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Evolução Do Republic P-47 Thunderbolt Como Caça-Bombaeiro e Sua Utilização Pelo 1º Grupo de Aviação de Caça Brasileiro Durante A Segunda Guerra Mundial
Evolução Do Republic P-47 Thunderbolt Como Caça-Bombaeiro e Sua Utilização Pelo 1º Grupo de Aviação de Caça Brasileiro Durante A Segunda Guerra Mundial
(UNIRIO)
RIO DE JANEIRO
2023.
CARLOS EDUARDO LISBÔA CAVALCANTI GAGO
RIO DE JANEIRO
2023
CARLOS EDUARDO LISBÔA CAVALCANTI GAGO
Banca Examinadora:
____________________________________________________
Prof. Dr. Paulo André Leira Parente (Orientador)
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO.
____________________________________________________
Dr. Fernando Velôzo Gomes Pedrosa
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército - ECEME
____________________________________________________
Dr. Bruno de Melo Oliveira
Universidade da Força Aérea - UNIFA
Dedico este trabalho à minha mãe, Sabrina
Lisbôa. Como mãe solteira, lutou diariamente para
termos um teto sob nossas cabeças e comida na
barriga. Insistiu para que eu não desistisse dos
estudos quando, por muitas vezes, havia desistido de
mim mesmo. Jamais poderei retribuir em totalidade
o que fez por mim, por isso, passarei a vida toda
tentando.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu Orientador, Professor Dr. Paulo André Parente, sem o qual este
trabalho jamais seria feito. Seus conselhos, incentivos e estímulo foram primordiais para a
realização desta pesquisa. O Professor encontrou um aluno desacreditado na faculdade e o
formou em um futuro historiador militar. Agradeço pela sua confiança e incansável dedicação.
Obrigado por compartilhar sua sabedoria, o seu tempo e sua experiência. Serei seu eterno
aluno.
À minha companheira de vida, Victória Aragão, seu amor e apoio não podem ser
mensurados nestas poucas linhas. Sem seu companheirismo este trabalho não seria possível.
Graças aos seus conselhos, palavras não foram desperdiçadas nesta pesquisa. Obrigado pelos
cafés com bolinho de laranja. Obrigado por ouvir minhas lamentações e acalmar meus
anseios. Obrigado pela paciência e compreender minha ausência em certos momentos.
Obrigado por me incentivar a voltar aos estudos. Obrigado por ser meu pilar e razão do meu
viver.
Ao meu tio, Marcus Thulius Cavalcanti. Graças ao senhor, tive uma boa educação e
um lar. Se estou aqui hoje, é graças ao senhor. Sou eternamente grato.
Agradeço ao meu pai. Mesmo que você nunca leia estas palavras, sua paixão por
história militar e geopolítica despertaram o historiador em mim desde criança.
Por fim, sou grato a esta universidade, desde o pessoal do administrativo até o
coordenador do curso, que de alguma forma contribuiu para a realização deste trabalho.
“A guerra é completamente diferente da
diplomacia ou da política porque precisa ser travada
por homens cujos valores e habilidades não são os
dos políticos ou diplomatas. São valores de um
mundo à parte, um mundo muito antigo, que existe
paralelamente ao mundo cotidiano mas não pertence
a ele. Ambos os mundos se alteram ao longo do
tempo, e o do guerreiro acerta o pé com o do civil.
Mas o segue à distância. Essa distância nunca pode
ser eliminada, pois a cultura do guerreiro jamais
pode ser a da própria civilização” - John Keegan.
RESUMO
In 1944-1945, Brazilian pilots from the 1st Brazilian Fighter Squadron fought over the skies
of occupied Italy against the enemies of their country. Our pilots fought in their P-47
Thunderbolt fighter-bombers, on air interdiction missions, bomber escort and
close-air-support of friendly ground forces. In this research, I seek to identify the P-47
Thunderbolt’s technological process and evolution, as well as the historical process which
shaped fighter-bomber doctrine used by the 1st Brazilian Squadron during the war in
1944-1945. To this end, a bibliographical research was made in order to gather macro and
micro historical contexts responsible for this process - since the macro decision to plan and
launch Operation Strangle, to the micro decision that took a pilot and his chief armourer to
adapt its P-47 to carry bombs -, as well as a case study of the narrative source “O Diário de
Guerra” from 2º Tenente Rui Moreira Lima, in which was registered with vivid details his war
experiences, combat fought and tactics used during 94 war missions aboard his P-47
Thunderbolt.
Keywords: Military History; Social History; P-47 Thunderbolt; Brazilian Air Force;
Fighter-bomber Doctrine; 1st Brazilian Fighter Squadron; Second World War.
SUMÁRIO
1 Introdução 10
2 Republic P-47 Thunderbolt 14
2.1 Desenvolvimento 14
2.2 Histórico de Combate 21
3 Brasil na Segunda Guerra 40
3.1 Brasil na Segunda Guerra e a Batalha do Atlântico Sul 40
3.2 O 1º Grupo de Aviação de Caça Brasileiro 49
3.3 Teatro de Operações do Mediterrâneo e a Campanha Aérea Aliada na Itália 52
3.4 Campanha Aérea na Itália 1944-45. 55
4 Análise do Diário de Guerra de Rui Moreira Lima 61
4.1 Guerra Aérea sob o Norte da Itália: 31 de outubro de 1944 - 2 de maio de 1945 62
4.2 Doutrina de Caça-Bombardeiro 70
4.3 Combate: P-47 Thunderbolt e Flakwaffe 77
4.4 Coisas da Guerra 80
5 Considerações Finais 83
REFERÊNCIAS 86
10
1 Introdução
Sob os céus azuis da Europa, uma guerra aérea foi travada em uma escala jamais vista.
Na primavera de 1943, a Eighth Air Force da United States Army Air Force, iniciou
combate contra a Luftwaffe em defesa aos bombardeiros estratégicos americanos. Seu
instrumento de guerra era o caça monomotor de assento único mais moderno do arsenal
americano, o Republic P-47 Thunderbolt. (BOWMAN, 2008)
Este presente trabalho tem como objetivo analisar a evolução tecnológica e doutrinária
do Republic P-47 Thunderbolt como caça-bombardeiro e sua utilização em combate pelo 1º
Grupo de Aviação de Caça Brasileiro durante a Guerra Mundial 1939-1945, acrescido de
fatores externos que influenciaram seu desenvolvimento e atuação.
Para isso, foi feita uma pesquisa bibliográfica para identificar fatores macro e micro
que, durante o desenrolar da guerra, influenciaram na transformação do P-47 Thunderbolt de
um caça interceptador de alta altitude, para um caça de escolta e, por fim, a um
caça-bombardeiro. Foi decidido também realizar como um estudo de caso, uma análise da
fonte documental narrativa “O Diário de Guerra” de Rui Moreira Lima, documento este em
que o 2º Tenente-Aviador registrou os detalhes de suas 94 missões de guerra a bordo de seu
Thunderbolt. Na qual foi possível identificar traços dos fatores externos previamente
discutidos, assim como estudar a guerra sob os olhos de quem a cumpriu.
Apesar de ser uma empresa relativamente jovem, a Republic teve sua origem como
Seversky Aircraft Corporation, que por sua vez possuía vasta experiência em
desenvolvimento de caças militares, sendo os mais relevantes para esta pesquisa: o P-35, um
design feito sob contrato para o USAAC em 1935, e o P-43 Lancer, feito sob produção
limitada para o USAAC em setembro de 1939. (BERNSTEIN, 2021).
e injeta o ar comprimido no motor de forma que é possível “enganar” o motor e assim fazê-lo
produzir uma potência equivalente à gerada em baixas altitudes. (BERNSTEIN, 2021).
Foi produzido um total de 171 unidades do P-47B, todas pela fábrica de Farmingdale.
Em junho do mesmo ano, as primeiras unidades entraram em serviço, sendo o 56th Fighter
Group (FG) o primeiro grupo de caça a ser equipado com o P-47 Thunderbolt. (BOWMAN,
2008).
Em setembro de 1942, a produção foi alterada para a versão P-47C, o primeiro subtipo
foi o P-47C-1-RE (RE era a designação para a fábrica de Farmingdale, Nova York). Este era
equipado com a nova versão do motor Pratt & Whitney: R-2800-59 de 2.300hp. Também foi
atualizado o turbosupercharger para a versão General Electric A-17. A fuselagem teve seu
comprimento estendido em 20,32cm na linha de fogo (elemento da fuselagem que separa o
motor da cabine, protegendo o piloto em caso de incêndio). O novo comprimento era então de
11m totais. O motivo do incremento no comprimento foi para criar um melhor centro de
gravidade e também aumentar o espaço do compartimento do motor, facilitando o acesso para
manutenção. O C-1-RE foi o primeiro subtipo a permitir que fosse carregado um tanque
alijável de 757,08 litros de combustível extra, instalado na barriga da aeronave. Isso
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O C-2-RE possuía leme e profundores com superfícies de metal, também teve seu
sistema de oxigênio revisado. O subtipo final do P-47C foi o C-5-RE, que substituiu a antena
de rádio, anteriormente inclinada, por uma reta. (BOWMAN, 2008).
A partir de dezembro de 1942, deu-se início a produção do modelo P-47D. Esta versão
do Thunderbolt teve a maior quantidade de subtipos, indo do D-1 ao D-40. Foi inaugurada
também a fábrica de Evansville, Indiana, produzindo os subsequentes modelos, começando
com o D. Subtipos produzidos em Farmingdale eram designados RE, e subtipos produzidos
em Evansville eram designados RA. (BOWMAN, 2008).
Como o modelo D teve muitas variantes, algumas delas trouxeram avanços pequenos
no design geral, como melhorias nos sistemas hidráulico, elétrico e de combustível. A seguir
irei entrar em detalhes apenas nos modelos que julgo terem tido maior impacto na evolução
do Thunderbolt.
Evansville teve como seu primeiro modelo o D-1-RA, que tornou padrão o sistema de
injeção a água no coletor de admissão, permitindo ao motor produzir 2.300hp a 27.000pés,
melhorando ainda mais a performance do Thunderbolt em altas altitudes. O D-1-RE de
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Apesar de agora poder levar três bombas nos cabides, o sistema para soltá-las ainda
era o mesmo de alijar os tanques de combustível. Para soltar a carga das asas, o piloto deveria
virar o corpo para a esquerda, se abaixar, puxar duas alavancas situadas abaixo do painel de
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controle no chão da cabine, e puxar uma terceira para a carga da barriga. Isso prejudicava
muito a mira do piloto pois era necessário parar de olhar o alvo durante um mergulho em alta
velocidade. O Commanding Officer (CO) do 65th Fighter Squadron (FS) do 57th Fighter
Group (FG), Maj. Gil Wymond e seu chief armorer Technical Sergeant (TSgt.) Billie Hahn,
desenvolveram uma maneira de unir as três alavancas com cabos a duas alavancas ao lado do
manete de potência, agora o piloto bastava mover a mão esquerda do manete para as
alavancas, sem desviar atenção de seu alvo, aumentando a precisão drasticamente. A
modificação foi testada em combate no Thunderbolt do Maj. Wymond, o P-47D-15-RE de
matrícula 42-75712, apelidado de Hun Hunter II. A modificação "caseira" foi padronizada em
todo o 57th FG, e logo foi oficializada pela Republic, a partir do P47D-28 todos os modelos
subsequentes vinham com uma modificação semelhante instalada de fábrica.
