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ARTIGO FINAL REVISADO COM RESUMO 2023 CCNMA 16 de Agisto 4h Da MANHÃ
ARTIGO FINAL REVISADO COM RESUMO 2023 CCNMA 16 de Agisto 4h Da MANHÃ
Trabalho apresentado à
Disciplina de Técnicas e
Métodos em Economia para
obtenção de nota, referente a
avaliação do semestre de
2023.1
SÃO LUIS-MA
2023
O CENTRO DE CULTURA NEGRA DO MARANHÃO NO CONTEXTO DA
HISTÓRIA ECONÔMICA
Luiz Carlos Noleto Chaves
[Economista, Licenciado em
História de Estudos Africanos e
Afro-Brasileiro e Mestrando em
História ela UFMA]
RESUMO: O debate sobre o papel das Ciências Econômica como disciplina das Ciências Sociais não é
novo. Principalmente quando se trata da História Econômica como no campo da historiografia. As correntes
das Ciências Econômicas como os Clássicos, Marxistas, Keneysianos e Neoclássicos se dividem sobre qual
deve ser a melhor metodologia a ser usada. Neste trabalho me utilizo do Materialismo Histórico para falar
da Lei de Terras no Maranhão e como ela vai se conectar com a origem do Centro de Cultura Negra do
Maranhão (CCN-MA). Também conceitua-se as categorias básicas que caracterizam o CCN-MA, como
Movimento Social, Quilombo, Racismo e Movimento Negro.
RESUMEN: El debate sobre el papel de las Ciencias Económicas como disciplina de las Ciencias Sociales
no es nuevo. Especialmente cuando se trata de Historia Económica como en el campo de la historiografía.
Las corrientes de las Ciencias Económicas como la Clásica, la Marxista, la Keneysiana y la Neoclásica se
dividen sobre cuál debe ser la mejor metodología a utilizar. En este trabajo utilizo el Materialismo Histórico
para hablar sobre la Ley de Tierras en Maranhão y cómo se conectará con el origen del Centro de Cultura
Negra do Maranhão (CCN-MA). También conceptualiza las categorías básicas que caracterizan al CCN-
MA, tales como Movimiento Social, Quilombo, Racismo y Movimiento Negro.
Introdução
O papel da história econômica como ferramenta para o historiador sempre foi
polêmico. Ao longo da disciplina de Técnicas e Métodos em Economia isso ficou claro.
O professor Barbosa (2009) em seus textos deixou claro que esse debate é inócuo, pois
nem o historiador narra um momento histórico sem uso de elementos da ciências
econômicas e aquele que deseja narrar um momento econômico o fará fazendo menção
sobre o tempo e espaço históricos. Quando os economistas deixaram de lado a polemica
sobre a dicotomia entre ser historiador e historiador econômico, passam a debater, sobre
qual a melhor metodologia a empregar na construção de um bom trabalho que envolva a
história econômica. Em ciências econômicas as principais correntes que buscam esse
protagonismos são a Escola Clássica, Marxista, Keneysianos e Neoclássicos. Para a
escrita deste trabalho e da dissertação em curso vamos nos valer do Materialismo
Histórico como abordagem que possa dar conta de explicar a origem do Centro de Cultura
Negra do Maranhão (CCN-MA).
Este centro de Cultura nasce dentro de um momento histórico da luta de classes
acirradas no Brasil, o final da década de 1970, que era Ditadura Militar. Ao mesmo tempo
no Maranhão se convivia com uma Lei de Terras, criada em 1966, que dificultava ainda
mais a vida do trabalhador rural e, em particular, o trabalhador rural quilombola. A
criação do CCN-MA tem como objetivo o combate ao racismo, mas também a
organização dos povos quilombolas na busca pela legalização de suas terras.
(a) uma delas, historista, que fará a defesa e o discurso do Estado Nacional
e do povo-nação; (b) uma história liberal, a realçar o indivíduo, o burguês,
o empresário; as instituições econômicas, como portos, ferrovias e grandes
empresas; particularmente os bancos; e (c) uma outra corrente chamada
marxista, que faria ou buscaria fazer uma história das lutas das classes
sociais e dos movimentos sociais, pondo a ênfase não no indivíduo notável,
mas na ação dos grandes coletivos. (BARBOSA, 2009, p. 126).
Não será centro deste trabalho aprofundar o debate em torno do conceito em tela,
o que importa aqui é chegar a um conceito que expresse o mais próximo o termo
quilombola da realidade do século XXI. Neste sentido, é possível concordar com a letra
de Silva (2002) quando diz que “a análise histórica do significado político de quilombo
da experiência coletiva de organização dos quilombos como sistema alternativo ao regime
escravocrata, constitui-se como um símbolo principal na trajetória do Movimento Negro”.
Será nessa perspectiva que o CCN-MA usará o conceito de quilombo, pois na mesma
sintonia do MNB esta organização vai entender que o quilombo foi e continua sendo uma
“resistência ao processo de escravização do povo negro-africano, [...] e uma “reação ao
neocolonialismo cultural, através da reafirmação da herança africana e da busca de um
modelo brasileiro capaz de reforçar a identidade étnica e cultural. (CARDOSO, 2002,
p.62 apud, SILVA, 2008, p. 215).
Definido o que é desigualdade racial, ele chega com facilidade ao conceito do que
seja política racista. Ela “é qualquer medida que produza ou sustente desigualdade racial
entre grupos raciais”. Por contraponto, “política antirracista é qualquer medida que
produza ou sustente igualdade racial entre grupos étnicos”. Ele segue nos informando que
“não existem políticas não racistas ou neutras em relação à raça” e toda nação, através
das suas instituições “produz ou sustenta desigualdade ou igualdade racial entre grupos
raciais”. (KENDI, 2020, p. 27).
