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Com o crescente avanço das tecnologias e a dinâmica das sociedades modernas o meio digital substituiu a

ágora grega como o centro da vida política dos indivíduos. Porem, as plataformas sociais no meio informático, com o
seu alcance e capacidade infinito assim como a incorporeidade das relações travadas digitalmente trazem desafios que
a sociedade ainda esta começando a enfrentar.
O Marketing Político visa três pontos diferentes em dois momentos diferentes da vida democrática:
apresentar aos cidadãos o candidato ideal, reportar aos mandantes a atuação do seu mandatário e apresentar através
dos partidos a ideologia que estes representam e sua filosofia e ética. Apesar de este não ser propriamente uma coisa
nova com a união das redes sociais, e a inteligência artificial nascem os inúmeros problemas que se prendem com a
invasão aos dados pessoais, violação dos direitos de personalidade e da privacidade dos cidadãos alem de tentativas
de condicionar a vida democrática aliando técnicas de marketing de controle psicológico do comportamento dos
eleitores e dos mandantes as novas capacidades de alterar a realidade que as novas tecnologias proporcionam. Afinal
não é mais necessário um ministério da verdade e centenas de Wiston falsificando documentos basta milhares de bots
disparando mensagens direcionadas de forma perfeitamente sincronizada para controlar totalmente a comunicação
das redes
A abertura que as redes sociais deram foram acompanhadas a um custo em segurança. Em 2023, os maiores
jornais do mundo fizeram uma investigação conjunta com o Team Jorge uma empresa de crime organizado israelense
responsável por interferir nas eleições de mais de 33 países usando uma fragilidade no sistema de sinalização SS7 e
também um exército de bots. Além disso, o caso da plataforma Facebook que vendeu os dados de usuários para um
grupo associado a universidade que usou os dados para beneficiar o presidente Trump e muito mais grave que
qualquer destes factos são as denuncias de Rússia e China interferindo na política de centenas de países pelo mundo e
até mesmo defendendo candidatos.
A nossa tese é de que, apesar de ser permitido o consentimento para, de todo modo, puder haver o uso dos
dados pessoais, deve-se ter por relevante que os dados pessoais, como subscreve BENEDITA
MAC CRORIE, “fazem parte das posições subjetivas protegidas pelas normas constitucionais, as quais se designam,
direitos, liberdade e garantias. Por outro lado, não existe no Direito Constitucional um princípio geral segundo o qual
o consentimento funcione como justificação de intervenções do poder público ou de entes privados na esfera dos
particulares”. Por outro lado, tem de se ter muito cuidado no combate ao uso agressivo da tecnologia no marketing
político porque se é verdade que ele pode ser usado para condicionar eleições e atacar as instituições democráticas
também pode ser usado como desculpa para censura e perseguição de opositores políticos.
Com o mesmo amparo, analisa-se como elemento problemático, o caso das grandes plataformas digitais, que
sem um mínimo de consentimento dos titulares de dados pessoais, acedem aos seus dados, utilizam para propaganda
política, e assim, influenciarem a tendência de voto para determinado candidato, em desfavor dos demais.
O marketing é a ciência que estuda o comportamento dos agentes do mercado e como interferir em seus movimentos.
Marketing político unifica um conjunto de técnicas e procedimentos que tem como objetivo adequar um representante
aos seus potenciais representados, para isso, atingindo o maior número de eleitores possíveis, e, na outra face, deve
também mostrar o seu diferencial dos outros candidatos existentes.
O marketing político tem três momentos distintos: eleitoral  pós-eleitoral e o partidário, nesta vertente é o partidário.
O objetivo é maximização do voto; busca do poder governativo, político e ideológico, e da democracia interna;
promoção da interacção entre cidadãos na cena política. A função deste ramo do marketing é disseminação de
informação: relativamente à sua identidade política e ideias, seu histórico e suas actividades recentes. Os Websites
permitiram desenvolver uma Campanha mais eficaz de diversas formas, tais como a provisão de mais espaço para
informação e maior controlo individual, a maior rapidez na comunicação permite uma actualização; o formato
dinâmico providencia nova forma de audiências; permite aos Partidos enviar aos utilizadores mensagens e ter um
feedback. Também permitiu a angariação de suporte financeiro. O esforço dos Partidos em levar os cidadãos a
envolverem-se no processo político é também uma das funções desempenhadas pela Web. Esta oferece mais
informação, mais rapidamente, em formato multimédia, sendo que o seu alcance permite aos partidos publicitarem os
seus eventos e aumenta as possibilidades de existir uma comunicação interativa, com maiores oportunidades de
participação e adesão à vida política.
