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Os pontos de

secura da luz

Gabriel Cavalheiro
No princípio quando o
BIG FEZ BANG
Nós já éramos luz

Já repararam como o vento muda, quero dizer, como nos


sentimos nesses dias frios em que o vento bate nos
cabelos e produz algo que desperta na gente?

São as securas do tempo. A luz entra e a gente vê tudo


por um prisma. Através dela se vê
o caminho e, consequentemente, a pedra, o penhasco.
Evita-se o abismo.

Nos espaços vagos entre os nossos corpos ela entra. Sai.


Entra. Sai.

Se pudesse, iria até lá, até o ponto que vejo da janela


todas as noites. Imagino o meu corpo subindo com o
frescor da noite e os sons desaparecendo até não restar
mais nada além de um imenso silêncio e pequenos feixes
de luz. E de repente tudo é luz e tudo é infinito. O ponto
não é mais um ponto.
Os olhos sabem que a imagem é história, que quando a
luz reflete, se vê, não o fim, mas o todo. E quando não há
luz, é o quê?

É a luz interior, a secura interior. (todos)

É a luz distante que não pode mais sair.

Um dia, quero ser mais que matéria. A matéria não é


nada, é sombra.

No reflexo, a solidão dos monges que vigiam os cometas


que descem tão rápido quanto estrelas cadentes.

Já reparou no vento de verão? Você está deitado no seu


quarto e entra uma brisa e um vagalume: são pontos de
luz no quarto escuro, são indícios de vida no seco. Alegra-
se ao saber das possibilidades de vida. Dá pra flutuar
junto. Deixar-se. Lançar-se ao cosmos.

Se amam em noites frias os vagalumes, se amam em


secas luzes. Se amam, se amam.

Repara. Repara naquela casinha. Vejo alguém acender a


luz do quarto, olhar pela janela, então voltar a apagar a
luz e voltar para a janela. Ou seria um espelho?

Na noite quem dita as regras são os postes.

No escuro, um brilho no olho e nos dentes, um reflexo da


lua na varanda nos faz sonhar. E que belo desastre são os
nossos sonhos de lua cheia.

Canto sobre esse fascínio, ou seria sobre isso que nos


falava Van Gogh.
Poema:

Quero capturar esse instante


Que esse brilho sobre a água
Se torne eterno e doce
(de amarga já basta a vida)

Quero te mostrar como as estrelas dançam


Sobre o Ródano, quero te levar
Com esse encanto da noite, com o rio
A desaguar em cores e explosões

Quero te mostrar como o amor abre


Caminhos, os homens que controlam
os barcos já sabem que só há poesia
Em quem observa as luzes do rio

Depois do iluminismo as
Iluminuras de Rimbaud
Depois do Chiaroscuro
Luzes de Rembrandt

Mas, que luz é essa que alí aparece, naquela janela?


a janela é o oriente, e Julieta o sol.
Sobe, belo astro, sobe e mata de inveja a pálida lua.
(Romeu e Julieta)

Duvida da luz dos astros,


De que o sol tenha calor,
Duvida até da verdade,
Mas confia em meu amor.
(Hamlet)
Estrelas, escondam o seu brilho;
não permitam que a luz
veja meus profundos e escuros desejos.
(Macbeth)

Tupi or not tupi, that is the question.


(Manifesto Antropófago)

Agora, sobre a falta de luz: a escuridão do pensamento, a


escravidão do pensamento.
Quando a gente não entende o que esse ponto de luz quer nos
mostrar, pensamos que é pra parar. Quando a gente não
entende esses pontos, nos tornamos prontos a concordar com o
sujeito que entende e, não quer explicar.

- O mito da caverna!
- Mito?
- Minto?
- Mito eu minto! (todos)

Nós não somos prisioneiros da luz. Nós somos libertos


através dela.

A luz existe para iluminar os nossos sonhos


(boa parte da vida é feita de sonhos) e se
deixamos de sonhar, paramos de viver.

Esses pontos no céu, repara, consegue sentir?


ás vezes quando o burburinho dos vizinhos e
os sons dos carros na distância param,
dá quase pra ficar de todo solto no universo.

Sabe, ás vezes tudo o que precisamos é escutar.


(escutar o quê?) Shhh! O silêncio! Percebe?
Esse é o barulho do cosmos, o batuque do universo,
a fanfarra das estrelas (um forró de meteoritos).
Sabe, só precisamos prestar mais atenção, deixar
o nosso corpo celeste íntegro e entregue (íntegro/entregue).
Precisamos nos acostumar com sinfonias de silêncio.

As estrelas fazem barulho?

Existem pontos de secura na luz que são chamados a dançar.


Um ponto até o horizonte.

É o fim. Explosão. Dois pontos de luz seca se


encontram como em um grande beijo.

No fim, haverá luz!


Pois todo fim é o começo de novos fins e começos!

Muitas luzes, muitas luzes!


que dançarão
como vaga-lumes no verão.
O fim como uma peça
dramática.

Com luz
em resistência.

E todos os atores sairão


para as coxias do universo.

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