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Trabalho de Graduação
2018
Orientador
Prof. Dr-Ing. Luís Eduardo Vergueiro Loures da Costa (ITA)
Coorientador
D. Sc. Jonas Bianchini Fulindi (ITA)
ENGENHARIA AERONÁUTICA
2018
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Divisão de Informação e Documentação
Casale, Douglas
Análise funcional de uma constelação de pequenos satélites de comunicações para o
Exército Brasileiro / Douglas Estevam Casale.
São José dos Campos, 2018.
Número de folhas no formato 108f.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
__________________________________
Douglas Estevam Casale
Praça Marechal Eduardo Gomes, 50, Vila das Acácias
12228-900, São José dos Campos-SP
v
Agradecimentos
Agradeço aos Prof. Loures e Jonas pela orientação, amizade, confiança, conhecimento
transmitido e oportunidades apresentadas ao longo desta jornada.
Aos meus pais, Mário e Virgínia, e meu tio Antônio Roberto, que me propiciaram os
estudos que me possibilitaram ingressar no ITA. A meu avô, Antônio, que despertou em mim
o interesse pelas ciências exatas e pela carreira das Armas. A meus irmãos, Daphnnie,
Dreyphus, Dânae e Dan, pelo companheirismo.
À minha esposa Rafaela, pelo apoio, orientação e suporte. Seu amor faz minha vida
muito mais feliz. Você me mostrou um novo modo de ver o mundo, um mundo muito mais feliz
com seu amor.
Aos amigos Breno, Hélio e Jéssica, integrantes da equipe do projeto apresentado neste
trabalho, pelas relevantes contribuições prestadas e ensinamentos transmitidos.
À Lídia, pelas orientações profissionais, acadêmicas, pessoais e pela lição de liderança
transmitida.
Ao Prof. Christopher, meu companheiro nas atividades de engenharia de requisitos
para o projeto SPORT, pela amizade, orientação e conhecimento transmitido.
Aos demais integrantes do Centro Espacial ITA, Linélcio, Emerson, Vinícius, Prof.
Willer, Pedro, Marcél, Edward, Makita, Renan, Denis, Prof. Carrara, Peixoto, Kauê,
Enlardenberg e Carol, que compartilharam seus conhecimentos e experiências ao longo destes
dois anos de estágio. A orientação e apoio da equipe, por cujos membros tenho profunda
admiração, bem como sua forma de organização e dinâmica de trabalho me servirão de
referência tanto no nível técnico quanto de gestão e relacionamento de equipes de engenharia.
Uma parte importante de minha formação devo a vocês.
Ao Maj Paulo César, pelo suporte, orientação e confiança durante o processo seletivo,
que me forneceram as condições para realizar a preparação para esta caminhada.
Ao Ten Cel Diogo e Majores Macedo, Assumpção, Lúcio e Damy, pelas orientações
e apoio.
Ao Exército Brasileiro, que me confiou esta missão, e à Força Aérea Brasileira, pela
acolhida e conhecimentos transmitidos.
vii
Resumo
Abstract
Sumário
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 12
1.1 Objetivos .................................................................................................................. 16
1.2 Delimitações do trabalho ....................................................................................... 16
1.3 Estrutura do texto ................................................................................................... 17
3 MÉTODO ........................................................................................................................ 39
3.1 Etapa 1: Iniciação ................................................................................................... 42
3.1.1 Atividade 1.1: Alinhamento entre os principais stakeholders .................................. 43
3.1.2 Atividade 1.2: Definição e mobilização da equipe de projeto .................................. 44
3.2 Etapa 2: Benchmarking .......................................................................................... 45
3.2.1 Atividade 2.1: Definição dos critérios de benchmarking ......................................... 46
3.2.2 Atividade 2.2: Pesquisa de benchmarking ................................................................ 47
3.3 Etapa 3: Objetivos e metas .................................................................................... 48
3.3.1 Atividade 3.1: Síntese das expectativas dos stakeholders ........................................ 49
3.3.2 Atividade 3.2: Definição dos objetivos e metas do projeto ...................................... 51
3.4 Etapa 4: Conceito de operações ............................................................................. 51
3.4.1 Atividade 4.1: Determinação dos parâmetros chave de desempenho (KPPs) .......... 53
3.4.2 Atividade 4.2: Desenvolvimento do contexto e arquitetura operacionais ................ 54
3.4.3 Atividade 4.3: Identificação das condições ambientais ............................................ 56
3.5 Etapa 5: Arquitetura funcional ............................................................................. 56
3.5.1 Atividade 5.1: Identificação de funções do sistema ................................................. 57
5 CONCLUSÕES............................................................................................................. 101
1 Introdução
Uma vantagem desta solução é o fato de a difusão da radiofrequência ficar restrita a uma
área menor do terreno, com alcance limitado pela potência utilizada nas antenas e pela
sensibilidade dos receptores. Isto favorece as medidas de guerra eletrônica, por diminuir os
riscos de interceptação do sinal pelo inimigo. Por outro lado, isto também se constitui em
desvantagem, por fornecer cobertura apenas local e não permitir a ligação direta com grandes
comandos localizados a maior distância.
Além disso, com o aumento do uso de VANTs para prática de crimes, recentemente
foram desenvolvidos diversos meios para interferir ou derrubar esses veículos, como por meio
de radiofrequência (DEFESANET, 2018), lançadores de redes similares às de pesca
(WALTRICK, 2016), VANTs que perseguem e destroem outros VANTs (ALECRIM, 2016), e
até mesmo águias treinadas (HIRATA, 2017), tornando este tipo de solução vulnerável para
atender à demanda de cobertura persistente em toda a região amazônica, embora possa ter
aplicação militar para operações pontuais, de duração determinada e que demandem a uma área
de cobertura menor.
Desta forma, uma solução possível para o problema de comunicação em locais remotos,
como a região de selva amazônica, é a utilização de comunicações baseadas em satélite
(RAUPP, 2012). Sá (2015) observou que o emprego destes sistemas espaciais contribuirá para
a redução dos custos estatais decorrentes de ações do crime organizado, devido ao aumento
proporcionado na eficiência da vigilância e ações de polícia nas fronteiras.
Alinhado a este contexto, o decreto 6.703, de 18 de dezembro de 2008 (BRASIL, 2008),
que aprovou a Estratégia Nacional de Defesa, prevê a promoção da presença do Estado na
região amazônica e o fomento da atividade espacial, com ênfase em satélites
“geoestacionários”. A Estratégia Nacional de Defesa é vinculada à Estratégia Nacional de
Desenvolvimento, de modo que as questões econômicas e industriais relacionadas aos assuntos
de defesa foram associadas. Como observação, nota-se um possível lapso técnico da autoridade
no texto da norma, ao referir-se a “geoestacionários”, visto que a órbita geoestacionária é um
caso particular de órbita geossíncrona, quando a inclinação é nula. Neste trabalho considera-se
que a intenção da autoridade foi referir-se a “geossíncronos”, que é o conceito mais geral para
este tipo de órbita.
Atualmente as Forças Armadas brasileiras utilizam os satélites geossíncronos (GEO) de
empresas privadas, chamados Star One C1 e Star One C2, cuja vida útil se encerrará por volta
de 2020, e o estatal Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC)
(GUNTER’S SPACE, 2018a; BONINO, 2017). Nenhum destes satélites atende às tropas que
14
1.1 Objetivos
2 Revisão da literatura
Este capítulo apresenta a fundamentação teórica para os principais temas deste trabalho:
engenharia de sistemas e pequenos satélites.
A primeira seção apresenta as principais abordagens e conceitos utilizados em
engenharia de sistemas. A segunda seção trata de pequenos satélites. Ao final do capítulo, é
discutido o posicionamento do presente trabalho em relação a outros correlatos.
Esta seção apresenta definições para sistema, engenharia de sistemas e as suas principais
abordagens e conceitos relacionados. Ao final desta seção é dado enfoque à fase de estudo
conceitual do sistema, por ser a fase na qual o presente trabalho está inserido.
