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Nome: Talita Ferreira Martins | DRE: 119055885

Diálogo entre a modernidade e a contemporaneidade.

O presente trabalho tem como objetivo analisar comparativamente as obras de dois autores
fundamentais para o movimento modernista brasileiro. São eles Mário de Andrade, figura
influente no Modernismo, e Dalton Trevisan, autor contemporâneo. A escolha de ambos
deu-se pelo fato de compartilharem características semelhantes, apesar de pertencerem a
períodos distintos.
Como forma de executar essa inspeção de maneira justa e relativamente minuciosa, será
observado especificamente o primeiro capítulo do título “Macunaíma” - considerando,
certamente, a obra integral - e o conto “Dia de Matar Porco”, de Trevisan. Estes foram
selecionados por se tratarem de textos trabalhados em aula, cuja relevância se dá por
traduzirem e mostrarem com clareza a estilística de seus respectivos autores
Diante disso, é necessário observar e captar onde as obras dialogam entre si. Já de início
pode-se afirmar que ambas trazem para a literatura aspectos que poderiam ser considerados
desimportantes ou desinteressantes para produzir um enredo. Isso porque a narrativa aborda o
cotidiano de sujeitos comuns habitando em sociedades nas quais estavam inseridos, com seus
costumes da época, léxico regional e marcas culturais.
Primeiramente, nota-se semelhança na maneira que as histórias começam. A apresentação
dos protagonistas aparece logo no primeiro parágrafo, expondo características físicas, idade e
personalidade. As histórias seguem narrando a maneira que esses dois personagens são vistos
e se comportam no ambiente em que estão vivendo, além de descrever a região que habitam,
o que traz marcas nacionalistas de identidade, típicas do Modernismo.
Além disso, o estilo de linguagem utilizado nas narrativas se desprendem do modo culto e
“recatado”. Tratam-se de prosas livres, mais coloquiais, escrachadas. Não há receio em usar
termos informais como “mijar” (pág. 12 de Macunaíma) e “trepar” (pág. 13 de Macunaíma),
assim como o uso do termo “velha”, atualmente considerado pejorativo por alguns, nas duas
obras.
Em oposição, a estilística de Trevisan demonstra ser mais obscura, enquanto que a de Mário
de Andrade carrega traços mais leves, de mais humor. Em “Dia de Matar Porco”, pode-se
notar uma narrativa mais pesada e violenta. Apresenta a cultura possivelmente machista da
época em questão, detalha o cotidiano de um homem que vive bêbado e pratica violência
doméstica contra a esposa. Já em “Macunaíma”, o foco, ao menos no princípio, é no
protagonista e em suas aventuras no meio de seu povo.
A escrita de Mário e de Dalton se assemelham no modo de detalhamento de ambientes,
onde optam por trazer o leitor para dentro do cenário, introduzindo elementos que fazem
alusão, mesmo que não escancaradamente, do lugar onde o enredo se passa, como o trecho
em que diz que os mosquitos eram espantados todas as noites pelo mijo que Macunaíma dava
em cima da mãe (página 12), e também no trecho que fala do tiro da espingarda que fez
passarinhos voarem do caquizeiro (página 77).
Ademais, embora ambos fazem do cotidiano em seus textos, Trevisan parte para um lado
das relações humanas conturbadas nesse conto, como a relação tóxica do senhor enquanto
marido que trata da esposa de forma violenta, vendo-a como o porco do título, se preparando
para abatê-la. Enquanto isso, Mário trata de questões raciais e traduz como a identidade
brasileira é feita a partir de misturas indígenas, africanas e também europeias.
Saindo do caráter comparativo, as narrativas conseguem mostrar parcialmente como uma
sociedade, especificamente brasileira, pode ser construída. Toda a mistura presente em
Macunaíma, as referências à religiosidade, os costumes indígenas, também o modo como os
homens viam as mulheres como um ser inferior e submisso a eles, existindo apenas para
cumprir com as obrigações de mãe e esposa.
Com isso, conclui-se que as narrativas, apesar de serem de momentos distintos e autores
com estilos diferentes, elas mantêm certa semelhança entre si e acabam cumprindo um papel
de demonstração da sociedade brasileira nos tempos antigos, mas que convergem, também,
nos tempos atuais.
Referências

ANDRADE, Mário de. Macunaíma. Rio de Janeiro, Nova Fronteira - 2013.


TREVISAN, Dalton. Dia de matar porco. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira.
IHU on-line. Uma entidade Brasileira. Revista do Instituto de Humanas Unisinos, agosto
2008. Disponível em
<https://www.ihuonline.unisinos.br/artigo/2024-tele-porto-ancona-lopez>. Acesso em:
20/07/2023.
Direito Familiar. Uma análise da história da mulher na sociedade. Direito Familiar, 2020.
Disponível em
<https://direitofamiliar.com.br/uma-analise-da-historia-da-mulher-na-sociedade/>. Acesso
em: 21/07/2023.

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