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ISSN 2595-0932
“Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita
coisa”
Diante da multiplicação de informações, da rapidez das opiniões, de tantas
certezas e pouca curiosidade, fomos buscar no gosto de especular ideias de Riobaldo,
personagem de Grande Sertão: Veredas, a frase tema do evento: "Eu quase que nada
não sei. Mas desconfio de muita coisa": construção do conhecimento no campo das
Letras. Essa filosofia da dúvida, presente em toda a prosa rosiana, pode ser vista
como uma lição para o sujeito que não respeita mais o poder da desconfiança, da
quietude, de um certo engajamento para ouvir o silêncio do cotidiano que pode dizer
mais que os numerosos textos aos quais temos acesso de forma acelerada e
superficial.
Em Grande Sertão: Veredas, o narrador, Riobaldo, um sertanejo sem
escolarização, conversa com um senhor, um doutor “assisado e instruído”, que
entrevista o narrador acerca do sertão. Mas, ao contrário de outras narrativas,
Riobaldo constrói um diálogo-monológico em que só ele fala: o doutor é emudecido
e ele, o ex-jagunço, na velhice, é quem toma a voz e a vez da narrativa. Sua sabedoria
vem de seu gosto por “especular ideia”.
O constante questionamento da personagem lembra o espírito Socrático,
aquele que sabe que nada sabe e, o mais importante, que quer aprender. Parte-se,
então, da dúvida para alcançar (trata-se de fato de um procedimento) o conhecimento.
Superando a doxa, é preciso compreender os limites da própria ignorância,
removendo as ideias preconcebidas.
Como se sabe, o método socrático é o diálogo: assumindo que nada sabe,
questiona-se o outro e a si mesmo. Riobaldo, o que nada sabe diante do doutor da
cidade (“invejo é a instrução que o senhor tem”), deseja nada menos que “decifrar as
coisas que são importantes”, mostrando ao outro, aos poucos, que é seu interlocutor
quem precisa aprender o gosto de especular ideia (“o senhor pense outra vez, repense
o bem pensado”)1.
1
Rosa, J. G. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1956. Note-se que,
além da comemoração de 60 anos de publicação desse romance rosiano, em 2016 relembramos os 400 anos
da mítica morte que uniria Cervantes e Shakespeare. Essa tríade da dúvida, Riobaldo, Hamlet e Quixote
são homenageados em nossa identidade gráfica, em criação de Vitor Borysow a partir de uma segunda capa
de Grande Sertão: Veredas.
Espantar-se diante da realidade, atitude instauradora do pensamento
filosófico, está na base da prática que sustenta a busca pelo conhecimento acadêmico.
Para a compreensão dos fatos da língua, para a reflexão capaz de produzir
conhecimento e para o respeito à diversidade inerente ao outro para transmitir esses
saberes (objetivos da Universidade), criar o gosto por especular ideias é o impulso
necessário. Assim, esse é ponto de partida para pensarmos os estudos sobre a língua
portuguesa em seus diversos aspectos, o ensino de língua e de literatura, as línguas
estrangeiras, a tradução e as expressões literárias.
2. Memórias de Drummond
4. Biografia ou autobiografia?
Considerações finais
pesquisa.
As reflexões realizadas mostraram que Roberto Drummond
eternizou a personagem ―Hilda Furacão‖ utilizando elementos que
causam fascínio, pois o autor se apropria de espaços, como a cidade
de Belo Horizonte e sua Zona Boêmia que tem representatividade
quanto à magia, ao mistério e a outras questões que fizeram do
livro uma obra, relevante para a literatura contemporânea.
Nesse sentido, ao realizarmos a análise, tentamos observar
as possibilidades que vão desde o título até a última linha do livro,
ou seja, utilizando a história do Brasil, especialmente o espaço
geográfico de BH como pano de fundo, Roberto Drummond
conseguiu discutir questões ligadas aos mais variados assuntos.
Como se não bastasse o amor entre uma prostituta, ex-moça de
família e um religioso; o autor ainda discutiu elementos do
cotidiano e que são atemporais como as disputas de classes, o
homossexualismo, a religião, a política, o romance, a cultura, além
das denúncias acerca da Ditadura Militar. Tudo isso, nos levou a
pensar nesse livro sob outra ótica, a do espaço liminar, pouco
observado por outros autores, até então.
Através dessa afirmação, identificamos a necessidade de
realizarmos a investigação sobre o assunto e percebemos que
outros autores falavam a respeito de liminaridade e apresentavam
definições possíveis para o termo, mas que não havia estudos nessa
perspectiva a respeito do livro escolhido para nossa análise.
Logo, nossos objetivos foram atingidos, mas enxergamos
novas possibilidades a partir da realização deste trabalho o qual
pode ser considerado como fator favorável para outras pesquisas
que possam ser realizadas a partir dele. Consideramos ainda, que
Hilda Furacão mexe com o imaginário popular porque o próprio
Roberto Drummond nunca confirmou se ela existiu na realidade,
mas levando em consideração os conceitos de verossimilhança,
nossos propósitos foram alcançados e o livro continuará em foco
por muitos anos. Nossa intenção não é esgotar o assunto, pelo
contrario, lançar outro olhar sobre o romance Hilda Furacão, o da
perspectiva biográfica e autobiográfica.
Referências
DRUMMOND, Roberto. Hilda Furacão. 12ª. ed. São Paulo: Siciliano, 1991,
298p.
LEITE, Ligia Chiappini Moraes. O Foco narrativo. 10ª ed. São Paulo: Ática.
2005.96p.
______. Dicionário de termos literários. p. 26, 12ª ed. Rev. ampl. atual. São
Paulo: Cultrix, 2013.
Alessandra H. B. FUKUMOTO
USP
O professor forma(ta)dor
A importância da LE e do professor de LE
prática social.
O professor, no Letramento Crítico, segundo Jordão (2016),
constrói junto com o aluno e encara os conflitos como espaços
produtivos, oportunidades de construção de novos sentidos. A
autora diz que nós não ―somos‖, nós ―estamos posicionados‖.
Figura 01
Na Figura 01, podemos ver um mapa da Itália, cercado de
fotos que as autoras selecionaram para uma etapa da unidade
didática (UD) que é intitulada ―Culturas em Confronto‖. A atividade
foi retirada da unidade inicial do primeiro livro de uma coleção de
três volumes de ensino de italiano como língua estrangeira chamada
Chiaro!,de Sarvognani e Bergero (2010), correspondente ao nível A1
– segundo o Quadro Comum Europeu (Concil of Europe, 2001).
Portanto, trata-se do material utilizado com alunos que estão
começando a estudar a língua estrangeira. O intuito dessa parte da
UD é o de fazer os alunos conversarem sobre o que conhecem da
cultura da LE e, ao mesmo tempo, compararem o que estão vendo
com os elementos de sua própria cultura, estabelecendo
semelhanças e diferenças. A primeira tarefa é a de associar as
imagens às regiões às quais possam se referir.
Na Figura 02, desenhamos as setas, como pedido aos
Figura 02
Podemos notar que, das onze imagens disponíveis na página,
seis delas se ligariam ao Norte. Se não estivermos conscientes dos
estereótipos e preconceitos que envolvem o norte e o sul da Itália e
do fato de que os materiais didáticos de língua italiana costumam
fazer seleção de conteúdos que mantêm essa diferenciação (que
costuma colocar o norte do país como mais atraente e mais
desenvolvido e as regiões do sul da Itália como ―exóticas‖), iremos
apenas levar adiante a estereotipização que acontece e não
abriremos espaço para o questionamento de quais relações de poder
levam a estabelecer essas representações. Podemos, portanto,
utilizar essa parte do material para começar a discutir esses
estereótipos e questionar a forma como são criados e difundidos.
Podemos, para tanto, utilizar a própria estereotipização que ocorre
as suas consequências.
[…]
E grande parte do povo, emergente mas desorganizado,
ingênuo e despreparado, com fortes índices de
analfabetismo e semianalfabetismo, passava a joguete
dos irracionalismos.
E a classe média, sempre em busca de ascensão e
privilégios, temendo naturalmente a sua proletarização,
ingênua e emocionalizada, via na emersão popular, no
mínimo, uma ameaça ao que lhe parecia sua paz. Daí
sua posição reacionária diante da emersão popular.
E quanto mais sentíamos que o processo brasileiro, no
jogo cada vez mais aprofundado de suas contradições,
marchava para posições irracionais e anunciava a
instalação de seu novo recuo, mais parecia a nós
imperiosa uma ampla ação educativa criticizadora.
(FREIRE, 2011:114-116)
Referências
DELORS, Jacques (et al.). Educação ao longo de toda a vida. In: Educação :
um tesouro a descobrir : Relatório para a Unesco da Comissão Internacional
sobre Educação para o Século XXI. Tradução: José Carlos Eufrázio. São
Paulo: Cortez; Unesco; MEC, 1998. p. 103-117.
Disponível em
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000009.pdf>.
Acesso em 06/04/2009.
trabalho que tenta montar uma cena de leitura para outro dos
tantos textos diversas vezes catalogados como ―inclasificáveis‖ do
autor. Trata se de Nick Carter se divierte, mientras el lector es
asesinado y yo agonizo (2009), nouvelle escrita em Montevidéu em
1973, e publicada originalmente em Buenos Aires em 1975 a cargo
de uma fugaz editora criada por amigos do escritor. Segundo
Corbellini (1992, p. 81) o relato teve ―escasa difusión y en general,
pasó inadvertido‖. No entanto, esse texto vai fazer parte da
consagração acadêmica do autor, e sua posterior canonização, com
sua reedição em 1992 pela editora Arca, acompanhada da
bibliografia completa do autor, levada a cabo por Pablo Rocca sob a
supervisão do próprio Levrero, além dum posfácio crítico a cargo de
Helena Corbellini.
Geralmente abordado como ―marginal‖ dentro da produção
do autor e lido como ―plágio‖ ou paródia do gênero policial ou da
série negra norte americana, o texto sofreu certo desdém em
comum por parte da crítica e do próprio escritor, por se tratar,
segundo suas palavras, de ―algo distinto‖ desencaixado ou não
assimilável ao resto da sua obra naquele momento (DE ROSSO,
2013, p. 142). Mesmo assim, acreditamos que esse texto encerra, ou
abre, uma possibilidade de leitura diversa, assim como poderia
marcar a posição da escritura de Levrero perante o contexto
literário, e político, daquele momento.
Brevemente, poderíamos caracterizar a nouvelle de Levrero
como um emaranhado intertextual de referencias diretas e obliquas
à narrativa policial, à cultura pop e televisiva, ou aos desenhos
animados, numa febril torrente de imagens repletas de truculência e
sarcasmo, narradas num tom austero e descritivo, correspondendo,
numa leitura ―fácil‖, com o melhor do comic, do folhetim ou da
novela de aventuras.
De fato, seja pelo nome escolhido para o personagem
principal1, pelas múltiplas referencias ao gênero policial, ou pela
constante digressão e alusão aos estereótipos da cultura de massas,
o relato permite ser lido em chave paródica. Dentro dessa
1
―Nick Carter‖ foi um personagem criado por John Russell Coryell em 1886,
com inúmeras mudanças e adaptações ao longo do século XX. Mais
informação disponível em:
http://www.britannica.com/EBchecked/topic/1870858/Nick-Carter. Acesso:
Out. 2016
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 31
Alexander V. Belivuk MORAES
nos servir como mote para abordar uma leitura do relato. Para
começar, a entrada tarzânica do corpo da personagem que quebra
com os pés o vidro da ―puerta-ventana‖, para depois, como um
fantasma, ―aterrizar blandamente‖ e ―dejarse caer‖ no sofá dum
amplo salão aristocrático ―a las cinco en punto‖. Assim, essa cena
pode marcar a irrupção de Carter num ambiente pautado pela
tradição e o cerimonial, do qual também ele sabe tomar parte (ao
saborear o chá e pedir desculpas, civilizadamente, pelo seu
―exhibicionismo‖) junto do seu anfitrião e cliente Lord Ponsonby,
como o qual manterá relações comerciais (assim como o outro Lord
John Ponsonby, que no Século XIX manteve relações comerciais e
diplomáticas no Rio da Prata a favor da Inglaterra, e que terminaram
com a criação do Uruguay como ―Estado Tapón‖ entre os gigantes
de América) aceitando a investigação de ―ciertas amenazas‖ que
receberam alguns convidados importantes para o jantar no
―Castillo‖ da sua filha, e no qual se suspeita que ―algo está por
desencadenarse‖. A partir dessa esquiva apresentação duma
―intriga‖, o relato se dissemina em forma digressiva com as
peripécias de Carter tentando resolver outro ―asunto pendiente‖
com Watson, quem é ―la encarnación de la perversidad‖, e, que uniu
se aos ―monstruos marinos‖ para destruí-lo.
Apontando ao interesse dessa leitura em se aproximar de
algum dos operadores textuais de Santiago, essa primeira cena
apresenta a Tinker, o estranho ajudante de Carter, misto de
Odradek kafkiano com criança malformada, a quem o detetive
delega todo o trabalho ―sujo‖ e rotineiro, e que acabara sendo (por
outra dobra ―trágica‖ de peripécia e reconhecimento), seu próprio
filho, mas também o próprio Watson, ao se transformar, através de
bruscas mudanças de personalidade stevensonianas, numa figura
diabólica e ameaçante.
Essa personagem, em aparência menor, dispara outro dos
tópicos detectados pela crítica e espalhados ao longo do relato: o
duplo de caráter borgiano, representado pelo jogo de ―esconde-
esconde‖ entre Tinker/Watson e Carter, assim como pela alusão aos
espelhos, travestismos e disfarces que devolvem a figura de um
constante devir outro que atravessa o relato.
Mas, neste sentido, acompanhando mais de perto as
reflexões de Santiago no seu ensaio A ameaça do lobisomem (1998),
Santiago parece se afastar um tanto do desdobramento borgiano (o
qual, ainda, reativaria os binarismos excludentes entre norma e
desvio, entre Deus e Diabo, etc.) e nos permite arriscar a dizer que a
Referências
Introdução
2. Léxico
3. A escolha lexical
4. Análise
Iluminação:
4.1 Imagem 1
4.2 Imagem 2
4.3 Imagem 3
5. Considerações finais
Referências
[...]
Ismael era poeta contumaz, e ninguém conheci mais
poeta do que ele1.
1
MENDES, Murilo. Recordações de Ismael Nery. 2º ed., São Paulo: EDUSP;
Editora Giordano, 1996, p. 28-29.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 59
Aline Novais de ALMEIDA
2
IEB-USP, Fundo Mário de Andrade, Série Correspondência Mário de
Andrade, MA-C-CPL4666.
3
MENDES, Murilo. Recordações de Ismael Nery. 2º ed., São Paulo: EDUSP;
Editora Giordano, 1996, p. 121.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 60
Murilo Mendes: um poeta-crítico, um crítico-poeta
4
Ibidem, p. 34-35.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 61
Aline Novais de ALMEIDA
5
Ibidem, p. 29.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 62
Murilo Mendes: um poeta-crítico, um crítico-poeta
6
MATTAR, Denise. Ismael Nery – um mito. In: Catálogo da Exposição Ismael
Nery, em busca da essência. Curadoria Denise Mattar. São Paulo: Galeria de
Arte Almeida e Dale, 2015, p. 6.
7
Ibidem, p. 6.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 63
Aline Novais de ALMEIDA
8
Refere-se à obra Poesias (1925-1955), publicada pela editora carioca José
Olympio em 1959.
