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ISSN on-line: 2178-5201
Doi: 10.4025/actascieduc.v40i3.35253 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
Departamento de Psicologia, Centro de Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, Rodovia Washington Luís, Km 235, s/n, 13565-
905, São Carlos, São Paulo, Brasil. *Autor para correspondência. E-mail: joenesantos@yahoo.com.br
de mediador entre alumno y conocimiento, lo que apunta a un proceso gradual de cambios en las HS requeridas
para la actuación en la enseñanza superior. Nuevas revisiones pueden confirmar o refutar los datos aquí descritos.
Palabras-clave: enseñanza superior; docentes universitários; habilidades sociales; relaciones interpersonales.
Oliveira e Silva (2012) sugerem que, apesar de o O ‘desempenho social’ é definido por Del Prette
ambiente acadêmico ainda valorizar mais as e Del Prette (2017) como o conjunto de
competências científicas do professor universitário, comportamentos envolvidos em determinada tarefa
tem-se observado uma crescente atenção sobre de interação social, incluindo tanto os que
outras competências importantes no exercício da contribuem, quanto os que não contribuem, para a
docência; entre elas, as de estabelecer relações com competência social. Segundo esses autores, os
os alunos que contribuem para a aprendizagem comportamentos que não contribuem têm alta
destes. A relação entre professor e aluno é, de fato, probabilidade de comprometer a qualidade das
reconhecida como fator importante no processo de relações interpessoais, como os agressivos e os
ensino-aprendizagem. Polick, Cullen e Buskist passivos. Por outro lado, conforme destacam os
(2010) ouviram de alunos entrevistados que os autores, os comportamentos que contribuem são
professores que fizeram diferença em seu designados pelo termo ‘habilidades sociais’ e
desenvolvimento profissional foram os que, além da referem-se a classes de comportamentos com alta
paixão pelo que ensinavam, estabeleciam relações probabilidade de gerar consequências positivas para
que proporcionavam uma transformação pessoal e o indivíduo e seu grupo social. Na visão desses
significativa em suas vidas. Além disso, aspectos autores, as habilidades sociais são comportamentos
diversos da importância desta relação na vida acadêmica socialmente aceitos e valorizados por uma cultura ou
do estudante têm sido destacados pela literatura, como: subcultura e que, quando apresentados, favorecem a
impacto sobre a evasão da universidade (Bardagi & manutenção, a efetividade e a qualidade da relação.
Hutz, 2012); satisfação com a experiência universitária As habilidades sociais são aprendidas ao longo da
e adaptação acadêmica (Oliveira, Wiles, Fiorin, & Dias, vida; no entanto, é necessário que o indivíduo
2014); interesse e participação dos alunos em sala de vivencie situações que permitam que elas sejam
aula (Bariani & Pavani, 2008); qualidade de vida do adquiridas e fortalecidas (Del Prette & Del Prette,
discente (Oliveira & Ciampone, 2006); qualidade do 2010).
processo de ensino-aprendizagem (Cavaca, Esposti, Os autores (Del Prette & Del Prette, 2010)
Santos-Neto, & Gomes, 2010); aproveitamento do apresentam uma proposta de classificação de
aluno e incorporação de valores essenciais ao exercício habilidades sociais em sete conjuntos amplos, a
profissional ético (Zani & Nogueira, 2006), entre saber: comunicação, civilidade, assertividade e
outros. Ainda nesta linha de raciocínio, Schultz e enfrentamento, empatia, trabalho, expressão de
Marchuk (2006) destacam que a relação professor- sentimentos positivos e automonitoria. Cada uma
aluno é importante por vários motivos: (a) como destas classes é composta por várias subclasses. Entre
condição de maior aprendizagem dos conteúdos as habilidades sociais de trabalho, estão as
acadêmicos; (b) aproveitamento de oportunidades para ‘habilidades sociais educativas’ (HSE), definidas
engajamento em pesquisas, projetos de extensão e como “[...] aquelas intencionalmente voltadas para a
atividades não acadêmicas (teatro, música, esportes, promoção do desenvolvimento e da aprendizagem
etc.); (c) influência positiva sobre a postura ética dos do outro, em situação formal ou informal” (Del
estudantes e, (d) além dos conteúdos, orientação para a Prette & Del Prette, 2010, p. 95).
