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Exercícios

1)(P0000045)(Enem) Em junho de 1913, embarquei para a Europa a fim de me tratar


num sanatório suíço. Escolhi o de Clavadel, perto de Davos-Platz, porque a respeito
dele me falara João Luso, que ali passara um inverno com a senhora. Mais tarde vim a
saber que antes de existir no lugar um sanatório, lá estivera por algum tempo Antônio
Nobre. “Ao cair das folhas", um de seus mais belos sonetos, talvez o meu predileto, está
datado de “Clavadel, outubro, 1895". Fiquei na Suíça até outubro de 1914.
BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.

No relato de memórias do autor, entre os recursos usados para organizar a sequência dos
eventos narrados, destaca-se a:

a) construção de frases curtas a fim de conferir dinamicidade ao texto.


b) presença de advérbios de lugar para indicar a progressão dos fatos.
c) alternância de tempos do pretérito para ordenar os acontecimentos. (Os tempos
do pretérito perfeito e do mais-que-perfeito se alternam para construir a narrativa.)
d) inclusão de enunciados com comentários e avaliações pessoais.
e) alusão a pessoas marcantes na trajetória de vida do escritor.

2)(P0000046)(UNESPAR)
Os advérbios são uma classe de palavras que tem como finalidade modificar um verbo,
um adjetivo, ou até mesmo um outro advérbio. Essa função de modificador faz com que
o advérbio atribua uma circunstância ao termo que ele modifica.

A partir dessa afirmação, analise os enunciados a seguir:

I. “[...] algo bem brasileiro [...]” (linha 12).


II. “[...] onde se localiza o Big Ben” (linha 22).
III. “[...] podemos agir pateticamente [...]” (linha 34).
IV. “Talvez até descobríssemos [...]” (linhas 52/53).

De acordo com o texto, os advérbios “bem”, “onde”, “pateticamente” e “talvez”, nas


passagens acima, exprimem, respectivamente, as circunstâncias de:

a) Modo – lugar – meio – intensidade;


b) Meio – lugar – modo – intensidade;
c) Modo – lugar – intensidade – dúvida;
d) Afirmação – lugar – modo – dúvida;
e) Intensidade – lugar – modo – dúvida.

3)(P0000049)(FGV) Equilibre suas atitudes

Para melhorar a expectativa de vida, atitudes como dietas balanceadas, prática de


atividades físicas e relacionamentos interpessoais são de extrema importância. No
entanto, um fator pouco lembrado pelas pessoas pode representar um papel ainda
maior para uma vida mais longa e saudável: o estudo.

Segundo o psiquiatra Daniel Barros, pessoas que estudam mais tendem a elevar a
expectativa de vida. “Existem diversas pesquisas mostrando que cada ano investido em
conhecimento se reverte em anos a mais na vida do indivíduo”, afirma.

Os benefícios do estudo para a longevidade e qualidade de vida são resultados de um


efeito global causado no indivíduo. “O impacto não é explícito no organismo; são as
atitudes, os comportamentos da pessoa que vão mudando conforme ela ganha
conhecimento”, explica o psiquiatra.

De acordo com Barros, a principal habilidade adquirida por meio do estudo “é


conseguir saber a hora de adiar as gratificações. Então, em detrimento de um prazer
imediato, a pessoa consegue pensar no futuro e fazer um planejamento no longo prazo
para aproveitar melhor sua vida”.

Para uma maior qualidade de vida, a dica do especialista é equilibrar atitudes. “Claro
que é importante malhar, praticar atividades físicas, comer saudavelmente, mas não
somos feitos somente de ‘corpo’. Não podemos nos esquecer da mente”, observa.

O Estado de S.Paulo, 12/07/2015.

Destoam da variedade linguística predominante no texto o substantivo “dica” e o verbo 


a) “malhar”
b) “melhorar”.  
c) “adiar’. 
d) “tendem”.
e) “reverte”.  
4)(P0000057)(UNESP) A questão abordam um texto de um site especializado em
esportes com instruções de treinamento para a corrida olímpica dos 1 500 metros.

