Os criminosos estão utilizando essas informações para praticar delitos, eis que aproveitam fotografias da vítima e de parentes, telefones, locais frequentados e hábitos como fontes de informação para auxiliar na prática delitiva. É o caso do Facebook Check-ins 42 , ferramenta integrante da rede social que permite ao usuário divulgar o local exato em que se encontra(va) 43 . Com a popularização desses sites, redes sociais e aplicativos de mensageria, os usuários passaram a postar fotografias, vídeos, informações pessoais, endereços e números de telefone – dados estes bastante úteis e facilitadores para qualquer ação criminosa. Como forma de criticar e até alertar para os perigos da exposição na Internet, um grupo de holandeses criou o site Please Rob Me, indicando quando uma pessoa se encontra em casa ou não com base em informações do Twitter e do Foursquare. Assim, percebe-se o uso massivo das informações disponibilizadas na web, que, mesmo estando em sites diferentes, uma vez reunidas, podem dar inúmeras dicas sobre os usuários. O criminoso usa, por exemplo, tais dados para formatar documentos falsos, criar cadastros falsos em lojas virtuais, realizar compras etc. Foi o que ocorreu no caso do sequestrador preso em Santa Catarina no ano de 2014. Segundo ele mesmo relatou à imprensa, coletou todos os dados no Facebook e em menos de dez dias arquitetou o plano do sequestro44 . Nos próximos tópicos e capítulos vamos conhecer inúmeras ferramentas à disposição dos analistas e que podem ser úteis ao desenvolvimento de trabalhos e, por que não, à utilização de cunho pessoal. a) Mídias sociais e casos de sucesso Como referido antes, vários sites de relacionamento são bem úteis como fontes abertas, trazendo muitas informações sobre o investigado, desde os hábitos até ambientes que frequenta, passando por relatos de viagens e de encontros, o que facilita bastante o trabalho de coleta e análise dos dados. Uma pesquisa realizada no ano de 2014 sobre o uso de mídias sociais por órgãos de aplicação da lei mostrou que 73% dos órgãos de investigação utilizam as redes sociais para solucionar os delitos de forma mais célere, com 25% dos policiais acessando-as diariamente para auxílio do seu trabalho. O estudo denota ainda que 71% dos profissionais que atuam com essa forma de coleta aprendem sozinhos, em detrimento de 19% que são capacitados para tal 45 . Segundo um levantamento realizado no ano de 2014 pela Associação Internacional de Chefes de Polícia (IACP), os órgãos investigativos estão incoorporando às suas atividades o emprego de fontes abertas. De acordo com os dados, 82,3% dos entrevistados têm por hábito empregar mídias sociais na investigação policial. Para realizar essa tarefa, utilizam Facebook (95,4%), Twitter (66,4%) e YouTube (38,5%). Além do mais, a individualização da autoria delitiva tem sido aperfeiçoada em 77,5% dos casos 46 . Fatih e Bekir asseveram sobre a importância do emprego dessas informações como meio para incremento da atividade policial 47 : Tradicionalmente, as agências de persecução sempre tiveram um relacionamento pouco amigável com a tecnologia. Não há, todavia, como ignorar ou resistir à adoção de novas tecnologias por mais tempo, especialmente em razão do desenvolvimento na tecnologia da informação e a mudança de atitudes e percepções, tanto das forças policiais quanto dos criminosos. O uso efetivo dos avanços tecnológicos e o emprego da TI para o policiamento será de grande utilidade no combate aos crimes. O uso de redes sociais e informações disponibilizadas na Internet pode auxiliar nos seguintes aspectos: Localização de foragidos: mesmo após o cometimento de uma infração, o criminoso utiliza-se das redes sociais para manter contato b) c) d) e) f) • com o seu círculo de relacionamento ou até mesmo para se vangloriar de sua ação. Identificar testemunhas e suspeitos: ao postar e compartilhar imagens do local de um crime, a polícia consegue informações úteis que podem identificar suspeitos e testemunhas que presenciaram o ato. Redes de relacionamentos da vítima e do criminoso: várias informações poderão estar disponíveis: familiares, relacionamentos