vida. De acordo com os autores, a existência de
Para estabelecer uma relação adequada com o habilidades sociais no repertório de um indivíduo é
aluno, e que seja efetiva no sentido de orientar o condição necessária, mas não suficiente, para
estudante no processo de aprendizagem, é importante garantir competência social em lidar com as
que o professor possua, entre outras competências, um diferentes demandas sociais existentes nas interações
repertório bem elaborado de habilidades sociais. Estas que estabelece. O termo ‘competência social’ é um
habilidades têm sido investigadas, principalmente, por construto avaliativo do desempenho que
uma área da Psicologia, denominada campo teórico- [...] qualifica […] a proficiência de um desempenho
prático das habilidades sociais (Del Prette & Del Prette, e se refere à capacidade do indivíduo de organizar
2010), no qual se tem avançado de maneira consistente pensamentos, sentimentos e ações em função de
e intensa nas últimas décadas, principalmente nos seus objetivos e valores, articulando-os às demandas
Estados Unidos, Brasil, Reino Unido e Austrália imediatas e mediatas do ambiente (Del Prette & Del
(Colepicolo, 2015b), contribuindo de forma Prette, 2010, p. 31).
significativa para a compreensão de diversas variáveis Um comportamento social, portanto, é
envolvidas na relação interpessoal. Este campo considerado competente quando alcança
desenvolveu-se em torno de três conceitos nucleares, determinados critérios de funcionalidade
explicitados e definidos a seguir: desempenho social, instrumental e ética (Del Prette & Del Prette, 2017),
habilidades sociais e competência social. a saber: consecução dos objetivos da tarefa social;
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aprovação social da comunidade verbal; manutenção (PsycArticles). Em cada grupo, utilizou-se uma
ou melhoria da qualidade da relação; maximização estratégia distinta de seleção dos descritores para a
das trocas positivas entre os interlocutores; respeito busca de artigos, dadas as especificidades de cada
e/ou ampliação dos direitos humanos dos grupo de bases.
envolvidos. Tanto nas bases latino-americanas como na
Conforme Del Prette e Del Prette (2017), um norte-americana, foram utilizados três conjuntos de
desempenho socialmente competente, que atinja todos termos diferentes, com vistas a tornar o mapeamento
estes critérios, pressupõe valores de convivência, tais bem específico. O primeiro, refere-se às habilidades
como cidadania, cooperação, solidariedade, sociais foco da presente análise; o segundo, ao
responsabilidade social e reciprocidade. Por isso, professor e o terceiro, ao local de atuação. Para a
professores socialmente competentes tanto escolha dos descritores relativos às habilidades
desenvolvem boas relações com seus alunos, servindo sociais, procuraram-se, nos índices de assunto de
de modelo para a interação com os demais, como cada base de dados e no Thesaurus, no caso da
contribuem para que eles incorporem valores essenciais PsycArticles, os descritores empregados relacionados
para o exercício profissional e sua atuação como ao tema, tendo como referência a taxonomia
cidadãos. Assim, se o docente desenvolver um proposta por Del Prette e Del Prette (2010), e
repertório de habilidades sociais adequado, presume-se termos relacionados à expressão ‘habilidades sociais’,
que será capaz de utilizá-las de forma educativa na tais como interação social e relação interpessoal.
interação com seus alunos, auxiliando no Além disso, foram incluídos, neste conjunto de
desenvolvimento de valores e habilidades importantes descritores, termos existentes em cada base de dados
para seus futuros profissionais. que se referissem à relação professor-aluno (Tabela
Dada a relevância das interações professor-aluno na 1).
universidade e das habilidades sociais do professor para
Tabela 1. Descritores relacionados às habilidades foco deste
isso, o objetivo do presente estudo é avaliar a produção estudo.
