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USO E CUIDADOS COM ANIMAIS DE LABORATÓRIO


(Volume I)

Organizadores
Gabriele Correa
Raquel Lourenço Moreira
Rhuan de Andrade Souza
Vanessa Alexandra Correa
Regiane Tercetti Rodrigues
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva

Ano – 2022

0
USO E CUIDADOS COM ANIMAIS DE LABORATÓRIO
(Volume I)

Organização
Gabriele Correa
Raquel Lourenço Moreira
Rhuan de Andrade Souza
Vanessa Alexandra Correa
Regiane Tercetti Rodrigues
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva

Correção
Bruno César Correa Salles
Bethânia Elias Costa
Danielly Beraldo dos Santos Silva
Nelma de Mello Silva Oliveira
Regiane Tercetti Rodrigues
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva

Revisão
Os autores
Projeto gráfico e ilustrações

Apoio:
Universidade José do Rosário Vellano, UNIFENAS, Alfenas, MG, Brasil.
Laboratório de Biologia Molecular e Celular, UNIFENAS, Alfenas, MG, Brasil.
Laboratório de Farmacologia e Bioquímica Experimental, UNIFENAS, Alfenas, MG,
Brasil.
Comitê de Ética no Uso de Animais, CEUA, UNIFENAS, Alfenas, MG, Brasil.
Coordenação do Curso de Biomedicina, UNIFENAS, Alfenas, MG, Brasil.

Os autores declaram não haver qualquer conflito de interesse.


1
Universidade José do Rosário Vellano, UNIFENAS, Alfenas, MG, Brasil.

Texto fixado conforme as regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa


(Decreto Legislativo nº54, de 1995).

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa edição pode ser utilizada ou
reproduzida – por qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia,
gravação etc. -, nem apropriada ou estocada em sistema de canco de dados sem
autorização e citação.

Título original: Uso e cuidados com animais de laboratório.

Volume I
1ª edição, 2022

2
A compaixão para com os animais é das mais nobres virtudes da natureza humana
“Charles Darwin“.

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SUMÁRIO

Capítulo 1
Introdução ao uso de animais em laboratório .......................................................06
Gabriele Correa
Raquel Lourenço Moreira
Regiane Tercetti Rodrigues
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva

Capítulo 2
Legislação, normativas, diretrizes e instrumentos legais ....................................13
Gabriele Correa
Raquel Lourenço Moreira
Nelma de Mello Silva Oliveira
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva

Capítulo 3
Ciência de animais de laboratório ..........................................................................19
Gabriele Correa
Raquel Lourenço Moreira
Bethânia Elias Costa
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva

Capítulo 4
Modelo animal e modelos alternativos ...................................................................25
Gabriele Correa
Raquel Lourenço Moreira
Bethânia Elias Costa
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva

4
Capítulo 5
Nutrição animal ........................................................................................................32
Rhuan de Andrade Souza
Vanessa Alexandra Correa
Regiane Tercetti Rodrigues
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva

Capítulo 6
Genética em animais de laboratório .......................................................................40
Rhuan de Andrade Souza
Vanessa Alexandra Correa
Danielly Beraldo dos Santos Silva
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva

Capítulo 7
Estresse, dor e sofrimento ......................................................................................47
Rhuan de Andrade Souza
Vanessa Alexandra Correa
Bruno César Correa Salles
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva

Capítulo 8
Planejamento, gestão de biotérios e manejo de colônias .....................................57
Rhuan de Andrade Souza
Vanessa Alexandra Correa
Nelma de Mello Silva Oliveira
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva

Autores .....................................................................................................................70

5
USO E CUIDADOS COM ANIMAIS DE LABORATÓRIO
(Volume I)

CAPÍTULO 1 – Introdução ao uso de animais em


laboratório

Gabriele Correa1
Raquel Lourenço Moreira1
Regiane Tercetti Rodrigues1
Thaís Cristina Ferreira dos Santos1
Evandro Neves Silva1
1
Universidade José do Rosário Vellano – UNIFENAS, Alfenas, MG, Brasil.

“Pergunte aos cientistas a razão da experimentação com


animais, a resposta será: “Porque os animais são como nós”.
Pergunte a eles porque é moralmente certo a experiência em
animais, e a resposta será: “Porque os animais não são como
nós”; A experimentação animal repousa sobre uma contradição
lógica” (Charles R. Magel, Macmillan).

1. INTRODUÇÃO

A experimentação animal tem desempenhado um papel central na pesquisa


científica ao longo da história. Durante séculos, tem sido uma questão de discussão
pública, embora existam inúmeras visões históricas da pesquisa com animais em
certos campos, e algumas sobre sua questão ética. Essa perspectiva do uso de
animais nas ciências da vida e suas implicações morais e sociais é importante para

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avaliar as questões e avaliar os princípios e práticas na pesquisa animal (NATIONAL
RESEARCH COUNCIL, 2011).
A evolução do conhecimento na medicina humana e veterinária, repercute no
desenvolvimento de ações envolvendo a criação e experimentação animal,
desencadeando a constante e necessária atualização de suas técnicas e
procedimentos. Por mais de um século, os animais de laboratório vêm sendo
utilizados na pesquisa científica, estudos relacionados com anatomia, fisiologia,
imunologia e virologia, dentre outros, realizados em animais de laboratório, permitiram
um avanço no desenvolvimento da ciência e tecnologia. Previamente, os animais de
laboratório eram utilizados como instrumentos de trabalho que ajudavam na
investigação de diagnóstico e de pesquisas sem se levar em conta a qualidade
genética e sanitária (PINTO, 2002).
Em geral, os institutos de investigação eram responsáveis pela criação dos
animais de laboratório, porém não possuíam estruturas, além disso, as pessoas não
tinham habilitação para desenvolver essas atividades. O fato de não existirem ração
apropriada e a ausência de condições higiênicas nos criadouros fez com que não
permitissem que fossem produzidos animais geneticamente definidos. Por
consequência, os animais de laboratório eram considerados como um mal necessário,
sendo assim, eram utilizados nas pesquisas, e os resultados obtidos não eram
confiáveis (ANDRADE, PINTO, 2002).
Atualmente, com as diretrizes e bioética os pesquisadores exigem que os
animais estejam em condições ideais, tendo que estarem de acordo com a qualidade
genética e sanitária. Para a qualidade e reprodutibilidade e validação dos
experimentos, as condições dos animais devem ser definidas e padronizadas, e a
variação residual, deve ser controlada no delineamento experimental e na análise dos
resultados (ANDRADE, PINTO, OLIVEIRA, 2002). O manejo adequado de animais de
laboratório implica na interação de diversos fatores sejam estes físicos, químicos,
biológicos e da responsabilidade e profissionalismo. As garantias para estas
qualidades e condições implicam na responsabilidade institucional com os biotérios,
sua manutenção, qualificação de pessoal e supervisão de caráter permanente
(FIOCRUZ, 2002).
Os biotérios são as instalações capazes de produzir e manter espécies animais
destinadas a servir como reagentes biológicos em diversos tipos de ensaios
controlados, para atender as necessidades dos programas de pesquisa, ensino,
7
produção e controle de qualidade nas áreas biomédicas, farmacológicas e
biotecnológicas segundo a finalidade de cada Instituição. É necessário que os
biotérios sejam construídos amparados em rígidos critérios de biossegurança e em
também quanto à sua organização funcional, espacial, permitindo assim a criação ou
a experimentação animal, dentro dos padrões preconizados de higiene, assepsia e
segurança, necessários à obtenção ou a utilização de diferentes espécies animais
(FRANCO, 2012).
Para cada um dos usos é importante contar com animais de padrões biológicos
conhecidos, precisos e adequados à hipótese da experimentação. Eles compartilham
90% do genoma com humanos (genes humanos ligados a doenças com genes
equivalentes no genoma dos roedores). Permitem a manipulação do DNA para
produção de animais transgênicos (genes específicos podem ser modificados ou
mesmo removidos) para estudar sua função na saúde e na doença e questões
biológicas muito específicas.
No Brasil não existe em vigor uma legislação que especificamente regule a
criação e o uso de animais para a pesquisa e o ensino, em âmbito nacional. No
entanto, há princípio éticos consensuais estabelecidos por grupos de pessoas e
entidades nacionais, pautados no bom senso e na experiência internacional de países,
onde há Leis claras e específicas, que norteiam o uso dos animais, seu manejo e sua
situação em técnicas experimentais (FIOCRUZ, 2002). Junto a isto, é necessária a
presença de profissionais de diferentes níveis, preparados para o desempenho de
tarefas específicas, organizacionais, tais como, alimentar, manter a higiene e condição
sanitária hospitalar nos ambientes de criação, realizar o manejo zootécnico das
espécies e o seu controle genético, microbiológico e outros (FRANCO, 2012).
As pessoas cuidadoras dos animais devem ser treinadas nos locais de trabalho
e em matérias específicas, dentre elas saúde e higiene do trabalho, manejo
comportamental e genético, além de estimuladas a participar de eventos científicos
para seu aprimoramento e valorização (MICHALICK, 2018).

2. HISTÓRICO

Pelo ponto de vista histórico, os seres humanos têm usado outras espécies de
animais como modelos de sua anatomia e fisiologia desde os primórdios da medicina.
A utilização de animais de laboratório teve uma relação com a patologia comparada.
8
De início, as autópsias em cadáveres humanos estavam proibidas, assim os cientistas
procuraram nos animais a origem e características dos processos patológicos que
afetavam a espécie humana, fazendo necropsias para possíveis comparações.
Cientistas como Aristóteles, Galeno, Hipócrates, entre outros, estudaram as
semelhanças e diferenças entre os órgãos dos animais e do homem, interpretaram
fenômenos biológicos, estudaram a fisiologia e anatomia, circulação sanguínea,
respiração, a nutrição e os processos de digestão, utilizando várias espécies de
animais, foi o início do uso de animais em pesquisa, alguns anos antes de Cristo,
contribuindo para o desenvolvimento da pesquisa científica. Entretanto, com os
estudos avançados na área de virologia e bacteriologia, a utilização de animais de
laboratório tornou-se necessária (SCHNEIDER, 2011).
Assim, desde os primeiros trabalhos de Pasteur e Koch, já no século XVIII,
animais como coelhos, ratos, camundongos e hamsters passaram a ser o trabalho
dos pesquisadores, tendo muito valor de cunho científico, já que sem a
experimentação, não seria possível o estudo das primeiras vacinas contra o
carbúnculo e contra a raiva. Tradicionalmente, no Brasil na década de 70 houve uma
situação precária em relação as condições e instalações dos animais; fazendo com
que houvesse o surgimento de biotérios das quais teriam as condições adequadas,
equipado com barreiras físicas contra a propagação de infecções, e com sistema de
climatização apropriado (D’ALMEIDA, 2004).
Em decorrência, todo avanço e progresso alcançado nos últimos 30 anos, exige
o treinamento de profissionais no quesito de animais de laboratório, bem como a
capacitação de auxiliares que desenvolvam suas atividades em biotérios de criação e
de experimentação. Em vários países, a produção e padronização dos animais de
laboratório mais utilizados em pesquisa encontram-se em estudos e aperfeiçoamento.
Nos dias atuais, diversas técnicas de engenharia genética e de biologia molecular
abrem caminhos para a criação e produção desses animais.
A área dos transplantes de órgãos e tecidos é cada dia mais valorizada. O
controle das doenças hereditárias está em constante desenvolvimento, levando em
conta que a evolução tecnológica pede um sistema moderno e ágil, permitindo
avanços das pesquisas, incluindo a criação de métodos alternativos que venham a
amenizar por exemplo, o uso tradicional dos animais de laboratório.

9
2.1 Importância do uso de animais em experimentação

O valor da contribuição dos animais de laboratório às novas descobertas para


a prevenção de doenças e para a sua cura, bem como para o desenvolvimento de
novas técnicas de tratamentos é muito importante e presente na ciência, esse
reagente biológico é fundamental como modelo no estudo de doenças que ainda são
incuráveis como muitos tumores, a AIDS e a esclerose múltipla (MICHALICK, 2018).
Atualmente o animal de laboratório é considerado prioridade no campo da
experimentação, tendo uma grande preocupação com a produção e seu manejo. Para
assegurar a produção de animais de laboratório, com toda a qualidade para o devido
uso nas pesquisas, são necessárias instalações apropriadas, equipamentos
especializados e uma equipe habilitada (figura 1). Dessa forma, os animais podem ser
representados por um modelo adequado e, portanto, estimula o estudo de diferentes
modalidades da medicina experimental (CLOUGH,1982). Em suma, a pesquisa
depende da utilização desses animais que obrigatoriamente terão de ser esterilizados
para que não haja interferência nos resultados das pesquisas. A produção e o
desenvolvimento de vacinas e de anticorpos monoclonais, a avaliação e o controle de
produtos biológicos, os estudos de farmacologia e toxicologia, estudos de
bacteriologia, virologia e parasitologia, exigem o emprego de animais. Pela
necessidade das experimentações serem realizadas em animais antes que qualquer
produto seja aplicado ao homem, o bioterismo assume um papel importante e deve
ser encarado com responsabilidade por seus desenvolvedores (ED-LEWIS, 1991).

Figura 1. Modelo experimental animal.

Fonte: Autores

10
O biotério tem por definição uma instalação dotada de características próprias,
que atende às exigências dos animais onde são criados ou mantidos, proporcionando-
lhes bem-estar e saúde para que possam se desenvolver e reproduzir, bem como para
responder satisfatoriamente aos testes neles realizados (MICHALICK, 2018).
Há necessidades básicas de que um biotério precisa ter em suas instalações,
estas sendo específicas, para conseguir qualidade ideal para a produção e
manutenção dos animais. Por conta da especificidade da pesquisa, alguns
equipamentos são necessários para se obter bons resultados; como autoclaves e
utensílios para higienização das gaiolas. Precisa-se de um modelo animal, da qual é
montado de acordo com as pesquisas a serem realizados. O cientista trabalha com
modelos animais que, necessariamente, diferem do homem. Portanto, estes modelos
podem ser comparados baseados na semelhança dos aspectos anatômicos e
fisiológicos. Por conseguinte, é essencial que sejam produzidos animais que, quando
inoculados com alguma substância, apresentem reações semelhantes às do homem.
(ANDRADE, 2002).
Os animais criados devem se caracterizar com docilidade, prolificidade e ser
de fácil manejo. As instalações devem ser unidades centralizadas, e terem a devida
regulamentação correta, a fim de evitar quaisquer problemas com a ética, nas
pesquisas científicas.

3. CONCLUSÃO

É importante salientar que a pesquisa em foco no manejo dos animais usados


em laboratório gera conhecimento e compreensão dos fenômenos naturais e sociais,
há uma certa curiosidade que é característica dos seres humanos em observar e
pesquisar para se obter resultados, contribuindo para a evolução e bem estar da
ciência; o desenvolvimento de pesquisas alimenta os testes aplicados, fornecendo
alicerces teóricos e experimentais das quais possibilitam a proposição de estudos que
visem avanços práticos para a sociedade.

