais ser considerada
um modismo, porque promove a democratização do acesso a
diversos níveis sociais e econômicos. Avançamos no sentido de
compreender que estamos formando “[...] sujeitos autônomos,
capazes de buscar, criar e aprender ao longo de toda a vida e de
intervir no mundo em que vivem” (NEVES, 2005, p. 213).
De acordo com as diretrizes para a operacionalização do
ensino de música nas escolas, na seção que aborda as definições
para as instituições formadoras de educação superior e de educação
profissional, a formação dos futuros docentes em música deve ser
direcionada e adequada às realidades das escolas brasileiras. 
A saber, um dos compromissos das instituições de ensino
superior é, de acordo com o artigo VI,
[...] orientar para que o estágio supervisionado e a prática de
ensino dos cursos de graduação em Música tenham parte
predominante de sua carga horária dedicada ao ensino de
Música nas escolas de Educação Básica. (ABMES, 2016,
p. 1).

Perfil do aluno ingressante e do egresso


Um dos maiores desafios do nosso curso está em atender a
diversidade de perfis de alunos ingressantes.
Em resumo, os ingressantes se dividem, de maneira
geral, em dois grupos. Alunos que já são músicos práticos,
instrumentistas, professores particulares de música, dentre outros
que já possuem conhecimentos musicais prévios e que buscam,
por meio da graduação, o aprofundamento musical e pedagógico,
assim como a habilitação para atuar nas diversas áreas da
educação musical. E o segundo grupo compreende alunos que
não possuem um conhecimento teórico-musical prévio, mas que
escolhem a licenciatura em música como carreira, tendo em vista
a familiaridade com a música, seja cantando, tocando ou ouvindo
música (CLARETIANO, 2018). Desse modo, precisamos atender
a demanda desses alunos que não têm o conhecimento teórico em

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música, preparando-o para cursar as disciplinas em que isso é um


pré-requisito.
Embora para esse perfil de aluno o caminho na graduação
seja mais árduo, buscamos focar nossos esforços em ajudá-lo a
preencher essas lacunas, por meio das disciplinas iniciais do curso
e também dos cursos de extensão.
O desafio com os alunos que ingressam já com o conhecimento
teórico musical é mantê-los interessados e motivados, mesmo tendo
que rever conteúdos musicais básicos.
Em relação ao perfil do egresso, buscamos,
[...] preparar pessoas íntegras que, optando por um
determinado segmento profissional, aceitem submeter-
se ao aprendizado científico-técnico-humano para poder
desempenhar com eficiência, consistência e integridade
as tarefas e obrigações condizentes com a sua vocação
profissional e com a área que se propõem a trabalhar.
(CLARETIANO, 2012, p. 16).
Desse modo, esperamos formar educadores musicais aptos
a atuar em várias áreas da educação musical (escolas de educação
básica, projetos sociais, conservatórios e escolas livres de música),
de maneira comprometida com um ensino de música de excelência.
Para isso, ele deve ter habilidades e aptidões indispensáveis, como:
domínio de técnicas composicionais e sensibilidade estética relativa
a estilos, repertórios, obras e outras criações musicais; estar ciente da
sua responsabilidade em contribuir para o exercício do pensamento
reflexivo, da sensibilidade artística e a capacidade de manifestação
do indivíduo na sociedade. Também esperamos que haja o
comprometimento com a diversidade musical do Brasil em suas
dimensões artísticas, culturais e sociais, científicas e tecnológicas
e comprometimento com a formação humana e artística de cada
pessoa, possibilitando a todos, de forma indiscriminada, o acesso à
educação musical (CLARETIANO, 2018).

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Ambiente virtual de aprendizagem

A formação de educadores musicais por si já apresenta


muitos desafios. Quando olhamos para a educação a distância,
esses desafios se multiplicam.
Embora tenhamos encontros presenciais, a maior parte do
curso acontece no ambiente virtual de aprendizagem; por isso, é
preciso que ele dê conta das práticas musicais, como o ensino do
canto, o treinamento da percepção auditiva, o aprendizado prática
da flauta doce. 
Em 2014, no início do curso, o ambiente virtual de
aprendizagem não  possibilitava o envio de arquivos de vídeo
e áudio. Com ajuda do setor de tecnologia da instituição, foram
desenvolvidas novas ferramentas, tornando possível que nas
disciplinas os trabalhos não fossem realizados somente a partir
da construção de texto, mas também pela prática filmada ou
gravada. Assim, em disciplinas como Canto Coral, Instrumento
Musicalizador, Percussão e Cantigas, e Flauta doce, os educandos
enviam vídeos aos professores executando as suas práticas.
Outra mudança significativa foi a do modelo do material
didático das disciplinas. Esses materiais eram confeccionados em
um arquivo de PDF. A partir de 2019, os materiais têm passado por
uma adequação para um novo modelo, em hiperlink. Nesse novo
modelo, é possível oferecer grande quantidade de vídeos e áudios,
tão importantes para o ensino de música a distância.
Entre as inovações do curso, também está o oferecimento de
bate-papos ao vivo utilizando-se o YouTube. Os tutores marcam
esses momentos para tirar as dúvidas dos alunos ao vivo. Esses
momentos têm se mostrado de grande importância, não só
para a compreensão dos conteúdos, mas principalmente para a
aproximação entre eles e os seus tutores.
Nesse sentido, essas ferramentas tecnológicas possibilitam
melhores processos de interação e aproximação com os alunos. De
acordo com Schlosser (2010, [n. p.], aspas do autor),

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[...] Apesar de os professores, coordenadores, tutores e


demais envolvidos nessa modalidade estarem do outro
lado, muitas vezes, visualizadas em fotografias estáticas,
estão, em boa parte do tempo, comprometidos no ato de
orientar da melhor forma possível esse aluno “distante”.
No momento, novas metodologias de inovação, dentro da sala
de aula virtual, estão sendo estudadas para permitir que o ensino
seja cada vez mais efetivo.
A fim de contribuir para o nivelamento musical dos alunos
ingressantes, o curso de música vem criando estratégias de
formação extracurricular, como é o caso dos cursos de extensão
oferecidos pelo Claretiano – Rede de Educação. O Núcleo Docente
Estruturante (NDE) realiza, constantemente, uma avaliação das
lacunas de aprendizagem apresentadas pelos alunos. Sabendo
dessas falhas, os professores estão criando cursos de extensão
pontuais para sanar os déficits, permitindo que os alunos continuem
cursando a licenciatura e resolvam essas questões.
Essas estratégias contribuem, claramente, para a não evasão
de alunos do curso, para a melhoria dos processos de aprendizagem
e, ainda, para o cumprimento de carga horária de atividades
acadêmico-científico-culturais que eles devem cumprir até o final
da graduação.

3.  LICENCIATURAS A DISTÂNCIA PELO BRASIL

Uma das autoras, enquanto representante estadual de


São Paulo, da Associação Brasileira de Educação Musical –
ABEM, participou de uma pesquisa que registrou a quantidade
de universidades públicas e privadas que possuem cursos de
Licenciatura em Música, a fim de mapear a abrangência de formação
na área, no Brasil. 
Considerando o Claretiano – Centro Universitário como
uma instituição privada, procurou-se, nessa pesquisa, divulgada
internamente entre os representantes da ABEM (2018), os registros
de polos em cada uma das regiões e a quantidade de polos existentes

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ISSN 2237-6011 35

nelas, a fim de realizar um breve comparativo sobre a presença do


Claretiano e, consequentemente, alguns impactos. 

Tabela 1. Relação de Instituições Privadas de Ensino Superior.


NORTE NORDESTE CENTRO OESTE SUDESTE SUL
CEUCLAR
UNB (10) UNEB (5) CEUCLAR (13) CEUCLAR (40)
(12)
UNIS MG (2) UEMA (2) FASEM (1) UNIMES (22)

UNINCOR (5) -
UFRGS (1) CEUCLAR (19) UNIASSELVI (2)
encerrado

CEUCLAR  (13) UEMA (1) UNIS (4)


CEUNSP (1)

Fonte: adaptado de ABEM (2018).

Como observado na tabela, o Claretiano – Centro Universitário


está presente em todas as regiões e ganha destaque nas regiões
norte, nordeste, centro-oeste e sul, considerando o número de polos
presentes e um breve comparativo com outras instituições de ensino
superior privadas a distância. 
 Em 2014, em algumas cidades onde haviam polos presenciais,
não haviam graduados em música, tornando-se um grande desafio
contratar tutores presenciais para ministrar as aulas.
Os polos de Vilhena- RO, Ji-Paraná-RO, Rio Verde-GO,
Sinop- MT e Floriano-PI ficaram sem tutor contratado, tendo que
trabalhar com professores que vinham de outras regiões por 3 anos.
Hoje, temos como  profissionais atuando nesses polos egressos
do próprio curso, o que aponta como a graduação em música do
Claretiano veio contribuir para a formação de profissionais em
música nesses locais.
A fim de visualizar o quadro de polos que possuem o curso de
música ativo, segue uma pesquisa feita pelas autoras, considerando
o mapeamento do território brasileiro.

Revista Educação, Batatais, v. 12, n. 2, p. 25-40, jul./dez. 2022


considerando o mapeamento do território brasileiro.
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Figura
Figura 1. 1.
Relação
Relaçãodedepolos
polosdo
doClaretiano
Claretiano–– Rede
Rede de Educação
Educação em
em
território nacional.
território nacional.

Fonte:
Fonte: acervo
acervo dasdas autoras
autoras (2019).
(2019).
4 4
Em EmFeira FeiradedeSantana Santana –– BA, BA, temos temoso ocaso casododo Sr.Sr.
JoãoJoão, de, 70de
70anos,
anos,motorista
motoristade deônibus
ônibusde de umauma escolaescola rural.
rural. Ele
Ele relatou
relatou que que
estudou somente até o quarto ano do ensino fundamental. Em 2013,
estudou
ficou sabendo somente que poderiaaté o quarto realizar anoo do ensino
Enem e, sefundamental.
tivesse uma Em boa
nota na prova, receberia seu diploma de ensino médio. Ele fez
o exame e atingiu seu objetivo  de concluir o ensino médio. Foi
                                                                
quando
4
Todos os um nomes amigoutilizados comentou
neste artigo são com elecomque
fictícios, haveria
o propósito um curso
de preservar de
o sigilo dos
alunos.
música a distância na cidade. Ele, que era maestro da banda de
sua igreja, foi buscar mais informações. Ele prestou o vestibular e
também o processo seletivo de bolsas. O Sr. João foi aprovado em
primeiro lugar, conseguindo, assim, a bolsa de estudos. Para poder
estudar e trabalhar, imprimia todo o material do curso e o levava
com ele nas suas viagens para as escolas rurais. Enquanto esperava
Todos os nomes utilizados neste artigo são fictícios, com o propósito de preservar o sigilo dos alunos.
4

Revista Educação, Batatais, v. 12, n. 2, p. 25-40, jul./dez. 2022


ISSN 2237-6011 37

as crianças, estudava para as provas e realizava as atividades do


curso de música. Ele concluiu o curso sem nenhuma disciplina de
dependência, dentro do prazo de 3 anos.
Em Rio Claro, tivemos o aluno Carlos. Ele relatou que saiu
de casa com 16 anos de idade em busca de seu sonho, que era ser
músico. Morou na rua por um tempo, era acolhido por pessoas
diversas, mas nunca teve residência fixa. A sua escolaridade foi
feita de maneira muito deficiente, mas, mesmo assim, ele tinha o
desejo de cursar uma universidade. Ao ingressar na faculdade, mal
sabia ler e escrever. Em seu primeiro contato com um dos tutores
via e-mail, não foi compreendido, tamanha era sua dificuldade em
escrever. O tutor entrou em contato com o aluno por telefone e
se dispôs a ajudá-lo com a escrita. Todos os trabalhos de Carlos
eram corrigidos com muita atenção, visando seu desenvolvimento.
Com a ajuda de seus tutores e professores, desenvolveu a escrita,
a compreensão textual e, principalmente, o conhecimento teórico
musical. Carlos era aquele que todos diziam que não ia dar certo
e que a universidade não era seu lugar, mas na universidade
demonstrou uma verdadeira sede por conhecimento, destacando-se
como um dos melhores alunos do curso. Ele não tinha os saberes
institucionalizados, mas vários outros saberes estavam ali presentes,
assim como no caso do Sr. João.
A academia pode ser excludente. Nesse espaço, muitas vezes
são negados os processos educativos oriundos da coletividade e da
convivência entre as pessoas, “o saber de experiência feito” (FREIRE,
2011) do educando não é levado em conta na ação educativa, o que
leva o educando a um processo de desumanização.  Em face de uma
educação que nega a vocação de ser mais, “[...] o sujeito não se
encontra mais no mundo que ajuda a reconstruir; nele, nesse mundo
desumanizado, fica retido como objeto de outro sujeito: aliena-se
[...]” (FIORI, 1986, p. 7).
A visão do corpo docente do curso de Música, que soube
valorizar esses saberes diversos, acreditando que a universidade é
para todos, possibilitou que esses alunos tivessem sucesso em suas
trajetórias no ensino superior.

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A vida é um processo contínuo de conhecimentos e criação.


Desse modo,
[...] vivemos com os outros seres vivos, e, portanto,
compartilhamos com eles o processo vital. Construímos
o mundo em que vivemos durante as nossas vidas. Por
sua vez, ele também nos constrói ao longo dessa viagem
comum. (MATURANA; VARELA, 2004, p. 10).
Assim como colaboramos para a construção dos educandos,
eles também dispararam reflexões que possibilitaram que o curso
de graduação ampliasse sua visão em relação à formação de
professores.

4.  CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nestes 5 anos da Licenciatura em Música, muitos foram os


desafios encontrados e solucionados, no entanto, há muitos outros
pela frente. A busca pelo aprimoramento do curso é contínua, com
o objetivo de formarmos educadores capazes de modificar o seu
entorno e, ao fazê-lo, construir uma sociedade mais justa e humana.
Fiori (1991) aponta que ou a educação é libertadora ou ela
não pode ser educação. Buscamos oportunizar uma educação que
liberta, que humaniza e que, portanto, leva os nossos educandos
a serem mais, se conscientizando a cada dia, uma vez que “[...]
educação e conscientização se implicam mutuamente” (FIORI,
1986, p. 3). É na convivência e interação com nossos educandos,
abrindo-nos ao diálogo, que acreditamos que podemos nos
conscientizar mutuamente, percebendo e refletindo sobre os
diversos saberes existentes dentro das diversas regiões e realidades
do Brasil e como eles podem estar articulados dentro do curso em
busca do bem comum.
Desse modo, seguimos caminhando na busca de uma educação
musical humanizadora (GALON et al., 2013), que considera como
um ensino de excelência aquele que articula conteúdos específicos
de música sem perder o olhar para a formação humana dos alunos.
Nosso intuito é formar educadores musicais que sejam ampliadores
de horizontes para o desenvolvimento do bem comum.

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REFERÊNCIAS

ABEM – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL.


Planilha de registro de instituições de Ensino Superior. Cursos de Licenciatura
em Música. [s.l.: s.n.], 2018. [não publicado].

ABMES – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MANTENEDORAS DE ENSINO


SUPERIOR. Resolução n° 2: define diretrizes nacionais para a operacionalização
do ensino de música na Educação Básica, 2016. Brasília: ABMES, 2016.

BONDÍA, J. L. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista


Brasileira de Educação. Tradução de João Wanderley Geraldi. Espanha:
Universidade de Barcelona, 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/
rbedu/n19/n19a02.pdf. Acesso em: 11 set. 2019.

CLARET. Os Missionários Claretianos. 2015. Disponível em: http://claret.org.


br/claretianos. Acesso em: 20 set. 2019.

CLARETINO – CENTRO UNIVERSITÁRIO. Projeto Educativo Claretiano.


Batatais: Claretiano, 2012.

CLARETIANO. Projeto Político-Pedagógico do Curso de Música. Batatais:


Claretiano, 2018.

FIORI, E. M. Conscientização e educação. Educação e Realidade, Porto Alegre,


v. 11, n. 1, p. 3-10, jan/jun.1986.

FIORI, E. M. Textos escolhidos. Porto Alegre: L&PM, 1991.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 50. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.

GALON, M. et al. Por uma educação musical humanizadora. In: CONGRESSO


DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM
MÚSICA, 23., 2013, Natal. Anais [...] Natal: [s.n.], 2013. p. 1-8.

MATURANA, H; VARELA, F. A árvore do conhecimento: as bases biológicas


do conhecimento humano. São Paulo: Ed. Palas Athena, 2004.

NEVES, C. M. C. A educação a distância e a formação de professores a formação


de professores a formação de professores. In: ALMEIDA, M. E. B. A.; MORAN,
J. M. (Orgs.). Integração das tecnologias da educação: salto para o futuro.

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40 ISSN 2237-6011

Brasília: Seed, 2005. p. 136-141. Disponível em: http://www.pucrs.br/ciencias/


viali/tic_literatura/livros/Salto_tecnologias.pdf. Acesso em: 11 set. 2019.

SCHLOSSER, R. L. A atuação dos tutores nos cursos de educação a distância.


Revista Digital da CVA – Ricesu, v. 6, n. 22, fev. 2010. Disponível em: http://
www.pead.ucpel.tche.br/revistas/index.php/colabora/article/viewFile/128/112.
Acesso em: nov. 2018.

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A utilização de atividades práticas para o


ensino de Física: sala de aula invertida

Antônio César GERON1

Resumo: Este artigo apresenta e descreve os resultados de uma atividade prática


baseada no conceito de Sala de Aula Invertida na disciplina de Física. Nela,
foram abordados estudos relativos à eletrodinâmica por meio da associação em
série e em paralelo de resistores com alunos do 2° e 3° anos do Ensino Médio
do Colégio São José da cidade de Batatais. A metodologia de Sala de Aula
Invertida consiste em expor os conteúdos e conceitos a serem estudados por meio
de atividades extraclasses, previamente organizadas pelo professor, realizadas
em casa pelos alunos por meio da leitura de textos, da visualização de vídeos
e da realização de simulações on-line. Na sala de aula, os conteúdos estudados
extraclasse são revistos e discutidos pelo professor, e os alunos são incentivados
a trabalharem, colaborativamente, na resolução de problemas e em atividades
experimentais práticas. Nesse sentido, descrevem-se, neste artigo, algumas
potencialidades, os problemas enfrentados pelo professor e a opinião dos alunos
em relação a esse método de aula. Assim, independentemente das dificuldades
enfrentadas no decorrer das atividades, existe a necessidade da realização de
atitudes e métodos que inovem e estimulem professores e alunos em relação ao
ensino e aprendizagem de conteúdos e conceitos a serem estudados na disciplina
de Física.

Palavras-chave: Aula Prática. Ensino de Física. Sala de Aula Invertida.

1
Antônio César Geron. Mestre em Ciências e Práticas Educativas pela Universidade de Franca
(UNIFRAN). Especialista em Educação Matemática e em Ciências pela Universidade de Franca
(UNIFRAN). Licenciado em Física e Matemática pela Universidade de Franca (UNIFRAN). Bacharel
em Administração de Empresas pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: geron@claretiano.edu.br.

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Practical activities for the teaching of Physics:


the flipped classroom strategy

Antônio César GERON

Abstract: This article presents and describes the results of a practical activity
based on the flipped classroom strategy applied to the teaching of Physics, in
which the teacher approached studies related to electrodynamics by means of the
serial and parallel association of resistors with São José High School students,
in the city of Batatais. The flipped classroom method consists of exposing the
contents and concepts by means of out-of-class activities, previously organized
by the teacher, performed at home by students while reading texts, watching
videos and developing on-line simulations. In class, the out-of-class contents
are revisited and discussed by the teacher, and students are encouraged to work
collaboratively in problem solutions and practical experimental activities. That
said, in this study, some potentials, as well as problems faced by teachers and
students’ opinions about this method are described. Thus, regardless of the
teachers’ difficulties during the activities, it is necessary to raise attitudes and
methods that innovate and encourage teachers and students towards the teaching
and learning of contents and concepts of Physics.

Keywords: Practical Class. Teaching of Physics. Flipped Classroom.

