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Lógica dos predicados 1/24

Lógica dos predicados

A lógica é a ciência do raciocı́nio.


Socrates é um homem. Todos os homens são mortais. Logo Socrates é
mortal.
❖ p: Socrates é um homem.
❖ q: Todos os homens são mortais.
❖ r: Socrates é mortal.
❖ Na lógica proposicional, p ∧ q → r não é uma tautologia.
❖ Conclusão: o modelo fornecido pela lógica proposicional não é suficientemente
expressivo.

David Déharbe, 7 de abril de 2005 DIMAp/UFRN


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Introdução

❖ A lógica proposicional fornece um modelo do raciocı́nio muito limitado.


❖ A lógica dos predicados é uma extensão da lógica proposicional bastante
expressiva:
– As proposições ganham parâmetros e tornam-se predicados,
– Operadores de quantificação.

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Predicados e quantificadores

❖ A sentença
José Saramago escreveu uma peça de teatro.
é verdadeira se
Existe uma peça de teatro da qual José Saramago foi autor.
❖ “José Saramago escreveu pt” é um predicado: se substituimos pt por algum
tı́tulo de peça de teatro, a sentença torna-se uma proposição.
❖ Outros predicados:
– “a escreveu In Nomine Dei ”.
– “a escreveu pt”.
❖ Um predicado é uma função de um certo domı́nio para os valores booleanos.
Qual o domı́nio dos predicados apresentados nesta página ?

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Quantificador existencial

❖ ∃pt : peça de teatro • José Saramago é autor de pt.


❖ “∃” é o quantificador existencial.
❖ “∃a : A • P (a)” é verdadeira se existe um elemento a de A tal que a proposição
P (a) seja verdadeira.
❖ “In Nomine Dei ” é uma peça de teatro, e José Saramago é autor de In Nomine
Dei. Logo, a sentença “∃pt : peça de teatro • José Saramago é autor de pt” é
verdadeira.
❖ A sentença “∃pt : peça de teatro • Marcel Proust é autor de pt” é falsa.
❖ Aqui “José Saramago é autor de ” e “Marcel Proust é autor de ” são dois
predicados unários.
O domı́nio de ambos é o conjunto das peças de teatro.

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Quantificador universal

❖ “∀” é o quantificador universal.


❖ “∀a : A • P (a)” é verdadeira se e somente se, P (a) é verdadeira para todo
elemento a de A.
❖ “∀c : cidade do Brasil • São Paulo é maior que c” é verdadeira.
❖ “∀pt : peça de teatro • José Saramago é autor de pt” é falsa.
❖ “∀pt : peça de teatro • ¬( Marcel Proust é autor de pt)” é verdadeira.

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Relação entre quantificadores

❖ O quantificador universal pode ser definido a partir do existencial:

∀x • P (x) = ¬∃x • ¬P (x)


“∀c : cidade do Brasil • São Paulo é maior que c”=
“¬∃c : cidade do Brasil • ¬( São Paulo é maior que c)”.
❖ E vice-versa:

∃x • P (x) = ¬∀x • ¬P (x).


“∃pt : peça de teatro • José Saramago é autor de pt” =
“¬∀pt : peça de teatro • ¬( José Saramago é autor de pt)”.
❖ Essas regras aplicam-se também a quantificações e predicados com múltiplas
variáveis:
¬∀x • ∃y • P (x, y) = ∃x • ¬∃y • P (x, y) = ∃x • ∀y • ¬P (x, y).