                              Corrida - Prova 1 500 metros rasos

            A prova dos 1 500 metros rasos, juntamente com a da milha (1 609 metros),
característica dos países anglo-saxônicos, é considerada prova tática por excelência,
sendo muito importante o conhecimento do ritmo e da fórmula a ser utilizada para
vencer a prova. Os especialistas nessas distâncias são considerados completos homens
de luta que, após um penoso esforço para resistir ao ataque dos adversários, recorrem a
todas as suas energias restantes a fim de manter a posição de destaque conseguida
durante a corrida, sem ceder ao constante assédio dos seus perseguidores.
            [...] Para correr essa distância em um tempo aceitável, deve-se gastar o menor
tempo possível no primeiro quarto da prova, devendo-se para tanto sair na frente dos
adversários, sendo essencial o completo domínio das pernas, para em seguida
normalizar o ritmo da corrida. No segundo quarto, deve-se diminuir o ritmo, a fim de
trabalhar forte no restante da prova, sempre procurando dosar as energias, para não
correr o risco de ser surpreendido por um adversário e ficar sem condições para a luta
final.
            Deve ser tomado cuidado para não se deixar enganar por algum adversário de
condição inferior, que normalmente finge possuir energias que realmente não tem, com
o intuito de minar o bom corredor, para que o companheiro da mesma equipe possa tirar
proveito da situação e vencer a prova. Assim sendo, o corredor experiente saberá manter
regularmente as suas passadas, sem deixar-se levar por esse tipo de artimanha.
Conhecendo o estado de suas condições pessoais, o corredor saberá se é capaz de um
sprint nos 200 metros finais, que é a distância ideal para quebrar a resistência de um
adversário pouco experiente.
            O corredor que possui resistência e velocidade pode conduzir a corrida segundo
a sua conveniência, impondo os seus próprios meios de ação. Finalmente, ao ultrapassar
um adversário, deve-se fazê-lo decidida e folgadamente, procurando sempre
impressioná-lo com sua ação enérgica. Também deve-se procurar manter sempre uma
boa descontração muscular durante o desenvolvimento da corrida, nunca levar a cabeça
para trás e encurtar as passadas para finalizar a prova.

                                                                              (http://treino-de-corrida.f1cf.com.br)

Observando as seguintes passagens do texto apresentado, marque a alternativa em que


as duas palavras em negrito são utilizadas como advérbios:
a) “não correr o risco de ser surpreendido”.
b) “finge possuir energias que realmente não tem”.
c) “deve-se fazê-lo decidida e folgadamente”.
d) “nunca levar a cabeça para trás”.
e) “forte no restante da prova, sempre procurando dosar”.
5)(P0000852)(UNIFESP)   Do fundo de Pernambuco, o pai mandou-lhe um telegrama:
“Não saia casa 3 outubro abraços”.

    O rapaz releu, sob emoção grave. Ainda bem que o velho avisara: em cima da hora,
mas avisara. Olhou a data: 28 de setembro. Puxa vida, telegrama com a nota de urgente,
levar cinco dias de Garanhuns a Belo Horizonte! Só mesmo com uma revolução esse
telégrafo endireita. E passado às sete da manhã, veja só; o pai nem tomara o mingau
com broa, precipitara-se na agência para expedir a mensagem.