Revista Educação, Batatais, v. 12, n. 2, p. 41-55, jul./dez. 2022


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1.  INTRODUÇÃO

Neste artigo, é descrita uma atividade prática em que a


metodologia ativa denominada Sala de Aula Invertida foi utilizada
para o ensino do conteúdo de eletrodinâmica na disciplina de Física
para alunos do 2° e 3° anos do Ensino Médio do Colégio São José,
na cidade de Batatais.
Inúmeros pesquisadores, na atualidade, descrevem novos
modelos, métodos e metodologias de ensino que possibilitam ao
aluno uma aprendizagem mais significativa e autônoma por meio
da utilização das tecnologias disponíveis em nosso cotidiano.
Nessa perspectiva, a Sala de Aula Invertida vem ao encontro dessa
tendência, sendo adotada em renomadas instituições e em todos os
níveis de ensino.
Em consonância com Valente (2014), as metodologias ativas
são entendidas como práticas pedagógicas alternativas ao ensino
tradicional, onde, segundo Talbert (2019, p. 25) esse “[...] modelo
tradicional cria dependências intelectuais indesejadas dos alunos
em relação aos professores”.
Basich e Moran (2018, p. 8) descrevem as metodologias ativas
como sendo “[...] estratégias de ensino centradas na participação
efetiva dos estudantes na construção do processo de aprendizagem,
de forma flexível, interligada e híbrida”.
Nas metodologias ativas, o aluno assume uma postura mais
participativa no desenvolvimento de projetos e na resolução de
problemas para a construção de conhecimento.  Nesse aspecto,
diversas estratégias têm sido utilizadas na implantação das
metodologias ativas, sendo uma delas a sala de aula invertida
(flipped classroom).
O conceito de Sala de Aula Invertida foi e é desenvolvido
por meio de diferentes abordagens. No entanto, esse conceito
foi aplicado e divulgado por Bergmann e Sams (2018) em suas
aulas de Ciências, especificamente na disciplina de Química, no
Ensino Médio, a partir de 2006. De acordo com esses autores, essa
modalidade de ensino está centrada no aluno e requer a realização

Revista Educação, Batatais, v. 12, n. 2, p. 41-55, jul./dez. 2022


44 ISSN 2237-6011

de atividades em sala de aula e a utilização de tecnologias digitais


como atividades fora da sala de aula. Todavia, a simples utilização
de tecnologias digitais não garante sucesso na aplicação dessa
metodologia ativa.
Nesse sentido, Valente (2014) descreve que a sala de aula
invertida é uma modalidade de aprendizado em que as instruções e
os conteúdos a serem estudados são transmitidos on-line aos alunos
antes que frequentem a sala de aula. A aula presencial passa a ser o
local disponível para trabalhar os conteúdos já estudados.
Nessa metodologia, o contato com o conteúdo a ser abordado
é realizado por meio de atividades extraclasses antes da aula
presencial, lançando mão de vídeos e textos on-line ou gravados,
bem como simulações. Em sala de aula, os alunos são incentivados a
trabalhar, colaborativamente, na resolução de problemas propostos
e de acordo com o conteúdo sugerido anteriormente pelo professor.
Os professores Jonathan Bergmann e Aaron Sams (2018),
para minimizar os efeitos da ausência de alunos em suas aulas,
disponibilizaram gravações expositivas dos conteúdos ministrados
para que os alunos, mesmo ausentes, pudessem acompanhar
os conteúdos e conceitos da disciplina das aulas presenciais.
Observaram que o resultado desse método auxiliava o entendimento
dos conceitos e conteúdos e melhorava, consideravelmente, o
rendimento desses alunos. Assim, ao alterar a dinâmica de suas
aulas, perceberam que essa metodologia se mostrou mais eficiente
que as aulas convencionais que ministravam.
Bergmann e Sams (2018) destacam que, ao ler os textos
propostos, assistir aos vídeos e realizar possíveis simulações
sugeridas pelo professor, os alunos devem descrever e enviar suas
dúvidas e indagações ao professor para que ele possa abordá-las na
próxima aula presencial.
Em sala de aula, o foco deve ser voltado à aplicação dos
conteúdos estudados em casa pelos alunos por meio da resolução de
problemas, atividades experimentais ou simulações computacionais
que motivem e direcionem os alunos para uma melhor aprendizagem
dos conteúdos propostos.

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Nesse sentido, as atividades extraclasses são muito


importantes na aplicação do método de Sala de Aula Invertida,
fazendo com que o professor determine a maneira como os conceitos
e conteúdos da disciplina serão abordados em sala de aula. Assim, o
professor deverá indicar a leitura de um texto ou a visualização de
um vídeo que esteja relacionado com o conteúdo a ser abordado em
sala de aula.
Nas aulas presenciais, os conceitos e conteúdos estudados
pelos alunos serão, inicialmente, abordados por uma exposição
discursiva pelo professor, respondendo às dúvidas e indagações dos
alunos.
Posteriormente, o professor deverá aplicar, na prática, por
meio de resolução de problemas, atividades experimentais ou
simulações, os conceitos e conteúdos que foram estudados. Em
sala de aula, o foco deve ser voltado à aplicação dos conteúdos
estudados em casa pelos alunos por meio de resolução de problemas,
atividades experimentais e/ou simulações computacionais.
Estudos indicam que a utilização da Sala de Aula Invertida
melhora o desempenho dos alunos nas avaliações e favorece o
entendimento em relação aos conteúdos abordados. Além disso,
a realização das atividades antes da aula presencial estimula os
alunos nas discussões e abordagens dos conteúdos e conceitos, os
quais serão aplicados em sala de aula presencial na realização de
atividades práticas e na resolução de problemas do cotidiano.

2.  METODOLOGIA

Para fundamentar e justificar a utilização da metodologia


ativa denominada Sala de Aula Invertida, foi desenvolvida e
realizada uma atividade extraclasse de simulação on-line e uma
atividade prática no laboratório de Física, cujo objetivo foi explorar
conceitos de eletricidade para alunos do 2° e 3° anos do Ensino
Médio do Colégio São José, na cidade de Batatais.
O desenvolvimento da atividade extraclasse consistiu,
inicialmente, no contato do aluno com o conteúdo a ser aprendido

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em sala de aula. Essa atividade não deve ser muito extensa, deve
possuir uma linguagem clara e abordar os conteúdos a serem
estudados com objetividade. O aluno, ao realizá-la, deve descrever
e enviar suas dúvidas e indagações on-line para que o professor
possa abordá-las na próxima aula presencial.
A atividade realizada extraclasse é fundamental nessa
metodologia, pois, de acordo com as respostas e dúvidas dos alunos
em relação às tarefas de preparação realizadas em casa, o professor
direciona a maneira como o conteúdo será abordado em sala de
aula, maximizando o tempo da aula presencial com atividades de
resolução de problemas e atividades práticas.
A estratégia da utilização dos procedimentos descritos
consiste em estimular os alunos a estudar conceitos desafiadores
sobre os conteúdos a serem abordados, utilizando-se simulações
realizadas extraclasse e, posteriormente, em classe, para detectar
o que os alunos sabem e o que devem ainda estudar e aprender.
É fundamental discutir, em sala de aula, os resultados obtidos nas
atividades e estabelecer relações do conteúdo abordado com sua
aplicação no cotidiano do aluno.
Nesse sentido, a atividade extraclasse sugerida consistiu
na realização de uma simulação on-line cujo objetivo foi abordar
o estudo de eletricidade. Assim, foi solicitado aos alunos que
acessassem o site2 de simulações da PhET ([s.d.]), sigla em
inglês para PhysicsEducation Technology Project. Nesse site,
é possível simular atividades relacionadas ao estudo da Física e
outras disciplinas. Assim, o professor sugeriu que o conteúdo a
ser abordado fosse sobre eletrodinâmica, referente ao estudo da
associação de resistores em série e paralelo.
As simulações interativas desse site podem ser livremente
utilizadas pelos alunos e professores. Todas as utilizações requerem
a citação da obra. As referidas simulações podem ser executadas
enquanto houver conexão à internet, ou baixadas e instaladas no
computador, podendo ser executadas de maneira off-line.

2
O endereço deste site: https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulations.

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Sendo assim, foi solicitado aos alunos que acessassem


o referido site e realizassem uma atividade de eletrodinâmica,
utilizando, para esse fim, o kit para montar circuito DC – Lab. Virtual,
que disponibiliza a exploração de conceitos como intensidade de
corrente, tensão, resistência elétrica, circuito em série e circuito em
paralelo.
O objetivo dessa simulação é fazer com que o aluno analise os
fenômenos presentes no dia a dia e responda a algumas perguntas,
como, por exemplo, “O que acontece quando uma ou mais lâmpadas
de nossa residência se queimam?”; “Como estão associadas?”; “Por
que as lâmpadas de mesma potência apresentam o mesmo brilho ao
serem ligadas em pontos diferentes na rede elétrica residencial?”; e
“Quais tipos de ligações existem em uma residência, no comércio
e na indústria?”.
A atividade de simulação extraclasse consiste em montar dois
circuitos com três lâmpadas de mesma resistência elétrica, sendo
um deles com as lâmpadas associadas em série e o outro com as
lâmpadas associadas em paralelo, de acordo com as orientações
enviadas aos alunos pelo professor.
Para a montagem dos circuitos elétricos, as habilidades e
competências que os alunos devem desenvolver são: reconhecer,
representar e comparar uma associação de lâmpadas em série e
em paralelo e como realizar a medição de intensidade de corrente
e tensão, utilizando-se, respectivamente, um amperímetro e um
voltímetro. Após a realização da atividade de simulação, os alunos
devem enviar ao professor as montagens solicitadas e as possíveis
dificuldades e dúvidas encontradas tanto em relação à montagem
quanto em relação aos conteúdos e conceitos envolvidos.
Um exemplo da simulação realizada pelos alunos para
uma montagem de três lâmpadas associadas em paralelo está
representado na Figura 1. Nesta montagem, é possível observar,
em destaque, os valores da resistência nas lâmpadas ( 10, 0Ω ), a
intensidade de corrente elétrica (0,90A) medida pelo amperímetro
que percorre cada lâmpada e a tensão do circuito (9,00V) medida
pelo voltímetro.

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Figura 1. PhET Interactive Simulations – Associação em Paralelo


de resistores.

Fonte: acervo do autor.


Para essa montagem de simulação, o aluno deverá observar
que, em uma associação em paralelo de resistores, a diferença de
potencial (tensão) é constante, a intensidade de corrente elétrica
disponibilizada pelo gerador (pilha) é dividida igualmente a todos
os resistores (lâmpadas) e que a intensidade luminosa (potência)
das lâmpadas se mantém constante.
Um exemplo da simulação realizada pelos alunos para uma
montagem de três lâmpadas associadas em série está representado
na Figura 2. Nesta montagem, é possível observar os respectivos
valores das resistências das lâmpadas ( 10, 0Ω ), a intensidade de
corrente elétrica (0,90A) de cada lâmpada medida pelo amperímetro
e a tensão do circuito (9,00V) medida pelo voltímetro.
Figura 2. PhET Interactive Simulations – Associação em série de
resistores.

Fonte: acervo do autor.

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Para essa montagem de simulação, o aluno deverá observar


que, em uma associação em série de resistores, a diferença
de potencial (tensão) é dividida igualmente para cada resistor
(lâmpada), a intensidade de corrente elétrica disponível no circuito
é constante para todos os resistores (lâmpadas) e a intensidade
luminosa (potência) das lâmpadas diminui.
Após as simulações realizadas pelos alunos, é chegado o
momento das aulas presenciais, que podem ser subdivididas em
aulas expositivas interativas e aulas práticas colaborativas que
se complementam. As aulas expositivas interativas devem ser
constituídas de breves exposições orais de, aproximadamente, 15
minutos sobre os conteúdos estudados pelos alunos. Neste período,
o professor deverá responder às perguntas e indagações enviadas
on-line e avaliar o raciocínio e o engajamento dos alunos com a
atividade de simulação realizada em casa.
As aulas práticas colaborativas consistem em organizar os
alunos em pequenos grupos para que resolvam problemas, realizem
a leitura e análise de textos ou atividades práticas relacionados com
o conteúdo estudado previamente. Nessas aulas, o foco deve ser
voltado às discussões, explicações e detalhamento dos conteúdos
envolvidos nas simulações on-line realizadas pelos alunos, cujo
objetivo é reforçar os conceitos e desenvolver o raciocínio lógico
dedutivo por meio de uma abordagem com base na realização de
atividade prática no laboratório.
No laboratório de Física, o objetivo deve ser direcionado
à realização de atividades práticas relacionadas com conteúdos
desenvolvidos nas simulações on-line realizadas pelos alunos. Para
esse fim, foi utilizado o Quadro Elétrico AC II – EQ229A (Figura
3), destinado ao estudo de corrente elétrica, circuitos, associações
de lâmpadas em série, em paralelo, efeito Joule, medições em
circuitos elétricos, potência elétrica, diferença de potencial, entre
outros, disponível no laboratório de Física e fornecido pelo Centro
Industrial de Equipamentos de Ensino e Pesquisa – CIDEPE
([s.d.]), que é uma empresa que desenvolve produtos educacionais
para instituições de ensino.

Revista Educação, Batatais, v. 12, n. 2, p. 41-55, jul./dez. 2022


50 ISSN 2237-6011

Figura 3. Quadro elétrico AC II – EQ229A.

Fonte: acervo do autor.

Nesse sentido, foi solicitado aos alunos que realizassem


as mesmas montagens realizadas nas simulações on-line, mas
utilizando-se agora, o Quadro Elétrico AC II – EQ229A da CIDEPE
([s.d.]), e na sequência, respondessem a algumas perguntas
previamente elaboradas pelo professor.
No prosseguimento da atividade prática, na montagem da
associação em série de resistores, foi solicitado aos alunos que
montassem o circuito representado na Figura 4 utilizando soquetes
com lâmpadas de 15 W em cada um dos bornes 3, 5 e 6, conforme
observado na figura.
Figura 4. Associação em série de resistores.

Fonte: acervo do autor.

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ISSN 2237-6011 51

Após a realização da montagem, os alunos foram indagados


sobre o que ocorre quando uma lâmpada é removida e, depois,
recolocada no circuito, bem como qual a justificativa para esse fato.
Também foi solicitado que respondessem à seguinte questão: “Caso
um circuito possua 20 lâmpadas associadas em série e uma delas
venha a ‘queimar’, o que acontecerá com as demais lâmpadas do
circuito?”. A resposta deveria ser justificada.
Na montagem da associação em paralelo de resistores (Figura
5), foi solicitado aos alunos que colocassem um soquete com
lâmpada de 15 W em cada um dos bornes 2, 3 e 4. Em seguida,
deveriam descrever o ocorrido quando a lâmpada 3 é retirada
e recolocada no circuito e qual a justificativa para que esse fato
acontecesse.
Figura 5. Associação em paralelo de resistores.

Fonte: acervo do autor.

Após realizarem as montagens de associação em série e


paralelo, os alunos foram indagados da seguinte forma: “Caso
construíssem dois circuitos elétricos, um em série e outro em
paralelo, em qual deles a remoção de uma lâmpada não apagaria as
demais; e quais tipos de ligações existem em instalações elétricas
residenciais, comerciais e industriais?”.
Nesse sentido, o esperado para essa atividade prática realizada
no laboratório de Física é que comparassem as atividades de
simulação realizadas on-line e extraclasse com as atividades práticas

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52 ISSN 2237-6011

realizadas presencialmente e identificassem e diferenciassem


os conceitos, as propriedades de cada circuito e percebessem as
diversas situações de aplicação dessas ligações no seu cotidiano.

3.  RESULTADOS

Os resultados da utilização da metodologia de Sala de Aula


Invertida evidenciam que, nessa metodologia, o aluno é capaz
de melhor utilizar o seu tempo no estudo prévio dos conteúdos e
conceitos e realizá-los de acordo com sua disponibilidade e seu
ritmo de aprendizado.
Observou-se que o modelo invertido de aula pode criar
condições para que os alunos aprofundem os conteúdos e conceitos
estudados em um ambiente mais interativo e dinâmico, promovendo
uma aprendizagem orientada pelos próprios alunos e direcionada
pelo professor.
Nesse método, uma das dificuldades observadas reside no fato
de que o controle do processo de aprendizagem está direcionado
para o aluno e no aluno. Ao professor cabe, nesse contexto, indicar
os conteúdos e conceitos que deseja ensinar por meio de atividades
extraclasse. Em classe, é preciso estimular a aprendizagem por
meio de atividades de resolução de problemas e atividades práticas.
Os alunos que participaram desta pesquisa destacaram que,
neste método, a linguagem utilizada é mais acessível e de melhor
entendimento, pois vai ao encontro da utilização das tecnologias
disponíveis. Além disso, relataram que, neste contexto, devem
assumir a responsabilidade pela própria aprendizagem.

4.  DISCUSSÃO

Nas aulas em que se utilizam metodologias tradicionais, o


professor assume uma posição de transmissor dos conteúdos e
conceitos estudados. Um período de tempo considerável da aula
é destinado à comunicação de conteúdos e conceitos, à resolução

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de exercícios e ao direcionamento de tarefas que consolidem e


complementem o que foi estudado no decorrer da aula.
Na metodologia da Sala de Aula Invertida, a disseminação
dos conteúdos e conceitos a serem abordados deve ser realizada de
forma mais eficiente em contextos educacionais on-line por meio de
textos, videoaulas e simulações que podem ser realizadas em casa
pelos alunos por meio do acesso à internet em seus computadores
ou smartphones.
Esta modalidade de ensino está centrada no aluno e requer a
realização de atividades em sala de aula e a utilização de tecnologias
digitais como atividades fora da sala de aula.
Assim, na aula presencial, o professor terá mais tempo para
direcionar os alunos em atividades práticas e na resolução de
problemas que se relacionam com o seu cotidiano. Nesse contexto,
cabe ao docente ser o responsável por criar, selecionar e organizar
o material de estudo, auxiliar os estudantes nas suas dúvidas,
concentrando mais atenção às particularidades e nas dificuldades
de cada um dos alunos.
O professor, ao dispor de mais tempo, pode concentrar-se
em orientar atividades em sala de aula focadas no engajamento
cognitivo dos estudantes e no estímulo de sua autonomia.
No entanto, algumas dificuldades deverão ser enfrentadas ao
se implantar a proposta de Sala de Aula Invertida, como: conteúdos
curriculares extensos; excessivo número de alunos na sala de aula;
a quantidade de aulas da disciplina disponível na grade; ausência
do hábito de estudo dos alunos em casa; dificuldade de acesso à
internet; oposição da escola, do quadro docente e discente quanto
à aplicação de novas metodologias e inovações tecnológicas; e a
heterogeneidade de conhecimento da sala.

5.  CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste artigo, descreveu-se uma atividade da disciplina de


Física, abordando o conteúdo de eletrodinâmica e especificamente
conceitos que envolvem a associação de resistores em série e em

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paralelo, utilizando-se a metodologia de ensino conhecida como


Sala de Aula Invertida. O objetivo foi apresentar essa alternativa de
ensino aos docentes interessados em diversificar suas aulas.
No entanto, as aulas expositivas tradicionais são relevantes
no contexto da sala de aula, e seria um equívoco supor que devem
ser substituídas. Novas metodologias de ensino como a Sala de
Aula Invertida não podem ser consideradas como única solução a
ser seguida, ou apenas como técnicas que o professor pode utilizar
para a melhoria da compreensão dos conteúdos e conceitos a serem
estudados ou no desenvolvimento de habilidades, na resolução
de problemas. Devem ser utilizadas, conjuntamente, com outras
metodologias para o aprimoramento do ensino e no desenvolvimento
intelectual dos alunos.
O que se espera é que as informações contidas neste artigo
possam enriquecer a prática do professor de Física. No entanto,
desafios na utilização dessa metodologia existem e devem ser
superados. Cabe aos professores serem os agentes dessa superação
e mudança no contexto da sala de aula.
Assim, independentemente das dificuldades enfrentadas no
decorrer das atividades, são necessárias atitudes que inovem e
estimulem professores e alunos em relação ao ensino e aprendizagem
de conteúdos e conceitos a serem estudados na disciplina de Física,
bem como em outras disciplinas.

REFERÊNCIAS

BASICH, L.; MORAN, J. Metodologias ativas para uma educação inovadora:


uma abordagem téorico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.

BERGMANN, J.; SAMS, A. Sala de aula invertida: uma metodologia ativa de


aprendizagem. Tradução de Afonso Celso da Cunha Serra. 1. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2018.

CIDEPE – CENTRO INDUSTRIAL DE EQUIPAMENTOS DE ENSINO E


PESQUISA. Quadro elétrico EQ229C ou EQ229A. Disponível em: https://www.
cidepe.com.br/index.php/br/produtos-interna/quadro-elétrico-7199. Acesso em:
23 ago.2019.

Revista Educação, Batatais, v. 12, n. 2, p. 41-55, jul./dez. 2022


ISSN 2237-6011 55

PHET. Eletricidade, imã e circuitos: kit para montar circuito DC – Lab. Virtual.
Disponível em: https://phet.colorado.edu/sims/html/circuit-construction-kit-dc-
virtual-lab/latest/circuit-construction-kit-dc-virtual-lab_pt_BR.html. Acesso em:
8 ago.2019.