4. REFERÊNCIAS

ANDRADE, A. et al., Animais de laboratório: criação e experimentação. Editora


Fiocruz, p:388, 2006.

11
CLOUGH, B.G. Environmental effects on animals used in Biomedical research. Bid.
Rev. 19823, 57, p.487-523.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Guide for the Care and Use of Laboratory
Animals. Washington, D.C.: National Academy Press, 1996.

SCHNEIDER, M.C. et al., Current status of human rabies transmitted by dogs in Latin
America. Cad Saude Publica. 2007; 23(9): 2049-63.

SCHNEIDER, M.C. Importance of animal/human health interface in potential Public


Health Emergencies of International Concern in the Americas. Rev Panam Salud
Publica. 29(3), 2011.

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USO E CUIDADOS COM ANIMAIS DE LABORATÓRIO
(Volume I)

CAPÍTULO 2 – Legislação, normativas, diretrizes e


instrumentos legais

Gabriele Correa1
Raquel Lourenço Moreira1
Nelma de Mello Silva Oliveira1
Thaís Cristina Ferreira dos Santos1
Evandro Neves Silva1
1
Universidade José do Rosário Vellano – UNIFENAS, Alfenas, MG, Brasil.

“Em termos de evolução, bem maior é o débito da Humanidade


para com os animais do que o crédito que lhes temos
dispensado para seu bem-estar e progresso” (Eurípedes Kuhl).

1. INTRODUÇÃO

Ética é sinônimo de virtude e moralidade; é uma atitude cultural e crítica sobre


valores e como influenciam no comportamento. Historicamente, desde o fim do século
passado, o homem está procurando adotar um novo tipo de comportamento e de ética
perante a natureza. Buscando sua preservação para o futuro, o homem começa a
pensar mais racionalmente, porém, quando o assunto é animais, pensar de maneira
racional há muita emoção envolvida (COBEA, 2018).
Depende de fatores a forma como tratamos nosso próximo, principalmente
quando esse próximo são animais; o modo de agirem faz com que tenhamos uma
atitude de sensibilidade ou não. Há cientistas que valorizam a vida animal,

13
considerando-os seres sensíveis e procurando diminuir seus sofrimentos sempre que
possível, portanto, há outros que defendem que os animais não possuem nenhum
valor, Rene Descartes, por exemplo, defendia que os animais, eram longe de
possuírem alma e que funcionavam como máquinas (CONCEA, 2015).

2. ÉTICA NO USO DE ANIMAIS

Em meados dos séculos XVI e XVII, a ciência viveu, por muito tempo, sob a
influência filosófica de René Descartes, da qual afirmava que os animais não tinham
alma, e, portanto, eram incapazes de sentir ou de sofrer. Isto contestava a crueldade
nas pesquisas científicas. Entretanto, os trabalhos científicos começaram a ter uma
mudança.
Com a teoria da evolução de Darwin em ascensão, isto fez com que ajudasse
no processo de demonstrar que o homem é um animal e que, logo, as preocupações
morais deveriam se estender aos animais. No século XIX, começaram a surgir
movimentos que indicavam o desejo de mudar as atitudes que o homem tinha com os
animais, dando um lugar ao sentimentalismo (COBEA, 2018).
Havia na época vitoriana um paradoxo em que valorizavam mais a vida animal
do que a vida humana. Segundo a literatura, crianças faziam trabalho escravo em
minas de carvão, enquanto no parlamento se tentava passar uma lei contra a
crueldade para com animais (ANDRADE, 2002).
Com o passar do tempo, as pessoas queriam que a experimentação cirúrgica
fosse feita mediante a anestesia, bem na época em que as propriedades do
clorofórmio haviam sido descobertas. Assim, foi criando-se sociedades
antiviviseccionistas, sendo estas ativas atualmente (FLETCHER,1996).

2.1 Normativas

Quando se fala em questão do direito dos animais, há diferenças de opiniões e


nos sistemas legais dos países, sendo os mais influentes: Estados Unidos e o Reino
Unido. As leis podem proteger a vida de um animal, com base no direito de realizar
seus propósitos naturais. Atualmente, as leis protegem os animais dos maus-tratos
abusivos, de crueldades e de sofrimentos, não reivindicando outros direitos
(KÖCHE,1997).
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A experimentação animal é uma atividade humana com grande conteúdo ético.
Os problemas da experimentação animal surgem do conflito entre as justificativas para
o uso de animais em benefício de si próprios e do homem e o ato de não causar dor
e sofrimento aos animais.
Na segunda metade do século XX e XXI, houve uma preocupação com o bem-
estar animal na pesquisa e no ensino, entretanto, surge a oportunidade de criação de
leis e comitês de ética, incluindo nesses parâmetros biotérios adequados para as
diferentes espécies de animais, capacitação de profissionais e obrigatoriedade de
responsáveis técnicos em laboratório (TUFFERY, 1987).
O uso de animais de laboratório em pesquisas científicas foi causa de conflitos
na bioética. Em 1951, Russel e Burch elaborou o princípio da experimentação humana
e conhecido como os três Rs. A qual propõe a redução do número de animais
utilizados em cada experimento, o refinamento das técnicas experimentais para evitar
dor e sofrimento desnecessários. O projeto de modelos experimentais, levaram
também a uma redução no número de animais experimentais reduzindo
significativamente a variação observada em cada experimento (RUSSEL E BURCH,
1951).
Atualmente, a maioria dos cientistas envolvidos com experimentação animal
possui respeito pela vida, seguindo os princípios éticos da experimentação animal.
Sendo assim, se faz necessário a vigilância, a importância de se ter um comitê de
ética e protocolos, para ter a garantia de que os animais sejam tratados de maneira
adequada, digna e ética. O papel destas vertentes é de assegurar a transparência
dos experimentos e atividades de ensino que empregam animais; sendo parte do
papel do pesquisador de cumprir os preceitos éticos (ANDRADE, 2002).

2.2 Diretrizes

Em se tratando de legislação, de acordo com o decreto 4657, de 04/09/1942,


há uma lei de introdução as normas do direito brasileiro, onde de acordo com o artigo
3, ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.
Há leis predominantes dos crimes ambientais, das quais dispõe sobre as
sanções penais e administrativas às condutas e atividades ao meio ambiente.
De acordo com a Lei 9605/1998: “Incorre nas mesmas penas quem realiza
experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou
15
científicos, quando existirem recursos alternativos.”. A percepção de que os animais
são seres sencientes e que seu uso pode contribuir para o conhecimento se dá por
conta da inserção dos pesquisadores aos conceitos dos 3Rs: Redução, Refinamento
e Substituição (ANDRADE, 2002).
O não cumprimento das orientações para utilização de animais em pesquisa,
acarreta sanções administrativas e penais, caso sejam configurados maus-tratos.

2.3 Ética e cuidados com bem-estar

É importante a avaliação de alternativas ao uso de animais, como analisar


antecipadamente o distresse e a dor, a fim de visar o bem-estar dos animais. O uso
de tratamento paliativo para determinados alívios rotineiros, e os cuidados pré e pós-
operatórios, dando uma boa qualidade com camas confortáveis, temperatura e
umidade ambientes nas faixas de conforto para a espécie, e ruído mínimo, incluindo
anestesia ou analgesia (COBEA, 2018).
A submissão da morte humanitária sem demora, para que nenhum animal que
pareça estar sofrendo de dor ou distresse possa piorar. É considerável a avaliação de
complicações imprevistas e determinar se os Critérios para intervenção e ponto-final
humanitário são devidamente adequados. É interessante a revisão das técnicas,
procedimentos e métodos para evolução na pesquisa. De acordo com as normas, é
sempre recomendado revisar o POP (Procedimentos Operacionais Padrão)
periodicamente, e continuar a revisão de procedimentos ligados a administração em
instalações que contenham animais confinados (DBCA, 2015).
Em suma, a RN 6 CONCEA, de 10/07/2012, segundo o artigo 9 - o Coordenador
de Biotério deverá ser profissional com conhecimento na ciência de animais de
laboratório apto a gerir a unidade visando ao bem-estar, à qualidade na produção,
bem como ao adequado manejo dos animais dos biotérios;
De acordo com as diretrizes, o responsável técnico pelos biotérios possui o
título de Médico Veterinário com registro ativo no Conselho Regional de Medicina
Veterinária da Unidade Federativa em que o estabelecimento esteja localizado.
Para o controle da experimentação, faz-se o uso de leis, comitês e comissões,
e políticas editoriais. De acordo com o Artº 9 - Aos pesquisadores, docentes,
coordenadores e responsáveis técnicos por atividades experimentais, devem
assegurar o cumprimento das normas de criação e uso ético de animais, qualquer
16
pessoa que execute de forma indevida atividades reguladas por esta Lei ou participe
de procedimentos não autorizados pelo CONCEA será passível de penalidades
administrativas relacionadas com interdição definitiva para o exercício da atividade
regulada na lei e suspensão.

3. CONCLUSÃO

A questão ética da experimentação animal e a procura do bem-estar nos dá o


poder de reflexão em relação as condições dos sentimentos e a todos que trabalham
com animais. O conhecimento pode ser adquirido por meio de análises e estudos
sobre ética, bem-estar, métodos alternativos, e inovação. Para proporcionar
conhecimento, o fato de darem cursos de experimentação animal, auxiliar na área da
saúde, medicina veterinária, ciências biológicas e áreas afins. É honroso que os
cientistas ensinem não diretamente só a parte científica. Precisa ter um olhar crítico e
pensar na validade do experimento, o fato de estarem utilizando seres que possuem
sensibilidade, que também sentem e sofrem. Não somente pela lei, mas pela virtude
da ética, é dever de todos os pesquisadores a responsabilidade pelo bem-estar geral
dos animais, ter conhecimento sobre o que está estudando, conhecimentos de
anatomia e fisiologia, a biologia da espécie com que estão trabalhando, para assim,
poder proporcionar o manejo e alimento correto, favorecendo os resultados da
pesquisa e seu desenvolvimento. É importante o treinamento de equipe e discutir a
relevância do experimento, utilizar a metodologia dos 3RS, favorecendo a todos.
Dessa forma, não haverá conflito entre os apelos da ciência e a obrigação de
humanidade para com os animais (DBCA, 2015).

4. REFERÊNCIAS

ANDRADE. A. et al., Animais de laboratório criação e experimentação. Fiocruz,


p.388. 2002.

CFMV. Conselho Federal de Medicina Veterinária – CFMV. Uso das atribuições lhe
conferidas pelas alíneas 'f' e 'j', art. 16, da Lei nº 5.517, 1968.

COBEA. Colégio Brasileiro de Experimentação Animal. Princípios Éticos na


Experimentação Animal. 2013.

17
CONCEA. Ministério da ciência, tecnologia e inovação conselho nacional de controle
de experimentação animal – CONCEA. Diretriz brasileira para o cuidado e a
utilização de animais para fins científicos e didáticos – DBCA. Brasília/DF, 2013.

ONU. Declaração Universal dos Direitos dos Animais – UNESCO. 1978.

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USO E CUIDADOS COM ANIMAIS DE LABORATÓRIO
(Volume I)

CAPÍTULO 3 – Ciência de animais de laboratório

Gabriele Correa1
Raquel Lourenço Moreira1
Bethânia Elias Costa1
Thaís Cristina Ferreira dos Santos1
Evandro Neves Silva1
1
Universidade José do Rosário Vellano – UNIFENAS, Alfenas, MG, Brasil.

“O desenvolvimento da ciência a favor do homem não pode nem


deve servir de alicerce para o uso indiscriminado e o desrespeito
com os animais. É necessária uma postura ética frente à
necessidade do desenvolvimento da ciência e a adoção de
medidas que diminuam o sofrimento dos animais e favoreçam
seu bem-estar” (Marcel Frajblat).

1. INTRODUÇÃO

Durante séculos, os humanos usaram animais em experimentos em busca do


conhecimento científico e dos benefícios de ambos para a saúde. No entanto, por muito tempo,
os animais utilizados foram relegados ao contexto científico. Até recentemente, os modelos
animais e sua importância para a saúde dos resultados experimentais não eram reconhecidos
(REFERÊNCIA).
Dessa forma, surgiu a ciência dos animais de laboratório, onde o principal objeto de
pesquisa era o próprio animal que seria utilizado para a pesquisa e como ele seria criado e
manipulado. A ciência de animais de laboratório abrange muitos campos que fundamentam

19
partes que usam animais em seu trabalho. As áreas incluem: Saúde, genética, gestão, bem-
estar e educação. O objetivo é abordar todas as áreas que enfatizam o bem-estar dos animais,
enfatizando sua importância social e para a pesquisa científica, a fim de trazer benefícios para
ambas as partes (FRAJBLAT, 2008).
Com o avanço da ciência e os questionamentos sobre o uso de animais em
experimentos científicos, transformaram a relação entre humanos e animais, tornando o bem-
estar animal uma importante área de pesquisa.
A ciência animal de laboratório acredita que o bem-estar animal é um dos principais
fatores que afetam os resultados dos experimentos. Para avaliar o bem-estar animal, é
necessário compreender o universo artificial que o contém, e compreender aspectos da
anatomia, fisiologia, comportamento e manejo das espécies envolvidas. A partir desse
conhecimento, houve uma série de obrigações morais para se obter o bem-estar dos animais
de laboratório (FRAJBLAT, 2008).