    Não havia tempo a perder. Marcara encontros para o dia seguinte, e precisava
cancelar tudo, sem alarde, como se deve agir em tais ocasiões. Pegou o telefone, pediu
linha, mas a voz de d. Anita não respondeu. Havia tempo que morava naquele hotel e
jamais deixara de ouvir o “pois não” melodioso de d. Anita, durante o dia. A voz grossa,
que resmungara qualquer coisa, não era de empregado da casa; insistira: “como é?”, e a
ligação foi dificultosa, havia besouros na linha. Falou rapidamente a diversas pessoas,
aludiu a uma ponte que talvez resistisse ainda uns dias, teve oportunidade de escandir as
sílabas de arma virumque cano1, disse que achava pouco cem mil unidades, em tal
emergência, e arrematou: “Dia 4 nós conversamos.” Vestiu-se, desceu. Na portaria, um
sujeito de panamá bege, chapéu de aba larga e sapato de duas cores levantou-se e
seguiu-o. Tomou um carro, o outro fez o mesmo. Desceu na praça da Liberdade e pôs-se
a contemplar um ponto qualquer. Tirou do bolso um caderninho e anotou qualquer
coisa. Aí, já havia dois sujeitos de panamá, aba larga e sapato bicolor, confabulando a
pequena distância. Foi saindo de mansinho, mas os dois lhe seguiram na cola. Estava
calmo, com o telegrama do pai dobrado na carteira, placidez satisfeita na alma. O pai
avisara a tempo, tudo correria bem. Ia tomar a calçada quando a baioneta em riste
advertiu: “Passe de largo”; a Delegacia Fiscal estava cercada de praças, havia armas
cruzadas nos cantos. Nos Correios, a mesma coisa, também na Telefônica. Bondes
passavam escoltados. Caminhões conduziam tropa, jipes chispavam. As manchetes dos
jornais eram sombrias; pouca gente na rua. Céu escuro, abafado, chuva próxima.

    Pensando bem, o melhor era recolher-se ao hotel; não havia nada a fazer. Trancou-se
no quarto, procurou ler, de vez em quando o telefone chamava: “Desculpe, é engano”,
ou ficava mudo, sem desligar. Dizendo-se incomodado, jantou no quarto, e estranhou a
camareira, que olhava para os móveis como se fossem bichos. Deliberou deitar-se,
embora a noite apenas começasse. Releu o telegrama, apagou a luz.

    Acordou assustado, com golpes na porta. Cinco da manhã. Alguém o convidava a ir à


Delegacia de Ordem Política e Social. “Deve ser engano.” “Não é não, o chefe está à
espera.” “Tão cedinho? Precisa ser hoje mesmo? Amanhã eu vou.” “É hoje e é já.”
“Impossível.” Pegaram-lhe dos braços e levaram-no sem polêmica. A cidade era uma
praça de guerra, toda a polícia a postos. “O senhor vai dizer a verdade bonitinho e logo”
– disse-lhe o chefe. – “Que sabe a respeito do troço?” “Não se faça de bobo, o troço que
vai estourar hoje.” “Vai estourar?” “Não sabia? E aquela ponte que o senhor ia
dinamitar mas era difícil?” “Doutor, eu falei a meu dentista, é um trabalho de prótese
que anda abalado. Quer ver? Eu tiro.” “Não, mas e aquela frase em código muito
vagabundo, com palavras que todo mundo manja logo, como arma e cano?” “Sou
professor de latim, e corrigi a epígrafe de um trabalho.” “Latim, hem? E a conversa
sobre os cem mil homens que davam para vencer?” “São unidades de penicilina que um
colega tomou para uma infecção no ouvido.” “E os cálculos que o senhor fazia diante do
palácio?” Emudeceu. “Diga, vamos!” “Desculpe, eram uns versinhos, estão aqui no
bolso.” “O senhor é esperto, mas saia desta. Vê este telegrama? É cópia do que o senhor
recebeu de Pernambuco. Ainda tem coragem de negar que está alheio ao golpe?” “Ah,
então é por isso que o telegrama custou tanto a chegar?” “Mais custou ao país, gritou o
chefe. Sabe que por causa dele as Forças Armadas ficaram de prontidão, e que isso
custa cinco mil contos? Diga depressa.” “Mas, doutor…” Foi levado para outra sala,
onde ficou horas. O que aconteceu, Deus sabe. Afinal, exausto, confessou: “O senhor
entende conversa de pai pra filho? Papai costuma ter sonhos premonitórios, e toda a
família acredita neles. Sonhou que me aconteceria uma coisa no dia 3, se eu saísse de
casa, e telegrafou prevenindo. Juro!”