TALBERT, R.  Guia para utilização da aprendizagem invertida no ensino


superior. Porto Alegre: Penso, 2019.

VALENTE, J. A. Blended learning e as mudanças no ensino superior: a proposta


da sala de aula invertida.  Educar em Revista, v. 4, edição especial, p. 79-97,
2014.

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Antropologia e Sociologia do Direito:


o ensino jurídico e uma proposta de Gestão
de Significado no curso de Bacharelado em
Direito do Claretiano – Centro Universitário
de Batatais (SP)

Everton Luís SANCHES1

Resumo: A partir de revisão bibliográfica, o artigo discute a necessidade de uma


atitude menos utilitária por parte dos alunos e cursos de Direito, ensejando o
olhar interdisciplinar e sensibilizando para a busca de justiça, com a identificação
das demandas sociais que precisam ser atendidas pela atuação dos juristas. Para
tanto, defende-se o que se chamou neste artigo de uma proposta de Gestão de
Significado, uma reorientação do entendimento das ações, que produzindo ou
não riqueza pessoal e de uma organização, sejam reconhecidas por seus autores
de acordo com suas contribuições efetivas para a superação construtiva de si
e do outro, em nível pessoal e coletivo. Trata-se, portanto, de uma abordagem
que visa assumir a responsabilidade pela atribuição de importância e valor aos
próprios atos, e dos outros, superando a noção meramente monetária e alcançando
ampla identificação de sentido para as suas ações que permita incluir de maneira
privilegiada nas preocupações ocupacionais dos juristas em formação o papel
da alteridade, ou seja, da compreensão do ponto de vista do “outro”, de vários
“outros” em seus diferentes contextos para o atendimento das demandas coletivas
e o estabelecimento da justiça. Como exemplo prático, é descrita suscintamente
a experiência da Gestão de Significado realizada com a primeira turma do curso
de Direito do Claretiano – Centro Universitário de Batatais, no segundo semestre
de 2018, ao analisar a sociabilidade e a cultura jurídica no processo sociocultural
brasileiro.

Palavras-chave: Ensino Jurídico. Antropologia e Sociologia do Direito. Gestão


de Significado.

1
Everton Luís Sanches. Pós-doutorado em História e Cultura pela Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Doutor e Mestre em História e Cultura Social pela Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Bacharel e licenciado em História pela
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Professor do Claretiano – Centro
Universitário. E-mail: <everton_sanches@hotmail.com>.

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58 ISSN 2237-6011

Anthropology and Sociology of Law:


the legal teaching and a proposal of Meaning
Management in the Claretiano – Centro
Universitário Law Bachelor’s Degree course

Everton Luís SANCHES

Abstract:  Based on a bibliographic review, the article discusses the need for
a less utilitarian attitude on the part of students and law courses, giving rise
to an interdisciplinary approach and sensitizing the search for justice, with the
identification of social demands that must be met by jurists. To this end, it is
defended what was called in this article a proposal of Meaning Management, a
reorientation of the understanding of the actions, that producing or not personal
wealth and of an organization, be recognized by their authors according to their
effective contributions to the constructive overcoming of oneself and the other,
on a personal and collective level. It is, therefore, an approach that seeks to take
responsibility for attributing importance and value to one’s own acts, and of
others, overcoming the purely monetary notion and achieving broad identification
of meaning for their actions that allows them to include in a privileged way, in
the occupational concerns of the jurists in formation, the role of alterity, that
is, the understanding of the point of view of the “other”, of various “others”
in their different contexts to meet collective demands and the establishment of
justice. As a practical example, is briefly described the experience of Meaning
Management conducted with the first class of the Law course to Claretiano –
Centro Universitário of Batatais, in the second semester of 2018, when analyzing
sociability and legal culture in the Brazilian sociocultural process.

Keywords: Legal Education. Anthropology and Sociology of Law. Meaning


Management.

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1.  INTRODUÇÃO

Podemos considerar que uma compreensão antropológica do


Direito propõe utilizar os recursos da Antropologia para entender
o fenômeno jurídico, procurando abordar a sua organização diante
da cultura e do entendimento do ser humano. Da mesma maneira,
a Sociologia Jurídica propõe a organização do conhecimento
profundo do Direito em seu contexto social de elaboração, aplicação
e legitimação. Assim, a Antropologia e a Sociologia do Direito
abrangem conjuntamente o estudo recente (a partir do século XIX)
do Direito enquanto conjunto teórico, simbólico e de práticas que
se organiza: do ponto de vista antropológico, conforme diferentes
culturas e com diferentes entendimentos de justiça; e da perspectiva
sociológica, consoante os arranjos institucionais, lutas de poder e
diferentes formas de existir socialmente.
Cronologicamente, a Antropologia Jurídica inicialmente
partiu de uma noção evolucionista, entendendo que as sociedades
evoluem da selvageria à civilização, da oralidade à escrita, da
propriedade coletiva à propriedade privada, do estatuto ao contrato
(COLAÇO, 2011).
Todavia, podemos dizer que as bases do estudo sociológico
começaram a ser traçadas por Auguste Comte (1798-1857),
discípulo de Henry de Saint-Simon (1760-1825), em sua abordagem
positivista. Ele buscou definições que trouxessem uma lei geral
para todas as filosofias, concluindo que o conhecimento passa por
três etapas distintas, a saber: o teológico ou fictício, que consiste
na consideração da intervenção arbitrária de agentes sobrenaturais;
o estado metafísico ou abstrato, que considera a ação de entidades
ou forças abstratas inerentes a todos os mundos; e o científico
ou positivo, caracterizado pela explicação racional dos fatos,
relacionando fenômenos particulares a fatos gerais. Essa seria a Lei
dos três estados (GUERRA FILHO, 2015).
Até então, supostamente, estava sendo construído o caminho
sólido que poderia ser usado para a ampliação do conhecimento
jurídico, tendo em vista o suporte dado pela formação de uma
base consistente e inequívoca dessas duas áreas do conhecimento
(antropologia e sociologia), entre outras.

Revista Educação, Batatais, v. 12, n. 2, p. 57-85, jul./dez. 2022


60 ISSN 2237-6011

Mas, com o passar do tempo, no século XX, os antropólogos


tornaram-se defensores da diversidade cultural, livrando-se do
juízo de valores estabelecido dentro do processo de colonização. “A
Antropologia Jurídica muda seu paradigma. Em 1926, Malinovski
publicou ‘Crime e Costume na Sociedade Selvagem’, sendo
um estudo sobre o direito ‘primitivo’, em que faz uma análise
científica sem nenhuma pretensão colonial” (COLAÇO, 2011, p.
23). Assim, gradativamente, vieram as noções de etnocentrismo
(tomar a própria etnia e cultura correspondente como superior às
demais), pluralidade cultural (defesa da diferença entre diversas
formas culturais, porém sem distinção hierárquica entre elas,
julgamento ou estabelecimento de juízo de valor) integrando as
discussões antropológicas. A antropologia amadureceu como uma
ciência humana que preza pelo conhecimento do outro para o
aprimoramento de si. Isso aplica-se, inclusive, ao que remete ao
sistema jurídico, intrincando a compreensão da necessidade de uma
antropologia jurídica.
Pelo conhecimento do Direito de outras sociedades, a
Antropologia Jurídica nos permite compreender melhor
o sistema jurídico da nossa própria sociedade; verificar
a relação entre Direito e poder; observar os mecanismos
de dominação na sociedade; respeitar os outros sistemas
jurídicos; e dar sugestões de aprimoramento do nosso
próprio sistema jurídico (COLAÇO, 2011, p. 25).
Da mesma maneira, o estudo sociológico construiu-se
hodiernamente em torno das relações que podem ser estabelecidas
entre diferentes padrões ou formas de sociabilidade, usadas em
grupos sociais e culturas distintos, trazendo à tona amplos construtos
para o aprendizado acerca das sociedades humanas, suas regras de
funcionamento e, no limite, a própria orientação dos acordos que
regem as noções possíveis de Direito. Desse modo, superando a
noção positivista da definição de regras, leis ou outros tipos de
regularidades desejáveis e/ou aplicáveis a todos os contextos sociais,
a sociologia voltou-se para a análise das diferenças, reconhecendo-
as como formas de organização, não como etapas que evoluíam –
ou que deveriam evoluir.
Atualmente pode-se afirmar que os estudos sociológicos
estão mais aptos a fundamentar uma concepção inclusiva

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do objeto da sociologia. Assim, eles se divorciam da


pretensão de fazer da sociologia uma réplica da biologia e
promovem uma revisitação que se projete a partir e além
dos estudos com resíduos espiritualistas, dominantes na
tendência de tratar os homens como um acontecimento
milagroso da natureza [...].
Cabe ao sociólogo, nessa perspectiva, estar apto para
reconhecer, descrever e explicar as diferentes formas e
funções assumidas pela interação social nos vários níveis
de organização da vida (GUERRA FILHO, 2015, p. 33).
Podemos constatar empiricamente que, consoante às
demandas de mercado, há comumente entre os alunos dos cursos
de Direito no Brasil grande ênfase no conhecimento técnico que
facilite o exercício profissional, principalmente a partir de um
concurso público, diminuindo assim nesse perfil de alunos o
interesse por temas transversais do curso, tais como os abrangidos
pelas disciplinas de Sociologia e Antropologia.
Posto isso, a partir de revisão bibliográfica, o artigo discute a
necessidade de uma atitude menos utilitária por parte dos alunos e
cursos de Direito, ensejando o olhar interdisciplinar e sensibilizando
para a busca de justiça, com a identificação das demandas sociais
que precisam ser atendidas pela atuação dos juristas. Também
foi considerada a experiência obtida com as aulas da disciplina
Antropologia e Sociologia Jurídica ministradas para a primeira
turma do curso de Direito do Claretiano – Centro Universitário de
Batatais (SP), formada em agosto de 2018.
Todavia, defende-se o que se chamou neste artigo de uma
proposta de Gestão de Significado, que concerne a uma reorientação
do entendimento das ações, as quais produzindo ou não riqueza
pessoal e de uma organização, sejam reconhecidas por seus autores
de acordo com suas contribuições efetivas para a superação
construtiva de si e do outro, em nível pessoal e coletivo. Trata-se,
portanto, de uma abordagem que visa assumir a responsabilidade
pela atribuição de importância e valor aos próprios atos, e dos
outros, superando a noção meramente monetária e alcançando
ampla identificação de sentido para as suas ações. A identificação de
sentido, assim posto, deve permitir incluir de maneira privilegiada
nas preocupações ocupacionais dos juristas em formação o papel da

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alteridade, ou seja, da compreensão do ponto de vista do “outro”,


de vários “outros” em seus diferentes contextos para o atendimento
das demandas coletivas e o estabelecimento da justiça.

2.  METODOLOGIA

A base comum de onde partem as preocupações estabelecidas


para este estudo é estabelecida de acordo com o campo da
Antropologia e da Sociologia do Direito, conforme elucidado
aprioristicamente. Assim, as discussões põem em diálogo as formas
pelas quais se estabeleceram as interações humanas tomando entes
distintos (pessoas e instituições) no que concerne ao âmbito da
cultura e da organização social, tudo isso maturando concepções e
práticas jurídicas no contexto brasileiro.
Contudo, a busca de considerar a aplicabilidade do estudo
ao contexto prático da vida cotidiana no âmbito jurídico, ou seja,
às rotinas ordinárias ao Direito, deu-se de acordo com os objetivos
de estabelecimento da justiça – estes tomados aqui como princípio
norteador da lei e, por conseguinte, do próprio trabalho jurídico.
Nesse sentido, foram considerados ainda os resultados da
experiência de sala de aula, enquanto metodologia ativa de ensino e
esforço interpretativo, em que os alunos leram e debateram durante
as aulas da disciplina Antropologia e Sociologia Jurídica a peça
de teatro de Martins Pena (1833) O Juiz de Paz da Roça, cujos
resultados educacionais são apresentados neste artigo. Tomada
como elaboração fictícia de um contexto concreto do período
de sua produção, a peça debatida permitiu aos alunos análises
comparativas entre contexto cultural brasileiro e cultura jurídica.
Assim, o debate levou à reflexão sobre o que ainda se repete dentro
do fenômeno jurídico brasileiro na atualidade e sobre as formas de
sociabilidade do colonialismo que ainda se fazem presentes no rito
jurídico.
Trilhando este caminho e extrapolando a experiência da sala
de aula, a definição da Gestão de Significado foi identificada como
conceito inédito que permite operacionalizar de maneira genérica
– não restrita ao âmbito jurídico, mas aplicável aos mais diversos

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contextos – os processos de elaboração e aplicação endógena e


exógena do conhecimento.
À guisa de explicação, este estudo foi realizado considerando
sinteticamente três variantes fundamentais: o processo histórico
de definição dos rumos do curso superior de Direito no Brasil
republicano; a construção de características que podem ser
identificadas como determinantes da cultura brasileira; e a
constituição de uma cultura jurídica no Brasil. Diante disso é
tratada a possibilidade de reorientação dos sentidos, ou seja, de
se estabelecer uma gestão de significado para melhoria do cenário
exposto.
Os estudos de Lopes (2000) a respeito do Direito na História
e a discussão de Holanda (1995) sobre as formas de sociabilidade
no Brasil contribuíram sobremaneira para o debate, além de
artigos, vídeos e demais produções acadêmicas que versam sobre
as temáticas envolvidas.
Como em todo recorte temático, o artigo propõe uma
investigação a partir das concepções dos autores elencados, tomando
a autoridade deles no debate ensejado; todavia, retrata ainda os
resultados obtidos durante o processo ensino-aprendizagem com os
alunos da primeira turma (2018) do curso de Direito do Claretiano
– Centro Universitário de Batatais (SP), durante os estudos da
disciplina Antropologia e Sociologia Jurídica. Assim, também
são elencados os objetivos institucionais oriundos da missão e
da carta de princípios que orientam transversalmente a prática
dos seus professores, subsidiando o fundamento humanístico da
investigação.

3.  PROCESSO HISTÓRICO E CULTURAL E OS CURSOS


DE DIREITO NO BRASIL

Processo histórico e cultural no Brasil

Podemos considerar que a organização jurídica do Brasil


colonial objetivou o controle da colônia a partir da iniciativa

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privada, sob os interesses políticos e econômicos de Portugal.


Desse modo, dividiu-se o território nacional em Capitanias
Hereditárias, que incluíam alguns homens ligados à nobreza
portuguesa e que tinham interesse em sair de Portugal rumo ao
Brasil. Os donatários, como foram chamados, podiam explorar o
território e também punir os infratores. Os motivos mais aparentes
da colonização do território brasileiro pelos portugueses foram de
ordem expansionista: a expansão de território (motivo financeiro,
busca de riquezas) e a expansão do cristianismo católico (uma das
reações ao protestantismo. Identidade do português que veio para o
Brasil) (LOPES, 2000).
Para tanto, os índios brasileiros e os negros escravos – assim
como os próprios colonizadores algumas vezes – teriam que ser
educados nos padrões do catolicismo.
A estrutura judicial começara no Brasil, portanto, nas mãos
dos capitães-donatários, com poderes para estabelecer
atividades econômicas e organizar a vida civil na terra.
O Regimento de Martim Afonso de Souza (1530) previa
competência, como capitão e governador de sua capitania,
para aplicar pena de morte, sem recurso, exceto se o réu
fosse fidalgo. Capitães-donatários não exerciam jurisdição
nem julgamento pessoalmente: nomeavam ouvidores, para
o crime e o cível. Para garantir a autonomia, o privilégio
e o poder dos capitães-donatários, às autoridades reais
foi proibida a entrada nas capitanias sem sua autorização
(LOPES, 2000, p. 263, destaques do autor).
Como as Capitanias Hereditárias não trouxeram os resultados
esperados (ocorreu em geral má administração do território), foi
estabelecido um sistema centralizado de governo, chamado de
Governo Geral. A partir daí a organização jurídica da colônia
também passou por mudanças.
O regimento do ouvidor-geral do Brasil, de 14 de abril
de 1628, revogava expressamente o privilégio concedido
aos capitães-donatários de fazerem justiça em suas terras:
“Este regimento se cumprirá, sem embargo das doações
feitas por el-rei D. João III aos capitães das partes do
Brazil: revogados os privilégios que se lhes concederam
de não poderem entrar as justiças reais nas terras das
suas capitanias, e de não poderem eles ser suspensos, e

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reduzida sua alçada, na forma já declarada” (art. 21, apud


Martins Jr. 1979:175) (LOPES, 2000, p. 263-264, destaque
do autor).
Assim, se de um lado os poderes definidos internamente nas
Capitanias continuavam vigorando, por outro lado, eles ficavam
agora submetidos ao cumprimento da justiça estabelecida pelo
Ouvidor-Geral. Com isso, foi duplicada a estrutura judicial da
colônia (LOPES, 2000).
No que diz respeito às demandas a serem atendidas, podemos
considerar alguns problemas comuns a serem julgados entre os
séculos XVII-XVIII na colônia. As punições serviam de exemplo,
de modo que não se economizava em crueldade, envolvendo
marcar com ferro quente, espancamento, morte por enforcamento
ou decapitação. A prisão era vista não como pena, mas como ato
preventivo. Contudo, já nesse período, havia contradições visíveis
na aplicação das penas e a crueldade convivia com a impunidade.
O Regimento de 1609 recomendava que o Governador
tivesse particular cuidado de mandar guardar e executar
a lei “sobre a liberdade do gentio do Brasil”. Os escravos
fugidos eram marcados com ferro. Devido a queixas, em
1700 uma ordem da Coroa mandara ver se os escravos
eram maltratados por seus senhores, ou se os deixavam
morrer. Houve muita leniência do tribunal, segundo relata
Schwarz. Os criminosos muitas vezes eram beneficiados
por numerosas cartas de fiança, de modo que se livravam
soltos. Os brancos compravam assim suas liberdades e os
negros escravos eram assim resgatados por interesse de
seus senhores. Quem sofria as penas afinal? Os brancos
pobres, ou os libertos, os artesãos e os trabalhadores braçais
(SCHWARZ, 1979, p.199 apud LOPES, 2000, p. 265-266).
Havia também outros problemas no final do século XVII,
como muitas ausências de juízes, julgamentos adiados e presos
aguardando sentença para soltura. Até 1750, mesmo o controle
dos preços do açúcar era feito por juízes. Todavia, na própria
prática jurídica identificamos desde o período colonial aspectos do
processo cultural brasileiro, visíveis ainda hoje, tais como apontou
Holanda (1995): o personalismo, a impunidade e o elitismo.

