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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO PROGRAMA DE PÓS-

GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA – ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: HISTÓRIA E


CONEXÕES ATLÂNTICAS

LUIZ CARLOS NOLETO CHAVES

Trabalho apresentado à
Disciplina de Técnicas e
Métodos em Economia para
obtenção de nota, referente a
avaliação do semestre de
2023.1

Prof. Dr: Luiz E. S. de Souza

SÃO LUIS-MA
2023
O CENTRO DE CULTURA NEGRA DO MARANHÃO NO CONTEXTO DA
HISTÓRIA ECONÔMICA
Luiz Carlos Noleto Chaves
[Economista, Licenciado em
História de Estudos Africanos e
Afro-Brasileiro e Mestrando em
História ela UFMA]

RESUMO: O debate sobre o papel das Ciências Econômica como disciplina das Ciências Sociais não é
novo. Principalmente quando se trata da História Econômica como no campo da historiografia. As correntes
das Ciências Econômicas como os Clássicos, Marxistas, Keneysianos e Neoclássicos se dividem sobre qual
deve ser a melhor metodologia a ser usada. Neste trabalho me utilizo do Materialismo Histórico para falar
da Lei de Terras no Maranhão e como ela vai se conectar com a origem do Centro de Cultura Negra do
Maranhão (CCN-MA). Também conceitua-se as categorias básicas que caracterizam o CCN-MA, como
Movimento Social, Quilombo, Racismo e Movimento Negro.

Palavras Chave: Economia, Quilombo, Movimento Social, Movimento Negro.

RESUMEN: El debate sobre el papel de las Ciencias Económicas como disciplina de las Ciencias Sociales
no es nuevo. Especialmente cuando se trata de Historia Económica como en el campo de la historiografía.
Las corrientes de las Ciencias Económicas como la Clásica, la Marxista, la Keneysiana y la Neoclásica se
dividen sobre cuál debe ser la mejor metodología a utilizar. En este trabajo utilizo el Materialismo Histórico
para hablar sobre la Ley de Tierras en Maranhão y cómo se conectará con el origen del Centro de Cultura
Negra do Maranhão (CCN-MA). También conceptualiza las categorías básicas que caracterizan al CCN-
MA, tales como Movimiento Social, Quilombo, Racismo y Movimiento Negro.

Palabras clave: Economía, Quilombo, Movimiento Social, Movimiento Negro.

Introdução
O papel da história econômica como ferramenta para o historiador sempre foi
polêmico. Ao longo da disciplina de Técnicas e Métodos em Economia isso ficou claro.
O professor Barbosa (2009) em seus textos deixou claro que esse debate é inócuo, pois
nem o historiador narra um momento histórico sem uso de elementos da ciências
econômicas e aquele que deseja narrar um momento econômico o fará fazendo menção
sobre o tempo e espaço históricos. Quando os economistas deixaram de lado a polemica
sobre a dicotomia entre ser historiador e historiador econômico, passam a debater, sobre
qual a melhor metodologia a empregar na construção de um bom trabalho que envolva a
história econômica. Em ciências econômicas as principais correntes que buscam esse
protagonismos são a Escola Clássica, Marxista, Keneysianos e Neoclássicos. Para a
escrita deste trabalho e da dissertação em curso vamos nos valer do Materialismo
Histórico como abordagem que possa dar conta de explicar a origem do Centro de Cultura
Negra do Maranhão (CCN-MA).
Este centro de Cultura nasce dentro de um momento histórico da luta de classes
acirradas no Brasil, o final da década de 1970, que era Ditadura Militar. Ao mesmo tempo
no Maranhão se convivia com uma Lei de Terras, criada em 1966, que dificultava ainda
mais a vida do trabalhador rural e, em particular, o trabalhador rural quilombola. A
criação do CCN-MA tem como objetivo o combate ao racismo, mas também a
organização dos povos quilombolas na busca pela legalização de suas terras.

Este pequeno artigo pretende apresentar como a história econômica será


importante para discorrer sobre a origem do CCN-MA. Dessa forma faremos num
primeiro momento um pequena síntese sobre o papel e a importância das ciências
econômicas na construção da História. Em seguida vamos apresentar as principais
categorias que caracterizam o CCN-MA e fazer uma breve definição dos mesmos.

Depois desse momento faremos a apresentação da Lei de Terras no Maranhão


criada ainda no Governo de José Sarney em 1966. A partir dela vamos verificar a
importância da criação do CCN-MA na luta pela terra do povo negro. Os dados
econômicos existentes demonstram como a concentração de terras não alterou
substancialmente num intervalo entre 1970 e 1990. Isso vai comprovar que a Lei de Terras
favoreceu mais o latifúndio do que o homem do campo. No entanto, isso seria mais
desastroso se não fosse a aprovação de um dispositivo legal na Constituição Federal de
1988 que teve uma contribuição importante da organização em tela.

Na última parte do artigo descrevermos o porquê da criação do CCN-MA, assim


como sua importância para o MNB. Vamos verificar que esta organização nasce como
fruto da reorganização do Movimento Negro Brasileiro na década de 1970 e que suas
lideranças tinham um entendimento bastante avançado sobre a importância dos
quilombolas e que papel eles cumpriam e cumprem na construção da história do Brasil.