    Dia 4, sem golpe nenhum, foi mandado em paz. O sonho se confirmara: realmente,
não devia ter saído de casa.

(70 historinhas, 2016.) 1  arma virumque cano: “canto as armas e o varão” (palavras iniciais da epopeia Eneida, do
escritor Vergílio, referentes ao herói Eneias).

“Falou rapidamente a diversas pessoas, aludiu a uma ponte que talvez resistisse ainda


uns dias, teve oportunidade de escandir as sílabas de arma virumque cano”
(3o parágrafo)

Os termos em destaque constituem, respectivamente:

a) uma preposição, uma preposição e um artigo. (No trecho “fala rapidamente a


diversas pessoas”, “a” é a preposição exigida pelo verbo falar, similar a “aludir a
uma ponte”, na qual o verbo aludir também rege a preposição “a”. Já em “teve
oportunidade de escandir as sílabas”, “as” é artigo definido feminino plural,
determinando o substantivo “sílabas”.)
b) um pronome, uma preposição e um artigo.
c) um artigo, um artigo e um pronome.
d) uma preposição, um artigo, um artigo.
e) um pronome, uma preposição e um pronome.

6)(P0040426)(UNITAU) Atualmente, discute-se se existe ou não algo como uma


cultura do estupro. Por cultura do estupro quer-se expor isto: o nosso modo de viver,
que inclui formas de pensar e de agir, no qual o estupro foi naturalizado. Isso quer dizer
que o estupro seria algo tão banal, tão corriqueiro, tão comum, que não nos
preocuparíamos com ele.

No contexto da cultura do estupro, está em vigência uma mentalidade que não vê como
muito problemático que um homem estupre uma mulher. O estupro não é considerado
anormal. Muitas vezes o próprio estuprador sequer consegue perceber que o seu ato é
um estupro. Outras vezes não vê seu ato como um crime, mas como um estranho direito
sobre uma mulher ou outra pessoa estuprável. Um estupro é incomparável e pode ser
aniquilador de uma subjetividade, de um corpo, de uma vida. O horror do estupro
expressa muitos outros horrores. Os horrores da própria cultura que é capaz de produzir
subjetividades capazes desse crime.

A maior parte das pessoas se sente confusa diante de estupros. Talvez por confusão,
mais do que por maldade, acabem por especular sobre a vítima, que é desrespeitada na
sua condição de vítima. Aquele hábito super comum de colocar a culpa na roupa, no
comportamento, no modo de ser da vítima, aprofunda ainda mais a cultura do estupro. É
como se a pessoa continuasse sendo estuprada, violentada pelos ataques verbais, depois
de ter sido estuprada fisicamente. Como se, depois do estupro físico, a pessoa estuprada
continuasse sendo estuprada simbolicamente.

De todos os estupros que ocorrem diariamente, segundo os dados do Sinan, calcula-se,


de maneira otimista, que apenas 10% desses crimes são noticiados e chegam ao
conhecimento da polícia. O estupro é um crime que se dá às escuras, envolto em
vergonha e muito preconceito. Segundo os dados do Sinan, 24,1% dos estupradores de
crianças são os próprios pais ou padrastos, e em 32,2% dos casos são amigos ou
conhecidos da vítima.

Desses estupros noticiados, muitos não chegaram à condenação, pela inoperância da


investigação policial e, sobretudo, pelo machismo, que condiciona, em grande parte, a
atuação da polícia, do Ministério Público e do Poder Judiciário. Ou seja, se os dados do
Sinan estiverem certos, mudanças na legislação penal não alcançariam mais do que 10%
dos casos de estupro.
Adaptado de Estupro em potencial – para pensar a cultura do estupro. Márcia Tiburi, Revista Cult. Disponível em
http://revistacult.uol.com.br/home/2016/06/estupro-em-potencial-para-pensar-a-cultura-do-estupro/. Acesso em jun. 2016 .