2.1.1 Sistema
Sistemas são, ainda, delimitados por fronteiras, que definem o que é interno e
pertencente ao mesmo e o que está inserido em um contexto maior. Por exemplo, quando se
trata do sistema de distribuição de combustível, na Figura 2, a elipse que o circunda representa
sua fronteira. Os elementos externos a esta fronteira (ex. sistema de aeroportos, sistema de
controle de tráfego aéreo) representam o contexto maior (KOSSIAKOFF; SWEET, 2003;
INCOSE, 2015).
Na Figura 2 nota-se também que há vários sistemas representados. Isto porque sistemas
costumam operar se relacionando entre si. Para se manter a clareza sobre a que se está referindo
ao usar a palavra “sistema”, utiliza-se o conceito de sistema de interesse (SoI). Para o exemplo
tratado, a gestão de transporte rodoviário poderia determinar o sistema de transporte terrestre
como sendo o seu sistema de interesse. (INCOSE, 2015).
Um sistema de interesse cujos elementos sejam gerencialmente ou operacionalmente
sistemas independentes é definido pelo INCOSE (2015) e por Larson et al. (2009) como um
sistema de sistemas (SoS). Kossiakoff e Sweet (2003) empregam a nomenclatura
“supersistema” para este mesmo conceito. Na Figura 2, exemplos de SoS são o sistema de
transporte e o sistema de transporte aéreo. Pode-se observar que no interior das fronteiras destes
dois sistemas estão compreendidos outros sistemas, como o próprio sistema de transporte aéreo
é um sistema integrante do sistema de transporte.
No contexto deste trabalho, que trata de produtos e sistemas de elevado grau de
complexidade, os termos produtos e sistemas são equivalentes. Os termos desenvolvimento de
produtos e desenvolvimento de sistemas também são sinônimos.
gerenciamento do sistema é a ciência, com uma abordagem quantitativa, que pode ser repetida
e demonstrada. Os autores afirmam que projetos dominados somente pela ciência costumam
resultar em insucesso em atender aos interessados ou tornam-se excessivamente custosos.
A Cooperação Europeia para Padronização Espacial (ECSS, 2009) contextualiza a
engenharia de sistemas, apresentando suas interfaces com o gerenciamento, a produção,
operações e logística e garantia de produto (Figura 3). As funções compreendidas em
engenharia de sistemas são:
Engenharia de requisitos, englobando as atividades de análise e validação,
alocação e manutenção de requisitos;
Análise, para resolver conflitos nos requisitos, decompô-los e alocá-los durante
a análise funcional, avaliar a eficácia do sistema, além de complementar os testes
e fornecer estudos de mercado;
Design e configuração, que define as características funcionais e a arquitetura
física do sistema;
Verificação, para verificar se o sistema produzido atende aos requisitos;
Integração e controle da engenharia de sistemas, para assegurar a integração
das diferentes áreas envolvidas no projeto.
Para estimar um valor ponto ótimo para investimento em engenharia de sistemas, Eric
Honour, em conjunto com a Universidade da Austrália Meridional, realizou um estudo
relacionando o percentual de investimento em engenharia de sistemas e a razão entre custos e
prazos totais e planejados do projeto. Os pesquisadores concluíram que a alocação de cerca de
14% do orçamento do projeto em atividades de engenharia de sistemas minimiza tanto o custo
total quanto o tempo demandados pelo mesmo, em relação aos valores previstos. O resultado
para custo consta da Figura 4, em que a curva representa a razão entre o custo real pelo custo
planejado (HONOUR, 2013, apud INCOSE, 2015).
gerenciamento dos dados de engenharia, bem como uma verificação mais precoce da correção
destes dados.
Douglass (2016), em sua obra, foca nos modelos em SysML (linguagem computacional
de modelagem de sistemas), e recomenda uma abordagem baseada no Manifesto Ágil para
implementar a MBSE, que o autor chamou de agile MBSE (aMBSE).
O Manifesto Ágil (Agile Manifesto) foi apresentado em 2001, sendo originalmente
formulado para desenvolvimento de software. Baseado em doze princípios, este manifesto
busca valorizar os indivíduos e suas interações acima dos processos e ferramentas, software
funcionando acima da documentação completa, a colaboração com os stakeholders acima da
negociação de contratos, e a adaptabilidade a mudanças acima de seguir um plano (AGILE,
2001; DOUGLASS, 2016; LOURES DA COSTA; FULINDI, 2018). Diversos modelos de
desenvolvimento de software surgiram em conformidade com o Manifesto Ágil, como o Scrum,
Crystal, Programação Extrema (XP), Desenvolvimento de Software Adaptativo (ASD)
(AGILE, 2001; PINTO, 2014).
Com a finalidade de aplicar o Manifesto Ágil também à área de engenharia de sistemas,
Douglass (2016) reformulou seus doze princípios originais, adaptando-os para o novo contexto.
O resultado é apresentado a seguir:
A prioridade é satisfazer o stakeholder através da entrega contínua e adiantada
de especificações e sistemas que atendam a suas necessidades;
Mudanças nos requisitos, ainda que tardias, são vistas positivamente quando
visam à vantagem competitiva para os stakeholders;
Entregar frequentemente produtos funcionais de engenharia de sistemas, em
intervalos de tempo os menores possíveis;
A área de negócios e os desenvolvedores devem trabalhar em conjunto
diariamente por todo o projeto;
A motivação dos indivíduos, a confiança na equipe, o ambiente de trabalho e o
suporte são fatores importantes no desenvolvimento;
A comunicação presencial é o método mais eficiente e eficaz de
transmitir informações;
Dados de engenharia verificados são a medida primária de progresso;
29
Neste trabalho, será dada ênfase à abordagem de Kossiakoff e Sweet (2003), que
dividem o estudo (ou desenvolvimento) conceitual em três fases: análise das necessidades,
exploração de conceitos e definição do conceito.
Durante a análise das necessidades é verificado se existe uma necessidade que
justifique o desenvolvimento de um novo sistema (KOSSIAKOFF; SWEET, 2003). Ainda
nesta fase são refinadas e validadas as necessidades expressas pelos stakeholders. O contato
entre stakeholders e a equipe de desenvolvimento é normalmente realizado por meio de
entrevistas e reuniões, e é comum o stakeholder não ter uma visão clara a respeito do que
realmente precisa ou não saber expressar sua necessidade, confundindo problema com solução
(LARSON et al., 2009).
Por exemplo, suponha-se que um fabricante de computadores que reporte à equipe de
engenharia de sistemas que deseja uma bateria com maior capacidade (normalmente mais cara).
Contudo esta mudança na bateria é apenas uma das soluções possíveis, e talvez o aumento de
eficiência de algum dos componentes do computador possa ser uma solução mais viável. Se o
consumidor alvo não demandar desempenho gráfico elevado, pode-se substituir a placa de
vídeo para uma de menor potência, ou mesmo retirá-la do sistema. Desta forma, aquilo que o
fabricante desejava, na verdade, poderia ser aumentar a autonomia de um de seus modelos de
computadores quando fora da tomada.
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Para mitigar ocorrências em que o stakeholder confunde problema com solução, como
no exemplo anterior, Larson et al. (2009) propõem que as entrevistas sejam estruturadas de
modo a seguir os seguintes princípios:
Não influenciar as respostas dos stakeholders, deixando-os livres para se
expressarem à sua maneira
Fazer perguntas abertas, evitando questões com alternativas que possam
influenciar as respostas ou perguntas do tipo “sim ou não”
Anotar as respostas na linguagem dos stakeholders
Adicionalmente, Goodwin (2009) apresenta diretrizes para a condução das entrevistas,
entre as quais iniciar por uma revisão das expectativas iniciais e o que é esperado de cada um
dos participantes, solicitar a opinião dos stakeholders a respeito das dificuldades enfrentadas e
quais abordagens lhes parecem ser eficientes ou não.