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Na monarquia tivemos a primeira constituição brasileira


(1824). Seu perfil, na época, era modernizador e idealista,
ultrapassando algumas tendências do Antigo Regime europeu.
Como o processo de independência do Brasil foi conduzido pelas
elites, a legislação tratava de seus pontos de vista (da elite) sobre
a construção de uma nação unificada, respaldando-se naquilo que
conheciam da tradição portuguesa e trilhando simultaneamente o
caminho constitucionalista monárquico para manter a concentração
de poder na figura do rei. Era mantida a escravidão e garantida a
propriedade sobre os escravos, mantendo o controle sobre os negros
para evitar revoltas (LOPES, 2000).
O poder Moderador, exercido pelo imperador D. Pedro I,
propunha seus plenos poderes sobre os demais poderes (Executivo,
Legislativo e Judiciário), mantendo assim o personalismo e a
centralização do poder na figura do monarca.
Desta maneira:

[...] a Constituição cala sobre os escravos, mas garante


aos cidadãos passivos (os que não gozavam do direito de
votar ou de serem votados) os direitos civis de liberdade,
propriedade e segurança de suas vidas e bens. A monarquia
garantiria ainda, mesmo que sem caráter hereditário,
formas estamentais de divisão social, tais como a nobreza
titulada, privilégios vitalícios a certos grupos (os senadores,
os conselheiros de Estado etc.). O Brasil compartilhava
com os Estados Unidos o grande problema dos negros
escravos. Tocqueville havia notado que na América do
Norte os negros eram o elemento disfuncional do sistema,
pois, dentro de uma sociedade em geral igualitária, eles
eram os diferentes e os discriminados. O Brasil distinguia-
se dos Estados Unidos muito especialmente na falta de
igualitarismo: conservando, pelo regime monárquico,
formas de diferenciação social, não só os negros eram
um grande problema, mas também não se estimulava
um igualitarismo generalizado nas práticas sociais. O
próprio sistema jurídico favoreceu a preservação de
alguns privilégios, e encarregou-se de promover outros. A
magistratura tornou-se uma espécie de corpo privilegiado,
que garantia a mobilidade social de alguns homens livres e
talentosos, mas que lhes dava mobilidade à medida que os

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nobilitava, por assim dizer, e os fazia próximos do poder


imperial, seja por sua nomeação (os juízes de direito eram
indicados pelo imperador), seja pela projeção social que
se seguia, permitindo-lhes concorrer às eleições (LOPES,
2000, p. 289).
De acordo com Holanda (1995), que buscou entender aspectos
recorrentes no comportamento do brasileiro, a cordialidade é uma
das marcas desse povo. Cordial, em sua origem, significa relativo ao
coração. O homem cordial, conforme o autor, expressa generosidade,
hospitalidade, afetividade e por meio delas estabelece uma ética
emotiva, de difícil compreensão do ponto de vista da razão. Assim,
o que prevalece nas relações sociais são vontades particulares e
pessoais restritas a pequenos núcleos sociais (personalismo) ao
invés de interesses objetivos amplamente compartilhados.
Nas palavras do autor:
Na tão malsinada primazia das conveniências particulares
sobre os interesses de ordem coletiva revela-se nitidamente
o predomínio do elemento emotivo sobre o racional.
Por mais que se julgue achar o contrário, a verdadeira
solidariedade só se pode sustentar realmente nos círculos
restritos e a nossa predileção, confessada ou não, pelas
pessoas e interesses concretos não encontra alimento muito
substancial nos ideais teóricos ou mesmo nos interesses
econômicos em que se há de apoiar um grande partido.
Assim, a ausência de verdadeiros partidos não é entre nós,
como há quem o suponha singelamente, a causa de nossa
inadaptação a um regime legitimamente democrático, mas
antes um sintoma dessa inadaptação. (HOLANDA, 1995,
p. 182-183).
Podemos identificar tal comportamento, por exemplo, na
administração pública: a prefeitura parece ser do prefeito e seguir
aos seus gostos; no legislativo, a lei é dos juristas e por mais pessoais
que sejam suas interpretações da lei, elas que valem e se sobrepõem
mesmo às análises profundas e aos tratados jurídicos; numa escola,
parece plausível que o(a) diretor(a) faça dali o seu reduto pessoal
e trate a todos como se fossem “da sua família”. Usando como
argumento teorias explicativas, formalidades jurídicas e protocolos
supostamente comuns à sociedade civilizada é traçado um caminho
excludente, em que a ausência de um acordo social concreto é

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precariamente compensada por assimilações pessoais e um tipo de


obediência conveniente e espúria. E aqueles que não se integram
à dinâmica apresentada ficam de fora dos acordos estabelecidos e
muitas vezes não são considerados: eles são empurrados para longe
da vista, onde não incomodarão; mas caso incomodem, a lei e a
criminalização, quando não a própria morte, são tomados como
mecanismos de justiça.
A verdade é que, como nossa aparente adesão a todos
os formalismos denuncia apenas uma ausência de forma
espontânea, assim também a nossa confiança na excelência
das fórmulas teóricas mostra simplesmente que somos um
povo pouco especulativo. Podemos organizar campanhas,
formar facções, armar motins, se preciso for, em torno de
uma ideia nobre. Ninguém ignora, porém, que o aparente
triunfo de um princípio jamais significou no Brasil —
como no resto da América Latina — mais do que o triunfo
de um personalismo sobre outro. [...]
E inegável que em nossa vida política o personalismo pode
ser em muitos casos uma força positiva e que ao seu lado os
lemas da democracia liberal parecem conceitos puramente
ornamentais ou declamatórios, sem raízes fundas na
realidade. (HOLANDA, 1995, p. 182-183).
No convívio social, ainda hoje, podemos identificar no uso de
alguns ditados populares a prática compactuada do personalismo,
da impunidade e do elitismo, tais como: O que os olhos não veem,
o coração não sente; antes pingar do que secar; manda quem pode,
obedece quem tem juízo; aos amigos, os favores; aos inimigos, a
Lei.
Nesse sentido, a leitura e debate da peça de teatro de Martins
Pena (1833) O Juiz de Paz da Roça permitiu aos alunos uma análise
contextual, a partir da obra de arte, da aplicabilidade de tais elementos
de acordo com o imaginário da época. A peça foi escolhida devido
à data de sua escrita coincidir com o período de saída do Brasil da
condição de colônia, diante de sua temática e também por ser uma
das peças de maior sucesso do autor (ALMEIDA, 2014).
Entre os comentários em sala de aula, dois trechos chamaram
especialmente a atenção dos alunos, uma vez que identificaram
de maneira evidente o personalismo, a impunidade e o elitismo

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– sobretudo o personalismo – apontados por Holanda (1995) e


destacados pelo professor da disciplina.
Sala em casa do JUIZ DE PAZ. Mesa no meio com papéis;
cadeiras. Entra o JUIZ DE PAZ vestido de calça branca,
rodaque de riscado, chinelas verde e sem gravata.
JUIZ – Vamo-nos preparando para dar audiência.
(ARRANJA OS PAPÉIS.) O escrivão já tarda; sem dúvida
está na venda do Manuel do Coqueiro... O último recruta
que se fêz já vai-me fazendo pêso. Nada, não gosto de
presos em casa. Podem fugir, e depois dizem que o juiz
recebeu algum presente. (BATEM À PORTA) Quem é?
Pode entrar. (ENTRA UM PRÊTO COM UM CAICHO DE
BANANAS E UMA CARTA, QUE ENTREGA AO JUIZ.
JUIZ, LENDO A CARTA:) “Ilmo. Sr. ? Muito me alegro
de dizer a V.S.a. que a minha ao fazer desta é boa, e que
a mesma desejo para V.S.a. pelos circunlóquios com que
lhe venero”. (DEIXANDO DE LER:) Circunlóquios... Que
nome em breve! O que quererá êle dizer? Continuemos.
(LENDO:) “Tomo a liberdade de mandar a V.S.a. um caicho
de bananas maças para V.S.a. comer com a sua bôca e dar
também a comer à Sra. Juíza e aos Srs. Juizinhos. V.S.a há
de reparar na insignificância do presente; porém, Ilmo. Sr.,
as reformas da Constituição permitem a cada um fazer o
que quiser, e mesmo fazer presentes; ora, mandando assim
as ditas reformas V.S.a. fará o favor de aceitar as ditas
bananas, que diz minha Teresa Ova serem muito boas. No
mais, receba as ordens de quem é seu venerador e tem a
honra de ser “Manuel André de Sapiruruca.” Bom, tenho
bananas para a sobremesa. Ó pai, leva estas bananas para
dentro e entrega à senhora. Toma lá um vintém para teu
tabaco. (SAI O NEGRO) O certo é que é bem bom ser
juiz de paz cá pela roça. De vez em quando temos nossos
presentes de galinhas, bananas, ovos, etc., etc. (PENA,
1833, p. 13, grifos do autor).
Nesse trecho pareceu claro aos alunos que a vida pessoal
estava adiante do interesse público: o escrivão atrasa porque está na
“venda do Manuel do Coqueiro”; o cargo de juiz se confunde com
a pessoa que o ocupa, tornando inclusive sua família a “Sra. Juíza”
e “Srs. Juizinhos”; o juiz ganha um presente (bananas), justificado
pela liberdade permitida pelas “reformas Constitucionais”, o qual
ele aceita de bom grado como parte boa de ser um juiz de paz na
roça. Aqui, temos simultaneamente o personalismo e o elitismo

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representados, numa dinâmica que reinterpreta a lei conforme


vontades estanques e acordos que só existem entre compadres que
submetem às suas peculiaridades e seus gostos próprios o exercício
do cargo público e aplicação da Constituição. Semelhante situação
é demonstrada no trecho a seguir:
Juiz – [...] Escrivão, leia outro requerimento.
ESCRIVÃO – (lendo) “O baixo-assinado vem dar os
parabéns a V.S.a por ter entrado com saúde no ano
financeiro. Eu, Ilmo. Sr. Juiz de paz, sou senhor de um
sítio que está na beira do rio, aonde dá muito boas bananas
e laranjas e cimo vem de encaixa, peço a V.S.a o favor
de aceitar um cestinho das mesmas que eu mandarei hoje
à tarde. Mas, como ia dizendo, o dito sítio foi comprado
com o dinheiro que minha mulher ganhou nas costuras e
outras cousas mais; e, vai senão quando, um meu vizinho,
homem de raça de judas, diz que metade do sítio é dêle. E
então, que lhe parece, Sr. Juiz, não é desafôro? Mas, como
ia dizendo, peço a V.S.a. para vir assistir à marcação do
sítio. Manuel André. E.R.M.”
JUIZ – Não posso deferir por estar muito atravancado com
um roçado; portanto, requeira ao suplente, que é o meu
compadre Pantaleão.
MANUEL ANDRÉ - Mas, Sr. Juiz, êle também está
ocupado com uma plantação.
JUIZ – Você replica? Olhe que o mando para a cadeia.
MANUEL ANDRÉ – Vossa senhoria não pode prender-
me à toa; a Constituição não manda;
JUIZ – A Constituição!... Está bem!... Eu, o Juiz de paz,
hei por bem derrogar a Constituição! Sr. Escrivão, tome
têrmo que a Constituição está derrogada, e mande-me
prender êste homem;
MANUEL ANDRÉ – Isto é uma injustiça! (PENA, 1833,
p. 15, grifos do autor).
Neste caso, a mesma Constituição que foi arrolada como
embasamento para a ação requerida em interesse do juiz no
trecho anterior (naquele caso, aceitar as bananas como presente)
é “derrogada” para favorecer o entendimento do juiz quanto à
determinação da prisão de um homem porque o mesmo o “replicou”.
Podemos relacionar à situação tratada na peça dois ditados: Manda

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quem pode, obedece quem tem juízo; aos amigos, os favores; aos
inimigos, a Lei. Nesta dinâmica elitista de favorecimento, a própria
lei pode ser alterada ou destituída de validade, de acordo com as
formas de sociabilidade assumidas pelos interlocutores em questão.
De acordo com as reflexões dos alunos em suas atividades
sobre o tema, consoante as mediações do professor da disciplina,
o que se repete atualmente, sobretudo, é que são naturalizados
um discurso e uma prática excludentes. Assim, as injustiças são
tomadas como naturais e grande parte das decisões jurídicas fica
comprometida (não atende plenamente ao princípio de justiça, pois
não consegue reconhecer a injustiça). O juiz da peça analisada
não se considera corrupto, a impunidade não é reconhecida como
impunidade pelas autoridades e o elitismo aparenta ser o justo – ou
o direito legítimo daqueles que merecem ter direitos.

Formação dos cursos de direito e cultura jurídica no Brasil

A formação dos primeiros cursos de Direito ocorreu com a


independência do país e guiou-se por uma orientação cultural ou
uma cultura jurídica que vêm se transformando desde a colonização
do país com a formação das Capitanias Hereditárias.
As primeiras faculdades de Direito no Brasil surgiram a partir
de 1828, em São Paulo e Olinda, sendo que a última se transferiu para
o recife em 1854. O intuito delas sempre foi formar uma espécie de
“elite pensante” no próprio país para ajudar a ditar os seus rumos e
construir uma identidade nacional. Nos primeiros cursos, iniciados
em 1828, os alunos e docentes buscavam abrir seus caminhos,
sobretudo para a atuação na política e nos serviços públicos. Havia
muito desrespeito dos alunos pelos professores, atribuído à falta
de hábito de estudo e reflexão dos alunos, que não estavam lá
pensando em seguir carreira acadêmica. Podemos dizer que em São
Paulo o curso seguia mais o modelo político liberal, enquanto em
Pernambuco havia forte tendência darwinista (NASPOLINI, 2008).
A teoria da evolução das espécies e a sobrevivência do mais apto de
Darwin foi aplicada ao Direito por diversos autores, especialmente
o alemão Rudolf von Ihering (1818-1892), em sua conferência A
Luta pelo Direito – Der Kampf um’s Recht. Ele relacionava o instinto

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de preservação física com a necessidade de preservação moral, o


que no Direito significaria o inconformismo e a luta constante pela
justiça, entre outras discussões (GODOY, 2014).
De acordo com Naspolini (2008, [n.p.]):
Pouco há de comparativo entre as Faculdades de Direito
de São Paulo e Recife, a não ser pela exaltação da própria
faculdade e dos jargões jurídicos e evolucionistas de
ambas. Enquanto a faculdade de São Paulo exigia apenas
o inglês como língua estrangeira requisitada ao ingresso,
a de Recife requisitava inglês, alemão e italiano. Na
faculdade paulista, exigia-se conhecimento prévio de
psicologia e lógica, enquanto na de Recife, exigia-se
conhecimentos de antropologia. Na grade de curso vemos
maior quantidade de cadeiras de antropologia criminal e
direito penal na escola pernambucana e mais de Direito
Civil em São Paulo.
Enquanto em Recife formaram-se, preferencialmente,
doutrinadores e homens da ciência jurídica, em São Paulo
formaram-se maiores políticos e burocratas de estado.
Do Recife vinham as grandes teorias do direito, novos
modelos; de São Paulo vinha a prática que conduzia a
novas leis e medidas.
Com o início da República as instituições passam por
mudanças, impondo uma política estatal que toma por base a
Constituição. Dessa maneira, os estados podem reorganizar os
seus tribunais. Contudo, temos que levar em consideração que os
republicanos foram formados e integraram os mecanismos de foro
que possuíam suas práticas já definidas nacionalmente em período
anterior. Assim, “[...] é inevitável que a cultura jurídica continue
praticamente a mesma” (LOPES, 2000, p. 340).
Nesse encadeamento temporal, contradições é que não
faltaram acerca da organização jurídica, uma vez que envolveu
também diferentes fontes de inspiração: as instituições políticas
seguiam o modelo norte-americano, mas o modelo constitucional
foi forjado conforme as instituições europeias; enquanto o direito
administrativo se assemelha à França, o direito civil aproximava-
nos dos alemães. Politicamente a República manteve a forma
oligárquica de governo até 1930, enquanto a “[...] organização

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judiciária era de estilo francês e continental, e o processo claramente


era inquisitorial, escrito e cartorário nos moldes do velho processo
romano-canônico europeu” (LOPES, 2000, p. 340).
Mas isso ainda não é tudo, havendo mais elementos reunidos
na República que estavam em flagrante desacordo:
As influências ideológicas também são contraditórias. O
positivismo de origem francesa e o evolucionismo social
(de Spencer) combinam-se de forma extraordinária no
Brasil republicano. A hegemonia do positivismo no Brasil
é um fenômeno único (ARMORY, 1997). Em lugar algum
das Américas os intelectuais rendem-se tanto a esta
concepção cientificista como por aqui. O contrário ocorria
nos Estados Unidos neste período em que a jurisprudência,
se bem que dominada pelo utilitarismo e pelo liberalismo,
dava sinais de pragmatismo que mais tarde, nas primeiras
décadas do século XX gerariam o realismo jurídico
americano. O positivismo gerava uma política de caráter
reformista, mas de reformismo pelo alto, não democrático,
hobbesiano, jacobino (LOPES, 2000, p. 340-341, grifos do
autor).
Dessa maneira, podemos asseverar que apesar de tantas
mudanças a cultura jurídica brasileira durante a Primeira República
(1889-1930) mantinha-se praticamente a mesma do período
monárquico, mas seguia neste momento orientações contraditórias
entre si, inspiradas em diferentes países/continentes e, portanto, em
diferentes processos históricos e culturais. Tentava afirmar o ideal da
nação que se reorganiza, porém sem uma identidade jurídica própria
(apenas uma prática jurídica em funcionamento) e claramente
definida em um processo interno (nacional). A organização da
República era inspirada em diferentes orientações, oriundas de
outros países da Europa e do norte do próprio continente americano.
Já a política era orientada pelo positivismo de origem francesa,
dialogando com o evolucionismo social inglês, o que resultou em
reformismo não democrático, impondo os entendimentos das elites
oligárquicas como formas de organização republicana. Podemos
considerar que tal arranjo não deixou de ser a tradução prática mais
efetiva, numa versão tipicamente brasileira, daquilo que é disposto
pela frase de cunho positivista (Ordem e Progresso) que é ostentada
pela bandeira nacional.

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Considerando uma análise antropológica, Darcy Ribeiro


(1922-1997) ao elucidar as diversas matrizes culturais que compõe
a população brasileira – estabelecendo a diversidade como
característica que a define de maneira singular – tratou de forma
bastante contundente a contradição das ideologias políticas e sociais
que envolveu o Brasil. Para ele:
Efetivamente, falar de liberais, conservadores, radicais,
ou de democracia e liberalismo e até revolução social e
política pode ter sentido de definição concreta em outros
contextos; no nosso não significa nada, tal a ambiguidade
com que essas expressões se aplicam aos agentes mais
diferentes e às orientações mais desconexas (RIBEIRO,
1995, p. 16-17).
Assim, diante de uma sociabilidade alijada devido às origens
culturais mais diversas dos atores envolvidos, permeada por
orientações e práticas jurídicas estanques e muitas vezes oriundas
dos modismos externos ao país, foi alimentada a ambiguidade com
que se compuseram as ideologias políticas no Brasil. O Direito
enquanto carreira, nesse contexto, foi se constituindo de maneira
a reforçar o caráter elitista e o personalismo jurídico, forjando
um profissional mais preocupado em talhar o seu lugar dentro
de uma dinâmica social previamente instituída que em fomentar
a construção de alicerces que permitissem a existência de uma
democracia efetiva. Nesse cenário, a noção de justiça é estabelecida
de acordo com as formas de sociabilidade vigentes, as quais adaptam
os códigos e doutrinas para atender vontades particulares de entes
específicos, desconectada das necessidades compartilhadas ou de
demandas sociais, expandindo as práticas excludentes.

4.  NOÇÃO DE JUSTIÇA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO


CLARETIANA E O CONCEITO DE GESTÃO DE
SIGNIFICADO

Noção de justiça e a Missão do Claretiano – Rede de Educação

De acordo com os documentos institucionais que orientam a


ação no que tange à educação no Claretiano – Rede de Educação, tem-

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se como diretrizes fundamentais a Missão e a Carta de Princípios,


dispostos no Projeto Educativo Claretiano – PEC (CLARETIANO,
2012). A Missão versa como grande objetivo a ser seguido:

Capacitar a pessoa humana para o exercício profissional e


para o compromisso com a vida, mediante a sua formação
integral; missão essa que se caracteriza pela investigação
da verdade, pelo ensino e pela difusão da cultura, inspirada
nos valores éticos e cristãos e no carisma Claretiano que
dão pleno significado à vida humana (CLARETIANO,
2012, p. 17).
Posto isso, podemos considerar que o rigor com que tratamos
das questões fundamentais no âmbito do estabelecimento da
justiça e no atendimento pleno às demandas humanas que figuram
no domínio do Direito é identificado como aspecto fundamental
do curso recém organizado no Claretiano – Centro Universitário
de Batatais (SP). Tal premissa é também indicada na Carta de
Princípios, que pode ser resumida, tal qual disposto no site da
instituição (CLARETIANO, 2014, p. 1-8), da seguinte maneira:
• Princípio da Singularidade: cada pessoa merece atenção,
respeito e valorização na comunidade educativa.
• Princípio da Abertura: a comunidade educativa está
aberta ao diálogo e deseja servir às pessoas, à sociedade
e ao mundo.
• Princípio da Integralidade: a comunidade educativa é
profética e facilitadora da construção responsável de si e
da investigação da verdade.
• Princípio da Transcendência: queremos melhorar o que
somos e fazemos.
• Princípio da Autonomia: na comunidade educativa cada
um deve responder com empenho pelo bem de todos.
• Princípio da Criatividade: queremos ser criativos e
proativos no cumprimento de nossa missão.

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• Princípio da Sustentabilidade: queremos que a instituição


viva e faça viver com passos firmes e de forma sustentável
no presente e no futuro.
Tal arcabouço institucional, todavia, desafia educadores e
educandos integrados a ele a precipitarem-se no compromisso pleno
com a vida, articulando-o através e por meio das ações educativas e
da valorização do contato humanizador. Desse modo, ao ministrar a
disciplina de Antropologia e Sociologia Jurídica para a turma inicial
no primeiro semestre do curso de Direito em 2018 do Claretiano
– Centro Universitário de Batatais, foi adotada a análise social e
humana da aplicação do Direito, indagando-se em que medida a lei
e a própria organização formal do Direito conseguem atender aos
princípios de justiça e organização normativa de instituições e do
próprio espaço público ou das relações entre as pessoas.
Analisando o Direito de um ponto de vista externo ao mundo
do jurista, podemos dizer que pode ser tratado a partir daqueles
que precisam dele, de seu alcance humano e da sua forma de
legitimação.
Didaticamente exposto durante as aulas da disciplina, o
esquema abaixo propõe o alcance humano objetivado pelo estudo:
SONHOS OPORTUNIDADES
Identificação e criação de Reconhecimento e acolhimento
expectativas. humano.
Transcender Permissão para a realização de
construtivamente o trivial ideias.
e óbvio. Vontades individuais Incentivo material e imaterial
voltadas para benefício para a concretização de
coletivo. Desejo pessoal de vontades e ideais nobres,
superação e desenvolvimento individuais e coletivos.
humano.
JUSTIÇA
Realização de sonhos edificados a partir da vontade de
realizar o melhor para todos, num contexto de oportunidades que
incentiva, autoriza, apoia e reconhece o mérito de alguém ou algo.