No texto em análise, uma expressão que funciona cataforicamente é:

a) isto (linha 3).


b) isso (linha 4).
c) algo (linha 5).
d) outras vezes (linhas 11-12).
e) de todos (linha 29).

7)(P0044873)(FUVEST) O Twitter é uma das redes sociais mais importantes no Brasil


e no mundo. (...) Um estudo identificou que as fake news são 70% mais propensas a
serem retweetadas do que fatos verdadeiros. (...) Outra conclusão importante do
trabalho diz respeito aos famosos bots: ao contrário do que muitos pensam, esses
robôs não são os grandes responsáveis por disseminar notícias falsas. Nem mesmo
comparando com outros robozinhos: tanto os que espalham informações mentirosas
quanto aqueles que divulgam dados verdadeiros alcançaram o mesmo número de
pessoas.

Super Interessante, “No Twitter, fake news se espalham 6 vezes mais rápido que notícias verdadeiras”.
Maio/2019.

No período “Nem mesmo comparando com outros robozinhos: tanto os que espalham
informações mentirosas quanto aqueles que divulgam dados verdadeiros alcançaram o
mesmo número de pessoas.”, os dois‐pontos são utilizados para introduzir uma:

a) conclusão.
b) concessão.
c) explicação. (repare que no começo da frase após as reticências que indica: omissão
de alguma coisa que não se quer revelar, emoção demasiada, insinuação etc. ele fala...
Outra conclusão importante do trabalho diz respeito aos famosos bots: ao contrário do
que muitos pensam, esses robôs não são os grandes responsáveis por disseminar
notícias falsas. nesse sentido a marca de dois postos ( : ) indica uma explicação.
Espero que tenha compreendido)
d) contradição.
e) condição.

8)(P0045525)(ALBERT EINSTEIN) Leia o trecho inicial do conto “O cobrador”, de


Rubem Fonseca, para responder à questão.

    Na porta da rua uma dentadura grande, embaixo escrito Dr. Carvalho, Dentista. Na
sala de espera vazia uma placa, Espere o Doutor, ele está atendendo um cliente. Esperei
meia hora, o dente doendo, a porta abriu e surgiu uma mulher acompanhada de um
sujeito grande, uns quarenta anos, de jaleco branco.

    Entrei no gabinete, sentei na cadeira, o dentista botou um guardanapo de papel no


meu pescoço. Abri a boca e disse que o meu dente de trás estava doendo muito. Ele
olhou com um espelhinho e perguntou como é que eu tinha deixado os meus dentes
ficarem naquele estado.

    Só rindo. Esses caras são engraçados.

    Vou ter que arrancar, ele disse, o senhor já tem poucos dentes e se não fizer um
tratamento rápido vai perder todos os outros, inclusive estes aqui — e deu uma pancada
estridente nos meus dentes da frente.

    Uma injeção de anestesia na gengiva. Mostrou o dente na ponta do boticão: A raiz


está podre, vê? disse com pouco caso. São quatrocentos cruzeiros.

    Só rindo. Não tem não, meu chapa, eu disse.


    Não tem não o quê?

    Não tem quatrocentos cruzeiros. Fui andando em direção à porta.

    Ele bloqueou a porta com o corpo. É melhor pagar, disse. Era um homem grande
[…]. E meu físico franzino encoraja as pessoas. Odeio dentistas, comerciantes,
advogados, industriais, funcionários, médicos, executivos, essa canalha inteira. Todos
eles estão me devendo muito. Abri o blusão, tirei o 38 [...]. Ele ficou branco, recuou.
Apontando o revólver para o peito dele comecei a aliviar o meu coração: tirei as gavetas
dos armários, joguei tudo no chão, chutei os vidrinhos todos como se fossem balas, eles
pipocavam e explodiam na parede. Arrebentar os cuspidores e motores foi mais difícil,
cheguei a machucar as mãos e os pés. O dentista me olhava, várias vezes deve ter
pensado em pular em cima de mim, eu queria muito que ele fizesse isso para dar um tiro
naquela barriga grande […].