científica sobre habilidades sociais relacionados à
Descritores empregados nas bases de dados Latino-Americanas
atuação docente no ensino superior na modalidade Afetividade Habilidades de Professor-aluno1
presencial. Estudos relacionados a educação a distância Amizade comunicação2 Professor-alunos1
(EaD) e educação especial foram excluídos, pois podem Assertividade Habilidades do bom Professor-estudante1
Civilidade3 professor1 Relação entre professor e
envolver outras nuances da relação professor-aluno, Comportamento Habilidades na aluno1
que fogem ao escopo desta pesquisa. assertivo1 comunicação1 Relação interpessoal2
Comunicação Habilidades sociais Relação professor aluno1
Comunicação Habilidades sociais Relação professor-aluno2
Método interpessoal3 assertivas1 Relação social2
Comunicação não Habilidades sociais Relações afetivas
Este artigo constitui uma revisão sistemática de verbal educativas2 Relações interpessoais2
Comunicação não- Interação interpessoal Resolução de conflito2
estudos empíricos que abordam as habilidades sociais verbal3 Interação pessoal1 Resolução de conflito
de docentes universitários, visando a responder a Comunicação oral1 Interação professor- interpessoal1
1 3
algumas questões: Quais são os tipos de estudo mais Comunicação verbal aluno Resolução de problemas3
Empatia Interação social Resolução de problemas
publicados? Em quais áreas de conhecimento e cursos Expressão emocional1 Interações sociais2 interpessoais1
específicos existem investigações sobre tais habilidades? Expressividade 3
Práticas docentes 1
Solidariedade
Expressões emocionais1 Práticas educativas3
Quais habilidades sociais têm sido estudadas? Como Falar em público Professor/aluno1
têm sido avaliadas (as fontes de dados e instrumentos)? Feedback Professor/alunos1
São empregados instrumentos com evidências de Habilidades
comunicacionais1
validade? Que conhecimentos foram produzidos com Habilidades
relação às habilidades sociais relevantes para o professor comunicativas2
Habilidades
universitário? conversacionais1
Descritores empregados nas bases de dados PsycArticles
Seleção dos manuscritos Assertiveness Interpersonal Problem solving
Communication skills communication Social interaction
A busca por artigos que permitissem avaliar a Conflict resolution Interpersonal Social skills
produção científica sobre habilidades sociais Empathic interaction Solidarity
Empathy Interpersonal Social behavior
relacionadas à atuação docente no ensino superior Facial expressions relationships Verbal communication
foi realizada em três grupos de bases de dados Feedback Interpersonal relation
distintas: (a) bases de dados latino-americanas (Scielo Nonverbal ability
Nonverbal
Brasil, Periódicos Eletrônicos em Psicologia (PEPSIC), communication
LILACS e Index Psi); (b) base de dados específicas Nota: Nos descritores empregados nas bases latino-americanas, os números 1, 2 e 3
representam, respectivamente, a presença do termo em uma, duas ou três bases, de
de publicações sobre habilidades sociais (Corpus acordo com os índices de assunto de cada base de dados. Os descritores que não estão
PHS); (c) base de dados norte-americana acompanhados de números estavam presentes nos índices de assunto das quatro bases.
Para determinar a principal área do conhecimento de alguns sinais que podem ser observados no aluno
adotada pelo artigo, foram analisados os principais em sala de aula (Sgariboldi et al., 2011, p. 1.208).
conceitos apresentados na introdução de cada um deles. Em três estudos, o desempenho do professor foi
As áreas do conhecimento identificadas foram: avaliado tanto por docentes como por discentes. Em
Educação (8 artigos), Comunicação (6), Psicologia (5) e um deles, a avaliação que os professores faziam de
Fonoaudiologia (4). seu próprio desempenho era comparada com a
Entre os relacionados à área da Educação, foram avaliação feita pelos alunos (Schlee, 2005). Os outros
encontrados seis estudos, que avaliavam o dois referiam-se à busca de evidências de validade
desempenho docente como parte de procedimentos para o ‘instrumento de medida de eficácia
institucionais (avaliação institucional do docente); comunicacional’ do docente. No entanto, apesar de
um sobre formação de professores e um sobre o procedimento envolver professores, estes não
aprendizagem, baseado em problemas. Nos artigos avaliavam seu próprio desempenho em sala de aula,
relativos a Comunicação, três avaliavam aspectos não mas o de um professor bem conhecido de uma
verbais; dois descreviam evidências de validade de disciplina já cursada (Rego 2001a; 2001b).