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Algumas propriedades de quantificadores

∃x • E(x) ∨ E 0 (x) = ∃x • E(x) ∨ ∃x • E 0 (x)


∃x • (E(x) → E 0 (x)) = (∀x • E(x)) → (∃x • E 0 (x))
∀x • ∀y • E(x, y) = ∀y • ∀x • E(x, y)
∃x • ∃y • E(x, y) = ∃y • ∃x • E(x, y)
∀x • E(x) ∧ E 0 (x) = ∀x • E(x) ∧ ∀x • E 0 (x)

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Linguagens de primeira-ordem

Existem várias linguagens chamados de primeira ordem, compostos por:


1. Sı́mbolos lógicos “(”, “)”, “¬”, “→”, etc.
2. um número infinito (enumerável) de variáveis,
3. (opcionalmente) o sı́mbolo de igualdade,
4. sı́mbolos de quantificação,
5. um número finito de sı́mbolos de predicados, cada um tendo uma aridade fixa e
finita,
(predicados de aridade nula são também chamados de proposições atómicas)
6. um número finito de sı́mbolos de funções, cada um tendo uma aridade fixa e
finita.
(funções de aridade nula são também chamados de constantes)
Obs. As vezes, o predicado binário “=” é considerado um sı́mbolo lógico.

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Linguagem de predicados pura

❖ Sem igualdade,
❖ sem constantes nem funções,
❖ com predicados.

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Linguagem aritmética

❖ Com igualdade,
❖ com as constantes 0, 1, 2, . . .
❖ com funções +, ×, −, . . .
❖ com predicados ≤, ≥, min, . . .

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Construção de expressões

❖ Os termos são expressões construı́das aplicando funções a constantes e termos,


por exemplo:
x −x min(x, −x);

❖ as fórmulas atómicos, ou átomos, são aplicações de predicados (inclusive


igualdade) a termos, por exemplo:

2=3 min(x, −x) ≤ x;

❖ as fórmulas são composições de átomos com quantificadores e operadores


lógicos:
∀x • min(x, −x) ≤ x x = y ∧ y = z → x = z.

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Variáveis livres

Seja uma fórmula ϕ. A variável x é livre em ϕ quando


❖ se ϕ é um átomo, e x ocorre em ϕ,
❖ se ϕ = ∃x0 • ψ, x é livre em ψ, e x 6= x0 ,
❖ se ϕ = ¬ψ e x é livre em ψ,
❖ se ϕ = ψ ⊕ ψ 0 , onde ⊕ é ∧, ∨, → ou ↔, e se x é livre em ψ ou x é livre em ψ 0 .

Exercı́cio: Calcular as variáveis livres de:

∀x • min(x, −x) ≤ x,
x = y ∧ y = z → x = z,
x 6= 0 → ∃y • x × y = 1.

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Outras propriedades dos quantificadores

E ∨ ∀x • E 0 = ∀x • E ∨ E 0 se x não é livre em E,
E ∧ ∃x • E 0 = ∃x • E ∧ E 0 se x não é livre em E,
E → ∀x • E 0 = ∀x • E → E 0 se x não é livre em E.

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Exercı́cio

Considere a linguagem de primeira ordem, onde ∀ significa “para qualquer coisa”,


N significa “é um número”, I significa “é interessante”, < é “é menor que”, 0 é o
número zero. Traduzir nessa linguagem as sentenças seguintes:
❖ Zero é menor que qualquer número.
❖ Se qualquer número é interessante, então zero também é interessante.
❖ Nenhum número é menor que zero.
❖ Qualquer número não interessante tal que todos os números inferiores são
interessantes certamente é interessante.
❖ Não tem número tal que todos os números são inferiores a ele.
❖ Não tem número tal que nenhum número seja inferior a ele.
Idem, onde ∀ significa “para qualquer ser”, H significa “é um humano”, M significa
“é mortal”, s é Sócrates. Traduzir nessa linguagem a sentença seguinte:

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❖ Todos os humanos são mortais, e Sócrates é humano; logo Sócrates é mortal.

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Semântica

Quando uma fórmula de uma linguagem de primeira-ordem é considerada válida,


satisfatı́vel, inválida ?
=⇒ noções de estrutura e de modelo.
❖ Uma estrutura define uma forma de interpretar as fórmulas de uma linguagem
da primeira ordem.