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Posto desse modo, a justiça torna-se o resultado do bom


desempenho da geração de expectativas e oportunidades que
viabilizem o engrandecimento de cada um, contribuindo para
a transformação sustentável e fraterna do ambiente coletivo.
Conforme disposto no Projeto Político-Pedagógico do Curso de
Direito (CLARETIANO, 2017, p. 15):
[...] a proposta do Curso baseada no Projeto Educativo
Institucional, considera o princípio de que a educação
é promotora da dignidade da pessoa humana e do seu
desenvolvimento integral, sempre atenta ao processo
histórico transformador da educação no país e da cultura
jurídica e das relações sociais. Com efeito, o Claretiano –
Centro Universitário reordena suas ações a todo momento
e reitera sua vocação expressa na Missão Institucional,
voltando-se essencialmente às necessidades da formação
humana e profissional, na prestação de serviços
comunitários, bem como na abertura constante ao diálogo
e aos atos conciliatórios.
Dessa maneira, é salutar considerar as relações humanas
tendo em vista os objetivos de superação individual e institucional,
os quais tomados dentro do contexto do curso de direito como
aspectos da prática jurídica e de suas bases socioculturais. Nesse
ínterim revela-se o papel da educação para a superação de uma
compreensão utilitarista do Direito, tal postura remetendo ao
reconhecimento da significação profunda da ação e da vida da
pessoa humana.
Foi aplicado o conceito de Gestão de Significado – resultado
tardio de pesquisas anteriores do autor deste artigo e professor da
disciplina - como modelo explicativo para os resultados obtidos.
Na experiência com a referida turma e curso, foi verificado
um acréscimo na sensibilização para o contexto brasileiro, assim
como uma assimilação efetiva de como cada qual integra em sua
prática particular um conjunto de elementos que constitui a forma
com que se deflagra a cultura brasileira no fenômeno jurídico.

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Gestão de Significado: conceito e aplicação

O conceito de gestão de significado surgiu como subproduto


do trabalho de pós-doutorado realizado entre 2015 e 2016 –
publicado em 2018, em parceria com o orientador – intitulado Os
Desafios da Interdisciplinaridade e a Construção de Sentido na
Contemporaneidade (SANCHES; TOSI, 2018). A abordagem se
concentrou nos desafios de atribuição de sentido de existência,
diante do contexto recente de globalização da economia capitalista
e da fragmentação do conhecimento científico disciplinar, este
fracionado em áreas específicas de conhecimento. De acordo com
a pesquisa realizada:
O mundo globalizado promove a assimilação daquilo que
foi local ou específico, estabelecendo uma mistura entre
partes estanques para formatar a “cultura globalizada”;
sendo tal arranjo ineficiente do ponto de vista humano,
simplesmente não há sentido compartilhado, nem regras
claras ou elemento aglutinador de vontades humanas.
(SANCHES; TOSI, 2018, p. 16, destaque dos autores).
Assim, concluiu-se que a busca por uma “cultura globalizada”
e a desigualdade social promovida pela dinâmica econômica
asseveram em nível planetário a falta de sentido, fragmentando a
compreensão e abrindo amplo espaço para os fundamentalismos.
A ausência de sentido, por sua vez, acompanhada do
aumento das diferenças econômicas resultante da dinâmica
mundial, abre um caminho amplo para a segregação
sociocultural e para as posições extremistas – que podem
ser a mera negação do sentido de existência. (SANCHES;
TOSI, 2018, p. 16).
Contudo, mesmo a ciência moderna é produzida de forma
fragmentada, se tornando ineficiente para gerar respostas e ações
concretas para resolver tal dilema, uma vez que autonomiza
discussões parciais e comumente dispersa as práticas objetivas. E
tudo isso acontece dentro de uma dinâmica de consumo, em que
todas as relações, inclusive as relações de produção, tornaram-
se experiências de consumo que agregam sentido de maneira
insatisfatória e apenas enquanto duram.

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A maquiagem dos tradicionais conflitos sociais realizada


de acordo com os centros de produção de significado e
valor extraterritoriais assim como os sonhos e consolos
dos intelectuais globalizados – recuperando os termos
de Bauman – não conseguem aferir sentido porque não
superam as diferenças locais, mas as ultrapassam de
maneira arbitrária e homogeneizadora, comprimindo
as diversas noções de tempo/espaço e, em consequência
disso, despertando a afirmação às vezes fundamentalista
da multiplicidade, das identidades locais, as quais
mesmo desarticuladas e sem vínculo com os processos
globalizadores da atualidade (integração econômica,
processo político / sistema-mundo e cultura de consumo)
emergem precipitando as suas angústias, porém sem
dissolvê-las. (SANCHES; TOSI, 2018, p. 22, destaques
dos autores).
Todavia, o estudo apontou a fraternidade enquanto espólio
subvalorizado da Revolução Francesa (1789) e como categoria que
permite a superação da fragmentação, agregando ideias distintas,
vontades e valores.
A fraternidade, na medida em que relaciona e elabora mais
visivelmente e de forma tácita a integração de valores e
objetivos difusos, permite cuidar da reintegração teórica e
factual dos processos coletivos, ensejando que as propostas
de liberdade e igualdade – para recuperar o ideário que
marca o início da contemporaneidade – mantenham-se
como polos integrados da mesma objetivação coletiva.
(SANCHES; TOSI, 2018, p. 23).
Posteriormente à pesquisa de pós-doutorado, com a
continuidade das reflexões pareceu claro que a articulação da
fraternidade exige uma postura mais pragmática, com técnicas e
procedimentos bem definidos e alicerçados num conceito que em si
determine tal campo de ação. Considerou-se que é necessário gerir
significados, realizar processos de elaboração teórica e prática, em
que a ação pessoal cultive consistência e profundidade, endógena e
exógena, o que foi traduzido pelo conceito de gestão de significado.
O termo “gerir” vem do latim “gerĕre” e em sua origem
significa “Levar, trazer, ter consigo, ter em si. Assumir, encarregar-
se de, executar, realizar. Administrar, gerir, fazer cumprir, exercer.

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Produzir, criar, gerar. Ter, manter, nutrir. Comportar-se, proceder”


(REZENDE; BIANCHET, 2014, [n.p.]).
Já o termo “significado”, de acordo com o dicionário Michaelis
([s.d.], [n.p.]), diz respeito à “[...] importância ou valor de algo”.
Assim, podemos dizer que significado é diferente de sentido. Muito
embora a palavra sentido possa ser relacionada com convicção,
neste caso foi tomada como a definição de um rumo para o qual se
caminha, direção, orientação. Significado, portanto, é aplicado aqui
como a delimitação de porquê caminhar, a importância atribuída ao
caminho trilhado e o valor da jornada.
Conforme previamente estabelecido, o conceito de gestão
de significado considera uma conjuntura histórica em que é
demonstrada a carência de significado e que necessita de ações
organizadoras de significado. Consoante tal compreensão, passamos
a uma aplicação específica do conceito.
No contexto concreto do trabalho jurídico e da burocratização
da estrutura do Estado, entende-se que os sentidos são dados por ritos,
procedimentos protocolares, delimitações legais e institucionais,
principalmente. Contudo, diante daquilo que envolve a experiência
jurídica, especialmente diante do processo histórico brasileiro, tais
sentidos não preservaram necessariamente as noções de significado
que deveriam embasar todas as ações humanas. Dito de outro
modo, o que deve ser feito é apresentado pela carreira e função
exercida – para onde caminhar – e o percurso é feito, porém muitas
vezes esvaziado de significado – o agente da ação não identifica
motivação profunda para fazê-lo, apenas um rumo ou sentido para
onde seguir e que lhe garantirá ganho financeiro.
Não conhecendo nenhuma outra forma de exercício da
profissão, a tendência era que os atores repetissem os
papéis nos quais foram treinados. Segundo pesquisa
feita em 1993, 45% dos juízes procedem da advocacia,
10% de atividades burocrático-cartorárias, somando pois
55%. Assim, mais da metade dos juízes foi socializada
e treinada na forma inquisitorial-cartorária. A estes
juntavam-se 8,2% com atividades burocráticas de nível
médio fora do sistema judiciário, o que elevava para 63,2%
a porcentagem dos que potencialmente tendiam a encarar

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o processo e o procedimento como uma sucessão de atos


burocratizantes. (LOPES, 2006, p. 378).
Assim, podemos ponderar que, num contexto de relações
predominantemente monetárias e burocráticas, a alteridade e o
compromisso coletivo tendem a se perder; e o aluno do curso de
direito que está enveredado pela busca de carreira tende a identificar
nos conteúdos estudados pontos a serem cobrados nas avaliações
disciplinares e em concursos públicos para os cargos que pretende
ocupar. Isso acaba por permitir um esvaziamento dos estudos,
versando contra a aplicabilidade concreta e os objetivos humanos
que são abrangidos pelos conteúdos disciplinares.
Pensando nas demandas atualmente crescentes no direito,
que põe em questão o acesso à justiça e aos direitos de cidadania,
assim como as práticas de mediação e arbitragem, sopesando o
atendimento às camadas mais necessitadas que procuram acesso
aos direitos que já lhe são garantidos, mas nem sempre efetivados,
como sensibilizar os alunos de direito para a importância de sua
atuação?
Estará o direito preparado para enfrentar esse tema que
se impõe sob a forma da defesa das especificidades e
identidades de grupos dominados e humilhados nas
sociedades contemporâneas (o caso mais exemplar sendo o
da população gay/lésbica)? Certamente não ainda: como já
se teve oportunidade de explorar o tema em outro trabalho,
basta dizer que se está, aqui, diante de um processo de
mudança sociocultural em que o direito está implicado,
mas na sua dimensão utópica não utilitarista. (LOPES,
2006, p. 379)
Tendo em vista tal mudança cultural, o exemplo prático que
evocamos é o da compreensão do significado de sociabilidade e
cultura jurídica no processo sociocultural brasileiro pelos alunos
da primeira turma do curso de direito do Claretiano – Centro
Universitário de Batatais, no segundo semestre de 2018.
Em conversa inicial, o curso de direito foi apresentado por
grande parte dos alunos como um sonho a ser realizado, além
de constituir diversas possibilidades profissionais. A disciplina
foi apresentada a eles ressaltando a pretensão de aproximar o

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82 ISSN 2237-6011

Direito de sua função / aplicação. Nesse sentido, dentro do debate


já mencionado no artigo, foram expostos aspectos do processo
sociocultural brasileiro e destacadas tanto as formas de sociabilidade
que foram sendo construídas no Brasil ao longo de sua história
quanto a incorporação das mesmas dentro do fenômeno jurídico,
tratando-se assim da composição de uma cultura jurídica no Brasil.
De acordo com as manifestações dos próprios alunos em
sala de aula, relacionar o personalismo, a impunidade e o elitismo
parecia mais daquilo que eles já conheciam e não chegava a alterar
a dinâmica de entendimento de maneira a ensejar novas posturas.
Tinham-se os problemas, mas não eram apresentadas as propostas
dissuasivas dos mesmos. Com a continuidade das aulas, já percorrido
mais da metade do período de oferta da disciplina e depois da
leitura da peça de teatro O Juiz de Paz da Roça, algumas coisas
pareceram menos obvias. A repetição contínua pelo professor de
que o personalismo, a impunidade e o elitismo eram características
marcantes da sociabilidade causa efeito heterogêneo, figurando
como algo mais importante para alguns alunos que para outros.
Contudo, quando os alunos foram expostos ao desafio de
assistirem ao filme Memórias Póstumas (2001) e identificar como
ele descreve as formas de sociabilidade nos períodos Colonial,
Imperial / Monárquico, Primeira República, estabelecendo relações
com a cultura jurídica em formação no território do Brasil, as suas
dúvidas se dirigiram mais para a noção de sociabilidade. Isso exigiu
que o professor trouxesse vídeos com explicações de sociólogos e
antropólogos para realizar uma discussão pautada especificamente
em estudos do caso brasileiro, até que os alunos demonstraram
maior sensibilização, movimentando gradativamente toda a sala. As
considerações que eles fizeram, parafraseadas, foram: Nós somos
assim? Eu sou desse jeito? Nunca tinha relacionado o escravo e o
indígena com o que eu faço no fórum.
A atividade despertou nos alunos a necessidade de conhecer,
ainda que de maneira introdutória, tais discussões sobre quem é o
povo brasileiro, sobre seu comportamento e como isso se transporta
para a organização do Estado, das instituições e do direito, de modo
a permitir um encontro com a cultura brasileira – que não deixou

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de ser um olhar mais profundo de cada um sobre si. Que pesem os


limites da experiência descrita, podemos considerar que a disciplina
nesse momento se tornou mais acessível ao olhar, desprendendo-se
um pouco de seu fundamento curricular formal: o conhecimento do
aluno sobre o tema estava em questão, não sua nota ou a matéria de
um concurso público.
A palavra sociabilidade foi incorporada por alguns deles e
os exemplos cotidianos passaram a ser citados como formas de
aplicação do conceito. Assim, a palavra era tomada como tendo
seu significado vinculado à forma com que estamos juntos em um
ambiente, como dividimos este ambiente, quais as regras que estão
postas: são leis, regras escritas, todos as conhecem? São as mesmas
para todos?
Assim, a tríade personalismo, impunidade e elitismo passou a
ter o seu significado gerido pelos alunos, tratada conforme contextos
concretos. Seus elementos foram considerados como conceitos que
possuem valor, não meramente utilizados como recurso retórico.

5.  CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste breve artigo foi realizada uma reflexão a respeito da


necessidade de se repensar os cursos de direito, superando uma
tradição já consolidada – e também já bastante questionada – dentro
dos cursos de direito, do aprendizado dos tecnicismos, da retórica
fluente, do argumento cônscio e, na prática, vazio:
Certamente, tornou-se a retórica mais um signo, melhor
dizendo, uma insígnia, que convém ostentar e que, mais que
isto, compreendida dentro de um fenômeno sociocultural,
e mesmo psicológico, impregnou-se no discurso do
bacharel, atando-o à forma desprovida de conteúdo, o que
às vezes decorre da própria insustentabilidade do discurso,
da ausência de conteúdo defensável. (KOZIMA, 2006, p.
328).
Não obstante, a formação desses profissionais, ensejando um
comportamento mais profundo e formando pessoas em seu sentido
integral – e, portanto, humanístico – precisa mirar o conhecimento
para além da formalidade das avaliações curriculares, gerindo

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significação profunda para que este conhecimento se torne orgânico


– e não meramente protocolar.
Procurou-se demonstrar que a prática do professor permite
ensejar entre os alunos e futuros juristas novas práticas, as quais
recheadas de valores que alteram as relações com o conteúdo
apreendido e com os tramites burocráticos. Essa prática esteve
vinculada a uma instituição que preza por tais valores humanistas
e estimula procedimentos didático-pedagógicos que traduzam esse
esforço.

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Estratégias de mediação na 3ª série do Ensino


Médio do Claretiano – Colégio São José:
alcançando o sucesso escolar

Katiere SOARES1
Gustavo Pimenta RICCI2

Resumo: O presente artigo traz uma reflexão sobre as diferentes estratégias de


ensino e aprendizagem adotadas pelos coordenadores pedagógicos do Claretiano
Colégio – São José para os alunos da 3ª série do Ensino Médio do ano de
2018. Essas estratégias levaram a resultados satisfatórios, tanto em relação às
aprovações em vestibulares, quanto ao desempenho da unidade escolar quando
comparada às outras escolas da cidade no mesmo ano. Considerando as notas
do ENEM de 2018, o Claretiano Colégio – São José foi apontado como a melhor
escola da cidade de Batatais quando comparada à média das outras escolas da
cidade em todas as áreas do conhecimento e na redação. Todo o trabalho realizado
não constituiu de uma preparação puramente acadêmica para os vestibulares,
mas abrangeu a formação integral dos estudantes, base da missão Claretiana.

Palavras-chave: Aprovação em Vestibulares. Estratégias de Aprendizagem.


Formação Integral.

1
Katiere Soares. Mestra em Genética e Bioquímica pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Bacharela e Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
E-mail: katieresoares@claretiano.edu.br.
2
Gustavo Pimenta Ricci. Doutor e Mestre em Ciências pela Universidade de Franca (UNIFRAN).
Licenciado em Química pelo Claretiano – Centro Universitário. Bacharel em Química Industrial pela
Universidade de Franca (UNIFRAN). E-mail: gustavoricci@claretiano.edu.br.

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Mediation strategies in the final year of High


School at Claretiano – Colégio São José:
reaching school success

Katiere SOARES
Gustavo Pimenta RICCI

Abstract: This work involves a reflection about different teaching learning


strategies adopted by the pedagogical coordinators at Claretiano – Colégio São
José to the final year High School students. Those strategies led to satisfactory
results, in relation to both college entrance approvals and the performance of
the scholar unity when compared to other schools of the city in the same year.
Considering the ENEM results in 2018, Claretiano – Colégio São José was the
best school in Batatais when compared to the average results obtained by other
schools in the city in every knowledge area and in writing. All the proposed
activities involved not only an academic preparation to college entrance tests, but
also students’ integral formation, basis of Claretiano’s mission.

Keywords: College Entrance Approvals. Learning Strategies. Integral Formation.

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1.  INTRODUÇÃO

Os exames de acesso ao ensino superior do país ainda


configuram como uma inquietação e motivo de angústia para toda
a comunidade educacional envolvida no Ensino Médio: diretores,
coordenadores pedagógicos, professores, familiares e, sobretudo,
alunos da última série desse ciclo. Culturalmente, compreende-se
que o vestibular é um ritual de passagem para a vida adulta, bem
como o caminho para se alcançar um futuro profissional fundamental
para todos. Com isso, os estudantes comumente passam por grande
stress emocional durante essa fase da vida (DAOLIO; NEUFELD,
2017).
Uma das alternativas a serem consideradas nessa etapa,
segundo Silva e Sá (1993, p. 71 apud RUIZ, 2015, p. 301), é o
desenvolvimento de hábitos e estratégias de estudo, o que “[...] tem
por objetivo final possibilitar ao estudante o acesso a condições e
instrumentos mentais, que lhe permitam tornar a sua aprendizagem
escolar mais efetiva e autônoma”.
As estratégias de aprendizagem envolvem atitudes,
planejamento, diretrizes, mudança de hábitos, investimento no tempo
de estudo, envolvimento, uso de diferentes recursos, entre outros.
E, para que essas estratégias sejam desenvolvidas, é fundamental o
trabalho do coordenador pedagógico. É este profissional o principal
responsável pela assistência didática pedagógica, em conjunto com
a equipe de professores. Quando assertivas, essas ações influenciam
direta e positivamente na formação integral dos alunos (GARCIA;
SILVA, 2017). A atuação do coordenador do Claretiano Colégio
– São José tem como um dos focos principais o “Princípio da
Singularidade”, em que “[...] cada pessoa merece atenção, respeito
e valorização na comunidade educativa” (CLARETIANO, 2014, p.
6), princípio importante para alavancar o sucesso escolar de cada
um dos nossos alunos.
É importante salientar que, além das estratégias de mediação
adotadas, estabeleceram-se objetivos de aprendizagem em diferentes
momentos e manteve-se um clima de confiança e afetividade
dentro da unidade escolar. Essas ações resultaram num ambiente

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de maior segurança e tranquilidade aos alunos, com destaque a 24


aprovações para o ensino superior.
Neste contexto, este trabalho tem como objetivo principal
apresentar, discutir e refletir sobre as diferentes estratégias de ensino
e aprendizagem desenvolvidas e/ou motivadas pela coordenação
pedagógica do Ensino Médio do Claretiano – Colégio São José de
Batatais, com foco em melhores resultados e rendimento escolar da
terceira série do Ensino Médio.

2.  METODOLOGIA

Este trabalho foi desenvolvido com 39 alunos da terceira


série do Ensino Médio do Claretiano – Colégio São José durante
o ano letivo de 2018. As diferentes estratégias desenvolvidas,
bem como seus resultados, foram analisadas por meio de uma
investigação qualitativa com características de uma pesquisa-ação,
visto que envolveu uma “[...] tentativa continuada, sistemática
e empiricamente fundamentada de aprimorar a prática”, bem
como “envolvimento do pesquisador e pesquisado” (FELCHER;
FERREIRA; FOLMER, 2017, p. 6). Dentre as estratégias,
destacaram-se: atendimento individualizado de alunos (pelos
coordenadores pedagógicos); auxílio aos alunos na construção
de horários e metas de estudos; motivação aos alunos para
participarem dos Simulados extracurriculares oferecidos pelo
Sistema Anglo; definição de simulados extras (além daqueles
propostos pelo Sistema Anglo), de acordo com as necessidades dos
alunos; encontros com profissionais de áreas diversas; visita à feira
de profissões; orientações contínuas dos coordenadores sobre os
principais vestibulares do país; dentre outras.

