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Dinheiro e Alnla

Russell A. Lockhan

James Hil/mall

Arwind Vasavada

John Weie Perry

JoeI Covitz

Adolf GuggenbühI-Craig
_.

Traduzido do Livro "Soul and Money" . Spnng Publications, Inc. Dallas,


Texas .

.;.;ta rradu -'::l() 1'01 rC:Llli zada Ct ll I1}9711 998 e foi patrocinada pela socied<lue
pela Jemocrarizaçào do saber.
Moedas e M udanças Psicológicas

Por Russel A. Lockhart

Quando eu era criança, eu freqüentemente entrava dentro de um


armário no meu quarto. Depois de fechar a porta eu acendia uma
lanterna e a cobria com um plástico azul e desmontava o que minha
mãe chamava de "pilha de lixo". Eram brinquedos velhos, livros,
papéis e roupas. O que minha mãe não sabia - o que ninguém no
mundo inteiro sabia - que esta pilha de lixo era uma camuflagem
elaborada que servia de esconderijo para um segredo. Meu segredo
era uma caixa de fósforos cheia de moedas de prata - níqueis, moe-
das de dez e quinze centavos. Eu retirava estas moedas e naquela
estranha luz azul eu começava a usar minha imaginação. Eu imagi-
nava grandes riquezas e fortuna abundante. Eu sabia o significado
de uma Relação Plutônica! Porém mais do que riquezas, quando
olhava fixamente para estes objetos prateados, isto excitava minha
imaginação. As moedas tinham um forte efeito generativo. É dito
que dinheiro gera dinheiro, mas eu sabia que dinheiro gerava mun-
I dos imaginários. Eu também sabia, que gerar tinha alguma coisa a
; ver com sexo. Eu ainda não estava consciente da relação curiosa
entre gastar-se sexualmente, gastar energia, gastar tempo e dinhei-
ro, ou ainda com problemas como uma pessoa se guardando sexu·
almente, guardando tempo, energia e dinheiro. Eu estava gastando
tempo com moedas que eu nunca gastaria. Essas aventuras imagi-
nárias estimuladas pelas minhas moedas eram as expenê ncias mais
valiosas. Ocasionalmente eu seria despertado dos meus devaneio s
~ t ;~ 11111111'" 1Tlê;,. t-Jélk:n do ri u porta querendo aber o que eu eS I'!'d
I(j~~'r, !, ."j JIS ~t Illrllenlo il11 ede-n E: de ir mais al ém do qUe
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"I I J fJrllllelras expe ri ências com sincronicldade, fOi 8nl
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•...,ieS n'lof"llenlos dt; Lo rre spc ndência en tre a suspeita ue minh a mãe
= cl L.:Ll fI plet " tens - o das l inhas explorações imaginárias

Um :: tarde f:;U tin lia voltado para casa depOIS da escola e C0n1 o
r" c u enl usl sm 1 usual fUi para o meu armário e as rninhas moCddS
~b..(e à S . Eu tlq uel chocado co m o que acheI. O chão do armari a
tos t va vazio. li mpo e varrido Eu procurei freneticamente pelas 1111-
nh S moedas e não pude encontrá-Ias Minhas moedas secretas
h Jiam sumido Eu corri para as latas de lixo lá fora, mas elas esta-
vam vazIas r,'l lnhas moedas eram de um tal segredo que eu não
c.on segui perguntar sobre elas. Eu nunca voltei para o meu arm Elrio
í,ovamellte para passar aquelas horas imaginárias. Alguma cOisa se
quebrara em mim com esta perda. Pouco tempo depois eu tive um
côso severo de sara mpo que se transformou em mastoidite e eu fui
hospitalizado. Mesmo então, eu conectei a perda das minhas moe-
das secretas com a minha doença. O resultado desta experiência
foi que eu quis me tornar um médico. Eu esqueci sobre as moedas
Eu esqueci sobre a imaginação . Eu direcionei minha atenção para o
mundo e deixei para trás as coisas de criança. A partir desta época
até me graduar na escola eu não tive sonhos. Minhas moedas, mi-
nha imaginação, até mesmo os meus sonhos tinham partido.

Alguns meses atrás eu tive um sonho:

Eu estava sentado na frente da minha máquina de escrever, de


repente ela parou de funcionar. Eu abri a tampa e achei a cai-
xa de fósforo dentro da máquina Eu abri a caixa de fósforo e
ela estava cheia de moedas. Eu as coloquei de lado, coloquei a
tam pa novamente e continuei a datilografar.

Po uco tempu depois deste sonho, o Dr. James Hillman me telefo-


nou e me ap resen tou um convite para falar no Congresso Internaci-
onal de PSi cologia Analítica sobre o assunto de dinheiro . Falar 50-

1
bre dinheiro me assusta tanto quanto uma grande inflação Mas eu
aceitei o desafio em parte como uma maneira de honrar o r tar o
das min has moedas de infância.

Eu estava excitado sobre o retorno das minhas moedas. Me pa-


receu tão certo estar escrevendo sobre dinheiro baseados nos aus ·
pícios de uma imagem que na minha infância tinha me co n ctado a
imaginação, alma e corpo. Mas alguma coisa estava errado. Eu
tentava porém não conseguia escrever. Meses se passaram e mi
nha máquina de escrever ficava parada. É claro! O sonllo tinha me
mostrado que as moedas detiam a máquina. No meu excitamento
sobre as moedas, eu me neguei a perceber isto. No sonho, foi
quando eu coloquei as moedas de lado, é que pude continuar a es-
crever. Mas como eu poderia escrever sobre dinheiro e colocar mi-
nhas moedas de lado? No sonho eu pude fazer o que na realidade
do dia a dia, não poderia. A chamada das minhas moedas era muito
forte.

O que seguiu a isto então, não foi uma composição escolar sobre
~ a psicologia do dinheiro. Nem tampouco tentei uma aproximação
t junguiana para o significado do dinheiro em uma prática analítica ou
na vida do dia-a-dia em qualquer maneira formal ou teórica apropri-
ada. Todas estas coisas são, é claro, assuntos vitais para n6s, di-
gnos de busca. Mas aqui, nestas poucas páginas, tenho de seguir o
comando das minhas moedas, deixando-as ser psico-ostentações
; novamente.

Na primavera, fui para a Escócia. Eu havia trabalhado por vários


. meses no assunto dinheiro e não cheguei a nada. Um estagiário
aparentemente disse mais em uma observação bem-humorada do
que eu tinha conseguido com todos os meus esforços. Ele disse:
"Dinheiro é como sexo: nunca existe suficiente e nunca é demais."
Porém certamente na Escócia, eu acharia alguma coisa sobre di·
nheiro que me libertaria desta situação difícil na qual me encontrava
Eu me decidi a recolher algumas estórias dos velhos carregadores-
tradicionais na Western Highlands. Eu recebi muitas estórias mas
nenhuma sobre dinheiro, no entanto escutara um provérbio que ex-
citou alguma coisa no meu próprio sangue escocês Cor no analista

I
1'1 0111ano tenho téndid o frequen temente a focalizar na form a redorl
I .... elas nict;; das S las ualiJ ades mand álicas iner nles, sua r l<:Ieão
Ll lr I er,cr ia e V' lores, e seus ímbolos próprios. Este p rove l~blo
éS::üces roi um choque par a meu pensamento preguiçoso . "Dtn llel-
r " iz o escocés "é plan e foi fe ito para ser empilha do" Tão tl pl
c; n ente esco 'ês notar as ca racterísticas esq u cidas e rel embr3r '-i
uti lidad d' 5 COisas!

No me io de uma escura te pestade encontrei meu carni nhlJ I, ,,<.I


o (-:: aslelo Dunvegan , casa ancestral do Clã McCloud na 111 1[1 de
Sk ye. Eu conversei long amente com um guia do castelo, que era
cl eio de estÓria s e muito satisfeito por ter um ouvido deseJOSO de
escutá· Ias . Quando nós paramos embaixo da famosa Bandeira das
Fadas, perguntei a ele sobre alguma estória de dinheiro. Ele pensou
p r algum tempo, pareceu abatido, e finalmente disse que não co-
nhecia nenhuma Então, em um instante, falante como eu já havia
visio, disse que talvez tivesse uma que poderia me contar. Um dia
tln la vaca estava pastando muito perto da borda de um rochedo
muito alto, escorregou e caiu . Lá embaixo, no lago, um pescador
pescava preguiçosamente no seu barco, o qual fora trazido pela
correnteza. A vaca aterrissou justamente encima do barco, destru-
indo-o completamente, e além do mais o animal não sobrevivera ao
impacto Os dois homens começaram uma tremenda discussão
sobre de quem era a culpa do incidente. O proprietário da vaca
afirmava que se o pescador não tivesse sido tão descuidado e dei-
xado seu barco à mercê dos ventos e correntezas, a vaca teria caído
sem nenhum arranhão dentro da água . O dono do barco afirmava
que se o pastor não houvesse sido tão descuidado ao deixar a vaca
pastar perto da beira do penhasco, o animal não teria caído. Inca-
pazes de decidir sobre a disputa, levaram o problema até o chefe da
vila. O chefe encontrou-se em um grande conflito e simplesmente
não se julgava capaz de achar uma solução justa para o problema.
Então, ele chamou o sábio da vila - o qual nós, nos dias de hoje,
chamaríamos seu analista - e pediu o seu conselho. "Chefe", o ana-
lista disse, "você deve pagar à ambos, pois o rochedo estava em
eu solo , que não deteu a vaca, e as ondas em seu lago que trouxe-
ram o barco até onde ele se encontrava."

4
Imediatamente eu fiquei perplexo p la extraardinaria dificul ade
quando se fala sobre dinheiro, o qual parece est r fi rme nte ca-
racterizado por duas alternativas de ganho e perda, ter e não ter,
gastar e guardar, como é difícil achar a sabedoria de ta te ira po-
sição .

Nesta viagem , descobri alguma coisa sobre meus an i:estrai s que


curiosamente parecia estar conectado com ambos. meu intere e
em cura e meu renovado interesse em moedas . Em 1329, um gru po
de cavalheiros escoceses partiram em uma cruzada para a Terra
sagrada . O líder deles, Lorde Douglas, carregava sobre seu pesco-
ço uma caixa de prata que continha o coração de Robert the Bruce,
I o qual havia lutado para libertar a Escócia do domí niO Inglês méJS
morreu antes de fazer uma peregrinação até a Terra Sagrada Ao
! lado de Lorde Douglas, cavalgava Sir Symon Locard , que fora tor-
nado cavalheiro por Robert The Bruce, e lhe confiada a missão de
carregar e proteger a chave da caixa com o coração. Eventual-
mente, eles cavalgaram em uma batalha contra os Sarracenos na
1 Espanha. Lorde Douglas foi morto, mas Sir Symon Locard, com
j muita bravura, conseguira salvar a caixa com o coração. Posterior-

I í mente, para comemorar este evento, o nome de Locard fora mudado


para "Lockheart" (nota da tradução: Lock em inglês significa: fechar,
trancar e Heart significa: coração), e mais tarde fora encurtado para
"Lockhart". Um coração com uma trava tornou-se o escudo de ar-
i mas da família ,com o lema "corda serata panda", que significa "Eu
i ' abro corações fechados".

i Durante esta batalha, Symon capturou um príncipe Emir de gran-


, de fortuna e distinção. Quando estava pagando um grande resgate
I em ouro e prata, a mãe do príncipe deixou cair de sua bolsa uma
: jóia. Meu esperto ancestral ordenou que a jóia fosse também incluí-
• da no resgate . Obviamente a mãe nem titubeou em concordar, para
: não perder seu filho e disse a Sir Symon que era uma antiga pedra
com poderes curativos, um remédio sagrado e poderoso con tra to-
dos os tipos de doenças. Durante o reinado de Edu ardo IV, a jóia ,
uma pedra triangular e vermelha escura , foi colo ca da sobre uma
moeda de prata , e desde então, tem sido conhecid a como Lee Pen-
ny , depois da casa ancestral dos Lockharts nas áreas Lee e Car-

5
I • .).1\ n,] sul J a E cocla O Lee P nny 5 enco ntra 8g ora em mãos
~k -.- il lun rv1acu ' .l l all_ock i r 11 , pro ri tário t la l das te rras de Lef: .
' I" .... urte.:. i ,18nlc (nê de ' ll(lU com o convid a du r nte ('(linha r- cent e
.... 1.:>1 éJ í:I 11, 8 deli a cl.ance de fie r sozinho com a jóia

(I Li 1".iO seg uI 3va o L e enny e admirava a caixél de ouro que o


gu ... dava . o qu al for a presen te da Im pe ratriz Rainha da Áuslna . es -
I, · t il l m", nte ex Ita (') com ei a experimentar um fluxo de imag ens
l,J oI liJeja te;; qll é'~ nUll ca I,av ia antes experimentado . A pedra estava
\/ Iv â . O lali:::rnã, que ser\liu de inspiração para o livro de Sir Walter
~ c - ti 1rle Talisman , tinha urna história notável de curar e uma in tri-
yd l .t . marli:;iI3 de exercer seu poder. O ritual para evocar os pode-
II:;S cio talismã, era me rgulhá-lo dentro de água com "dois mergulh os
LI 11 giro" Durante este ritual não se deveria falar, para não afetar
s poderes da pedra Este aspecto do ritual tinha um curioso efeito
sob íe mim , que eslava tão ligado com o mundo real. A água usada
eS le ritual poderia curar feridas, doenças dos rebanhos de todos os
tlf-' u5, existem muitos registras sobre tais efeitos. Eu posso afirmar o
puuel· inerente deste talismã mas me lembro também, das palavras
do meu anfitrião em seu livro sobre a história da famllia Lockhélrt .
"Vanglonar-se da posse de um talismã roubado de uma mãe deses-
pérada não é uma das qualidades mais gloriosas".

Mas a natureza talismânica do Lee Penny tem me pers eguido


desde que o tive em minhas mãos. Minhas tentativas de escrever
sobre dinheiro tinham naufragado, e minha intensa preocupação
com o talismã que possuía poderes curativos continuava interfenn-
do. A imagem de ativar os seus poderes não dizendo nada, conti-
nuava a rodear mínha psique e quase me deixou mudo. Então, aci-
dentalmente, minha atenção foi atraída pelo capitulo 99 de Moby
Did. escrita por Herman Melville.

II

Havia en cravado no mastro principal do Pequod uma moeda de


ouro , um grande dobrão Equatoriano, o prêmio por encontrar a
c id de baleia branca . Este era, segundo Melville o talismã de Moby

6
Dick. A imagem me pren dia a a enção. Constrangedoramt l e tal11
bérn havia esta figura, un a moeda de ou ro e o Lee Pen ny, encrava
das j untas. Eu sabia que él moeda e ouro era uma iI a m própné:.i
como Moby Dick. Mas a similar imagens a um conceito próprio nao
era muito sed utor. Eu percebo pouca vida nisto . Mas f eqli ente
mente acho vid a na conexão entre image ns, na ma neira u~
estas se encontram conectadas , no que eu chamo de "E 'osbond "
(Vinculo erótico) entre imagens. Na estória de Melville , as imagens
de moeda e balela estão ligadas através da imagem do tali smã . Era
esta ligação que começou a dançar na minha mente junto com o
talismã do Clã Lockhart .

I
.\
Eu encontrei no comentário de mestre do Dr. Edinger em Moby
.~ Dick uma observação excitante e comprovadora . Ele disse que esta
j ligação era "uma conexão orgânica entre o significa do simbólico da
.. moeda e da baleia" . Para mim, Edinger fazer uso da palav ra "org â-
~
I nica" fora crucial, porque apontou para a qualidade vital da ligação
entre moeda e baleia. A idéia de que a moeda e a baleia eram sím-
bolos próprios, era para mim sem vida, pois isto eu já sabia . Mas a
imagem da moeda como um talismã próprio, isto eu não sabia e
1
parecia-me cheio de vida e um presságio.

, Melville deve ter percebido a capacidade orgânica e vital do pró-


~ prio eu , para dar alma aos objetos das nossas experiências e as
i suas relações com a psique . Escrevendo sobre a moeda ele deu
l alma a este aspecto peculiar e intrigante quando ele disse: "Há al-
guns certos sentidos escondidos em todas as coisas, e mais todas
as coisas são de pouco valor, e o mundo nada mais é do que uma
cifra vazia" . Na imaginação de Melville, ao mundo é dado uma alma
~ com valor e importância, um sentido que está "escondido" em todas
; as coisas. Foi esta imagem de esconderijo que caracterizava para
,:mim a qualidade de vida orgânica. Dizer que este sentido "escondi-
do" em todas as coisas levava a um interioridade metafórica onde
J

qualquer um pode ouvir aquele sentido "mentira em espera" o senti-


do é "pronto para criar uma armadilha" este sentido se rnove "furti·
vamente" , "sorré!teiramente", "secretamente" , este sentido vive e
respira sem ser notado, insuspeito, oculto, escond id o da vista . Em
ta l sub mundo imaginário, o próprio sentido tornou -se person ifi cado,

7
~ ..

Vi v , ', ivc':I ido no escur , nas sombras , ob scurecido , Gbservando,


ç 1-'":' ~il ld u a lIi:lr ando o l omento certo pa r que sua von tade seja
1t. lt.J : clda é que nó podemos a !l a um sentido . É verd ade
Lil i I sent iJo t mbérn pode nos achar.

Eu percebi, e claro, que a moeda de ouro, som da ao sim bolo da


,elSO fl Ilcladt: e ao talismã de Moby Dick , era de fato , dinh eiro Tal-
I. "L,. nada mais, talve z isto seja sexualidade) pareci a-rn tao dUfa,
l ~v re al , tão concreta , tão literal, e ainda tão rapidamente sirnbollza-
UCl , inte rpretada ou traduzida para alguma outra coisa , Eu esta va
confuso sobre isto , e compreendi que um aspecto destas mentiras
se encontra na natureza do próprio dinheiro: dinheiro é a forma mais
podero sa, prática e experiente de transformação , E de uma manei-
r t talmente real , uma pessoa pode transformar dinheiro em quai-
ql ler coisa neste mundo. Nenhuma outra coisa consegue esta vari-
dad e de transformar possibilidades em realidade ou em fantasia
1 ~c5 te sentido , dinheiro simboliza tudo, Byron foi diretamente ao
núcleO do problema, quando observou que "toda guinéu (antiga mo-
eda de ouro inglesa) é uma pedra filosofal" , A vida e alma do dinhei-
ro deve encontrar-se nesta potencialidade de transformação. Esta é
também , a razão pela qual a psique esta atraída por uma fascinação
pelo dinheiro, Assim como a procura pelo ouro alquímico, ou a pro-
cura pelo amor verdadeiro, uma pessoa experimenta algo da possi-
bilidade de transformação em si mesmo, quando nas garras do po-
der transformador do dinheiro, Eu suponho que este é o porquê ,
quando alguém se encontra em profunda depressão, gastar dinheiro
fará muito bem ao espirita.

Refletindo sobre a moeda de ouro como dinheiro, e Moby Dick


como uma personificação do próprio eu, produziu uma afirmação
muito curiosa , que não me deixava mais sozinho: dinheiro é o talis-
má do próprio eu . O que isto poderia significar? Um talismã é objeto
in\t stido de um poder 's,:)brenatural' que pode ser efetivamente e
ativ mente chamado para exercer seus efeitos para atirgir certos
obj tivos Note-se a diferença entre o "amuleto", este apenas prote-
ge contra o mal , desviando-o . Claramente, um talismã carrega um
ativ poder transformador. O poder talismãnico do dinheiro se en-
C.:'lI'I ra em sua natureza transformadora . Desde que o poder tal is-

8
mânico pode ser investido a qualq uer obJeto, isto significa que qual
quer objeto pode se tran sfonnar em dinheiro.

Se dinheiro é o talis mã do Eu , então o Eu deve usar dinheil O ara


atingir seus objetivos. Uma afirmação tão estranha está em con-
traste com a ênfase mais usual no uso do ego e a relação com o
dinheiro . E ainda, há um poder talismânico que se esconde no di-
nheiro, e este poder é lá investido pelo Eu. Quando nós nos con -
frontamos com o poder do dinheiro em nossas vidas, estamos nos
~ confrontando com o poder dos "Outros" em nós, um poder que faz
valer sua vontade através do dinheiro _ 'É o Eu" . Foi este poder que
1 experienciei muito tempo atrás, quando estava com minhas moedas
"! dentro do armário. O Eu usava as moedas para transformar meu
~ mundo do dia-a-dia em um mundo de psique.
\"

'I Neste ponto, poderia entrar dentro da história e o significado dos


talismãs e ampliado todas as maneiras de interesse e imagens po-
derosas que se referem aos talismãs e ao seu uso, e como tudo isto,
pode ser notado em nosso comportamento e relações com o dinhei-
ro. Talvez em uma outra vez_ Em vez disso, fui apanhado pelo que
Paul Valel'j havia percebido:

Você com certeza já observou o fato cwioso que wna


'I palavra, a qual é perfeitamente clara 'luando você a es-

~ cuta ou usa na linguagem do dia-a-dia, cuja mesma pala-


vra não traz nenhuma dificuldade quando esta se encontra
engajada em um rápido movimento de lima simples frase,
se toma, como que por encanto, complicada, apresenlan-
do uma estranha resistência, frustrando qualquer esforço
de definição, tão logo você a retire de circulação para
examiná-la separadamente, e procurar entender seu si~ni­
ficado tirando a sua fimção instantânea... Nós cnklHJe-
mos a nós mesmos, agradecemos somente a velocidade
do nosso intercâmbio das palavras utilizadas ...

