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Organizadores
Gabriele Correa
Raquel Lourenço Moreira
Rhuan de Andrade Souza
Vanessa Alexandra Correa
Regiane Tercetti Rodrigues
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva
Ano – 2022
0
USO E CUIDADOS COM ANIMAIS DE LABORATÓRIO
(Volume I)
Organização
Gabriele Correa
Raquel Lourenço Moreira
Rhuan de Andrade Souza
Vanessa Alexandra Correa
Regiane Tercetti Rodrigues
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva
Correção
Bruno César Correa Salles
Bethânia Elias Costa
Danielly Beraldo dos Santos Silva
Nelma de Mello Silva Oliveira
Regiane Tercetti Rodrigues
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva
Revisão
Os autores
Projeto gráfico e ilustrações
Apoio:
Universidade José do Rosário Vellano, UNIFENAS, Alfenas, MG, Brasil.
Laboratório de Biologia Molecular e Celular, UNIFENAS, Alfenas, MG, Brasil.
Laboratório de Farmacologia e Bioquímica Experimental, UNIFENAS, Alfenas, MG,
Brasil.
Comitê de Ética no Uso de Animais, CEUA, UNIFENAS, Alfenas, MG, Brasil.
Coordenação do Curso de Biomedicina, UNIFENAS, Alfenas, MG, Brasil.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa edição pode ser utilizada ou
reproduzida – por qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia,
gravação etc. -, nem apropriada ou estocada em sistema de canco de dados sem
autorização e citação.
Volume I
1ª edição, 2022
2
A compaixão para com os animais é das mais nobres virtudes da natureza humana
“Charles Darwin“.
3
SUMÁRIO
Capítulo 1
Introdução ao uso de animais em laboratório .......................................................06
Gabriele Correa
Raquel Lourenço Moreira
Regiane Tercetti Rodrigues
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva
Capítulo 2
Legislação, normativas, diretrizes e instrumentos legais ....................................13
Gabriele Correa
Raquel Lourenço Moreira
Nelma de Mello Silva Oliveira
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva
Capítulo 3
Ciência de animais de laboratório ..........................................................................19
Gabriele Correa
Raquel Lourenço Moreira
Bethânia Elias Costa
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva
Capítulo 4
Modelo animal e modelos alternativos ...................................................................25
Gabriele Correa
Raquel Lourenço Moreira
Bethânia Elias Costa
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva
4
Capítulo 5
Nutrição animal ........................................................................................................32
Rhuan de Andrade Souza
Vanessa Alexandra Correa
Regiane Tercetti Rodrigues
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva
Capítulo 6
Genética em animais de laboratório .......................................................................40
Rhuan de Andrade Souza
Vanessa Alexandra Correa
Danielly Beraldo dos Santos Silva
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva
Capítulo 7
Estresse, dor e sofrimento ......................................................................................47
Rhuan de Andrade Souza
Vanessa Alexandra Correa
Bruno César Correa Salles
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva
Capítulo 8
Planejamento, gestão de biotérios e manejo de colônias .....................................57
Rhuan de Andrade Souza
Vanessa Alexandra Correa
Nelma de Mello Silva Oliveira
Thaís Cristina Ferreira dos Santos
Evandro Neves Silva
Autores .....................................................................................................................70
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USO E CUIDADOS COM ANIMAIS DE LABORATÓRIO
(Volume I)
Gabriele Correa1
Raquel Lourenço Moreira1
Regiane Tercetti Rodrigues1
Thaís Cristina Ferreira dos Santos1
Evandro Neves Silva1
1
Universidade José do Rosário Vellano – UNIFENAS, Alfenas, MG, Brasil.
1. INTRODUÇÃO
6
avaliar as questões e avaliar os princípios e práticas na pesquisa animal (NATIONAL
RESEARCH COUNCIL, 2011).
A evolução do conhecimento na medicina humana e veterinária, repercute no
desenvolvimento de ações envolvendo a criação e experimentação animal,
desencadeando a constante e necessária atualização de suas técnicas e
procedimentos. Por mais de um século, os animais de laboratório vêm sendo
utilizados na pesquisa científica, estudos relacionados com anatomia, fisiologia,
imunologia e virologia, dentre outros, realizados em animais de laboratório, permitiram
um avanço no desenvolvimento da ciência e tecnologia. Previamente, os animais de
laboratório eram utilizados como instrumentos de trabalho que ajudavam na
investigação de diagnóstico e de pesquisas sem se levar em conta a qualidade
genética e sanitária (PINTO, 2002).
Em geral, os institutos de investigação eram responsáveis pela criação dos
animais de laboratório, porém não possuíam estruturas, além disso, as pessoas não
tinham habilitação para desenvolver essas atividades. O fato de não existirem ração
apropriada e a ausência de condições higiênicas nos criadouros fez com que não
permitissem que fossem produzidos animais geneticamente definidos. Por
consequência, os animais de laboratório eram considerados como um mal necessário,
sendo assim, eram utilizados nas pesquisas, e os resultados obtidos não eram
confiáveis (ANDRADE, PINTO, 2002).
Atualmente, com as diretrizes e bioética os pesquisadores exigem que os
animais estejam em condições ideais, tendo que estarem de acordo com a qualidade
genética e sanitária. Para a qualidade e reprodutibilidade e validação dos
experimentos, as condições dos animais devem ser definidas e padronizadas, e a
variação residual, deve ser controlada no delineamento experimental e na análise dos
resultados (ANDRADE, PINTO, OLIVEIRA, 2002). O manejo adequado de animais de
laboratório implica na interação de diversos fatores sejam estes físicos, químicos,
biológicos e da responsabilidade e profissionalismo. As garantias para estas
qualidades e condições implicam na responsabilidade institucional com os biotérios,
sua manutenção, qualificação de pessoal e supervisão de caráter permanente
(FIOCRUZ, 2002).