    Eu não pago mais nada, cansei de pagar! Gritei para ele, agora eu só cobro! (O melhor
de Rubem Fonseca, 2015.)

O primeiro verbo atribui ideia de futuro ao segundo na locução verbal sublinhada em:

a) “Fui andando em direção à porta” (8° parágrafo).


b) “Apontando o revólver para o peito dele comecei a aliviar o meu coração” (9°
parágrafo).
c) “Todos eles estão me devendo muito” (9° parágrafo).
d) “Na sala de espera vazia uma placa, Espere o Doutor, ele está atendendo um cliente”
(1° parágrafo).
e) “o senhor já tem poucos dentes e se não fizer um tratamento rápido vai perder todos
os outros” (4° parágrafo). (trocar a locução verbal pelo forma verbal correspondente:
fui andando (andei), comecei a aliviar (aliviei), estão me devendo (me devem), está
atendendo (atende), vai perder (perderá)...)

9)(P0046178)(UNIFESP) Leia o trecho inicial do conto “A doida”, de Carlos


Drummond de Andrade, para responder à questão.

  A doida habitava um chalé no centro do jardim maltratado. E a rua descia para o
córrego, onde os meninos costumavam banhar-se. Era só aquele chalezinho, à esquerda,
entre o barranco e um chão abandonado; à direita, o muro de um grande quintal. E na
rua, tornada maior pelo silêncio, o burro que pastava. Rua cheia de capim, pedras soltas,
num declive áspero. Onde estava o fiscal, que não mandava capiná-la?

  Os três garotos desceram manhã cedo, para o banho e a pega de passarinho. Só com
essa intenção. Mas era bom passar pela casa da doida e provocá-la. As mães diziam o
contrário: que era horroroso, poucos pecados seriam maiores. Dos doidos devemos ter
piedade, porque eles não gozam dos benefícios com que nós, os sãos, fomos
aquinhoados. Não explicavam bem quais fossem esses benefícios, ou explicavam
demais, e restava a impressão de que eram todos privilégios de gente adulta, como fazer
visitas, receber cartas, entrar para irmandades. E isso não comovia ninguém. A loucura
parecia antes erro do que miséria. E os três sentiam-se inclinados a lapidar1 a doida,
isolada e agreste no seu jardim.

  Como era mesmo a cara da doida, poucos poderiam dizê-lo. Não aparecia de frente e
de corpo inteiro, como as outras pessoas, conversando na calma. Só o busto, recortado
numa das janelas da frente, as mãos magras, ameaçando. Os cabelos, brancos e
desgrenhados. E a boca inflamada, soltando xingamentos, pragas, numa voz rouca.
Eram palavras da Bíblia misturadas a termos populares, dos quais alguns pareciam
escabrosos, e todos fortíssimos na sua cólera.

  Sabia-se confusamente que a doida tinha sido moça igual às outras no seu tempo
remoto (contava mais de sessenta anos, e loucura e idade, juntas, lhe lavraram o corpo).
Corria, com variantes, a história de que fora noiva de um fazendeiro, e o casamento uma
festa estrondosa; mas na própria noite de núpcias o homem a repudiara, Deus sabe por
que razão. O marido ergueu-se terrível e empurrou-a, no calor do bate- -boca; ela rolou
escada abaixo, foi quebrando ossos, arrebentando-se. Os dois nunca mais se veriam. Já
outros contavam que o pai, não o marido, a expulsara, e esclareciam que certa manhã o
velho sentira um amargo diferente no café, ele que tinha dinheiro grosso e estava
custando a morrer – mas nos racontos2 antigos abusava-se de veneno. De qualquer
modo, as pessoas grandes não contavam a história direito, e os meninos deformavam o
conto. Repudiada por todos, ela se fechou naquele chalé do caminho do córrego, e
acabou perdendo o juízo. Perdera antes todas as relações. Ninguém tinha ânimo de
visitá-la. O padeiro mal jogava o pão na caixa de madeira, à entrada, e eclipsava-se.
Diziam que nessa caixa uns primos generosos mandavam pôr, à noite, provisões e
roupas, embora oficialmente a ruptura com a família se mantivesse inalterável. Às vezes
uma preta velha arriscava-se a entrar, com seu cachimbo e sua paciência educada no
cativeiro, e lá ficava dois ou três meses, cozinhando. Por fim a doida enxotava-a. E,
afinal, empregada nenhuma queria servi-la. Ir viver com a doida, pedir a bênção à doida,
jantar em casa da doida, passaram a ser, na cidade, expressões de castigo e símbolos de
irrisão3 .