I)
I- IlICl I ~. I trlla VeL,
f ra ap Ihad ) pe la minha própria fasClw\..~ I
C," dS al",vrCls Ent du ê!:i l evi

Sibll i1i,..tc! n gc r~ is t.: de I ll i~õL: ; sà mu ito freqllcl1l 'mente-


<II I ;n.:ia LL um paI ' \ a 'ós usalllO, palavras n lol~
"'l, ,1. J ,II' ,
Ilã'l , LIIlf1rc ' I dei! os J ~lI a alm a - e até lIl esmo, ncm nos im-
pUlt ,IIIIO S N o ~ tut.i u, "busar lOS da pala vra Qual qll er cui:;,1
l]tI L: ttll li l' vlle da pi i, ali do ig niflcado gcra l, do sent id o lil cl di
e a \ L I'h.. i ladi.: do pr esente , isto nos ajudara a li bert ar a psiqtl t.:
da SIJ .I pri são . Pal e! vra s to mam vida , indu zem im agens, ex ci-
tam a illlü-,:, in ação , co meça a nos mostrar novas estrutura unin -
do UIlt3S as outras a nos contam estórias co mpl et as, se IlLl S
ape n a~ arr <l nh armo s a superficie de lima palaVTa .

Então , se eu seguisse esta idéia de "dinheiro como o talismã do


Eu", Eu teria de seguir as palavras . Palavras como moedas , são
cJ - 'I inios com significados escondidos .

Eu me acerquei desta afirmação, retirando cada uma das ima-


gens centrais das palavras fora de circulação: dinheiro, talismã , o
Eu _ Uma das maneiras que fiz isto, foi indo até a um tipo de "deva-
neio etimológico" em uma tentativa de descobrir e compreender os
velhos significados das palavras , que ainda estão vivos mas esque-
cidos. As lembranças inconscientes destes velhos significados,
lembranças da completa história no relato das palavras . Mas a
mente consciente precisa ser relembrada.

Eu comecei com "talismã". Este um substantivo francês e espa-


nhol, masculino como conveniente ao seu caráter de poder ativo.
Vem também do Árabe tilsaman, o plural de tilsam. Esta por sua
vez vinha do grego telesma. Telesma refere-se a "uma cerimônia de
cúnsagração" e era o nome para "mistérios". Derivava de uma pala-
vra grega, telein, que significava "cumprir", "se iniciar nos mistérios" ,
e "pagar". Variações destas palavras referindo--se a dinheiro pago
r cumpli r obr:;)ações e débitos, dinheiro para pagar a entrada no
sa 'erdócio e dinheiro pago como parte dos ritos misteriosos. Está
cI ro a p rtir da história da palavra "talismã" que iniciação aos mlsté-
10
ri OS , con clusão e realização , e pagamenw em dinl eira relacionam
se sempre um com outro.

Questões começaram a surgir Como o Eu usa o dinheIro para


S rep resentar alguma coisa sagrada? Como o dinh eiro podl::: c sa-
j
grar o trabalho que nós fazemos na análise? O.
dinheiro pag o por
um paciente é para pagar a iniciação aos misterios do próprio Eu ?
Eu me lembrei da admoestação de Tertullian que afirmava "nad
que é de Deus pode ser obtido através do dinheiro", e Thoreau : "di-
nheiro não é exigido para comprar uma necessidade da alma". Mas
.. nós não somos trabalhadores da alma? Nós não nos empenhamo
j nas necessidades da alma em nosso trabalho? Se isto e verdad e,
1 dinheiro é necessário para comprar a conexão com a alma, conexão
! com a psique; e conexão
' com o Eu através de nós. As raízes do
talismã dizem me que os mistérios sagrados e dinheiro relacionam-
<I se um com outro.

• A palavra telein vem da palavra grega telas, que significa "reali-


zação" e "integridade" no sentido de alcançar um fim, um propósito,
um objetivo final. Voltando ainda mais na pré-história da linguagem,
uma reconstrução das raízes Indo-Européia da palavra telas é
*qWel. Esta raiz contém a imagem básica de "revolver", "mover ao
, redor de um ponto fixo" "discorrer sobre". A mesma raiz elevou do
. latim colere que significa "cultivar" que veio da nossa antiga palavra
~ inglesa "culture"; o inglês antigo hweol que se tornou em inglês
i
"wheel" (roda); e o palavra grega kiklos significando "roda" ,

Experienciar a natureza talismânica das coisas é experimentar


I
ser girado, ser revolvido, ser levado a discorrer, cercado . Isto é uma
I experiência anterior que nos leva às palavras de círculos, ciclos,
I rodas. Um talismâ não funciona de maneira linear mas sim, girando,
• movendo-se ao redor, circulando . Este girar, como telas, tem a ver
• com o destino de uma pessoa, seu propósito e seu final. Girar pon-
tos são momentos talismânicos quando então somos girados em
direção ao nosso destino. Dinheiro como talismã do Eu agora nos
avisa que o Eu funciona através do dinheiro em direção ao nosso
telas , nosso propósito e nosso fim. Nossa relação com o dinheiro
deve carregar evidências do nosso telas dinheiro funciona como um

II
qlJando nos gira , nus força , nos move para denlro da con-
...I11:" ln ã
Iru l, ?jrj'ão cor I o nosso I los . f\losso leias , nosso final, nosso propó-
siI" c::: parZ:l detel minar nosso valor Quando nos pergullla m l "O qUe
vuce vale ?" não vem l am bém a imagem do di nheiro conectada COin
tuJ a s as outras co nsiderações? i"-Jeste sentido nào é surpreerld en te
4l <:. ' lavra "valor" ven ha de uma raiz Indo-Européia que significa
"y ll ar" e "torcer" , reve lando palavras tais como wyrd do Inglês ,A,I'cai-
co sl gn l icand "fad o" e "destino" e que se torn ou no inglês aluai na
pâl.JI/r "we ird" (d esti no), Assim também é writhan do Inglês Arca i-
Cv, que significa "entrelaçar" e "torturar", e se tornou a palavra "wri-
hc" (contorcer- se ) Bem como a palavra do Inglês Arcaico wyrgan
qUe significa "estrangular", que tornou-se em Inglês "worry" (preocu-
pação). Encaixa-se aqui a palavra grega rhombus que significa roda
rnág ica e em Inglês Arcaico wyrm significando "worm" (verme ), as-
sim como a palavra vermis do Latim significa "verrnin" (animais dani-
nll s).

'nlão, o valor de uma pessoa está profundamente relacionada


cum imagens do destino, as voltas e reviravoltas da sorte e as rodas
da fortuna, A mesma verdade se relaciona com dinheiro, Nossa
relação com o dinheiro é a nossa relação com o destino. Nossa
relação com o dinheiro é a nossa relação com propósitos, fins, obje-
ti vos e telos . Dinheiro como um talismã dá ênfase a este fato, e di-
nheiro como talismã do próprio eu enfatiza as maneiras e os signifi-
cados através das voltas, reviravoltas e circulação do dinheiro, que o
Eu traz até nós, nos gira ao redor em direção ao nosso telas. O
Ego, me dá a impressão, de que sempre tem um firme propósito, o
objetivo está disposto claramente, e o fim sempre em vista. O olhos
do Ego estão sempre voltados para a frente. Mas o Eu trabalha
para nos girar ao redor de um eixo, e nós não podemos ver com os
olhos abertos, para onde estas voltas estão no levando. Um tipo
mais profundo de "ver" é necessário - o ver dos mistérios. O signifi-
cüdo básico do palavra "mistery" é "ver com os olhos fechados" .

Alguma coisa sobre isto ecoa na palavra "dinheiro"? A palavra do


Inglês moderno "money" (dinheiro) vem do Inglês Medieval monoie
que por sua vez IIem da palavra feminina do Francês Arcaico monie .
Esta tam bém vem de um desenvolvi mento da palavra do Latim mo-

12
neta - também um su bstan tivo feminino. Apesar de que não é o
momento para discutir sobre o significado do gênero da p lavra, e
surpreendente que a palavra para din heiro, tão freq Lientemente c 11-
siderada masculina, seja no entanto um substantivo femin ino. E
ainda, existe uma coisa mais profundamente femi nina sobre est
palavra. É o orne em Lati para a mãe das Musas que em Gr
I era ch amada Mnemosyne. Ela era a deusa da memória. Portanto
; fora da matriz ou útero da memória vêm essas criativas invenções
'i que nós chamamos de Musas, as quais entram no nome como cu-
nhar, inventar moedas e dinheiro. Dinheiro esconde dentro do seu
nome as musas criativas e a fonte delas na sua memória

Há mais. Nós achamos logo em seguida que Moneta era um


epíteto , um nome, para Juno, Raínha Mãe do Céu . De fato , desco-
brimos que o dinheíro era cunhado no templo de Juno. Isto aconte-
..; ceu da seguinte maneira . Um exército Romano estava perdendo

1 uma batalha e estava quase sem dinheiro. Isto causou discordân-


cia , desmoralização e perda do espírito dos soldéldos. Em uma
tentativa desesperada para achar uma resposta para a situação em
que se encontravam, eles consultaram Juno. Ela aconselhou-os de
que se a causa deles fosse justa e eles lutassem pela causa o di-
nheiro viria e estaria disponível. Os soldados se reuniram ao redor
desta imagem e lutaram . Logo, o dinheiro chegou de Roma e a ba-
1 talha foi ganha. Como um tributo para a sábia deliberação de Juno ,
= uma fortuna foi colocada no seu templo o qual também continha o
l tesouro de Roma. Tudo isto, nos mostra a importância do dinheiro,
~ e que o dinheiro (isto é, o dinheiro, ouro, prata e outros metais) está
no reino da mãe. Isto me lembra o que Jung disse sobre os três
"M's" da análise: mãe (mother), Importância (matler) e dinheiro (mo-
ney) . Nós vemos isto aqui nesta imagem dramática da importância
,
.. (poder) sendo cunhada dentro do dinheiro no templo da mãe .
1
A palavra moneta vem de uma palavra mais velha, moneo que si-
'gnifica "lembrar" "trazer à memória", "relembrar", "advertir" , "acon-
selhar", "avisar", "instruir" e "ensinar". A pessoa pode ver isto na
palavra moneo, Mnemosyne a trabalho como deusa da memófia e
da lembrança . No papel dela tal como Juno Moneta, Juno era uma
grande conselheira e vidente. Ela podia ver o futuro Um templo f i

13
~ " "': LlIII,JO cm ::. l 18Ilunla , pC lq ue la advel1iu a população sobre um
I..,I~I ...-;I.j C t le t,d éll/ r.lpara QCQ tece r. Então , em conju nto com u
1,,,,,I-Il/loJ ''t linll elrú' es tdo Ir n'lgens de lembran a, onse lh éll, nto .
... i~u s se r,ti tJ ens inar e inst rui r atravé das lem branças do
I)'" - vad Esquece i d p gar a conta de algué!,l , ou esq uecer de
Ji s" uti sobr rem un ra ção , podem agora ser vist tJS con I palie de
1I1 i'1 ÍL:nVI1ê /l I ~ ia do dinheiro em seu cará ter como mem6ri a Jll-
110 C:-": Vld lece <:; / _. eu tributo se alguma coisa não era lembl - da. e
n6", u ~ os somo s con scien te s do tipo de ret ri bu ição que Juno 11 go-
,[Vd Esquece r- se sobre o dinheiro , não aprender com o mesmo e
não prE: sldr atenção nos avisos dele , isto é esquecer-se de Juno .

.A. raiz de moneo era men que fez com que surgissem as pal avras
en , Latim memlni, men s, e mentia. Memini significa "lembrar", "re-
I rnbra r", "pensar sobre", "ser atento" e "mencionar algo". De novo
n . s I vados a lemb rar das imagens de lembra nças, de preenche r a
11 l; lIl e com algo. Se dinheiro se origina de um tal ninho verbal , de-
Vêl " '" prestar atenção nesta ênfase extraordinária nas lembranças
e na memória. Com relação a isto, talvez seja o motivo pelo qual tão
pouco é lembrado , tão pouco é mencionado sobre dinheiro na lite-
ratura do nosso campo, e provavelmente nos nossos próprios con-
sultórios .

Mens é um substantivo feminino em sua origem e significa "men-


te", "coração" e "alma" . Somente mais tarde, o substantivo se con-
traiu referindo-se a consciência , para depois ser limitado às faculda-
des intelectuais da razão e racionalidade . Na sua forma personifica-
da, Mens era a Deusa Romana do Pensamento . Imagine isto, uma
Deusa do pensamento! Mas outras deusas vivem aqui também .
Esta raiz mens deu origem ao nome Minerva, a deusa Romana da
sabedoria, da reflexão, das artes, ciências e poesia e da imagina-
ç"o .

Outras palavras desenvolveram-se desta raiz básica , tais como


mo itor, mentor, monitum e monitus, todas conduzem imagens de
ie nbrança, avi so e advertimento, também referindo-se a estes efei-
to través de oráculos, presságios e profecias . Certamente ima-
ge de prof cia , presságios e alertas estão vivas e bem com rela-

I'"
ção ao dinheiro. As bolsas de valores do n undo sti mul m-se c I
profecias, presságio e prognósticos. Os corr tores e consclt e i(o~
obre dinheiro estão cheios de aviso, con elhos e lembrança
Juno Moneta está trabalhando aqui.

Estas imagens já estavam presentes em antigas époc s Gr 9a


A palavra geral grega para dinheiro era chrimatos , que se r fe u
tamb ém a uma resposta oracular e avisos divinos. Port anto , en
todas estas considerações e reflexões sobre as imagen da raiz U..l
palavra "dinheiro", nós chegamos a algumas cone xões básica s entre
dinheiro , memória e práticas divinas. Nós ch egamos até esta cone-
xão através do estudo somente da históna e origens da palav ra "di-
nheiro" e sem o auxílio da teoria psicológica ou da prática Eu acre-
i dito que isto significa que se nós estamos chegando a um completo
i,1 entendimento da nossa relação com o dinheiro em nossa prática
, psicológica tanto como em nosso entendimento dos fenômenos do
dinheiro em uma escala mais ampla , talvez devêssemos suportar
em tais reflexões a intrincada teia de conexões entre dinheiro, me-
mória e práticas divinas que se encontram esquecidas mas ainda
vivem profundamente na palavra "dinheiro" .

o que está para ser encontrado no fundo da palavra "Eu"? Suas


raízes alcançam até o seu -, um elemento maravilhosamente rico
que chega até palavras tais como "irmão" , "mexerico", "secreto",
"sedução", "suicídio", "costume" e "hotaera". Não há tempo para se
dedicar a todas estas imagens em relação ao nosso tema dinheiro
como talismã do Eu, mas o fato que "segredo" e "Eu" envolvem as
mesmas raízes, nos lembra quanto sigilosos somos sobre dinheiro.
É mais fácil descobrir quais os analistas que estão dormindo com os
pacientes do que descobrir a quantia que cobram por esta conjun-
ção analítica. Parece-me que podemos falar abertamente sobre
'. assuntos sexuais - nossos e dos outros - mas assuntos monetários
. estão ainda envoltos em segredo . Eu fico imaginando se o Eu tra-
~ balha menos agora em assuntos sexuais do que em assu ntos mo-
. netários. Porque é que somos tão sigilosos sobre dinheiro? Porque
temos tantos problemas para falar e contar sobre a nossa relação
, com o dinheiro mesmo com as pessoas que convivemos?

15
~e e ve dade qUe: o Jinh elro é o tali smã do u. p de ser qLl e
qL,oil o ful,m ús sobre dinll Ir con eçam os a revel r nossa relaçã u
COIII I) ElI e dl :, uma maneira que é ext ra rd ina ri ame n t real . tal ve z
11. i :" real do que qu alqu er uma das outra maneiras que mais f cil-
mel t r :\,' lamos r os mesmos - e talvez mais reveladora . Ent -
devemos consi ra r como a palavra "Ética" mescla .. se com o Eu e o
s ~ gred o Como deveríamos on siderar os problemas de dinh iro
er" terr os d etica do Eu? Eu me recordo da afirma ção de Jun .
ljue traz uma Idéia bril hante so bre a natureza de Imagens prop IdS
' o;:: U 13 pe oa que devem ser convertidas em obrigações éticas . e
'-1 e hom em tem "uma deficiência para entendê-Ias ou se esqui va
da responsabilidade ética, privando-o da sua totalidade e impond o
uma fragmentaridade dolorosa em sua vida". Imagens de dinheim e
no ssas trans ações com o nlesmo; ambos na nossa prática e na
II 5a vida diá na não podem escapar desta ligação ética . Como se
ude notm da palavra - trab alho, Eu, ética e segredo estão entrcl:J-
çaJos Eu vejo agora que a proposta mais profunda do segredo é
flão cobrir o que o ego quer esconder, mas trazer o ego para se co-
nectar com o Eu onde , em segredo se aprende sobre suas obriga-
ções éticas.

A inconsciência do ego cura freqüentemente através da revelação


dos segredos. Mas a secreta conexão com o Eu é revelada não
através de revelações mas através da aprovação das obrigações
éticas aprendidas e relembradas em associação secreta com o Eu .
E até o ponto que estas reflexões resistem na nossa relação com o
dinheiro, o que nós fazemos com o dinheiro mais do que o que nós
dizemos sobre dinheiro, revela a nossa realidade completa da nossa
relação ética com o Eu. É esta relação ética que nos conecta juntos
como uma comunidade. Isto é o que nós prometemos a nós mes-
mos, um ao outro, e aqueles que buscam nossa ajuda. O que nós
faze mos com os frutos do nosso trabalho da alma - aquele duro pa-
g mento em dinheiro - tem multo a nos dizer sobre nossa relação
com o Eu, nossa relação com o telas, nossa relação com as "neces-
sidades da alma" . Este dinheiro vem para nós marcado, marcado
com as lutas da alma do "outro". Não vem limpo, mas ensangüen-
tacto nas enormes batalhas da alma dos outros. "Dinheiro é um ou-

16
tro tipo de sangue" e qu ando circula atravé das n os ~ a s mãos VE:I
tal vez com mais do qu e nós nos importamos em s ber.

111

"Seu cofre está vazio", dissera uma voz em um sonho qu e afet u


tanto meu paciente que ele se apressara para ir ao b n e checar
se us vários cofres. Nada estava faltando e ele ficou enorrn ement
aliviado , no entanto ficara muito perturbado com o sonho . Ele falou
sob re ter perdido alguns valores internos . Eu o lembrei que ele nun-
ca tinha experienciado um sentido de valores internos, que todos os
seus sentimentos e vida estavam amarrados à fazer dinheiro e exer-
cer seu poder. Não era como se alguma coisa estivesse perdida ,
si mplesmente nunca estivera lá, e por este motivo o cofre se encon-
tra va vazio. Algumas vezes quando uma palavra me aflige forte -
mente , procuro no mesmo momento trabalhar com a mesma. Eu
peguei o dicionário e simplesmente disse as imagens relacionadas
abaixo da palavra "vazio":

Ausência de conteúdo
Não contém nada
.~
Nenhum ocupante, nenhum habitante
Sem carga, sem carregamento
Ausência de propósito, ausência de substància
Desocupado
Necessitando de alimento
Com fome
Destituído e necessitado
Vazio

Dizer os significados da palavra desta maneira , lentamente e com


se ntimento, trouxe lágrimas aos olhos do meu paciente . As palavras
tinham lhe penetrado e trouxeram sentimento na forma de lágrimas
Quando disse que a palavra "vazio" vem da palavra do Inglês Arca i-
co e significa "descanso" e "lazer" ele imediatamente cornpreendt::u

17
u ~ f , !llJ Jc, , Ide:! dt! l a ~t:r P.. falZ IndO-elJlOpéia para vazIo e med
- li '
",IZ :: lgll lt lC.d " [8111 I med id as apro priadas". Estava na hora, eu
dis",;::: drd Sê I-Jrnar aprop riada men te "cui ar" , "sarar" e "curéi r" qll e
\~ d ülige:m (as pól vr· 5 "me di cina" e "remédio". Pa recia urn pOllCO
peU JiI.:l f ue UrTI.] fJa lJv r lal qual "vazio" perten cesse a mesrn a 0 11-
y2 ,n \e lbêJ i ele l illla pala ra ql lê significava "sarar' e "curar". Eu dl')-
. ,0:;; qll e d meJ luna e o r~m éd i o devéíiarn ser encontrados no va "1lc• .

,~ . ~. ta [ ll :.. llle l..j I la q lld t; cofre vazIo.

Outl a I) ' lavra uriglnária desta raiz é a palavra latina medltarl _ue
ói ~ji ,i f l c d
"pensar sobre", "considerar profundamente" e "refletií" E a
rig E:rn da palavra "meditar". A palavra pedia ao meu paciente no
s nilo, para que ele meditasse e refletisse sobre o vazio. Uma outra
palavra latina que segue a mesma origem é modus significando
"medidas", "limite", "maneira", "harmonia" e "melodia". O trabalho
2H ,aiítico dele deve ser da medida dele mesmo, achando seus liml-
..; achando suas maneiras, encontrando a harmonia e melodia em
;:iUa vida Estava tudo lá no vazio. As palavra modo, modelos, mo-
dificar, molde, cômoda, confortável e comodidade vem originalmente
da palavra latina.

