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1

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA


DE SÃO PAULO - CÂMPUS AVARÉ

LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

JOSÉ ROBERTO SILVA DOS SANTOS

Relação Cortisol - Estresse em cães: uma revisão


bibliográfica

AVARÉ – SP

2022
2

JOSÉ ROBERTO SILVA DOS SANTOS

Relação Cortisol - Estresse em cães: uma revisão


bibliográfica

Trabalho de conclusão de curso,


apresentado ao curso de Licenciatura
em Ciências Biológicas do Instituto
Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de São Paulo - Câmpus
Avaré, como requisito parcial à obtenção
do título de licenciado em Ciências
Biológicas.

Orientadora: Profª Drª Geza Thais


Rangel e Souza.

AVARÉ – SP

2022
3

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação


Instituto Federal de São Paulo – Câmpus Avaré
Gerado automaticamente mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

S237rr SANTOS, JOSÉ ROBERTO SILVA DOS

Relação Cortisol - Estresse em cães: uma revisão bibliográfica / JOSÉ


ROBERTO SILVA DOS SANTOS. — Avaré: IFSP, 2022. 32f.

Trabalho de conclusão de curso (Licenciatura em Ciências Biológicas) —


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo: Avaré,
2022.
Orientador(a): Dra. Geza Thais Rangel e Souza

1. Cortisol. 2. Cães. 3. Estresse. 4. Maus-tratos. I. Geza Thais Rangel


e Souza. II. Relação Cortisol - Estresse em cães: uma revisão bibliográfica.

CDU: 591.1
i
i

A minha esposa Rita de Cássia.


ii

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos que acreditaram em mim.

A minha esposa Rita de Cássia que me apoiou e incentivou ao decorrer do curso.

A minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Geza Thais Rangel e Souza, pela paciência e
resiliência com a minha pessoa, não apenas durante a elaboração deste
trabalho, mas também pela parceria em toda a jornada do curso.

Agradeço também ao curso de Licenciatura em Ciência Biológicas, oferecido


pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo. As
professoras, Geza Thais Rangel e Souza, Lívia Cristina dos Santos, Tarsila
Ferraz Frezza, que contribuíram para minha formação.

A minha amiga Ana Claudia Cordoni Morais que se fez presente em muitos
momentos.

E aos cães, nossos amigos e companheiros, que para mim são mais que
especiais por fazerem parte da minha rotina, como parceiros de trabalho.
iii

"A fidelidade de um cão é um presente precioso exigindo


não menos responsabilidades morais do que a amizade
de um ser humano."

Konrad Lorenz
iv

RESUMO

A história evolutiva dos cães domésticos se caracteriza por descenderem dos


lobos cinzentos (Canis lupus), e que se assemelham em 71 de 90 padrões
comportamentais. A relação entre humanos e cães formou uma combinação que
traz benefícios mútuos até hoje. Os cães se destacam no auxílio de pessoas com
deficiência visual, auditiva e identificam sinais de epilepsia, atuam no pastoreio,
realizam resgates, estão presentes em sessões de terapia e em asilos. O termo
“bem-estar animal” surgiu na Inglaterra, na década de 1960 com a divulgação do
livro “Máquinas Animais”, escrito por Ruth Harrison. O bem-estar animal deve
ser avaliado a partir de escalas que podem variar de muito pobre a muito bom e
os maus-tratos aos animais domésticos vêm a ser uma preocupação do mundo
moderno visando a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental
propícia a vida, os pilares fundamentais da sociedade. Maus-tratos como o ato
de submeter um indivíduo a tratamento cruel, trabalhos forçados e/ou privação
de alimentos ou cuidados, essas atitudes são praticadas pelas pessoas por
motivos culturais, sociais e psicológicos, sendo muitas vezes praticado sem
consciência de qual ato é prejudicial. As mensurações bioquímicas do cortisol
têm se mostrado importantes referências para a avaliação da dor e do estresse
por meio indireto. O presente estudo se propôs investigar os estudos que
abordaram a temática “análise dos níveis de cortisol em cães domésticos” nos
últimos 5 anos. Foi realizada uma pesquisa na plataforma GOOGLE
ACADÊMICO e selecionados 9 estudos, após a aplicação de três critérios de
exclusão. A pesquisa apontou baixo número de estudos voltados ao tema bem
como o baixo número amostral, alguns autores justificam relatando o alto custo
dos exames necessários para a mensuração do cortisol. Esta revisão também
demonstrou que o sexo do animal bem como se o mesmo é castrado ou não,
influencia na concentração de cortisol.