Os biotérios são as instalações capazes de produzir e manter espécies animais
destinadas a servir como reagentes biológicos em diversos tipos de ensaios
controlados, para atender as necessidades dos programas de pesquisa, ensino,
7
produção e controle de qualidade nas áreas biomédicas, farmacológicas e
biotecnológicas segundo a finalidade de cada Instituição. É necessário que os
biotérios sejam construídos amparados em rígidos critérios de biossegurança e em
também quanto à sua organização funcional, espacial, permitindo assim a criação ou
a experimentação animal, dentro dos padrões preconizados de higiene, assepsia e
segurança, necessários à obtenção ou a utilização de diferentes espécies animais
(FRANCO, 2012).
Para cada um dos usos é importante contar com animais de padrões biológicos
conhecidos, precisos e adequados à hipótese da experimentação. Eles compartilham
90% do genoma com humanos (genes humanos ligados a doenças com genes
equivalentes no genoma dos roedores). Permitem a manipulação do DNA para
produção de animais transgênicos (genes específicos podem ser modificados ou
mesmo removidos) para estudar sua função na saúde e na doença e questões
biológicas muito específicas.
No Brasil não existe em vigor uma legislação que especificamente regule a
criação e o uso de animais para a pesquisa e o ensino, em âmbito nacional. No
entanto, há princípio éticos consensuais estabelecidos por grupos de pessoas e
entidades nacionais, pautados no bom senso e na experiência internacional de países,
onde há Leis claras e específicas, que norteiam o uso dos animais, seu manejo e sua
situação em técnicas experimentais (FIOCRUZ, 2002). Junto a isto, é necessária a
presença de profissionais de diferentes níveis, preparados para o desempenho de
tarefas específicas, organizacionais, tais como, alimentar, manter a higiene e condição
sanitária hospitalar nos ambientes de criação, realizar o manejo zootécnico das
espécies e o seu controle genético, microbiológico e outros (FRANCO, 2012).
As pessoas cuidadoras dos animais devem ser treinadas nos locais de trabalho
e em matérias específicas, dentre elas saúde e higiene do trabalho, manejo
comportamental e genético, além de estimuladas a participar de eventos científicos
para seu aprimoramento e valorização (MICHALICK, 2018).
2. HISTÓRICO
Pelo ponto de vista histórico, os seres humanos têm usado outras espécies de
animais como modelos de sua anatomia e fisiologia desde os primórdios da medicina.
A utilização de animais de laboratório teve uma relação com a patologia comparada.
8
De início, as autópsias em cadáveres humanos estavam proibidas, assim os cientistas
procuraram nos animais a origem e características dos processos patológicos que
afetavam a espécie humana, fazendo necropsias para possíveis comparações.
Cientistas como Aristóteles, Galeno, Hipócrates, entre outros, estudaram as
semelhanças e diferenças entre os órgãos dos animais e do homem, interpretaram
fenômenos biológicos, estudaram a fisiologia e anatomia, circulação sanguínea,
respiração, a nutrição e os processos de digestão, utilizando várias espécies de
animais, foi o início do uso de animais em pesquisa, alguns anos antes de Cristo,
contribuindo para o desenvolvimento da pesquisa científica. Entretanto, com os
estudos avançados na área de virologia e bacteriologia, a utilização de animais de
laboratório tornou-se necessária (SCHNEIDER, 2011).
Assim, desde os primeiros trabalhos de Pasteur e Koch, já no século XVIII,
animais como coelhos, ratos, camundongos e hamsters passaram a ser o trabalho
dos pesquisadores, tendo muito valor de cunho científico, já que sem a
experimentação, não seria possível o estudo das primeiras vacinas contra o
carbúnculo e contra a raiva. Tradicionalmente, no Brasil na década de 70 houve uma
situação precária em relação as condições e instalações dos animais; fazendo com
que houvesse o surgimento de biotérios das quais teriam as condições adequadas,
equipado com barreiras físicas contra a propagação de infecções, e com sistema de
climatização apropriado (D’ALMEIDA, 2004).
Em decorrência, todo avanço e progresso alcançado nos últimos 30 anos, exige
o treinamento de profissionais no quesito de animais de laboratório, bem como a
capacitação de auxiliares que desenvolvam suas atividades em biotérios de criação e
de experimentação. Em vários países, a produção e padronização dos animais de
laboratório mais utilizados em pesquisa encontram-se em estudos e aperfeiçoamento.
Nos dias atuais, diversas técnicas de engenharia genética e de biologia molecular
abrem caminhos para a criação e produção desses animais.
A área dos transplantes de órgãos e tecidos é cada dia mais valorizada. O
controle das doenças hereditárias está em constante desenvolvimento, levando em
conta que a evolução tecnológica pede um sistema moderno e ágil, permitindo
avanços das pesquisas, incluindo a criação de métodos alternativos que venham a
amenizar por exemplo, o uso tradicional dos animais de laboratório.
9
2.1 Importância do uso de animais em experimentação
Fonte: Autores
10
O biotério tem por definição uma instalação dotada de características próprias,
que atende às exigências dos animais onde são criados ou mantidos, proporcionando-
lhes bem-estar e saúde para que possam se desenvolver e reproduzir, bem como para
responder satisfatoriamente aos testes neles realizados (MICHALICK, 2018).