um instrumento elaborado para avaliar a eficácia Em dois estudos com base nos pressupostos
comunicacional do professor e um estudo verificava teóricos da fonoaudiologia, o desempenho do
os estilos de comunicação do professor e do aluno e docente foi avaliado, pelo pesquisador, em termos de
a relação desses estilos com a avaliação que o aluno prosódia (características dos sons da fala). Barbosa,
fazia do professor. Em relação aos estudos Cavalcanti, Neves, Chaves, Coutinho e Mortimer
relacionados à área da psicologia, apenas um deles (2009) pesquisaram, em laboratório, os recursos
referia-se ao campo teórico-prático das habilidades não-verbais e os recursos expressivos da fala e vocais
sociais. Por fim, os artigos relacionados à área da de um grupo de professores universitários. Já
fonoaudiologia abordavam aspectos distintos dos Azevedo, Martins, Mortimer, Quadros, Sá, Moro, &
componentes não verbais e paralinguísticos que Pereira (2014) avaliaram a qualidade da comunicação
acompanham a comunicação sob a perspectiva da e os gestos de uma professora universitária em sala
fonoaudiologia. de aula e a interação destes recursos como estratégias
A coleta dos dados ocorreu em vários cursos, de expressividade.
com maior frequência nos da área das ciências Apenas em um estudo (Erdle, Murray, &
biológicas (26,1%), especificamente enfermagem, Rushton, 1985), o desempenho do professor foi
medicina e fonoaudiologia. Na área das ciências avaliado pelos três informantes: aluno, professor e
humanas, a coleta ocorreu somente nos cursos de pesquisador. Nele, os autores estavam interessados
administração e psicologia e, em ciências exatas, no em examinar a relação entre os comportamentos
de química. Alguns estudos envolveram (a) mais de apresentados em sala de aula pelo professor e a
um curso de graduação (17,5%); (b) diversos níveis influência de sua personalidade sobre a efetividade
de ensino (8,7%) ou (c) não especificaram o curso do ensino. Para tanto, solicitaram que professores
no qual os dados foram coletados (30,4%). avaliassem os traços de personalidade dos docentes
As habilidades sociais foram avaliadas por três do departamento e empregaram medidas de
informantes distintos: alunos, docentes e pesquisadores observação do comportamento dos professores e
(Tabela 2). Em 11 estudos, as habilidades dos docentes avaliações institucionais dos alunos sobre o
foram avaliadas exclusivamente pelos alunos, desempenho desses professores.
predominando a aplicação de instrumentos com Quanto aos instrumentos utilizados, 47,9% dos
evidências de validade. Nos seis estudos em que o estudos empregaram instrumentos com evidências
docente era o informante, quer avaliando o seu próprio de validade (Tabela 2). Os instrumentos válidos
desempenho, quer avaliando o desempenho esperado identificados foram: (1) Revised McKeachie-Lin student
de um docente idealizado na interação com seus opinion questionnaire; (2) Oklahoma A. and M. Rating
alunos, empregaram-se três tipos principais de scale for instructor; (3) Microteaching rating scale,
procedimento: entrevista, aplicação de instrumento e empregados no contexto institucional para avaliar
intervenção. No caso do estudo que envolveu aspectos distintos do desempenho docente; (4)
intervenção - Sgariboldi, Puggina e Silva (2011) -, esta ‘questionário da avaliação do aluno’, adaptado a
ocorreu na forma de uma apresentação explicativa partir do Protocolo de Avaliação Fonoaudiológica
individual e breve, (PAF), com o objetivo de identificar o julgamento
[...] contendo a definição dos tipos de comunicação
dos alunos em relação aos recursos verbais de seus
(verbal e não-verbal), as funções da comunicação professores, tais como tipo de voz, ataque vocal,
não verbal, explicações sobre os sentimentos com loudness, pitch, articulação, velocidade de fala e
figuras para uma melhor compreensão e exemplos coordenação pneumofonoarticulatória (Romano,
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Alves, Secco, Ricz, & Robazzi, 2011); (5) positivos (39,1%). Entre as pesquisas que trataram
‘levantamento de comportamentos em sala’ de aula, das habilidades sociais de comunicação, quatro
para avaliar se o ensino estava centrado no professor situações distintas foram identificadas: (a) estudos
ou no aluno (Costin, 1971); (6) Teacher behaviors que focaram apenas os componentes não verbais e
inventory, um protocolo de observação padronizado, paralinguísticos (30,4%); (b) estudos que trataram