Uma vez conhecidas as necessidades dos stakeholders, podem-se estabelecer objetivos
e metas, que detalham as expectativas dos stakeholders com relação ao projeto. Os objetivos
são normalmente qualitativos e descritivos, enquanto as metas são quantitativas (LARSON et
al., 2009). Os valores numéricos das metas podem ser relacionados tanto a uma taxa ou
quantidade verificável por “teste, análise, simulação e modelagem, inspeção ou demonstração”
(LARSON et al., 2009, p. 444), ou quanto ao nível de satisfação do stakeholder (FULINDI,
2017). Rozenfeld et al. (2006) e Back et al. (2008) tratam o documento que apresenta a
justificativa para o desenvolvimento do sistema e desempenho que ele deve apresentar (seus
objetivos e metas) como escopo do produto, e em seu modelo este escopo é definido durante a
fase de planejamento do projeto.
Após a definição dos objetivos e metas do projeto, Larson et al. (2009) propõem a
identificação do conceito de operações (ConOps) do sistema. O conceito de operações esclarece
e documenta como os stakeholders utilizarão o sistema em diferentes estágios e ambientes
(INCOSE, 2015), e apresenta o contraste entre como os sistemas atuais se relacionam
operacionalmente e os processos em vigor (“As-is”) e o que se pretende obter uma vez que o
sistema a ser desenvolvido esteja em operação (“To-be”). O conceito de operações é realizado
com intuito de melhorar a qualidade do processo de tradução das necessidades dos stakeholders
em requisitos e entender os requisitos que a arquitetura deve satisfazer, de acordo com
necessidade de missão identificada (LARSON et al., 2009).
O Department of Defense Systems Management College (2001, p. 38) afirma que o
conceito de operações deve conter as seguintes informações: definição da necessidade de
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Douglass (2016) argumenta que as etapas de 3 a 8 podem ter sua ordem alterada entre
si ou ser simultâneas. Ainda assim, o processo de definição da arquitetura continua iniciando
pela identificação de elementos do sistema, para só depois atribuir-lhes funções, o que é
refutado por Loures da Costa e Fulindi (2018), Friedenthal, Moore e Steiner (2015) e Back et
al. (2008), que defendem que as funções sejam definidas primeiro, e, em seguida, sejam
alocados os elementos que as desempenharão.
Para finalizar a fase de análise das necessidades, Kossiakoff e Sweet (2003) propõem a
definição de viabilidade de implementação, que resulta na descrição de um conceito coerente
para uma implementação física do sistema, e uma validação das necessidades dos stakeholders.
Durante a fase de exploração de conceitos proposta por Kossiakoff e Sweet (2003) são
realizadas as atividades de análise dos requisitos operacionais e formulação dos requisitos de
desempenho. Rozenfeld et al. (2006) e Back et al. (2008) classificam estas atividades,
juntamente com a análise de viabilidade econômica e a revisão do escopo do produto, como
integrantes da fase de projeto informacional.
Kossiakoff e Sweet (2003) acrescentam que, nesta fase, deve ocorrer ainda a exploração
de opções de conceitos viáveis para implementação física do sistema e a validação dos
requisitos de desempenho.
A definição do conceito de Kossiakoff e Sweet (2003) é a fase em que são realizadas a
análise dos requisitos de desempenho, a formulação e análise funcional, a seleção e validação
do conceito (KOSSIAKOFF; SWEET, 2003).
O INCOSE (2015) refere-se à seleção do conceito como o terceiro passo do que nomeia
estágio conceitual, conforme apresentado na Figura 7. Entre as atividades que podem ser
realizadas neste estágio, o INCOSE (2015) lista a definição do conceito de operações, o estudo
de conceitos alternativos, a construção de modelos de engenharia, simulações e protótipos para
elementos críticos, auxiliando na análise de viabilidade dos conceitos.
Após o desenvolvimento conceitual são desenvolvidas outras atividades ligadas ao
detalhamento da documentação do produto e seus componentes, preparação para a produção e
lançamento (ROZENFELD et al., 2006; HALL, 1962; KOSSIAKOFF; SWEET, 2003).
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São considerados pequenos os satélites com massa até 100 kg. Há variação nas
definições (SCHILLING; BRIEß, 2008, apud SCHMIDT, 2011), mas usualmente os pequenos
satélites são divididos nas seguintes subcategorias:
Femtossatélite, quando a massa é inferior a 100 g (TRISTANCHO, 2010);
Picossatélite, com massa entre 100g e 1 kg (TRISTANCHO, 2010);
Nanossatélites, aqueles com massa compreendida entre 1 e 10 kg (HAEUSLER;
WIEDEMANN, 2008 apud SCHMIDT, 2011; TRISTANCHO, 2010);
Microssatélites, são aqueles entre 10 e 100 kg (HAEUSLER; WIEDEMANN,
2008 apud SCHMIDT, 2011; TRISTANCHO, 2010).
Uma configuração muito adotada para pequenos satélites é chamada de CubeSat.
CubeSats são baseados em plataformas modulares e padronizadas, cuja filosofia original era de
desenvolvimento de 1 a 2 anos realizado por universidades (WERTZ; EVERETT; PUSCHELL,
2011). O padrão para CubeSats é baseado em unidades cúbicas (Us), de 10 cm de aresta e de
massa inferior a 1,33 kg, tendo sido criado pelos professores Jordi Puig-Suari e Robert Twiggs,
em 1999. O custo de seu desenvolvimento, construção, testes e lançamento somados costuma
variar entre USD 50.000,00 e 200.000,00, dependendo dos equipamentos e instrumentos
embarcados (SELVA; KREJCI, 2012).
Os satélites usualmente são divididos em duas partes principais: cargas úteis e
plataforma. As cargas úteis são os subsistemas e componentes voltados à satisfação da
necessidade dos stakeholders, enquanto a plataforma fornece suporte, energia e comunicações
às cargas úteis (FORTESCUE; SWINERD; STARK, 2011; WERTZ, EVERETT; PUSCHELL,
2011).
Subsistemas de comunicações podem ser tanto integrantes exclusivamente da
plataforma, quanto da plataforma e das cargas úteis, a depender da missão do satélite. Os
subsistemas de comunicações permitem o contato entre o satélite e a estação de solo ou outros
satélites, transmitindo tanto dados das cargas úteis quanto da plataforma, além de receber
telecomandos (comandos do solo para o satélite) (POGHOSYAN; GOLKAR, 2017).
Com relação à taxa de transmissão, CubeSats têm atingido de 9,6 kbps a 3 Mbps,
utilizando as bandas UHF e VHF (BOUWMEESTER, 2010; MURI; McNAIR, 2012; FISH et
al., 2012 apud POGHOSYAN; GOLKAR, 2017). Contudo, atualmente estão sendo
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desenvolvidos CubeSats de 1,5 U visando a atingir 100 Mbps em banda Ka (NASA, 2018), e
500 Mbps com comunicação óptica (JANSON et al., 2015, apud POGHOSYAN; GOLKAR,
2017).
Schmidt (2011) afirma que, com os avanços tecnológicos realizados na área dos
pequenos satélites, observa-se a tendência de que progressivamente venham a desempenhar
missões antes reservadas aos satélites maiores, com vantagens sobre estes tais quais ciclo de
desenvolvimento mais rápido, menores custos de desenvolvimento e lançamento. Geralmente
pequenos satélites são lançados como carga secundária, em conjunto com outros pequenos
satélites e/ou acompanhando um satélite maior. Como Karabeyoglu et al. (2005 apud
SCHMIDT, 2011) ressaltam, o custo para se levar um objeto ao espaço possui uma relação
direta com sua massa, de modo que ao se reduzir a massa do satélite, reduz-se também seu custo
de lançamento.
Desta forma, Woellert et al. (2011) apresentam em seu trabalho que seu
desenvolvimento é uma alternativa para países emergentes terem acesso ao espaço, bem como
promoverem seu aprimoramento científico e tecnológico.