2. BIOTERISMO E BEM-ESTAR

Há vários fatores que podem desencadear desequilíbrios nos animais, aumentando ou


diminuindo seu bem-estar, sendo os principais o confinamento e a incapacidade de lidar com
situações ruins; entretanto, se faz necessário um ambiente adequado para a criação dos
animais, devido ao fato de que as espécies são sistemas biológicos sensíveis a fatores internos
e externos.
Um biotério tem como definição a instalação dotada de características próprias, que
atende às exigências dos animais onde são criados ou mantidos, proporcionando-lhes bem-
estar e saúde para que possam se desenvolver e reproduzir, e consequentemente, responder
de forma satisfatória aos testes realizados (ANDRADE et al., 2002).
Para se obter bons resultados, os animais de laboratório devem estar em condições
ideais; as instalações são necessárias, e devem ser específicas para a produção e manejo
destes. Deve-se fazer presente o uso de equipamentos, dada a especificidade do trabalho, é
importante o uso de máquinas especiais para a obtenção dos resultados desejados, como:
máquinas de lavar gaiolas, autoclaves etc (ANDRADE et al., 2002).
Em suma, é imprescindível que se tenha um modelo animal, de acordo com as
pesquisas e testes a serem realizados. Os cientistas trabalham com modelos animais que se
diferem do homem, portanto os modelos devem ser comparados ao homem, nos aspectos de
caracteres anatômicos e fisiológicos. Portanto, é necessário que sejam produzidos animais
20
que, quando inoculados com uma determinada substância, apresentem reações semelhantes
às do homem. Os animais devem apresentar características de fácil manejo, terem uma
fisiologia conhecida, ciclo reprodutivo curto, possuírem baixo consumo alimentar e serem de
pequeno porte.
É necessário que se leve em conta as necessidades básicas do animal. O manejo
diário, e os procedimentos experimentais, podem interferir de forma acentuada no
favorecimento ou diminuição do bem-estar dos animais. Portanto, é fundamental que as
pessoas que estão diariamente envolvidos nas atividades diárias do manejo tenham
conhecimento e treinamento para suas atividades. Além disso, é importante que o pessoal
capacitado possua requisitos como: Saúde controlada periodicamente, disciplina e
responsabilidade, além de gostar de trabalhar com animais (AMARAL, 2008).
O estresse causado por excesso de animais confinados pode causar alterações
fisiológicas e comportamentais que influenciarão na resposta ao experimento. Por isso é
importante se ter ambientes mais estáveis, limpos, com luminosidade e temperatura ideais,
isentos de microrganismos patogênicos e que favorecem o bem-estar animal (AMARAL,
2008).
Um animal de laboratório feliz, é aquele que consegue superar o agente estressor,
mesmo que seja aceito que nenhum animal possa viver inteiramente livre de estresse. O
animal infeliz é aquele que não consegue lidar com situações angustiantes que fogem ao seu
controle, resultando em alterações fisiológicas e comportamentais. O estresse ocasiona um
comprometimento do sistema imunológico, refletindo na saúde dos animais e
consequentemente nos experimentos.
A dor é uma experiência individual, e o quanto essa experiência se traduz em um
comportamento observável depende de vários fatores como a espécie, a genética, o sexo, o
peso corpóreo, o condicionamento prévio, a dominância social do animal, a saúde em geral e
as condições do meio ambiente no momento da observação (EKATERINA, 2008).
Um dos principais estressores para os animais é a dor, por isso é importante saber
reconhecer quando os animais estão sofrendo como consequência de um procedimento e
também qual o grau desse sofrimento. É necessário colocar em prática o aprimoramento das
técnicas utilizadas nos animais, fazendo com que aconteça a redução do estresse associado
a ela.
É muito utilizada o enriquecimento ambiental para o aumento do bem-estar, em que se
baseia em dar ao animal condições que estimulem seu comportamento natural. Qualquer
modificação que altere de forma benéfica o ambiente ou a rotina do animal pode ser
21
considerada um enriquecimento ambiental, a qual não pode interferir com o experimento
sendo que alguns podem introduzir patologias indesejáveis ou problemas no manejo.

3. QUALIDADE SANITÁRIA

São fundamentais o uso de barreiras sanitárias nos biotérios de criação e de


experimentação; São como mecanismos físicos, químicos e biológicos que minimizam os
efeitos da interação entre agentes biológicos de risco com o homem e o animal e que são
necessários de acordo com o grau de risco do agente envolvido (CEUA, 2013).
É importante o monitoramento da saúde dos animais e dos técnicos, a fim de se evitar
doenças que podem ser transmitidas do homem para os animais, por isso o ambiente do
biotério requer cuidados rigorosos, pois os animais vivem em ambientes artificiais, recebem
dieta padronizada e muitas vezes ocorre a indução artificial de doenças. Portanto, quanto mais
eficientes são as barreiras sanitárias dos biotérios, menores as chances de contaminação dos
animais e do homem.
O manejo na criação e manutenção de animais de laboratório se dá através de técnicas
que resultam em animais livres de qualquer forma de vida associada.
Há a classificação microbiológica em que se tem os tipos:
o Gnotobióticos → Possuem uma microbiota associada conhecida.
o Germ free → Animais totalmente isentos de germes.
o Specific patogen free (SPF) → Animais isentos de agentes patogênicos Específicos.
o Animais convencionais → Animais que possuem microbiota indefinida.

Os fatores como temperatura, umidade, ventilação e qualidade do ar, luz e ruído devem
ser controlados o máximo possível.

As barreiras sanitárias são definidas como “O conjunto de sistemas que combina


aspectos construtivos, com equipamentos e métodos operacionais que buscam estabilizar as
condições ambientais das áreas fechadas e restritas, e minimizar a probabilidade de
patógenos e outros microrganismos indesejáveis infectarem a população animal das áreas
limpas (ILAR, 1976).”
Todo e qualquer biotério deve manter as condições mínimas de higiene em seu meio
ambiente. Porém, os biotérios destinados à manutenção de animais SPF ou gnotobióticos são
obrigados a cumprir essa exigência sob pena de invalidar todo o trabalho nele desenvolvido.
22
Para se certificar do pleno cumprimento dessa obrigação, são realizados os testes de controle
sanitário e físico-químico do meio ambiente dos biotérios (ANDRADE et al., 2002).
É necessário se ter um controle de vetores devido os biotérios possuírem ração com
odores característicos. Da mesma forma, os insetos, são uma ameaça e, por conta disso, um
bom programa de desratização e desinsetização deve ser adotado para eficiência do sistema.
É importante que se tenha todos os cuidados, afinal, determinados cheiros como
inseticidas podem intoxicar os animais do biotério. Deve-se então manter uma distância entre
o acesso dos animais para se evitar problemas. Nas áreas de estoque de ração e maravalha,
o uso de inseticidas por pulverização é desaconselhável. As salas de animais também devem
ser excluídas do programa. Os testes microbiológicos se limitam, sobretudo, aos de
bacteriologia e micologia (DE-LUCA et al., 1996).
Eles são adotados em todo o meio ambiente, envolvendo as salas de estoque de
material limpo, equipamentos e insumos. O material é coletado através de swabs ou placas
com meios de cultura e são cultivados até a obtenção do diagnóstico final. A frequência desses
testes é de quinze dias para um ambiente SPF e de uma semana para o gnotobiótico. Em um
ambiente de biotério convencional, essa prática é adotada apenas quando se faz a
desinfecção do ambiente das salas de animais, com o intuito de avaliar a eficácia do
desinfetante utilizado.
Os testes físico-químicos são destinados, aos desinfetantes, detergentes, produtos
químicos e rações utilizados nos biotérios. Na aquisição destes produtos, os testes físico-
químicos devem ser realizados para se certificar da qualidade dos produtos. Portanto, a cada
partida de ração recebida pelo biotério, devem ser realizados testes físico-químicos e também
os microbiológicos (JALMES et al., 1997).
A realização do controle da qualidade sanitária é limitante quando se trata de animais
de laboratório convencionais ou holoxênicos, ou seja, aqueles que possuem microbiota
indefinida por serem mantidos em ambiente desprovido de barreiras sanitárias rigorosas.
A “monitorização genética” e o “controle sanitário e físico-químico do meio ambiente”
são ações necessárias na realização do controle da qualidade dos animais de laboratório. O
controle genético é necessário para definir o status genético de uma colônia dos animais em
pesquisa e deve fazer parte do controle de qualidade (BARTHOLD, 2016).
Todas as referidas medidas são importantes quando se trata do controle sanitário. Com
o uso devido e manejo dos animais, pode-se reduzir a quantidade destes utilizados e de
repetições nos experimentos; conseguir resultados confiáveis sem a influência de

23
contaminações dos animais; evita a interferência na resposta imune do animal por infecções
assintomáticas (BAKER, 2008).

4. CONCLUSÃO

O desenvolvimento da ciência a favor do homem não pode nem deve servir de alicerce
para o uso indiscriminado e o desrespeito com os animais. É necessária uma postura ética
frente à necessidade do desenvolvimento da ciência e a adoção de medidas que diminuam o
sofrimento dos animais e favoreçam seu bem-estar. É importante lembrar sempre que a
credibilidade do resultado da pesquisa depende do bem-estar vivenciado pelo animal durante
sua realização, da sensibilidade do pesquisador para o entendimento de seus sofrimentos e
necessidades e do bom senso nas tomadas de decisão e atitudes.
Pela necessidade das experimentações serem realizadas em animais antes que
qualquer produto seja aplicado ao homem, uma vez que este não pode ser transformado em
cobaia e considerando, ainda, que a essência do trabalho é salvar vidas humanas mediante a
produção desses animais e sua posterior utilização, o bioterismo assume um papel de suma
importância e deve ser encarado com total responsabilidade tanto por parte daqueles que
desenvolvem tais atividades quanto por parte de nossos dirigentes.

5. REFERÊNCIAS

ANDRADE, A. O bioterismo: evolução e importância. Fiocruz, p.388. 2002.

BARTHOLD, S. et al., Pathology of Laboratory Rodents and Rabbits. p. 364, 2016.

BROOM, D.M. et al., “Bem-estar animal: conceitos e questões relacionadas – Revisão”.


Archives of Veterinary Science, v. 9, n. 2, p. 1-11, 2004.

CHAMOVE, A. S. “Cage design reduces emotionality in mice”. Laboratory Animals, v. 23, p.


215-219, 1989.

DE-LUCA, R.R. et al., Manual para Técnicos em Bioterismo. São Paulo: Winner Graph,
1996.

FRAJBLAT, M.C. et al., Ciência em animais de laboratório. Cienc. Cult. vol.60 nº.2 São Paulo
2008.

24
USO E CUIDADOS COM ANIMAIS DE LABORATÓRIO
(Volume I)

CAPÍTULO 4 – Modelo animal e modelos alternativos

Gabriele Correa1
Raquel Lourenço Moreira1
Bethânia Elias Costa1
Thaís Cristina Ferreira dos Santos1
Evandro Neves Silva1
1
Universidade José do Rosário Vellano – UNIFENAS, Alfenas, MG, Brasil.

“Camundongos são camundongos, humanos são humanos, se


olharmos para o modelo animal em qualquer aspecto patológico
ou curativo, estaremos apenas perdendo tempo” (Dr. Clif Bany;
2011).

1. INTRODUÇÃO

Com a ampliação do conhecimento científico, começaram a surgir escolas que


aceitavam alunos de outras partes do mundo, que depois retornavam a seus países de origem
e lá continuavam a desenvolver e a disseminar os ensinamentos recebidos. A partir disso
começou a se desenvolver o modelo animal. Para que os experimentos pudessem ser
reproduzidos e o trabalho continuasse, havia a necessidade de se utilizar o mesmo animal. O
conceito de modelo animal surgiu: Era aquele animal que melhor respondia ao experimento e
possibilitava a sua reprodução, de maneira que qualquer pesquisador pudesse ter acesso aos
mesmos resultados. Em virtude disso, cada vez mais espécies foram trazidas para os
laboratórios, pois havia aquelas que forneciam respostas satisfatórias, as que não eram
modelos tão bons e as que não sobreviviam ao cativeiro (FRAJBLAT, 2008).

25
No início do século XX, a ciência tomou grande impulso e, com ela, a ciência de animais
de laboratório começou a progredir. Os roedores são os mais utilizados até hoje, pois atendem
às características, tais como: docilidade, fácil domesticação, adaptação a ambientes variados
e sociabilidade. Além destas, algumas foram adquiridas, ao longo da sua utilização, como o
albinismo, que possibilita a marcação e visualização de experimentos realizados na pele
(ANDRADE, 2002).
A utilização de animais com objetivos científicos é uma prática comum, sendo
necessário o estabelecimento de uma cultura de cuidados, e responsabilidades para a
melhoria da descoberta científica e do bem-estar. Esses conhecimentos são de fundamental
importância tanto para o estabelecimento de colônias de animais de laboratório como para a
sua utilização na experimentação.

2. MANEJOS GERAIS DOS ANIMAIS DE LABORATÓRIO

Para se ter o manejo adequado, é importante considerar as instalações, o conforto


físico e proporcionar um estado adequado de nutrição aos animais. Este conjunto proporciona
a prevenção de fatores predisponentes às doenças e possibilita a adoção de métodos de
controle. As instalações devem ser planejadas de maneira a permitir a realização de
procedimentos de higienização, e desinfecção, respeitando os aspectos etológicos.
Os animais de laboratório possuem características particulares e próprias de cada
espécie. Por esse motivo, não devem ser alojadas espécies diferentes em uma mesma sala
de experimentação. Da mesma forma, os profissionais, devem trabalhar exclusivamente em
uma única área predeterminada. Proceder rotineiramente a inspeção dos animais e de seus
alojamentos, detectando alterações que necessitem intervenção, favorecem o bem-estar e o
estado sanitário do animal (MOLINARO, 2009).
As barreiras sanitárias e o acasalamento controlado tem sido as medidas utilizadas
pelos bioteristas para obter as linhagens da espécie animal com padrões sanitários e genéticos
recomendado para pesquisa.
O padrão sanitário dos animais se classifica em três grupos distintos: animais
gnotobióticos, que possuem microbiota associada definida e devem ser criados em ambiente
com barreiras sanitárias absolutas; Animais livres de germes patogênicos específicos (SPF),
que não apresentam microbiota capaz de determinar doenças, ou seja, albergam somente
microrganismos patogênicos; E animais denominados de convencionais, que possuem

26
microbiota indefinida por serem mantidos em ambiente desprovido de barreiras sanitárias
rigorosas (MOLINARO, 2009).
Para a genética os animais são classificados em dois grupos: não-consanguíneos e
consanguíneos. Os animais não-consanguíneos, heterozigotos são aqueles que apresentam
constituição genética variada, em estado de heterozigose, o que deve ser conhecido e
mantido. Para o acasalamento monogâmico de roedores e poucas espécies de primatas,
mantêm-se um macho para uma fêmea, na gaiola. Tem a vantagem da facilidade de
identificação dos filhotes e a manutenção de registro fidedigno.
O acasalamento poligâmico é um método que compreende um macho para um grupo
de duas ou mais fêmeas. É mais utilizado em colônias de animais de produção de roedores e
na grande maioria das espécies primatas com esta característica reprodutiva (MOLINARO,
2009).

3. PRINCIPAIS MODELOS USADOS NA EXPERIMENTAÇÃO

- Camundongo (figura 1A): Possuem porte pequeno, muito prolífero, possui um curto
período de gestação, é de fácil domesticação e manutenção. Tornou-se o animal mais utilizado
na pesquisa científica. Quando as fêmeas se agrupam em grande quantidade em ausência do
macho, se produz o período de anestro, entrando novamente em atividade três a quatro dias
depois de introduzir o macho. Dessa forma, obtém várias gestações em um mesmo período.
Os camundongos absorvem o embrião, que ocorre com maior frequência nas fêmeas
consanguíneas, devido a presença de feromônios. O camundongo adulto deve ser
manipulado individualmente pela base da cauda, com polegar e indicador ou pinça anatômica,
mas o peso do animal deve ser apoiado na mão do profissional ou outra superfície, o mais
rápido possível (ANDRADE, 2002).
- Rato (figura 1B): Encontra-se atualmente na maioria dos biotérios, é semelhante aos
outros animais monogástricos, exceto pelo fato de não possuir vesicular biliar e de seu
pâncreas ser difuso. Ratos são dóceis e fáceis de manusear: uma compressão firme e suave
ao redor da cavidade torácica restringe os seus movimentos sem trazer sensação de
desconforto. Tão logo a rata é coberta, forma-se um tampão na vagina, que é expelido nas 24
horas pós-cobertura. Este fato é observado em outros membros da família dos roedores. O
tampão pode ser notado facilmente entre as fezes, na forma de um cilindro branco seroso e
sua observação indica que houve cobertura do macho.