3.  RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com Nosella (2015, p. 123 apud CASAGRANDE;


ALONSO; SILVA, 2019, p. 411), o Ensino Médio é “[...] a
fase escolar estratégica do sistema escolar e do processo de
democratização e modernização de uma nação”. Isso significa que,

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além de preparar profissionais para o ensino superior e o mercado


de trabalho, o último ciclo da educação básica deve complementar
os conhecimentos básicos e formar integralmente cidadãos que
serão capazes de se engajar criticamente na sociedade (TARTUCE
et al., 2018).
No entanto, no Brasil, o Ensino Médio envolve inúmeros
desafios a serem enfrentados. É o ciclo da educação básica com
maior preocupação hoje, o que faz com que seja considerado
o gargalo da educação brasileira (SCHWARTZMAN, 2010).
Estatísticas apontam para grande evasão e baixo número de alunos
que se formam na idade correta (por exemplo, apenas 56,7% dos
jovens de 19 anos de idade haviam concluído o Ensino Médio no
Brasil em 2014 (TARTUCE et al., 2018) e, além disso, a qualidade
do ensino oferecido também tem sido baixa. Apontam para isso os
resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(Ideb): o Plano Nacional de Educação (PNE) estipula um Ideb de
5,2 em 2021 (BRASIL, 2014), porém foi observado um Ideb de
apenas 3,8 em 2017. Para as escolas privadas, o Ideb observado em
2017 foi de 5,8, enquanto a meta era de 6,7 (INEP, 2019).
Nas escolas privadas, no geral, existe uma cultura de
considerar as aprovações em vestibulares como um dos indícios
de qualidade do ensino. No estado de São Paulo, as universidades
mais pretendidas pelos alunos são as federais, e as estaduais:
Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP). Para ingresso nas universidades federais,
praticamente todas utilizam, como processo de seleção, o Exame
Nacional do Ensino Médio (ENEM). Para a USP, considerada a
melhor universidade do Brasil por diversos rankings nacionais
e internacionais, a seleção é feita pelo vestibular da Fundação
Universitária para o Vestibular (Fuvest). A UNICAMP, 2ª melhor
do Brasil pelo Ranking Universitário Folha (RUF), tem o vestibular
organizado pela Comissão Permanente para os Vestibulares da
Unicamp (Comvest). E o vestibular da UNESP, 6ª melhor do
país no RUF, é responsabilidade da Fundação para o Vestibular
da Universidade Estadual Paulista (Vunesp) (FOLHA, 2019).
Dependendo do curso e da universidade, a concorrência pode ser

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muito grande, o que acaba sendo um desafio para as escolas. No


vestibular para ingresso em 2019, por exemplo, algumas ofertas de
Medicina da USP ultrapassaram 100 candidatos inscritos por vaga
(FUVEST, 2018).
A fim de alcançar os melhores resultados entre os vestibulares
do país, foram adotadas as seguintes intervenções pedagógicas
propostas no Ensino Médio do Claretiano – Colégio São José no
ano de 2018:
• Atendimento individualizado dos alunos da 3ª série do
Ensino Médio – Durante o atendimento (realizado pelos
coordenadores pedagógicos), previamente agendado, foram
dadas orientações de horário de estudo e sondagem de cursos
e universidades de preferência para traçar os melhores
caminhos para o andamento do ano letivo. Durante esse
levantamento, pode-se verificar quais universidades eram
preferência dos estudantes, o que ajudou na escolha dos
simulados extras aplicados no contraturno.
• Encontro com profissional de psicologia com foco na
orientação vocacional – Durante o encontro, a profissional
realizou dinâmicas e propôs reflexões que auxiliaram
os alunos na escolha da futura universidade, bem como
realizou discussões visando à saúde mental dos alunos
durante o enfrentamento de seus desafios.
• Visita à feira de profissões – Essa visita é uma oportunidade
de desenvolvimento da autonomia do aluno. Vários cursos
expõem nas feiras de profissões, e o aluno faz a sua escolha
para a visitação. O aluno teve a oportunidade de entrar em
contato com alunos e professores de diferentes cursos de
graduação, além de conhecer a estrutura oferecida pelas
universidades. Com esse tipo de atividade, o aluno possui
mais subsídio e pode sentir-se mais seguro na escolha do
seu curso e da universidade.
• Orientação contínua sobre os vestibulares – Os
coordenadores pedagógicos informaram os alunos sobre
os vestibulares durante todo o ano. Destaca-se uma aula
especial dada pelos coordenadores para: explicação sobre

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os principais vestibulares e leitura dos principais tópicos dos


editais – com foco nas mudanças do ENEM; orientações
para a realização de inscrições; simuladores de notas e
orientações gerais sobre o Sistema de Seleção Unificada
(SISU); notas dos cursos de graduação; dentre outros.
• Debates com diferentes profissionais durante as aulas
de redação – Os debates ocorreram com dois professores
no decorrer do ano de 2018: o professor de redação e um
professor convidado. Foram escolhidos temas que tiveram
destaque no ano de 2018 e as aulas foram pautadas no
desenvolvimento de argumentação. A interação entre
os professores e os alunos renderam temas para futuras
redações.
• Ciclo de simulados oferecidos pelo Sistema Anglo –
Simulados que contemplam questões que requerem do aluno
o conhecimento de diferentes competências e habilidades
trabalhadas durante o desenvolvimento do material Anglo.
As avaliações da 3ª série do Ensino Médio contemplam,
além de simulados Anglo e avaliações dos professores
(realizados durante as aulas letivas), quatro simulados
Anglo ENEM que ocorreram aos domingos, seguindo os
mesmos critérios adotados pelo ENEM. Essas avaliações
que ocorreram nos domingos foram enviadas pelo Sistema
Anglo levando em consideração a correção pelo método
da Teoria de Resposta ao Item (TRI), mesmo método de
avaliação usado pelo ENEM. Assim, o aluno recebeu a
correção e a nota, levando-se em consideração as quatro
áreas do conhecimento: Linguagens, Ciências da Natureza,
Ciências Humanas, Matemática, e a Redação. Tendo
conhecimento dessa nota a cada simulado realizado, o aluno
teve a oportunidade de reavaliar suas metas, e adaptar seus
objetivos – o que pode ser auxiliado pelos coordenadores
pedagógicos.
• PAM e PAF – Programa de Aperfeiçoamento em
Matemática e Programa de Aperfeiçoamento em Física,
respectivamente. Envolveram aulas no contraturno para

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resolução de exercícios dos principais vestibulares do país,


bem como reforço e aprofundamento de conhecimentos nas
áreas específicas de Matemática e Física.
• Super Aulão Multidisciplinar – Aulas no contraturno
envolvendo diferentes áreas do conhecimento abordando
um tema atual. Esse tipo de aula buscou usar elementos
que relacionam diferentes disciplinas e que conduzem a
interações de modo que os conhecimentos desenvolvidos
estejam contextualizados e indissociáveis entre si.
• Simulados extracurriculares – Simulados Fuvest, UNESP
e UNICAMP propostos pela coordenação pedagógica
mediante desejos dos próprios alunos. Os alunos retornaram
no período da tarde para realizarem simulados de provas
que já haviam sido aplicadas nos anos anteriores.
Com a prática proporcionada pela simulação, estudantes
têm a chance de se prepararem para o conteúdo, modelo,
duração e ambientação de provas de vestibular e concursos
(PRADO, 2018, [n.p.]).
• Intensivão ENEM – Aulas intensivas foram realizadas nos
dias que antecederam as provas do ENEM, envolvendo
todas as áreas do conhecimento a fim de tirar dúvidas,
esclarecer conteúdo, lembrar de conteúdos que o professor
julgou importante para a avaliação.
• Uso da Plataforma Plurall – Essa plataforma foi
disponibilizada pelo Sistema Anglo e oferece questões
ligadas aos conteúdos trabalhados em sala de aula. Oferece
a facilidade de poder ser acessada por meio do aplicativo
on-line, sendo que o aluno tem a possibilidade de acessar
o conteúdo e os exercícios de qualquer lugar com acesso
à Internet. Além das questões disponíveis, a plataforma
também oferece vídeos explicativos para auxiliar o aluno
na resolução dos exercícios. Os exercícios possuem
diferentes níveis de dificuldade e o aluno ainda pode enviar
suas dúvidas, ou, até mesmo, consultar a dúvida de outros
alunos. Além disso, os professores têm acesso a relatórios

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ISSN 2237-6011 95

que informam o rendimento de cada aluno, o que pode ser


usado de forma diagnóstica para direcionar próximas ações.
• Momentos de confraternização e relaxamento – Durante
o ano, principalmente nas semanas que antecederam
os vestibulares, alguns momentos foram propostos
para tranquilizar os alunos, proporcionar um clima de
afetividade, descontração, respeito, boa convivência, como:
café da manhã envolvendo alunos e professores; dinâmicas
e brincadeiras esportivas nos dias de “Intensivão ENEM”;
teatro envolvendo professores, funcionários e alunos.
Após essas ações propostas, 24 alunos foram aprovados em
vestibulares de universidades diversas. A nota do ENEM obtida
pelos alunos colocou o Claretiano – Colégio São José em 1º lugar
na cidade de Batatais, de acordo com o Raio X das Escolas do
Brasil, disponibilizado pelo portal G1 (G1, 2019). De acordo com
a Figura 1, pode-se observar que a média do Claretiano – Colégio
São José ficou acima da das outras escolas, privadas e públicas, em
todas as áreas do conhecimento e da Redação.
Figura 1. Nota média no ENEM 2018 do Claretiano – Colégio São
José comparada à média das outras escolas da cidade de Batatais
em cada área do conhecimento e na redação.

Fonte: G1 (2019, [n.p.]).

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96 ISSN 2237-6011

As altas notas dos alunos nos exames realizados e as


aprovações para o ensino superior foram consideradas resultados
satisfatórios, principalmente porque o processo não constituiu de um
mero treinamento para os vestibulares, mas contemplou a formação
integral dos estudantes. Essa formação integral é a base da missão
do Claretiano – Rede de Educação, pois permite “[...] capacitar a
pessoa humana para o exercício profissional e o compromisso com
a vida” (CLARETIANO, 2012, p. 17). Durante o ano e ao término
dele, constatou-se uma satisfação dos alunos e de seus familiares
com todas as intervenções propostas, pois envolveu um trabalho
acadêmico de excelência, indissociado de aspectos humanos.

4.  CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em 2018, a coordenação do Claretiano – Colégio São


José, com apoio irrestrito da direção, dos professores e do corpo
administrativo, propôs estratégias de ensino e aprendizagem
que possibilitaram resultados satisfatórios no número de alunos
aprovados nos maiores vestibulares do país.
O atendimento individual dos coordenadores aos alunos, no
início do ano letivo, criou entre coordenadores e alunos um clima
de confiança, respeito e afetividade, essenciais para o trabalho que
foi desenvolvido durante o ano.
As atividades como visita à feira de profissões e encontro
com profissional da área de psicologia procurou ajudar o aluno no
conhecimento sobre a área de atuação.
Em relação aos simulados e “aulões” com resolução de
questões de vestibulares, verificou-se que os alunos encontram uma
oportunidade de confrontarem a mesma quantidade de conteúdo, de
duração e de ambientação propostos pelos maiores exames do país.
Quanto ao uso da Plataforma Plurall, por meio de relatos
pessoais, os alunos consideram a experiência fácil, já que podem
resolver às questões de qualquer lugar com Internet; os vídeos de
apoio são extremamente importantes quando o aluno não consegue
resolver a atividade sozinho, pois auxilia na resolução das questões

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ISSN 2237-6011 97

e compreensão dos conceitos. A plataforma também disponibiliza


ao aluno o resultado de suas provas, assim, a partir de autonomia, o
aluno pode analisar e construir do seu conhecimento.
Os momentos de relaxamento e confraternização se mostraram
como pontos positivos no confronto das dificuldades enfrentadas
no dia a dia dos estudantes e o clima agradável se fez fundamental
para se atingir as metas acadêmicas.
Essas estratégias constituíram um início de trabalho que
terá continuidade. Para 2019, algumas já foram trabalhadas de
forma alternativa ou desenvolvidas ainda mais, de acordo com as
necessidades atuais dos alunos, sempre em busca de se atingir a
maioria dos estudantes e melhorar ainda mais os resultados.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho 2014. Aprova o Plano Nacional de


Educação - PNE e dá outras providências. Diário Oficial [da] União, Brasília,
25 jun. 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2014/lei/l13005.htm. Acesso em: 11 out. 2019.

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Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 19, n. 60, p. 407-425, jan./mar. 2019.
Disponível em: https://periodicos.pucpr.br/index.php/dialogoeducacional/
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CLARETIANO. Carta de Princípios. Batatais: Claretiano, 2014.

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vestibulandos: estudo piloto. Revista Brasileira de Orientação Profissional, v.
18, n. 2, p. 129-140, jul./dez. 2017. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/
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à pesquisa participante: discussões a partir de uma investigação desenvolvida
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Disponível em: http://if.ufmt.br/eenci/artigos/Artigo_ID419/v12_n7_a2017.pdf.
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uol.com.br/2019/ranking-de-universidades/principal/. Acesso em: 11 out. 2019.

FUVEST. FUVEST 2019 - Relação Candidato/Vaga – Inscritos. 2018.


Disponível em: https://acervo.fuvest.br/fuvest/2019/relacao_candidato_vaga_
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Revista Educação, Batatais, v. 12, n. 2, p. 87-98, jul./dez. 2022


ISSN 2237-6011 99

Perfil sociodemográfico de pessoas


atendidas pelos estagiários do curso
de Terapia Ocupacional do
Claretiano – Centro Universitário

Aline Cirelli Coppede RIBEIRO1


Roselilian da Cunha Pereira Alves RODRIGUES2
Ludmila Gonçalves PERRUCI3
Camila Maria Severi MARTINS-MONTEVERDE4

Resumo: O curso de graduação em Terapia Ocupacional do Claretiano –


Centro Universitário de Batatais prepara profissionais para trabalhar nas
áreas de saúde, social e educação, desenvolvendo programas de prevenção,
promoção de saúde, recuperação e inclusão social. A formação consiste em um
profissional apto a equacionar o raciocínio terapêutico ocupacional para realizar
a análise da situação na qual se propõe a intervir, o diagnóstico clínico e/ou
institucional, a intervenção, a escolha da abordagem terapêutica apropriada e
a avaliação dos resultados alcançados, identificando e explorando recursos
pessoais, técnicos e profissionais para a condução do processo terapêutico sem
perder de vista a abordagem do trabalho interdisciplinar. O objetivo do estudo
1
Aline Cirelli Coppede Ribeiro. Doutora em Educação Especial pela Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar). Mestra em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Especialista em Neuropediatria pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Bacharel em
Terapia Ocupacional pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP).
Docente do Curso de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: alineribeiro@
claretiano.edu.br.
2
Roselilian da Cunha Pereira Alves Rodrigues. Mestra em Ciências Médicas pela Universidade de
São Paulo (USP). Especialista em Terapia Ocupacional Hospitalar pela Universidade de São Paulo
(USP). Bacharel em Terapia Ocupacional pelo Claretiano – Centro Universitário. Docente do Curso de
Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: roselilianalves@claretiano.edu.br.
3
Ludmila Gonçalves Perruci. Doutoranda e Mestra em Enfermagem Psiquiátrica pela Universidade
de São Paulo (USP). Especialista em Reabilitação Aplicada à Neurologia Infantil pela Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP). Bacharel em Terapia Ocupacional pela Universidade de São
Paulo (USP). Docente do Curso de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro Universitário. E-mail:
ludmilaperruci@claretiano.edu.br.
4
Camila Maria Severi Martins-Monteverde. Doutora e Mestra em Ciências Médicas pela
Universidade de São Paulo (USP). Bacharel em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar). Docente e Coordenadora do Curso de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro
Universitário. E-mail: terapiaocupacional@claretiano.edu.br.

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100 ISSN 2237-6011

foi caracterizar a população atendida nos campos de estágios supervisionados


de terapia ocupacional do Claretiano – Centro Universitário de Batatais durante
o período de janeiro de 2015 a agosto de 2019. Realizou-se uma revisão em
profundidade de dados de prontuários clínicos (ativos ou recuperados do
arquivo morto) e foram identificados 1.621 sujeitos atendidos em oito áreas de
estágios, dentre elas: Ortopedia, Neurologia Adulto e Infantil, Atenção Básica,
Hospitalar, Geriatria, Saúde Mental e Social. Os principais resultados mostram
que a variedade de áreas permite uma assistência holística para a população, com
atendimentos nos três níveis de atenção à saúde, com destaque para o hospital,
que concentra 63% da população que utiliza os serviços de terapia ocupacional
oferecidos pelo Claretiano. Além disso, destaca-se a população idosa (45%) e
do gênero feminino (60%), o nível de escolaridade mais frequente foi ensino
fundamental incompleto (27%), e o estado civil, solteiro (43%). O processo de
trabalho em ações integrais em saúde, quando bem gerenciado, possibilita o
compartilhamento das responsabilidades com toda a equipe multiprofissional e,
quando o contexto do trabalho tem a missão de agregar processos formativos,
os desafios se tornam ainda maiores e instigantes, pois extrapolam a dimensão
exclusiva do cuidado em saúde e do ensino de forma dicotomizada. As demandas
de saúde exigidas no mundo contemporâneo superam as necessidades de
profissionais competentes e habilitados em diagnósticos, prescrições e operação
de equipamentos sofisticados e de alta complexidade, exigindo, de tal modo,
novos perfis com capacidade e habilidade profissionais para trabalho em equipe,
compartilhamento de informações e valorização de aspectos como: escuta,
acolhimento, vínculo e cuidado na perspectiva da integralidade.

Palavras-chave: Terapia Ocupacional. Formação. Perfil Sociodemográfico.


Graduação.

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Sociodemographic profile of people attended


by trainees of the Occupational Therapy
course of Claretiano – University Center

Aline Cirelli Coppede RIBEIRO


Roselilian Pereira Alves RODRIGUES
Ludmila Gonçalves PERRUCI
Camila Maria Severi MARTINS-MONTEVERDE

Abstract: The graduate course in Occupational Therapy at the Claretiano –


University Center of Batatais prepares professionals to work in the areas of
health, social and education, developing prevention programs, health promotion,
recovery and social inclusion. The training consists of a professional able
to equate occupational therapeutic reasoning to perform the analysis of the
situation in which it proposes to intervene, the clinical and / or institutional
diagnosis, the intervention, the choice of the appropriate therapeutic approach
and the evaluation of the results achieved, identifying and exploiting personal,
technical and professional resources to conduct the therapeutic process without
losing sight of the approach to interdisciplinary work. The objective of the study
was to characterize the population served in the supervised internship fields of
occupational therapy at the Claretiano – University Center of Batatais from 2015
to 2019. We conducted an in-depth review of data from clinical records (active
or retrieved from the archive) and identified 1621 subjects treated in eight stage
areas, including: Orthopedics, Neuropediatrics, Adult Neurology, Primary Care,
Hospital, Geriatrics, Mental Health and Social. The main results show that the
variety of areas allows holistic care for the population, with care at the three levels
of health care, especially the hospital, which concentrates 63% of the population
using the Occupational Therapy services offered by the Claretiano. In addition,
the elderly population (45%) and female population (60%) stand out, the most
frequent level of education was incomplete elementary school (27%), and single
marital status (43%). The process of working in integral health actions, when well
managed, enables the sharing of responsibilities with the entire health team and
when the context of the work has the mission of aggregating training processes,
the challenges become even bigger and exciting, as they go beyond exclusive
dimension of health care and teaching in a dichotomized way. The health
demands demanded in the contemporary world exceed the needs of competent
and skilled professionals in diagnosing, prescribing and operating sophisticated

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and highly complex equipment, thus requiring new profiles with professional
ability and skill for teamwork, information sharing and valuing aspects such as:
listening, welcoming, bonding and care from the perspective of integrality.

Keywords: Occupational Therapy. Training. Sociodemographic Profile.


Graduation.

