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CAPÍTULO 3

O Espiritismo e o Evangelho

PERGUNTA: — Por que Allan Kardec fundamentou a


doutrina espírita sobre o Evangelho de Jesus, quando dizia
tratar-se de doutrina filosófica e científica?
RAMATIS: — O Espiritismo é doutrina completamente
liberta de quaisquer ritos, devoções, hierarquias, símbolos
e idolatrias, pois Allan Kardec preocupou-se em evitar que
os postulados da codificação pudessem se abastardar, no
futuro, devido à divergência de interpretações pessoais. Os
ensinamentos espíritas vão diretos ao entendimento do
homem, sem o enigma dos dogmas peculiares das seitas
religiosas. Tudo é claro e fácil; não há vocabulário iniciáti-
co, mistérios ou símbolos que exijam pesquisas demoradas
e análise profunda para suas interpretações.
O codificador sempre considerou o Espiritismo como
Religião, mas num sentido filosófico (e não de seita), cuja
doutrina é de confraternização e comunhão de pensamen-
tos sobre as próprias leis da Natureza. As reuniões espíritas
devem realizar-se com recolhimento e o devido respeito
por ideais tão valiosos e sublimes, como crer em Deus, na
imortalidade da alma, na retificação espiritual através da
reencarnação, na ventura humana, na igualdade de justiça,
na prática da caridade e no exercício incondicional do
Bem. (1)

1 — Idéias contidas no discurso de Allan Kardec, pronunciado na Socieda-


de Parisiense, em 1º de novembro de 1868.

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Ramatís

Em conseqüência, o Espiritismo é realmente doutrina


de “sentido religioso”, uma iniciativa sensata para “religar”
a criatura ao Criador através do processo mais digno do
Espírito imortal. Além de doutrina filosófica e afim à Ciên-
cia do mundo, também prega o culto religioso na sublime
intimidade das criaturas para maior aproximação do Cria-
dor! Allan Kardec reconheceu que não havia Código Moral
mais avançado e eletivo aos propósitos do Espiritismo do
que o Evangelho de Jesus.

PERGUNTA: — Quais foram os principais motivos que


fizeram Allan Kardec preferir o Evangelho de Jesus para
fundamentar a moral de sua doutrina?
RAMATIS: — Em primeiro lugar, porque os ensinamen-
tos de Jesus, assim como os postulados espíritas, são sim-
ples e destituídos de fórmulas ou símbolos complicados.
Ademais, Jesus não exigia que os homens se tornassem
santos ou heróis sob a influência imediata de suas palavras.
Ele ensinava os predicados do Céu no seio da vida em
comum, nas ruas, nas estradas, nos campos, nos lares ou à
beira das praias! O Mestre preferiu conviver entre o povo
aflito e sofredor e que pedia consolações, em vez de inte-
ressar-se pelos poderes políticos ou complicações religiosas
do mundo. Suas máximas eram simples, compreensivas e
fluíam diretamente para o coração dos homens, através de
recomendações inesquecíveis como “Ama ao próximo
como a ti mesmo”, “Faze aos outros o que queres que te
façam”, “Quem se humilha será exaltado” ou “Cada um
colhe conforme suas obras”.
Jamais outro Código Moral tão sublime poderia funda-
mentar o Espiritismo, cuja doutrina também é um modelo
de simplicidade, lógica e libertação. A verdade é que
nenhuma moral ensinada pelos espíritos poderia se compa-
rar com a prédica evangélica que Jesus expôs aos terríco-
las. Allan Kardec, mais uma vez, comprovou a sua elevada
missão entre os homens quando escolheu o Evangelho de

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A Missão do Espiritismo

Jesus para orientar as atividades espíritas.

PERGUNTA: — Os católicos e reformistas contestam o


fato de o Espiritismo interpretar o Evangelho a seu modo, e
apenas o consideram mais um competidor na discussão
milenária das seitas religiosas sobre as atividades de Jesus!
RAMATIS: — Jamais a doutrina espírita pretende isolar-
se na esfera dogmática religiosa de interpretação exclusiva
do Evangelho de Jesus, nem usá-lo como garantia de pon-
tos de vista pessoais. Aliás, o Espiritismo já se consagrou
por cem anos de atividades doutrinárias e realizações ben-
feitoras, sem qualquer imposição religiosa ou conluios polí-
ticos com os poderes do mundo de César. Também não
segue os ensinamentos de Jesus apenas como dogmas ou
princípios estáticos no tempo, mas os divulga entre os
homens pela força dinâmica do que Jesus viveu do berço à
cruz! É o Cristo vivo, cujo calvário e crucificação foram
lições imorredouras de renúncia, perdão e amor aos
homens! O Espiritismo não discute nem faz interpolações
pessoais do que Jesus “disse”, ou o que ele “teria dito”;
basta-lhe o sacrifício de sua vida cumprindo integralmente
todo o bem que ensinou aos homens.

PERGUNTA: — Qual o sentido mais íntimo do Evange-


lho com a doutrina espírita?
RAMATIS: — Sem dúvida, o principal objetivo da doutri-
na espírita é a redenção dos espíritos através de uma reali-
zação consciente e contínua, sem aguardar o milagre da san-
tidade instantânea. O espírita deve interessar-se profunda-
mente pelo seu próprio aperfeiçoamento, independente de
confiar somente nos ensinamentos dos mestres ou doutrina-
dores. Não basta a convicção na imortalidade da alma, mas
principalmente a conversão à moral superior do Cristo!
Em conseqüência, nenhum Código Moral ou Tratado
do Espírito Imortal pode ser mais eletivo à educação e
libertação do espírita do que o Evangelho de Jesus, cujos

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