9
RENAULT, Abgar apud FRIAS, Joana Matos. O erro de Hamlet: poesia e
dialética. Rio de Janeiro: 7 Letras; Juiz de Fora: Centro de Estudos Murilo
Mendes– UFJF, 2002, p. 24.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 64
Murilo Mendes: um poeta-crítico, um crítico-poeta
Referências
12
De acordo com o Dicionário Houaiss Eletrônico (2009-2013), leptologia
está relacionada à retórica, trata-se de um ―discurso refinado, sutil; discurso
minucioso, apurado‖.
13
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [online], 2008-2013. Disponível
em: https://www.priberam.pt/dlpo/lepto-. Acesso em 20 nov. 2017.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 68
O XENOFILISMO NO CONTO UM HOMEM CÉLEBRE
Referências
ASSIS, Joaquim Maria Machado de. A nova geração. In: Crítica Literária. São
Paulo: Brasileira, 1959, p. 180-257.
______. Preto & branco. São Paulo: Instituto Nacional do Livro, 1956.
1
MESCHONNIC, Henri. Ética y política del traducir. Buenos Aires: Leviatán,
2009, p. 54 apud KAMENSZAIN, 2016, p. 122.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 83
Ariele Louise Barichello CUNHA
un águila mora
fue el primer ser que vi
planeaba en círculos
por encima mío
me asustaba un poco
su cercania
su vuelo rasante y su canto
y me di cuenta
que no se puede decir con letras
el canto de un pájaro
si quisiera escribirlo acá
no podría
tomé el ritmo de ese canto
para caminar
(IANNAMICO apud KAMENSZAIN, 2016, p. 15)
Para Agamben,
O cavalo que transporta o poeta é, segundo uma antiga
tradição exegética do Apocalipse de S. João, o elemento
sonoro e vocal da linguagem. Comentando o Apocalipse
19.11, onde se descreve o logos como um cavalo branco,
Orígenes explica que o cavalo é a voz, a palavra como
enunciado sonoro, que ‗corre com mais energia e
velocidade que qualquer ginete‘ e que só o logos torna
inteligível e clara. [...] O elemento que faz parar o lance
métrico da voz, a cesura do verso, é, para o poeta, o
pensamento. [...] Mas que se pensa afinal nesta cesura,
que faz estacar o cavalo do verso? Que coisa dá a ver
esta interrupção do transporte rítmico do poema? A isto
responde Hölderlin de maneira mais directa: ‗O
transporte trágico é, de fato, verdadeiramente vazio, e o
mais livre. Por isso, na sucessão rítmica das
representações, nas quais se evidencia o transporte,
torna-se necessário aquilo a que, no metro, se chama
cesura, a palavra pura, a interrupção antirrítmica, para
contrastar, no seu clímax, com a mudança incantatória
das representações, de modo a trazer à evidência, não já
a alternância da representação, mas a própria
representação.‘ O transporte rítmico, motor do lance do
verso, é vazio, é apenas transporte de si. E é esse vazio
que, enquanto palavra pura, a cesura – por um instante –
pensa, suspende, enquanto o cavalo da poesia para um
pouco. Como escreve em estilo latino Llull numa de suas
2
O curso está em desenvolvimento neste segundo semestre de 2016 no
Programa de Pós-Graduação em Literatura da Universidade Federal de Santa
Catarina.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 86
O caso Molloy-Kamenszain-Menard
3
Cf. CUNHA, Ariele L. B. Quem é Pierre Menard? 2016. 38 f. (Monografia de
Conclusão do Curso de Letras, Língua Portuguesa e Literaturas) –
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Disponível em:
<https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/160020>. Acesso em: 12
nov. 2016.
4
Cf. LUDMER, Josefina. ¿Cómo salir de Borges? In: ROWE, W.; CANAPARO, C.;
LOUIS, A. (Ed.). Jorge Luis Borges.Intervenciones sobre pensamiento y
literatura. Buenos Aires: Paidós, 2000. p. 289-300. Disponível em:
<http://www.josefinaludmer.com/Josefina_Ludmer/articulos.html>. Acesso
em: 6 jan. 2016.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 90
O caso Molloy-Kamenszain-Menard
5
VIRNO, Paolo. Gramática da multidão, para uma análise das formas de vida
contemporâneas. Tradução de Leonardo Retamoso Palma. 2003. P. 45.
Disponível em: <http://www.c-e-m.org/wp-content/uploads/gramatica-da-
multidao.pdf>. Acesso em: 8 ago. 2016.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 91
Ariele Louise Barichello CUNHA
6
Tamara Kamenszain em entrevista para La Nación, em 24 de julho de 2016.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 92
O caso Molloy-Kamenszain-Menard
Referências
BORGES, Jorge Luis. Pierre Menard, autor del Quijote. In: ______. Obras
completas, v. 1, 1923 – 1972. Edición dirigida y realizada por Carlos V. Frías.
Buenos Aires: Emecé Editores, 1984.
______. Pierre Menard, autor del Quijote. In: ______. Obras completas I, 1923
– 1949. 3 ed. Buenos Aires: Emecé Editores, 2008.
______. Una intimidad inofensiva. Los que escriben con lo que hay. Buenos
Aires: Eterna Cadencia, 2016.
LUDMER, Josefina. ¿Cómo salir de Borges? In: ROWE, W.; CANAPARO, C.;
LOUIS, A. (Ed.). Jorge Luis Borges.Intervenciones sobre pensamiento y
literatura. Buenos Aires: Paidós, 2000. p. 289-300. Disponível em:
<http://www.josefinaludmer.com/Josefina_Ludmer/articulos.html>. Acesso
em: 6 jan. 2016.
MOLLOY, Sylvia. Desarticulaciones. Buenos Aires: Eterna Cadencia, 2010.
VIRNO, Paolo. Gramática da multidão, para uma análise das formas de vida
contemporâneas. Tradução de Leonardo Retamoso Palma. 2003. P. 45.
Disponível em: <http://www.c-e-m.org/wp-content/uploads/gramatica-da-
multidao.pdf>. Acesso em: 8 ago. 2016.
2. O adestramento em Foucault
Considerações finais
Referências
BOES, Tobias. Teaching & learning guide for: modernist studies and the
Bildungsroman: a historical survey of critical trends. Literature compass, v.
6, n. 1, p. 230-243, 2009.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar, escrever, esquecer. São Paulo: Ed. 34, p.
107-118, 2006.
A poesia crítica
1
Escritos no Rio reúne uma coleção de ensaios e resenhas publicados por
Ana C. em jornais e revistas durante a década de 70 e inícios de 80, e
integra também a edição publicada pela Editora Ática, em 1999, intitulada
Crítica e Tradução, referência utilizada aqui.
2
Texto original: ―La loi du genre‖, en Glyph, 7, Baltimore, Johns Hopkins
University Press, 1980. Traducción para la cátedra de Teoria y Análisis
Literario ―C‖ de Ariel Schettini. Disponível em:
http://docslide.com.br/documents/102170682-derrida-jacques-la-ley-del-
generopdf.html. Acesso em 20/12/2016.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 107
Berenice Ferreira da SILVA
Fica difícil fazer literatura tendo Gil como leitor. Ele lê
para desvendar mistérios e faz perguntas capciosas,
pensando que cada verso oculta sintomas, segredos
biográficos. (...) Já Mary me lê toda como literatura pura,
e não entende as referências diretas (CESAR, 2013, p.
50).
3
SANTIAGO, Silviano. ―Singular e anônimo‖. Nas malhas da letra: ensaios.
Rio de Janeiro: Rocco, 2002. Publicado originalmente na Folha de S. Paulo
em 1984.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 108
A Poesia Crítica e o Ensaio Literário: Contaminações em Ana C.
4
―Meditação sobre o ofício de criar‖ é título de um dos ensaios de Silviano
Santiago, publicado no livro Nas malhas da letra (2002). Lê-se na nota à
segunda edição deste: ―criação e crítica são intercambiáveis‖.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 109
Berenice Ferreira da SILVA
O ensaio literário
5
―Sylvia‖ pode ser uma referência a Sylvia Plath, de quem Ana C. era leitora;
―Riverrun‖ é uma palavra-valise de James Joyce e inicia seu último romance,
Finnegans Wake, conforme Ana C. explica na nota de rodapé do ensaio. Vale
lembrar que este recurso de linguagem, a palavra-valise, é também
recorrente no texto de Guimarães Rosa que, por sua vez, inspirou Glauber
Rocha a escrever seu único romance publicado, intitulado Riverão
Sussuarana, o qual faz ecoar uma vez mais o texto de Joyce. Sobre este, no
artigo ―Guimarães Rocha (ou Glauber Rosa)‖, publicado em 2008 (Revista
Outra Travessia n. 7), o professor Jair Tadeu da Fonseca faz uma excelente
análise das referências de leitura presentes no texto de Glauber.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 110
A Poesia Crítica e o Ensaio Literário: Contaminações em Ana C.
6
Italo Moriconi também comenta essa questão: ―Como posicionar-se
enquanto intelectual mulher numa cultura da produção e transmissão do
saber cujos rituais, afetos e costumes se organizam atavicamente pelos
parâmetros da colaboração e rivalidade entre machos? Virando homem
também? (...) Renunciando a ser voz ativa, abrindo mão de sua capacidade
de liderança para preservar o próprio destino de mulher?‖ (MORICONI,
1996, p. 70).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 111
Berenice Ferreira da SILVA
Contaminações
Vale lembrar que este ensaio data de 1989, como explica a autora na Nota
7
8
A produção acadêmica, crítica e de tradução de Ana C. encontra-se
delimitada na edição póstuma intitulada Crítica e Tradução (ver nota 1).
Além disso, para fins de economia de palavras, tratamos de identificar aqui
os textos como ―ensaio‖ e/ou ―poema‖, mas vale lembrar que, na análise
que faz em ―La loi du genre‖, Jacques Derrida não trata o texto de Maurice
Blanchot pelo gênero (relato), mas opta por referir-se a ele pelo seu ―nome
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 116
A Poesia Crítica e o Ensaio Literário: Contaminações em Ana C.
A lição de pintura
(NETO, 1982, p. 8)
próprio‖, neste caso, o título do texto mesmo: ―La folie du jour‖ (DERRIDA,
1980, p. 11). Como escapar das classificações?
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 117
Berenice Ferreira da SILVA
Referências
CAMARGO, Maria Lúcia de Barros. Atrás dos olhos pardos. Uma leitura da
poesia de Ana Cristina César. Chapecó: Argos, 2003.
CÉSAR, Ana Cristina. Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
MELO NETO, João Cabral de. Poesia Crítica. Antologia. Rio de Janeiro: J.
Olympio, 1982.
PIGLIA, Ricardo. ―El escritor como lector‖. In Entre ficción y reflexión. Juan
José Saer y Ricardo Piglia. Edición de Rose Corral. México, D. F.: El Colegio
de México, Centro de Estudios Lingüísticos y Literarios, 2007.
SISCAR, Marcos. Ana Cristina Cesar. Por Marcos Siscar. Rio de Janeiro:
EdUERJ, 2011.
VIEGAS, Ana Cláudia Coutinho. Bliss & blue. Segredos de Ana C. São Paulo:
Annablume, 1998.
1
In Mudança Estrutural da Esfera Pública, 2011.
2
HABERMAS, Jürgen, Mudança estrutural na esfera pública, São Paulo, Ed
Unesp, 2011, p. 135.
3
Ibidem, p. 17
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 121
Bianca Magela MELO
4
Ibidem, p. 159.
5
A escolha do nome do autor se deu, primeiro por ser o autor de interesse
para a tese a ser redigida; e também porque focar um só autor serviu como
um filtro diante da infinidade de informações disponíveis na internet.
6
https://ronaldobressane.com.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 122
A comunidade de escritores e os escritores-críticos
7
Publicada no jornal O Diário do Norte do Paraná e no blog do jornalista
Alexandre Gaioto em 24/05/2010. Disponível em
http://alexandregaioto.blogspot.com.br/2010/05/cafe-com-mutarelli.html.
8
Todos as citações podem ser encontradas no citado site do escritor em
texto com nome ―Pecado de Pécora, de 04/08/2008.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 123
Bianca Magela MELO
9
A diferenciação dessas camadas da esfera pública não será contemplada
aqui. Perlatto faz as considerações em conformidade com FRASER (2014)
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 124
A comunidade de escritores e os escritores-críticos
10
PERLATTO, Fernando. Habermas, a esfera pública e o Brasil. Revista
Estudos Políticos. Vol. 01, n. 04, p. 86.
11
In Revista Pitacos, 2012.
12
In Revista Pitacos, 2012, p. 1.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 125
Bianca Magela MELO
13
PERLATTO, 2012a, notas, p. 94
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 127
Bianca Magela MELO
14
Realizado em abril de 2011 pelo Instituto Moreira Sales e revista Serrote,
disponível em vimeo.com/21932405. Até a data pesquisada, 07/07/2016, o
primeiro bloco da entrevista (são 4) havia sido assistido por 5.558 pessoas
nos sites YouTube, vimeo e UOL.
15
Transcrição de trecho do bate-papo realizado pelo Instituto Moreira Sales
16
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raizes do Brasil. São Paulo, Ed Companhia
das Letras, 1995.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 128
A comunidade de escritores e os escritores-críticos
17
Ibidem p. 147
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 129
Bianca Magela MELO
Referências
Introdução
sobre esse tema. Desse modo, o artigo está dividido em três seções.
A primeira apresenta uma caracterização do ciberespaço, a segunda,
a discussão sobre preconceito e (in)tolorância linguísticas, segue-se
a essa seção a terceira, que apresenta a descrição e análise do
corpus selecionado, e por fim, apresentam-se considerações finais,
seguidas das referências bibliográficas.
Pernambuco.
Leite (2008) reforçando essa afirmação explica que
do-jornal-hoje-fala-sobre-lingua-coloquial-falada-nas-ruas.html>
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 136
(In) tolerância e preconceito linguístico no ciberespaço
2
Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/03/27/caipira-
conserva-formas-antigas-da-lingua-portuguesa-afirma-pesquisadora.htm>
3
Disponível em:
<http://f5.folha.uol.com.br/celebridades/2015/06/1646555-em-bronca-
caetano-veloso-da-aula-sobre-como-usar-a-crase-e-faz-sucesso-na-web-
assista.shtml?cmpid=facefolha>
4
Para análise são selecionados os comentários postados no período de 16 de
março de 2015 a 23 de junho de 2015.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 137
Brenda Chauane Edlene PEREIRA&Valter Pereira ROMANO
Considerações finais
Referências
POSSENTI, Sírio. Como água e óleo. Língua Portuguesa, v. 32, p. 46-48, 2008.
Introdução
3. As normas de transcrição
1. GRAFIA
Quanto à grafia seguir-se-ão os seguintes critérios:
1.1 Serão separadas as palavras grafadas unidas
indevidamente e serão unidas as sílabas ou letras
grafadas separadamente, mas de forma indevida.
Excetuam-se as uniões dos pronomes proclíticos [...]
mesoclíticos e enclíticos às formas verbais de que
dependem. (NORMAS TÉCNICAS PARA TRANSCRIÇÃO E
EDIÇÃO DE DOCUMENTOS MANUSCRITOS, 1993, in
BERWANGER; LEAL, 2008, p. 97-104, grifos nossos).