Há necessidades básicas de que um biotério precisa ter em suas instalações,
estas sendo específicas, para conseguir qualidade ideal para a produção e
manutenção dos animais. Por conta da especificidade da pesquisa, alguns
equipamentos são necessários para se obter bons resultados; como autoclaves e
utensílios para higienização das gaiolas. Precisa-se de um modelo animal, da qual é
montado de acordo com as pesquisas a serem realizados. O cientista trabalha com
modelos animais que, necessariamente, diferem do homem. Portanto, estes modelos
podem ser comparados baseados na semelhança dos aspectos anatômicos e
fisiológicos. Por conseguinte, é essencial que sejam produzidos animais que, quando
inoculados com alguma substância, apresentem reações semelhantes às do homem.
(ANDRADE, 2002).
Os animais criados devem se caracterizar com docilidade, prolificidade e ser
de fácil manejo. As instalações devem ser unidades centralizadas, e terem a devida
regulamentação correta, a fim de evitar quaisquer problemas com a ética, nas
pesquisas científicas.
3. CONCLUSÃO
4. REFERÊNCIAS
11
CLOUGH, B.G. Environmental effects on animals used in Biomedical research. Bid.
Rev. 19823, 57, p.487-523.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Guide for the Care and Use of Laboratory
Animals. Washington, D.C.: National Academy Press, 1996.
SCHNEIDER, M.C. et al., Current status of human rabies transmitted by dogs in Latin
America. Cad Saude Publica. 2007; 23(9): 2049-63.
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1. INTRODUÇÃO
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considerando-os seres sensíveis e procurando diminuir seus sofrimentos sempre que
possível, portanto, há outros que defendem que os animais não possuem nenhum
valor, Rene Descartes, por exemplo, defendia que os animais, eram longe de
possuírem alma e que funcionavam como máquinas (CONCEA, 2015).
Em meados dos séculos XVI e XVII, a ciência viveu, por muito tempo, sob a
influência filosófica de René Descartes, da qual afirmava que os animais não tinham
alma, e, portanto, eram incapazes de sentir ou de sofrer. Isto contestava a crueldade
nas pesquisas científicas. Entretanto, os trabalhos científicos começaram a ter uma
mudança.
Com a teoria da evolução de Darwin em ascensão, isto fez com que ajudasse
no processo de demonstrar que o homem é um animal e que, logo, as preocupações
morais deveriam se estender aos animais. No século XIX, começaram a surgir
movimentos que indicavam o desejo de mudar as atitudes que o homem tinha com os
animais, dando um lugar ao sentimentalismo (COBEA, 2018).
Havia na época vitoriana um paradoxo em que valorizavam mais a vida animal
do que a vida humana. Segundo a literatura, crianças faziam trabalho escravo em
minas de carvão, enquanto no parlamento se tentava passar uma lei contra a
crueldade para com animais (ANDRADE, 2002).
Com o passar do tempo, as pessoas queriam que a experimentação cirúrgica
fosse feita mediante a anestesia, bem na época em que as propriedades do
clorofórmio haviam sido descobertas. Assim, foi criando-se sociedades
antiviviseccionistas, sendo estas ativas atualmente (FLETCHER,1996).
2.1 Normativas
2.2 Diretrizes
3. CONCLUSÃO
4. REFERÊNCIAS
CFMV. Conselho Federal de Medicina Veterinária – CFMV. Uso das atribuições lhe
conferidas pelas alíneas 'f' e 'j', art. 16, da Lei nº 5.517, 1968.
17
CONCEA. Ministério da ciência, tecnologia e inovação conselho nacional de controle
de experimentação animal – CONCEA. Diretriz brasileira para o cuidado e a
utilização de animais para fins científicos e didáticos – DBCA. Brasília/DF, 2013.
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1. INTRODUÇÃO
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partes que usam animais em seu trabalho. As áreas incluem: Saúde, genética, gestão, bem-
estar e educação. O objetivo é abordar todas as áreas que enfatizam o bem-estar dos animais,
enfatizando sua importância social e para a pesquisa científica, a fim de trazer benefícios para
ambas as partes (FRAJBLAT, 2008).
Com o avanço da ciência e os questionamentos sobre o uso de animais em
experimentos científicos, transformaram a relação entre humanos e animais, tornando o bem-
estar animal uma importante área de pesquisa.
A ciência animal de laboratório acredita que o bem-estar animal é um dos principais
fatores que afetam os resultados dos experimentos. Para avaliar o bem-estar animal, é
necessário compreender o universo artificial que o contém, e compreender aspectos da
anatomia, fisiologia, comportamento e manejo das espécies envolvidas. A partir desse
conhecimento, houve uma série de obrigações morais para se obter o bem-estar dos animais
de laboratório (FRAJBLAT, 2008).
2. BIOTERISMO E BEM-ESTAR
3. QUALIDADE SANITÁRIA
Os fatores como temperatura, umidade, ventilação e qualidade do ar, luz e ruído devem
ser controlados o máximo possível.
23
contaminações dos animais; evita a interferência na resposta imune do animal por infecções
assintomáticas (BAKER, 2008).
4. CONCLUSÃO
O desenvolvimento da ciência a favor do homem não pode nem deve servir de alicerce
para o uso indiscriminado e o desrespeito com os animais. É necessária uma postura ética
frente à necessidade do desenvolvimento da ciência e a adoção de medidas que diminuam o
sofrimento dos animais e favoreçam seu bem-estar. É importante lembrar sempre que a
credibilidade do resultado da pesquisa depende do bem-estar vivenciado pelo animal durante
sua realização, da sensibilidade do pesquisador para o entendimento de seus sofrimentos e
necessidades e do bom senso nas tomadas de decisão e atitudes.
Pela necessidade das experimentações serem realizadas em animais antes que
qualquer produto seja aplicado ao homem, uma vez que este não pode ser transformado em
cobaia e considerando, ainda, que a essência do trabalho é salvar vidas humanas mediante a
produção desses animais e sua posterior utilização, o bioterismo assume um papel de suma
importância e deve ser encarado com total responsabilidade tanto por parte daqueles que
desenvolvem tais atividades quanto por parte de nossos dirigentes.