Pequenos satélites têm, ainda, sido de interesse para aplicações militares, o que se pode
verificar pelos programas Space Missile Defense Command - Operational Nanosatellite Effect
(SMDC-ONE) e SMDC Nanosatellite Program (SNaP), desenvolvidos pelo Exército do EUA,
visando à realização de estudos relativos ao estabelecimento de comunicações com rádios
militares padrão a distância (GUNTER’S SPACE, 2018b) e ao desenvolvimento de rádios
definidos por software para comunicação além da linha de visada com usuários móveis que
estejam em locais remotos (GUNTER’S SPACE, 2018c), respectivamente.
sim em conjunto com processos de engenharia de sistemas tradicional (ESTEFAN, 2008, apud
SEBOK CONTRIBUTORS, 2016; INCOSE, 2014).
Alinhado com este contexto, no capítulo 3 será apresentado um método híbrido para a
fase de análise de necessidades do estudo conceitual, combinando engenharia de sistemas
baseada em documentação e MBSE, a partir da integração das proposições de Hall (1962);
Kossiakoff e Sweet (2003); Rozenfeld et al. (2006); Larson et al. (2009); Fortescue, Swinerd e
Stark (2011); Wertz, Everett e Puschell (2011); PMI (2013); INCOSE (2015); Douglass (2016)
e Loures da Costa e Fulindi (2018). Este método será aplicado à análise funcional de uma
constelação de pequenos satélites de comunicações para o Exército Brasileiro, de forma a
apresentar uma solução ao problema proposto neste trabalho.
39
3 Método
dos nós operacionais. Na quinta etapa (Arquitetura funcional), partindo dos cenários de
operações, é identificada a arquitetura funcional do sistema de interesse.
serão consultados. Para a definição e mobilização da equipe de projeto, também se julgou que
não haveria aplicabilidade para a utilização de modelos.
Com relação ao Benchmarking (Etapa 2), por consistir em uma pesquisa acerca de
características técnicas que, em geral, resulta em tabelas comparativas, não se vislumbram
benefícios que justifiquem o emprego de modelos.
Já para a terceira etapa (Objetivos e metas), propõe-se que seus resultados sejam
incorporados aos modelos em SysML gerados para gerenciamento de requisitos, com o objetivo
de manter consistência e a rastreabilidade nos documentos. Assim, sugere-se a utilização de
elementos de MBSE para contribuir com a segunda atividade desempenhada nesta etapa.
Para a quarta etapa (Conceito de operações), propõe-se a utilização de diagramas para
representar os contextos e sequências de operações referentes ao sistema. Embora estes
diagramas sejam modelos, não há consenso na literatura para se classificar esta etapa como uma
abordagem a partir de MBSE. Os próprios autores em que se baseou a estruturação desta etapa,
Larson et al. (2009), apresentam estes diagramas em sua obra sem relacioná-los à MBSE.
A maneira proposta neste trabalho para estruturar a quinta etapa, arquitetura funcional,
prevê a utilização de elementos de MBSE, na forma dos diagramas de sequência e em SysML.
A intenção ao se utilizar estas ferramentas nesta etapa é beneficiar-se da automatização na
geração de representações alternativas (modelos ou textuais) e da rastreabilidade dos requisitos,
melhorando sua consistência e controle, conforme defende Douglass (2016). Por exemplo, no
caso de se excluir um requisito de mais alto nível, os requisitos derivados exclusivamente dele
podem ser excluídos automaticamente, evitando problemas de desatualização devido à presença
de requisitos que tenham perdido sua rationale, isto é, sua razão de existir no projeto.
Cabe ressaltar que, dado o caráter iterativo dos processos baseados em engenharia de
sistemas, a estruturação em etapas não significa que o modelo seja sequencial. Ocorre, ao longo
do processo de desenvolvimento, sobreposição de etapas, interação entre os stakeholders (que
não é restrita às entrevistas com os stakeholders) e possíveis mudanças e alterações que levam
à revisão de etapas anteriores.
Assim, o método proposto é alinhado com o Manifesto Ágil (AGILE, 2001), na medida
em que, na busca pelo desenvolvimento eficiente de um pequeno satélite, são valorizados os
indivíduos e suas interações acima dos processos e ferramentas, requisitos corretos e
verificáveis acima da documentação completa, a colaboração entre os stakeholders acima da
negociação de contratos, e a adaptabilidade a mudanças acima de seguir um plano.
42
A fim de se iniciar o projeto, são necessárias informações para definição de seu escopo,
isto é, qual a finalidade do projeto, qual o prazo para lançamento do produto ou início de
operação do sistema e qual a disponibilidade de recursos ou estimativa de custo. Estas
atividades estão contempladas nas obras de Back et al. (2008) e Rozenfeld et al. (2006) na fase
de planejamento do projeto. Estes autores também elencam outras atividades para esta fase,
como definição de cronograma estabelecendo prazos para os principais marcos do processo de
desenvolvimento, como datas das revisões de projeto, entre outros (e não apenas prazo para
término), elaboração do plano de gestão de riscos, plano de segurança, plano de suprimentos e
gerenciamento das comunicações.
Propõe-se que esta etapa seja dividida em duas atividades, a Atividade 1.1 e a Atividade
1.2. Na Atividade 1.1 é realizado o alinhamento entre os principais stakeholders. A Atividade
1.2 tem como objetivo definir e mobilizar a equipe de projeto. A Tabela 1 apresenta os
objetivos, informações de entrada, métodos e ferramentas, envolvidos e resultados obtidos após
a finalização desta etapa.
Informações de Métodos e
Atividade Objetivos Envolvidos Resultados
entrada ferramentas
1.1: -Definir o -Informações -Reuniões -Responsáveis -Escopo do
Alinhamen- escopo do preliminares sobre designados projeto
to entre os projeto os stakeholders e pela
principais suas funções organização -Autorização
stakehol- -Decidir desenvolve- para início do
ders pelo início -Informações dora projeto
do projeto preliminares sobre
a necessidade dos -Stakeholders
stakeholders externos
externos
1.2: -Definir a -Escopo do -Reuniões -Responsáveis -Equipe de
Definição e equipe de projeto designados projeto definida
mobilização projeto pela e mobilizada
da equipe do organização
projeto -Mobilizar a desenvolve-
equipe de dora
projeto
43
apresentadas neste parágrafo não são objeto de estudo e aprofundamento deste trabalho, tendo
um caráter de contextualização e sugestão.
Como resultado desta atividade, representantes da organização desenvolvedora e os
demais stakeholders devem estabelecer o escopo do projeto, incluindo a necessidade de missão,
o tipo de solução de projeto, o orçamento preliminar e o prazo de execução. Por último, estando
todos de acordo, deve-se autorizar o início do projeto, por meio da formalização de sua
aprovação e contratação. Não será apresentada neste trabalho a estruturação dos processos de
aprovação e contratação de projetos. Da parte da organização desenvolvedora, devem ser
elencados colaboradores estratégicos para participar dessas reuniões, podendo incluir
presidente, diretor, coordenador, gerente, engenheiro de sistemas, assessor jurídico ou outros.
A definição, mesmo que preliminar, do orçamento e do prazo de execução do projeto
são importantes, pois apresentam restrições que irão se aplicar em decisões ao longo de todo o
desenvolvimento do projeto.
Para finalizar a etapa de iniciação, propõe-se a realização de uma reunião para apresentar
o escopo preliminar do projeto à equipe, as funções de cada pessoa e oficializar o início do
desenvolvimento.
45
Uma vez que a equipe seja informada a respeito do escopo preliminar do projeto,
propõe-se que ela se reúna para estabelecer os critérios de seleção de sistemas a serem
estudados no benchmarking e quais as características técnicas de cada sistema que devem ser
analisadas.
Os critérios de seleção de sistemas são aqueles que estabelecem se um sistema será
usado como modelo comparativo no benchmarking. Um exemplo de critério é a data de
desenvolvimento do sistema, para filtrar apenas soluções mais recentes. Outro critério poderia
ser a quantidade de informações disponíveis a respeito dos sistemas.