Palavras-chave: Cortisol. Cães. Estresse. Maus-tratos.


v

ABSTRACT

The evolutionary history of domestic dogs is characterized by their descent from


gray wolves (Canis lupus), which resemble each other in 71 out of 90 behavioral
patterns. The relationship between humans and dogs formed a combination that
brings mutual benefits to this day. Dogs stand out for helping people with visual
and hearing impairments and identifying signs of epilepsy, working in the herding,
performing rescues, they are present in therapy sessions and in nursing homes.
The term “animal welfare” emerged in England in the 1960s with the publication
of the book “Animal Machines”, written by Ruth Harrison. Animal welfare must be
evaluated from scales that can vary from very poor to very good, and the
mistreatment of domestic animals has become a concern of the modern world,
aiming at the preservation, improvement and recovery of the environmental
quality conducive to life, the fundamental pillars of society. Mistreatment such as
the act of subjecting animal to cruel treatment, forced labor and/or deprivation of
food or care, these attitudes are practiced by people for cultural, social and
psychological reasons, often being practiced without awareness of which act is
harmful. Biochemical measurements of cortisol have been shown to be important
references for the assessment of pain and stress through indirect means. The
present study aimed to investigate the studies that approached the theme
“analysis of cortisol levels in domestic dogs” in the last 5 years. A search was
carried out on the GOOGLE SCHOLAR platform and 9 studies were selected,
after applying three exclusion criteria. The research showed a low number of
studies focused on the subject as well as the low sample number, some authors
justify reporting the high cost of the tests necessary for the measurement of
cortisol. This review also demonstrated that the sex of the animal, as well as
whether it is castrated or not, influences the cortisol concentration.

Keywords: Cortisol. Dogs. Stress. Mistreatment.


vi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Principais informações das pesquisas realizadas...............................19

Tabela 2. Critérios de exclusão aplicados aos artigos selecionados. 1. Artigos


não referentes a cães domésticos; 2. Revisão de literatura; 3. Artigos que não
analisam cortisol em cães..................................................................................22

Tabela 3. Informações extraídas dos artigos selecionados: Autores, ano, número


amostral (N), a quantidade de machos, fêmeas, castrados................................26
vii

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Quantidade de publicações que abordaram a temática entre os anos


2017 e 2021........................................................................................................24
viii

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Comparação entre as diferentes medidas do cortisol extraído de cães


por diferentes métodos…...................................................................................17

Quadro 2. Título e palavras-chave dos artigos analisados na primeira


pesquisa.............................................................................................................22

Quadro 3. Artigos incluídos na revisão, sobrenome do autor, ano, local de


publicação, título, instituição e endereço de link eletrônico.................................23
Quadro 4. Autores, ano da publicação, objetivo geral e metodologia de coleta
para do cortisol em cães nos artigos selecionados ............................................24
ix

SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 14
2. CORTISOL .......................................................................................................... 16
3. OBJETIVOS ........................................................................................................ 18
3.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................... 18
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................. 18
4. METODOLOGIA.................................................................................................. 18
5. REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................. 19
5.1. INTERAÇÃO HUMANO-CÃO ........................................................................... 19
5.2 O CORTISOL NA INTERAÇÃO HUMANO-CÃO ............................................... 20
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................... 21
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 27
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 27
14

1. INTRODUÇÃO

Em um breve passeio no parque se pode observar uma interação


explícita entre humanos e os cães domésticos (Canis lupus familiaris), mas o
início desta relação ainda é debatido pelos cientistas. Frantz et al. (2016) sugeriu
que o processo de domesticação ocorreu de maneira livre na parte oriental e
ocidental da Eurásia, partindo de populações distintas de ancestrais canídeos há
cerca de quinze mil anos.
Segundo Caetano (2010), a relação entre animais e o ser humano teve
início na pré-história, onde os animais eram utilizados como forma de proteção
ao território onde esses humanos viviam, auxiliavam também na caça e
transporte de cargas e humanos. A história evolutiva dos cães domésticos se
caracteriza por descenderem dos lobos cinzentos (Canis lupus), e que se
assemelham em 71 de 90 padrões comportamentais como marcação de
território, convivência em matilha, reprodução uma ou duas vezes ao ano,
instinto de predação (BEAVER, 2004).
Conforme Coppinger e Coppinger (2001), a relação entre humanos e
cães formou uma combinação que traz benefícios mútuos até hoje. Os cães
atuam em várias tarefas perante a sociedade, desde companheiros no nosso
dia-a-dia a até farejadores de narcóticos e explosivos (GOLDBLATT, 2009).
Caetano (2010) diz haver indícios da importância dos animais na
socialização do homem no século XVII e essa mudança de comportamento
aproximou o cão do ser humano.
Raísa e Marciane (2016) avaliam que conforme essa interação foi
evoluindo, surgiram também abstrações a respeito da utilização de animais
como recurso terapêutico. Corroboram Lima e Souza (2004, p. 162), “nas últimas
décadas, tem crescido o interesse por parte dos técnicos de saúde em introduzir
animais, principalmente cães, em contextos terapêuticos”.
Catala et al. (2019) destaca o trabalho dos cães no auxílio de pessoas
com deficiência visual e auditiva, com epilepsia (já que identificam os sinais antes
de crises), atuam no pastoreio, realizam resgates, estão presentes em sessões
de terapia e em asilos. Os cães são como “catalisadores sociais”, promovendo
a comunicação e o contato entre as pessoas (KOTRSCHAL, 2018).
15

