Você está na página 1de 11

PROPAGAÇÃO DE FRUTÍFERAS

1. INTRODUÇÃO
A propagação das plantas frutíferas se reveste de grande importância na fruticultura. Essa
talvez seja a etapa mais importante na implantação de um pomar. Para que se tenha sucesso, é
necessária a adoção de técnicas que visam a obtenção de mudas de qualidade, pois dela depende
o sucesso da implantação de um pomar.
Na produção de uma boa muda, alguns cuidados devem ser tomados. Embora a produção
de mudas possa ser feita, muitas vezes, com emprego de uma infra-estrutura muito simples, cada
vez mais a propagação de plantas vem lançando mão de apurada tecnologia, pois isso é muito
importante para a obtenção de mudas de qualidade no menor tempo possível. Para tanto deve-se
levar em consideração muitos aspectos, desde a legislação que estabelece as características de
uma muda padrão até as técnicas de transferência da muda para o pomar.

2. MÉTODOS DE PROPAGAÇÃO
2.1. PROPAGAÇÃO SEXUADA
Com a disseminação da semente estamos propagando uma planta pelo método de
propagação sexuada. A planta propagada desta forma é conhecida como ―Planta de pé franco‖.
A semente é o meio mais comum de propagação das plantas e muitas vezes, o único método
de propagação possível ou viável.
A propagação por sementes é usada quando os meios de propagação vegetativa não são
possíveis, como para o coqueiro e outras palmeiras, que podem ser propagadas via semente, ou
outras plantas, nas quais a propagação por sementes não traz muitos problemas ao seu cultivo,
como o mamoeiro, maracujazeiro, ou espécies precoces, tais como a pitanga-anã, o araçá-boi e
outras.
Em fruticultura a propagação por sementes tem as seguintes finalidades:
a) preparar porta-enxertos ou cavalos;
b) criar novas cultivares (melhoramento);
c) formar mudas de espécies que suportam bem a propagação sexuada conservando suas
características.
Para algumas espécies frutíferas, a propagação sexuada é ainda útil nos seguintes casos:
a) obtenção de clones nucelares (ou cultivares revigoradas), comum em espécies cítricas;
b) obtenção de plantas homozigotas
c) propagação de plantas que não podem ser multiplicadas por outro meio.
d) obtenção de plantas livres de vírus;
A principal desvantagem da propagação por sementes é o longo período exigido por algumas
plantas para atingir a maturidade, embora haja algumas exceções, como é o caso do
maracujazeiro, cujo período improdutivo é semelhante entre plantas oriundas de propagação
sexuada e assexuada. Existem casos em que a planta só entra em produção depois de sete a dez
anos, como por exemplo, a nogueira e a jabuticabeira.
Uma das características da propagação por sementes é a variação que pode existir dentro de
um grupo de plântulas. Na natureza esta propriedade é importante, uma vez que torna possível a
adaptação contínua de uma determinada espécie ao meio; em cada geração aqueles indivíduos
que estejam melhor adaptados a esse ambiente tendem a sobreviver e a produzir a geração
seguinte.
A propagação por sementes, também chamada sexual ou seminífera, deve ser feita
obedecendo a certos critérios. É importante o conhecimento da espécie e do hábito de reprodução
da planta fornecedora das sementes a qual deve ter as melhores características da espécie ou
variedade em questão, tais como: alta produção, boas características dos frutos, precocidade,
sanidade e vigor. O ideal é selecionar uma planta de meia idade, vigorosa, produtiva, precoce, com
frutos de boa qualidade, com bom sabor, baixo número de sementes ou frutos doces e que seja
sadia, isto é, não tenha doenças ou pragas.
Escolhida a planta de uma variedade para a obtenção de sementes, os frutos devem ser
colhidos, escolhidos e cortados para a extração das sementes. Os frutos devem ser colhidos já
maduros da planta. Caso contrário devem amadurecer após a colheita. Faz-se também a escolha
ou classificação das sementes, eliminando as mais leves, danificadas e de menor tamanho.

5
Nos frutos que têm polpa carnosa ou suculenta, cobrindo as sementes, como o araçá, por
exemplo, esta polpa deve ser retirada, e as sementes, lavadas em água corrente, para a retirada
da sua casca ou película. Isso faz com que a germinação seja mais rápida.
A semeadura pode ser feita em recipientes, tais como latas, sacos plásticos, tubetes, caixas
de madeira ou isopor, ou em canteiros, principalmente se a quantidade de sementes for grande. Os
recipientes devem ser sempre furados para dar vazão ao excesso de água e cheios com substratos
de boa qualidade.
A semeadura é feita colocando a semente no solo e cobrindo-a com 1 a 2 cm de terra.
Entretanto, existem sementes que podem ser colocadas mais profundamente, outras que podem
ficar ao nível do solo, para melhor germinação, dependendo do tamanho das mesmas. Em
recipientes, colocar uma a duas sementes em cada um.
A germinação dá-se dentro de 10 até 40 dias para a maioria das frutíferas. Após a
germinação, deve se ter cuidado com a lagarta-rosca, os grilos, as paquinhas e as formigas, que
cortam as mudinhas. Para as plantas propagadas via semente, o tempo necessário para a
formação da muda varia de 6 meses até um ano, dependendo do crescimento da espécie e época
de plantio.