Ele meditou sobre o vazio do cofre mas como não estava acos-
tumado a um tal esforço introspectivo, nada ocorreu. Naquela noite
ele teve um sonho no qual um jovem abandonado veio até ele en-
quanto entrava na sua limousine. O jovem disse: "Eu vou achar isto
para você por um penny". Ele procurou no seu bolso e puxou um
maço de notas dando ao garoto uma nota de 50 dólares. "Não" dis-
se o jovem, "por um penny". Mas nem ele ou o motorista tinham um
penny e o garoto partiu correndo. Ele acordou em pânico. Aqui en-
contramos o típico tema do conto de fadas, a coisa de menor Irn-
,urtância ter o maior valor. Mas focalizei minha atenção no tema
Inais sutil que era a moeda requerida para por em movimento a pro-
Cd a pelo "isto". Meu paciente entendeu que o "isto" era a sua cone-
;.;.áo com a alma, sem a qual sua fortuna havia se tornado sem senti-
d:.i. Era o cam in ho, o remédio, a medicina para o vazio.

H;', muito tempo atrás, quando tratando se com os sonhos onde


ôpaf"8C1an \ a Image rn do dinh eiro, senti necessário focalizar prirn eiru

18
a realidade da relação de quem s nha com o di \hei r
pen nie ? Ou rn sonhou, revelou que tiv era um hábito
anos de rejeitar pennie::; em qualquer transação. Ele sin1 pl s \ ntt:!
não aceitaria pennies como troco. Na busca do porque ele rej it,.lVd
pennies , des'" bíimos que não era porque eles tinham um valor tã
p qll eno (como o conto de fada s nos leva ra a acredit n, n as por -
que eles eram de cobre, ele apenas aceitava as r oedas de ratá
~; corno troco. Compreendi, pelo menos enfaticamente , pelo fato de
h que na minha própria caixa de moedas de infância, penn ies não er -
" travam, elas tinham que ser de prata. O homem, detestando o co-

, bre, estava odiando o metal necessário para ele encontrar o Se U


canlinho para a alma.

'.
llÍ Ele não conseguia se lembrar do que o havia colocado tão contra
o cobre, tão contra pennies. Ele também disse que sentia que se
~ aceitasse pennies, alguma coisa terrível aconteceria. Ele escrupulo-
~ samente afastou tais medos, continuando a não tocar em pennies
> Exatamente aqui se percebe aquela teia de interconexões, entre
dinheiro, memória e práticas espirituais das quais falei anteriormen-
te. Uma pessoa pode ver claramente como o destino deste homem
está intrincadamente conectada com estas moedas, como o penny é
requerido como uma taxa para achar a conexão com a alma e como
a relação dele com o cobre produz o vazio de não se estar completo:
como esta "reviravolta de eventos" o transformou, e quanto a irônica
"mudança" imprevista de um homem rico não ter um penny, o con-

I
~ frontou com seu destino, colocando dentro de preocupação destor-
cida.

. É claro que como sempre a palavra "cobre" havia me intrigado. É


~ uma palavra do Latim cupram que vem anteriormente de uma pala-
l vra grega que era o nome da ilha de Cyprus. Ela era a fonte do
.: melhor cobre em tempos antigos. O nome Cyprus parece derivar da
I palavra em Hebreu gopher, o nome da áNore cuja madeira foi usada
para fazer a arca de Noé. Foi esta imagem que liberou a memória
reprimida na mente do meu paciente, a imagem do padre batendo
em sua mão enquanto ele tentava roubar do prato de oferend as da
igreja , os poucos pennies que haviam sobrado lá . O padre também
gostava mais da prata .

19
J,! pélciente qu e costumava me paga r com um cheque logo no
C,; Il JeÇ O Je cadd t ora , enqu IIto escrevia o ch eque, ativid ade que
t...fé Imen te era f ita em silê l cio , dissera , "O que aconteceu com
I!uct: es! semalla?" De i'epen te I ão consegui lemb ar de nada so-
bra a minha sema na , enquanto me esforçava para rel em brar al guma
c is . el e disse. "t~ ão , espere até que eu lhe dê o cheque , se com e-
ç I I os· ntes e pagar, os Dellse s podem não gostar" Cl aramen te
p i ste paCiente, o pagamento não tinha a ver somente comig o
ma com os Deuses e embora ele tenha dito isto de uma maneira
britlcalhona , eu também ouvira seu sério propósito. O pagamento
e a uma oferenda espiritual para aplacar os Deuses e assegurar
s u" bons conselh os Ele me deu o cheque que havia sido feito
par mim e que era, no entanto, também para os Deuses . O que
alguém deve fa zer com tal oferta? Alguma coisa aceita como parte
d um ritual sagrado que deveria ser usado para propósitos sagra-
dus . Não seria esta uma das maneiras na qual o dinheiro consagra-
riá o trabalho? Eu comecei a me intrigar sobre qual uso particular
poderia dar a este dinheiro . Fiquei imaginando se gastar este di-
n~leiro com alguma outra coisa, que não um propósito sagrado, afe-
taria de alguma forma o insinuante processo. No fim da hora , já
havia esquecido minhas meditações, coloquei seu cheque junto aos
outros e mandei-os todos para o banco.

Nós freqüentemente trabalhamos diligentemente para manter


nossos pacientes separados , freqüentemente elaboramos extremos
para que nenhum paciente veja o outro, para que nenhum traço de
um paciente anterior seja deixado no escritório . Mas nós não hesi-
tamos em misturar o dinheiro de nossos pacientes. A conexão entre
a origem do dinheiro e o destino deste é quebrado quando coloca-
mos o dinheiro em um lago comum e indiferenciado. Isto também
r,os mantém afastados de realmente prestar atenção entre o que
ú 50 paciente nos deu, e o que fazemos com isto.

Tin ha algum J importância como eu gastava este dinheiro? Per-


c- bi imediatamente que este pouco de con sciência - ou talvez louco
roma ntismo - tornaria extremamente dificil, depositar cegamente
l os aqu el es cheques cada mês em um lago indiferenciado de di-

10
pacto s bre o proce so analítico? Você tem um agamel 10 hipote-
cário merecido no próximo mês. Ou talvez alguma di v 1sã secreta
req ueira dinheiro. Você poderia cons cientement escoll1 -1 o dlll l ei-
ra de qual paci ente usar desta maneira? Claramente . nl ais ál.il
quebrar todas conexõe e tre pacientes individu ais e o pagamen l
de nossas próprias despesas. O que nós fazemos co lOCdn do ju nto o
dinheiro de todos os nossos pacientes . Mas poderiamos tomar tal
• decisóes? Sobre qual base tais decisões deveriam ser tomad as?
Ou seria melhor manter esta impossibIlidade inconscient total e não
~ intermesclar o destino do dinheiro de nossos pacientes , tão intrinca-
~ damente e individualmente dentro da nossa vida pessoal? Mas i to
,~ é apenas uma máscara. Não podemos evitar de mesclar nossos
pacientes em nossas vidas pessoais porque a base financeira da
, nossa vida pessoal - pelo menos para a maioria de nós - é constituí -
l;
da pelos nossos pacientes . Embora esta questão levante tão enor-
mes dificuldades, não há tempo para lidarmos adequadamente com
ii elas. Eu devo me satisfazer simplesmente com o levantamento do
assunto . E, além do mais, como toda boa hora analítica, o tempo
acabou exatamente no momento crítico, deixando-nos não com res-
postas , mas espero que com questões que ainda vão se desenvol-
ver.

23
nheiro. Eu percebi que seria atormen tado por esta imagem do di-
nheiro carregando alguma coisa da alma dos meus pacientes, e pela
noção de que como o uso deste dinheiro pode afetar não ap n s
minha próplia alma mas a alma deles também. Alguma coisa conti -
nuava gritando para mim "Não tem importância, não tem imporiân
cia", mas agora já não podia acreditar naquilo De alguma maneira
devena importar. "Tolice" as vozes ecoavam.

; Bem, talvez. Mas suponhamos que nossos pacientes nos pa-


i guem não com cheques, não em dinheiro, mas com mercadorias e
, serviços como antigamente. Então os ovos que comêssemos seri-
\ am aqueles que uma mulher histérica trouxera, sua calça feita com o
j tecido trazido por alguém deprimido que não consegue se integrar
• na vida, seu teto seria reparado pelo alcoólatra que bate na mulher,
e seu jardim seria cuidado pela mulher com aquela terrivel transfe-
rência erótica. Tudo isto nos leva até as questões mais fantásticas.
A partir deste ponto de vista, dissolver o dinheiro de nossos pacien-
« tes dentro de algum lago comum - que quebra a conexào entre o
• ~
~
dinheiro e o que nós fazemos com ele permite-nos permanecer in-
consciente destas coisas.

~-; Recentemente, um psicoterapeuta me consultou a respeito de um


problema que nào conseguia resolver. Ele era casado, com uma
i vida familiar estável, mas por diversas razões se envolvera com ou-
i tra mulher. Seu problema não era particularmente um conflito sobre
i esta relação extra conjugal - ele não estava experenciando nenhuma
1 dificuldade sobre isto. Seu problema era dinheiro. A outra mulher
~, lhe custava caro, ele estava sustentando-a - pagando o aluguel,
1 comprando roupas e assim por diante. Ele havia se mostrado talvez
l mais poderoso do que realmente era, e por algum tempo, não hou-
~ vera nenhuma dificuldade. Mas os custos desta relação que sempre
subiam, tornaram-se onerosos, e ele não encontrava nenhuma ma-
neira para cortá-los ou reduzi-los. Ele ficou deprimido, o que em
geral significava que gastaria ainda mais com ela, como uma manei-
ra de aliviar a depressão. A angústia destes gastos em escalada,
trouxeram-no para a análise.

21
)e fX:l !S . t:: ouvir atenl;los mente a esta narrativa Perguntei lhe
e ç té1\1d Jag Ilda o r este caso. Ele estava, é cla ro l E de onde
' Ili"'; 11
w Il l ll ei o vmlla ? Bem, qu ase todo seu rendimento provinha de pél-
... 1- ntes r1i ,ul ares . Discutimos então , sobre o rea l valor pago para
~1I lent r a ou tra mul her. O valor era de 1000 a 1500 dóla res por
mé s e crescendo Pedi pa ra que ele imaginasse a fonte exa la do
mheiro EI não entendeu Ele pagava com dinheiro, economias e
c m SUEI conta b I cá na Sim, disse, mas este dinheiro tem urn a
CiI igem exa ta . Paciente "A" paga a você 400 dólares por mês , pdci-
cl te "B" paga 200 dólares por mês e assim por diante. Estas são as
'u mas concreta s que vêm de pessoas individuais na sua prát ica
V cê poderia especificar quais dos seus pacientes estão pagan do
pm este ca so?

Ele fi cou zangado, acusou-me de moralizar e de estar tentando


inJuzir-lhe culpa. Eu não argumentei. Depois ele se acalmou e eu
simplesmente repeti a questão. Eu não sabia porque havia posto a
Lt " estão desta maneira. Sei que a arte da análise é freqüentemente
encontrar a pergunta certa . Não sei se esta era a pergunta certa.
Mas enquanto falava com ele, pensava nas minhas próprias transa-
ções financeiras e fazia a pergunta para mim mesmo. Eu tinha ape-
nas começado a considerar uma possibilidade de ligação entre c
que um paciente me paga e o que faço com isto mais tarde . Havia
sido bastante ensinado em como tratar e relacionar todas as manei-
ras as atitudes dos pacientes, sentimentos e comportamento sobrE
dinheiro. Mas ninguém havia mencionado que o que eu fizesse corr
este dinheiro poderia ser de alguma significância genuína no traba-
lho:

Imagine que o dinheiro que recebemos de um paciente carrego


alguma coisa da alma do paciente ou psique ou valor ou energia
Este dinheiro personifica o paciente, e como descrevia anterior
mente, carrega algo de telas do paciente, do destino do paciente. C
dinheiro é um a substância , um metal, uma moeda, um talism~
tran formador que é passado as nossas mãos como pagament(
pelo nosso tempo , nossa energia, nosso amor e nosso valor. J
consciência é requerida de nós como analistas para examinar com(
lidamo com este dinheiro? O destino deste dinheiro tem um 1m

22
Uma Contribuição para Alma e Di nheiro
James Hillman

"Money is a kind of poetry ."


Wallace Stevens, "Adagia",
Opus Posthun iOUS, 1957


1
1 Qualquer coisa que digamos a respeito do dinheiro com relação à
pràtica analítica, qualquer coisa que venhamos a dizer sobre dinhei-
~ ro estarà condicionada pelos valores de nossa tradição cultural.
Primeiro, falamos num nível irrefletido, com a voz da consciência

, coletiva, para usar o termo junguiano, de forma que , para comprar-
mos a questão do dinheiro em anàlise, temos primeiro que examinar
; nossa consciência coletiva, as próprias atitudes profundas, antigas e
~ imperceptíveis que, digamos, arquetipicamente já fixararn o dinheiro
i dentro de uma estrutura definida, especialmente no que toca a alma.

A estrutura de que falamos é a de nossa cultura como um todo , e


ela é cristã, de forma que temos que primeiramente olhar as idéias e
imagens cristãs sobre dinheiro e alma. Começo , então , agora sem a
ajuda da apologética e da exegética cristãs, sem me valer do apa-
rato acadêmico, simplesmente como o homem comum que abre sua
Bíblia num quarto de hotel e lê as palavras nos moldes de su a cons-
ciência coletiva, pois as palavras de Jesus com relação ao dinheiro,
estejamos ou não conscientes delas , ainda ecoam em nós co mo
el ementos dessa cultura. Temos aqui algumas p' s agens dos

25
t.: • .=.11 ~t..I II .... S que gos! ria de rel embrar antes de tirar ól!jurllds corl-
d.I _- ,':.:-

U cVLlflgl: lhu d e João coloca a primeira d ssas histórJú:.i ue cJl-


1,1: ':111..1 flU J}ítn ClplO Ll u mi l Istério de Jesus (J0 8iJ 2 :14)

''I" .Ic hlll l II" ICIIII)I,) ,1, 'IUC \'Clldi,11ll b O I S, c ovcll l,l o C 1"1111-
bn>, l' n, ,; dI 11 11l a d UlCs d;,scmados (kollllbl::;[CS, lilcralmcllk
"losl.jllIJdores de mocdas ") E, tendo feito um azorraguc dc
cordeis. lançou todos fora do templo, também os bois e ovc-
lhas, e espalhou o dinheiro dos cambiadorcs, e derrubou as
me,,, , I disse aos qllC vendiam pombos. Tirai daCJui c:>tco. e
niío td çals da casa de It1CU Pai casa de venda (um mercado) "

r ia versão de Marcos (11:17), Jesus diz "um covil de ladrões",


r t; , ~. , ,do-se especificamente aos compradores e vendedores,

A segunda passagem é mais uma fala que uma história. Refiro-


me a Mateus 19, Marcos 10 e Lucas 18:25, e cito este último: "Por-
que é mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que
entrar um rico no reino de Deus". Não é curioso que, nessas duas
primeiras alegorias, o dinheiro é expresso diretamente numa lingua-
gem que fala dos animais? Mesmo as ovelhas e os bois, tão signifi-
cativos no ambiente do nascimento de Jesus, são postos para fora
do templo, e o camelo se torna aquela opulência animal, a riqueza
que não pode passar o portão estreito e. apertado por onde deve
entrar a alma. 1".Jessas duas primeiras imagens, a _exclusão do di-
nheiro é também a exclusão do animal.

Se alguma vez a palavra arquetípico significou algo como perma-


nente, ubíquo, de raízes ou dos céus, então a relação entre dinheiro
e - I imais é arquetípica, O animal é o próprio archai do dinheiro.
Pecuniário deriva de gado; honorário deriva de faihi (em gótico,
gado); capital tar.1bém se refere longinquamente a cabeças de gado.
A palavra grega para moeda, abalos, refere-se ao obelos ou porção
espirrada da carne de um búfalo sacrificado, e a antiga moeda ro-

16
1
m na, as, significava um pedaço do assado, uma lasca de carn O
voto de pobreza está vinculado ao voto de cas idade ; Llin l1ei o e vid.J
animal são expulsos do templo juntos.

A terceira história diz respeito aos impostos, que têrll um p el


particular desde o princípio. O nascimento de Jesus aconteceu em
Belém porque José e Maria tiveram que se dirigir para lá a fim de
1 alist2\ para o censo dos impostos (Lucas 2) . O topos , "Bel em", não
• somente junta Jesus e Davi, Jesus e os animais, José e Maria, os
mag os de várias raças e orientações , mas também inclui na mesl a
• imagem a lei mundana do Imperador, através dos impostos , e a es-
treia de Cristo que aponta para além do mundo. Na im agem de
'! "Belém", como dizem, não há nenhum problema . Em Maleus17 (e
, Mateus , por sinal, é o Santo Padroeiro dos caletores de impostos ,
I lançadores de impostos e banqueiros) , pergunta-se a Pedro se
Jesus paga seu shekel, ou suas didracmas. Pedro diz: "Si m" Mas
o que acontece é que os tributos que Jesus paga ao Templo não
~ são em dinheiro desse mundo. É conseguido por milagre: "Vai ao
~ mar," diz ele a Simão, " .. .tira O primeiro peixe que subir, e, abrindo-
,i lhe a boca , encontrarás um shekel; toma-o e dá-o por mim e por ti" .
De novo, notem, um animal junto com dinheiro.
~
1 A principal história de impostos é contada em Mateus 22, Marcos
1 12 e Lucas 20. Transcrevo a passagem de Marcos: "Mestre... é
, lícito dar o tributo a César, ou não?", ao que responde Jesus,
" " ... trazei-me uma moeda, para que a veja ... " E disse-lhes: "De quem
I é esta imagem e inscrição?" E eles lhe disseram: "De César'. E
; Jesus, respondendo, disse-lhes: "Dai, pois, a César o que é de Cé-
. sar , e a Deus o que é de Deus".

Aqui é o próprio dinheiro que divide duas alternativas - espiritual e


mundana. É o dinheiro que é usado para a parábola dos dois mun-
dos diferentes e distintos. Se o dinheiro divide os dOI S reinos, será
ele também aquele terceiro que os une? Voltaremos a isso mais
tarde

I CI' Df:S MO OC, W . H Ma glc , m )' lh " til] 1l1 0[lCY (ik:l1 w ; . hcc 1'. ""'\ . 1'11 111').1'1

27
11-- <:f':urd(,., C;",f): aS.scnh r[Js , p'3rece ciaramen te v,ue é rnelll(l i
I,,,l() ,01 pob r'e, do ~ ue te r dinheir
IfltH:::I!'U dté r n eSr 11 0 Sf::f (._ isso
.l c:'P5 IhJ de .JOSE: de ,Anrnaté ia 8 outros se gui(j ole q ue eralrl
11.,,-;: ,.,1 0<;) Po 2:.:elripic, :3 hIstória da viúva pobre; (Lucas 21 Ma i-
CO _ 1..2 ) llue é iUI ;Jô d a fJür su a m agra doaç;3o - de onde Jes us til,
w !, a liçdo para:; lJS discíp ulos no templo, '\1'-18 estava amaci e de
i0rm es as pe Ir ~ s e dádivas" Ou, num outro e. em plo , quando a f-! ()-
ur ': : d S (; tornE! obrig8tó ria quando tod os os d ze são 8il viadus em
S 1- 5 nlis _ões , dO IS <: dOIS, com autoridade so t[ ê espíritos não pl!Jifl-
-': 3 U IS Oll dairn ones (Marcos 6, Lucas 9, Mateus 10), eles sã o ex'
pt t:;;5 S mente instruidos para não carregarem dinheiro , Ou , em Lu-
ca 12 , (.;nde riqueza e alma são diretarnente relacionadas, I'Juma
passagem sobre herança (a parábola do rico insensato) Jesus diz
" a vi da de quaiqUeí homem não COllsiste nó.! abundância do que
p O ", 3 U(, ao faiar de um homem rico que decide edificar e en che r
:.. ê!,; i( 15 ue r(, iii'lo cada. VCL máiores pam que em sua vel!llce pudes-
,, ~ 8::,can Sa r !; foi gar sua alma, aima esta (psiqlie) que foi charnélda
po,' Deu s naquela mesma noite, Ou , ainda, em Mate us 25 e Marcos
B: ' Puis que apíovettaria 80 homem ganhar todo o mundo e perder a
sua alma (psique)?"

Até éiqui, a dIvisão Já deve estar bastante clara. O dinheiro per-


tence ao paiácio de César, não ao templo de Deus , O primeiro ato
de limpar o dinheiro do templo é sempre reafirmado e, certamente,
em nenhum outro lugar mais amargamente do que na história final , a
venda de Jesus por Judas por trinta pedaços de prata. (A Judas já e
atribuído um sinal do ma! -- uma bolsa ou caixa de dinheiro na cena
da ultima ceia, [João 13:29]) Poderia o dinheiro ter recebido um
aspecto mais negativo?

Estamos situados nessa consciência coletiva , Ternos que come-


çar dessa cisão entre alma e dinheiro presente no texto básico que
(l OS J~, os vaiores de nossa tradiçao , A cisão pode nos levar a to mar
um ou Oll\ro de seus iade;:3, corno expuseram o Dr. Covitz e o Dr,
Vasava da , Com Vasal/ada pod6mos rejeitar o dinheiro na intuito de
reali a r um tipo espirit.ual de traball10 de alma; ou , com Covitz , pc-
ler 1 afirmá-lo no propósito de torná-lo mais tera peuticamente efe-
; i',I ~f 110 mundo , A mbos n1o"' tra a divisão qUê acabamos de VE:: r:

IS
qu anto mais nos concentramos no dinheiro mais nos envolve "I s
com o mundo, e, quanto maIs o rejeitamos ou on g m , , ais pu
demos nos afastar dele.

Porém gostaria de fazer um outro tipo de movimento e assumi r


um a terceira posição: nem caminhos espirituais, nem estrad 5 da
vida; nem espírito, nem matéria. Vejo o dir,tl8iro como um dom i
lt nante arquetípico, que pode ser tomado espiritualmente ou materi-
almente, mas que, em si, não é nenÍlum dos dois.