5. REFERÊNCIAS
DE-LUCA, R.R. et al., Manual para Técnicos em Bioterismo. São Paulo: Winner Graph,
1996.
FRAJBLAT, M.C. et al., Ciência em animais de laboratório. Cienc. Cult. vol.60 nº.2 São Paulo
2008.
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USO E CUIDADOS COM ANIMAIS DE LABORATÓRIO
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1. INTRODUÇÃO
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No início do século XX, a ciência tomou grande impulso e, com ela, a ciência de animais
de laboratório começou a progredir. Os roedores são os mais utilizados até hoje, pois atendem
às características, tais como: docilidade, fácil domesticação, adaptação a ambientes variados
e sociabilidade. Além destas, algumas foram adquiridas, ao longo da sua utilização, como o
albinismo, que possibilita a marcação e visualização de experimentos realizados na pele
(ANDRADE, 2002).
A utilização de animais com objetivos científicos é uma prática comum, sendo
necessário o estabelecimento de uma cultura de cuidados, e responsabilidades para a
melhoria da descoberta científica e do bem-estar. Esses conhecimentos são de fundamental
importância tanto para o estabelecimento de colônias de animais de laboratório como para a
sua utilização na experimentação.
26
microbiota indefinida por serem mantidos em ambiente desprovido de barreiras sanitárias
rigorosas (MOLINARO, 2009).
Para a genética os animais são classificados em dois grupos: não-consanguíneos e
consanguíneos. Os animais não-consanguíneos, heterozigotos são aqueles que apresentam
constituição genética variada, em estado de heterozigose, o que deve ser conhecido e
mantido. Para o acasalamento monogâmico de roedores e poucas espécies de primatas,
mantêm-se um macho para uma fêmea, na gaiola. Tem a vantagem da facilidade de
identificação dos filhotes e a manutenção de registro fidedigno.
O acasalamento poligâmico é um método que compreende um macho para um grupo
de duas ou mais fêmeas. É mais utilizado em colônias de animais de produção de roedores e
na grande maioria das espécies primatas com esta característica reprodutiva (MOLINARO,
2009).
- Camundongo (figura 1A): Possuem porte pequeno, muito prolífero, possui um curto
período de gestação, é de fácil domesticação e manutenção. Tornou-se o animal mais utilizado
na pesquisa científica. Quando as fêmeas se agrupam em grande quantidade em ausência do
macho, se produz o período de anestro, entrando novamente em atividade três a quatro dias
depois de introduzir o macho. Dessa forma, obtém várias gestações em um mesmo período.
Os camundongos absorvem o embrião, que ocorre com maior frequência nas fêmeas
consanguíneas, devido a presença de feromônios. O camundongo adulto deve ser
manipulado individualmente pela base da cauda, com polegar e indicador ou pinça anatômica,
mas o peso do animal deve ser apoiado na mão do profissional ou outra superfície, o mais
rápido possível (ANDRADE, 2002).
- Rato (figura 1B): Encontra-se atualmente na maioria dos biotérios, é semelhante aos
outros animais monogástricos, exceto pelo fato de não possuir vesicular biliar e de seu
pâncreas ser difuso. Ratos são dóceis e fáceis de manusear: uma compressão firme e suave
ao redor da cavidade torácica restringe os seus movimentos sem trazer sensação de
desconforto. Tão logo a rata é coberta, forma-se um tampão na vagina, que é expelido nas 24
horas pós-cobertura. Este fato é observado em outros membros da família dos roedores. O
tampão pode ser notado facilmente entre as fezes, na forma de um cilindro branco seroso e
sua observação indica que houve cobertura do macho.
27
- Hamster (figura 1C): O hamster é uma espécie sazonal que entra em hibernação
durante os períodos de dias curtos com baixa luminosidade, baixas temperaturas (inferiores a
5ºC) e escassa disponibilidade de recursos alimentares e de material para construção de
ninho. No biotério, o controle ambiental com temperatura constante da ordem de 21 a 22ºC e
12 | 187 horas de claridade por dia evita a manifestação de sazonalidade, inclusive na esfera
reprodutiva. Foi amplamente demonstrado o efeito das condições de alojamento sobre o
crescimento, o peso e a composição corporal de hamsters. O alojamento em grupo acelera o
crescimento e a deposição de gordura, induzindo quadros de obesidade, especialmente nas
fêmeas, porém sem ocorrência de hiperfagia.
- Cobaia (figura 1D): São animais sociais, dóceis e raramente mordem ou arranham.
Assustam-se facilmente, defecam e urinam nos comedouros e derramam sua alimentação
pelo piso da gaiola. Os animais adultos, frequentemente, mordem as orelhas dos jovens e os
machos podem brigar violentamente, principalmente durante disputas por uma fêmea até que
se estabeleça a hierarquia do grupo.
Outra característica é a sua extrema suscetibilidade a estímulos estressantes,
principalmente a alterações ambientais, podendo levar os animais a recusar o alimento.
O trabalho com esta espécie deve ser realizado com muito cuidado, principalmente no
que se refere as fêmeas grávidas ou com filhotes recém-nascidos, que podem ser pisoteados
pelos outros animais do grupo. O método mais seguro para conter uma cobaia é colocar uma
mão sob o tórax e, com a outra, apoiar a parte posterior, para suportar o peso do animal,
permitindo que ele fique sentado sobre a palma da mão.
- Coelho (figura 1E): Considera-se um animal dócil, podendo morder ou arranhar em
razão da contenção incorreta. Suscetível ao estresse, assusta-se facilmente. Não se deve
manter machos adultos em uma mesma gaiola para evitar brigas, as fêmeas também não
devem ser mantidas na mesma gaiola porque podem apresentar pseudogestação.