contendo uma lista de comportamentos observados apenas dos componentes verbais (17,4%); (c)
em professores em sala de aula; (7) ‘instrumento de estudos que avaliaram ambos os componentes
medida de eficácia comunicacional’ (Rego 2001a; (26,1%) e (d) estudos que se referiram à
2001b), para identificar padrões de comunicação comunicação sem especificar qual destes
relevantes para a eficácia de docentes do ensino componentes estavam examinando (8,7%). Quanto
superior e os efeitos destes padrões sobre os alunos; às habilidades sociais de trabalho, a frequência
(8) ‘escala de estilos de comunicação’, para avaliar o observada esteve intimamente relacionada à presença
estilo de comunicação do respondente em relação das subclasses ‘habilidades sociais educativas’ e ‘falar
aos traços de assertividade e responsividade; (9) em público’ entre os itens dos instrumentos
‘inventário de habilidades sociais’ (Del Prette & Del empregados ou os dados apresentados nos resultados
Prette, 2001), instrumento de autorrelato que avalia dos estudos. Já a classe de sentimentos positivos
o nível das habilidades sociais do respondente. apareceu sempre associada a itens, ou dados, que
Para identificar as habilidades sociais abordadas apontavam para a necessidade de o professor
pelo corpus desta pesquisa, os diferentes aspectos do estabelecer uma relação amistosa e/ou solidária com
desempenho docente examinados em cada artigo os alunos.
foram classificados de acordo com as classes de A habilidade de assertividade e enfrentamento,
habilidades sociais propostas por Del Prette e Del quando abordada, referia-se principalmente ao estilo
Prette (2010; 2008). Essa identificação foi realizada de comunicar-se do professor, sendo possível
com base nos itens dos instrumentos empregados ou observar aspectos distintos. No item 12 do
nos dados apresentados nos resultados (quando se ‘instrumento de medida de eficácia comunicacional’,
tratava de estudos que não tivessem utilizado utilizado por Rego (2001a; 2001b), o foco está em
instrumentos). A maioria das pesquisas (65,2%) avaliar se o professor é agressivo ao se comunicar
avaliou vários aspectos do desempenho docente e, com os alunos. Na ‘escala de estilos de
entre eles, as habilidades sociais. comunicação’, utilizada por Schlee (2005), refere-se
Olhando especificamente para tais habilidades, foi à forma como uma pessoa influencia os demais
possível identificar tanto estudos que abordavam várias através da exposição de suas opiniões com
classes de habilidades sociais, quanto pesquisas que expressividade e segurança. No estudo de Voss
investigaram uma única classe. Este foi o caso de três (2009), foi compreendida como a capacidade de
dos quatro estudos da área da fonoaudiologia, que afirmar-se, de defender suas opiniões diante de
trataram exclusivamente dos recursos não verbais e/ou outras pessoas. Apenas nos estudos de González-
vocais do desempenho docente. Tais recursos, nesse Hernando, Martín-Villamor e Martín-Duránte
campo específico, referem-se aos componentes não (2015) e de Soares, Naiff, Fonseca, Cardozo e
verbais e paralinguísticos que afetam a qualidade do Baldez (2009) foram pontuados outros aspectos da
desempenho social (Del Prette & Del Prette, 2010). A assertividade. No primeiro, um dos itens do
Tabela 3 apresenta a quantidade de estudos que instrumento adotado examina o comportamento de
abordou cada classe de habilidade social. admitir que não domina determinado assunto; no
segundo, a utilização do ‘inventário de habilidades
Tabela 3. Classes de habilidades sociais e frequências absoluta e
relativa encontradas na análise. sociais’ (Del Prette & Del Prette, 2001) permite que
as subclasses desta habilidade, em sua maioria, sejam
Classes de Habilidades Sociais Frequência %
Automonitoria 5 21,7 contempladas.
Assertividade e enfrentamento 6 26,1 As classes de habilidades sociais menos discutidas
Civilidade 2 8,7
Verbal + Não verbal e paralinguísticos 6 26,1
foram empatia (17,4%) e civilidade (8,7%). As
Verbal 4 17,4 pesquisas que se referiram à empatia destacaram a
Comunicação
Não verbal e paralinguísticos 7 30,4 importância de o professor ser capaz de identificar e
Não especifica 2 8,7
Empatia 4 17,4 compreender a situação, as emoções e os motivos
Expressão de sentimentos positivos 9 39,1 dos alunos. Já os estudos que abordaram a classe de
Trabalho 12 52,1 civilidade enfatizaram os comportamentos de se
apresentar e cumprimentar.