Em vez disso, o dinheiro é uma realidade psíquica e, enquanto


tal , da origem a divisões e oposições, tanto quanto outras realidades
psiquicas fundamentais - amor e trabalho , morte e sexualidade , polí-
i tica e religião - são dominantes arquetípicos que também facilmente
~ caem em interpretações espirituais ou materiais que se opõem
4 Além do mais, como o dinheiro é uma realidade psíquica arquetípi-
~ ca, ele será sempre inerentemente problemático porque as realida-
des psíquicas são complexas, são complicadas . Assim sendo, pro-
blemas com dinheiro são inevitáveis, necessários, irredutíveis, sem-
~ pre presentes, e, se não de fato, ao menos potencialmente esmaga-
, dores. O dinheiro é diabolicamente divino.

" Um dos poemas em Maximus, de Charles Olson , expõe essa vi-


i são arquetípica de forma muito compacta:

"the under part is, though stemmed, ullcertain is, as sex is ,


as rnoneys are, facts to be dcalt with as the sca is"

Esté:1 é uma afirmação extraordinária. "Fatos a serem lidados


como lidamos cam o mar." O primeiro desses fatos é que o dinheiro
é '-Bo amplo e profundo quanto o oceano, o inconsciente primordial,
. e nos torna assim tamhém. Ele sempre nos leva a enormes profun-
dezas, onde abundam tubarões ,g curimatãs, grand es car Igu jos,
mexilhões e ostras fechadas, a mare das emoções Seus fatos têln
largos horizontes, tão largos quantu os do sexo , e tamb~m tão pro-
teanos e poiimorfos

.z C)
"'L.inl de tll UO.
tnheiro e plural : dinheiros Porta nto, o di nh iro
i i ":' ", ~t:: e 1 ivale
nenhum a id éia i",olada: troca, ene gia, valo r, r ali-
dL" lt, Ú ITlal, ê: . ar ai afoca Ele te m muitas raízes, é incert o, poli-
r, 0rfO [\]lIm momento , o on Iplexo monetá rio convida Danae, qlJe
", ti i Z L1S r' seu colo como uma chuva de n oeda ; num Ou tlO,
_18 é u ouro qu e hama Midas; ou Hermes , o lad rão, pat rono do
fll_rca Ll re , do com ércio fácil ; ou pode ser o velho avaren to S- tllr-
hJ , ' ue, P' ra ü l ntçO de c 1V rsa, Inventou a moed a e a pOupél lH.,:a
CUr,I J aconte ce nas moeda originais que os gregos inventaram, ha
diferentes Deus s e animais - corujas , búfalos , carneiros , ca ran-
gu ejos - cada vez que o complexo é passado de mão em mão.

o di nh eiro é tão proteano quanto o próprio deus marinho ; mesmo


nlJS atend o a honorários fixos , contas regulares e balanços ano tados
aud itados nun ca consegui mos manter suas ramificações harmo ni-
zaJa Os canhotos dos ch eques nunca batem, os orçam entos
S <"' I "Ipre estouram . Inventamos cada vez mais maquinarias para
c ltrolar o dinheiro, cada vez indicadores e medidas mais refinadas
pa ra previsões económicas , nunca entendendo aquilo que Ol son
nos fala os fatos do dinheiro são como os fatos do mar. O dinheiro
é como o próprio id , o reprimido primordial, o inconsciente coletivo
aparecendo em denominações específicas, ou seja, quantidades ou
configurações de valor precisas, isto é, imagens. Vamos então defi-
nir o dinheiro como aquilo que possibilita a imaginação. Os dinhei-
ros são a riqueza de Plutão na qual estão escondidas as imagens
psíquicas do Hades. Para encontrar a imaginação em seu paciente
ou em si mesmo, volte-se para os comportamentos e as fantasias
ligados ao dinheiro. Vocês logo estarão no mundo das trevas (cuja
entrada requer um pagamento em moeda para Charonte) ,

Terapia retrai. Conhecem o estudo feito sobre os tabus terapêu-


ticos? Analistas fo ram interrogados sobre aquilo que sentem que
nu nca poderiam fazer com um paciente. Descobriu-se que tocar e
segurar, gritar e bater, beber com , beijar, ficar nu e fazer sexo eram
to os menos proi bidos do que "emprestar dinheiro a um paciente".
O inheiro constel ou o tabu máximo. Pois o dinheiro sempre nos
leva pa ra dentro do mar , in certos , quer venha como brigas de he-

30
rança, fa ntasias sobre um carro novo e casas antigas , batalllas ma-
tri mon iais sobre gastos, assaltos, sonegação de impos tos, S 8CIl-
laçõe s do mercado , medo de ir à bancarrota , pobreza, cari dade -
quer esses complexos apareçam em sonhos, nas salas-de- star, 011
em medidas económicas. Pois aqui nos fatos do dinheiro e tá o
• grande oceano, e talvez, enquanto passamos o arrastão ness fun-
do do mar durante uma hora de análise, possamos pesca r um ca
") ranguejo louco ou um peixe com um sh ekel em sua boca

, Assim como os animais eram espíritos ou Deuses em forma ma-


t teri al, assim também o dinheiro, uma terceira coisa entre só espirita
• ou só mundo , a carne, o diabo. Assim , estar com o dinheiro é est r
t nesse terceiro lugar da alma, a realidade psíquica . E, para manter
minha relação com os espírítos impuros, os altos ou os baiXO S dai-
, manes, quero umas moedas em meu bolso . Preciso delas para pa-
gar meu próprio caminho para o Hades e para o reino psíquico.
Quero ser semelhante àquilo com que trabalho, não diferente e ímu-
• ne. Quero os cambiadores onde possa vê-los, exatamente no tem-
pio de minhas aspirações pias . Em outras palavras : tento o máximo
1
1.

me manter lúcido sobre a tradição que acabei de expor, porque


acho-a desastrosa para a psicoterapia, e, claro, para a cultura como
J
If
um todo.
~
o corte entre César e Deus em termos de dinheiro tira o mundo
da alma e a alma do mundo. A alma é desviada para uma senda
i espiritual de negação e o mundo é deixado para os pecados da luxú-
: ria, da avareza e da cobiça. Então, a alma é sempre ameaçada pelo
• dinheiro, e o mundo precisa da missão espiritual da redenção do mal
, causado pelo Weltbild, que separa César de Deus. Que o dinheiro
seja o lugar onde Deus e César se dividem mostra que o dinheiro é
! uma "terceira coisa", como a própria alma, e que, no dinheiro, temos
í tanto a inerente tendência de cisão entre espírito e matéria, quanto a
possibilidade de uni-los.

Essa equação - "dinheiro" = "psique" - é aquilo que nos Jungui -


nos temos tentado dizer quando traduzimos imagens de dinheiro em
sonhos como "energia psíquica". "Energia", no entanto, é lima lilI -
guagem heróica e prometeana. Transforma a equação em "din tl eirJ

31
• <7,) vi i ~e la efl e la Llispo nivel para a con sciência e~ o i ca Ell -
1.:2<- lei n I c~!M t;r ,urio, Gu ia das Almas, tem que apa recer co rno o
L ,li "J t: no nosso sentido de pe rda (de dinheiro, ele en rüié.l, de
Ilk IIIJadE; ) am que r torne a equação "din heiro = psique" V po-
j,j €:Za 2 . mI lesrl nle um can inho para fora do ego , não um cami-
nl lú l1erméti co) Po rque Hermes, o Ladrão , é também Hermes o
r-i ~ u i-'o r pu, o qu ~ implicd que , da perspectiva hemleti ca, é ju sta
111:::1 .: - tle la. onel e o dinh eiro não está mais dlsponivel para a cons-

c ":'lI c.i à góica, que Hermes o roubou para o bem da alma . No tra -
I III ue alm a, perder e ganhar assumem significados diferentes,
l" iél ~ ,,;; n s ibilidade em que Cl linguagem prometeana sobre "en ergia"
é dt,;\l18sia el o ativa e objetivada para poder apreender.

~ e o din heiro tem esse valor de alma arquetípico, novamente


como as moed as antigas que traziam imagens de Deuses e de seus
nin lais e , portanto, eram apoiadas por esses poderes,2 o dinh ei ro
náu fJlJ de e nem irá aceitar a depreciação cristã , e assim o Cristia-
nis no, por várias vezes em sua história, teve que lidar com o retorno
do rt;;primido - da riqueza das igrejas e do luxo de seus ministros, à
ve(lda de indulgências, à ascensão do capitalismo com o protestan-
tismo , à usura e à projeção sobre os judeus, às raízes cristãs do
marxismo, e por aí afora.

Uma sombra específica da posição cristã aparece nitidamente na


análise: o velho pecado da simonia, ou a troca de benefícios espiri-
tuais ou eclesiásticos por dinheiro. Não é uma forma moderna de
simonia o elaborado sistema que os analistas desenvolveram de ser
pagos regularmente por seus pacientes em nome da individuação ou
do Self e, por seus treinandos, para a ordenação na profissão de
analista? A Igreja era muito mais consciente desse pecado que nós
hoje em dia. De qualquer forma, a Igreja era bem mais consciente
de que o dinheiro possibilita a imaginação do que nós em psicotera-
pia Ela sempre reconheceu o poder de fantasia do dinheiro qL!e
d svi a alma de seu caminho espiritual doutrinário.

" 'r :,,11111.\ dl. ~ II ~~ àd:; .b lC mo..:.Ja ~I11 "Silver and Lhe whi!\': earth", in Spnng, 19W, pp. 35"
7

32
En Cjuanto nosso sistema de valores inerentemente de eciar o
dinheiro , ele sempr ameaçará a al ma com distorções de valor. Dt;;-
pressão, inflação, falta de crédito, bai xos lucros - eSS éJS i11 e t áfo rd~
psicológicas se tomaram jargões econômicos inconscientes. T en do-
se "des-Iocad o" o dinheiro de suas fundações arquetípicas na reali-
dade psíquica, ele tenta lima nova fundação para si, litera l e eculal ,
corno o "básico". Mas essa base nào sustenta, por ue qualqu r
realid ade psíquica que tenha sido fundamentalmente depreciada se
torna sintomática, "enlouquece", com o intuito de garantir sua auto·
nomia arq uetí pica fundamental.

Vivemos hoje no medo dessa autonomia, chamada anarquia fi·


nancelra. Anarquia significa "sem archai"; e. claro , que o dinheiro
concebido sem alma, sem urna vida animal prôpria , sem Deuses,
toma-se louco, anárquico , pois nos esquecemos de que, como o
sexo, corno o mar, também ele é um dominante religioso.

II Refiro-me agora, através da própria palavra, à Deusa Moneta, a


equivalente romana de Mnemosyne, que significa memoria, imagi-
I natio, Mãe das Musas. No templo de Maneta guardava-se o dinhei-
, ro; na palavra, também um templo, Maneta reaparece . O dinheiro é,
1 portanto, um depositário de fantasias míticas. E um tesouro que cria
e guarda imagens. O dinheiro é imaginativo, como tenho dito. As-
sim, dinheiro na mão desperta possibilidades imaginativas: fazer
aquilo, ir lá, ter isso. Ele revela os Deuses que dominam minhas
~ fantasias - rigor saturnino, generosidade jupiteriana, exibição marei-
1 ana, sensualidade venusiana. O dinheiro lança meu comportamento
,; em fantasias míticas, tão diferente em diferentes pessoas . Por que
~ deveriam as pessoas concordar em relação ao dinheiro - onde in-
vesti-lo, com o que gastá-lo, onde colocá-lo? É um fenômeno ver-
dadeiramente politeísta na vida do dia-a-dia. Como tal, o dinheiro é
· um fenômeno intensamente cultural. Chegou à história com os gre-
· gos e não antes deles. Pertence à constelação das Musas, neces-
· sária para a cultura da imaginação, e, portanto, torna-se realme nl
diabólico quando a imaginação não é valorizada (como no Cristia-
· nismo). A feiúra , a corrupção do poder, a natureza puramente
quantitativa do dinheiro hoje em dia - nada disso e culpa dele, mas

.H
1I1pa de ele ter sido se parado e destituido dos Deuses de onde ele
!::>~uriglr1U u

' ixem-me agOla ligar esse terna com outro deste COllgre sso
forn a ão de analistas. Em algumas ocasiões, candidatos explica-
r 11 -me que um das razões de quererem ser treinados como ana-
listas é que a prática analitlca oferece uma maneira nobre de se
gi:ll har dmheiro Enquanto há tantos traball10s desalmados no
nlundo, dizem eles, a análise ihes paga para ficar com a alma, sem
ter 4ue abrir uma lOjinha mística , ensinar violão, ou plantar abóboras
t:: tomates em casa . Não é preciso ser economicamente marginal
O analista combina alma e dinheiro; o dinheiro analítico é dinheiro
bem , limpo e bem pago. Os cursos de formação seduzem porque,
evidentemente , resolvem o dilema cristão do shekel versus alma,
St:;rn ler que seguir a solução espiritual da pobreza.

A resolução de um par de opostos, contudo, somente perpetua


sua oposição: o terceiro requer os outros dois para que ele exista.
Só quando conseguimos cair totalmente fora do dilema que divide
dinheiro (e alma) em oposições espirituais e materiais é que pode-
mos enxergar que há psique no dinheiro todo o tempo e de todas as
maneiras, que ele é "um tipo de poesia", que ele é total e inteira-
mente psicológico e não necessita de nenhum tipo de redenção em
dinheiro limpo, bom e nobre e, portanto, não precisa de nenhuma
repressão na pobreza e no ascetismo do espírito que se volta contra
a matéria.

De fato, a equação "dinheiro = psique" sugere que se encontra


mais alma onde os problemas do dinheiro são mais extremos, não
na pobreza, mas no luxo, na cobiça miserável, na avareza, na ale-
gria da usura, e que para algumas pessoas o medo do dinheiro e
sua importância pode ser mais psicologicamente devastador e, por-
tan 0, terapeuticamente recompensador, do que os medos sexuais e
a impotência . Demônios extraordinários são alarmados quando to-
camos o complexo monetário. E nenhum outro complexo é mantido
em maior sigilo. Os pacientes revelam mais facilmente o que está
e condido embaixo de suas calças do que aquilo que está escondi-
do dentro dos bolsos dessas calças. Os freudianos que encaram as

34
pequenas bolsas femininas como símbolos genitais poderiam des-
cobrir ainda mais coisas se fi zessem a redução na direção oposta

Onde exatamente está escondido o complexo mon etário? Muito


freqüentemente ele se esconde nos disfarces do amor, onde tant~
alma está também escondida. Como mostrou Tawney, o protestai -
tismo e o capitalismo entram no mundo juntos. E, depois de tod os
esses séculos, ainda se dão as mãos afetuosamente em tantas fa-
I'" milias protestantes, em que dar, receber, economizar, participar,
apoiar, gastar, desejar (a herança) são modos de se aprender a
amar. Por muito tempo "gastar" (spending) em inglês tinha um si-
:~ gnificado tanto genital quanto monetário, enquanto que as palavras
"vínculo", "rendimento", "seguro", "crédito", "lucro", "obrigações" ,
"cota" e "débito" (como schuld ou culpa) trazem todas duplos senti-
dos de amor e dinheiro. Os duplos sentidos fazem um duplo víncu-
lo: para a consciência protestante capitalista renunciar às atitudes
psicológicas da família freqüentemente se torna refutar o dinheiro de
casa, o que, em casa, é sentido como uma recusa de amor. A
equação "dinheiro = psique" é uma variante expressiva do mito de
Eros e Psique, mas aqui dinheiro entra no lugar do amor,

Mas, afinal, o que faz o dinheiro pela alma: qual sua função espe-
cífica ao possibilitar a imaginação? Faz com que a imaginação seja
possível no mundo. A alma precisa do dinheiro para se refrear de
I. voar para o reino do Bardo, a realidade "somente-psíquica" . O di-
nheiro segura a alma no vale do mundo, na poesia do concreto, em
contato com o mar como fotos, aqueles duros e escorregadios fatos,
tão perduráveis, irritantes, e limitantes, que, sem cessar, envolvem-
I~ nos em necessidades econômicas . Pois economia significa origi-
ti nalmente "doméstico", fazer a alma no vale do mundo, cobrando e
sendo cobrado, ostentando , trocando, barganhando , avaliando, pa-
'I
gando, devendo, especulando ...

De forma que a negociação de honorários, quer no estilo de Va-


savada ou no de Covitz, é uma atividade inteiramente psicológica
O pagamento de honorários pode assumir diversos estilos, desde
jogar em cima da mesa notas sujas de reais antes que a tto ra come-
ce, ou presente s, acordos e persuasões, ou aind a o envelope dis-

J5
LH .. I-lr fl d1!e p as ~ ado até o In odelo médico abstraIo de rec l l)() ~ e
'; I , t.ql l~ tle s Erso ~ II d 5 Contin ua ve rdadei a a velha pi ad a.
'l..lu ando urn ii Ine,n diz. '~~ ã o é pelo dinh ei 0 , é pelo principio' - é
Jc! -J ,JIflI It:iro" É no dinheiro qu e está a questão real. O dinh eiro é
um prin cipIo in edutivel

A dnálise, como percebem os candidatos, realmente permite que


ali '" e dinh eiro se encontrem . A espiritualidade da divisão cristã
fie. suspe nsa prestam-se contas aos Deuses e aos Césares num
1111;;..>, 110 pagamento . Pagamos tributo à dispendiosidade do traballio
de alma, pois que ele é raro, precioso, caríssimo. E fazemos JUS ao
dil,t, 3iro comum pelos "se rviços profissionais prestados uma frase
lO
:

igu al ,lente apropriada ao médico, ao encanador e à puta .

.. Lle os analistas tenham problemas ao justificar seus honorários


ultl dic. ntes (e que , ao mesmo tempo, sintam que nunca ganham o
SUl iGiente comparado com advogados e dentistas) pertence à natu-
r la arquetípica do dinheiro, como vimos observando. A questão do
dinheiro não pode ser administrada com mais facilidade do que o
sexo ou o mar. Ela se ramifica nas várias direções de nossos com-
plexos. O fato de não podermos acomodar a questão do dinheiro
em análise mostra o dinheiro como um modo importante da imagi-
nação manter nossas almas fantasiando . Assim, para concluir mi-
nha participação neste painel, "Alma e dinheiro", sim, alma e dinhei-
ro; não podemos ter um sem o outro. Para encontrar a alma do ho-
mem e da mulher modernos comece procurando naqueles fatos em-
baraçosos e irredutíveis do complexo monetário, aquele louco ca-
ranguejo correndo no fundo de silenciosos mares.

3&
Pratica Sem Honorários e Trabalho C om a Ahna

Por Arwind Vasavada

Quando comecei a trabalhar nos Estados Unidos em 1970 como


l~ analista Jungiano, achava difícil falar sobre os valores das sessões
~ quando um paciente pedia informação sobre eles. Parecia-me es-
tranho equiparar uma soma fixa de dinheiro com qualquer coisa que
ocorresse na sessão. Afinal de contas, para que servem os honora-
rios? Aquela hora? Minha pessoa? A necessidade do cliente de
pagar? Ele estava de fato comprando alguma coisa ou estava tro-
cando dinheiro pelo trabalho feito? Se fosse uma troca de dinheiro
por trabalho, então qual deveria ser o critério para decidir a soma em
. dinheiro - tempo no relógio, uma qualidade de trabalho? Se o se-
gundo, então os honorários devem mudar a cada hora, acessando-o
de acordo com o valor daquela hora particular. Quando a hora
;1 transcorria bem, não havia problema, mas freqüentemente as ses-
~ sões eram menos esclarecedoras e úteis, elas me deprimiam e po-
,
~ dia ver a depressão na face do cliente também .
!
A questão não me deixava ir. O pagamento pelo trabalho pode
. ser considerado uma aquisição a prestações? Se for, então perten-
., ce a um contrato de longa duração para suposto traqªlho a ser feito
Mas alguém pode garantir com antecedência a qualidade do traba-
. lho de acordo com um honorário já estabelecido? Talvez o critério
para o pagamento seja segurança biológica; simples honorários que
: cuidam das necessidades humanas. Novamente o problema fica
complicado. Quanto eu preciso? Não há limite Eu quero lodos os

37
lu xurias que o outros têm e sinto que os mere ,o como
L. ,/ : l fú '! .JS t:!
,_,.:i uu tros também sentem

Ou nd estava morando na índia com um salário fi xo da Unr ve r-


SI ade:: , tive urn probl ema si mples. Ajustei minhas necessid ades e
,: l êr cias p ra que coubesse dentro do orçamento . AqUI me tOITl ei
ccnsciente da minha avareza, e gostei disto. CJuando estava em
Ron a .. rapid amente rne senti confortável com esta idéia e tive um
bo nl prog resso com trabalho e dinheiro , Pude alugar um aparta-
rr ento razoável e tiv e um carro . Em 1972 voltei a índia pela prim eira
vez desde que havia começado a trabalhar nos Estados Unid os .
Dura nte esta viagem, visitei meu Guru , o santo cego .

At,'avés de cartas e conversas quando nos encontramos, ele deve


lei lomado consciência de tudo o que estava acontecendo em minha
" iua. Ele me perguntou quanto tempo eu estaria trabalhando e se
8d conseguia enxergar um tempo quando não conseguisse traba-
lhar. Sem trabalho, o que eu faria? Ele colocou-me isto claramente ,
"Até agora sua mente e corpo estão saudáveis e você pode traba-
lhar. Haverá um tempo quando a mente não estará tão aguçada por
ca usa da idade e o corpo provavelmente também estará fraco O
que você fará então? Como você se sentiria sem o trabalho?