(MOLESWORTH, 2011).
O modelo D-21-RE foi entregue com uma finalização metálica natural da fuselagem,
ao invés de pintado. A ausência do peso da tinta melhorava a performance dos aviões e
também os tornava mais fáceis de serem identificados, tanto por antiaérea aliada quanto por
inimigos, mas neste período a supremacia do espaço aéreo já era uma realidade.
(BERNSTEIN, 2021)
afraid that the engine would tear right out of the mounts. What I didn't realize was
that the new propeller was making all the difference. At 8,000ft I pulled the
Thunderbolt into a steep climb. Normally, she'd zoom quickly and then slow down,
rapidly approaching a stall. But now the Jug soared up like she'd gone crazy.
Another Thunderbolt was in the air, and I pulled alongside, signaling for a climb. I
left that other fighter behind as if he were standing still. The Jug stood on her tail
and howled her way into the sky. Never again did an Fw 190 or Me 109 outclimb me
in the Thunderbolt. The new propeller was worth 1,000hp, and then some. (apud
BOWMAN, 2008, p.12-13).
The one-piece clear cockpit canopy provided the pilot with excellent all
round visibility, and helped cut down the fatigue from neck twisting. The only
drawback was that the rear fuselage cockpit fairing had been removed, affecting the
directional stability of the aircraft. The other welcome change with the Superbolt
was an enlarged internal fuel tank providing an extra 65 gallons. This allowed us to
take the maximum advantage of our external tanks, for we could push much farther
into Germany and still be able to return on internally held fuel. (apud BOWMAN,
2008 p.15)
O P-47D foi produzido de dezembro de 1942 até o final da guerra em 1945, com
12.602 unidades construídas, foi a maior produção de um subtipo de caça americano até hoje.
(BERNSTEIN, 2021).
No verão europeu de 1944, a Grã-Bretanha vivia sob constante terror das bombas
voadoras alemãs, as chamadas V1. Para combater esta ameaça, foi desenvolvido um
interceptador de alta velocidade, o P-47M-1-RE Thunderbolt. Equipado com um motor mais
potente, R-2800-57(C), de 2.800hp e um turbosupercharger CH-5, que permitem ao avião
alcançar a velocidade máxima de 788,58 km/h. Possuía freios aerodinâmicos para auxiliar no
combate aéreo, como por exemplo para se posicionar atrás de uma aeronave inimiga mais
lenta. Fora essas novas modificações, o modelo M era idêntico ao P-47D-30-RE. Apenas 130
unidades foram produzidas, exclusivamente operadas pelo 56º FG. Constantes problemas com
o motor inicialmente limitaram as operações do P-47M. Quando foram corrigidas, em
fevereiro de 1945, o Thunderbolt mais rápido já produzido passou a operar missões de escolta
e ataque ao solo. (BOWMAN, 2008).
Após a guerra, P-47D/Ns continuaram a servir na United States Air Force (USAF), até
serem aposentados em 1955. (BOWMAN, 2008).
Em 1942, a United States Army Air Force (USAAF) e a Royal Air Force (RAF)
enviavam formações de bombardeiros, médios e pesados, em missões de ataques a alvos
estratégicos contra as forças do Eixo, em uma campanha aérea denominada Strategic
Bombing Campaign. Esta que durou durante toda a guerra na Europa e sofreu inúmeras
alterações e evolução de táticas à medida que a USAAF como um todo ganhava mais
experiência no decorrer da guerra. Os bombardeiros decolavam de múltiplas bases aéreas
espalhadas pelo Reino Unido, penetravam o território inimigo em grandes formações e
atacavam alvos na Europa Ocupada, visando incapacitar a produção bélica alemã.
(BOWMAN, 2008)
Até chegarem em seu alvo e durante o voo de volta para casa, os bombardeiros aliados
tinham que se defender dos caças inimigos e, uma vez sob território inimigo, podiam contar
com a presença do poder destrutivo da artilharia antiaérea alemã, a famosa Flak, comandada
pela Flakwaffe.
Infelizmente, tal caça só veio a existir com o North American P-51 Mustang, equipado
com o motor Rolls Royce Merlin, quando em meados de 1944 assumiu o posto de caça de
escolta definitivo do Teatro de Operações Europeu. Até lá, a USAAF teve que se virar com o
que tinha. Seus caças de escolta disponíveis eram o Curtiss P-40 Warhawk e o britânico
Supermarine Spitfire. Nenhum dos dois possuía alcance suficiente. O Lockheed P-38
Lightning foi utilizado como escolta e desempenhou esse papel muito bem, possuía dois
motores com turbosupercharger, tendo ótimo desempenho em altas altitudes e o mais
importante, tinha o maior alcance entre os caças americanos, porém, sua necessidade no
Teatro de Operações do Pacífico fez com que as unidades do P-38 fossem transferidas e seus
pilotos na Europa equipados com outros caças. Então a curto prazo, o P-47 Thunderbolt era o
caça mais avançado, com quantidade suficiente e com maior alcance para escoltar os
bombardeiros pesados da USAAF. (BOWMAN, 2008).
A Eighth Air Force da USAAF chegou ao Reino Unido no fim do verão de 1942.
Porém logo no outono, todos os grupos do VIII Fighter Command, exceto o 4th Fighter
Group, foram realocados para o Norte da África para suporte dos desembarques da Operation
Torch. A reconstrução da Eighth Air Force teve início em dezembro de 1942 quando o 78th
FG, equipado com o P-38 Lightning, chegou na Inglaterra. Em janeiro de 1943, o VIII Fighter
Command foi reforçado com a chegada do 56th Fighter Group. A decisão foi então tomada
para reequipar os três grupos (4th FG, 56th FG e 78th FG) com Thunderbolts. Em abril de
1943 os três grupos de caça foram declarados operacionais com o P-47C/D, e até o final do
ano o VIII Fighter Command contava com dez grupos equipados com Thunderbolts.
(FREEMAN, 2000)
alemães para o combate, tais varreduras eram chamadas de Rodeos. Com o passar do tempo, a
Luftwaffe não caia mais na armadilha, então eram utilizadas formações de bombardeiros
médios como isca, protegidos por uma escolta pesada de caças, tal operação de isca era um
Circus. Uma operação real de escolta de bombardeiros era chamada de Ramrod. (BOWMAN,
2008).
Combates iniciais, entre abril e julho de 1942, foram lições de aprendizado para os
grupos que voavam o Thunderbolt. Os primeiros contatos com o inimigo apontaram suas
fraquezas e seus pontos fortes.
Primeiramente, ficou claro que o tamanho e peso do P-47 afetam suas características
de combate. O avião possuía uma taxa de subida inferior, realizava curvas que eram muito
mais abertas e demoradas, além de não reter velocidade tão bem quanto seus adversários.
Manobras como estas deixavam o avião lento, vulnerável, e expressivamente inferior aos
leves e ágeis caças alemães. A altitude também se mostrou problemática, o Bf 109 e Fw 190
se sobressaiam em altitudes abaixo de 15.000 pés, então escolhiam esta zona de combate para
aproveitarem ao máximo seus desempenhos, frequentemente arrastando Thunderbolts para
estas baixas altitudes. (BOWMAN, 2008).
minutos. Porém a partir dos 15.000 pés de altitude, o turbosupercharger dava vida ao
Thunderbolt e sua performance melhora drasticamente à medida que subia. Entre 25.000 e
30.000 pés o Thunderbolt era melhor que seus dois adversários em todos os aspectos, exceto
aceleração em voo nivelado e taxa de subida. A vantagem em altitude também mostrou outro
atributo do P-47, que devido a seu peso, mergulhava como uma pedra. Sua aceleração em
mergulho era excepcional, permitindo atingir sua velocidade máxima facilmente. O
Thunderbolt também se mostrou surpreendentemente ágil em altas velocidades, sendo capaz
de acompanhar as manobras dos caças alemães que possuíam metade de seu peso. A
durabilidade também foi outra revelação, em múltiplas ocasiões os Thunderbolt voltavam
para casa com dano de combate extensivo sofrido pelos canhões alemães de 20 mm MG 151.
( FREEMAN, 2000).
Os grupos de caça do VIII Fighter Command aos poucos foram aumentando o número
de vitórias aéreas ao seu total, ganhando experiência. Porém, seu inimigo era um veterano do
combate aéreo.
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Entre 1941 e 1942, a Luftwaffe possuía três Jagdgeschwader (JG) no fronte oeste. JG
1 no noroeste da Alemanha, JG 2 defendendo os portos atlânticos da França e JG 26 no Passo
de Calais. Cada JG dispunha por volta de 120 aeronaves. Dessa forma, a Luftwaffe mantinha
com consistência por volta de 200 caças prontos para o combate protegendo o Canal da
Mancha. Em abril de 1943, quando o P-47 iniciou operações de escolta, a Jagdwaffe solicitou
reforços. Ao fim de julho, grupos de caça foram retirados dos fronts Soviético e Mediterrâneo
para reforçar o Canal. Durante o outono de 1943, a Jagdwaffe recebeu mais reforços para a
organização da Defesa do Reich. Esses reforços causaram perdas severas nos bombardeiros da
USAAF nos meses de agosto, setembro e outubro daquele ano. Tais perdas fizeram com que a
USAAF interrompesse penetrações de longo alcance até que uma escolta de caça suficiente
pudesse ser provida. (BOWMAN, 2008).
As táticas utilizadas pelo Jagdflieger foram desenvolvidas por Werner Mölders. Suas
experiências na Guerra Civil Espanhola, o ensinaram como voar o Bf 109 efetivamente em
combate. Os pilotos voavam em duplas, chamadas Rotte, esta era a base de toda a estrutura de
voo e combate da Jagdwaffe. Um Rotte consistia em um líder, Rottenfürher, e seu ala,
Katschmarek. O líder assumia posição dianteira e era responsável por tomar decisões, achar o
inimigo e abatê-lo. Seu ala era responsável por cobrir os pontos cegos de seu líder, fora isso,
seguia seu líder e não iniciava combates. As aeronaves da dupla voavam com uma separação
por volta de 180 metros, em formação in line abreast, em linha lado a lado. Dois Rotten
formavam um Schwarm. Voando com separação em torno de 280 metros entre si, que era
aproximadamente o raio de curva do Bf 109 em combate. O Rotte que liderava o Schwarm
voava à dianteira diagonal. Uma formação Staffel, era composta por três Schwarm voando in
line abreast, linha lado a lado, ou in line astern, linha em popa. (BOWMAN, 2008).