Uma ideia racista é qualquer ideia que aponte um grupo étnico como inferior ou
superior a outro, em qualquer aspecto. Ideias racistas defendem que inferioridades e
superioridades em grupos étnicos explicam as desigualdades raciais na sociedade. [..] uma
ideia antirracista é qualquer ideia que indique que os grupos étnicos são iguais em todas
as suas aparentes diferenças – que não há nada certo ou errado com qualquer grupo étnico.
Ideias antirracistas defendem que políticas racistas são a causa de desigualdades raciais.
(KENDI, 2020, p. 29). Definida a maioria das categorias que são marcas do CCN-MA,
vamos tentar esclarecer o conceito de Povo Quilombola.
Uma das grandes tarefas organizadas pelo CCN-MA consistia no mapeamento das
Comunidades Negras Rurais do Maranhão. Tal projeto é conhecido como Projeto Vida
de Negro. Este mapeamento foi importante, pois como veremos mais adiante, ele permitiu
que se chegasse a uma legislação nacional sobre a regularização de terras remanescentes
de quilombos na Constituição Federal do Brasil de 1988 (CF 88). Tal projeto encontrou
provas sobre a distribuição desigual de terras no Maranhão, principalmente com a
inauguração do dispositivo legal conhecido como Lei de Terras do Maranhão.
A Lei de Terras do Maranhão foi criada pelo Governo Sarney no ano de 1966. Em
1965, Sarney ganha as eleições derrotando uma oligarquia histórica chefiada por Vitorino
Freire e promete combater a corrupção e, segundo Neto (2021), o seu discurso de posse
era carregado de “um forte apelo emocional” e fazia “referência às terras férteis do estado,
à fome e à corrupção em suas repartições públicas” e também acenava “fazer uma ruptura
temporal entre o antigo Maranhão da oligarquia vitorinista e o Maranhão Novo que era
seu slogan de campanha. O que se vai verificar depois é que não houve um combate à
corrupção e também que as terras férteis do Maranhão iriam ficar concentradas ainda mais
nas mãos do latifúndio. Diz Neto:
O CCN-MA vai ser criado no final da década de 1970 e pela via do projeto Vida
de Negro vai reconhecer o que está descrito na citação acima: as terras do Maranhão
estavam concentradas nas mãos dos grandes capitalistas e os grandes prejudicados por
essa distribuição desigual eram os Povos Quilombolas.
Para Neto (2021) “a luta pela terra maranhense tem conexão com as teses de
“Marx a respeito da acumulação primitiva de capitais na Inglaterra; pois o progresso do
“século XVIII consiste em ter tornado a própria lei veículo do roubo das terras
pertencentes ao povo”. Isso implica dizer que o roubo de terras assume uma forma legal
e presenteiam os senhores do capital “com os bens que pertencem ao povo, tornando-os
sua propriedade particular”. Isso que ocorreu nas terras inglesas no processo de
consolidação do capitalismo vai ser verificado na maranhão da era José Sarney em razão
da Lei das Terras.
Verificamos até aqui que a distribuição desigual de terras do Maranhão é uma das
necessidades de surgimento do CCN-MA. Essa distribuição é comprovada quando se
analisam dados empíricos existentes em fontes oficiais. Uma das grandes tarefas dos
historiadores é saber dialogar com esses dados.
O Professor Luiz Eduardo Simões de Souza em um dos seus artigos nos informa
que “uma das prerrogativas que caracterizam a História Econômica é a manipulação de
dados quantitativos” e que “as principais ferramentas quantitativas do historiador
econômico são a Estatística e a Econometria”. Através da Estatística, o historiador pode
construir séries temporais das mais variadas características da população de seu objeto de
estudo” e pela “econometria permite a construção de relações funcionais entre os dados
registrados pela Estatística, possibilitando a elaboração de explicações mais dinâmicas,
por meio da identificação de relações causais e de comportamentos cíclicos”. (SOUZA,
2006, p. 1).
Para a construção final do trabalho dissertativo, será necessário usar uma fonte
maior de dados quantitativos que possam esclarecer melhor a distribuição desigual de
terras no Maranhão na quadra histórica da fundação do CCN-MA. A partir de agora,
faremos uma apresentação reduzida sobre a fundação desta organização citada.
Hoje já existe uma vasta publicação bibliográfica sobre a origem deste centro de
cultura maranhense. Na construção final da dissertação do projeto em curso, vamos
utilizar bastante essas produções como fontes e incorporar outras complementares, bem
como documentos oficiais do próprio centro e documentos oficiais de agências do
governo federal que trazem relatos sobre o centro cultural em tela.
No artigo publicado por Igor Thiago Silva de Sousa, intitulado “Um esboço sobre
a emergência do Movimento Negro no Maranhão: rupturas e continuidades nas lutas
étnico-raciais” do ano de 2019, ele relata que:
A sede descrita pelo relatório do SNI ainda permanece sendo utilizada pelo CCN-
MA em tempos atuais. Ela não foi reivindicada ao caso. Ela é uma comprovação de que
o grupo formador do CCN-MA era constituído de estudiosos de fatos da história do negro,
pois esta sede no passado teria sido um mercado de escravos e “o prédio havia sido
reconhecido como patrimônio histórico, artístico e paisagístico do Estado desde 1978,
mas sua concessão legal só foi realizada através da Lei Municipal 3.373, de 29 de
dezembro de 1994”. (SERRA, 2021, p. 83).
Considerações Finais