Características técnicas relevantes são ligadas à arquitetura ou desempenho dos
sistemas, como massa, alcance de transmissão, tipo de motor utilizado em uma aeronave e de
computador de missão. Estas características servirão para que, após realizar a seleção dos
sistemas alvo de estudo, a equipe possa compreender e comparar cada um deles.
Para a realização desta atividade, propõe-se que sejam empregados métodos intuitivos
de geração de concepções e ideias, como brainstorming (BACK et al., 2008).
Ao final desta atividade deve-se confeccionar uma lista com os critérios para seleção
dos sistemas que serão estudados e uma tabela com as características técnicas julgadas
relevantes, que serão os parâmetros de comparação entre os sistemas elencados. Deve-se ainda
justificar a eleição de cada característica técnica, mostrando sua importância para o sucesso do
sistema. Desta forma, a intenção é estabelecer um ambiente fundamentado para a análise e
comparação das soluções pesquisadas no benchmarking. A Tabela 4 e a Tabela 5 são modelos
de saídas desta atividade.
por Larson et al. (2009), antevendo requisitos de interface e restrições impostas pelos demais
subsistemas.
A terceira etapa tem como objetivo consolidar o entendimento das necessidades dos
stakeholders, seguindo a característica iterativa do processo de engenharia de sistemas, além de
identificar as expectativas dos stakeholders e definir os objetivos e metas do projeto. A
importância desta etapa consiste na possibilidade de avaliar quantitativamente o nível de
desempenho requerido do sistema. Para isso, propõe-se a realização das atividades expostas na
Tabela 8.
49
Nesta etapa, bem como ao longo de todo o processo de desenvolvimento, é possível que
sejam excluídos stakeholders (por saírem do projeto, por exemplo) ou identificados novos
stakeholders, demandando atualização da relação de entidades envolvidas no projeto, conforme
propõe Larson et al. (2009). Esta medida reduz a possibilidade de não se envolver todos os
principais stakeholders no processo, o que poderia resultar em uma posterior formulação de
requisitos incompleta.
É possível ainda que as necessidades para alguns dos stakeholders sejam reavaliadas.
Como consequência, pode ser que atividades anteriores tenham de ser realizadas novamente
com os novos stakeholders, ou para esclarecer demandas que tenham surgido, o que está
compreendido no caráter iterativo do método proposto. No entanto, isto não significa que as
etapas posteriores serão adiadas, pois o modelo de desenvolvimento, coerente com o proposto
por Larson et al. (2009) e apresentado na revisão da literatura, é favorável ao desempenho
simultâneo das atividades.
50
Ainda, conforme apresentado por PMI (2013), é importante que cada alteração na
documentação proposta pelos envolvidos seja documentada e assinada pelo demandante, para
evitar contestações futuras.
Assim, para a execução da atividade de síntese das expectativas dos stakeholders,
propõe-se que a equipe de projeto, partindo da lista consolidada dos principais stakeholders,
selecione, por meio de reuniões internas, quais deverão ser entrevistados. Isto porque nem todos
os stakeholders precisam, obrigatoriamente, ser consultados.
A equipe de desenvolvimento deve ter consciência de que há diversos interesses
conflitantes durante um projeto, e deve manter contato com os diversos departamentos de sua
organização (incluindo os departamentos jurídico e de marketing) e com os demais
stakeholders, para não comprometer o processo de desenvolvimento. Deve, ainda, monitorar a
existência de stakeholders negativos, e as consequências de suas ações para o projeto (PMI,
2013).
Assim, uma vez selecionados os stakeholders externos a serem entrevistados, propõe-
se a realização de entrevistas estruturadas de modo a seguir aos princípios defendidos por
Goodwin (2009) e Larson et al. (2009), apresentados na revisão da literatura deste trabalho
(capítulo 2).
Com relação a seu conteúdo, propõe-se que, alinhada com os autores citados acima, a
entrevista inclua ao menos os seguintes tópicos:
1. Apresentar o objetivo da reunião;
2. Apresentar o escopo preliminar do projeto;
3. Questionar a respeito das expectativas do stakeholder para o sistema;
4. Questionar quais os indicadores e parâmetros de sucesso;
5. Quais os sistemas e estruturas já existentes com os quais o sistema deverá ter
interface;
6. Quais outros stakeholders importantes sugere-se entrevistar.
Deste modo, ao final desta atividade, por meio das entrevistas realizadas e da utilização
de métodos intuitivos de geração de ideias, devem-se sintetizar as expectativas de cada
stakeholder do projeto.
51
Uma vez conhecidas as necessidades dos stakeholders propõe-se que, com a finalidade
de esclarecer, detalhar e traduzir em linguagem de engenharia as expectativas dos stakeholders
com o projeto, sejam definidos os objetivos e metas do projeto, conforme defendem Larson et
al. (2009).
Assim, propõe-se que, partindo do escopo do projeto, das informações a respeito das
expectativas dos stakeholders e das referências para o projeto obtidas no benchmarking, a
equipe realize entrevistas com os stakeholders para definir, qualitativamente (objetivos) e
também por meio de valores numéricos (metas), as medidas que expressem a satisfação da
necessidade de missão e das expectativas dos stakeholders. Sugere-se que deve haver um
membro responsável por verificar e gerenciar este documento, de modo a manter o controle
sobre as versões do documento. Larson et al. (2009) propõem que este responsável seja o
engenheiro de sistemas.
Para a realizar a quantificação de algumas metas é possível que sejam necessárias
informações e estudos adicionais, demandando consulta a especialistas em diferentes áreas
relacionadas ao projeto e/ou simulação computacional.
Ao final desta etapa deve-se obter um documento registrando a necessidade de missão,
os objetivos e metas para o projeto, que servirá de base para as etapas posteriores e poderá ter
valor, inclusive para questões contratuais. Propõe-se que os resultados desta etapa sejam,
posteriormente, incorporados aos modelos em SysML, para fins de consistência e controle de
rastreabilidade nos documentos de requisitos.
envolvida. Projetos de maior complexidade, em geral, exigem análise mais detalhada, com
conteúdo mais abrangente. Por outro lado, o desenvolvimento de sistemas mais simples pode
basear-se em um volume de documentação menor, acelerando os processos.
Tendo em vista que o presente trabalho apresenta a análise funcional de uma constelação
de pequenos satélites, as atividades constituintes de seu conceito de operações são mais
simplificadas em comparação ao que se faria para um satélite de grandes dimensões, o que está
alinhado com o modelo de desenvolvimento mais enxuto adotado para pequenos satélites,
conforme foi discutido na revisão da literatura deste trabalho e coerente com o INCOSE (2015),
que afirma que os processos de engenharia de sistemas devem ser aplicados a cada estágio do
ciclo de desenvolvimento adaptados ao escopo e complexidade do projeto. Sendo assim, a
Tabela 9 apresenta a descrição das atividades propostas para a confecção do conceito de
operações, que serão aplicadas no caso de estudo para o pequeno satélite de comunicações.