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Com o advento do P-47D Bubbletop, que voava mais alto e mergulhava mais rápido
que o Bf 109G, as táticas da Jagdwaffe viraram sua fraqueza e foram utilizadas contra ela
mesma. Em frente a essa situação, o combatente alemão precisou ser mais cuidadoso e
escolher suas lutas.
O auge da Luftwaffe neste confronto foi entre o final do verão e início do outono de
1943. Neste período, a Jagdwaffe contava com um grande arsenal de caças disponível para
27
O Bf 109 continua a ser utilizado durante toda a guerra, sendo suas últimas variantes
Bf 109 G/K. Com seus números cada vez menores e inexperientes, a Jagdwaffe
progressivamente se ausenta dos céus europeus e os aliados atingem superioridade aérea.
Eventuais grandes batalhas pela Defesa do Reich em 1944 e 1945 como Dia-D e Bodenplatte,
mostram-se irrecuperáveis. A Jagdwaffe luta até o VE-Day, 8 de maio de 1945, porém é uma
força vencida no início de 1945. (BOWMAN, 2008).
Ao final de 1943, era evidente que um novo front europeu precisava ser aberto, o
impasse na Itália e as pressões diplomáticas da URSS demonstraram que a próxima fase de
operação dos Aliados deveria ser uma invasão na Europa Ocupada. (BERNSTEIN, 2008).
Nos primeiros meses de 1944, a Ninth Air Force vinda do Norte da África foi
realocada para a Grã-Bretanha, para ser a dupla tática da estratégica Eighth Air Force. Sob
comando de Doolittle, os P-47 da Eighth foram transferidos para a Ninth, já que agora a
Eighth passaria a operar o P-51 Mustang como caça de escolta estratégico de longo alcance. O
único Fighter Group da VIII Fighter Command que continuou a utilizar o Thunderbolt até o
final da guerra foi o 56th FG, sendo seu último modelo operado o P-47M. (FREEMAN,
2000).
No Mediterrâneo, a tática Twelfth Air Force e a estratégica Fifteenth Air Force, foram
equipadas com Thunderbolts ao final de 1943. Juntas com a Eighth e a Ninth, caçavam a
Luftwaffe no solo e no ar. No início de 1944, a Fifteenth iniciou a transição para o Mustang,
transferindo seus Thunderbolts para a Twelfth, o que acelerou a troca de equipamento datado,
em sua maioria P-39 Airacobras e P-40 Warhawks. (BERNSTEIN, 2012).
A mudança para o P-51 Mustang fora não só necessária, como objetiva e natural. O
P-47 Thunderbolt apesar de carregar muito combustível com seus tanques alijáveis e internos,
possuía um motor que consumia muito. Em média, o P-51 consumia 246 litros por hora de
operação, o Thunderbolt consumia impressionantes 757 litros por hora. Em missões de
escolta, era necessário que o P-47 voltasse para a base aérea para reabastecer e reencontrar os
bombardeiros para escoltá-los de volta para casa. Ou seja, na parte mais crítica da missão que
era dentro de território inimigo, o Thunderbolt não alcançava. Já o Mustang, com seu baixo
consumo, era capaz de escoltar a formação durante toda a missão, ida e volta. Além disso, o
P-47 se destacou como caça-bombardeiro após a mudança de foco do VIII Fighter Command
e o sucesso operacional do 57th FG com o Thunderbolt como caça-bombardeiro no ataque ao
solo. (BERNSTEIN, 2021).
Sua chegada no Norte da África em Julho de 1942 marca o início da guerra para o 57º
Fighter Group. Inicialmente operando sob comando da Desert Air Force (DAF), grupo da
RAF especializado em combate nas regiões áridas, o 57º combateria a Luftwaffe e a Regia
Aeronautica. (MOLESWORTH, 2011).
Sob comando da DAF, o 57th FG aprenderia a lutar no deserto e como utilizar seu
P-40 Warhawk como um caça-bombardeiro. Táticas de ataque ao solo foram desenvolvidas e
aprimoradas pela DAF durante dois anos de conflito, entre 1940 e 1942. Acompanhando a
DAF em missões, o 57th aprendera como melhor empregar sua aeronave como uma artilharia
de longo alcance, o que fazer ao ser surpreendido por um inimigo e por fim, como dispor a
formação para que não fiquem vulneráveis ao bombardear. (MOLESWORTH, 2011).
Over the past two years, the DAF had developed tactics that expanded
the capabilities of its fighter force by employing it against axis ground forces. The
fighters served as long-range artillery, sweeping behind axis lines to destroy
communication and supply routes or attacking ground forces directly on the
battlefield. If enemy aircraft were encountered, the fighters would jettison their
bombs and protect themselves. Typically, the DAF formation performing a
fighter-bomber mission would divide itself, using half its strength as an assault flight
and the other half as top-cover. (MOLESWORTH, 2011 p. 19-20).
Em 12 de maio de 1943, a campanha aliada no Norte da África chega a seu fim com a
evacuação de Erwin Rommel e sua Afrika Korps. Em seguida, o 57th participaria das invasões
à ilha de Pantelleria no Mediterrâneo e à Sicília durante a Operation Husky. Em 22 de agosto
de 1943, o 57th é transferido da Ninth para a Twelfth Air Force em preparação à invasão da
Itália continental, que teve início em 3 de setembro de 1943. (MOLESWORTH, 2011).
A atuação do 57th Fighter Group na campanha da Itália foi marcada por missões de
suporte à tropas aliadas rompendo as linhas defensivas alemãs conhecidas como Volturno
Line, Gustav Line e Gothic Line. E também pela participação na Operation Strangle, que foi a
primeira campanha aérea de intercessão. (MOLESWORTH, 2011).
12 January, Wednesday, a cold wet night. About 2100 hrs the tent flap
opened and Maj Wymond was standing there. TSgt Dixon had been rotated back to
the States, and I had been made technical sergeant in charge of armament when the
armament officer had been transferred to headquarters. Wymond’s first words,
“Hahn, this aeroplane is no good for close support. It doesn’t carry bombs. It has no
bomb toggles”.
The major was correct, as there were three small, difficult tank releases on
the floor on the left side of the cockpit. It would be impossible to dive, aim and pull
the releases for bombs. Wymond continued, “They want to transfer us to England for
high-altitude escort, and I ain’t going. You are going to convert this crate into a
dive-bomber. Come with me to the aeroplane, and I’ll show you what I want”. We sat
on the wing and discussed this until after midnight. Next morning we began to
convert his aeroplane.
I chose one helper, Charles Appel, and we began to devise a temporary
release. It was a real excuse for a solid release, but we accomplished it in two days.
We did this on the prototype by laying a flat steel bar across the three releases and
applying a fulcrum to the floor to allow the pilot to release the two wing bombs with
one pull. This was not a satisfactory application because the belly tank release could
not be used easily.
Appel and I devised a method of laying the two wing releases on the floor
and connecting them with a cable that ran forward up the firewall and back to the
instrument panel. We then added the belly tank release. The pilot only had to lean
forward in the cockpit, watch his target and pull the two small toggles on the
instrument panel to release all of his bombs. This was duplicated in all squadrons
until all Thunderbolts were capable of dive-bombing. It was crude but effective, later
31
Em março de 1944 a Operation Strangle têm seu início, e o 57th como o único FG
operacional com o P-47 da Tactical Twelfth Air Force recebe a importante missão de atacar a
retaguarda do flanco direito inimigo. Seus alvos prioritários eram infraestruturas de transporte
como ferrovias, pontes, estradas e túneis. Ataques em alvos de oportunidade também eram
prioridade, como trens, tropas em campo aberto e comboios de suprimentos. Em suma, cortar
as linhas de suprimento do inimigo, com o objetivo de enfraquecer as linhas defensivas
alemãs. (MOLESWORTH, 2011).
Fighter-bomber tactics were always get in and get out as fast as you
could. When attacking trains, shoot the engine first to stop it, then come across at 90
degrees, shooting at each car. Pull up early in case the train explodes. Road traffic
was much the same. For troop concentrations, use fire bombs and spread them
around, coming across the area in four-ship formation to maximize the
coverage.(MOLESWORTH, 2011, p. 109).
P-47 muito eficiente em strafing runs, os pilotos também podiam contar com a resistência do
avião para protegê-los da retaliação das tropas terrestres inimigas. (BERNSTEIN, 2021).
Durante a guerra, uma tecnologia que evoluiu rapidamente foi o rádio como meio de
comunicação militar, informações em “tempo real” durante o combate permitiram melhor
integralização entre as diferentes armas, ampliando o esforço de armas combinadas.“A
rapidez das operações, grandemente aceleradas pelos motores de combustão interna e pelo
avião, e o enorme poder de destruição das armas modernas, particularmente sobre alvos civis,
determinaram uma urgência sem precedentes na busca por informações imediatas[...]”
(KEEGAN, 2006b, p.92). Em março de 1945 durante a ofensiva do U.S. Fifth Army,
destaca-se o uso de comunicações em tempo real entre forças terrestres e grupos de
caças-bombardeiros, incorporado na técnica Rover Joe, que aumentou a precisão dos ataques
e diminuiu o intervalo de tempo entre a solicitação de suporte aéreo e o close air support em
si. (BERNSTEIN, 2021). Rover Joe deve ser destacado aqui como um exemplo bem sucedido
do P-47 Thunderbolt integrado na doutrina combined arms.
33
The US Fifth Army began a new offensive in early March and broke the
stalemate in Italy. Now, the fighter-bombers would mix close-air-support missions
with interdiction in the Brenner Pass, and again the pace of operations picked up.
One technique used during this period was the use of ‘Rover Joe’ ground controllers
to help pinpoint the fighter-bomber strikes ahead of the advancing troops. The
controller, usually a veteran fighter-bomber pilot on detached duty, would set up
shop in an armored car at a spot overlooking the frontlines and radio target
assignments to the P-47s overhead. These missions proved extremely effective. Also
coming into use at about this time was ‘Auntie’ radar-controlled bombing, which
was used with questionable success to allow the P-47s to drop their bombs through
the clouds when overcast obscured their targets. (MOLESWORTH, 2011,
p.111-112).