27
- Hamster (figura 1C): O hamster é uma espécie sazonal que entra em hibernação
durante os períodos de dias curtos com baixa luminosidade, baixas temperaturas (inferiores a
5ºC) e escassa disponibilidade de recursos alimentares e de material para construção de
ninho. No biotério, o controle ambiental com temperatura constante da ordem de 21 a 22ºC e
12 | 187 horas de claridade por dia evita a manifestação de sazonalidade, inclusive na esfera
reprodutiva. Foi amplamente demonstrado o efeito das condições de alojamento sobre o
crescimento, o peso e a composição corporal de hamsters. O alojamento em grupo acelera o
crescimento e a deposição de gordura, induzindo quadros de obesidade, especialmente nas
fêmeas, porém sem ocorrência de hiperfagia.
- Cobaia (figura 1D): São animais sociais, dóceis e raramente mordem ou arranham.
Assustam-se facilmente, defecam e urinam nos comedouros e derramam sua alimentação
pelo piso da gaiola. Os animais adultos, frequentemente, mordem as orelhas dos jovens e os
machos podem brigar violentamente, principalmente durante disputas por uma fêmea até que
se estabeleça a hierarquia do grupo.
Outra característica é a sua extrema suscetibilidade a estímulos estressantes,
principalmente a alterações ambientais, podendo levar os animais a recusar o alimento.
O trabalho com esta espécie deve ser realizado com muito cuidado, principalmente no
que se refere as fêmeas grávidas ou com filhotes recém-nascidos, que podem ser pisoteados
pelos outros animais do grupo. O método mais seguro para conter uma cobaia é colocar uma
mão sob o tórax e, com a outra, apoiar a parte posterior, para suportar o peso do animal,
permitindo que ele fique sentado sobre a palma da mão.
- Coelho (figura 1E): Considera-se um animal dócil, podendo morder ou arranhar em
razão da contenção incorreta. Suscetível ao estresse, assusta-se facilmente. Não se deve
manter machos adultos em uma mesma gaiola para evitar brigas, as fêmeas também não
devem ser mantidas na mesma gaiola porque podem apresentar pseudogestação.
Para o acasalamento, a coelha deve ser levada a gaiola do macho para facilitar a
cobertura. Uma vez introduzida a fêmea na gaiola do macho, deve ocorrer a cobertura após
alguns minutos. Após a cobertura, a fêmea deve retornar a sua gaiola de origem. Esses
animais são mais sensíveis ao calor do que ao frio.
Para grandes trajetos, coloca-se o animal sobre o antebraço com a cabeça dirigida para
o corpo, segurando firmemente as patas traseiras. Nunca se deve levantar um coelho pelas
patas ou pelas orelhas, pois há a propensão a lesões de coluna vertebral e fraturas.

28
Figura 1. Modelos empregados na experimentação.

Fonte: Autores

4. MODELOS ALTERNATIVOS

São considerados métodos alternativos quaisquer métodos que possam ser usados
para substituir, reduzir ou refinar (3’Rs) o uso de experimentos com animais na pesquisa
biomédica, ensaios ou ensino.
Segundo a lei 11794, de 2008, conhecida como Lei Arouca, uma experiência não pode
ser realizada em animais, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem
recursos alternativos.
A fim de contemplar os objetivos do método 3’Rs, diversas metodologias têm sido
desenvolvidas e apresentadas. Entretanto, para que elas sejam utilizadas é necessária a
elaboração de protocolos de estudo, os quais são publicados apenas quando a nova proposta
de ensaio já fora avaliada, validada e aprovada pelos órgãos competentes.
O segundo passo consiste no reconhecimento e na utilização de tal metodologia dentro
da proposta regulatória de cada país.
Diversos países, tais como os Estados Unidos e membros da comunidade europeia já
aprovaram a utilização de métodos alternativos no processo de registro de novas substâncias,
assim como a substituição de alguns métodos clássicos por outros que se enquadrem na
proposta dos 3’Rs, como por exemplo, a substituição do estudo clássico com animais de
laboratório.
A Fiocruz também integra a Rede Nacional de Métodos Alternativos (RENAMA) ao uso
de animais. A criação do RENAMA permite a existência de uma infraestrutura laboratorial e de
recursos humanos especializados, capazes de implantar métodos alternativos ao uso de
animais e desenvolver e validar novos métodos no Brasil (FIOCRUZ, 2008).
Pelo contexto histórico grandes avanços científicos na área da saúde só foram
possíveis graças à utilização de animais como modelos para estudos. O uso destes salvou, e
ainda salva, muitas vidas humanas, porém esta prática, que traz cura, prevenção e tratamento

29
para doenças, também pode gerar dor e estresse nos animais, trazendo conflitos complexos,
principalmente naqueles que defendem a causa animal.
Deve-se levar em conta os episódios que ocorreram quando tais testes não eram
exigidos ou não tinham regulamentação rigorosa, como o caso da máscara de cílios Lash Lure,
que não foi testada quanto à segurança ocular e levou a casos de cegueira e até uma morte
após a utilização do produto, e da talidomida, que foi comercializada sem a realização de todos
os testes pré-clínicos adequados e, após ser consumida por mulheres grávidas, gerou
problemas severos nos bebês, como falta ou encurtamento de membros (BIOTEC, 2019).
No entanto, muitos desses testes ainda são questionados eticamente por submeter os
animais a efeitos adversos, mesmo tentando aliviá-los ao máximo, com o uso de anestésicos,
analgésicos e anti-inflamatórios. Dentre os métodos que têm a capacidade de reduzir, refinar
ou substituir o uso de animais em testes científicos estão:
- Métodos alternativos in silico: A utilização de modelos matemáticos ou computacionais
de softwares pode predizer o potencial risco oferecido por novas substâncias, com base na
semelhança de propriedades físico-químicas com outras substâncias já existentes e em outras
informações extraídas de bancos de dados.
- Métodos alternativos in vitro: São métodos que utilizam o cultivo de células, tecidos e
órgãos fora do organismo, em laboratório, visando obter a mesma informação que seria obtida
com o modelo animal.
- Sistemas microfisiológicos: Esta tecnologia robusta promete maior poder preditivo e
combina o cultivo de células em três dimensões, os chamados organoides, na tentativa de
mimetizar o organismo de forma fisiológica e assim substituir, o uso do modelo animal.

5. VANTAGENS DOS MÉTODOS ALTERNATIVOS

Atualmente os métodos alternativos mais acessíveis, têm grande potencial para reduzir
e até mesmo substituir o uso de animais. Estes métodos são, em muitos casos, mais rápidos
e baratos, além de terem condições experimentais altamente controladas e resultados
quantificáveis, diferente de alguns testes em animais que geram resultados subjetivos e
demandam mais tempo e gastos.
Outra vantagem é a possibilidade de utilização de células humanas (linhagens
comerciais usadas para pesquisa e compradas de bancos de células), eliminando o problema
da distância filogenética entre animais e humanos e levando a uma maior taxa de sucesso na
transição dos testes pré-clínicos para os clínicos.
30
6. CONCLUSÃO

Pelo grande conhecimento sobre os principais modelos animais, sua manipulação


genética foi um passo natural, e hoje, obedecendo ainda ao conceito de modelo animal,
podemos dispor de animais muito mais adequados, já que seu genoma é resultante de
acasalamentos dirigidos, os quais realçam determinadas características. O grau de satisfação
é tanto que se pode afirmar existir, para cada experimento realizado, um modelo cuja resposta
é a mais adequada, e que esses modelos são facilmente encontrados, fazendo com que a
pesquisa seja universalizada e bem-sucedida.

7. REFERÊNCIAS

ANDRADE, A. O bioterismo: evolução e importância. Fiocruz, p.388. 2002.

BARTHOLD, S. et al., Pathology of Laboratory Rodents and Rabbits. p. 364, 2016.

BROOM, D.M. et al., “Bem-estar animal: conceitos e questões relacionadas – Revisão”.


Archives of Veterinary Science, v. 9, n. 2, p. 1-11, 2004.

CHAMOVE, A. S. “Cage design reduces emotionality in mice”. Laboratory Animals, v. 23, p.


215-219, 1989.

DE-LUCA, R.R. et al., Manual para Técnicos em Bioterismo. São Paulo: Winner Graph,
1996.

FRAJBLAT, M.C. et al., Ciência em animais de laboratório. Cienc. Cult. vol.60 nº.2 São Paulo
2008.

31
USO E CUIDADOS COM ANIMAIS DE LABORATÓRIO
(Volume I)

CAPÍTULO 5 – Nutrição animal

Rhuan de Andrade Souza1


Vanessa Alexandra Correa1
Regiane Tercetti Rodrigues1
Thaís Cristina Ferreira dos Santos1
Evandro Neves Silva1
1
Universidade José do Rosário Vellano – UNIFENAS, Alfenas, MG, Brasil.

“A pesquisa com animais tem sido uma parte integrante e


imprescindível do desenvolvimento da medicina moderna,
evitando a morte de um número incalculável de pessoas e
prevenindo imenso sofrimento humano” (Nestor Schor, Mirian A.
Boim).

1. INTRODUÇÃO

A nutrição animal tem sua importância no aumento da produtividade, e seguir


uma dieta equilibrada é essencial para saúde dos roedores. Com ela, será fornecido
à sua criação os nutrientes necessários para a produção de energia. Além disso,
permite ao organismo dos animais o correto funcionamento. A dieta é um fator
ambiental capaz de influenciar o fenótipo dos animais e, embora os cientistas possam
utilizá-la para a indução de doenças como diabetes, obesidade ou até mesmo a
hipertensão em seus modelos experimentais (BARBOSA, 2008).

32
A ciência de animais de laboratório dispõe de uma cadeia organizada no âmbito
do desenvolvimento de equipamentos, produtos, técnicas de manejo e genética
animal. Porém, a nutrição não tem acompanhado no mesmo rimo de desenvolvimento,
tanto por parte da academia, quanto pela indústria. Pesquisas direcionadas ao
desenvolvimento de novos produtos, com a revisão e validação das exigências
nutricionais devem ser continuamente incentivadas (MOURA, 2014).
As rações comerciais disponíveis no Brasil apresentam formulação única para
todas as espécies, linhagens e categorias de camundongos, ratos e hamster, sem
considerar as exigências interespecíficas (MOURA, 2014).

2. NUTRIÇÃO

O termo nutrição animal pode ser definido por um conjunto de processos em


que um organismo vivo venha a digerir ou assimilar os nutrientes contidos nos
alimentos que são ingeridos por seu organismo, transformando-os em peças
importantes para seu crescimento, manutenções fisiológicas, como a reparação de
tecidos corporais e produção de componentes químicos para garantir a sua
homeostase. Na última década, têm-se prioritariamente pesquisas direcionadas ao
uso de nutrientes na promoção de saúde, prevenção de doenças degenerativas,
melhoria da qualidade de vida e aumento da expectativa de vida de cães e gatos”
(SILVANIA et al., 2013)
A má administração alimentar, pode acarretar problemas sérios com as cobaias
e sua prole. Problemas estes que podem começar com o adoecimento dos animais e
gerar até mesmo a morte deles. Além de impossibilitar os estudos com esses animais,
uma vez que os problemas gerados pela má alimentação podem ser aleatórios e
prejudicial as pesquisas. Formulações inadequadas oferecidas aos animais de
laboratório podem causar variações até mesmo em resultados de investigações
submetidas a rigorosos procedimentos de controle de variáveis. Um bom exemplo de
como os investigadores das mais diversas áreas das ciências biológicas, devem estar
atentos a qualidade das dietas oferecidas aos seus animais (BARBOSA apud WANG
et al., 2008)
Um exemplo de nutrição incorreta também pode ser aplicado a animais
domésticos, destinados a produção. A nutrição destes animais é responsável por
contribuir com a elaboração dos produtos de origem animal (leite, ovo e deposição de
33
gordura animal), sendo assim podemos citar um novo exemplo que são que são os
ovinos, mamíferos domesticados e normalmente mantidos como gado, onde pode ser
empregado em sua nutrição componentes que contém o tanino (MCDONALD et al.,
1995). Os taninos na nutrição animal podem ser classificados como um fator
antinutricional e esta característica é majoritariamente notada em animais que são
monogástricos, nos quais níveis maiores que 1% de taninos condensados na dieta
podem trazer prejuízos para a produção, isso pode afetar diretamente o consumo e a
digestibilidade da proteína e dos aminoácidos essenciais (MCDONALD et al., 1995).
O valor de todas as substâncias que venham a ser consideradas alimentos,
serão baseadas em seus teores de nutrientes, daí a importância da nutrição. Todo
nutriente é definido como constituinte, ou um grupo de constituintes, de igual a
composição química geral. Considerando está ciência, a base da nutrição animal,
procura considerar primeiramente os nutrientes e depois os alimentos, assim pode-se
pensar essencialmente nos nutrientes para depois pensar nos alimentos que os
integram. “Segundo Silvânia e colaboradores (2013) em sua pesquisa resultados
mostraram que as rações que continham composições semelhantes em proteínas,
cerca de (21-24%), umidade (9-11%) e lipídeos (4-7%), o coeficiente de digestibilidade
variou de 70% a 80% nas dietas comerciais, enquanto na dieta-padrão foi de 95%
(SILVANIA et al., 2013). Além disso, a composição em minerais variou muito, e que
no caso do ferro, sua concentração, em uma das dietas comerciais, chegou a ser 20
vezes maior do que a da dieta padrão. Afirmando assim que a variação na composição
dos nutrientes cria ambientes nutricionais diferentes cujas consequências
experimentais muitas vezes não são consideradas pelo pesquisador.”