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1.  INTRODUÇÃO

O curso de graduação em Terapia Ocupacional do Claretiano


– Centro Universitário de Batatais é concebido a partir do Projeto
Educativo, que contém os princípios norteadores da instituição
(singularidade, abertura, integralidade, transcendência, autonomia,
criatividade e sustentabilidade) e do Projeto Político Pedagógico
Institucional, que possui como missão o compromisso com a
formação integral do aluno, como profissional e como pessoa, o
que se caracteriza pela busca do conhecimento por meio do ensino,
pesquisa e extensão, inspirada nos valores éticos e cristãos e no
carisma Claretiano, que dão pleno significado à vida humana,
sendo concebido segundo o eixo norteador que se baseia na
formação integral do profissional, sem perder de vista a pessoa.
Esse processo envolve a compreensão a respeito da fundamentação
teórico-metodológica que sustenta a profissão, calcada nos
pressupostos de que a atividade humana é o elemento central na
experiência do Terapeuta Ocupacional e a sua correlação com a
saúde (CLARETIANO, 2012).
O curso de terapia ocupacional prepara profissionais para
trabalhar nas áreas de saúde, social e educação, desenvolvendo
programas de prevenção, promoção de saúde, recuperação e inclusão
social. Fundamenta-se em bases fisiológicas, psicológicas e sociais
para a compreensão das atividades humanas e suas correlações com
a saúde, bem-estar e qualidade de vida, procurando desenvolver
nos futuros terapeutas ocupacionais habilidades e competências
para atenderem as demandas e necessidades sociais, basicamente
constituídas por pessoas com deficiência (física, sensorial e/
ou mental), com sofrimento psíquico, idosos, e/ou vivenciando
situações de vulnerabilidade social (CLARETIANO, 2012).
O Terapeuta Ocupacional é um profissional que pode atuar
em clínicas e consultórios particulares; na assistência domiciliar e
empresas de home-care; hospitais gerais e especializados; centros
de reabilitação; ambulatórios de saúde mental e centros de atenção
psicossocial; programas públicos de atenção à saúde da criança e
do adolescente; programas socioeducativos para o menor infrator;
empresas, área de prevenção de acidentes/ergonomia, treinamento

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de pessoal e desenvolvimento de projetos; centros de atenção à


pessoa idosa; escolas regulares em programas de inclusão social e
escolas especializadas para o público-alvo da Educação Especial;
cooperativas de trabalho de populações marginalizadas e, ainda, em
organizações não governamentais (COFFITO, [s.d.]).
O curso concebe o Terapeuta Ocupacional como um
profissional apto a equacionar o raciocínio terapêutico ocupacional
para realizar a análise da situação na qual se propõe a intervir, o
diagnóstico clínico e/ou institucional, a intervenção, a escolha da
abordagem terapêutica apropriada e a avaliação dos resultados
alcançados, identificando e explorando recursos pessoais, técnicos
e profissionais para a condução do processo terapêutico sem perder
de vista a abordagem do trabalho interdisciplinar (CLARETIANO,
2012).
O curso tem como missão a formação integral, ou seja, de
um cidadão Terapeuta Ocupacional com capacidade para definir
sua especialidade profissional clínica e/ou científica, mas também
capacitado a entender o homem como um composto. Considerando
essa abordagem, o curso busca desenvolver alguns princípios ao
aluno que se iniciam no despertar a responsabilidade do exercício
profissional e vão até o saber reconhecer e executar as técnicas para
avaliação e as terapêuticas, de maneira individualizada, respeitando
o homem como um ser biológico, psicológico, social e espiritual
(CLARETIANO, 2012).
O estágio curricular se configura como uma etapa de
aprendizado aplicado, profissionalizante, com supervisão docente,
necessária para que o aluno de Terapia Ocupacional seja devidamente
habilitado e esteja em condições de receber a graduação para o
exercício profissional (COFFITO, [s.d.]).
O estágio tem a duração de um (1) ano e carga horária de
640 horas, divididas de maneira igual nos dois semestres (320
horas em cada). O estudante passa por oito (8) áreas de estágios e
toda atividade do estagiário é avaliada por um supervisor mediante
a apresentação de relatórios. O estágio faz parte do processo de
formação profissional do aluno em nível superior e assegura a
indissociabilidade teoria-prática. Representa o momento em que o

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aluno poderá vivenciar e consolidar as competências exigidas para o


exercício acadêmico-profissional nos diferentes campos de atuação
da Terapia Ocupacional (CLARETIANO, 2012; COFFITO, [s.d.]).
O objetivo geral do estágio supervisionado é possibilitar
ao aluno a aplicação dos conhecimentos adquiridos no processo
de formação profissional, a vivência do ambiente de trabalho, a
análise das formas de atuação dos profissionais habilitados, das
características dos alunos/pacientes/clientes. Enfim, observar,
analisar e experimentar as possibilidades de atuação profissional
são habilidades desenvolvidas durante a prática profissional
supervisionada (COFFITO, [s.d.]). Nesse sentido, considerando
que o estágio supervisionado em terapia ocupacional é um espaço
para a aquisição de experiências profissionais e que o curso de
Terapia Ocupacional do Claretiano oferece uma vasta experiência
da prática profissional, este estudo teve como objetivo caracterizar
a população atendida nos campos de estágios supervisionados
de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro Universitário de
Batatais de janeiro de 2015 a agosto de 2019.

2.  MÉTODO

Trata-se de um estudo retrospectivo, descritivo, baseado em


análise documental, registrado em prontuários, de oito áreas de
estágios supervisionados, dentre elas: Ortopedia, Neuropediatria,
Neurologia Adulto, Atenção Básica, Hospitalar, Geriatria, Saúde
Mental e Social, no período de 2015 a 2019. Foi realizada uma
revisão em profundidade de dados de prontuários clínicos (ativos
ou recuperados do arquivo morto) e identificados 1.621 sujeitos
atendidos pelos estagiários de Terapia Ocupacional. Esses dados
foram inseridos e posteriormente analisados no programa Statistical
Program of Social Science – SPSS, v. 20, for Windows, no qual,
foi realizada uma análise exploratória dos dados por meio de
médias, frequência e porcentagem dos dados para elucidação das
características dessa amostra.

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3.  RESULTADOS

A amostra foi composta por 1.621 sujeitos atendidos pelo


serviço de Terapia Ocupacional durante os últimos 5 anos. O Gráfico
1 apresenta a distribuição dessas pessoas por local de estágio.
Gráfico 1. Distribuição das pessoas atendidas por local de estágio
no período de 2015 a 2019.  
 

63%
N° de pessoas

1200
1000
800
600 11% 11%
400 2% 5% 2% 4% 2%
200
0

ÁREAS DE ESTÁGIOS

Fonte: elaborado pelas autoras.


Fonte: elaborado pelas autoras.
Observa-se que dos 8 locais que oferecem o serviço de Terapia
ocupacional, o Hospital
Observa-se destaca-se
que dos 8 locaispela
quealta frequência
oferecem de pessoas
o serviço de
atendidas (63%), mas vale a pena ressaltar que esse dado deve ser
Terapia ocupacional,
analisado considerandoo Hospital destaca-se
diferentes aspectospela
dasalta frequência
demais áreasdede
estágios. No estágio(63%),
pessoas atendidas da atenção básica,
mas vale sãoressaltar
a pena constituídos grupos
que esse dadode
prevenção e promoção de saúde, de modo que são atendidas, em
deve ser
média, analisado
de 10 considerando
a 15 pessoas em cadadiferentes
grupo (o aspectos
qual ocorredasemdemais
média
uma
áreasvez
depor semana),
estágios. de modo
No estágio daque os dados
atenção analisados
básica, para este
são constituídos
estudo das pessoas atendidas pelos estagiários da atenção básica
gruposrespeito,
dizem de prevenção e promoçãoaos
exclusivamente, de atendimentos
saúde, de modo que são
domiciliares,
evidenciando,
atendidas, em assim, que10 também
média, de é um
a 15 pessoas em estágio
cada grupoque(ooferece
qual
ocorre em média uma vez por semana), de modo que os dados
analisados para este estudo das pessoas atendidas pelos estagiários
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da atenção básica dizem respeito, exclusivamente, aos
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assistência a muitas pessoas e famílias, não devendo ser considerado


apenas o dado número de 2%, conforme evidenciado no gráfico.
A prática supervisionada em saúde mental é uma área de
estágio que também oferece grupos terapêuticos atendendo em
média 10 pacientes, os quais, pela característica da cronicidade
da doença psiquiátrica, são assistidos durante anos, de modo que
a maioria dos pacientes que iniciaram tratamento terapêutico
ocupacional pelos estagiários de terapia ocupacional em 2015
continua sendo acompanhada até o presente momento, explicando
a porcentagem de 4% de pessoas atendidas, comparando-se com as
demais áreas de estágios.
Desse modo, é válido mencionar que das 51 crianças/
adolescentes que foram acolhidas no Serviço de Acolhimento
Institucional durante o período de janeiro de 2015 a agosto de 2019,
os estagiários da área social atenderam 41 delas, representando
de modo significativo a assistência terapêutica ocupacional às
pessoas atendidas no estágio da área social que foram acolhidas
institucionalmente.
A prática profissional dos estágios supervisionados em
Terapia Ocupacional na Neurologia Adulto, Neuropediatria e
Ortopedia, Traumatologia e Reumatologia também atende pessoas
com condições crônicas que necessitam de acompanhamento
sistemático para manutenção do quadro clínico. Nesse sentido,
a porcentagem de 5%, 2% e 11%, respectivamente, das áreas de
estágios supracitadas deve ser ampliada ao ser analisada, uma vez
que ocorrem, em média, dois atendimentos para cada paciente
dessas áreas de estágio por semana.
O estágio em Geriatria ocorre em uma instituição privada com
um limite de vagas para a assistência às pessoas idosas, explicando
a porcentagem de 11% de pessoas atendidas no estágio da área de
Geriatria, comparando-se com os demais estágios.
Prosseguindo com as análises sociodemográficas, no Gráfico
2, apresenta-se a distribuição dos sujeitos por faixa etária. Com
destaque para os idosos (45%), que são predominantes e, em
seguida, os adultos (27%) e as crianças (19%), com uma frequência
menor.

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108 ISSN 2237-6011

Gráfico 2. Distribuição das pessoas por faixa etária.  


 

19%
45%
9%

27%

Criança Adolescente Adulto Idoso

Fonte: elaborado pelas autoras.


Fonte: elaborado pelas autoras.
A análise permitiu observar a distribuição das pessoas
segundo gênero, em que
A análise se constatou
permitiu observar uma predominância
a distribuição no gênero
das pessoas
feminino (60%) em relação ao masculino (40%).
segundo gênero, em que se constatou uma predominância no
Nos Gráficos
gênero feminino3(60%)
e 4, em
observa-se
relação ao amasculino
distribuição
(40%).dos indivíduos
por escolaridade e estado civil, respectivamente. Dos sujeitos que
Nos Gráficos 3 e 4, observa-se a distribuição dos indivíduos
foram possíveis coletar essa informação, destacam-se os níveis de
por escolaridade
escolaridade e estado civil, respectivamente.
ensino fundamental incompleto (27%)Dos sujeitos que médio
e ensino
(15%) foram
com apossíveis
maior coletar
concentração dos indivíduos.
essa informação, destacam-se osRessalta-se
níveis de que
o predomínio da escolaridade ensino fundamental
escolaridade ensino fundamental incompleto (27%) e ensino incompleto
pode ser explicado pelo fato de ocorrerem dois estágios: o da área
médio (15%) com a maior concentração dos indivíduos. Ressalta-
social e o da neuropediatria, que atendem crianças e adolescentes.
se quea maioria
Além disso, o predomínio da escolaridade
dos sujeitos ensino fundamental
adultos apresenta baixo nível de
escolaridade,
incompletoenquadrando-se
pode ser explicadono ensino
pelo fatofundamental
de ocorrerem incompleto
dois
ou ensino médio.
estágios: o da área social e o da neuropediatria, que atendem
Com relação ao estado civil, destacam-se solteiro (42%),
viúvo (28%) e casado (25%) com maiores frequências. Novamente,
o aspecto do estado civil também deve ser analisado considerando
que 28% (crianças e adolescentes) das pessoas atendidas pelos
serviços de Terapia Ocupacional se enquadram na faixa etária
infanto-juvenil e, por este motivo, também pode ser um fator
explicativo para o predomínio de pessoas solteiras.

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faixa etária infanto-juvenil e, por este motivo, também pode ser
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um fator explicativo para o predomínio de pessoas solteiras. 109

Gráfico 3. Distribuição das pessoas por nível de escolaridade.


Gráfico 3. Distribuição das pessoas por nível de escolaridade.

Não coletado 3%
Não se Aplica 19%

Nível de escolaridade
Ensino Superior Incompleto 1%
Ensino Superior 3%
Ensino Médio Incompleto 10%  
  Ensino Médio 15%
Fonte: elaborado pelas autoras.
Ensino Fundamental Incompleto 27%

Gráfico 4. Distribuição das pessoas


Ensino Fundamental por estado civil.
16%
Creche 0,6%
Analfabeto 7%

0 100 200 300 400 500


N° de pessoas

Fonte: elaborado pelas autoras.

Gráfico 4. Distribuição das pessoas por estado civil.

800
43%
700
N° de pessoas

600
500 28%
24%
400
300
200
100 2% 2%
0,1% 0,2% 0,1%
0

Estado Civil

Fonte: elaborado pelas autoras.

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4.  DISCUSSÃO

O objetivo do estudo foi caracterizar a população atendida


nos campos de estágios supervisionados de Terapia Ocupacional do
Claretiano – Centro Universitário de Batatais durante o período de
janeiro de 2015 a agosto de 2019.
O ensino em terapia ocupacional no Brasil é norteado pelas
Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs). Em seu artigo 3º, é
referido que:
O Curso de Graduação em Terapia Ocupacional tem
como perfil do formando egresso/profissional o terapeuta
ocupacional, com formação generalista, humanista, crítica
e reflexiva. Capacitado ao exercício profissional em todas
as suas dimensões, pautado em princípios éticos, no
campo clínico-terapêutico e preventivo das práticas de
Terapia Ocupacional. Conhece os fundamentos históricos,
filosóficos e metodológicos da terapia ocupacional e seus
diferentes modelos de intervenção e atua com base no rigor
científico e intelectual (BRASIL, 2002, p. 1).
Durante o período de estágio, o aluno deve aplicar os
conhecimentos adquiridos nos anos teóricos subjacentes, além de
vivenciar um ambiente de trabalho, observar, analisar e experimentar
as possibilidades de atuação profissional.
Nas DCNs, há a descrição das habilidades e competências
gerais e específicas para formação do terapeuta ocupacional, sendo
sinalizado, em seu artigo 5º, inciso XXX, acerca da realização do
estágio em diferentes equipamentos sociais e de saúde (BRASIL,
2002).
No curso de Terapia Ocupacional do Claretiano – Centro
Universitário, os alunos vivenciam o estágio em 8 áreas,
contemplando uma formação mais diversificada e completa.
Conforme observado no Gráfico 1, os locais são Ortopedia;
Neurologia Adulto e Neurologia Pediátrica, Hospitalar, Geriatria,
Saúde Mental, Atenção Básica e Área Social.
Os cenários de aprendizagens devem favorecer aos discentes a
reflexão crítica sobre sua ação e a realidade em que estão inseridos,

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buscando problematizar o seu cotidiano, articulando a teoria e a


prática no processo da aprendizagem significativa e do trabalho
em equipe. Além disso, devem permitir ao usuário do serviço a
possibilidade de uma assistência de qualidade e com rigor científico,
na perspectiva de uma compreensão integral do ser humano e do
processo saúde-doença, com humanização da atenção e cuidado
integrados (CECCIM; FEUERWERKER, 2004; FERNANDES et
al., 2005).
A variedade de áreas pelas quais os alunos do curso de Terapia
Ocupacional passam permite que o serviço chegue à população em
várias esferas, como a da saúde, da educação e da assistência social,
contribuindo para o município em parceria com a Instituição, que
tem como princípios e missão:
[...] capacitar a pessoa humana para o exercício profissional
e para o compromisso com a vida, mediante uma formação
integral. Esta missão se caracteriza pela investigação da
verdade, pelo ensino e pela difusão da cultura, inspirada
nos valores éticos e cristãos e no Carisma Claretiano que
dão pleno significado à vida humana (CLARETIANO,
2012, p. 17).
De acordo com o Gráfico 1, temos 1.621 pessoas que foram
e ainda são beneficiadas pelos serviços de Terapia Ocupacional,
sendo o hospital o lugar que teve mais pacientes atendidos (63%).
Esse fato pode ser justificado pela atuação em subáreas hospitalares:
Pediatria, Clínica Médica e Unidade de Cuidados Prolongados
(UCP); o hospital onde o estágio é oferecido é um hospital de média
complexidade, o que justifica a alta rotatividade de pacientes, sendo
benéfico no processo de aprendizagem de diversas condições de
saúde dos pacientes e a atuação da Terapia Ocupacional em todos
esses contextos.
Aqui podemos destacar mais um diferencial do curso de
Terapia Ocupacional no Claretiano, visto que em um estudo
desenvolvido por Dahdah, Frizzo e Fangel (2014), com o objetivo
de caracterizar o ensino nos cursos de graduação brasileiros em
relação à terapia ocupacional em contextos hospitalares, foi
verificada a reduzida oferta de disciplinas específicas e práticas
no hospital. Considerando uma amostra de 33 universidades,

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observou-se, por meio da análise de documentos públicos (projeto


pedagógico, ementário ou matriz curricular), que apenas 14 cursos
(42,4%) ofereciam disciplinas referentes aos contextos hospitalares,
e somente 12 (36,4%) ofertavam atividades práticas no hospital.
Os autores, dentre alguns apontamentos, expressam a necessidade
de se refletir sobre o quanto as DCNs contemplam a evolução da
profissão (DAHDAH; FRIZZO; FANGEL, 2014), considerando
a Resolução nº 429/2013 do Conselho Federal de Fisioterapia e
Terapia Ocupacional – COFFITO, que reconhece a especialidade da
terapia ocupacional em contextos hospitalares (COFFITO, 2013).
No que se refere às faixas etárias atendidas pelos serviços de
terapia ocupacional, destaca-se a população idosa (45%), seguida
da população adulta (27%) e das crianças (19%).
Esses dados corroboram com evidências científicas do
fenômeno de envelhecimento populacional, que vem acontecendo
de forma acelerada e provavelmente será um dos maiores desafios
da saúde pública nos próximos anos. Esse fenômeno, que
inicialmente ocorreu nos países desenvolvidos, atualmente vem
sendo cada vez mais percebido nos países em desenvolvimento.
Segundo a Organização das Nações Unidas (2017, [n.p.]), “[...] até
2050, a Ásia, a América Latina, o Caribe e a Oceania terão mais de
18% de sua população com mais de 65 anos” [...].
Segundo as estimativas populacionais, o Brasil tinha, no ano
de 2016, a população total de 206 milhões de habitantes, destes,
14,3% eram idosos, e a expectativa de vida, considerando o ano de
2016, era de 75 anos e 9 meses (IBGE, 2017). No país, o aumento
da população idosa implica em mudanças tanto nas demandas
sociais, como nas de saúde, ocasionando a necessidade de novas
estratégias para a atenção e promoção de saúde e para formulação
e implementação de políticas públicas, com o objetivo de valorizar
a autonomia e dar suporte às diversas demandas dessa população
(LIMA; TOCANTINS, 2009;  KUCHEMANN, 2012;  MINAYO,
2012; VERAS et al., 2008).
Silva, Mourão e Gobbi (2015) referem que um dos grandes
desafios desse século é a criação de estratégias para o cuidado da
população idosa, que apresenta diversas particularidades e, ainda,

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uma elevada prevalência de doenças crônicas degenerativas e


incapacitantes.
Além disso, dentre as áreas de estágio ofertadas pelo curso
do Claretiano, metade delas tem predominância de público idoso
(Hospitalar, Neurologia Adulto, Atenção Básica e Geriatria), visto
que as patologias predominantes são Acidente Vascular Encefálico,
Doença de Parkinson, Doença de Alzheimer, Câncer, e outras
complicações que levam à imobilidade do paciente e à perda dos
papéis ocupacionais, que são típicas do envelhecimento.
No entanto, segundo Furtado e Fischer (2011), a terapia
ocupacional está intensamente envolvida com a produção da vida,
com a criação do existir, dos modos de estar no mundo e da própria
construção de mundos. Essa compreensão advém do fato de que a
vida humana se constitui em um continuum de atividade. Portanto,
o entendimento sobre tais atividades e o seu lugar terapêutico devem
ser estudados pelos terapeutas ocupacionais em sua completude
e complexidade, considerando os aspectos históricos, políticos,
sociais, culturais, estéticos e éticos implicados. Ou seja, qualquer
faixa etária é público-alvo da Terapia Ocupacional, desde que tenha
seu cotidiano interrompido.
Nesse sentido, é válido mencionar que um diferencial do
estágio supervisionado em Terapia Ocupacional do Claretiano é
que os discentes experienciam a prática profissional não só na área
da saúde, mas também na área social e na educação, denotando o
compromisso do curso, que está atento às atualizações das DCNs –
as quais amplificam os campos dos saberes e contextos de atuação
profissional do Terapeuta Ocupacional –, e não se concentra,
exclusivamente, na área da saúde, uma vez que a profissão nasceu
no contexto da saúde, mas foi se expandindo ao longo dos anos e se
inserindo, exponencialmente, na assistência social e na educação.
Com relação a gênero, houve predominância do gênero
feminino (60%). Esse dado corrobora com diversos estudos que
apontam a baixa procura de homens aos serviços de saúde, ou
que só procuram em casos emergenciais. Além disso, as mulheres
costumam engajar-se mais em comportamentos preventivos.