A questão que enfrentamos hoje é: “essa relação é benéfica para ambas


as espécies?”. Reigota (2010) define “cuidado” como uma relação amorosa
desassociada de interesses utilitaristas e pertencentes à base do humano,
provocando a preocupação e fazendo surgir o sentimento de responsabilidade e
solidariedade.
Segundo Pulz (2013) o termo “bem-estar animal” surgiu na Inglaterra, na
década de 1960 com a divulgação do livro “Máquinas Animais”, escrito por Ruth
Harrison, o autor ainda abona que este livro foi o primeiro a descrever o
tratamento dispensado aos bovinos nos abates e as condições em que tais
procedimentos eram realizados. Apesar de ser um fator especificamente
dependente do indivíduo, o bem-estar deve ser considerado uma condição
indispensável a qualquer ser vivo e precisa ser alcançado e respeitado
(GRANDIN, 2010).
Hammerschimidt (2012) concluiu em sua pesquisa que como condição
necessária a todo ser vivo, o bem-estar animal deve ser avaliado a partir de
escalas que podem variar de muito pobre a muito bom. O autor ainda reitera que
interações negativas entre esses indivíduos também têm sido relatadas e, para
identificar esses problemas, é necessário analisar o estado de saúde dos
animais envolvidos e sugerir soluções para reduzir o sofrimento e melhorar a
qualidade de vida dos animais. Esperamos que a relação entre seres humanos
e animais seja mutuamente benéfica e isso inclui interações físicas e emocionais
entre pessoas, animais e ambiente (COUTINHO et al., 2004).
Segundo Capez (2007), maus-tratos aos animais domésticos vêm a ser
uma preocupação do mundo moderno visando a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental propícia a vida, os pilares fundamentais da
sociedade. Galvão (2010) corrobora definindo maus-tratos como o ato de
submeter o indivíduo a tratamento cruel, trabalhos forçados e/ou privação de
alimentos ou cuidados, o autor ainda ressalta que essas atitudes são praticadas
pelas pessoas por motivos culturais, sociais e psicológicos, sendo muitas vezes
praticado sem consciência de qual ato é prejudicial. O autor ainda considera que
a manutenção do bem-estar animal é dever de todos, tendo em vista que os
animais fazem parte do meio ambiente o qual deve ser ecologicamente
equilibrado e, portanto, saudável para as gerações presentes e futuras.
16

Segundo Arruda (2018), no caso dos cães (Canis lupus familiaris),


espécie com variações distintas de raças e peculiaridades comportamentais, o
importante é buscar avaliar o ambiente no qual o animal se encontra de modo a
escolher alternativas e recursos apropriados para cada indivíduo. Um cão de
companhia vai expressar comportamentos distintos daqueles observados em um
cão que se encontra isolado em um laboratório ou um abrigo, pois esses animais
fazem parte de uma população peculiar privada de interação humana residindo
em um ambiente considerado indutor de estresse (SAVALLI; ALBUQUERQUE,
2017).

2. CORTISOL

Conforme Weissman (1990) o conjunto de alterações hormonais e


metabólicas decorrentes de um trauma é designado como “resposta ao
estresse”. O aumento da secreção de hormônios hipofisários é a principal
resposta ao estresse ativando o sistema nervoso simpático (STURION, 2011).
Após esta primeira resposta o hipotálamo estimula a glândula hipófise a secretar
hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), este é transportado pela corrente
sanguínea sensibilizando a região cortical das glândulas adrenais aumentando
a produção e a secreção de cortisol e aldosterona (STOCCHE et al., 2001).
O cortisol age alterando o metabolismo de carboidratos, gorduras e
proteínas disponibilizando um maior volume de substrato energético para as
células, auxiliando na redução do consumo de glicose por células de menor
importância como as células do sistema imunológico, em uma situação de
estresse (GUYTON; HALL, 2006). Sturion (2011, p. 10) ressalta que “esta
ativação resulta em aumento significativo na secreção de catecolaminas, dentre
elas a principal é a epinefrina, pela região medular das glândulas adrenais”.
Segundo Sturion (2011) o cortisol tem um efeito glicocorticóide e está
associado a atividade anti-inflamatória. Os glicocorticóides inibem a acumulação
de células de defesa, especialmente macrófagos e neutrófilos em áreas de
inflamação, além disso, interferem na síntese de mediadores inflamatórios, em
particular as prostaglandinas (YEAGER et al., 2004).
A ação do cortisol afeta quase todos os tecidos do
organismo; ele ajuda a manter o balanço hidroeletrolítico,
o metabolismo dos carboidratos, a pressão sanguínea,
17

além de aumentar a sensibilidade vascular à ação das


catecolaminas (BORIN-CRIVELLENTI; MALTA, 2015, p.
24).