2.1 Formulações da dieta

A alimentação representa a maior parte dos recursos a serem investidos nas


pesquisas que envolvem a produção de animais de laboratório; sendo assim, a
eficiências e os custos condicionam elevadamente o êxito na produção destes
animais. Todos os erros nas formulações de dietas e a falta de exatidão nas
necessidades nutricionais, levará a limitação da produção animal. “Como a
alimentação é responsável por uma parcela significativa do custo total de produção, a
procura por alimentos mais eficientes e econômicos para serem utilizados na
alimentação animal é constante e, dentre os alimentos para animais domésticos, os
34
proteicos são os de custo mais elevado uma vez que a maioria concorre com a
alimentação humana” (SALMAN et al., 2010).Sendo assim, a formulação de dietas
tem de obedecer a uma infinidade de informações, como a necessidade nutricionais
do animal que irá constituir a pesquisa, os alimentos que deverão ser usados, o
consumo produzido por estes animais e o consumo esperado destes alimentos.
No geral, o consumo dos animais tende a satisfazer todas as suas
necessidades energéticas. Sendo assim, se o alimento contiver uma densidade
energética maior, eles comerão uma menor quantidade, e assim consequentemente,
uma menor quantidade proteica (NRC, 1995).
A proporção e quantidade de aminoácidos absorvidos tem de ser semelhante
com a proporção e quantidade de aminoácidos oferecidos. Os aminoácidos
excessivos serão metabolizados e utilizados como fonte de energia. Entretanto, na
deficiência de aminoácidos será limitada a síntese das proteínas, exigindo que os
demais aminoácidos cubram sua função, prejudicando a síntese proteica no
organismo (ANDRIGUETTO, 2002).
Além da importância na quantidade proteica a ser oferecida aos animais, é
importante que se avalie a qualidade proteica da dieta (LEWIS et al., 2006). Segundo
o National Research Council (NRC) de 1995, os aminoácidos essenciais para ratos
adultos são histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilalanina, triptofano,
treonina, valina. Além disto, o NRC determina que a necessidade de proteína para
crescimento e reprodução seja de 15% e para manutenção de 5% (NRC, 1995).
Para que tudo ocorra de maneira correta, deve-se conhecer as exigências
nutricionais de cada espécie de animal de laboratório. Levando em conta que a
quantidade de alimento ingerido vem a ser determinado pelas necessidades
energéticas de cada espécie, e é fundamental estabelecer a densidade de calorias da
dieta e determinar a quantidade de nutrientes.
Pode-se considerar a nutrição experimental uma área muito complexa, pois
nela envolve muitas variáveis como a composição das rações, as espécies genéticas,
categoria zootécnica, ambiente, etologia (MOURA, 2014).

2.2 Classificações das dietas

Dietas quimicamente definidas – Onde é empregado os componentes na sua


forma química pura (aminoácidos, glicose, triglicerídeos, sais inorgânicos e vitaminas).
35
Esse recurso é utilizado em estudos que necessitem de controle rigoroso de
determinados nutrientes. Segundo (COSTA et al., 2014). Já as dietas purificadas -
American Institute of Nutrition (AIN-93): Ingredientes refinados (caseína, proteína de
soja, sacarose ou amido, óleo vegetal ou gordura animal, além da celulose). Nas
dietas purificadas as necessidades nutricionais dos animais serão atendidas através
de ingredientes de grau analítico puros. Fazendo com que o pesquisador tenha um
controle absoluto a todos os fatores da dieta que interferem na sua hipótese. Estas
dietas estão disponíveis geralmente em forma de pelets, grânulos ou pó. Dietas
purificadas, são formuladas com combinações de ingredientes purificados, que serão
extraídos da; Caseína (proteína); óleo vegetal (lipídeos); a sacarose e amido
(carboidrato). Sendo considerada uma dieta bem estabelecida (COSTA et al., 2014).
Enquanto a dieta de ingredientes naturais – NRC = Committe on Animal Nutrition
Board on Agriculture, National Council, Washington – 1985/1995: Produtos e
subprodutos agrícolas (milho ou trigo moídos, farelo de soja e farinha de peixe). Essas
dietas venham a ser aplicadas por serem mais econômicas, terem grande durabilidade
e serem aceitas pelos animais. Porém, como nem todos os produtos desta dieta
podem ser considerados completamente naturais, pois na sua maioria contém
realmente ingredientes naturais, porém pode conter alguns outros elementos não
naturais, pois também existe a variação de componentes e qualidade em diferentes
marcas (LEWIS et al., 2006).

2.2.1 Dietas experimentais

As dietas experimentais seguem os mesmos conceitos já citados em livros


relativos a correta alimentação dos animais, conceitos esses que são as formulações
das dietas, os alimentos a serem usados, formato de demonstração e ingestão
esperada. Porém a ênfase é na forma de elaboração destes alimentos que são
empregados com a finalidade de enriquecer a ação da utilização da dieta. formato de
demonstração da dieta e ingestão esperada de alimentos. Para Faria (2011) “tudo
precisa estar perfeitamente balanceado de combinação com os referentes fases do
desenvolvimento do animal e sua reprodução”. Um exemplo disto é a ração farelada
que dá origem a dois tipos de dieta: extrusada e peletizada. Que são estabelecidas
com um método no qual os alimentos serão umedecidos expandidos por um tubo pela
combinação de umidade, pressão e calor (FARIA; STABILLE, 2007), provocando a
36
alteração química e física do alimento, causando uma maior gelatinização do amido
presente no alimento, que consequentemente gera uma melhora na digestibilidade do
amido, das gorduras e das proteínas (RAMOS, 1993 apud FURUYA et al., 1998). Na
peletização é feita uma intervenção de moldagem, gerando um processo no qual as
partículas finamente repartidas serão acumuladas de uma forma espessa, que
chamaremos de granulo ou pellet (figura 1). O formato peletizado diminui o
desperdício promovendo a preensão e mastigação pelo animal e reduz a seletividade
e segregação dos ingredientes transformando-os em alimentos mais aceitáveis
(FARIA; STABILLE, 2007).

Figura 1. Formulações e elaboração das rações ad libitum.

Fonte: Autores

3. CONCLUSÃO

A má gestão alimentar pode causar sérios problemas nos animais e toda sua
prole. Esses problemas podem começar com doenças e até levar à morte. Além de
37
impossibilitar a pesquisa com esses animais, os problemas decorrentes da má
alimentação podem ser aleatórios e prejudiciais à pesquisa. Formulações
inadequadas fornecidas a animais de laboratório podem levar à variabilidade nos
achados se submetidos a programas de variáveis rigorosamente controladas.
Pesquisadores das mais diversas áreas das ciências biológicas devem atentar para a
qualidade das dietas fornecidas aos animais.
Sendo assim, para que tudo funcione, é fundamental conhecer as
necessidades nutricionais de cada animal de laboratório. Lembrando que a
quantidade de alimentos ingeridos depende das necessidades energéticas de cada
espécie, por isso é importante determinar a densidade calórica da dieta e determinar
a quantidade de nutrientes.

4. REFERÊNCIAS

ANDRIGUETTO, J.M. et al., Nutrição Animal: As bases e os fundamentos da


nutrição animal. São Paulo: Nobel, 2002. p.400. Disponível em SciELO Books.

BIOTERISMO DA FIOCRUZ-PE, 29 out. 2010, Recife, Brasil. Recife: Fiocruz, 2011.

CARCIOFI, A.C. et al., Aulas Cavalieri Progresso científico sobre nutrição de animais
de companhia na primeira década do século XXI. Revista Brasileira de Zootecnia.
2010, v.39, p.35-41.

CHORILLI, M. et al., Animais de laboratório: o camundongo. Revista de Ciências


Farmacêuticas Básica e Aplicada. v. 28, n.1, p.11-23, 2009.

COSTA, N.M.B., et al. Nutrição experimental: Teoria e prática. 1ºed, Rio de Janeiro:
Rubio, 2014.

FARIA, H.G. et al., Considerações sobre dietas experimentais para animais de


Laboratório: formulações, aplicações, fornecimento e efeitos Experimentais. In:
Simpósio de Pesquisa. 2010.

FARIA, H.G.; STABILLE, S.R. Desempenho de Ratos (Rattus Norvegicus) da


linhagem Wistar em crescimento alimentados com dietas extrusadas e peletizadas.
Acta Scientiarum Biological Sciences. v. 29, n. 1, p. 75-79, 2007.

FCF-IQ/USP. Manual de Cuidados e Procedimentos com Animais de Laboratório


do Biotério de Produção e Experimentação. Universidade de São Paulo Faculdade
de Ciências Farmacêuticas Instituto de Química (FCF-IQ/USP), 2010.
38
LEWIS, S.M. et al. Nutrition. In: SUCKOW, M. A., WEISBROTH, S.H., FRANKLIN, C.L.
The laboratory rat. American College of Laboratory Animal Medicine. p.53–70,
2006.

MOURA, A.M.A. et al., Adolpho Marlon Antoniol de Nutrição de Roedores de


Laboratório: Paradigmas e Desafios. Fundação Oswaldo Cruz. Centro de Criação de
Animais de Laboratório.

MOURA, A.M.A. et al., Nutrição de roedores de laboratório: paradigmas e desafios.


Resbcal, São Paulo, v.2, n.4, p. 288-296, 2014.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient Requeriments of Laboratory Animals.


Washington, D.C.: National Academy Press, 1995, 173p.

SALMAN, A.K.D. et al., Metodologias para avaliação de alimentos para ruminantes


domésticos. Porto Velho: Embrapa, 2010.

SELINGER, S.B. et al., The rumen: a unique source of enzymes for enhancing
livestock production. Anaerobe. 1996, 2(5): 263-84.

39
USO E CUIDADOS COM ANIMAIS DE LABORATÓRIO
(Volume I)

CAPÍTULO 6 – Genética em animais de laboratório

Rhuan de Andrade Souza1


Vanessa Alexandra Correa1
Danielly Beraldo dos Santos Silva1
Thaís Cristina Ferreira dos Santos1
Evandro Neves Silva1
1
Universidade José do Rosário Vellano – UNIFENAS, Alfenas, MG, Brasil.

“A contínua evolução do conhecimento humano, especialmente


o da biologia, bem como das medicinas humana e veterinária,
repercute no desenvolvimento de ações envolvendo a criação e
experimentação animal, desencadeando a constante e
necessária atualização de suas técnicas e procedimentos”
(Antenor Andrade, Sergio Correia Pinto, Rosilene Santos de
Oliveira).

1. INTRODUÇÃO

Animais de laboratório definidos são aqueles criados e produzidos sob


condições ideais e mantidos em um ambiente controlado, com conhecimento e
acompanhamento microbiológico e genético seguros, obtidos por monitoração
regular. Os chamados animais de laboratório convencionais podem satisfazer as
exigências da experimentação biológica, ao passo que animais obtidos na natureza

40
não as satisfazem, pois não são submetidos a nenhum tipo de controle genético-
reprodutivo (ANDRADE, PINTO, OLIVEIRA, 2002).
Em alguns países a produção e padronização dos animais de laboratório mais
utilizados em pesquisa, estão em pleno aperfeiçoamento. Tudo se encaminha para a
aquisição de modelos genéticos ecologicamente e sanitariamente definidos para a
realização dos trabalhos dos pesquisadores. Este capítulo aborda conceitos sobre a
classificação genética e linhagens de animais de laboratório.

2. CLASSIFICAÇÃO GENÉTICA

2.1 Linhagens isogênicas (Inbred strains)

Linhagens isogênicas, consanguíneas, endocriadas ou endogâmicas (do inglês


- inbred strain): Estas linhagens são obtidas a partir de cruzamentos entre irmãos por
pelo menos 20 gerações consecutivas a partir de casais monogâmicos permanentes
denominados de fundadores ou casais de fundação. Esta estrutura de cruzamentos
resulta em indivíduos geneticamente idênticos com grau de consanguinidade ou
endogamia de 98,6%. De um modo geral os animais isogênicos ou inbred apresentam
baixa fertilidade, menor número de filhotes por ninhada, menor adaptação ao meio
exigindo acompanhamento e controle constantes. Dentre as características destas
linhagens podemos apontar: Isogenicidade; homozigose; individualidade;
uniformidade fenotípica; estabilidade genética a longo prazo (OLIVEIRA, 2013).
Os camundongos isogênicos consistem em linhagens de populações
geneticamente uniformes, onde cada população representa somente uma entre várias
formas alélicas que existe nas espécies (GOMES, 2012)

2.2 Linhagens coisogênicas (Coisogenic strains)

Camundongos geneticamente modificados podem ser considerados uma cepa


coisogênica se a única diferença entre o camundongo modificado e um camundongo
do tipo selvagem for um locus específico (OLIVEIRA, 2013).
As cepas coisogênicas são um tipo de cepa endogâmica que difere por uma
mutação em um único locus e todos os outros loci são idênticos. Existem inúmeras
maneiras de criar uma linhagem pura e cada uma dessas linhagens é única. As cepas
41
coisogênicas podem ser usadas para investigar a função de um determinado locus
genético. As cepas coisogênicas podem ser induzidas quimicamente ou por radiação,
porém, outros tipos de alterações dentro do genoma também podem ocorrer. As cepas
coisogênicas também podem ocorrer através de uma mutação espontânea que ocorre
em uma cepa endogâmica (SANTOS, 2002).
Para criar uma linhagem coisogênica por meio de cruzamento, um camundongo
com a mutação específica em um locus é cruzado com uma linhagem pura. A prole
do camundongo mutado com a linhagem pura tem 50% de chance de carregar a
mutação. A partir disso, a prole com a mutação pode ser cruzada com um portador
heterozigoto que então cria descendentes com 75% do fundo genético. Este
retrocruzamento é então continuado até que mais de 99% sejam de fundo genético e
o locus mutado seja herdado. No entanto, se a mutação específica não puder ser
transmitida, animais heterozigotos devem ser usados para cruzar com a cepa
endogâmica original. O acasalamento de irmãos completos é usado para manter
cepas coisogênicas se o locus do gene específico for homozigoto. No entanto, um
retrocruzamento regular dessas cepas coisogênicas com sua cepa parental padrão é
preferido para evitar divergência de sublinha. Segundo Santos (2002) “o que é
introduzido no novo background é uma pequena porção do cromossomo, onde se
encontra o gene ‘importado’. Quando a mutação se dá por processos de seleção
natural, dizemos que a linhagem é coisogênica. Com isso, um enorme passo foi dado,
pois alelos existentes em uma linhagem ou criados por mutagênese (irradiações ou
substâncias químicas) poderiam ser transferidos para todos os backgrounds
existentes, o que permitiu estudar o efeito daquele alelo em diferentes ambientes
gênicos”.

2.3 Linhagens congênicas (Congenic strains)

As linhagens congênitas são geradas em laboratório pelo cruzamento de duas


linhagens puras (geralmente ratos ou camundongos) e retrocruzamento dos
descendentes de 5 a 10 gerações com uma das linhagens originais, conhecida como
linhagem receptora (figura 1). Normalmente, a seleção para fenótipo ou genótipo é
realizada antes de cada geração de retrocruzamento. Desta forma, um fenótipo
interessante, ou uma região cromossômica definida testada por genótipo, é passada
da cepa doadora para uma receptora (PEREIRA, 2010)
42
Camundongos ou ratos congênicos podem então ser comparados com a cepa
receptora pura para determinar se eles são fenotipicamente diferentes se a seleção
for para uma região genotípica, ou para identificar o locus genético crítico, se a seleção
for para um fenótipo. Os congênicos de velocidade podem ser produzidos em apenas
cinco gerações de retrocruzamento, através da seleção em cada geração de
descendentes que não apenas retêm o fragmento cromossômico desejado, mas
também 'perdem' a quantidade máxima de informação genética de fundo do doador
cepa. Isso também é conhecido como congênico assistido por marcadores, devido ao
uso de marcadores genéticos, tipicamente marcadores de microssatélites, mas agora,
mais comumente, marcadores de polimorfismo de nucleotídeo único (SNPs). O
processo pode ser ainda auxiliado pela superovulação das fêmeas, para produzir
muito mais óvulos. “Atualmente, a maioria das linhagens congênitas existentes tem
sua origem em linhagens cujo gene ‘importado’ pertencia a esse complexo” (SANTOS,
2002).