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As mulheres apresentam doenças crônico-degenerativas e


incapacidades funcionais com maior frequência, no entanto, os
homens morrem mais cedo (BORGES; SEIDL, 2012). No Brasil, de
cada três mortes de pessoas adultas notificadas, duas correspondem
a homens, e estes apresentam uma expectativa média de vida em
torno de sete anos a menos do que a das mulheres (BRASIL, 2008;
IBGE, 2010).
A alta mortalidade na população masculina indica que os
homens, em grande parte por questões culturais e educacionais,
experimentam riscos elevados à saúde, como colisões de carro,
acidentes de trabalho e uso abusivo de substâncias psicoativas.
Além disso, buscam os serviços de saúde, sobretudo os de
atenção primária, em menor frequência, e engajam-se menos em
comportamentos preventivos quando comparados às mulheres
(GOMES; NASCIMENTO; ARAÚJO, 2007), que, em geral, são
apontadas como mais favorecedoras da própria saúde e de cuidados
com outros membros da família (BORGES; SEIDL, 2012).
Os homens comumente agem em função da necessidade de
solucionar problemas já existentes e recorrem aos serviços de saúde
em estágio avançado da doença, com predominância da procura
por pronto-socorros e farmácias (COUTO et al., 2010). Assim, nos
serviços ambulatoriais, verifica-se uma demanda significativa e
consistentemente menor de homens em comparação com usuários
do sexo feminino (PINHEIRO et al., 2002).
No que diz respeito à escolaridade, observa-se uma variedade
na frequência dos níveis. Destaca-se o ensino fundamental
incompleto (27%), porém outros níveis também apresentaram
uma frequência significativa. Tal fato se justifica pela grande
abrangência do serviço de terapia ocupacional para a população
local, que atende faixas etárias e níveis socioeconômicos variados,
sendo, portanto, acessível à população de maneira indiscriminada.
O estado civil dos sujeitos também reflete essa diversidade
de áreas e faixas etárias, o que indiretamente se pode justificar
pelo fato de a maioria atendida ser idosa. Consequentemente, os
estados civis que se destacaram foram solteiro (43%), viúvo (28%)

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ISSN 2237-6011 115

e casado (24%). A literatura sobre o estado civil e os problemas de


saúde são escassos.
Alguns autores apontam um cenário de mudanças significativas
no padrão dos arranjos domiciliares, como o que tem sido observado
no caso brasileiro, caracterizado pelo aumento na prevalência
de domicílios unipessoais nas idades mais velhas (MEDEIROS;
OSÓRIO, 2000). Mas os dados ainda são inconsistentes.
Dados sugerem que as menores taxas de mortalidade
observadas entre divorciados e separados, comparativamente aos
idosos casados, poderiam ser explicadas por uma combinação
de efeitos de seleção – indivíduos mais saudáveis teriam maior
propensão à separação – com efeitos de proteção, representados
por benefícios adquiridos e acumulados ao longo do período vivido
em matrimônio (GOMES et al., 2013).
Ao contrário dos homens, o fim do matrimônio, por meio de
separação, divórcio ou viuvez, é o fator responsável por reduzir a
sobrevivência de mulheres idosas em São Paulo (GOMES et al.,
2013). Alguns estudos destacam que não é apenas a transição para
outro estado marital que faz da dissolução do casamento um evento
estressante, com efeitos negativos nocivos sobre a longevidade,
mas também a mudança para um novo estilo de vida que exige
adaptação às novas condições como redução de suporte social e
perda material (MEDEIROS; OSÓRIO, 2000). Nesse sentido, é
possível que, no caso de São Paulo, os efeitos distintos da dissolução
do casamento sobre a mortalidade de homens e mulheres reflitam a
menor autonomia financeira das mulheres em relação aos homens.
Apesar dessas evidências científicas, os dados não são
suficientes para fazer algum tipo de correlação com o perfil da
população atendida pelo serviço, mas serve de informação descritiva
sobre a situação marital dos sujeitos.
Diante do exposto, fica evidente que os estagiários do curso
de Terapia Ocupacional do Claretiano se deparam com diferentes
configurações familiares, assim como contextos sociais, culturais,
políticos, econômicos distintos, sendo imprescindível compreender
que o trabalho em saúde é “[…] um trabalho de escuta, em que a
interação entre profissional de saúde e usuário é determinante da

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qualidade da resposta assistencial” (CECCIM; FEUERWERKER,


2004, p. 49).
No mundo contemporâneo, as demandas de saúde superam
as necessidades de profissionais competentes e habilitados
em diagnósticos, prescrições e operação de equipamentos
sofisticados e de alta complexidade, exigindo novos perfis, com
capacidade e habilidade profissionais para o trabalho em equipe,
compartilhamento de informações e valorização de aspectos
como: escuta, acolhimento, vínculo e cuidado na perspectiva da
integralidade (MERHY et al., 2010; BRASIL, 2004).
Assim, é válido mencionar que a literatura científica relata que
o processo de trabalho em ações integrais em saúde, quando bem
gerenciado, possibilita o compartilhamento das responsabilidades
com toda a equipe de saúde. E, quando o contexto do trabalho tem a
missão de agregar processos formativos, os desafios se tornam ainda
maiores e instigantes, pois extrapolam a dimensão exclusiva do
cuidado em saúde e do ensino de forma dicotomizada (TEIXEIRA;
CORRÊA; SILVA, 2018).
Dessa forma, a aproximação entre o ensino e o sistema de
saúde favorece ambientes de aprendizagem pedagogicamente
promissores, em que a saúde se apresenta como campo
interdisciplinar com alta complexidade, pois o processo saúde-
doença, no seu âmbito social, envolve, simultaneamente, relações
sociais, emocionais, afetivas e biológicas, além de razões sócio-
históricas e culturais dos indivíduos e grupos (GOMES et al., 2011;
MINAYO, 2002).

5.  CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa permite a visualização de que o curso de Terapia


Ocupacional do Claretiano oferece assistência à população de
Batatais nos três contextos: da saúde, social e educacional. Além
disso, os serviços se articulam em rede, atendendo os três níveis de
atenção à saúde: primário, secundário e terciário. Desenvolvendo
ações de promoção, prevenção, reabilitação, ações territoriais e
intersetoriais.

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Importante mencionar que, além de especialistas competentes,


é necessário formar indivíduos criativos, críticos, empreendedores e,
sobretudo, excelentes cidadãos. Sim, porque, para mudar o mundo,
no novo milênio, já não basta formar profissionais competentes e
cientistas produtivos (que podem, inclusive, reproduzir e ampliar,
com perversa eficiência, desigualdades e injustiças existentes).
É  imprescindível formar, além de tudo, homens e mulheres
comprometidos com a ética da causa pública, com as consequências
da própria ação, com interesses republicanos.
E o Claretiano alia a formação dos seus estudantes dentro
dos princípios do Projeto Educativo, como: singularidade,
abertura, integralidade, transcendência, autonomia, criatividade e
sustentabilidade. E do Projeto Político-Pedagógico Institucional,
tendo como missão o compromisso com a formação integral,
como profissional e como pessoa, que se caracteriza pela busca do
conhecimento por meio do ensino, pesquisa e extensão, inspirada
nos valores éticos e cristãos e no carisma Claretiano, que dão
pleno significado à vida humana, sendo concebido segundo eixo
norteador que se baseia na formação integral do profissional, sem
perder de vista a pessoa (CLARETIANO, 2012).
Compreende-se a importância do papel de corresponsável na
formação de futuros profissionais em Terapia Ocupacional como um
trabalho pactuado e integrado entre discentes, docentes, gestores,
trabalhadores das equipes dos serviços e usuários. Estudos como
esse implicam em profundas mudanças conceituais, estruturais
e estratégicas nos currículos, na formação de profissionais com
competências comuns, nos processos de trabalho e na gestão,
repercutindo, positivamente, na formação de profissionais
qualificados no contexto das políticas públicas, na atualização
constante dos profissionais inseridos nos serviços de saúde e na
melhoria do serviço oferecido à comunidade.

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Cad. Bras. Ter. Ocup., São Carlos, v. 26, n. 3, p. 617-625, 2018.

VERAS, R. P. et al. A assistência suplementar de saúde e seus projetos de cuidado


para com o idoso. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 13, n. 4, p. 1119-
1126, 2008.

Revista Educação, Batatais, v. 12, n. 2, p. 99-120, jul./dez. 2022


ISSN 2237-6011 121

Política Editorial / Editorial Policy


A Revista Educação é uma publicação digital semestral do
Claretiano – Centro Universitário, des­tinada à divulgação científica
dos cursos, bem como de pesquisas e projetos comunitários.
Tem como objetivo principal publicar trabalhos que possam
contribuir com o debate acerca de temas educacionais e os
paradigmas concernentes à educação na sociedade contemporânea,
tendo como áreas de interesse a história da educação, movimentos
culturais, arte, literatura e filosofia.
A Revista Educação destina-se à publicação de trabalhos
inéditos que apresentem resultados de pesquisa histórica ou de
investigação bibliográfica originais, visando agregar e associar à
produção escrita a produção fotográfica, de vídeo ou áudio, sendo
submetidos no formato de: artigos, ensaios, relatos de caso, resumos
estendidos, traduções ou resenhas.
Serão considerados apenas os textos que não estejam sendo
submetidos a outra publicação.
As línguas aceitas para publicação são o português, o inglês
e o espanhol.

Análise dos trabalhos

A análise dos trabalhos é realizada da seguinte forma:


a)  Inicialmente, os editores avaliam o texto, que pode ser
desqualificado se não estiver de acordo com as normas da
ABNT, apresentar problemas na formatação ou tiver reda-
ção inadequada (problemas de coesão e coerência).
b)  Em uma segunda etapa, os textos selecionados serão en-
viados a dois membros do conselho editorial, que avaliarão
as suas qualidades de escrita e conteúdo. Dois pareceres
negativos desqualificam o trabalho e, havendo discordân-
cia, o parecer de um terceiro membro é solicitado.

Revista Educação, Batatais, v. 12, n. 2, p. 121-127, jul./dez. 2022


122 ISSN 2237-6011

c)  Conflito de interesse: no caso da identificação de conflito


de interesse da parte dos revisores, o editor encaminhará o
manuscrito a outro revisor ad hoc.
d)  O autor será comunicado do recebimento do seu trabalho
no prazo de até 8 dias; e da avaliação do seu trabalho em
até 90 dias.
e)  O ato de envio de um original para a Revista Educação
implica, auto­maticamente, a cessão dos direitos autorais
a ele referentes, devendo esta ser consultada em caso de
republicação. A responsabilidade pelo conteúdo veiculado
pelos textos é inteiramente dos autores, isentando-se a Ins-
tituição de responder legalmente por qualquer problema a
eles vinculado. Ademais, a Revista não se responsabilizará
por textos já publicados em outros periódicos. A publica-
ção de artigos não é remunerada.
f)  Cabe ao autor conseguir as devidas autorizações de uso
de imagens/fotogra­fias com direito autoral protegido, de
modo que estas sejam encaminhadas, quando necessário,
juntamente com o trabalho para a avaliação. Também é
do autor a responsabi­lidade jurídica sobre uso indevido de
imagens/fotografias.

Publicação

A Revista Educação aceitará trabalhos para publicação nas


seguintes categorias:
1)  Artigo científico de professores, pesquisadores ou estu-
dantes; mínimo de 8 e máximo de 15 páginas.
2)  Relatos de caso ou experiência: devem conter uma abor-
dagem crítica do even­to relatado; mínimo de 5 e máximo
de 8 páginas.
3)  Traduções de artigos e trabalhos em outro idioma, desde
que devidamente au­torizadas pelo autor original e com-
provadas por meio de documento oficial im­presso; míni-
mo de 8 e máximo de 15 páginas.

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ISSN 2237-6011 123

4)  Resumos estendidos de trabalhos apresentados em even-


tos científicos ou de te­ses e dissertações; mínimo de 5 e
máximo de 8 páginas.
5)  Ensaios: mínimo de 5 e máximo de 8 páginas.
6)  Resenhas: devem conter todos os dados da obra (edito-
ra, ano de publicação, cidade etc.) e estar acompanhadas
de imagem da capa da obra; mínimo de 5 e máximo de 8
páginas.

Submissão de trabalhos

1)  Os trabalhos deverão ser enviados:


a) Em dois arquivos, via e-mail (attachment), em formato
“.doc” (Word for Windows). Em um dos arquivos, na
primeira página do trabalho, deverá constar apenas o
título, sem os nomes dos autores. O segundo arquivo
deverá seguir o padrão descrito no item 2, incluindo os
nomes dos autores.
b) Em caráter de revisão profissional.
c) No máximo com 5 autores.
d) Com Termo de Responsabilidade devidamente
assinado, escaneado de forma legível e enviado para o
e-mail: <reveducacao@claretiano.edu.br>. Em caso de
dois ou mais autores é necessário que cada autor envie
um Termo de Responsabilidade.
2)  O trabalho deve incluir:
a) O título em língua portuguesa, em Times New Roman,
corpo 16, negrito, inicial maiúscula, alinhado à
esquerda, espaçamento entrelinhas de 1,5.
b) O(s) nome(s) do(s) autor(es) em corpo 12, inicial
maiúscula, espaçamento entrelinhas de 1,5, alinhado
à direita com o último sobrenome em letra maiúscula.
Os dados de sua(s) procedência(s) em nota de rodapé,
corpo 8, inicial maiúscula, espaçamento simples e
justificado – a apresentação acadêmica do(s) autor(es)
com titulação na sequência da “maior” para a “menor”,
filiação institucional, e-mail e telefones para contato.
Observação: os telefones não serão disponibilizados ao

Revista Educação, Batatais, v. 12, n. 2, p. 121-127, jul./dez. 2022


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público.
c) A expressão “Resumo” em negrito seguida do
respectivo resumo em língua portugue­sa (entre 100
e 150 palavras), normal, corpo 10, inicial maiúscula,
espaçamento simples, justificado. Sugere-se que, no
resumo de artigos de pesquisa, seja especificada a
orientação metodológica.
d) A expressão “Palavras-chave” em negrito seguida de 3
até 5 palavras-chave em língua portuguesa, no singular,
corpo 10, inicial maiúscula, espaçamento simples,
justificado, normal.
e) Na lauda seguinte o título em língua inglesa, em Times
New Roman, corpo 16, negrito, inicial maiúscula,
alinhado à esquerda, espaçamento entrelinhas de 1,5.
f) O(s) nome(s) do(s) autor(es) em corpo 12, inicial
maiúscula, espaçamento entrelinhas de 1,5, alinhado
à direita com o último sobrenome em letra maiúscula.
Sem os dados de sua(s) procedência(s).
g) A expressão “Abstract” em negrito seguida do respectivo
resumo em língua inglesa (entre 100 e 150 palavras),
normal, corpo 10, inicial maiúscula, espaçamento
simples, justificado.
h) A expressão “Keywords” em negrito seguida de 3 até
5 palavras-chave em língua inglesa, no singular, corpo
10, inicial maiúscula, espaçamento simples, justificado,
normal.
i) O conteúdo textual do trabalho.
j) Os vídeos, as fotos ou áudios são opcionais. Todo
o material de mídia digital deve ser testado antes do
envio e não ultrapassar 5 minutos de exibição.

Formatação do trabalho

1)  Em Times New Roman, corpo 12, inicial maiúscula, justi-


ficado, parágrafo de 1 cm, espaçamento entrelinhas de 1,5.
2)  Para citações longas, usar corpo 10, entrelinhas simples,
recuo de 3 cm à esquerda, espaço antes e depois do texto.
Citações curtas, até 3 linhas, devem ser colocadas no in-
terior do texto e entre aspas, no mesmo tamanho de fonte
do texto (12).

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3)  Tabelas, quadros, gráficos, ilustrações, fotos e anexos


devem vir no interior do texto com respectivas legendas.
Para anexos com textos já publicados, deve-se incluir re-
ferência bibliográfica.
4)  As referências no corpo do texto devem ser apresentadas
entre parênteses, com o nome do autor em letra maiúscula
seguido da data, separados por vírgula e espaço e contendo
o respectivo número da(s) página(s), quando for o caso.
Exemplo: (FERNANDES, 1994, p. 74). A norma utiliza-
da para a padronização das referências é a da ABNT em
vigência.
5)  As seções do texto devem ser numeradas, a começar de 1
(na introdução), corpo 12, negrito, digitadas em letra mai-
úscula, justificado, espaçamento entrelinhas de 1,5; sub-
títulos não devem ser numerados, digitados com inicial
maiúscula, corpo 12, negrito, justificado, espaçamento
entrelinhas de 1,5; subtópicos não devem ser numerados,
digitados com inicial maiúscula, corpo 12, itálico, justifi-
cado, espaçamento entrelinhas de 1,5.
6)  As notas de rodapé devem estar numeradas e destinam-se
a explicações com­plementares, não devendo ser utilizadas
para referências bibliográficas. Formatadas em corpo 8,
inicial maiúscula, espaçamento simples, justificado.
7)  As referências bibliográficas devem vir em ordem alfabé-
tica no final do artigo, conforme a ABNT.
8)  As expressões estrangeiras devem vir em itálico.

Modelos de Referências Bibliográficas – Padrão ABNT

Livro no todo
PONTES, Benedito Rodrigues. Planejamento, recrutamento e seleção de
pessoal. 4. ed. São Paulo: LTr, 2005.

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Capítulos de Livros
BUCII, Eugênio; KEHL, Maria Rita. Videologias: ensaios sobre televisão.
In: KEHL, Maria Rita. O espetáculo como meio de subjetivação. São Paulo:
Boitempo, 2004. cap. 1, p. 42-62.

Livro em meio eletrônico


ASSIS, Joaquim Maria Machado de. A mão e a luva. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 1994. Dis­ponível em: <http://machado.mec.gov.br/imagens/stories/pdf/
romance/ marm02.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2011.

Periódico no todo
GESTÃO EMPRESARIAL: Revista Científica do Curso de Administração da
Unisul. Tubarão: Unisul, 2002.

Artigos em periódicos
SCHUELTER, Cibele Cristiane. Trabalho voluntário e extensão universitária.
Episteme, Tubarão, v. 9, n. 26/27, p. 217-236, mar./out. 2002.

Artigos de periódico em meio eletrônico


PIZZORNO, Ana Cláudia Philippi et al. Metodologia utilizada pela bibliote­
ca universitária da UNISUL para registro de dados bibliográficos, utilizando o
formato MARC 21. Revista ACB, Florianópolis, v. 12, n. 1, p. 143-158, jan./
jun. 2007. Disponível em: <http://www.acbsc.org.br/revista/ojs/viewarticle.
php?id=209&layout=abstract>. Acesso em: 14 dez. 2007.

Artigos de publicação relativos a eventos


PASCHOALE, C. Alice no país da geologia e o que ela encontrou lá. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 33. 1984. Rio de Janeiro.
Anais... Rio de Janeiro, SBG, 1984. v. 11, p. 5242-5249.

Jornal
ALVES, Márcio Miranda. Venda da indústria cai pelo quarto mês. Diário Cata­
rinense, Florianópolis, 7 dez. 2005. Economia, p. 13-14.

Revista Educação, Batatais, v. 12, n. 2, p. 121-127, jul./dez. 2022


ISSN 2237-6011 127

Site
XAVIER, Anderson. Depressão: será que eu tenho? Disponível em: <http://
www.psicologiaaplicada.com.br/depressao-tristeza-desanimo.htm>. Acesso em:
25 nov. 2007.

Verbete
TURQUESA. In: GRANDE enciclopédia barsa. São Paulo: Barsa Planeta
Internacional, 2005. p. 215.

Evento
CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA MECÂNICA, 14, 1997,
Bauru. Anais... Bauru: UNESP, 1997.

Revista Educação, Batatais, v. 12, n. 2, p. 121-127, jul./dez. 2022

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