2.2. PROPAGAÇÃO ASSEXUADA


Partes de uma planta, como a raiz, o caule, as folhas, as brotações e até mesmo o pólen, tem
a capacidade de regenerar e formar uma nova planta. Essa regeneração é possível, pois cada
célula presente nestas partes vegetais contém toda a informação genética necessária para gerar
um novo indivíduo, o que chamamos de totipotencialidade das células somáticas. Desta forma,
estamos utilizando o método de propagação vegetativo ou assexuado.
A propagação vegetativa possibilita a multiplicação de plantas que não produzem sementes
viáveis ou que não produzem quantidade suficiente de sementes ou ainda, que não as produzem,
tais como a laranja Bahia, algumas variedades de uva, a bananeira, etc.
Com a propagação vegetativa, a boa combinação de caracteres genéticos, apresentada por
certos indivíduos, pode ser perpetuada, obtendo-se plantios mais uniformes, mais produtivos, mais
precoces e com melhor qualidade dos produtos obtidos.
A propagação assexuada é especialmente útil, então, para manter a constituição genética de
um clone ao longo das gerações. O clone é definido como sendo o material geneticamente
uniforme derivado de um só indivíduo e que se propaga de modo exclusivo por meios vegetativos
como estacas, raízes, folhas ou enxertos.
Assim como na propagação sexuada, a escolha das matrizes é fundamental para o sucesso
da propagação e para a qualidade da muda. As plantas matrizes devem ser obtidas em órgãos
oficiais de pesquisa (EMBRAPA, Órgãos Estaduais, Universidades, dentre outros) ou em empresas
idôneas, ou ainda, caso haja tecnologia adequada, no próprio viveiro. Os processos de
propagação vegetativa usualmente empregados para frutíferas são: estaquia, enxertia, mergulhia
e cultura de tecidos.

2.2.1. ESTAQUIA
Estaquia é o termo utilizado para o processo de propagação no qual ocorre a indução do
enraizamento adventício em segmentos destacados da planta mãe. Estaca ou bacelo é qualquer
segmento da planta mãe, com pelo menos uma gema vegetativa, capaz de originar uma nova
planta.
As principais vantagens e desvantagens da estaquia são as seguintes:
Vantagens Desvantagens
- Maior número de plantas obtidas - Risco maior de contaminação
- Técnica de baixo custo e fácil execução - Menor longevidade
- Sem problemas de compatibilidade enxerto X porta enxerto -Sistema radicular fasciculado
- Maior uniformidade (tanto nas variedades copas e porta-enxertos) - Maior custo

2.2.1.1. CLASSIFICAÇÃO DAS ESTACAS


Quanto à época de estaqueamento, as estacas podem ser classificadas em:
a) Estacas herbáceas: coletadas no período de crescimento vegetativo (primavera/verão),
quando os tecidos apresentam alta atividade meristemática e baixo grau de lignificação;
normalmente são estacas do ápice, contendo um ou dois pares de folhas. Variam de 10 a 20 cm de
6
comprimento e exigem cuidados especiais, principalmente com relação à desidratação. Exigem um
substrato especial, poroso, com boa drenagem e devem ser cultivadas em ambiente com alta
umidade. As folhas maiores, como ocorre na goiabeira, devem ser reduzidas à metade, com o
objetivo de evitar perdas de água e também por questões de facilidade de manejo. Este tipo de
estaca enraíza em três a cinco semanas. Após o enraizamento devem ser repicadas para um
ambiente menos úmido e em substrato próprio.
b) Estacas semilenhosas - coletadas no final do verão e início do outono. Em geral, o termo
―semilenhosas‖ refere-se a estacas intermediárias entre as herbáceas e lenhosas. Os cuidados
necessários referem-se principalmente com a desidratação, por tratar-se de um material que se
encontra num metabolismo mais acentuado e muitas vezes ser uma estaca mais herbácea, porém
sem folhas.
c) Estacas lenhosas - coletadas no final do período de dormência (inverno), quando estas
apresentam a maior taxa de regeneração potencial e são altamente lignificadas. São estacas de
ano (brotadas na primavera do ano anterior), com tamanho variando de 30 a 50 cm e diâmetro de
1,5 a 2,5 cm. Devem ser cultivadas principalmente em substratos à base de solo e requerem uma
irrigação mais controlada. Normalmente enraízam de cinco a dez semanas. Devido ao grande
período que permanecem no substrato (desde o plantio até a formação completa da muda), é
necessário que o substrato esteja adequadamente nutrido.
d) Estacas de raiz: Muitas espécies com dificuldade de enraizamento por estacas, têm
grande potencial de enraizamento e brotação através de estacas de raiz. Normalmente pedaços
variando de 6 a 15 cm, quando colocados horizontalmente em leitos de substrato, enraízam e
brotam, originando uma nova planta.