De acordo com Desborough (2000), as catecolaminas ativam as fibras


cardíacas amplificando o potencial de contratilidade e aumentando assim o
aporte sanguíneo para os tecidos tendo uma maior oxigenação dos mesmos.
Segundo Yamamoto et al. (2012), avaliar o bem-estar ou o estresse não
é fácil, alguns métodos analíticos são muito típicos, e a forma mais objetiva de
avaliação é a medição do cortisol e a medição das grandes flutuações dos sinais
fisiológicos, principalmente da pressão arterial. As mensurações bioquímicas do
cortisol têm se mostrado importantes referências para a avaliação da dor e do
estresse por meio indireto (STURION, 2011).
Autores como Allen et al. (2014) e Haverbeke et al. (2008) corroboram
afirmando que a mensuração de marcadores biológicos é amplamente utilizada
como forma de identificar o estresse nos animais, destacando que o método
apresenta uma gama de substâncias que são liberadas em tais situações como
hormônios, neurotransmissores, proteínas, enzimas, dentre outros. O problema
na avaliação do bem-estar animal é que a coleta para o exame pode ser
estressante para os animais, portanto métodos não invasivos de coleta devem
ser desenvolvidos e testados (BEERDA, 1996).
Russel et al. (2012) fazem um comparativo das propriedades de medidas
de cada método de mensuração do cortisol (QUADRO 1).

Quadro 1 – Comparação entre as diferentes medidas do cortisol extraído de cães por diferentes
métodos.
Propriedade do Sanguíneo Urinário Salivar Capilar
material
Coleta invasiva Alta Moderada Baixa Baixa

Cortisol Possivelmente Possivelmente Possivelmente Não


aumentado pelo
estresse da coleta

Exigência de Refrigerado Refrigerado em Refrigerado Temperatura


armazenamento em freezer freezer em freezer ambiente

Tempo de Instantâneo 12 a 24h de Instantâneo De meses a anos


secreção do exposição ao dependendo do
cortisol avaliado estresse tamanho do fio de
(cortisol) cabelo analisado
Fonte: Baseada segundo Russel et al. (2012).
18

O objetivo deste estudo foi de revisar a literatura científica com vistas à


identificação das publicações sobre a análise dos níveis de cortisol em cães
domésticos. Como questão norteadora deste estudo pretende-se responder,
qual é o método mais utilizado?

3. OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL


• Realizar uma busca por artigos científicos nacionais publicados nos
últimos cinco anos que abordem a temática “análise dos níveis de
cortisol em cães domésticos”.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


• Identificar qual o método mais utilizado na mensuração do cortisol em
cães domésticos;
• Identificar possíveis problemas na elaboração e conclusão de
pesquisa;
• Identificar fatores adversos que influenciam nos resultados obtidos;
• Sugerir ações que auxiliem na obtenção de dados confiáveis.

4. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo de revisão narrativa da literatura de teor


qualitativo, que buscou publicações sobre “análise dos níveis de cortisol em cães
domésticos”. Esta revisão sintetiza e resume, em termos narrativos, um corpo da
literatura de pesquisa científica.
Para a elaboração deste estudo, foram realizadas duas buscas de
artigos em português na plataforma GOOGLE ACADÊMICO. A primeira busca
foi realizada em quinze de março de dois mil e vinte e dois (15/03/2022) com o
objetivo de analisar artigos referentes ao tema e suas palavras-chaves e através
destes definir os descritores que serão utilizados na segunda pesquisa. Utilizou
se na primeira pesquisa os seguintes termos para a busca na plataforma: “Níveis
de cortisol em cães”; “Níveis de cortisol de cães”. Devido ao número alto de
artigos encontrados decidiu-se analisar apenas a primeira página da plataforma
que conta com dez (10) artigos, é importante salientar que a plataforma
19

GOOGLE ACADÊMICO ordena os resultados da pesquisa por ordem de


relevância.
Após a análise das palavras-chave dos 10 (dez) artigos selecionados,
foram definidos os seguintes descritores para a pesquisa: Cão; Estresse; Bem-
estar; Maus tratos; Cães; Cachorro; Níveis de Cortisol. A esses termos aplicou-
se os operadores lógicos booleanos definindo a seguinte string: (cão OR cães
OR cachorro) AND (“bem-estar” OR “maus tratos”) AND “Níveis de Cortisol” AND
estresse. Conforme Pizzani et al. (2012), a finalidade deste método é facilitar o
processo de busca e seleção da informação desejada.
A segunda pesquisa foi realizada em dezesseis de março de dois mil e
vinte dois (16/03/2022). Considerou-se para efeito deste trabalho, as publicações
mais recentes publicadas entre 2017 e 2022. Julgou-se esse aspecto importante
em vista da necessidade de análise de evolução dos estudos na área. Aos
artigos encontrados na segunda pesquisa aplicou se os seguintes critérios de
exclusão:
1-Excluir artigos não referentes a cães domésticos;
2-Excluir revisão de literatura;
3-Excluir artigos que não analisem o cortisol dos cães.
As duas pesquisas foram realizadas pelo autor, a Tabela 1 sintetiza as
principais informações.

Tabela 1 - Principais informações das pesquisas realizadas.