O papel das Ciências Econômicas na história

O debate sobre o papel da história econômica na historiografia brasileira foi


sempre carregado de polêmicas. Isso dividiu os economistas, segundo Barbosa (2009),
em três vertentes no período compreendido entre 1820-1914, incluindo aí duas fases
(infantil e adulta):

(a) uma delas, historista, que fará a defesa e o discurso do Estado Nacional
e do povo-nação; (b) uma história liberal, a realçar o indivíduo, o burguês,
o empresário; as instituições econômicas, como portos, ferrovias e grandes
empresas; particularmente os bancos; e (c) uma outra corrente chamada
marxista, que faria ou buscaria fazer uma história das lutas das classes
sociais e dos movimentos sociais, pondo a ênfase não no indivíduo notável,
mas na ação dos grandes coletivos. (BARBOSA, 2009, p. 126).

Barbosa (2009, p. 127-129) segue afirmando que os historiadores econômicos do


século XIX ficavam na maioria das vezes limitados a escrever e descrever sobre o
comércio, a agricultura e o trabalho escravo. Ele destaca que neste período foram
produzidos bons relatórios que podem considerar como “peças de história econômica
atual”, pois “estavam tratando de problema vivo no dia a dia”. Ele segue esclarecendo
como as transformações econômicas e sociais que ocorrerão nas duas margens do
Atlântico vão colocar como elemento central de análise a sociedade norte-americana.
Somado a isso, surge a segunda fase da “revolução industrial” (1880-1930) e isso
provocou mudanças nos “métodos artesanais de produção da análise objetiva, que
precisavam ser melhorados” e isso vai obrigar um maior desenvolvimento da estatística
e da probabilidade, muito usados no futuro pelas ciências sociais. Tudo isso, aliado a
outros fatores enumerados por Barbosa, irá beneficiar e mudar a história econômica.

Na construção da dissertação do mestrado em curso, farei uso de uma das várias


correntes da história econômica que existem, a corrente marxista. Isso será necessário,
pois, como salienta Barbosa (2009, p. 127), o marxismo nos permite “fazer uma história
das lutas das classes sociais e dos movimentos sociais, pondo a ênfase não no indivíduo
notável, mas na ação dos grandes coletivos”. Isso se faz necessário, pois como veremos
à frente, o CCN-MA que é objeto de estudo do projeto em curso, nasce em um contexto
da luta de classes que se dá no Brasil já nos momentos finais da Ditadura Militar pós
1964. Esta organização não nasce como um projeto individual, nasce de um grupo
coletivo que tinha ligação com outros grupos coletivos espalhados pelo país. Um das
grandes tarefas destes coletivos estava inserido no debate do regaste das terras do estado
para as mãos dos sem terras, incluindo as terras quilombolas. No caso específico do CCN-
MA, estamos falando de um dos estados brasileiros que têm uma grande população de
negros remanescentes de quilombos e muita terra nas mãos de latifúndios. Para entender
o porquê desta grande concentração de terras nas mãos do latifúndio no momento da
fundação do Centro de Cultura em tela, vamos ter que explicar o que foi a Lei das Terras
no Maranhão, mas antes é necessário entender alguns conceitos caros que fazem parte da
fundação desta organização.

Conceitos breves de algumas categorias do Movimento Negro


O Centro de Cultura Negra do Maranhão é reconhecido como um Movimento
Social no recorte de Movimento Negro que defende luta dos Povos quilombolas, que faz
uma luta incansável contra o racismo, além de outras características. Sendo assim, Penso
ser importante um diálogo breve sobre as quatro categorias em destaque antes de
aprofundar outras temas.

A forma mais básica da palavra Q(K)uilombo remonta ao Continente Africano e


tem um sentido de acampamento ou local de proteção para ataques de guerra. No entanto,
aqui no Brasil e ao longo da história, essa palavra muda de sentido mesmo estando
umbilicalmente ligada ao continente africano.

Um dos líderes do Movimento Negro Brasileiro (MNB), conhecido como Zumbi


dos Palmares, foi responsável junto com outros lutadores, incluindo mulheres como
Dandara (uma guerreira considerada excelente estrategista de guerra), por travarem uma
luta sangrenta contra o Governo Colonial português no século XVII e por terem criado o
Quilombo dos Palmares. Depois de vencer a luta contra Zumbi e destruir o Quilombo dos
Palmares, o governo colonial resolveu criminalizar qualquer movimento que
possibilitasse insuflar a libertação dos escravizados.