Para o acasalamento, a coelha deve ser levada a gaiola do macho para facilitar a
cobertura. Uma vez introduzida a fêmea na gaiola do macho, deve ocorrer a cobertura após
alguns minutos. Após a cobertura, a fêmea deve retornar a sua gaiola de origem. Esses
animais são mais sensíveis ao calor do que ao frio.
Para grandes trajetos, coloca-se o animal sobre o antebraço com a cabeça dirigida para
o corpo, segurando firmemente as patas traseiras. Nunca se deve levantar um coelho pelas
patas ou pelas orelhas, pois há a propensão a lesões de coluna vertebral e fraturas.
28
Figura 1. Modelos empregados na experimentação.
Fonte: Autores
4. MODELOS ALTERNATIVOS
São considerados métodos alternativos quaisquer métodos que possam ser usados
para substituir, reduzir ou refinar (3’Rs) o uso de experimentos com animais na pesquisa
biomédica, ensaios ou ensino.
Segundo a lei 11794, de 2008, conhecida como Lei Arouca, uma experiência não pode
ser realizada em animais, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem
recursos alternativos.
A fim de contemplar os objetivos do método 3’Rs, diversas metodologias têm sido
desenvolvidas e apresentadas. Entretanto, para que elas sejam utilizadas é necessária a
elaboração de protocolos de estudo, os quais são publicados apenas quando a nova proposta
de ensaio já fora avaliada, validada e aprovada pelos órgãos competentes.
O segundo passo consiste no reconhecimento e na utilização de tal metodologia dentro
da proposta regulatória de cada país.
Diversos países, tais como os Estados Unidos e membros da comunidade europeia já
aprovaram a utilização de métodos alternativos no processo de registro de novas substâncias,
assim como a substituição de alguns métodos clássicos por outros que se enquadrem na
proposta dos 3’Rs, como por exemplo, a substituição do estudo clássico com animais de
laboratório.
A Fiocruz também integra a Rede Nacional de Métodos Alternativos (RENAMA) ao uso
de animais. A criação do RENAMA permite a existência de uma infraestrutura laboratorial e de
recursos humanos especializados, capazes de implantar métodos alternativos ao uso de
animais e desenvolver e validar novos métodos no Brasil (FIOCRUZ, 2008).
Pelo contexto histórico grandes avanços científicos na área da saúde só foram
possíveis graças à utilização de animais como modelos para estudos. O uso destes salvou, e
ainda salva, muitas vidas humanas, porém esta prática, que traz cura, prevenção e tratamento
29
para doenças, também pode gerar dor e estresse nos animais, trazendo conflitos complexos,
principalmente naqueles que defendem a causa animal.
Deve-se levar em conta os episódios que ocorreram quando tais testes não eram
exigidos ou não tinham regulamentação rigorosa, como o caso da máscara de cílios Lash Lure,
que não foi testada quanto à segurança ocular e levou a casos de cegueira e até uma morte
após a utilização do produto, e da talidomida, que foi comercializada sem a realização de todos
os testes pré-clínicos adequados e, após ser consumida por mulheres grávidas, gerou
problemas severos nos bebês, como falta ou encurtamento de membros (BIOTEC, 2019).
No entanto, muitos desses testes ainda são questionados eticamente por submeter os
animais a efeitos adversos, mesmo tentando aliviá-los ao máximo, com o uso de anestésicos,
analgésicos e anti-inflamatórios. Dentre os métodos que têm a capacidade de reduzir, refinar
ou substituir o uso de animais em testes científicos estão:
- Métodos alternativos in silico: A utilização de modelos matemáticos ou computacionais
de softwares pode predizer o potencial risco oferecido por novas substâncias, com base na
semelhança de propriedades físico-químicas com outras substâncias já existentes e em outras
informações extraídas de bancos de dados.
- Métodos alternativos in vitro: São métodos que utilizam o cultivo de células, tecidos e
órgãos fora do organismo, em laboratório, visando obter a mesma informação que seria obtida
com o modelo animal.
- Sistemas microfisiológicos: Esta tecnologia robusta promete maior poder preditivo e
combina o cultivo de células em três dimensões, os chamados organoides, na tentativa de
mimetizar o organismo de forma fisiológica e assim substituir, o uso do modelo animal.
Atualmente os métodos alternativos mais acessíveis, têm grande potencial para reduzir
e até mesmo substituir o uso de animais. Estes métodos são, em muitos casos, mais rápidos
e baratos, além de terem condições experimentais altamente controladas e resultados
quantificáveis, diferente de alguns testes em animais que geram resultados subjetivos e
demandam mais tempo e gastos.
Outra vantagem é a possibilidade de utilização de células humanas (linhagens
comerciais usadas para pesquisa e compradas de bancos de células), eliminando o problema
da distância filogenética entre animais e humanos e levando a uma maior taxa de sucesso na
transição dos testes pré-clínicos para os clínicos.
30
6. CONCLUSÃO
7. REFERÊNCIAS
DE-LUCA, R.R. et al., Manual para Técnicos em Bioterismo. São Paulo: Winner Graph,
1996.
FRAJBLAT, M.C. et al., Ciência em animais de laboratório. Cienc. Cult. vol.60 nº.2 São Paulo
2008.
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USO E CUIDADOS COM ANIMAIS DE LABORATÓRIO
(Volume I)
1. INTRODUÇÃO
32
A ciência de animais de laboratório dispõe de uma cadeia organizada no âmbito
do desenvolvimento de equipamentos, produtos, técnicas de manejo e genética
animal. Porém, a nutrição não tem acompanhado no mesmo rimo de desenvolvimento,
tanto por parte da academia, quanto pela indústria. Pesquisas direcionadas ao
desenvolvimento de novos produtos, com a revisão e validação das exigências
nutricionais devem ser continuamente incentivadas (MOURA, 2014).