Informações Métodos e
Atividade Objetivos Envolvidos Resultados
de entrada ferramentas
4.1: -Determinar os -Escopo do -Reuniões -Equipe de -Parâmetros
Determi- parâmetros chave de projeto projeto chave de
nação dos desempenho (KPPs) -Métodos desempenho
parâme- -Objetivos e intuitivos de -Stakehol- (KPPs)
tros chave metas do geração de ders
de desem- projeto ideias externos
penho
(KPPs)
4.2: -Definir as fronteiras do -Escopo do -Reuniões -Equipe de -Fronteiras do
Desenvol- sistema projeto projeto sistema
vimento -Métodos
do -Identificar o contexto -Objetivos e intuitivos de -Stakehol- -Contextos “As-
contexto e “As-is” e definir o metas do geração de ders is” e “To-be”
arquitetu- contexto “To-be” projeto ideias externos
-Sequencia-
ra opera-
-Realizar o sequen- -Parâmetros -Diagramas mento opera-
cionais
ciamento operacional chave de de contexto cional dos
dos cenários desempenho cenários
(KPPs) -Diagramas
-Identificar a conexão de sequência -Atividades dos
entre as entidades -Informações nós operacionais
envolvidas no projeto sobre os -Diagramas
stakeholders e NxN -Relacionamen-
-Determinar as suas funções to entre os
atividades das entidades elementos do
no projeto sistema de
sistemas
53
Informações Métodos e
Atividade Objetivos Envolvidos Resultados
de entrada ferramentas
4.3: -Identificar condições -Fronteiras do -Software -Equipe de -Condições
Identifi- ambientais a que o sistema para projeto ambientais a que
cação das sistema poderá estar modelagem o sistema poderá
con-dições exposto -Contextos estar exposto
ambien- “As-is” e “To-
tais be”
-Sequencia-
mento
operacional
dos cenários
-Definição
da(s)
referência(s)
para o projeto
Sugere-se que, ao final desta atividade, sejam relacionados a cada objetivo do projeto
um parâmetro chave de desempenho, abordagens alternativas para fins de comparação (por
exemplo, satélite em órbita geossíncrona e satélite de baixa órbita) e possibilitadores de
desempenho, conforme exemplificado na Tabela 10.
Douglass (2016) sugere a identificação e análise das funções do sistema como forma de
identificar requisitos novos, inconsistentes ou incorretos. Assim, neste trabalho propõe-se que
seja identificada a arquitetura funcional do sistema. O método apresentado para esta etapa
constitui-se de uma adaptação do proposto por Douglass (2016). Na abordagem de Douglass
(2016), inicialmente são identificados os subsistemas, para em seguida determinar requisitos
aos mesmos e só então alocar funções. Assim, os subsistemas são definidos antes das funções
que motivam sua existência.
Contudo, este trabalho, concordando com as abordagens de Loures da Costa e Fulindi
(2018), Friedenthal, Moore e Steiner (2015) e Back et al. (2008), propõe que, a partir da análise
do conceito de operações (Etapa 4), sejam inicialmente identificadas as funções que o sistema
deve desempenhar (Atividade 5.1).
57
4 Caso de estudo
Para a consecução desta etapa, foram realizadas as atividades descritas na Tabela 13:
Atividade 1.1: Alinhamento entre os principais stakeholders
Atividade 1.2: Definição e mobilização da equipe do projeto
Informações de Métodos e
Atividade Objetivos Envolvidos Resultados
entrada ferramentas
1.1: -Definir o -Informações -Reuniões -Responsáveis -Escopo do
Alinhamen- escopo do preliminares sobre designados projeto
to entre os projeto os stakeholders e pela
principais suas funções organização -Autorização
stakehol- -Decidir desenvolve- para início do
ders pelo início -Informações dora projeto
do projeto preliminares sobre
a necessidade dos -Stakeholders
stakeholders externos
externos
1.2: -Definir a -Escopo do -Reuniões -Responsáveis -Equipe de
Definição e equipe de projeto designados projeto definida
mobilização projeto pela e mobilizada
da equipe do organização
projeto -Mobilizar a desenvolve-
equipe de dora
projeto
Stakeholder Função
Exército Brasileiro (EB) Patrocinador
Centro Espacial ITA (CEI) Organização desenvolvedora
Possível cedente de instalações para
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
montagem, integração e testes dos satélites;
(INPE)
possível parceria para operação dos satélites
Comando de Operações Aeroespaciais
Parceria para operação dos satélites
(COMAE)
Ministério da Defesa (MD) Usuário do sistema
Sociedade brasileira Stakeholder passivo
Fornecedores de equipamentos e
Fornecedores
componentes
Força Aérea Brasileira (FAB) Usuário do sistema
Marinha do Brasil (MB) Usuário do sistema
Polícias Militares e Civis dos estados Usuário do sistema
Polícias Federal e Rodoviária Federal Usuário do sistema
Receita Federal Usuário do sistema
Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) Usuário do sistema
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Usuário do sistema
Recursos Naturais (IBAMA)
Indústria nacional Usuário do sistema
Organização lançadora Responsável pelo lançamento do satélite
Agência Nacional de Telecomunicações Responsável pelo cadastramento da frequência
(ANATEL) do satélite junto à UIT
União Internacional de Telecomunicações Responsável pelo cadastramento da frequência
(UIT) do satélite
Responsável pelo cadastramento do satélite
Agência Espacial Brasileira (AEB) junto à ONU; possível parceira no
desenvolvimento
Organização das Nações Unidas (ONU) Responsável pelo cadastramento do satélite
Contrabandistas e traficantes Stakeholder negativo
Nações com interesses contrários aos Stakeholder negativo (possíveis futuros
brasileiros na região amazônica oponentes)
Até o momento, não foi assinado contrato entre o CEI e o EB, contudo o CEI decidiu
continuar o desenvolvimento visando a um acordo futuro. Conforme apresentado na seção 3.1.1
deste trabalho, questões contratuais não serão tratadas no presente trabalho.
Uma vez definido o escopo do projeto e decidido seu início por parte do CEI, mobilizou-
se a equipe de desenvolvimento. Para isso, reuniram-se os responsáveis pelo CEI, que definiram
as funções e especialidades que o projeto iria exigir e, em seguida, escolheram os integrantes
da equipe de trabalho (Tabela 16). Os nomes foram omitidos em razão de confidencialidade.
A equipe foi então reunida, informada sobre o escopo do projeto e mobilizada para
iniciar seu desenvolvimento.
Uma vez iniciado o projeto, foi realizado o benchmarking, a partir das seguintes
atividades, descritas na Tabela 17:
Atividade 2.1: Definição dos critérios de benchmarking
Atividade 2.2: Pesquisa de benchmarking
65
Para a definição dos critérios de seleção, partiu-se do escopo do projeto obtido na Etapa
1 e, por meio de discussão em reunião com a equipe, foram elencados os critérios para seleção
de sistemas (Tabela 18) e as características técnicas relevantes (Tabela 19) a serem estudadas
no benchmarking.
Assim, o primeiro critério era que os sistemas fossem pequenos satélites (satélites até
100 kg, conforme a definição apresentada na seção pequenos satélites, da revisão da literatura
deste trabalho). Com o objetivo de pesquisar apenas os sistemas mais recentes, outro critério
foi que os sistemas deveriam ter sido desenvolvidos ou lançados a partir de 2008.
Dado que os sistemas de interesse para estudo podem ter aplicação militar e serem
difíceis de se obter informações, identificou-se, inclusive, que a disponibilidade de
informações era um critério importante para sua seleção. Conhecer os componentes do sistema
é importante para que se possa identificar posteriormente, por exemplo, a utilização de
componentes COTS (comercial-off-the-shelf – componentes disponíveis para venda no
66
Como pode-se observar, não houve exigência de que os objetos de estudo fossem
voltados à aplicação militar, pois julgou-se que nesta etapa tanto soluções civis quanto militares
poderiam contribuir igualmente para a compreensão do nível atual de tecnologia que está sendo
utilizada.
Dentre as características técnicas relevantes, a órbita é uma das principais, relacionada
ao tempo de vida útil (tanto por razões de decaimento quanto em função de perda de
confiabilidade devida à radiação), cobertura e potência necessária para comunicação. As
características identificadas são apresentadas na Tabela 19.
Tabela 21 – Tabela comparativa de características técnicas (os valores marcados com (*)
foram deduzidos pela equipe com base nas imagens ou demais informações técnicas).