O marketing como um todo sofreu uma dramática restruturação a partir da década de 90 com a popularização da
internet e a globalização subsequente. “Na era da informação, que surge a partir dos anos 90, fatores como a
globalização e o desenvolvimento de novas tecnologias começam a alterar o comportamento dos consumidores, que
estão cada vez mais exigentes, devido à variedade de escolha que o mercado lhes oferece.” (Brazão, 2015:8). Porém
o marketing político sofreu um impacto maior porque a lógica anterior era o grande publico ser atingido de forma
passiva vertical através de televisão e radio e a atividade horizontal interativa tinha um acesso muito menor por meio
de comícios. Estas campanhas eram caras e temporalmente limitadas ao espaço cedido pelos grupos de comunicação.
Com a democratização da internet e das redes sociais, as campanhas passam a ter um peso muito maior da atividade
horizontal em virtude da interação direta com o eleitor digitalizado e esta campanha é mais barata e tem o potencial
de alcance vinte e quatro horas este alcance é muito maior que o antigo alcance vertical. Porem a digitalização trouxe
problemas de interferência na vida privada dos cidadãos.
Para o enquadramento e admissibilidade do Marketing Político, a Constituição da República Portuguesa
afirma MARIA JOSÉ RANGEL DE MESQUITA, “a dimensão política da cidadania é a mais relevante
concretizadora do princípio da participação dos cidadãos na vida democrática da União [...]”.
Em 2018, foi noticiado pela BBC NEWS que por meio de um aplicativo de teste psicológico, lançado no
Facebook, thisisyourdigitallife, em que sob o artifício de se tratar de um teste com fins académicos milhares de dados
foram recolhidos
O aplicativo foi desenvolvido Aleksandr Kogan, pesquisador da universidade de Cambridge, no Reino
Unido. O aplicativo tinha como objetivo primário, realizar uma pesquisa sobre como deduzir a personalidade e as
inclinações políticas das pessoas a partir dos seus perfis no Facebook. Surge então a empresa Cambridge Analytica,
que de imediato comprou todos os dados coletados pelo aplicativo.
Através do aplicativo foram tratados os dados dos usuários e de seus amigos. Entre os dados privados consta:
o nome, a morada, preferências e os seus contatos. A finalidade última, foi a de ajudar a eleger Donald Trump, como
Presidente dos Estados Unidos da América.
O Estado tem o dever público de conservação e proteção constitucional dos direitos fundamentais pela
suprema razão de estes direitos serem naturalmente inerentes às pessoas. Ou seja, ainda que não tivessem sido
legislados, eles existiram na mesma, porque são simplesmente inatos ao ser humano. (vide, artigos 1º e 2º da
declaração universal dos Direitos Humanos e nº 1 do artigo 2º e artigo 8º da Convenção Europeia dos direitos do
Homem).
Os direitos fundamentais são assim, concebidos no direito natural, “como direitos naturais subjetivos, ou seja,
reclamáveis por cada sujeito” que verifique que determinado direito próprio tenha sido violado. “Os direitos
fundamentais são direitos invioláveis de que beneficiam os cidadãos”.
Como dissemos na introdução, o grande desafio na era da informática é a célere. De acordo com ALESSANDRO
BARRETO E VANESSA ARAÚJO, “Uma publicação, postagem ou uma exposição de carácter instantâneo na
internet causará repercussão, com grandes danos psicológicos, familiares, sociais, educacionais, a nível do trabalho e
até do fórum económico”.
Por formas a evitar danos desastrosos na vida das pessoas, irreparáveis, dada a irreversibilidade pela publicação e
invasão da privacidade, o legislador adoptou no direito interno o Regulamento Europeu para a Proteção de dados
Pessoais, através dos nº 2 e 3 do artigo 35º da CRP e pela lei Lei n.º 67/98, de 26 de outubro,
que o Regulamento (UE) 2016/679 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 27 de abril de 2016, relativo à proteção
das pessoas singulares no que diz respeito ao tratamento de dados pessoais e à livre circulação desses dados.
Nos termos do artigo 26ª da CRP, a todos é reconhecido o direito à identidade pessoal, ao bom nome, à reputação, à
imagem, à reservada vida privada e familiar. Por aqui, deve referir-se que, ainda que tenha havido um mínimo de
consentimento com a finalidade de tratamento de dados pessoais este é limitado pelos chamados dados sensíveis. O
Marketing Político deve ter por base o respeito pela privacidade das pessoas. (vide, considerandos 2º e 4º
do Regulamento (UE) 2016/679)
A rigidez das normas portuguesas em relação à proteção de dados tem por objetivo não permitir que os
protagonistas do Marketing Político tenham uma vigilância invasiva dos seus seguidores, pois, “captam imagens
sobre uma totalidade de indivíduos em lugares públicos e privados e os dados e informações pessoais dos cidadãos
são analisados, processados e armazenados com potencial uso político”.