Pesquisa Data Descritor Plataforma Resultado
1ª 15/03/2022 Níveis de cortisol em cães; GOOGLE 5.060
Níveis de cortisol de cães SCHOLAR

2ª 16/03/2022 (cão OR cães OR cachorro) GOOGLE 163


AND (“bem-estar” OR “maus SCHOLAR
tratos”) AND ”Níveis de
Cortisol” AND "estresse"

5. REFERENCIAL TEÓRICO

5.1. INTERAÇÃO HUMANO-CÃO

As pessoas interagem com várias espécies diferentes, porém nenhuma


delas apresenta essa dinâmica tão específica que observamos entre homem e
cão. Para Ribeiro (2011), a relação entre o homem e o cão decorre da
20

capacidade deste último de ser domesticado, uma característica que nem todo
animal tem.
Segundo Serpell (2004), essa relação não é apenas instrumental, no
sentido de que os cães são prestadores de serviço, mas também afetiva. Em
muitos aspectos a relação entre humano e cão, se assemelha àquela
estabelecida entre pais e filhos, destacando características de apego (PALMER;
CUSTANCE, 2008).
Essa relação traz muitos benefícios que podem ser de ordem psicológica
e social, diminuindo a depressão, o estresse, a ansiedade, melhora o humor e
possibilita a socialização da pessoa, desde idosos até deficientes físicos e
mentais (SANTANA; OLIVEIRA, 2006; RIBEIRO, 2011).
A infinidade de interações entre cães e humanos é um fenômeno
socioecológico, que não envolve somente a cooperação e aspectos afetivos,
mas também toda conjuntura de disseminação de doenças, principalmente em
regiões pobres afetando o bem-estar humano e dos cães (ARLUKE; ATEMA,
2017).
Nesse sentido, pesquisas sobre o comportamento canino são
fundamentais para que possamos entender e aprimorar as relações que
desenvolvemos com esses animais.

5.2 O CORTISOL NA INTERAÇÃO HUMANO-CÃO

Muitos comportamentos exibidos pelos cães são vistos como


indesejáveis tornando a relação humano-cão conflituosa, comportamentos estes
que podem estar refletindo o estado de saúde do cão bem como a do seu tutor.
Jones e Josephs (2006) ressaltam que os cães reagem ao estresse dos seus
tutores com um aumento da excitação emocional negativa, assim o estresse vem
a estar diretamente ligado aos conflitos existentes na relação entre o humano e
cão. As estratégias de se lidar com o estresse, bem como sua percepção, podem
ser bem diferentes de humano para humano e de cão para cão (SCHOLZ; VON
REINHARDT, 2006).
O estresse vem sendo apontado como o principal gatilho de
comportamentos indesejáveis e nos casos mais graves chegam a colocar em
risco a vida dos cães e também dos humanos, levando a reações mais rígidas e
21

extremas. Um estudo epidemiológico realizado em Portugal revelou que é


frequente a eutanásia de cães por razões comportamentais como agressividade
direcionada a pessoas e a outros cães (SANTOS et al., 2013).
Hammerle (2015) diz que um cão estressado, geralmente apresenta
sinais de angústia clínica, o que leva aos comportamentos problemáticos, tais
como episódios de destruição, vocalização e eliminação inapropriada e que
podem ter diferentes motivações subjacentes, incluindo medo, ansiedade,
hiperapego aos tutores ou, pelo contrário, falta de estimulação ou interações
adequadas.
Na década de 90, alguns autores (HETTS, 1992; BEERDA, 1998)
apontaram em seus estudos que a postura corporal agachada, a ingestão de
fezes, os comportamentos repetitivos, o aumento da auto-higiene, a elevação de
uma pata e a vocalização excessiva foram alterações ocorridas durante a
restrição social e espacial, e que já tinham sido também associadas a estresse
em outros estudos, tornando-se agora ferramentas úteis para a identificação de
estresse crônico em cães. Observamos então que nesta relação humano-cão, o
estresse é um agente importante a ser considerado nos estudos
comportamentais dos cães.

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A primeira pesquisa realizada na plataforma GOOGLE ACADÊMICO


totalizou 5.060 resultados. Dos dez (10) artigos selecionados para a primeira
análise, apenas um (1) não estava disponível na íntegra para leitura e análise
(QUADRO 2).
A segunda pesquisa apresentou 163 resultados. Pelo título foi possível
excluir artigos, dada a não pertinência ao tema. Em outros casos, foi necessária
a leitura do resumo e até mesmo do artigo na íntegra para a decisão final se o
artigo entraria ou não na seleção (TABELA 2). Restaram nove (9) artigos dos
quais todos foram incluídos na revisão (QUADRO 3).
Durante a análise dos artigos a serem incluídos na revisão foi constatado
alguns artigos relacionados com a terapia assistida por animais (TAA), com foco
no bem-estar dos humanos e ignorando a análise do bem estar animal. Segundo
Vivaldini e Oliveira (2011), a TAA é uma das estratégias utilizadas em
22

reabilitação e educação, um dos motivos é a forte ligação afetiva das crianças


com animais. Contudo alguns autores constataram concentrações altas de
cortisol nos animais nos dias de terapia comparado aos dias sem terapia
(HAUBENHOFER, 2009; KING et al., 2011; ROCHA, 2015).