A carga total dos cabides do P-47 era de 1.133,98 kg, ou seja, o equivalente em
armamento poderia ser carregado externamente em combinações entre bombas, foguetes e
napalm. A arma mais comum era a General Purpose Bomb (GP), sendo uma combinação de
explosão, concussão e fragmentação, estes efeitos em conjunto tornavam a GP uma bomba
‘coringa’, eficiente contra qualquer alvo e em qualquer tipo de missão. A General Purpose
Bomb estava disponível em dois tamanhos. A AN/M64 226,79 kg preenchida com 121,10 kg
de TNT ou 118,84 kg de Amatol, que poderia ser armada em qualquer um dos três cabides.
Sua versão maior era a AN/M65 de 453,59 kg, que também possuía por volta de metade do
seu peso em explosivos e por causa de seu tamanho era armada nas asas. (BERNSTEIN,
2021).
Contra a infantaria exposta, gado e veículos não blindados, era usada a bomba de
fragmentação AN/M81 de 117,93 kg. A letalidade da bomba de fragmentação não é a
explosão em si, possuindo apenas 15,42 kg de TNT, mas sim os estilhaços em alta velocidade
que a bomba libera ao explodir, a M81 possuía entre 6000 a 7000 desses estilhaços. Além da
M81, outra bomba de fragmentação usada pelas equipes do Thunderbolt era a M41, menor em
34
seu tamanho, pesando apenas 9,07 kg, e podia ser armada em montantes de seis. Ao explodir
alvejavam com estilhaços uma área de 3623,61m². Bombas de fragmentação eram
especialmente eficazes contra equipes de flak. (BERNSTEIN, 2021).
A Flakwaffe contava à sua disposição a Flak 36 de 3,7cm com boa cadência de tiro,
alcance e confiabilidade. A Flak 38 de cano único de 2cm e sua versão de 4 canos,
Flakvierling 38. Ao final da guerra possuía as temíveis Flak 43 e Flak 103/38 Jaboshreck,
apesar de terem chegado muito tarde e com poucas unidades. Tais armas poderiam ser
utilizadas de forma estática ou de forma móvel, montada no chassis de veículos militares
como caminhões e tanques, ou até mesmo rebocada por outro veículo. (BERNSTEIN, 2021).
Uma Flak Batterie leve da Luftwaffe, consistia em cinco pelotões, com três armas de
2cm cada. A bateria média com três pelotões com três armas cada. Um Luftwaffe
Flakabteilung possuía três baterias: duas pesadas e uma leve. Como um exemplo da estrutura
de um batalhão de flak, a Heeresflak Flakabteilung motorizada consistia em dezoito armas de
2cm ou nove armas de 3,7cm, oito armas de 8,8cm anti áreas pesadas e quatro holofotes de
60cm. Cada arma era tripulada por 8 a 10 homens trabalhando em conjunto para manter a
arma em combate contra o inimigo. (BERNSTEIN, 2021).
Flaks motorizadas eram mais flexíveis em combate do que as flaks rebocadas ou fixas.
Mobilidade provou-se essencial para a sobrevivência da Flak. Caso fossem engajadas durante
o dia em uma estrada, para combater o inimigo a equipe de uma flak rebocada teria que
desvinculá-la do veículo e fixá-la ao solo para responder à ameaça, um precioso tempo
perdido quando se está sob fogo inimigo. Já as flaks motorizadas, poderiam mover-se e atirar
ao mesmo tempo. (BERNSTEIN, 2021)
peças sobressalentes produzidas. Com as linhas de suprimentos sob ataque constante dos
Thunderbolts, peças necessárias para reparos das flaks, que já eram escassas, não chegavam
às linhas de frente, prejudicando muito a efetividade e prontidão de combate da Flakwaffe.
(BERNSTEIN, 2021).
Nos primeiros meses de 1944, a Flakwaffe estava bem fortificada e bem suprida,
especialmente as baterias flak costeiras da Kriegsmarine que, por estar na linha de frente do
Canal da Mancha, formavam um cinturão de proteção na costa francesa, da Normandia a
Provence. Os primeiros meses de 1944 foram penosos para os grupos de Thunderbolt que
haviam iniciado operações de caça-bombardeiro em preparação à invasão, que resultaram em
um aumento nas perdas por flak. (BERNSTEIN, 2021).
Para acompanhar o avanço das tropas aliadas e manter a proteção aérea, os grupos de
Thunderbolt também avançavam para novas bases aéreas. Em 14 de junho o 368th FG iniciou
operações no airfield A-3 perto de Cardonville, França. Na primeira semana de agosto, os 13
grupos de P-47 da Ninth Air Force estavam operando em bases aéreas avançadas no Norte da
França. (BERNSTEIN, 2021).
No ano novo, a Luftwaffe deu início à Operação Bodenplatte. Um ataque com força
total contra bases aéreas da Ninth Air Force, com o objetivo de destruir o máximo de
aeronaves aterradas possível. Ao todo, a Luftwaffe reuniu aproximadamente 1000 aeronaves.
Ao fim do dia, 280 de suas aeronaves foram abatidas por caças americanos e antiaérea
americana. Bodenplatte foi uma operação custosa para a já fragilizada Luftwaffe, que não
resultou em nenhum ganho estratégico ou tático. Bernstein (2021) aponta que talvez a
operação teria um melhor resultado se fosse executada em conjunto com a ofensiva inicial da
Wehrmacht em 16 de dezembro. Porém, três semanas após a ofensiva, tornou-se um fracasso.
Bodenplatte pode ser usado como exemplo de que ataque ao solo sem visar vantagens táticas
para as tropas terrestres, está destinado a falhar. (BERNSTEIN, 2021).
Nos últimos meses da guerra na Europa, a prioridade da Ninth Air Force era negar a
Luftwaffe a chance de atacar as formações estratégicas de bombardeiros. Para isso, os
Thunderbolts realizaram ataques massivos nas bases aéreas dentro da Alemanha em si. As
curtas linhas de suprimentos e a concentração de antiaérea dentro da Alemanha resultaram em
significativas baixas aos grupos de Thunderbolt. (BERNSTEIN, 2021).
Perdas de P-47 no ETO tiveram seu pico em junho de 1944, com 189 perdas. Durante
o ano, as perdas diminuíram até que, durante a ofensiva das Ardenas em dezembro, o número
de perdas mensais saltou para 151. A partir de janeiro de 1945, as perdas mensais eram abaixo
de 100. Em março e abril foram perdidos respectivamente, 112 e 88, devido à forte resistência
dentro do território alemão. Ao todo, estima-se que 1300 Thunderbolts foram destruídos em
combate, acredita-se que pelo menos 40% desse total foi abatido por flak. (BERNSTEIN,
2021).
Vargas utilizou-se da situação para firmar acordos com ambos os lados do conflito, no
qual o ápice foi conseguir apoio estadunidense para a construção da indústria siderúrgica de
Volta Redonda. Porém, após o ataque à Pearl Harbor e a entrada dos EUA na guerra, era
intolerável um país pró-eixo na posição estratégica privilegiada do Brasil, a “cintura fina” do
Atlântico. (NETO, 2021).
A neutralidade brasileira era frágil e por muitas vezes foi violada. Navios mercantes
eram apreendidos em bloqueios, como o caso do Siqueira Campos, apresado pela Marinha
Real Britânica em outubro de 1940 por estar à caminho para Alemanha receber material
bélico vendido ao Brasil. Em março de 1941, houve a primeira vítima brasileira da guerra,
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José Francisco Fraga, que estava a bordo do mercante Taubaté, bombardeado por um avião
alemão, entre Chipre e Alexandria. (NETO, 2021).
O mundo estava em guerra, mas não o Brasil - por pouco tempo. Navios
neutros devem navegar iluminados e com identificação proeminente da
nacionalidade, como bandeiras de grande dimensão pintadas no casco. Navios
neutros também não devem ziguezaguear para despistar submarinos, nem devem
estar armados. O Baependy ainda era um navio neutro. O país era neutro, mas não
muito. Em agosto de 1942, já havia forças americanas consideráveis, aéreas e navais,
baseadas no Nordeste brasileiro. Em janeiro anterior, o Brasil tinha rompido relações
diplomáticas com o Eixo. Em março fora decidido colocar canhões nos navios
mercantes - sinal de que a “neutralidade” não era muito perfeita. Neutralidade
deveria ser como virgindade. Ou se é virgem, ou não; o Brasil estava trilhando o
perigoso caminho da meia virgindade. (NETO, 2021, p. 54,)
A Missão Francesa, que durou de 1920 a 1940, foi importantíssima para modernizar o
Exército Brasileiro, que encontrava-se com número reduzido de homens, equipamento
antiquado e, em geral, desprezado pelas elites civis. Além de treinar os brasileiros como um
exército moderno, supervisionaram a compra de novos equipamentos e tanques, que logo
mostraram-se obsoletos durante a Segunda Guerra. Considerado na época o exército mais
poderoso do Mundo, os franceses estimularam e ensinaram ao Exército a guerra defensiva,
consequência direta da Primeira Guerra Mundial, a FEB só aprendeu a se desvencilhar desse
tipo de guerra durante as ofensivas vitoriosas na Itália. Apesar da doutrina de combate
ensinada mostrar-se antiquada posteriormente com a derrota francesa, a Missão modernizou o
arcaico Exército Brasileiro. (NETO, 2021).
pois apesar de o inimigo estar fortificado nas linhas defensivas nos Apeninos e possuir tropas
mais experientes, os Aliados possuíam superioridade aérea e os brasileiros, inicialmente
despreparados para o combate, demonstraram notável adaptação e aprendizado, e ao final da
guerra, mostraram-se tão competentes quanta qualquer outra divisão de infantaria do 5º
Exército.
A Marinha não estava preparada para defender o Brasil em 1942. A esquadra de 1942
consistia em “[...] algumas “corvetas” improvisadas, dois velhos couraçados, dois velhos
cruzadores e destróieres obsoletos. Foi com essa esquadra que a Marinha começou a patrulhar
o mar do país. Os dois velhos couraçados foram enviados à Recife e Salvador para servirem
de defesas fixas, como se fossem fortalezas.”(NETO, p.72, 2021). A esquadra além de datada,
era ineficaz contra submarinos pois nenhum navio possuía radar, sonar ou hidrofone para
detectar o inimigo submerso. (NETO, 2021).
A esquadra de 1942 era o que sobrara da frota de 1910, que segundo Ricardo Neto
(2021, p.64) era: “[..] um exercício fútil de modernidade em um país arcaico.”. No centro da
frota, estavam os couraçados Minas Geares e São Paulo, que ao ficarem prontos em janeiro e
julho de 1910, eram os Dreadnoughts mais poderosos do mundo. Apesar do investimento em
inovação tecnológica, não havia infraestrutura e treinamento para a devida operação e
manutenção dos couraçados. A disparidade entre a inovação dos couraçados e o estado
interno da Marinha era tamanha que em 1910, o Minas Geraes foi palco da Revolta da
Chibata. (NETO, 2021).
alterou o combate, e na batalha contra submarinos não foi diferente. “Aviões participaram do
afundamento de todos os dez submarinos alemães e um italiano afundados perto da costa
brasileira. Apenas em um caso comprovado houve a participação de navios de superfície.”