2.2.1.2. FATORES QUE AFETAM O ENRAIZAMENTO DAS ESTACAS


De modo geral, a interação entre os fatores que afetam o enraizamento das estacas, e não o
estudo isolado destes, nos permite elucidar melhor as causas do enraizamento. Quanto mais difícil
for o enraizamento de uma espécie ou cultivar, tanto maior a importância dos fatores que o afetam.
Fatores internos:
a) Condição fisiológica da planta matriz: é o conjunto de características internas da
mesma, tais como o teor hídrico, condição nutricional, teor de reservas, estado fisiológico, idade da
planta, estado fitossanitário, potencial genético e balanço hormonal. O teor hídrico influencia
diretamente no enraizamento, uma vez que estacas coletadas de plantas matrizes com déficit
hídrico, tendem a não enraizar e entram no processo de seca mais rapidamente.
A condição nutricional da planta matriz afeta fortemente o enraizamento, uma vez que um
conteúdo equilibrado de P, K, Ca e Mg favorecem o enraizamento; o N é necessário para a síntese
de proteínas e ácidos nucléicos, essenciais ao enraizamento, que em excesso pode ser prejudicial;
o Zn é ativador do triptofano, precursor da auxina, devendo estar presente para que se propicie a
formação de raízes.
Estacas com gemas floríferas ou coletadas durante a floração tendem a enraizar menos do que
as provenientes de ramos vegetativos em fase de crescimento ativo.
b) Idade da planta: de modo geral, estacas provenientes de plantas jovens enraízam com
mais facilidade e isso especialmente se manifesta em estacas de difícil enraizamento.
c) Tipo de estaca: Como a composição química do tecido varia ao longo do ramo, estacas
provenientes de diferentes porções do mesmo tendem a diferir quanto ao enraizamento. Assim, em
estacas lenhosas, o uso da porção basal geralmente proporciona os melhores resultados. Fato
inverso se observa em estacas semilenhosas e herbáceas.
d) Potencial genético de enraizamento: a potencialidade de uma estaca formar raízes é
variável com a espécie e também com a cultivar.
e) Sanidade do material: Viroses, fungos e bactérias podem ocasionar a morte das estacas,
antes ou após a formação das raízes. A sanidade durante a estaquia é influenciada pelo grau de
contaminação do material propagativo, pelo substrato, pela qualidade da água de irrigação e pelos
tratamentos fitossanitários que venham a ser realizados.
f) Balanço hormonal: o equilíbrio entre os diversos reguladores do crescimento tem forte
influência no enraizamento de estacas. Assim, é necessário que haja um balanço adequado,
especialmente entre auxinas, giberelinas e citocininas. Uma das formas mais comuns de favorecer
o balanço hormonal para o enraizamento é a aplicação exógena (externa) de reguladores de