Segundo Pessoa (2021, p. 4) o Conselho Ultramarino (CU), no ano de 1740, foi


um dos primeiros a criar um conceito legal e mais amplo do que o original trazido do
continente africano sobre o Quilombo. Para aquele Conselho, era considerado quilombo
“toda habitação de negros fugidos, que passem de cinco, em parte despovoada, ainda que
não tenham ranchos e nem se achem pilões nele”. A autora segue afirmando que outras
legislações e dicionários tratariam “o quilombo de outros modos”. No entanto, o conceito
da palavra em tela sempre teve um caráter pejorativo e que essa forma de expressar “tem
relação direta com a posição que os negros ocupam ainda hoje na sociedade, reflexo dos
séculos de escravidão e integração desigual na sociedade de classes e os efeitos disso
provocaram um sufocamento da voz dos quilombolas por muito tempo e essa mudança
só irá ocorrer a “partir da instauração da República, e sobretudo em fins do século XX”
quando os negros “passam a buscar de forma mais efetiva, sistemática e autônoma a
igualdade e, nesse caso, a capacidade de, pela primeira vez na história, produzirem um
discurso de si mesmos, sem a lente do outro: um discurso do negro e não sobre o negro”.
Dessa forma, o conceito vai se transmutar e passar por um “longo caminho de
ressemantizações, as quais trazem novos elementos, como a resistência cultural, a tomada
de consciência política e a afirmação da identidade negra”, onde o termo vai se positivar
e, no ano de 1988, passará a ser denominado como “remanescentes de quilombo”. No
entanto, esse termo vai continuar sendo questionado por outros intelectuais do MNB.
Pessoa então nos diz:

Com vistas a estabelecer um ponto de partida na definição do termo, entende-se,


por quilombo, digamos, histórico, o fenômeno existente quando do período da
escravidão, que se caracteriza por um agrupamento humano situado em um
espaço geográfico significativo onde se desenvolveram formas de resistência.
Sua construção inicia-se nos séculos XV e XVI, por meio da união de negros
fugidos da situação de trabalho escravo (GOMES, 2015). Definido de diversas
formas, como “acampamento guerreiro na floresta” (bantu) (LEITE, 2008); área
de pouso, ou comunidades negras autônomas (CARVALHO, 1996), são
chamados de maroons nos EUA, pelenques na Colômbia, cumbes na Venezuela,
e no Brasil consagrou-se o termo quilombo ou mocambo. (PESSOA, 2021, p.
3)
Encontramos literaturas expressando a voz de Clóvis Moura ao questionar colocar
os quilombos em espaços específicos da geografia do território brasileiro. Segundo
Moura, quilombo era “unidade básica de resistência do escravo” e, sem importar o
tamanho, se “estável ou de vida precária, em qualquer região em que existia a escravidão,
lá ele se encontrava ele como elemento de desgaste do regime servil” e que “tal fenômeno
não era atomizado, circunscrito a determinada área geográfica” e apenas “em
determinados locais, por circunstâncias mesológicas favoráveis, ele podia afirmar-se.
Não. O quilombo aparecia onde quer que a escravidão surgisse”. (MOURA, 1981, p. 87).

Não será centro deste trabalho aprofundar o debate em torno do conceito em tela,
o que importa aqui é chegar a um conceito que expresse o mais próximo o termo
quilombola da realidade do século XXI. Neste sentido, é possível concordar com a letra
de Silva (2002) quando diz que “a análise histórica do significado político de quilombo
da experiência coletiva de organização dos quilombos como sistema alternativo ao regime
escravocrata, constitui-se como um símbolo principal na trajetória do Movimento Negro”.
Será nessa perspectiva que o CCN-MA usará o conceito de quilombo, pois na mesma
sintonia do MNB esta organização vai entender que o quilombo foi e continua sendo uma
“resistência ao processo de escravização do povo negro-africano, [...] e uma “reação ao
neocolonialismo cultural, através da reafirmação da herança africana e da busca de um
modelo brasileiro capaz de reforçar a identidade étnica e cultural. (CARDOSO, 2002,
p.62 apud, SILVA, 2008, p. 215).

O CCN-MA pode ser considerado um Movimento Social, no sentido abstrato do


conceito definido por Silva, quando diz:
Por movimento social, assume-se a ideia de fenômeno dinâmico,
processual, que reúne indivíduos de forma contínua e organizada em
prol de perspectivas de mudanças sociais. Nesse sentido, adota-se no
‚âmbito deste estudo, o enfoque trazido por Melucci (1994), no qual a
ideia de ação coletiva perpassa a noção de solidariedade entre os
indivíduos, conflito e transgressor do ordenamento social como
pluralidade de dimensões analíticas que orientam a análise dos
movimentos sociais. (SILVA, 2008, 207).

Quando Mudinha Araújo e outras pessoas se reuniram em 1979 na cidade de São


Luís e fundaram o CCN-MA, estavam se organizando de forma coletiva com o objetivo
de provocar mudanças sociais que favorecessem um seguimento social específico: o povo
preto do Maranhão. É por isso que o CCN-MA, num plano mais concreto, é um
Movimento Social pertencente à categoria de Movimento Negro. Segundo Silva:

a questão da identidade racial se coloca como um desafio ético, estético e político


para o Movimento Negro (...) isso nos permite afirmar que a peculiaridade que
distingue o movimento negro em relação a outros movimentos sociais, está na
compreensão do movimento negro como uma ponte de equilíbrio entre a tradição
- nossa herança cultural fundada na ancestralidade e a modernidade. Por essa
razão, a matriz discursiva do Movimento Negro está fundada na herança
histórico-cultural-negro-africana (ancestralidade) e daí a sua diferença em
relação a outros atores sócias da nossa realidade política, o que marca a
singularidade do Movimento. (CARDOSO, 2002, p.19 apud SILVA, 2008, p.
212).