Três classes destacam-se pelo número de estudos É relevante destacar dois aspectos em relação à
em que foram abordadas: comunicação (82,6%), identificação das habilidades sociais abordadas:
trabalho (52,1%) e expressão de sentimentos abrangência e sobreposição das classes. A
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classificação proposta por Del Prette e Del Prette observou-se que a expressividade vocal e os recursos
(2010) organiza as habilidades sociais em quatro não verbais podem ser afetados de forma positiva
níveis de complexidade crescente, “[...] mas não pela titulação acadêmica, pela experiência, pelas
exclui algumas sobreposições inevitáveis devido à emoções e por uma abordagem mais interativa e
variabilidade e à complexidade das relações inovadora de ensino (Barbosa et al., 2009).
interpessoais” (Del Prette & Del Prette, 2010, p. 60). Observou-se, ainda, que quanto mais expressivo era
Assim, classes mais complexas, como, por exemplo, o professor, melhor era a avaliação que os alunos
expressão de sentimentos positivos, envolverão classes faziam de suas explicações e da maneira como
menos complexas, tipo comunicação e empatia. Além organizava as aulas e os conteúdos (Meier &
disso, uma determinada classe é composta por várias Feldhusen, 1979).
Empatia, alegria e solidariedade foram
subclasses. Por isso, na maioria das vezes, o fato de um
consideradas pelos alunos como aspectos críticos
estudo tratar de uma classe (ou várias) de habilidades
para o bom desempenho do professor (Voss, 2009).
sociais não significou que todas as subclasses fossem
Para o aluno, o bom ensino exige, entre outros
contempladas. Um caso ilustrativo desta situação foi o
aspectos, que o professor esteja consciente das
que aconteceu com a habilidade de
dificuldades do aluno e seja paciente com suas
automonitoramento. Todas as vezes que ela foi
limitações, mostrando-se capaz de compreender o
identificada, referia-se ao comportamento do professor
contexto no qual ele está inserido (Coffman, 1954).
de observar o comportamento do aluno e/ou de mudar
Constatou-se, também, que os estudantes são
as estratégias de ensino ou a forma de expor o conteúdo
capazes de avaliar adequadamente aspectos do
para atender à necessidade do aluno. No entanto,
desempenho social de seus professores (Schlee,
outros aspectos da automonitoria não foram abordados,
como introspecção e reflexão (Del Prette & Del Prette, 2005; Romano et al., 2011) e que tais avaliações
2010), possivelmente pela dificuldade de mensurar tais podem ser efetivas no processo de feedback da atuação
comportamentos. docente. Segundo Pambookian (1974), os
Uma vez que o corpus desta pesquisa envolveu professores que receberam avaliações
artigos que abordavam direta e indiretamente as moderadamente favoráveis melhoraram
classes de habilidades sociais de professores do significativamente seu desempenho em relação à
ensino superior, serão destacados alguns dos habilidade de ensino e interação com os alunos
principais resultados relativos ao efeito destas (quando comparados aos professores mais bem
habilidades na relação professor-aluno. Primeiro, avaliados) e tenderam a diminuir a sobrecarga de
ficou evidente que as habilidades sociais podem ser trabalho para os alunos (quando comparados aos
mensuradas, conforme demonstraram os estudos de docentes avaliados menos favoravelmente). Além
validação de instrumentos (Coffman, 1954; Isaacson, disso, estudos apontaram que programas de
McKeachie, Milholland, Lin, Hofeller, & Zinn, capacitação e/ou formação continuada podem ser
1964; Costin, 1971; Rego 2001a; 2001b). benéficos para melhorar aspectos do desempenho
A comunicação foi valorizada pelos docentes social do professor (Sgariboldi et al., 2011; Amorim
como um dos elementos essenciais para a interação & Silva, 2014).