2
Esse exemplo foi retirado do Caderno de Paleografia, número 1, organizado
pela Oficina de Paleografia da UFMG, que desenvolve um trabalho sério e
comprometido em busca de subsídios para a leitura de fontes manuscritas
pertinentes à História luso-brasileira. Assim como outros historiadores no
Brasil, os colaboradores desse Caderno de Paleografia lançam mão das
Normas Técnicas de Transcrição e Edição de Documentos Manuscritos,
conforme a reformulação feita em 1993 durante o II Encontro Nacional de
Normatização Paleográfica e de Ensino de Paleografia, realizado em São
Paulo.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 154
Edições semidiplomáticas e fac-símiles de manuscritos setecentistas
5. Ações de Alma
Ação de alma
Autor: Joseph Rodrigues Lima; Réu: Capitão Manoel Lopes Castello
Branco
Manuscrito
[fól. 1r]
Considerações finais
3
Há neste local o número 10 entre um círculo. O punho é outro e
aparentemente de época posterior pela semelhança da tinta com a tinta das
canetas atuais.
4
Idem nota 1.
5
Corroído
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 160
Edições semidiplomáticas e fac-símiles de manuscritos setecentistas
Referências
pudor em revelá-la.
No mesmo texto diz que, para os autores inspirados, essa
experiência única da inspiração tem que ser diretamente transposta
para o poema. Como resultado, seu trabalho artístico, em termos de
estrutura, seria muito superficial. Uma vez que o poeta se limita
apenas a efetuar pequenos retoques no que já lhe veio pronto, o
poema que surge é pouco orgânico, de pouca existência objetiva
enquanto obra de arte. O autor não se preocupa em comunicar uma
experiência que possa ser compartilhada pelos leitores, ele e seus
sentimentos são o centro do próprio texto.
João Cabral de Melo Neto explica o porquê da crescente
tendência a esse tipo de escrita, relacionando-a com a tomada de
liberdade de composição conquistada após o romantismo, já
previamente comentada. Assim, afirma:
Referências
ALFERI, Pierre. Rumo à Prosa. LEMOS, Masé; GLENADEL, Paula (trad.). ALEA,
Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 423-427, 2013. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/alea/v15n2/11.pdf> Acesso em: 30/08/2016.
ATHAYDE, Félix de. Ideias Fixas de João Cabral de Melo Neto. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1998.
BOSI, Alfredo. O Ser e o Tempo da Poesia. 6ª ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 2000. 275p.
CASTELLO, José. João Cabral de Melo Neto: o homem sem alma. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
MELO NETO, João Cabral de. Obra Completa. OLIVEIRA, Marly (Org.). Rio de
Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
1
Corpo de baile é um livro composto por sete novelas, publicado em 1956
em duas partes. Na segunda edição de 1960, vem ao público em volume
único e, a partir da 3ª edição, por motivos editoriais, passou a ser publicado
em três volumes com títulos diferentes, assim distribuídos1: Manuelzão e
Miguilim (1964), composto por ―Campo geral‖ e ―Uma estória de amor‖; No
Urubùquaquá, no Pinhém (1965), com ―O recado do morro‖, ―Cara-de-
Bronze‖ e ―A estória de Lélio e Lina‖ e Noites do sertão (1965), que traz as
novelas ―Dão-Lalalão‖ e ―Buriti‖.
2
Guimarães Rosa, em carta para seu tradutor italiano, Edoardo Bizzarri, traz
um resumo para a novela: ―'O Cara-de-Bronze'‖ era do Maranhão (os
campos-gerais, paisagem e formação geográfica típica, vão de Minas Gerais
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 176
O “quem” da memória: viagem ao labirinto do sertão rosiano
3
Grivo aparece na novela ―Campo geral‖ como o menino amigo de Miguilim
que já manifestava o dom de contar histórias ."O Grivo contava uma
história comprida, diferente de todas, a gente ficava logo gostando daquele
menino das palavras sozinhas‖ (ROSA, 2006, p. 82).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 180
O “quem” da memória: viagem ao labirinto do sertão rosiano
entre si.
A rememoração sobre o passado do Velho domina o discurso
mítico-poético dos vaqueiros. Os diálogos transcorrem por meio de
fragmentos, como uma rede que vai sendo tecida coletivamente. O
discurso, a palavra, a decodificação trazem à tona as imagens e
impressões que habitam o rico acervo do imaginário sertanejo.
O velho fazendeiro, depois do acúmulo de anos de trabalho e
bens materiais, busca para si bens simbólicos, e é nesse tempo do
ócio que negocia as trocas necessárias para experimentar coisas
novas. Está em busca da poesia, o que não pôde fazer enquanto
jovem e ocupado, no entanto não há como o fazer sozinho e precisa
de um intermediário, o Grivo. É sob o signo da busca, da procura
que se desenrola toda a narrativa. A memória se refaz pela
linguagem compartilhada, pela escuta do relato, por meio da
enunciação, e permite ao protagonista Cara-de-Bronze a
reconstrução e a consolidação de sua vida.
Referências
ROSA, João Guimarães. Corpo de Baile. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.
2 v.
Eduarda da SILVA
UFSC
1
Essa atitude de leitura parece estar de acordo com a postura de escritor-
crítico depreendida em Leminski, conforme apontado mais adiante.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 188
Pensamentos que cantam
2
O ―Information Retrieval‖.
3
Denominação utilizada por Leminski com clara referência a Ezra Pound.
4
E/ou um sistema de valor vigente.
5
O conceito de apresentação crítica da história a que me refiro é o que
aparece no livro Passagens, de Walter Benjamin, um arquivo composto por
4234 fragmentos. Oexcerto aqui reproduzido faz parte da seção ―N [Teoria
do Conhecimento, Teoria do Progresso]‖ – particularmente importante para
se pensar a conceituação de ―imagem dialética‖. As ―imagens‖ mencionadas
seriam os objetos históricos, construídos por meio dessa apresentação
crítica.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 192
Pensamentos que cantam
a maior parte
só gosta do que já conhece
6
A nota ao texto benjaminiano define a expressão ―apocatástase‖ como ―a
admissão de todas as almas no Paraíso‖.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 193
Eduarda da SILVA
―feed-back‖
é o contra-efeito
do efeito sobre a causa
a reação
aretro-ação (LEMINSKI, p. 362)
7
Cf. A definição de ―limite‖ encontrada no dicionário Aulete ―Mat. Valor fixo
do qual uma grandeza variável se pode aproximar sucessivamente, sem
jamais o igualar‖.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 194
Pensamentos que cantam
Referências
LEMINSKI, Paulo. [Carta 51]. In: BONVICINO, Regis (Org.). Envie meu
dicionário: cartas e alguma crítica. São Paulo: Editora 34, 1999. p. 148-149.
1
Neste trabalho, não entraremos na discussão das diferenças entre
―palavras‖, ―termos‖, ―itens lexicais‖ etc. Optaremos, no entanto, com mais
frequência, pelo uso de ―lexia‖ – forma mais simples, genérica e sem muitas
complicações semânticas – para nos referirmos à unidade linguística que
compõe o léxico de uma língua.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP
A variação lexical no discurso metalinguístico
2
Embora seja marcado pelo lugar da certeza, fonte na qual as dúvidas
podem ser sanadas, o dicionário deve ser reconhecido também como um
instrumento em funcionamento, sujeito a transformações, deslocamentos, e
até falhas na produção dos sentidos. Os sentidos podem mudar com o
passar do tempo, provocando diferentes reações.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 197
Estefânia Cristina da Costa MENDES
dos falantes possibilita que eles criem e recriem de acordo com suas
necessidades sociointeracionais.
Sendo assim, espera-se que nos dicionários encontremos
marcas de variação linguística, uma vez que as obras lexicográficas
convertem-se num importante testemunho da constituição histórica
do léxico, bem como da identidade linguístico-cultural das
comunidades, conforme Krieger et al. (2006).
Embora a variação linguística só tenha ganhado maior
destaque por meio dos estudos desenvolvidos por Labov, no início
da década de 60 do século passado, não se pode negar que o
fenômeno tenha passado despercebido até então.
Gonçalves (2007), por exemplo, mostra, no âmbito da
(meta)lexicologia e da (meta)lexicografia, que a variação lexical
configura-se como tema recorrente no discurso metalinguístico do
século XVIII. Segundo a autora,
3
Segundo Biderman (2003), o dicionário bilíngue produzido por Bluteau
privilegia o português e deixa o latim em segundo plano, sendo uma obra
com características enciclopédicas, composta por 10 volumes – sendo dois
suplementos compostos por verbetes novos e também por informações
adicionais a verbetes existentes – com informações sobre as coisas e o
mundo, incluindo as abonações.
4
Considerado pelos lexicógrafos uma obra fundadora da lexicografia de
língua portuguesa, serviu de base para a confecção de outros dicionários
em Portugal e no Brasil. Nessa obra, inicia-se a inserção de palavras
tipicamente brasileiras, embora essa prática fosse ainda distante da
realidade da época. Firmou-se como importante referência no século XIX e
até no XX. Moraes Silva tomou por base o ―Vocabulario Portuguez e
Latino‖,de Raphael Bluteau,e resumiu os oito volumes daquele a apenas
dois, mantendo a orientação de seu antecessor de exaltar os grandes
autores de língua portuguesa. A obra teve oito reedições ainda no século
XIX. Moraes só insere seu nome como autor do dicionário na edição de
1813, já que a primeira, de 1789, seria apenas um resumo do ―Vocabulario
Portuguez e Latino‖ de Bluteau.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 199
Estefânia Cristina da Costa MENDES
5
Botelho (2011) e Costa (2014), por exemplo, analisaram a terminologia
náutica e a terminologia de ourivesaria, respectivamente, no DLB.
6
Segundo Heinrich (2007), a elaboração de um dicionário resultava de um
labor árduo e demorado, exigindo muito conhecimento da língua: cada
autor descrevia e registrava o léxico de acordo com sua ciência e
informação. A fase teórica da Lexicografia, continua a autora, foi
impulsionada no século XX, devido ao advento da Linguística. Em torno dos
anos 60, surge a Lexicografia Teórica, categorizada como um ramo da
Linguística Aplicada, fato que fez com que o fazer lexicográfico ganhasse
em qualidade ao se orientar por um paradigma teórico-metodológico
pertinente para o propósito desse fazer.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 201
Estefânia Cristina da Costa MENDES
7
A coleta desses itens lexicais foi feita aleatoriamente, objetivando apenas
ilustrar cada caso aqui analisado.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 203
Estefânia Cristina da Costa MENDES
8
Neste trabalho, apesar de termos uma fonte impressa, tomamos como base
as Normas para Transcrição de Documentos Manuscritos para a História do
Português do Brasil, propostas por Cambraia, Cunha e Megale durante o ―II
Seminário para a História do Português Brasileiro‖, realizado em Campos do
Jordão-SP, no período de 10 a 16 de maio de 1998. A utilização desse
expediente garantiu maior fidedignidade e cientificidade ao transcrevermos
os verbetes. Optamos pela edição diplomática, pois ela permite a
conservação do estado de língua da época, dado importante para o nosso
estudo. Neste tipo de edição, as abreviaturas não precisam ser
desenvolvidas. Cambraia (2005), ao comentar sobre os tipos de edição de
manuscritos, informa-nos que a edição fac-similar, apresenta grau zero de
mediação, uma vez que reproduz um testemunho por meio de meios
mecânicos; a edição diplomática apresenta, por parte do editor, um grau
baixo de mediação; já a edição paleográfica, também conhecida por
semidiplomática, possui grau médio de mediação, na qual objetiva-se maior
apreensão por parte do leitor; e, finalmente, a edição interpretativa, ou
atualizada, é o grau máximo de mediação admissível.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 204
A variação lexical no discurso metalinguístico
LEXIAS ACEPÇÃO
Empandinado adj. (T. vulgar) Que tem a pança cheia. (p. 403)
Pança
s. f. (T. baixo) Barriga. (p. 782)
Considerações finais
Referências
Introdução
1
Trecho de entrevista de Graciliano Ramos a Denis de Moraes. Título da
obra que onde ela vai aparecer: O velho Graça: uma biografia de Graciliano
Ramos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1992.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 213
Gabriela Pacheco AMARAL
2
Essa ideia fractal da identidade foi por nós desenvolvida a partir da
inspiração que o poema de Gregório de Matos nos suscitou quando lemos
estes versos: ―O todo sem a parte não é todo. //A parte sem o todo não é
parte, //Mas se a parte o faz todo, sendo parte,//Não se diga, que é parte,
sendo todo. //Em todo o Sacramento está Deus todo.//E todo assiste inteiro
em qualquer parte,//E feito em parte todo em toda a parte,//Em qualquer
parte sempre fica o todo.‖
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 218
As memórias de Graciliano Ramos
3
Graciliano Ramos trabalhou em diversos jornais como: Jornal de Alagoas,
no Correio da Manhã, A Tarde e o Século, Paraíba do Sol, etc.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 219
Gabriela Pacheco AMARAL
Considerações Finais
Referências
MORAES, Dênis de. O velho Graça: uma biografia de Graciliano Ramos. Rio
de Janeiro: José Olympio, 1992.
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 114ª ed. Rio de Janeiro: Record, [1938]
2010.
_______. Angústia. 64ª ed. Rio, São Paulo: Record, [1936] 2009.
RICOEUR, P. A memória, a história, o esquecimento. Campinas, SP: Editora
da UNICAMP, 2007.
Apresentação
1
Encontra-se aqui a brecha para o desenvolvimento do jornalismo
especializado, sobre o qual discutiremos mais adiante. A necessidade de
especificar sobremaneira a linha editorial estimula grupos produtores de
notícias a delimitar seu trabalho com assuntos tematizados.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 226
Maternidade, lei e trabalho: a identidade cidadã da luta feminina
2
O Programa institucional Direitos da Mulher na Lei e na Vida, formulado
em 1992 conta com três frentes: monitoramento das proposições
legislativas incluindo acompanhamento orçamentário, e assessoria a
parlamentares com atenção especial à Bancada Feminina; articulação com o
Movimento de Mulheres e entidades afins – articulação com as organizações
do movimento de mulheres e construção de parcerias e alianças visando à
promoção e defesa dos direitos e da cidadania das mulheres, especialmente
no âmbito do Legislativo; Comunicação Política sobre Direitos das Mulheres e
Equidade/Igualdade de Gênero – realização de estudos, democratização de
informações e difusão de opiniões, através do Jornal Fêmea e de outras
publicações próprias, de site institucional, e de assessoria de imprensa
junto a jornais, revistas, e emissoras e programas de rádio e de televisão.
Fonte:http://bibliotecadigital.abong.org.br/bitstream/handle/11465/267/C
FEMEA_cidadania_mulheres_legislativo_federal.pdf?sequence=1&isAllowed=
y.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 227
Gerlice Teixeira ROSA
2. O eu revelado em nós
3
Tradução nossa de: ―Il ne s‘agit donc pas d‘une simple addition d‘individus,
mais d‘un élargissement du noyau initial que constitue le moi, d‘une
ouverture vers l‘autre que le pronom pluriel englobe dans la constitution
d‘une nouvelle entité‖ (AMOSSY, 2010, p. 159).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 230
Maternidade, lei e trabalho: a identidade cidadã da luta feminina
Breves Considerações
Referências
Introdução
Conclusão
Referências
1985.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. 11. ed. São Paulo: Global,
2003.
Palavras iniciais
o me smo
me
me
me
no me io
yo
i
je
do eu tro (ANTUNES, 2010)
Notas finais
Referências
ANTUNES, Arnaldo. Como é que chama o nome disso: Antologia. São Paulo:
Publifolha, 2006.