As rações comerciais disponíveis no Brasil apresentam formulação única para
todas as espécies, linhagens e categorias de camundongos, ratos e hamster, sem
considerar as exigências interespecíficas (MOURA, 2014).
2. NUTRIÇÃO
Fonte: Autores
3. CONCLUSÃO
A má gestão alimentar pode causar sérios problemas nos animais e toda sua
prole. Esses problemas podem começar com doenças e até levar à morte. Além de
37
impossibilitar a pesquisa com esses animais, os problemas decorrentes da má
alimentação podem ser aleatórios e prejudiciais à pesquisa. Formulações
inadequadas fornecidas a animais de laboratório podem levar à variabilidade nos
achados se submetidos a programas de variáveis rigorosamente controladas.
Pesquisadores das mais diversas áreas das ciências biológicas devem atentar para a
qualidade das dietas fornecidas aos animais.
Sendo assim, para que tudo funcione, é fundamental conhecer as
necessidades nutricionais de cada animal de laboratório. Lembrando que a
quantidade de alimentos ingeridos depende das necessidades energéticas de cada
espécie, por isso é importante determinar a densidade calórica da dieta e determinar
a quantidade de nutrientes.
4. REFERÊNCIAS
CARCIOFI, A.C. et al., Aulas Cavalieri Progresso científico sobre nutrição de animais
de companhia na primeira década do século XXI. Revista Brasileira de Zootecnia.
2010, v.39, p.35-41.
COSTA, N.M.B., et al. Nutrição experimental: Teoria e prática. 1ºed, Rio de Janeiro:
Rubio, 2014.
SELINGER, S.B. et al., The rumen: a unique source of enzymes for enhancing
livestock production. Anaerobe. 1996, 2(5): 263-84.
39
USO E CUIDADOS COM ANIMAIS DE LABORATÓRIO
(Volume I)
1. INTRODUÇÃO
40
não as satisfazem, pois não são submetidos a nenhum tipo de controle genético-
reprodutivo (ANDRADE, PINTO, OLIVEIRA, 2002).
Em alguns países a produção e padronização dos animais de laboratório mais
utilizados em pesquisa, estão em pleno aperfeiçoamento. Tudo se encaminha para a
aquisição de modelos genéticos ecologicamente e sanitariamente definidos para a
realização dos trabalhos dos pesquisadores. Este capítulo aborda conceitos sobre a
classificação genética e linhagens de animais de laboratório.
2. CLASSIFICAÇÃO GENÉTICA
2.4 Híbridos F1
Fonte: Autores
44
3. DISTÂNCIA GENÉTICA ENTRE LINHAGENS DE RATOS
4. CONCLUSÃO
5. REFERÊNCIAS
45
OLIVEIRA, G.B. Estudo do perfil genético de linhagens de camundongos
mantidos nos biotérios de criação de duas instituições parceiras na Rede
Mineira de Bioterismo. Universidade Federal de Minas Gerais. 2013.
46
USO E CUIDADOS COM ANIMAIS DE LABORATÓRIO
(Volume I)
1. INTRODUÇÃO
47
O sofrimento também pode fazer parte dos processos, quando há sensações
desagradáveis agudas ou contínuas. A dor está associada com uma experiência
sensorial ou emocional desagradável, com lesões tissulares real ou potencial, descrita
em termos de tal lesão. Essa dor pode ser relacionada com a resposta do estresse,
desconforto e prejuízo do bem-estar animal. Deve se ter uma rigorosa fiscalização dos
profissionais envolvidos nas pesquisas ao serem realizadas (REFERÊNCIA).
2. ESTRESSE ANIMAL
49
Figura 1. Principais causas de estrese para os animais de laboratório.
Fonte: Autores
2.1 Sofrimento
50
moral. Pensadores de várias épocas vêm afirmando que a crueldade para com
animais e a crueldade contra humanos estão inter-relacionadas.
2.2 Dor
A Associação Internacional para o estudo da dor definiu dor como sendo “uma
experiência sensorial ou emocional desagradável associada à lesão tissular real ou
potencial, ou descrita em termos de tal lesão” (HELLEBREKERS, 2002). Dor é uma
sensação extremamente aversiva e a percepção da dor é parte do estado de um
indivíduo (BROOM, 1991).
As consequências negativas da dor são de natureza múltipla, mas podem ser
agrupadas sob o título de “resposta ao estresse”. Em decorrência dessa resposta ao
estresse, e junto com o desconforto e prejuízo do bem-estar do animal, várias funções
fisiológicas ficarão prejudicadas, fazendo com que o alívio adequado da dor promove
o bem-estar geral do animal (HELLEBREKERS, 2002).
Como os animais não podem descrever sua dor (HARDIE, 2002), é essencial
o conhecimento da aparência normal, performance e padrão de comportamento das
espécies em estudo, para uma avaliação mais acertada da dor e sua amplitude
(MORTON; GRIFFITHS, 1985).
3. ANALGESIA
O termo analgesia do latim analgesia/ pelo grego álgesis + ia, significa ausência
de dor. No homem, dor e analgesia podem ser avaliadas por meio de relatos verbais
sobre a sensação sentida; nos animais, estas só podem ser avaliadas indiretamente,
por meio de atitudes comportamentais ou de dados fisiológicos. A analgesia
preventiva é uma das técnicas e se refere à utilização de agentes analgésicos antes
do animal ser exposto a qualquer tipo de procedimento.