(NETO, p.80, 2021).
Durante sua gestão como Ministro, 1941 a 1945, vale destacar o progresso da Força
Aérea Brasileira: criadas as bases aéreas de Recife, Natal e Salvador; transformação do
Aeroporto Bartolomeu Gusmão na Base Aérea de Santa Cruz, a instituição dos postos da
hierarquia militar da FAB cuja constituição inicial era de pessoal das extintas Aviação Militar
e Naval; criação do 1º Grupo de Aviação de Caça, 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação e
dos Esquadrões de Patrulha que protegiam o litoral dos submarinos inimigos. (CAMBESES
JÚNIOR, 2009). Os grandes feitos de Salgado Filho vão muito além destes mencionados e
ultrapassam o escopo deste trabalho.
Ao incorporar a Marinha e o Exército, a frota aérea da FAB era formada por 430
aviões de 35 modelos diferentes. Esta diversidade provou-se um caos logístico, ademais da
dificuldade inerente de manter-se um estoque de peças sobressalentes para manutenção de
tantas aeronaves díspares, muitos modelos eram alemães, italianos e britânicos o que
complicava o fornecimento do material. Outro ponto importante da fusão das instituições é a
readequação do pessoal das extintas Naval e Militar, que possuíam hierarquia e treinamento
discordantes. Por fim, assim como a esquadra da Marinha, a frota aérea da FAB era obsoleta
para guerra e ineficaz contra a ameaça submarina. (NETO, 2021).
Inicialmente a patrulha costeira, em 1941, era feita por aeronaves de instrução devido
a falta de material. Portanto, a partir de 1942, a FAB tomou medidas para sua modernização.
Através do Lend Lease Act, aprovado em 11 de março de 1941, o Brasil adquiriu 1288 aviões
dos EUA entre 1942 a 1945, entre estes, aeronaves de treinamento e patrulha de extrema
importância para a preparação à guerra e foram a base do futuro da FAB no pós-guerra. Em
janeiro de 1942, foram instalados e organizados os Comandos de Zonas Aéreas, responsáveis
45
Uma nova ofensiva submarina foi montada contra o Brasil em meados de 1943. Neste
período, os submarinos alemães dividiram seus esforços em três setores do litoral brasileiro,
visando dispersar e assim enfraquecer as defesas. Os submarinos U-466, U-510, U-590,
U-653 e U-662 operaram no Norte entre o estuário do Amazonas e Caribe; o U-185, U-591,
U-598 e U-604 operavam nas águas do Nordeste; e por fim, U-172, U-199 e U-513 caçavam
entre o Sudeste e Sul interceptando o tráfego vindo do rio da Prata. Vinte navios foram
46
atacados entre 21 de junho a 6 de agosto, dentre estes dezessete foram afundados. Porém os
Aliados estavam preparados no Atlântico Sul e até o início de agosto, seis submarinos
alemães haviam sido afundados, todos por aviões. Apesar da FAB participar das patrulhas,
todos os afundamentos haviam sido feitos pelos esquadrões americanos. Na manhã de 31 de
julho de 1943 isso mudaria. (NETO, 2021).
Seu comandante era Kapitanleutnant Hans-Werner Kraus, que foi imediato de Günther
Prien, o lendário às submarinista que invadiu a base naval britânica Scapa Flow e afundou o
couraçado Royal Oak. Kraus comandou o U-83 no Mediterrâneo antes de assumir o comando
do U-199, que partiu da Europa em maio de 1943. Em 18 de junho havia chegado à sua área
de operações, o Rio de Janeiro. Em 27 de junho atacou o mercante Charles W. Peale; no
terceiro dia do mês seguinte abateu um PBM-3 Mariner do VP-74 que operava na Base Aérea
do Galeão; no dia 24 afundou o mercante britânico Henzada. (NETO, 2021).
Na primeira passagem, o Mariner soltou seis bombas, das quais quatro delas
enquadraram o submarino, criando jatos fortes de água ao seu redor. O piloto realizou a curva
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à esquerda para uma nova passagem, lançando as duas bombas restantes, que explodiram
perto da proa a bombordo, cobrindo o submarino de água. Quando a água baixou, a tripulação
do Mariner observou óleo e fumaça no mar, sinal de que o submarino fora danificado, porém
o mesmo mantinha o fogo antiaéreo constante. Atingido, o U-199 adotou rumo Norte
enquanto se defendia do Mariner que realizava ataques rasantes com as metralhadoras. O
submarino tentou submergir às 08:04 mas pareceu perder o controle e quase afundou.
(ALAMINO, 2015). Segundo Bonalume Neto (2021), o U-199 estava impossibilitado, não de
submergir, mas sim de navegar submerso devido ao dano nas baterias elétricas. O
Kapitanleutnant Kraus adotou rumo Norte em busca de águas rasas onde pudesse realizar
reparos submerso.
A FAB, que havia sido alertada pelo Mariner americano, despachava aviões para o
combate. O Catalina que participava na escolta do comboio, estava realizando uma varredura
nas águas de Cabo Frio quando foi redirecionado para lá. Enquanto isso, decolava para o
combate o Hudson número 73 da Unidade Volante do Galeão (UVG), pilotado pelo
aspirante-aviador Sérgio Schnoor e capitão-aviador Almir dos Santos Polycarpo. (NETO,
2021).
Às 08:40 o Hudson chegou ao combate, cruzou a proa do U-199 soltando duas cargas
de profundidade, à uma altitude de 300 pés, que caíram cerca de 50 metros antes do alvo. O
Hudson realizou mais uma investida com as metralhadoras, alvejando a tripulação do deck,
diminuindo assim a intensidade da flak. Schnoor e Polycarpo retornaram ao Galeão no intuito
de pegar um outro avião armado e voltar ao combate, enquanto o Mariner fustigava o
submarino com as metralhadoras. (ALAMINO, 2015)
a afundar. Torres realizou uma curva à direita para o segundo ataque com a última bomba.
Segundo Miranda Corrêa, “o submarino foi levantado para fora da água pelas
explosões.”(apud NETO, 2021, p.116.)
O Catalina de Torres e Miranda foi batizado como Arará em 28 de agosto, num evento
no Aeroporto Santos Dumont com a presença do Ministro da Aeronáutica Salgado Filho.
Homenagem ao navio mercante de mesmo nome, vítima do U-507 em agosto de 1942.
Também foram pintados na fuselagem a silhueta de um submarino como marca de vitória e os
dizeres em seu estabilizador: “ Doado à FAB pelo povo Carioca.” (NETO, 2021).
Após a derrota alemã nas ofensivas de 1943, a guerra antissubmarina no Atlântico Sul entrou
num período mais ameno e seguro para os comboios. Sérgio Schnoor, posteriormente como
tenente-aviador, participou do último encontro entre um avião brasileiro e um submarino do
Eixo, em 31 de outubro de 1943. Alberto Torres e Miranda Corrêa foram lutar na Itália,
integrando o 1º Grupo de Aviação de Caça. Miranda, como oficial de informações, voou em 8
missões de guerra. Torres, recordista do grupo, cumpriu 100 missões voando o P-47
Thunderbolt. (NETO, 2021).
forneceram experiência real de guerra à FAB, que um ano depois estaria empregando o
aprendizado nos céus da Europa.
O Brasil não seria apenas uma fonte de matéria prima e um trampolim para África e
Europa, o país mostrou que participaria ativamente na luta e defenderia seu território com
esforço máximo. Porém apenas a postura defensiva não era o suficiente para satisfazer o
sentimento de revanchismo da população, o Brasil deveria combater o inimigo em seu próprio
território. Portanto, o Brasil enviaria a primeira força expedicionária sul-americana a intervir
na Segunda Guerra Mundial.
Para combater nos céus europeus, foi criado em 18 de dezembro de 1943 o 1º Grupo
de Aviação de Caça (1º GAvCa.). O Grupo de Caça era formado por um contingente de 350
homens, entre eles oficiais, sargentos e soldados, dos quais 48 eram pilotos de caça, liderados
pelo Tenente-Coronel Nero Moura. (NETO, 2021).
Apesar do Curtiss P-40 ser um excelente caça e ter um histórico de serviço brilhante
em diversos teatros de guerra, em 1944 era considerado datado e ineficiente para o combate
em linha de frente, os grupos americanos que o operaram iniciaram sua substituição no ano
anterior. Portanto, no mês de junho na base aérea de Suffolk, Nova York, o 1º Grupo de
Aviação de Caça iniciou seu treinamento com o Republic P-47 Thunderbolt. O programa de
instrução consistia-se de 80 horas de voo no P-47, assim como treinamento equivalente para a
equipe de solo. (NETO, 2021).
Nos primeiros dias de dezembro houve a transferência para a nova base em Pisa, 200
km ao norte, mais próxima da linha de frente. Não houve interrupção nas operações. Parte da
equipe do solo ia para a nova base prepará-la enquanto a outra parte do contingente
continuava operações, os aviões decolaram de Tarquínia para missões e no regresso aterraram
em Pisa, a qual já estava operante, após os últimos aviões decolarem de Tarquínia, a equipe de
solo restante movia-se para a nova base. (NETO, 2021). Essa expertise em transferência entre
bases para acompanhar o avanço da linha de frente foi adquirida pelos americanos durante a
campanha do Norte da África. (MOLESWORTH, 2011).
postura naval italiana fleet in being, poupando seus navios de linha os quais dificilmente
conseguiria repor em caso de perda devido a fraca base industrial do país, não os arriscando
em escamurças contra comboios ou contra a esquadra britânica. Devido a isto, uma
importante característica da guerra no Mediterrâneo foram as ações em fundeadouro, que se
explica pelo desenvolvimento da aviação e pela estreiteza do teatro. (BELOT, 1949).
O alto comando Aliado decidiu por tomar a ilha de Pantelleria previamente à invasão
da Sicília devido a sua posição estratégica que ameaçava a linha de comunicação
Gibraltar-Alexandria. Em 1943 a ilha era fortemente fortificada, contando com quarenta
baterias, abrigo subterrâneo para aviões, um pequeno porto para navios leves, instalações para
destilar água salgada e por fim, era defendida por um contingente de 12.000 homens.