com os alunos em sala (Sáenz-Lozada, Cárdenas-
Muñoz, & Rojas-Soto, 2010; Castro & Silva, 2011). Discussão
Professores e estudantes, no geral, possuem
Ainda que se encontrem alguns estudos antigos
concepções convergentes sobre comportamentos
de avaliação do desempenho de professores
que caracterizam eficácia comunicacional docente
universitários (Moore, 1935; 1937), a preocupação
(Rego, 2010b). Além disso, os componentes não
específica com suas habilidades sociais é
verbais da comunicação assumem um papel
relativamente recente. Até metade do século XX, a
importante neste processo de comunicação
(Kierstead, D'Agostino, & Dil, 1988; Ambady & visão predominante – e praticamente exclusiva – do
Rosenthal, 1993; Silva, 2011). professor universitário era a do pesquisador que se
Para chamar a atenção dos alunos, os professores destaca em sua área de atuação e assume a docência
utilizam recursos relacionados aos componentes não como especialista, ou seja, como detentor dos
verbais e paralinguísticos, recursos tecnológicos conhecimentos e de experiências profissionais de
(equipamentos audiovisuais) e relação teoria-prática; uma área, com o papel de transmitir o seu saber ao
porém, quando estes recursos não funcionam, eles aluno (Masetto, 2003; Cunha, 2006). Neste modelo
mudam a dinâmica da aula (o que envolveria de ‘educação bancária’ (Freire, 1977), o docente
automonitoria), conversam com os alunos e assume o papel de condutor exclusivo do processo
interrompem a fala para criar um clima de de ensino. É apenas como resultado das
expectativa (Servilha & Monteiro, 2007). Além disso, transformações ocorridas ao longo do século XX, no
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campo da educação, que esta postura passou a ser ensino e aprendizagem. Como sugere Masetto
questionada (Masetto, 2003) e estudos voltados à (2003), espera-se que o professor assuma a função de
inovação da prática docente e às competências mediador pedagógico entre o aprendiz e o objeto de
relacionais do professor se intensificaram, ganhando conhecimento; neste sentido, a avaliação das
maior atenção da comunidade acadêmica, habilidades sociais do docente por parte de seus
principalmente no final do século XX e início deste. alunos pode contribuir para se saber se de fato ele
Outro aspecto ressaltado pelos dados refere-se às tem exercido tal função e contribuído efetivamente
áreas do conhecimento que mais têm produzido para o desenvolvimento do conhecimento, das
estudos relativos às habilidades sociais do professor habilidades, das competências e dos valores dos
universitário. Como esperado, a área com maior alunos.
quantidade de estudos foi a da educação, sendo A análise dos instrumentos empregados, com
seguida pela da comunicação, da psicologia e da evidências de validade, permitiu observar que apenas
fonoaudiologia. Apenas um dos 23 artigos analisados um deles foi elaborado dentro da perspectiva do
pertencia ao campo teórico-prático das habilidades campo teórico-prático das habilidades sociais,
sociais e este analisava as habilidades sociais descrevendo as habilidades como comportamentos
cotidianas do professor em diversos níveis de ensino, apresentados dentro de contextos específicos. O
não se restringindo unicamente ao ensino superior instrumento utilizado (Del Prette & Del Prette,
(Soares et al., 2009). Não obstante as contribuições 2001), porém, avalia as habilidades sociais cotidianas
valiosas que esta perspectiva teórica pode fornecer nas relações interpessoais em geral, não sendo,
para a compreensão e desenvolvimento das portanto, específico para o contexto de atuação do
habilidades relacionais dos docentes universitários e professor universitário e para as nuances da relação
da existência de estudos no campo das habilidades entre professor e aluno. Considerando a natureza
sociais com professores de outros níveis de ensino situacional das habilidades sociais (Del Prette & Del
(por exemplo, Del Prette, Del Prette, Garcia, Prette, 2010, 2017), isto sugere carência de
Bolsoni-Silva, & Puntel, 1998; Rosin-Pinola & Del instrumentos que, sob esta perspectiva teórica,
Prette, 2014), há poucas pesquisas, sobre/em torno focalizem especificamente as tarefas de interação
desta perspectiva, relativas ao desempenho docente social inerentes à relação entre professor e aluno, em
particular no contexto universitário.
no ensino superior.
