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13/02/2023

Avaliação e Intervenção Psicológica em Adultos e Idosos

Mestrado em Psicologia da Saúde e Neuropsicologia

Docente: Liliana Sousa (lilianax@ua.pt)

Tema 1. Dos modelos biomédicos aos colaborativos (ou centrados na pessoa)


Caraterísticas dos modelos tradicionais (biomédicos) em psicologia. Alguns fatores de mudança de paradigma:
prevalência de doenças crónicas; disponibilidade de um modelo biopsicossocial; The Dodo Bird Verdict. Modelos
colaborativos: bases conceptuais; caraterísticas; intervenção. Intervenção atual: entre paradigmas. A relação
terapêutica como base da eficácia.

Bibliografia
Luborsky, L., Singer, B., & Luborsky, L (1975). Comparative studies of psychotherapies: is it true that “Everyone has
won and all must have prizes”? Archives of General Psychiatry, 32, 995-1008.
Sousa, L; Rodrigues, S (2012). The collaborative professional: towards empowering vulnerable families. Journal of
Social Work Practice, 26(4): 411-425.
Madsen, W. (2007). Collaborative Therapy with Multi-Stressed Families (2nd Edition). New York: Guilford.

Discutir principais ideias!


Leitura do artigo!

https://www.youtube.com/watch?v=hUsyuloD198 [22:00]

https://www.ted.com/talks/emily_anhalt_why_we_should_all_try_therapy [10:50]*

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Modelos Biomédicos: em psicologia


Modelos tradicionais: biomédicos; deficitários; centrados nos problemas; controlo/regulação!
Intervenção tradicional
•Diagnóstico: usa a lente do défice; exaustivo (todos os problemas e todas as causas); o problema é
definido pelo profissional (é quem sabe; e é “objetivo”)
•Plano de ação: objetivos (linear ao problema; inclui: curar, compensar, minimizar, corrigir) e estratégias
(regulação social e controlo) baseados no diagnóstico
•Solução (cura ou compensação): construída com base na expertise do profissional; o profissional é ativo
(prescreve) e o cliente é um seguidor (cumpre)
• Avaliação: resultados (o que aconteceu ao problema, sintoma, …?)

Desenvolvidos com sucesso para o tratamento e cura de doenças agudas: centrados na doença; os
profissionais são os especialistas responsáveis pelo tratamento e resultados experienciados pelos
pacientes. O sucesso dos pacientes é aferido pelo cumprimento (compliance) das prescrições/instruções
dos profissionais; ou pela adesão (adherence), que permite alguma maior autonomia ao doente em
termos de seguir as prescrições/instruções.

Alguns fatores de mudança de paradigma


Impulsionada por:
 Prevalência de doenças crónicas (sem cura; promover qualidade de vida)
 Disponibilidade de um modelo biopsicossocial (Engel)
E:
 Anos 1990: os vários modelos terapêuticos equivalem-se quanto à eficácia clínica; surge o
movimento para a integração das psicoterapias.
The Dodo Bird Verdict: Alice in Wonderland (“EVERYBODY has won, and all must have prizes”)

 Fatores que tornam as psicoterapias eficazes: i) fatores comuns (relação terapêutica;


motivação do cliente); ii) interação entre as características do paciente e a modalidade
terapêutica.

Alteração do padrão de doenças: prevalência de doenças crónicas (1)


Século XX
Principais problemas de saúde: deixam de ser patologias agudas e doenças infeciosas
Passam a ser doenças crónicas, que persistem, recidivam e requerem terapêuticas por
longos períodos (acentuam o biopsicossocial)
Grande desafio à intervenção biomédica: não há cura! E aumenta a sobrevivência do
doente (por norma, exigindo cuidados para o resto da vida)
Cronicidade: produz um conjunto de doenças crónicas associadas aos tratamentos, cada
vez mais complexos e stressantes para pacientes e familiares [relevo para a Qualidade de
Vida]
Complexidade das situações = não tem 1 problema, mas apresenta diversas dificuldades
concomitantes (psicológicas, médicas, sociais, económicas, educativas, …)

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Importância da emergência do modelo biopsicossocial (1)

Tradicional (BM): Inexistência de modelos unificadores de intervenção


Dicotomia entre caraterísticas, compreensão, avaliação e intervenção:
Doenças mentais: do foro relacional e/ou intrapsíquico; para profissionais da área psicossocial
(como: psicólogos).
Doenças biomédicas: origem em processos biológicos; médicos, enfermeiros (e outros
profissionais de saúde); centram a doença.