7
crescimento sintéticos, tais como o AIB (ácido indolbutirico), o ANA (ácido naftalenacético) e o AIA
(ácido indolacético), os quais elevam o teor de auxinas no tecido.
Fatores externos:
a) Temperatura: o aumento da temperatura favorece a divisão celular para a formação de
raízes; porém, especialmente em estacas herbáceas e semilenhosas, estimula uma elevada taxa
de transpiração, induzindo o murchamento da estaca. Além disso, pode favorecer o
desenvolvimento de brotações antes que o enraizamento tenha ocorrido, o que é indesejável. Com
o objetivo de estimular o enraizamento de estacas lenhosas, recomenda-se manter o substrato
aquecido, visando favorecer a divisão celular na região de formação de raízes. Temperaturas
diurnas de 21 a 260C e noturnas de 15 a 210C são consideradas adequadas ao enraizamento.
b) Luz: A importância da luz no enraizamento diz respeito à fotossíntese e à degradação de
compostos fotolábeis como as auxinas. De modo geral, baixa intensidade luminosa sobre a planta-
mãe previamente à coleta das estacas, tende a favorecer a formação de raízes, provavelmente
devido à preservação das auxinas e de outras substâncias endógenas (internas). O estiolamento
dos ramos dos quais serão retiradas as estacas facilita o enraizamento e é uma prática
recomendada, especialmente no caso de espécies de difícil enraizamento. Na região basal da
estaca, onde serão formadas as raízes, é necessário que se mantenha um ambiente
completamente escuro.
c) Umidade: Para que haja divisão celular, é necessário que as células se mantenham
túrgidas. O potencial de perda de água em uma estaca é muito grande, seja através das folhas ou
das brotações em desenvolvimento, especialmente considerando o período em que não há raízes
formadas. A perda de água é uma das principais causas da morte de estacas. Portanto, a
prevenção do murchamento é especialmente importante em espécies que exigem um longo tempo
para formar raízes e nos casos em que são utilizadas estacas com folhas e/ou de consistência
mais herbácea. O uso da nebulização intermitente permite a redução da perda de umidade pela
formação de uma película de água sobre as folhas, além da diminuição da temperatura, com
manutenção da atividade fotossintética em estacas com folhas. Por outro lado, a alta umidade
favorece o desenvolvimento de patógenos, para os quais devem ser dispensados cuidados
especiais. A nebulização pode ser instalada em telados, estufas plásticas ou mesmo no ambiente
externo. O ambiente protegido é o mais adequado para esta técnica, uma vez que permite uma
aplicação controlada da água, além de evitar o efeito do vento sobre a irrigação.
O controle dos intervalos de acionamento do sistema de nebulização pode ser efetuado
através de alguns mecanismos, tais como a folha úmida, na qual há uma superfície de tela, que
simula a superfície de uma folha. Quando esta superfície perde água a um nível pré-estabelecido, é
acionado o mecanismo da nebulização;
d) Ambiente: O substrato destina-se a sustentar as estacas durante o período do
enraizamento, mantendo sua base em um ambiente úmido, escuro e suficientemente aerado. Os
efeitos do substrato, tanto sobre o percentual de enraizamento como sobre a qualidade das raízes
formadas, relacionam-se especialmente com a porosidade, a qual afeta o teor de água retida e o
seu equilíbrio com a aeração. Diferentes materiais são utilizados como meios para enraizamento,
como, por exemplo, a areia, a vermiculíta, a cinza de casca de arroz, a casca de arroz carbonizada,
o solo e outros.
O substrato mais adequado varia para cada espécie. De um modo geral, pode-se afirmar que
um bom substrato é aquele que:
- proporciona a retenção de um teor de água suficiente para manter as células túrgidas e
prevenir contra o murchamento das estacas;
- permite uma aeração na base da estaca, de modo a permitir a iniciação e o desenvolvimento
das raízes;
- apresenta uma boa aderência à estaca;
- não favorecem a contaminação e o desenvolvimento de organismos patógenos e saprófitos;
- permite que as estacas enraizadas sejam removidas com um mínimo de dano às raízes;
- é de baixo custo de aquisição e de fácil obtenção;
- não contém qualquer tipo de substância que exerça efeito fitotóxico à estaca;
- o pH do substrato não afeta o enraizamento, sendo que para algumas espécies a diminuição
do pH favorece o enraizamento e dificulta o desenvolvimento de microorganismos. Para que haja o
enraizamento não é necessário que o substrato forneça nutrientes, uma vez que este se dá às
expensas da própria estaca.
8
e) Condicionamento: Em espécies de difícil enraizamento, alguns tratamentos podem ser
realizados previamente à estaquia favorecendo a obtenção de resultados satisfatórios. Em diversos
casos, o condicionamento é fundamental para que se possa obter um bom percentual de
enraizamento. São exemplos de condicionamento:
- Lesões na base da estaca: Especialmente em estacas que apresentam madeira velha na
sua base, os cortes nesta região favorecem a formação de calo e de raízes nas bordas da lesão.
Nesta região, a divisão celular é estimulada por um aumento na taxa respiratória e nos teores de
auxina, carboidratos e etileno na área lesionada. A lesão faz com que haja mais absorção de água
e de reguladores de crescimento, aumentando a sua eficiência. Para tanto, efetua-se um ou dois
cortes superficiais de 2,5 a 5,0 cm na base da estaca.
- Estiolamento: Entende-se por estiolamento o desenvolvimento de uma planta ou parte dela
na ausência de luz, resultando em brotações alongadas, com folhas pequenas e não expandidas e
com baixo teor de clorofila. Além disso, são encontrados em tecidos estiolados teores baixos de
lignina e altos de auxinas endógenas e de outros cofatores do enraizamento, uma vez que estes
últimos compostos são sensíveis à luz (fotolábeis). Dessa forma, o enraizamento é favorecido.
