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John Wesley
'Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei'.
(Romanos 3:31)
Resta inquirir como podemos seguir um modelo melhor; como nós podemos
nos capacitar a dizer com o Apóstolo: Nós então tornamos a fé nula, através da fé?
Deus proíbe: Nós cumprimos a lei'.
2. De fato, nós não estabelecemos a velha lei cerimonial; nós sabemos que ela
está abolida para sempre. Muito menos, estabelecemos toda a dispensação mosaica;
isto nós sabemos nosso Senhor pregou em sua cruz. Nem, ainda, estabelecemos a lei
moral (que deve ser temida muito também), como se o cumprimento dela; o manter
todos os mandamentos, fosse a condição de nossa justificação: Se fosse assim,
certamente, 'aos olhos Dele nenhum homem seria justificado'. Mas tudo isto sendo
permitido, nós ainda 'estabelecemos a lei, a lei moral, no sentido do Apóstolo.
2. Nós, então, por nossa doutrina, estabelecemos a lei, quando nós assim
declaramos abertamente a todos os homens; e isto na plenitude em que ela é declarada
por nosso abençoado Senhor, e seus Apóstolos; quando a difundimos na altura, na
profundidade, comprimento e largura dela. Estabelecemos a lei, quando declaramos
cada parte dela; cada mandamento contido nela, não apenas em seu sentido completo
e literal, mas, igualmente, em seu significado espiritual; não apenas com respeito às
ações exteriores, que ela tanto proíbe ou ordena, mas também com respeito ao
princípio interior, para os pensamentos, desejos e intentos do coração.
5. Assim é que, até os dias de hoje, 'os Escribas e Fariseus', os homens que
têm a forma, mas não o poder da religião, e que são geralmente sábios aos seus
próprios olhos, e retos em seus próprios conceitos, -- 'ouvindo essas coisas, ficam
ofendidos', ficam profundamente ofendidos, quando falamos da religião do coração; e
particularmente, quando mostramos que sem esta, 'mesmo que déssemos todos os
nossos bens para alimentar o pobre', de nada nos aproveitaria. Mas ofendidos eles
devem estar; porque não falamos, a não ser a verdade, como ela está em Jesus. É o
que nos cabe, quer ouçam, ou se reprimam, entregarmos nossas próprias almas. Tudo
que está escrito no livro de Deus, nós declaramos; não apenas todas as promessas,
mas todas as ameaças, também, que encontramos nela. Ao mesmo tempo, que
proclamamos todas as bênçãos e privilégios que Deus tem preparado para seus filhos,
nós igualmente 'ensinamos todas as coisas que ele ordenou'. E nós sabemos que todos
esses têm seu uso; tanto para o despertar daqueles que estão dormindo; para a
instrução do ignorante, o conforto do fraco de espírito, quanto para a edificação e
aperfeiçoamento dos santos. Nós sabemos que 'toda a Escritura, dada pela inspiração
de Deus, é adequada', seja 'para a doutrinação', ou 'para a reprovação; seja 'para a
correção, ou para a instrução na retidão'; e 'que o homem de Deus', no processo da
obra de Deus, em sua alma, necessita de cada parte dela, para que ele possa, por fim,
'ser perfeito, totalmente suprido em todas as boas obras'.
6. É nossa parte pregar Cristo desta forma; pregando todas as coisas, o que
quer que Ele tenha revelado. Nós podemos, de fato, sem culpa; e com uma bênção
peculiar de Deus, declarar o amor de nosso Senhor Jesus Cristo; nós podemos falar,
de uma maneira mais especial do 'Senhor, nossa retidão'. Nós podemos discorrer
sobre a graça de Deus em Cristo, 'reconciliando o mundo para Si mesmo'; nós
podemos, nas oportunidades apropriadas, discorrer sobre seu louvor, como tendo
'suportado as iniqüidades de todos nós; expiado por nossas transgressões;
machucado-se por nossas injustiças, para que, através de suas chicotadas
pudéssemos ser curados': -- Mas ainda assim, nós não estaríamos pregando Cristo, de
acordo com sua palavra, se nós estivéssemos completamente confinados em nós
mesmos para isto: Nós não somos claros diante de Deus, a menos que o proclamemos
em todos os seus ofícios. Pregar Cristo, como um operário que não precisa ser
envergonhado, é pregá-Lo, não apenas como nosso Grande Sumo Sacerdote, 'tomado
de entre os homens, e ordenado para os homens, em coisas pertinentes a Deus'; como
tal 'reconciliando-nos para Deus, através de seu sangue', e 'vivendo para sempre para
interceder por nós'; -- mas igualmente, como um Profeta do Senhor 'que de Deus é
feito sabedoria junto a nós', que, pela sua palavra e seu Espírito, está conosco sempre,
'guiando-no em toda verdade'; -- e permanecendo um Rei para sempre, fornecendo as
leis para todos a quem Ele comprou com seu sangue; restaurando estes para a imagem
de Deus, a quem Ele primeiro recolocou no seu favor, como que reinando em todos os
corações crentes, até que ele tenha 'subjugado todas as coisas a si mesmo', -- até que
tenha lançado fora todos os pecados completamente, e trazido para a retidão eterna.