Para relacionar a dor nos animais com o que é sentido pelo homem, é essencial
um pouco de antropomorfismo. Como o termo dor se refere a um estado subjetivo, ele
só poderia ser aplicado quando se referisse ao homem. Porém, como o homem e o
animal apresentam em comum estruturas neurológicas e processos fisiológicos, e em
virtude da existência, em animais, de manifestações comportamentais comparáveis
àquelas observadas no homem quando em estado de dor, tornou-se, no mínimo,
51
eticamente prudente aceitar que o sofrimento animal é equivalente ao sofrimento
humano quando ambos forem sujeitos a um mesmo fator que induza à dor. Por isso,
é essencial que, na ausência ou evidência da dor, se pressuponha que qualquer
estímulo ou experiência produtora de dor e desconforto em humanos também cause
o mesmo efeito nos animais. Esse ‘postulado de analogia’ deve ser aceito, a menos
que sua invalidade seja provada em casos específicos (LASA, 1990).
A dor é elemento essencial para sobrevivência e manutenção da vida dos
organismos complexos; porém sua continuidade reduz a qualidade de vida, causa
instabilidade homeostática e provoca reações bioquímicas e comportamentais
extremamente danosas (BRITO et al., 2016), como indicado por Coutinho e Andrade,
Pinto e Oliveira. Apesar das legislações e manuais que tratam do assunto, e de dados
que confirmam a necessidade de preservar a fisiologia normal, ainda há
desconsideração da dor dos animais de experimentação por parte de pesquisadores.
O estresse causado pela dor se mostra mais danoso a estruturas
anatomopatológicas que qualquer analgésico, por causa da liberação de inúmeros
mediadores inflamatórios e da alteração comportamental, que pode gerar inapetência,
atos de mutilação e alterações de sono-vigília (KOHN et al., 2007).
O Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA)
elaborou estratificação do grau de invasividade (GI), em que cada procedimento deve
ser enquadrado para melhor visualização do nível de dor apresentado pelos animais,
o que consequentemente levaria ao cuidado com o protocolo analgésico utilizado. São
quatro os graus de invasividade: o primeiro refere-se a experimentos que causam
pouco ou nenhum desconforto ou estresse; o segundo, de leve intensidade; o terceiro,
com intensidade intermediária; e o quarto e último, experimentos que causam dor de
alta intensidade. O que se observou nos estudos analisados, todavia, é que, mesmo
com a correta classificação do grau de invasividade, não houve devida atenção à
analgesia, pois apenas 34,4% dos projetos que realizaram procedimento cirúrgico
fizeram uso de analgesia pós-operatória. Diante dessa evidência, não é demais repetir
que não se pode justificar nenhum ganho científico com base no sofrimento de outros
seres vivos (BRITO et al., 2016).
Soma (1987) relaciona uma série de sintomas clínicos e comportamentais que
os animais podem apresentar em caso de dor. Quando a dor for ‘aguda’ podemos ter:
• POSTURA DE GUARDA – tentativa de se proteger, fugir ou morder;
• GRITOS – movimentos;
52
• MUTILAÇÃO – lamber, morder, coçar, tremer;
• INQUIETAÇÃO – caminhar, deitar e levantar, peso de um lado só;
• SUDORESE – no cavalo;
• DEITADO – período de tempo não-usual;
• CAMINHAR – relutância em se mover, dificuldade para levantar;
• POSIÇÕES ANORMAIS – cabeça para baixo, abdômen contraído.
A dor ‘crônica’ é a mais difícil de ser avaliada, e os seguintes comportamentos devem
ser observados:
• redução da atividade;
• perda do apetite;
• alterações da personalidade;
• esconder-se em um canto;
• recusa em se movimentar;
• alterações na urina;
• alterações na consistência das fezes;
• falta de higiene pessoal;
• automutilação.
No caso de dor crônica, pode haver um ciclo de dor ⇒ lesão ⇒ dor difícil de
controlar. Há uma grande variação nas respostas comportamentais entre espécies e
entre indivíduos da mesma espécie. Os animais endogâmicos (inbred) possuem
menor variabilidade individual (RIVERA, 2002).
53
• vocalização;
• perda de peso;
• piloereção/postura encurvada;
• hipotermia;
• descarga ocular (cromodacriorréia);
• ato de lamber-se;
• maior agressividade
COBAIAS
• vocalização;
• não resistem quando segurados;
• não respondem aos estímulos;
• em geral, sonolentos e sem agressividade.
COELHOS
• diminuição do consumo de água e alimento;
• olham para a parte de trás da gaiola;
• movimentos limitados;
• fotos sensibilidade;
• acima de tudo, estoicos
HAMSTER
• perda de peso;
• período maior de sono;
• aumento da agressividade ou depressão;
• diarreia.
4. ANESTESIA
54
escolhido, deve-se ter em mente que os dois objetivos principais da anestesia são
evitar a dor e proporcionar contenção humanitária (HELLEBREKERS, 2002; BRITO,
2016).
A seleção de um método de anestesia que apresente menor probabilidade de
interferir em determinado protocolo de pesquisa talvez seja uma das tarefas mais
difíceis. O pesquisador deve ter conhecimento dos efeitos fisiológicos que tais
anestésicos proporcionam, para tentar minimizar interações entre a técnica anestésica
e o protocolo de pesquisa. É importante ter em mente que nenhum agente anestésico
é ao mesmo tempo totalmente efetivo e seguro (HELLEBREKERS, 2002; BRITO,
2016).
5. CONCLUSÃO
6. REFERÊNCIAS
KOHN, D.F. et al. Guidelines for the assessment and management of pain in rodents
and rabbits. J Am Assoc Lab Anim Sci. 2007;46(2):97-108.
56
USO E CUIDADOS COM ANIMAIS DE LABORATÓRIO
(Volume I)
1. INTRODUÇÃO
57
Os pesquisadores exigem que os animais reúnam condições ideais, isto é, que
atendam aos parâmetros de qualidade genética e sanitária, uma vez que os resultados
dos experimentos são afetados em razão da qualidade de cada espécie utilizada.