LYONS, John. Linguagem e Linguística – Uma Introdução São Paulo: Ed. Ltc,
1987.
Introdução
1
Para Wilkinson (1966, p. 74) as Geórgicas são pseudodidáticas, primeiro
poema descritivo da literatura.
2
Lúcio Aneu Sêneca, epístola 86, parágrafo 14, ao citar um verso das
Geórgicas II: ut ait Vergilius noster, qui non quid verissime sed quid
decentissime diceretur aspexit, nec agricolas docere voluit sed legentes
delectare.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP
O epílio das Geórgicas IV: epos et elegia et didascalice
3
Hesíodo foi o primeiro autor desse gênero, denominado desde Aristóteles
de poesia épica - Körte et Händell (1973, p. 223).
4
Grimal (1992, p. 163-4) diz que a longa estória lembra as narrativas
populares, desde o romance grego até as mil e uma noites, e ocupa 241
versos dos 565 do canto inteiro, ou seja, perto de 43%.
5
Gordon Williams (1968) define epílio, tendo em vista a quarta Geórgica,
como uma pequena épica cuja característica é contar uma história dentro
da outra.
6
Cornélio Galo, poeta elegíaco e amigo de Virgílio. Segundo o gramático
Sérvio, em seus comentários ao livro IV das Geórgicas, a segunda parte
deste livro teve de ser mudada: em lugar do elogio a Galo, que estaria
originalmente nesse livro, Virgílio escreveu o episódio de Orfeu. Isto
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 263
Heloísa Maria Moraes Moreira PENNA
quem é ele?‖ (Qui deus hanc, Musae, quis nobis extulit artem? - v.
315). Essa pergunta, endereçada às musas, é tipicamente épica -
verificada na primeira linha da Odisseia e na Eneida IX, vv. 77-78
―Que deus, Musas, tão cruéis incêndios, dos teucros,/ afastou?
Quem desviou tanto fogo dos navios?‖ (Quis deus, o Musae, tam
saeva incendia Teucris/ avertit? tantos ratibus quis depulit ignis) É
com ela que o narrador geórgico introduz o epílio na épica didática.
Mas como Aristeu se transforma em um verdadeiro deus,
benfeitor da humanidade? Há uma evolução em sua história, uma
transformação de pastor em divindade. Ele, como personagem
épico, vive uma bem sucedida jornada heroica10. A ele são propostos
quatro desafios, e, a cada superação, a conquista de um degrau em
direção às alturas (como César Otaviano, com seus feitos heroicos,
―projetava sua subida ao Olimpo‖, na conclusão do livro, uiam
adfectat Olympo v. 562).
Como primeira prova tem-se uma catábase, viagem física e
espiritual permitida somente aos eleitos dos deuses. Aristeu
penetra, então, no mundo subaquático das ninfas fluviais. Uma
catábase especialíssima, pois não ao tenebroso palácio de
Ditis/Hades e sim ao cristalino e translúcido palácio de Cirene.
Outros heróis, como Teseu11, também desceram ao fundo das águas
com a permissão de suas genitoras.
A segunda prova é o domínio das forças naturais – de
desordem e destruição, nas palavras de Miles (1980, p. 267) e
sobrenaturais - representadas por Proteu, a astuta divindade
marinha. Além disso, como Eneias, Aristeu deve ―aprender sobre o
passado e o futuro‖ 12 e Proteu é o vate indicado para essas
revelações (quae sint, quae fuerint, quae mox uentura trahantur v.
393).
A terceira é um desdobramento da segunda. Ao capturar o
deus marinho, Aristeu vivencia, pela narrativa dramatizada de
Proteu, uma verdadeira catarse - a segunda, segundo Thibodeau
(2011, p. 197) que aponta, como primeira, a descida ao maravilhoso
mundo de Cirene envolvendo água e fogo (os rios e o presságio das
10
Sobre a figura de Proteu e Aristeu como modelos épicos, cf. Morgan, 1999,
p. 150.
11
A mãe de Teseu era a ninfa marinha Anfitrite. Cf. Miles, 1980, pp. 263-4.
12
Putnam, 1979, p. 287
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 266
O epílio das Geórgicas IV: epos et elegia et didascalice
13
Para comparações mais aprofundadas entre Aristeu e Otávio cf. Gale,
2000, p. 52.
14
Cf. Griffin, 2008, p. 239.
15
Cf. Rodrigues Júnior (2001, p. 217).
16
Cf. Rodrigues Júnior (2001, p. 217).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 267
Heloísa Maria Moraes Moreira PENNA
17
Thibodeau, 2011, p. 197.
18
Para mais detalhes cf. Cairns (2006, pp. 144-6).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 268
O epílio das Geórgicas IV: epos et elegia et didascalice
19
Cf. Eneida IV, 478-91.
20
Cf. Conte, 1984, p. 45 e ss.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 269
Heloísa Maria Moraes Moreira PENNA
21
Gale, 2000, p. 53.
22
Expressão de Tosi, 2000, p. 45.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 270
O epílio das Geórgicas IV: epos et elegia et didascalice
Considerações Finais
Referências
CONTE, Gian Baggio. Virgilio: Il genere e i suoi confini. Itália: Garzanti, 1984.
GALE, Monica R. Virgil on the Nature of Things: The Georgics, Lucretius and
the Didactic Tradition. Cambridge: Cambridge University Press, 2000.
FARRELL, Joseph. Vergil‘s Georgics and the Traditions of Ancient Epic: The
Art of Allusion Literary History. Oxford: Oxford University Press, 1991.
HARDIE, Philip. VIRGIL. Greece & Rome. New Surveys in the Classics. No. 28.
Oxford: Oxford University Press for the Classical Association, 1998.
―Eu - Onça!‖
João Guimarães Rosa
Introdução
1. Problemática literária
3. Problemática da legibilidade
Conclusão
Referências
DELEUZE, Gilles. A ilha deserta e outros textos, edição preparada por David
Lapoujade. São Paulo: Iluminuras, 2006.
_________. Cinema 2: a Imagem-Tempo. São Paulo: Brasiliense, 2009.
ROSA, João Guimarães. Estas estórias. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1976.
Introdução
1
Utilizo o termo professor bolsista, pois trata-se um projeto de extensão da
universidade, logo os estudantes de diversas licenciaturas que tem
conhecimento da língua são selecionados para ensinarem LIBRAS a
comunidade viçosense.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 293
Isabelle de Araujo Lima e SOUZA
Conclusão
Referências
Introdução
1
Esses e outros exemplos de aproximação entre narrativas verbais e visuais
são apresentados por Winkler (2009, p. 22-23), que também aborda a
proximidade entre os atos de ―ler‖ e ―ver‖ na Antiguidade (2009, p. 24).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP
Carminamaior imago sunt mea
2
Há ainda descrições de obras de arte inseridas em narrativas mais longas,
como as pinturas da Guerra de Troia no templo de Juno, em Cartago,
observadas por Eneias na Eneida de Virgílio (1.441-493) e a descrição dos
escudos de Eneias (VIRGÍLIO, Eneida 8.617-731) e de Aquiles (HOMERO,
Ilíada 18.478-608).
3
O termo ―enargeia, ‗vivacidade‘ (em latim, euidentia, illustratio), é definido
por Dionísio de Halicarnasso (Sobre Lísias, 7) como ‗o poder de trazer o que
é dito para diante dos sentidos‘, de modo que o público ‗associe-se às
personagens trazidas pelo orador como se elas estivessem presentes‘‖
(HARDIE, 2002, p. 5).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 303
Júlia Batista Castilho de AVELLAR
4
OVÍDIO, Metamorphoses 1.1-4: In noua fert animus mutatas dicere formas/
corpora; di, coeptis, nam uos mutastis et illas,/ adspirate meis primaque ab
origine mundi/ad mea perpetuum deducite tempora carmen! – ―O ânimo
impele a cantar as formas mudadas em novos/ corpos; ó deuses, pois
também vós as mudastes,/ inspirai minha empresa e, desde a origem
primeira/ do mundo até meus tempos, contínuo poema fiai!‖ (trad. nossa).
O texto-base em latim para nossas traduções das Metamorphoses foi aquele
estabelecido por Lafaye (2011).
5
Segundo Sharrock (1994, p. 143-144), essa metáfora têxtil destaca
características como leveza, delicadeza e zelo na produção dos versos,
atributos tipicamente calimaquianos.
6
Segundo Hardie (2002, p. 177), as Metamorphoses possuem apenas três
ekphraseis: a descrição das portas do Palácio do Sol (2.1-18), das tapeçarias
de Minerva e Aracne (6.70-128) e dos relevos de uma cratera dada a Eneias
pelo rei Ânio (13.685-701). Essa escassez é contrabalanceada pelos
inúmeros episódios com reflexões sobre as relações entre palavra e imagem
e pelo próprio aspecto visual dos relatos de metamorfoses.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 304
Carminamaior imago sunt mea
7
Embora destaque o modelo homérico do escudo de Aquiles, Wheeler (1995,
p. 96 e p. 99-103) também comenta sobre os paralelos da criação do mundo
nas Metamorphoses com outros relatos cosmogônicos, como o canto de
Orfeu nas Argonáuticas de Apolônio de Rodes (1.496-502); o canto de Iopas
na Eneida de Virgílio (1.742-746); a descrição lucreciana do estado inicial
das coisas no De rerum natura (5.416-563); o canto de Sileno, na sexta
bucólica de Virgílio (6.31-40). Ele opta pela predominância do modelo
homérico por tais descrições proporem um tipo de cosmogonia
evolucionista, enquanto nas Metamorphoses Ovídio apresenta uma versão
divina da criação do mundo, que aproxima o criador de um artífice.
8
HOMERO, Ilíada, 18.483-485 e 607-608: ―Nela o ferreiro engenhoso
insculpiu a ampla terra e o mar vasto,/ o firmamento, o sol claro e
incansável, a lua redonda/ e as numerosas estrelas, que servem ao céu de
coroa. [...] Plasma, por fim, na orla extrema do escudo de bela feitura/ a
poderosa corrente do oceano, que a terra circunda.‖ (trad. C. A. Nunes,
2001, p. 425 e 429).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 305
Júlia Batista Castilho de AVELLAR
9
Também em Hesíodo, o elemento primordial era o Caos: ―Sim bem primeiro
nasceu Caos, depois também/ Terra de amplo seio, de todos sede
irresvalável sempre,/ dos imortais que têm a cabeça do Olimpo nevado, e
Tártaro nevoento no fundo do chão de amplas vias,/ e Eros: o mais belo
entre os Deuses imortais.‖ (Teogonia, 116-20, trad. J. Torrano, 2012, p. 109).
Entretanto, seu sentido é distinto do ovidiano: era ―uma fenda no abismo
‗hiante‘‖ (BURKERT, 1986, p. 53), uma ―abertura infinita‖ (NIETO, 2000, p. 27).
10
Iners é formado a partir de in-ars. Considerando-se que ars designa uma
habilidade adquirida pelo estudo ou pela prática, ou então um
conhecimento técnico, e que se opõe a natura (―habilidade natural‖) e a
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 306
Carminamaior imago sunt mea
12
Para uma discussão sobre focalização e linearização na poesia e artes
visuais, ver Fowler (1991, p. 29-31).
13
Esse último aspecto aproxima a cosmogonia ovidiana do modelo cosmogônico
tecnomórfico, que, segundo Burkert (1986, p. 51-52), caracteriza-se pela
introdução de um ―criador‖ à maneira de um artesão, capaz de construir o que
lhe apetece. O estudioso distingue três modelos cosmogônicos: aquele
baseado na geração e sequência de gerações, configurando cadeias de
estirpes; o modelo tecnomórfico, exemplificado pelo deus-oleiro Ptah; e
aquele em que a fundação ocorre por meio da execução de sacrifícios, como
no Rigveda e na Edda, com a formação do mundo a partir do corpo
esquartejado de um gigante.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 308
Carminamaior imago sunt mea
14
O texto-base latino para nossas traduções dos Tristia foi o estabelecido
por André (2008).
15
OVÍDIO, Tristia, 1.7.27-30: Nec tamen illa legi poterunt patienter ab ullo,/
nesciet his summam si quis abesse manum;/ ablatum mediis opus est
incudibus illud/ defuit et scriptis ultima lima meis. – ―Não poderão, porém,
ser lidos sem queixas por ninguém,/ se se desconhecer faltar-lhes a última
demão;/ a obra foi-me arrebatada em meio à bigorna,/ aos meus escritos
faltou a derradeira lima‖ (trad. nossa).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 311
Júlia Batista Castilho de AVELLAR
16
A título de exemplo: OVÍDIO, Tristia, 5.1.27-28: Non haec ingenio, non haec
componimus arte:/ materia est propriis ingeniosa malis. – ―Não as compus
com engenho, tampouco com arte:/ a matéria se engendra nos meus males.‖
(trad. nossa); e OVÍDIO, Tristia, 3.14.33-36: Ingenium fregere meum mala
cuius et ante/ fons infecundus paruaque uena fuit./ Sed quaecumque fuit,
nullo exercente refugit/ et longo periit arida facta situ. – ―Os males secaram
meu engenho, que mesmo antes/ era fonte infecunda e fina veia./ Mas,
qualquer que tenha sido, se esvaiu sem a prática/ e findou, de longa inação
ressequido.‖ (trad. nossa). Para detalhes acerca da máscara de fracasso
poético adotada por Nasão nos Tristia, ver Avellar (2015, p. 74-94).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 312
Carminamaior imago sunt mea
Referências
CATULLE. Poésies.Texte établi par G. Lafaye. Paris: Les Belles Lettres, 1949.
FOWLER, Don. Narrate and describe: the problem of ‗ekphrasis‘. The Journal of
Roman studies, Cambridge, v. 81, p. 25-35, 1991.
HOLZBERG, Niklas. Ovid: The poet and his work. Ithaca/London: Cornell
University Press, 2002.
HOMERO. Ilíada. Trad. Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
HORACE. Épitres. Texte établi et traduit par F. Villeneuve. Paris: Les Belles
Lettres, 1955.
OVIDE. Tristes. Texte établi et traduit par J. André. Paris: Les Belles Lettres,
2008.
WINKLER, Martin. Cinema and classical texts: Apollo‘s new light. New York:
Cambridge University Press, 2009.
Considerações iniciais
2. Metodologia
1
Terminologia adotada por Lopes e Cavalcante (2011) para a classificação
dos tipos de sujeito encontrados nas cartas dos séculos XIX e XX, analisadas
em sua pesquisa acerca da expansão do você-sujeito e retenção do clítico-te.