Engel (1977; The need for a new medical model: a challenge for biomedicine, Science)
propõe o modelo biopsicossocial (unificador): necessário ultrapassar a clássica separação
entre fatores biológicos da doença e contexto psicossocial em que ocorre.

Importância da emergência do modelo biopsicossocial (2)

Importância da emergência do modelo biopsicossocial (3)

Implica/permite:
Integração da intervenção médica, com a psicossocial e familiar.
Alargamento dos objetivos do tratamento: para além de tratar
síndromas médicos, procura-se maximizar o funcionamento e
competências de coping dos doentes e suas famílias
 Os problemas (Bio/Psico/Sociais) coexistem; não se vive 1
problema! Pensar em exemplos!
[depressão; toxicodependência; …]

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Fatores de mudança terapêutica


Diferentes abordagens teóricas são igualmente eficazes!
Fatores comuns na mudança terapêutica (adaptado de Lambert, 1992):
1) Mudança extraterapêutica (40%): Fatores ligados ao paciente (ex., tolerância à frustração,
motivação) e ao ambiente (acontecimento fortuitos, suporte social), que contribuem para a
recuperação
2) Expectativas (efeito placebo) (15%): Melhoria que resulta das crenças do paciente de que está
ser tratado e da credibilidade na explicação e nas técnicas de determinado tratamento
3) Técnicas (15%): Fatores únicos e específicos de determinadas terapias (p.ex., biofeeback,
dessensibilização sistemática)
4) Fatores comuns (30%): Conjunto de variáveis existentes em várias terapias, independentemente
da orientação teórica dos terapeutas (p.ex., empatia, aceitação, encorajamento, clima de
segurança e confiança)  RELAÇÃO

Dodo verdict! (Alice no país das maravilhas!)


Proposto nos anos 1930 pelo psicólogo Americano
Saul Rosenzweig

Task Force on Empirically Based Principles of


Therapeutic Change (princípios de mudança
terapêutica empiricamente suportados)
(Castonguay & Beutler, 2006a, 2006b): confirmam o
dodo verdict

Emerge o Modelo da Complementaridade


Paradigmática (MCP)

Modelos colaborativos: bases conceptuais (1)

Outras designações com conotações similares na literatura


 Centrado na pessoa (por oposição a centrado na doença/sintoma)
[1960: Carl Rogers usa o termo “centrado na pessoa”, psicoterapia humanista; envolve empatia e
aceitação positiva incondicional: o psicólogo não julga o cliente; considera e aceita a sua perspetiva]
 Centrados nas competências (por oposição a centrado no défice, problema ou sintoma)
 Capacitação e Empoderamento (expertise de profissionais e clientes; por oposição a expertise
profissional)
…
Colaborativo: do Latim, collabōrāre; com = juntos + labōrāre = trabalhar; significa “trabalhar em
conjunto”
Associado ao posmodernismo (Anderson e Goolishian, 1992; Hoffman, 1993) e Humanismo (Carl
Rogers)

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Contributos/Background dos MC
Abordagens Ideias Contributos para MC
Construtivismo e Perspetiva epistemológica: a realidade e o conhecimento Respeitar e incorporar a perspetiva dos clientes no
construcionismo social são socialmente construídos; varia com o tempo histórico e processo de intervenção; evitar linguagem centrada no
com os grupos culturais défice, patologia e doença

Abordagem centrada Orientação prática: os problemas dos clientes resultam de Aumentar o poder dos clientes (pessoais,
no empoderamento falta ou não uso dos seus recursos (pessoais, interpessoais interpessoais, de cidadania), para que possam tomar
e ambientais). ações e melhorar as suas vidas. Redefinir o sentido do
self do cliente: sentir-se empoderado!

Abordagem centrada Orientação prática: todas as pessoas e comunidades têm as Utilizar (identificar e ampliar) as competências e
nas competências competências e recursos necessário para se desenvolverem recursos do cliente; desenvolver e manter uma relação
e geri com sucesso as dificuldades; mas, por vezes, essas positiva com os clientes. Usar a conversação.
competências não são usadas, são mal usadas ou foram
esquecidas.