Bombardeios aéreos e navais iniciaram-se em maio e duraram até o dia 11 de junho, o dia em
que o assalto foi realizado. Previamente ao desembarque, houve bombardeamentos aéreos e
53
Force (M.A.A.F.) acreditava ser possível vencer o impasse na cabeceira de praia em Anzio e
forçar a retirada das forças alemães da linha defensiva Gustav Line através da interrupção do
fornecimento de seus suprimentos. Assim, a Operation Strangle foi elaborada com o objetivo
de causar a debandada das forças alemãs na Gustav Line. Para alcançar tal fim, foi planejado
atacar a rede de suprimentos alemã nas esferas Estratégica e Tática. A Itália possuía uma
malha ferroviária que cruzava todo o país, com inúmeras pontes atravessando rios grandes e
pequenos. O Exército Alemão utilizava-se deste sistema ferroviário como principal meio de
transporte de tropas e material em sua rede logística de suprimento, conectando a Alemanha e
Áustria à Itália através do Passo de Brenner, portanto sua inutilização seria o meio principal
para alcançar o objetivo da Strangle. (BERNSTEIN, 2012)
Operação orquestrada pelo Maj. William Mallory da XII Tactical Air Force HQ,
Operation Mallory Major foi lançada em 10 de julho e visava a destruição de pontos chave da
infraestrutura ferroviária e rodoviária, os quais eram responsáveis pelo afunilamento dos
suprimentos enviados para o 10º e 14º Exércitos Alemães entrincheirados entre os rios Arno e
Po. O objetivo da operação era limitar os suprimentos inimigos a ponto de forçar a rendição
total. Assim como a Strangle, Mallory Major não alcançou seu objetivo final. Um fator que
limitou esta operação foi o desvio de grupos de caça da Itália para a França. O mês de julho
foi marcado pelo planejamento da invasão no Sul da França pelas forças aliadas no
Mediterrâneo. Com o propósito de ser a bigorna para o martelo da Operation Overlord, a
captura dos portos franceses no Mediterrâneo permitiriam suprir mais facilmente o que era
considerado o avanço principal na Europa. Com as operações no Sul da França, muitos
recursos do front italiano foram redirecionados para a invasão. Não apenas suprimentos
materiais foram realocados. O U.S. Fifth Army perdeu seu suporte aéreo quando os grupos de
Thunderbolt da USAAF foram movidos para a França. Em teoria, caberia à DAF apoiar o Fifth
Army, mas na realidade a DAF não tinha condições de realizar o suporte aéreo do British
Eighth Army no leste da Itália e do U.S. Fifth Army no oeste. Os grupos de Thunderbolt da XII
Tactical Air Command eventualmente foram divididos entre França e Itália em agosto, e em 1º
de Setembro foram reforçados com o 350th Fighter Group que completou a transição de P-39
Airacobras para P-47 Thunderbolts. (BERNSTEIN, 2012)
Em um assalto combinado entre o Fifth and Eighth Armies, a Operation Olive lançada
em 12 de setembro, visava tomar a Gothic Line com cobertura aérea da Twelfth Air Force,
com enfoque no CAS alvejando posições fortificadas inimigas e artilharias. Com a
continuação do avanço do Fifth Army em direção a Bolonha, a Operation Pancake foi lançada
em 10 de outubro visando a destruição de suprimentos e equipamentos inimigos na área de
Bolonha. O avanço durou até 26 de outubro, quando a ofensiva perdeu o momentum e os
exércitos entrincheiravam-se para passar o inverno. Apesar de ter havido avanços
consideráveis durante a Operation Olive, a Gothic Line não foi conquistada em sua totalidade.
O principal avanço foi feito pelo Fifth Army que ultrapassou várias linhas defensivas da
Gothic, porém foi detido nas proximidades de Bolonha, onde passaria o inverno estabilizando
a linha de frente em posições defensivas. Outubro marcou o início do período de chuvas e do
mau tempo para missões aéreas que durou até fevereiro, a temporada de chuvas
57
‘groundearam’ boa parte dos grupos de P-47 durante o mês, e mesmo que as condições
meteorológicas fossem favoráveis ao voo, a lama na pista impedia decolagens. O mês de
outubro inteiro teve apenas 14 dias com condições mínimas para sortidas. Ao final do mês, no
dia 31, o 1º Grupo de Aviação de Caça Brasileiro iniciou suas operações.(BERNSTEIN,
2012)
A Operation Strangle não alcançou seu objetivo final de provocar a rendição total ou
debandada inimiga da Gustav Line. A restrição de movimento logístico surtiu efeito, porém
não foi definitiva. Os suprimentos alemães, apesar de diminuírem, não alcançaram níveis
críticos devido à falta de uma ofensiva terrestre combinada. Foi planejada e executada como
uma operação aérea independente que visava tornar desnecessária a ofensiva terrestre que
estava sendo planejada, a Operation Diadem, porém não houve êxito. Portanto, ao final da
Strangle, foi reconhecido que na próxima fase de operações a melhor contribuição que o
poder aéreo poderia fornecer seria, além do CAS e escolta de bombardeiros, a continuação da
58
interdição aérea negando suprimentos vitais para o inimigo resistir à ofensiva terrestre aliada.
(SALLAGAR, 1972.)
Apesar da Diadem ter seu início diretamente após a Strangle, as forças alemãs não
enfrentavam escassez de suprimentos. Como não houve um grande combate, foi possível
estocar suprimentos na linha de frente suficientes para durarem uma ofensiva. Se o arsenal
não é gasto, ele pode ser estocado e economizado, mesmo que a entrega de suprimento fosse
limitada e prejudicada. Então a Gustav Line foi defendida por uma força fortificada em
elevação e bem suprida. A dificuldade logística apenas foi sentida pelos alemães ao
defenderem a Caesar Line. (SALLAGAR, 1972)
Não obstante a Strangle ter como alvo primário a infraestrutura ferroviária, foi em
seus alvos secundários em que houve maior êxito. A interdição em busca por alvos de
oportunidade limitou a locomoção pelas estradas rodoviárias durante o dia, forçando o
Exército Alemão a mover-se durante a noite. Não apenas o movimento logístico foi
restringido. As tropas alemãs que estavam na retaguarda efetuavam reparos na infraestrutura
essencial danificada ou destruída, e ao serem rotacionadas de volta para a linha de frente,
chegavam exaustas, aumentando o nível de atrito das forças alemãs. (BERNSTEIN, 2012)
Outro ponto importante levantado pelo autor Sallagar (1972), é como a restrição de
movimento próximo a linha de frente impactou a Wehrmacht. Segundo o autor, a interdição
aérea próxima da linha de frente realizada por caça-bombardeiros surtia efeito mais imediato
do que realizada mais atrás. De forma que, apesar do suprimento alemão nunca ter chegado
em níveis críticos, a restrição de movimento logístico próximo a linha de frente provocava
escassez imediata de recursos, que apesar de temporária, era extremamente efetiva se
coordenada com uma ofensiva terrestre; assim como a restrição de movimento tático que
impedia comandantes de direcionarem suas forças em resposta a avanços ou rompimentos de
sua linha. Este último ponto foi especialmente eficaz pois os 10º e 14º Exércitos Alemães não
possuíam divisões na reserva, qualquer reforço necessário em um ponto específico da linha
implicava no deslocamento de uma divisão já defendendo outra localidade. Em vista disso,
para resistir a agressões ou impedir uma ruptura, era necessário a constante locomoção de
60
divisões na linha de frente, resultando em brechas na fina linha defensiva alemã, no entanto,
este realocamento era dificultado e atrasado pela restrição do movimento lateral tático
imposta pelos Thunderbolt. (SALLAGAR, 1972)
A Operation Strangle foi elaborada com um objetivo turvo, e por ser uma operação
aérea independente, os planejadores não tinham ciência profunda do sistema logístico alemão.
Obteve maior sucesso tático em efeitos colaterais ou objetivos secundários do que em seu
objetivo principal. Entretanto, a Strangle foi a primeira campanha de interdição aérea, o
contexto em que foi executada nos permitiu estudar os resultados da interdição aérea por si só.
Independentemente de ser considerada um fracasso sob o ponto de vista de cumprimento de
seu objetivo principal, é um grande sucesso na restrição do movimento tático inimigo que,
quando em conjunto com uma ofensiva terrestre, culminou no avanço Aliado através das
linhas defensivas alemães no norte da Itália. (SALLAGAR, 1972)
61
Antes de entrar em combate, o 2º Tenente Rui Moreira Lima decidiu registrar suas
missões em linguagem de telegrama utilizando como diário duas mini cadernetas. Assim o fez
em suas 94 missões de guerra. Em 1948, Rui e sua esposa Julinha sofreram com a perda de
sua filha de 2 anos. Em seu luto, Rui decidiu desenvolver os registros de suas missões em um
relato mais claro e detalhado, tendo como apoio seu diário, sua memória e os relatórios do
Daily Reports do 350th Fighter Group, visando transformá-lo em um livro. Rui escreveu até a
48ª missão e não gostou do resultado, decidindo assim “encerrar o assunto”, colocou tudo em
um envelope e arquivou no que chamava de “salvados do incêndio”. (LIMA, 2008)
Em 2007, durante a reforma em seu apartamento, o filho de Rui, Pedro Luiz Moreira
Lima encontrou os documentos e os apresentou para seu amigo historiador Professor
Fernando Mauro Fonseca Chagas. Os dois tentaram persuadir Rui a terminar as missões
restantes, porém sem sucesso. Os dois solicitaram auxílio do mestre de Fernando Mauro, o
Professor Dr. Paulo André Leira Parente, “[...] que reforçou a apreciação feita anteriormente
com essas palavras; “o diário é uma pedra bruta a ser lapidada que, se transformada em livro,
servirá como fonte de pesquisa sobre a história da 2ª Guerra Mundial por futuros
historiadores”.” (LIMA, 2008, p.9).
Rui retomou a edição do diário com o auxílio de Pedro Luiz e Fernando Mauro. Foi
publicado pela editora Adler Books, por intermédio do então Comandante do 1º Grupo de
Aviação de Caça, Ten Cel Av Antônio Ramirez Lorenzo, em 18 de dezembro de 2008, data
em que o 1º Grupo completou 65 anos.(LIMA, 2008)
O Diário de Guerra de Rui Moreira Lima é uma fonte narrativa de um jovem tenente
em uma guerra total. Em suas páginas, Rui nos convida a participar de suas batalhas e
compartilhar suas alegrias com seus companheiros e também seus anseios e dores. A leitura e
análise do Diário nos permite a compreensão do uso do P-47 Thunderbolt como
caça-bombardeiro, o significado de seu poder destrutivo como arma tecnológica de guerra em
uma operação de intercessão aérea do campo de batalha.
4.1 Guerra Aérea sob o Norte da Itália: 31 de outubro de 1944 - 2 de maio de 1945
Em 12 de setembro de 1944, os Aliados executaram a Operation Olive, uma ofensiva
contra a Gothic Line, com o objetivo de superá-la e conquistar Roma. Apesar dos avanços, a
linha defensiva não foi rompida em sua totalidade. As péssimas condições meteorológicas
durante todo o mês de outubro limitaram a eficácia do poder aéreo durante o avanço em
direção a Bolonha, havendo apenas 14 dias com condições de voo. Em 26 de outubro a
ofensiva perdeu o momentum, sendo o principal avanço aliado impedido ao sul de Bolonha, a
poucos quilômetros da cidade. Com a chegada do inverno, as forças aliadas entricheiraram-se
e solidificaram seus ganhos. Durante o Impasse do Inverno, não houve alterações
consideráveis nas linhas pois não houveram grandes ofensivas, os combates se limitaram a
escamurças e patrulhas. O clima desfavorável e o terreno montanhoso dos Apeninos
favoreciam os defensores, que pretendiam impedir os avanços aliados indefinidamente.