Quadro 2 -Título e palavras-chave dos artigos analisados na primeira pesquisa.

Título do Artigo Palavras-chave


Efeitos cardiovasculares e neuroendócrinos do Cão, anestesia, opióides, desfluorano,
butorfanol e da buprenorfina em cães hormônios.
anestesiados pelo desfluorano.
Alterações comportamentais e fisiológicas em Bem-estar, cães policiais, desempenho,
cães detectores sob influência do estresse de drogas e explosivos, estresse.
confinamento
Associação do cortisol piloso, gravidade e Anticorpo monoclonal, atopia, canina, IL-
qualidade de vida em cães com dermatite 31, questionário.
atópica após terapia com lokivetmab
Estudo comparativo da intoxicação Amitraz, intoxicação, cães, gatos,
experimental por amitraz entre cães e gatos. antiparasitários.
Avaliação dos níveis de glicose, insulina, Cães, Sepse grave, glicose, glucagon,
cortisol e glucagon em cães com sepse grave cortisol, insulina.
gerenciados ao tratamento intensivo
Estudo comparativo do emprego de tramadol, Dor, neoplasias bucais, analgésicos
código e cetoprofeno nos níveis de controle do opióides, cães, estudo comparativo,
pós-operatório, cortisol e interleucina-6 em maxila/cirurgia, mandíbula/cirurgia.
filtros selecionados à maxilectomia ou
mandibulectomia
Proposta de normatização do transporte Busca e resgate, Salvamento, Cães,
terrestre dos cães do CBMDF Bem-estar do animal.
(ARTIGO NÃO DISPONÍVEL NA
INTEGRA)
Efeito da acupuntura nos níveis de cortisol e na Estresse de exercício, variabilidade do
variabilidade do intervalo cardíaco de cães intervalo cardíaco, cortisol, lactato.
submetidos ao exercício incremental
progressivo
Avaliação dos efeitos do estresse laboral na Sêmen, Estresse, Cães.
fertilidade de cães machos Rottweilers
Correlação dos diferentes períodos de jejum Cortisol, Glicemia, Equilíbrio ácido-base,
com cortisol sérico, glicemia plasmática, Jejum, Cão.
condição clínica e equilíbrio ácido-base em
cães submetidos à anestesia geral inalatória
Elaborado pelo autor.

Tabela 2- Critérios de exclusão aplicados aos artigos selecionados. 1. Artigos não referentes a
cães domésticos; 2. Revisão de literatura; 3. Artigos que não analisam cortisol em cães.
Critério Nº de estudos eliminados Sobraram do total (163)
1 118 45
2 7 38
3 29 9

Todos os nove artigos incluídos buscaram analisar os níveis de cortisol


em diferentes situações. A análise dos artigos mostrou que 2018 foi o ano com
23

mais publicações, somando quatro (4) artigos, seguido de 2020 com dois (2),
2017, 2019 e 2021 tiveram um (1) artigo cada ano (GRAFICO 1).

Quadro 3 - Artigos incluídos na revisão, Sobrenome do autor, ano, local de publicação, título,
instituição e endereço de link eletrônico.
Autor, Ano e Título Instituição Disponível
Local
Marques (2021), “Associação do cortisol piloso, Universidade https://repositorio.ufmg.br/h
Belo gravidade e qualidade de vida em Federal de Minas andle/1843/39010
Horizonte/MG. cães com dermatite atópica após Gerais-UFMG
terapia com lokivetmab”
Ferreira (2020), “Estresse em cães no processo Universidade https://www.posgraduacao.
Janaúba/MG. de higienização em Pet Shop” Estadual de Montes unimontes.br/ppgz/wp-
Claros- content/uploads/sites/24/20
UNIMONTES 21/03/MARIANY-
FERREIRA-Estresse-em-
c%C3%A3es-no-processo-
de-
higieniza%C3%A7%C3%A3
o-em-Pet-Shop.pdf
Fernandes “Avaliação do bem estar dos cães Universidade de https://www.teses.usp.br/tes
(2020), São farejadores da Polícia Militar do São Paulo-USP es/disponiveis/10/10132/tde
Paulo/SP. Estado de São Paulo mensurados -12082020-083139/en.php
pelas dosagens de cortisol salivar
no descanso e após o trabalho”
Martinez (2018), “Empatia em cães: análise Universidade do https://www.bdtd.uerj.br:844
Rio de comportamental e fisiológica” Estado do Rio de 3/handle/1/15215
Janeiro/RJ. Janeiro-UERJ
Von Ancken& “Uso de medicamentos Universidade de https://191.252.1.94/index.p
Coelho (2018), ultradiluídos no tratamento da Santo Amaro- hp/recmvz/article/view/3779
São Paulo/SP. síndrome de ansiedade por UNISA 2
separação em cães”
Maruyama “Perfil de cortisol e sinalização Universidade de https://www.teses.usp.br/tes
(2018), São dos glicocorticóides em corpo São Paulo-USP es/disponiveis/10/10131/tde
Paulo/SP. lúteo canino” -03052019-145846/en.php
Henrique et al. “Avaliação do nível de estresse Universidade http://200.17.137.114/index.
(2019), em cadelas de abrigo submetidas Federal Rural de php/medicinaveterinaria/arti
Recife/PE. a um período de adaptação de Pernambuco- cle/view/3288
sete dias em canis experimentais” UFRPE
Machado et al. “Alterações comportamentais e Universidade de https://repositorio.unb.br/ha
(2018), fisiológicas em cães detectores Brasília-UnB ndle/10482/39596
Brasília/DF. sob influência do estresse de
confinamento”
Rampim (2017), “Efeitos etológicos e endócrinos Universidade https://repositorio.unesp.br/
Araçatuba/SP do enriquecimento ambiental Estadual Paulista- handle/11449/150904
sobre o bem-estar de cães UNESP
mantidos em canil”
Elaborado pelo autor.