Por fim, as classes de habilidades sociais mais
Aliado a isto, o fato de a maioria dos artigos
abordadas foram as de comunicação, de trabalho
apresentarem estudos descritivos parece indicar que a
(especialmente as subclasses habilidades sociais
pesquisa sobre as habilidades relacionais dos docentes
educativas e de falar em público) e de expressão de
universitários ainda está em fase de identificação e
sentimentos positivos. Enquanto as duas primeiras
caracterização das que se consideram necessárias a um parecem estar mais relacionadas à postura tradicional
desempenho socialmente competente junto aos alunos. do professor, na qualidade de transmissor do
Esta hipótese parece fortalecida quando se verifica que, conhecimento, a última, está mais ligada ao papel
em 65,2% dos artigos analisados, as habilidades sociais mediador do professor entre aluno e objeto de
representavam apenas um dos aspectos avaliados do conhecimento, o que inclui tanto aspectos técnicos,
desempenho docente. como socioemocionais. De acordo com Carvalho
Em 26,1% dos estudos, os dados foram coletados (1995, p. 61), estudantes universitários apontaram
em cursos de ciências biológicas, o que pode, em “[...] o respeito mútuo, a amizade, a educação de um
parte, estar relacionado à atenção crescente, nas com o outro, o fato de o professor estar de bom
últimas décadas, com uma formação mais humor, o carisma do professor” como fatores que
humanizada dos profissionais da área de saúde facilitam a interação professor-aluno, ressaltando,
(Goulart & Chiari, 2010). É possível que a ênfase na portanto, a importância do suporte emocional
humanização acentue a necessidade de professores fornecido pelo professor na relação com seus alunos.
universitários capazes de criar condições para que Os estudantes enfatizaram a preferência pelo
seus alunos desenvolvam habilidades sociais para sua professor atencioso (que responde às dúvidas e
futura atuação profissional, o que envolve fornecer demonstra interesse pelo aluno), dá liberdade ao
bons modelos de interação social. Esta necessidade, aluno para se expressar e demonstra bom humor.
porém, é igualmente válida para cursos de outras Desta forma, os resultados da presente revisão de
áreas do conhecimento. literatura parecem confirmar um processo de
O desempenho do professor foi avaliado, em mudança gradual, ainda em seus estágios iniciais, dos
quase metade dos estudos (47,9%), apenas pelos requisitos importantes para o professor universitário,
alunos, o que parece estar em consonância com a em particular das habilidades sociais requeridas para
ênfase atual em sua participação ativa no processo de sua atuação no ensino superior.
Acta Scientiarum. Education, v. 40(3), e35253, 2018
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Creative Commons Attribution License, which permits unrestricted use, distribution,
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Almir Del Prette: Professor Titular Sênio da Universidade Federal de São Carlos, Doutor em Psicologia
pela Universidade de São Paulo, Pesquisador do CNPq, orientador em pós-graduação nos Programas de
Psicologia (PPGPSI) e Educação Especial (PPGEES) na UFSCar, sendo também coautor de diversos livros,
testes e artigos sobre habilidades sociais e relações interpessoais (Web-page: http://www.rihs.ufscar.br).
E-mail: adprette@ufscar.br
ORCID: http://orcid.org/0000-0003-2051-1214
Zilda A. P. Del Prette: Professora Titular Sênior da Universidade Federal de São Carlos, Doutora em
Psicologia (Universidade de São Paulo), Pesquisadora nível 1A do CNPq, orientadora no Programa de Pós-
Graduação em Psicologia (PPGPSI) na UFSCar, sendo também coautor de diversos livros e artigos em
habilidades sociais e relações interpessoais (Web-page: http://www.rihs.ufscar.br).
E-mail: zdprette@ufscar.br
ORCID: http://orcid.org/0000-0002-0130-2911
NOTA:
Certificamos que todos os autores participaram suficientemente do trabalho ‘Habilidades sociais de docentes
universitários: uma revisão sistemática da literatura’ para tornar pública sua responsabilidade pelo conteúdo. A
contribuição de cada autor pode ser atribuída como se segue: Joene Vieira-Santos contribuiu para concepção,
análise e interpretação dos dados, redação e revisão crítica do conteúdo do manuscrito e aprovação da versão
final a ser publicada; e Almir Del Prette e Zilda Aparecida Pereira Del Prette contribuíram para a interpretação
dos dados, redação e revisão crítica do conteúdo do manuscrito e aprovação da versão final a ser publicada.