Não restam dúvidas de que o CCN-MA é parte do MNB e, neste sentido,


tem como uma de suas atribuições o combate ao racismo. O racismo é uma ideologia da
classe dominante que contribuiu para a expansão do capitalismo ao se conectar com o
Continente Americano em geral. Um dos conceitos que expressa melhor o que seja o
racismo moderno é o propagado por Kendi (2020). Segundo ele o racismo “é a união de
políticas racistas e ideias racistas que produzem e normalizam desigualdades raciais”. Ele
explica o que significa cada uma das três categorias que conformam o conceito: políticas
racistas, ideias racistas e desigualdades raciais.

A desigualdade racial ocorre quando dois ou mais grupos étnicos não se


encontram em condições de igualdade. Um exemplo de desigualdade racial: 71% das
famílias brancas americanas moravam em casas próprias em 2014, comparadas a 45% de
famílias de latinos e 41% de famílias negras. Igualdade racial é quando dois ou mais
grupos sociais estão em pé de relativa igualdade. Um exemplo de igualdade racial seria
se houvesse porcentagens relativamente comparáveis de todos os grupos étnicos vivendo
em casas próprias nos anos 1940, 1970 ou, ao menos, 1990. (KENDI, 2020, p. 27).

Definido o que é desigualdade racial, ele chega com facilidade ao conceito do que
seja política racista. Ela “é qualquer medida que produza ou sustente desigualdade racial
entre grupos raciais”. Por contraponto, “política antirracista é qualquer medida que
produza ou sustente igualdade racial entre grupos étnicos”. Ele segue nos informando que
“não existem políticas não racistas ou neutras em relação à raça” e toda nação, através
das suas instituições “produz ou sustenta desigualdade ou igualdade racial entre grupos
raciais”. (KENDI, 2020, p. 27).

Outro ponto importante a destacar na sua jornada inicial de definições é que os


termos “racismo institucional, racismo estrutural e racismo sistemático” são mais vagos
do que “política racista”. Também nos alerta para o uso do termo “discriminação racial”.
Para ele, todos têm o poder de discriminar, mas apenas “alguns poucos privilegiados têm
o poder de criar políticas raciais”. Assim, ao exacerbar o termo “discriminação racial”
nos afastamos daqueles que têm o poder de legislar sobre políticas raciais. Dessa forma,
o uso do termo “política racista” define melhor o conteúdo do racismo. (KENDI, 2020 p.
27-28).

Uma ideia racista é qualquer ideia que aponte um grupo étnico como inferior ou
superior a outro, em qualquer aspecto. Ideias racistas defendem que inferioridades e
superioridades em grupos étnicos explicam as desigualdades raciais na sociedade. [..] uma
ideia antirracista é qualquer ideia que indique que os grupos étnicos são iguais em todas
as suas aparentes diferenças – que não há nada certo ou errado com qualquer grupo étnico.
Ideias antirracistas defendem que políticas racistas são a causa de desigualdades raciais.
(KENDI, 2020, p. 29). Definida a maioria das categorias que são marcas do CCN-MA,
vamos tentar esclarecer o conceito de Povo Quilombola.

A categoria povo quilombola, de maneira geral, faz referência a indivíduos da


diáspora africana. Como verificamos antes, os quilombos diziam respeito a povos pretos
escravizados que no passado lutavam pela sua libertação e, em tempos atuais, os
quilombos são espaço de resistência para permanência em terras ocupadas antes e depois
da libertação formal dos escravizados em 1888. Dito isso, vamos fazer um breve histórico
sobre a distribuição de terras no Maranhão na década de 1970, que será na quadra
histórica de fundação do Centro de Cultura Negra do Maranhão.

Um Breve Histórico da Lei de Terras no Maranhão

Uma das grandes tarefas organizadas pelo CCN-MA consistia no mapeamento das
Comunidades Negras Rurais do Maranhão. Tal projeto é conhecido como Projeto Vida
de Negro. Este mapeamento foi importante, pois como veremos mais adiante, ele permitiu
que se chegasse a uma legislação nacional sobre a regularização de terras remanescentes
de quilombos na Constituição Federal do Brasil de 1988 (CF 88). Tal projeto encontrou
provas sobre a distribuição desigual de terras no Maranhão, principalmente com a
inauguração do dispositivo legal conhecido como Lei de Terras do Maranhão.