2
―A teoria do campo lexical de Eugenio Coseriu propõe uma análise
estrutural do vocabulário, determinando o campo lexical dentro de
estruturas lexemáticas onde os lexemas constituem um sistema de
oposições. Essa teoria do campo lexical vem desde F. de Saussure,
demonstrando que a língua é uma estrutura onde as palavras formam
sistemas relacionados entre si. Ferdinand Saussure no Curso de Linguística
Geral (SAUSSURE, 1970, p. 142-7) escreveu sobre a rede de associações que
se desenvolvem em torno de uma palavra, e afirma que: ‗Um termo dado é
como o centro de uma constelação, o ponto para o qual convergem outros
termos coordenados cuja soma é indefinida‘. (SAUSSURRE, 1970, p. 146)‖
(ABBADE, 2011)
3
Rocha Lima (2003) denomina hipocorísticos como uma ―alteração, nascida
em âmbito familiar, do prenome ou nome próprio individual: Fafá (Fabiana),
Filó (Filomena), Gegê (Getúlio), etc.‖ (cf. LUCINI, 2010)
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 318
Monitoramento lexical em cartas oitocentistas
4
Nas edições fac-similares das missivas, feitas por Rumeu (2013), a autora
apresenta um cabeçalho que antecede cada carta, contendo as seguintes
informações: local e data, fonte, autor, local e data de nascimento,
nacionalidade, naturalidade, referência, idade (na ocasião da escritura da
carta) e conteúdo.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 319
Juliana Sander DINIZ
5
Terminologia referente à forma como cada item lexical é pesquisado no
Programa AntConc (cf. LUZ, CAMBRAIA E GONTIJO, 2015)
6
Formas grafadas de maneira idêntica àquelas utilizadas na pesquisa no
Programa AntConc, sendo colocadas em caixa alta, apenas a título de
facilitação da busca – uma vez que sem a adição de códigos específicos, o
programa não difere caracteres maiúsculos e minúsculos.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 321
Juliana Sander DINIZ
7
As duas grafias foram atestadas nas cartas, sendo ambas buscadas no
programa; no entanto, não há diferença semântica entre os antropônimos.
8
Ao serem identificados nas amostras pelo Programa AntConc, os lexemas
aparecem sob a nomenclatura inglesa ―hits‖.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 322
Monitoramento lexical em cartas oitocentistas
Token Nº de Exemplos
monitorado ocorrências em
cada subsistema9
PREZAD*/ 2T 2M 1V ―Minha presadissima Filha e amiga (...)‖ (Dr.
PRESAD* Pedreira, Rio de Janeiro, 07/02/1877 – Carta
mista)
―Minha mui presada Zelia extremada Filha
(...)‖ (Dr, Pedreira, Rio de Janeiro,
16/07/1879 – Carta mista)
―Minha muito boa e presada Filha (...)‖ (Dr.
Pedreira, Rio de Janeiro, 20/05/1886 – Você
exclusivo)
―Minha prezada Filha e amiga (...)‖ (Dr,
Pedreira, Rio de Janeiro, 04/10/1879 – Tu
exclusivo)
TRABALH* 3T 0M 3V ―(...) tanto trabalho que tenho em mãos
dentro e fóra do Tribunal‖ (Dr. Pedreira, Rio
de Janeiro, 05/02/1877 – Tu exclusivo)
―e para que não interrompesses o trabalho
mimoso de tuas letras‖ (Dr. Pedreira, Rio de
Janeiro, 04/10/1879 – Tu exclusivo)
―Privo me do prazer de escrever
mentalmente com a minhaa Zélia, por mais
tempo, receiozo de que essa pequena
applicação de corpo e espirito me tire o
sonno como aconteceu na noite passada;
tanto mais quando trabalhei‖ (Dr. Pedreira,
Rio de Janeiro, 30/08/1885 – Tu exclusivo)
―Os salesianos teem um grave inconveniente
- são em demasia morosos nos seus
trabalhos typographicos e exigem pela
pouca sufficiencia dos Compositores e
revisores muitas e repetidas provas em
ordem oque otrabalho seria sofrível‖(Dr.
Pedreira, Rio de Janeiro, 20/05/1886 – Você
exclusivo)
―Ajustei por 200$000 no maximo a
impressão.
Desejo acabar o movimento de Trabalho, de
modo que fique prompto, antes da partida
do Nosso Amigo seu Pae oSenhor Fernando
de Castro e este possa levar alguns
exemplares para offerecer as crianças d‘
além mar.‖(Dr. Pedreira, Rio de Janeiro,
20/05/1886 – Você exclusivo)
9
T (Sujeito tu exclusivo), M (sujeito misto tu~você), V (sujeito você
exclusivo)
10
Idem a 9
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 325
Juliana Sander DINIZ
11/08/1877 – Tu exclusivo)
―ou recem mandada por mim a caixinha de
encomendas‖ (Dr. Pedreira, Rio de Janeiro,
16/07/1879 – Carta mista)
ZELIA 6T 1M 0V ―Parando aqui, minha Zelia tenho ainda o
coração cheio de lembranças‖ (Dr. Pedreira,
Rio de Janeiro, 11/08/1877 – Tu exclusivo)
―Zelia, queridissima filha e minha amiga do
coração‖ (Dr. Pedreira, Rio de Janeiro,
30/08/1885 – Tu exclusivo)
―Minha mui presada Zelia extremada Filha
(...)‖ (Dr, Pedreira, Rio de Janeiro,
16/07/1879 – Carta mista)
JERONIMO 2T 0M 0V ―e tenho ainda de escrever ao teu excellente
Jeronimo teu esposo‖ (Dr. Pedreira, Rio de
Janeiro, 11/08/1877 – Tu exclusivo)
MARIA 4T 0M 0V ――Tenho sentido saudades da inocentinha
ELIZA Maria Eliza.‖(Dr. Pedreira, Rio de Janeiro,
11/08/1877 – Tu exclusivo)
MARIA 3T 0M 0V ―tanto ella como a Rosinha Maria vão
ROSA/ passando muito bem‖(Dr. Pedreira, Rio de
MARIA Janeiro, 08/11/1878 – Tu exclusivo)
ROZA/
ROSINHA
(hipocorístic
o)
JOSE LUIS 2T 1M 0V ―e o Jose Luis [inint.] [inint.]sarampo pallido
e magro‖ (Dr. Pedreira, Rio de Janeiro,
16/07/1879 – Carta mista)
―Jose Luis fará exame de Philosophia‖ (Dr.
Pedreira, Rio de Janeiro, 04/10/1879 – Tu
exclusivo)
MIMI 4T 1M 0V ―beija a tua mãe e abrace a Mimi e Mina‖ (Dr.
(hipocorístic Pedreira, Rio de Janeiro, 30/08/1885 – Tu
o) exclusivo)
―A Mimi está boa e prossegue nos estudos
de canto e piano.‖(Dr. Pedreira, Rio de
Janeiro, 16/07/1879 – Carta mista)
MINA 2T 1M 1V ―beija a tua mãe e abrace a Mimi e Mina‖ (Dr.
(hipocorístic Pedreira, Rio de Janeiro, 30/08/1885 – Tu
o) exclusivo)
―A Miná não apresenta aquelles syntomas de
vermes‖ (Dr. Pedreira, Rio de Janeiro,
16/07/1879 – Carta mista)
―A Miná que deixa de ser criança no corpo,
antecepadanete, razão do desequilíbrio
organico e da anemia com o excesso do
systhema adipso, está em uso de banhos de
mar.‖(Dr. Pedreira, Rio de Janeiro,
20/05/1886 – Você exclusivo)
Considerações finais
Referências
LOPES, Célia Regina dos Santos. Retratos da variação entre "você" e "tu" no
português do Brasil: sincronia e diacronia. In: RONCARATI, Claudia;
ABRAÇADO, Jussara. (Org.). Português Brasileiro II - contato lingüístico,
heterogeneidade e história. 1 ed. Niterói: EDUFF, 2008, v. 2, p. 55-71.
1
O termo não é traduzido nas edições em português, mas pode-se dizer,
resumidamente, que ele designa mulheres que performatizam o gênero
masculino.
2
Será utilizada a abreviação GSV para indicar Grande Sertão: Veredas.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 331
Brenda Chauane Edlene PEREIRA&Valter Pereira ROMANO
3
A fala inicia-se com: "Sempre disse ao senhor, atiro bem. E esses dois
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 333
Brenda Chauane Edlene PEREIRA&Valter Pereira ROMANO
4
"Para todas as protagonistas femininas, ao contrário [do que acontece aos
protagonistas masculinas], o rito de passagem quase sempre envolve a
renúncia da agência. Moças-agentes, moças que buscam ação em demasia,
mesmo que por razões altruístas, são punidas de uma forma ou de outra."
[Tradução livre].
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 339
Brenda Chauane Edlene PEREIRA&Valter Pereira ROMANO
Referências
Introdução
Esclareço que, para tal fim, foram concedidas as devidas permissões pelos
1
1. Letramento crítico
2
Cf. Larsen-Freeman, 1986; Nunan, 1989; Mattos e Valério, 2010.
3
Kress e van Leeuwen (2006)
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 344
O letramento crítico em avaliação de língua inglesa
4
Neste trabalho utilizamos ―textos‖ como ―[...] qualquer instância de
comunicação em qualquer modo ou em qualquer combinação de modos
[...]‖ (KRESS, 2003, p. 48, tradução minha).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 345
Lílian Aparecida Vimieiro PASCOAL
2. Avaliação
3. Metodologia
5
O sexismo benevolente acontece, por exemplo, por meio de ações, vindas
de mulheres ou homens, que exaltem atitudes protetoras e estereótipos
afetivos dirigido às mulheres, são ―sentimentos e condutas positivas em
relação à mulher (como, por exemplo, a afirmação de que ‗o homem não
pode viver sem a mulher‘)‖ (FERREIRA, 2004, p.121), pois ―ao se apoiar em
crenças sobre a inferioridade feminina, típicas da ideologia patriarcal, serve
apenas para justificar o poder masculino e reforçar, desse modo as
desigualdades de gênero‖ (ibid, 2004, p. 122).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 347
Lílian Aparecida Vimieiro PASCOAL
6
Conforme os postulados de Lankshear, Snyder e Green (2000, apud
MATTOS, 2013).
7
―O que é importante para Freire é que ‗a pessoa que está aprendendo as
palavras seja concomitantemente engajada em uma análise crítica da
estrutura social na qual os homens existem‘‖ (CERVETTI; PARDALES;
DAMICO, 2001, n. p., tradução minha)
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 348
O letramento crítico em avaliação de língua inglesa
com o texto, sobre o sexismo benevolente, estereótipos femininos e
masculinos, para que o aluno possa observá-las e julgá-las como
verdadeiras ou falsas. Apesar de não haver um desenvolvimento
sobre as vozes silenciadas (como as vozes da comunidade LGBT8),
que seria uma reflexão relevante para o LC, podemos notar uma
tentativa de evidenciar e compreender o nível de complexidade do
problema ressaltado no texto, que, segundo McLaughlin e De Voogd
(2004) é um dos princípios do LC. Ao explorar as definições de
termos relacionados ao tema, a questão propõe entender a
complexidade do tópico abordado, suas vinculações a outros
assuntos e sua proporção. Além disso, notamos o trabalho com a
perspectiva de homens e mulheres, possibilitando a descoberta de
diferentes crenças e posições propostas pelo texto, que seria uma
aplicação de outro princípio do LC, de acordo com a proposta de
Mclaughlin e De Voogd (2004).
Acrônimo de
8
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e
Transgêneros.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 349
Lílian Aparecida Vimieiro PASCOAL
9
LIMA, 2006
10
https://everydaysexism.com/
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 354
O letramento crítico em avaliação de língua inglesa
Conclusão
11
Neste trabalho, consideramos como um texto autêntico, segundo Nunan
(1989), aquele que é possível de acontecer no mundo real.
12
CERVETTI; PARDALES; DAMICO, 2001.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 355
Lílian Aparecida Vimieiro PASCOAL
Referências
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
18132006000100007>. Acesso em: 02 jun. 2017.
1
Cf. Suetônio, Vida de Tibério, 43.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP
Erotodidática e entrelaçamento genérico na construção do Magister Amoris
2
A respeito do histórico da atribuição da alcunha de tratadistas à Filênis e
Elefantine, o texto de Alexandre Agnolon, acompanhado de um testemunho
retirado da Suda, podem nos auxiliar na compreensão da tradição
erotodidática, tanto tratadística quanto poética: ―A Suda, léxico bizantino
do século IX d.C., também menciona Filênis como tratadista, mas desta vez
nossa Filênis não está sozinha, o que pode demonstrar que, entre os
antigos, já houvesse um cânone erótico a ser emulado, uma tradição
corrente erotodidática que em Roma, por exemplo, refunde na ars ovidiana
e também nos epigramas da Antologia Grega, ainda que de maneira mais
tênue. Cf. AGNOLON, 2013, p. 57.
2
Somente à guisa de exemplos temos boa parte da poesia hesiódica
(principalmente, Os Trabalhos e os Dias) considerada como arché da poesia
didática ou didascálica, que será, por sua vez, modelo fundamental para os
poetas didáticos alexandrinos, a partir do século III a.C.; destacam-se, ainda,
Arato de Sólio (III – II a.C.), com seus Phainómena – vertido em latim por
Cícero, de cuja tradução hexamétrica nos chegou infelizmente fragmentos –
, o poema agrário de Virgílio, as Geórgicas, e as Astronômicas, de Manílio (I
d.C.), que tem como modelo o poema mencionado de Arato.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 361
Marice Aparecida GONÇALVES
4
OLIVA NETO, 2006, p. 136-137.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 362
Erotodidática e entrelaçamento genérico na construção do Magister Amoris
Μήμεδόκειπιθανῶςἀπατᾶνδακρύοισι, Φιλαινί.
οἶδα·φιλεῖςγὰρὅλωςοὐδέναμεῖζονἐμοῦ,
τοῦτονὅσονπαρ' ἐμοὶκέκλισαιχρόνον·εἰδ' ἕτερόςσε
εἶχε, φιλεῖνἂνἔφηςμεῖζονἐκεῖνονἐμοῦ.
oculte,
para não fugir o falso pudor de sua fala.
Por mais ainda, ó jovens, evitai surpreender com
sobressaltos vossas amadas;
que pequem; e, quando pecam, que pensem ter vos
dado a conhecer o segredo7.
7
Ovid. Ars. II, 555-558. Tradução de minha lavra.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 364
Erotodidática e entrelaçamento genérico na construção do Magister Amoris
8
διὰμὲνοὖντοῦἤθους, ὅτανοὕτωλεχθῇὁλόγοςὥστεἀξιόπιστονποιῆσαιτὸνλέγοντα· (...)
οὐγάρ, ὥσπερἔνιοιτῶντεχνολογούντων,
<οὐ>τίθεμενἐντῇτέχνῃκαὶτὴνἐπιείκειαντοῦλέγοντος, ὡςοὐδὲνσυμβαλλομένηνπρὸςτὸ
πιθα-νόν, ἀλλὰσχεδὸνὡςεἰπεῖνκυριωτάτηνἔχειπίστιντὸἦθος.
Reth. 1, 1356 a, 5-14. Tradução Manuel Alexandre Júnior.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 365
Marice Aparecida GONÇALVES
9
Cícero, De Oratore, II, 182, 2-6. Tradução Adriano Scatolin. Grifo nosso.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 366
Erotodidática e entrelaçamento genérico na construção do Magister Amoris
Μουσάων῾Ελικωνιάδωνἀρχώμεθ' ἀείδειν,
αἵθ' ῾Ελικῶνοςἔχουσινὄροςμέγατεζάθεόντε,
καίτεπερὶκρήνηνἰοειδέαπόσσ' ἁπαλοῖσιν
ὀρχεῦνταικαὶβωμὸνἐρισθενέοςΚρονίωνος·
καίτελοεσσάμεναιτέρεναχρόαΠερμησσοῖο
ἠ' ῞Ιππουκρήνηςἠ' ᾿Ολμειοῦζαθέοιο
ἀκροτάτῳ῾Ελικῶνιχοροὺςἐνεποιήσαντο,
καλοὺςἱμερόεντας, ἐπερρώσαντοδὲ ποσσίν
10
Teogonia, 1-8. Tradução deJaaTorrano.