  Vinte anos de uma tal existência, e a legenda está feita. Quarenta, e não há mudá-la. O
sentimento de que a doida carregava uma culpa, que sua própria doidice era uma falta
grave, uma coisa aberrante, instalou-se no espírito das crianças. E assim, gerações
sucessivas de moleques passavam pela porta, fixavam cuidadosamente a vidraça e
lascavam uma pedra. A princípio, como justa penalidade. Depois, por prazer.
Finalmente, e já havia muito tempo, por hábito. Como a doida respondesse sempre
furiosa, criara-se na mente infantil a ideia de um equilíbrio por compensação, que
afogava o remorso.

  Em vão os pais censuravam tal procedimento. Quando meninos, os pais daqueles três
tinham feito o mesmo, com relação à mesma doida, ou a outras. Pessoas sensíveis
lamentavam o fato, sugeriam que se desse um jeito para internar a doida. Mas como? O
hospício era longe, os parentes não se interessavam. E daí – explicava-se ao forasteiro
que porventura estranhasse a situação – toda cidade tem seus doidos; quase que toda
família os tem. Quando se tornam ferozes, são trancados no sótão; fora disto, circulam
pacificamente pelas ruas, se querem fazê-lo, ou não, se preferem ficar em casa. E doido
é quem Deus quis que ficasse doido... Respeitemos sua vontade. Não há remédio para
loucura; nunca nenhum doido se curou, que a cidade soubesse; e a cidade sabe bastante,
ao passo que livros mentem. (Contos de aprendiz, 2012.) 

lapidar: apedrejar; 2raconto: relato, narrativa; 3irrisão: zombaria.


1

Em “Não aparecia de frente e de corpo inteiro, como as outras pessoas, conversando na


calma” (3° parágrafo), o termo sublinhado é um verbo

a) de ligação.
b) transitivo direto e indireto.
c) transitivo direto.
d) intransitivo. (Como o verbo aparecer no sentido de "surgir" não pede complemento,
ele não tem nenhuma transitividade. Assim, como não é dos de ligação também, só
pode ser intransitivo, que não pede complemento.)
e) transitivo indireto.

10)(P0057003)(FGV-SP) Um vocábulo também pode ser formado quando passa de uma


classe gramatical a outra, sem modificação de sua forma. É o que se denomina
derivação imprópria. Constitui exemplo de derivação imprópria o vocábulo sublinhado
em:    

a) “De futebol não entendo, e é tarde para começar a entender.”


b) “Confio em Zagallo como costumo confiar no motorista de ônibus (também não
entendo de condução de veículos) que, quase sempre, me leva para casa, no horário
vespertino.”
c) “O primeiro já demonstrou seu saber de experiências feito.”
d) “O segundo, idem, pois até agora tenho regressado são e salvo, o que significa, mais
ou menos: vitorioso.” (Na frase “O primeiro já demonstrou seu saber de experiências
feito”, o verbo “saber” muda de classe gramatical, tornando-se um substantivo, já que
é antecedido por um pronome, o que caracteriza então uma derivação imprópria.)
e) “Porque agora só se pensa nesse país em termos de pelota, e dizer Zaire é dizer um
competidor do caneco.”

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