Você está na página 1de 15

O DESENCARNADO

ADMAR HEITOR
Prolegómenos

Começam hoje os dias da luz

O dia que traduz

Felicidade

Mediunidade

Verdade

Com a mão que escreve a voz do desencarnado

Enamorado do universo

Proclama versos

Do além-túmulo para si

Dizendo assim

O fim

Não existe
Pituresca

Linda, pituresca suave e fresca

O invólocro carnal seca

Na mais linda sepultura

Feita a vontade do mestre

Colorio uma coisa escura

Deu sinónimo as minhas vestes

Amor, chorei como choram as velas que acendestes

Mo perfumei com seus incensos

Abdiquei meu orgulho

Mostrei-lhe meu apreço

Deus mo abraçou em seu universo

E eu disse de coração

Depois desta propulsão

Perdoe mãe mas todo sofrimento é humano

E por nenhum engano

Aparecerei materializado

Mas aparecerei

Pra mo dares o abraço fraterno

No bebé que virá

Aonde as arvores dançarão


Com os ventos da saudade

Esta é a única verdade

Mo aguarde
Mo Consolou

Neste plano também sinto a vossa dor

Mas o amor

Mo trouxe cá e mo consolou

Mo mostrou

O quão grandioso foi a minha jornada

E que cada passo dado

Os dados da sorte

Mostravam que não é grotesca a morte

Olhar tenaz cigarro apagado

Vícios desencarnados

Copos não mais em minha boca

E aquela saudade teimosa de minha mãe

Não posso olhar atrás

Preces nos ligam

Descrenças nos instigam

Ao nada

E nos obrigam a nada

Nada

No mar de lágrimas

E não terás nada


Mas nada

No mar da minha presença

E te convença

Eu reluzirei pra si

Neste plano também sinto a vossa dor


Luz volte

Quantos não são os céus que existem

Quantas não são as vidas que persistem

Existir nestes planos existenciais

Quanto tempo pode existir aonde não há tempo?

Portanto olhe da janela do ser

E querer não significa ter

Significa ver limitado

Vou andando

Nos caminhos mais densos

Confusos como o que penso

Difusos em seus tropeços

Vou andando

Até a luz mo aceitar de volta


Parti

Foram momentos pungentes

E os videntes

De minha vida

Evidenciaram tormentos

Mas bons sentimentos

Mo libertaram

Mo proporcionaram

A liberdade

Encontrei a luz e parti


Ainda lembras?

Lembras daquele pingente que me destes?

Lá guardo energias

Volte a segura-lo

Lá terás minha companhia

Volte a usa-lo

Lembras daquele desenho que mostrei-te?

Volte a desenha-lo

Detalhando cada assunto

Desta vida corpórea que ainda usufruis

Porque ela não foi aonde eu fui

Beijei sua testa e abracei-te

O último beijo o último abraço carnal

Neste âmbito material

Toquei-te

E no espiritual

Salvai-te

Fiz teus inimigos reféns

E transformei tuas misérias em bens

E sem pensar precipitado

Fui precipitado em sua psique

E meu olhar foi o pique


No ombro do gigante Deus

Aquele que recebeu

Do grande arquitecto

O dom de ensinar

E seu humilde trajecto

Foi aprender a ensinar


É belo

Há coisas que não podem ser ditas

E coisas que não podem ser escritas

Quem autoriza é eterno

E lá em cima não há um governo

Mas sim uma lei universal

Um portal

Para todas as portas

Uma meta incerta

Pra quem não definiu sua jornada

Não…

Não…

Não mo matastes

Mo elevastes

Usastes goetia

Pra mo separar da casca humana

Mas não conseguistes ser eterna

Como eu sou

Luz

Pra luz que precisas

E hoje minha luz desliza

Tão lisa
Como quem o cabelo frisa

Na vaidade da maturidade

Mo beija um bom descanso

Beijo do qual não mo canso


Não existe fim

Não, não olhes pra ela

Olhe praquela

A primeira pessoa que to dizer se conforma

Porque é a única forma

De te dizer venci

Mas eu vim

Por esta mão dizer-te

Não existe fim

Encontrei a luz e parti

Pra um novo começo


Boa noite sol

Depois de muitos sois e muitas luas

Apenas nós silêncio, solidão e tu rua escura

Tropeços

Versos

Extenso

Universo

Cintilando como aurora

Nas lágrimas de quem não chora

Na hora

De chorar

E ama sem amar

Na altura de odiar

Paixão

Coração

Pior fusão

Já criada

p´ra criada do mal

Vendaval de bye bye

Depois disto desejei boa noite ao sol

Você também pode gostar