11
ANDRÉ, 2011, p. 496.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 367
Marice Aparecida GONÇALVES
12
Ovid. Am. III-1, 7-10. Tradução Carlos Ascenso André.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 368
Erotodidática e entrelaçamento genérico na construção do Magister Amoris
13
LOPES, 2010, p. 20.
14
VEYNE, 1985, p. 35.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 369
Marice Aparecida GONÇALVES
Conclusão
Referências
OLIVA NETO, João Angelo. (2006). Falo no Jardim: Priapéia Grega, Priapéia
Latina. Tradução do Grego e do Latim, Ensaios Introdutórios, Notas e
Iconografia de João Angelo Oliva Neto. Cotia-SP: Ateliê Editorial/ Campinas,
SP: Editora da Unicamp.
VEYNE, Paul. Elegia Erótica Romana. São Paulo: Editora Brasiliense: 1985.
Introdução
1
Dentre os importantes estudiosos que tratam dessa temática estão Moreira
(2011) e Hansen & Moreira (2013): MOREIRA, Marcello. Critica Textualis in
Caelum Revocata? Uma Proposta de Edição e Estudo da Tradição de
Gregório de Matos e Guerra. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, 2011./ HANSEN, João Adolfo & MOREIRA, Marcello. Para que Todos
entendais: Poesia Atribuída a Gregório de Matos e Guerra: Letrados,
Manuscritura, Retórica, autoria, obra e público na Bahia dos séculos XVII e
XVIII, Volume 5 /João Adolfo Hansen, Marcello Moreira. Belo Horizonte:
Autêntica Editora, 2013.
2
MOREIRA, Marcello. Reflexão inicial para a produção de uma edição crítica
da lírica de Luís de Camões. Convergência Lusíada n. 27, janeiro - junho de
2012, p. 5-10.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 373
Marinês de Jesus ROCHA & Marcello MOREIRA
desenvolvimentos:
textus, e por crerem que categorias como "autor", dentre outras, não
sofrem variação no tempo e no espaço. Moreira (2011b) fala da
manutenção do paradigma lachmanniano, demonstrando o modo
como a ausência de mudanças nas finalidades do trabalho filológico
se relaciona à falta de reflexões historiográficas no âmbito da
filologia.
Há, no entanto, um outro caminho para entender a história
da historiografia que permite pensar criticamente a manutenção da
ideologia dominante e os objetivos a que se presta uma
historiografia voltada para a tradição:
Considerações finais
Referências
______. O que é a história cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2005.
HANSEN, João Adolfo & MOREIRA, Marcello. Para que Todos entendais:
Poesia Atribuída a Gregório de Matos e Guerra: Letrados, Manuscritura,
Retórica, autoria, obra e público na Bahia dos séculos XVII e XVIII - Vol. 5.
Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.
http://www.realgabinete.com.br/revistaconvergencia/pdf/1101.pdf. Acesso
em: 21/09/2016
Matheus TREVIZAM
UFMG
1
Estes mesmos tópicos técnicos (cães e redes) se encontram abordados, no
Cinegético de Grattius, respectivamente entre v. 150-496; v. 38-74.
2
O poema didático de que nos ocupamos, porém, trata dos equinos, nele
considerados instrumentos de valia para os caçadores, entre v. 497-441.
3
GRATTIUS, Cynegeticon 468-469: At tu praecipitem qua spes est proxima
labem/ aggredere– ―Tu, porém, por onde os prospectos são os mais
prováveis, a furiosa pestilência ataca‖ (trad. M. Trevizam).
4
Peter Toohey (2010, p. 4) aventa a extensão máxima inicial, para os poemas
didáticos antigos, de mais ou menos oitocentos versos, mas, ao menos,
quatrocentos.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 387
Matheus TREVIZAM
5
Cf. nota a v. 102, na edição espanhola do Cinegético citada (RODRÍGUEZ,
1984, p. 24); cf. também nota ad locum no comentário ao Cinegético escrito
por Verdière (1964b, p. 242).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 388
As digressões no Cinegético de Grattius Faliscus
6
VIRGÍLIO, Geórgicas IV, 315-316: ―Qual deus, Musas, qual, forjou-nos esta
técnica? Donde essa nova iniciativa adentrou o mundo humano?‖ (trad. M.
Trevizam)
7
Esse centauro também surge como ―mestre‖ de Aquiles em OVÍDIO, Ars
amatoria I, 11-12.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 389
Matheus TREVIZAM
8
GRATTIUS, Cynegeticon 96-98: (...) deus ille an proxima diuos/ mens fuit, in
caecas aciem quae magna tenebras/ egit et ignarum perfudit lumine uulgus?
– ―(...) foi ele um deus ou mente próxima dos deuses, que dirigiu
grandiosamente seu penetrante olhar às sombras escuras e banhou de luz o
povo ignorante?‖ (trad. M. Trevizam)
9
GRATTIUS, Cynegeticon 99: Dic age, Pierio, fas est, Diana, ministro. – ―Fala,
eia – é lícito, Diana –, a um servidor das Musas‖ (trad. M. Trevizam).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 390
As digressões no Cinegético de Grattius Faliscus
10
―Suntuosidade‖, ―intemperança‖, ―inação‖, ―vida afeminada‖ etc.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 391
Matheus TREVIZAM
11
Segundo nota ad locum de José A. C. Rodríguez (1984, p. 34), retirava-se
do nardo do Indo uma essência de uso opcional para perfumar os vinhos.
12
M. Fúrio Camilo, aqui aludido retoricamente no plural, foi o conquistador
de Veii e salvou Roma depois do desastre de Ália; sua proverbial pobreza
encontra-se documentada em Horácio (Odes I, XII, 42 et seq.).
13
C. Atílio Régulo Serrano foi cônsul em 257 e 250 a.C. Teria deixado os
trabalhos agrícolas para encarregar-se de comandos militares, como conta
Virgílio (Eneida VI, 845).
14
GRATTIUS, Cynegeticon 326-330: At qualis nostris, quam simplex mensa
Camillis!/ Qui tibi cultus erat post tot, Serrane, triumphos!/ Ergo illi ex
habituuirtutisque indole priscae/ imposuere orbi Romam caput, actaque ab
illis/ ad caelum uirtus summosque tetendit honores (trad. M. Trevizam).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 392
As digressões no Cinegético de Grattius Faliscus
15
―César‖ em geral se refere, nas Geórgicas – exceto em I, 466 –, a Otaviano
Augusto, não a Caio Júlio César.
16
Cf. também BARCHIESI, 1982, p. 56: ―L‘opposizione tra città e campagna è
fissata anzitutto (vv. 458-474) nei suoi termini più generali, come una sorta
di opposizione privativa. Ai bisogni non naturali soddisfatti dal lusso dalla
città, risponde la campagna come luogo che appaga i bisogni naturali della
vita, e insieme fornisce le basi di un‘esistenza frugale e pia‖.
17
Em Geórgicas II, 495 et seq. de novo se inicia uma seção, no mesmo
excurso, em que se contrapõem em negativo os males urbanos (v. 495-512)
às alegrias descomplicadas dos camponeses (v. 513-531).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 393
Matheus TREVIZAM
18
Veja-se nota a v. 327 na edição espanhola do Cinegético (RODRÍGUEZ,
1984, p. 35): ―A pesar de esta precisión final del poeta, el excurso
moralizante sobre el lujo, tradicional por lo demás, parece inadecuado si se
piensa que ha sido motivado por el consejo de una comida sencilla para los
cachorros‖.
19
―Excesso‖, ―fausto‖, ―luxo‖, ―dissolução‖ etc.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 394
As digressões no Cinegético de Grattius Faliscus
20
Verdière (1964a, p. 66 et seq.), por outro lado, aventa a hipótese de
vinculações entre Grattius Faliscus e as doutrinas de Posidônio de Apameia
– séc. II-I a.C. –, o criador do estoicismo.
21
LUCRÉCIO, De rerum natura I, 78-79: Quare religio pedibus subiecta
uicissim/ obteritur, nos exaequat uictoria caelo. – ―Por isso a religião –
sujeita aos pés – é, por sua vez, esmagada, igualando-nos ao céu a vitória‖
(trad. M. Trevizam).
22
MOYA, 2007, p. 465: ―(...) que la ciencia elimine ni supere siquiera la
religión, ya que ella está ligada a la divinidad. Diana, afirma Gratio, fue la
que se dignó proteger a la humanidad, librándola del miedo a las fieras,
tarea en la que colaboraron deidades relacionadas con la naturaleza, como
Pan, Cibeles, Silvano etc. Así, con el impulso de la protección divina,
pretende Gratio enseñar técnicas que ayudan al hombre‖ (trad. M.
Trevizam).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 396
As digressões no Cinegético de Grattius Faliscus
Conclusão sucinta
Referências
HADOT, Pierre. O que é a filosofia antiga? Trad. Dion Davi Macedo. São
Paulo: Loyola, 1999.
PUBLILIUS SYRUS et alii. Minor Latin poets: vol. I. Cambridge, Mass./ London:
Harvard University Press, 1982.
TOOHEY, Peter. Passing time: hunting, poetry and leisure. In: TOOHEY, P.
Melancholy, love and time: boundaries of the self in ancient literature. Ann
Arbor: Michigan Press, 2004, p. 222-260.
Rachido DJAU
Malam DJAU
UFPR
I. Fundamentação teórica
1
COUTO, Hildo Honório e EMBALÓ, Filomena. Literatura, língua e cultura na
Guiné-Bissau. Revista brasileira de Estudos Crioulos e Similares, N° 20,
2010, p. 28-29 (Brasília).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 405
Rachido DJAU & Malam DJAU
2
Idem.
3
Gordon, Raymond, G., Jr. (ed.), 2005. Etnologue: Languages of the World,
fifteenth edition. Dallas, tex.SILInternational. Apud COUTO, Hildo Honório e
EMBALÓ, Filomena. Literatura, língua e cultura na Guiné-Bissau. Revista
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 406
Política sociolinguística, cultural e étnica na Guiné-Bissau e sua contradição
50% 46%
36%
13%
0% 2% 3%
Muçulmanos Animistas Católicos Outros Cristões Outros
(Fonte: Onofre (1993). Elaborado pelos autores)
Considerações finais
Referências
Introdução
estrofes por elas comentadas, evidenciam que este poema não era
de fácil compreensão, já que, no momento em que se decidiu
imprimi-lo, deliberou-se por produzir uma replicação em tom
pedestre de cada seção anotada, que servia de protocolo de leitura
ao texto poético, bastante ornamentado, e cuja elocução atendia ao
costume cortesão de acúmulo de tropos e figuras, sobretudo
metáforas, ao gosto gongórico dominante em Portugal no século
XVII, como deixam ver os muitos poemas reunidos, por exemplo, na
Fênix Renascida e no Postilhão de Apolo.
Pode-se resumir nossa proposta de análise nas questões que
seguem: Os escólios ao poema são protocolos para uma leitura
conveniente do poema? Por que os escólios têm tom pedestre? Qual
a relação entre o tom pedestre dos escólios e os gêneros didáticos e
informativos que ele mimetiza em sua elocução? O tom pedestre
dos escólios contribui para incrementar seu caráter histórico-
informativo, o que, por seu turno, amplifica a fides do poema?
1
Os tipos figurados como melhores do que somos são os deuses, os
semideuses, os príncipes e os heróis, por isso, eles são dignos de louvor e
honra. Há também aqueles que são tidos como piores do que somos e há os
iguais ao que somos. Ao estudar, por exemplo, a poesia e prosa dos séculos
XVI e XVII, é fundamental que se tenha em mente as seguintes ponderações
aristotélicas, as quais elucidam, de certo modo, essa tipologia: ―[...] os
imitadores imitam homens que praticam alguma ação, e estes,
necessariamente, são indivíduos de elevada ou de baixa índole (porque a
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 416
Os escólios de um panegírico seiscentista
2
O gênero panegírico apresenta variações, no que diz respeito a sua
definição efetuada pelos tratados de retórica e poética. A definição
instituída no tratado de retórica do Bartolomeu Alcáçar é aquela que
discorre por toda a vida do encomiado, desde o nascimento até a morte ou
até o momento em que este se encontra vivo. Logo, esse panegírico
atribuído a Manuel Botelho de Oliveira absorveu tópicas ou loci utilizados
por outros gêneros poéticos exornativos que louvam determinadas etapas
da vida de pessoas ilustres. Mas, por outro lado, há também aquelas
definições do gênero panegirical como um encômio de certas ações insignes
do caractere agente ou como um elogio dos valores predicativos de alguém.
3
―O poeta Manuel Botelho de Oliveira nasceu em 1636, na Bahia, e aí faleceu
em 05 de janeiro de 1711, aos 75 anos de idade. Segundo Barbosa Machado,
em sua Biblioteca Lusitana (publicada entre 1741 e 1758), Manuel Botelho
estudou Jurisprudência Cesária na Universidade de Coimbra, e mais tarde
exercitou em sua pátria, ―com muito crédito‖, a Advocacia de Causas
Forenses; exerceu também o cargo de vereador do Senado e capitão-mor.
Quanto a suas obras, Barbosa Machado menciona somente a publicação, em
1705, do volume de poesias Musica do Parnaso, dividida em quatro coros de
rimas. [...]‖ (MUHANA, 2011, p. 35).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 418
Os escólios de um panegírico seiscentista
II.
(2) Sua genealo- Vòs Ramo illustre de hũa excelsa planta,
gia. Que em fecunda virtude ennobrecida,
Entre os Troncos mais altos se levanta,
Grande na estirpe, no valor crescida:
Donde descen Tam nobre sempre, que em nobresa tanta,
dem os Mene- Com agoa naõ, com sangue foy nacida,
zes. Da Infanta Heroyca; dando em tempos
muytos,
De espadas folhas, de vittorias fruytos.
uma leitura, por isso evidenciam que aquele que as produziu prevê
um tipo de leitura que poderia divergir desse sentido ―latente‖do
poema ajuizado nelas. Ou seja, um tipo de leitor, por exemplo,
―moderno‖ ou muito posterior ao seu tempo, o qual pode não
conseguir identificar os argumentos ou códigos de condutas
postulados na obra. Nesse sentido, podemos pensar que as notas
escoliais
(3) VIII.
Quando a Patria Sugeyta se rendia Restauraçam
de Portugal
Do Castelhano Imperio à força crua,
em que teve
Oh como infelizmente se affligia, grande parte
Fúnebre, triste, desmayada, nua! o Senhor
Depois izenta da violência ímpia, Marquez.
Despindo as dores da tristeza sua,
Acclamouse no ardor de vossa espada
Festiva, alegre, valerosa, ornada.
IX.
Descingindo da fronte bellicosa
As verdes folhas da Arvore funesta,
Dourando a nuvem d‘ansia lastimosa, Ao mesmo.
O pranto serenou da màgoa infesta:
Adornada escarlata generosa,
Entre a voz popular da heroyca festa
Juntou, prevendo o forte, & fausto agouro,
Na mão a espada, na cabeça o louro.
Considerações finais
Referências
1
O título desse artigo era ―Italiani, vi esorto ai classici‖ e foi publicado em
L‘Espresso, no dia 28 de junho de 1981, p. 58-68.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP
A dubiedade da persona de Safo
2
Tradução minha. No original: « CLASSIQUE, adj. (Gramm.) Ce mot ne se dit
que des auteurs que l‘on explique dans les colléges; les mots & les façons de
parler de ces auteurs servent de modele aux jeunes gens. On donne
particulierement ce nom aux auteurs qui ont vécu du tems de la république,
& ceux qui ont été contemporains ou presque contemporains d‘Auguste [...]