II
1. Em Segundo Lugar, nós estabelecemos a lei, quando pregamos assim a fé
em Cristo, como não a substituir, mas produzir santidade; produzir toda forma de
santidade, negativa e positiva, do coração e da vida.
2. Coisas muito excelentes são faladas da fé, e quem quer que seja parceiro
disto bem pode dizer com o Apóstolo: 'Graças dou a Deus por seu inexplicável dom'.
Ainda assim, ela perde toda sua excelência, quando em comparação com o amor. O
que Paulo observa, concernente à glória superior do Evangelho acima, é que da lei
pode-se falar, com grande propriedade, da superior glória do amor, acima daquela da
fé. 'Até mesmo esta, que foi feita gloriosa, não tem glória neste aspecto, através da
glória que se sobressai. Porque, se aquela que é feita nula é gloriosa, muito mais será
aquela que permanece exceder-se na glória'. Sim; toda a glória da fé, antes que se
tornasse nula, ergue-se novamente, para que atenda ao amor: Trata-se do grande meio
temporário, que Deus ordenou para promover aquela finalidade eterna.
3. Que estes que enaltecem a fé, além de toda proporção, como a tragar todas
as coisas também; e aqueles que tão completamente compreendem mal a natureza
dela, como a imaginar que ela se situa no lugar do amor, considerem um pouco mais,
que, como o amor irá existir depois da fé, então, ele existiu muito antes dela. Os anjos
que, do momento da criação deles, viam a face de seu Criador, que estava no céu, não
tinham oportunidade para a fé, em sua noção geral, já que ela é a evidência das coisas
não vistas. Nem tinham necessidade dela, em sua aceitação mais específica, a fé no
sangue de Cristo: porque Ele não tomara sobre si a natureza de anjos, mas somente a
semente de Abraão. Existia, portanto, nenhum lugar, antes da criação do mundo, para
a fé, tanto em seu sentido geral, quanto particular. Mas existia para o amor. O amor
tinha lugar em todos os filhos de Deus, desde o momento da criação deles. Eles
receberam imediatamente uma ordem de seu gracioso Criador, para existirem, e
amarem.
4. Nem é certo (como ingenuamente e plausivelmente muitos têm defendido)
que a fé, mesmo no sentido mais amplo da palavra, tinha algum lugar no paraíso. É
altamente provável, deste resumido relato não circunstancial, que temos das Sagradas
Escrituras, que Adão, antes que se rebelasse contra Deus, caminhava com Ele, pelas
vistas, e não pela fé. Já que seus olhos da razão eram fortes e claros; e (como uma
águia pode ver o sol), poderia ter visto a face de seu Mestre, tão perto, quanto os anjos
inteligentes não teriam feito. Ele estava, então, capacitado para falar com Ele, face a
face; cuja face agora não podia ver e viver; e conseqüentemente, não havia
necessidade daquela fé, cujo ofício é suprir a necessidade das vistas.
5. Por outro lado, é absolutamente certo que a fé, neste sentido específico, não
tinha, então, lugar. Já que, naquele sentido, ela necessariamente pressupõe o pecado, e
a ira declarada de Deus contra o pecador, sem a qual não existe necessidade de um
redentor para o pecado, com o objetivo de reconciliar o pecador com Deus.