A Lei de Terras do Maranhão foi criada pelo Governo Sarney no ano de 1966. Em
1965, Sarney ganha as eleições derrotando uma oligarquia histórica chefiada por Vitorino
Freire e promete combater a corrupção e, segundo Neto (2021), o seu discurso de posse
era carregado de “um forte apelo emocional” e fazia “referência às terras férteis do estado,
à fome e à corrupção em suas repartições públicas” e também acenava “fazer uma ruptura
temporal entre o antigo Maranhão da oligarquia vitorinista e o Maranhão Novo que era
seu slogan de campanha. O que se vai verificar depois é que não houve um combate à
corrupção e também que as terras férteis do Maranhão iriam ficar concentradas ainda mais
nas mãos do latifúndio. Diz Neto:

A grande ação do governo Sarney para modernizar o setor agrário maranhense


foi a aprovação da Lei nº 2.979, de 17 de junho de 1969, a Lei Sarney de Terras.
A partir daí, os conflitos fundiários cresceram sem precedentes no estado. Os
camponeses passaram a resistir à grilagem, à invasão de suas casas e roças, ao
fechamento de sindicatos, aos assassinatos de lideranças populares, dentre
outros. A década de 1970 é marcada pela consolidação do latifúndio maranhense.
Consoante a Lei de Terras, “não serão alienadas nem concedidas terras a quem
for proprietário no Estado, cuja área ou áreas de sua posse ou domínio não sejam
devidamente utilizadas com explorações de natureza agropecuária, extrativa ou
industrial” (MARANHÃO, 1969, p. 01). Ou seja, “[...] A mentalidade dessa lei
era dizer que só os capitalistas poderiam desenvolver o Estado, pois o lavrador
maranhense é atrasado e rudimentar. É a mentalidade de que a empresa deve
ocupar a terra, e o lavrador deve ser o peão [...]” (ASSELIN, 1982, apud NETO,
2021, p. 152).

O CCN-MA vai ser criado no final da década de 1970 e pela via do projeto Vida
de Negro vai reconhecer o que está descrito na citação acima: as terras do Maranhão
estavam concentradas nas mãos dos grandes capitalistas e os grandes prejudicados por
essa distribuição desigual eram os Povos Quilombolas.

Para Neto (2021) “a luta pela terra maranhense tem conexão com as teses de
“Marx a respeito da acumulação primitiva de capitais na Inglaterra; pois o progresso do
“século XVIII consiste em ter tornado a própria lei veículo do roubo das terras
pertencentes ao povo”. Isso implica dizer que o roubo de terras assume uma forma legal
e presenteiam os senhores do capital “com os bens que pertencem ao povo, tornando-os
sua propriedade particular”. Isso que ocorreu nas terras inglesas no processo de
consolidação do capitalismo vai ser verificado na maranhão da era José Sarney em razão
da Lei das Terras.

Na disciplina Técnicas e Métodos em Economia aprendemos como os dados


quantitativos são importantes para o historiador. Os dados do IBGE, apresentados por
Neto (2021) nos diz que

“No início da década de 1970, o grupo de propriedades de dez hectares, ou


menos, compunha aproximadamente 88% das propriedades rurais, perfazendo
cerca de 6% da área total do estado; já na década de 1990, como resultado dos
desdobramentos fundiários das décadas anteriores, a proporção do número de
propriedades desse grupo caiu para 77%, um percentual de 3% da área total do
estado (IBGE, 1990 apud NETO, 2021, p. 162)

Esses dados expressam muito bem num espaço temporal o movimento de


distribuição de terras no maranhão. Passados vinte anos da implantação da Lei de Terras
verifica-se que a distribuição de terras continuou desigual no Maranhão, mas ao mesmo
mostra que está desigualdade sofreu uma pequena queda e que, em parte, isso é resultado
a um pequeno aumento nas titulações de terras quilombolas que ocorreu após a publicação
da Constituição Federal de 1988. Este artigo sobre a legalização das Terras Quilombolas
teve a participação direta do CCN-MA. Nas palavras de Miranda de Sousa:

A constituição do Centro de Cultura Negra do Maranhão- CCN-MA estabelece


uma rede com outros movimentos, em várias partes do país, como: o Centro de
Estudos e Defesa do Negro do Pará (CEDENPA), O Movimento Negro do Rio
de Janeiro e a Associação Cultural Afro-Brasileira, também do Rio de Janeiro e
que, juntos, encaminharam à, então, deputada federal constituinte Benedita da
Silva, a proposta de garantia das terras das comunidades negras rurais, sendo
apresentada e aprovada no Congresso Nacional Constituinte, dando origem ao
artigo 68 do ADCT da Constituição Federal. Essas iniciativas significaram um
grande passo na luta para que se reconhecessem legalmente os territórios negros.
Trata-se de um grande avanço em termos de prerrogativas legais, criando, com
isso, a possibilidade para a titulação dos atuais territórios que, secularmente,
ocupam e usufruem de forma coletiva, com base em relações familiares, as terras
de preto. (MIRANDA DE SOUSA, 2011, p. 7).

Verificamos até aqui que a distribuição desigual de terras do Maranhão é uma das
necessidades de surgimento do CCN-MA. Essa distribuição é comprovada quando se
analisam dados empíricos existentes em fontes oficiais. Uma das grandes tarefas dos
historiadores é saber dialogar com esses dados.