Lembra-se quando você era uma criança, desamparado em todas


as maneiras, Você não havia sido cuidado e protegido? Você será
sempre cuidado sempre se você puder sentir a confiança que tinha
quando criança, Embora desamparado e sem trabalho, você não se
sentirá perdido. Apenas seja nada. A fim de ser Nada, seja livre de
todas as ambições e desejos. Você trabalhou durante o tempo que
esteve na índia - até a idade de se aposentar. Se tivesse ficado
você naturalmente não trabalharia mais. Então não trabalhe onde
v Lê mora agora , mas em vez disto sirva. Não peça por nenhum
h ,1orário fixo, aceite o que lhe é dado livre e alegremente."

Escutei a tu de isto e também todas as dúvidas que vinham juntas


Eu estava bastante incerto de como seguir esta orientação , mas isto
realm ente me atraiu . Prometi a mim mesmo tentar . Ele era meu
Guru , uma pessoa cega desde dos 10 anos, sem e ucação, 60 anos
_ talvez mais do que 70 - e sem casa, bolsas ou bagage m

Esta conversação me recordou da minha experiên cia com meu


primeiro Guru . Naquela época eu havia recebido, no entanto, não
havia pago. Meu primeiro Guru era um homem de família . EI~
.1 contudo não trabalhava para seu sustento ; sua única fonte de rellet ...
tI era tudo que lhe fosse oferecido. Mesmo assim ele vinha por mdi :.;

~.t, ou menos 1500 milhas da sua casa para me ver a qualquer mo·
menta que eu pedisse, e também gastava somas em dinheiro pa ra
i me entreter adequadamente sempre que eu visitava sua casa . Eu
sabia que não havia lhe pago quase nada

Na época que vim para este pais, eu percebera que o caminho de


Jung e a tradição dos meus Gurus eram parecidas. O trabalho era
trabalho com a alma, fazer a alma. Este pais me deu a oportunidade
de realizar esta possibilidade dentro de mim mesmo e fazer um tra-
• balho com a alma com outras pessoas. No entanto, somente quan-
do visitei meu Guru em 1972 percebi que o trabalho com a alma não
i é um trabalho profissional por dinheiro.

t Depois do meu retorno aos Estados Unidos, comecei a mudar.


Quando um cliente perguntava sobre meus honorários, dizia-lhe que
! estaria feliz de receber o que me fosse dado alegremente. "Dê-me
alegre e livremente o que você convenientemente puder sem cons-
trangimento." Se o paciente perguntasse sobre os honorários cobra-
I dos pelos meus colegas, eu o informaria sobre as taxas presentes.

1 A discussão com meu Guru me direcionou sobre meu trabalho


com a alma e isto parecia verdadeiramente alinhado com a maneira
de Jung. Se a maneira de Jung é explorar o desconhecido e viver
com a incerteza e o não ser predizivel do Inconsciente , então viver
com a incerteza dos honorários flexíveis parecia ser o caminho para
experienciar o que Jung dissera e ensinara

Durante este período eu recebia apenas o que as pessoas senti-


am-se feliz em dar. Alguns não podiam pagar, uns poucos pagavam
cinco ou dez dólares e alguns pagavam honorários compl etos. Ou-

39
I rti::; Lk: IE::ClélrrI-Se p ra tra aH1ar, tais como limpeza , repara cão de
I I..IJf'~ () I fazer urn a esta te de livros

\.lua! t; o éL lt o de um pratica sem hon orários para o paCient e?


r J' . u0enci de honorario s, é pos siv I haver um comprometimell to
\.;0 1,1 o li-ai alho? Eu não vejo nenhuma conexão entre a troca de
°
( i Irr iro e comprometimento com o trabalho juntos. A pessoa vem
p 13 telapla so frei Ido e em dor. Alguém ouve isto, sente isto ; natu-
r I,TI"::11te o cora ção sai para fazer tudo o que for poss ível. Enquanto
se . 8n te as sim. alguém pode mandar embora a pessoa que esta
sofrend o, Simplesmente porque ele não pode pagar um honorario
razoável? Comprometimento com o trabalho é óbvio, desde que
aqui se encontra uma oportunidade de entrar no templo do Deus que
cura. Na minha experiência pessoas tem sempre pago o que elas
podiam, terapia não parou como critério e imagens continuaram em-
belezd ndo a hora. Eu posso lembrar somente um caso solitário
qUâl,QO um cliente me enganou .

Um outro exemplo mostra que sensibilidade pode crescer durante


o trabalho , enquanto as pessoas pagam alegremente. Uma pes soa
das profissões que curam concordou em pagar uma certa soma no
começo. Mais tarde, depois de um mês, ele sentiu que a troca de
dinheiro estava interferindo com o trabalho. Eu lhe disse que se ele
achava que se não pagasse as consultas, isto lhe faria sentir-se
mais confortável e daria circulação ao trabalho, então isto também
me faria feliz. Nós continuamos por algum tempo. Depois de seu
retorno das férias ele me disse que havia dado uma certa quantia
para a caridade e sentia-se bem sobre isto. O trabalho começou
novamente até que ele tivera que deixar o estado por uma designa-
ção no seu trabalho. Quando ele voltou, sentia-se feliz de me pagar
por cada sessão . Isto ilustra como um contrato em termos de di-
nheiío não é essencial ao trabalho com a alma.

Alguns desentendimentos podem espreitar por aqui. Este tipo de


prática sem honorários não significa que o terapeuta esteja incons-
ie te do senso do cliente de obrigações pelo que ele está receben-
d Tal lacuna é prejudicial para ambos analista e cliente. O enten-
dimento comum e razoável que alguém deve pagar por serviços

40
prestados não pode ser ignorado. Mas esta necessid ade não impii-
! ca em insistência no pagamento de uma soma fi xa de dinli eiro . Al-
guém que deseja conseguir ajuda sem pagar por ela, está privando,
a si mesmo, dos recebimentos da natureza de suas atitudes. Ele
está cortando a si mesmo da tendência da vida. Vida é um todo
interdependente e inter-relacionado. Cada pessoa torna-se isolada
do mundo, cessando de ser alimentada, renovada e reabastecida
pela vida. Ele cessou de participar no Yajna, sacrifício, da vida
Vida é Yajna, como lindamente descrito por Sri Krishna em Gita.

Quando Arjuna perguntou a ele porque agora ele estava sendo


solicitado a atuar - lutar na batalha - desde que Sri Krishna Já dissera
qlle a trilha para o conhecimento é melhor do que a trillla da ação,
Sri Krishna diz que a Não-ação poderá não ser conquistada através
do cessar de ações ou renúncia dos atos. Sem ação os seres hu-
manos morrerão (Bh. Gita III 4-5). É aqui que Krishna apresenta o
conceito da ação como Yajna. De uma maneira muito simbólica ele
explica como este universo é sustentado por Yajna.

I Ele diz: tudo cresce e é sustentado pelo alimento. O alimento é


; produzido pela chuva e Yajna executada traz a chuva. A fim de
I executar Yajna a pessoa deve agir e trabalhar, reunindo material
1 para ser sacrificado no fogo de Yajna (Bh. Gita, III 14-16). O enten-
i dimento comum que uma pessoa pode escolher entre a Ação e Não-
, ação é incorreta. Sri Krishna diz que a fonte de ação é Brahman, a
totalidade de o que É; desde que esta totalidade está estabelecida
no imutável (Akshara), todas as coisas retornam para e originam-se
da mesma fonte. Nós somos alimentados e sustentados por este
fato. Executar o Yajna, estar no critério da vida, nos sustenta.
Quem se aliena do fato da vida, sua interdependência e mutualida-
de, isola a si mesmo da sua própria fonte e pára de viver. Sinceri-
dade de propósitos sempre trazem reciprocidade, respeito e uma
cura completa.

o experimento com a prática sem honorários abriu muitos corre-


dores escuros da minha psique, e o processo continua. Eu tenho
minha prática como analista Jungiano e ocasionalmente ensino psi-
cologia e filosofia em um pequeno colégio suburbano.

41
Como pode se esperar, ambos rende e o número de clientes au-
men tõ e cai. Um mês não é o mesmo que outro; nenhum ano se
parece com o ano que acabou de passar. Algumas vezes, senti
agudarnente os impactos destas fiutuações. Sempre que a renda e
cli entes diminuíam, meu estômago sentia-se oco e um senso de
insegurança dava pancadas no meu coração. Com dor retirava di-
nheiro das minhas poupanças para pagar os impostos e outras
contas. Minha insegurança intensificava-se quando tais períodos
vinham regularmente.

Apesar de alguns anos serem ruins, o balanço das poupanças


gradativamente retornavam aos níveis anteriores. Eu me sentia
muito feliz e seguro. Como de hábito me tomei um esbanjador.
Olhando para trás posso dizer que me diverti muito, mas não o fiz
durante aquela época. Este período durou até 1977, quando o sen-
s.:· u_ instabilidade de renda e meu envelhecimento monopolizaram
mi nh d atenção.

No verão de 1977 uma outra e mais interessante fase de vida ini-


ciou-se, ela permaneceu desapercebida e negligenciada até então.
Na última parte do mês de agosto de 1977 retomei da India depois
de cumprir a última responsabilidade para com a minha familia - as- ,
sistir o casamento da minha filha mais nova. Um grande fardo fora "
t
;
tirado dos meus ombros. Desde a época da morte de minha mulher,
sentia-me sutilmente obrigado a ver que nossa criança estava casa-
da e feliz. Três viagens para a índia, feitas a fim de completar minha
responsabilidade, naturalmente afetaram meu balanço bancário e
clientela.

Curiosamente, o alivio com o casamento de minha filha e a con-


seqüente redução do meu fardo financeiro não durou muito. No seu
lugar, furtivamente um sentimento de falta de valor e falta de sentido
começou a permear minha vida. Minha responsabilidade com minha
família estava no fim, tudo estava terminado. Onde estava o propó-
sito da vida? Ao mesmo tempo meu conhecimento, tanto o que
aprendi de Jung quanto dos meus Gurus, começava a parecer corri-
queiro, passado e inútil. Tudo o que sabia, me deixava frio e eu não

42
queria repetir as palavras e sentimentos gastos (muito usados) nas
horas analíticas. Eu me sentia desatualizado e não servia para
nada. A existência parecia fútil.

Estava feliz de saber que a maneira de Jung e o caminho da


auto-realização do Leste eram similares, e que a base da psicotera-
pia é o conhecimento e consciência de quem eu sou. Sem esta
consciência nenhuma ajuda realmente está próxima em nosso tra-
balho. E mais, a alma estava em agonia como em uma clássica
depressão. Se não soubesse de nada, se todo o conhecimento ti-
vesse partido, como iria trabalhar e viver? A incerteza total assusta-
va-me. Nenhum conhecimento .. .. nenhum trabalho .... nenhum dinhei-
ro .... e o que então .... ?

Alguma coisa aconteceu . Sri Shunyata (Sr. Ninguém) visitou-me


por um mês. Hoje ele tem 90 anos, é da Dinamarca e vive em uma
pequena cabana no pé das montanhas do Himalaia, recebendo uma
J parca remuneração de 50 rupias por mês. Em 1930 quando ele vie-
ra para a índia a convite do Dr. Rabindranath Tagore para lecionar
silêncio, ele encontrara-se com Raman Maharsi. Raman Maharsl
olhou fixamente nos olhos de Mr. Sorenson (seu nome original) e o
chamara de um místico por natureza. Ele disse, "Nós estamos sem-
pre conscientes, Shunyatal" Desta maneira ele recebera este nome
Shunyata por Raman Maharsi.

A personalidade discreta e poderosamente silenciosa de Sri


Shunyata me afetou profundamente. Depois que ele saiu, enxerguei
uma luz sobre o que havia acontecido antes - a clássica depressão.

Eu não sou nada se não puder trabalhar? Não sou nada se todo
, o conhecimento adquirido me deixar? O que é precisamente o tra-
I balho? É analisar e ganhar dinheiro ou é um acontecimento na alma
conseguido através de uma interação ativa com clientes e o mundo?
..l A obliteração de uma pessoa a qual podia trabalhar me assustava
mais e mais.

O caminho no qual embarcara abriu inúmeros medos, finalmente,


~ me levou a indagar sobre as raízes próprias da insegurança. Tornei-

43

...
me consciente do fato que estava identificado com o conhe cimento,
u conflecimento que se tornara base do meu trabalho. Qu ndo o
cOl lt,ecimento e foi, a seguran ça no trabalho o seguiu Ti nha sido
ural ara mim squecer de mim mesmo no faze r da terapia Um a
v mais estava envolvido. a hora da sessão progredia espontane-
a ente e g8fal mente com a satisfação de ambos, analista e cliente .
A ora eu não era nad a. E tava fortemente assustado com a face do
Nada. Incapaz de fic ar inteiro , com pleto com a experiência , conse-
guia ape nas enxergar o nada de mim mesmo , enquanto Sr. Nin-
guém, Sri Shu nyata , apresentou-se como urna pessoa baseada no
Nada e cujo trabalho na minha alma surgiu não do conhecimento,
nem mesmo do seu trabalho , mas da própria alma . Eu havia achado
uma nova base para o trabalho com a alma .

Um exemplo aqui , para mostrar como liberdade do dinheiro (não


cob rando honorários fixos) fornece força interior. Terapia acontece
entl a duas almas quando estas se encontram honesta e sincera-
le nte - uma descoberta que é libertadora e um alivio . Um cliente
há la trabalhado comigo pelos últimos sete anos. Depois de se
apusentar, ele reduziu suas entrevistas pela metade. Ele era um
homem muito ganancioso, agora que havia se aposentado, queria
um retorno de todos os benefícios dos seus pagamentos passados .
Não em paz consigo mesmo , completamente sozinho e sem traba-
lho, ele tornou-se impaciente. Não recebia mais salário , tinha ape-
nas sua pensão e o seguro social. Primeiramente de uma maneira
velada mas depois plenamente ele começou a reclamar que tendo
pagado tanto, não apenas para mim, mas para tantos outros como
eu, ele ainda não havia conseguido o que desejava. Era minha
obrigação dar-lhe aquilo agora.

Um dia numa sessão, ele se zangou e não teve dúvidas ao me


dizer que ele havia sido roubado. Ele tinha por obrigação, me disse-
ra, ter paz no coração. Imperturbável pela sua zanga, pude dizer-lhe
honestamente, que nunca havia assinado um contrato com ele para
suprir esta paz no coração em troca do dinheiro dele. Calmamente
disse-Ihe que embora a terapia ocorresse cada vez que nos encon-
trávamos, nunca havia requerido ser o terapeuta. Não obstante, sua
zanga era justificável. Em retorno pelo seu sacrifício ele tinha de

44
ganhar alguma coisa. Mas ele estava zangado com a pessoa erra-
da. Eu o aj udei a ver o médico dentro dele mesmo, e ver através da
projeção o médico em mim. Este médico era a pessoa certa para se
estar zangado. Se o cliente realmente colocasse suas queixas di-
ante Dele clara e abertamente, uma resposta certamente surgiria.

~ Esta breve autobiografia apresenta claramente um problema do


, trabalho com a alma. Mesmo que chamemos de nosso trabalho "o
caminho para a totalidade" ou "uma jornada espiritual" ou "individua-
lização" ou "fazer a alma", cada encontro no nosso trabalho com
, pessoas é um processo bilateral, dar e receber, e nos transforma.
1 Mas ~ dar e receber necessariamente idêntico com un:a troca de
\ dinheiro? No trabalho com a alma um fator super-meto ICO , colo-
cando em compasso ambos analista e cliente, é ativo. Se nós es-
tamos abertos a isto, então funciona. Mas "quem" então deve ser
pago e "quem" deve pagar? O que é verdadeiro sobre o trabalho
teraPêutico é talvez verdadeiro sobre todos os tipos de trabalho.

I Dois assuntos aqui parecem importante para mim: minha incerte-


za no mundo e meu medo de ficar sem trabalho. Ambos podem

I resultar em uma recusa de reconhecer o fator super-metódico em


análise. Talvez ambos se encontrem em um ponto comum e te-
,nham raízes comuns. Deixe-nos ver.

1 Como um ser biológico sou bastante inseguro: preciso de abrigo,


~alimento e roupas para me proteger. Nós todos precisamos disto,
,mas quando isto nos dá garantia, a vida pode acabar a qualquer
tmomento sem aviso. Apesar de todo o cuidado, a vida está além do
.nosso controle. Se me preocupo muito sobre isto, então é um medo
neurótico e insalubre. Uma pessoa deve viver com esta inseguran-
ça, consentindo com a morte no momento que ela chega.

Enquanto vivo, preciso de dinheiro para viver. Quando me lem-


bro dos períodos quando não havia trabalho, não entrava dinheiro e
minhas poupanças eram esvaziadas pelas contas, descobri que o
medo originava-se com o espectro de não ser capaz de manter um
certo padrão de vida . O que é esta fixação? O medo da pobreza?
É medo da pobreza ou amor aos confortos humanos? Eu não posso

45
ser u _lue sou se m estes confortos? Porque estou aqui neste pais
razendo seja lá o que for que esteja faze ndo? Não é porque isto
m,::lrtlcm meu amo r aos confo rtos? Eu sei que posso ser o que real-
rn nte sou ape ar des tes confortos, no entanto um medo espreita
a rás disto tudo. Privar-me d estes confortos e devo encarar a po-
b eza. Eu não posso e não quero encará-Ia .

o medo da pobreza impede a descoberta de algumas coisas Im-


portantes. Eu não confio em alguma coisa intimamente, e isto impe-
de-I e de descobrir quem realmente mantém a todos nós. Então o
que é esta experiência de encarar a pobreza? Abre-se diante de
mi ) minha total dependência dos outros para tudo. Escolher a po-
bl eza me ajuda a descobrir que dependência é de fato uma confian-
ça básica, a esperança sobre meu Eu total em sua interdependência
CD o universo. É minha mente na sua separação, que transforma
COI I lónça em insegurança negativa da dependência.

Encarando esta ansiedade a insegurança trazidos pela idéia da


poL(t;za, estou confrontado com a alma. Pelo que vimos neste curto
rel ato, o desejo por confortos humanos leva a insegurança e a in-
certeza porque não posso controlar minha renda, minha habilidade
~
para trabalhar, ou até minhas faculdades com as quais trabalho e
ganho meu sustento. Então sou torçado a olhar intimamente e es- :.
cutar quando este medo da pobreza surge. Deste modo descobri O
trabalho com a alma. Desta maneira, o problema de dinheiro dissol-
ve-se dentro das questões mais básicas de "Quem" é incerto e
J
"Quem" encontra incerteza com o trabalho. '.

Quem sou eu? Eu chamo a mim mesmo de analista Jungiano e t~


distingo-me dos outros através da virtude do meu treinamento e co-
nhecimento. Dando a mim mesmo uma importãncia especial por
caU$a disto, criei uma divisão entre eu e os outros na mesma profis-
são , e entre eu e aqueles que vem como pacientes.

Eu também vejo uma divisão mais profunda dentro de mim; atra- f"
vés da identificação de mim mesmo com o trabalho que faço, me
encontro dependente das faculdades que tornam o trabalho possí-
vel. Mas o trabaiho que faço ocupa somente parte do dia. Eu sou

46
eu mesmo quando em sono profundo, quando estou sonhando , cr
men do ou descansando. Identificar a mim mesmo somente com o
trabalho , me reduz a poucas horas, e como se achasse que tudo de
mim fosse apenas isto. Eu isolo a mi mesmo do Eu total e do
mundo . É natural, portanto, me sentir ansioso e amedrontado quan-
do descubro que meu trabalho pode ser perdido a qualquer mo-
mento. É claro que posso tentar fazer com que aquela parte isolada
apareça completa adicionando a ela futuras partes do mesmo mun·
do, juntando grupos, ganhando dinheiro, aprendendo mais técnicas ,
etc., para me sentir seguro e salvo. Mas isto apenas faz com que
me identifique mais com meu trabalho. E ainda, sem trabalho perco
minha identidade .

Tendo criado hierarquia de valores, distinções, separações e divi-


sões dentro de mim e entre eu e o mundo, tento encontrar a insegu-
rança enraizada nestas divisões pelo receber do dinheiro. Em lugar
de ser o instrumento da travessia, o 'médium da troca', dinheiro
transforma-se no instrumento da insegurança e separação. Leva-
me a esquecer o valor único da importância individual.; leva-me a
perder a confiança em quem eu realmente sou; leva-me a perder a
confiança na totalidade do mundo do qual sou uma parte orgânica;
leva-me a perder a visão no trabalho com a alma.

Reflexões como estas, que são elas mesmos o trabalho com a


,alma, vagarosamente trazem me frente a frente com meu Nada, e
também ao mesmo tempo com minha total dependência na totalida-

I de dentro de mim mesmo e com o universo. Eu quero ser alguma


, coisa, alguém, um único 'Eu', diferente de qualquer outro. Mas não
\POSSO ser nada sozinho. Talvez a fonte da minha insegurança e
~,medo é que eu realmente não "vejo" "quem" está tão preocupado
(sobre insegurança. QUEM SOU EU?
.~

C
).