amorosos, amizades, hábitos, locais em que frequentou com os check#ins disponíveis, negócios realizados etc. Coletar evidências digitais: o cometimento de crimes na Internet deixa um monte de evidências que devem ser recolhidas de maneira rápida e eficaz para que seja comprovada a materialidade delitiva. Prestação de serviços à comunidade: informando áreas de risco, fornecendo dados sobre índices de criminalidade de uma região, avisos sobre vias interditadas e desastres naturais etc. Torcidas organizadas e integrantes de gangues: a polícia deve atuar, principalmente nas redes sociais, na identificação de integrantes desses grupos bem como antecipar-se em locais de confronto entre grupos rivais marcados pela Internet. A polícia, apesar de algumas iniciativas ainda tímidas, também passou a utilizar a busca de informações disponíveis na rede, logrando êxito. A seguir citamos alguns casos práticos de sua utilização em prol da atividade de segurança pública: Assaltante preso no México por causa de informações postadas no Facebook: neste caso, a prisão foi bem-sucedida porque o criminoso adicionou como amigo um integrante do Departamento de Defesa norte-americano48 . O fugitivo Max Scopo exibia um luxuoso estilo de vida em um resort em Cancún, México. • • • • • • Um dos cem criminosos mais procurados da Itália foi preso em Isola di Capo Rizzuto graças a seu “amor” pelo Facebook: a polícia rastreou o chefe mafioso Pasquale “Scarface” Manfredi, de 33 anos, porque o líder da organização calabresa ‘Ndrangheta’ se conectava ao site de rede social com muita frequência. Dessa forma, eles puderam rastrear sua conexão de Internet até seu esconderijo49 . Em uma situação similar, no ano de 2012, a polícia piauiense conseguiu localizar e prender um casal acusado de estelionato. O curioso é que a mulher criou uma conta no Facebook e postou várias informações, inclusive o local de seu trabalho e de residência. Polícia da Itália usa redes sociais para prender pichadores: a polícia italiana logrou êxito na identificação e prisão de pichadores na cidade de Pádua, região norte da Itália. As informações extraídas de Facebook e YouTube foram cruciais para o sucesso da missão50 . Pêsames antes da hora: Robert Powell foi preso pelo assassinato do seu amigo ao postar frases no Myspace com mensagens de “Descanse em paz” antes de o fato ter chegado ao conhecimento da polícia 51 . Polícia mineira e localização de suspeito de homicídio: a prisão de um investigado por homicídio ocorreu na cidade de Mathias Lobato#MG. A fotografia postada pelo foragido com um conjunto de montanhas ao fundo forneceu dados relevantes na localização e detenção do foragido52 . Lugar certo e sabido: Cris Crego, foragido por prática de roubo em Nova Iorque no ano de 2009, foi preso, no estado de Indiana, após postar no Facebook e no Myspace sua residência, local de trabalho (Body Art Ink), bem como o horário em que trabalhava 53 . Help find Jim Gray: Jim desapareceu ao navegar em alto-mar e nunca mais foi encontrado, apesar dos esforços da guarda costeira americana. A Amazon utilizou o S3 Storage Service e o Mechanical Turk para processar milhares de fotos de satélite disponíveis da região do desparecimento do veleiro. Essa iniciativa envolveu milhares de pessoas na web à procura do veleiro. Nessa busca foram utilizadas • • • • mais de 560 mil imagens de satélites, disponíveis em três satélites 54 . Apesar de não ter logrado êxito, serve como um excelente exemplo de fonte de buscas com a utilização da Internet. Homicida e Orkut no Piauí: a polícia piauiense, em investigações ocorridas no sul do Estado para solucionar crimes por encomenda, passou a procurar os envolvidos e indiciados. Após várias tentativas frustradas de prender um dos executores do grupo, recebeu uma denúncia sobre o possível local em que sua noiva frequentava um curso superior. O primeiro passo foi acessar o Google, tomar o endereço da universidade e localizar seu respectivo site. Depois, em busca pelas comunidades no Orkut, localizou-se a página da noiva do foragido com várias informações, inclusive com recados (scraps) sobre o dia em que houve