Conseqüentemente, como não houve necessidade de um redentor antes da queda,
então, não havia lugar para a fé, naquela redenção; o homem sendo, então, puro de
toda mácula do pecado; santo, como Deus é santo. O amor, até então, preenchia seu
coração; reinava nele sem rival; e foi somente quando o amor foi desperdiçado pelo
pecado, que a fé foi acrescentada; não por causa dela, nem com respeito a algum
objetivo que pudesse existir mais além, do que até que ela respondesse à finalidade
pela qual foi ordenada, -- ou seja, restaurar o homem para o amor do qual ele havia
caído. Quando da queda, portanto, foi acrescentada esta evidência das coisas não
vistas, quem antes, eram totalmente desnecessárias; essa confiança no amor redentor,
que não teria possivelmente lugar, até que a promessa fosse feita, para que 'a Semente
da mulher pudesse pisar a cabeça da serpente'.
6. A fé, então, foi originalmente designada por Deus para restabelecer a lei do
amor. Portanto, em assim falando, nós não a subestimamos; ou roubamos dela seu
devido louvor; mas ao contrário, mostramos seu valor real, exaltando-na em sua justa
proporção; e dando a ela aquele mesmo lugar que a sabedoria de Deus determinou,
desde o início. É o grande meio de restaurar aquele amor santo em que o homem foi
originalmente criado. Segue-se que, embora a fé não tenha valor em si mesma, (assim
como nenhum outro meio que seja), ainda assim, como ela conduz àquela finalidade, -
- estabelecer, de uma maneira renovada, o amor em nossos corações; e como no
presente estado das coisas, ela é o único meio debaixo do céu, para efetuá-lo; é
considerada por este motivo, uma bênção inexprimível para o homem, e de um valor
inexplicável diante de Deus.
III
1. Em Terceiro Lugar, isto naturalmente nos faria observar o mais importante
caminho para estabelecer a lei; ou seja, estabelecê-la em nossos corações e vidas. De
fato, sem isto, de que proveito teria tudo o mais? Nós poderíamos estabelecê-la,
através da doutrina; nós poderíamos pregá-la, em toda a sua extensão; poderíamos
explicá-la e reforçar cada parte dela. Nós poderíamos explicá-la em seu significado
espiritual, e declarar os mistérios do reino; nós poderíamos pregar Cristo em todos os
seus ofícios; a fé em Cristo, como revelando todos os tesouros do seu amor; e, ainda
assim, todo este tempo, se a lei que pregamos não fosse estabelecida em nossos
corações, nós não mais seríamos considerados diante de Deus do que 'o som de metal,
ou o tinir de pratos': Toda a nossa pregação estaria tão longe de trazer proveito a nós
mesmos, que ela nossa condenação.
5. Assim sendo, vamos nos esforçar para estabelecermos a lei em nós mesmos,
não pecando, 'já que estamos debaixo da graça', mas antes, usando de todo o poder
que recebemos por meio dela, 'para cumprir toda a retidão'. Recordando-nos da luz
que recebemos de Deus, enquanto seu Espírito nos convencia do pecado, cuidemos
para não apagar aquela luz; de maneira que o que já obtivemos não percamos. Que
nada nos induza a construir novamente o que havíamos destruído; que não retomemos
coisa alguma, pequena ou grande, que nós, então, vimos claramente que não era para
a glória de Deus, ou para o proveito de nossa própria alma; ou negligenciarmos coisa
alguma, sem checarmos nossa própria consciência. Para aumentar e aperfeiçoar a luz
que tivemos antes, vamos agora acrescentar a luz da fé. Nós confirmamos o dom
anterior de Deus, através de um sentido mais profundo do que quer que ele tenha,
então, nos mostrado, através de uma ternura maior de consciência, e uma
sensibilidade mais extraordinária do pecado. Caminhando agora com alegria, sem
medo, na transparência, resolutos em observar as coisas eternas, nós podemos olhar
para o prazer, a riqueza, o louvar todas as coisas na terra, como bolhas sobre a água,
sem importância alguma; não merecendo um pensamento deliberado, mas apenas o
que está 'no interior do véu', onde Jesus 'senta-se à direita de Deus'.
[Editado por Jennette Descalzo, estudante da Northwest Nazarene College (Nampa, ID), com
correções de George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]