47
·
l
;
A Psique, Riqueza e Pobreza
Por John Weir perry

1I O convite para eu falar sobre Alma e Dinheiro esconde uma


fagradável ironia, conhecido é, que me sinto como um dos que me-
110s se importam com assuntos monetários entre meus colegas. Eu
~ometi todos os pecados da inconsciência sobre o dinheiro: depois
I~e três décadas, ainda tendo a me sentir culpado sobre os honorári-
[tos; permito as pessoas acumular contas excessivas que algumas
~ezes nem são pagas; e levo as minhas secretárias a total perplexi-
~ade , confiando-Ihes o cuidado de tais problemas e demonstrando
)'lem um pouco de impaciência quando complicações surgem . Sem-
pre que possível, prefiro não pensar sobre dinheiro. Somente me
preocupo na época dos impostos e os músculos do meu pescoço
Endurecem em protesto. Embora perceba que para muitas pessoas
,~ de verdade real, para mim permanece uma abstração, um con-
'unto de números coloridos, sempre espero que sejam pretos ao
~iwés de vermelhos. Pelo menos posso falar pela Califórnia, um
estado que primeiro ganhou a fama pelo seu "aurum vulgaris", o
'ouro comum', mas que agora é conhecido por algo bastante dife-
'rente: sua notoriedade compensada durante as duas últimas déca-
das através de uma tentativa inicial de refinar 'o verdadeiro ouro es-
piritual dos filósofos' .

1j Com tudo isto, sentia que não teria muito o que dizer sobre o tó-
pico, até que finalmente havia forçado a mim mesmo a refietir sobre
isto. Logo tornou-se óbvio que meus "pecados" não surgem pura-

49
• t: nt", de desconsideração desatenta , mas antes de atitudes que
estáo rofunda ente arraigadas. Minha inten ção é expressar os
l.t ... ri.Js pensamentos que aparecem e ca pturar suas bases filo sófi -
(; s . O pon to de apoio 5 0 re o qual eles giram, parece se r o de não
fd:"'8r-dm heiro , mas qu estões sobre o valor da pobreza .

Ouando olho para trás, percebo os primeiros sinais da minha in·


clinação para evitar a pensar sobre dinheiro, relembro do lema da
n li nha escola exaltada no seu brasão e na minha mente junto com
"Int ~ gnd a de de Objetivos" e "Autoconfiança", aquela que melhor
e ;.: ressava a espirita da escola era "Simplicidade de Vida" . Nunca
ê(di cantata com aquele diretivo. Me recordo também da quebra
d a bolsa de 1929 e a depressão que a seguira . Muitos de n6s éra-
mos jovens naquela época e experenciávamos de primeira-mão o
esvaecimento dos ricos, nunca se pode confiar em dinheiro; outros
pr " p6siIOs parecerão sempre mais enriquecedores e mais seguros
dú que fazer-dinheiro .

Mais perto de casa, no entanto, estava a escolha de meu pai que


ctlia e não conseguira se safar da quebra da Bolsa. Quando seu
\.. n etor disse-lhe o que estava acontecendo, aconselhando-o a sair
élgora que isto ainda era possível, meu pai tomara uma decisão ética
de não seguir o conselho do corretor, pelo fato de que isto estaria
contribuindo ainda que em pequena escala para o pânico geral e a
ruina da economia. Custou-lhe; custou a todos nós; mesmo assim
sempre estive contente pelo exemplo de uma ação claramente mo-
raI.

A coragem de meu pai diante do pânico e pobreza, faz com que


me recorde de alguns dos melhores anos que passei. Durante a
Segunda Guerra Mundial, morei comunalmente, sem dinheiro e
como membro da Unidade Ambulatorial de Amigos da China. Admi-
ré.-va, particularmente naquela época, os líderes Maoistas em Shensi
pt:lo estilo de vida deles, de construir e tomar conta das suas própri-
as casas, superando solos férteis desiguais, e Gandhi pela sua dire-
çã o do governo da índia de dentro de uma simples barraca em
frente dos prédios dos governos.

50
Bem longe das bases da minha atitude com dinheiro, encontra-se
clara con sciência de antigos ensinamentos difundi os que ti nha
relação com o cultivo espiritual para a pobreza voluntária: em out as
palavras, para desenvolver-se espiritualmente, é importante privar a
pessoa de preocupações demasiadas com o bem estar mundial.
(Cristianismo, Taoísmo, Budismo e Islamismo compartilham a mes-
ma visão) Nós não devemos minimizar o fato de que o cultivo espi-
ritual tem sido freqüentemente associado com pobreza voluntária,
porque fazendo assim deixamos de fora nossas enraizadas conside-
t~,rações de contas nos séculos ~e experiência espiritual.

Buscando aprender mais sobre as bases desta associação e para


fortificar meu papel com alguma coisa sólida. Fui procurar primei-
·ramente na Britânica; não havia nada em absoluto sobre o tópico,
~.além de estudos estatísticos econômico. Direcionei-me para a Enci-
\'~Iopédia de Religião e Ética de Hasting, achando que com certeza
encontraria, haja visto que nunca havia me falhado. Encontrei, mas:
avia apenas pesquisas sócio-econômicas; sobre a vida Monacal,
ma passagem mencionando os votos , juntos com castidade e obe-
Diência! Nos trabalhos de Jung não consegui encontrar nada.
conteceu, refleti, que nossa cultura é tão focalizada no valor do
em-estar que o valor da pobreza apagou-se? Minha pesquisa inicial
ugeria que sim.

Quando busquei, no entanto em Misticismo de Evelyn Underhill.


Çom minha busca obtive satisfação: ela explica, lúcida e extensiva-
ente, a motivação e a razão da pobreza voluntária . Para os místi-
s, é totalmente uma questão do que é' mais desejado, e se estes
:n;lsultados em separação ou em conexão - human-hearted com o
~próximo, uma conexão que culmina em uma experiência da unidade
:.8 participação mútua de todos os seres em Um. Cobiçar proprieda-
~es, em outra palavras , o que uma pessoa pode possuir como pro-
priamente seu, promove a divisão que alimente 'ego-motivaçôes'.
propriedade então define a identidade de uma pessoa, mais na ma-
",eira de que as propriedades de uma substância definem sua natu-
~za . O critério da propriedade fornece uma base falsa pela diferen-
ciaçâo de uma pessoa e o mundo. O desejo urgente de buscar
Deus é considerado incompatível com tal desejo por coisas do mun-

51
. 1, ( ,,- f);,e ql lc Jlt tm E:ilte a adm oestação Cnstã , "Você não pode Se r-
II -'III Lu:. CJ':\ I::; t:: Mâmmon (Deus da Ri uez ·)" , o u "E I is fá ci l
I'c:.. .... I1II I 1f1ldo passa r pelo bu raco de uma ag ulh a do que um 110-
r,l'- I , III .• e il l ar fiO ~ie i no dos Céus" . Ainda, er pobre em esp írito , e
~, /, c:s l~ I oliva abe: çoado , não necessita s r obre em sub t5n cia,
111 <.1" ..J ,(tos a lJlln ! aminho para uma epa ração como um ln epen-
lt; f, e e::;t- do Il lte nor de condições ex em s . O fina l nest direyão
dI;,; ~c SeU t é II a ta l enú ncia do mu do qu e um a pe oa não
ti >Jc;; ia vive r nde e precisaria de UIll monastério para resolver o
dl l ,~ lll f l.

Ut r LI a pobreza é privação verdadeira, pode, é claro, tornar-se


l.li::.trb ivo e finalmente debilitante: a atenção de uma pessoa perma-
neL:ci eorren tada às preocupações da sobrevivência. Estou falando
aq uI Je lima simplicidade de estilo de vida escolhida livremente e
não imposta por coação externa e opressão. Os grandes espíritos
L ue t:scolhem voluntariamente simplicidade, evitam o embaraço da
pli vação p r viver em fé que lhes assegura seu sustento. A partir da
Sl,; J f' um estilo de vida se desenvolve. Em nossa prática como
teh.. p~utas, existe uma versão fracamente discernível de tal fé. Sem
di Gutirmos sobre o principal no mundo profissional para desempe-
nhar nossa prática, nós contudo achamos que aqueles que recorrem
a terapia apresentam-se quase o mesmo passo quando eles termi-
nam. Uma pessoa sente alyl:;n tipo de lei misteriosa que parece
governar este fluxo que não podemos controlar.

Neste ponto, devemos perguntar, encarando honestamente a


questão: há alguma coisa errada como o desejo de simplesmente
ganharmos dinheiro elegantemente na nossa prática? Muitas arma-
dilhas encontram-se neste caminho. Nossa atual economia está
demonstrando que tão logo que o foco dos cuidados é o cheque de
pagamento e a segurança no emprego, merecido ou não, então a
preocupação por qualidade de trabalho diminui. Analista ou mecâni-
co: as mesmas regras aplicam-se. Nós podemos facilmente, tam-
Gé '" cair no erro de super avaliar a profissão de analista e permitir
U IéI t dência em direção a honorários inflacionados através de um
i:lt.ú rdo conse ns' ial. Nosso artigo à ven da é nosso tempo, não nos-
a r erieia Especialmente nosso sentimento não pode ser compra-

52
do, apesar da inclinação americana de con siderar a doação de (JI-
nheiro camo uma expressão de sentime to . Se um arq u2tipo de
, riqueza prevalece sobre nosso tra balho , e cen tra mos uln a dlvi daLle
I do escuro subm undo qu e pode nos levar a rela ções plu tôillcas, s .

pudermos tocar de leve no mund o. Se nos conslderarni os éluton da


des pag as pelos nosso conh ecimento, cerrem os o perigo ele est -
belecer uma desigualdade e não-mutuali dade com os nossos clien
~ tes que devem trab alhar para nus manter nesta di! posiça\. . a
~. sombra da análise, algurnas vezes acho, é algo que separa nós de
I'
r nossos clientes.
~~ Uma preferência por simplicidade em finanças tem seu preço
:~ Prosperidade permite uma grande parte de tempo livre para alimen-
!:tarmos a mente e mantermos um passo tranqüilo, no qual reflexão e
cultivo espiritual recebam seu espaço merecido. Freqüentemente
queixo-me de gastar um tempo precioso, datilografando cartas, fa-
I zendo contas e pagando-as - algumas vezes até de construir minha
",casa e terreno. Ainda assim sou grato pelos conhecimentos que
testas necessidades forneceram.

! Logo no princípio na minha prática, decidira que o que não rece-


lbesse com honorários, eu deveria compensar trabalhando com as
IPlinhas mãos, na casa, com equipamentos, móveis e mantendo o
I~erreno. Meus filhos aprenderam a fazer o mesmo. Em essência, o
'-pensamento governante desta maneira de ser é "Se você não pode
(comprar aquilo que quer, faça-o". Por este motivo, não tive que re-
t~usar pacientes, pelo menos que me recorde, pacientes que não
[pudessem pagar os honorários pedidos. Nem tampouco tive que
:!jmitar minha participação de um quarto do meu tempo em progra-
~as inovadores, pelas baixíssimas taxas de pagamento que geral-
mente se recebe ( por uma hora, geralmente pagam um terço do
valor padrão na prática particular). Meus anos de experiência neste
tipo de programas inovadores para terapias de jovens adultos esqui"
zofrênicos - Os projetos Agnew, Diabasis I e Diabasis II - custou-me
muito na minha renda potencial do que g sto de pensar e calcula .
Sem arrependimentos, somente algumas sensações de aperto - e
uma prazerosa corrida para ficar um passo na frente dos caletores
de impostos

53
16.,{es prúj eto vi a divisão que o dinheiro pode criar. Os mem-
UI 5 U3 equ i e que faziam todo o trabalho pesado de terapia e CUI-
Jav' 111 da casa era os que menos recebiam, enq uanto que a admi- '
I Istréiçã, 5 pe oas do fun io namento dos Sistemas de Saúde
Me tdl, recebiam salários respeitáveis. Eu me encontrava em uma
posição incómoda , recebia três vezes a taxa da hora da equipe de
linl , e no entanto apenas um terço dos honorários profissionais da
prática particular A desigualdade do sistema causava muitos con-
fm ntus e objeções ; foi necessário muito esforço para se manter Jun-
tos em fa ce destas divergências potenciais.

Agora , depois de ter feito minha escolha por simplicidade de es-


til o, devo recuar um pouco e lembrar que depois de tudo, minha fa-
milia f; eu vivemos bem em qualquer padrão sócio-económico. Por
este rnotivo meu comprometimento é com uma simplicidade relativa ,
somente o meio caminho até algo que sugere uma pobreza voluntá-
ria . Pode ser chamado de compromisso, mas isto sugere fraqueza
uma lião convincente meia-sinceridade. Quando reflito sobre isto,
acho que isto leva a um ponto principal da minha discussão. Em
noss estrutura junguiana, sustentamos que nós vivemos comple-
tamente, nós tomamos uma posição que nos mantém constante-
mente em um estado de paradoxos sustentados no jogo dos opos- . ,
tos. De acordo com isto, em problemas de finança não podemos
escolher ou renunciar o mundo e seus tipos de bem-estar, ou permi- ..
tir que nossa vida espiritual se torne estéril pelo envolvimento em
preocupações do mundo. Nós devemos manter ambos fins de pola-
ridade em nosso estilo de vida. Nós devemos nos manter num
ponto central.

54
Mito e Dinheiro

Por Joel Covitz

Eu tive duas apresentações com o papel do dinheiro na psicanáli-


;e. A primeira veio quando estava estudando no Instituto de Jung, e
1m jovem paciente estava negociando os honorários cornigo . Eu
lisse-Ihe que minha hora era de 20 francos . Então discutimos a
reqüência das visitas e nós decidimos que ele viria três vezes por
iemana. Então ele me perguntou, ''Você concordaria se eu pagasse
:ada três visitas a 50 francos?"

Minha segunda introdução veio da minha dissertação sobre um Ii-


Iro de sonhos judeu. O Talmude afirma que havia um intérprete dos
ionhos, Bar Hedya, e que seu trabalho dependia se os honorários
ossem pagos ou não. Aquelas pessoas que pagavam a taxa rece-
liam uma interpretação positiva; aqueles que se recusavam a pagar
'ecebiam uma interpretação negativa.
I
I Na verdade, dinheiro é um elemento importante no trabalho do
inalista com qualquer paciente. Todas as pessoas tem um com pie-
(O monetário e a maneira que cada pessoa se relaciona com o di-
lheiro tem um profundo efeito em outras áreas da sua vida. Os an-
igos Gregos perceberam isto quando eles correlacionaram a ausên-
:ia de dinheiro com o processo da doença e a presença com a cura.
)inheiro é um do "aspectos fundamentais da realidade viva" . (Otto,
107) E neste documento, quero discursar sobre a realidade psicoló-
~ica do dinheiro .
rJa n ssa sociedade, dinheiro é uma necessidade. Dinhei ro tem
Importância . Pa a o empregado médio ou autônomos, dinll eiro e
sua aq ui sição torn am-se extremamente importantes . Na soci edade
ocidental o dinh eiro é um meio para se ascender na vida. MU itas
pessoas na nos s civilização entram em análise em parte por causa
das suas preocupações sobre suas posições na vida , freqüente-
mente querendo mudar de classe e promover uma mudança psico-
lógica para que sofram menos com problemas de dinheiro . Quero
limitar meus come ntários aqui para indivíduos que começam com
muito pouco, qu e movem-se do patamar do nada para alguma coisa.
Eu deveria ser menos preocupado com o uso, investimento e gasto
de dinheiro do que com sua aquisição. Eu quero explorar o desen-
v Ivimento do que eu chamo de uma "atitude realística" com res-
peito a aquisição de dinheiro, porque tal aquisição deve ser um dos
objetivos de um paciente tentando viver nesta sociedade.

Agora , dinheiro tem tradicionalmente tido mais propriamente uma


'pressão' negativa na Literatura Ocidental , refletindo um forte noção
em nossa cultura que abundãncia leva a decadência e a negação do
e pírito. A Bíblia diz que aqueles que desejam ser ricos caem em
tentação, em armadilhas e muita luxúria tola e prejudicial , desta ma-
neira levando homens a sufocar na destruição e perdição. No amor
ao dinheiro está a raiz de todos os tipos de mal: que alguns alcan-
çam depois de terem sido desviados da fé: e penetrarem através de
um caminho com muitos sofrimentos. (I. Tm. VI 9-10) A ética do
trabalho puritano permite somente trabalho duro e auto-sacrifício - a
noção que uma pessoa deveria ganhar o que ela tem pelo suor da
sua testa, e que não deveria haver atalhos, nenhum caminho fácil •
para a riqueza. Estar com dívidas é não ser visto com bons olhos.
Mas em nossa sociedade, isto simplesmente não é uma atitude rea-
lística, como o caso de Ralph nos mostrará.

Na sua juventude, Ralph era uma grande promessa. Ele queria


ser médico e estudava muito na escola de Medicina e durante este
período, também sustentava sua família, mas finalmente ele desco-
briu que não conseguiria ter sucesso. Ele escolheu desistir da es-
cola de Medicina, em lugar de emprestar dinheiro do Governo com
um empréstimo garantido. Ele achou que se ele mesmo não pudes-

56
se pagar a escola, ele não deveria ir. Ralph tornou-se uma pessoa
arruin ada fi sica e financeiramente, ele nunca consegui u achar uma
carreira significativa . Anos mais tarde, sua mulher o deixou. Ele
queria casar novamente , mas ele não encontrava nenhum jeito de
ganhar a vida . Então ele entrou para a análise.

Agora, este tipo de recusa em assumir dívidas é uma ética errada


para nossa cultura. Ralph havia sido desencaminhado pela ética de
trabalho tradicional. Dívidas pertencem a uma pessoa confiável na
nossa cultura ; isto significa que esta pessoa tem crédito . Subesti-
mar o crédito potencial de uma pessoa é subestimar sua capacida-
lde. Entenda que não é para ser neurótico com tudo que se relacio-
'na com dinheiro, porque isto significa que este indivíduo está viven-
do abaixo do seu potencial. Parte de arte de lidar com o dinheiro é
sa ber como e quando assumir dívidas, para que a pessoa possa
obter o potencial máximo do dinheiro emprestado. Como Benjamin
Franklin disse, "Dinheiro pode gerar dinheiro" . (Franklin, 87) Muitas
pessoas - Thomas Jefferson foi um exemplo inicial - viva frutifera-
mente, vidas criativas sem muito dinheiro na mão. Ele estava fre-
qüentemente em dívidas, mas ele viveu o seu mais completo poten-
ciaI. É claro, isto vai contra a ética que nos persuade mais a eco-
nomizar do que emprestar. Mas a pessoa que apenas economizar,
que não tomar riscos com seu dinheiro ou segurança, que ver inte-
I resse em dinheiro como estúpido ou 'escuro' ou 'duvidoso' , não terá

ucesso com dinheiro.

A aproximação tradicional puritana ao dinheiro deixa atrás muitas


casualidades - pessoas com aproximações insalubres no que diz
,respeito ao dinheiro. Freqüentemente a raiz de uma neurose de
amília tem como base algum tratamento irresponsável da capacida-
Ipe de um indivíduo. Por exemplo, um paciente tinha um avô que era
lunilionário. A esposa do milionário morreu quando ele tinha oitenta
',snos e o velho casou novamente. Ele viveu por alguns anos e então
f l orreu, e todo o seu dinheiro foi para sua nova esposa - uma situa-
;.~~ q~e separo~ a família. Também, são muitas vezes os filhos do
',mllionano que tinham que carregar a sombra da riqueza dos seus
. pais . Os pais podem consciente ou inconscientemente considerar a
sua própria aquisição de dinheiro como duvidosa , e apesar de que

57
t:ies podem passar adiante dinheiro, eles também pa ssam ad iante
al ltu ;:, ambivalente s e paradoxais com relação ao dinheiro . É po -
sível que algumas das tendências destrutivas de crianças de fa míli -
as rie s tem como base esta inconsciente identicação-escurecida
EIE:s tem a tarefa de chegar a um acordo sobre a obtenção de dl-
I h iro, mesmo qu and o eles próprios nunca tiveram que obtê-lo

Em outras maneiras o mau uso do dinheiro causa grande proble-


r a no Justame nto in dividuaL Um paciente meu , John, neurastênlco
e introve rtid o, pre cisava de um empurrão e nunca veio . Ele carecia
ue energi a até para pedir dinheiro . Ele sabia que seu pai tinha dl-
nli éiro e também sabia que seu pai lhe daria se ele ped isse Ele foi
pago na mesma situação de Hermes: um paí rico e que não lhe dava
nenhum apoio. A diferença foi que Hermes reagiu com urna enorme
iniciativa e estava desejoso de crescer por si mesmo. Mas para cri-
anças que não são Deuses, ou são neuróticos ou depressivos, nada
jam ais começa . O pai de John era um milionário, e John estava fa-
zendo-nada até a idade de cinqüenta anos, quando então ele rece-
lleu sua herança . Mas então já era muito tarde , A necessidade de
dinheiro ajuda você a sair da caverna na qual você se encontra pre-
so, com suas baixas despesas gerais; isto lhe dá incentivo. O caso
extremo de carência de incentivo pode ser visto em alguns sectos
Oriental e Cristão, que defendem a posição de dar todas suas pos-
ses e dinheiro porque o mundo brevemente chegará a um fim . (Se
esta era a atitude de Jesus, como tem sido sustentado, foi um erro
de julgamento profético).

Todos estes problemas que acabei de mencionar vem de uma


falta de atitude realística sobre a necessidade de obter dinheiro
nesta sociedade. Há uns poucos fatos importantes para manter em
mente sobre dinheiro: é o fato que dinheiro nunca é livremente doa-
do. Você não consegue nada por nada. E um indivíduo deveria
nunca depender de dinheiro doado. Dinheiro apenas não vem à
você; você tem que ir atrás do dinheiro, e isto freqüentemente requer
que você seja geograficamente móvel. O fato é que se você não
pedir pelo dinheiro, você nunca o receberá. A fantasia puritana é
que riqueza não é importante. Outros objetivos - honestidade, tra-
balho árduo , g ~nerosi dade - tem tido uma pressão muito melhor.