2.4 Híbridos F1

Um híbrido F1, também é conhecido como híbrido filial 1, é a primeira geração


filial de descendentes de tipos parentais distintamente diferentes. Os híbridos F1 são
usados em genética e em reprodução seletiva, onde o termo cruzamento F1 pode ser
usado. O termo também é escrito às vezes com um subscrito, como F1 híbrido. As
gerações subsequentes são chamadas de F2, F3, etc (figura 1).
Os cruzamentos F1 em animais podem ser entre duas linhagens puras ou entre
duas espécies ou subespécies intimamente relacionadas. Em peixes como ciclídeos,
o termo cruzamento F1 é usado para cruzamentos entre dois indivíduos diferentes
capturados na natureza que se supõe serem de diferentes linhagens genéticas. Mulas
são híbridos F1 entre cavalos (éguas) e burros (vares); o cruzamento do sexo oposto
resulta em hinnies (SANTOS, 2002). Hoje, certas raças híbridas domesticadas-
selvagens, como o gato Bengal e o gato Savannah, são classificadas por seu número
de geração filial. Um gato Savannah híbrido F1 é o resultado da reprodução entre um
gato africano Serval e um gato doméstico. “Suas respostas são tão uniformes quanto
às das linhagens consanguíneas e os animais são mais vigorosos, crescem mais
rápido e sobrevivem mais tempo. Além disso, tais animais aceitam transplantes de
tecidos de ambas as linhagens parentais” (SANTOS, 2002).
43
Figura 1. Evidência de uma organização funcional em larga escala de cromossomos
de mamíferos.

Fonte: Autores

2.5 Grupos exocriados

Um modelo para a implantação da rede de biotérios consiste em um biotério de


criação associado a um conjunto de biotérios de experimentação de diferentes
instituições. Vale lembrar que a produção de cepas exocriadas de maior uso no nosso
meio científico, requer um plantel numeroso de matrizes para manter a heterozigose
(DUARTE et al., 2008).

44
3. DISTÂNCIA GENÉTICA ENTRE LINHAGENS DE RATOS

Evidências de linhagens endogâmicas de camundongos indicam que um quarto


ou mais do genoma dos mamíferos consiste em regiões cromossômicas contendo
agrupamentos de genes funcionalmente relacionados. As intensas pressões de
seleção durante a endogamia favorecem a co-herança de conjuntos ótimos de alelos
entre esses genes geneticamente ligados e funcionalmente relacionados, resultando
em extensos domínios de desequilíbrio de ligação (LD) entre um conjunto de 60
linhagens endogâmicas geneticamente diversas (PETKOV et al., 2005).A
recombinação que interrompe as combinações preferidas de alelos reduz a
capacidade da prole de sobreviver à endogamia. O LD também é visto entre
marcadores em cromossomos separados, formando redes com arquitetura livre de
escala. Combinando dados de LD com bancos de dados de anotação de rotas e
genomas, conseguiu-se identificar as funções biológicas subjacentes a vários
domínios e redes. Dada a forte conservação da ordem dos genes entre os mamíferos,
os domínios e redes que encontramos em camundongos provavelmente caracterizam
todos os mamíferos, incluindo humanos (PETKOV et al., 2005)

4. CONCLUSÃO

O ambiente dos animais de laboratório de pesquisas precisa ser um lugar


rigoroso controlado com condições ideias, a raça e a forma como são criados interfere
bastante na pesquisa ao ser realizada. Por esse motivo os animais são monitorados
24 horas por dia, com pessoas competentes. A alimentação deve ser seguida com
regras e dietas diferentes, que colaboram para o desenvolvimento saudável dos
animais.

5. REFERÊNCIAS

ALMEIDA-GOMES L. et al., Monitoramento genético de camundongos isogênicos


alojados no Biotério Central da UFAM. UFAM. 2012.

ANDRADE, A. et al., Animais de Laboratório: criação e experimentação. Rio de


Janeiro: FIOCRUZ, 2002. p.388.

45
OLIVEIRA, G.B. Estudo do perfil genético de linhagens de camundongos
mantidos nos biotérios de criação de duas instituições parceiras na Rede
Mineira de Bioterismo. Universidade Federal de Minas Gerais. 2013.

PEREIRA, A. B. Desenvolvimento de uma linhagem congênica para um locus no


cromossomo 4 do rato com efeito sobre a emocionalidade, Tese (doutorado) -
Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Biológicas, Programa de
Pós-graduação em Farmacologia, Florianópolis, 2010.

PETKOV, P.G. et al., Evidence of a Large-Scale Functional Organization of


Mammalian Chromosomes. PLoS Genetics. 2005.

SANTOS, B. F. Classificação dos animais de laboratório quanto ao status genético.


Animais de laboratório. Editora Fiocruz, 2002.

46
USO E CUIDADOS COM ANIMAIS DE LABORATÓRIO
(Volume I)

CAPÍTULO 7 – Estresse, dor e sofrimento

Rhuan de Andrade Souza1


Vanessa Alexandra Correa1
Bruno César Correa Salles1
Thaís Cristina Ferreira dos Santos1
Evandro Neves Silva1
1
Universidade José do Rosário Vellano – UNIFENAS, Alfenas, MG, Brasil.

“O conhecimento no âmbito da educação em saúde, sobrevindo


da experimentação com animais, proporciona aos alunos e
pesquisadores, ilustração dos métodos de vida, competência
para realizar as pesquisas da maneira mais correta, difundir
ideias e habilitar as técnicas de maneira precisa” (Julia da Rosa
Tolazzi, Rejane Doile Garcia e Aline Sobreira Bezerra).

1. INTRODUÇÃO

O estresse nos animais de laboratório ocorre a partir do momento em que


acontece situações adversas, gerando um processo fisiológico em seu organismo.
Sendo assim eles vão tentar se adaptar as novas condições para manter a seu
equilíbrio. O conjunto de situação que levam a esse estresse são a mudanças de
ambientes, barulhos, disputa por território, luz, calor e frio excessivo, sentimentos de
apreensão, superpopulação, mudanças no ritmo biológico e entre outros
(REFERÊNCIA).

47
O sofrimento também pode fazer parte dos processos, quando há sensações
desagradáveis agudas ou contínuas. A dor está associada com uma experiência
sensorial ou emocional desagradável, com lesões tissulares real ou potencial, descrita
em termos de tal lesão. Essa dor pode ser relacionada com a resposta do estresse,
desconforto e prejuízo do bem-estar animal. Deve se ter uma rigorosa fiscalização dos
profissionais envolvidos nas pesquisas ao serem realizadas (REFERÊNCIA).

2. ESTRESSE ANIMAL

Pode-se entender de estresse que ele é um processo fisiológico, neuro-


hormonal, onde todos os seres vivos passam para enfrentar uma mudança ambiental,
na tentativa de se adaptar as novas condições com a finalidade de manter a sua
homeostasia. Este é um estado manifestado com um conjunto de respostas
específicas do organismo que é desencadeada por inúmeros tipos de agentes, que
são denominados de estressores.
O conjunto de respostas desencadeadas frente a um agente estressante
(estressor) é chamado de Síndrome Geral da Adaptação (SGA) e pode ser dividido
em três estágios que se diferenciam em decorrência do tempo. O primeiro estágio é
chamado de reação de alarme e ocorre quando o animal se defronta com o estressor.
Nesta fase, ocorre uma mobilização geral do organismo na tentativa de adaptação às
novas condições, havendo a participação do sistema nervoso autônomo simpático na
estimulação da medula adrenal para a liberação de catecolaminas (ORSINI E
BONDAN, 2006).
O segundo estágio, conhecido como adaptação ou resistência, ocorre em
decorrência do primeiro, quando o estímulo estressor continua sendo mantido. Nesta
fase, o sistema nervoso autônomo simpático entra em hiperatividade e há uma
estimulação intensa do sistema neuro-endócrino para a liberação de glicocorticóides
pelo córtex adrenal. O animal busca habituar-se à presença do estressor, entrando
num estado no qual a resposta a este se torna diminuída e pode ocorrer até mesmo
diante da perspectiva do estímulo (ORSINI E BONDAN, 2006).
O último estágio, chamado de exaustão, ocorre quando o estressor é mantido
até que o animal não tenha mais capacidade de se adaptar. Não há descanso, nem
retorno à homeostasia. As reservas energéticas vão se esgotando e o processo evolui
até a morte do animal por falência orgânica múltipla. Esta fase não é necessariamente
48
irreversível; depende da importância dos órgãos afetados. Além disso, o animal pode
vir a óbito já na fase de alarme, pela descompensação orgânica causada pelo
processo (ORSINI E BONDAN, 2006).
As principais causas de estresse para os animais estão associadas a algumas
categorias (figura 1).

• Estressores somáticos: sons, imagens e odores estranhos, manipulação,


mudança de espaço físico (de ambiente), calor e frio excessivos e efeitos de
fármacos e agentes químicos.

• Estressores psicológicos: sentimentos de apreensão, que podem intensificar-


se para ansiedade, medo e terror, na sua forma mais severa.

• Estressores comportamentais: disputas territoriais ou hierárquicas,


superpopulação, condições não familiares de ambiente, mudanças no ritmo
biológico, falta de contato social, de privacidade, de alimentos e de estímulos
naturais e problemas induzidos pelo próprio homem, como o alojamento
próximo de espécies antagônicas (por exemplo, um predador próximo a uma
presa).

• Estressores mistos: má-nutrição, intoxicações, ação de agentes infecciosos e


parasitários, queimaduras, cirurgias, administração de fármacos, imobilização
química e física e confinamento.

Ao se utilizar esta definição, a relação entre estresse e bem-estar fica muito


clara. Em primeiro lugar, considerando-se que bem-estar se refere a uma gama de
estados de um animal, desde muito bom até muito ruim, sempre que existe estresse
o bem-estar torna-se pobre. Em segundo lugar, estresse refere-se somente a
situações nas quais existe falência de adaptação, porém bem-estar pobre se refere
ao estado de um animal, seja em condições em que existe falência de adaptação ou
quando o indivíduo está encontrando dificuldades em se adaptar (BROOM ;
MOLENTO, 2004).

49
Figura 1. Principais causas de estrese para os animais de laboratório.

Fonte: Autores

2.1 Sofrimento

O sofrimento ocorre quando um animal é submetido a sensações subjetivas


desagradáveis agudas ou contínuas, sendo incapaz de remover sua causa.
Sofrimento e pobre bem-estar, frequentemente ocorrem juntos (BROOM, 1991). Os
animais têm duas formas distintas de manter a homeostasia e evitar o sofrimento:
através das respostas espécie específicas e da seleção individual baseada no
desenvolvimento e na aprendizagem (CRISSIUMA ; ALMEIDA, 2006).
A crueldade com os animais é um tratamento que causa sofrimento ou danos
aos animais. A definição de sofrimento inaceitável é variável. Alguns consideram só o
sofrimento por simples crueldade aos animais, enquanto outros incluem o sofrimento
infligido por outras razões, como a produção de carne, a obtenção de pele, os
experimentos científicos com animais e as indústrias de ovos. Muitas pessoas
consideram a crueldade para com os animais como um assunto de grande importância

50
moral. Pensadores de várias épocas vêm afirmando que a crueldade para com
animais e a crueldade contra humanos estão inter-relacionadas.

2.2 Dor

A Associação Internacional para o estudo da dor definiu dor como sendo “uma
experiência sensorial ou emocional desagradável associada à lesão tissular real ou
potencial, ou descrita em termos de tal lesão” (HELLEBREKERS, 2002). Dor é uma
sensação extremamente aversiva e a percepção da dor é parte do estado de um
indivíduo (BROOM, 1991).
As consequências negativas da dor são de natureza múltipla, mas podem ser
agrupadas sob o título de “resposta ao estresse”. Em decorrência dessa resposta ao
estresse, e junto com o desconforto e prejuízo do bem-estar do animal, várias funções
fisiológicas ficarão prejudicadas, fazendo com que o alívio adequado da dor promove
o bem-estar geral do animal (HELLEBREKERS, 2002).
Como os animais não podem descrever sua dor (HARDIE, 2002), é essencial
o conhecimento da aparência normal, performance e padrão de comportamento das
espécies em estudo, para uma avaliação mais acertada da dor e sua amplitude
(MORTON; GRIFFITHS, 1985).

3. ANALGESIA

O termo analgesia do latim analgesia/ pelo grego álgesis + ia, significa ausência
de dor. No homem, dor e analgesia podem ser avaliadas por meio de relatos verbais
sobre a sensação sentida; nos animais, estas só podem ser avaliadas indiretamente,
por meio de atitudes comportamentais ou de dados fisiológicos. A analgesia
preventiva é uma das técnicas e se refere à utilização de agentes analgésicos antes
do animal ser exposto a qualquer tipo de procedimento.
Para relacionar a dor nos animais com o que é sentido pelo homem, é essencial
um pouco de antropomorfismo. Como o termo dor se refere a um estado subjetivo, ele
só poderia ser aplicado quando se referisse ao homem. Porém, como o homem e o
animal apresentam em comum estruturas neurológicas e processos fisiológicos, e em
virtude da existência, em animais, de manifestações comportamentais comparáveis
àquelas observadas no homem quando em estado de dor, tornou-se, no mínimo,
51
eticamente prudente aceitar que o sofrimento animal é equivalente ao sofrimento
humano quando ambos forem sujeitos a um mesmo fator que induza à dor. Por isso,
é essencial que, na ausência ou evidência da dor, se pressuponha que qualquer
estímulo ou experiência produtora de dor e desconforto em humanos também cause
o mesmo efeito nos animais. Esse ‘postulado de analogia’ deve ser aceito, a menos
que sua invalidade seja provada em casos específicos (LASA, 1990).
A dor é elemento essencial para sobrevivência e manutenção da vida dos
organismos complexos; porém sua continuidade reduz a qualidade de vida, causa
instabilidade homeostática e provoca reações bioquímicas e comportamentais
extremamente danosas (BRITO et al., 2016), como indicado por Coutinho e Andrade,
Pinto e Oliveira. Apesar das legislações e manuais que tratam do assunto, e de dados
que confirmam a necessidade de preservar a fisiologia normal, ainda há
desconsideração da dor dos animais de experimentação por parte de pesquisadores.
O estresse causado pela dor se mostra mais danoso a estruturas
anatomopatológicas que qualquer analgésico, por causa da liberação de inúmeros
mediadores inflamatórios e da alteração comportamental, que pode gerar inapetência,
atos de mutilação e alterações de sono-vigília (KOHN et al., 2007).
O Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA)
elaborou estratificação do grau de invasividade (GI), em que cada procedimento deve
ser enquadrado para melhor visualização do nível de dor apresentado pelos animais,
o que consequentemente levaria ao cuidado com o protocolo analgésico utilizado. São
quatro os graus de invasividade: o primeiro refere-se a experimentos que causam
pouco ou nenhum desconforto ou estresse; o segundo, de leve intensidade; o terceiro,
com intensidade intermediária; e o quarto e último, experimentos que causam dor de
alta intensidade. O que se observou nos estudos analisados, todavia, é que, mesmo
com a correta classificação do grau de invasividade, não houve devida atenção à
analgesia, pois apenas 34,4% dos projetos que realizaram procedimento cirúrgico
fizeram uso de analgesia pós-operatória. Diante dessa evidência, não é demais repetir
que não se pode justificar nenhum ganho científico com base no sofrimento de outros
seres vivos (BRITO et al., 2016).
Soma (1987) relaciona uma série de sintomas clínicos e comportamentais que
os animais podem apresentar em caso de dor. Quando a dor for ‘aguda’ podemos ter:
• POSTURA DE GUARDA – tentativa de se proteger, fugir ou morder;
• GRITOS – movimentos;
52
• MUTILAÇÃO – lamber, morder, coçar, tremer;
• INQUIETAÇÃO – caminhar, deitar e levantar, peso de um lado só;
• SUDORESE – no cavalo;
• DEITADO – período de tempo não-usual;
• CAMINHAR – relutância em se mover, dificuldade para levantar;
• POSIÇÕES ANORMAIS – cabeça para baixo, abdômen contraído.
A dor ‘crônica’ é a mais difícil de ser avaliada, e os seguintes comportamentos devem
ser observados:
• redução da atividade;
• perda do apetite;
• alterações da personalidade;
• esconder-se em um canto;
• recusa em se movimentar;
• alterações na urina;
• alterações na consistência das fezes;
• falta de higiene pessoal;
• automutilação.
No caso de dor crônica, pode haver um ciclo de dor ⇒ lesão ⇒ dor difícil de
controlar. Há uma grande variação nas respostas comportamentais entre espécies e
entre indivíduos da mesma espécie. Os animais endogâmicos (inbred) possuem
menor variabilidade individual (RIVERA, 2002).