Baseando-se nos moldes da Operation Strangle, a Mediterranean Allied Tactical Air Force
lançou ofensivas aéreas generalizadas contra a rede de comunicação inimiga, com o objetivo
de impedir o fluxo de suprimentos e reforços que fortaleceriam a Gothic Line. Os
bombardeiros médios B-25 Mitchell atacaram o sistema de transformadores que energizam a
ferrovia no Passo de Brenner durante a Operation Bingo, iniciada em 31 de outubro. Os
grupos de P-47 Thunderbolts executaram missões em apoio a Bingo, realizando a escolta dos
bombardeiros, a interdição aérea em rodovias e estradas de ferro, e destruindo alvos de
oportunidades. O Impasse do Inverno foi superado em fevereiro, quando as linhas se
moveram novamente durante as operações Fourth Term e Encore. O Impasse do Inverno
corresponde ao período entre 26 de outubro a 8 de fevereiro, portanto, o Tenente-Aviador Rui
Moreira Lima voou 44 missões de combate, sendo elas em apoio a Operation Bingo e a
interdição aérea sob a Gothic Line. (BERNSTEIN, 2012).
Destaco que esta missão fora a de número 26 do 1º Grupo de Caça desde que iniciaram
as operações na Itália em 31 de outubro. Este período inicial, foi marcado pela aclimatização
do grupo a guerra, como levantado pelo autor: “ O dia 6 de novembro de 1944, foi sem dúvida
o dia dos pica-fumo do 1º Grupo de Caça. Até então, somente o Cel. Nero, os capitães e os 1º
tenentes tinham atravessado as linhas inimigas.”(LIMA, 2008, p. 13). Entretanto, as primeiras
missões dos pilotos brasileiros seriam integrando esquadrilhas americanas, com o objetivo de
ganhar experiência de combate sob a liderança dos aliados mais experimentados na guerra.
Esta prática era comum entre os Aliados. Ressalto que o 8th Fighter Group operou
inicialmente sob comando da RAF, que possuía mais experiência no combate aéreo tendo
lutado na Batalha da França e Batalha da Inglaterra. Assim como o 57th Fighter Group
também integrou missões britânicas sob comando e aprendizado da DAF, que já enfrentava a
Luftwaffe e a Regia Aeronautica a dois anos no Norte da África.
Ao aterrar, a missão foi reportada ao Oficial de Informação do 346th por ser uma
missão deste esquadrão, posteriormente, os relatos foram feitos ao Oficial de informação do
1º Grupo de Caça, Miranda Corrêa. Esta etapa de operações do 1º Grupo de Caça, no qual
integravam esquadrilhas americanas, durou entre 31 de outubro a 6 de novembro. “Em tempo,
o dia 6 foi o último em que o Grupo voou com os americanos. Daí em diante os avestruzes
que se safassem.”(LIMA, 2008, pg. 14)
armed reconnaissance:
a mission with the primary purpose of locating and attacking targets of opportunity
(that is, enemy materiel, personnel, and facilities) in assigned general areas or
along assigned ground communications routes, and not for the purpose of attacking
specific briefed targets.(Oxford, 2001).
Dentre estas missões, venho destacar dois pontos em especial: A experiência prévia
dos pilotos brasileiros, seja voando pela FAB, Militar, Naval, no Correio Aéreo ou Patrulha
anti submarina, desenvolveu suas habilidades em voo visual. Evidenciado pelos bons
65
O objetivo da missão era destruir a ponte de Sorbolo, porém a mesma não foi
identificada devido ao mau tempo. Portanto, o líder da formação, Fortunato, comandou o
bombardeio picado a uma estrada de ferro não identificada. O bombardeio de Rui foi feito “a
esmo” devido ao mau tempo, ou seja, um bombardeio impreciso devido, provavelmente, à
baixa visibilidade. Por ocasião do mau tempo durante o inverno, a alternância de objetivos
tornou-se uma prática comum. Nesta missão em específico, Fortunato ordenou o bombardeio
picado para realizar cortes na estrada de ferro que “apareceu” como um alvo de oportunidade,
porém em missões futuras é comum ser instruído pelo Oficial de Informações um objetivo
66
secundário para que, mesmo que haja mau tempo impossibilitando o cumprimento do objetivo
principal, a missão ainda seja cumprida visando o rendimento máximo.
Um fator que agravou o impasse durante o inverno, foi o clima desfavorável. No mês
de outubro inteiro, apenas 14 dias permitiram a saída para missões. (BERNSTEIN, 2012).
67
Durante novembro, dezembro e janeiro, o Grupo voa uma média de duas missões por dia e há
um espaço de dias considerável entre as missões, algumas chegando a 6 dias de intervalo.
Além disso, era rotineiro haver cerração de nuvens na área do objetivo, sendo necessário o
desvio para o objetivo secundário, ou principalmente no caso do ataque rasante, o total
cancelamento da missão e regresso à base.
meu, avisando ao Paulo Costa que lançasse as suas bombas onde eu lancei as
minhas. É evidente que não identifiquei o alvo verdadeiro - erro meu - e o Bodoso
seguiu meus passos.
Saímos em busca de alvos para o Ataque Rasante. Em Parma atacamos um
depósito de combustível.
Assim que pousamos, o Pessoa Ramos veio na direção do meu avião com a
45 em punho. Não titubeie. Saltei e saí correndo, com ele praguejando porque não
cumpri a ordem que ele deu no ar. Era um jogo de gato e rato. Eu pedindo calma e
ele espumando.
Minha salvação foi quando fomos chamados pelo Miranda. O próprio
General Mascarenhas desejava falar conosco via um telefone de campanha. O
Pessoa falou com ele. O Comandante da F.E.B. parabenizou-o pela destruição da
posição de artilharia, pedindo que parabenizasse também o 2º elemento, que com
olhar de lince tinha descoberto um segundo alvo - uma companhia de infantaria -
onde após o bombardeio, nossos soldados capturaram vários prisioneiros.
Assim terminou a 47ª missão, com Pessoa Ramos levando a Green boa de
briga para comemorar a missão no clube Senta a Pua. (LIMA, 2008, p.60).
Destaco a bravura, firmeza e acima de tudo, foco do autor ao enfrentar pela primeira
vez a antiaérea inimiga: “A A.Ae. tedesca foi moderada e imprecisa. Somente flak leve foi
usado. Não vi nada disso. Minha única preocupação era não perder meu leader de
70
vista.”(LIMA, 2008, p. 13). Lima demonstrou enorme concentração ao não deixar-se dominar
pelo medo do combate, executar seu ataque e ao retornar a formação, observar o bombardeio
de seus companheiros.
Durante a 5ª missão de Rui, cuja foi a primeira a ser autorizado o ataque rasante, o
Grupo destruiu um caminhão, doze carros de estrada de ferro, uma locomotiva, além de
observarem um avião não identificado no campo de Villafranca, uma ponte destruída, uma
locomotiva e vinte carros dirigindo-se para leste.
Nesta missão, mesmo não havendo bombardeio picado, o poder aéreo representado
por 11 Thunderbolts é impressionante ao considerar que: 1) apesar de forte oposição da flak
71
em Villafranca, Verona, Nonato e ao regressar pela bomb line, não houveram perdas; 2) as
informações colhidas pelos aviadores de caça possuíam um alto valor, tanto para os oficiais de
informação da Força Aérea quanto para o Exército, com elas era possível determinar novas
rotas de comunicação que os alemães eram obrigados a estabelecer devido à supremacia aérea
aliada, assim como limitar sua mobilidade tática; 3) a destruição causada durante esta missão
por 11 Thunderbolts, cujo armamento consistia apenas nas metralhadoras Browning M2 .50, é
a epítome da Materialschlacht. A um custo de munição .50 e reparos em dois aviões, foram
destruídos uma locomotiva, doze carros de estrada de ferro, um caminhão e seus conteúdos
transportados que podiam variar entre tropas, suprimentos como comida e munição ou
combustível. A Alemanha estava com uma frota de veículos motorizados extremamente
precária, com veículos insuficientes para sua logística de suprimentos, atenuada a falta de
peças sobressalentes para manutenção e racionamento de combustível, portanto, cada
caminhão ou depósito de combustível destruído era um golpe severo no 10º e 14º Exércitos
Alemães. Como a indústria italiana estava limitada devido aos bombardeios estratégicos,
carros de estrada de ferro e locomotivas eram produzidos na Alemanha e transferidos para a
Itália, custando não só material para sua produção mas principalmente o tempo de fabricação
e de implantação deste material.(SALLAGAR, 1972). 4) Por fim, ainda eram pilotos novos ao
combate, seus resultados irão melhorar de acordo com sua experiência adquirida.
Durante a procura por alvos de oportunidade, qualquer alvo que se apresentasse era
aproveitado. Alvos comuns eram locomotivas, carros de estrada de ferro, caminhões,
carroças, staff cars, veículos blindados, casas, depósitos e munição e combustível.
Não apenas metralhadoras eram usadas no ataque rasante. Com o advento dos mísseis
ar-terra, a gama de armamento do P-47 aumentou, sendo possível levar mísseis além das
bombas. Na 80ª missão, em 18 de abril de 1945, Rui destruiu um tanque alemão com uma
salva de foguetes em Sassuolo.
Não está claro na fonte qual o modelo de foguetes ar-terra usado. Porém, levando em
consideração a data e como foi utilizado por Rui, acredito serem foguetes High Velocity Aerial
Rockets (HVAR). O modelo HVAR foi o terceiro modelo de foguetes ar-terra utilizado por
Thunderbolts, foi introduzido ao final de 1944 e corrigiu os defeitos dos modelos anteriores:
velocidade e precisão. Os modelos anteriores, M8 4.5in e Forward Firing Aerial Rocket, eram
lentos, imprecisos e não possuíam poder de penetração, sendo usados como uma artilharia em
área já que seu poder explosivo era comparado a uma 120mm High Explosive Round.