No QUADRO 4 são apresentados os autores, ano da publicação,


objetivo e metodologia utilizada. Dos nove (9) artigos analisados, quatro (4)
utilizaram métodos não invasivos (MARQUES, 2021; FERNANDES, 2020;
MARUYAMA, 2018; MACHADO et al., 2018), e cinco (5) utilizaram métodos
24

invasivos para a coleta e mensuração do cortisol (FERREIRA, 2020; MARTINEZ,


2018; VON ANCKEN; COELHO, 2018; HENRIQUE et al., 2019; RAMPIM, 2017).

Gráfico 1 – Quantidade de publicações que abordaram a temática entre os anos 2017 e 2021.

Quadro 4 - Autores, ano da publicação, objetivo geral e metodologia de coleta do cortisol em


cães nos artigos selecionados.

Metodologia Método
Autor e Ano Objetivo Geral
Utilizada Invasivo
Avaliar e comparar a gravidade clínica da doença,
Marques Cortisol
qualidade de vida e níveis de cortisol piloso de cães com Não
(2021) Piloso
dermatite atópica após terapia com lokivetmab.
Ferreira Estudar os níveis de estresse em cães submetidos ao Cortisol
Sim
(2020) procedimento de higienização em pet shops. Sérico
Verificar os níveis de estresse entre os cães farejadores do
Fernandes Canil Central da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Cortisol
Não
(2020) mediante a dosagem de cortisol salivar no espaço tempo Salivar
trabalho e descanso.
Avaliar o nível de estresse em cadelas de abrigo alojadas
Henrique et em canis experimentais durante sete dias, e determinar se Cortisol
Sim
al. (2019) esse período é suficiente para que estas se adaptem a um Sérico
novo ambiente.
Estudar os efeitos fisiológicos e comportamentais no
Machado et desempenho olfativo de cães policiais, após situações Cortisol
Não
al. (2018) cotidianas de estresse que ocorriam previamente à Salivar
execução da tarefa de detecção de drogas e explosivos.
Martinez Analisar evidências de empatia em cães, através da visão Cortisol
Sim
(2018) de universitários e experimentação controlada. Sérico
Avaliar as concentrações basais de cortisol salivar e MGFs
em diferentes dias do diestro, avaliar a correlação entre os
Maruyama valores obtidos nos dois métodos de mensuração e Cortisol
Não
(2018) estabelecer um intervalo de confiança para os valores Salivar
basais de cortisol salivar e MFGs em diestro não
gestacional de cadelas.
Avaliou a ação dos medicamentos homeopáticos
Von Ancken ultradiluídos no tratamento do distúrbio de comportamento
Cortisol
e Coelho da síndrome de ansiedade por separação (SAS) em cães, Sim
Sérico
(2018) e na dosagem de cortisol e contagem de leucócitos desses
animais.
Avaliar o comportamento e a concentração de cortisol em
Rampim cães de experimentação e em cães de Terapia Assistida Cortisol
Sim
(2017) por Animais, durante a permanência em canil e os efeitos Sérico
do enriquecimento ambiental neste comportamento.
Elaborado pelo autor.
25

Houve um equilíbrio na quantidade dos métodos de análise do cortisol.


44,44% dos artigos utilizam métodos não invasivos, contra 55,55% utilizando
métodos invasivos. Essa diferença aumenta quando somados os indivíduos dos
estudos analisados: métodos invasivos em 60% dos indivíduos; não invasivos
em 40% dos indivíduos. Esse resultado não corrobora com Dreschel e Granger
(2009) que afirmaram que o método mais utilizado para mensurar o nível de
estresse em estudos de bem-estar animal é o cortisol salivar, uma hipótese para
essa discordância talvez esteja relacionado com a região, como dito
anteriormente o baixo número de artigos publicados em português demonstra
um atraso neste tipo de exame aqui no Brasil, os motivos vão desde os valores
altos das análises à falta de laboratórios especializados, o que inviabiliza um
número amostral maior bem como a elaboração de estudos. Martinez (2018)
expõe em seu estudo outras dificuldades como mão de obra para adaptação dos
cães nas fases do estudo e a falta de laboratórios que fazem os testes de
ocitocina plasmática, segundo a autora apenas um em território nacional. O alto
custo dos exames também foi considerado como fator limitante, sendo que foram
coletadas 20 amostras de cada cão, totalizando 160 amostras:
O kit para análise de ocitocina é importado e com um custo
alto. Para a análise das amostras se fez necessário
adquirir dois desses kits. A análise do cortisol foi realizada
por um laboratório privado que possui um programa de
incentivo a pesquisa, também com um custo considerável.
As análises laboratoriais da pesquisa foram financiadas
por investimento próprio (MARTINEZ, 2018, p.46).