58
Mas pelo menos um puritano, Sen Franklin, disse sobre "Obter ri-
quezas e por meio disso assegurar a virtude; isto é mais difícil para
um homem que sempre quis agir honestamente , como ... é difícil
para um saco vazio fica r de pé."(Franklin, 92)

De fato , Franklin devotou uma grande parte de tempo e energia


para o desenvolvimento de sua teoria do "Caminho para a Riqueza",
que envolvia relerTlbrar simples, mas muito realísticas e ainda apli-
~ cáveis leis sobre dinheiro. Ele disse que o "uso de dinheiro" - isto é,
~ a habilidade tanto de gastar como ganhar dinheiro a partir do próprio
I' dinheiro - "é toda a vantagem que existe em se ter dinheiro" e "cré-
• dito é dinheiro".(87) Franklin sabia que a maneira primária de avan-
:l çar é investir o dinheiro, ou emprestar com juros, desde que desta
, maneira , mesmo uma pequena quantidade de dinheiro pode crescer
: e crescer. Ele também deu ênfase a importância do economizar:
"um penny economizado é um penny ganho". Se um indivíduo joga
4pelas regras e paga o dinheiro emprestado no prazo, este indivíduo
pode ter uma grande quantia de dinheiro a seus serviços: "Ele é c0-
nhecido por pagar pontualmente", disse Franklin, "pode a qualquer
hora e em qualquer ocasião, levantar todo o dinheiro que seus ami-
gos possam dispor."(8B) Mas ele sabia que não se pode apenas
ificar sentado preguiçosamente e esperar enriquecer, "o caminhO
(para a riqueza", dissera, "depende de não se [perder] nem tempo
nem dinheiro".(B9) No almanaque do pobre Richard , onde a maior
;parte desta sabedoria foi dispensada, ele disse aos seus leitores
, 'Deus ajuda a quem ajuda a si mesmo" .(95) O que você tem que
fazer é o melhor disto que o destino traz à você.

. O que eu gostaria de focar agora é apenas a arte da opulência -


~econhecer a necessidade realística para se ter dinheiro nesta soci-
edade, e então dispor de todas as forças de um indivíduo, particu-
larmente o "malandro" que se encontra em todos nós, para alcançar
aquele objetivo. O mito do Deus grego Hermes fornece um arquéti-
po por esta psicologia "malandra" que permite propostas criativas ,
flexivas e ousada para o desenvolvimento de todas pOSSibilidades
no indivíduo , inciusive a possibilidade de riqueza.

59
t1 ermes e ra o tllho de Leus e da Ninfa Maia
\ , I.IfllU VUU:: ::'êlUC:: ,
I . ~(l . f~()
SE; II I ascimento , Hermes sentiu-se Irrequieto na ca ve rn a
.

..;5C.ur d , c; então , arrastou-se para fora da caverna Ele e ncontrou


III tJ lart rug qu passava por ali . "Que sinal fantástico, qu e ajuda
f. d l a f,d n ., ElE: ul:)se "Não vaLI ignorar isto." (Boer 19) (Mesmo nesta
1"; 111 iJ Idade, I,emles já estava aberto para a sincronlcld ade dos
c. · ~t 110 ::' ) El ,tão (::Ie levou a tartaruga para dentro da cave rna. Pu-
. 'JU ma fac.él e retirou a carne de dentro do casco e esticou hastes
d IIII ICO ' o 101 go o casco havia inventado a lira. A tart aruga ti-
n!IO a~8Iee;i cJ o "n momento certo, (20) e Hermes aproveitara aquele
ln (lE: to Ele era um oportunista.

f lermes er
ontrara o gado sagra do dos deuses e havia tirado 50
VdIJdS o leba nho Ele queria encobrir sua pista, para tanto inventa-
ra um pa r de sandálias mágicas, para que suas pegadas não pudes-
sem ser reconhecidas. Depois revertera as pegadas das vacas,
"vi ando as patas da frente para trás e as patas de trás para frente,
en quanto que ele mesmo andava para trás."(23). '·1

Agora, enquanto armava sua escapada, um ancião - um símbolo


dos velhos valores - viu que ele partia com as vacas. Hermes então
lh e disse, "Você não viu o que você acabou de ver, o.k.? Você não
ouviu o qUe acabou de ouvir. Fique quieto e você não sairá machu-
cado" (24) e Hermes conseguiu chegar em segurança, matou duas
vacas as sacrificou adequadamente. E depois jogou fora suas san-
dálias mágicas.

Os malandros tem que prestar muita atenção a detalhes como


aqueles - e voltou para a caverna. Sua mãe sabia que ele havia
feito alguma coisa errada. Hermes dissera, não se preocupe, no
entanto a partir de então ele fornecia o alimento necessário para seu
sustento:

Nós não desejamos nos sentar entre os deuses sem presentes


ou preces, como é teu plano! Seguramente é melhor praticar es-
portes por toda a eternidade entre os imortais, uma riqueza inesgo- t~
ável, é bem melhor do que encolher-se de medo aqui nesta caverna (
sombria l Quero ter a mesma reverência que é dada a Apolo! A me-

60
nos que meu pai me conceda isso, reunirei coragem - e isto posso
fazer! - e me tornarei um príncipe dos ladrões. Keneyi , 165).

Este objetivo de inesgotável riqueza encorajava-o , com em opo-


sição imprescindível, Hemles estava determinado a fazer fortun a,
fazendo o que fosse necessário para ganhar algum tamanho - e ri -
/ 4 ueza - como seu irm ão mais famoso Apolo. Apolo, no entanto,
lobviamente percebera a diminuição significativa no tama ho de seu
, re banho. Ele conseguiu seguir a trilha de Hermes e exigiu o retorno
I da s vacas. Hermes se fin giu de completamente inocente : ele não
i ~ i nha nenhuma informação sobre o roubo. Era ridículo supor que um
!,Pequenino bebê pudesse roubar 50 vacas. Apolo simplesmente riu
I sobre a inteligente estória e chamou Hermes de malandro , e insistiu

/ ue Hermes devolvesse as vacas. Hermes reclamou que ele havia


~ s ido falsamente acusado. Finalmente eles foram ver seu pai ; Zeus ,
que dissera aos dois que apresentassem suas defesas . Apolo con-
~tou sua estória e depois Hermes contou a sua própria : "Pai Zeus,
, ou contar-lhe a verdade. Sou uma pessoa franca e não sei como
P.fY1entir" ele disse "Eu não levei o gado de Apolo para casa , no en-
~ anta desejo ser rico"(Boer, 45) . Neste momento, Zeus caiu em 9ar-
p~lhada, e ordenou aos irmãos que se reconciliassem e disse a
t'1ermes para mostrar aonde as vacas estavam escondidas. Apolo
, inda estava muito zangado, então Hermes decidiu acalmá-lo e to-
I ÇOU a Lira . Tocara a Lira tão lindamente que Apolo estava encanta-
'po e disse que a música de Hermes valia as 50 cabeças de gado .
t~le prometeu a Hermes ,glória imortal entre os deuses se ele apenas
íJtle ensinasse esta arte. Sempre alerta por uma troca justa, Hermes
f90ncordara, contanto que ele pudesse ~car com o gado. Finalmen-
\~I Apolo ganhou a lira e Hermes a glória e uso do gado. Apolo feliz
iRue estava, "presenteou a Hermes com mais um presente, um caja-
'.[~o do ouro, que outorgava riqueza"(Kerenyi, 170). A partir de então,
ttermes estava no comando das trocas e comércio entre os homens
e
"<
fora glorificado entre os deuses.
d
A primeira coisa que se deve notar sobre a estória de Hermes é
que ele sabia que não poderia ficar na sua caverna sombria . Ele
precisava sair para uma casa com uma vista . Ele não ficara espe-
rando pela herança do pai ; pelo contrário ele pegara seu destino em

61
suas propnas maos e extravasara sua rica fantasia . Quando se viu
de fre n c.. com a armadilha da pobreza, percebera seu sonho de ri-
queza enquanto estava na companhia dos deuses. Ele dissera a
sua mãe "Tentarei qualquer tipo de plano, tentarei o melhor, para me
alimentar e a você continuamente!"(Hesiod) Ele desenvolveu uma
visão positiva, um sistema para tornar- se rico, começando com nada
mais do que sua prese nça de espírito e a inveja.

o estilo de Hermes é único. Há alguma coisa de muito apropria-


da sobre sua desapropriação. Algumas vezes andar para trás é ir
para a frente . Seus métodos eram métodos de malandro - muito
mais um roubo inteligente do que um assalto com a face descoberta,
contando estórias, a habilidade que conseguiu com que Zeus e
Apolo rissem ao invés de amaldiçoá-lo. Hermes era um mestre em
se sair bem de um lugar embaraçoso, contando estórias . O mundo
responde a uma estória verdadeira ou não. Se você quer um em-
préstimo; portanto se você está em contato com o lado malandro na
sua psique, você vai contar ao banqueiro a estória certa . Contar a
verdade em algumas situações é sinal de masoquismo. Você tem
que ser ousado e aceitar riscos para chegar a algum lugar. Hermes
sabia que Apolo e Zeus não haviam acreditado nos seus contos de
inocência, mas é a própria estória que conta: Ele os fizera rir. A arte
de convencer as pessoas é uma parte importante da arte da riqueza .

No princípio surge a questão: não é Hermes apenas um crimino-


so comum? O malandro que rouba gado e depois mente sobre isto
pode não ser visto particularmente como digno de elogio . Mas
existem várias diferenças entre a figura-malandro e o criminoso . O
criminoso está sempre separado e zangado com sua própria cultura , •
não pode se identificar completamente com sua cultura, não pode se :1
identificar com o total coletivo. Mas a pessoa Hermética conhece a t
estrutura do poder e trabalha com sua cultura. Ele procura por es-
.,
,I
capatórias e estradas secundárias, mas ele não é um criminoso; ele 1
está meramente tentando ser mais inteligente que a maioria. O 50- ,
dopata, por exemplo, evita pagar impostos; o homem hermético ao ~
I
contrário encontra abrigos tributários. Parte da chave para o suces- ~
so de Hermes é que ele conhecia as regras com as quais tinha que ~~
funcionar. Ele sabia como quando e o que sacrificar; ele roubou o ti
i
:1
62
ado, mas mesmo faminto com estava, ele não arruinou o sacrifício
comendo a carne. Nas palavras de Rafael Lopez-Pedraza, "o con-
ito Jungiano clássico [ do sacrifício] é baseado no que é sacrifica-
,do e se isto já está esgotado, o que lhe dá um toque Hermético ."(37)

Mesmo assim, Hennes é um ladrão, ele tem um estilo de Robin


ood, tentando restabelecer à sociedade um equilíbrio adequado.
'No entanto, muito disto parece questionável a partir do ponto de
ista moral ," diz Walter Otto, "todavia é uma configuração que per-
tence a aspectos fundamentais da realidade viva."(107) Nós deve-
wnos assumir que o indivíduo que começa do nada tem que ser um
l,poUCO não-ético. O malandro não está apenas consciente das leis
\ ormais da sociedade; ele está também consciente dos costumes e
cultura - levando isto em conta, por exemplo, o princípio da ética
americana. "Vocês não deverão ser pegos". O homem Hermético
.~
na Rússia é o comunista que ainda é capaz de conseguir caviar.

Colocando seu objetivo como o de "inesgotável riqueza", Hennes


rfora confiante e engenhoso: ele sabia que poderia fazer aquilo, no
lentanto ele não fez imediatamente, ele criou com o que tinha em
'mãos, portanto utilizando a flexibilidade que é o ponto central para a
Iproposta Hermética. Hermes era um mestre na arte de colagem, da
;combinação, também estava aberto para descobertas acidentais, e
desta maneira ele participou no seu próprio destino ,

Hermes era tradicionalmente o Deus das trocas de mercadorias e


dinheiro
,. entre os homens: ele era o Deus das fronteiras, onde tribos
~izinhas encontravam-se para trocar e facilitar o crescimento eco-
nômico, Hermes era considerado "uma fonte de bênçãos materiais"
para os homens. (Brown 22) Seu cajado trazia riqueza, e ele pro-
movia trocas que beneficiavam ambas as partes, exatamente como
sua troca com Apolo beneficiara ambos. Na Grécia Antiga, "permis-
~ão mútua para roubar"{Brown, 42) era reconhecida como um tipo
de comércio , mas de fato era um tipo de presente de troca.

~ Trocas de presentes são importantes. Quando uma troca injusta


xorre, o delicado balanço de dinheiro e poder é rompido . John,
sobre que falei antes, sempre estava ganhando os presentes erra-

63
lo.
dos ; de nunCd lealmente recebeu o que precisava Ele havia sido
engal lau n3 troca com seus pais. Entender que dar-pre entes é
.:.11 Ilda! a sa bt:r corn o lidar com dinheiro; e o pai de John não conse-
uui lidar 'om nenhtJm do dois. A visão sentimental, claramente , é
e Ull Individu o distribui abnegação e amor. Mas re alm ente o dar-
pj sentes fre üentemente estabelecer a possibilidade de uma troca
ma r ão no cu to real para cada parte. O presente é uma troca de
oder. A partir do po nto de vista Hermético, dar é receber Dar-
pr~sen te s pode ser visto, então como um investimento.

o ponto ~ não acumular dinheiro apenas para sua própria segu-


rança , mas antes ter um estilo Hermético, que ajudará a reunir expe-
riências positivas. A pessoa Hermética achará que ele tem mais
energia para realizar coisas; que ele está em uma posição de poder
e pode traballlaf para alcançar seu próprio potencial e também ter
um possível pópel em influenciar o destino da sua cultura. Dinheiro
é o meio pé.. c< um fim .

***
Então a próxima questão é, como podemos aplicar os principias
Herméticos no trabalho analítico? Como podemos encorajar nossos
clientes a desenvolver o lado malandro em suas próprias psiques?
A proposta Hermética promove a auto-ajuda, engenhosidade, inde-
pendência e flexibilidade. Encorajar a aquisição de técnicas sutis e
ousadas em um paciente não é anti-ético. Além de promover o lado
malandro no paciente, o próprio analista deve tornar-se uma figura
malandra. Norman O. Brown diz, "Na visão moderna ... relaciona-
- mos malandragem com a antítese da boa habilidade. Portanto alu-
nos modernos sentiram-se obrigados a negar o culto de Hermes
como o "malandro" imoral... mas sua função é promover o bem
estar social" , (23) como a análise deve promover o bem estar de
seus pacientes .

Os gregos co stumavam chamar qualquer achado de sorte que


um viajante encontrasse de um "presente de Hermes". (Brown, 41)
A arte de ver a possibilidade em ocorrên cias de sorte, em sincronici-

6
·1 dade s, está claramente visível no coração do pensament Jungiano.
Quand o meu paciente John tinha 8 anos, ele en contro u urna nota de
20 dólares no estacionamento do Aeroporto Kenne dy, e fica ra muito
alegre com seu "achado de sorte". Mas seu avô, que não estava em
'contato com o seu lado malandro , instrui-o de maneira repree ndedo-
.ra que John colocasse o dinheiro de volta no lugar que o havia
~ ac hado , dizendo , "Vo~cê talvez nã~ s?iba ~e quem é este dinheiro,
t~ mas com certeza voce sabe que nao e seu.

Á proposta Malandra também encoraja independência no que se


} refere ao paciente . Tendo se libertado de seu pai, Hermes fora ca-

~
~' paz de proporcionar a si mesmo o seu correto lugar no Olimpus com
,., 8 família dos Deuses, Hermes dissera, "Se meu pai não prover, en-
' tão eu posso e sou capaz de fazer isto". A falta de dinheiro está
freqüentemente correlacionada com a falta de flexibilidade na vida;
' além de diminuir a mobilidade geog r'; fica , pode provar ser u f ll tipo
de paralisia psíquica.

ti! Uma paralisia de ambos os movimentos psíquicos internamente e


~movimentos de vida externamente. A proposta Hennética pennite
jque uma pessoa sinta-se livre para seguir sua alma, seu destino;
liberta sua energia psíquica com o fim de capacitá-lo de por em prá-
tica sua alma.

i É conhecido que o papel positivo da inveja na psique é mostrar


. 80 indivíduo o que ele potencialmente pode ser. A inveja de Hermes
~da Riqueza e estatura de Apolo motivara-o a completar seu próprio
I~ potencial. A inveja freqüentemente fornece tal força de motivação
~dentro de uma família. Meu filho uma vez perguntou a minha espo-
'sa, "Se eu me juntar a Sinfonia de Boston, vou aprender tanto
; quanto papai?" Já naquela tenra idade ele estava usando um senso
~;:;rmético de competição como motivação.
I
1 Tive uma cliente, Debra, que junto com seu marido conhecia a
fundo a arte da Não-Hennética de mera sobrevivência . Eles eram o
que chamo de o mais baixo tipo de denominador comum - aluguel
baixo, roupas do exército da salvação, mas com dinheiro no banco
Eles estavam contente s com as baixas de sp ~! s , aerals - Co rll ca-
\' elr li v sistema deles tin ha um po nto embutido que era qu ase um
l.ulapso nervo o, no entanto, o que ocorreu quand o a filha deles
entrou r~ a a a t:scola de drama , confrontou-os com a necessidade de
ganhar I ll êli dinheiro para pagar a quantia anual de $ 7.500,00 pe la
sua educação Como já se podia esperar, Oebra e seu marido , com
5t:U estilo não Herméti CO , culm inara com o fato de que sua fi lha
adolara a proposta Hermética . En quanto Deb ra havia econom izado
St:llS fundos limitados no banco , sua filh a estava desenvolvendo sua
carreir art ística, trabalhando como atriz de televi são durante todos
os ano s que antecederam a universid ade e ela mesma agora, já
estava ganhando muito do dinheiro para sua educação.

Como você pode criar o lado malandro em um paciente? Como


um an lista Jungiano, pode reconhecer o lado malandro quando
este aparece no material do inconsciente, e ter certeza de apontá-lo
para seu cliente. Perceba como o lado malandro aparece em so-
nhos e famasias e tente integrá-lo como uma parte básica da perso-
nalidade '..) paciente. O analista deveria observar quando a falta de
cone xão com o lado malandro atrapalha o caminho do progresso do
paciente que é "sério e inflexível". Ele ou ela deveriam também ob-
se rvar curno o lado malandro está projetado dentro da relação com o
analista ~ of~recer esta interpretação para o cliente analisado.

A obtenção de dinheiro e sua relação com a alma estão refletidas


no artista, escritor, ator, poeta, miJsico e ainda no analista, o qual
muitas pessoas dizem ser mais um 'artista' do que um médico. Jung
representava este ponto de vista quando dizia que ele estava dese-
joso de mudar todas as suas teorias pelo benefício de qualquer um
dos seus pacientes. PI

O que podemos dizer sobre o artista que não consegue sustentar


.i
~,


a si próprio? O artista que não resolveu seu dilema da manutenção !
de dinheiro pode ser um gênio, mas ele está também doente num
senso de arquétipo de dinheiro. Se você acha que não pode sus-
tentar a si próprio como artista, talvez você devesse considerar o
fato de desistir de ser al1ista. O problema do artista, se ele vê seu
dinheiro vind o da prática da sua arte, é para compreender como
ganhar dinheiro t:om a arte. Muitos artista neuróticos não são flexí-

66
I. "eis ... "Eu posso somente trabalhar com este tamanho de tela,
neste meio .. . "Este tipo de pensamento é freq üentemente rígido e
limitante, uma vez que os artistas verdadeiros são geralmente flexí -
. veis. Muitos dos grandes mestres da pintura, ao long o da Hist' ria,
trabalh avam sob comissões, a parte poucos artistas que estavam
• muito a frente de seu tempo, o artista sem sucesso e neurótico ge-
ralmente não possui talento ou é muito inflexível. Jung previne con-
: tra O "artistas de hobby" que tentam fazer profissões dos seus ho-
'ti .
bbles."
.l

, Uma variável para se examinar no ator, músico, poeta e artista é


.; o grau de necessidade. Como está conectado a alma com a ativi-
.: dade particular ou ofício? Qual é o investimento da alma nesta ten-
. tativa, e quão profundamente enraizado se encontra este compro-
, metimento? Freqüentemente quando o talento está em falta, a alma
• e libido estão em outro lugar, que estarão refletidos no material do
i inconsciente. Isto pode soar brutal pensar na arte em termos do seu
poder aquisitivo, mas o artista deve entrar em um acordo com a rea-
i, lidade financeira. Para trabalhar na 'visão interior' sem verificação
externa em forma de conhecimento financeiro é reservada a muito
pouco ou muito ricos.
I

, A pessoa que usa truques Herméticos para ganhar um pouco de


3dinheiro para começar no mundo está trocando algo por nada? Não.
~ Ele está trocando algo pela sua inteligência. O malandro saí em
busca da riqueza. A "mentalidade do bem estar" pode ser um exer-
, cício de auto-decepção; a fantasia do recebedor de bem-estar é que
, ele está trocando algo por nada. Mas é nada ter que sacrificar a
,lauto-estima de um individuo? O recebedor que acha que está rece-
~ bendo muito está sendo enganado pelo sua própria malandragem.
; Nada vem do dada. Eu me recordo da estória no livro de Studs
~Terkel Trabalhar, onde a prostituta fala do seu deleite inicial em ga-
:nhar 50 dólares em 20 minutos e depois disto sentir que não havia
.mudado. Apenas anos mais tarde, rebaixada no seu status de call-
'.girl para prostituta de rua e viciada em heroí na, ela percebera apre-
.ço que havia pago por aquele dinheiro. Ela, havia sid o eng anada
pela sua própria malandragem . Uma pessoa pode também ser pega
no engano de casar com um esposo rico, desde que isto diminui o

67
lyU l !II\ fJ~IU UlCCI11ÇW e Icaliz r seu pl6prio potencial
II Il.. olllivu d
, ~aspalavras de Jung, isto também pode diminuir o senso de viabili-
lade da pessoa . Um analista não quer que seus pacientes sejam
")egos pelas suas próprias armadilhas; se ele pode encorajá-los a
serem engenhosos , flexíveis e ousados, muito mel hor.