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Estrutura

Uma estrutura Σ para uma linguagem da primeira-ordem L é tal que:


❖ Σ associa às quantificações um universo, denotado |Σ|,
❖ Σ associa a cada predicado P , de aridade n, uma relação P Σ ⊆ Σn (um
conjunto de n-tuplas dos elementos do universos),
❖ Σ associa a cada constante c, um elemento cΣ ∈ Σ,
❖ Σ associa a cada função f , de aridade n, uma função f Σ de Σn 7→ Σ.

Obs. Para evitar notações pesadas, definimos uma estrutura não tipada.

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Exemplos de estrutura

Considere a fórmula ∃x • ∀y • ¬(y ∈ x).


❖ A interpretação ΣC clássica, na teoria dos conjuntos, é que existe um conjunto
(x), tal que nenhum outro conjunto é elemento dele — ou seja, existe o
conjunto vazio.
❖ Uma interpretação não clássica ΣN C poderia ser que x e y são quantificados
sobre os naturais, e ∈ é interpretado como “é menor que”.
A fórmula diz então que existe um natural tal que nenhum natural é menor que
este natural.
Em ambos casos, a fórmula é verdadeira.
As interpretações são modelos da fórmula.

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Interpretação de fórmula

❖ A interpretação da fórmula ϕ num modelo Σ é uma atribuição das variáveis


livres de ϕ com valores de |ϕ|, e tem um valor booleano.
❖ Por exemplo, considere o modelo clássico da aritmética dos inteiros, a fórmula
x > y → x × x > y × y tem uma interpretação para qualquer par de inteiros.
❖ A fórmula ∀x • min(x, −x) ≤ x não tem variáveis livres, portanto seu valor é
constante.

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Linguagens e interpretações em especificações

❖ Operadores sobre conjuntos: ∈, ⊂, ⊆, × (produto cartesiano), etc.


❖ operadores aritméticos: 0, 1, +, × (produto inteiro), −, etc.
❖ operadores mixtos: card,
❖ Acúcar sintático.
Interpretação clássica.
Obs.: A validade de fórmulas é não-decidı́vel.

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Verificação

❖ Há resultados de decidibilidade para restritos linguagens de primeira-ordem.


– Na teoria dos vetores, com os operadores rd e wr, satisfazendo:

∀A, I, E • rd(wr(A, I, E), I) = E


∀A, I, J, E • I 6= J → rd(wr(A, I, E), J) = rd(A, J)
∀A, B • A = B ↔ ∀I • rd(A, I) = rd(B, I)

há um procedimento de decisão para determinar a validade de fórmulas sem


quantificadores.
– O método do pivô de Gauss pode ser aplicado para a linguagem da
aritmética linear com igualdade, interpretada nos racionais,
– O método de Fourier-Motzkin pode ser aplicado para a linguagem da
aritmética linear com ≤, interpretada nos racionais,
– etc.

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❖ Procedimentos de decisão para essas linguagens restritas podem ser


combinados através de esquemas de combinação (Nelson e Oppen, Shostak),
sob certas condições (CVC, Simplify, haRVey).
❖ Para linguagens arbitrárias, provadores automáticos de teoremas implementam
poderosas heurı́sticas de busca, baseadas em técnicas de dedução automática
eficazes, como resolução, paramodulação, ou tableaux (E prover, Vampyre, ...).
❖ Assistentes de prova podem ser usados para fazer provas semi-manuais (PVS,
Coq, ACL2, ...).

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Conclusões

❖ Visão da lógica proposicional – introdução aos valores e operadores booleanos,


❖ Visão da lógica da primeira-ordem – introdução aos quantificadores.
❖ Noções de semântica.
❖ Gosto de verificação formal (próximo semestre).

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Bibliografia

Lógica Herbert B. Enderton. A mathematical introduction to logic. Academic


Press, 1970.
Dedução automática Alan Robinson and Andrei Voronkov (editors). Handbook
of Automated-Reasoning. Elsevier Science, 2001.
Abordagem básica John E. Munro. Discrete mathematics for computing.
Chapman & Hall, 1992.

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