Portanto, pela data correspondendo ao período em que o HVAR já estaria em uso na linha de
frente e levando em consideração o alvo destruído, um tanque, acredito que o 1º Grupo de
Aviação de Caça tenha usado foguetes HVAR em suas missões. Porém, esta afirmação não
pode ser absoluta. Apesar de o HVAR ter entrado em serviço ao final de 1944, leva-se um
tempo considerável para unidades em linha de frente serem supridas com uma nova
tecnologia em armamento. Além disso, é possível que os brasileiros não fossem prioridade
74
para receber novos armamentos, apesar de serem uma unidade na linha de frente, sendo
supridos com equipamentos mais antigos. Também temos que considerar que Rui não é claro
na descrição de seu alvo, não sendo possível determinar a penetração necessária para
destruí-lo. Muitos veículos blindados alemães poderiam ser considerados como “tanques”
vistos em altitude no calor da batalha, desde um tanque médio ou pesado ponta de linha como
Tiger e Panther a um veículo blindado mais leve sobre rodas como o Sd.Kfz. 234, sendo um
veículo com blindagem mais leve é possível que um FFAR fosse o suficiente para
desabilita-lo.(BERNSTEIN, 2021).
Pelo registro desta missão, foi documentado a resistência do P-47 em aguentar colisões
e ainda retomar a base. Também chamo a atenção para a injeção de metanol que provê mais
potência ao motor. A injeção de metanol, ou WEP, foi inserida a partir do P-47D-5RE.
(BOWMAN, 2008).
fumaça.
Os outros erraram
Foi acrescentado ainda no interrogatório a ausência de tráfego na área de
Mantova. Grande tráfego de carroças puxadas a burro e cavalo ao sul de Verona.
(LIMA, 2008, p. 22).
Rui volta a registrar como era realizado o ataque em “Linha de Frente” na missão de
7 de dezembro. Atestando o uso regular desta tática, assim como a progressão natural para a
segunda parte da missão, a procura por alvos de oportunidade para o ataque rasante:
Certas localidades no norte da Itália eram mais bem fortificadas do que outras e com o
tempo, os Jambocks aprenderam quais eram e como evitá-las.
Durante as missões iniciais de Rui, dois pilotos foram atingidos pela flak pesada de
88mm: Lagares e Assis. Estes encontros podem ser vistos como a primeira constatação da
proteção que o Thunderbolt oferecia aos pilotos, assim como a resiliência dos brasileiros que
ao serem alvejados não perderam sua fibra moral, em especial o caso do Assis que foi
atingido por um projétil de 88mm e continuou a missão como líder.
Não é necessário dizer que a recepção dos tedescos foi respeitosa. Muito
tiro em toda a região. Foi assinalado flak leve em Ficarolo. Na passagem sobre
Verona o Assis recebeu um bonito Shell, e não fosse sua vontade de cumprir a
missão nossa esquadrilha teria voltado. (LIMA, 2008, p. 16.)
Partindo de Pisa, em 11 de março de 1945, Rui com seu P-47 “Poderoso”, decolou
para uma missão que o levaria ao limite. O alvo era uma ponte de estrada de ferro em Casarsa,
local já muito conhecido pela forte presença da flak. “A missão era bombardear a ponte de
estrada de ferro. Local conhecido por todos nós pela sua pesada e acurada A.Ae.” (LIMA,
2008,p.72).
. O Diário de Guerra de Rui Moreira Lima é uma fonte inestimável do lado humano da
guerra, infelizmente, não pôde ser estudada em totalidade devido ao escopo deste trabalho.
Mas um historiador não pode estudar a guerra e ignorar os que a cumprem.
O combate aéreo na Segunda Guerra tornou-se desejo dos que se alistaram, a ideia
romantizada de guerreiro do ar capturou a mente dos jovens. Os pilotos diferenciavam-se dos
combatentes tradicionais da infantaria, possuíam melhores condições de vida e ostentavam
um status de elite. “ [...] No entanto, aqueles que eram aceitos para voar regojizavam-se com
seu status de elite: eram alvo de adulação popular que nenhuma outra raça de guerreiros
recebia.” (HASTINGS, 2011, p.492)
80
Em sua 5ª missão, Lima expressa seu entusiasmo ao ser autorizado o ataque rasante,
assim como a esperança de satisfazer seu sentimento de revanchismo contra os alemães pelos
marinheiros brasileiros mortos. Como Rui denomina o ataque dos “corsários alemães” como
“covarde”, podemos presumir que o sentimento de revanche seja específico sobre o massacre
no Mar do Nordeste cometido pelo submarino nazista U-507 entre 15 a 19 de agosto, matando
607 brasileiros, enquanto o Brasil ainda era um país neutro.
Rui eventualmente consegue sua vingança, em sua 27ª missão, o Tenente atira pela
primeira vez em um soldado inimigo. Seu objetivo era bombardear a ponte da estrada de ferro
ao Norte de Pádua. Após o bombardeio sob flak de 20mm, o esquadrão regressou à procura
por alvos de oportunidade. Sob o eixo Montova-Regio, Lagares e Rui atacaram um jeep cada
um. Um terceiro jeep com 8 soldados alemães foi visto por Rui, que não realizou o passe em
respeito a doutrina, “[...] Não ataquei, respeitando a doutrina da Esquadrilha - primeiro passe
sempre era do Leader. No fim da guerra abolimos isso.” (LIMA, 2008, p. 39)
Enquanto tivemos uma missão pacata, Joel e Danilo, que no momento era
seu ala, saltaram de paraquedas em virtude do cerrado flak de Castelfranco. Ficamos
tristíssimo porque só foi visto um paraquedas aberto. Ninguém contava mais com o
Danilo, pois foi justamente o dele que ninguém viu abrir-se. Pulou no dia 4
regressando depois de enfrentar mil perigos no dia 28 de fevereiro. Valendo-se de
grande determinação moral, coragem, força de vontade e grande senso de
improvisação.
O Joelito Ardoroso por lá ficou até o fim da guerra, combatendo ativamente
com os partisans, passando por um mundo de peripécias também. Poucos homens
conheço com tamanha coragem e sangue frio. Hoje Joel é major reformado. Nada
lhe valeu o sacrifício e as provações do combate. Tantas injustiças sofreu que
preferiu sair da “gloriosa” e se empregar lá fora como piloto civil.
Esta é a gratidão da pátria! Seus heróis são esquecidos com muita facilidade,
até parece que há interesse em riscá-los.
Minha FAB, o mundo já está marchando para uma 3ª conflagração. Cuide
mais dos seus rapazes que tiveram a experiência do combate. Eles ainda lhe poderão
ser úteis. Estou entre eles e sei qual a diferença entre o novato e o veterano. (LIMA,
2008, p.53)
O jovem Tenente Rui Moreira Lima realizou 94 missões de guerra em seu P-47
Thunderbolt como piloto do 1º Grupo de Aviação de Caça. Sua guerra começou em 6 de
novembro de 1944 e terminou em 1 de maio de 1945. Totalizando 199 horas e 39 minutos em
voo.
83
5 Considerações Finais
Esta pesquisa teve como objetivo analisar analisar a evolução tecnológica e doutrinária
do Republic P-47 Thunderbolt como caça-bombardeiro e sua utilização em combate pelo 1º
Grupo de Aviação de Caça Brasileiro durante a Guerra Mundial 1939-1945, acrescido de
fatores externos que influenciaram seu desenvolvimento e atuação.
No que tange a doutrina tática de caça-bombardeiro, esta foi desenvolvida a partir dos
ensinamentos da DAF ao 57th Fighter Group durante a campanha no Norte da África;
aplicados com base nos pontos positivos e negativos do P-47 Thunderbolt descobertos pelos
grupos de caça da Eighth Air Force em seus combates sob o Canal da Mancha contra o
Messerschmitt Bf 109.
Acerca das limitações documentais, destaco que não foi possível, devido ao escopo
deste trabalho, analisar as 94 missões de Rui Moreira Lima em sua totalidade, sendo
85
necessário selecionar as julgadas mais relevantes para a pesquisa. Outra limitação documental
foi a impossibilidade de consulta ao 350th Fighter Group Daily Report, fonte esta necessária
para o compreendimento da atuação do 1º Grupo de Caça Brasileiro por ser o registro diário
de todas as missões realizadas pelo Grupo de Caça Brasileiro e pelo Fighter Group a qual
estava subordinado.
É importante ressaltar que estes resultados não são conclusivos. Sugere-se, portanto, a
pesquisa englobando o histórico de combate do P-47 Thunderbolt no Teatro de Operações no
Pacífico e sob os países que o operaram, para que assim possa se ter a compreensão da
atuação do Thunderbolt na Segunda Guerra Mundial em sua totalidade.
Futuros estudos sobre a fonte “O Diário de Guerra” de Rui Moreira Lima, poderão
ampliar a compreensão do combate na escala pessoal, assim como levantar táticas e doutrinas
da aviação de caça brasileira e a maior compreensão do ethos guerreiro dentro do 1º Grupo de
Caça. A pesquisa do Diário apoiado pelo 350th Fighter Group Daily Report pode ser o ponto
de partida de um trabalho sobre o pertencimento do 1º Grupo de Caça dentro do contexto
macro quando inserido nas operações da Mediterranean Allied Air Force.
Por fim, sugerem-se pesquisas tanto sobre o P-47 Thunderbolt quanto o 1º Grupo de
Aviação de Caça, apoiadas por teóricos da aviação militar. As ideias e conceitos de Giulio
Douhet fundamentam quaisquer estudos sobre a eficácia do poder aéreo.
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REFERÊNCIAS
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Grã-Bretanha: Osprey Publishing, 2012.
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Army. 1 ed. Grã-Bretanha: Osprey Publishing, 2022.
FREEMAN, Roger A. 56th Fighter Group. 1 ed. Reino Unido: Osprey Publishing, 2000.
HASTINGS, Max. Inferno: O mundo em guerra 1939-1945. Tradução: Berilo Vargas. 1 ed.
Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012. Título original: All hell let loose: the world at war
1939-1945.
KEEGAN, John. Uma História da Guerra. Tradução: Pedro Maia Soares. 1 ed. São Paulo:
Companhia de Bolso, 2006. Título original: A history of warfare.
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KEEGAN, John. A Batalha e a História. Tradução: Luiz Carlos Carneiro de Paula. 1 ed. Rio
de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2006. Título original: The Battle for History.
LIMA, Rui Moreira. O Diário de Guerra. 1 ed. Rio de Janeiro: Adler, 2008.
LIMA, Rui Moreira. Senta a Pua!: A Força Aérea Brasileira na Segunda Guerra Mundial
1944/1945. 3. ed. Rio de Janeiro: Action, 2011.
MOLESWORTH, Carl. 57th Fighter Group: 'First in the Blue'. 1 ed. Reino Unido: Osprey
Publishing, 2011.
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University Press. Disponível em:
https://www.oxfordreference.com/view/10.1093/acref/9780199891580.001.0001/acref-97801
99891580. Acesso em: 6 de maio de 2023.
SHORT, Neil. German Defences in Italy in World War II. 1 ed. Grã-Bretanha: Osprey
Publishing, 2006.