o casamento. O próximo passo foi verificar os cartórios de registro de pessoas e encontrar a documentação. Assim, com base nas informações coletadas, a prisão foi realizada com sucesso. Foto no Orkut e sucesso na operação: no ano de 2008, a polícia piauiense estava prestes a deflagrar uma operação para coibir a venda de medicamentos não autorizados. Após um dos alvos ser avisado que seria preso, desligou o telefone. A polícia tinha em mãos fotografia do veículo do foragido postada em site de relacionamento. A prisão foi realizada, culminando com êxito da operação. Maconha e Google Earth: a polícia suíça apreendeu 1,2 tonelada de maconha com o auxílio do software de imagens Google Earth. A investigação resultou na prisão de 16 pessoas e na localização da plantação, medindo aproximadamente 7.500 metros quadrados, que estava camuflada em uma plantação de cereais 55 . Sequestro e Google Street View: com o auxílio do Google Street View (visão de rua), ferramenta agregada ao Google Maps, a polícia do estado de Massachusetts (Estados Unidos) conseguiu solucionar o rapto de uma criança, efetuado pela avó. Para lograr êxito, usou as coordenadas do celular utilizado para o contato, acessou a plataforma • • • • • de mapas e localizou um prédio nas proximidades. Após a devida checagem, a menina foi encontrada e liberada 56 . No Rio Grande do Sul, embora não noticiado na imprensa, já foram utilizadas informações do Google Street View. Em uma investigação para atribuição de autoria em crimes contra o patrimônio, a polícia civil estava com uma interceptação telefônica em andamento. Durante essa diligência, os investigados falavam em praticar um furto de veículo em determinado local, com detalhes e especificidades. O emprego do Street View posibilitou aos policiais a identificação do veículo citado nas interceptações, facilitando, sobremaneira, a vigilância do local e o planejamento das ações policiais. Sequestrada pede socorro pelo Facebook: nos Estados Unidos, uma mulher que estava sequestrada com seu filho na cidade de Salt Lake City pediu ajuda pelo Facebook e conseguiu ser libertada 57 . Lutador é preso após postagem: em 2019, no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro, um lutador foi preso por homícídio após postar fotos da vítima nas redes sociais 58 . Sequestro resolvido com imagens de redes sociais: uma foto postada em uma rede social ajudou a resolver um caso de extorsão mediante sequestro de um empresário na cidade de Riberão Preto-SP. Um moletom postado pelo criminoso nas redes sociais foi o mesmo utilizado dias antes, quando esteve na loja do empresário do ramo de revenda de veículos 59 . Fotos em redes sociais ajudaram polícia a desarticular quadrilha no RS60: uma quadrilha especializada em roubo, furto, clonagem e desmache de veículos, com atuação na região metropolitana de Porto Alegre, foi identificada e presa pela polícia civil gaúcha. As postagens dos criminosos em redes sociais foram relevantes na identificação e prisão dos envolvidos. Ameaça de ataque ao teatro Longacre, Estados Unidos: a polícia de Nova Iorque reforçou a segurança do teatro após ameça de ataque postada no Twitter. Após isso, a polícia reforçou o perímetro de onde • • • haveria o espetáculo e identificou o responsável pela postagem criminosa 61 . Polícia belga e imagens de gatos em redes sociais para desinformar terroristas 62: a caçada a terroristas na Bélgica teve uma situação inusitada – a polícia belga solicitou à população que divulgasse imagens de gatos nas redes sociais em vez de informações sobre as diligências para prender terroristas. A adesão da população foi massiva e milhares de imagens de gatos foram postadas. Identificados envolvidos em linchamento63: após a divulgação de um vídeo de linchamento nas redes sociais, a polícia civil maranhense identificou cinco pessoas envolvidas no crime. Polícia de Frankfurt, Alemanha, resolve crime após compartilhamento de vídeo: após a morte de um homem em frente a uma boate, policiais postaram o vídeo com as imagens de CFTV do local a fim de encontrar testemunhas. A ação foi exitosa, culminando com a prisão dos envolvidos.