Em sede de Marketing Político, considera-se haver a licitude do tratamento de dados pessoais quando:
- Forem tratados com finalidade específica. (vide, artigo 6º da LGPD). Ou seja, nunca o Marketing Político deve
ser usado para desvirtuar a finalidade com a qual houve assentimento para o tratamento de dados pessoais.
- O tratamento de dados Pessoas para a finalidade de Marketing Político é feito sob expresso consentimento, dito
de forma livre e inequívoca. É proibido usar o silêncio das pessoas como forma de consentimento. (vide, artigos 7º e
11º LGPD).
Por fim, importa considerar como relevante que o consentimento deve ser dado livremente, livre de qualquer
pressão, inteligível. O titular dos dados pessoais tem direito de retirara o seu consentimento a qualquer momento.
(vide, artigo 7º RGPD
- Para além de lícito, o tratamento de dados pessoais deve ser leal e transparente em relação ao titular dos dados
pessoais. O titular de dados pessoais tem direito à oposição do tratamento de dados pessoais, por razões inerentes à
sua pessoa em particular.
O caso do team Jorge também pelos jornais acima citados num consorcio de imprensa incluindo 30 órgãos de
comunicação social. Isso em si é uma singularidade no ramo mesmo na esfera da mídia política onde diversos meios
se unem para promover os candidatos de seu partido instrumentalizando os factos e a credibilidade de que dispõe em
uma campanha. Os motivos para tal são mais que uma preferência ideológica, com o publico migrando da televisão
para as redes sociais mais diversificadas e consequentemente os anunciantes. Os grandes veículos passaram a
reconhecer a vantagem de aliar-se a um partido tanto pelo eleitorado deste quanto para receber prioridade no
marketing pois eleitoral e partidário.
Ainda que relacionados ao mesmo partido os consórcios de imprensa só tiveram seu início 10 anos atras.
Porque o lucro que advêm de uma determinada posição política significa eleger um pequeno nicho de mercado
que normalmente repele os demais. Veículos com a mesma posição política são competidores naturais em um
universo de recursos finitos cada um buscando destaque.
O unificador foi o próprio meio digital com a sua liberdade, velocidade e horizontalidade que cativam um publico
cada vez mais dinâmico tirando a força da mídia.
Não vou explicar o caso exposto nos principais veículos de comunicação em fevereiro de 2023.
Empreiteiros israelitas apelidado de tean Jorge foi responsável por interferir em ao menos 30 eleições ao redor do
mundo usando o sistema de sinalização ss7 e comandando bots nas redes sociais.
O processo de atuação é uma rede de usada para inicialização e controle de chamadas. O método usado foram ataques
coordenados: rastreamento, intercetação e fraudes.
No presente momento existem diversas propostas de regulamentar as redes sociais e buscando tanto a segurança dos
dados dos usuários principalmente em pontos sensíveis que podem ser usados para discriminação principalmente com
a polarização política atual.
Acreditamos que uma das saídas para grande parte dos problemas com as redes sociais é a política do grátis que usa o
valor econômico dos dados e da visibilidade para financiar o investimento.
Plataformas digitais pagas mensalmente pelo usuário anulariam a entrada de bots pois não seriam economicamente
viáveis e ao mesmo tempo os donos de plataformas passam a financiar seu investimento de maneira clara.
Quanto ao marketing político precisa-se agir com cuidado. Em primeiro lugar faz parte do regime democrático a
visibilidade dos contrários é necessária que o eleitor tenha acesso aos diversos pontos de vista com o risco de
entrarmos em uma janela de Overton condicionando a maneira de pensar das pessoas o que seria o caminho mais fácil
para uma ditadura.
Uma política repressiva sobre as redes sociais poderia facilmente ser a fantasia da censura de um partido como
ocorreu nas eleições de diversos países ao redor do mundo vide Rússia, Venezuela e Nicarágua onde os opositores
políticos acabam sistematicamente presos. Para enfrentar o problema as melhores medidas são paliativas passando
pela educação escolar do uso dar plataformas digitais e na maneira de autoproteção.
Nas democracias se deve confiar na vontade popular, em caso contrário, teremos uma plutocracia ou oligarquia
disfarçada. Confiar no povo significa que a decisão individual de um eleitor representa o que ele realmente pensa
sobre o que ele deseja para o futuro de seu país e não a vontade de um marcheteiro e lembrando que o político tem
maneiras de ser destituídos de seus mandatos uma vez que não respeitem a vontade popular.

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