Artigo: Qual o papel que os pacientes preferem na tomada de decisão
médica?
Estudo realizado com uma amostra de 599 participantes (representativos da população
portuguesa) aos quais foi aplicada a escala Problem-Solving Decision-Making. Esta escala é composta por três vinhetas: da morbilidade, da mortalidade e da qualidade de vida e as três são avaliadas em função da tomada de decisão e resolução de problemas.
Objetivo: Avaliar os papéis preferidos dos doentes na tomada de decisões relacionadas com os cuidados de saúde.
Enquadramento: Sabe-se que o processo de tomada de decisão compartilhada está
associado à redução da ansiedade e à melhoria da satisfação dos pacientes e à melhoria dos resultados de saúde. A tomada de decisão compartilhada não deve ser uma desculpa para práticas médicas defensivas. a tomada de decisão compartilhada parece ser preferida por Mulheres e pacientes mais jovens e com menor escolaridade. O papel preferido também pode ser afetado por variáveis demográficas, estado de saúde, experiência de doença e etnia. Uma compreensão mais aprofundada das preferências do paciente constitui uma contribuição importante para o cuidado verdadeiramente centrado no paciente.
Principais resultados: A maioria dos pacientes preferiu um papel passivo para os
componentes da escala de resolução de problemas e tomada de decisão particularmente para a vinheta da mortalidade, embora comparativamente mais tenham optado pela partilha de decisão na componente de tomada de decisão. Para a vinheta de qualidade de vida uma percentagem maior de pacientes desejava um papel compartilhado. Na componente resolução de problemas as preferências foram significativamente associadas à área de residência e nível de escolaridade, enquanto na componente tomada de decisão as preferências foram associadas à idade, nível de escolaridade e profissão.
Principais conclusões: A maioria dos doentes preferiu um papel de controlo do
profissional, tanto na resolução de problemas como na tomada de decisão. Em situações de risco de vida, os pacientes estavam mais dispostos a deixar o médico decidir. Em contrapartida em situações menos graves há uma maior disposição para participar na tomada de decisões. A tomada de decisão compartilhada é mais aceitável para pacientes com menor escolaridade no componente de resolução de problemas e para pessoas mais jovens, com maior escolaridade e empregadas no componente de tomada de decisão. Discussão: Os pacientes preferem deixar as tarefas de resolução problemas para o médico, mas querem se envolver nas tarefas de tomada de decisão, demonstrando desejo de informação. É possível que a população portuguesa ainda esteja menos predisposta a partilhar as decisões de saúde com os médicos devido a baixa alfabetização em saúde e baixa capacidade numérica, que podem representar barreiras para compartilhar a tomada de decisões; alguns pacientes de origens culturais desfavorecidas não estão acostumados a partilhar as decisões médicas.
Implicações práticas do estudo: Ao entender melhor as preferências dos nossos pacientes
podemos oferecer-lhes um atendimento mais direcionado e de melhor qualidade. A tomada de decisão compartilhada com os médicos é apoiada por evidencias robustas, no entanto, os resultados do estudo indicam que a maior parte dos pacientes ainda prefere transferir as suas decisões de saúde. É essencial que haja um treino que permita que os médicos se envolvam adequadamente na tomada de decisão compartilhada com os seus pacientes. Deve ser introduzido no início dos currículos de medicina, bem como nas diretrizes práticas para decisões de saúde sensíveis à preferência.