Pode-se efetuar o estiolamento de toda a planta, de todo um ramo ou de parte do mesmo.
Para tanto, faz-se uma cobertura dos ramos em desenvolvimento com plástico preto ou outro
material similar (papel alumínio, fita isolante e outros), de modo que estes cresçam na ausência de
luz. O estiolamento parcial é realizado com a cobertura apenas da base do ramo. O tempo de
estiolamento é variável conforme a espécie.
- Anelamento: Consiste na obstrução da casca de um ramo na planta matriz, de modo a
bloquear a translocação descendente de carboidratos, hormônios e cofatores do enraizamento,
permitindo a acumulação destes compostos acima do local da obstrução, região que será a base
da futura estaca. O acúmulo destes compostos favorece a formação e o crescimento das raízes.
Além disso, há um aumento da quantidade de células parenquimatosas e de tecidos menos
diferenciados. O anelamento pode ser realizado com um anel de arame ou com um corte na região
basal ou mediana do ramo de onde será retirada a estaca. O anelamento deve ser realizado assim
que o comprimento do ramo o permita, durante a fase ativa de crescimento vegetativo, de forma a
assegurar uma acumulação significativa de compostos.
- Rejuvenescimento de ramos: Estacas oriundas de ramos com juvenilidade tendem a
apresentar um percentual maior de enraizamento. Assim, qualquer técnica que permita que o ramo
retome a fase juvenil permitirá que se evite a diminuição do potencial de enraizamento à medida
que a planta matriz envelhece. Uma poda drástica da planta matriz induz à emissão de brotações
juvenis, de maior capacidade de enraizamento.
- Dobra de ramos: Esta técnica de condicionamento consiste na dobra manual dos ramos
durante a estação de crescimento. Estes ramos ficam presos à planta por uma porção de lenho e
casca até a época de utilização das estacas lenhosas (inverno). Este tipo de injúria provoca um
aumento da relação C/N e a formação de um tecido pouco diferenciado, resultante da cicatrização,
na região da dobra, com aumento da capacidade de emissão de raízes.
- Tratamento com reguladores de crescimento: O uso de reguladores de crescimento tem
por finalidade aumentar a percentagem de estacas que formam raízes, acelerar sua iniciação,
aumentar o número e a qualidade das raízes formadas e aumentar a uniformidade no
enraizamento. Alguns reguladores, como as auxinas sintéticas, podem inibir o desenvolvimento das
gemas e, conseqüentemente, dos ramos. Esta prática destina-se a estabelecer um balanço
hormonal favorável ao enraizamento. Em geral, são utilizadas auxinas sintéticas (AIB, ANA, AIA,
2,4-D), que visam elevar o conteúdo hormonal nos tecidos da estaca. O tratamento com citocininas
estimula o desenvolvimento das brotações adventícias, o que é importante, caso se trabalhe com
estacas de folhas ou de raízes.
A melhor substância promotora do enraizamento, bem como as concentrações e métodos de
utilização mais adequados para uma determinada situação, variam com a espécie e com o tipo de
estaca.
- Tratamento com fungicidas: Uma vez que a estaca, especialmente antes e logo após o
enraizamento, é bastante vulnerável ao ataque de microorganismos e se encontra num ambiente
favorável à proliferação de doenças, a proteção com o uso de fungicidas constitui-se numa prática
importante para a sobrevivência das estacas neste período. Em alguns casos, o enraizamento foi
aumentado com uso do fungicida Captan. Entretanto, não está claro se este aumento se deve ao
controle de doenças ou a um aumento da ação do regulador de crescimento, até mesmo como
ativador da síntese de auxina no tecido da estaca.
9
- Uso de nutrientes minerais: Objetiva favorecer a condição nutricional da estaca para o
enraizamento. A adição de compostos nitrogenados estimula o enraizamento em diversas classes
de plantas, possivelmente pelo fato de estes compostos intervirem em interações hormonais. A
adubação de estacas de videira com zinco resultou em maior enraizamento e desenvolvimento de
raízes, devido possivelmente a um incremento no teor de triptofano, precursor da auxina, do qual o
Zn é ativador. A adubação de plantas matrizes de ameixeira com zinco e boro também aumentou
os teores de triptofano nas estacas, favorecendo o enraizamento.
2.2.1.3. CUIDADOS DURANTE E APÓS O ENRAIZAMENTO
A divisão celular e o enraizamento somente ocorrem em tecidos com células túrgidas e,
portanto, o principal cuidado a ser tomado durante o enraizamento é a manutenção de um
adequado teor de água no substrato e na parte aérea da estaca. Isto é importante tanto quando se
trabalha com estaquia direta em viveiro, na qual deverá ser prevista a implantação de um sistema
de irrigação, quanto com estacas folhosas, como citado no item anterior. Especialmente quando se
trabalha com nebulização, a aplicação de água para manter as folhas úmidas implica em saturação
com água do substrato e, por isso, a drenagem da água também deve merecer atenção, pois o
excesso hídrico prejudica o enraizamento.
Por outro lado, deve-se dar atenção ao manejo fitossanitário, com a utilização de tratamentos
periódicos de fungicidas, de modo a reduzir o ataque de patógenos, principalmente fungos
saprófitos sobre as estacas, especialmente considerando-se que um ambiente de elevada umidade
favorece a proliferação de doenças. O monitoramento da ocorrência de doenças é muito importante
neste sentido. Para diminuir o potencial de inóculo, deve-se eliminar as folhas caídas e as estacas
mortas. No caso de estaquia em viveiro, deve-se dar atenção à ocorrência de plantas invasoras e
pragas. O manejo após o enraizamento depende da estrutura de propagação adotada. Se utilizada
a estaquia direta no viveiro, deve-se repicar as mudas para um local com maior espaçamento, onde
estas crescerão até serem comercializadas. O desplante (extração das estacas enraizadas) deve
ser preferencialmente realizado em dias com baixa temperatura, nublados e com ventos fracos.