O Professor Luiz Eduardo Simões de Souza em um dos seus artigos nos informa
que “uma das prerrogativas que caracterizam a História Econômica é a manipulação de
dados quantitativos” e que “as principais ferramentas quantitativas do historiador
econômico são a Estatística e a Econometria”. Através da Estatística, o historiador pode
construir séries temporais das mais variadas características da população de seu objeto de
estudo” e pela “econometria permite a construção de relações funcionais entre os dados
registrados pela Estatística, possibilitando a elaboração de explicações mais dinâmicas,
por meio da identificação de relações causais e de comportamentos cíclicos”. (SOUZA,
2006, p. 1).
Para a construção final do trabalho dissertativo, será necessário usar uma fonte
maior de dados quantitativos que possam esclarecer melhor a distribuição desigual de
terras no Maranhão na quadra histórica da fundação do CCN-MA. A partir de agora,
faremos uma apresentação reduzida sobre a fundação desta organização citada.

A origem do CCN-MA e a luta pela terra no Maranhão

Em vários momentos descritos anteriormente fica clara a ligação do CCN-MA


com a diáspora africana, com o combate ao racismo e com a luta dos povos quilombolas.

Hoje já existe uma vasta publicação bibliográfica sobre a origem deste centro de
cultura maranhense. Na construção final da dissertação do projeto em curso, vamos
utilizar bastante essas produções como fontes e incorporar outras complementares, bem
como documentos oficiais do próprio centro e documentos oficiais de agências do
governo federal que trazem relatos sobre o centro cultural em tela.

No artigo publicado por Igor Thiago Silva de Sousa, intitulado “Um esboço sobre
a emergência do Movimento Negro no Maranhão: rupturas e continuidades nas lutas
étnico-raciais” do ano de 2019, ele relata que:

No processo de lutas do Movimento Negro e expansão de suas agências em


diferentes estados, surge em 19 de setembro de 1979 o CCN. Essa entidade,
como especificidade em sua fundação, nasce com auxílio de uma entidade de
defesa de direitos humanos, a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos
(SMDH), esta fundada em 12 de fevereiro do mesmo ano. Nesse sentido,
enquanto a SMDH nasce no bojo das lutas políticas pela redemocratização
brasileira e anistia política no país, o CCN surge tendo em vista a defesa das
populações negras e a discussão sobre a questão racial. Essas entidades, pelo
próprio momento histórico e engajamento de setores católicos, têm o auxílio de
parcelas eclesiais, sendo ajudadas com infraestrutura para reuniões e encontros
que ocorreriam em instalações de igrejas. Assim, ao se fundar o CCN, tinha-se
como foco a discussão sobre o mito da democracia racial, bem como os
apontamentos sobre a história dos negros em território brasileiro e as discussões
sobre o racismo em nível local. Como aponta Luiz Alves, primeiro coordenador
da entidade: (SILVA DE SOUSA, 2019, p.7)

O que se encontra relatado no artigo de Sousa (2019) tem ressonância em um


documento oficial do Serviço Nacional de Informação (SNI) sobre o CCN-MA do ano de
1988. Nele, o agente federal diz que “o Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN/MA)
foi criado depois de várias reuniões, debates e seminários entre pessoas de reconhecida
militância em defesa da negritude, juntamente com segmentos progressistas da sociedade,
fundado em 19 setembro de 1979”.

Os Centros Culturais de Negros que foram criados ao longo da história do


Movimento Negro definem e deixam claros seus objetivos. No caso do CCN-MA, o
objetivo era o de narrar uma história diferenciada sobre a origem e formação do povo
negro brasileiro diferente da história oficial, além do combate firme contra o racismo.
Serra, em sua dissertação de Mestrado sobre o tema do CCN-MA, comenta sobre a
existência de Cursos de Formação dos simpatizantes e adeptos desta entidade:

A dimensão da “história” para os “porta-vozes” do movimento negro no estado


sempre foi um dos motes de ação. Buscou-se investir em reuniões de formação
dos simpatizantes, adeptos e militantes, atentando para a necessidade de
reescrever e recontar as narrativas formuladas pela “história oficial”. Em todo o
território nacional, estratégias voltadas para a reavaliação do papel do negro na
história do Brasil foram adotadas (PEREIRA, 2010) por inúmeras organizações
negras. (SERRA, 2021, p.44).

Em um documento, no passado secreto, do Serviço Nacional de Informação do


Estado Brasileiro, é possível observar um relato do agente de Estado sobre os objetivos
do CCN-MA existentes no seu Estatuto, que corrobora o dito por Serra:

Os objetivos do CCN visam incentivar a organização político-cultural do negro


no Estado do Maranhão, através de um amplo trabalho de conscientização da
sociedade, atendendo basicamente nos seguintes pontos: ter consciência de si
mesmo conhecer a própria história de seu povo, que é a História do Brasil (não
oficial); ter que assumir suas características raciais, sem esconder-se através de
falsos rótulos, como moreno cor-de- jambo, marrom, preto de alma branca; Deve
valorizar-se como pessoa, como gente, não pensar que só é bom para jogar
futebol, sambar e beber cachaça; não baixar a Cabeça e nem falar baixinho
quando discriminado; Ter certeza absoluta que é capaz de 1iderar, comandar e
dirigir. (BRASIL, 1988, p. 2)