Energia Painel solar fixo Painel solar de Painel solar fixo Painel solar de
abertura abertura
Conjunto de Conjunto de
baterias íon-Lítio* Conjunto de baterias íon- Conjunto de
baterias íon- Lítio* baterias íon-Lítio*
Lítio*
Controle e Aviônica dedicada Aviônica COTS COTS (Clyde
processamento dedicada (GOMspace)* Space)*
de dados
Sensores de --- --- --- ---
atitude
Atuadores 3 eixos (controle 3 eixos (rodas 3 eixos COTS 3 eixos COTS
magnético passivo) de reação MAI- (GOMspace) (Clyde Space)*
400)
Precisão do --- < 1°* --- ---
controle de
atitude
Conhecimento GPS GPS --- ---
de órbita
Sistema Não possui Sistema de gás Não possui Não possui
propulsivo frio
Rádio para UHF/VHF --- UHF/VHF UHF/VHF (ISIS
status TRXUV)*
70
Para a realização desta etapa, foram realizadas as atividades descritas na Tabela 22:
Atividade 3.1: Síntese das expectativas dos stakeholders
Atividade 3.2: Definição dos objetivos e metas do projeto
Stakeholder Função
Exército Brasileiro (EB) Patrocinador
Centro Espacial ITA (CEI) Organização desenvolvedora
Instituto Nacional de Pesquisas Possível cedente de instalações para montagem, integração e
Espaciais (INPE) testes dos satélites; possível parceria para operação dos satélites
Comando de Operações Parceria para operação dos satélites
Aeroespaciais (COMAE)
Ministério da Defesa (MD) Usuário do sistema
Força Aérea Brasileira (FAB) Usuário do sistema
Marinha do Brasil (MB) Usuário do sistema
Agência Espacial Brasileira (AEB) Responsável pelo cadastramento do satélite junto à ONU;
possível parceira no desenvolvimento
disponíveis para aquisição. Deste modo, decidiu-se que este contato seria realizado após a
análise funcional, durante o estudo de conceitos alternativos e a seleção do conceito, quando
for se avaliar a arquitetura física do sistema.
Contudo, conforme apresentado no início deste capítulo, o caso de estudo foi aplicado
somente ao Exército Brasileiro, de modo que a entrevista teve como participantes apenas os
responsáveis pelo projeto por parte do CEI e do EB.
Desta forma, realizou-se a entrevista com os representantes do EB, seguindo os
princípios expostos no método e utilizando ferramentas como brainstorming, de modo que se
pode sintetizar as expectativas para os diferentes stakeholders, a partir da visão do CEI e do
EB. Um extrato do resultado desta atividade é apresentado na Tabela 24.
Stakeholder Expectativa
Obter um meio confiável e seguro de comunicação com tropas a pé isoladas na
região amazônica e a leitura dos sensores de guerra eletrônica instalados na
Exército Brasileiro
região amazônica; interesse em poder ampliar a cobertura para todo o território
(EB)
nacional e cobertura para dados de sensores do Sistema Integrado de
Monitoramento de Fronteiras (SISFRON)
Desenvolver uma plataforma viável para atender a diferentes necessidades no
CEI setor espacial, projetando-se como referência no setor para futuros clientes;
inserir seus alunos em projetos reais de engenharia
Obter maior cobertura de comunicações e integração na região amazônica; obter
Ministério da
autonomia na área espacial voltada à defesa; estimular agentes nacionais a
Defesa (MD)
desenvolver tecnologias para a área de defesa
Melhoria nas ações das Forças Armadas nas fronteiras, reduzindo o tráfico que
abastece de armas ilegais e drogas as cidades de todo o país; aumento da
Sociedade
capacidade de defesa externa; integração do território nacional;
brasileira
desenvolvimento tecnológico e científico do país; geração de demanda por
profissionais qualificados na área tecnológica
Fornecedores de Prover instrumentos, componentes, equipamentos e GSE (Ground Support
equipamentos e Equipments - equipamentos de suporte em solo) para os satélites e apoio em
componentes solo
Força Aérea Aumentar a efetividade na detecção de aeronaves ilegais na região amazônica,
Brasileira (FAB); bem como melhores comunicações em operações em regiões isoladas ou para
Marinha do Brasil navegação a baixa altura; interesse em poder ampliar a cobertura para todo o
(MB) território nacional e cobertura para dados de sensores do SISFRON
Polícias Militares,
Aumento de capacidade de coordenação das ações de fiscalização ambiental e
Civis, Rodoviária e
das regiões de fronteira no contexto do SISFRON, por meio da integração e
Federal; Receita
cooperação entre as instituições, corporações e órgãos usuários do sistema
Federal; ABIN;
satelital de comunicações
IBAMA
75
Objetivos Metas
1. Prover serviço de 1.1. Transmitir texto e dados a uma taxa de 5 Mbps (limite), 50
comunicação para tropas Mbps (objetivo) (TBC) entre as tropas
militares nos níveis grupo de
1.2. Permitir a comunicação em 40% do tempo (limite), 80% do
combate, pelotão, companhia e
tempo (objetivo) (TBC) às tropas na região amazônica
batalhão localizadas na região
amazônica 1.3. Permitir a comunicação a cada 10 minutos (limite), 5 minutos
(objetivo) (TBC) às tropas na região amazônica
1.4. Permitir transmissão a uma taxa mínima de 9,6 kbps (limite),
64 kbps (objetivo) em condições severas de operação (fortes
chuvas, mata densa)
1.5. Fornecer a posição dos usuários com precisão de 100 m
(limite), 20 m (objetivo)
2. Ser compatível com 2.1. Ser interfaceável com equipamentos de comunicação em solo
equipamentos de comunicação de dimensões inferiores a 30x35x15 cm (limite), 20x25x10 cm
viáveis para ser transportados e (objetivo) (excluindo as antenas) (TBC)
operados por tropa a pé em
2.2. Ser interfaceável com equipamentos de comunicação em solo
terreno difícil (selva, pantanal,
de massa inferior a 10 kg (limite), 5 kg (objetivo) (TBC)
montanha)
2.3. Permitir apontamento em até 30 segundos (limite), 10
segundos (objetivo) sem uso de equipamentos para tal
2.4. Demandar até 4 horas (limite), 2 horas (objetivo) de instrução
para pleno treinamento de operador
4. Viabilizar a autonomia para 4.1. Ser 100% controlado nacionalmente por meio das estações de
a implementação de soluções solo do Centro de Operações Espaciais (COPE)
de comunicações pelas Forças
Armadas
5*. Prover serviço de 5.1*. Transmitir dados oriundos dos sensores em solo a uma taxa
comunicação com os sensores de 5 Mbps (limite), 50 Mbps (objetivo)
em solo
6. Integrar a região amazônica 6.1. Transmitir comunicações a uma taxa de 9,6 kbps (limite),
ao território nacional por meio 38,4 kbps (objetivo) (TBD) para socorro em caso de emergências
da presença das Forças médicas e/ou sociais às comunidades da região amazônica com
Armadas nas comunidades satisfação superior a 80% (limite), 100% (objetivo)
indígenas e/ou isoladas
78
objetivo de se prover comunicação tática para tropas em áreas remotas envolve a resiliência do
sistema, bem como criptografia e medidas de Guerra Eletrônica, que estão associadas ao
objetivo de comunicações seguras.
O poder das comunicações como fator integrador advém da demonstração de força e
capacidade operacional para as comunidades isoladas ou fronteiriças, apresentada por uma
tropa que é capaz de se comunicar com seu comando dadas as dimensões continentais do Brasil.
Desta forma, as comunidades locais podem sentir a presença e disposição das Forças Armadas
em manter a unidade nacional, como um forte poder de integração.
Dentre as alternativas apresentadas, observa-se que tanto satélites geossíncronos quanto
constelações em baixa órbita são capazes de atender aos objetivos do projeto, satisfazendo aos
KPP.
No estado atual “As-is”, nota-se que existe uma infraestrutura baseada em satélites
geossíncronos (GEO) que realiza o envio de dados de sensores de defesa, além de fornecer
serviço de comunicação de dados, voz e texto entre as unidades do Exército de nível maior ou
igual a batalhão e COp (Centro de Operações, que pode estar no nível batalhão ou brigada).