Para minimizar a morte das mudas após o transplante, deve-se prever o uso da irrigação.
Uma vez que o ambiente em uma casa de vegetação é muito diferente do ambiente externo,
tão logo tenha se formado um sistema radicular abundante, deve-se diminuir gradativamente a
aplicação de água, reduzindo a umidade sobre as folhas e aumentando a aeração do substrato, de
modo a permitir que haja uma aclimatação das mudas e uma menor perda de plantas no viveiro.
2.2.2. ENXERTIA
A enxertia é o método de propagação assexuada que consiste em se unir duas ou mais
porções de tecido de modo que a união destas partes venha a constituir-se em uma nova planta. É
um dos principais métodos de propagação e é largamente utilizado em um grande número de
espécies, tais como os citros, pessegueiro, ameixeira, goiabeira, macieira, pereira, abacateiro,
entre outros. A grande importância da enxertia deve-se ao fato de que, na verdade são conjugados
os aspectos favoráveis (vigor, tolerância a fatores bióticos e abióticos adversos, produtividade,
entre outros) de duas ou mais plantas às quais podem ser de uma mesma espécie ou de espécies
ou até mesmo gêneros diferentes.
As partes que compõem uma planta propagada por enxertia são:
a) Porta-enxerto ou cavalo: parte que confere o sistema radicular à planta propagada,
podendo ser proveniente de sementes ou de propagação vegetativa. Porta-enxertos oriundos de
sementes, em geral, são mais vigorosos e apresentam sistema radicular pivotante e mais profundo.
Porta-enxertos oriundos de propagação vegetativa como a estaquia ou a mergulhia podem ser
menos vigorosos, porém são geneticamente mais uniformes;
b) Enxerto, borbulha, garfo ou cavaleiro: parte que irá originar a parte aérea da planta e
pode consistir de um segmento de ramo com uma ou duas gemas (garfo) ou de uma gema com
uma pequena porção de casca (borbulha). O enxerto deverá ser retirado de uma planta com todas
as características da cultivar, bem como que tenha ultrapassado o período da juvenilidade, assim,
tão logo haja área foliar suficiente para percepção dos estímulos indutores do florescimento e para
sustentação dos frutos, a planta irá produzir, reproduzindo fielmente as características da planta-
mãe.
2.2.2.1. Finalidades do uso da enxertia
a) Aproveitamento de características favoráveis do porta-enxerto: O porta-enxerto pode
definir diversas características importantes da copa, tais como o vigor, a produtividade, a qualidade
dos frutos, a resistência a fatores adversos, dentre muitos outros. Além disso, os porta-enxertos
10
diferem na sua adaptação a condições dos solos, clima, ocorrência de pragas e doenças. Desta
forma, é possível trabalhar como uma mesma cultivar copa em diferentes condições ambientais;
b) Propagação de plantas com difícil multiplicação por outros métodos: se a propagação
de uma planta por sementes ou por estacas, ou ainda por outro método for pouco viável, a enxertia
permite que se possa propagar esta planta.
2.2.2.2. Fatores que afetam o pegamento do enxerto:
a) Incompatibilidade: é um dos principais fatores que prejudicam o rendimento na enxertia.
Duas plantas são consideradas incompatíveis quando não formam, entre as partes enxertadas,
uma união perfeita. Entre os principais, sintomas de incompatibilidade, podem ser citados: a) falta
de união entre o enxerto e porta-enxerto; b) diferenças entre o diâmetro do enxerto e o do porta-
enxerto; c) amarelecimento e desfolhamento do enxerto; d) pouco crescimento vegetativo; e) morte
prematura da planta; f) maior susceptibilidade de planta a condições desfavoráveis de ambientes.
Uniões incompatíveis são freqüentemente encontradas quando da enxertia entre plantas com grau
de parentesco distante (o limite é a família), com exigências nutricionais distintas, com
metabolismo, vigor e ciclo de vida diferentes, com diferenças na consistência dos tecidos ou sem
afinidade anatômica;
b) Condições ambientais: as condições ambientais antes, durante e depois da enxertia
afetam fortemente o pegamento dos enxertos. Temperaturas muito elevadas favorecem a
desidratação do enxerto, bem como temperaturas muito baixas não favorecem o processo de
cicatrização. A água é essencial para a divisão celular, desse modo, a umidade muito baixa do ar
favorece a desidratação e prejudica o pegamento; a baixa umidade do solo dificulta o
desprendimento da casca, prejudicando a realização da enxertia, principalmente de borbulhia. As
trocas gasosas devem ser mantidas durante a cicatrização, assim, deve-se evitar a completa
asfixia na região da enxertia. Excessiva luminosidade pode estar associada à elevada desidratação
do enxerto. A realização da enxertia em áreas desprotegidas e sujeitas a ventos fortes pode levar
ao insucesso, visto que o vento não apenas favorece a desidratação do enxerto como também
ocasiona a quebra na região da enxertia antes do seu completo pegamento;
c) Sanidade: é necessário que tanto o porta-enxerto quanto o enxerto apresentem as
melhores condições fitossanitárias;
d) Idade do material utilizado: uma vez que, quanto maior a idade dos tecidos, menor a
atividade celular e a capacidade de cicatrização; é recomendável que tanto o enxerto quanto o
porta-enxerto sejam mais jovens;
e) Época de realização da enxertia: a época mais adequada para a realização da enxertia
depende da espécie e do tipo de enxerto a ser realizado;
f) Técnica da enxertia: para que haja o pegamento, os câmbios do enxerto e do porta-
enxerto devem estar em perfeito contato e representam uma das principais causas de baixo
pegamento relativas à técnica da enxertia Outras causas são: cortes desuniformes, danos
mecânicos à gema, demora no amarrio, ferramentas inadequadas ou pouco afiadas, desidratação
dos ramos borbulheiros, falta de habilidade do enxertador, erros na polaridade do enxerto
(colocação do enxerto invertido) e oxidação de compostos fenólicos nos tecidos seccionados.