Os objetivos do CCN-MA, pelo relato do araponga estatal, não deixam dúvida


sobre o papel a que se propôs esta organização. Em um discurso do presidente do CCN-
MA, Magno Cruz (em 1988), relatado no citado documento do SNI do mesmo ano,
verificamos com mais clareza que a denúncia à opressão racial e à política de dominação
cultural colonialista fazia parte dos objetivos do CCN-MA. No discurso de Magno Cruz
ele diz:
O racismo historicamente o racismo nasce a partir do momento em que um
seguimento da sociedade na tentativa de obter ou manter-se no poder, procura
dominar outro seguimento elaborando a ideologia para justificar os falsos
conceito de superioridade... o racismo é uma ideologia de dominação criado e
mantido pelos que deseja eternizar-se no poder na sobrevivência do sistema de
classe: explorado e explorada... o negro e a mulher, ao pongo da história, são
considerados seres inferiores A classe dominante tendo nas mãos o poder
político e econômico criou artifício de sutilezas para manutenção desse status
quo corrompeu a ciência que provava biologicamente a inferioridade do negro e
estabelecida uma escala de Quociente de Inteligência (QI) entre as várias raças.
(BRASIL, 1988. p. 2)

Verifica-se, pelos discursos do Movimento da Negritude e do discurso do CCN-


MA, pela voz do seu presidente à época (Magno Cruz - 1988), que, em tempo e espaços
diferentes, eles fazem uma crítica contundente do colonialismo e àqueles a quem ele
estava a serviço, o modo burguês e cristão de produção.
É importante destacar que o papel de Centro de Cultura exercido pelo CCN-MA
não ficou restrito apenas à formação e desconstrução da história oficial sobre o povo
negro brasileiro. O maranhão é um dos estados brasileiros que contém um maior número
de povos pretos e muita terra nas mãos dos povos quilombolas sem legalização oficial.

Segundo Souza, a primeira Lei de Terras, escrita e lavrada no Brasil, datada de


1850, exclui os africanos e seus descendentes da categoria de brasileiros, situando-os
numa outra categoria separada, denominada ‘libertos’. Isso vai desencadear “todos os
tipos de racismos, arbitrariedades e violência que a cor da pele anuncia […]”. Isso levou
à expulsão e remoção sistemática dos povos pretos “dos lugares que escolheram para
viver, mesmo quando a terra chegou a ser comprada ou foi herdada de antigos senhores
através de testamento lavrado em cartório”. A busca por esses espaços retirados “passou
a significar um ato de luta, de guerra”. (LEITE, 2000, p. 335 apud SOUSA, 2019, p. 4).
Antenado a isso, o CCN-MA vai desenvolver um estudo sobre a quantidade de quilombos
no estado citado. Nas palavras de Sousa:

A chamada regularização das chamadas ‘terras de preto’ vinha sendo discutida


havia bastante tempo, principalmente pelas organizações negras nordestinas...
Em agosto de 1986, por exemplo, o CCN do Maranhão promoveu o I encontro
das Comunidades Negras Rurais do Maranhão com o tema ‘O negro e a
constituição brasileira’ com a discussão sobre a necessidade da regularização das
chamadas ‘terra de preto’ que vinham sendo foco de estudo de um das principais
referências do movimento negro no Maranhão, Mundinha Araújo, desde o final
da década de 1970 Os trabalhos do CCN junto a comunidades quilombolas
remete-se à década de 70 com o primeiro projeto elaborado com a finalidade de
construir entendimentos sobre esse segmento social por parte de militantes
negros, dando-se destaque, nesse momento, ao papel de Mundinha Araújo como
elaboradora de esboço inicial. Esse projeto forneceu os primeiros levantamentos
de material bibliográfico e a iniciativa para realização de trabalhos de campo no
interior do Maranhão, os quais, posteriormente, deram subsídio para a
elaboração e efetivação do Projeto Vida de Negro (PVN), já em meados dos anos
80, como aponta Ivo Fonseca, membro da entidade e coordenador em meados
dos anos 2000. (PEREIRA, 2010, p. 223 apud SOUSA, 2019, p.7).

Como produto deste trabalho, o CCN-MA, segundo Sousa (2019), terá um


protagonismo na constituinte de 1988, a ponto de ter tido aprovada uma proposta de
garantia das terras às comunidades quilombolas existentes no artigo 68 do ADCT, da
Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988. Isso foi possível graça “à realização de
parcerias interestaduais entre o CCN e outras entidades do Movimento Negro Brasileiro”,
tipo “o CEDENPA, Movimento Negro do Rio de Janeiro e Associação Cultural Afro-
brasileira, que possibilitaram a troca de experiências e projetos em comum e a garantia
do artigo constitucional”.

Durante muito tempo, esta importante entidade maranhense de grande importância


para MNB não tinha uma sede para realizar seus trabalhos. No já citado documento do
SNI encontramos esse relato:

Inicialmente o CCN se reunia semanalmente em uma sala cedida pela Igreja de


Nossa Senhora dos Remédios, até quando em 1985, o Prefeito eleito de SÃO
LUÍS, MAURO DE ALENCAR FECURY (B.1225194) mandou reconstruir um
prédio, localizado à Rua dos Tupiniquins S/N, bairro dos Borés - SÃO LUIS,
doando-a entidade para uso como sede própria. Atualmente funciona no referido
imóvel uma Escola do 1º grau (diurno), atendendo crianças da periferia da cidade
ia da cidade, e outros cursos (artes, capoeira, dança e teatro) e a noite, em
convênio com a LEGIÃO BRASILEIRA DE ASSISTÊNCIA (LBA) e a
FUNDAÇÃO NACIONAL DO BEM-ESTAR DO MENOR (FUNABEM).
(BRASIL, 1988. p. 1).