3.1 Sintomas de dor específicos das espécies

Segundo Rivera (2002), estes podem ser considerados os sintomas de dor


mais comuns entre algumas espécies utilizadas para experimentação.
CAMUNDONGO – varia entre as diferentes linhagens
• aumento do tempo de sono;
• perda de peso/desidratação;
• piloereção e postura encurvada;
• isolados do resto do grupo;
• gritam ao serem tocados.
RATOS

53
• vocalização;
• perda de peso;
• piloereção/postura encurvada;
• hipotermia;
• descarga ocular (cromodacriorréia);
• ato de lamber-se;
• maior agressividade
COBAIAS
• vocalização;
• não resistem quando segurados;
• não respondem aos estímulos;
• em geral, sonolentos e sem agressividade.
COELHOS
• diminuição do consumo de água e alimento;
• olham para a parte de trás da gaiola;
• movimentos limitados;
• fotos sensibilidade;
• acima de tudo, estoicos
HAMSTER
• perda de peso;
• período maior de sono;
• aumento da agressividade ou depressão;
• diarreia.

4. ANESTESIA

Existe uma gama de agentes anestésicos e analgésicos disponíveis para uso


em animais de laboratório, contudo considerações criteriosas devem ser feitas para a
escolha do melhor agente, visto que a seleção de determinado agente anestésico ou
técnica anestésica dependerá de vários fatores, alguns deles relacionados
diretamente às interações potenciais com o protocolo de pesquisa e a sua capacidade
de produzir a adequada profundidade anestésica. Também devem ser levados em
consideração alguns fatores práticos, como a experiência do pessoal envolvido e a
disponibilidade dos equipamentos necessários. Independentemente do método

54
escolhido, deve-se ter em mente que os dois objetivos principais da anestesia são
evitar a dor e proporcionar contenção humanitária (HELLEBREKERS, 2002; BRITO,
2016).
A seleção de um método de anestesia que apresente menor probabilidade de
interferir em determinado protocolo de pesquisa talvez seja uma das tarefas mais
difíceis. O pesquisador deve ter conhecimento dos efeitos fisiológicos que tais
anestésicos proporcionam, para tentar minimizar interações entre a técnica anestésica
e o protocolo de pesquisa. É importante ter em mente que nenhum agente anestésico
é ao mesmo tempo totalmente efetivo e seguro (HELLEBREKERS, 2002; BRITO,
2016).

5. PLANEJAMENTO E CUIDADOS ANESTÉSICOS

Em todas as situações em que seja necessário anestesiar um animal, é muito


importante que o pesquisador planeje e efetivamente ponha em prática os cuidados
adequados antes, durante e depois de cada procedimento. O uso de agentes
anestésicos altera significativamente a fisiologia do animal e, sem os cuidados
necessários e o devido planejamento, o resultado pode ser desastroso (BRITO, 2016).
O grau das alterações causadas varia, porém, todo agente anestésico gera
hipotermia e diminuição das atividades cardiovascular (bradicardia) e respiratória
(bradipnéia). Após o procedimento, essas alterações persistem até a recuperação do
animal, e por isso é necessário o cuidado com o animal imediatamente após o
procedimento e, em alguns casos, por mais alguns dias depois. O tempo de
recuperação do animal varia conforme o agente utilizado (BRITO, 2016).

5. CONCLUSÃO

Diante do que foi abordado, compreendemos todos os importantes fatores que


levam o animal ao estado de estresse, dor e sofrimento excessivo. Podemos colocar
como regras o bem-estar animal que interfere diretamente na conclusão de pesquisas
científicas. Demostrando que, ao realizar as pesquisas experimentais é necessário
utilização do uso de procedimentos e técnicas que vissem o bem-estar do animal,
contribuindo para bons resultados. Caso ocorra a ausência de controle desses fatores
pode acarretar falsas interpretações e coleta de dados. O comprometimento da saúde
55
do animal acarreta uma série de consequências aos resultados das pesquisas, pois
alterações fisiológicas e comportamentais não esperadas, acaba diminuindo a
confiabilidade dos dados.

6. REFERÊNCIAS

ANDRADE, A. et al., Animais de laboratório: criação e experimentação. Rio de


Janeiro: Fiocruz, 2002

BRITO, C.V.B. et al., Analgesia de animais de laboratório: responsabilidade dos


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and discomfort in experimental animals and a hypothesis for assessment. Veterinary
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56
USO E CUIDADOS COM ANIMAIS DE LABORATÓRIO
(Volume I)

CAPÍTULO 8 – Planejamento, gestão de biotérios e manejo


de colônias

Rhuan de Andrade Souza1


Vanessa Alexandra Correa1
Nelma de Mello Silva Oliveira1
Thaís Cristina Ferreira dos Santos1
Evandro Neves Silva1
1
Universidade José do Rosário Vellano – UNIFENAS, Alfenas, MG, Brasil.

“A pesquisa, informação, conhecimento e a sabedoria são os


degraus evolutivos que nos levarão a um novo alvorecer” (Carlos
Roberto Sabbi).

1. INTRODUÇÃO

Antigamente, os animais de laboratório eram utilizados como uns simples


‘instrumentos de trabalho’ que ajudavam na investigação de diagnóstico e diferentes
científicas sem se levar em conta sua qualidade genética e sanitária. Os animais
devem ser mantidos em lugares com a iluminação ideal, alguns ficam em gaiolas
outros em caixas específicas, a temperatura deve ser ajustada, a umidade tem que
estar de acordo com cada espécie e a presença do ar. Sendo necessário também que
os técnicos façam a limpeza com frequência e fiquem de olho na alimentação dos
animais (COUTO, 2002).

57
Os pesquisadores exigem que os animais reúnam condições ideais, isto é, que
atendam aos parâmetros de qualidade genética e sanitária, uma vez que os resultados
dos experimentos são afetados em razão da qualidade de cada espécie utilizada.

2. AS BARREIRAS SANITÁRIAS

As barreiras sanitárias são essenciais na criação, manutenção das fazendas


de animais de laboratório e são definidos como mecanismos físicos, químicos e
biológicos. Estes fatores devem dificultar ou minimizam os efeitos das interações entre
organismos e fatores de risco humanos e animais, e são necessários dependendo do
grau de risco envolvido.
Pode-se considerar exemplos de barreiras sanitárias: Materiais usados para
construir cercas de animais isoladas e à prova d'água, equipamentos de filtragem de
ar, autoclaves, higiene pessoal para funcionários do biotério e manipuladores de
animais, diferenciais de pressão entre ambientes, compostos utilizados na
desinfecção e esterilização etc. “Os principais itens avaliados foram: instalações
adequadas com isolamento arquitetônico; fluxo unidirecional; filtragem de ar e sistema
de ventilação com climatização central; frequência de desinfecção das áreas de
criação dos animais; controle de temperatura; equipamentos como autoclave de dupla
porta, estantes, racks ventilados e isoladores; desinfecção e/ou esterilização de
materiais e insumos (gaiolas, bebedouros, ração, água, maravalha e uniformes); uso
de duchas sanitizantes; uso de vestuário adequado (uniforme, gorro, máscara, luvas
e pantufas) para entrada dos técnicos na área limpa; presença de programa de
quarentena e de monitorização de saúde animal” (BICALHO, 2011).
Deve-se optar por animais com padrões de higiene claros assim como barreiras
de higiene eficazes do local, sempre buscando reduzir a chance de contaminação. Se
estes padrões não forem seguidos, pode-se ocasionar a doença ou morte destes
animais levando falhas nos resultados das pesquisas. “Os animais também possuem
sua flora, que pode ser diferente da nossa. Dessa forma, quanto manuseamos o
animal sem os cuidados necessários, podemos transmitir uma série de
microrganismos patogênicos a ele. Para evitarmos a contaminação dos animais por
essa via, devemos tomar banho e vestir uma roupa estéril (paramentação) antes de
ingressarmos na área de animais” (COUTO, 2002).

58
2.1 Classificação dos animais quanto ao status sanitário

A reprodução e manutenção de animais de laboratório podem ser geridas por


técnicas que libertam os animais de quaisquer formas de vida relevantes (vírus,
bactérias, fungos e protozoários). De acordo com o estado de saúde dos animais
experimentais, eles podem ser divididos em: Gnotobióticos, Germ free, Specific
Patogen free e animais convencionais. Para animais que possuem microbiota
indefinida. Fatores como temperatura, umidade, ventilação e qualidade do ar, luz e
ruído devem ser controlados o máximo possível.
A classificação dos animais quanto ao status sanitário ou ecológico pode ser
definida como a relação dos animais com o seu particular e específico ambiente. Este
ambiente inclui os organismos associados aos animais e os organismos presentes
dentro dos limites do ambiente físico e barreiras sanitárias. O conjunto de organismos
associados é denominado microbiota (vírus, bactérias, fungos e parasitas), e quanto
mais eficientes forem as barreiras sanitárias deste ambiente, menores as chances de
contaminação dos animais (COUTO, 2002)

3. FATORES AMBIENTAIS EM UM BIOTÉRIO

3.1 Temperatura

Sobre a temperatura deve-se buscar evitar situações que desencadeie o


estresse térmico que pode levar a uma diminuição na resposta imune do animal. A
temperatura ideal é deve ser ajustada entre 21°C ou 24°C, pois temperaturas
diferentes da ideal, pode acarretar a alteração dos dados experimentais, os animais
devem permanecer em sua zona de conforto térmico o tempo todo, e deve-se aplicar
um controle rigoroso da temperatura.
Todas as salas são climatizadas, permanecendo com a temperatura média de
21 ºC, possuem sistema de lâmpadas automatizadas com ciclo de 12 h claro e 12 h
escuro e são equipadas com estantes e caixas que abrigam as diferentes etapas da
produção destes animais. Além disso, possui também depósito, sala para eutanásia,
reuniões e saída de animais, sendo estas duas últimas com saída para a área externa.
Todos os ambientes são conectados por um único corredor que leva à área de
lavagem, que serve tanto para saída como entrada de material (Silva, 2019)
59
3.2 Umidade

A umidade deve ser estabelecida dentro dos padrões normais adequados para
cada espécie, de forma que não seja tão baixa e deixe o ambiente muito seco, o que
pode levar a problemas respiratórios, como ressecamento de mucosas, pele e o
aparecimento de lesões, como a afecção denominada ringtail nos ratos
(MAJEROWICZ, 2008).
A umidade relativa recomendada para a grande maioria dos animais é de 55±5
% e a tolerância está na faixa de 30 a 70%UR (National Research Council, 1996). A
umidade relativa no interior das gaiolas é entorno de 10% maior que no ambiente
(COOK, M.J, 1983).
A umidade relativa exerce um importante papel no bem-estar animal. Com a
liberação contínua de vapor d’agua, através de respiração e pela evaporação da urina,
a umidade dentro das salas tende a aumentar, tornando-se necessário um sistema
que retire significamente o excesso de água do ambiente (Santos, 2009).
Um sistema de ventilação deve produzir trocas regulares do ar da sala dos
animais para controlar a temperatura e a umidade, e diluir os possíveis poluentes
químicos. O número de trocas recomendadas é de 10 a 15/hora (Santos, 2009).

3.3 Ventilação e renovação do ar

Os animais perdem continuamente calor e água e eliminam dióxido de carbono


e outros produtos produzidos por reações metabólicas. As instalações para animais
devem ter mecanismos de renovação de ar para evitar o acúmulo de tóxicos na sala.
Por isso, o uso de exaustores e condicionadores de ar é essencial.
A ventilação tem por objetivo suprir o ambiente de oxigênio, remover o calor
produzido pelos animais, lâmpadas e equipamentos, diluir gases e partículas em
suspensão além de proporcionar, um gradiente de pressão diferente entre ambientes
(MAJEROWICZ, 2008).
Em relação ao ambiente de trabalho, alguns odores dos animais podem nocivos
ao ser humano. A grande maioria destes odores são produzidos pela decomposição
bacteriana das fezes, mas não devem ser usados produtos que os mascarem, pois
podem ser extremamente prejudiciais aos animais. Esses odores devem ser
60
controlados por meio de procedimentos adequados de limpeza e ventilação de rotina.
As pessoas que trabalham nesses ambientes devem usar máscaras.
Biotérios são ambientes fechados e de pouca ventilação, fatores que tendem a
fazer com que esses locais possam apresentar odores ofensivos para os técnicos e
principalmente para os animais, afetando nestes, respostas fisiológicas e
farmacológicas nos experimentos (POLITI et al., 2008).
O mais comum e mais sério dos contaminantes ambientais dos biotérios é o
amoníaco (NH3), que se forma pela ação das bactérias (urease positiva) sobre os
excrementos. A concentração do amoníaco é influenciada por muitos fatores, como:
ventilação, umidade relativa, número de animais por gaiola, alimentação, etc.
Atualmente existem sistemas de estantes que comportam certo número de animais e
gaiolas em um ambiente ventilado e climatizado
Além do dióxido de carbono, a qualidade do ar interior em biotérios é
prejudicada principalmente pela alta concentração de amônia no ar. A amônia (NH3)
é um gás tóxico, corrosivo, incolor e não inflamável. Seu cheiro é característico e
sufocante. É um gás mais leve que o ar e pode ser facilmente condensado no estado
líquido mediante frio e pressão sendo, por isso, utilizado como gás de refrigeração
(CARMO; PRADO, 1999).