Contudo, nenhum dos artigos apresentou uma discussão quanto ao


impacto do método utilizado (invasivo, não invasivo) nos resultados obtidos.
Yamamoto et al. (2012) concluiu em seu estudo que o cortisol sérico se manteve
mais elevado do que o salivar, em todos os momentos, em maior ou menor grau.
Isso ocorre porque os procedimentos considerados invasivos provocam
alterações significativas no estado fisiológico dos investigados (BEERDA et al.,
1996).
A TABELA 3 mostra os autores, ano, número amostral (N), a quantidade
de machos, fêmeas bem como os castrados. Dois (2) artigos não informam o
sexo dos cães avaliados (VON ANCKEN; COELHO, 2018; MACHADO et al.,
2018). Machado et al. (2018), apesar de não relatarem o sexo dos animais
estudados, concluíram que idade e sexo não influenciaram nos resultados
26

obtidos justificando que, uma vez que todos os sujeitos eram controles de si
mesmos, não poderiam comparar os resultados entre os sujeitos. Cinco (5)
artigos não informam se os animais são castrados (FERNANDES, 2020;
MARTINEZ, 2018; VON ANCKEN; COELHO, 2018; MACHADO et al., 2018;
RAMPIM, 2017). Dois (2) artigos estudaram especificamente cadelas não
castradas (MARUYAMA, 2018; HENRIQUE et al., 2019). Comentado [GTReS1]: Alguém comentou se este dado foi
relevante?

Tabela 3 – Informações extraídas dos artigos selecionados: Autores, ano, número amostral (N),
a quantidade de machos, fêmeas, castrados.
Autor e Ano N Macho Fêmea Castrados

Fernandes (2020) 13 9 4 N/I


Ferreira (2020) 11 5 6 11
Henrique et al. (2019) 10 0 10 0
Machado et al. (2018) 6 N/I N/I N/I
Marques (2021) 10 5 5 8
Martinez (2018) 8 4 4 N/I
Maruyama (2018) 10 0 10 0
Rampim (2017) 8 2 6 N/I
Von Ancken e Coelho (2018) 23 N/I N/I N/I

TOTAL 99 25 45 19

Alguns autores dos estudos analisados não constataram diferenças


significativas entre machos e fêmeas referente a concentração de cortisol em
seus resultados (FERREIRA, 2020; MARTINEZ, 2018; MACHADO et al., 2018).
Os resultados encontrados corroboram com muitos autores que também não
encontraram diferença nos níveis de cortisol entre machos e fêmeas
(MEDEIROS, 2007; MARIA, 2015; SANDRI et al., 2015). Contudo Sandri et al.
(2015) relataram que machos e fêmeas castradas mostraram níveis de cortisol
significativamente mais baixos do que suas contrapartes intactas. Bowland et al.
(2020), demonstraram efeito significativo entre o sexo na mensuração do cortisol
piloso com fêmeas exibindo uma maior concentração que os machos.
Por fim, o presente trabalho demonstrou que o método de análise mais
utilizado é a mensuração do cortisol sérico, um método considerado invasivo,
assim sendo a dissolução da questão norteadora deste estudo.
27

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os dados obtidos, o baixo número de artigos publicados
e baixo número amostral, estão diretamente ligados aos custos de exames
clínicos e a dificuldade de manejo dos animais no momento da coleta de dados,
interferindo diretamente nos resultados dos estudos, dificuldades na elaboração
e conclusão de pesquisas bem como sua relevância científica. Aconselha-se
novos estudos com o espectro mais abrangente de modo a analisar publicações
em outros idiomas.
Os diferentes artigos analisados demonstraram que fatores adversos
podem influenciar nos resultados das análises desde o método invasivo ou não,
sexo do animal e se o mesmo é castrado. Constatou-se no presente estudo que
poucas pesquisas têm analisado essas variantes. Então, sugere-se que futuros
estudos comparativos contemplem variáveis distintas como o sexo do animal,
idade, raça e castração.
A partir desse estudo de revisão, recomenda-se que mais investigações
sejam conduzidas analisando os níveis de cortisol em cães domésticos
buscando estabelecer parâmetros confiáveis, contribuindo assim para
diagnósticos de doenças e análises de bem-estar animal.
As considerações apontadas pela literatura podem servir como um ponto
de partida para o desenvolvimento de estudos mais específicos sobre a dosagem
de cortisol em cães com o objetivo de diagnosticar doenças e avaliar o bem-estar
do animal de modo eficiente.

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