Porém não existe recurso satelital militar para comunicação de grupos de combate, pelotões e
companhias, e as comunicações neste nível, em geral, são realizadas com redes de rádio
transmissores e estações de rádio repetidoras. O ambiente (radiação, cintilações, tempestades
solares, chuvas, variações de temperatura) atuam degradando o sistema e interferindo nas
transmissões. Os oponentes e elementos adversos emitem involuntariamente sinais, a partir de
suas aeronaves, embarcações ou rádios, por exemplo, que possibilitam sua detecção por
sensores. Considera-se que os oponentes (nações) podem ter capacidade de interferir nos
sistemas satelitais, enquanto os elementos adversos (ex. contrabandistas e traficantes) não
apresentam esta potencialidade. O Comando de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército
(CComGEx) é o responsável por assessorar o Comando de Operações Terrestres (COTER) ou
o Comando do EB na utilização dos recursos satelitais, coordenando com as estações de solo
sua operação. Cabe ressaltar que, de acordo com as dimensões da operação, outros níveis de
comando podem estar presentes, como forças-tarefa, divisões, e exércitos de campanha,
contudo os diagramas desta seção visam a apresentar o contexto operacional enfatizando os
elementos de nível batalhão e inferior, que são o foco do projeto.
A solução proposta pela equipe para o presente projeto é esboçada no modelo “To-be,
relativo à constelação de pequenos satélites de comunicação.
O modelo proposto “To-be” inclui capacidades de comunicação por texto e dados a
tropas de nível companhia, pelotão e grupos de combate (marcadas na cor cinza, pois neste
contexto se relacionam diretamente com o recurso satelital). A constelação de pequenos
satélites tem capacidade ainda de estabelecer contato com batalhões, mas atende aos níveis
brigada e superior (exemplificados pelo COTER e Comando do EB) apenas em situações
isoladas, dado que não possuem banda para prover serviço contínuo de comunicação para estes
níveis. Conforme definido nos objetivos e metas do projeto, seção 3.3.2, as informações
oriundas de sensores de defesa (como radares, por exemplo) podem ser transmitidas por meio
dos pequenos satélites, em casos emergenciais, de maneira degradada. Os equipamentos a
serem usados pelas tropas devem possibilitar a comunicação, ao menos, por texto e dados, e
respeitar os limites de dimensões e massa estabelecidos, a fim de não interferir na agilidade do
deslocamento das tropas, ainda que em terreno difícil.
Para permitir o entendimento da operação da constelação de pequenos satélites em
conjunto com satélites em órbita geossíncrona, como o SGDC, construiu-se o diagrama “To-
be” incluindo as soluções satelitais geossíncronas e os pequenos satélites não-geossíncronos
(Figura 13).
Nó operacional Atividades
Satélite de comunicações * Detecta dados de comunicação dos usuários (voz/texto)
* Detecta dados de missão dos usuários
* Detecta dados de sensores de Guerra Eletrônica (radar ou COMINT)
* Envia dados de comunicação aos usuários (dados/texto)
* Envia dados de missão aos usuários
* Gera e envia dados de telemetria do satélite
* Recebe e executa comandos operacionais
91
Nó operacional Atividades
Estação de solo * Recebe status do satélite
(COMAE) * Envia comandos para o satélite
CComGEx (EB) * Analisa os dados de telemetria
* Gera os comandos operacionais do satélite
* Registra o conjunto de dados de status/telecomando do satélite
Usuários (tropas) * Recebe dados de comunicação do satélite
* Recebe dados de missão do satélite
* Recebe dados de sensores de Guerra Eletrônica do satélite
* Envia dados de comunicação para o satélite
* Envia dados de missão para o satélite
Controle de missão * Analisa os dados de comunicação do satélite
* Analisa os dados de missão do satélite
* Analisa os dados dos sensores de Guerra Eletrônica
* Gera os dados de comunicação do satélite
* Gera os dados de missão do satélite
* Gera relatórios de missão
Usuário (Comando) * Recebe e solicita relatórios de missão
* Gera plano de missão
Como se pode observar, as partes elencaram apenas atividades e relações para a fase de
operações do sistema, e não para todo o ciclo de vida do mesmo (que inclui, por exemplo,
montagem, integração e teste, transporte, lançamento). Além disso, tais atividades não foram
registradas contratualmente. Isto porque ainda não havia, naquele momento, a contratação do
desenvolvimento, de modo que as reuniões entre a equipe de projeto do CEI e os representantes
do EB visavam a amadurecer o conceito do sistema, com a expectativa de contratação futura.
Assim, a identificação das sequências operacionais foi realizada de forma simplificada.
Encerrando esta atividade, a equipe desenvolvedora e o EB estudaram a lista com as
funções dos principais stakeholders e as sequência de operações para cada cenário. As partes
identificaram, então, as relações entre as entidades envolvidas no projeto e os sistemas no
diagrama NxN dos elementos do sistema de sistemas (Tabela 29). Neste diagrama, cada volta
no sentido horário apresenta, respectivamente, o elemento que uma entidade provê para outra,
e o que ela recebe da mesma.
92
SATÉLITE Dados de
DE Status do missão
COMUNI- satélite (usuários) e/ou
CAÇÕES dados sensores
ESTAÇÃO Telemetria
Comando do
DE SOLO operacional do
satélite
(COMAE) satélite
Comandos Conjunto de
CCOMGEX Relatório de
operacionais dados de
(EB) desempenho
do satélite operação
Dados de Dados de
USUÁRIOS
missão para os missão e
(TROPAS)
usuários sensores
Dados de
Solicita dados CONTROLE Relatório de
missão para os
operacionais DE MISSÃO missão
usuários
Análise e
Análise de USUÁRIO
escopo da
desempenho (COMANDO)
missão
5*. Prover serviço de 5*. Comunicar com os sensores 5.2. Condições ambientais
comunicação com os em solo desfavoráveis
sensores em solo
Entidades relacionadas: 4.2. Corrigir falhas do sistema em
Radares/ sensores, comando operação
95
Este modelo é apresentado de modo a incluir a atuação dos satélites geossíncronos e dos
sensores, de modo a mostrar o relacionamento do sistema de interesse (a constelação de
pequenos satélites) com outros sistemas.
Em seguida, foram criados diagramas de sequência para as funções. Estes diagramas
apresentam o encadeamento das ações e o fluxo de informações entre os atores, para uma dada
função em diferentes cenários (DOUGLASS, 2016).
Para a função “comunicar com tropas”, no cenário de condições ambientais favoráveis,
no caso em que o comando envia uma mensagem para a tropa (Figura 17), tem-se que
inicialmente o sistema deve estar pronto para receber mensagens (a). O comando então envia
uma mensagem (b), e o sistema inicia o contador (c), enquanto processa o recebimento da
mensagem (d). Em seguida, o sistema envia para o comando uma confirmação do recebimento
da mensagem por parte do satélite (e). Então, o sistema transmite a mensagem para a tropa (f).
O equipamento de comunicação da tropa envia um sinal de confirmação de recebimento da
mensagem (g). O sistema encaminha ao comando o sinal de recebimento de mensagem por
parte da tropa (h) e zera o contador (i). Ao final deste processo, o sistema deve estar pronto para
receber novas mensagens (j).
Durante a aplicação do método proposto neste trabalho, foram notados pontos fortes,
bem como limitações do mesmo. A seguir, serão analisadas estas questões para cada uma das
etapas propostas.
A abordagem é positiva pois um método estruturado permite a melhor aderência dos
resultados, e sua característica não sequencial permite uma maior interação entre os
stakeholders e melhor utilização do tempo.
5 Conclusões
Referências
ABDU, M. A. The Scintillation Prediction Observations Research Task (SPORT). São José
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FOLHA DE REGISTRO DO DOCUMENTO
1. 2. 3. 4.
CLASSIFICAÇÃO/TIPO DATA REGISTRO N° N° DE PÁGINAS
Análise funcional de uma constelação de pequenos satélites de comunicações para o exército brasileiro.
6.
AUTOR(ES):
12.
GRAU DE SIGILO: