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09/12/2023, 14:41 Entenda o escândalo de uso político de dados que derrubou valor do Facebook e o colocou na mira de auto…

Entenda o escândalo de uso


político de dados que derrubou
valor do Facebook e o colocou na
mira de autoridades
20 março 2018

GETTY IMAGES

Legisladores do Reino Unido e dos Estados Unidos querem chamar o fundador da rede, Mark
Zuckerberg, para depor

O Facebook sofreu um forte abalo no último sábado com a revelação de que as


informações de mais de 50 milhões de pessoas foram utilizadas sem o consentimento
delas pela empresa americana Cambridge Analytica para fazer propaganda política.

A empresa teria tido acesso ao volume de dados ao lançar um aplicativo de teste psicológico
na rede social. Aqueles usuários do Facebook que participaram do teste acabaram por
entregar à Cambridge Analytica não apenas suas informações, mas os dados referentes aos
amigos do perfil.

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A denúncia, feita pelos jornais The New York Times e The Guardian, levantou dúvidas sobre
a transparência e o compromisso da empresa com a proteção de dados dos usuários.

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genealógica

O escândalo gerou nova onda negativa contra a empresa – já sob questionamento pela
proliferação de notícias falsas nas eleições americanas.

Na segunda-feira, dois dias após a publicação, o valor do Facebook encolheu US$ 35


bilhões (ou aproximadamente R$ 115,5 bilhões) na bolsa de valores de tecnologia dos EUA.

Como proteger seus dados no Facebook?

A empresa também entrou na mira de autoridades nos Estados Unidos e no Reino Unido. O
deputado britânico Damian Collins convocou o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, para
depor diante de um comitê legislativo – ele tem até 26 de março para responder. As
autoridades também estão trabalhando para conseguir um mandado de busca e apreensão
para entrar na sede da Cambridge Analytica e recolher material que ajude a elucidar o caso.

Nos EUA, a senadora Amy Klobuchar também tem feito pressão para que Zuckerberg
deponha ao senado para dar explicações

Mas afinal, que vazamento foi esse? Como ele ajudou a fazer manipulação política e qual a
responsabilidade do Facebook? A BBC Brasil reuniu as informações mais cruciais para você
entender o escândalo e seus desdobramentos.

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Cambridge Analytica: que empresa é essa?


A Cambridge Analytica é uma empresa de análise de dados que trabalhou com o time
responsável para campanha do republicano Donald Trump nas eleições de 2016, nos
Estados Unidos.

Segundo o jornal The Guardian, na Europa a empresa foi contratada pelo grupo que
promovia o Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia). A Cambridge Analytica nega
e afirma que nunca trabalhou para a campanha do Brexit.

A empresa é propriedade do bilionário do mercado financeiro Robert Mercer e era presidida,


à época, por Steve Bannon, então principal assessor de Trump.

REUTERS

Dados de usuários foram usados para propaganda política sem autorização

A Cambridge Analytica teria comprado acesso a informações pessoais de usuários do


Facebook e usado esses dados para criar um sistema que permitiu predizer e influenciar as
escolhas dos eleitores nas urnas, segundo a investigação dos jornais The Guardian e The
New York Times.

Na noite de segunda, a rede de TV britânica Channel 4 veiculou uma reportagem em que o


diretor-executivo da Cambridge Analytica, Alexander Nix, foi filmado conversando sobre uso
de suborno, ex-espiões e prostitutas para encurralar políticos.

Um repórter se apresentou como potencial cliente e obteve as informações. A Cambridge


Analytica disse que o Channel 4 "interpretou errado" a conversa registrada pelas câmeras.

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Na noite desta terça-feira, porém, a Cambridge Analytica afirmou que Nix foi suspenso da
diretoria e que seus comentários, registrados pela reportagem do Channel 4, "não
representam os valores ou a operação da empresa".

Como os dados foram obtidos?


Um ex-funcionário da empresa, Christopher Wylie, revelou ao Guardian que o esquema
começou em 2014, dois anos antes da eleição americana de 2016 e três anos antes do
Brexit.

As informações dos usuários do Facebook foram coletadas por um aplicativo chamado


thisisyourdigitallife (essa é sua vida digital, em português), que pagou a centenas de
milhares de usuários pequenas quantias para que eles fizessem um teste de personalidade e
concordassem em ter seus dados coletados para uso acadêmico.

O aplicativo foi desenvolvido por Aleksandr Kogan, pesquisador da Universidade de


Cambridge, no Reino Unido. Ele já tinha uma pesquisa sobre como deduzir a personalidade
e as inclinações políticas das pessoas a partir de seus perfis no Facebook. A Cambridge
Analytica – que não tem relação nenhuma com a Universidade de Cambridge – teria
comprado os dados coletados por ele.

REUTERS

Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, perdeu sozinho quase US$ 5 bilhões após escândalo da
Cambridge Analytica

Além da óbvia questão de que muitos usuários não leem os longos termos e condições e mal
sabem que estão dando suas informações para os desenvolvedores desses testes, o grande
problema foi que o aplicativo também coletou as informações dos amigos de Facebook das

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pessoas que fizeram o teste. Ou seja, se uma pessoa


respondesse o quiz, estaria entregando informações
privadas não apenas do seu perfil, mas também dos
seus amigos.

Quais dados foram coletados?

Os dados incluíam detalhes sobre a identidade das


pessoas – como nome, profissão, local de moradia –
seus gostos e hábitos e sua rede de contatos. Os
usuários do aplicativo não faziam ideia de que isso
tudo seria usado para ajudar a eleger Donald Trump.

O aplicativo se aproveitou de uma "brecha" nas normas


do Facebook – à época, a política da plataforma BBC Lê
permitia à aplicativos externos a coleta de dados de Podcast traz áudios com reportagens
amigos das pessoas, mas dizia que eles deveriam ser selecionadas.
usados apenas para melhorar a experiência do próprio
usuário no aplicativo. Episódios

Era proibido que os dados fossem vendidos ou usados


para propaganda – mas não havia controle do
Facebook sobre esse uso.

Posteriormente à revelação do escândalo, alguns executivos da empresa reclamaram no


Twitter do uso da palavra "vazamento" no caso envolvendo a Cambridge Analytica, já que na
prática a plataforma não foi hackeada. A empresa não precisou "invadir" a rede social para
ter acesso às informações – conseguiu os dados de maneira legítima e, depois, desrespeitou
as regras do Facebook sobre como poderia usá-los.

De qualquer forma, milhões de informações de pessoas que não deram seu consentimento
acabaram sendo usadas para fins políticos.

Para que os dados foram usados?

Christopher Wylie afirma que, como 270 mil pessoas fizeram o teste de personalidade, por
meio do acesso à rede de amigos dessas pessoas, os dados de cerca de 50 milhões de
usuários foram coletados, sem autorização. A maioria dos usuários seriam eleitores norte-
americanos.

De acordo com Wylie, os dados vendidos à Cambridge Analytica teriam sido usados para
catalogar o perfil das pessoas e, então, direcionar, de forma mais personalizada, materiais
pró-Trump e mensagens contrárias à adversária dele, a democrata Hillary Clinton.

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AFP

Em um mesmo dia, Facebook teve a maior redução percentual de mercado dos últimos quatro anos

A base de dados coletada é uma ferramenta poderosa porque permite que as campanhas
identifiquem pessoas que estão em dúvida e direcionem a elas mensagens com maior
probabilidade de convencê-las.

"Fornecer a informação certa à pessoa certa, no momento certo é mais importante do que
nunca", afirma uma propaganda da Cambridge Analytica sobre marketing eleitoral.

A empresa nega que tenha usado dados do Facebook como parte dos serviços que forneceu
à campanha de Donald Trump para a presidência.

Quem é o informante?
Christopher Wylie é um canadense, de 28 anos, especializado em análise de dados. Ele
trabalhou para a Cambridge Analytica para projetar e emplementar o plano de uso de dados
do Facebook.

Ele mostou um dossiê cheio de evidências sobre o mau uso dos dados para o Guardian,
com e-mails, mensagens de voz, contratos e transferências bancárias que revelam a coleta
de dados dos usuários. As informações também foram passadas para autoridades britânicas
e americanas.

A jornalista Carole Cadwalladr – que assina tanto a reportagem no jornal britânico quanto a
do New York Times – conversou com ele durante meses antes da publicação das notícias.

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Facebook diz que está comprometido com a segurança da das informações dos usuários

Ela descreveu que o próprio Wylie se enxerga como um "gay canadense e vegano que,
sabe-se lá como, acabou criando a ferramenta de guerra mental e psicológica de Steve
Bannon". Segundo a jornalista, no último ano ele tem tentado desfazer os eventos – a vitória
de Trump e o Brexit – que ajudou a concretizar com seu trabalho.

Wylie saiu da empresa em 2015 junto com uma parte da equipe original, que estava
insatisfeita com as inclinações políticas dos donos da Cambridge Analytica. Ele foi fonte –
anônima – de mais de uma reportagem sobre manipulação na internet e resolveu vir à
público em fevereiro de 2018. Agora, corre o risco de ser processador por estar quebrando
cláusulas de confidencialidade de seu contrato com a empresa.

Qual a reação do Facebook?


O vazamento foi levado ao conhecimento do Facebook pela primeira vez há cerca de dois
anos, mas a empresa só suspendeu a Cambridge Analytica da plataforma na última sexta-
feira – depois que as reportagens procuraram a empresa para pedir uma resposta sobre o
caso. A rede social diz que o aplicativo usado para a coleta dos dados foi retirado do ar em
2015.

Inicialmente, a empresa não admitiu a falha e os advogados da rede social procuraram o


Guardian dizendo que o jornal fazia alegações "falsas e difamatórias".

No mês passado, em uma outra investigação – desta vez, sobre notícias falsas – tanto a
rede social quanto o atual presidente da Cambridge Analytica, Alexander Nix, tinham

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afirmado que a empresa não tinha nem usava informações privadas de usuários da rede.

AFP

Mark Zuckerberg ainda não se pronunciou sobre o assunto

O Facebook, cujo modelo de negócio está baseado na coleta de dados, vem negando o mau
uso de informações do público em todas as investigações feitas sobre isso até hoje.

Uma nota assinada pelo vice-presidente do Facebook, Paul Grewal, afirmou que a empresa
está "comprometida com o cumprimento de suas políticas e a proteção de informações dos
usuários".

Procurado também pela BBC Brasil, o Facebook nos Estados Unidos não comentou as
perdas na bolsa americana, nem o escândalo revelado no fim de semana.

Até agora o presidente e criador do Facebook, Mark Zuckerberg, não se pronunciou


publicamente sobre o escândalo.

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