2.2.2.3. Principais métodos de enxertia


2.2.2.3.1. Borbulhia
Quando o enxerto consiste de uma gema com uma pequena porção de casca, com ou sem
lenho. Este método é muito utilizado para a propagação dos citros.
Existem diversas técnicas de enxertia de borbulhia, dentre as quais podem ser citadas as
seguintes:
a) Borbulhia em T normal: que consiste na incisão do porta-enxerto (com diâmetro em torno
de 6 a 8 mm) na forma de um corte vertical de cerca de 3 cm de comprimento, em cujo ápice é feito
um corte horizontal. Com estes cortes, abre-se um espaço para introdução da gema. Estes cortes
normalmente são feitos a uma altura de 20 a 25 cm a partir do colo da planta. A gema é obtida da
porção mediana de ramos da última estação de crescimento. Com um canivete bem afiado, retira-
se a gema (sem lenho) e introduz-se a mesma na incisão feita no porta-enxerto. Deve-se ter o
cuidado de fazer a operação o mais rápido possível, para evitar que ocorra a desidratação e a
oxidação da gema e do porta-enxerto. Após, faz-se o amarrio, utilizando-se uma fita de polietileno,
a qual deverá ser retirada tão logo o enxerto tenha brotado.
b) Borbulhia em T invertido: feito de modo semelhante ao anterior, porém diferindo quanto à
forma da incisão - o corte horizontal é realizado na base do corte vertical.
11
c) Borbulhia de gema com lenho: a utilização é justificada quando a casca não se
desprende facilmente, dificultando a enxertia em T. Assim, retira-se a gema com uma porção de
lenho, a qual é introduzida no porta-enxerto em uma incisão de mesmo tamanho da borbulha.
d) Borbulhia em placa ou escudo: que consiste em se abrir uma placa quadrada ou
retangular no porta-enxerto, bem como em retirar-se uma pIaca com as mesmas dimensões do
ramo as gemas.
e) Borbulhia em anel: na qual é retirado, tanto no porta-enxerto quanto no ramo com as
gemas, um anel de casca, ambos de iguais dimensões, para que o anel contendo a gema seja
introduzido no porta-enxerto.
2.2.2.3.2. Garfagem
Quando o enxerto consiste em um garfo, ou segmento de ramo contendo duas ou mais gemas.
Pode ser realizada tanto em ramos quanto com raízes. As mudas de mangueiras são comumente
formadas por enxertia de garfagem em porta-enxertos resistentes à "Seca da Mangueira".
Entre as técnicas de garfagem mais conhecidas, podem ser citadas:
a) Garfagem em fenda cheia, que consiste na introdução de um garfo em forma de cunha,
cuja base é afilada com um canivete, em um corte longitudinal feito em todo o diâmetro do porta-
enxerto, amarrando-se logo após com fita plástica. Podem ser colocados dois garfos por porta-
enxerto quando este apresenta grande diâmetro.
b) Garfagem em fenda simples, também chamada de inglês simples, consiste em se fazer
cortes em biseI tanto no enxerto quanto no porta-enxerto, justapondo-se as duas partes e
amarrando-se com fita plástica logo após.
c) Garfagem em fenda dupla, também chamada de inglês complicado, é semelhante à
técnica anterior, diferindo pelo fato de serem feitas uma incisão transversal na base do garfo e
outra, no ápice do porta-enxerto. Isso aumenta muito a aderência e o pegamento entre as partes
justaposta.
2.1.2.3.3. Encostia
Quando é feita a união lateral de plantas com sistemas radiculares diferentes, para, após a
união do enxerto, separar uma das plantas do seu sistema radicular e a outra, da sua parte aérea.
Tem pouco uso em nível comercial. Há diversas técnicas de encostia, podendo ser citadas as
seguintes:
a) Encostia lateral simples: na qual é feito um corte na superfície da casca do enxerto e do
porta-enxerto, unindo-se, após, as superfícies com fita de polietileno, ráfia, barbante ou outro
material.
b) Encostia em lingueta: semelhante a anterior, porém é feito um segundo corte em ambas
as partes, de forma a proporcionar um encaixe entre o porta-enxerto e o enxerto.
c) Encostia no topo: semelhante a encostia lateral simples, porém, neste caso, o porta-
enxerto é cortado em bisel no seu ápice.