A sede descrita pelo relatório do SNI ainda permanece sendo utilizada pelo CCN-
MA em tempos atuais. Ela não foi reivindicada ao caso. Ela é uma comprovação de que
o grupo formador do CCN-MA era constituído de estudiosos de fatos da história do negro,
pois esta sede no passado teria sido um mercado de escravos e “o prédio havia sido
reconhecido como patrimônio histórico, artístico e paisagístico do Estado desde 1978,
mas sua concessão legal só foi realizada através da Lei Municipal 3.373, de 29 de
dezembro de 1994”. (SERRA, 2021, p. 83).

Para além da comprovação de estudiosos do grupo formador desta respeitada


entidade, pode-se afirmar que seus membros fundacionais sabiam bem da existência dos
debates existentes no Brasil sobre a questão racial.

Considerações Finais

A compreensão sobre Ciências Econômicas é muito importante para um


historiador. A partir do que estudamos na disciplina Técnicas e Métodos em Economia e
em leituras individuais e coletivas realizadas ao longo da disciplina, ficou claro que a
dicotomia entre historiador e economista não deve ser estimulada. Um historiador que
tenha um bom domínio sobre as várias correntes existentes em Ciências Econômicas fará
uma boa exposição do seu objeto de trabalho. Não importa se você fez escolha de uma
corrente da qual você discorda por questão ideológica.

Barbosa (2009, 157) afirma que “a História Econômica é uma disciplina de


síntese. Isso quer dizer que ela é um espaço onde se encontram diferentes ramos das
ciências sociais. Em primeiro lugar, ela disciplina de aplicação”. Ao absorver e se
aperfeiçoar por meio de diferentes disciplinas, adquire “um sentido novo, como resultado
deste encontro”. A história econômica, nestes termos, é o encontro de um “método
histórico e com um método econômico. O autor salienta que não devemos nos preocupar
sobre qual deva ser o melhor – o método histórico ou econômico a escolher – pois o
pesquisador que almeja ser um especialista em história econômica “deverá dotar
semelhantes métodos, de acordo com a sua escola de preferência”.

Para descrever a trajetória do CCN-MA, que é objeto do meu trabalho dissertativo,


fiz a opção pelo Materialismo Histórico. Para explicitar melhor as categorias que fazem
parte do conteúdo formativo do CCN-MA, esta metodologia é a que melhor satisfaz.
Descrever categorias como Movimento Social no recorte de Movimento Negro, Povos
quilombolas e racismo só é possível pela via de uma metodologia que possa captar as
transformações que elas sofreram ao longo do tempo. Da mesma forma, uma leitura sobre
o contexto de fundação do CCN-MA, que está ligado a uma dinâmica da distribuição de
Terras no Maranhão, não será possível por uma metodologia a-histórica.

A criação do Centro de Cultura Negra do Maranhão em 1979 tem uma importância


abissal na história do Movimento Negro Brasileiro e para as conquistas pela Terra dos
quilombolas do Brasil e do Maranhão. A participação desta organização na formulação
de artigo de lei na Constituição Federal de 1988 foi fundamental.
REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Sistema de Informações do Arquivo


Nacional (SIAN). Relatório sobre CCN-MA. Brasília, 05 de jullho de 1988.
CARVALHO, Patrícia Marinho de; SOARES, Alice de Matos. Todo poder ao povo
preto: diálogos sobre práticas colaborativas entre seres em lugares e tempos
afrodiaspóricos.
KENDI, Ibram. X. – Como ser Antirracista- Rio de Janeiro - 2020
MIRANDA DE SOUSA, José Reinaldo. Quilombos, terras de preto: identidades em
construção. 2011.
NETO, Roberval Amaral. A luta pela terra no Maranhão contemporâneo: a “lei
Sarney de terras” e a resistência camponesa, 2021.
PESSÔA, Reynaldo de Oliveira. Quilombo: debates e reflexões sobre o aspecto
jurídico-político e socio-histórico do conceito. 2021
SERRA, DEBORAH ARRUDA. Engajamentos Militantes e Construções Identitárias
na Trajetória de Mundinha Araújo. Dissertação apresentada ao Programa de Pesquisa
e Pós-Graduação em Ciências Sociais. São Luís: UFMA, 2021.
SILVA, Vera Regina Rodrigues da. A gênese do debate e do conceito de quilombo.
Cadernos CERU, 19(1), 2008.
SOUSA, Igor Thiago Silva de. Um esboço sobre a emergência do movimento negro
no maranhão: rupturas e continuidades nas lutas étnico-raciais. UFRGS, 2019.
SOUZA, Luiz Eduardo Simões de. A Importância do uso de métodos quantitativos na
história econômica, 2006.

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