3.4 Luz e fotoperíodo

A intensidade da luz e o fotoperíodo afetam o metabolismo e o ciclo estral dos


animais, alterando suas respostas biológicas. O fotoperíodo consiste na quantidade
de luz que esses animais recebem durante o dia (10h/12h). Recomenda-se isolar
completamente a caixa de criação da luz natural para controlar a intensidade da luz e
o fotoperíodo.
O fotoperíodo, ciclo de luz/escuridão é, sem dúvida, um dos mais importantes
uma vez que influenciam o ritmo biológico do animal de laboratório, atuando no seu
comportamento e na reprodução (Santos, 2002).
Variações no fotoperíodo ciclo claro/escuro, em função da duração dias ou
estações do ano, influenciam os hábitos comportamentais, comportamento
reprodutivo e tempo de duração do parto (Santos, 2002).
Devido à menor geração de calor, as lâmpadas fluorescentes brancas devem
ser selecionadas. A intensidade da luz não deve exceder 300 lux a um metro do chão
61
na sala, e 60 lux na gaiola. Outras variáveis, como a luminosidade dentro da gaiola,
devem ser levadas em consideração, pois por estarem dispostas em racks, as gaiolas
localizadas nas prateleiras superiores tendem a receber mais luz do que as gaiolas
localizadas nas prateleiras inferiores.
De acordo com o INSTITUTE OF LABORATORY ANIMAL RESOLURSE,
(1996) a temperatura e a luminosidade, as condições foram adequadas, onde a
temperatura se manteve dentro da faixa de 24±2ºC e os valores médios da iluminação
estiveram dentro dos parâmetros de luminosidade que é de 325 lux. Contudo, a falta
de uniformidade na distribuição dessa luz dentro das salas pode alterar o ciclo
circadiano, o comportamento ou mesmo efeitos de drogas nos animais
(MAJEROWICZ, 2008).

3.5 Ruído

O ruído pode ter um grande impacto na saúde dos animais em confinamento,


especialmente porque os ouvidos dos roedores são capazes de ouvir frequências
mais altas (ultra-som) que são inaudíveis ao ouvido humano. Diante de sinais de
estresse no animal, verifique se há alguma fonte de ruído (por exemplo, equipamentos
que possam emitir ultrassom) que perturbe o animal. Observe também que o ruído
sustentado é menos estressante do que o ruído repentino. Alguns autores
recomendam o uso de música para reduzir o estresse sonoro. Ruído de até cerca de
45Db (decibéis) é recomendado.
O nível de ruído dentro da sala esteve dentro dos valores esperados de até 65
dB (JAIN E BALDWIN, 2003). Segundo Santos (2002) ruído superior a 85 dB no
biotério podem produzir alterações no metabolismo dos animais, causando estresse,
convulsões e até a morte dos animais.
Os ruídos também afetam o operador, aconselha-se o uso de protetores em
ambientes como as áreas de higienização e esterilização. O nível aceitável de ruídos
está entre 40 a 65 decibéis (SANTOS, 2009).
Os impactos mais observados quando os níveis de ruídos excedem aos
recomendados são danos físicos ao aparelho auditivo, alterações no 16
desenvolvimento reprodutivo redução do peso corpóreo, alterações nas respostas
imunológicas, e alterações no sistema neuroendócrino (TEIXEIRA, 2009).

62
3.6 Caixas e gaiolas

Existem vários modelos de dimensões variadas e de gaiolas e caixas que são


utilizadas para a manutenção de animais em biotérios, sendo mais indicadas as de
policarbonato ou polipropileno, por serem autoclaváveis. As gaiolas devem ser
periodicamente higienizadas e autoclavadas.
A esterilização de materiais e insumos, em instalações animais, objetiva a
eliminação de contaminantes microbiológicos que possam vir a comprometer a saúde
animal e humana e interferir nos padrões microbiológicos dos ambientes internos.
Nessas instalações os seguintes materiais são submetidos à esterilização pelo calor
em autoclave: gaiolas de animais e suas grades; rações peletizadas; forragem da
gaiola ("cama"); bebedouros e comedouros; EPIs; material cirúrgico e de necropsia;
material perfurocortante e carcaças de animas (MAJEROWICZ, 2005).

3.6.1 Cama das gaiolas

Os materiais que podem ser utilizados são: vermiculita e a palha de arroz,


contudo, o mais adequado é a maravalha (serragem grossa) de Pinus. A serragem
esterilizada por autoclavagem é a mais indicada, e deve ser trocada regularmente.
Seu descarte deve ocorrer em sacos plásticos fechados, com o status de lixo
contaminado, recolhido por serviço especial de coleta.
A ‘cama’ é usada no fundo da gaiola ou em bandejas, por baixo das gaiolas de
fundo perfurado. Sua função é absorver a urina dos animais e aquecê-los, além de
promover as fêmeas com material para construção de ninhos para abrigar as ninhadas
(SANTOS, 2002).
As características de uma boa ‘cama’ são: alta capacidade de absorção de
umidade, sem desidratar ou machucar os recém-natos; não pode conter poeira; não
17 ser abrasiva; estar livres de agentes químicos ou patógenos; ser de fácil aquisição
e baixo custo de (SANTOS, 2002).

3.7 Alimentação e água

A dieta deve atender os requisitos nutricionais de cada espécie, tanto


quantitativa quanto qualitativamente. Geralmente as rações comerciais de animais de
63
laboratório são apresentadas em “pellets”, pois a maioria dos animais necessita estar
roendo diariamente para desgastar os dentes. Ratos e camundongos se alimentam
da mesma ração. Dietas são normalmente superestimadas (Proteína: 140-227 g/kg).
Deve-se ter cuidado na estocagem da ração para não haver contaminação por fungos,
bactéria, insetos etc. Ela deve estar armazenada em local limpo, seco e ventilado
(SANTOS, 2002).
A água é oferecida em bebedouros ou através de sistema automático usando
válvulas. Os bebedouros devem ser lavados e autoclavados. A água é filtrada e
tratada, podendo ser esterilizada com a adição de 0,1mL/litro de ácido clorídrico.
Os bebedouros e a ração são colocados sobre rebaixamentos próprios das
tampas das caixas, respeitando o tamanho e a quantidade de animais. A limpeza dos
bebedouros é feita conforme os POP’s estabelecidos (SILVA, 2019)

3.8 Manejo e comportamento

É necessário submeter os animais a um clima padronizado para que possam


se habituar ao ambiente de criação e manter a homeostase. Os técnicos que
trabalham em biotérios devem ser treinados para se acostumar a observar os animais
e perceber quaisquer mudanças comportamentais. Animais de laboratório
reconhecem seus manipuladores pelo olfato e ficam menos estressados quando
manipulados por pessoas que foram previamente expostas. Não é recomendado a
troca de pesquisadores/técnicos durante o experimento, pois isso pode alterar o
metabolismo devido ao estresse nos animais. Também foi demonstrado que
estranhos no laboratório podem aumentar a temperatura corporal dos animais devido
ao estresse. Esse cuidado é especialmente importante na condução de experimentos.
O manejo diário, mais que os procedimentos experimentais, pode interferir de forma
acentuada no favorecimento ou diminuição do bem-estar dos animais. Portanto, é
fundamental que as pessoas que estão diariamente envolvidos nas atividades diárias
do manejo dos animais tenham conhecimento e treinamento para suas atividades
(FRAJBLAT et al., 2006)

3.9 Higiene e limpeza

64
A eficiência de qualquer programa de limpeza depende do entusiasmo do
executor. A higiene pessoal é uma barreira importante contra a infecção. O hábito de
lavar as mãos antes e depois de manusear qualquer animal pode reduzir o risco de
propagação de doenças, bem como o risco de autoinfecção. O manejo de animais
oferece aos humanos, basicamente, dois tipos de risco: o de infecção e o traumático
(CARDOSO, 2000)
É obrigatório o uso de luvas para qualquer procedimento nos biotérios (criação
e experimentação). Ao manipular agentes patogênicos, em biotérios experimentais,
utilizar luva dupla. Uniforme completo (Jaleco de mangas compridas e longo, calça
exclusiva para uso no biotério, máscara, gorro e pantufas). Aventais, jalecos ou
uniformes são vestimentas de proteção usada nas áreas de animais, devendo ser
retiradas antes de sair do ambiente. Assim que o técnico chega ao Biotério, dirige-se
imediatamente aos vestiários, onde guarda no armário seus acessórios pessoais,
retira sua vestimenta e paramenta-se com os Equipamentos de Proteção Individual
(EPIs): macacão, touca, máscara, luvas e sapato fechado à prova d’água (figura 1).
Realizados esses procedimentos, ele já está pronto para executar suas atividades
(NEVES, 2013)
As roupas de laboratório usadas em áreas de risco devem ser autoclavadas
antes de serem lavadas. O material descartado (proveniente de necrópsia, carcaças
de animais infectados etc.) deve ser identificado e autoclavado. Se possível incinerado
(NEVES, 2013)
Equipamentos e superfícies de trabalho devem ser higienizados com um
desinfetante apropriado após o término do trabalho com materiais infecciosos e
especialmente após derrame, gotejamento ou outra forma de contaminação com
material infeccioso (NEVES, 2013).

3.9.1 Eutanásia

A eutanásia é um termo que pode ser entendido como “indução da cessação


da vida animal, por método tecnicamente aceitável e cientificamente comprovado,
dando sempre atenção aos princípios éticos” (CFMV, 2013).
Define-se como eutanásia a morte serena, sem dor ou sofrimento. Após a
realização dos experimentos os animais envolvidos devem ser submetidos á
eutanásia, no entanto, eles não optaram por morrer e não tem consciência que vão
65
morrer. A eutanásia é um procedimento emocional e ético que deve ser executado por
um médico veterinário segundo resolução do Conselho Federal de Medicina
Veterinária nº 714, de 20 de junho de 2002.
Neste contexto de eutanásia, incluem-se doenças incuráveis e terminais, e os
traumatismos não tratáveis por meios clínico-cirúrgicos ou que representem gastos
injustificáveis, diante do tipo de exploração econômica em questão. Neste primeiro
caso, o adiamento da morte deste animal representa a manutenção da condição
incompatível com o bom-senso e/ou com o bem-estar do mesmo, quando já claro que
os meios terapêuticos disponíveis para tratamento da condição clínica do paciente
seriam ineficazes para cessar o padecimento; já no segundo caso, mesmo que
encontrada resolução clínica para o animal, o mesmo não voltaria a realizar as funções
antes exploradas economicamente (OLIVEIRA, 2003).
O termo eutanásia, que etimologicamente significa morte sem sofrimento ou
boa morte, não sugere ser o termo adequado ao processo de abate de animais com
a finalidade de atender ao consumo humano (OLIVEIRA, 2003). Portanto, no
julgamento do médico veterinário para indicar a eutanásia, a faceta econômica deve
ser a última a ser levada em consideração, jamais realizando-se a eutanásia como
forma de atender as necessidades do tutor, como a impossibilidade de conviver com
limitações inerentes a idade avançada do animal (CFMV, 2013).

4. ÉTICA

A partir da premissa de que os animais que passam por eutanásia são seres
senscientes, por isso, capazes de sentir, responder e interpretar estímulos dolorosos
e ao sofrimento, vivemos a crescente necessidade de se estabelecerem normas e
diretrizes que garantam o cumprimento dos princípios de bem-estar animal e o
respeito aos parâmetros éticos (CFMV, 2013).
Estar atento a atualizações ou treinamentos éticos, pode minimizar o sofrimento
do profissional veterinário em resposta a eutanásia rotineira, uma das principais
causadoras de “Burnout” e sofrimento moral (ROLLIN, 2011).
Os estímulos desencadeantes de sofrimento nos animais que estão a caminho
da eutanásia são a dor, o medo, a ansiedade, o estresse e a injúria ou o trauma.
Portanto, a eutanásia é um potencial causador de sofrimento nos animais. Os fortes
apelos da sociedade e o reconhecimento pela ciência da necessidade de controlar o
66
estresse e a dor fez surgir uma nova ética social para estes animais, baseada na
profilaxia, manejando adequadamente para evitar doenças. Cada ser reage de uma
forma distinta à dor e ao estresse, isso é observado em indivíduos de mesma espécie,
mas principalmente de espécies diferentes (CFMV, 2013).

5. CONCLUSÃO

Neste trabalho, os tópicos abrangeram desde a importância da genética animal


e padrões de qualidade de higiene, até uma rica descrição dos padrões e aspectos de
biossegurança necessários (figura 1) para a construção de instalações para animais,
descrevendo procedimentos e acessos, e o pessoal, procedimentos de retirada de
suprimentos, e animais, enfatizando o rigor de cada procedimento, bem como a
consideração de modelos de protocolos experimentais, formulários de registro e sinais
de risco.

Figura 1. Biossegurança em biotérios.

Fonte: Autores

67
6. REFERÊNCIAS

CARMO, A.T. et al., Qualidade do Ar Interno. Série Texto Técnico, TT/PCC/23. São
Paulo: EPUSP, p.35, 1999.

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COOK, M.J. Anatomy. In: The Mouse in Biomedical Research. Foster, HL; Small,
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COUTO, S.E.R. Instalações e barreiras sanitárias. In: antenor andrade; sergio correia
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Laboratório do Biotério de Produção e Experimentação da FCF-IQ/USP.
Universidade de São Paulo Faculdade de Ciências Farmacêuticas Instituto de
Química (FCF-IQ/USP) http://www.fo.usp.br/wp-content/uploads/Manual-Cuidados-
com-Animais.pdf

SPINOSA, H.S.; GÓRNIAK, S.L.; BERNARDI, M.M. Farmacologia aplicada à


medicina veterinária. p. 679-682, 2002

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AUTORES

Alunos do Curso de Biomedicina da UNIFENAS – Câmpus Alfenas, MG, Brasil.


Gabriele Correa.
Raquel Lourenço Moreira.
Rhuan de Andrade Souza.
Vanessa Alexandra Correa.

Alunos da Pós-Graduação da UNIFENAS – Câmpus Alfenas, MG, Brasil.


Ma. Bethânia Elias Costa – Médica Veterinária.
Ma. Thaís Cristina Ferreira dos Santos – Médica Veterinária.
Me. Evandro Neves Silva – Biomédico.

Docentes da UNIFENAS – Câmpus Alfenas, MG, Brasil.


Dr. Bruno Cesar Correa Salles – Biomédico, Doutor em Ciências Farmacêuticas.
Dra. Nelma de Mello Silva Oliveira – Médica Veterinária, Doutora em Ciências dos
Alimentos, Coordenadora da CEUA Unifenas.
Dra. Danielly Beraldo dos Santos Silva – Biotecnologista, Doutora em Genética e
Melhoramento Animal.
Ma. Regiane Tercetti Rodrigues – Biomédica, Mestra em Ciência Animal,
Coordenadora do Curso de Biomedicina.

Colaboradora Externa – Prefácio


Dra. Patrícia Paiva Corsetti – Médica Veterinária, Doutora em Genética.

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