Abordagem centrada Orientação prática: não há uma solução para um problema; Envolver os clientes num diálogo que foca as soluções
nas soluções há diversas soluções, que devem ter sentido para o cliente. (viáveis e responsáveis no contexto do cliente).
Ajudar o cliente a construir o seu futuro desejado!

Resiliência As pessoas (famílias ou comunidades) têm o poder de Análise das reações do cliente perante circunstâncias
recuperar e crescer perante a adversidade; a crise é uma adversas e que estratégias usam.
oportunidade para descobrir forças do cliente, repensar
prioridades e encorajar novos objetivos de vida.

Modelos colaborativos (Madsen, 1999; 2007) (1)

- Não hierárquicos: foco na colaboração e parceira entre profissionais e clientes (intervenção como
sistema; inclui profissional, cliente e contexto)
- Todos os sistemas têm competências (e também falta de competências); todos são entidades que
experienciam e resolvem problemas
- Intervenção é um compromisso, dentro dum processo de empoderamento, entre profissionais e
clientes; atitude de respeito e curiosidade respeitadora da família
- Expertise dos profissionais (deve ser um “appreciative ally”: Madsen, 1999): ajudar os clientes a
ativar as suas competências (empoderar); atitude de respeito, abertura, esperança, criar ligação
- Expertise dos clientes: sua vivência do problema, necessidades e competências

Estrutura colaborativa: clientes dão voz à sua especialidade e experiência de vida (autores e
atores); profissional: especialista em apoio!

Modelos colaborativos (2)

1) Diagnóstico centrado na possibilidade de construir caminhos de mudança, centrado nas


competências (forças e recursos) do cliente e na capacidade do profissional ativar e fortalecer
essas competências!
2) Intervenção foca o significado atribuído ao problema, desenvolvido de forma colaborativa por
todo o sistema de intervenção (pode incluir: serviços sociais, de saúde, comunidade, escola, …)!
3) O resultado desejado é a dissolução do problema e a construção de um futuro desejado!
4) O processo de intervenção decorre com a finalidade de mudar a história dominante,
encontrando um significado de mais bem-estar para o cliente!

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Intervenção atual: entre paradigmas


Intervenção atual tem incorporado abordagens colaborativas, como apêndices: usa alguns
elementos colaborativos, mantendo a perspetiva tradicional de pensar e agir.
Ser colaborativo é uma perspetiva; e os profissionais e os pacientes (assim como a sociedade)
ainda operam num sistema de crenças centrado no modelo biomédico.
Desafio = alterar de um modelo biomédico tradicional para uma perspetiva colaborativa.
Para incorporar essa alteração na prática são necessários métodos que medeiam a
transformação: combinar o tradicional com o novo, mas envolvendo uma mudança de
perspetiva.

Pressupostos das abordagens colaborativas (Madsen, 2009)


i) Adotar postura de curiosidade cultural, que honra o conhecimento/saber da família (assumir
postura de não saber, por oposição a saber mais sobre o cliente do que o próprio sabe);
ii) Acreditar nas possibilidades, focar-se nas potencialidades e centrar as mudanças desejadas
(futuro);
iii) Trabalhar em parceria e adequar os serviços às famílias (flexibilidade; ser útil aos clientes);
iv) Envolvimento nos processos de empowerment, que torna o trabalho do profissional mais útil
para as famílias.

Health Foundation: referencial composto por quatro


princípios do cuidado centrado na pessoa
1. Assegurar que as pessoas sejam tratadas com
dignidade, compaixão e respeito.
2. Oferecer um cuidado, apoio ou tratamento
coordenado.
3. Oferecer um cuidado, apoio ou tratamento
personalizado.
4. Apoiar as pessoas para que reconheçam e
desenvolvam as suas próprias aptidões e
competências, a fim de terem uma vida
independente e plena.
Usar sempre esses princípios:
 Dependência, Comprometimento cognitivo,
Inconsciente ….

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O principal papel do profissional passa para:

ser um modelo positivo (role model)

Tarefa para casa


Durante a semana tirem uma fotografia que represente o “que mais gostam na vida”
Depois deem um título à fotografia

[chega uma por grupo]


[é para partilhar na próxima aula]

Ler
Dias, S. F., Araújo, L., & Sousa, L. (2023). Gerontological social workers’ perspectives about the
future at the start of a COVID-19 vaccination program: A photovoice study. Journal of Social
Work, 0(0). https://doi.org/10.1177/14680173221144412

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