Em 1911 , Jung e Freud tiveram o seguinte diálogo no qual Jung


r:hamou o problema da "falha do casamento rico" . Freud escreveu
Dara Jung

Dê o prazer a sua encantadora, inteligente e ambiciosa esposa


de sa lvar você de perder a si mesmo nos negócios do ganhar-
dinheiro . Mi nha esposa freqUentemente diz que fIcari a muilO
o rgulh osa se ela fosse capaz de fazer o mesmo por mim
Seu gosto por ganhar-dinheiro já me preocupava em conexão
com suas transações americanas . No conjunto. isto vai provar
ser um bom negócio se você renunciar a buscas costumeiras.
Então, tenho certeza, recompensas extraordinárias surgirão em
seu caminho.

Jung respondeu,

Não está tudo tão mal no que diz respeito ao meu ganhar-
dinheiro ... Eu preciso de mais práticas a fim de ganhar experi-
ência, por que não penso que saiba muito. Também, tive que
demonstrar para mim mesmo que sou capaz de ganhar dinhei-
ro para que me livrasse do pensamento de que não sou viável
Estas são todas estupidezes assustadoras que apenas podem ser
ultrapassadas se as utilizarmos na vida real (436-437)

As mulheres hoje podem estar expressando pontos de vista de


~ ung quando elas equiparam viabilidade em ganhar dinheiro. Em
3mpos passados, as mulheres podem ter achado afirmação e co-
'1hecimento através de fontes não-monetárias; no entanto isto pare-
ce estar faltando hoje.

68
o que o ponto de vista Hermético significa para o próprio analista.
Hermes que era o Deus dos artesões, dos homens que ganhavam
dinheiro através do seu labor e, em alguns mitos, de médicos, é um
arquétipo significante para analistas, Lopez Pedraza diz que "apesar
dos aspecto marginal, desonesto, malandro, ladrão e trapaceiro de
Hermes, paradoxalmente, podemos dar-lhe completo recon heci-
mento em seu papel como protetor da psicoterapia" desde "roubo
psicológico" que qualquer analista freqüentemente condescende - é
a natividade natural e básica de Hermes na psique".(31) Médicos
através da história tem sido muito bem pagos. Plínio uma vez re-

,
clamou que os médicos ganhavam "enormes quantias de dinheiro"
\ (Magno, 348) como médicos temos sorte de ter o deus do comércio
• do nosso lado.

A flutuação do padrão financeiro de terapeutas, claro, é um as-


sunto de grande preocupação para a maioria de nós. Uma velha
~ máxima diz que um paciente deve cumprir duas obrigações para
rcom seu analista: ele deve estar pontualmente presente nas suas
: sessões já marcadas e deve consistentemente pagar sua conta!
I,)'odos sabemos o que acontece aos nossos sentimentos afetuosos
e humanitários quando um paciente se recusa a pagar sua conta.
'Isto é ainda mais intolerável do que quando ele o faz esperar por ele
e não comparece e "acidentalmente" reprime a capacidade de usar
o telefone para lhe avisar. Recordo a estória que relatei no começo
deste documento sobre o interpretador de sonhos do Talmude que
modificava sua interpretação de acordo com o pagamento que lhe
era dado. Um comentário do século XIV nesta passagem, interpre-
tou que isto significava que quando o consultante falhava em pagar,
o interpretador de sonhos agia como um "inimigo em desforra".

Mesmo Freud, o primeiro a praticar nosso ofício Hermético , preo-


cupou-se em escrever muito sobre a relação do dinheiro e terapia.
Suas primeiras cartas para Wilhelm Fliess contém muitas referênci-
as que o dinheiro tinha um papel importante nos seus pensamentos
sobre sua prática. Em 1895, percebeu que estava em posição de
"pegar, escolher e começar a ditar meus honorários", (136) e ele
falava sobre "ganhar a recompensa que eu preciso para meu bem-
estar". (173) "Me caiu bem melhor ter muito trabalho", ele escreveu

69
(:11' l U' i "I_li ~_FlliI,cl /UU Iluflll S na s man a passada , por exemplo,
e você 11 ~JO g3nl13 Isto em troca de nada"(192) Mas ele acrescentou,
" eve ser muito dificil enriquecer".(192) Ele manteve-se "preocu-
pando-se e economizando", (218) corno ele mesmo dissera.

Mais tarde ocorrera uma mudança para pior: a estação de verão


era quase sempre dolorosamente lenta para ele e isto o deprimia
bastante Ele disse a Fliess, "Nós somos como os schnorrers [
mendigos] " (211) e continuava reclamando que estava empobre-
cendo, sem trabalho suficiente, tendo que pegar novos pacientes
constantemente e até atendê-los sem honorários, simplesmente
para evitar o aborrecimento total. Ele estava preocupado que seus
problemas financeiros começariam a interferir com sua auto-análise,
e sentia que, desde que estava tão cansado e deprimido, seus paci-
entes não estavam recebendo o devido tratamento pelo dinheiro que
pagavam. "É uma pena" escreveu, "Não se pode viver da interpre-
tação de sonhos",(218) (Que é exatamente o que analista Jungia-
nos podem ter sido instruídos a fazer). Suas preocupações financei-
ras deixaram-no em uma "depressão mental e material", (327) e ele
percebeu que "um péssimo estado mental não é mais produtivo do
que economizar".(322) Seu "único ponto fraco, meu medo pela po-
breza", (318) que contrastava com seus sonhos de riqueza: "A espe-
rança da fama eterna era tão bonita, e portanto de certa riqueza,
independência completa, viagem e retirar as crianças da esfera das
preocupações que estragara minha própria juventude"(217-18).
"Hoje", ele escreveu, "depois de 12 horas de trabalho e ganhando
100 florins, estou de novo no fim de minhas forças ... Assim como a
arte floresce no meio da prosperidade o mesmo acontece com aspi-
rações que somente prosperam com lazer"(275),

Portanto Freud compreendeu que o analista somente poderia fa-


zer seu melhor trabalho quando se libertasse dos seus próprios con-
- fi namentos, um dos quais pode ser a falta de dinheiro. Pode-se so-
mente fazer um bom trabalho quando você próprio não está doente.
A equ ação de Freud sobre a falta de dinh eiro como uma "depress ão
material e mental" está na tradição grega de ver a pobreza corn o
part e do processo da doença. Este tema é minuciosamente explica-

70

j
do no livro de C.A. Meier, Incubação Antiga e Psicoterapia Moder-
na

A relação paciente-analista é uma troca ; o anal ;s a carrega os


problemas dos pacientes por um determinado valor. O paciente
. ganha pelo que ele paga. Thomas Jefferson expressou está noção :
. Nunca compre o que você não quer porque é simplesmente é bara-
to, isto poderá se tornar dispendioso para você. Eu tenho em casa
um anúncio para tintas que afirma: "Não culpe o pintor. Se o pintor
tem que usar material barato para ficar de acordo com as suas idéi-
as de preço, você não pode reclamar se o serviço não durar muito.
Pague um preço justo, bom e honesto por vernizes , esmaltes e tin-

I
i tas ." Freqüentemente sinto que a mesma verdade pode ser aplicada
para um analista.

I Isto leva a uma última e discutível questão: se os analistas devem


i ou não cobrar pelas consultas que os pacientes simplesmente não
I compareceram. A regra que você cobre mesmo se o paciente não
\ comparecer está na tradição Hermética: o analista portanto está
l provendo a si mesmo, tendo certeza de que ele poderá se c;I 'sten tar
. e não se ressentir de seus pacientes. Freud pertencia a esta tradi-
ção Hermética; mesmo assim ele algumas vezes aceitava p8cientes
que não podiam pagar, ele sabia que precisava da estabilidade de
uma renda familiar para ele e sua família, para que pudesse er ca-
paz de fazer um bom trabalho. A idéia é que o paciente não está
recebendo ajuda somente durante a sessão; o anali sta investi u seu
tempo e energia em todo o pro cesso da análise , e merece ~ e r pago
por isto. Frieda Fromm-Reichmann parece concordar c m este
ponto de vi sta quando diz:

'Se rv iços psiquiátricos ..' são ine limáveis se bem suced ido (lll
sem valor se eles falham . É através destas tentati vas todavia, lue
terapeuta ganha sua vida, para que o ajuste sobre seus noranos
seja dete rm inado pelo valor do mercado de se rv iços psiC"j ui átri co~
num tempo e área determin ados.... Se o paciente [aJ repet i,jalllen1p
perde as consultas por razões inválidas , ele deve ser a veltic10 e
depois disso a cob rança dos honorá rios deve spr feita (67)

71
Mas na página seguinte do mesmo livro, ela aparentemente con-
tradiz a si mesmo: "Não é um privilégio do psiquiatra estar isento dos
costumes geralmente aceitos na nossa cultura, no qual um indivíduo
não é pago por serviços que não foram prestados"(68). Eu sugiro
que a proposta Hermética é um primeiro som para a resolução deste
problema malicioso, mas percebi que muitos analistas, podem não
se sentir confortável com isto.

Jung também era um tipo malandro de pessoa; ele disse uma vez
que ele entrara na prática da psicanálise porque acreditava que po-
deria ganhar mais dinheiro nela do que poderia ganhar no seu pri-
meiro amor que era a Arqueologia. "Eu não tinha o dinheiro" ele
disse "para ser um arqueologista ... nunca achei que tivesse qual-
quer chance de chegar a algum lugar, porque nós não tínhamos
dinheiro mesmo ... [mas] um médico pode desenvolver ... ele pode
escolher seus interesses cientiflcos"(McGuire, 428). Contudo Jung
não tinha que ganhar a vida com sua prática, e como resultado, al-
gumas pessoas reclamavam que ele muitas vezes cobrava menos
dos seus pacientes. Isto enfurecia alguns de seus colegas analistas
por que, desta forma, inadvertidamente ele fazia com que o valor
das análises fosse avaliado em menos do que o valor real e isto
também os embaraçava no que se referia aos seus próprios honorá-
rios. Jung parecia a eles insensível a obtenção de dinheiro com a
prática analítica. Ele talvez não tenha percebido isto plenamente,
freqüentemente, os analistas eram médicos que estavam vendendo ,
sua perícia a fim de ganhar dinheiro para o seu próprio sustento.
Seu Hermeticismo parecia não alcançar até o reino do dinheiro.
Fico imaginando porque. Será que ele conservava uma velha idéia
de medicina como caridade cristã? Ou talvez ele se sentisse culpa-
do sobre a origem do seu próprio dinheiro?

Gostaria de concluir com duas estólias. Uma é um conto antigo \


judeu do século XIII, que ilustra a máxima "você consegue pelo que
você paga". Um dia um pagão estava sentado e deprimido. Seu
amigo lhe perguntara, "Porque sua face está tão oprimida?" e ele
respondeu, "Tive um sonho em que estava cavalg ando em um ca-

72
valo vermelho e o cavalo estava perto de uma plataforma impura."
Seu amigo lhe dissera, "isto significa que você morrerá rapidamente
em sua cama". E então o interpretador de sonhos disse a ele, "Se
você me der algo para beber, eu compro o sonho de você ." Ele res-
pondeu "Sob esta condição vou lhe dar água - e meu sonho será
seu." E ele deu ao interpretador de sonhos algo para beber e este
morreu dois dias depois.

E finalmente, C.A. Meier noz diz que na Grécia antiga, "depois da


cura, esperava-se que o paciente anterior pagasse honorários e fi-
zesse oferendas de agradecimento. Temos exemplos em registros
1 nos quais Deus administrava uma lição marcante a devedores tar-
dios .... ordenando rapidamente uma recaída."(316) .
.
1

J
J

1
I

73
Projeções: alma e dinheiro
Adolf Guggenbühl-Craig

.1 Ainda estou para conhecer alguém que seja indiferente ao dinhei-


i ro . Alma e dinheiro é o título deste livro. 'Alma' é um termo difícil de
• ~ usar. Alguns psicólogos o evit<'lm, tentando criar uma psicologia
~ sem alma. Outros substituem o soar religioso de 'alma' pelo termo

••" mais neutro 'psique' . Sou totalmente a favor do emprego da palavra


!t'alma', apesar de, quando usada com muita freqüência, p.la soar
' pomposa ou sentimental. Não há saída: se você não usa .1 palavra
: "alma" você evita a questão básica da psicologia ; use-8 com muita

•• freqüência e ela se torna constrangedora.

, A alma é e permanece um mistério. O que é? Ond e está?


• Como é? Não podemos pegá-Ia, não podemos localizá-Ia; a alma

•• está em toda parte e em nenhum lugar. Por causa de sua caracte-


rística evasiva, temos que experimentar e reconhecer a alma princi-
palmente através da projeção . Projetar a alma nos permite li ar com
• ela. .

Por toda a história a alma foi projetada em várias coisas . huma-


nas e não humanas. A sexualidade - como um ato em si e as fanta-
sias sobre ela - é uma grande portadora de pr jeção da alma . O
desenvolvimento e a individuação da alma são vividos nele e simbo-
lizados pela sexualidade.

75
Que relacionamos dinheiro com força vital é óbvio . Pessoas ido-
sas que negarn a si qualquer luxo e reclamam amargamente do pre-
ço do aquecimento, eletricidade, comida, etc. às vezes deixam gran-
des fortunas para trás quando morrem. A consciência de que a vida
ou a energia está se esgotando leva-os a compensar acumulando
dinheiro, isto é, energia. c.-
~
Apesar dos economistas freqüentemente presumirem que o lucro
to I.
é um impulso fundamental que anima o comportamento humano, I
nós psicólogos sabemos que poucas pessoas, especialmente as C' ~
que têm sucesso, realmente trabalham por dinheiro. Por exemplo,
-- \

.'I
eu conheço um fabricante de tintas muito bem sucedido que acredita
que trabalha para fazer muito dinheiro. E ainda assim quando voc€. -': 1
fala com ele por mais de dez minutos, você vê que o que de fato o
fascina é a tinta, as diferentes cores e seu efeito nas pessoas.

Se você vive em Zurique, é quase impossível não perceber que -j

-I.'
força e poder são projetados no dinheiro. Os estrangeiros falam dos
'gnomos de Zurique'. Eles imaginam os banqueiros de Zurique
como manipuladores todo-poderosos que controlam as altas e bai-
xas da economia do mundo inteiro. Houve até um ministro Inglês I
que culpou os gnomos sulços pela queda da libra! No entanto esses
banqueiros suíços são tão incapazes de entender ou manipular o
-i
.: '
mercado financeiro quanto nós analistas às vezes somos diante de I
um paciente altamente psic6tico.
SI
t

O dinheiro é um tremendo portador de projeção. Porque o dinhei-


ro é tão sem rosto, tão n utro, tendemos a fazer projeções sobre ele
mais facilmente. Mas porque é tão importante, temos grande dificul-
dade em saber onde as projeções iniciam e onde o dinheiro de fato
começa. Quase tudo pode ser projetado no dinheiro: poder, segu-
rança, sexualidade e, de uma maneira bizarra, até a realidade. Al-
gum as pessoas pensam que o dinheiro é a realidade, a coisa real.

Nós levamos muito a sério a transferência e a contra·


transfe rência em análise, e o fazemos com razão. O paciente se
revela pelo que projeta no analista e vice-versa. Nessas projeções
mútuas a alma aparece. Os freudianos dize m - ou diziam - que o

78
t
I
I

terapeuta devia ser uma tela em branco na qual o paciente pode
projetar toda sua psique. No entanto, nós analistas não somos telas
I em branco! O paciente não apenas projeta em nós; o que ele vê e
experimenta conosco é influenciado pelo que somos.
t
O dinheiro, entretanto, é uma tela em branco. Todos projetamos

•• no dinheiro aquelas qualidades específicas características de nos-


sas psiques pessoais. Uma pergunta que quero fazer é: Por que

•• não olhamos para esta tela com mais freqüência? Apenas recente-
mente percebi que uma autêntica análise deve incluir uma ampla
contemplação das projeções do paciente e do analista sobre dinhei-

•• ro. Acho que somos um pouco cautelosos com relação a este tópico
porque ele nos toca muito profundamente como analistas. Não s6 o

••
paciente, mas também nós projetamos nossa alma específica no
dinheiro sem face.

• Como com todas as coisas da alma, muita mentira ocorre entre


paciente e analista no que diz respeito a dinheiro. Alguns pacientes
• reclamam da privação que passam pelos honorários, apesar de na
• ~ verdade serem abastados, enquanto outros pagam tão ale<)femente
• ~ que depois o analista se surpreende em saber que o honorá rio re-
.. presenta um grande sacrifício. Apesar de nossa expectativa de que
.' o paciente seja honesto em tudo - incluindo assuntos financeiros -

'I..•
I

I
: nós analistas freqüentemente nos recusamos a responder perguntas
à queima-roupa sobre nossa renda, ou mentimos.

Sobre dinheiro nos relacionamentos: o toma-Iá-dá-cá de dinheiro


é, projetivamente, experimentado repetidamente como a perda ou
ganho de alma. O dinheiro freqüentemente causa problemas entre
os pais e sua prole. Um homem de trinta anos passava suas féria
regularmente com a esposa e filhos na casa de se s pais, aceitando
a hospitalidade de seus pais sem dúvidas. Mas quando seu pai of -
receu ajuda finan ceira para que o filho pudesse com prar a casa que
queria, o filho recusou. Como resultado ele não pode comprar a
casa. O filho temia perder sua independência ou , na verdade, 'per-
der sua alma' ao aceitar o dinheiro. Independência financeira fre-
qüentem ente significa independência psicológica A relação com o
dinheiro é experimentada como relação com a alr a.

79
MUito pode ser visto em nossa relação com o dinheiro : nosso tipo
de cobiça e generosidade, o modo como amamos e odiamos, o que
tememos e o que esperamos alca nçar na vida . Psicopatolog istas
sabem que a depressão psicótica freqüentemente tem uma ligação
com dinheiro. Um homem muito rico que se !orna depressiv2mente
psicótico pensa que logo vai morrer de fome porque seu dinheiro
não vai durar. Isto obviamente é um extremo . Mais interessantes e
mais importantes em nossas práticas diárias são as projeçães sutis
que todos temos sobre o dinheiro .

E quanto a: "O dinheiro é a raiz de todo mal"?

Para muitas pessoas o dinheiro é mal, repugnante e destrutivo.


Pessoas ricas são más. O dinheiro corrompe . Todos vocês conhe-
cem o provérbio do Novo Testamento: "É mais fácil um camelo pas-
sar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino dos
Céus". O cristianismo sempre julgou o dinheiro como algo essenci-
almente maligno.

O mesmo é verdade com relação à sexualidade. O cristianismo ,e


tem todas as razões para considerar o dinheiro e a sexualidade fu- e
nestos porque sexualidade e dinheiro são os dois grandes portado-
res de projeção da alma. Como eu disse: a maioria de nós projeta a
alma nessas duas coisas , ou ao menos em uma delas. Desse modo
••
a sexualidade e o dinheiro competem com a religião. O cristianismo
pede que você projete sua alma e seu desenvolvimento, sua indivi-
duação, em Jesus Cristo. Projeções mundanas de nossa alma nos
desviam do objetivo cristão da salvação de nossa alma através de
Jesus Cristo. Na medida em que a sexualidade e o dinheiro depre-
ciam a salvação através de Jesus Cristo, eles são maléficos.

o objetivo da análise - como uma cura ou como uma maneira de


individuação, como um encontro da alma - não deve ser o de retirar
todas as nossas projeções, mas o de nos tornarmos conscientes
delas e as vivermos intensamente. Nossas próprias vidas - nossa
individuação - consiste em projetar nossas almas na sexualidade, no
dinheiro, em nosso parcd ro, nossos filhos, nossos empregos, etc., e

80
,.
li nos individualizamos através deles. O objetivo da análise não é o de

•"
impedir alguém de se apaixonar, mas o de amar mais apaixonada-
mente com alguma 'reflexão. O objetivo é o de viver nossas proje-
ções , nos agarrarmos a elas, percebendo que são projeções, que
muitos de nossos atos são apenas rituais simbólicos.

Será que devemos, ao abordar as projeções sobre dinheiro, ten-

•• tar eliminá-Ias, retirá-Ias, ou será que devemos até mesmo estimulá-


las?

•••
A resposta é óbvia: certamente não devemos eliminar e destruir
as projeções da alma que nós temos e nossos pacientes têm sobre
o dinheiro. Nós devemos até mesmo estimulá-Ias se o paciente não

:1 estiver disposto a fazê-Io. As projeçães da alma sobre o dinheiro


têm vantagens sobre outras projeçães. O que experimentamos

.!.••
através do dinheiro, o que projetamos sobre o dinheiro é muito cla-
:-~mente uma projeção, um fato sabido e profundamente gravado na
psique coletiva. As projeções da alma sobre o dinheiro são mais
,

II..
fáceis de se reconhecer - muito mais fáceis que as projeções da
Ii alma nos relacionamentos ou na arte. De algum modo é desejável

• que projetemos nossa alma no dinheiro .

'.
Em uma variante um tanto deturpada do provérbio bíblico sobre o
; homem rico, eu diria que um homem ou uma mulher que pode pro-
jetar sua alma no dinheiro tem uma chance tão' boa quanto qualquer
t. outra pessoa de ir para O céu.
I. ~~
I.
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1.
1.
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1: 81


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