» (DIDEROT; D‘ALEMBERT, 1751, p. 507).
3
Tradução minha. No original: ―classic (adj.) 1610s, "of the highest class;
approved as a model," from French classique (17c.), from Latin classicus
"relating to the (highest) classes of the Roman people," hence, "superior,"
from classis (see class). Originally in English, "of the first class;" meaning
"belonging to standard authors of Greek and Roman antiquity" is attested
from 1620s.‖ (HARPER, 2016).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 430
A dubiedade da persona de Safo
4
Para informações básicas – e sugestões bibliográficas – acerca desses
processos de apropriação cultural, cf. HARTOG, 2003, p. 155-186.
5
Em matéria artística, tais características se manifestaram de forma
exemplar no futurismo italiano. Os manifestos e a poesia de Marinetti são
especialmente extremistas (cf. TELES, 1973, p. 59-77).
Contemporaneamente, a atuação de grupos radicais – no Brasil e fora dele –
reforçam a relação entre rompimento com a história, recusa da tradição,
intolerância cultural, violência e irracionalismo.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 432
A dubiedade da persona de Safo
6
Isso sem mencionar que os dois autores têm trabalhos específicos sobre
textos e assuntos relacionados diretamente à antiguidade clássica, como se
vê na Interpretação dos sonhos, no Complexo de Édipo e em Totem e Tabu –
de Freud -, ou na História da sexualidade e na Coragem da Verdade – de
Foucault.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 433
Rafael Guimarães Tavares da SILVA
7
Para a tradução, cf. SAFO DE LESBOS, 2011, p. 105-106. Em grego:
φαίνεταίμοικῆνοςἴσοςθέοισιν/ ἔμμεν' ὤνηρ, ὄττιςἐνάντιόςτοι/ ἰσδάνεικαὶ
πλάσιονἆδυφωνεί-/ σαςὐπακούει// καὶγελαίσαςἰμέροεν, τόμ' ἦμὰν/
καρδίανἐνστήθεσινἐπτόαισεν·/ ὠςγὰρἔςσ' ἴδωβρόχε', ὤςμεφώναί-/ σ' οὐδ' ἒνἔτ'
ἴκει,// ἀλλάκὰμμὲνγλῶσσα†ἔαγε†, λέπτον/ δ' αὔτικαχρῷ πῦρὐπαδεδρόμηκεν,/
ὀππάτεσσιδ' οὐδ' ἒνὄρημμ', ἐπιρρόμ-/ βεισιδ' ἄκουαι,// κὰδ' δέἴδρωςκακχέεται,
τρόμοςδὲ/ παῖσανἄγρει, χλωροτέραδὲ ποίας/ ἔμμι, τεθνάκηνδ' ὀλίγω 'πιδεύης/
φαίνομ' ἔμ' αὔτᾳ.// ἀλλὰ πὰντόλματον, ἐπεὶ †καὶ πένητα†...
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 434
A dubiedade da persona de Safo
8
As concordâncias da primeira pessoa com adjetivos e particípios no
feminino indicam claramente que se trata de uma persona feminina.
9
Conforme Lidov (1993, p. 527).
10
Para uma crítica às abordagens sexistas que Page e Devereux haviam
oferecido em suas leituras do fr. 31 de Safo, cf. LEFKOWITZ, 1996, p. 29-32.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 435
Rafael Guimarães Tavares da SILVA
Referências
ANNIS, William. ―Sappho: Fragment 31‖. In: Aoidoi.org (July 18, 2004).
Disponível em: http://www.aoidoi.org/poets/sappho/sappho-31.pdf .
MCEVILLEY, Thomas. ―Sappho, Fragment Thirty One: The Face behind the
Mask‖, Phoenix 32 (1978), p. 1-18.
RACE, William H. ―‗That Man‘ in Sappho fr. 31 L-P‖, Classical Antiquity, vol.
2, nº1 (April, 1983), p. 92-101.
SEGAL, Charles. ―Eros and Incantation: Sappho and Oral Poetry‖. In:
GREENE, Ellen (ed.). Reading Sappho – Contemporary Approaches. Berkeley:
University of California Press, 1996, p. 58-78.
TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda Europeia e Modernismo Brasileiro:
Apresentação crítica dos principais manifestos, prefácios e conferências
vanguardistas, de 1857 até hoje. 2. Edição. Petrópolis: Editora Vozes, 1973.
Introdução
para que algo seja dado como verdade. A ideologia, nesse ponto,
assume seu papel de simplificadora das realidades do mundo,
porquanto tende a apresentá-lo através de apenas uma perspectiva
hermenêutica.
Além disso, a narrativa é retórica também pela
performatividade que ela exige dos seus atores e autores no ato de
enunciação. Performance aqui admite dois sentidos. O primeiro,
com efeito, porquanto o ato enunciativo pode ser comparado a um
teatro, na medida em que se trata de processos simbólicos de
representação. Os atores linguageiros, assim como nos afirma
Charaudeau (2008), não apenas representam a fala/escrita com
artimanhas e estratégias retóricas, estilísticas precisas ou com
oratórias magníficas (logos), mas também, já representam a si
mesmos e aos outros pela construção de identidades no discurso
(ethos), na representação de emoções para comover e persuadir o
seu espectador (pathos).
O segundo sentido diz respeito ao caráter da enunciação
como um ato em si, em que os enunciadores visam a agir sobre seus
enunciatários, objetivando fazê-los mudar de estado, de posição, de
ideia, de emoção, de razão. Não à toa, Fiorin (2005) afirma que todo
ato de enunciação é uma performance e toda teoria narrativa é,
antes de mais nada, uma teoria da ação.
Outra importante característica da retórica e da narrativa
está no encontro que ambas têm com a enunciação, uma vez que
ambas entendem a interação como uma coconstrução, ou seja, os
sentidos são construídos pela intersubjetividade e pelos vínculos
sociais e psicológicos que se estabelecem entre os interactantes.
Considero, nesse quesito, as contribuições de Bakhtin (2012) mais
do que importantes. Considerado como um dos primeiros teóricos
da enunciação (apesar de não ter assim se denominado) por uns e
também um analista de discurso avant-la-lettre por outros, o
filósofo russo entendia a interação e a interatividade, intrínseca e
extrínseca ao enunciado, como constituintes do ato enunciativo.
Para ele, a enunciação é tanto dialógica na natureza do próprio
enunciado (intrínseca), pois o enunciado se relaciona, interage com
outros enunciados anteriores e posteriores como um ato responsivo
fundamental; como também é a enunciação dialógica (extrínseca)
porque é sempre uma interação com o outro, com uma alteridade
constitutiva do discurso e que, portanto, apenas faz sentido
levando-se em conta os enquadramentos comunicacionais e
socioculturais que regulamentam o dizer. Dessa forma, a enunciação
Considerações finais
Referências
______. A metáfora viva. Tradução de Dion Davi Macedo. São Paulo: Loyola,
2000.
Naquela época os
habitantes de Tebas
estavam alarmados com
a Esfinge, que vinha
devorando os tebanos,
incapazes de decifrar os
enigmas propostos pelo
monstro, pondo em
perigo a cidade toda.
(Édipo Rei, Sófocles)
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP
Rodrigo Vieira Ávila de AGRELA
O pensamento quer se
tornar ação; o verbo,
carne. E milagre! Tal
como o deus da Bíblia,
basta que o homem
exprima seu pensamento
para que o mundo tome
forma, para que se faça
luz ou treva, para que
as águas se separem da
terra firme ou mesmo
para que surjam feras
selvagens. O mundo é a
rubrica da palavra.
(Heinrich Heine)
1
Primeiro grupo romântico que surgiu na Alemanha, em 1799. Chamado de
Jenaer Romantik ou Romantismo de Jena, dele participaram Novalis, os
irmãos August Schlegel e Friedrich Schlegel, Schelling, entre outros. Os
membros de Jena tinham como principais interesses o estudo da história e
da crítica literárias e a reflexão filosófica. O grupo encerrou-se em 1801.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 458
“Deus era a palavra e a palavra estava com Deus”
Palavras finais
Referências
SOUZA, Roberto Acízelo. Teoria da Literatura. In: JOBIM, José Luís (Org.).
Palavras da Crítica: Tendências e conceitos no estudo da literatura. Rio de
Janeiro: Imago, 1992.
WELLEK, René. Conceitos de crítica. Trad. de Oscar Mendes. São Paulo:
Editora Cultrix, 1963.
Introdução
i. atividades continuadas;
ii. plano de aula – com alguma contribuição da Estilística
(nos moldes de Bakhtin (2013));
iii. aula para o ensino fundamental ou médio;
e, ou
iv. projeto de pesquisa;
Considerações finais
Referências
Introdução
1. Negociação de imagem
1
OLIVEIRA, S. B. Construindo e transformando os processos conceituais:
ações para o desenvolvimento do professor. Tese de doutorado. Programa
de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Faculdade de letras, UFMG,
2009.
2
Como episódios, entendemos o preâmbulo, a aula propriamente dita e o
rito de partida (OLIVEIRA, 2006). Segundo a autora, no preâmbulo
configura-se a interação destinada ao contato social ou marca o início do
evento comunicativo, nesse caso, o início da aula. A aula propriamente dita
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 485
Shirlene Bemfica de OLIVEIRA
Exemplo 1
286 K: (…) Do you remember the three short songs I told you? Do you
remember?
287 S1: No
288 S2: Yes
289 S3: I know
290 K: Good morning song. Don‘t you remember?
291 S1: No
292 S2: mais ou menos
293 K: good morning I said good morning (cantando) morning and after
that?
294 SS: Good morning! Good Morning! Hello and how are you? Early in the
morning, I say good morning, Hello and how are you?
295 K: Vocês lembram de good morning e qual outra?
296 S5: Go go bananas
297 K: boys and girls (cantando)
298 SS Peel banana, peel peel banana, Peel banana, peel peel banana,
shake banana, shake shake banana,
299 banana, shake shake banana, (dançam e balançam o corpo). Go
Banana, go go banana, go Banana, go go
300 banana. (levantam as mãos) Inky winky, foxy woxy, WEEE
301 S1: ah essa aí é legal
302 S2: No
303 K: (continua cantando e alguns alunos acompanham) do you
remember?
304 S3: Essa aí eu lembro
305 S4: Oh professora aquela do make take break como é que é o nome
306 S6: vira cantora professor
307 S5: do the Police every breath you take
308 K: eu estou falando só das short songs porque essas são músicas né,
que dá pra gente ligar com a matéria.
309 Every breath you take is from the The Police.
(Aula 2: linhas 286-309)
Exemplo 2
35 K: I tried, but yes again so I would like to talk to you before we start
our next unit. First of all/
36 S3: next class?
37 K: no next class, THIS CLASS.
38 SS: alright!
39 S4: no next class, this class.
40 S5: WHAT this class?
41 K: yes, ah (+) this period we are going to work with different things
42 (+) I‟m going to speak in English with you of course and after that
43 ah ah (+) we are going to have some exercises in pairs and in
groups too. Communicative activities. We are going to
communicate all the time.
44 S5: in English?
45 K: Yes, in English because we did it (?) right now (+) eh, ah (+) we have
46 no project for this period just awareness, black awareness week,
47 semana da consciência negra on November yeah on November we
48 have black awareness week, we are going to participate of this project
49 and that‘s the only project. I‘m going to participate (+) we have (+) we
50 are going to do listening activities (+) writing activities, reading
51 activities, we are going to talk to each other more and more and
many many exercises (+) I‟m going to leave some copies at
Associação yeah you have to take copies of course (risos dos
alunos)
(Aula 3: linhas 35-51)
Geralmente a professora inicia a unidade desafiando os
alunos a usarem a língua inglesa para discutirem questões
importantes. Os alunos parecem compreender a professora que usa
movimentos com o corpo e a língua materna para se fazer
entendida por todos. Kênia usa a língua inglesa em grande parte de
suas aulas e demonstra ansiedade para que os alunos correspondam
e utilizem a língua alvo na comunicação diária. Percebemos isso
como um ―sinalizador de identificação do grupo‖ de aprendizes da
língua inglesa, marcando e delimitando os objetivos de suas aulas.
Em sua prática, notamos que ela utiliza o pronome nós / we como
estratégia retórica de acolhimento, envolvimento e de participação
do grupo. Todos são convidados a participar da interação, para
alcançar os objetivos de aprendizagem na LI, reforçando a imagem
da interação como meio para a evolução linguística do grupo e como
forma de companherismo. Durante as aulas, a professora também
utiliza estratégias para manter o papel de líder, de comando,
utilizando marcas de discurso diretivo. Estas marcas se
configuraram por meio de recursos verbais como as apresentadas
Exemplo 3
71 Kenia: Alright (+) very good (+++) on number four we have to
72 read about Catherine and Terry ok?
73 Students: yes
74 Kenia: ok (+) as you know (+) on the text ahhh (+++) we have some
75 information about them for example Catherine (+) Catherine
76 smokes ok? smokes ok? Alright? So how can we (+++) ask about
77 Terry?
78 Simon: not
79 Kenia: not?
80 Simon: he doesn‘t smoke
81 Kenia: alright (+) he doesn‘t smoke (+) for example (+) now you are
gonna make it in pairs some questions for example about
Catherine (+++) look at me guys (+) pay attention Warley (+) for
example (+) as you know Catherine smokes so (+) does Catherine
smoke? And you have (+) you have to answer and yes she does (+)
no she doesn‘t (+) did you understand? (+++) come on guys (+)
vamos lá gente (+) deixa eu falar (+) vamos lá
(Aula 1: linhas 69-83)
3
Segundo Schegloff (1968, p. 1080) summons ou linguagem não-verbal são
estratégias para chamar a atenção que podem se configurar por meio de
frases de cortesia, por um termo de tratamento ou por um recurso físico,
como, por exemplo, um tapa nas costas, ou no contexto de sala de aula, as
palmas ritmadas para que os alunos fizessem silêncio.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 489
Shirlene Bemfica de OLIVEIRA
Exemplo 4
229 Kenia: Stop please (+) vocês falam que entendem, mas não sabem
230 virar e perguntar (+) professora por favor (+) vou explicar mais
231 uma vez (+) eu quero que vocês falem (+) eu estou falando com
232 vocês (+) tem um tempão tá e vocês estão olhando um para a cara
233 do outro fingindo que estão falando (+) a situação é essa gente (+)
234 nós vamos sair daquela situação de quadro e nós vamos falar, usar
235 a estrutura do verbo auxiliar (+) vocês já conhecem prestem
236 atenção nesse quadro que eu vou explicar e pela última vez (+) não
237 pela última vez o quanto vocês quiserem (+) mas o problema é que
vocês não correspondem (+) tem que corresponder pra poder saber
onde ta a dúvida de vocês (+) vocês têm aí informações sobre
Catherine (+) tem ou não tem? (+)
Students: tem
Students: yes she does
(Aula 1: linhas 229-283)
Exemplo 5
573 K: /?/ vocês lembram (+) nós vamos fazer (+) o negócio é o
574 seguinte (+) quantos numbers (+) a:::h (+) /?/ one until nine /?/ one
575 (+) two (+) three (+) four (+)
576 SI(1): /?/
577 K: Nine (+)
578 (alunos conversam)
579 SI(2): Seis do seis de dois mil e seis (+) isso que é rima heim?
580 SI(3): Professora como é o nome do exercício?
K: Listening international abbreviations (+) (burburinho na sala)
590 (…)
591 K: hã (+) I will tell you the true story about ymca, ok? /?/ I will tell
592 you.