Quanto à época de realização, a enxertia pode ser classificada nos seguintes tipos:
a) Enxertia de inverno: realizada quando as plantas estão no período de repouso vegetativo,
característico em espécies de clima temperado. Na enxertia de inverno é utilizada principalmente a
garfagem, embora possa também ser utilizada a borbulhia em placa. Por se trabalhar,
normalmente, com tecidos mais Iignificados, o risco de desidratação é menor, ocasionando bons
índices de pegamento.
b) Enxertia de primavera-verão: também conhecida como enxertia de gema ativa,
normalmente é realizada no período de crescimento vegetativo intenso. Como as células estão em
plena atividade metabólica e mitótica, os tecidos cicatrizam com mais facilidade e há bom e rápido
pegamento. Além disso, há maior facilidade em se desprender a casca para introdução da gema.
Porém, por se trabalhar com tecidos mais tenros e em épocas de temperaturas mais elevadas, os
cuidados com a desidratação (amarrio, sombreamento e irrigação) devem ser mais intensos.
Normalmente, é utilizada, neste caso, a enxertia de borbulhia, embora também possam ser
utilizados outros métodos. Utilização de garfagem, nesta época, implica em se cobrir a região do
enxerto ou toda a planta enxertada com um saco plástico transparente, que atua como uma câmara
úmida, reduzindo a desidratação.
No caso da borbulhia, após vinte e um dias, retira-se o plástico e em seguida deve-se forçar
o pegamento do enxerto, através de uma decepa acima do ponto de enxertia, encurvamento do
ramo acima do ponto de enxertia ou decepa parcial deste. Aos 10 a 15 dias após a brotação do
12
enxerto, é retirada a parte dobrada do porta-enxerto e, quando a brotação da borbulha tiver 10 a 15
cm, faz-se um corte em biseI pouca acima do ponto de enxertia.
c) Enxertia de verão-outono: também conhecida como enxertia de gema dormente e é
realizada de forma semelhante à enxertia de gema ativa, diferindo, no entanto, pelo fato de não ser
feita à dobra da copa do porta-enxerto logo após a retirada do plástico, senão somente na
primavera seguinte. Este tipo de enxertia é adotado quando os porta-enxertos não atingem
diâmetro suficiente para a enxertia de primavera-verão — desta forma, a enxertia de verão-outono
permite o aproveitamento desse porta-enxerto.
Além destes métodos, há outras formas especiais de enxertia. Sua utilização em nível
comercial é bem mais restrita, mas podem ter aplicação em casos particulares. Estas formas
especiais são:
- Sobre-enxertia: na qual o porta-enxerto é uma planta adulta, já previamente formada. A
sobre-enxertia é útil em casos em que a copa foi seriamente danificada por pragas ou doenças, em
caso de necessidade de troca da cultivar-copa e quando da falta de plantas polinizadoras em um
pomar. Normalmente é feita por garfagem (fenda cheia ou fenda dupla), substituindo total ou
parcialmente a copa. Desta forma, é possível produzir-se, em uma mesma planta, diferentes
cultivares.
- lnterenxertia: caso em que é interposto um enxerto intermediário entre porta-enxerto e o
enxerto, normalmente, através de garfagem. É útil principalmente, em duas situações: quando o
enxerto e o porta-enxerto são incompatíveis entre si, devendo-se utilizar um interenxerto
compatível cor ambos, e quando há necessidade de controlar o vigor da copa devido à porta-
enxerto induzir elevado vigor.
Esta forma de enxertia é utilizada, por exemplo, em macieiras, com a inclusão do porta-
enxerto M-9 (ananizante) entre o cavalo denominado Maruba (de crescimento vigoroso) e a cultivar
copa, visando controlar o vigor da planta.
- Enxertia de ponte: realizada quando a planta apresenta um dano significativo na casca, a
ponto de interromper o fluxo de água, nutrientes e assimilados. Neste caso, a enxertia,
normalmente de garfagem, permite que sejam colocados ramos sobre a região danificada, de modo
a restabelecer fluxo normal de substâncias.
2.2.2.4. Técnicas da enxertia
A enxertia é um método que exige, fundamentalmente, habilidade e cuidados na sua
realização. Para tanto, um bom treinamento do enxertador é o primeiro passo para o sucesso da
enxertia.
Para a realização da enxertia, são necessárias algumas ferramentas básicas como tesoura
de poda, canivete de enxertia, pedra de afiar, etiquetas e produtos para desinfestação
(normalmente, é utilizado o hipoclorito de sódio). Além disso, os materiais para amarrio e proteção
são indispensáveis; para tanto, são utilizados fios de ráfia ou barbante e fitas de polietileno e mais
recentemente o uso de parafina derretida (60 0C). A parafina reduz a perda de água e a entrada de
microorganismos e o fio de ráfia ou barbante dá sustentação ao conjunto porta-enxerto / enxerto.
Assim, devem ser utilizados em conjunto. As fitas de polietileno, além de manter a união da
enxertia, reduzem a desidratação do enxerto, as trocas gasosas e a entrada de microorganismos.
Sacos plásticos, colocados sobre o conjunto porta-enxerto / enxerto são úteis como câmara úmida,
no caso de ser realizada a enxertia de garfagem no período de primavera-verão. As máquinas de
enxertia são ferramentas extremamente úteis na enxertia em escala comercial, quando se trabalha
com grandes volumes de mudas ou não se dispões de pessoal com grande habilidade.
O local de realização da enxertia pode variar conforme a época de enxertia. A enxertia de
inverno pode ser realizada no viveiro (enxertia de campo) ou em galpões (enxertia de mesa), ao
passo que a enxertia de primavera/verão e a do verão/outono é realizada no viveiro ou em telado
(no caso de se trabalhar com mudas em recipientes).
2.2.3. Mergulhia
É o método de propagação assexuada no qual o enraizamento de uma porção da planta,
normalmente um ramo, é obtido com esta porção ainda unida com a planta-mãe. Após a formação
de raízes, a porção enraizada é destacada da planta-mãe.
A mergulhia é utilizada comercialmente na propagação de porta-enxertos de macieira
(mergulhia de cepa), de mudas de lichieira e nogueira macadâmia (alporquia), entre outras
espécies. A mergulhia é especialmente interessante para propagar espécies com grande
dificuldade de formação de raízes.
13
Os fatores que favorecem a regeneração de plantas através da mergulhia são a ausência de
luz (que provoca estiolamento do ramo e, por conseqüência, acúmulo de auxinas e redução dos
teores de lignina e de compostos fenólicos), cobertura com solo úmido e poroso, nutrição adequada
e elevada atividade fisiológica da planta mãe, pouca idade dos ramos, aplicação de fitorreguladores
e prática de anelamento.
2.2.3.1. Classificação da mergulhia
Há dois tipos de mergulhia - a mergulhia no solo (de cepa, simples normal e contínua) e a
mergulhia aérea ou alporquia.
a) Mergulhia de cepa: na qual a planta matriz sofre, inicialmente, uma poda drástica a cerca
de cinco cm do solo. Isto estimula a emissão de brotações jovens, as quais serão posteriormente
cobertas com solo. Após o enraizamento as brotações enraizadas são destacadas da planta-mãe,
qual pode ser novamente utilizada para um novo ciclo de produção de mudas. De todas as formas
de mergulhia, a de cepa é a mais utilizada em nível comercial, pois apresenta bons resultados,
principalmente na propagação de macieiras;
b) Mergulhia simples normal: onde a porção mediana do ramo é enterrada no solo. A
jabuticabeira podeser propgada por este método;
c) Mergulhia contínua: o ramo é enterrado no solo continuamente;
d) Mergulhia aérea ou alporquia: é uma prática que consiste em se envolver um ramo com
substrato de enraizamento (musgo, solo ou outro material que proporcione boa aderência),
acondicionado em plástico ou papel alumínio. A adoção da alporquia justifica-se em espécies de
difícil enraizamento, quando há dificuldade de levar o ramo até o solo. É uma prática trabalhosa e,
portanto, de baixo rendimento. O anelamento e a aplicação de fitorreguladores pode aumentar o
percentual de alporques enraizados.
2.2.4. Estruturas especializadas
Por estruturas especializadas entende-se como sendo os órgãos (caules ou raízes
modificados) que podem também atuar como órgãos de reserva de nutrientes e assimilados. Em
muitos casos, este órgãos podem ser utilizados na propagação vegetativa. São exemplos destas
estruturas os estolões, os rizomas e os rebentos.
a) Estolões - utilizados na propagação do morangueiro, são definidos caules aéreos
especializados, mais ou menos horizontais. Os estolões surgem em plantas com caules em roseta,
nas bases ou na coroa. Estas estruturas são emitidas em fotoperíodos longos (12 horas ou mais).
No segundo nó do estolão há formação de uma nova planta, seguida da formação do seu sistema
radicular. Esta planta poderá ser utilizada como muda. A propagação através destas estruturas é
bastante utilizada em morangueiro.
b) Rizomas - são utilizados na propagação da bananeira. Os rizomas são caules
subterrâneos que, a partir de suas gemas, formam novas brotações às quais originarão novos
pseudocaules e passarão a ter o seu próprio sistema radicular. Na propagação faz-se a divisão dos
rizomas, sendo que cada parte dividida deverá ter pelo menos duas gemas.
c) Rebentos – são brotações que surgem em alguma região da planta, como por exemplo,
dos rizomas. A propagação através destas estruturas é bastante utilizada em abacaxizeiro.
2.2.5. Cultura de tecidos e de meristemas
É feita em laboratório apropriado e utiliza tecido do vegetal, o qual é cultivado em meios de
cultura artificiais, ―in vitro‖, ou pela micropropagação ou microenxertia, utilizada para algumas
frutíferas.

14
15

Você também pode gostar