2. AS BARREIRAS SANITÁRIAS
58
2.1 Classificação dos animais quanto ao status sanitário
3.1 Temperatura
A umidade deve ser estabelecida dentro dos padrões normais adequados para
cada espécie, de forma que não seja tão baixa e deixe o ambiente muito seco, o que
pode levar a problemas respiratórios, como ressecamento de mucosas, pele e o
aparecimento de lesões, como a afecção denominada ringtail nos ratos
(MAJEROWICZ, 2008).
A umidade relativa recomendada para a grande maioria dos animais é de 55±5
% e a tolerância está na faixa de 30 a 70%UR (National Research Council, 1996). A
umidade relativa no interior das gaiolas é entorno de 10% maior que no ambiente
(COOK, M.J, 1983).
A umidade relativa exerce um importante papel no bem-estar animal. Com a
liberação contínua de vapor d’agua, através de respiração e pela evaporação da urina,
a umidade dentro das salas tende a aumentar, tornando-se necessário um sistema
que retire significamente o excesso de água do ambiente (Santos, 2009).
Um sistema de ventilação deve produzir trocas regulares do ar da sala dos
animais para controlar a temperatura e a umidade, e diluir os possíveis poluentes
químicos. O número de trocas recomendadas é de 10 a 15/hora (Santos, 2009).
3.5 Ruído
62
3.6 Caixas e gaiolas
64
A eficiência de qualquer programa de limpeza depende do entusiasmo do
executor. A higiene pessoal é uma barreira importante contra a infecção. O hábito de
lavar as mãos antes e depois de manusear qualquer animal pode reduzir o risco de
propagação de doenças, bem como o risco de autoinfecção. O manejo de animais
oferece aos humanos, basicamente, dois tipos de risco: o de infecção e o traumático
(CARDOSO, 2000)
É obrigatório o uso de luvas para qualquer procedimento nos biotérios (criação
e experimentação). Ao manipular agentes patogênicos, em biotérios experimentais,
utilizar luva dupla. Uniforme completo (Jaleco de mangas compridas e longo, calça
exclusiva para uso no biotério, máscara, gorro e pantufas). Aventais, jalecos ou
uniformes são vestimentas de proteção usada nas áreas de animais, devendo ser
retiradas antes de sair do ambiente. Assim que o técnico chega ao Biotério, dirige-se
imediatamente aos vestiários, onde guarda no armário seus acessórios pessoais,
retira sua vestimenta e paramenta-se com os Equipamentos de Proteção Individual
(EPIs): macacão, touca, máscara, luvas e sapato fechado à prova d’água (figura 1).
Realizados esses procedimentos, ele já está pronto para executar suas atividades
(NEVES, 2013)
As roupas de laboratório usadas em áreas de risco devem ser autoclavadas
antes de serem lavadas. O material descartado (proveniente de necrópsia, carcaças
de animais infectados etc.) deve ser identificado e autoclavado. Se possível incinerado
(NEVES, 2013)
Equipamentos e superfícies de trabalho devem ser higienizados com um
desinfetante apropriado após o término do trabalho com materiais infecciosos e
especialmente após derrame, gotejamento ou outra forma de contaminação com
material infeccioso (NEVES, 2013).
3.9.1 Eutanásia
4. ÉTICA
A partir da premissa de que os animais que passam por eutanásia são seres
senscientes, por isso, capazes de sentir, responder e interpretar estímulos dolorosos
e ao sofrimento, vivemos a crescente necessidade de se estabelecerem normas e
diretrizes que garantam o cumprimento dos princípios de bem-estar animal e o
respeito aos parâmetros éticos (CFMV, 2013).
Estar atento a atualizações ou treinamentos éticos, pode minimizar o sofrimento
do profissional veterinário em resposta a eutanásia rotineira, uma das principais
causadoras de “Burnout” e sofrimento moral (ROLLIN, 2011).
Os estímulos desencadeantes de sofrimento nos animais que estão a caminho
da eutanásia são a dor, o medo, a ansiedade, o estresse e a injúria ou o trauma.
Portanto, a eutanásia é um potencial causador de sofrimento nos animais. Os fortes
apelos da sociedade e o reconhecimento pela ciência da necessidade de controlar o
66
estresse e a dor fez surgir uma nova ética social para estes animais, baseada na
profilaxia, manejando adequadamente para evitar doenças. Cada ser reage de uma
forma distinta à dor e ao estresse, isso é observado em indivíduos de mesma espécie,
mas principalmente de espécies diferentes (CFMV, 2013).
5. CONCLUSÃO
Fonte: Autores
67
6. REFERÊNCIAS
CARMO, A.T. et al., Qualidade do Ar Interno. Série Texto Técnico, TT/PCC/23. São
Paulo: EPUSP, p.35, 1999.
COOK, M.J. Anatomy. In: The Mouse in Biomedical Research. Foster, HL; Small,
JD & Fox, JG (eds.) Vol III. New York: Academic Press, p. 101, 1983.
COUTO, S.E.R. Instalações e barreiras sanitárias. In: antenor andrade; sergio correia
pinto; rosilene santos de oliveira. Animais de laboratório - criação e
experimentação. Rio de janeiro: Fiocruz, 2002, v.1, p.33-43.
68
OLIVEIRA, R.S. Animais de Laboratório: criação e experimentação. Editora
Fiocruz: Rio de Janeiro, 2002. p.388.
ROLLIN, B.E. Euthanasia, moral stress and chronic illness in veterinary medicine.
Veterinary Clinics: Small Animal Practice. v. 41, n. 3, p. 651-659, 2011.
69
AUTORES
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