593 K: let‘s check (+) let‘s check the right meaning, ok? For example (+)
594 what is the meaning of bbc?
595 SI(6): bbc eu acho que é canal (+)
596 (alunos falam simultaneamente)
597 K: /?/ por isso que eu coloquei as letras do alfabeto pra vocês
598 lembrarem (+) /?/)
599 SI(1): o „y‟ eu nem sei como que pronuncia (+) como é que se
600 pronuncia o „y‟?
601 SI(2): cê é BUrro (+)
602 SS: „Y‟/uai/
603 SI(1): Ai?
604 K: „Y‟ /uai/
605 SI(1): „y‟ /uai/ „y‟ /uai/ „y‟ /uai/
606 K: so:: hã:: (+++)
607 SI: esqueceu né professora? esqueceu né professora?
608 K: What is BBC ? Broadcasting British/
609 P: British, but British is first (+)
SI: corporation
P: British Broadcasting Corporation (+)(+++)
K: pra vê se vocês sabiam?
SS: Ha:::::::::::: (risos)
(Aula 1 da professora Kênia: linhas 573-609)
Exemplo 6
578 Kenia: vamos combinar uma coisa, quando for dar a resposta. Dê
579 uma resposta pessoal observe a resposta da sua atividade e se você
tiver e se você observou você dá conta de adequar a sua realidade.
580 Isabel: Where do you live? Where do you live Lucas?
581 Lucas: I live in BH.
582 Isabel: Do you live in a house or a flat?
583 Lucas: I live in a house.
584 Isabel: What do you do in your free time?
585 Lucas: I listen to music.
586 Isabel: What kind of films do you watch?
587 Lucas: I like Xuxa e os Duendes. I like romantic films.
(Aula 3: linhas 572-589)
Exemplo 7
177 Does anybody like bananas?
178 S1: I like (um aluno responde, os outros se mantêm em silêncio)
179 K: Do you like bananas?
180 S1: Do you like bananas?
181 K: Ok, good, guys what do you know about the production (+)
182 production of bananas (fazendo um reparo na pronúncia) or
plantation of bananas in Brazil? What do you know?
183 S2: ah, I don‘t know
184 K: Is it a large plantation or not?
185 S3: There is a plantation all the year
186 K: there is a plantation of bananas all the year?
187 S3: during all the year
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 492
Linguagem positiva no ensino de inglês: análise das estratégias
188 K: Which area do you think has the most plantations of bananas?
189 S3: next to/
190 K: which areas (+) North, South of Brazil?
191 S4: no Brasil todo lado tem banana
192 SS: é
193 K: Minas Gerais I think we have many plantations of banana
194 S3: South of Brazil
195 K: I‘m not sure about it because I didn‘t research many things about
it
196 S4: No Brasil todo tem banana
197 S5: Planta o caule só?
198 K: (não ouve a pergunta do aluno) My (?) is really bad (?) economy or
199 something like that and another question. Do you have the idea that
200 we could clone bananas (+) that bananas could be genetically
modified
201 S5: But why are they clonning bananas?
202 K: Do you have this idea because I think I had the idea that we could
find bananas anywhere? L
203 SS: é
204 S2: Oh, yeah
205 K: mainly in Brazil because because we have ah good seeds good
206 production
207 S3: We don‟t need clonning bananas
208 K: Yeah, we export bananas to other countries
209 S4: We export bananas to other countries
210 K: Ok, but this text reports that we have troubles about plantation
211 about this plantation of bananas here in Brazil. It doesn‘t tell about
212 vitamins on bananas. Ok? It doesn‘t tell us about the benefits of
bananas. I think it is a good product it is the most how can I say
213 S5: rich?
214 K: Yes, it is the most rich fruit
215 S6: richer with vitamins?
216 K: richest, yes richest (+) I received an e-mail talking about this and I
217 was amazed because bananas can cure many diseases skin diseases
218 or cancer or many diseases (+) banana is really a good product, but
nowadays ah Brazilian farmers they need to use products
219 S1: Agrotóxico
220 S2: Agrotoxic
(Aula 3: linhas 177-220)
Exemplo 8
12 K: (risos) dá uma cadeira pra ela aí (+) ah (+) ah:, So since you
13 haven‘t finished that exercise I need you to make a circle here,
14 please (muito ruído de carteiras se arrastando novamente e alunos
conversando alto e rindo)
15 K: I need (+) on your desk (+) only these things (+) right?
16 S1: Quem vai pegar /?/
17 S2: Dá pra chegar um pouquinho pro lado (+++) Oh Marcos (+)
18 K: Marcos arreda um pouquinho pra frente pra gente começar (+++)
19 Maria Paula minha aula já começou (+) vamos fazer como
20 combinado (+) vamos terminar o /?/ e o resto do trabalho (+)
mochilas do lado por favor (+) na mesa somente o material
necessário
21 A3: Paulo, me empresta aí
22 A4: oh professora me dá a folha?
23 A1: oito horas (risos)
24 K: Ok I want /?/ senta aqui até ele pegar (+) só um minutinho (+)
4
Sócio-afetivas: relativas às emoções e relacionamentos com os outros.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 495
Shirlene Bemfica de OLIVEIRA
Referências
Considerações iniciais
1
Luís Gonzaga Travassos da Rosa nasceu em São Paulo, em fevereiro de
1945. Travassos foi ativista e líder estudantil brasileiro durante a ditadura
militar. Em junho de 1968, foi um dos líderes da ―Passeata dos Cem Mil‖,
ocorrida no centro da cidade do Rio de Janeiro.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 500
As (inter)relações de identidade, memória e exotopia
Feliz Ano Velho (1982), Marcelo Rubens Paiva. São Paulo: Círculo do Livro. p.
224.
Feliz Ano Velho (1982), Marcelo Rubens Paiva. São Paulo: Círculo do Livro. p.
225.
2
Grifo meu.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 505
Túlio Sousa VIEIRA
3
Categoria bakhtiniana de sujeito – sujeito dialógico visto em relação às
categorias de dispersão; sujeito em relação intrínseca com a língua.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 508
As (inter)relações de identidade, memória e exotopia
Referências
PAIVA, Marcelo Rubens. Feliz Ano Velho. São Paulo: Círculo do Livro, 1982.
Viviane BITENCOURT
UFMG
Introdução
eu, né? rsrs‖ (ver Fig. 3). Ela reage argumentando que, na parte de
trás do objeto, havia, escrito com a letra da mãe, um registro que
informava o local e que as pessoas ali retratadas eram ela e o pai.
Esse foi um argumento forte e convincente, visto que não só a
imagem a levara a crer que era ela quando criança, devido até
mesmo à semelhança entre as irmãs, mas o registro, que não era um
qualquer, porém da própria mãe, o que conferia um valor de
verdade ao material: ―Tá com a letra da minha mãe, falando que era
meu pai e eu, no Morro Vermelho1, eu custo achar uma foto que eu
tô com cara boa, e agora vc fala que é vc?? Haaaa pelo amor de
deus‖. Contudo, a irmã mais velha não se dá por vencida,
reafirmando ser ela e dizendo até o lugar, que não era Morro
Vermelho, como supostamente dizia o registro da mãe, mas perto
do Rio das Velhas, rio principal que desce a cidade de Raposos,
onde elas cresceram. Mais do que isso, V. ainda se lembra do
momento em que a foto foi tirada, do chinelo de cores diferentes
em cada pé. De um lado, preto, do outro, não se sabe ao certo se era
azul ou amarelo, mas há uma lembrança quase que certa, se é que
se pode confiar nela, de que era uma dessas cores comuns para
chinelos havaianas da época. Para convencer a irmã Ca, foi preciso
enviar para ela imagem de uma outra foto, da mesma época, em que
estavam juntas, mostrando que ela ainda engatinhava. Uma possível
prova concreta de quem está na foto com o pai seria a data que viria
no canto superior, como mostra a Fig. 1, mas esta parte está
rasgada, talvez até propositalmente, nunca se saberá.
Diante da informação sobre a anotação feita pela mãe, V.
pegou a foto original e constatou que, atrás dela, há rastros de
seguinte registro, como mostra a Fig. 2: ―Edson [nome do pai], Ca
[que, por estar cortado, supõe-se ser Carine (...) na rua [do] Barracão
[Amarelo]‖. A informação nem é tão clara, devido às partes
faltantes, o que contribui com a ideia de ser precipitado concluir
que, na foto, fosse a irmã Ca. Mais do que isto, ela talvez não saiba
que, quando ainda era criança, a mãe havia montado um álbum com
as fotos da família em um caderno, provavelmente um ―Tilibras‖, de
1
Mais um ato falso da memória, pois atrás da foto em questão não está
escrito Morro Vermelho, mas Barracão [Amarelo], bairro onde elas moraram
por um tempo. Como Ca já não tinha mais acesso à foto original, apenas a
foto da foto e sem o verso, ela foi levada pela geografia ali exposta a crer
que estivesse escrito ―Morro Vermelho‖ (ver Fig. 2).
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 515
Viviane BITENCOURT
(Fig. 1)
(Fig. 2)
(Fig. 3)
3
É necessário pensar que verdade não necessariamente é real ou única, um
mesmo fato pode ter várias verdades e nem uma ser menos real do que a
outra.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 521
Viviane BITENCOURT
4
Apresentação do site de Kossoy
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 522
Fotografia e memória: a reconstrução do passado
Conclusão
Referências
BUTOR, Michel. O livro como objeto. Repertório. Trad. e org. Leyla Perrone-
Moisés. São Paulo: Perspectiva, 1974.
2. Je est un autre
1
BLANCHOT, 2010, p. 166.
2
LLANSOL, 2011, p. 50.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 527
Zenaide Tamires Costa SANTANA &Telma Borges da SILVA
3
LOPES, 2014, p. 65-66.
4
BLANCHOT, 2011, p. 17.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 528
Maurice Blanchot, Maria Gabriela Llansol e as metamorfoses do vivo
5
BLANCHOT, 2011, p. 91.
6
PELBART, 2013, p. 40.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 529
Zenaide Tamires Costa SANTANA &Telma Borges da SILVA
que escutava música e vivia no seu pêlo castanho
sempre perto da alegria e da morte por ser a melodia do
seu dono inventado; o cão chamava-se Hadewijch e
deitava-se num quarto da casa sobre almofadas,
na sala de jantar,
lugar privilegiado da casa,
onde nunca se comia
e, principalmente,
à cabeceira da mesa;
não quisera ainda morrer;
fora colocar uma garrafa de vinho no armário para os
visitantes que viriam num dos próximos dias
quando sentiu vontade de sentar-se numa das pontas da
mesa, a olhar a profundidade da sala seguinte. Não era
lugar nem muito cheio nem vazio, percebeu
imediatamente que, consigo, outros seres vindos não se
sabe donde se tinham sentado, esperavam; o seu gato e
imagem não entrara, deixara-se ficar na cozinha, na
poltrona em que dormia; um dos seres emitia música,
outro, à distância cerrara-lhe os olhos; Tomás Müntzer,
presente e morto, convidava-a a entrar e a ver sua
morte. 7
A fala de Hadewijch repercute em nós como a fala daquele
que escreve para aquele que lê: perdi a memória; tu és minha
memória e iluminas-me. Llansol poderia assim, sobrepor-se a esta
figura que perdeu a memória, escrevendo mediante as cenas fulgor.
Assim, o texto surgiria como a repetição do próprio gesto da escrita
onde tais figuras são traços do escrever, do ir em direção ao sem
lugar de uma escrita, tornando-se o movimento infinito dos
encontros, abrindo-se sempre ao devir. O escritor este que, sem
memória, como a figura do esgotado mencionada por Pelbart, vê no
outro a possibilidade da memória, isto é, o nascimento do sentido.
Hadewijch, após as diversas metamorfoses que o texto a leva sofrer,
torna-se a figura do pobre – assim, na escrita de Llansol, não há
metáforas e o próprio acontecimento no texto é um acontecimento
real, excede em realidade. A figura do pobre, tornar-se o pobre
aparece-nos como o desejo íntimo do texto. Desejo que parece
encontrar no morrer o seu movimento próprio. Levando-nos, nesse
sentido, ao desmanchamento, como já dito, das categorias de
sujeito e de objeto, pois o desejo do texto é de alcançar a altivez
própria da palavra literária: aquela que nada pode, mas tudo deseja,
7
LLANSOL, 2014, p. 36.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 530
Maurice Blanchot, Maria Gabriela Llansol e as metamorfoses do vivo
sugere-nos Blanchot.8
3. Escrita-fragmento
8
BLANCHOT, 2011, p. 37.
9
LLANSOL, 2011, p. 56.
10
BLANCHOT, 2011, p. 156.
11
BLANCHOT, 2011, p. 156.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 531
Zenaide Tamires Costa SANTANA &Telma Borges da SILVA
12
LLANSOL, 2011, p. 130.
13
LLANSOL, 2011, p. 130.
14
LLANSOL, 2011, p. 112.
15
LLANSOL, 2014, p. 10.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 532
Maurice Blanchot, Maria Gabriela Llansol e as metamorfoses do vivo
o direito inalienável à autonomia do seu sopro de vida, e
à realização de sua natureza‖. Parece-nos ser esta a
grande cena fulgor de seus textos, a tentativa de deslize,
a busca de uma brecha na linguagem, onde o homem se
possa constituir como intensidade, ou seja, distante dos
mecanismos de poder e próximo ao seu sopro de vida.16
16
LEVY, 2011.
17
―O livro das comunidades corresponde essencialmente à passagem de um
dinamismo das ações mundanas – que têm como objetivo a transformação
do exterior – para um dinamismo das ações meditativas – que constituem
uma experiência interior.‖ (LOPES, 2014, p. 63-64).
18
LOPES, 2014, p. 68.
19
LOPES, 2014, p. 66.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 533
Zenaide Tamires Costa SANTANA &Telma Borges da SILVA
4. Encontro-leitura
20
LOPES, 2014, p. 70.
21
LANSOL, 2014, p. 58.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 534
Maurice Blanchot, Maria Gabriela Llansol e as metamorfoses do vivo
22
LOPES, 2014, p. 61
23
LLANSOL, 2014, p. 14
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 535
Zenaide Tamires Costa SANTANA &Telma Borges da SILVA
impossível de viver daquilo que ao direito não se pode
escrever, dupla impossibilidade que, por um ato
suplementar – uma fraude, uma forma de mentira, uma
loucura também – é preciso transformar para adaptá-lo
à ―realidade‖ viva e que escreve.24
A leitura como fruto do encontro entre texto e leitor penetra
o eu e nesse movimento engendra o outro – rachadura – começo
incessante – ali onde nunca se sabe quando começa a vida – o ponto
indeterminado da chama entre o seu apagamento e o seu
crescimento. A escrita que nasce na leitura: começo com a palavra
desejo, ―Olhei para trás e vi que era seguida. O caminho do meu
desejo é inexorável; devo trilhá-lo; exigem-no aqueles com que me
encontro‖.25
Referências
LLANSOL, Maria Gabriela. Finita: Diário II. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
2011.
24
BLANCHOT, 2010, p. 189-190
25
LLANSOL, 2014, p. 87.
Anais da XIV Semana de Letras da UFOP 536
Maurice Blanchot, Maria Gabriela Llansol e as metamorfoses do vivo
Paulo: N-1 edições, 2013.